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03.2020.v1
AUTORES
Raul Fangueiro
Professor – Departamento
de Engenharia Mecânica
Investigador Sénior do Centro
de Ciência e Tecnologia Têxtil
Coordenador Geral da Fibrenamics
(Universidade do Minho)
Pedro Silva
Investigador e Gestor de
Projetos da Fibrenamics
(Universidade do Minho)
Miguel Navarro
Investigador da Fibrenamics
(Universidade do Minho)
_2
01 O presente documento pretende ser um contributo
para a harmonização da informação disponível rela-
A produção deste tipo de equipamentos de
proteção individual deverá considerar a necessi-
tivamente aos elementos de proteção da cabeça, dade de se responder a requisitos muito específi-
abordando aspetos como os tipos de proteção cos, que na sua grande maioria se encontram
requeridos em função dos agentes de risco, os devidamente definidos através de normalização
materiais e os processos envolvidos na sua con-
europeia disponível. As soluções que se apresen-
feção e a normalização aplicada à validação/certifi-
Enquadramento
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02
O campo de atuação denominado “Têxteis Médicos” ou muitas vezes denotado na categoria dos têx-
teis técnicos como MedTech, apresenta-se como uma das áreas mais promissoras para o período
2019-2029, correspondendo a cerca de 20% de todos os têxteis técnicos produzidos globalmente.
Este crescimento deve-se à elevada procura e uso deste tipo de materiais, sendo amplamente aplica-
dos nas áreas hospitalar e de cuidados de saúde [1]. Este crescimento significativo está diretamente
relacionado com o aumento do padrão de vida comum, que gera maior consciência sobre a higiene e
a saúde, mas também com o crescente aumento da taxa de infeções hospitalares, incrementando a
necessidade de desenvolvimento e de utilização de produtos hospitalares capazes de protegerem os
intervenientes dos distintos agentes patogénicos eventualmente presentes.
Condições gerais
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03 Face à multiplicidade de fatores e ambientes a que
os profissionais de saúde se encontram expostos,
é crucial que os mesmo se resguardem de forma
eficiente de possíveis agentes nefastos para a sua
saúde e, por outro lado, evitem a contaminação
dos pacientes. Ainda que deveras desafiante, esta
tarefa de proteção impõem-se pelas razões enu-
meradas anteriormente. De entre as metodologias
Proteção da cabeça: Toucas
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03 Face aos desenvolvimentos descritos anterior-
mente, os EPI médicos para proteção da cabeça
devem constar como elementos fulcrais no equi-
pamento de proteção para os profissionais de
saúde. Este tipo de equipamento deve ser utilizado
previamente a qualquer contacto com pacientes
Contrariamente às toucas reutilizáveis, as toucas
descartáveis são imediatamente descartadas sem
utilização posterior. Este tipo de equipamento
revela-se economicamente mais viável, dado o seu
baixo custo de produção, resultante da utilização
material em não-tecido de massa reduzida e elimi-
infetados e descartado posteriormente à sua nação dos custos de reprocessamento.
utilização. Existem no mercado diversas soluções
Proteção da cabeça: Toucas
para este tipo de equipamentos passíveis de Dependendo dos requisitos por parte do utilizador
serem utilizadas múltiplas vezes, mediante o tipo existem numerosas soluções sob o ponto de vista
de agente a que estiveram expostos e subse- do design deste tipo de equipamentos, resultando
quente higienização. numa versatilidade superior no que diz respeito à
e Cogulas de proteção
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03 Por norma, o material usado para a produção destes equipamentos descartáveis são não-tecidos (NT)
numa gama de massa por unidade de superfície de 17-20 g/m2 [4]. O Quadro 1 apresenta a composição
de alguns EPI de proteção da cabeça presentes no mercado.
no mercado.
Bastos Viegas [5] 100% NT de PP ≈ 40 g/m²
Vista com 2 laços para proteção do pescoço
e Cogulas de proteção
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03 Todo o material utilizado para a proteção da
cabeça, tal como o restante material de proteção
utilizado em âmbito hospitalar, deve ser meticu-
losamente cuidado. As toucas reutilizáveis devem
ser lavadas e trocadas diariamente. No caso dos
artigos descartáveis, estes devem ser removidos
IMPORTANTE
No âmbito COVID-19, a DGS (Direção Geral de Saúde)
lançou várias diretrizes para prevenção e controlo da
infeção direcionada aos equipamentos de proteção indivi-
dual usados em teatro hospitalar. Especificamente a orien-
tação 001/2020 e 007/2020, descrevem o equipamento e
e despojados diariamente ou após contacto com material de consumo clínico com que as equipas em
agentes de contaminação, sendo a única forma âmbito hospitalar se devem equipar, nomeadamente: médi-
Proteção da cabeça: Toucas
de garantia de ausência de contágio por contacto cos; enfermeiros; assistentes operacionais; administrativos;
[8]. equipas de limpeza. Uma das necessidades é a utilização
de toucas, juntamente com fato de proteção ou bata imper-
meável e proteção do calçado. Todos estes profissionais de
Enumeram-se de seguida alguns cuidados para saúde devem usar EPI de contacto e de gotícula. Ainda,
e Cogulas de proteção
definição de boas práticas no manuseamento de nesta orientação, é referido que a utilização de cogula em
EPI para a proteção da cabeça reutilizáveis, em alternativa à touca não é necessária na prestação de cuida-
ambiente hospitalar [9]: dos a doentes e poderá ser usada em procedimentos de
risco elevado.
_As toucas devem ser trocadas diariamente ou Salienta-se que a utilização de touca é recomendado pela
após contaminação; DGS para prestação de cuidados diretos e de proximidade a
doentes suspeitos ou confirmados de COVID-19, fora de
_Após utilização, as toucas usadas contamina- quarto ou coorte de isolamento; procedimentos geradores
das devem ser transportadas separadamente de aerossóis em doentes suspeitos ou confirmados
COVID19 ou entrada em quarto ou coorte de isolamento e
das não-contaminadas; ainda procedimentos geradores de aerossóis de risco eleva-
do [10], [11].
_Devem ser aplicados ciclos de lavagem entre
40-60 °C, secagem em máquina de secar de Neste seguimento, a DGS recomenda que todo os EPI
tambor. usados na prestação a doentes suspeitos ou com
COVID-19, onde se incluem as toucas e cogulas, devem ser
descartáveis e removidos para recipientes próprios após
_Em alternativa estes EPI podem ser secos em utilização.
corda, com exposição à luz solar.
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04 Os materiais utilizados em toucas e cogulas de proteção da cabeça variam em função de se tratarem
de equipamentos descartáveis ou de equipamentos reutilizáveis. Face aos requisitos díspares no que
às especificações técnicas diz respeito, o grande fator diferenciador será a durabilidades dos materiais
e a resistência aos processos de higienização.
pela tecnologia dry-laid (via seca) e polymerlaid verifica-se uma ampla utilização de polipropileno
para formação do manto, sendo que este tipo de (PP), assim como de misturas de etileno propileno
estruturas representam 70% de todos os artigos (EPM) ou ainda de estireno, sendo que não se
descartáveis na área médica, devido a caraterísti- exclui a utilização de outro polímeros da mesma
cas como elevada absorção, permeabilidade e natureza [15]. Ainda na vertente das toucas pro-
relação custo-benefício [12]. De ressalvar que a duzidas sob a forma de não-tecido, a fibra de
técnica por via seca (dry-laid) é referida em muitas viscose apresenta elevada relevância neste con-
das vezes como cardação – separação dos tufos texto, sendo também importante neste tópico
da fibra (rama) em fibras individuais – onde se [16]. No caso dos materiais previamente esteriliza-
processa a paralelização e deposição das fibras dos, é utilizado óxido de etileno por forma a evitar
em forma de manto. Posteriormente, a consoli- qualquer tipo de transferência cruzada de agentes
dação do manto pode ser feita via química, infeciosos. De entre as características mais rele-
mecânica ou por costura [13]. No caso da técnica vantes neste tipo de material, destaca-se o seu
polymerlaid, ou spunlaced, o manto dos não-teci- toque, a sua elevada elasticidade, a elevada
dos é fabricado diretamente a partir da extrusão retenção de calor e a permeabilidade. Para além
do polímero, com os filamentos a serem deposita- disso, este tipo de materiais também apresentam
dos num tapete em movimento, formando um vantagens claras fruto da sua resistência ao
manto de filamentos com orientação aleatória pilling e do toque quando em contacto direto na
[14]. pele.
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04 Toucas e cogulas reutilizáveis
No caso dos equipamentos de proteção reutilizáveis, os materiais de eleição são estruturas fibrosas
(malhas ou tecidos) compostas por misturas de algodão/poliéster [17]. Para o caso particular das tou-
cas, este tipo de material tem vindo já a ser utilizado ao longo de um intervalo de tempo considerável,
sendo que, em termos de desempenho face às opções descartáveis, estes equipamentos não apre-
sentam perdas significativas [18].
Materiais
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05 Após a correta seleção dos materiais, a produção
das toucas para proteção da cabeça assume-se
como um processo de baixa complexidade,
dependendo do formato da touca a produzir, bem
como da tipologia de aplicação: descartável ou
Processo contínuo: Toucas e cogulas
descartáveis
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05 De uma forma geral, o esquema de produção
destes EPI é o seguinte [20], [21]:
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05 Processo descontínuo: Toucas e cogulas
descartáveis e reutilizáveis
utilizados para a confeção de vestuário, podendo No caso das toucas em tecido que podem ser
ser produzidos produtos descartáveis e reuti- reutilizadas, o processo de união dos moldes será
lizáveis, dependendo do tipo de material utilizado. executado através de costura, sempre com cuida-
A primeira fase de produção de uma touca reuti- do na seleção dos fios de costura, devendo-se
lizável, inicia-se pela seleção dos materiais. Tal optar por fios de alta tenacidade – poliamida,
Produção
como referido anteriormente, a mistura poliéster, PET, entre outros. No caso das toucas
poliéster/algodão é uma das soluções típicas descartáveis com base em não-tecidos, recomen-
mais utilizadas para as toucas reutilizáveis, garan- da-se a utilização de processos de ligação que não
tindo o necessário conforto ao utilizador, bem danifiquem a estrutura das fibras e que não criem
como a longevidade de utilização e lavagem a zonas porosas, recomendando-se a utilização
temperaturas elevadas, garantida pelo poliéster. preferencial de ultrassons ou termocolagem.
Tal como já referido previamente, este tipo de
equipamentos de proteção devem estar em con- Existem vários tipos e modelos de toucas
formidade com técnicas de esterilização. Os ma- passíveis de produção, sendo que independente-
teriais usados nesta fase são por norma acaba- mente do formato, as toucas são por norma con-
dos, com alguma hidrofobicidade superficial. stituídas, pelo menos, por duas vistas: uma lateral
e uma de topo.
Em ambos os casos – descartável ou reutilizável
– o início do processo de produção é direcionado
de forma integral para a obtenção dos moldes do
artigo a produzir e que, posteriormente, conduzem
à obtenção de vistas para confeção dos artigos.
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05 Na Figura 5, está representado um molde disponível e que poderá ser consultado em http://ww-
w.napontadolapisblog.com.br/2019/09/touca-cirurgicaculinaria-masculina.html. – moldes digitais
e vídeo de produção [22].
Produção
Figura 5 - Molde tipo que poderá ser utilizado como referência para confeção de toucas [22].
Para melhor perceção das zonas de costura, a Figura 6 mostra os locais de dobra, bem como os
tipos de ponto a aplicar nas diversas uniões.
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06 Apesar de muita informação presente e dis-
ponível sobre a certificação e normalização de
produtos dedicados à prática médica e, em
casos específicos, para utilização em salas de
operação, a realidade é que não se verifica nen-
ISO 13485:2016 – Dispositivos médicos. Siste-
mas de gestão da qualidade. Requisitos para
fins regulamentares;
proteção que é normalmente conjugado com para não tecidos - Parte 1: Determinação da
outros – máscaras, óculos, viseiras, batas, entre massa por unidade de área (no caso de NT);
outros – sendo o seu principal objetivo evitar a
queda de cabelo e contaminação do paci- ISO 11737-1:2018 – Esterilização de produtos
ente/utilizador com microrganismos, poeira de saúde - Métodos microbiológicos - Parte 1:
e/ou sujidade presente. Determinação de uma população de microrgan-
ismos em produtos;
Assim, de uma forma geral, estes equipamen-
tos de proteção deverão cumprir a certificação ISO 13688:2013 – Vestuário de proteção. Requi-
Certificação,
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