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O Valor da Existência diante do Sofrimento Humano

A questão da qualidade da vida diante do sofrimento humano é uma das indagações mais
complexas e profundas que permeiam a condição humana. Num mundo onde as injustiças
sociais, tragédias pessoais, doenças incuráveis e a pobreza marcam fortemente a sociedade, é
racional que surja a constante dúvida se a vida compensa o sofrimento humano. No entanto, ao
examinarmos mais profundamente essa questão, podemos descobrir que o valor da vida não
reside apenas na ausência de sofrimento, mas em uma série de fatores que dão significado e
propósito à existência humana, e que talvez, o sofrimento seja essencial para que vida valha a
pena.
Porém, esta questão do sofrimento pode ser, por vezes, mal interpretada. O sofrimento é uma
experiência humana complexa que envolve dor, angústia ou qualquer forma de desconforto
físico, emocional ou até psicológico. Pode ser causado por uma variedade de fatores, incluindo
eventos traumáticos, doenças físicas e/ou mentais, dificuldades interpessoais, entre outros. Por
outro lado, eu acredito que o sofrimento não está só relacionado com experiências negativas.
Para exemplificar, no parto normal, onde um ser humano é retirado do corpo da mulher. Este
procedimento pode levar de 12 a 18 horas o que se pode tornar bastante doloroso e angustiante
para a mãe, todavia, é dada a vida a um novo ser, que irá ter a chance de crescer, criar relações
com outras pessoas, aprender, e evoluir como ser humano.
Pessoalmente, eu acredito que o sofrimento humano é um papel fundamental para a existência
da vida. É comum considerar que o sofrimento é uma parte essencial da jornada humana,
necessário para o desenvolvimento pessoal e crescimento. De acordo com esta visão, os desafios
e dificuldades que enfrentamos ao longo da vida fornecem-nos oportunidades cruciais para
aprender, adaptarmo-nos e fortalecermo-nos emocionalmente. Concordo que, existem certas
circunstâncias que passarei a explicar, em que a vida não indemniza o sofrimento humano, mas,
na maioria das situações considero que a vida vale sempre a pena ser vivida, pois, com ela,
experienciamos momentos de felicidade, desenvolvemos relações interpessoais com outros, e
também, temos a oportunidade de vir a crescer a nível pessoal, ou seja, como pessoas. O
sofrimento não é apenas uma fonte de dor, mas também uma oportunidade de aprendizagem e
desenvolvimento espiritual. Por meio das dificuldades que enfrentamos, somos desafiados a
encontrar resiliência, coragem e empatia, qualidades essenciais para uma vida plena e
significativa. Além disso, a experiência do sofrimento conecta-nos com a nossa humanidade. Ao
reconhecermos a vulnerabilidade e fragilidade que todos partilhamos, somos compelidos a
cultivar uma maior compreensão e solidariedade com os nossos semelhantes. Nesse sentido, o
sofrimento pode servir como um catalisador para o desenvolvimento de relações mais autênticas
e empáticas, fundamentadas na compaixão mútua e no apoio mútuo.
No entanto, mesmo considerando os possíveis benefícios do sofrimento, não podemos ignorar
o facto de que existem formas de dor que parecem desafiar qualquer tentativa de justificação ou
sentido. A dor extrema, a injustiça insuperável e o sofrimento psicológico sem propósito algum,
levam a questões profundas sobre a natureza da existência. Perante estas realidades sombrias, é
legítimo questionar se a vida, com todo o seu potencial para a dor e o desespero, é
verdadeiramente digna de ser vivida. Por vezes, o sofrimento é tanto, tal como psicológico e/ou
físico, que a vida em si deixa de ser uma virtude, mas sim uma guerra constante contra ela.
Exemplificando, num caso onde o individuo esteja perante uma doença terminal, como o
cancro, pode passar por momentos bastante obscuros e torturantes, contudo, com a
quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, entre outros, inspira um senso renovado de esperança
no paciente, pode assim, dar expectativas a alguém que não terá a chance de viver, mas continua
a lutar por uma vida que não terá. A questão é: Será que todo esse tormento é digno de
justificação?
Neste ponto, podemos recorrer a diferentes perspetivas filosóficas para buscar respostas sobre
o valor da vida. Diante este problema filosófico, podemo-nos basear no existencialismo. O
existencialismo realça a importância da liberdade individual na tomada de decisões e na criação
de significado na vida. Rejeita ideias pré-concebidas de significado ou propósito universais,
enfatizando, em vez disso, que os indivíduos são responsáveis por construir o sentido das suas
próprias vidas através de escolhas autênticas e ações pessoais. Além disso, o existencialismo
frequentemente aborda questões como a existência, a mortalidade, o absurdo da vida e a
angústia existencial.
Para concluir, ao explorar a relação entre o sofrimento humano e o valor da vida, surgem
diversas nuances que requerem uma reflexão cuidadosa. É inegável que o sofrimento faz parte
da vida e, deve ser visto como uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento espiritual.
No entanto, há situações em que a dor parece desafiar qualquer tentativa de justificação ou
sentido, levantando questões profundas sobre a valia da existência humana e se esta merece ser
vivida. Nesse contexto, a perspetiva existencialista oferece uma abordagem que destaca a
importância da liberdade individual na criação de significado na vida. Dessa forma, a vida não é
vista como algo predefinido, mas sim como uma rota na qual cada indivíduo tem o poder de
criar significado em meio ao caos e à incerteza.
Diante dessas realidades, é compreensível questionar se a vida envolvendo todo este sofrimento,
é verdadeiramente digna de ser vivida.

Elisa Sá Carneiro, nº17, 10A2


23/02/2024

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