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Otras Miradas
ISSN: 1317-5904
gigesex@ula.ve
Universidad de los Andes
Venezuela

Espinosa-Miñoso, Yuderkys
UMA DÉCADA DE PERFORMATIVIDADE: DE SUPOSIÇÕES EQUIVOCADAS E MAL-ENTENDIDOS
Otras Miradas, vol. 3, no. 1, junho de 2003, pp. 27-44
University of the Andes
Merida, Venezuela

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=18330103


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A DECADE OF PERFORMATIVITY: OF MISTAKEN ASSUMPTIONS AND
MISUNDERSTANDINGS (UMA DÉCADA DE PERFORMATIVIDADE: DE
SUPOSIÇÕES EQUIVOCADAS E MAL-ENTENDIDOS).

Yuderkys Espinosa-Miñoso
Pesquisadora de gênero. Feminista latino-americana
E-mail: yuderkise@ubbi.com

ÍNDICE
- Resumo/Abstract
- Termos-chave/Termos-chave
- Introdução
- A jornada política
- De suposições erradas e mal-entendidos
- Sobre o que é a performatividade e seus limites
- Um assunto mantido e gerado
- Corpo real, corpo imaginário: a infelicidade de nossa abrangência
- Bibliografia

RESUMO
Este artigo é uma tentativa de analisar criticamente as abordagens de Judith Butler como
criadora da teoria da performatividade de gênero. A autora tenta examinar as várias
leituras dos postulados de Butler e os impactos problemáticos que eles tiveram na
América Latina, analisando a situação do feminismo e do movimento LGTTBI ou queer
em nossos países. Seguindo o desenvolvimento do pensamento de Butler a partir das
críticas e da vida de seus textos, ela procura apontar erros fundamentais na tradução
política, mas também os limites e as contradições que a própria teoria contém, o que
pode ser avaliado como um augúrio de dias melhores para a ação subversiva que não
tem sido assim. A autora aponta o que, em sua opinião, seriam, em princípio, pelo
menos cinco pressupostos errôneos da ou sobre a teoria da performatividade, a saber: 1.
2. o que não excede a política da identidade 3. A crítica de um essencialismo material
não se resolve em um construtivismo radical. 4 A crítica do sujeito não o anula, a crítica
da categoria "mulher" expressa seus limites, não sua decadência. 5 A desestabilização
dos códigos contingentes de gênero não garante a desinstalação dos mecanismos de
sujeição do sujeito gerado. Antecipando a necessidade de aprofundar essas questões no
futuro, o autor, no entanto, por razões de espaço, concentra-se em trabalhar a questão
do que é a performatividade e seus limites, apontando a maneira pela qual parece cada
vez mais que nosso problema não é a compulsão de repetir, mas de entrar na rede de
significados existentes. Ele também reflete um pouco sobre a subjetivação como a
"geração" e a sujeição de sujeitos. E, finalmente, sem deixar de

27
Embora a autora concorde com Butler, ela ainda assim faz uma reflexão que é quase um
alerta sobre a instalação de uma visão construtivista da materialidade que pode ser
enganosa, pois reproduz a antiga visão racionalista da ciência como determinante de
uma natureza passiva que pode ser dominada, lida em nossos contextos como corpos
que podemos, mais uma vez, intervir à vontade.

PRINCIPAIS TERMOS
Gender Performativity, Critique of Judith Butler (Performatividade de gênero, crítica de
Judith Butler).

RESUMO
Este artigo tem como objetivo revisar os conceitos apresentados por Judith Butler, que é
a instigadora das teorias de desempenho de gênero. Este autor pretende analisar as
hipóteses de Butler em relação ao LGTTBI ou queerness na América Latina e apontar
erros fundamentais em seu ponto de vista político, bem como mostrar contradições
básicas em relação à ação subversiva. Esta autora apresenta 5 pontos críticos: 1) A
performance não está "sujeita ao estilo de vida que ela aborda". 2) O queerness não
sobrecarrega a identidade política. 3) A crítica ao materialismo essencial não resulta em
um construtivismo radical.
4) A crítica do sujeito não nega, e a crítica da "mulher" como categoria aponta seus
limites, não sua decadência. 5) Desestabilizar os costumes inerentes a um gênero não
torna esses costumes disfuncionais nem altera sua influência. Prevendo a necessidade
de aprofundar essas questões, este escritor examinará o conceito de performance e
seus limites, tentando mostrar que a compulsão existente não é a de repetir a
problemática, mas sim a de entrar na rede do significado contingente à medida que ele é
revelado. Também é dada alguma atenção à subjetivação como "geração" e à
consequente incrementação dessa subjetivação. Finalmente, de acordo com Butler, há
uma visão do construtivismo como um processo material que pode, de fato, ser perigoso,
pois tende a reintroduzir o antigo paradigma do racionalismo científico como
determinante. Esse ponto de vista científico materialista influencia as naturezas passivas
e pode, por si só, dominá-las. Lidos nesses contextos estão os conceitos holísticos que
podemos, mais uma vez, usar para aprofundar o entendimento.

PRINCIPAIS TERMOS
Desempenho de gênero, crítica de Judith Butler.

Com o que será que sonha/ A mulher barbada?/ Será que no sonho
ela salta/Como a trapezista?/Será que sohando se arrisca/ Como o
dominador?/ Vai ver ela só tira a mascara/ Como o palhaco
O que será que tem/ O que será que hein?/ O que será que tem a
perder/ A mulher barbada?1

1 À Mulher Barbada, aquela a quem Adriana Calcanhotto dedica este poema feito canção. Eu a
invoco na esperança de que, como ela, sejamos trapezistas. Capazes de pensar e assumir os riscos

28
envolvidos. "A Mulher Barbada", Música e letra de Adriana Calcanhoto

29
INTRODUÇÃO

Hoje em dia, depois de uma (re)leitura voraz, inquisitiva e compulsiva de alguns dos
textos que, desde o início dos anos 90, proliferaram por toda parte como uma crítica à
política de identidade e ao feminismo que a sustentava, pensei (toda vez que me perdia
no labirinto de problematizações sobre a pergunta "O que é uma mulher? e as
consequentes tentativas de respondê-la) que talvez devêssemos voltar ao início. Não
acho que seria uma má prática voltar ao ponto zero a partir do qual começamos a
caminhar, olhar para trás e nos lembrar do slogan com o qual partimos para outro lugar,
seja ele qual for, mas partimos. Talvez a questão de por que estamos aqui, de por que
as "mulheres" - essa comunidade histórica ilusória que constituímos - um dia se
levantaram e parte dela iniciou esse caminho e esse pensamento que veio a ser
chamado de feminismo, ainda seja pertinente.

E digo isso sabendo dos riscos envolvidos na atual saturação da teoria sobre a qual nos
baseamos em apelar para os ingênuos. Deleuzianamente, aspirar não ao mais profundo,
mas ao mais inocente. Quando a teoria nos aprisiona de tal forma que não nos permite
voltar nosso rosto para a experiência, para aquele mundo cotidiano e simples governado
por suposições igualmente simples e claras, talvez um bom banho de lama e o noticiário
das 12 horas sejam saudáveis, para que não acreditemos que o mundo fantasmático de
nosso discurso "descontaminado" não seja, no fim das contas, tão fictício quanto aquele.

Proponho começar lembrando por que viemos a este espaço de vida feminista e nos
despirmos - o máximo que pudermos - do tecido do que foi chamado de crítica da
política de identidade, com todos os seus pseudônimos, que já está - no que me diz
respeito - se tornando asfixiante e (portanto) normativo. Um jogo de tentar, por um
momento, olhar novamente como se estivéssemos olhando pela primeira vez, agindo
como se não tivéssemos percorrido o caminho que percorremos e não tivéssemos o
conhecimento que temos hoje. Brincar um pouco como meninas, aquelas que, na
proposta de Nietzsche, brincam com as cinzas do que queimou, com as ruínas do que
desmoronou. E depois ficar cara a cara novamente e contar nossas histórias uns aos
outros. Como tudo começou.

No que me diz respeito, posso dizer que cheguei a esse espaço de feminismo lésbico e
de crítica depois de um longo, muito longo processo de tédio com o mundo que me foi
dado depois de me nomear "mulher". Cheguei aqui depois de um longo processo de
rebelião contra as regras implícitas que insistiam obsessivamente em me dar um lugar,
um lugar ao qual resisti e ao qual me opus em muitos momentos de minha vida. Cheguei
aqui por meio de uma teoria feminista que me apontou que o que eu sentia não era
diferente do que acontecia com outras pessoas que, como eu, chamadas de "mulheres"
e encarnadas como tal, viam suas vidas, sua liberdade e sua possibilidade de escolha
restringidas. Se até aquele momento o nome "mulher" me parecia algo imposto e, ao
mesmo tempo, implícito, nomear-me foi um ato político, um ato de constituir mais do que
uma identidade, um ato de constituir uma comunidade de mulheres prejudicadas que
exigem reparação. Nomear-me mulher nunca foi um desejo de ser o que nós, as
chamadas mulheres, deveríamos ser; foi um desejo de explorar a categoria, de construir
uma comunidade política.

A partir daí, ser mulher, pelo menos no que diz respeito a mim, nunca foi mais do que
uma identidade política que agrupava não aqueles que eram iguais, mas aqueles que,
30
de outras origens, eram iguais.

31
múltiplas vidas, posições e subordinações estavam sujeitas a um certo tipo de
subordinação porque foram geradas2 como mulheres. Se entrei no feminismo por meio
de um feminismo lésbico próximo à academia, nosso interesse sempre foi desconstruir
uma identidade atribuída da qual não nos sentíamos parte. Apesar disso, não podíamos
deixar de reconhecer que, quaisquer que fossem nossos desejos e nosso modo de vida -
muito distantes da vida que as mulheres deveriam levar -, a sociedade em que vivíamos
era obstinada em continuar a nos tratar como tal e a nos considerar como tal, mesmo e
apesar de seus apelos de atenção à nossa clara insubordinação ao ideal regulamentado
e aceito. O interessante aqui, e é isso que quero enfatizar, é que não importava o quanto
nos afastássemos do ideal normativo, para o coletivo ainda éramos "mulheres" e ainda
éramos tratadas como tal. Experiências semelhantes são o que encontrei em minhas
muitas conversas com pessoas chamadas de "mulheres", independentemente de sua
escolha de vida, independentemente de seu desejo e sexualidade, independentemente
de seus corpos com ou sem intervenção3 .

Essa ideia me ocorreu recentemente em meio a uma mobilização interna na qual senti
cada vez mais que os postulados teóricos aos quais aderi fielmente nos últimos 6 ou 7
anos e as projeções políticas que eles tiveram pareciam não coincidir mais em pontos
fundamentais. Além do que considero um desenvolvimento aleatório do feminismo4 e do
movimento LGTTB na América Latina, o que vi acontecer nos últimos anos em muitos de
nossos países foi uma tensão muito forte dentro do movimento feminista entre a pró-
crítica e a anticrítica da política de identidade, o que levou à formação de polos opostos
dentro dos quais houve alianças fortemente rígidas que, em geral, impediram o debate
aberto e o intercâmbio responsável. Nessa polarização, a tensão foi tanta que deixou
pouco espaço para a releitura, o feedback e o fluxo de um olhar atento às suas próprias
correntes e limitações. Em minha experiência, encontrei poucas pessoas de ambos os
lados dispostas a repensar seus argumentos a partir de um lugar de risco e instabilidade.
O que encontrei foi uma incapacidade de testar as próprias certezas, em conformidade
com o que vejo como uma forte tendência da política de costurar interpretações
restritivas das teorias às quais elas deveriam responder;

2 Tomo a ideia do sujeito "gerado" de Teresa de Lauretis, que faz um jogo de palavras em que o
conceito de gênero aparece intrinsecamente ligado ao engendramento do sujeito pelas instituições
sociais, denotando, assim, uma unidade de formação em que, de acordo com a autora, não é
possível pensar no sujeito como o efeito de tecnologias particulares do eu, sem, ao mesmo tempo,
levar em conta a maneira como essas tecnologias agem de forma diferente na conformação e
sujeição de "sujeitos/corpos masculinos e femininos". Veja: de Lauretis ([1996]2002).
3 Em meus muitos contatos com outras mulheres ativistas, lésbicas e feministas lésbicas,

Pude desenvolver conversas que, para mim, foram extremamente esclarecedoras sobre essa
imposição compulsiva de identidade além da adequação ou não do ideal normativo. Em um
determinado momento, parece que há uma marca que não pode ser apagada, uma atribuição
original da qual não podemos escapar, por mais que a escondamos. A experiência desse fato
parece ser traumática para aqueles que decidem superá-lo: tendo que viver como alguém que
esconde algo, a punição pode ser terrível se isso for "descoberto". Há muitos exemplos bem
conhecidos, um dos quais foi recentemente transformado em filme, no filme "Boys don't Cry".
Voltarei a esse assunto mais tarde.
4 Para uma análise mais detalhada de minha posição sobre o feminismo latino-americano e seus

desenvolvimentos
Veja: "On Feminism Today: In Search of Another Sense of Being and Doing Feminism Today"
(2003). Publicado na Web e, em breve, em versão impressa.

32
Essas interpretações tendem a ser as que acabam sendo reproduzidas por meio de
nossas posições a favor ou contra. Isso contrasta fortemente com o que encontrei nos
autores, que são teoricamente responsáveis por tais postulados. Ao contrário da leitura
acabada e aparentemente perfeita de Butler e de Lauretis, por exemplo, que ajudou a
enquadrá-los em lugares que eles negam, o que encontrei neles e em sua obra (que é
muito mais do que as obras fundadoras do debate) é um pensamento aberto e mutável,
geralmente disposto a se repensar, mesmo como resultado das interpretações dadas a
eles e da política que eles originaram.

Assim, como nos lembra Annamarie Jagose (1996), Teresa de Lauretis, três anos depois
de ter inaugurado o conceito de "teoria queer", renuncia a ele por causa do que ela vê
como sua cooptação pelas instituições e pelo mercado. Por sua vez, J. Butler dirá no
prefácio da segunda edição de seu Gender in Dispute (1999): "Há dez anos, terminei o
manuscrito da versão em inglês de Gender in Dispute.... A vida do texto sobreviveu às
minhas intenções, e certamente isso se deve, em certa medida, à mudança do contexto
em que ele foi recebido" (2001:9). A partir daí, ela inicia uma reflexão, admitindo que foi
obrigada a revisar, em seus trabalhos posteriores, algumas das posições que havia
defendido devido, entre outras coisas, à crítica atenta e a seus próprios compromissos
políticos. O interessante é que alguns dos postulados que ela foi forçada a revisar
estavam no centro da defesa e da atribuição a um ou outro dos polos conflitantes: a
pretensão e a reivindicação de universalidade, a questão da performatividade e a leitura
que a equiparava ao travestismo, seus argumentos sobre a materialidade do corpo, bem
como o debate sobre a necessidade ou não da categoria "mulher".

Estou interessado em refletir sobre algumas dessas questões e sobre as leituras que, a
meu ver, foram feitas da performatividade no contexto latino-americano nos últimos
anos. Quero fazer uma retrospectiva do que foi feito à luz das formulações e
reformulações mais importantes, bem como a partir de minha própria experiência na
academia ou próxima a ela e como ativista. É a partir desse ponto que tento mapear as
preocupações, interpretações e políticas, a meu ver problemáticas, em que o feminismo
e os chamados movimentos sexuais se transformaram nos últimos anos. Se há pouco
mais de dez anos a crítica da categoria do sujeito foi um sopro de ar fresco, sóbrio e
revitalizante para a teoria e a política feministas, devo confessar que há algum tempo
tenho a sensação de ter entrado em uma espécie de beco sem saída. Um beco sem
saída no qual parece que há crenças que se tornaram verdades cuja crítica não é
possível sem medo de deslegitimação; verdades consagradas que nos impedem de
fazer um exercício de pensamento capaz de avaliar criticamente as projeções políticas e
o escopo dos postulados que subscrevemos.

A JORNADA POLÍTICA

Quando, em 1989, Butler concluiu seu texto, hoje clássico, Gender in Dispute, dizendo:
"...se a política não for mais vista como um conjunto de práticas derivadas de supostos
interesses pertencentes a um conjunto de sujeitos preconcebidos, uma nova
configuração de política certamente emergirá das ruínas da antiga" ([1989]2001:179), ela
não poderia imaginar os efeitos de seu encantamento. A partir da década de 1990, um
novo cenário

33
O cenário político começou a tomar forma não apenas no nível dos países centrais, nem
apenas no nível da política formal. Podemos destacar que, na década de 1990, na
América Latina, o cenário dos chamados "novos movimentos sociais" foi reconfigurado, o
que se expressou em uma forte tendência à incorporação, institucionalização e
mudanças nas estratégias de luta dos movimentos que permaneceram, incluindo o
feminismo. Como resultado dessas novas configurações, várias rupturas ocorrerão
dentro do movimento feminista. Se em algum momento refleti sobre a ruptura
institucionalização/autonomia, hoje estou interessada em destacar a ruptura que abre os
últimos parágrafos de Gender in Dispute.

Embora a eficácia do texto tenha sido certamente tal que abriu a possibilidade do
surgimento de novas formas de política, também é verdade que os resultados não foram
necessariamente tão felizes. Em primeiro lugar, devido às posições antagônicas geradas
entre as várias leituras e críticas da teoria e a nova tradição de pensamento que ela
inaugura no feminismo. Em segundo lugar, porque as novas formas de política que
surgem a partir dela nem sempre reconhecem a tradição à qual pertencem os postulados
que lhes deram origem, de modo que uma espécie de antifeminismo ganha vida dentro
de certos grupos sem poder respeitar o vínculo entre essa crítica e a esfera à qual ela se
dirige, ignorando o fato de que esses postulados fazem parte do próprio feminismo. Em
terceiro lugar, porque, ao contrário do que se poderia acreditar e do que tais postulados
buscavam, hoje, mais do que nunca, existe, pelo menos na América Latina, uma
primazia heterossexual instalada tanto no feminismo acadêmico quanto no ativista.
Assim, enquanto em meados da década de 1980 e até o início da década de 1990, em
muitos países latino-americanos, havia um ativismo feminista lésbico e lésbica muito
forte, expresso em numerosos grupos, atividades e debates, e uma liderança muito forte
dentro do movimento, hoje isso praticamente desapareceu, e o lesbianismo quase não
tem visibilidade. Por último, mas não menos importante, correspondendo ao que foi dito
acima, a crítica e o encantamento parecem ter contribuído para um impulso significativo
do movimento queer, que de agora em diante, pelo menos em termos de visibilidade,
será cada vez mais liderado por gays e travestis, com a figura da lésbica sendo deixada
para trás5 . Assim, paradoxalmente, o que prometia ser um desejo de tornar possível
uma vida e um movimento mais inclusivos coincidiu, no entanto, com um verdadeiro
retrocesso na

5 Sei que, para dizer isso, seriam necessários vários parágrafos de argumentação, mas, dada a
natureza restritiva deste trabalho, por enquanto vou apontar como exemplos desse contraste a
ausência virtual de grupos feministas lésbicos que tenham um impacto significativo em países
como Argentina, México, República Dominicana, Chile etc. Como resultado disso, ou como parte
da situação que surgiu, há uma heterossexualização das demandas e preocupações
fundamentais do movimento feminista, que já está começando a ser denunciada por várias
ativistas. Também vale a pena mencionar o exemplo dos movimentos sociossexuais, onde em
seus primórdios, pelo menos na América Latina, houve uma importante liderança lésbica, muitas
delas também feministas ou, pelo menos, influenciadas por seus postulados, o que repercutiu em
questões como as estruturas organizacionais, o foco de atenção, as formas de se nomear e de
dar prioridade à visibilidade lésbica. Em uma reunião de lésbicas no meio do III Fórum Social
Mundial, a maioria das jovens lésbicas não usou o termo lésbica, mas homossexual ou gay. A
maioria delas havia participado de grupos mistos nos quais expressaram a sensação de que
muitas de suas preocupações fundamentais não estavam sendo abordadas e que elas próprias
não estavam sendo ouvidas. Algumas delas, quando se apresentaram, disseram que acabaram
deixando esses grupos e que sentiam que eram necessários espaços específicos para lésbicas.
Essa não foi a primeira vez que ouvi isso, pois participei de várias reuniões da comunidade
LGTTB (que, a propósito, já se chama GLTTB há algum tempo!) em que a mesma reclamação foi

34
expressa.

35
visibilidade lésbica e a figura da lésbica como uma figura transcendente e eficaz de
oposição ao sistema de gênero6 .

A importância da questão do travesti e a ascensão que ela assumiu na esteira das


intervenções de Butler e de muitas outras feministas podem ser exemplificadas no
contexto argentino, onde a figura do travesti aparece no centro do conflito entre as
políticas pró-queer e antiqueer. Se alguém tentasse explorar a maneira pela qual essa
questão tomou o lugar, se não todo o lugar de preocupação, desalojando a lésbica como
o exemplo pelo menos visível e nomeado do abjeto, poderia ter uma boa surpresa7 .
Diante disso, a questão que sempre me chama a atenção é a da maneira incerta e
profusa com que o poder age, e a maneira com que somos sua garantia de
funcionamento; a maneira com que a matriz de gênero age mesmo d e n t r o d e sua
desestabilização. Em um artigo recente8 , analiso o problema da relação entre a
alteridade e a individualidade e enfatizo as maneiras pelas quais o Outro passa a ser
representado na busca pelo diálogo com o Mesmo, na busca por sua inteligibilidade.
Parece que, na busca por esse diálogo, são impostas as mesmas regras de
representação que permitiriam que certas alteridades fossem afirmadas em detrimento
de outras. Tais regras parecem estar arraigadas nos antigos códigos restritivos de
gênero, raça, classe, desejo, de tal forma que operam classificando de maior a menor
grau de representatividade de acordo com o contexto em questão e as negociações
internas. De qualquer forma, o certo é que parece que a operação pela qual o que é
socialmente identificado como masculino, ou como se aproximando dele, tende a ocupar
o lugar dessa representação do Outro, é infinitamente reproduzida, o que me leva a
concluir que os outros não ocupam o mesmo nível de inteligibilidade ou de acesso a ela.
Assim, a lésbica, incapaz de nomear a especificidade de sua opressão, uma opressão
que a identifica com o outro "feminino", é mais uma vez representada pelo homossexual
e, no campo queer, pelo travesti ou pela mulher trans. Condenada mais uma vez ao
silêncio, ela permanece - e parece que ela é - o outro do outro e, portanto, é sempre
representada por

6 Em "Love Practice: Lesbian Sexuality and Perverse Desire" (1994), de Lauretis escreve: "quanto
à "teoria queer", minha especificação insistente de lésbica pode muito bem ser tomada como um
distanciamento... já que ela se tornou rapidamente uma criatura conceitualmente vazia da
indústria editorial". (Tradução livre do inglês, em Jagose (1996)).
7 Em congressos, mesas-redondas, conferências e publicações recentes dentro do contexto

feminista próximo à teoria queer, com pouco esforço é possível observar que a palavra "lésbica" é
praticamente inexistente. Além disso, parece haver uma espécie de acordo político entre boa
parte das acadêmicas e ativistas lésbicas de que seu lesbianismo não é algo relevante para a
política que fazem, fazendo com que a crítica da identidade opere em relação ao seu próprio
lesbianismo, que não pode mais ser visto como um "ser", mas como um "ser lésbica",
Paralelamente, ou como consequência, o conceito de "homossexualidade" é mais uma vez usado
para designar universalmente gays e lésbicas, esquecendo assim a crítica e o esforço investido
pelos ativistas na década de 1980 para apontar as diferenças importantes entre as formas de
opressão de um e de outro. O que permanece paradoxal para mim é a maneira como, enquanto
identidades como "mulher" e "lésbica" são contestadas, outras, como travesti e transgênero,
parecem não sofrer tal contestação. Se a lésbica não pode se apresentar como tal, sob o risco de
ser essencializada (será que é porque ela ainda não consegue se desvencilhar da categoria de
mulher?), parece que esse não é o caso do travesti ou da mulher trans, que desfruta de uma
legitimação crescente. Se o evento em que parte deste trabalho foi apresentado como um artigo
terminou com uma travesti cantando a plenos pulmões "I am as I am", eu me pergunto como o
mecanismo de contestação está operando de uma forma que funciona para alguns e não para
outros, sem que possamos sequer perceber isso.
8 Espinosa-Miñoso, Yuderkys (2003). "De porque los Otros no somos todos lo mismo". Não

publicado.
36
leste.

Manter essa conjectura me leva inexoravelmente de volta ao meu objetivo: reler os


postulados que sustentam a teoria da performatividade de gênero à luz da nossa
experiência de trânsito ao longo dos anos.

DE SUPOSIÇÕES ERRADAS E MAL-ENTENDIDOS

De uma coisa eu tenho certeza: sempre que alguém pensa e diz o que pensou, corre
pelo menos dois riscos: as limitações do próprio enunciado e a interpretação do
enunciado. Se o enunciado é sempre nada mais do que uma tentativa de compreensão,
que, como tentativa, sempre acarreta algum fracasso, a interpretação não o é menos. No
que se segue, pretendo desenvolver o que acredito ser alguns dilemas importantes da
teoria da performatividade de gênero desenvolvida principalmente por Judith Butler, tanto
por causa de seus próprios limites (a teoria) quanto por causa dos limites impostos pela
recepção, que é sempre uma tradução. Embora eu tenha acompanhado
apaixonadamente o trabalho de Butler, bem como o de outras autoras feministas,
próximas ou não dela, quero deixar claro que minha intenção não é exaustiva e as
abordagens que faço aqui não são definitivas, nem pretendem ser menos limitadas do
que o trabalho que tentam abordar. Nesse sentido, elas são apenas um exercício para
iniciar um caminho de (re)pensar aquilo a que tão apaixonadamente atribuímos, uma
tentativa de problematizar a teoria a partir de sua apropriação prática.

Na minha opinião, há pelo menos cinco crenças ou usos problemáticos da teoria da


performatividade de gênero, que considero suposições errôneas derivadas de seus
postulados e usos:

1. Suposição errônea número um: a performatividade não é o fato de o "sujeito dar vida
ao que ele nomeia".
2. Suposição errada número dois: Queer não excede a política de identidade.
3. Suposição errônea número três: a crítica de um essencialismo material não é
resolvida em um construtivismo radical.
4. Suposição errada número quatro: a crítica do sujeito não o a n u l a , a crítica da
categoria "mulher" expressa seus limites, não sua decadência.
5. Suposição errônea número cinco: desestabilizar os códigos contingentes de gênero
não garante a desinstalação dos mecanismos de sujeição do sujeito gerado.

A maioria dessas crenças ou traduções práticas ecoou no trabalho posterior de Butler,


ajudando-a a "esclarecer" ou, em outros casos, a repensar suas próprias posições. Sem
a intenção de ser exaustivo, nos parágrafos a seguir tento dialogar com essas idas e
vindas, posicionando-me de forma crítica.

SOBRE O QUE É PERFORMATIVIDADE E SEUS LIMITES

Em conversas recentes sobre identidade, crenças, vínculos e trajetórias pessoais com


meninas de diferentes estilos de vida e preferências sexuais9 , apesar de

9O artigo que apresento aqui faz parte da pesquisa da minha dissertação de mestrado, atualmente
em andamento, intitulada: "(Des)construção da unidade sexo/gênero/desejo, experiência escolar e
narrativa. Conversas sobre identidade, subjetividade e dissidência com mulheres jovens".

37
suas múltiplas diferenças, ressoaram em mim de uma forma que eu não esperava a
mesma ideia sobre a categoria "mulher". O que eu não esperava era que todas se
sentissem distantes do que tal categoria nomeia, e o que me surpreendeu, trazendo à
mente certezas que eu havia esquecido, foi a clara consciência de estarem sujeitas a um
tipo específico de sujeição, independentemente de quão distantes ou próximas elas se
sentissem de tal categoria. O que lembrei e que havia esquecido era o mesmo
sentimento, a mesma certeza e a mesma ideia sobre o significado de ser mulher, que já
foi tão clara para mim e para meu grupo principal de ativistas lésbicas feministas. Depois
dessa reflexão, voltei à frase revolucionária de Monique Wittig, "lésbicas não são
mulheres", e cheguei à suspeita de que essa afirmação é tão libertadora quanto
enganosa. De qualquer forma, e esse é o dilema inerente a toda identidade, seria
preciso se perguntar para quem elas não são, e em quais contextos de poder e
inteligibilidade? Poderíamos dizer que deixar de "representar" um gênero, um sexo - se é
que isso é possível - implica, consequentemente, uma mudança na forma como o poder
nos restringe?

Recuperar essa ideia me fez pensar repetidamente em como chegamos ao ponto em


que a "mulher" se tornou uma essência ou, em seu oposto, uma categoria contestada
como a "estrutura fundamentalista na qual o feminismo foi articulado" e que, de acordo
com a crítica, implica uma restrição àqueles que supostamente deveria liberar (Butler
[1989, 1999] 2001:179). Como chegamos ao momento em que, em certos espaços,
tornou-se tabu falar sobre e sustentar uma defesa das "mulheres", abrindo caminho para
a legitimação de uma proclamada proliferação ampliada de gêneros?

Embora a pergunta cause certa surpresa diante do que parecia ser um caminho "natural"
de crítica, ela está longe de ser inocente. Quando Butler encerra seu livro prevendo um
futuro melhor para a política, ela parece deixar flutuando a ideia de que esse futuro não é
mais possível se pensarmos a partir de um "nós". Embora em análises posteriores ela
tenha tentado retornar repetidamente ao assunto, o que finalmente se depara são as
limitações impostas por sua própria tese sobre performatividade. Ela oporá a ideia de
uma concepção fixa de identidade, que supostamente percebe no feminismo, a uma
ideia de identidade como algo instável que precisa de atualização repetitiva para
funcionar.

A ideia do que é performatividade, como ela aponta, tem variado ao longo do tempo, mas
me parece que uma boa síntese é a que ela apresenta no prefácio da segunda edição
de Gender in Dispute. Ela identifica duas questões fundamentais que fazem parte dessa
concepção: primeiro, "a performatividade do gênero gira em torno de uma metalepsis, a
maneira pela qual a antecipação de uma essência de gênero provoca o que ela postula
como externo a si mesma", visto dessa forma o gênero aparece como "uma expectativa
que acaba produzindo o próprio fenômeno que antecipa". Em segundo lugar, ela diz que
"a performatividade não é um ato único, mas uma repetição e um ritual que

meninas em idade escolar". Ele é desenvolvido por meio de histórias de vida com garotas de 20 e
30 anos de diferentes origens, estilos de vida e preferências de vida. Tentamos incluir uma
variedade de vozes de "mulheres": desde feministas heterossexuais e lésbicas, lésbicas,
bissexuais, até mulheres heterossexuais casadas e/ou com filhos. Ainda nos falta a
documentação de alguns casos e estamos apenas na metade do trabalho, portanto, as
impressões que apresentamos aqui não são conclusivas.

38
alcança seu efeito por meio da naturalização no contexto de um corpo" (idem: 15).
Talvez seja essa última afirmação sobre o que é a performatividade que tenha gerado
mais debate, bem como leituras problemáticas devido às consequências políticas de tal
postulado. Se Butler afirmou que não há um eu por trás da significação e acrescentou
que "toda significação é dada dentro da órbita da obrigação de repetir" (idem: 176), o
resultado foi pensar que nossa visão do que é um gênero era muito mais restritiva do
que supúnhamos. Quando, ao mesmo tempo, ela enfatiza que a "capacidade de ação"
"deve ser situada dentro da possibilidade de variar essa repetição", o que, segundo ela,
"só pode ser possível... dentro da prática da significação repetitiva" (idem: 176), ela
coloca o que chama de "repetição paródica do gênero" como uma estratégia de ação
subversiva em sua caricatura (excesso) da norma. Com isso, aquelas práticas
consideradas até então como "cópias" de um gênero "real", cujo exemplo por excelência
será o travestismo, ganham importante visibilidade no campo do discurso e da política, a
ponto de ela mesma ter tido que ressaltar em inúmeras ocasiões que, ao trazer à tona a
discussão sobre o travestismo, não o estava tomando como exemplo de subversão e
ação política e que "seria um erro" tomá-lo como tal.

Além desses esclarecimentos, que pelo número de páginas dedicadas a ele apontam
sua centralidade para a política e a teoria feminista, tem sido interessante observar a
evolução desse pensamento que vem explicar por que não existe um sujeito que possa
decidir sobre seu gênero, já que "o gênero é parte do que o determina" (Butler [1993]
2002:13). Assim, Butler continua explicando, embora o gênero seja efetivado por meio
de sua performance repetitiva, ele não depende da vontade do sujeito e, portanto,
devemos começar a entender a performatividade "não como o ato pelo qual um sujeito
dá vida àquilo que nomeia, mas, sim, como o poder reiterativo do discurso de produzir os
fenômenos que regula e impõe" (idem: 19). Quando ela finalmente ressalta que sua ideia
de performatividade implica a historicidade do discurso, que ele não apenas "precede,
mas também condiciona seus usos contemporâneos" (idem: 319), pode-se começar a
respirar um pouco e ver as rupturas e conexões desses postulados com a trajetória da
produção teórica feminista que a precede.

No que diz respeito à minha própria visão, eu poderia dizer que concordo amplamente
com as conjecturas levantadas pela performatividade de gênero, mas ainda há questões
fundamentais que elas não explicam ou cuja explicação é problemática. Quando Butler
afirma que a significação não se baseia em um ato, mas em uma compulsão à repetição,
várias dúvidas me assaltam. Supondo que essa afirmação seja verdadeira, o que
constituiria a centralidade da matriz de gênero: a significação, a compulsão ou a
repetição? Talvez possamos concordar com os três. No entanto, a questão começa a se
tornar cada vez mais complexa quando percebemos que, ao contrário do que se poderia
esperar, a matriz de significação (normativa e de dominância) não muda
necessariamente quando se deixa de repetir, ou quando se repete a partir do
deslocamento ou da hipérbole. O que parece acontecer é que ela se adapta, torna-se
dúctil, sendo capaz de incorporar novas personificações e práticas e atribuir-lhes um
significado prescritivo, dentro do binarismo estabelecido. No exemplo das feministas
lésbicas que mencionei anteriormente, isso ficou bem claro. O mesmo pode ser
observado na forma como as aparências corporais vêm mudando nas últimas gerações.
Há lugares, como em Buenos Aires, onde às vezes é difícil para uma mulher

39
A leitura de gênero é fácil, pelo menos para alguém como eu, que nasceu e cresceu no
Caribe, onde os códigos de vestimenta e a apresentação corporal ainda são muito
rígidos. Pense, por exemplo, nos corpos atléticos: "mulheres" grandes e fortes com
músculos desenvolvidos e presença imponente, produzindo hormônios que
supostamente são produzidos apenas por corpos "masculinos". Poderíamos pensar
também nos transgêneros e em sua luta incessante para não serem reconhecidos no
gênero que lhes foi atribuído, parece que sempre há necessidade de mais um ajuste10 .
Em todos esses casos, apesar do afastamento da ideia de "feminilidade" ou
masculinidade, parece que não podemos deixar de ficar "presos" no binarismo da
inteligibilidade. Uma sensação de ser tratado como "mulher", mesmo que alguém se
oponha a isso ou se afaste o suficiente.

É aqui, então, que a teoria da performatividade deixa de me oferecer respostas


satisfatórias. Quando Butler aponta que "o travestismo é um exemplo que visa
estabelecer que a "realidade" não é tão fixa quanto tendemos a supor" ([1989, 1999]
2001:23), ela parte do pressuposto de que a forma como os binarismos de gênero
operam é deixando certos corpos fora do campo da inteligibilidade, corpos que ela
nomeará como "abjetos". Ela ressalta que esses corpos produzidos, tanto quanto os
outros, no entanto, terão a tarefa de demarcar o campo do legítimo: até que ponto é
possível levar uma vida entendida como vida? Ao contrário disso, ou talvez sem
necessariamente se opor a isso, eu argumentaria que poderíamos começar a pensar
sobre a maneira pela qual talvez a rede discursiva de poder possa ser entendida como
operando de forma diferente, reconhecendo que, em um determinado ponto, a operação
de exclusão não é mais necessária do que a de inclusão aparente. Ou seja, talvez, em
vez de deixar de fora aquilo que se opõe à norma, ou seja, resistir a ela, seja possível
obter maior eficácia tentando incorporá-la.

Se no final, como Butler aponta, a conformidade com a norma sempre leva ao fracasso,
já que a cópia nunca é como o original (o modelo ideal), podemos pensar que talvez a
norma não opere sob tal expectativa, talvez não precise! Talvez o modelo sirva apenas
como uma declaração que tenta canalizar, constituir uma sujeição. Talvez ele só opere
tentando manter o significado dos corpos e das práticas, de modo que haja um campo
rígido de significado que, no entanto, se abre e ocupa cada vez mais qualquer espaço,
tornando-se plástico, impedindo a possibilidade de haver lugares que não estejam
presos a esse núcleo de significado. Essa é a maneira pela qual as formas
contemporâneas de inclusão da diferença operam, conforme exemplificado por bell
hooks em seu "Devouring the Other: Desire and Resistance" (Devorando o outro: desejo
e resistência)11 . O campo de significação é cada vez mais expansivo, mas a maneira
pela qual ele opera é distribuindo entre os novos referentes significados que já pré-
existem e fazem parte da rede discursiva. Assim, o conceito de "mulher" (ou "homem")
está pronto para abranger uma variedade de

10 Quero me desculpar pela licença que tomo ao nomear esses exemplos, embora, por exemplo,
eu não seja um leitor da teoria dos transgêneros e, portanto, isso não está em meu domínio.
Quando ouso nomear esses exemplos, faço isso mais a partir de uma percepção pessoal do que
parece ocorrer no nível de significação, o que não passa de uma hipótese, não sobre a questão
trans em si (da qual sou totalmente ignorante), mas sobre a maneira como a rede de significação
age diante desses exemplos. De qualquer forma, corro o risco de me aventurar em áreas
nevrálgicas que, até certo ponto, parecem ser restritivas para não acadêmicos.
11 Pode ser útil voltar às críticas fundamentais da política do multiculturalismo para
muito útil. Pensamos na "incorporação" do negro ou do étnico na modernidade.
40
posições que antes estavam fora ou eram ilegíveis. Com esse ato de nomear aquilo que
escapou e o confrontou, o poder consegue recuperar o controle12 . A lésbica não é uma
não-mulher, independentemente de seu desejo ou de sua escolha, ela assumirá um
nome que a mantém presa, apesar de seu desejo. Nesse sentido, em vez de serem
deixados fora do campo de visibilidade, é por meio da atribuição de significados dentro
do campo binário de gênero que os sujeitos cujas práticas e desejos se opõem à norma
são devolvidos à matriz de dominação. Quando essa matriz não consegue entender o
que está acontecendo, quando suas expectativas falham, quando o corpo nascido não é
inteligível, sua opção não é o silêncio, mas a violência da semelhança e do "reparo" ou
"adaptação"13 .

Diante disso, a questão que surge para mim é se o gênero é apenas aquilo que se age,
ou se é muito mais do que isso, se ele nos constitui de outras formas possíveis que
ainda escapam à nossa compreensão. Pergunto-me de que forma o poder age para
restringir a saída da significação em vez da entrada nela, e de que forma a proliferação
de novas configurações de gênero e sexo não derrubaria (não derrubaria) os binarismos
de gênero, nem as redes discursivas de inteligibilidade que permitem a dominação de
determinados grupos? Como as redes restritivas de significação e inteligibilidade operam
não deixando nada f o r a d e seu campo de operação, mas solidificando os campos de
significantes de tal forma que possam acomodar variantes e desvios de todos os tipos
sem afetar a forma de interpelação e nos forçando a entrar em uma contestação sobre
os próprios significantes? A maneira como eu poderia representar essa ideia é por meio
de um cone ou de um funil: entre tudo, sai pouco. A eficácia da subversão paródica ou
da proliferação avassaladora de identidades desaparece, pela própria operação de
despossessão por meio da qual o Outro, o abjeto, aquilo que se opõe ou constitui um
perigo de instabilidade é devorado, incluído na inteligibilidade à custa de sua renúncia ao
que lhe era mais próprio e menos apropriado. Não mais obrigado a repetir, parece que é
o próprio sujeito que solicita a repetição ou, pelo menos, a inclusão nos campos
possíveis e disponíveis de legibilidade14 .
12 A esse respeito, Annamarie Jagose (1996) fez a seguinte pergunta: "Será que o termo queer se
torna obsoleto no momento em que se torna um termo inteligível e amplamente disseminado?
13 Qualquer semelhança com o que acontece com os corpos intersexuais no nascimento e a

intervenção da lógica médica normativa não é coincidência. Pensar que, no futuro, isso também
levantaria a questão de saber se essa mesma lógica não está em ação no tratamento da questão
transgênero e transexual. Uma ciência e uma rede de discurso instaladas na maneira pela qual
um corpo deve expressar uma identidade assumida de uma forma que responda às normas de
legibilidade. Nesse caso, não é mais a ciência de fora que age para impor essa correspondência,
o nível de eficácia discursiva é tal que são os próprios sujeitos que podem exigi-la. Seguindo a
reflexão anterior, pode-se perguntar até que ponto essa capacidade não foi produzida no desejo
de encontrar maneiras de sair da rede de significação que os restringe, apesar de sua oposição: A
frase que ouvi de uma ativista transgênero de M a V foi: "O que eu quero é passar por um homem
quando ando na rua". Isso, apesar do fato de ela ter vivido por anos fora dos códigos que
supostamente dão o significado de "mulher".
14 Peguei parte dessa ideia da tese foucaultiana da Sociedade de Controle. Essa ideia foi

desenvolvida por Deleuze e, mais detalhadamente, por Pablo de Marinis, bem como pelo "Grupo
12" na Argentina. Também me beneficiei do trabalho de bell hooks (1992) sobre a maneira pela
qual o negro é integrado. Skliar resume os postulados de De Marinis com estas palavras: "Agora
não se trata mais apenas de uma pesquisa metódica e detalhada de presenças e ausências, mas
de novas modalidades de governamentalidade que determinam

41
Assim, quando a explicação da natureza obrigatória da repetição parece não nos servir
mais tão bem, ainda nos resta a questão da metalepsis, da maneira pela qual uma
"antecipação evoca seu objeto", porque se não pudermos mais recorrer à reiteração
como forma, teremos que encontrar outras maneiras de explicar as maneiras pelas quais
o encantamento da enunciação age. Isso nos leva a duas questões finais que considero
importante abordar, ainda que nominalmente. Uma delas é a problemática da
subjetivação e da governabilidade, a outra é a questão do corpo como um efeito do
discurso.

UM SUJEITO MANTIDO E GERADO

Após a publicação de Gender in Dispute, Butler embarcou em dois projetos que deram
continuidade às reflexões que ela havia iniciado e que não haviam sido suficientemente
concluídas ou trabalhadas. Um desses trabalhos foi "Bodies that Matter" (1993) e o outro
foi "Psychic Mechanisms of Power" (1997). Em relação a esse último trabalho, ela disse
que ele surgiu como uma resposta necessária à crítica de que, embora o texto de 1989
tenha começado com um trabalho centrado na psique, esse início deu lugar ao
desenvolvimento da performatividade como a ideia central do projeto, que parecia
abandonar e até mesmo contrariar a ideia de um mundo interno15 . A tese de que não há
um ator por trás da ação e de que o que consideramos uma essência de gênero é
apenas um conjunto reiterado de atos foi capaz de instalar a ideia da ausência de um
mundo interno e de um processo de subjetivação por meio do qual o sujeito é habilitado
como tal. Em Psychic Mechanisms of Power, Butler tenta lidar com essa ideia
atravessando as teses foucaultianas e psicanalíticas dos modos de subjetivação. É
interessante o que pode acontecer com o pensamento de reiteração quando entramos
nesse campo. Embora não tenhamos espaço para trabalhar esse texto em profundidade,
sustento a validade do exercício que ela realiza ao tentar investigar os efeitos da
subjetivação como algo que funda o sujeito e, ao mesmo tempo, é a condição de
possibilidade de sua potência. Ao fazer isso, a ideia da capacidade de ação não aparece
em oposição a uma vida interna, embora a ideia da reiteração infinita de atos como o
que constitui o sujeito do gênero pareça menos presente. Assim, embora Butler não o
afirme, pode-se começar a pensar, mais em sintonia com as premissas de Teresa de
Laurestis (2000), que o sujeito já é um gênero desde o momento de sua fundação. A
ideia que emerge dessa argumentação é que, se o sujeito é um sujeito, é porque já foi
subjetivado, e a maneira pela qual essa subjetivação opera é por meio de certas práticas
que Foucault chamou de "tecnologias do eu"16 , uma ideia que servirá para Teresa de
Lauretis pensar sobre

um conjunto relativamente original de conhecimentos e poderes: controle populacional eficiente e


eficaz. A vigilância do corpo individual, a intrusão em sua biografia, em sua história com o objetivo
de torná-lo, por exemplo, um bom trabalhador, um bom filho, um bom pai... - e outros perfis, outras
nuances começam a ser administradas..." (em Skliar, 2002: 77).
15 Consulte a página 16 do prefácio da segunda edição de Gender in Dispute.
16 Por "tecnologias do eu", Foucault entende "aquelas técnicas que permitem que os indivíduos

realizem um certo número de operações em seus próprios corpos, suas almas, seus pensamentos,
seu comportamento, de modo a se transformarem, a modificá-los, a fim de atingir um certo estado
de perfeição, felicidade, pureza ou poder sobrenatural" (Foucault, 1990).

42
sua tese de uma tecnologia de gênero17 .

Butler, por sua vez, em concordância com a ideia foucaultiana, nos diz que o poder
excede o sujeito, que é anterior a ele e o funda, e ressalta que a maneira pela qual ele o
funda é "atuando-o". Ela nos lembra da maneira pela qual "a sujeição consiste
precisamente nessa dependência fundamental de um discurso que não escolhemos,
mas que, paradoxalmente, inicia e sustenta nosso poder", já que "a sujeição é o
processo de se tornar subordinado ao poder, bem como o processo de se tornar um
sujeito" ([1997]2001:12). Dessa forma, ela explora teorias e linhas de pensamento que,
ao contrário do que havia argumentado, apontam para um momento emergente ou, pelo
menos, formativo da subjetividade. Diante disso, o que surge como dúvida é quando
esse fundamento prévio do sujeito, aquele que o capacita a agir socialmente, começa a
funcionar como uma espécie de formatação ou parte mais permanente do eu na qual os
atos são inscritos, ou a partir da qual esses atos emergem? A partir de quando podemos
considerar essa subjetivação como uma superfície que permite o autocontrole e o
autogoverno do próprio sujeito? Se admitirmos que, se há um sujeito, é porque já existe
uma marca, uma inscrição prévia, de que forma essa marca opera em relação ao
gênero? Se não podemos dizer que a marca é fundada a cada instante (já que isso se
oporia à ideia de interioridade constitutiva), se quando o sujeito está em posição de
decidir ou agir de acordo com seus próprios princípios e desejos ele já está marcado
como o sujeito que já é, podemos continuar a afirmar, como Butler, "que todo gênero é
como o travesti ou é travestido", ou que "o travestismo não é uma imitação secundária
que assume um gênero anterior e original" (Butler [1993]2002:184)? 18 Quando Butler faz
essa última afirmação, depois de argumentar que "o paradoxo da sujeição é
precisamente que o sujeito que se oporia a essas normas foi possibilitado, se não já
produzido, por essas mesmas normas" (Butler [1993] 2002:38), ela está assumindo que
a subjetivação é imune ao gênero ou simplesmente o ignorou, como Foucault e outros
que trabalharam com o tema da subjetivação? Digo isso porque, se defendemos que o
sujeito já está sujeito, habilitado e produzido no momento da ação subversiva (uma vez
que a subversão só é possível porque já existe um sujeito), então o travesti, a lésbica ou
o gay que subverte a norma, no momento em que a subverte, já foi previamente
produzido pelo gênero normativo, ele já não foi gerado no processo de se tornar um
sujeito?

CORPO REAL, CORPO IMAGINÁRIO: A INFELICIDADE DE NOSSA


ABRANGÊNCIA

"Não se trata de deixar a terra, mas de se tornar tão terreno a ponto de inventar o

17 De Lauretis dirá que "o gênero, assim como a sexualidade.... "é o conjunto de efeitos
produzidos sobre os corpos, os comportamentos e as relações sociais", como diz Foucault, devido
à implantação de "uma tecnologia política complexa", mas é preciso dizer, antes de tudo... que
pensar o gênero como produto e processo de uma série de tecnologias sociais, de aparatos
tecnossociais ou biomédicos, significa já ter superado Foucault, pois sua concepção crítica da
tecnologia do sexo esquece a solicitação diversificada a que submete os sujeitos/corpos
masculinos e femininos". ([1996]2000:35)
18 Se, como afirma Hunter (1998:80), "a liberdade se torna uma característica da ação

Somente depois que o comportamento tiver passado por uma "problematização moral", ou seja,
somente depois que já houver um sujeito, poderemos dizer sem medo que o sujeito capaz de
"desestabilizar" só o faz depois de ter sido produzido.

43
leis de líquidos e gases das quais a Terra depende" Gilles Deleuze

Como já mencionamos, outro projeto (o primeiro em termos cronológicos) no qual Butler


embarcou após o projeto de fundação de 89 foi "Bodies that Matter", que ela publicou
quatro anos depois. Nesse texto, Judith tenta explicar como a materialidade entra em
sua concepção da performatividade do gênero. Ali ela desenvolve sua ideia dos
mecanismos pelos quais existem corpos que não entram no campo da legibilidade,
corpos abjetos, que, de acordo com suas ideias, seriam aqueles que não são levados
em conta pelo discurso e, portanto, não importam e não são dignos de uma vida
habitável. Como já abordei esse ponto no passado, estou interessado em me concentrar
na ideia do material como um efeito das práticas de legibilidade discursiva.

Em relação ao que isso significa e como foi incorporado à política, Butler argumentou
que: "Parece-me que pode ser um erro argumentar que Bodies That Matter é uma obra
construtivista ou que busca considerar a materialidade em termos construtivistas. Seria
mais correto dizer que ele procura entender por que o debate
essencialismo/construtivismo tropeça em um paradoxo que não é fácil ou
verdadeiramente superado." (Prins e Meijer, 2002:3). Anteriormente, ele disse: "Minha
ênfase inicial na desnaturalização não era tanto uma oposição à natureza, mas uma
oposição à invocação da natureza como forma de estabelecer limites necessários à vida
gerada". (idem: 2). No que me diz respeito, esses esclarecimentos devem nos levar a
pensar sobre a maneira como uma ideia sobre o corpo e o corpo abjeto foi colocada em
circulação em certos lugares do movimento, com base em seus postulados. Devido à
impossibilidade de elaborar esse assunto, tentarei apenas apontar como problemático o
modo como uma certa leitura queer parece não encontrar limites em sua apropriação e
uso dessa ideia de materialização como algo que é um efeito do poder. Isso parece
mostrar, acima de tudo, como é difícil para nossa atual abrangência escapar dessa
oposição natureza/cultura da qual Butler tenta escapar. Como ela nos adverte, devemos
tentar abandonar os esquemas pelos quais pensamos que a natureza nos impõe suas
regras ou que há uma natureza passiva, se não inexistente, que é dominada pelo social.

Muito do que encontrei no ambiente acadêmico e político próximo ao queer é o último


pressuposto. De acordo com ele, não há materialidade possível de ser considerada em
nosso esquema de pensamento, de modo que, em ato de oposição à tendência
contrária, o corpo desapareceria como uma função governada apenas por leis sociais.
Em algum momento, isso me lembra a tradição racionalista da ciência, em que o
intelecto ou a capacidade humana de pensar teria supremacia e controle absoluto sobre
a natureza. Faço essa afirmação a partir de uma noção do corpo abjeto como aquele
que é capaz de se transformar em um ato voluntário e radical. Para isso, a tecnologia e a
ciência são regularmente usadas como um meio de poder sobre esse corpo, matéria
inerte na qual nossos desejos e vontades estão inscritos, sob a alegação de que, afinal,
"tudo é construído". Assim, sem ser capaz de reconhecer a lógica que reproduz e na
qual esse discurso se enquadra, a mesma lógica científica responsável pelo controle
normativo de nossos corpos é utilizada e afirmada, sob a suposição - oh, ironia - de que
podemos escapar dos mandatos normativos. Recentemente, tenho me perguntado como
podemos aderir a discursos e

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promessas de liberação e bem-estar que são apenas parte das mesmas redes que nos
controlam. Uma discussão sobre as presunções ontológicas do que é um corpo natural e
do que é um corpo não natural19 não deve nos levar a anular toda a diferença entre um e
outro, muito menos a esquecer que sempre, e digo sempre, nossa presunção do que é o
corpo limita nossa capacidade de compreensão real. Nesse caso, se há algo que nos
limita, não é a natureza, mas nossa capacidade de significá-la, e a maneira como a
significação tenta se tornar um ato de controle sobre esse corpo e sobre os sujeitos que
o habitam, em uma única e mesma operação. O interessante dessa operação redutivista
na qual o construtivismo cai é que ela nos leva de volta a uma das tradições do discurso
científico que parece estar cada vez mais desatualizada, e isso sem nem mesmo nos
darmos conta. Pois, se há novas posições que poderíamos adotar, uma delas é aquela
que, como Butler aponta, não opõe natureza/cultura, corpo/discurso ou substitui um pelo
outro. O que cientistas feministas como Anne Fausto-Sterling, ou o trabalho de Maturana
sobre sistemas autopoiéticos, estão tentando nos dizer é que essa oposição não existe e
que os corpos e os sistemas naturais são muito mais inteligentes do que nossa
capacidade de compreensão. Na realidade, o que sempre deu errado não foi o modo
como a natureza opera, mas precisamente as restrições de nosso sistema de
significação. O fato de sabermos que não podemos "acessar qualquer materialidade
anterior ao discurso" não deve nos levar a esquecer "que o discurso também não
consegue captar tal materialidade anterior" (idem: 3).

Talvez a leitura de autores como Fausto-Sterling possa nos ajudar a chegar mais perto
de uma melhor compreensão das maneiras pelas quais o corpóreo e o natural não são
nosso problema, mas as maneiras pelas quais eles são interpretados e mal
compreendidos por nossos discursos científicos. Como ela afirma com razão, tudo
parece indicar que o corpo e os sistemas naturais são muito mais hábeis, plásticos e
capazes de se transformar do que nossas estruturas rígidas de discurso e compreensão.
A maneira como começo a me perguntar sobre o corpo envolve a ideia de quanto do que
pensamos que ele é, todas as tecnologias para produzi-lo, todos os discursos sobre os
produtos dessas operações que passam a ser considerados como a própria essência
dele, envolvem operações de poder que o excedem, pelas quais uma ciência à qual
invariavelmente recorremos, fingindo mais uma vez apontar para nossa magnanimidade,
nossa grandeza e nossa capacidade de conferir significados normativos, é responsável.

BIBLIOGRAFIA

• Balbier, E.; Deleuze, G.; Dreyfus, H.; Et. Al. (1995): Michel Foucault,
Filósofo, Gedisa, Barcelona.

19 A propósito, seria interessante contrastar essas discussões à luz dos atuais desenvolvimentos
em biotecnologia e controle reprodutivo nas mãos do capital transnacional que tenta controlar e,
se não, saquear as populações de seus produtos naturais. Um importante ativismo está se
desenvolvendo em nível internacional, denunciando essa desapropriação e as tentativas de
controle. Um dos eixos fundamentais e denunciados do conflito está centrado na proliferação de
sementes transgênicas, sementes de laboratório ou sementes geneticamente modificadas, que,
sob o argumento de maior produtividade, constituiriam um perigo para a biodiversidade (própria da
natureza!) e para a soberania alimentar. De que forma uma visão do corpo intervencionada com a
ajuda da ciência faria parte da mesma lógica?

45
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subjection. Cátedra, Universidade de Valência, Instituto de la Mujer, Madri.

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Skliar, Carlos (2002) ¿Y si el otro no estuviera ahí? Miño y Dávila, Buenos
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sexualidade). Basic Books, EUA.

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[Devorando o outro: desejo e resistência] em Debate Feminista, ano 7, vol.
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filosofia contemporánea. Cátedra, Madri.

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reta e outros ensaios]. Beacon Press, Boston.

Revista Otras Miradas


grupo de pesquisa sobre gênero e sexualidade
GIGESEX

Faculdade de Ciências Humanas e Educação


Universidad de Los Andes
Mérida-Venezuela
http://www.saber.ula.ve/gigesex/
gigesex@ula.ve

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