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Titulo original:
Der historische Jesus - Ein Lehrbuch
© 1996 Vandenhoeck & Ruprecht, Gõttingen
ISBN 3-525-52143-X

Assessoria científica: Johan Konings


Edição de texto: Marcos Marcionilo
Capa: Maria Clara Rezende Oliveira
Diagramação: Paula Regina Rossi Matheus
Revisão: Renato Rocha

Edições Loyola Jesuítas


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escrita da Editora .

ISBN 978-85-15-02181-9
3' edição: 2015
© EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2002
§ 8 O JESUS CARISMÁTICO

- de batizar consistem apenas em identificar a Jes


• e sua açao . us como
ddºªº . o espínto.
que bau~; há um distanciamento de João e Jesus ainda maior. É narrado
Ei!l Lc 3, 12 m O batizados. Segundo Lc 3,20,João já havia sido aprisionad
0

, b cisrJJº se o
iJll a
i desse fato.
a11tes dos Nazarenos (fragm. 2), Jesus é ordenado por sua mãe
vange1110 . _
No E . nãos a apresentar-se para o batismo de perdao de pecados
seus tn . . .
e por de: "Eu pequei, que pecado comeu para que me deixe batizar?
Ele ~espon ue O que eu tenha dito seja ignorância (isto é, um pecado de
Anao. ser. )" q Jesus mesmo desmente que e le ten ha buscado o batismo para
junorancta .
o . de seus pecados.
perdao
racteósticas apologéticas tornam plausível a pressuposição que já
EssaSca
. . narrativa do bausmo . essa apo logeuca
,. estava atuante. Nela estava
na rnais ~u:mo O tema mítico da voz celestial (Me 1,9-11). Se Jesus é o filho
ligado ado ~eus então ele é maior que o Batista. É histórico exatamente o que
1ado e ' - ,
an dência tenta negar: Jesus reconheceu Joao por um bom penodo como
c5.)<I ten · e b · l d-
" tre" como seu supenor, e se 1ez auzar por e e para per ao de peca-
seu rnes '
dos. Ele era um dos muitos dos que em Israel queriam converter-se para fugir
do juízo iminente.
Pode-se pressupor que João pertencia ao círculo íntimo de João Batista.
\'ários textos pressupõem que, entre muitos batizados que logo voltavam para
seu cotidiano, havia batizados que se tomavam discípulos no sentido estrito.
F,sses discípulos chamavam seu mestre de "Rabbi" (Jo 3,26) e colocavam-se à
sua disposição para servi-lo pessoalmente (Mt 11,2; Me 6,29). Eles comungavam
ritos religiosos, assim como tradições comuns como o jejum (Me 2,18) e orações
(Lc5 11,1). Segundo Jo 1,35ss., originavam-se alguns dos últimos discípulos de
Jesus do círculo de João Batista. Jo 3,22ss. pressupõe inclusive que Jesus tivesse
batizado junto com alguns discípulos (sob o comando de João?, mas ver tam-
bém 4,2) 19•
Mas quão intensivo era o contato com João Batista deve ficar em aberto
devido às contradições das fonte. Mas é certo que, apesar de Jesus durante
parte de sua vida honrar o batista (cf. Mt 11,7-15 Q; Me 9,9-13; 11,27-33 par.;
Mt5 21,28-32; To 46), ele seguiu caminhos próprios em seu ensino. Isso é o
que mostra uma comparação entre as duas personalidades.

4·3•Jesus e João Batista - uma comparação

A tabela que segue oferece um panorama das diferenças mais importan-


a Jesus, uma apresentaçao
-

------
tes .entre o dº1sc1pulo
, e O mestre (no que se re1ere
e

ina1s detalhada será apresentada nos capítulos seguintes):

19· Cf. ainda At 18,24-26; 19,1-7.

231
------
A ATIJAÇÁO E A PREGAÇÃO DE JESUS

--
. ---- ---- - ·-·
Jesus
João Batista
Pregação de juízo
Jesus dá sequência à pregação de juízo- -
João ameaça com a µÉÀÀouaa 6py~ (a de João. Mas ele parece ter enfatizado
ira divina, Mt 3,7/Lc 3,7), a qual atingirá mais a oferta de salvação vinculada à
também os piedosos. Ele critica a pregação da Basileia (também para os
certeza de salvação ilusória, que se
fundamenta na filiação abraâmica.
pecadores).
-
Pregação m~iânica

João Batista aguardava o iaxupóTEpos


Jesus refere-se ao Filho do Homem
-
futuro como outra pessoa.
(o mais forte), numa das duas Provavelmente ele se identificava com
possibilidades: ele, ou pretendia ser já o seu
• Deus mesmo, representante na terra.
• ou uma figura de julgamento (como o
Filho do Homem).
Escatologia iminente
Jesus comparte essa escatologia
ParaJoão o fim do mundo é iminente: o
iminente, mas vê a virada decisiva como
machado já está ao pé da raiz.
já acontecida com João (Mt 11,12/Lc
16,16; Mt 11,11/Lc 7,28; Tomé 46).
Junto a sua escatologia futura encontra-
se uma escatologia presente.

O batismo

O batismo é para João um sacramento Jesus abole a ideia de conversão de João.


escatológico: por meios de autodenúncia Ele mesmo não batiza (Jo 3,22 é
pública (confissão de pecados) e batismo corrigido em 4,2), mas reconhece o
pode-se ter salvação no juízo, caso sejam batismo de João. A ideia de pureza que
produzidos "frutos de conversão". ele defende (Me 7,15) está em tensão
com o batismo como sacramento.

Ascese

João Batista porta-se exemplarmente de Jesus não se comporta de maneira


forma ascética, por meio de: ascética e é diferenciado de João neste
• ascese da vestimenta (pele de aspecto como:
camelo); • "comilão e beberrão" (Mt 11,19);
• ascese da alimentação (gafanhotos e • ele mora em lugares habitados da
mel silvestre); Galileia.
• ascese de moradia (permanência no
deserto, segundo Is 40,3).
Esse comportamento ascético é parte de
sua mensagem: por meio de Há regras ascéticas principalmente nas
autoestigmatização a sociedade é regras de envio dos discípulos: ascese
criticada. parece aqui ser meio para missão.
-

232
---- § 8 O JE.5US CARISMÁTICO
vamos comentar algumas diferenças apontad .
as acima·
1. Na escatologia, João
d
Batista apresenta su
,
·
a expectativa i .
a aiuda do campo e metáforas da árvore e fru mmente tanto
co!ll :, . 20 h d ., , seus tos como d
te e
da colheita : o mac a o Jª está colocado J. u n to a, raiz .
das -
a semen-
. produzem fruto (Mt 3,10). O juiz já está com a p' _ arvores que
ºa1ªºha do trigo (Mt 3,12). Ambas as imagens aparecemª naJ mao para separar
P . em esus também
as utiliza para cnar espaço de tempo para O ser hum . , , mas
ee1 (L 13 6-9) , ano. na parabola da
eira sem frutos c , a arvore ganha um praz A 1. . _
figu - B . e o. im1taçao de
te mp<> em Joao alistae trans1orma-se em certeza de ganho d e tempo para
eOnversão. Da mesma 1orma, , na metáfora da semente e da colh e1•ta a enfase A

ão está no juízo. Na parabola


. da semente que cresce por si mesma, a en-
n
A

fase é colocada no crescimento


. d' espontâneo e na produção de frutos na
colheita. Apenas d epo1s isso vem a colheita e o juízo.
Devemos refletir se Jesus criou uma espécie de primeiro "retardamento
da parusia". A expectativa da parusia não se cumpriu, o profeta foi preso
e executado. Cada segundo do mundo que ainda existe é entendido como
expressão da misericórdia de Deus. Deus atrasa seu juízo para dar aos seres
humanos uma chance de conversão. A pregação de juízo rude (com a oferta
de graça do batismo no último momento) transforma-se em pregação de graça
com oferta de conversão diante do juízo ameaçador. A simples existência do
mundo, o nascer do sol sobre bons e maus, transforma-se agora em sinal do
amor de Deus (Mt 5,45).
2. Essa modificação na escatologia traz consequências sobre a compre-
ensão do batismo. Diante da ameaça do fim iminente, o batismo era um
sacramento escatológico, ou seja, uma ação simbólica que Deus aceitava no
lugar das ações para as quais não restava mais tempo. Mas, como o tempo
para a conversão foi alargado, agora existe tempo para confirmá-la por meio
de boas ações. Por isso Jesus não batiza. Ele exige conversão sem batismo (cf.
Lc 13,lss.) e declarou perdoados os pecados (Me 2,5). Ao mesmo tempo, deu
sequência a uma tendência latente em João: o perdão de pecados pelo batismo
é um voto de desconfiança contra o Templo como o lugar para o perdão de
pecados, seja por meio de sacrifícios ou de rituais do dia de reconciliação.
Essa crítica latente ao Templo, do batismo toma-se manifesta em Jesus. Após
a purificação do Templo a aristocracia lhe pergunta com que autoridade ele
o faz. Jesus lhes faz uma contrapergunta ao inquirir pela legitimação de João
Batista. Ele liga aqui expressamente o direito de purificar o Templo com o
reconhecimento do batismo (Me 11,27-33). Ainda que isto não tenha sido dito,
a ideia no fundo é a de que quem procura perdão de pecados no batismo
não considera o culto do Templo eficiente em sua atual forma.

20. Cf. P. von Gemünden, Vegetatúmsmetaphurik im Neuen Testament und seinser Umwelt (NTOA
18), Fribourg/Gõttingen, 1993, 122ss.182ss.

233
A ATUAÇÃO E A PREGAÇÃO DE JESUS

3. A escatologia presente de Jesus pressupõe a experiência de mud


ça de época por meio da pessoa de João Batista, e, ao mesmo tempo ~-
consciência de ser lhe superior. Mt 11,11/Lc 7,28/Tomé 46 descrevem 1•0 . ª
0
como o maior . dos nasci'dos de m ul her. O menor porem , no remo . de D ª
, . l . . - J . f:
e maior que e e; quanto maior sena entao esus, cuJa tare a era anunciar
eus
boa notícia da irrupção da ~amÀeía. João anunciara em sua pregação me
ânica o "mais forte" ou "o que vem", do qual ele não era digno de carre ssi-
. o qu ai executaria
as san dál ias, . . '
o JUIZO so b re a terra ~e lo ba u· smo d e fogo/
gar
Espírito e recolheria a colheita, ou seja, traria a salvaçao. Esta personalidad
mediadora não - portou qualquer dos títulos messiânicos correntes.
. . Mas , Ja-~
que a salvaçao anunciada por Jesus se apresenta como supenor a de João e é
ligada, no que se refere aos conteúdos e perspectiva temporal, à sua pessoa}
(cf. também Mt 11,12/Lc 16,16; Mt 11,16-19 par.), pode-se supor que JesUs
21
se identificava com a figura mediadora anunciada por João •

4.4. O desenvolvimento de João Batista a Jesus

Mesmo quando se deve ver Jesus e João como contrastantes, é necessário


constatar neles uma mudança de acento. A concepção judaica de Deus inclui
ambos: o Deus rígido e o misericordioso, o justo e o amoroso. João enfatiza
mais o aspecto da rigidez e da justiça; Jesus, o do amor e da misericórdia.
No lugar do medo do juízo (com a oferta de salvação do batismo) aparece
a certeza da salvação (com uma expectativa de fundo). Como chegou a isto?
Duas explicações são discutidas: ou Jesus teve na experiência de sua vocação
uma nova consciência da salvação, ou ele a fundamenta em sua atuação mi-
lagreira. As duas explicações não precisam excluir-se.

4.4.1. F.xperiência da voc~ão de Jesus?

A tradição narrativa do Novo Testamento faz remontar o carisma pessoal


de Jesus a sua experiência visionária no batismo. Jesus viu o céu aberto. Uma
voz declarou que ele é o filho de Deus. É possível que tenhamos aí fé pós-
pascal projetada na vida de Jesus. Segundo Rm 1,3, Jesus é Filho de Deus
a partir da Páscoa. Também a ligação com o batismo pode dever-se a uma
tendência apologética (ver acima). Por outro lado Jesus, assim como outros
profetas, teve uma experiência de vocação. Frequentemente é percebida em
Lc 10,18 uma ressonância desta. Jesus diz ali aos discípulos, que se alegram
por sua autoridade para expulsar demônios: "Eu vi Satanás cair do céu como
um relâmpago". A vitória sobre Satanás era aguardada naquela época para

21. Para outras reflexões sobre a autocompreensão de Jesus e sobre a relação Jesus-Filbo
do Homem, cf. infra § 16.

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