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Colégio Estadual Francisco Neves Filho. EFMN.

Disciplina: Sociologia 4° ano do curso Formação de Docentes 2023.


Professor: Sandro S. Rosa

Tema da aula: Ética na prática Docente.


Na aula anterior, estudamos o conceito de ética e moral e suas singularidades. Vimos que a ética é uma área da filosofia que se preocupa em
estudar o comportamento dos indivíduos e analisá-los para compreender as várias formas de relações sociais, desde as interações que ocorrem dentro
do ambiente familiar, social e profissional.
Nesta aula, vamos estudar qual é o papel da ética na prática docente, e analisar como ela compreende e avalia as mudanças que ocorrem na
sociedade e, principalmente dentro do ambiente escolar, vamos lá?
A ética profissional é um dos critérios mais valorizados no mercado de trabalho. Ter uma boa conduta no ambiente de trabalho pode ser o
passaporte para uma carreira de sucesso. Mas afinal, o que define uma boa ética profissional e qual sua importância? Acompanhe!
A vida em sociedade, que preza e respeita o bem-estar do outro, requer alguns comportamentos que estão associados à conduta ética de cada
indivíduo. A ética profissional é composta pelos padrões e valores da sociedade e do ambiente de trabalho que a pessoa convive.
No meio corporativo, a ética profissional traz maior produtividade e integração dos colaboradores e, para o profissional, ela agrega credibilidade,
confiança e respeito ao trabalho.

A ética, a humildade e a qualidade na prática docente.

  Não restam dúvidas de que a profissão de um uma pessoa marca profundamente sua existência, especificamente quando ele integra trabalho,
inteligência e afetividade. Ao ingressar na profissão de professor, o mesmo terá que cumprir integralmente os deveres inerentes à cidadania. O local de
trabalho deve ser construído com honestidade e ética, pois a mentira e a inveja corrompem todo o sistema articulado de trabalho, como assevera Pio
XII: “A opinião pública que se alimenta do erro e da calúnia envenena o corpo social”.
Sabe-se que há uma estreita interação entre o homem e o seu grupo social. Tanto pode o indivíduo influenciar o grupo (homem forte), como o
grupo influenciar o indivíduo (grupo forte). É de desejar que o ideal particular e o ideal coletivo se fundam no plano ético. O  indivíduo, por egoísmo, vê
apenas o seu interesse pessoal, sacrifica o grupo e promove sua desagregação e decadência. No entanto, com o passar do tempo, isto depois refletirá
sobre ele.
Portanto, nenhum sistema educacional pode produzir frutos numa sociedade se não for servido por pessoas dignas, com autoridade moral,
competência profissional e total devoção à tarefa que lhes é confiada. Na instituição educacional, os que lecionam terão de ter a convicção da ética no
magistério através de seus deveres múltiplos como:
Em relação a si próprio.
Ele deverá procurar aperfeiçoar-se continuamente, como ser humano e como educador. Não deixar de planejar seu trabalho pedagógico, a fim de
evitar erros e imprevistos. Sempre refletir sobre a sua prática educativa, fazendo uma autoanálise do seu comportamento, do direcionamento do processo
educativo e do conhecimento que informa aos alunos. Não esquecer de que dentro da escola não há competição, e sim pessoas úteis.
Em relação ao aluno.
Respeitar a pessoa humana que ele é. Não dar mais atenção a uns alunos em relação aos outros. Aproveitar todas as oportunidades das quais
possa tirar proveito educativo. Atuar com moderação, mas com firmeza. Ao orientar as atividades escolares, considerar que a realidade humana de cada
aluno é fundamental. O professor deve saber mostrar ao aluno a beleza e o poder das ideias, não detendo o saber como objeto de dominação e
autoritarismo. Não se esquecer de valorizar as diferenças socioculturais, pois a diversidade na sala de aula torna o ambiente escolar rico e dinâmico. No
momento de corrigir as avaliações, ser coerente, deixando de lado simpatias e atitudes mesquinhas. Proporcionar debates com os alunos, onde todos
possam formar o seu pensamento crítico, não sendo levados a pensar e agir do mesmo modo.
Em relação à profissão.
Procurar sempre honrar e dignificar a profissão. Respeitar a hierarquia, o segredo profissional, a sua especialidade sem desrespeitar as demais.
Não se limitar ao simples cumprimento do dever. Participar e colaborar. Orientar sua conduta segundo uma elevada escala de valores. Avaliar
constantemente seu trabalho, evitando a rotina e a improvisação. Respeitar colegas que lecionam outros conteúdos não denegrindo, jamais, a
imagem dos mesmos. Não esquecer que uma das dimensões da educação é a educação moral.
Em relação à sociedade.
Deve-se procurar realizar as ideais de cultura de seu tempo. Procurar colaborar com toda obra de caráter educativo e cultural . Colaborar com as
manifestações culturais, religiosas, filantrópicas da comunidade, dando o exemplo de como pode-se formar cidadãos participativos, pois o exemplo é o
melhor recurso didático. Não esquecer que há dicotomia entre a teoria e ação. O agir não pode contradizer o ensinar.
Em relação aos seus colegas.
Deverá ser bem camarada, evitando a concorrência desleal.
Em relação às famílias dos alunos.
Não evitar contato com ela, caso venha procurá-lo. Dizer a verdade para seus responsáveis.
Enfim, o professor, pela natureza de sua atividade, encontra-se mergulhado numa situação ética, devido ao envolvimento de decisões, escolhas e
influências.

A humildade na docência.
Na prática, a ética do professor se manifesta no nível de aplicação pessoal que ele imprime ao seu trabalho com humildade. Ele precisa desenvolver
em si o valor da humildade, porque ser humilde é reconhecer, com facilidade e prontidão, seus limites pessoais, intelectuais, acadêmicos, técnicos e de
saber geral.
O limite a partir do qual o professor não consegue concretizar a magia da comunicação (às vezes pelo próprio saber acumulado), faz com que ele
não perceba que passou a ser um monólogo em sala de aula.
Nada é fácil frente a este desafio, pois, muitas vezes, não se trata de reconhecer limites, mas sim de conhecê-los, ou seja, descobri-los, já que
muitos partem da “estaca zero” na questão.

A diferença é que, ao conquistar e praticar o “ser humilde”, o professor abre-se mentalmente para admitir equívocos, impropriedades,
inadequações, sem que se sinta inferiorizado diante dos alunos, da escola, dos colegas ou de quem quer que seja.
A humildade é uma condição importantíssima para se conseguir a ética que move o professor do século XXI. Essa humildade não implica
subserviência e abdicação do poder que lhe é inerente e necessário. Dito mais instrumentalmente, do ponto de vista da humildade como instrumento
facilitador, conseguir pontos significativos na escala da humildade é uma das formas consistentes de tornar-se, de vir a ser ou de consolidar-se como um
professor ético. Isso é um exercício constante e inacabável, assim como é interminável o aprender e infinito o desenvolvimento humano.
Finalmente, a ética existe em si mesma e o professor do século XXI tem o poder de escolher ser ou não ético em suas atividades. “O cumprimento
da ética é questão de fundo moral”.

A ética do professor e a qualidade do seu trabalho.


O compromisso das funções docentes, no século XXI, não é apenas transmitir o conhecimento, mas, sobretudo, aquele que subsidia o aluno no
processo de construção do saber. Para tanto, é imprescindível ser um profissional que domine, não só o conteúdo de seu campo específico, mas também
a metodologia e didática eficientes na missão de organizar o acesso ao saber dos alunos, ao saber para a vida, com ética e dignidade, valorizando a vida,
o meio ambiente e a cultura.
Em outras palavras, muito mais que transmitir conteúdos das matérias organizadas para o desenvolvimento intelectual da humanidade, é preciso
ensinar a ser cidadão, mostrar aos alunos seus deveres e seus direitos, subsidiando-os para que saibam defendê-los. É preciso ainda mostrar que existem
deveres e que as responsabilidades sociais devem ser cumpridas por cada um para que todos vivam com dignidade.
Assim, é importante que o professor trabalhe valores, fazendo com que seu aluno perceba o outro e quem está ao seu redor, formando cidadãos que
saibam a importância de respeitar, ouvir, ajudar e amar o próximo.
Cabe ao professor observar a si próprio (autoconhecimento) também, olhando para o mundo e sugerindo que os alunos façam o mesmo, não
ensinando apenas regras, teorias e cálculos. O professor deve ainda ser um mediador de conhecimento, utilizando sua situação privilegiada em sala de
aula, não só para instruções formais, mas também para despertar a curiosidade dos alunos, ensiná-los a pensar, a ser persistentes, a ter empatia com o
próximo, a ser autores e não expectadores no palco da existência.
Ser amigo, saber ouvir e colocar-se no lugar do outro, trabalhando as mentes e os corações, tem um valor inestimável que deve mobilizar o
professor a questionar-se: “Até que ponto o que eu ensino vai servir para a vida de meus alunos? Isso vai colaborar para o progresso da sociedade?”.
Sem dúvida, o professor do século XXI desempenha inúmeros papéis que são importantíssimos para o desenvolvimento das futuras gerações,
cabendo-lhe estimular a solidariedade, a cooperação, a valorização individual e em grupo. Deve, portanto, encarar com muita seriedade sua profissão,
trabalhar para esclarecer seus alunos e fazer com que eles reflitam sobre a realidade em que vivem. É fundamental que dê exemplo de ética, humildade e
cidadania, atentando-se às transformações do mundo e do seu país na atualidade geral e na realidade de seus alunos. Ensinar a pensar, estimular os
alunos a debater questões e deixá-los livres para opinarem, é de extrema importância para um aprendizado saudável.
Como profissional em movimento permanente e constante, que estuda, se aperfeiçoa, qualifica-se para exercer de maneira cada vez melhor a
profissão docente, o professor deve procurar conhecer “o quanto possível”, particularmente, cada um que educa, com um novo olhar sobre o processo de
ensino e aprendizagem.
Que use e incentive os alunos a utilizar as novas tecnologias, pondo fim à “descoberta”. Que os estimule a desenvolver o pensamento, a observação
do mundo, e que não dependa somente dos livros para dar suas aulas, mas sim de pesquisas e assuntos que possam ser apresentados em aula com a
participação dos estudantes, incentivando o pensamento, a autonomia, o trabalho em grupo e o cumprimento de tarefas com responsabilidade e
coerência.
Como professor, sua primeira função é mostrar ao educando que ele é apenas um mediador, uma ponte que pode ajudá-lo com seu conhecimento a
atingir os seus próprios objetivos e encontrar o seu próprio caminho. O professor pode trazer as situações do mundo para a sala de aula e explorá-las e
enriquecê-las paralelamente com o conteúdo. Pode ainda trabalhar questões complexas de forma prática, trocando experiências e sendo muito mais que
um professor para seus alunos.
Na medida do possível, o professor deve procurar trazer a família para dentro da instituição de ensino, mostrando que todos fazem parte de uma
mesma sociedade. Também deverá considerar a vivência do aluno, seu dia-a-dia, suas questões familiares, seu emprego, lazer, etc.
O professor do século XXI deve estar preparado para imprevistos, manter-se equilibrado e seguro do que está ensinando, transmitir segurança para
os alunos e observar e descobrir as potencialidades individuais de cada um. Assim, ele deverá ajudar a desenvolver essas potencialidades, respeitando
seus alunos como seres humanos únicos e seus ritmos de aprendizagem, ajudando-os a aceitarem as diferenças (inclusão) e investindo na eliminação de
preconceitos e atitudes incorretas que os impedem de enxergar o mundo com clareza.
Saber inovar e criar, compartilhar, dialogar, ser um profissional politizado, oferecer alternativas para os educandos, desenvolver interações
criadoras e dialéticas, perceber se seus alunos estão entendendo o assunto e não cobrar a memorização de conteúdos, faz do professor uma parte
fundamental para o progresso e desenvolvimento da educação.
O professor ainda possui a oportunidade de mudar, disciplinar, reconstruir e enriquecer a vida de seres humanos com valores acadêmicos, morais e
espirituais. Para tanto, precisa superar sua onipotência, sua concepção de dono do saber, de quem se esconde atrás de avaliações dificílimas e se
compraz em reprovar alunos.
Essa postura do professor no século XXI pode parecer excessiva e utópica, sobretudo, devido à desvalorização dos profissionais da educação como
agentes e mediadores de conhecimento. Já dizia Paulo Freire: “me movo como educador, porque primeiro me movo como gente.”, acredita-se que o
professor pode levar os educandos a terem curiosidade de querer fazer, querer aprender, que ainda está em tempo de nos desprendermos do
tradicionalismo arcaico e da qualificação da educação.
O professor deve ser capaz de olhar uma mesma situação de diversos ângulos e saber a hora certa de intervir e reagir às dificuldades, mobilizando
esforços para melhorar a sua própria situação. Com isso, ele propicia aos alunos momentos que os levem a querer buscar o saber, de modo que não
sejam simplesmente espectadores do processo de ensino e aprendizagem, mas sim protagonistas capazes e conscientes de seu papel na sociedade.

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