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26/02/2024, 09:10 Jurisprudência do STJ sobre limitação à compensação tributária trazida pela MP 1.

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OPINIÃO

Jurisprudência do STJ sobre


limitação à compensação
tributária trazida pela MP
1.202/2023
Renato Lopes da Rocha 25 de fevereiro de 2024, 14h18

Tributário
https://www.conjur.com.br/2024-fev-25/jurisprudencia-do-stj-sobre-limitacao-a-compensacao-tributaria-trazida-pela-mp-1-202-2023/ 1/6
26/02/2024, 09:10 Jurisprudência do STJ sobre limitação à compensação tributária trazida pela MP 1.202/2023

Muito se tem debatido acerca da legalidade e constitucionalidade da


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limitação à compensação tributária trazida pela MP n° 1.202/2023,
com vigência desde a sua publicação em 29 de dezembro de 2023.

Mediante seu artigo 4º, a MP acrescentou à Lei n° 9.430/96 o inciso


X ao parágrafo 3º do artigo 74 e o artigo 74-A, estabelecendo, assim,
que a compensação de crédito decorrente de decisão judicial
transitada em julgado observará o limite mensal estabelecido em ato
do ministro da Fazenda — a Portaria Normativa 14/2024.

Essa portaria, em termos gerais, estabeleceu que, quando o valor


total atualizado dos créditos for superior a R$ 10 milhões, na data da
primeira declaração de compensação, haverá limitação progressiva à
compensação tributária.

Questionamentos judiciais têm sido feitos por contribuintes que se


sentem prejudicados no seu legítimo direito de liquidar obrigações
tributárias com a União por meio da compensação com créditos já
reconhecidos em definitivo pelo Poder Judiciário.

00:00/01:06

São vários e relevantes os fundamentos apresentados pelos


contribuintes, a exemplo da violação à proteção a coisa julgada e ao
direito adquirido, além de afronta aos princípios da moralidade
administrativa, isonomia e irretroatividade das normas.

E tem-se demonstrado que a limitação imposta pela MP à


compensação de créditos reconhecidos judicialmente apresenta
características de empréstimo compulsório, visto que o contribuinte
recolheu tributo indevido. Porém, a sua recuperabilidade por meio
da compensação tributária agora se daria a conta-gotas.

Não obstante a relevância dos argumentos em prol dos


contribuintes, decisões liminares têm sido proferidas confirmando a
limitação imposta pela MP n° 1.202/2023.

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E chama atenção o fundamento de algumas dessas decisões no


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sentido de que se aplica à compensação tributária a norma vigente
no encontro de contas, razão pela qual as compensações de créditos
tributários reconhecidos judicialmente levados ao crivo da Receita
Federal a partir de 5 de janeiro de 2024, data de publicação da
Portaria MF n° 14/2024, já estariam submetidas às regras da MP n°
1.202/2023.

Jurisprudência do STJ
Não há dúvidas de que a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça já sedimentou o entendimento de que realmente se aplica à
compensação tributária as normas então vigentes no momento do
encontro de contas.

No entanto, a aplicação desse entendimento do STJ aos


questionamentos envolvendo a limitação trazida pela MP n°
1.202/2023 tem ocorrido de maneira equivocada.

E é imperiosa a necessidade de se analisar, detidamente, a


jurisprudência daquela corte superior acerca da legislação aplicável
às compensações tributárias no momento do encontro de contas.

Em que pese a jurisprudência seja fonte


secundária do direito, fato é que as
decisões dos tribunais superiores têm
exercido papel fundamental na
aplicação do direito, muito se
aproximando do sistema do common
law.

Embora uma das finalidades da jurisprudência seja dar efetividade


aos primados da justiça e isonomia, de modo que casos iguais ou
semelhantes tenham o mesmo desfecho, não se pode fechar os olhos
para a realidade, segundo a qual a jurisprudência, ao longo do
tempo, tem se comportado como um “organismo vivo”, tendo em
vista as mudanças de entendimento sobre determinada matéria,
muitas ocorridas em razão da alteração do quórum das turmas
julgadoras.

O atual entendimento do STJ pode ser analisado à luz do Tema


Repetitivo 345 e é válida a observação da ementa do acórdão do
Recurso Especial n° 1.164.452/MG.

O Tema Repetitivo 345 do STJ afirma que a lei que regula a


compensação tributária é a vigente à data do encontro de contas
entre os recíprocos débito e crédito da Fazenda Pública e do
contribuinte.

Todavia, ao analisar a aplicação imediata da norma do artigo 170-A


do Código Tributário Nacional, que veda a compensação de crédito
objeto de controvérsia judicial antes do trânsito em julgado, a 1ª
Seção do STJ decidiu que tal vedação “não se aplica a ações judiciais
propostas em data anterior à vigência desse dispositivo, introduzido
pela LC 104/2001“.

O relator ministro Teori Zavascki se baseou na análise dos preceitos


envolvendo a incidência intertemporal das normas, inclusive com
base em outros precedentes do STJ, segundo os quais novas

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condições que restringem o exercício do direito à compensação


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tributária não seriam aplicáveis às ações ajuizadas antes da entrada
em vigor da lei que as instituiu.

Necessário ajuste do Congresso


Entre esses precedentes, merece especial atenção a decisão
proferida nos Embargos de Divergência no Recurso Especial
(EREsp) n° 488.992/MG. A leitura atenta do inteiro teor do acórdão
não deixa margem de dúvidas que se manteve o entendimento de
que se aplica à compensação a legislação vigente no momento do
encontro de contas.

Todavia, deixa claro que, ainda que uma ação tenha sido proposta
sob a égide de outra regulamentação mais restritiva relativa à
compensação, o contribuinte poderá realizar a compensação
administrativa segundo as regras aplicáveis quando do encontro de
contas, que alargaram o espectro da compensação tributária,
permitindo a liquidação de débitos de tributos federais de outra
espécie daquela do crédito do contribuinte, caso atenda aos
requisitos próprios.

A análise conjunta dos fundamentos das decisões do Tema


Repetitivo 345 e do EREsp n° 488.992/MG levam à conclusão de APOIO

que aplicar-se-á a legislação vigente no momento do encontro de


contas, porém restrições ao exercício do direito à compensação
tributária somente são aplicáveis às ações ajuizadas após a sua
entrada em vigor, exatamente como se tem presente com a edição da
MP n° 1.202/2023, que restringiu a compensação de créditos
tributários reconhecidos judicialmente.

Em outras palavras, com fundamento no Tema Repetitivo 345, a


restrição objeto da MP n° 1.202/2023, regulamentada pela Portaria
MF n° 14/2024, somente se aplica às ações ajuizadas a partir de 5 de
janeiro de 2024, caso, obviamente, o Supremo Tribunal Federal não
reconheça a sua patente inconstitucionalidade nos autos da Ação
Direta de Inconstitucionalidade n° 7587/DF ou através de recursos
em ações propostas pelos contribuintes.

Espera-se, por fim, que o Congresso repense o objeto da MP n°


1.202/2023 e não a converta em lei, ou, ao menos, faça o ajuste
necessário para sua aplicação às ações ajuizadas a partir de 5 de
janeiro de 2024, na medida em que a busca do equilíbrio fiscal não
deve ser feita ao arrepio dos preceitos constitucionais, mas sim no
devido cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Renato Lopes da Rocha


é sócio do Campos Mello Advogados em cooperação com o DLA Piper.

Tags: compensação tributária decisão judicial Direito Tributário MP 1.202/2023

superior tribunal de justiça

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