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A importância do «Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória»

Lídia Veiga

Estou convencida que um dos documentos mais importantes que temos ao nosso
dispor, nas escolas, é o «Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória».
O que teremos de mudar para que o «Perfil» possa passar de um instrumento mais ou
menos estranho para se tornar na principal fonte de inspiração das nossas preocupações e das
nossas práticas como docentes?
A Escola em que eu quero viver e trabalhar é uma Escola onde o referido «Perfil» seja
levado a sério, constituindo-se como um documento nuclear que permita, finalmente, que a
educação dos alunos possa ter em conta as necessidades e as exigências do mundo no século
XXI. Numa sociedade como aquela em que vivemos, marcada pelo egoísmo, em crise de
valores e onde todos nós estamos sujeitos a uma competitividade doentia, é necessário que
nas escolas não desvalorizemos a formação pessoal e social dos nossos alunos. Por vezes,
parece-me que andamos demasiado preocupados com os conteúdos das nossas disciplinas,
esquecendo que os alunos têm de aprender, também, a ser mais autónomos, mais solidários,
mais criativos, mais reflexivos e mais resilientes. Vivem num tempo onde lhes aparece tudo
feito. Por isso, não sabem esperar e lidam mal com o sofrimento. Ainda que esta situação
tenha a ver com o mundo que os rodeia e o modo como as famílias os educam, a Escola,
apesar disso, não pode ser indiferente ao problema em questão.
Por isso, é que é necessário pensarmos o nosso trabalho como professores em função
desta realidade, não continuando obcecados, apenas, com a necessidade de os familiarizar
com o conhecimento e os procedimentos contidos nos programas.
Pergunto mesmo, onde está o problema de não aprenderem tanta Matemática,
Português ou História (como se diz que eles deveriam aprender), se isso permitir que eles se
tornem mais capazes de avaliar os seus pontos fracos e fortes, de identificar e controlar
emoções, de aprenderem a adaptar-se a situações adversas, de desenvolverem empatia pelos
outros e suas necessidades, de aprenderem a estabelecer relacionamentos diversificados e
gratificantes ou de cooperarem, negociarem e assumirem decisões de forma informada e
responsável?
Na minha perspetiva, o que o «Perfil» propõe, em termos de desenvolvimento pessoal,
autonomia, relacionamento interpessoal, pensamento crítico, criatividade, bem-estar,
capacidade de raciocinar ou de decidir quais as melhores estratégias para se enfrentarem
problemas é que deveria constituir a prioridade educativa das escolas. São estas competências
que permitem a qualquer um de nós agir de forma inteligente, aceder à informação de que
necessitamos ou encontrar a maioria das respostas que, na realidade, nas escolas não são,
nem poderão ser, ensinadas. Esta não é uma proposta irresponsável, já que não poderá ser
dissociada do facto de, atualmente, nós termos acesso a uma multiplicidade e diversidade de
recursos informativos que permitem concretizar uma tal possibilidade. Hoje temos na Internet
toda a informação que necessitamos, o que temos é de a saber procurar e utilizar. Daí que
sejam as competências que permitem lidar com tais recursos que os alunos têm de ser capazes
de aprender a fazer.
Isto significa que é necessário que, nas escolas, se reflita se é necessário ensinar Platão
ou se se deve ensinar as competências que permitam a qualquer aluno, um dia e necessitando
disso, sentar-se em frente de um computador e procurar na Internet informações sobre esse
filósofo e as suas ideias, de forma a compreendê-las e a utilizá-las. É que um estudante só faz
isso se tiver tido oportunidade de aprender a interpretar textos, a relacionar argumentos, a
inferir e a categorizar informações, bem como a analisá-las e a avaliá-las. Falo de Platão, mas
posso falar de conceitos como o de inércia ou de homeostasia, dos factos da História ou dos
cálculos das razões trigonométricas.
Em suma, na Escola, tal como na vida, se são os alunos que devem aprender a pescar o
peixe que necessitam para comer, também deverão ser eles que terão de aprender a pescar,
pescando. É para esse caminho que aponta o «Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade
Obrigatória».

TAREFA:

Expliquem porque é que este texto pode ser identificado com os pressupostos do paradigma
pedagógico da aprendizagem (Trindade & Cosme, 2010) e enunciem, de forma fundamentada,
quais as objeções de alguém que se enquadre no paradigma pedagógico da comunicação
(idem).

PRAZO DE ENTREGA:

Turma de 4ª feira: Enviar para o e-mail do professor até às 20 h. do próximo dia 26 de


fevereiro de 2024

Turmas de 5ª feira: Enviar para o e-mail do professor até às 20 h. do próximo dia 27 de


fevereiro de 2024

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