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Rio de Janeiro
2022
Estudo da expressão e do papel do Complexo Imunoproteassoma na evolução clínica da
COVID-19
Rio de Janeiro
2022
ANA CAROLINA PIRES E SILVA
Rio de Janeiro
2022
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RESUMO
A COVID-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, pode manifestar desde sintomas como
resfriado comum a síndrome respiratória aguda grave, caracterizada por uma inflamação
exacerbada e danos teciduais em órgãos-alvo. O complexo imunoproteassoma (IP) compõe uma
maquinaria proteolítica celular, que atua na homeostase proteica e apresentação antigênica via
MHC-I, exercendo papel importante na ativação da resposta imunológica mediada por
linfócitos T CD8+. O IP é formado por subunidades catalíticas β1i, β2i e β5i, que substituem as
subunidades constitutivas do proteassoma sob condições de estresse e por estímulos
inflamatórios, como IFN-γ e TNF-α. Dessa forma, a hipótese do presente estudo é de que a
ativação das subunidades do IP, diante do ambiente inflamatório induzido durante a infecção
pelo SARS-CoV-2, pode estar associada a uma ativação da resposta imunológica nos sítios-
alvo da infecção e em células circulantes e consequentemente, ao desfecho da COVID-19.
Desta forma, nosso objetivo consiste em estudar a ativação e o envolvimento do
imunoproteassoma na evolução clínica da COVID-19 através da análise de dados de
transcriptomas scRNA-seq disponíveis publicamente. Nosso primeiro passo foi investigar a
expressão de IP em células do lavado broncoalveolar (LBA) em pacientes com COVID-19. A
coorte inclui 3 amostras de LBA de indivíduos saudáveis, 3 amostras de pacientes com COVID-
19 moderada e 27 de pacientes com a forma grave da doença, que requeriam hospitalização.
Nós observamos um aumento da expressão das subunidades do IP em células mieloides CD14+
dos indivíduos infectados pelo SARS-CoV-2, tanto na forma moderada quanto grave da
COVID-19. Além disso, observamos uma maior expressão de β1i, β2i e β5i em células
apresentadoras de antígenos (APCs), como macrófagos alveolares, DCs e pDCs nos dois grupos
com COVID-19. Curiosamente, a expressão de subunidades do IP é significativamente maior
em macrófagos e pDCs de pacientes moderados do que em pacientes hospitalizados. Além
disso, conforme observado para a expressão de IP, os genes associados a apresentação
antigênica como MHC-I e PSME1 são mais expressos em casos moderados quando comparado
a casos graves em macrófagos e pDCs, enquanto TAP1 e TAP2 são mais expressos em casos
graves em DCs e pDCs. O próximo passo do nosso estudo visou comparar a expressão de IP
entre pacientes graves que sobreviveram (n=17) e que foram a óbito (n=10). Observamos uma
superexpressão de IP nos que sobreviveram em relação aos que não sobrevivem, tanto nas APCs
quanto em linfócitos CD8+. Desta forma, a superexpressão do IP no LBA sugere um papel
protetor na COVID-19. Uma vez que o IP está associado a um desfecho positivo, nós avaliamos
se o perfil de clivagem de peptídeos antigênicos pelo IP poderia estar ligado a patogenicidade
de diferentes variantes de SARS-CoV-2 circulantes. Vimos que o número de sítios de clivagem
por IP na proteína S da variante Ômicron - associada a casos menos graves de COVID-19- é
maior do que em outras variantes de SARS-CoV-2. Assim, nossos resultados preliminares
sugerem que um perfil de clivagem por IP mais eficiente pode se correlacionar com a redução
da patogenicidade viral.
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ABSTRACT
The disease caused by SARS-CoV-2, referred as COVID-19, range from a common cold to a
severe respiratory syndrome form, characterized by an exacerbated inflammation and extensive
damage in targets organs. The immunoproteasome complex (IP) composes cellular proteolytic
machinery responsible for protein homeostasis and antigen presentation by MHC-I, which is
fundamental in activation of immune response mediated by CD8+ T lymphocytes. It is formed
by catalytic subunits β1i, β2i and β5i, which replace the constitutive proteasome subunits in
stressful conditions and by inflammatory mediators, such as IFN-γ and TNF-α. Our hypothesis
was that IP subunits activation by inflammatory environment induced during SARS-CoV-2
infection, could contribute to immune activation and to COVID-19 outcome. So, we first
investigated IP expression in COVID-19 patients’ lung through transcriptomics analysis. We
analyzed the expression of IP subunits and genes associated with antigen processing and
presentation in different cell populations in scRNA-seq databases of bronchoalveolar lavage
fluid (BALF) in 3 samples of control groups compared with 3 samples of patients with mild
COVID-19 and 27 severe cases that required hospitalization. Our results demonstrate that
CD14+ cells were the main cell type in the COVID-19 patients' BALF. We observed an
overexpression of IP catalytic subunits β1i, β2i and β5i in antigen presenting cells, such as
alveolar macrophages, DCs and pDCs. Curiously, the expression of IP subunits was higher in
patients presenting moderate COVID-19 than to hospitalized patients with severe COVID-19.
In addition, as observed to IP expression, antigen presentation genes like PSME1 were higher
expressed in moderate cases than severe in macrophages and pDCs, while TAP1and TAP2 were
higher expressed in severe cases in DCs and pDCs, and HLA-A were higher expressed in
moderate cases than severe in macrophages, DCs and pDC. We also compared IP expression
between survivors (n=17) and dead (n=10) in COVID-19 severe patients’ group and found a
higher expression in the survivor’s outcome group. IP subunits overexpression in survival
group was also observed in CD4+ and CD8+ T lymphocytes. Our results indicates that IP
overexpression has a protective role to disease progression, possibly due a more effective
antigen presentation. Next, we aimed to understand if immunoproteasome profile of cleavage
of antigenic peptides is linked to rise of variants in the population and the possible correlation
with viral pathogenicity. The prediction of IP cleavage sites in S protein of Omicron variant,
which is associated with high dissemination but with less severe cases in the population, was
higher than others pathogenic VOCs. Collectively, our results suggest that immunoproteasome
derived antigen presentation is associated with a protection during COVID-19, as well as its
efficiently cleavage profile could correlate to viral pathogenicity.
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LISTA DE ABREVIAÇÕES
APC – Célula Apresentadora de Antígeno
CoV – Coronavírus
COVID-19 – Do inglês: Coronavirus disease
CTL – Células T Citotóxicas
DCs – Células dendríticas convencionais
ECA2 – Enzima conversora de angiotensina 2
HBV – Vírus da Hepatite B
HCoV – Coronavírus humanos
IFN – Interferon
IL – Interleucina
IP – Complexo Imunoproteassoma
IRF-1 – Fator regulador de interferon
LBA - Lavado broncoalveolar
LCMV – Vírus da coriomeningite linfocítica
LPS – Lipopolissacarídeo
MHC-I - Complexo de histocompatibilidade de classe I
NETs - Armadilhas Extracelulares de Neutrófilos
NK – Células matadoras naturais
NSP – Proteínas não estruturais
OMS – Organização Mundial da Saúde
pDCs – Células dendríticas plasmocitóides
RBD – Domínio de ligação ao receptor
ROS – Espécies reativas de oxigênio
STAT-1 – Transdutor de sinal e ativador da transcrição 1
TAP – Proteína transportadora para processamento de antígeno
TNFα – fator de necrose tumoral alfa
UPS – Sistema ubiquitina-proteassoma
VOCs – Variantes de preocupação
VOIs – Variantes de interesse
WT – Tipo selvagem (do inglês, wildtype)
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6
1.1. O SARS-CoV-2: Origem, estrutura e replicação ........................................................... 6
1.2. Epidemiologia e evolução do SARS-CoV-2 ................................................................. 10
1.3. COVID-19: transmissão e patogênese ......................................................................... 16
1.4. O sistema ubiquitina-proteassoma e o Complexo Imunoproteassoma (IP) .................. 20
1.4.1 O papel do IP nas infecções virais .................................................................................. 24
2. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 26
3. OBJETIVOS............................................................................................................... 27
3.1 Objetivo geral ............................................................................................................. 27
3.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 27
4. MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................... 28
4.1 Análises de transcritos através de bancos de dados de scRNA-seq de fluido de lavado
broncoalveolar (LBA) de pacientes com COVID-19............................................................... 28
4.2 Predição de clivagem por proteassoma e imunoproteassoma ...................................... 29
4.3 Análise de transcritos através de bancos de dados de scRNA-seq de células
mononucleares de sangue (PBMC) por scRNA-seq ................................................................ 30
5. RESULTADOS PRELIMINARES ............................................................................. 31
5.1 Predomínio de células mieloides CD14+ no LBA de pacientes com COVID-19 ........... 31
5.2 Aumento da expressão das subunidades do IP em CD14 no LBA de pacientes com
COVID-19 ............................................................................................................................. 33
5.3 A indução da expressão de IP em macrófagos alveolares e pDCs está associada
principalmente a quadros de COVID-19 moderada ............................................................... 34
5.4 O aumento da expressão de IP se correlaciona com a maior processamento e
apresentação antigênica em macrófagos alveolares em pacientes com COVID-19 moderada. 37
5.5 Maior indução de imunoproteassoma em APCs associada à sobrevivência nos quadros
de COVID-19 grave ............................................................................................................... 39
5.6 Processamento e apresentação antigênica via MHC-I mais eficiente em macrófagos
alveolares associados a um desfecho positivo nos casos de gravidade ..................................... 41
5.7 Aumento da expressão de IP e genes associados à função efetora células T CD8 + no LBA
de pacientes graves ................................................................................................................ 42
5.8 Indução do imunoproteassoma em células CD8+ associadas à desfecho positivo......... 45
5.9 Aumento de sítios clivagem por imunoproteassoma na proteína S da variante Ômicron
associadas a menor patogenicidade ........................................................................................ 45
PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................................................................ 48
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 49
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1. INTRODUÇÃO
1.1. O SARS-CoV-2: Origem, estrutura e replicação
aves (Stadler et al., 2003; Santos, Romanos e Wigg, 2015; Rabi et al., 2020). Especula-se que
os coronavírus humanos (HCoVs) descritos até hoje têm origem evolutiva a partir de morcegos
ou roedores, e as infecções podem variar de baixa a alta patogenicidade. Dentre eles, os mais
podendo levar a desfechos clínicos fatais (Hu et al., 2021). Dentre eles, estão o vírus da
síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV), descoberto em 2002, tendo acometido 8.000
do Oriente Médio (MERS-CoV) que causou mais de 2000 casos em 2012, com taxa de
Al-Tawfiq e Memish, 2016). Esses dois vírus não apresentaram uma alta taxa de transmissão,
facilitando a contenção dos surtos. Porém, em dezembro de 2019, foram notificados casos de
indivíduos com sintomas de pneumonia altamente infecciosa, associados aos que frequentavam
o mercado de frutos do mar em Wuhan, província de Hubei, na China. Além dos quadros de
pneumonia, outros sintomas como febre, tosse seca e dispneia eram típicos entre os indivíduos
um novo coronavírus, cuja sequência genômica possui cerca de 80% de similaridade com o
de SARS-CoV RaTG13 que infecta morcegos (Zhou et al., 2020). Dessa forma, o novo
espalhando em poucos meses e acometendo uma crise sanitária e econômica a nível global
(Rossi et al., 2020). Segundo dados da Universidade de Hopkins, a COVID-19 soma mais de
538 milhões de indivíduos infectados e mais de 6 milhões de mortes ao redor do mundo desde
dezembro de 2019 até o período de junho de 2022. Além da circulação entre humanos, análises
CoV-2 sejam morcegos Rhinolophus, pois diversos CoVs já detectados em humanos também
já foram rastreados nesses animais, que eram comercializados no mesmo mercado em Wuhan
Figura 1. Representação da origem dos coronavírus que infectam humanos, representados de acordo com
sua patogenicidade. Em azul, os causadores de resfriados comuns e, em vermelho, os que causam doenças
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altamente patogênicas, bem como seus respectivos reservatórios primários e intermediários (Figura adaptada de
Rabi et al., 2020).
O SARS-CoV-2, assim como outros betacoronavírus, são vírus envelopados com RNA
de fita simples e polaridade positiva (+ssRNA) de aproximadamente 32Kb (Suhail et al., 2020).
(N) e proteína do envelope (E) (Figura 2a). As proteínas estruturais estão localizadas na
extremidade 3’ do genoma viral e são codificadas na mesma região que as proteínas acessórias.
Essas, variam de espécie para espécie e não apresentam funções moleculares definidas para
SARS-CoV-2, mas são determinantes para a sua patogenicidade (V’kovski et al., 2021). Os
dois terços presentes na extremidade 5’ contém os quadros de leitura aberta (ORF) 1a e 1b, que
dão origem a duas poliproteínas denominadas pp1a e pp1b, codificando as 16 proteínas não
estruturais (NSPs) (Gordon et al., 2020; Kim et al., 2020, Zhu et al., 2020) (Figura 2b).
b
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com receptores presentes na superfície celular, como o receptor de angiotensina 2 (ECA2) (Wu
et al., 2020). Para que essa ligação seja possível, a proteína S precisa ser clivada em duas
(RBD) e em dois subdomínios SD1 e SD2, que protegem S2, mantendo a porção de fusão
conservada (V’kovski et al., 2021). S1 se liga com ao receptor da célula hospedeira, enquanto
com a membrana da vesícula que se funde por endocitose. Há mudanças conformacionais que
resultam na exposição de S2 para que ocorra a fusão, o estado “down”, em que o RBD não se
liga ao receptor, ou o estado “up”, em que é possível se ligar ao receptor (Henderson et al.,
2020; Hoffman et al., 2020). A entrada da partícula viral diretamente na membrana celular
ocorre após a clivagem da proteína S pela protease TMPRSS2 (serino protease transmembranar
do tipo II) presente na superfície da célula, expondo S2, enquanto na entrada por endocitose, a
genoma viral, até então envolto pelo nucleocapsídeo. A tradução de ORF1a e ORF1b produz
de fase de leitura – resultante da sobreposição entre ORF1a e ORF1b (V’kovski et al., 2021).
As NSP1-11 são codificadas a partir de pp1a e NSP1-10 e NSP12-16 são codificadas por pp1ab,
após clivagem proteolítica por proteases de cisteína denominadas PLpro, semelhante a papaína
transcriptase (RTC), que dará origem ao RNA genômino e subgenômico (V’kovski et al., 2021,
Para a formação do material genético dos novos vírions, há a formação de uma fita molde, de
polaridade negativa, que será transcrita para a formação da fita de polaridade positiva, no
citoplasma, pelo RTC. A RdRP sintetiza a fita molde negativa inteira, para produzir a fita de
contendo as proteínas estruturais de superfície (Kim et al., 2020). Para a maturação dos vírions,
completa e a proteína S é incorporada no envelope. Em seguida, uma vez que a partícula viral
superfície celular, onde serão liberadas por exocitose (Stertz et al., 2007; Schoeman e Fielding,
ao longo dos últimos dois anos. Assim, em 2020, com o aumento crescente das infecções e com
a detecção das mutações do SARS-CoV-2, a OMS e demais órgãos de saúde pública passaram
a classificar as variantes desse vírus que representavam maiores risco à população mundial
COVID-19, mantendo a vigilância e o rastreio epidemiológico (Harvey et al., 2021). Para isso,
quais é possível submeter novas sequências e monitorar a circulação de variantes pelas regiões
Com base nessas informações, um estudo realizado por Chan e colaboradores em 2022
descreveu que os continentes que apresentavam maior prevalência das variantes de preocupação
no período de agosto de 2020 a julho de 2021 foram África, Europa e América do Sul (Chan et
al., 2022). Segundo a OMS, as VOCs podem estar associadas ao aumento da transmissibilidade,
virulência e alterações clínicas da doença. Dentre essas, estão as variantes Alpha (B.1.1.7), Beta
(B.1.351), Gamma (P.1) e, em maior circulação nos últimos meses, segundo a OMS, estão a
Delta (B.1.617.2) e a Ômicron (B.1.1.529) (tabela 1). Enquanto as VOIs, Épsilon (B.1.427),
Zeta (P.2), Eta (B.1.525), Theta (P.3), Iota (B.1.526), Kappa (B.1.617.1), Lambda (C.37) e Mu
reconhecimento imunológico mesmo após infecção natural ou vacinação (Wratil et al., 2022).
Além disso, as mutações são descritas como estratégias de adaptação para aumentar o fitness
viral (Giovanetti et al., 2021). As mutações deletérias são compensadas por outros mecanismos
Calap, 2016). Já se sabe que a proteína S é o principal alvo de anticorpos neutralizantes após a
mRNA e adenovírus (Piccoli et al., 2020; Harvey et al., 2021). Como consequência, as
mutações que afetam a antigenicidade da S são de relevância para controle das variantes. Uma
mutação já descrita por aumentar a infectividade viral é a D614G, que passou a ser comum em
sequências de Spike a partir de 2020, a medida em que o vírus se espalhava (Figura 3). Essa
variação da S contém uma substituição fora do domínio RBD, que causa a mudança
que implica em uma maior infectividade e replicação em células epiteliais das vias aéreas em
humanos.
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Porém, ainda não há evidências que associem essa mutação a letalidade (Hou et al., 2020;
Korber et al., 2020; Plante et al., 2021, Zhou et al., 2021). Com o aumento da disseminação de
Figura 3: Mutações presentes na proteína Spike das VOCs (Alpha, Beta, Gamma, Delta e Ômicron).
Representação da ligação da proteína S com o receptor celular ECA2 e a localização das mutações na proteína S
em cada uma das variantes de preocupação (Adaptado de Aydodgu et al., 2022).
eficiência de imunizantes (Aydodgu et al., 2022). No final do ano de 2020, a variante Alpha
(B.1.1.7) foi identificada pela primeira vez no Reino Unido e associada a alterações genéticas
enquanto os com menos de 70 anos apresentavam uma taxa de 5,3% (Cetin et al., 2021). A
mutação N501Y está ligada ao aumento da afinidade com o receptor hACE-2, fazendo da
B.1.1.7 a variante com maior afinidade ao receptor descrita até o momento (Cameroni et al.,
Alpha não demonstrou redução da eficácia de vacinas para prevenção da progressão a casos
variante Beta (B.1.351) chegou a uma prevalência de 87% dentre os casos notificados na África
do Sul, com aumento da letalidade chegando a 20% durante hospitalização (Campbell et al.,
2021; Tegally et al., 2021; OMS, 2022). Dentre as mutações presentes na proteína S dessa
variante, há três delas (K417N, N501Y e E484K) localizadas na região RBD, aumentando a
afinidade com o hACE-2 (Figura 3). Como consequência, podem afetar a resposta de anticorpos
vacinação e terapia de anticorpos monoclonais (Wibmer et al., 2021). Essas mesmas três
mutações e suas consequências também são descritas na variante Gamma (P.1), identificada em
Manaus, no Brasil. Sua taxa de infecção chegou a 75% dos casos notificados na região. Porém,
apesar do potencial escape imunológico pós infecção, não houve impacto descrito na gravidade
da COVID-19 (Buss et al., 2021; Campbell et al., 2021; Faria et al., 2021; Tao et al., 2021).
No ano de 2020, a variante Delta (B.1.617.2) foi identificada na Índia e classificada como VOC,
relacionada a casos fatais de COVID-19. Em abril de 2021, a Delta foi considerada VOI, porém,
devido ao aumento exponencial do número de casos no Reino Unido, passou a ser considera
VOC em maio do mesmo ano. Quando comparada a Alpha, essa cepa se mostrou ainda mais
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transmissível e acometendo mais casos de COVID-19 grave (Salvatore et al., 2021; Bolze et
al., 2021). Um relatório publicado pelas autoridades de saúde da Inglaterra em 2021 comparou
induzidos por vacinas (Public Health England, 2021). Além disso, a mutação P861R na proteína
spike presente no local de clivagem de S1 e S2 por furina contribui para a replicação viral da
Delta, uma vez que facilita a entrada do vírus na superfície celular e consequente aumento do
Em novembro de 2021, foi identificada pela primeira vez na África do Sul uma nova
variante nomeada Ômicron (B.1.1.529), que se apresenta em quatro linhagens, BA.1, BA.2 e
BA.3, BA.4, BA.5 (Cameroni et al., 2022; OMS, 2022). Dentre as mutações presentes na
proteína S, seis delas G339D, N440K, S477N, T478K, Q498R, G496S e N501Y são descritas
por aumentarem a afinidade com hACE-2, enquanto K417N, G446S, E484A, Q493R, G496S,
Q498R e N501Y, todas no domínio RBD, estão diretamente ligadas à redução da neutralização
(Figura 4a) (Hoffmann et al., 22; Mannar et al., 2022; Planas et al., 2022) (Figura 4). A proteína
S da Ômicron possui maior interação com o receptor ACE da célula hospedeira, aumentando
sua infectividade, fazendo com que seja considerada uma VOC segundo a OMS (Yin et al.,
2022). Um estudo realizado por Hui e colaboradores em pulmão de ex vivo, destacou que a
Ômicron é capaz de infectar e se replicar até setenta vezes mais rápido do que a linhagem
receberam até duas doses do imunizante (Netzl et al., 2022). Contudo, apesar de mais
contagiosa, a Ômicron já foi associada a infecções menos graves em comparação com outras
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cepas, como a Delta. Tal fato foi corroborado com a redução das internações por COVID-19
em países de grande circulação, como os EUA (Wang et al., 2022). Com isso, a disseminação
exponencial da Ômicron (Figura 4b) mesmo após ampla cobertura vacinal adotada por diversos
países no ano de 2021, evidencia seu potencial escape imunológico, ainda que as chances de
Figura 4: Estrutura da proteína Spike da Ômicron e sua distribuição epidemiológica no período de março
2020 a junho de 2022. (a) Sequência da proteína S da variante Ômicron, destacando a localização de cada mutação
já descrita (adaptada de Cameroni et al., 2020). (b) Distribuição epidemiológica da Ômicron ao redor do mundo
no período de março a junho de 2022 em comparação às demais variantes do SARS-CoV-2. Dados obtidos através
da plataforma Nextrain (https://nextstrain.org/sars-cov-2/).
Saúde (OMS), ocorre através do contato direto ou indireto das vias aéreas com gotículas
expelidas por indivíduos infectados através de tosse, espirro ou saliva, que podem estar
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dispersas no ar em forma de aerossol (Liu et al., 2020). Nas vias aéreas do hospedeiro, tanto no
trato superior quanto inferior, o vírus é capaz de se replicar em células epiteliais, endoteliais e
macrófagos alveolares, sugerindo que o pulmão seja o seu tropismo primário (Harrison e Wang,
2020; Ziegler et al., 2020). Uma vez infectado, o período de incubação dura em média 5 dias e,
ambos os casos, é possível transmitir o vírus para outros indivíduos (Liu et al., 2020).
caracterizada por febre, fadiga, dor muscular, tosse seca, perda de olfato e paladar (Darif et al.,
2021; Hu et al., 2021). Contudo, apesar do esforço da comunidade científica para implementar
pela população, os mecanismos que levam à forma grave da COVID-19 ainda não são
totalmente compreendidos. Já se sabe que indivíduos com idade acima de 60 anos e/ou
são considerados do que consideramos “grupos de risco”, ou seja, com maior propensão a
desenvolver a forma grave da doença (Kaeuffer et al., 2020). A piora do quadro clínico, que
ocorre em torno de 9 a 12 dias após o início dos sintomas, é caracterizada por falta de ar,
e são diagnosticados com frequência nos que se incluem nos grupos de risco (Chen et al., 2020;
desbalanço nas respostas imunes inata, celular e humoral, tendo como consequência a supressão
infecção, como o pulmão, a infecção pelo SARS-CoV-2 leva ao recrutamento de células como
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monócitos, macrófagos derivados de monócitos e neutrófilos (Liao et al., 2020). Essas células
passam a produzir mediadores pró-inflamatórios como fator de necrose tumoral alfa (TNF-α),
Schultze e Aschenbrenner, 2021) (Figura 5). Além disso, o aumento de neutrófilos e seus
gravidade. A NETose é uma forma de morte de neutrófilos que pode ser desencadeada por
Estudos já mostraram que durante a infecção, há liberação excessiva de NETs por neutrófilos
(Leppkes et al., 2020; Veras et al., 2020; Gibbs, Zuo et al., 2020; Shreenivas e Hudock, 2022).
correlaciona com a alta expressão de IFNs do tipo I e III no pulmão (Broggi et al., 2020;
colaboradores incluindo 50 pacientes críticos com COVID-19, mostrou que esses indivíduos
apresentavam uma resposta de IFN-I prejudicada, onde havia inibição total de IFN-β e redução
nos níveis de IFN-α em células imunes do sangue periférico. Tal fato também foi associado a
uma carga viral persistente no sangue, que induzia a uma resposta inflamatória exacerbada
Alguns estudos compararam pacientes graves com os que se recuperaram mais rapidamente e
foi vista uma redução nas subpopulações de células T (CD4+, CD8+, Th1, Th17 e Treg),
principalmente nos mais críticos e com carga viral mais elevada (Yi et al., 2020; Caldrer et al.,
enquanto em pacientes com a forma branda da doença, foi observada ativação de T CD8 + de
as formas leve e grave doença. Foi visto uma redução considerável de monócitos clássicos
comparação àqueles que apresentaram sintomas leves e aos controles saudáveis na fase inicial
da doença (Wilk et al., 2020). Juntamente a isso, foi observada redução de subpopulações de
células imune inatas como linfócitos Tγδ, células dendríticas plasmocitóides (pDCs),
convencionais (DC) e células Natural Killer (NK) no soro de pacientes graves. Tal fato levou
os autores a considerarem que o agravamento do quadro também pode estar associado a uma
redução dessas células na fase inicial da COVID-19. Porém, nas fases mais tardias, os
Diante de todo o quadro de desbalanço da resposta imune para conter a infecção, uma
vez que o quadro inflamatório não seja revertido, danos mais graves como inflamação sistêmica
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e falência de múltiplos órgãos podem levar o indivíduo a óbito (Harrison e Wang, 2020; Tang
et al., 2020).
de classe I (MHC-I); degradar proteínas danificadas por condições de estresse celular, como a
WeinBerg, 2015; Schneider, Lee e Nicola, 2021). As proteínas a serem degradadas por UPS
maioria das células, composto por uma partícula central 20S. Sua estrutura é formada por um
ocorre de forma independente de ATP. As subunidades α1-7 (também identificadas pelos genes
PSMA1-7) compõem os dois anéis externos, que facilitam o reconhecimento da proteína a ser
degradada, além de recrutarem proteínas reguladoras (Krüger e Kloetzel, 2012). Já os dois anéis
internos, que apresentam as subunidades cataliticamente ativas, são compostos por β1-7 (genes
β1, β2 e β5 exercem atividade proteolítica e são expressas de forma constitutiva nas células
(Groll et al,1997; McCarty e Weinberg, 2015). Essas três subunidades são responsáveis pela
2021). Contudo, os anéis externos α podem se ligar a um ou dois complexos reguladores 19S
ATPase, que desdobram a proteína para introduzi-la no núcleo 20S, de forma dependente de
ATP (Liu e Jacobson, 2013). Após a degradação proteica em múltiplas clivagens pelo
são transportados do citosol para o retículo endoplasmático (RE) pela proteína transportadora
para processamento de antígeno (TAP) - uma subunidade do MHC-I que agrupa as moléculas
e Hämmerling, 1993). Em seguida, os peptídeos serão apresentados via MHC-I para células T
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CD8+, tanto na superfície de células infectadas quanto por células apresentadoras de antígenos
estímulo inflamatório, como por interferon gama (IFN-γ) ou fator de necrose tumoral alfa
homólogas, que foram identificadas como β1i (gene PSMB9, low molecular weight protein 2,
LMP2), β2i (gene PSMB10, multicatalytic endopeptidase complex-like 1, MECL-1) e β5i (gene
PSMB8/LMP7 (Ortiz-Navarrete et al., 1991) (Figura 5). As subunidades β1i e β5i são
codificadas por genes da região do MHC-II (Aki et al., 1994; Tanaka, 1994; McCarty e
Weinberg, 2015).
No IP, a atividade enzimática do tipo caspase exercida por β1i é reduzida em relação à
2015). A maioria desses epítopos gerados por imunoproteassoma são descritos como
imunodominantes, desencadeando uma resposta por células T citotóxicas (CTL) mais robusta
em relação a epítopos gerados a partir das mesmas regiões de proteínas que sofreram
vigilância imunológica (Angeles, Fung e Luo, 2012). O estímulo por IFN-γ nas células induz,
além das subunidades do IP, genes de moléculas de MHC-I e II, genes TAP e o regulador 11S
(Sugiyama et al., 2013). Assim como o regulador 19S, esse complexo se liga a 20S, e é capaz
Raule et al., 2014). Além disso, o mecanismo regulatório envolvido na expressão das
subunidades de IP induzida por IFN-γ também está relacionado com a ativação de fatores de
interferon 1 (IRF-1) (Nakimi et al., 2005; Angeles, Fung e Luo, 2012). O imunoproteassoma
também tem seus mecanismos associados à outras funções e patologias, como polarização de
macrófagos alveolares (Chen et al., 2016); doenças pulmonares (Keller et al., 2015);
neurodegenerativas e cognitivas (Mishto et al., 2016, Wagner et al., 2017; Bi et al., 2021);
inflamatórias crônicas (Koerner et al., 2017; De Freitas Chama et al., 2021; Du et al., 2021) e
imunes (Angeles, Fung e Luo, 2012). Em estudos com DCs derivadas da medula óssea de
camundongos β1i-/-, foi observada uma redução de IFN-α, IL-1β, IL-6 e TNF-α em comparação
aos do tipo selvagem (Hensley et al., 2010). Essa redução da capacidade de produzir citocinas
24
também foi associada com uma sinalização comprometida de NF-κB (Hensley et al., 2010).
Além de aumentar a eficiência das respostas de CD8 + por apresentação de antígenos via
dessas células. Em animais β2i -/-, houve uma redução de células T CD8 no baço e aumento da
células (Basler et al., 2006; McCarty e Weinberg, 2015). Ademais, o IP também auxilia na
que a oxidação proteica faz parte de um mecanismo metabólico, é fundamental que a célula
aumente a taxa de degradação proteica sob condições de estresse oxidativo (Aiken et al., 2011).
Nessas condições, o IP, principalmente quando ligado ao regulador PA28 atua removendo
infectadas por CTL (Groettrup e Basler, 2010). Em um estudo realizado por Chen e
impactando na sobrevivência dos animais e na expansão de células CD8 + (Chen et al., 2001).
pelo vírus da hepatite B (HBV) e da coriomeningite linfocítica (LCMV) (Robek et al., 2007;
Kincaid et al., 2012; Kimura et al., 2015). Tais dados evidenciam o papel do imunoproteassoma
SARS-CoV em diferentes horas pós infecção (hpi). Foi visto que, na infecção por MERS-CoV,
os genes β5i e β1i foram regulados negativamente a partir de 12hpi. Já na infecção por SARS-
CoV, esses mesmos genes foram regulados positivamente a partir de 36hpi. Esses dados então
sugerem que MERS pode limitar a resposta imune adaptativa do hospedeiro, limitando a
em fases mais tardias da infecção nas vias aéreas (Josset et al., 2013). Já no SARS-CoV-2, em
desses animais, atribuído a atividade aumentada de 20S e 26S em células alveolares. Com isso,
os autores correlacionaram a indução de IP estimulada por IFN-γ com uma resposta imune
eficiente à infecção nos pulmões (Keller et al., 2015). Quanto ao papel do IP na polarização de
26
β1i-/- ou β5i-/- receberam estímulo por LPS ou IFN-γ para indução da polarização em M1 ou
estímulo com IL-4 para polarização em M2. Foi visto que a polarização em M1 era
independente de β1i e de β5i. Já em M2, observaram que a inibição de β1i era neutralizante da
2. JUSTIFICATIVA
O SARS-CoV-2 têm se espalhado rapidamente entre hospedeiros humanos e causado
milhões de casos de COVID-19 por todo o mundo, e não há tratamento eficaz descrito até o
momento. A patogênese desse vírus destaca-se pela sua entrada nas vias aéreas e disseminação
por diversos órgãos, acometendo tecidos-alvo como os pulmões, principalmente naqueles que
apresentam comorbidades prévias ou idade acima de 60 anos (Chan et al., 2020). Caso a
resposta imune do hospedeiro não seja eficiente para conter a replicação viral, a infecção aguda
prévios descrevem que a forma grave da COVID-19 tem como característica principal a
produção excessiva de mediadores pró-inflamatórios nos pulmões (Liu et al., 2020; Walls et
al., 2020). Essa resposta inflamatória exacerbada também está associada ao recrutamento e
desbalanço da resposta imune e promoção da lesão tecidual durante a forma grave da COVID-
19 ainda não são totalmente conhecidas. (Harrison e Wang, 2020, Merad e Martin, 2020).
Durante uma infecção viral, já se sabe que a ativação do IP faz parte da resposta imune inata
Tendo em vista que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode desencadear o recrutamento de células
imunes e quadros de inflamação aguda no pulmão, é de interesse avaliar se, diante desse
ativação das subunidades do IP, diante do ambiente inflamatório induzido durante a infecção
pelo SARS-CoV-2, pode estar associada a uma ativação da resposta imunológica nos sítios-
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
transcriptoma;
COVID-19;
desfechos da COVID-19;
28
clínicos da COVID-19;
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Análises de transcritos através de bancos de dados de scRNA-seq de fluido de
lavado broncoalveolar (LBA) de pacientes com COVID-19
de pacientes com COVID-19, foram utilizados dados de sequência de RNA de célula única (do
inglês, single cell RNA sequencing) (Tang et al., 2009). Os dados foram adquiridos através da
colaboradores (ID: GSE145926) (Liao et al., 2020) e por Bost e colaboradores (ID:
GSE157344) (Bost et al., 2021). Agrupando os dados obtidos dos dois grupos, a coorte conta
com dados de 3 indivíduos de grupo controle, 3 pacientes com a forma moderada da COVID-
19 e 27 com a forma grave da doença. Foram considerados como pacientes moderados aqueles
respiratório, saturação de oxigênio ≤ 93% em repouso, razão entre pressão parcial de oxigênio
arterial e fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2) ≤ 300mmHg e progressão das lesões em até
48h por imagem pulmonar. Dos pacientes graves, 17 sobreviveram e 10 foram a óbito. Para as
(Stuart e Butler, 2019) da linguagem de programação R, onde foram criados os objetos para
cada paciente incluindo metadados de desfecho, grau de severidade, sexo e idade, seguido pela
viabilidade celular, foram consideradas as células que continham pelo menos 1.000 anotações
celulares (nCount_RNA), conteúdo de RNA derivado de DNA mitocondrial menor do que 10%
nas análises-. A divisão de grupos celulares foi obtida por clusters, identificados com uma
dplyr. Em seguida, foram realizadas análises de expressão diferenciais para os genes das três
possível obter tabelas contendo os níveis de expressão de cada gene para cada subgrupo celular.
As análises estatísticas entre os grupos com diferentes quadros clínicos e desfechos para
GenBank do National Library of Medicine (NIH- NCBI) (tabela 2). As sequências foram
analisadas através de uma ferramenta computacional, iPCPS, utilizada para prever locais de
foi configurado para gerar modelos com maior sensibilidade (SE), com o intuito de aumentar a
com sensibilidade (SE) 0.906 e especificidade (SP) 0.545. Para proteassoma, foi utilizado o
mesmo modelo, com SE 0.855 e SP 0.603. Os resultados entre os perfis de clivagem foram
comparados manualmente. Tabela 2: Código de acesso para a sequência FASTA de cada uma
Delta OL664045.1
Ômicron OL672836.1
Epsilon MW453103.1
Zeta MZ833438.1
Eta MZ362451.1
Theta MW896444.1
Iota MZ702450.1
Kappa OM366054.1
Lambda MZ275302.1
serão utilizados dados de sc-RNA-seq (Tang et al., 2009). Os dados serão adquiridos através
colaboradores (ID: GSE157344) (Bost et al., 2021). A coorte conta com dados de 5 indivíduos
de grupo controle, 7 pacientes com a forma moderada da COVID-19 e 20 com a forma grave
da doença. Os pacientes moderados são aqueles que apresentaram sintomas respiratórios, febre
pressão parcial de oxigênio arterial e fração inspirada de oxigênio (PaO 2/FiO2) ≤ 300mmHg e
progressão das lesões em até 48h por imagem pulmonar. Dos pacientes graves, 8 sobreviveram
e 12 foram a óbito. Para as análises de expressão gênica, os dados serão implementados através
criados os objetos para cada paciente incluindo metadados de desfecho, grau de severidade,
principais (PCA). Para parâmetros de viabilidade celular, serão consideradas as células que
contenham pelo menos 1.000 anotações celulares (nCount_RNA), conteúdo de RNA derivado
de DNA mitocondrial menor do que 10% (Percent.MT) e pelo menos 200 e no máximo 6.000
número de eventos que serão considerados nas análises. Pretendemos obter a divisão de grupos
celulares por clusters, identificados com uma resolução de 1.2 (FindClusters). Os dados serão
obtidos com auxílio das bibliotecas ggplot2 e dplyr. Em seguida, realizar análises de expressão
5. RESULTADOS PRELIMINARES
5.1 Predomínio de células mieloides CD14+ no LBA de pacientes com COVID-19
desfechos da COVID-19, nós compilamos dois bancos de dados de transcritos obtidos através
moderada - com quadros que não requeriam hospitalização-, 27 pacientes com COVID-19
assintomáticos).
Nosso primeiro passo foi caracterizar o perfil de células presentes nos LBA desses
pacientes, onde foram identificados 36 agrupamentos celulares (clusters) por meio de expressão
células mieloides CD14+ (com expressão diferencial de CD14+ e LYZ+), macrófagos alveolares
(CD3D+), células natural killers (NK) (GNLY+) e megacariócitos (PPBP+). A distribuição por
similaridade dessas populações pode ser observada utilizando o algoritmo UMAP, sendo cada
subpopulação indicado por uma cor (Figura 7). Através dessa análise, foi possível observar
que a maioria das células do LBA dos pacientes com COVID-19 expressam CD14+,
subpopulação majoritária.
33
Figura 7: Mapa dos agrupamentos celulares presentes no fluido de lavado broncoalveolar de pacientes com
COVID-19. Foram incluídos transcritos de pacientes com COVID-19 moderada (n=3), grave (n=27) e controles
(n=3). Foram identificados 36 subtipos celulares representados graficamente por UMAP, sendo células que
expressam CD14+ as mais abundantes.
Dada o aumento global de células mieloides CD14+ total no LBA dos pacientes com
células, comparando o nível de expressão entre os três grupos. Observamos que as três
(Figura 8b).
34
Figura 8: Expressão das três subunidades do IP aumentadas em células CD14 + no LBA de pacientes com
COVID-19 moderada e grave em relação ao grupo controle. (a) Expressão dos genes do proteassoma
constitutivo PSMB6, PSMB7 e PSMB5 e (b) do imunoproteassoma PSMB9, PSMB10 e PSMB8 em CD14+ em
controles (n=3), pacientes com COVID-19 moderada (n=3) e grave (n=27). ANOVA com P <0,001.
19 pode ter relação com o estímulo inflamatório durante a infecção, o próximo passo foi
Assim, comparamos a expressão de β1i, β2i e β5i nas APCs (macrófagos alveolares, DCs e
pDCs) e em monócitos nos transcritos de LBA dos três grupos. Nos macrófagos, observamos
35
um aumento dos níveis de expressão de IP apenas no grupo com COVID-19 moderada e não
houve diferença significativa entre os grupos grave e o controle (Figura 9a). Nas DCs,
observamos o aumento de β1i, β2i e β5i em ambos os quadros clínicos quando comparados ao
controle (Figura 9b). Nas pDCs, assim como nos macrófagos, observamos a indução de IP
evidenciada apenas nos casos de COVID-19 moderada (Figura 9c). Nos monócitos, assim
como nas DCs, a indução de IP é vista em ambos os grupos infectados (Figura 9d). Nosso
dados sugerem que a ativação do IP em células apresentadoras, como macrófagos e pDCs, pode
estar contribuindo para uma resposta robusta na fase inicial de uma infecção, restringindo a
a
36
d
37
Figura 9: Expressão das três subunidades do IP células apresentadoras de antígeno (APCs) e monócitos no
LBA de pacientes com COVID-19 moderada e grave. Expressão dos genes PSMB9, PSMB10 e PSMB8
respectivamente em (a) macrófagos alveolares, (b) células dendríticas, (c) células dendríticas plasmocitóides e (d)
monócitos nos grupos controle (n=3), pacientes com COVID-19 moderada (n=3) e grave (n=27). ANOVA com P
<0,001.
com quadros moderados da doença, o próximo passo foi observar se essa indução se
antígenos nas APCs. De início, observamos o nível de expressão das proteínas transportadoras
PA28α/β (codificado pelo gene PSME1) nas APCs. Nos macrófagos alveolares, observamos
que o regulador PSME1 foi induzido apenas no grupo moderado, enquanto TAP1 e TAP2
apesar de não apresentarem diferença significativa entre os grupos COVID-19 e o controle, foi
visto um aumento significativo no grupo moderado em relação ao grave (Figura 10a). Nas
DCs, observamos que há indução de PSME1 e TAP1 durante a infecção, sem diferença
significativa entre os quadros clínicos, enquanto TAP2 é induzido no grupo grave (Figura 10b).
Nas pDCs, PSME1 é induzido nos casos moderados, enquanto TAP1 aumenta nos grupos
infectados, sem diferença entre eles, e TAP2 não é induzido durante a infecção quando
c
39
Figura 10: Expressão de genes associados ao processamento e apresentação de antígenos nas APCs do LBA
de pacientes com COVID-19 moderada e grave. Expressão dos genes TAP1, TAP2 e PSME1 em (a) macrófagos
alveolares, (b) células dendríticas e (c) células dendríticas plasmocitóides nos grupos controle ( n=3), pacientes
com COVID-19 moderada (n=3) e grave (n=27). ANOVA com P <0,001.
Em seguida, avaliamos os níveis de expressão de MHC-I nessas células (codificado pelo gene
HLA-A), associado a apresentação antigênica nos diferentes quadros clínicos. Assim, seguindo
um perfil similar ao observado nas subunidades do IP, o MHC-I também apresenta níveis de
Figura 11: Expressão de MHC-I nas APCs do LBA de pacientes com COVID-19 moderada e grave.
Expressão de HLA-A em (a) macrófagos alveolares, (b) células dendríticas e (c) células dendríticas plasmocitóides
nos grupos controle (n=3), pacientes com COVID-19 moderada (n=3) e grave (n=27). ANOVA com P <0,001.
Através das presentes observações, é possível notar que o aumento do IP, do regulador
com COVID-19 moderada pode estar impedindo a evolução da doença, o próximo passo é
graves. Para isso, utilizamos transcritos de LBA dos 27 pacientes graves, que foram
subdivididos entre os que sobreviveram (n=17) e os que foram a óbito (n=10). Assim,
observamos que há uma maior indução de IP nas APCs de pacientes que sobrevivem ao quadro
c
41
Figura 12: Análise da expressão das três subunidades do IP células apresentadoras de antígeno (APCs) no
LBA de pacientes com COVID-19 grave. Foram incluídos dados de LBA de pacientes graves que sobreviveram
(n=17) e nos que foram a óbito (n=10). Teste t com C.I > 95%.
Visto que as subunidades de IP são induzidas nas APCs daqueles que sobrevivem,
levantamos a hipótese de que esse fato também poderia estar associado a uma maior
apresentação e processamento antigênico nesse mesmo grupo. Assim, observamos que nos
Enquanto nas subpopulações de células dendríticas, não houve diferença de expressão entre os
Figura 13: Análise da expressão de MHC-I em células apresentadoras de antígeno (APCs) no LBA de
pacientes com COVID-19 grave. Foram incluídos dados de LBA de pacientes graves que sobreviveram (n=17)
e nos que foram a óbito (n=10). Teste t com C.I > 95%.
42
Uma vez que houve indução de IP e MHC-I nos macrófagos alveolares dos que
(Figura 14). Logo, nossos resultados sugerem que, a indução de IP somada ao favorecimento
Figura 14: Análise da expressão de genes associados a apresentação antigênica em macrófagos alveolares
no LBA de pacientes com COVID-19 grave. Foram incluídos dados de LBA de pacientes graves que
sobreviveram (n=17) e nos que foram a óbito (n=10). Teste t com C.I > 95%.
número de linfócitos, a ativação e resposta das células T CD8+ estão associadas a proteção
contra as formas graves da COVID-19 (Rha e Shin, 2021). A partir disso, nosso próximo passo
IP em CD8+ tanto nos pacientes moderados quantos nos graves (Figura 15).
43
Figura 15: Expressão das subunidades do imunoproteassoma em células T CD8 + do LBA de pacientes com
COVID-19 moderada e grave. Expressão de PSMB9, PSMB10 e PSMB8 respectivamente em células T CD8+
nos grupos controle (n=3), pacientes com COVID-19 moderada (n=3) e grave (n=27). ANOVA com P <0,001.
Com relação a funções efetoras de células CD8+ durante a COVID-19, nós inicialmente
avaliamos a expressão de três genes marcadores de função efetora e/ou citotoxicidade dessas
que reconhece antígenos apresentados por APCs via MHC-I, está aumentado em ambos os
associada a atividade citotóxica de CD8 +, está mais expressa nas células de pacientes de
COVID-19 grave. Enquanto na granzima B (GZMB), não apresenta aumento significativo entre
os grupos (Figura 16). Contudo, nosso estudo tem como perspectiva futura uma análise mais
Figura 16: Expressão de genes associados a função efetora de células T CD8 + do LBA de pacientes com
COVID-19 moderada e grave. Expressão de CD8A e das granzimas GZMK e GZMB em células T CD8+ nos
grupos controle (n=3), pacientes com COVID-19 moderada (n=3) e grave (n=27). ANOVA com P <0,001.
ativação de células CD8+. Os resultados obtidos indicam que não há expressão significativa de
IFN-γ nos grupos infectados, enquanto TNF-α é mais expresso em CD8+ de pacientes graves
(Figura 17).
45
Figura 17: Expressão de genes associados a mediadores inflamatórios em células T CD8 + do LBA de
pacientes com COVID-19 moderada e grave. Expressão dos genes IFNG e TNF em células T CD8+ nos
grupos controle (n=3), pacientes com COVID-19 moderada (n=3) e grave (n=27). ANOVA com P <0,001.
Uma vez que nossos resultados indicaram que há maior expressão de IP em células
CD8+ em ambos os grupos infectados, o passo seguinte foi observar se a indução também
poderia estar correlacionada com o desfecho da COVID-19. Observamos que, nas células CD8+
daqueles que sobrevivem, também há uma maior expressão de IP em comparação aos que vão
Figura 18: Análise da expressão das três subunidades do IP em células T CD8+ no LBA de pacientes com
COVID-19 grave. Expressão de PSMB9, PSMB10 e PSMB8 respectivamente em células T CD8 + no LBA de
pacientes graves que sobreviveram (n=17) e nos que foram a óbito (n=10). Teste t com C.I > 95%.
desfechos da COVID-19, próximo passo foi observar se a clivagem proteassomal poderia estar
FASTA, sendo elas Wuhan, Alpha, Beta, Gamma, Delta, Ômicron, Epsilon, Zeta, Eta, Theta,
Iota, Kappa e Lambda. Com auxílio do algoritmo iPCPS, obtivemos o número de sítios de
Figura 19: Sítios de clivagem por proteassoma e imunoproteassoma de proteínas estruturais de variantes
do SARS-CoV-2. O número de sítios de clivagem na sequência FASTA de cada proteína estrutural foram
obtidos através do algoritmo iPCPS.
da variante Ômicron foi superior às demais variantes, inclusive na porção que corresponde ao
domínio RBD. Essa variante, apesar de uma grande dispersão na população mundial, está
Com isso, nossos dados preliminares sugerem que uma maior quantidade de sítios
clivagem na proteína de entrada na variante Ômicron, quando comparada às demais, pode estar
associada a uma seleção por apresentação antigênica e resposta por anticorpos neutralizantes.
PERSPECTIVAS FUTURAS
Os próximos passos do desenvolvimento deste estudo serão a análise da expressão de
genes associados ao IP e a ativação de células CD8 + nas células do BALF nos diferentes quadros
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