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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR PALOTINA

CARACTERIZAÇÃO DE
ÁGUAS RESIDUÁRIAS

Docente: Profa. Dra. Eliane Hermes


POLUIÇÃO DAS ÁGUAS
A poluição das águas é a adição de substâncias ou de formas de
energia que, direta ou indiretamente, alterem a natureza do
corpo d’água de uma maneira tal que prejudique os legítimos
usos que dela são feitos (VON SPERLING, 2014).

Fonte: Von Sperling (2014)


IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
O conhecimento das quantidades geradas
e as principais características físico-
químicas dos resíduos é fundamental para
concepção e dimensionamento de sistemas
de tratamento e/ou disposição na natureza,
ou aplicação em processos
biotecnológicos.

RESÍDUO SÓLIDO
teor de ST for superior a 15-20 dag L-1

RESÍDUO SEMI-SÓLIDO (LIQUAME)


teor de ST entre 8 e 15 dag L-1

RESÍDUO LÍQUIDO (ÁGUA RESIDUÁRIA)


teor de ST for inferior a 8 dag L-1
PARÂMETROS IMPORTANTES
Parâmetros Físicos:

✓ TEMPERATURA

• Nas operações de natureza biológica a velocidade de


decomposição do esgoto aumenta com a temperatura.

• Sistemas físico-químicos

• Sistemas anaeróbios

• Sistemas aeróbios como lagoas aeradas, lodos ativados, etc. (a


solubilidade do O é menor nas temperaturas mais elevadas);
✓ ODOR

- ORIGEM
Há alguns principais odores, bem característicos dos esgotos
domésticos (VON SPERLING, 2014):
– Odor de mofo
– Odor de ovo podre
– Odores variados: de produtos podres, como de repolho,
legumes, peixes podres; de matéria fecal; de produtos rançosos;
de acordo com a predominância de produtos sulfurosos,
nitrogenados, ácidos orgânicos, etc.
✓ TURBIDEZ
❑ SS
❑ origem natural: presença de partículas de rochas, argila
e silte, algas e outros microorganismos.
❑ origem antropogênica: despejos domésticos e
industriais, microrganismos e erosão.

✓ COR
❑ SD

❑ origem natural: a decomposição da matéria orgânica, ferro e


manganês

❑ origem antropogênica: resíduos industriais e esgotos domésticos.

❑ Cor verdadeira e cor aparente


✓ SÓLIDOS
- Evaporação a 105 °C

Classificação (SOUZA, 2012):


❑ Tamanho e estado
❑ Características químicas
❑ Decantabilidade

➢ SD: alterações no sabor e problemas de corrosão


➢ SS: problemas estéticos e prejuízo a atividade
fotossintética

➢ Sólidos fixos e voláteis

➢ Sólidos sedimentáveis e flutuantes


Parâmetros Químicos:

✓ pH

Fundamental no controle de processos de tratamento (SOUZA, 2012).

➢ Taxa de crescimento dos microrganismos

➢ Equilíbrio de compostos químicos

➢ Precipitação de metais

➢ Processo de coagulação/floculação
✓ OXIGÊNIO DISSOLVIDO (OD)
A quantidade de oxigênio que pode estar presente na água é
regulada por vários fatores, tais como:

❑ solubilidade do gás

❑ pressão parcial do gás na atm

❑ temperatura

❑ conc. de impurezas na águas

A presença de OD em águas residuárias é desejável


por prevenir formação de substâncias mal cheirosas.
✓ ALCALINIDADE

Quantidade de íons na água que reagirão para neutralizar os íons H.

Constituintes da alcalinidade (Von Sperling, 2014):

➢ Bicarbonatos
➢ Carbonatos
➢ Hidróxidos

pH > 9,4: hidróxidos e carbonatos


pH entre 8,3 e 9,4: carbonatos e bicarbonatos
pH entre 4,4 e 8,3: apenas bicarbonato

IMPORTÂNCIA
✓ ACIDEZ

Capacidade da água em resistir as mudanças de pH causadas pelas


bases (VON SPERLING, 2014).

CO2 + H2O H2CO3

pH > 8,3: ausência de acidez (CO2)

pH entre 4,5 e 8,3: acidez pelo CO2

pH < 4,5: acidez por ácidos minerais fortes


✓ MATÉRIA ORGÂNICA

Composição principal: C, H, O e N, P, S e Fe

Matéria carbonácea divide-se em:

➢ não biodegradável
➢ biodegradável

Proteínas: alimentos crus e carnes magras

Açúcares, amidos e celulose: mais encontrados em águas residuárias

Lipídios: gorduras, óleos e graxas


Métodos indiretos para quantificação da matéria orgânica ou seu
potencial poluidor.

➢ Medição do consumo de oxigênio (DBO e DQO)

➢ Medição do carbono orgânico (COT)

✓ DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO)

Quantidade de O necessária para oxidar bioquimicamente a matéria


orgânica biodegradável.

DBOu e DBO5
A realização do teste de DBO possibilita obter as seguintes
informações (Souza, 2012):

➢ indicação aproximada da fração biodegradável do efluente

➢ taxa de degradação do despejo

➢ taxa de consumo de O em função do tempo

➢ determinação aproximada da quantidade de O requerido para a


estabilização da matéria orgânica biodegradável presente no despejo
✓ DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO (DQO)

Quantidade de O necessária para oxidar quimicamente a matéria


orgânica.

Oxidação química com K2Cr2O7


Carbono orgânico é convertido em CO2 e H2O

VANTAGENS

Relação DQO/DBO: importante no estudo de possíveis tipos de


tratamento GRAU DE BIODEGRADABILIDADE
Relação esgotos urbanos: 1,7 a 2,4

Efluentes industriais: VARIÁVEL

Tendência da relação aumentar a medida que o efluente


passa pelas etapas de tratamento

Relação DQO/DBO alta (> 4,0) Relação DQO/DBO baixa (< 2,5)
A fração não biodegradável é alta A fração biodegradável é alta
Se a fração não biodegradável não
for importante, possível indicação
para tratamento biológico
Se a fração não biodegradável for Indicação para tratamento biológico
importante, possível indicação para
tratamento físico-químico
Fonte: SOUZA (2012)
✓ ÓLEOS E GRAXAS

❑ Hidrocarbonetos, ésteres, óleos, gorduras, ceras e ácidos


orgânicos de cadeia longa

❑ INDESEJÁVEIS
- podem aderir às paredes, produzindo odores
desagradáveis,
- formam escuma que poderá vir a entupir os
filtros; interferem e inibem a vida biológica;
trazem problemas de manutenção (JORDÃO &
PESSÔA, 1995).
✓ COMPOSTOS TÓXICOS

Águas residuárias industriais: cianetos, sulfetos, metais pesados

Tratamento biológico torna-se INVIÁVEL

✓ METAIS PESADOS

Efeitos adversos a saúde

Detecção: indicativo da natureza da atividade que o gerou


✓ NUTRIENTES
Nitrogênio

NH4: consumo de OD

Processo de nitrificação e consumo de OD

A determinação da forma predominante de N pode fornecer


informações sobre o estágio de poluição:

➢ Poluição Recente
➢ Poluição Remota

Norgânico: proteínas, aminoácidos e ureía


Amônia: 1° estágio da decomposição do Norgânico
Nitrito: estágio intermediário da oxidação da amônia
Nitrato: produto final da oxidação da amônia
Fósforo

Origem natural e antrópica

Estimula a produção em ambientes aquáticos, perturbando


o seu equilíbrio e sua qualidade

Forma iônica ou complexada: FOSFATO


PADRÕES DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES
• Resolução CONAMA 430/2011
• Manual de Licenciamento do IAP

Resolução CONAMA 430 (2011)

DBO: até 50 mg L-1


DQO: até 150 mg L-1
ESGOTO DOMÉSTICO

- Constituídos essencialmente de despejos domésticos, uma parcela de


águas pluviais, águas de infiltração, e eventualmente uma parcela não
significativa de despejos industriais, tendo características bem definidas.

Fonte: Von Sperling (2014)


Provém principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou
quaisquer edificações que contenham instalações de banheiros,
lavanderias, cozinhas, ou qualquer dispositivo de utilização da água para
fins domésticos. Compõem-se essencialmente da água de banho, urina,
fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes, águas de lavagem.

Fonte: Von Sperling (2014)


Fonte: Von Sperling (2014)

Fonte: Von Sperling (2014)


EFLUENTES DA AQUICULTURA
❑ Viveiros de Criação de Peixe e Camarão
Impactos potenciais: quantidade elevada de m.o. e nutrientes (N e P) nos efluentes
Ração não consumida e excrementos dos peixes: N e P (EMBRAPA, 2013)

Variáveis físicas e químicas do efluente de criação do camarão da Amazônia e da tilápia do Nilo


Parâmetro Efluente tilápia do Nilo Efluente camarão da Amazônia

pH 7,5 ± 0,8 8,1 ± 0,5


OD (mg L-1) 4,4 ± 1,3 5,1 ± 0,6
CE (µS cm-1) - 68 ± 6
Turbidez (UNT) 13 ± 12 61 ± 21
P-total (µg L-1) 74,9 ± 18,4 229 ± 69,7
N-total (mg L-1) 0,34 ± 0,06 0,47 ± 0,15
Fonte: Adaptado de Henry-Silva e Camargo (2008)

Estima-se que somente 25 a 30% do N e P fornecido nas


dietas será aproveitado para a formação da biomassa de
peixes e camarões (CASILLAS-HERNÁNDEZ et al., 2006) Fonte: Embrapa (2013)
❑ Abate de Peixes

Filetagem: consumo de 8 a 9 L de água por Kg de filé process. (Cosmann et al., 2012)

Caracterização de efluente de abate de tilápia

Fonte: COSMANN et al. (2012)


❑ Processamento da pele de peixe

O processo de curtimento transforma a pele em material inerte

A maioria dos curtumes brasileiros utiliza o cromo como agente curtente. No entanto
existem vários tipos de curtente como: os naturais, à base de tanino vegetal, tanino
sintético, ou ainda à base de alumínio (SOUZA, 2007; SOUZA, 2004).

Naturais: angico, o quebracho, mimosa e acácia negra (SOUZA, 2007).

Os efluentes de curtume apresentam


grande quantidade de material putrescível
(proteínas, sangue e fibras musculares) e
substâncias tóxicas (sais de cromo, sulfeto
de sódio, cal livre, compostos arsenicais).
Fluxograma do processamento de peles de tilápia
❑ Ranicultura
A qualidade do efluente gerado nas baias poder estar relacionada à densidade de
estocagem dos animais e a qualidade do alimento fornecido (digestibilidade).

Perda significativa dos nutrientes da ração para o


ambiente, resultando em degradação da qualidade da
água (Borges et al., 2012).

Características do efluente: altas concentrações de nutrientes dissolvidos,


principalmente amônia e fósforo, alta CE e baixa concentração de OD, quando
comparado aos efluentes de outras atividades da aquicultura (Borges et al., 2012).

VARIÁVEIS VALOR
Caracterização de efluente
pH 7,1
de criatório de rãs
DBO5 (mg L-1) 76,5
STS (mg L-1) 21,0
Fonte: Borges et al. (2014)
STD (mg L-1) 135,7
Fósforo (µg L-1) 570,5
Nitrogênio amoniacal (µg L-1) 2.785
❑ Abate de Rãs

Atualmente os abatedouros em operação abatem diariamente em média, de 1.500 a


4.000 animais (peso médio de 180-200 g)

Resíduos líquidos: resíduos sanitários,


sangue das rãs e água utilizada no
processo produtivo

Fluxograma da linha de abate


Fonte: Moura e Ramos (s/d)
POTENCIAL TÓXICO DOS EFLUENTES

Águas residuárias = grande concentração de material orgânico

Decréscimo de OD no meio

✓ morte de animais
✓ exalação de odores fétidos e de gases agressivos
✓ eutrofização de rios e lagos
✓ dificultar o tratamento da água para abastecimento público
POLUIÇÃO POR MATÉRIA ORGÂNICA E AUTODEPURAÇÃO DOS
CURSOS DE ÁGUAS

AUTODEPURAÇÃO: restabelecimento do equilíbrio no meio


aquático, por mecanismos essencialmente naturais, após as
alterações induzidas pelos despejos afluentes (VON SPERLING,
2005).

compostos orgânicos compostos inertes

O conhecimento do fenômeno de autodepuração é fundamental para:

1. Utilizar a capacidade de assimilação dos rios


2. Impedir o lançamento de despejos acima do que possa suportar o
corpo d`água.
ZONAS DE AUTODEPURAÇAO

1 – Zona de águas limpas

2 – Zona de degradação

3 – Zona de decomposição
ativa

4 – Zona de recuperação

5 – Zona de águas limpas


Existem algumas formas que podem ser utilizadas para o controle
da poluição por matéria orgânica (VON SPERLING, 2005):

A) TRATAMENTO DE ESGOTOS

B) REGULARIZAÇÃO DA VAZÃO DO CURSO D`ÁGUA

C) AERAÇÃO DO CURSO D` ÁGUA

D) AERAÇÃO DE ESGOTOS TRATADOS

E) ALOCAÇÃO DE OUTROS USOS PARA CURSO D’ ÁGUA


CONTAMINAÇÃO POR MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS

Não gera um impacto com relação à biota do corpo d´água em si,


mas afeta alguns dos usos preponderantes a ele destinados, tais
como o abastecimento de água potável e a balneabilidade (VON
SPERLING, 1996).

Fatores que contribuem para a mortandade bacteriana:

✓ FÍSICOS: luz solar, temperatura, floculação, sedimentação


✓ FÍSICO-QUÍMICOS: salinidade, pH, toxicidade química
✓ BIOLÓGICOS: falta de nutrientes, predação, competição

Bactérias e vírus: representadas pelos coliformes termotolerantes


(Eschericha coli)
Protozoários e helmintos: remoção por sedimentação
Padrões de coliformes termotolerantes (CONAMA 357/2005)
Padrão Classe Corpo Padrão de
Parâmetro Unidade Receptor Lançamento
1 2 3 4
Colif. NMP/1000
Termotolerantes ml 200 1.000 4.000 - Não há
Nota: Classe Especial: não são admitidos lançamentos de efluentes, mesmo que tratados
EUTROFIZAÇÃO DOS CORPOS D’ ÁGUA
As plantas aquáticas podem ser classificadas dentro das seguintes
categorias (THOMANN & MUELLER, 1987)

❑ Plantas que se movem livremente com a água (plantas


aquáticas planctônicas): incluem o fitoplâncton microscópico,
plantas flutuantes, cianobactérias que podem flutuar na superfície e
se mover com a corrente superficial.
❑ Plantas fixas (aderidas ou enraizadas): incluem as plantas
aquáticas enraizadas e os organismos aderidos (algas bênticas).

Crescimento excessivo de plantas aquáticas, tanto


planctônicas quanto aderidas, em níveis tais que sejam
considerados como causadores de interferências com
os usos desejáveis dos corpos d’ água
(THOMANN e MUELLER, 1987)
O processo de eutrofização apresentam alguns efeitos indesejáveis
(THOMANN e MUELLER, 1987):

- problemas estéticos e recreacionais

- condições anaeróbias no fundo do corpo d’água

- eventuais mortandades de peixes

- maior dificuldade e elevação nos custos de tratamento de água

- toxicidade das algas

- redução da navegação e capacidade de transporte

- desaparecimento gradual do lago como um todo

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