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03.2020.v1
AUTORES
Raul Fangueiro
Professor – Departamento
de Engenharia Mecânica
Investigador Sénior do Centro
de Ciência e Tecnologia Têxtil
Coordenador Geral da Fibrenamics
(Universidade do Minho)
Cristina Silva
Investigadora e Gestora de Projetos
da Fibrenamics
(Universidade do Minho)
Inês Boticas
Investigadora da Fibrenamics
(Universidade do Minho)
Francisca Guedes
Investigadora da Fibrenamics
(Universidade do Minho)
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01 O presente documento pretende ser um contributo
para a harmonização da informação disponível rela-
tivamente aos meios de proteção das mãos (luvas
médicas e cirúrgicas), abordando aspetos como os
tipos de proteção requeridos em função dos agen-
tes de risco, os materiais e os processos envolvidos
Desta feita, as luvas hospitalares são caracterizadas
como equipamentos de proteção individual e disposi-
tivos médicos descartáveis, fazendo parte das es-
tratégias de controlo epidemiológico. Apesar da com-
provada eficácia, o seu uso não invalida a necessi-
dade de executar práticas adequadas de higienização
na sua produção bem como a normalização aplica- das mãos.
da à validação/certificação do seu desempenho.
Trata-se de um documento que a todo o momento Abrangendo a área de dispositivos médicos e equipa-
poderá ser atualizado, encontrando-se aberto à mentos de proteção individual, a sua produção deverá
contribuição de todos aqueles que possuam infor- considerar a necessidade de atender a requisitos
mação relevante que possa ser disponibilizada de muito específicos, que na sua grande maioria se en-
forma indiscriminada neste momento de necessi- contram devidamente definidos através de normal-
dade de articulação de todos. ização europeia disponível. As soluções que se apre-
sentam neste documento resultam da análise crítica
As luvas são um equipamento de proteção individual da pesquisa efetuada, não se pretendendo que con-
que pretende evitar o contacto direto com agentes stituam, per si, formas únicas e redutoras de se obte-
externos perigosos. Pelo que, em ambiente hospita- rem os desempenhos necessários.
lar, se torna primordial a prevenção da contaminação
das mãos dos profissionais de saúde e dos pacien- Assim, considerando a necessidade de produção
tes, assim como a redução da transmissão de destes equipamentos a grande escala, outras
patógenos. A necessidade de utilização destes equi- soluções poderão ser exploradas recorrendo às tec-
pamentos pode, de igual forma, ser aplicada ao nologias e aos materiais disponíveis sem descura-
cidadão comum, em situações excecionais devida- mento dos requisitos de proteção dos utilizadores
mente identificadas pelas autoridades competentes. identificados, nem do cumprimento dos níveis de de-
sempenho exigidos.
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02 Tipologias
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02 Luvas de Látex: Adequadas para uso em procedi-
mentos diretos ao utente, que envolvam contacto
com sangue ou outros fluidos potencialmente
infeciosos ou material contaminado com estes,
quer para os profissionais, quer para os utentes. É
necessário que as Unidades de Saúde forneçam
Luvas de Nitrilo (EN 420, EN 388, EN 374-2, EN
374-3): apropriadas para indivíduos com sensibili-
dade ou reatividade clínica ao látex e em situações
em que existe risco moderado a alto de contacto
com sangue ou outros fluidos potencialmente
infeciosos. Têm uma resistência aos químicos,
luvas de outros materiais alternativos isentos de superior à de látex, como produtos à base de hidro-
látex, sobretudo aos profissionais sensíveis a este carbonetos (por exemplo: aqueles que contêm
componente [4]. óleo mineral, petróleo ou lanolina). O seu uso ade-
qua-se a profissionais com alergia ou sensibili-
Luvas de Vinil: Apropriadas para tarefas relativa- dade ao látex e que realizem procedimentos que
mente rápidas, que não sejam muito exigentes em envolvam contacto prolongado com sangue,
termos de manobras para a luva e em que existe fluidos corporais, produtos citostáticos e outros
risco baixo de contacto com sangue ou outros químicos [6].
fluidos potencialmente infeciosos. Uso adequado
para tarefas como a mudança de roupa da cama,
descontinuação de uma linha endovenosa,
remoção de uma arrastadeira/urinol e colocar na
zona suja, entre outros. Além disso, as luvas de
vinil, embora custem menos que outras luvas
sintéticas, o seu uso não é recomendado se o
utilizador estiver em contacto com riscos biológi-
cos como sangue, visto que o vinil tem uma maior
tendência a fazer microperfurações durante o seu
uso do que as luvas de outros materiais [5].
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02 Colocação e ajuste
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02 Na seleção da luva deverá ser tida em conta não
só a dimensão da mão do utilizador, mas também
o tamanho do cano, consoante o risco que pre-
tende proteger e que se encontra subjacente à
tarefa a executar. Quanto ao comprimento a luva
poderá apresentar 3 tipologias de cano: Cano
curto - < 320mm; Cano médio – de 320 a 430mm;
e Cano comprido - >430mm [7], [8].
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02 Rotulagem
Se existir qualquer dúvida acerca da legalidade da marcação CE das luvas recomenda-se que seja
contactado diretamente o fabricante ou o importador do EPI. Se, por razões práticas, a marcação
não puder ser aposta no próprio EPI, esta deverá ser aposta na sua embalagem [10], [11].
Quadro 2: Informação obrigatória na marcação das luvas e respetiva embalagem (adaptado de [8])
Nome do fabricante X
ou marca comercial
Identificação do fabricante X
ou representante
Designação da luva X X
e do tamanho
Marcação CE e número
de identificação do X X
organismo notificado
(Cat. III)
Pictogramas – segundo
os níveis de desempenho X X
(Cat. II e III)
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02 Para luvas que fornecem proteção contra bactérias e fungos é aplicado o símbolo de perigo biológico.
Para isto, a luva de proteção tem de ser testada segundo a norma europeia EN 374-5:2016 em relação
a estanqueidade a fugas.
Para proteção contra bactérias, fungos e vírus, o símbolo de perigo biológico é acompanhado pela
menção “VIRUS”, tal como se pode observar na Figura 3. Para além da proteção contra agentes quími-
cos e biológicos, as luvas médicas deverão ainda apresentar boa estabilidade estrutural e mecânica,
bem como resistência a estímulos físicos como a radiação, de forma a garantir a durabilidade e multi-
funcionalidade requerida em ambiente hospitalar [12].
Figura 3: Pictogramas referentes ao desempenho dos equipamentos de proteção face a diferentes agentes de risco,
adaptado de [12].
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02 Áreas de aplicação
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03 Como referido anteriormente, existem dois tipos de luvas médicas disponíveis: luvas de exame e
luvas cirúrgicas. Cada uma destas deve cumprir determinadas características específicas, prote-
gendo a pele e evitando a contaminação cruzada. Os materiais atualmente utilizados para a pro-
dução de luvas médicas incluem látex de borracha natural, borracha sintética, nitrilo, neopreno e
vinil (Quadro 3) [16].
No entanto, o látex pode provocar alergia, sendo que em períodos muito longos de utilização, pode
causar dermatites de contacto ou, menos frequentemente, sintomas do trato respiratório. Conse-
quentemente, existe um aumento no mercado de luvas com menor probabilidade de induzir
reações alérgicas, incluindo luvas sem látex utilizando materiais poliméricos. Em particular, a de-
manda por luvas de nitrilo tem crescido, impulsionada por políticas anti-látex em hospitais e
outras instituições de saúde [17].
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03 Luvas de exame
Os profissionais de saúde que trabalham
como cuidadores devem utilizar luvas para se
proteger a si e ao paciente da contaminação
cruzada durante os exames e procedimentos.
Luvas cirúrgicas
As luvas cirúrgicas (Figura 55) são utilizadas
por cirurgiões e outros profissionais de saúde
que estão em contacto direto com sangue,
infeções, ferramentas cortantes e outros obje-
Estas são excelentes para a utilização em situ- tos e substâncias nocivas que possam causar
ações não sanitárias podendo ser descarta- doenças ou infeções. Estas luvas devem ser
das a cada utilização. As luvas de exame (Fig- de alta qualidade, possuindo elevada resistên-
ura 4) não necessitam de ser fabricadas em cia [18].
materiais de alta qualidade e espessura.
Podem ser adquiridas em látex, vinil ou nitrilo
com um nível de espessura suficiente para a
adaptação às necessidades dos utilizadores.
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04 As luvas são produzidas em equipamentos com moldes de porcelana nas quais as matérias-pri-
mas e produtos químicos são aplicados e processados (Figura 6). Os detalhes de cada etapa de
fabricação variam de acordo com o tipo de equipamento e a matéria-prima, no entanto, geral-
mente para o processo de produção de luvas de látex incluem:
1. Composição - onde o material base é mis- 5. Lixiviação com água quente para remov-
turado com os outros produtos químicos er aditivos - como o nitrato de cálcio residu-
(aceleradores que suportam a vulcanização al, aceleradores e proteínas;
e melhoram o desempenho do filme de
látex); 6. Secagem (cura) e vulcanização;
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04 O processo de produção de luvas que não de
látex é similar ao apresentado anteriormente.
Após terminar a produção das luvas, cada
peça é sujeita a um processo de inspeção
visual, sendo que uma elevada percentagem
é igualmente testada relativamente às
dimensões, à resistência e à permeabilidade.
Por fim, as luvas são esterilizadas e embala-
das. As luvas são seladas através de um
equipamento de selagem automática de alto
vácuo [20].
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05 Certificação
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05 Equipamento de proteção
A marcação CE aplicada aos EPI visa definir
os requisitos básicos em matéria de saúde e
segurança a serem cumpridos pelos fabri-
cantes e a eliminar as barreiras ao comércio
O fabricante deve emitir uma declaração de
conformidade “CE”, que atesta que o EPI
colocado no mercado está conforme com as
disposições da diretiva, sendo colocada a
marca “CE”. Estes equipamentos podem ser
desses produtos no mercado do Espaço agrupados em três categorias, [8]:
Económico Europeu. A aposição da marcação
CE nos EPI indica que os mesmos cumprem Categoria I (Conceção simples) - Apenas
os requisitos harmonizados, permitindo que para riscos mínimos. O fabricante declara a
sejam comercializados em qualquer local da conformidade do seu produto pela emissão
UE. Esta condição é aplicável a produtos fabri- da Declaração de Conformidade CE [8].
cados em países terceiros e importados para
a UE [23]. Assim, as luvas de proteção, tal Categoria II e III (Conceção intermédia e
como os restantes EPI, encontram-se abrangi- complexa) - Para riscos intermédios e riscos
dos pela Diretiva 89/686/CEE de 21 de dezem- irreversíveis ou que ponham em risco a vida,
bro, modificada pelas Diretivas 93/68/CEE e respetivamente. Os equipamentos inseridos
96/58/CE, e transportada para Portugal na Categoria II são sujeitos a um exame-tipo
através do Decreto-Lei 374/98. Entende-se por realizado por um organismo notificado,
EPI, qualquer dispositivo ou meio que se des- sendo depois emitida a Declaração de Con-
tine a ser envergado ou manejado por uma formidade CE. No caso da Categoria III as
pessoa, com vista à sua proteção contra luvas, para além de serem sujeitos a um
riscos suscetíveis de ameaçar a sua saúde, exame-tipo realizado por um Organismo
bem como a sua segurança. Notificado, são ainda sujeitos a um dos dois
procedimentos de garantia da qualidade,
para depois ser emitida a Declaração de
Conformidade CE [8].
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05 Normalização
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05 EN 420: 2004 + A1:2010 - Requisitos
gerais para luvas de proteção [7], [8]
tamanhos disponíveis. Assim, as luvas a. Resistência à abrasão 100 500 2000 8000
devem ser fabricadas de modo a (nº de revoluções)
fornecer proteção a quem se des- b. Resistência ao 1.2 2.5 5.0 10.0 20.0
tinam, não devendo causar danos ao corte (índice)
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05 a. Resistência ao desgaste - O material da
luva é desgastado com uma lixa sob
pressão e o número de ciclos necessários
para fazer um furo no material é medido. O
mais alto nível de desempenho é 4, o que
EN 374-5:2016 Proteção contra químicos e/ou micror-
ganismos [24]
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05 Quadro 5: Classificação de luvas médicas de acordo com o tempo de degradação
Permeação
Tempo de degradação
Nível 1
10 min
Nível 2
30 min
Nível 3
60 min
Nível 4
120 min
Nível 5
240 min
Nível 6
480 min
Para proteger da contaminação radioativa, a luva Esta norma europeia fornece orientação sobre
deve ser à prova de líquidos e ainda ser aprovada as características ergonómicas genéricas rela-
quanto ao teste de penetração definido na cionadas com os equipamentos de proteção
norma EN 374. Além disso, as luvas usadas em individual (EPI) onde se incluem os princípios
compartimentos de contenção e isolamento, relacionados com as características antro-
onde existe a eminência de contaminação por pométricas relacionadas com o EPI, a interação
agentes infeciosos, devem passar por um teste biomecânica entre o EPI e o corpo humano, a
de vazamento de pressão do ar e, ainda, fornecer interação térmica entre o EPI e o corpo humano,
um alto nível de resistência à penetração de bem como a interação entre o EPI e os sentidos
vapor de água. humanos: visão, audição, cheiro, sabor e contato
com a pele.
Para proteger contra radiação ionizante, as luvas
devem conter quantidades específicas de Esta Norma Europeia não cobre requisitos rela-
chumbo ou metais equivalentes, devendo essa cionados com o risco específico para o qual o
equivalência de chumbo ser marcada em cada EPI foi projetado, fornecendo orientação sobre
luva. as características ergonómicas genéricas rela-
cionadas com o equipamento de proteção indi-
vidual.
_20
Referências Bibliográficas [13]J. Hinkin, J. Gammon, and J. Cutter, “Review of personal protection
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[23]Ansell, “A revised guide to EN STANDARDS for gloves,” pp. 1–20,
[11]European Commission, “Interpretation of the Relation Between the 2011.
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Literature Review : Personal Protective Equipment ( PPE ) Gloves,” no. an overview of safety glove standards . Share : Extractable protein
April 2014, pp. 1–29, 2012. content,” pp. 1–7, 2020.
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Sobre a Fibrenamics
www.fibrenamics.com
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