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ESTÁGIO EM HABILIDADES SOCIAIS E DE SAÚDE

1. INTRODUÇÃO

O estágio obrigatório em habilidades sociais e de saúde foi realizado durante o


segundo semestre de 2022 no período de outubro a novembro no Centro de
Referência em Assistência Social (CRAS) São Francisco, em Cambé, pelo curso de
Psicologia do Centro Universitário Filadélfia, com a supervisão da professora Anthonia
de Campos Aquino.

A ação do psicólogo na esfera socioeducativa traz a importância da atuação


deste em uma área de Políticas Públicas como o Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos (SCFV). Isto porque, a Proteção Social Básica, ao qual
tipifica o SCFV, ocupa-se das ações de vigilância social, proteção social e defesa
social e institucional (BRASIL, 2004).

O CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) está descrito e previsto


na Proteção Básica do SUAS (BRASIL, 2006). O trabalho é essencialmente no
atendimento às famílias e indivíduos em seu contexto comunitário na prestação de
serviço e programas socioassistenciais, sendo que tem por objetivo a orientação e o
convívio sociofamiliar e comunitário, destinado à população em situação de
vulnerabilidade, e para efetivação deste trabalho a Norma Operacional Básica de
Recursos Humanos para o SUAS - NOB-RH/SUAS (BRASIL, 2006).

Para facilitar e nortear o trabalho do psicólogo previsto na Proteção Social


Básica, CREPOP (Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas)
elabora um documento, as Referências Técnicas para atuação do (a) psicólogo (a) no
CRAS/SUAS. Na Proteção Social Básica (PSB), o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) é a unidade pública municipal, de base territorial, localizada
em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à
articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à
prestação de serviços, programas e projetos socioassistenciais de proteção social
básica às famílias (BRASIL. Lei nº 12.435). Sendo assim, opera nos seguintes
serviços:

a. Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF);

b. Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos;

c. Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e


idosas.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de vínculos, de acordo com o


CREPOP (2021), é desenvolvido por equipe composta por educadoras (es) ou
orientadoras (es) sociais e uma (um) técnica (o) de nível superior do CRAS, que atua
como referência na equipe. Os grupos são conduzidos pelas (os) orientadoras (es)
/educadoras (es) sociais, mas são planejados, acompanhados, orientados e avaliados
pela técnica de referência, que deve manter o seu registro e sua articulação com o
PAIF e a PSB. As famílias das (os) usuárias (os) atendidas (os) no SCFV podem ser
encaminhadas ao PAIF e vice-versa, o que permite uma compreensão maior de cada
indivíduo e família, da população e do território referenciado.

O SCFV é realizado em grupos, divididos segundo ciclos de vida, com os


objetivos de combate às vulnerabilidades, prevenção de risco social, promoção de
potencialidades e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, mas também
contemplando especificidades de cada faixa etária. A convivência, o vínculo e o poder
se apresentam na teoria de que entender o mundo e atuar sobre ele é possível
somente por meio de relações sociais, sendo assim, o sujeito se constitui na relação
com o outro, assim, são relevantes as formas de intervenção que promovem encontros
que afetam as pessoas, mobilizando--as e provocando transformações (BRASIL,
2017).

Sendo assim, justifica-se a atuação do psicólogo no Centro de Referência em


Assistência Social (CRAS), mais especificamente no Serviço de Convivência e
Fortalecimento de vínculos (SCFV), com o objetivo de redução de danos através da
atuação sobre o mundo particular de cada criança em situação de vulnerabilidade que
participa do programa.

2. MÉTODO
2.1. LOCAL
O Serviço de Convivência e Fortalecimento de vínculos (SCFV) acontece no
próprio CRAS de referência devido a disponibilidade de espaço, no entanto, o SCFV
pode ser ofertado no CRAS, desde que este tenha espaço disponível e não prejudique
o desenvolvimento do PAIF. Também poderá ocorrer em centros de convivência
públicos estatais ou públicos não estatais, quando vinculados às entidades ou
organizações de assistência social, devidamente inscritas no Conselho de Assistência
Social do município ou Distrito Federal. Em ambos os casos, os centros de
convivência são, necessariamente, referenciados ao CRAS (BRASIL, 2016).

2.2. SUJEITO

Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2004) define que se pode


prevenir vulnerabilidades e riscos sociais [...] por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários,
portanto, são sujeitos do serviço, as crianças de 6 a 16 anos, moradoras dos bairros
referenciados ao CRAS citado e que estão em situação de vulnerabilidade.

Estas crianças ainda são colocadas como prioritárias em situações de: I – em


situação de isolamento; II – trabalho infantil; III – vivência de violência e, ou
negligência; IV – fora da escola ou com defasagem escolar superior a 2 (dois) anos; V
– em situação de acolhimento; VI – em cumprimento de medida socioeducativa em
meio aberto; VII – egressos de medidas socioeducativas; VIII – situação de abuso e/
ou exploração sexual; IX – com medidas de proteção do Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA; X – crianças e adolescentes em situação de rua; XI –
vulnerabilidade que diz respeito às pessoas com deficiência. (BRASIL, 2013).

2.3. OBJETIVO

O objetivo do Serviço de Convivência e Fortalecimento de vínculos (SCFV) e


do referido estágio foi de colocar em prática toda a teoria, resolução e a lei de
Assistência Social como forma de alcançar as metas propostas e a devida redução de
danos em forma de grupos com crianças, destinando-se a elaboração de regras em
menor escala, coordenação de atividades e esportes em conjunto, confecção de
cartolinas e desenhos colaborativos, etc.

Sendo assim, são feitas ofertas socioeducativas, lúdicas e socioculturais, que


atendem as diferentes necessidades de convivência próprias a cada momento do ciclo
de vida das crianças, assim, nota-se a especificidade da proteção social de assistência
social no que diz respeito à sua responsabilidade em relação a: 1) compreender os
processos sociais e os mecanismos institucionais que produzem riscos sociais que
tornam cidadãos e suas famílias desprotegidos; e 2) assegurar serviços que garantam
convivência e fortalecimento de vínculos. Desse modo, explicita-se que a assistência
social está no campo societário e, como tal, são os riscos sociais, advindos dos
processos de convívio, de insustentabilidade de vínculos sociais que se colocam entre
suas responsabilidades (BRASIL, 2017).

3. RESULTADOS

Encontro 05/10/2022

Este primeiro encontro, a princípio, tinha como finalidade conhecer o


profissional do campo de estágio e que está à frente do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos, o que não ocorreu devido a falta do mesmo.

Em vez disso, foi apresentada, pela Assistente Social, a função do Centro de


Referência em Assistência Social (CRAS) e do SCFV.

O CRAS faz o atendimento primário para a população em geral da cidade. Em


Cambé, são 5 CRAS espalhados por regiões, e as famílias vão para os mais próximos
de suas casas para buscar ajuda com ofertas de emprego, baixa renda da luz, apoio
da rede e para fazer o cadastro único, que possibilita o bolsa família, benefício de
prestação continuada, auxílio alimento e, durante a pandemia, o auxílio emergencial,
entre outros benefícios para aquelas pessoas que se encaixam nas exigências da lei
para obtenção destes.

Além disso, o CRAS pode fazer busca ativa por pessoas em situação de
vulnerabilidade, para que possam usufruir dos benefícios e também participarem dos
grupos de apoio (como PAIF e SCFV) que tem na unidade.

O SCFV, que é o campo de estágio, desde a pandemia passou a selecionar


casos prioritários para participar, como crianças com deficiência, com vivência de
violência e/ou negligência, em situação de isolamento, trabalho infantil, em situação de
abuso e/ou exploração, em situação de acolhimento, em situação de rua ou cumprindo
medidas do ECA.

Isso porque o SCFV tem como proposta a proteção social e o intuito de reduzir as
chances de que situações como essas voltem a ocorrer ou sejam agravadas.

Assim, o encontro foi encerrado.

Encontro 10/10/2022
Os encontros do SCFV são realizados às segundas e quartas feiras, assim,
como haveria um feriado na quarta-feira (12), o encontro foi realizado na segunda-feira
(10).

Neste encontro com as crianças, elas e o psicólogo retomaram algumas regras


de boa convivência que já haviam escrito, conversaram sobre cada uma delas e
transcreveram para um cartaz para colar na parede.

O objetivo da atividade foi estabelecer regras com a finalidade de reduzir as


brigas, discussões e palavrões que estavam exacerbados no serviço, além de tentar
promover uma boa convivência. Além disso, definiram que, ao chegarem, primeiro
fazem a atividade e depois fazem a brincadeira.

Após a confecção do cartaz, os meninos foram para a quadra jogar futebol e as


meninas pediram para bater corda e cantar, já que sempre ficam sem fazer nada
enquanto os meninos jogam.

Algo possível de observar foi a violência com a qual estão acostumados e a


forma como a reproduzem no próprio ambiente social.

Encontro 19/10/2022

Neste dia, foi possível perceber uma falta de controle do psicólogo responsável
em relação as crianças. Isso porque, como havia ficado definido na quarta-feira, a
atividade seria feita anterior a brincadeira, o que não ocorreu. Por isso, as crianças
entraram no salão agitadas e não levaram a atividade a sério, corriam, gritavam,
chutavam bolas e etc.

A atividade proposta foi um desenho das coisas que as crianças mais


gostavam e menos gostavam em vários aspectos da vida, com o objetivo de conhecer
mais as crianças no quesito fora do SCFV. Pela falta de controle do profissional,
poucas crianças desenharam uma ou outra coisa e a atividade se encerrou, sem que o
mesmo olhasse os desenhos ou conversasse sobre.

Encontro 26/10/2022

O encontro se iniciou com a dança da cadeira, o que foi surpreendente, já que


conseguiram se organizar e brincar, sem brigar. Com a dança da cadeira o profissional
quis mostrar que tudo bem perder, que também houve diversão. Entre a dança da
cadeira e a atividade, as crianças puderam brincar de esconde-esconde, ainda sem
levar em consideração a regra acordada em encontros passados.
A atividade proposta foi desenhar o que mais gosta e o que gostaria que
mudasse no SCFV, com o objetivo de saber o que deveria mudar ou manter no
contexto da oficina.

Antes do início da oficina a coordenadora do CRAS teve que ir até as crianças


pedir que elas se comportassem, visto que o psicólogo não consegue manter o
controle durante a oficina. Novamente ele traz uma atividade, mas não entrega uma
devolutiva, algumas crianças reclamaram das outras ficarem provocando e querendo
bater e o psicólogo não intervir.

Uma menina em específico que apresenta um comportamento bem agressivo


com os demais e que não gosta que chegue perto dela, caiu durante a brincadeira de
esconde-esconde e acabou sofrendo alguns ralados. Foi triste ver o desespero dela
com o medo da mãe agredi-la pois se machucou. O psicólogo não deu muita atenção
para o machucado da criança, eu e a outra estagiária fomos atrás de pomada para
fazer um curativo e conversar com a própria psicóloga do CRAS para explicar o que
tinha acontecido, visto que o psicólogo da oficina não faria nada.

Nestes momentos, observamos e conversamos sobre a postura profissional em


diversos contextos, mas a importância neste em específico, visto que já se lida com
crianças mais vulneráveis do que a própria natureza as apresenta e que, com a
atenção adequada, poderiam participar mais e se engajar.

Encontro 31/10/2022

Apenas duas crianças compareceram devido a chuva e temporal, o que é


compreensível tendo em vista a realidade das pessoas que frequentam o CRAS, a
falta de condições de locomover-se em dias como este.

Como as duas crianças que foram eram irmãos e moravam próximo,


desenharam um pouco e logo foram embora, ocasião em que eu e a outra estagiária
ficamos arrumando os armários de jogos e materiais.

Os jogos estão com peças faltando e poucas crianças tem conhecimento de


como jogar, as canetinhas estão com as pontas estragadas e as tintas duras e velhas,
infelizmente, não podendo proporcionar uma experiência digna para estas crianças.

Encontro 09/11/2022

O psicólogo mandou mensagem de última hora avisando que não estava bem
e não iria para fazer a oficina.
Eu e a outra estagiária ficamos brincando com as crianças durante um tempo
até os responsáveis irem buscar, ficamos batendo corda para as meninas e os
meninos ficaram jogando bola, sendo que após um momento, as crianças se
misturaram no pátio para brincar juntas.

O psicólogo não parece ter comprometimento com o grupo de crianças, visto


que não é a primeira vez que ele falta e as crianças ficam extremamente frustradas
quando não há a oficina, é notório o quanto, apesar de tudo, elas gostam de estar ali.

Encontro 16/11/2022

Acreditamos que, devido ao recesso escolar e a inconstância do oficineiro, os


pais e crianças ficaram na dúvida se o SCFV ocorreria neste dia, por isso, apenas um
casal de irmãos compareceu.

O psicólogo já havia separado um episódio de Avatar para que eles vissem e


fizessem uma análise. Na trama em questão, várias histórias curtas se passam e os
personagens encontram uma forma de lidar com cada uma das dificuldades
encontradas. Apesar de ter sido uma ótima ideia para uma discussão, não ocorreu, ao
final do episódio as duas crianças desceram para o salão, brincaram, lancharam e
foram embora.

Encontro 25/11/2022

Neste último encontro, as crianças se dividiram de forma livre entre a quadra e


o salão. Enquanto alguns jogavam bola e pulavam corda, outros desenhavam nas
cartolinas. Nessa segunda atividade, o psicólogo pediu para que utilizassem todo e
qualquer material que achassem interessante colocar na cartolina (glitter, tinta, cola,
fita adesiva, etc) e a maioria das crianças contribuiu com pelo menos um dos
materiais.

Como eu e a outra estagiária havíamos levado salgados para a despedida, o


momento do lanche se iniciou antes, uma vez que as crianças ficaram muito animadas
com algo diferente para comer e pediram para que servíssemos.

Foi notável a chateação das crianças ao se despedir, principalmente tendo em


vista que tinham uma relação mais estreita comigo e com a outra estagiária do que
com o psicólogo que ficava se abstendo em muitas situações.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista que o SCFV e o CRAS fazem parte da rede pública de


proteção, é notável que algumas das propostas que estão na teoria quase não são
passiveis de realização na prática. No entanto, um projeto foi iniciado e tem
funcionado, podendo, é claro, ser aprimorado.

De modo geral, o CRAS é uma entidade que funciona muito bem, a assistência
alcança pessoas e promove direitos da melhor forma possível, e o SCFV é um ramo
ainda recente desta política.

Mesmo assim, é possível notar pequenas mudanças nos comportamentos das


crianças e até a aprendizagem por observação, uma vez que elas começam a se
espelhar em pessoas a sua volta, ganhando admiração e diminuindo comportamentos-
problema, como forma de se aproximar do outro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas – CREPOP. (Ed.


2021). Referência técnica para atuação do (a) psicólogo (a) no CRAS/SUAS.
Brasília, DF. Acesso em 24 de novembro de 2022 em < https://crepop.cfp.org.br/wp-
content/uploads/sites/34/2022/10/028-Crepop-Referencias-Tecnicas-para-atuacao-de-
psicologasos-no-CRAS-SUAS.pdf>

Concepção de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. (Ed.2017). Brasília, DF:


Secretaria Nacional de Assistência Social. Acesso em 24 de novembro de 2022 em <
https://www.redeicm.org.br/wp-content/uploads/sites/30/2018/07/concepcao_fortalecim
ento_vinculos.pdf>

Conselho Nacional de Assistência social, resolução n° 1, de 21 de fevereiro de 2013.


Brasil. Acesso em 24 de novembro de 2022 em <
http://blog.mds.gov.br/redesuas/resolucao-no-1-de-21-de-fevereiro-de-2013/>

Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência


Social - NOB-RH/SUAS. (2006). Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome. Acesso em 24 de novembro de 2022 em
<https://www.social.go.gov.br/files/arquivos-migrados/54ea65997b6c44c14aa59c27bc
4946a1.pdf>

Política Nacional de Assistência Social - PNAS. (2004). Brasília, DF: Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Acesso em 24 de novembro de 2022
em < https://www.prattein.com.br/home/images/stories/PDFs/PNAS-2004.pdf>

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