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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI


PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA
CICERO GUILHERME PEREIRA DA SILVA

Carlos de Freitas, Luiz. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. 2ª ed, Petrópolis, RJ: Vozes,2009.
CITAÇÕES E IDEIA CENTRAL COMENTÁRIOS
“Para uma visão linear do processo pedagógico, o planejamento
didático é uma sucessão de etapas que começam com a definição Temos que compreender o processo pedagógico como uma
dos objetivos do ensino, passa pela definição do conteúdo e dos sucessão de etapas, desde a definição de objetivos até avaliação,
métodos, pela execução do planejamento e finalmente pela destaca a importância da otimização em cada fase para melhoria
avaliação do estudante. A avaliação alimenta o processo dando geral do ensino. O feedback proporcionado pela avaliação
dicas ao professor e ao aluno sobre o que foi ensinado e contribui significativamente para aprimorar tanto o professor
aprendido. Dentro desta concepção, para melhorar o processo, quanto o aluno que foi ensinado e aprendido.
basta a otimização de cada uma das etapas.” (p.14)

IDEIA CENTRAL: O planejamento como uma secessão de


etapas: objetivos, conteúdos, métodos, execução e avaliação do
estudante, simultaneamente
“Deste tópico inicial devemos guardar, então, que a avaliação não A citação destaca a importância constante da avaliação,
é uma questão de final de processo, mas que ela está o tempo destacando que não é apenas um elemento final no processo
todo presente e, consciente ou inconscientemente, orienta nossa educacional, mas está sempre presente, influenciando nossa
atuação na escola e na sala de aula atuais. Quanto mais elementar atuação na escola e na sala de aula. Nota-se que, em níveis mais
é o nível de ensino, mais contínua e difusa é a presença da básicos do ensino essa presença ainda mais continua e difusa
avaliação.” (p. 16 e 17) moldando constantemente a abordagem educacional.

IDEIA CENTRAL: A avaliação está de forma consciente e


inconsciente
“Como afirma Mészáros (1981:273), a educação tem duas funções Há uma dualidade intrínseca à função educacional em uma
principais numa sociedade capitalista: 1. A produção das sociedade capitalista, além de fornecer qualificações para a
qualificações necessárias ao funcionamento da economia; e 2. A economia, a educação também é percebida como um instrumento
formação de quadros e a elaboração dos métodos para um de controle político, essas funções se refletem na escola,
controle político. Esta função social é incorporada aos objetivos da moldando não apenas os objetivos educacionais, mas também as
escola e repassada às práticas de avaliação, e passa a fazer parte práticas de avaliação e a estrutura pedagógica. Apontando para
da própria organização do trabalho pedagógico. Para Tragtenberg as desigualdades sociais subjacentes ao sistema educacional.
(1982), as funções da educação em nossa sociedade incluem, Sendo assim, evidente a importância de uma abordagem crítica e
mais especificamente, excluir e subordinar os estudantes. Que a consciente em relação aos sistemas educacionais, visando
escola seja espaço de lutas, que haja resistência às suas funções, transformações que promovam uma educação mais justa e
em nada muda as intenções da sociedade atual. Pior ainda, equitativa.
recusarmo-nos a entendê-las.” (p. 18)

IDEIA CENTRAL: As duas funções principais da educação na


sociedade
“Não convém esquecer que nem sempre são explícitas as funções
sociais seletiva na escola atual. Na realidade são as práticas
pedagógicas vigentes que incorporam, em si, tais funções (cf.
VILLAS BOAS, 1993). A organização do trabalho pedagógico da As funções sociais seletivas na escola muitas vezes não são
escola em sua forma seriada, por exemplo, esconde uma explicitamente declaradas, mas sim incorporadas nas práticas
concepção de educação baseada na seletividade pela pedagógicas, o reconhecimento dessa função seletiva é
homogeneização dos tempos de aprendizagem. Tal obscurecido indicando uma falta de transparência na prática
homogeneização fornece igualdade de acesso, mas não educacional, em que tais dinâmicas são escondidas e veladas.
necessariamente igualdade de desempenho, já que os ritmos de
aprendizagem dos estudantes são diferenciados. A escola não
declara a incorporação de tal função seletiva em sua prática antes
a esconde e oculta.” (p. 19)

IDEIA CENTRAL: Homogeneização dos tempos


“Em geral neste contexto a avaliação tem sido utilizada para
legitimar a distribuição desigual das rotas de sucesso e fracasso A avaliação é empregada para legitimar a desigualdade sob a
dos estudantes sob o argumento da meritocracia. A ideologia do premissa da meritocracia, ao atribuir as discrepâncias de sucesso
esforço pessoal explicaria a diferença entre ser bem-sucedido ou e fracasso dos estudantes a ideologia do esforço pessoal.
não. Na raiz do problema está o fato de os teóricos liberais da Havendo uma inadequação e uma relutância dos teóricos liberais
escola não poderem aceitar a igualdade de resultados nos em aceitar a igualdade de resultados.
processos educacionais; o máximo que eles aceitam é a igualdade
de acesso.” (p. 19)

IDEIA CENTRAL: A avaliação


“Falar de uma avaliação “transformadora, contínua, comprometida É necessário questionar os objetivos fundamentais da escola, pois
com o desenvolvimento do aluno” sem questionar os objetivos da ignorar os objetivos subjacentes ao ensino aprendizagem contribui
escola, é contribuir para ocultar poderosos dispositivos para a perpetuação das desigualdades e impede a construção de
subjacentes ao processo de ensino-aprendizagem e que – se uma escola verdadeiramente inclusiva, havendo a manutenção de
desconhecidos – continuarão a travar o trabalho do professor e hierarquias escolares que refletem as desigualdades sociais mais
dos outros profissionais interessados em uma escola que seja amplas, sendo assim, necessário uma avaliação crítica do sistema
destinada a todos e que resista à incorporação das desigualdades educacional, para promover mudanças significativas em direção à
sociais como princípio de seu funcionamento, criando hierarquias igualdade de resultados e acesso.
escolares que refletem as hierarquias de desigualdade existentes
na sociedade.” (p. 20)

IDEIA CENTRAL: O que acontece se não questionarmos os


objetivos da escola
“Uma sociedade de desiguais, excludente, dificilmente demandará
uma escola universalizada com real acesso de todos a todos os
conteúdos. É uma luta difícil, mas necessária. Entretanto, esta luta
começa no dia-a-dia de cada um de nós, no nosso pequeno É necessária uma abordagem prática e comprometida no
mundo do trabalho cotidiano. Além de perguntarmos, hoje, como enfrentamento das desigualdades na educação visto que a
mudaremos esta sociedade, é necessário que nos questionemos transformação começa no âmbito cotidiano de cada profissional.
sobre o que podemos fazer na nossa prática escolar diária, agora. Sendo a sala de aula um espaço vital para atuação concreta e o
Ser um profissional comprometido significa agir, concreta e trabalho diário dos educadores fundamental na construção de uma
cotidianamente, em pequenos espaços como o da sala de aula, escola mais igualitária. Sendo necessário não subestimar a
pela melhoria do aprendizado dos estudantes. Não se deve importância de ações imediatas e enxergar o ambiente da sala de
ignorar que a sala de aula é um espaço de atuação tão importante aula como espaço de atuação política.
quanto outros espaços de luta por melhores condições de vida.”
(p. 21)

IDEIA CENTRAL: Uma sociedade dos desiguais l


“Os estudantes que estão na escola não aprendem apenas as
disciplinas escolares, eles vivenciam relações sociais e terminam As escolas ensinam mais que apenas os conteúdos das
desenvolvendo valores e atitudes. Junto com o conteúdo das disciplinas, ensinam valores por meio de suas práticas sociais, o
matérias a vivência na escola ensinar alguns valores a questão é: que deve ser questionando é quais valores devem ser propagados
quais “valores” a escola deveria disponibilizar. Competição? no âmbito escolar.
Consumismo? Individualismo? Solidariedade?” (p. 22)

IDEIA CENTRAL: A importância da escola para as relações


sociais e os valores
“Confinados em sala de aula, os alunos só têm acesso a um A escola confina os estudantes, os distanciando da vida real e
mundo artificializado, através de manuais e livros e, quando muito, impossibilitando a pratica do que é aprendido em sala de aula,
há um mundo virtualizado, via internet. Estão privados da vida real. tirando assim, a utilidade e a motivação para o estudo e sendo
Não podem pôr em prática o que estudam, somente podem tentar necessário a criação de um comportamento de submissão dos
mostrar, através de provas ou trabalhos, o que aprenderam. A alunos perante o professor, pois está torna-se a única forma de
retirada da vida faz da escola um local insalubre, sem motivação manter os alunos atentos ao que está sendo lecionado em sala de
e que necessita da avaliação permanente do comportamento dos aula, nesse modo de ensino as avaliações são utilizadas como
estudantes para criar condições de atenção ao que o professor método para manter a concentração do aluno, visto que, este
fala na sala de aula. Tudo isso resulta num processo de formação precisará adquirir o conteúdo apenas para conseguir uma
para a submissão do estudante à autoridade do professor, o que determinado nota, transformando o aprendizagem em valor de
exerce ancorado nos processos de avaliação, devidamente troca e não mais de uso, pois o discente não apreende o conteúdo
legitimados pela sociedade. Relações sociais de trocas são por o valor de uso dessa aprendizagem, mas para que possa
introjetadas nos processos pedagógicos e passam a ser troca-la por uma boa nota na prova.
exercitadas já no interior da escola, como preparação para a vida
na sociedade que o cerca. O aluno mostra que “sabe História” e,
em troca, o professor lhe dá uma nota. O conhecimento perde seu
valor de uso e transforma-se em experiência de aprendizagem do
valor de troca de “
mercadorias”. O conhecimento vira mais uma mercadoria.” (p. 22)

IDEIA CENTRAL: A falta de motivação e a perda do valor de uso


do conhecimento
“As classes populares têm uma sensibilidade a respeito da A interação entre as sensibilidades das classes populares e dos
probabilidade de elas continuarem ou não no interior da escola (cf. professores a respeito da probabilidade de evasão escolar por
FREITAS, 1991). Esta sensibilidade, oriunda das suas condições falta de condições sociais que permitam a permanecia dessa
sociais, aliadas à sensibilidade que também o professor tem a classe no âmbito escolar, vai ter um impacto direto na dinâmica da
respeito da probabilidade de elas continuarem na escola, termina aula, e será refletido nos métodos avaliativos formais e informais.
definindo a forma como o aluno é tratado em sala de aula (cf. Estes aspectos da formação da classe mais baixa, moldam toda
FREITAS, 1991). Estas sensibilidades são concretizadas na sua experiencia como discente, influenciando inclusive a
prática da sala de aula, em especial nas práticas de avaliação (no autoimagem desenvolvida pelos alunos, que tem um papel
sentido amplo). Ao longo do tempo, o aluno desenvolve uma auto- fundamental no desempenho escolar, visto que, uma autoimagem
imagem positiva ou negativa que afeta profundamente o seu negativa é muito prejudicial ao autodesenvolvimento, inclusive o
desempenho.” (p. 25) acadêmico.

IDEIA CENTRAL: Classes populares e acessibilidade


“Os professores tendem a tratar os alunos conforme os juízos de O juízo de valor desenvolvido pelo professor termina sendo crucial
valor que vão fazendo deles. Aqui começa a ser jogado o destino na determinação dos “destinos acadêmicos” de cada aluno, já que,
dos alunos - para o sucesso ou para o fracasso. As estratégias de tais percepções permeiam as metodologias de ensino, e acabam
trabalho do professor em sala de aula ficam permeadas por tais influenciando o quanto de investimento os professores farão em
juízos e determinam, consciente ou inconscientemente, o cada aluno, sendo deste modo um aspecto significativo e influente
investimento que o professor fará neste ou naquele aluno. É nessa no desempenho acadêmico, principalmente de alunos que vivem
informalidade que se joga o destino das crianças mais pobres.” (p. em situações mais precárias, por possuírem uma probabilidade de
28) evasão escolar maior, em relação aos alunos que fazem parte de
uma classe mais privilegiada.
IDEIA CENTRAL: Juízo de valor
“Nota-se adicionalmente que construir imagens sobre seus alunos A construção da imagem do aluno pelo professor, não é algo que
é um ato absolutamente normal e até desejável. Não é disso que possa ser anulado, é parte normal e desejável da complexidade
se trata aqui. O que está em jogo é o controle das consequências da dinâmica educacional. No entanto, surgem percalços nessa
das imagens produzidas sobre o estudante quando se trabalha dinâmica, uma vez que, não haja controle sobre as consequências
sem formação, sob condições de trabalhos inadequadas, ou seja, de tais imagens desenvolvidas por os profissionais da educação,
trata-se das interferências na condução metodológica da problema este que causado por o trabalho sem formação e sem
aprendizagem do estudante geradas por tais juízos de valor condições adequadas, ou seja, o problema surge na interferência
informais, onde a origem social do aluno pode ser um dos fatores de tais juízos de valor na dinâmica da aula, em que a origem do
constitutivos do próprio juízo.” (p. 28) aluno pode ser um fator determinante na criação de sua imagem
e consequentemente de seu destino acadêmico.
IDEIA CENTRAL: Consequência da imagem sobre os alunos
“É importante que o professor lide com as diferenças dos alunos Os professores devem pensar a sua abordagem, de modo a
como “simples diferenças” e não como “diferenças antagônicas” considerar as diferenças dos alunos e poder desempenhar uma
que conduzam à exclusão. A partir desta compreensão é maior inclusão, não vendo tal diversidade como um antagonismo
fundamental reinventar as práticas de avaliação no interior da sala e causa de exclusão, sendo assim, crucial a atualização das
de aula e da escola. Tais práticas deverão ser vistos como um práticas avaliativas presentes na escola, e na sala de aula. A
instrumento de permanente superação da contradição entre o avaliação deve então, torna-se ferramenta de superação da
desempenho real do aluno e o desempenho esperado pelos contradição da expectativa sobre os conhecimentos do aluno e o
objetivos, através de um processo de produção de conhecimento conhecimento que o aluno realmente possui, buscando incorporar
que procure incluir o aluno e não o alienar.” (p. 31) todos os alunos na dinâmica escolar e evitar a alienação.

IDEIA CENTRAL: Um professor inovador


PALAVRAS DESCONHECIDAS PALAVRAS CHAVES
Linear: relativo à linha, que consiste em linha; que envolve o uso Inclusão
de linha. Avaliação
Sucessão: sequência, serie de pessoas, de fatos ou de coisas Desempenho
que se sucedem sem interrupção ou com pequeno intervalo. Educação
Elementar: que é composto ou funciona de modo primário, básico, Escola
simples, fácil, claro. Professor
Difusa: que se espalha por várias ou por todas as direções Aluno
possíveis; espalhada. Formal
Vigente: que está em vigor, que vigora; que vige. Informal
Seriada: ordenada, classificada. Sociedade
Homogeneização: ato, processo ou efeito de homogeneizar (-se) Exclusão
de tornar (-se) algo homogêneo. Hierarquia
Subjacente: que jaz por baixo, que vem de baixo. Homogeneização
Universalizada: tornado comum; de domínio público. Desigualdade
Insalubre: que não é bom para a saúde. Igualdade
Ancorado: baseado, fundamentado, fundado.
Introjetados: que está interiorizado, incorporado.
Oriunda: que tem sua origem, providencia em.
Constitutivo: que constitui essencialmente uma coisa.

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