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Luvas de

Proteção
03.2020.v1
AUTORES

Raul Fangueiro
Professor – Departamento
de Engenharia Mecânica
Investigador Sénior do Centro
de Ciência e Tecnologia Têxtil
Coordenador Geral da Fibrenamics
(Universidade do Minho)

Cristina Silva
Investigadora e Gestora de Projetos
da Fibrenamics
(Universidade do Minho)

Inês Boticas
Investigadora da Fibrenamics
(Universidade do Minho)

Francisca Guedes
Investigadora da Fibrenamics
(Universidade do Minho)

Copyright 2020 © Fibrenamics Intelligence

_2
01 O presente documento pretende ser um contributo
para a harmonização da informação disponível rela-
tivamente aos meios de proteção das mãos (luvas
médicas e cirúrgicas), abordando aspetos como os
tipos de proteção requeridos em função dos agen-
tes de risco, os materiais e os processos envolvidos
Desta feita, as luvas hospitalares são caracterizadas
como equipamentos de proteção individual e disposi-
tivos médicos descartáveis, fazendo parte das es-
tratégias de controlo epidemiológico. Apesar da com-
provada eficácia, o seu uso não invalida a necessi-
dade de executar práticas adequadas de higienização
na sua produção bem como a normalização aplica- das mãos.
da à validação/certificação do seu desempenho.
Trata-se de um documento que a todo o momento Abrangendo a área de dispositivos médicos e equipa-
poderá ser atualizado, encontrando-se aberto à mentos de proteção individual, a sua produção deverá
contribuição de todos aqueles que possuam infor- considerar a necessidade de atender a requisitos
mação relevante que possa ser disponibilizada de muito específicos, que na sua grande maioria se en-
forma indiscriminada neste momento de necessi- contram devidamente definidos através de normal-
dade de articulação de todos. ização europeia disponível. As soluções que se apre-
sentam neste documento resultam da análise crítica
As luvas são um equipamento de proteção individual da pesquisa efetuada, não se pretendendo que con-
que pretende evitar o contacto direto com agentes stituam, per si, formas únicas e redutoras de se obte-
externos perigosos. Pelo que, em ambiente hospita- rem os desempenhos necessários.
lar, se torna primordial a prevenção da contaminação
das mãos dos profissionais de saúde e dos pacien- Assim, considerando a necessidade de produção
tes, assim como a redução da transmissão de destes equipamentos a grande escala, outras
patógenos. A necessidade de utilização destes equi- soluções poderão ser exploradas recorrendo às tec-
pamentos pode, de igual forma, ser aplicada ao nologias e aos materiais disponíveis sem descura-
cidadão comum, em situações excecionais devida- mento dos requisitos de proteção dos utilizadores
mente identificadas pelas autoridades competentes. identificados, nem do cumprimento dos níveis de de-
sempenho exigidos.

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02 Tipologias

As luvas hospitalares são descartáveis e utilizadas


durante exames médicos, cirurgias e outros procedi-
mentos para prevenir a contaminação cruzada entre
pacientes e profissionais de saúde. Estes dispositivos
médicos podem ser compostos por diferentes materi-
ais poliméricos, incluindo látex, nitrilo, entre outros,
podendo conter ou não pó (de talco ou amido de
milho) facilitando a sua colocação nas mãos. As luvas
sem pó são usadas com maior frequência durante
cirurgias e outros procedimentos mais sensíveis.
Tendo em conta a atividade a que se destinam, as
luvas podem ser divididas em duas categorias: luvas
de exame e luvas cirúrgicas [1], [2].

Neste âmbito, e tendo em conta a finalidade prevista


para este tipo de dispositivos médicos, as luvas cirúr-
gicas são classificadas na classe de risco IIa, de
acordo com as regras de classificação n.º 5 do anexo
IX do diploma acima referido e orientações da guide-
line de Classificação MEDDEV 2.4/1, Rev. 9 de junho
de 2010. Também de acordo com a regra n.º 5 do
Anexo IX do mesmo Decreto-lei, as luvas de exame
são classificadas enquanto dispositivos médicos de
classe I, tendo em conta que são dispositivos não
invasivos ou invasivos dos orifícios naturais do corpo,
não sendo de tipo cirúrgico [3].

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02 Luvas de Látex: Adequadas para uso em procedi-
mentos diretos ao utente, que envolvam contacto
com sangue ou outros fluidos potencialmente
infeciosos ou material contaminado com estes,
quer para os profissionais, quer para os utentes. É
necessário que as Unidades de Saúde forneçam
Luvas de Nitrilo (EN 420, EN 388, EN 374-2, EN
374-3): apropriadas para indivíduos com sensibili-
dade ou reatividade clínica ao látex e em situações
em que existe risco moderado a alto de contacto
com sangue ou outros fluidos potencialmente
infeciosos. Têm uma resistência aos químicos,
luvas de outros materiais alternativos isentos de superior à de látex, como produtos à base de hidro-
látex, sobretudo aos profissionais sensíveis a este carbonetos (por exemplo: aqueles que contêm
componente [4]. óleo mineral, petróleo ou lanolina). O seu uso ade-
qua-se a profissionais com alergia ou sensibili-
Luvas de Vinil: Apropriadas para tarefas relativa- dade ao látex e que realizem procedimentos que
mente rápidas, que não sejam muito exigentes em envolvam contacto prolongado com sangue,
termos de manobras para a luva e em que existe fluidos corporais, produtos citostáticos e outros
risco baixo de contacto com sangue ou outros químicos [6].
fluidos potencialmente infeciosos. Uso adequado
para tarefas como a mudança de roupa da cama,
descontinuação de uma linha endovenosa,
remoção de uma arrastadeira/urinol e colocar na
zona suja, entre outros. Além disso, as luvas de
vinil, embora custem menos que outras luvas
sintéticas, o seu uso não é recomendado se o
utilizador estiver em contacto com riscos biológi-
cos como sangue, visto que o vinil tem uma maior
tendência a fazer microperfurações durante o seu
uso do que as luvas de outros materiais [5].

_5
02 Colocação e ajuste

Selecionar o tamanho, comprimento e forma mais


adequada da luva passa pela sua correta utilização.
Fornecer as luvas com o tamanho adequado ao
trabalhador é essencial para garantir uma utilização
Para determinar o tamanho necessário pode ser
utilizada uma fita métrica de costura para medir a
circunferência da palma da mão dominante e
também o seu comprimento, comparando poste-
confortável do EPI. A norma EN 420 inclui uma lista riormente com a tabela de tamanhos (Quadro 1).
de comprimentos mínimos para cada tamanho de Esta medição poderá não ser válida para todas
luva. As luvas para fins especiais poderão ser fabrica- as variações de tamanhos de mãos, devendo,
das com tamanho abaixo do tamanho mínimo, sendo neste caso, consultar-se o trabalhador quanto ao
que nessas situações o fabricante deve colocar nas conforto e destreza que a luva confere [8].
instruções de utilização referência particular de que
as luvas são “próprias para Fins Específicos” [7].

Quadro 1: Tamanhos normalizados das luvas de proteção (adaptado de [8])

Circunferência da palma Comprimento da Comprimento


da mão dominante mão dominante mínimo da luva
Tamanho da luva Correspondência (A em mm) (B em mm) (mm)

6 (SX) Tamanho de mão 6 152 160 220

7 (S) Tamanho de mão 7 178 171 230

8 (M) Tamanho de mão 8 203 182 240

9 (L) Tamanho de mão 9 229 192 250

10 (XL) Tamanho de mão 10 254 204 260

11 (2XL) Tamanho de mão 11 279 215 270

12 (3XL) Tamanho de mão 12 304 226 280

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02 Na seleção da luva deverá ser tida em conta não
só a dimensão da mão do utilizador, mas também
o tamanho do cano, consoante o risco que pre-
tende proteger e que se encontra subjacente à
tarefa a executar. Quanto ao comprimento a luva
poderá apresentar 3 tipologias de cano: Cano
curto - < 320mm; Cano médio – de 320 a 430mm;
e Cano comprido - >430mm [7], [8].

A forma como as luvas são calçadas é tão impor-


tante quanto o ato de usar o equipamento. Isto
porque o correto manuseamento do equipamento
é importante para que não ocorram danos ao ma-
terial e para que não haja contaminação invol-
untária [9].
Figura 2: Esquema ilustrativo da forma adequada para retirar
Para se calçar uma luva corretamente, os dedos luvas de proteção (adaptado de [9])
devem ser introduzidos calmamente e o ajuste
realizado com cuidado até que a mão esteja con-
fortável.

Para retirá-las (Figura 2), estas devem ser puxa-


das externamente sobre a mão, virando-as do
avesso cuidadosamente e colocando-as em
recipientes de recolha próprios [9].

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02 Rotulagem

Todas as luvas de proteção devem possuir marcação CE e o número de identificação do organismo


notificado encarregue do procedimento de vigilância. A marcação CE indica que o equipamento está
conforme com os requisitos essenciais de segurança da Diretiva 89/686/CEE sobre equipamentos
de proteção individual [2], [10].

Se existir qualquer dúvida acerca da legalidade da marcação CE das luvas recomenda-se que seja
contactado diretamente o fabricante ou o importador do EPI. Se, por razões práticas, a marcação
não puder ser aposta no próprio EPI, esta deverá ser aposta na sua embalagem [10], [11].

Quadro 2: Informação obrigatória na marcação das luvas e respetiva embalagem (adaptado de [8])

Informação Marcação na embalagem Marcação nas luvas

Nome do fabricante X
ou marca comercial

Identificação do fabricante X
ou representante

Designação da luva X X
e do tamanho

Marcação CE e número
de identificação do X X
organismo notificado
(Cat. III)

Pictogramas – segundo
os níveis de desempenho X X
(Cat. II e III)

_8
02 Para luvas que fornecem proteção contra bactérias e fungos é aplicado o símbolo de perigo biológico.
Para isto, a luva de proteção tem de ser testada segundo a norma europeia EN 374-5:2016 em relação
a estanqueidade a fugas.

Para proteção contra bactérias, fungos e vírus, o símbolo de perigo biológico é acompanhado pela
menção “VIRUS”, tal como se pode observar na Figura 3. Para além da proteção contra agentes quími-
cos e biológicos, as luvas médicas deverão ainda apresentar boa estabilidade estrutural e mecânica,
bem como resistência a estímulos físicos como a radiação, de forma a garantir a durabilidade e multi-
funcionalidade requerida em ambiente hospitalar [12].

Figura 3: Pictogramas referentes ao desempenho dos equipamentos de proteção face a diferentes agentes de risco,
adaptado de [12].

_9
02 Áreas de aplicação

Utilização de EPIs em Ambiente Hospitalar


A Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda que as luvas devem ser utilizadas
para reduzir o risco de contaminação dos
_Substituídas, se houver perfuração ou rotura;
Pode também estar indicado o uso de luvas
duplas nos procedimentos de maior risco de
exposição a fluidos orgânicos (p.ex. cirurgias
profissionais de saúde com sangue e outros ortopédicas, urológicas ou ginecológicas, bem
fluidos corporais. E, para reduzir o risco de como em situações de possível contacto com
disseminação de transmissão de germes do agentes virulentos).
profissional de saúde para o paciente e
vice-versa, bem como de um paciente para o Regime de utilização de luvas
outro [13]. Para os ambientes hospitalares há dois tipos
de luvas a serem utilizadas: as luvas de exame
As luvas devem proporcionar proteção ade- e as cirúrgicas. As luvas de exame são exclusi-
quada aos profissionais de saúde, incluin- vas para o atendimento e para situações clíni-
do-se as seguintes recomendações [9]: cas em que se verifica contacto direto ou indi-
reto com fluidos corporais, secreções, sangue
_Adequadas ao utilizador e ao procedimento e outros componentes que equivalem a sujeira
a que se destinam; e o contato com microrganismos. As luvas
cirúrgicas são estéreis e usadas para cirurgias
_Usadas quando se antecipa a exposição e outros procedimentos invasivos, sendo indi-
a sangue ou outros fluidos orgânicos; cadas para reduzir a possibilidade de contato
com microrganismos na operação. Ainda
_Removidas imediatamente após o uso em assim, é fundamental que o profissional higie-
cada doente e/ou após o procedimento (o seu nize as mãos antes da cirurgia [14], [15].
uso não substitui, em nenhuma circunstância,
a higiene das mãos);

_10
03 Como referido anteriormente, existem dois tipos de luvas médicas disponíveis: luvas de exame e
luvas cirúrgicas. Cada uma destas deve cumprir determinadas características específicas, prote-
gendo a pele e evitando a contaminação cruzada. Os materiais atualmente utilizados para a pro-
dução de luvas médicas incluem látex de borracha natural, borracha sintética, nitrilo, neopreno e
vinil (Quadro 3) [16].

No entanto, o látex pode provocar alergia, sendo que em períodos muito longos de utilização, pode
causar dermatites de contacto ou, menos frequentemente, sintomas do trato respiratório. Conse-
quentemente, existe um aumento no mercado de luvas com menor probabilidade de induzir
reações alérgicas, incluindo luvas sem látex utilizando materiais poliméricos. Em particular, a de-
manda por luvas de nitrilo tem crescido, impulsionada por políticas anti-látex em hospitais e
outras instituições de saúde [17].

Quadro 3: Propriedades Material Origem Propriedades Usos


dos materiais utilizados
na fabricação de luvas Látex natural Extrato natural de Excelente ajuste Luvas cirúrgicas,
[16]. borracha – árvore e sensação, mas luvas de exame
Hevea brasiliensis potencialmente
alergénico

Borracha sintética Policloropreno ou Excelente ajuste Luvas cirúrgicas,


polisopreno sintético e sensação luvas de exame

Nitrilo Polímero de butadieno Elevada resistência e Luvas cirúrgicas,


com acrilonitrilo proteção química, boa luvas de exame
elasticidade

Neopreno Polímeros Bom ajuste e Luvas cirúrgicas,


de cloropreno sensação, luvas de exame
(2-cloro-L, 3 – butadieno) confortável

Vinil Cloreto de polivinil, Pouca elasticidade e Luvas de exame


polímero de monómero resistência química
de cloreto de vinil

_11
03 Luvas de exame
Os profissionais de saúde que trabalham
como cuidadores devem utilizar luvas para se
proteger a si e ao paciente da contaminação
cruzada durante os exames e procedimentos.
Luvas cirúrgicas
As luvas cirúrgicas (Figura 55) são utilizadas
por cirurgiões e outros profissionais de saúde
que estão em contacto direto com sangue,
infeções, ferramentas cortantes e outros obje-
Estas são excelentes para a utilização em situ- tos e substâncias nocivas que possam causar
ações não sanitárias podendo ser descarta- doenças ou infeções. Estas luvas devem ser
das a cada utilização. As luvas de exame (Fig- de alta qualidade, possuindo elevada resistên-
ura 4) não necessitam de ser fabricadas em cia [18].
materiais de alta qualidade e espessura.
Podem ser adquiridas em látex, vinil ou nitrilo
com um nível de espessura suficiente para a
adaptação às necessidades dos utilizadores.

Figura 5: Luvas cirúrgicas


Figura 4: Exemplos de luvas de exame a) nitrilo, b) vinil
e c) látex

_12
04 As luvas são produzidas em equipamentos com moldes de porcelana nas quais as matérias-pri-
mas e produtos químicos são aplicados e processados (Figura 6). Os detalhes de cada etapa de
fabricação variam de acordo com o tipo de equipamento e a matéria-prima, no entanto, geral-
mente para o processo de produção de luvas de látex incluem:

1. Composição - onde o material base é mis- 5. Lixiviação com água quente para remov-
turado com os outros produtos químicos er aditivos - como o nitrato de cálcio residu-
(aceleradores que suportam a vulcanização al, aceleradores e proteínas;
e melhoram o desempenho do filme de
látex); 6. Secagem (cura) e vulcanização;

2. Limpeza de resíduos dos moldes - nor- 7. Lixiviação após secagem;


malmente conseguido através de soluções
alcalinas, ácidos, agentes oxidantes, surfac- 8. Tratamento de superfície da luva - para
tantes ou uma combinação destas; luvas com pó ou clorados ou revestidas com
um polímero (para luvas sem pó) para facili-
3. Revestimento dos moldes com coagulan- tar a colocação;
tes - normalmente nitrato de cálcio, para
controlar a quantidade de látex depositado 9. Decapagem - as luvas são removidas dos
(espessura da luva); moldes por um processo totalmente autom-
atizado (em linhas mais avançadas) ou
4. Imersão do molde na solução de látex - semi-automatizado (na maioria das linhas
No caso do látex, normalmente a solução é de produção), em que a luva é revertida pelo
constituída por antioxidantes, estabiliza- uso combinado de ar comprimido e aperto
dores e agentes de cura; mecânico, para assim permitir o utilizador de
despir a mesma puxando o punho. As linhas
mais antigas podem requerer a remoção
manual.

_13
04 O processo de produção de luvas que não de
látex é similar ao apresentado anteriormente.
Após terminar a produção das luvas, cada
peça é sujeita a um processo de inspeção
visual, sendo que uma elevada percentagem
é igualmente testada relativamente às
dimensões, à resistência e à permeabilidade.
Por fim, as luvas são esterilizadas e embala-
das. As luvas são seladas através de um
equipamento de selagem automática de alto
vácuo [20].

O embalamento das luvas cirúrgicas é difer-


ente do das luvas de exame, uma vez que as
cirúrgicas são embaladas em pares estéreis
e as de exames em caixas de grandes quan-
Figura 6: Processo de produção de luvas (adaptado de [19]).
tidades [4].

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05 Certificação

As luvas médicas de diagnóstico e cirúrgicas


são dispositivos abrangidos pelas diretrizes
relativas aos dispositivos médicos 93/42/EEC
O Decreto-lei n.º 145/2009, de 17 de Junho,
estabelece regras a que devem obedecer, a
investigação, o fabrico, a comercialização, a
bem como pelos requisitos essenciais de entrada em serviço, a vigilância e a publici-
segurança da Diretiva 89/686/CEE, de 21 de dade dos dispositivos médicos e respetivos
dezembro - Equipamentos de Proteção Indi- acessórios e transpõe para a ordem jurídica
vidual [11]. interna a Diretiva n.º 2007/47/CE, do Parla-
mento Europeu e do Conselho, de 5 de
Dispositivos médicos Setembro. No âmbito desta diretiva, as luvas
As diretrizes relativas aos dispositivos médi- de exame são classificadas como de Classe
cos classificam os dispositivos de acordo I não havendo requisitos específicos. Por
com o risco potencial, a duração de contacto e sua vez, as luvas cirúrgicas são classifica-
o grau de invasão previsto. Se um produto esti- das como de Classe IIa, requerendo controlo
ver em conformidade com as diretrizes relati- de conformidade por um organismos notifi-
vas aos dispositivos médicos, tem de apresen- cado [22].
tar a marcação CE na embalagem e poderá
também fornecer uma declaração sobre esta As normas europeias a aplicar estabelecem
classificação. Adicionalmente, as proprie- os requisitos relativos aos testes de desem-
dades dos dispositivos médicos são descritas penho, propriedades físicas, químicas,
de acordo com várias normas [21]. biológicas e de durabilidade (prazo de vali-
dade).

_15
05 Equipamento de proteção
A marcação CE aplicada aos EPI visa definir
os requisitos básicos em matéria de saúde e
segurança a serem cumpridos pelos fabri-
cantes e a eliminar as barreiras ao comércio
O fabricante deve emitir uma declaração de
conformidade “CE”, que atesta que o EPI
colocado no mercado está conforme com as
disposições da diretiva, sendo colocada a
marca “CE”. Estes equipamentos podem ser
desses produtos no mercado do Espaço agrupados em três categorias, [8]:
Económico Europeu. A aposição da marcação
CE nos EPI indica que os mesmos cumprem Categoria I (Conceção simples) - Apenas
os requisitos harmonizados, permitindo que para riscos mínimos. O fabricante declara a
sejam comercializados em qualquer local da conformidade do seu produto pela emissão
UE. Esta condição é aplicável a produtos fabri- da Declaração de Conformidade CE [8].
cados em países terceiros e importados para
a UE [23]. Assim, as luvas de proteção, tal Categoria II e III (Conceção intermédia e
como os restantes EPI, encontram-se abrangi- complexa) - Para riscos intermédios e riscos
dos pela Diretiva 89/686/CEE de 21 de dezem- irreversíveis ou que ponham em risco a vida,
bro, modificada pelas Diretivas 93/68/CEE e respetivamente. Os equipamentos inseridos
96/58/CE, e transportada para Portugal na Categoria II são sujeitos a um exame-tipo
através do Decreto-Lei 374/98. Entende-se por realizado por um organismo notificado,
EPI, qualquer dispositivo ou meio que se des- sendo depois emitida a Declaração de Con-
tine a ser envergado ou manejado por uma formidade CE. No caso da Categoria III as
pessoa, com vista à sua proteção contra luvas, para além de serem sujeitos a um
riscos suscetíveis de ameaçar a sua saúde, exame-tipo realizado por um Organismo
bem como a sua segurança. Notificado, são ainda sujeitos a um dos dois
procedimentos de garantia da qualidade,
para depois ser emitida a Declaração de
Conformidade CE [8].

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05 Normalização

As luvas médicas representam um equipa-


mento de proteção individual destinado a
proteger as mãos contra riscos relaciona-
EN 455-1: 2000 - Requisitos e testes de existência de
buracos - Este padrão descreve o teste de vazamento,
teste de estanqueidade à água, teste de desempenho e
dos com ações mecânicas, agentes biológi- controle de qualidade de todas luvas médicas.
cos, agentes químicos, radiação, ou
qualquer combinação destas. Assim, EN 455-2: 2015 - Requisitos e testes de propriedades
segundo as entidades competentes, estes físicas - Esta norma descreve os requisitos e fornece
dispositivos devem obedecer ao um con- métodos de teste para as propriedades físicas das luvas
junto alargado de processos normativos, de médicas descartáveis (ou seja, luvas cirúrgicas e luvas
modo a garantir os níveis de desempenho de exame), a fim de garantir que forneçam e mantenham
requeridos, bem como unificar a produção, em uso um nível adequado de proteção contra contami-
rotulagem, e implementação no mercado nação cruzada para ambos os pacientes e usuário. Esta
[1], [12]. norma também inclui um anexo que descreve a relação
com os Requisitos Essenciais da Diretiva 93/42/EEC da
EN 455 - Luvas médicas para uso único UE sobre dispositivos médicos.
[15], [23]
EN 455-3: 2015 - Requisitos e testes para produtos
Este processo normativo é indicado para biológicos avaliação - Esta norma descreve os métodos
luvas médicas descartáveis de uso único, bioquímicos e análises e testes biológicos para luvas
no qual se pretende garantir parâmetros de médicas de borracha natural e borracha sintética. Mar-
qualidade essenciais, como a estanquici- cação, embalagem, imunologia, antígenos, proteínas,
dade, a resistência mecânica, resistência à alergias, estão incluídos.
ação de agentes químicos e biológicos,
bem como a sua durabilidade e tempo de EN 455-4: 2009 - Requisitos e testes para validade deter-
prateleira. minação – Esta norma descreve a durabilidade, resistên-
cia e armazenamento das luvas - especificamente em
termos da sua "vida útil".

_17
05 EN 420: 2004 + A1:2010 - Requisitos
gerais para luvas de proteção [7], [8]

Esta norma define os requisitos gerais


para o design e produção de luvas,
EN 388 Riscos mecânicos [7]

Esta norma aplica-se a todos os tipos de luvas de proteção em


relação a agressões físicas e mecânicas causadas por
abrasão, corte da lâmina, punção e rasgo. Desta forma, após
inocuidade, conforto e eficiência, mar-
cação e informações aplicáveis a os testes, a luva recebe um nível de desempenho/classifi-
todas as luvas de proteção, e também cação para cada um dos riscos mecânicos listados.
podendo ser aplicado a proteções de
braço. A luva é marcada com os valores nominais do teste e o código
numérico, correspondendo à capacidade da luva de proteger
Deste modo, define as exigências contra riscos mecânicos de vários tipos, Quadro 4.
gerais em termos de identificação do
fabricante e da marca do produto, Quadro 4: Classificação de luvas médicas em relação a testes mecânicos

composição da luva, embalagem, Nível de Proteção 1 2 3 4 5

tamanhos disponíveis. Assim, as luvas a. Resistência à abrasão 100 500 2000 8000
devem ser fabricadas de modo a (nº de revoluções)

fornecer proteção a quem se des- b. Resistência ao 1.2 2.5 5.0 10.0 20.0
tinam, não devendo causar danos ao corte (índice)

utilizador, sendo fáceis de colocar e c. Resistência ao 10 25 50 75


tirar. E, ainda, as luvas devem permitir rasgo (N)

a mobilidade máxima dos dedos d. Resistência à 20 60 100 150


(destreza), dada a necessidade de punção (N)

proteção. Níveis de desempenho A B C D E F

e. Resistência ao corte (N) 2 5 10 15 22 30

f. Proteção contra impactos Aprovada ou Reprovada

_18
05 a. Resistência ao desgaste - O material da
luva é desgastado com uma lixa sob
pressão e o número de ciclos necessários
para fazer um furo no material é medido. O
mais alto nível de desempenho é 4, o que
EN 374-5:2016 Proteção contra químicos e/ou micror-
ganismos [24]

Esta norma especifica a capacidade das luvas para prote-


ger o utilizador contra agentes químicos e/ou microorgan-
corresponde a 8.000 ciclos. ismos, tendo em conta as suas propriedades de pene-
tração, permeação e degradação. Na presente norma,
b. Resistência ao corte – Neste caso, o considera-se a validação do equipamento mediante o bom
teste envolve a medição do número de desempenho (Quadro 5) face a três dos 12 compostos
ciclos necessário para uma faca circular químicos identificados na norma, sendo estes: Metanol,
girando a uma velocidade constante corte Acetona, Acetonitrilo, Diclorometano, Bissulfureto de Car-
a luva. O resultado é comparado com um bono, Tolueno, Dietilamina Tetrahidrofurano Acetato de
material de referência e um índice é estabe- Etilo, n-Heptano, Hidróxido de Sódio (40%) e o Ácido
lecido. O nível mais elevado de desempen- Sulfúrico (96%).
ho é 5, que corresponde a um índice de 20.
Penetração - A penetração é o movimento de um produto
c. Resistência ao rasgo - É feita uma químico e/ou microrganismo através de materiais poro-
incisão no material da luva, sendo medida a sos, costuras, furos ou outras imperfeições num material
força necessária para separar o material. O de luva de proteção a um nível não molecular. Uma luva
nível de desempenho mais alto é 4, que cor- não deve vazar quando testada com um teste de vaza-
responde a uma força de 75 N. mento de ar e água, devendo ser testada e inspecionada
de acordo com o nível de qualidade aceitável.
d. Resistência à perfuração - O teste
envolve a medição da força necessária Permeação - As películas de borracha e plástico nas luvas
para furar a luva num ponto de tamanho nem sempre atuam como barreiras aos líquidos. Por
padrão, a uma determinada velocidade (10 vezes, podem atuar como esponjas, absorvendo os líqui-
cm/min). O nível de desempenho mais alto dos e mantendo-os em contacto com a pele. Portanto, é
é 4, que corresponde a uma força de 150 N. necessário medir os tempos de rutura ou o tempo
necessário para o líquido entrar em contato com a pele.

_19
05 Quadro 5: Classificação de luvas médicas de acordo com o tempo de degradação

Permeação

Tempo de degradação
Nível 1

10 min
Nível 2

30 min
Nível 3

60 min
Nível 4

120 min
Nível 5

240 min
Nível 6

480 min

EN 421:2010 Proteção face ao risco EN13921:2007 Princípios ergonómicos


de radiações[23], [25] dos EPI [12]

Para proteger da contaminação radioativa, a luva Esta norma europeia fornece orientação sobre
deve ser à prova de líquidos e ainda ser aprovada as características ergonómicas genéricas rela-
quanto ao teste de penetração definido na cionadas com os equipamentos de proteção
norma EN 374. Além disso, as luvas usadas em individual (EPI) onde se incluem os princípios
compartimentos de contenção e isolamento, relacionados com as características antro-
onde existe a eminência de contaminação por pométricas relacionadas com o EPI, a interação
agentes infeciosos, devem passar por um teste biomecânica entre o EPI e o corpo humano, a
de vazamento de pressão do ar e, ainda, fornecer interação térmica entre o EPI e o corpo humano,
um alto nível de resistência à penetração de bem como a interação entre o EPI e os sentidos
vapor de água. humanos: visão, audição, cheiro, sabor e contato
com a pele.
Para proteger contra radiação ionizante, as luvas
devem conter quantidades específicas de Esta Norma Europeia não cobre requisitos rela-
chumbo ou metais equivalentes, devendo essa cionados com o risco específico para o qual o
equivalência de chumbo ser marcada em cada EPI foi projetado, fornecendo orientação sobre
luva. as características ergonómicas genéricas rela-
cionadas com o equipamento de proteção indi-
vidual.

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Referências Bibliográficas [13]J. Hinkin, J. Gammon, and J. Cutter, “Review of personal protection
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Sobre a Fibrenamics

A Fibrenamics é uma plataforma internacional da Universidade do Minho


que atua na geração, valorização e transferência de conhecimento em
materiais à base de fibras e compósitos, transformando-os em produtos
inovadores para aplicação em diversas áreas, incluindo arquitetura,
saúde, aeronáutica, desporto, automóvel, entre outros. Alicerçada numa
equipa multidisciplinar, a Fibrenamics possui cerca de 45 patentes, mais
de 750 artigos científicos publicados e diversos produtos inovadores de
sucesso desenvolvidos conjuntamente com agentes industriais, sendo
uma entidade reconhecida pela União Europeia como um exemplo de
transferência do conhecimento científico e tecnológico para diversos
stakeholders da inovação.

www.fibrenamics.com

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