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Letras em dia, Português, 12 .

° ano Educação Literária

Alberto Caeiro

LDIA12DP © Porto Editora


Lê atentamente o poema que se segue.

XXII
Como quem num dia de verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara1 dos meus sentidos,
5 E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...

Mas quem me mandou a mim querer perceber?


Quem me disse que havia que perceber?

Quando o verão me2 passa pela cara


10 A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que isso é senti-lo...3

PESSOA, Fernando, 2010. Poesia dos Outros Eus.


2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 55)

1. Variante da expressão «Na cara»: «Na soma»;


2. Na primeira edição do poema: «nos»;
3. Variantes da frase «é que isso é senti-lo...»:
«é meu dever senti-lo...», «é completo senti-lo...»
e «é isso senti-lo...».
Letras em dia, Português, 12 .° ano Educação Literária

Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada.

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1 Descreve o estado de espírito do sujeito poético descrito nos versos 5 e 6 e relaciona-o com as
interrogações que constituem a segunda estrofe.

2 Identifica e explicita o valor do recurso expressivo utilizado nos versos 9 e 10.

3 Analisa a importância dos dois últimos versos, no contexto global do poema.

4 Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada


espaço.

Regista apenas as letras – (a), (b) e (c) – e o número que corresponde à opção selecionada em cada
um dos casos.

A estrutura externa do poema é marcada (a) , visto que há (b) nas estrofes,
na métrica e nas rimas. Estas características (c) .

(a) (b) (c)

1. pelas regras 1. irregularidade 1. afastam a poesia de


Caeiro da de Álvaro
2. pela liberdade 2. repetições
de Campos
3. pelo recurso a rimas 3. uma elaboração cuidada
2. são uma herança
emparelhadas
4. paralelismos de Ricardo Reis
4. pela regularidade
3. aproximam a poesia
métrica
de Caeiro da de
Pessoa ortónimo

4. refletem a naturalidade
defendida por Caeiro
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Letras em dia, Português, 12 .° ano Sugestões de resolução

Educação Literária

Alberto Caeiro, p. 5
1. O sujeito poético manifesta-se «confuso,
perturbado», por dar por si a tentar «perceber»,
quando efetivamente rejeita o pensamento e quer
apenas conhecer pelos «sentidos» (v. 4). As
interrogações da segunda estrofe constituem a sua
estratégia de reação ao seu estado de desorientação,
recriminando-se pelo seu impulso de «querer
perceber».
2. A personificação do «verão» contribui para tornar
mais intensa a relação do sujeito poético com a
natureza, uma vez que sugere a existência de um
contacto real entre o ambiente e o «eu». Por outro
lado, sugere igualmente que o sujeito poético se
relaciona com os elementos naturais como um par,
ou seja, como parte genuína da natureza, só nela
colhendo inspiração e exemplo para a sua forma de
estar na vida.

3. Os dois últimos versos do poema sintetizam o


sensacionismo de Caeiro. Depois de recusar o
pensamento, pelo que tem de artificial, o sujeito
poético expressa a sua plena integração na natureza
e, no final, declara que só pelos sentidos é possível
obter conhecimento, sem perturbações de ordem
racional.

4. (a) 2.; (b) 1.; (c) 4.

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