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Fórum tarefa 1 cultura e patrimônio material e imaterial.

O PRÉDIO DO CINE TEATRO JANDAIA TOMBADO EM ESTADO DE ARRUINAMENTO E O OFÍCIO


DAS BAIANAS DE ACARAJÉ TORNADO PATRIMÔNIO IMATERIAL

Salvador tem um significativo patrimônio material tombados pela UNESCO, IPHAN e


gerenciados na pratica pelo IPAC, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, órgão
que visa conservar o patrimônio histórico do estado. As questões relacionadas a preservação e
reabilitação de prédios tombados pelo IPAC, são bem complexas. Tenho dentro deste
universo, por habitar uma cidade que no seu centro histórico resolve grandes demandas, um
prédio que me atravessou em 2002, em grande estado de abandono: O Cine Teatro Jandaia.

O Cine Teatro Jandaia foi inaugurado no ano de 1911, fundado pelo comerciante sergipano
João Oliveira, que também era o dono da Panificadora Jandaia, num galpão na Baixa dos
Sapateiros com capacidade para quatrocentas pessoas, exibindo fitas de cinema mudo. No ano
de 1927, após uma série de interdições o Cine Teatro foi fechado.

Em 3 de julho de 1931, Oliveira inaugurou um prédio moderno e luxuoso, após reformas e


ampliações. O novo cinema ocupou uma área de 1.200 metros quadrados. Naquela época era
um cinema que atraia a elite para a Rua de comercio popular. A edificação possui elementos
inspirados pela Art déco e a Art nouveau. O cinema e teatro foi considerado uma das mais
importantes casas de espetáculos do estado de Bahia. Na década de 1960, era reconhecido
como o principal cinema de Salvador, recebendo também a denominação de "Palácio das
Maravilhas". Foi o primeiro cinema do nordeste com equipamentos para exibir filmes sonoros.
Personalidades e artistas como Carmen Miranda, Bidu Sayão, Grande Otelo e Dalva de Oliveira
entre outros se apresentaram no Cine Teatro Jandaia.

Seu declínio iniciou no fim dos anos de 1960, com o ingresso das empresas multinacionais de
cinema. Na década seguinte, a mudança do centro comercial para outras áreas, além da
expansão dos shoppings centers, foi crucial para terminar seus anos de glamour. Com a
decadência dos cinemas de rua, o Cine Teatro Jandaia passou por um processo de falência,
chegou a ser utilizado para exibir filmes pornôs e de artes marciais para tentar sobreviver nos
anos de 1990, mas depois entrou em total abandono.

Em 2002, ganhei um edital para montagem de um projeto sobre a Baixa dos Sapateiros, rua
icônica, pois fora a Rua da Vala, onde corria um rio, em terras abaixo do centro histórico e lhe
servia para descarregar as águas servidas da inicial cidade ao alto, para plantio de hortas e
abatedouros, que jogavam os restos dos abates no córrego, tornando o conhecido como Rio
das Tripas. No fim do século XIX com as demandas inclusiva dos escravos recém libertos, a
necessidade de sapatos pelos negros, objeto a estes proibidos enquanto escravos, que se
tornam símbolo de possível integração social, causa o surgimento de aglomeração de
sapateiros, originando o nome Baixa dos Sapateiros, uma primeira e próxima periferia negra
em Salvador. No trabalho sobre a veia urbana, ocorre meu encontro com o abandono e
história do Jandaia, e expus seu interior degradado por 30 dias no Goethe Institut.
Repercutindo seu estado.

Em 2003, ganhei o Prêmio Braskem de Cultura e Arte, em artes visuais, com minhas pesquisa
sobre a Baixa dos Sapateiros, colocada pelo centenário de Ary Barroso, autor da música
conhecida internacionalmente Na Baixa do Sapateiro e crio uma nova montagem sobre a rua,
chamada Cama, Mesa e Banho, abordando aspectos comerciais, de demanda por esses itens
domésticos, da historia de seus cinemas, e os jogos de relações sincréticas entre congregações
e igrejas católicas e irmandades de pretos, terreiros de candomblés e iguarias de origem
africana na rua. Em 2009, quando centenário de Carmen Miranda, que em 1932 se apresentou
no Cine Teatro Jandaia, realizo uma performance para audiovisual abordando de novo o
Jandaia.

Em 2010, o prédio recebeu o tombamento provisório junto ao Instituto do Patrimônio Artístico


e Cultural da Bahia (IPAC). Posteriormente em 2013, o IPAC retirou os vitrais do cinema para
garantir a preservação. No ano de 2015, o órgão aprovou o tombamento em definitivo. No ano
de 2016, o cinema foi doado ao Estado, transferindo a responsabilidade ao governo da Bahia,
sendo então governador Rui Costa (PT). No ano de 2018, no dia nacional do patrimônio,
cidadãos realizaram um 'abraçaço' promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)
buscando chamar a atenção da opinião pública para a importância do prédio para a sociedade
baiana. O Cine Teatro permanece em estado de constante arruinamento, parte de seu telhado
e forro desabaram, todo seu interior é um grande amontoado de destroços de seu antigo
mobiliário. Vários atores culturais da cidade já se manifestaram sobre o Jandaia, discutindo
qual papel deve cumprir em uma possível restauração e reabilitação.

Ao Lado do Cine Teatro Jandaia, vizinho, fica o Mercado de Santa Bárbara, com lojas, bares e
restaurantes populares, que também carece de melhorias. Todo o ano no dia 04 de dezembro,
realiza-se festejos para Santa Bárbara no Centro Histórico, com grande força no Mercado que
leva seu nome. Nesse dia é tradição oferecer o Caruru, comida do Orixá Yansã, que se crer ser
o Orixá da santa guerreira católica. O Caruru é na verdade compostos de vários itens, além da
iguaria feita com quiabos que lhe dá o nome. O cortado de quiabo cozido é servido com feijões
fradinho e preto, arroz e milho branco, farofa, frango cozido com azeite de dendê, chamado
Xinxim, banana da terra frita, vatapá, abará e o famoso acarajé.

Ofício das Baianas de Acarajé é bem cultural de natureza imaterial, inscrito no Livro dos
Saberes do IPHAN em 2005, é uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das
chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás,
amplamente disseminadas na cidade de Salvador. Dentre as comidas de baiana destaca-se o
acarajé, bolinho de feijão fradinho preparado de maneira artesanal, na qual o feijão é moído
em um pilão de pedra (pedra de acarajé), temperado e posteriormente frito no azeite de
dendê fervente. Sua receita tem origens no Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido
trazida para o Brasil com a vinda de escravos dessa região.

Fontes:

http://www.ipatrimonio.org/salvador-cine-teatro-jandaia/#!/map=38329&loc=-
12.970354000000007,-38.50715700000001,17

AMORIM, MILENA. Proposta de Restauração do Cine Teatro Jandaia. (PDF). Universidade


Federal da Bahia. 2016.

MONIZ, GERALDO. Vitral 'Art nouveau' do Cine Teatro Jandaia será restaurado pelo IPAC.
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. 2015.

GÓIS, ANA: Cine Teatro Jandaia - "Art Déco" em Salvador. O "Palácio das Maravilhas",
primeiro "arranha-céus" da cidade. Mais de Salvador: Jornal A Tarde. 24 de maio de 2011.

NATIVIDADE, PRISCILA. Cine Jandaia ganha 'abraçaço' pela revitalização cultural do espaço.
Jornal Correio da Bahia. 18 de agosto de 2018.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cine-Teatro_Jandaia

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/58

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