07 Educacao Fisica No Curso Noturno

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EDUCACAO FISICA NO CURSO NOTURNO

Educacao Fisica No Curso Noturno

O artigo 26 da atual ldb ( lei n. º 9.394 de 20 dezembro de 1996), no seu parágrafo 3º apresenta a se-
guinte contradição:

"a educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação
básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos
cursos noturnos".

esta lei, com aspecto de decreto não justifica tal indicação nem aponta se a opção facultativa per-
tence ao sistema educacional, à escola ou ao aluno. Entendendo a educação física "integrada à pro-
posta pedagógica da escola", consideramos ser ela (a escola) responsável por esta opção. Firmamos
nossas convicções no parecer n. º 05/97 do conselho nacional de educação:

"certamente, à escola caberá decidir se deseja oferecer educação física em curso que funcionem no
horário noturno. E, ainda que o faça, ao aluno será facultado optar por não freqüentar tais atividades,
se esta for a sua vontade". Este parecer deixa claro que a educação física será componente curricular
se a escola quiser, integrando-a à proposta pedagógica; e o aluno participará da aula se assim o de-
sejar.

Este artigo desta lei institui legalmente um tipo de discriminação contra os alunos-trabalhadores (ou
trabalhadores-alunos, como preferem alguns autores) do ensino noturno, ferindo claramente vários
princípios constitucionais. O artigo 3º, inciso iv da nossa constituição estabelece que o país tem como
objetivo promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação. No artigo 206, a constituição federal prevê a igualdade de condições
para o acesso e permanência na escola, idéia esta, incorporam pelo artigo 3º da ldb 9.394/96. Além
do artigo 5º afirmar que todos são iguais perante a lei. No entanto, sumariamente, a inserção curricu-
lar facultativa da educação física no ensino noturno tem sido sinônimo de exclusão.

Este artigo da nova ldb que declaradamente promove a discriminação do aluno-trabalhador do ensino
noturno, vem ressuscitar o artigo 6º do capítulo 2, do ideológico decreto n. º 69.450/71 assinado pelo
general-presidente emílio garrastazu médici e pelo coronel-ministro jarbas gonçalves passarinho, em
plena era militar, que facultava a participação na atividades físicas, "aos alunos do curso noturno que
comprovarem, mediante carteira profissional ou funcional, devidamente assinada, exercer emprego
remunerado em jornada igual ou superior a seis horas".

isto justificava-se pela concepção biologicista da educação física presente naquele decreto: os objeti-
vos de desenvolver a aptidão física através de extenuantes sessões de treinamento desportivo, que
eram denominadas "aulas de educação física", ficariam seriamente prejudicados caso o aluno viesse
para a aula após uma jornada de trabalho. Hoje, pela concepção pedagógica da educação física ,
tanto recreativa quanto desportiva, onde as atividades físicas são meios e não fins, a ludicidade do
jogo é unanimemente reconhecida como benéfica na preparação, recuperação e manutenção da
força de trabalho, tanto na perspectiva do capital quanto numa perspectiva ontológica.

Esta discussão delimita-se objetivamente pela reinserção da educação física como um componente
curricular a ser obrigatoriamente oferecido pela escola no ensino noturno, considerando os benefícios
e valores da mesma, observados e reconhecidos nas classes do ensino diurno.

Temos como objetivo evidenciar como a secretaria municipal de educação de são gonçalo, de forma
arbitrária, precipitada e equivocada, considerou a expressão facultativa como sinônimo de abolição.
Este preceito legal não chegou a ser discutido nas escolas pelos professores. Esta abolição sumária
não foi seguida pela rede estadual nem pelos municípios vizinhos: itaboraí, maricá, niterói e em ou-
tros municípios, a nova ldb não modificou em nada a existência da educação física curricular no en-
sino noturno.

Objetivamos com isso a reinserção imediata da educação física como um componente curricular obri-
gatório a ser oferecido pela escola, sendo facultativo a participação dos alunos, que embora legal-
mente prevista, a desqualifica como componente curricular frente às demais disciplinas obrigatórias.
A legislação de qualquer assunto não é elaborada por especialistas destes assuntos. Elas são elabo-
radas por aqueles que compõem o poder legislativo que embora fazendo parte das comissões, mui-
tas vezes desconhecem a complexidade do assunto que estão legislando. Romanell (1991) nos ad-

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verte que "a eficácia de uma lei depende dos homens que a aplicam" (p. 179). Cabe à escola, junta-
mente com o seu corpo docente e discente, decidir democraticamente sobre os rumos da prática da
educação física no ensino noturno. E cabe a secretaria municipal de educação acatar os anseios da
comunidades escolar, razão da sua existência.

Na rede municipal de ensino de são gonçalo, sem qualquer solicitação formal, é comum no curso no-
turno, dirigentes de turno, diretores, inspetores de alunos e professores de outras disciplinas ouvirem
reclamações dos alunos pela inexistência das aulas de educação física, pela não permissão da dire-
ção de usarem a quadra para praticarem esportes na hora do recreio ou quando há aulas vagas, pela
falta de um professor que fique responsável pela turma. A prática da educação física para estes alu-
nos trabalhadores que estudam à noite, antes mesmo de ser considerada um componente curricular,
representa uma necessidade. Mesmo se desconsiderássemos o valor pedagógico desta disciplina,
ainda assim a educação física seria importante para eles: a prática do esporte formal, muitas vezes
representa a única oportunidade de lazer ativo que estes alunos trabalhadores dispõem.

A prerrogativa legal da "educação física, integrada à proposta pedagógica da escola..." contempla o


ensino noturno, do qual integra a proposta pedagógica da escola. Ou estaria o ensino noturno de fora
desta proposta ?.

Em 1997 o mec fez chegar às escolas os parâmetros curriculares nacionais do 1º e 2º ciclos e no ano
seguintes os do 3º e 4º ciclos do ensino fundamental. Os pcns, diretriz governamental elaborada pelo
mec qualifica e justifica exaustivamente a existência da educação física na grade curricular. Embora
os pcns fazem referências ao ensino fundamental, não há dúvidas que estes objetivos e justificativas
são desejáveis para qualquer nível de ensino. Faz-se necessário questionar a privação desses direi-
tos, objetivos e justificativas aos alunos-trabalhadores do ensino noturno.

n. Pithan e silva, no livro "atletismo" faz o seguinte comentário:

"(a educação física) faz parte do programa educacional de todos os povos adiantados. O esporte é
parte integrante da educação física. Sua função pedagógica está definitivamente reconhecida pelas
mais altas autoridades científicas, educacionais e políticas" (p. 7)

Este texto data-se da primeira metade da década de 70. É lamentável que hoje, último ano da última
década do século xx, este reconhecimento só é ainda percebido pelas autoridades científicas, sendo
grande o descaso das autoridades políticas, com a cumplicidade das autoridades educacionais. como
já citamos anteriormente, as leis educacionais não são elaboradas por educadores, mas sim por polí-
ticos partidários com interesses na maioria das vezes alheios à educação. Na prática, quem conduz o
processo ensino-aprendizagem é o professor; quem é responsável direto pelos rumos da educação
no país, estados e municípios, além dos professores regentes, são os educadores existentes no mi-
nistério e nas secretarias estaduais e municipais de educação. Segundo costa, temos uma autono-
mia, que mesmo relativa, nos permite assumir as rédeas de nossa prática político-pedagógica.

concluímos que, pela sua importância, por uma questão de direito, justiça e necessidade, a educação
física no ensino noturno seja retomada com a máxima urgência neste município. A escola, por lei, tem
esta autonomia; de inseri-la na sua proposta pedagógica (de onde ela nunca saiu), e a secretaria de
educação tem o dever cívico e a obrigação moral de cumprir a constituição, promovendo "o bem de
todos"(...) Sem quaisquer "formas de discriminação".

No brasil segundo a ldb (lei de diretrizes e bases da educação), artigo 26, 3º, a educação física, inte-
grada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica,
sendo sua prática facultativa ao aluno que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;
que seja maior de trinta anos de idade; que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situa-
ção similar, estiver obrigado à prática da educação física; que seja amparado pelo decreto-lei nº
1.044, de 21 de outubro de 19691 e que tenha prole.

Percebemos na história recente da educação física brasileira que perdemos sensivelmente a impor-
tância. Uma outra questão que fica clara na análise desta lei é a capacidade dos legisladores transfe-
rirem responsabilidades, pois antes, o fato da disciplina ser facultativa ou não era decisão da própria
escola, agora, fica a cargo do aluno optar se quer ou não estudar a disciplina. Baseado no parecer do
cne/ceb 5/972 que diz: "cabe à escola decidir se deseja oferecer educação física em cursos que funci-
onem o horário noturno, sendo facultado ao aluno optar por não freqüentar tais atividades", e enfatiza
que "somente serão computados nas oitocentas horas de que fala a lei, os componentes a que o

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Aluno esteja obrigado, nelas não se incluindo, por exemplo, a educação física nos cursos noturnos e
o ensino religioso". Estas oitocentas horas de que fala a lei, diz respeito ao total de horas que os alu-
nos devem cumprir para que concluam o ano letivo.

Analisando este artigo de uma forma crítica e vendo a quase inexistência da educação física escolar
no ensino noturno e também a pouca exploração deste tema em pesquisas, vi a necessidade de ex-
plorá-lo buscando subsídios para discutir e desenvolver uma visão crítica sobre a educação física que
não temos e a que seria possível ter.

Diante disso o problema que nos colocamos é: qual o sentido e/ou significado das aulas de educação
física para a comunidade escolar no âmbito do ensino noturno?

Tentando desvelar o significado da educação física no ensino noturno, o objetivo deste trabalho será
identificar a visão de uma comunidade escolar a respeito do assunto.

Educação Física: Objetivo E Significado

Ao longo do tempo têm-se questionado muito o que é educação física e quais conteúdos que esta
disciplina trata sendo muitos os conceitos que lhe são dados. Para melhor compreendermos esta situ-
ação, faremos um breve relato das diferentes concepções mais presentes e defendidas até hoje.

Partiremos de como os autores da linha desenvolvimentista vêem o papel da educação física escolar.

Segundo manoel et al. (1988), fundamentados no modelo desenvolvimentista de gallahue, a maioria


das crianças da pré-escola até as quatro primeiras séries do ensino de 1º grau (dos quatro aos dez
anos de idade) devem ser trabalhadas no sentido de desenvolver, ao máximo, as habilidades bási-
cas, sem preocupação com as habilidades específicas. As habilidades básicas são importantes para
a aprendizagem de todas as habilidades específicas ou culturalmente determinadas, requisitadas no
trabalho, na vida social, enfim, na vida das pessoas, e não somente para a aprendizagem das habili-
dades desportivas.

Defendem que educação física na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino funda-
mental deve proporcionar às crianças oportunidades que possibilitem um desenvolvimento hierár-
quico do seu comportamento motor, na formação de estruturas cada vez mais organizadas e comple-
xas. Nas quatro últimas séries do ensino fundamental pode-se trabalhar com habilidades específicas
desportivas. O desporto é uma forma de patrimônio cultural da humanidade e um dos grandes objeti-
vos da educação é a transmissão cultural.

A aprendizagem de habilidades específicas desportivas possibilita o desenvolvimento de capacidades


como antecipação, atenção seletiva, percepção, programação de ação, organização do movimento,
detecção e correção de erro, timing, mudança de ação, e assim por diante, capacidades que benefi-
ciam outras ações humanas.

Na linha do construtivismo temos freire (1997) que coloca, em relação ao seu papel pedagógico, que
a educação física deve atuar como qualquer outra disciplina da escola e não desintegrada dela. As
habilidades motoras precisam ser desenvolvidas, sem dúvida, mas deve estar claro quais serão as
conseqüências disso do ponto de vista cognitivo, social e afetivo. Sem se tornar uma disciplina auxi-
liar de outras, a educação física precisa garantir que, de fato, as ações físicas e as noções lógico-ma-
temáticas que a criança usará nas atividades escolares e fora da escola possam se estruturar ade-
quadamente.

Já a abordagem da aptidão física relacionada à saúde como descreve sanches (2003) está preocu-
pada com o bem-estar geral das pessoas e não apenas com a prevenção de doenças. Assim, a apti-
dão física é considerada como uma capacidade diretamente relacionada com a saúde do indivíduo, a
qual resultará do seu envolvimento em atividades físicas por toda sua vida.

Ainda nesta perspectiva temos darido (2001) que faz uma análise dos trabalhos de nahas (1997) e
guedes & guedes (1996), os quais propuseram como uma das principais preocupações da comuni-
dade cientifica nas áreas da educação física e da saúde pública levantar alternativas que possam au-
xiliar na tentativa de reverter à elevada incidência de distúrbios orgânicos associados à falta de ativi-
dade física.

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Analisando através de uma linha histórico-crítica e pensando na educação física como um compo-
nente curricular da escola que tratará da cultura corporal dos alunos e levando em consideração o in-
divíduo de uma forma integral, taffarel (1985, p.04) afirma que:

[...] O ser humano é um ser indivisível, e toda a fragmentação o aliena. Portanto, é no ato da criação,
que entram em jogo, capacidades e habilidades de percepção, formas de organização de conheci-
mentos e de reorganização de elementos. Entrelaçadas e inseparáveis das habilidades estão as moti-
vações, emoções e valorizações, tudo isto transparecendo, em uma forma global, através de expres-
são corporal.

Segundo soares et al. (1992), a educação física deve tratar como conteúdo, a cultura corporal, tendo
como principais objetivos nas séries iniciais, a aprendizagem de possibilidades e limites da expressão
corporal, como linguagem no tempo histórico, fazendo com que o aluno consiga decifrar: códigos,
sentidos e significados que lhes são impostos pela sociedade. Deve-se levar em consideração sua
história de vida a fim de fazer com que este aluno seja capaz de intervir na realidade, para mudar ou
manter os princípios norteadores da mesma.

De acordo com a linha crítico-superadora do coletivo (1992, p.61) "a educação física é uma disciplina
que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento denominado de cultura corporal". Fazem
parte destes conteúdos toda e qualquer manifestação cultural que se utilize da expressão corporal
com o objetivo de fazer com que os alunos aprendam e desenvolvam a expressão corporal como
uma forma de linguagem.

Em uma linha crítico-emancipatória, kunz (2001) coloca que a educação física escolar, através de ati-
vidades com o movimento humano, teria como objetivos primordiais de ensino o desenvolvimento de
competências como a autonomia, a competência social e a competência objetiva, entendendo-se esta
como um saber cultural, historicamente acumulado que é apresentado e criticamente estudado pelo
aluno. Será através dessa competência objetiva que ele irá valorizar, entre outros aspectos, a condi-
ção física, o esporte, as atividades de lazer, da aprendizagem motora e da dança.

Dentro de uma abordagem conceitual, temos arantes (1995) que coloca que os professores devem
ensinar e aprender conceitos sobre a motricidade humana, aprender a viver a solidariedade, apreciar
sinceramente a competência, valorizar a justiça, favorecer a criação de talentos e liderança, dar opor-
tunidade aos desfavorecidos, àqueles que tem dificuldade e, dentre tantos outros valores, cultivar a
alegria, a auto-estima e o conhecimento. Além disso, pode proporcionar a "corpos e almas", a infinita
possibilidade de se autoconhecer, de compreender regras e de estabelecer valores.

Ainda dentro desta perspectiva, segundo silva (1996), a educação física passa a ser veículo de trans-
missão e fornece oportunidades para a construção de um conhecimento capaz de mover os seres hu-
manos de um lugar de maior ignorância para outro, onde a ignorância seja menor em relação aos se-
guintes aspectos: ampliar a visão sobre si mesmo, a visão sobre a sociedade e as leis que a regem, a
visão sobre o funcionamento das coisas, dos seres vivos e do universo.

Nesta perspectiva, a autora coloca como objetivos específicos da educação física desenvolver os alu-
nos nos domínios motor, cognitivo e afetivo. No primeiro domínio mencionado, deve proporcionar a
aquisição de um repertório cultural e motor que seja aplicável durante toda a vida em situações cotidi-
anas de movimento através dos mais diversos desafios motores, exercícios físicos, jogos, danças,
esportes, explorações de espaços e materiais.

No que refere ao desenvolvimento do domínio cognitivo, visa promover a aquisição de conhecimentos


básicos de anatomia e fisiologia humanas, noções de biomecânica, bem como aspectos básicos do
desenvolvimento das variáveis de aptidão física que capacitem os alunos à prática de atividades físi-
cas de forma eficaz e segura.

No domínio afetivo, deve levar à valorização do movimento corporal e das atividades físicas como fa-
tor de desenvolvimento integral do ser humano, onde se inclui a manutenção da saúde em níveis de-
sejáveis e a sociabilização.

Segundo melograno (1996) esta abordagem conceitual pressupõe que os conceitos adquiridos pelos
seres humanos podem ser transferidos para novas habilidades e situações e que eles serão aprendi-
dos com maior eficiência quando ensinados explicitamente.

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De acordo com os parâmetros curriculares nacionais (mec/sef, 1997, p.24)

[...] A educação física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas
potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres huma-
nos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos portadores de deficiências físicas não podem ser
privados das aulas de educação física.

Deveria ser acrescentado à última frase desta citação o seguinte: "nem aos alunos do ensino no-
turno".

Buscando uma resposta para tal fato, baseamo-nos nos pcns (parâmetros curriculares nacionais do
ensino fundamental), para tentarmos encontrar uma linha a seguir, e entendemos que a educação fí-
sica no ensino noturno deve abordar conteúdos da educação física como expressões de produções
culturais, como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos.

Levando em consideração estes conceitos, precisamos pensar em uma educação física escolar para
o ensino noturno que busque atender ao aluno em todos os seus domínios, ou seja, que dê oportuni-
dades para estes alunos expressarem seus valores, suas vontades, seus desejos e fazer com que se
libertem das "algemas da dependência", que sejam seres humanos que tenham uma visão crítica so-
bre seu papel na sociedade e consigam com isso dar um salto para um verdadeiro conhecimento vá-
lido, que segundo silva (1996, p.29) nada mais é que:

[...] Todo aquele e só aquele que me leva a mudar de lugar, sair de um lugar onde era ignorante a
respeito de fatos e/ou perspectivas, para outro onde estes aspectos se desvelam e me tornam curi-
osa para apropriar-me de outros mais.

De acordo com mattos e neira (2000, p.16)

[...]A linguagem corporal desenvolvida não somente pela educação física como também pela arte -
aglutina e expõe uma quantidade infinita de possibilidades que, ao desenvolvê-las, a escola estimula
e aprofunda a inserção do educando na sociedade, colocando-o em ação/interação com o mundo.
Pensemos no seguinte: não conseguimos compreender um noticiário em língua para nós desconhe-
cida, mas poderíamos jogar, contemplar uma obra de arte e até dançar com alguém cuja língua ma-
terna absolutamente desconhecêssemos.

Considerando os objetivos da educação física e a realidade dos alunos, precisamos pensar em conte-
údos das aulas, que levem em consideração alguns aspectos, como por exemplo: considerar que o
professor que atua na escola, além de sua formação acadêmica tem seus valores, hábitos, tradições,
costumes, possuem uma história de vida que o fez optar por educação física ao invés de escolher ou-
tra profissão; relaciona-se com outros professores; lida com uma expectativa que sobre ele é colo-
cada pela direção, pais, alunos; tem suas motivações, desejos e interesses; é influenciado pela mídia
e pela cultura onde está inserido; possui um laço social que o orienta e dá sentido ao que faz.

Para daólio (2004), em sua abordagem cultural de educação física, a necessidade do rompimento de
uma educação física de "ordem" para uma educação física da "desordem", propõe principalmente o
rompimento com o cientificismo aceitando os limites da ciência e optando entre uma ciência desu-
mana e um humanismo não científico por uma educação física que reafirme a intersubjetividade nas
relações entre os atores da área, ou seja, uma educação física que atue no ser humano no que con-
cerne às suas manifestações corporais eminentemente culturais, respeitando e assumindo que a di-
nâmica cultural é simbólica e, por isso mesmo, variável, e que a mediação necessária para essa inter-
venção é, necessariamente, intersubjetiva.

No nosso entender, a educação física escolar tem como objetivo, proporcionar aos alunos espaços
para refletir, discutir, problematizar, vivenciar na prática questões relacionadas à motricidade humana,
levando o aluno a desenvolver com isso:

• Descoberta e exploração de novos movimentos corporais que tenham significado para si e


reflitam de forma positiva em suas atitudes enquanto ser construtor de conhecimento e aju-
dem na afirmação dos padrões naturais de movimento: locomoção, manipulação e estabiliza-
ção.

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• Enriquecimento cultural, valorizando as diversas formas de movimento humano como jogos,


danças, ginásticas, lutas , esportes.

• Valorização da expressão corporal como uma das formas de linguagem, visto que a lingua-
gem verbal e escrita é super valorizada na nossa sociedade.

• Consciência da importância das práticas corporais como forma de melhorarem sua própria
qualidade de vida e com isso valorizarem a prática de atividades motoras fora do ambiente
escolar.

Entendemos aqui qualidade de vida como sendo subjetiva nos indivíduos e variável de acordo com o
ambiente em que este está inserido.

Levando em consideração todos esses aspectos, precisamos pensar em uma educação física escolar
que tenha significância dentro do círculo escolar, que seja dinâmica e pronta para contribuir para a
construção da cidadania.

Como diz maugham (apud cotrim e parisi, 1998, p.56):

[...]Os homens não são somente eles; são também a região onde nasceram, a fazenda ou o aparta-
mento da cidade onde aprenderam a andar, os brinquedos com que brincaram em crianças, as len-
das que ouviram dos mais velhos, a comida de que se alimentaram, as escolas que freqüentaram, os
esportes em que se exercitaram, os poetas que leram e o deus em que acreditam. Todas estas coi-
sas fizeram deles o que são, e essas coisas ninguém pode conhecê-las somente por ouvir dizer, e
sim se as tiver sentido.

Vemos aí como é importante além das propostas que desejamos implantar, seja no ensino noturno,
seja na escola básica, o contato com a realidade de onde iremos desenvolver nosso trabalho, temos
que sentir a real necessidade daquela ou desta comunidade, pois se não levarmos em consideração
esta realidade, estaremos desconsiderando o ser humano como ser real, que interfere e modifica as
relações humanas.

educação física no ensino noturno

Algumas questões devem ser analisadas com mais profundidade quando nos referimos ao estudo da
educação física no ensino noturno.

Discutir educação física no ensino noturno é fundamental em função do problema que sua situação
como componente curricular facultativo traz para melhor inserção no projeto pedagógico do ensino
noturno, visto que em termos legais, a facultabilidade e as restrições das aulas de educação física no
ensino noturno fazem-nos refletir sobre qual seria a contribuição deste componente curricular tendo
em vista as especificidades da educação de jovens e adultos. Segundo mattos e neira (2000), "o en-
sino noturno é responsável por 56% das matriculas" (p.12).

Outro ponto que nos faz considerar de extrema importância este tema ser abordado é a capacidade
que temos de conhecimento das nossas possibilidades corporais, dando com isso uma importância
fundamental ao componente curricular educação física o qual discutirá questões relacionadas à motri-
cidade humana nas nossas escolas, proporcionando aos nossos alunos a aquisição de um conheci-
mento que vem sendo historicamente acumulado e socialmente transmitido ao longo dos anos. A
questão principal a qual devemos nos atentar seria mostrar para a comunidade e a escola que a edu-
cação física deve ser vista como sendo essencial na vida dos seus filhos, e por quê essencial? Es-
sencial porque eu sou o corpo, eu sou o movimento e como ser que pensa, que age, sou produtor de
linguagem, linguagem verbal, corporal, muitas vezes uma linguagem oculta que se revela através do
movimento.

Todas as minhas ações são muitas vezes criadas, recriadas e expressas pelo movimento. Negar ao
ser-humano a oportunidade de conhecer novas formas de movimento, de conhecer e respeitar cultu-
ras corporais diversas é negar a este o direito à cidadania, cidadania esta que passa a ser relevante
dentro da disciplina educação física quando o professor ressalta em suas aulas a expressão corporal
como princípio norteador, sendo esta uma das formas de linguagem possível, onde o aluno poderá

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em muitos momentos de sua vida recorrer a práticas corporais para resolução de problemas. Pode-
mos proporcionar também, através das nossas atividades, momentos em que os alunos desenvolvam
princípios de aceitação às diferenças, solidariedade, justiça, não-violência. Se conseguirmos nas nos-
sas aulas mostrar aos alunos o valor que os mesmos tem enquanto sujeito no mundo capazes de
grandes realizações, contrapondo ao narcisismo e a toda forma de alienação, poderemos dar os pri-
meiros passos para uma contribuição efetiva na construção da cidadania.

Nosso corpo pode ser considerado como nosso símbolo o qual transmite sentimentos, possibilitando,
com isso, expressarmos nossos desejos mais internos e externos que se traduzem em forma de mo-
vimento. Todas as nossas ações estão calcadas pelo movimento, ou seja, o movimento do corpo hu-
mano é um tema socialmente relevante.

Segundo bertheart e bernstein (apud cañete, 2001, p.14)

[...]Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência,
sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso, tomar consciência do próprio corpo e espí-
rito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas sua unidade.

Outro ponto que justifica a abordagem deste tema é a contribuição que poderá trazer para melhoria
da prática (as aulas) no dia-a-dia, possibilitando a construção de uma educação física que leve em
consideração as opiniões dos atores que fazem parte da escola, principalmente do corpo docente,
diretores e supervisores os quais podem trabalhar juntos para a inserção da educação física nas es-
colas, legitimando-a na prática e não somente amparada pela lei, que apesar de ser muito importante
não preenche satisfatoriamente sua principal função: a de levar os alunos verem significado em seu
estudo.

Qual o sentido e/ou significado do componente curricular educação física para a comunidade escolar
no âmbito do ensino noturno?

A partir da verificação das opiniões destes atores escolares acerca do problema proposto poderemos
ter também não somente uma visão do que eles pensam sobre educação física escolar, mas tam-
bém, de uma forma mais implícita, sua opinião sobre o projeto escolar que eles acreditam.

Na área acadêmica vejo como importante a discussão do tema, pois acredito que se planta mais uma
semente que poderá servir de incentivo para futuros trabalhos na área, prosperando belas colheitas
num futuro próximo de modo que possamos ter na educação a esperança de um mundo melhor.

metodologia da pesquisa

Amostra

Ao todo foram entrevistados 07 funcionários da escola (supervisor, coordenador, professores) e 14


alunos pertencentes aos programas de alfabetização de adultos e tele-curso ensino fundamental e
médio. A entrevista foi semi-estruturada e consistiu de 03 perguntas abertas, sendo as mesmas reali-
zadas na própria escola e gravadas em um gravador portátil.

Tratou-se de um estabelecimento de educação básica da rede privada.

recursos físicos

A construção da escola foi feita em dois pavimentos. No térreo encontram-se: sala da coordenadora,
sala dos professores, secretaria, cozinha, pátio coberto, sala de arquivo, sala da supervisora de en-
sino, biblioteca, sala a ser adaptada aos deficientes físicos, banheiros para alunos e para funcioná-
rios, etc. No piso superior encontram-se 12 salas de aulas, banheiros para os alunos, e um laborató-
rio desativado.

Na área externa existe uma área descoberta para recreação. A construção totaliza 1800 metros qua-
drados.

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A unidade escolar encontra-se dentro de um cat (centro de atividades) e a comunidade escolar tem
acesso às dependências deste. São elas: 3 quadras poliesportivas, 2 quadras de tênis, 1 ginásio de
esportes (coberto), 1 campo de areia, 1 campo gramado, 1 pista de corrida, 2 parques infantis com
brinquedos de madeira e piso de areia, 1 mini ginásio de esportes, 1 salão promocional, quiosques,
arena e grande área verde. No verão os alunos podem freqüentar o clube em horário de aula (1 vez
por semana), este conta com três piscinas (infantil, recreativa e semi - olímpica), serviço de salva-vi-
das e vestiários com chuveiro.

recursos financeiros

A escola é mantida e administrada pelo serviço social da indústria, uma entidade jurídica de direito
privado, com sede e foro na capital da república e dirigido pela confederação nacional da indústria
(cni).

Nenhum documento menciona o montante de recursos financeiros repassados e/ou investidos na es-
cola.

aspectos do ambiente físico e social, sócio - culturais e econômicos

O bairro no qual a escola está situada fica na zona norte do município de osasco, conta com boa infra
-estrutura de comércio (farmácias, supermercados, lojas de materiais para construção, casas de do-
ces, bares e lanchonetes, etc.). Como a maioria das cidades, o bairro apresenta uma dualidade de
condições econômicas: por um lado tem casas e apartamentos com pessoas de classe média e um
poder aquisitivo maior, por outro tem como vizinhança moradores de "áreas livres" (que é como se
convencionou chamar as favelas).

As ruas são asfaltadas, bem iluminadas e com grande movimentação de veículos devido o fácil
acesso à rodovia castelo branco. O bairro conta com diversas linhas de ônibus municipais e intermu-
nicipais para servir à população.

A maioria da clientela não reside nas proximidades da escola. Apenas alguns vão a pé. A grande mai-
oria utiliza transporte escolar em vans e peruas, ou ônibus coletivos.

Aproximadamente 80% da clientela são filhos de funcionários da indústria, famílias assalariadas de


média e baixa renda. Geralmente os pais trabalham e fora do período de aulas deixam os filhos sob a
responsabilidade de terceiros (avós, tias, vizinhos e uma minoria com empregadas). Os 20 % restan-
tes são da comunidade, geralmente já estão nos ciclos finais e entraram numa época em que as va-
gas para os filhos de industriários não precisavam passar por sorteio. Atualmente a demanda é maior
e a tendência é que a grande maioria seja beneficiário da indústria.

Em frente a escola encontra -se a policlínica zona norte, seguindo em frente, existe uma outra escola
de grande porte (fito), a aacd e o hospital e maternidade amador aguiar (local para o qual os alunos
são encaminhados em casos de acidentes). Nas redondezas existem ainda algumas escolas particu-
lares menores (colégio peres guimarães, colégio getúlio vargas, escola de educação infantil ceboli-
nha, etc.).

A escola, por estar dentro de um cat, tem à sua disposição um teatro, onde freqüentemente são exibi-
das peças gratuitas, abertas tanto aos alunos como à comunidade que se interessar.

O ginásio de esportes e as quadras são utilizados tanto pelos alunos como por alguns times de vôlei
e basquete para treinos, e pelos sócios do clube para divertimento. Existe ainda um salão promocio-
nal, eventualmente alugado para eventos, e também um quiosque, alugado para festas e churrascos
nos finais de semana.

Dentro do cat estão instaladas uma lanchonete e uma academia de ginástica (terceirizadas).

procedimentos

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EDUCACAO FISICA NO CURSO NOTURNO

Num primeiro momento fui até a escola e falei com a supervisora escolar sobre a possibilidade de re-
alizar a pesquisa na escola sobre a educação física escolar no ensino noturno. Sem esboçar nenhum
tipo de rejeição, me autorizou a entrevistar tanto os funcionários quanto os alunos. Passado alguns
dias deste primeiro contato, falei com a diretora da escola que, sem objeção nenhuma, me concedeu
a entrevista no final da tarde. Logo em seguida, fiquei aguardando o período noturno para realizar as
entrevistas com os professores. Após mais ou menos 01 hora de espera, dirigi-me à sala dos profes-
sores e abordei um dos presentes ali, perguntei qual era o seu cargo na escola e ele me disse que
era orientador de aprendizagem cuja função é a de dar aulas, ou seja, é um professor, só muda o
nome do cargo. Ali mesmo na sala dos professores, me concedeu a entrevista. Logo após, chegaram
uma professora e uma orientadora de aprendizagem do ensino fundamental, que também se dispuse-
ram a dar a entrevista. Estas aconteceram também na sala dos professores, contando apenas com
minha presença e das duas professoras. Após estas entrevistas me dirigi à secretaria da escola e
após mostrar a relação de questões que iriam ser feitas, a secretaria resolveu dar a entrevista. Logo
após tê-la entrevistado, chegou uma professora que também se dispôs a me ajudar, dando-me uma
entrevista muito descontraída.

A entrevista com a supervisora ocorreu após 03 dias. Foi realizada em uma sala onde se encontra-
vam apenas eu (entrevistador) e a entrevistada. Como ocorreu nos casos anteriores, a supervisora
me atendeu muito bem.

As entrevistas com os alunos aconteceram em dois momentos. Primeiro entrevistei 05 alunos do pai
(programa de alfabetização intensiva) e 02 alunos do tele-curso ensino fundamental. As entrevistas
com estes alunos aconteceram no corredor das salas de aula, pois não tínhamos nenhum outro lugar
disponível para a sua realização. Por serem relativamente rápidas as entrevistas e os alunos estarem
em aula isso ajudou na colaboração dos alunos. Fui de sala em sala perguntado para o professor res-
ponsável sobre minha intenção de entrevistar alguns alunos, alguns professores já me conheciam
pois tinham sido entrevistados por mim anteriormente e mesmo os que eu não conhecia foram muito
atenciosos e receptivos.

Já em sala de aula expliquei para os alunos quais eram as intenções da pesquisa e seu objetivo.
Após a explicação alguns se disponibilizaram a ajudar-me, e em uma das salas do tele-curso funda-
mental a própria professora escolheu o aluno, por este gostar de falar. Em outra sala do tele-curso
fundamental a professora também escolheu o aluno, pois, este, já tinha acabado a lição e então, um
tanto quanto envergonhado, veio até mim e me concedeu uma entrevista. Foi perceptível neste aluno
uma grande dificuldade em se expressar e ficou claro para mim que eu estava diante de um analfa-
beto funcional. Após duas semanas das primeiras entrevistas fui até a escola terminar de entrevistar
os alunos. Neste segundo momento a minha abordagem com os alunos aconteceu da mesma ma-
neira, ou seja, ia até as salas de aula, explicava o objetivo da pesquisa e voluntariamente, na grande
maioria das vezes, os alunos se manifestavam com interesse de contribuir. Em duas salas tive mais
de um aluno querendo participar: nas salas de aula do programa pai e do tele-curso ensino funda-
mental.

Antes da realização das entrevistas foi passado para os alunos e funcionários do que se tratava tal
pesquisa e antes de concederem a mesma, assinaram um termo de consentimento esclarecido.
(anexo a)

análise dos dados

Os dados da revisão das entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo.

Após a leitura e análise das entrevistas, destacamos o que os alunos e funcionários pensam sobre a
educação física no ensino noturno e quais contribuições a mesma traria.

Para melhor analisarmos os dados levantados, criamos, apriorísticamente sub-categorias de análise,


sendo as mesmas definidas como objetivos da educação física, juízo de valor e caracterização da
disciplina.

resultados

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EDUCACAO FISICA NO CURSO NOTURNO

Os resultados serão apresentados em forma de quadros e em seguida interpretados. Os depoimentos


que serão apresentados nos quadros seguintes atenderão à numeração presente na listagem abaixo.

Sujeitos
01 - supervisora escolar
02 - coordenadora escolar
03 - orientador de aprendizagem
04 - orientadora de aprendizagem
05 - secretária
06 - professora ensino fundamental - supletivo
07 - professora ensino fundamental regular
08 a 12 - alunos do pai (programa de alfabetização intensiva)
13 a 17 - alunos do tele-curso ensino fundamental
18 a 21 - alunos do tele-curso ensino médio

Segue abaixo quadro 1, referente à questão 08 da entrevista que demonstra qual a opinião dos funci-
onários sobre a educação física escolar.

Foi possível nesta questão 08 caracterizar as respostas dos entrevistados. Percebeu-se que a opi-
nião dos entrevistados se dividiram nestas três sub-categorias sendo que a primeira diz respeito aos
objetivos da educação física, a segunda sobre a caracterização da educação física e, por última, a
sub-categoria que expressa juízos de valor sobre a educação física.

Ficou evidente que na sub-categoria objetivos, 85,7% dos respondentes, disseram que a educação
física seria muito importante para o desenvolvimento e para a socialização dos alunos. Quanto ao de-
senvolvimento não ficou claro por parte dos entrevistados o que realmente queriam dizer com a pala-
vra desenvolvimento.

Logo em seguida, foram mencionadas lateralidade por 28,6% dos funcionários e a questão de ser
uma disciplina disciplinadora com 14,3% dos funcionários fazendo referência.

Na sub-categoria caracterização foi evidenciado pelos entrevistados que a educação física teria como
característica trabalhar com jogos, ser uma disciplina lúdica e que envolve a parte física. Já na sub-
categoria juízo de valor ficou evidente que a educação física é vista como sendo muito interessante,
fundamental para crianças e adultos e que deveria ter mais competição na escola, todas estas, com
14,3% dos funcionário se posicionando a favor.

Logo abaixo, mostraremos os resultados da mesma questão 08 (quadro 2), agora na visão dos alu-
nos.

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EDUCACAO FISICA NO CURSO NOTURNO

Podemos observar nas repostas dos alunos que a grande maioria tem uma opinião de que a educa-
ção física é "muito legal" 64,3%. Em segundo lugar temos a opinião de que educação física é indis-
pensável/útil para a vida 28,5% e em terceiro lugar 14,3% a opinião de que a educação física esti-
mula a prática de outras atividades, faz bem para o corpo e faz bem para a mente. Foi interessante
observar na resposta de um aluno que a educação física é muito importante desde que não atrapalhe
os estudos. Vemos aí como falta um esclarecimento maior por parte dos estudantes das infinitas pos-
sibilidades de estudo da educação física, mas não chega a surpreender, pois, afinal estamos vivendo
em uma sociedade consumidora, movida pelo capitalismo, o que acaba por refletir na escola, como
diz alves (2001, p.36)

Nossas escolas são construídas segundo o modelo das linhas de montagem. Escolas são fábricas
organizadas para a produção de unidades biopsicológicas móveis, portadoras de conhecimentos e
habilidades

Apesar de apenas um aluno ter utilizado este tipo de argumento, vemos ainda que para alguns a edu-
cação física não se insere como uma disciplina capaz de contribuir na formação dos alunos para o
mundo atual.

Abaixo temos o quadro 03 referindo-se a questão 09 da entrevista que buscou compreender a visão
dos funcionários quanto a possível contribuição do componente curricular educação física na educa-
ção de jovens e adultos.

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Foi possível elencar como contribuição do componente curricular educação física por parte dos funci-
onários, os seguintes objetivos:

a. Para 57,1% dos funcionários a educação física seria capaz de contribuir para uma melhor so-
ciabilização dos alunos, visto que estes segundo um depoimento, muitas vezes chegam ao
final do ano letivo e não se conhecem.

b. Para 28,6% dos funcionários a educação física contribuiria na conscientização da importância


de praticar uma atividade física regrada, no conhecimento sobre o corpo e trabalhar com a
educação alimentar.

c. E, por último, sendo citado por apenas 14,3% dos funcionário, temos como contribuição da
educação física ser uma disciplina que abordará questões físicas, psicológicas, prescrição de
atividades a ser realizadas no tempo livre, contribuir para o desenvolvimento, incentivar os
alunos a irem à escola, melhorar a coordenação motora, equilíbrio e ainda contribuir para que
os alunos cumpram as regras estabelecidas.

Veremos agora como se deram as opiniões dos alunos, referente à questão 09 que visava identificar
o que pensavam sobre educação física no processo educativo de jovens e adultos.

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Foi possível verificar nas respostas que 21,4% dos alunos colocaram como uma contribuição efetiva
da educação física na eja (educação de jovens e adultos), o fato de a disciplina ser capaz de levar os
alunos a um relaxamento, ou seja, vêem a educação física como forma de abrandamento do estresse
causado pelo dia-a-dia, uma disciplina capaz de acalmá-los e conseqüentemente diminuir a pressão
que as outras disciplinas venham a causar. Em segundo lugar sendo mencionado por 14,3% dos fica-
ram como contribuição da educação física, ser a mesma capaz de melhorar a saúde, incentivar a pra-
tica de esportes, disciplina corporal e de ser boa. Alguns aspectos citados por apenas 7,1% dos en-
trevistados foi a possível contribuição da educação física para: o desenvolvimento do raciocínio, para
o lazer, melhora do metabolismo do corpo, estimula a vida, preenche o tempo vazio, seria uma tera-
pia e ajudaria no cuidado com o próprio corpo.

A última questão a ser analisada foi referente à experiência destes funcionários e alunos quanto à
prática da educação física nas escolas onde estudaram. Segue abaixo quadro 5 com os resultados
na visão dos funcionários:

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Pode-se observar claramente neste quadro que a maioria dos funcionários faz referência ao esporte
como sendo o conteúdo predominante nas aulas. Levando-se em consideração a faixa-etária dos en-
trevistados que fica entre 25 - 45 anos, nota-se que a maior parte deles estudou na década de 60 e
70, onde a educação física

Era predominantemente voltada para a prática de esportes. Outras menções feitas por apenas 14,3%
dos entrevistados, diz respeito à prática de atletismo, uma educação física marcada por lesões, rela-
ção professor-aluno distante, prática de exercícios físicos, trabalho com jogos - mas só no magistério,
oportunidade de conhecer novas escolas devido à disputa de campeonatos inter-escolares e a prática
de exercícios físicos. Foi possível identificar também nas entrevistas que muitos colocam sua experi-
ência nas aulas de educação física, como sendo muito boa para 28,6% dos entrevistados e também
que não foram divertidas para 14,3% dos entrevistados. É interessante ressaltar aqui, que o funcioná-
rio que disse que as aulas de educação física não foram divertidas, foi o mesmo que mencionou que
as mesmas foram marcadas por lesões.

A seguir quadro 6 com a opinião dos alunos, referente à questão 10 da entrevista:

O quadro 06 nos mostra que, na visão dos alunos, a educação física que eles vivenciaram na escola
foi muito boa, ou seja, eles gostavam e observa-se também que o conteúdo predominante nas aulas
era o esporte, seguido da ginástica e dos jogos o que mostra que este continua sendo o conteúdo
predominante. 14,3% dos alunos disseram que as aulas de educação física deixavam-nos mais "le-
ves" e com isso provavelmente melhorava o rendimento na sala de aula. Um dos alunos refere-se à
sua educação física como sendo incentivadora da sua prática nos esportes. Apenas 7,1% dos alunos
refere-se que, na sua aula, ele jogava bola e praticava atividades corporais.

discussão

Fizemos uma comparação entre as respostas dos alunos x funcionários a fim de verificar se existe
grande diferença nas opiniões. Com relação à questão 08 foi possível identificar que os funcionários
(a grande maioria com curso superior), vêem a educação física como sendo um componente curricu-
lar auxiliar dos outros, ou seja, têm uma opinião de que a educação física tem a função de sociabilizar
os alunos. Com isso deixam nas entrelinhas a opinião de que a educação física não teria um conte-
údo específico a ensinar. Vale ressaltar que é função da educação física também trabalhar a integra-
ção dos alunos, mas não é exclusividade sua, as outras disciplinas têm a mesma responsabilidade.
Já para os alunos, estes não têm uma idéia clara do seja a educação física escolar, visto que para
64,3% deles ao serem perguntados, deixaram muito vago ao dizerem que achavam muito bom/legal,
e 28,6% dos alunos disseram que a educação física seria muito útil/indispensável. Uma opinião mais
clara foi a de dois alunos que disseram ser a educação física responsável por incentivar a pratica de
atividades físicas fora do ambiente escolar, o que confirma o exposto por silva et al (2004), segundo
os quais:

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[...] A eficácia da educação física escolar poderia ser mensurada pela porcentagem de alunos e ex-
alunos da educação básica que sistematicamente praticassem atividades motoras por, no mínimo,
três vezes por semana, mesmo após o término dos anos de escolarização.

Segundo estes comentários vemos que a educação física, ainda que por uma pequena parte dos alu-
nos apresenta um significado mais claro e vai ao encontro de um dos objetivos propostos por alguns
autores da área.

Sobre a questão 09, 57,1% dos funcionários, remete ao fator socializador da educação física, como
sendo capaz de contribuir na formação de jovens e adultos e 28,6% dos funcionários destacam a
mesma opinião dada por alunos na questão 08, ou seja, a educação física contribuiria para orientar a
prática de exercícios físicos fora do ambiente escolar e mostrar a importância que a atividade física
tem em nossas vidas. Já para 28,6% dos funcionários a educação física confunde-se com a nutrição,
visto que para eles a educação física contribuiria na educação alimentar.

Já para 35,7% dos alunos, provavelmente por estes na grande maioria serem trabalhadores, vêem
como contribuição da educação física a questão da qualidade de vida, ou seja, dizem que a educação
física lhes ajudaria a relaxar e na aquisição de mais saúde, etc.

Com relação à questão 10 foi possível ver claramente que dentre os funcionários 71,4% disseram te-
rem tido somente esporte na sua educação física, o que não difere muito dos alunos os quais 64,3%
disseram ter tido uma educação física muito legal e logo em seguida 42,9% referiram-se ao esporte
como conteúdo predominante das suas aulas.

Apesar da posição que ocupa cada integrante da pesquisa, levando em consideração suas caracte-
rísticas pessoais, fica claro identificar que para a grande parte, a educação física serve apenas como
uma disciplina integradora e que seu conteúdo ainda é restrito ao esporte.

Foi possível verificar que os entrevistados têm uma visão da educação física muito restrita no que
tange à sua real função dentro da escola. Apesar de entenderem que a educação física é importante
para a escola, estes não compreendem as diversas possibilidades que o componente curricular edu-
cação física é capaz de abordar.

Ficou claro nas entrevistas que grande parte dos alunos têm dificuldades de se expressarem e com
isso acabam por não desenvolver um pensamento lógico na sua fala. Sendo assim a maioria con-
corda em dizer que a educação física é muito legal, sendo isto insuficiente na busca de uma educa-
ção crítica/reflexiva. Ficou claro que grande parte dos alunos se enquadram na triste estatística dos
analfabetos funcionais.

Já os funcionários vêem a educação física como sendo importante para a integração dos alunos, dei-
xando-nos claro também a ausência de uma visão mais ampla quanto à real função da educação fí-
sica na escola.

Os resultados fazem-nos concluir que a discussão sobre a educação física faz falta a esta clientela,
sendo assim, como podemos desejar que sejam adultos ativos se não conhecem como lidar com as
variáveis ligadas a motricidade humana?

Fica a pergunta: como educar estes educadores para ampliar sua visão sobre a educação física es-
colar? Será que os resultados no ensino diurno seriam diferentes?

Diante destes resultados, fica a sugestão de que novos trabalhos sejam realizados no âmbito do en-
sino noturno, para que melhor possamos compreender e interferir nesta realidade.

As aulas de educação física no ensino médio noturno solicitam vários questionamentos graças a am-
paros legais que levam a refletir sobre planejamentos e metodologias de ensino. Dentre esses ampa-
ros está à facultatividade da prática da educação física para alunos com jornada de trabalho superior
a seis horas diárias, maior de trinta anos, em serviço militar e a aluna que tenha prole.

Darido (1999) aponta que apesar da obrigatoriedade da educação física em todos os níveis de en-
sino, ao longo da sua história foram abertas algumas exceções que acabaram por influenciar enorme-
mente a prática da educação física na escola.

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Estes amparos legais reportam a educação física como prática esportiva ou atividade física que cau-
sará desgaste aos alunos, ausentando-os das aulas, comprometendo desta forma toda sua finali-
dade.

Conforme darido (1999, p.143),

[...] Seus pressupostos são questionáveis porque vinculam a área a um suposto gasto energético que
os alunos, já exaustos pelo trabalho, não teriam condições de suportar. Tal conclusão reflete uma
concepção ultrapassada de educação física, baseada em parâmetros energéticos e fisiológicos, e
desconhece a possibilidade da adequação de conteúdos e estratégias às características e necessida-
des dos alunos dos cursos noturnos [...].

Remete-nos a ressaltar que as aulas de educação física devem integrar-se a cultura corporal e seus
conteúdos para que assim as aulas diante de uma concepção crítica incluam uma relação teórico-prá-
tico para o método de ensino, além de buscar uma melhor discussão sobre o contexto social e valo-
res pedagógicos para as aulas.

Na busca de uma melhor compreensão sobre a importância das aulas de educação física no ensino
médio noturno na rede pública a pesquisa buscou conhecer a compreensão dos alunos sobre a edu-
cação física.

Temos como objetivo geral verificar a compreensão dos alunos sobre a educação física no ensino
médio noturno. E apresentamos os seguintes objetivos específicos:

• Analisar a participação dos alunos nas aulas de educação física;

• Verificar o conhecimento dos alunos sobre educação física;

• Verificar quais as concepções que a escola define educação física;

A pesquisa foi descritiva de campo com abordagem qualitativa. “os estudos descritivos exigem do
pesquisador uma série de informações sobre o que se deseja pesquisar.” (triviños 1987, p.110)

Para realização da coleta de informações foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fe-
chadas para os alunos do ensino médio noturno. O questionário tem como objetivo obter informações
referentes à participação dos alunos nas aulas e a importância da educação física para esses, verifi-
car os conteúdos trabalhados, metodologia e avaliação utilizada pelo professor a fim de constatar os
motivos que levam a participação ou não das aulas de educação física no ensino médio noturno.

Para sua aplicação os participantes da pesquisa foram alunos de três escolas da rede pública de cri-
ciúma, sendo 15 alunos de cada escola de mais fácil acesso para o pesquisador. Isso ocorreu pela
dificuldade de acesso a informações em órgãos responsáveis. Dentre essas, os participantes foram
cinco alunos do primeiro ano, cinco do segundo ano e cinco do terceiro ano em cada escola. Por fim
optamos pela realização de sorteio para escolha dos alunos. Em várias situações alunos se negavam
a participar do questionário sendo assim se sorteava outro aluno.

A educação física no ensino médio e suas questões legais

Segundo a lei de diretrizes e bases – ldb (1996) o ensino médio prevê a finalidade de consolidar e
aprofundar os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. Além disso, esta finalidade busca o
preparo para o trabalho e a cidadania, o desenvolvimento de habilidade como continuar a apreender
a capacidade de adaptar com flexibilidade as novas condições de ocupação e aperfeiçoamento.

A educação física no ensino médio noturno vem passando por algumas mudanças em destaque a ldb
que trouxe para a educação física no ensino médio a não obrigatoriedade da mesma. Conforme a ldb
9394/1996:

O ensino da educação física para o ensino noturno passa a ser facultativo para os alunos cursarem,
as escolas oferecem, e caso elas ofereçam a disciplina, as horas aulas não são contabilizadas na
carga horária da escola. Os alunos podem ser dispensados das aulas quando trabalham seis horas
diárias, quando maior de trinta anos, aluno na qual está em serviço militar, aluna que tenha prole, en-
tre outros.

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Carvalho (1998) destaca em relação ao ensino médio noturno que este atende a uma clientela, em
sua maioria de origem operária e inserida, durante o período diurno, no mercado de trabalho, estes
cursos se caracterizavam, desde sua implantação, como uma oportunidade educacional especial-
mente para os que necessitam aliar o estudo e trabalho.

A educação física poderia pensar em atividades variadas capazes de eliminar as tensões físicas e
psíquicas e também capazes de recuperar o equilíbrio afetado por atividades e posturas monótonas
produzidas pelas especialidades profissionais surgidas em função do desenvolvimento cientifico e
tecnológico. (darido,1999, p.50)

Para caporalini (apud isoppo, 2009): “os cursos apresentam uma maior proporção de alunos de ori-
gem operária e também que apesar de estado manter cursos noturnos para os alunos que precisam
trabalhar durante o dia, o tipo de ensino oferecido não atende aos interesses desse estudante, isto é,
não coincide com suas intenções”.

Proposta curricular de santa catarina 2005 – ensino noturno

A proposta curricular tem como objetivo garantir o acesso ao conhecimento produzido historicamente,
com uma concepção de humanidade e de sociedade, orientada pelo materialismo histórico (base filo-
sófica),com uma concepção de aprendizagem numa perspectiva histórico-cultural (base psicológica)
e numa metodologia dialética.

O grupo temático do ensino noturno refletindo, discutindo e produzindo sobre as questões de currí-
culo, compreendeu que, ao se propor determinada organização curricular, estamos realizando uma
seleção histórica que reflete a distribuição de poder em seu interior. Todo currículo é um processo de
seleção, de escolha e de decisões acerca do que será e do que não será legitimado pela escola.
(santa catarina, 2005)

Conforme a proposta curricular de santa catarina de 2005:

O ensino noturno é uma conquista da classe trabalhadora, e um direito de todos, não pode mais ser
tratado como apêndice do diurno, nem como um problema, mas como um turno de ensino que possui
identidade própria, já que tem sido uma das soluções encontradas para conciliar duas atividades pro-
dutivas: trabalho e estudo.

Tendências liberais da educação física

Darido (2003) enfatiza a tendência esportivizada numa visão de autoritarismo, tendo como objetivo o
domínio das técnicas e táticas, formando o aluno atleta. Foi na década de 70 que os militares apoia-
ram a educação física, na realidade o interesse maior era formar um exército composto por uma ju-
ventude forte e saudável.

No que se refere à saúde renovada que é assim denominada, por reunir princípios e cuidados consa-
grados em outras abordagens com enfoque mais sociocultural. Nahas (1996), por exemplo, sugere
que o objetivo da educação física na escola de ensino médio é ensinar os conceitos básicos da rela-
ção entre atividade física, aptidão física e saúde. O autor observa que essa perspectiva procura aten-
der a todos os alunos, principalmente os que mais necessitam, sedentários, os de baixa aptidão fí-
sica, obesos e portadores de deficiências.

Tendências progressistas da educação física

O coletivo de autores (1992), nos trás a pedagogia como a teoria e método que constrói os discursos,
as explicações sobre a prática social e sobre a ação dos homens na sociedade, em que se dá a sua
educação.

Na reflexão da proposta crítico superadora busca-se o foco na cultura corporal na qual a dinâmica
curricular na educação física desenvolve uma reflexão pedagógica sobre as formas de representação
do mundo que o homem produz no decorrer da história apresentada pela expressão corporal: jogos,
danças, lutas, ginásticas, esporte e entre outros.

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É fundamental o desenvolvimento da historicidade da cultura corporal, ou seja, compreender que o


homem não nasceu pulando ou saltando, por exemplo, mas que construiu em épocas históricas as
respostas para suas necessidades. (coletivo de autores, 1992 p.39)

Sendo assim, a cultura corporal é dita como uma expressão corporal, uma linguagem, um conheci-
mento universal, patrimônio da humanidade que precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos. A
sua ausência impede que o homem e a realidade sejam entendidos em uma visão de totalidade. As-
sim a educação física surge das necessidades sociais concretas, na qual trata com temas ou formas
de atividades particularmente corporais, como ditas anteriormente, visando aprender a expressão cor-
poral como linguagem.

Refletindo ainda em uma abordagem crítica para as aulas de educação física o autor kunz (2006),
nos trás a pedagogia crítico emancipatória que em sua prática necessita de estar acompanhada de
uma didática comunicativa e uma racionalidade no sentindo de esclarecimento. A educação se de-
senvolve em “ações comunicativas”.

O aluno sendo sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para participação na vida social,
cultural e esportiva, ou seja, ter capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e signi-
ficados através de reflexões críticas.

Para a educação física escolar ao invés de simplesmente ensinar o esporte para desenvolver suas
habilidades técnicas, devem-se levar em conta os conteúdos de caráter prático-teórico, com o intuito
de que os alunos vêem a realidade do esporte e organizem de acordo com sua própria realidade e
necessidade.

Concepções pedagógicas para o ensino médio

É possível encontrar práticas pedagógicas que não representam o debate mais contemporâneo nas
aulas de educação física. Referente ao ensino médio é muito comum que as práticas utilizadas sejam
mais voltadas para o esporte ou aptidão física, fator que pode influenciar na valorização da disciplina
e principalmente na efetiva participação dos alunos.

Daólio (apud darido,1999): “propõe que as aulas de educação física para o aluno/trabalhador permi-
tam ao adolescente um relaxamento, uma prática prazerosa, que permitam aos alunos convivência e
relacionamento em grupo”.

Melo (apud darido,1999): “também indica a importância de um trabalho em que seja oferecida uma
ampla gama de atividades aos alunos, para além dos esportes tradicionais. O autor assim implantou
um programa de jogos nas aulas de educação física para o ensino médio, trabalhando: diferentes ti-
pos de queimadas, hand sabonete, pic bandeira, quatro cantos, e outros”.

O autor nahas (apud darido,1999): “propõe as aulas do ensino médio para um estilo de vida mais
ativo. Com o objetivo de ensinar os conceitos básicos da relação atividade física, aptidão física e sa-
úde, além de proporcionar vivências diversificadas levando os alunos a escolherem um estilo de vida
mais ativo”.

Adverso a essa concepção, tadechi (apud darido,1999): “relatou uma experiência de uma escola par-
ticular de são paulo baseada em uma proposta crítica sendo a crítico-superadora (coletivo de autores,
1992). Na qual anteriormente a escola privilegiava apenas a prática dos esportes, não considerando
os demais conteúdos da educação física”.

“a educação física como parte integrante da escola, tem sua colaboração na construção do ser hu-
mano em desenvolvimento. Os alunos que frequentam o ensino médio necessitam de uma educação
física que possa por meio de seus conteúdos, colaborar na formação de sua personalidade e de sua
participação ativa na sociedade. A educação física no ensino médio precisa fazer o adolescente en-
tender e conhecer o seu corpo como um todo, não só como um conjunto de ossos e músculos a se-
rem treinados, mas como a totalidade do indivíduo que se expressa por meio do movimento, senti-
mentos e atuações no mundo”. (mattos; neira 2000, apud barni e schneider s/d).

Tudo o que foi produzido é historicamente acumulado pela humanidade, necessitam serem retraça-
dos e transmitidos aos alunos na escola. E por isso é importante para perspectiva da prática pedagó-
gica da educação física o desenvolvimento da noção de historicidade corporal.

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Resultados e discussão

Dados pessoais

O questionário aplicado obteve em sua maioria participação de mulheres.

Com idade predominante entre 15 e 18 anos, sendo estudantes apenas do período noturno.

Objetivos das aulas de educação física

Quando questionados sobre sua opinião para que servem as aulas de educação física a grande mai-
oria anotou a opção “prática esportiva”. Se acrescentarmos a opção treinar – que implica em treinar
uma prática esportiva!- o número se torna ainda mais significativo. As justificativas convergiram para
a importância do esporte para a saúde, para o corpo, etc.

“porque esporte é bom para o corpo, para a saúde, etc.” (aluno 1);

“me ajudaria no desenvolvimento do corpo é muito importante na minha saúde” (aluno 2);

Ainda que alguns tenham assinalado a questão discussão do contexto social, foi notória a falta de co-
nhecimento do que realmente significa essa questão.

Pois durante o questionário ficava clara a importância do esporte como treinamento para esses alu-
nos nas aulas quando questionados a importância dos conteúdos aprendidos.

“a exercitar, ser uma boa jogadora e interagir.” (aluno 27)

Portanto predomina, a despeito das produções críticas oriundas do período dos anos oitenta, uma
percepção de educação física ligada às questões da atividade física e qualidade de vida como ex-
pressa a proposta de nahas.

Conforme nahas (1997) apud darido (1999)

Destaca os objetivos das aulas de educação física como forma de ensinar os conceitos básicos da
relação atividade física, aptidão física e saúde, além das vivências diversificadas, levando o aluno ao
estilo de vida ativo. Ainda observa-se que esta proposta procura atender os que mais precisam; se-
dentários, baixa aptidão física, obesos e portadores de deficiência [...].

Conteúdos, aprendizagem e sua importância para as aulas educação física

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EDUCACAO FISICA NO CURSO NOTURNO

Em sua maioria o conteúdo mais presente nas suas aulas foi o esporte, sendo que 39 alunos tiveram
este conteúdo em algum momento do ensino médio.

Ainda que pouco, mas presente em algumas aulas outros conteúdos.

O trato com o conhecimento reflete a sua direção epistemológica e informa os requisitos para selecio-
nar, organizar e sistematizar os conteúdos de ensino. Pode-se dizer que os conteúdos de ensino
emergem de conteúdos culturais universais, constituindo-se em domínio de conhecimento relativa-
mente autônomos, incorporados pela humanidade e reavaliados, permanentemente, em face da reali-
dade social. (libâneo, 1985, p. 39 apud coletivo de autores, 1992, p. 31)

Ao mesmo tempo em que os alunos compreendem a educação física na perspectiva da saúde reno-
vada as opções de conteúdo estão extrema e estreitamente vinculadas a uma perspectiva esportivi-
zada. Isto não implica afirmar que os elementos constitutivos da tendência esportivizada 1 estejam to-
dos presentes, mas nos apontam que há um distanciamento entre as expectativas dos alunos e as
escolhas do professor.

“aprendi que ajuda a aumentar a musculatura e saúde também”. (aluno 3)

“corrigindo apenas tive um conteúdo, aprendi as regras do futsal e também a discutir bastante, bas-
tante mesmo, porque o professor custava aparecer na quadra depois de jogar a bola”. (aluno 16)

“que a prática de esportes é muito importante para manter o condicionamento físico, aumentar a dis-
posição etc.”. (aluno 29)

Quando apontado o conteúdo mais importante, retomamos a discussão da esportivização e da saúde


renovada, pelo fato de que em sua maioria a experiência dos alunos foi à prática do esporte, sendo
vista como saúde quando praticado. Porém alguns alunos ainda ressaltam a importância de outros
conteúdos.

“não tem o conteúdo mais importante, creio que todos são necessários”. (aluno 14);

“a prática do esporte, pois ajuda na saúde do adolescente”. (aluno 29);

Participação nas aulas de educação física

Esta questão convida –ou mesmo necessita – uma articulação com a questão seis que se refere à
participação da turma nas aulas. Nesta articulação é possível encontrar afirmações de que o aluno
(participante da pesquisa) participa, mas a turma não. Na mesma turma também se encontram algu-
mas incongruências com alguns alunos elogiando a participação da turma e outros afirmando exata-
mente o oposto.

“sim, pois eu gosto de praticar os esportes, eu jogo e aprendo muito com as aulas, todos os alunos
são bem participativos”. (aluno 34).

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“participo porque acho legal, mas na turma nem todos participam porque chegam cansados daí não
fazem nada. (aluno 15).

Novamente a reafirmação da concepção de saúde renovada surge com freqüência suficiente para ser
apontada como uma das principais correntes no entendimento dos alunos.

“sim, com bastante vontade e porque é importante para a saúde”. (aluno 6)

“a participação é ruim, poucos alunos jovens estão a praticar poucos exercícios físicos e ficam seden-
tários”. (aluno 10).

Facultatividade nas aulas de educação física

Quando buscamos compreender se existe alguma influência da lei que ampara a facultatividade nas
aulas com a na participação dos alunos ficou claro que em sua maioria 42 alunos desconhecem a lei
e apenas conhecem esta.

Dentre os conhecem sugerem:

“acho que esta lei é correta, pois muitos estão cansados ou não tem vontade de fazer” (aluno 6).

“muito bom porque as aulas de educação física têm muito desgaste” (aluno 7).

Conforme (cee/97) apud darido (1999, p.143),

[...] Seus pressupostos são questionáveis porque vinculam a área a um suposto gasto energético que
os alunos, já exaustos pelo trabalho, não teriam condições de suportar. Tal conclusão reflete uma
concepção ultrapassada de educação física, baseada em parâmetros energéticos e fisiológicos, e
desconhece a possibilidade da adequação de conteúdos e estratégias às características e necessida-
des dos alunos dos cursos noturnos [...].

Avaliação nas aulas de educação física

Em sua grande maioria os professores utilizam do critério participação das aulas práticas, comporta-
mento e desempenho para avaliar seus alunos.

“pela participação, respeito, comportamento, prática de esportes”. (aluno 26);

“pela participação, o desempenho. Uma aula aprendemos e na outra praticamos”.(aluno17);

Avaliação do processo ensino-aprendizagem é muito mais que do que simplesmente aplicar testes
levantar medidas, selecionar e classificar alunos. (coletivo de autores 1992, p 98)

Sugestões para as aulas de educação física

Diante de uma diversidade tão grande de conteúdos que temos na educação física infelizmente em
sua maioria o esporte toma conta das aulas não possibilitando outra proposta de aula para o aluno.
Com isso muitos alunos estão insatisfeitos com as aulas, outros que preferem o esporte preferem as-
sim, pois estão fazendo o que gostam ainda “apenas por fazer”.

“mais aulas diversificadas” (aluno 17);

“aulas livres, para praticarmos o que quisermos” (aluno 4);

“outros conteúdos, porque é só esporte e não gosto.” (aluno 42)

Conclusão

O presente artigo verificou a compreensão dos alunos sobre a educação física no ensino médio no-
turno, sendo primordial destacar que esta compreensão para os alunos se resume no esporte vincu-
lado a saúde, ou seja prática do esporte para uma melhor qualidade de vida. Isso acontece devido à
tradição adotada no cotidiano pedagógico da educação física. Os alunos têm como experiência o es-
porte sem nenhuma reflexão pedagógica, simplesmente o “jogar por jogar”. Sendo assim, não faz

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sentindo que outros conteúdos possam ser trabalhados nas aulas educação física ou a articulação
destes numa perspectiva de reflexão. Não obstante também cabe a nós professores proporcionar no-
vos conteúdos e também motivá-los para uma maior participação para que assim a educação física
não fique apenas vinculada a um único conteúdo.

Na rede estadual encontra-se no ppp como objetivo geral: “proporcionar por meios e instrumentos
que permitam ao educando compreender o contexto em que está inserido para que possa agir de
forma crítica e transformadora. À medida que adquire a capacidade de elaborar os conhecimentos de
forma sistemática melhorando assim sua qualidade de vida”. Este mesmo projeto político pedagógico
define a concepção histórico-cultural ou social como sua linha filosófica. Logo percebemos que esta
linha não é seguida, pois acabam se manifestando tendências mais tradicionais nas aulas.

Evidenciamos ainda que apesar dos entrevistados cursarem o ensino médio noturno isso não inter-
fere nas aulas, pois a grande maioria está sempre disposta a fazer a aula - independente se traba-
lham e mesmo do que farão nas aulas. Ainda assim não são todos os alunos considerados trabalha-
dores e poucos conhecem a lei da facultatividade nas aulas de educação física no ensino médio no-
turno. A educação física deve-se integrar à cultura corporal e não apenas desenvolver a saúde e a
busca da esportivização, que acaba por não refletir o que é essencial diante da sociedade capitalista
que estamos inseridos.

O que fica claro é o interesse de aulas diferentes, a prática de outros conteúdos. Ainda afirmam que
aprendem com as aulas de esportes. Evidenciamos de acordo com o questionário aplicado aos alu-
nos que a maioria deles participa das aulas, contudo estas aulas se organizam exclusivamente pela
prática. Como hipótese podemos refletir que os que ficam sem participar o fazem exatamente pela
falta de diversidade.

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