Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-Á RIDO – UFERSA

Departamento de Linguagens e Ciências Humanas – DLCH


Campus Caraú bas
Curso de Letras – Língua Portuguesa
Componente Curricular: Literatura Brasileira I
Carga Horá ria: 75h Oferta: 2023.2
Professora: Micaela Sá – micaela.sa@ufersa.edu.br

Discentes: Francisca Gabrielly de S. Praxedes


Klévia Denise Souza da Silva Ferreira

ATIVIDADE I – UNIDADE I

1. (2,0) A partir da leitura da “Carta de Pero Vaz de Caminha” e do que foi


observado no episó dio do documentá rio "As guerras do Brasil", escreva um
comentá rio argumentativo apontando como se dá a visã o portuguesa e
indígena no que se refere ao processo colonizador. Para embasar
teoricamente seu comentá rio, utilize o texto “A caminho da carta de
Caminha”, de Flá vio Rene Kothe.

Resposta:
A análise do processo colonizador no Brasil, considerando a visão portuguesa e
indígena, revela um cenário complexo e multifacetado. A "Carta de Pero Vaz de
Caminha" e o documentário "As Guerras do Brasil" oferecem perspectivas distintas sobre
a colonização, e a abordagem crítica de Flávio Rene Kothe, no texto "A caminho da carta
de Caminha", adiciona uma dimensão teórica valiosa à compreensão dessas narrativas.
A "Carta de Pero Vaz de Caminha" apresenta a perspectiva portuguesa sobre a
chegada ao Brasil em 1500. Caminha descreve a terra, os habitantes nativos e a
possibilidade de exploração econômica. A visão é eurocêntrica, marcada por concepções
de superioridade cultural e religiosa, evidenciando a mentalidade colonialista da época. A
abordagem de Caminha enfatiza a ideia de posse e conquista, alinhando-se com a
perspectiva de uma terra a ser explorada e dominada em nome de Portugal.
Contrastando com essa visão, o documentário "As Guerras do Brasil" destaca as
Guerras da Conquista que persistem ao longo dos séculos, evidenciando as lutas dos
povos indígenas contra a invasão e colonização. A narrativa revela a resistência indígena
diante do avanço europeu, mostrando a violência sofrida pelos nativos e a continuidade
desses conflitos até os dias atuais.
Flávio Rene Kothe, em sua análise crítica, argumenta que a Carta de Caminha não
pode ser considerada literatura, mas sim um documento de posse. Ele sugere que a
escolha dessa carta como marco inicial da literatura brasileira foi motivada por interesses
portugueses, perpetuando a visão de superioridade de Portugal sobre o Brasil. Essa
visão influenciou não apenas a representação da colonização, mas também a construção
da identidade nacional.
Em resumo, a visão portuguesa na Carta de Caminha é permeada por uma
mentalidade colonialista de conquista e exploração, enquanto o documentário destaca a
resistência indígena e as guerras que persistem. A análise de Kothe acrescenta uma
camada crítica, questionando a narrativa histórica e literária que moldou a percepção do
processo colonizador. Essa perspectiva ampliada permite uma compreensão mais
abrangente das dinâmicas de poder e das diferentes vozes envolvidas na construção da
história do Brasil.

2. (3,0) Atentando ao fato de que as narrativas podem mudar dependendo da


perspectiva do narrador, analise a narrativa A terra dos mil povos, de Kaká
Werá Jecupé e discuta como é apresentado, ao longo do texto, os aspectos
abaixo e para embasar teoricamente seu comentá rio, utilize o texto “Mas
existe literatura indígena brasileira?”, de Janice Thiel.

a) A tradiçã o oral e a relaçã o com a natureza;


b) A ancestralidade para os povos originá rios;
c) Processo colonizador do Brasil;
d) A pluralidade de mitos de surgimento.
Resposta:
A perspectiva do narrador desempenha um papel crucial na interpretação das
narrativas, moldando a compreensão dos leitores sobre os temas abordados. Ao analisar
a narrativa "A terra dos mil povos", de Kaká Werá Jecupé, à luz do texto de Janice Thiel,
podemos explorar como a tradição oral, a relação com a natureza, a ancestralidade, o
processo colonizador do Brasil e a pluralidade de mitos de surgimento são apresentados
ao longo do texto.
a) Tradição oral e relação com a natureza: A tradição oral é uma característica
fundamental das culturas indígenas, e a relação com a natureza frequentemente
desempenha um papel central nessas narrativas. No livro, a tradição oral é enfatizada
como uma forma autêntica de preservar e transmitir conhecimentos. A conexão com a
natureza está retratada à cosmovisão indígena, refletindo a interdependência entre seres
humanos e meio ambiente. Thiel, em seu texto, contribuiu para essa discussão,
destacando a importância da literatura indígena como veículo de transmissão de saberes
ancestrais e cosmológicos.
b) Ancestralidade para os povos originários: A valorização da ancestralidade é
evidente na narrativa, destacando a continuidade cultural e espiritual dos povos
originários. A literatura indígena, conforme discutido por Thiel, pode ser vista como uma
ferramenta que preserva e fortalece a conexão com a ancestralidade, contribuindo para a
construção identitária desses povos. A narrativa de Jecupé explora como as histórias
transmitidas oralmente preservam e honram as raízes culturais, reforçando a importância
da memória coletiva.
c) Processo colonizador do Brasil: A narrativa aborda o processo colonizador do
Brasil a partir de uma perspectiva indígena, oferecendo uma visão crítica e reflexiva
sobre os impactos desse processo na vida dos povos originários. Thiel, ao discutir
literatura indígena, fornece subsídios teóricos para entender como essas narrativas são
uma forma de resistência e afirmação diante da colonização, promovendo a diversidade
cultural e desafiando visões eurocêntricas.
d) Pluralidade de mitos de surgimento: A pluralidade de mitos de surgimento ao
explorada na narrativa como uma expressão da diversidade cultural dos povos indígenas.
A literatura indígena, conforme discutido por Thiel, evidencia a multiplicidade de visões de
mundo, mitos e narrativas presentes nas diferentes etnias. A pluralidade de mitos pode
ser considerada uma riqueza cultural, desafiando estereótipos e oferecendo uma
compreensão mais profunda da complexidade das culturas indígenas.
Em suma, ao considerar a narrativa "A terra dos mil povos" à luz do texto de
Janice Thiel, é possível abordar a riqueza das tradições indígenas, a resistência à
colonização, a valorização da ancestralidade e a diversidade mitológica. A literatura
indígena emerge como uma ferramenta vital para compreender e preservar as narrativas
desses povos, desafiando assim narrativas hegemônicas e contribuindo para a
construção de uma visão mais inclusiva da história e cultura brasileiras.

Você também pode gostar