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Contabilidade e Informação Financeira

Capítulo 4: Inventários e ativos biológicos


Os inventários são ativos:

• detidos para venda no decurso ordinário da atividade empresarial, resultantes:


→ da compra; ou
→ do processo de produção.
• na forma de materiais ou consumíveis a serem aplicados no processo de produção ou
na prestação de serviços.
Ativo Biológico (Consumível/de Produção): animal ou planta vivos.

Produto Agrícola: produto colhido dos ativos biológicos.

4.1 Conceitos Relevantes


(Compras)

Mercadorias - respeita aos bens adquiridos pela empresa com destino a venda sem sofrerem
qualquer alteração no seio da empresa.

Matérias-primas, subsidiárias e de consumo:

o Matérias primas - bens que se destinam a ser incorporados materialmente nos


produtos finais.
o Matérias subsidiárias e de consumo - bens necessários à produção que não se
incorporam materialmente nos produtos finais.

Produtos acabados e intermédios - respeita aos principais bens provenientes da atividade


produtiva da empresa, assim como os que, embora normalmente reentrem no fabrico, possam
ser objeto de venda nas condições em que se encontram.
Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos:

o Subprodutos – respeita aos bens de natureza secundária provenientes da


atividade produtiva e obtidos simultaneamente com os principais.
o Desperdícios, resíduos e refugos – respeita aos bens derivados do processo
produtivo que não sejam de considerar na conta anterior.

Produtos e trabalhos em curso - respeita aos que se encontram em fabricação ou produção,


não estando em condições de ser armazenados ou vendidos.

Ativos biológicos - integra os animas e plantas vivos, no âmbito da atividade agrícola, quer
consumíveis no decurso da ciclo normal da atividade quer de produção ou regeneração.

Ativos biológicos:

• Consumíveis - respeita aos ativos biológicos que estejam para ser colhidos como produto
agrícola ou vendidos como ativo biológicos (o gado destinado à produção de carne, gado
detido para venda, peixe em aquacultura e árvores que estejam em desenvolvimento para a
obtenção de madeiras).

• De produção - respeita aos ativos biológicos que não se enquadram na conta anterior. Os
ativos biológicos de produção não são produtos agrícolas mas, antes, de regeneração própria
(gado para obtenção de leite, vinhas e árvores de fruto).

Reclassificação e regularização de inventários e ativos biológicos – é uma conta que serve de


contrapartida ao registo de quebras, sobras, saídas e entradas por ofertas, bem como a
quaisquer outras variações nas contas de inventários e ativos biológicos não derivadas de
compras, vendas ou consumos.

• Sendo uma conta transitória, deve ficar saldada. O momento em que é saldada varia
em função do sistema de inventário utilizado:
o Em SIP, estará sempre saldada ao longo do período;
o Em SII, será saldada à data do balanço.

Adiantamentos por conta de compras - regista os pagamentos efetuados pela entidade


relativos a compras cujo preço esteja previamente fixado.

4.2 Reconhecimento
O custo de um item de inventários deve ser reconhecido como ativo se, e apenas se:

• for provável que qualquer benefício económico futuro associado com o item flua para
a entidade, e
• o custo puder ser mensurado fiavelmente.

4.3 Mensuração dos inventários e dos AB


Em termos de mensuração, os inventários devem ser considerados pelo seu custo ou pelo seu
valor realizável líquido, dos dois o mais baixo.

• Custo histórico (de aquisição ou de produção)


o Custo de aquisição: Preço de compra (deduzido dos descontos comerciais e
abatimentos) + outros gastos incorridos para colocar os inventários no seu
local e na sua condição atual.
o Custo de produção: Matérias Consumidas + MOD + GGF
• VRL é o preço de venda estimado no decurso ordinário da atividade empresarial
menos os custos estimados de acabamento e os custos estimados necessários para
efetuar a venda.

Mensuração inicial dos ativos biológicos: Justo valor menos os custos de alienação (exceção
se a mensuração não for fiável).

Mensuração inicial do produto agrícola: Justo valor menos os custos de vender no momento
da colheita.

Regra geral: Reconhecidos como um gasto no período em que sejam incorridos.

Exceção: Os custos de empréstimos obtidos que sejam diretamente atribuíveis à aquisição,


construção ou produção de um ativo que leva um período substancial para ficar pronto, são
capitalizados como parte do custo desse ativo, apenas durante o período em que o ativo
estiver em curso:

• Inventários;
• Ativos fixos tangíveis;
• Ativos intangíveis.

4.4 Sistemas de inventário


Sistema de Inventário Permanente (SIP)

• Efetua-se a contabilização sistemática das entradas e das saídas de armazém


(quantidades e valores), de forma a que pelo menos no final do mês a conta do
inventário reflita o valor das existências em armazém e, seja apurado, no decorrer do
ano, o CMVMC e a Variação da Produção.
• Permite acompanhar a evolução dos resultados ao longo do período.

Sistema de Inventário Intermitente ou Periódico (SII)

O valor dos inventários finais é determinado por inventariação física, no final de cada período
contabilístico, e o CMVMC e a Variação da Produção são apurados com base nos respetivos
inventários inicial e final, nas compras realizadas durante o período (apenas para o CMVMC) e
nas regularizações de inventários registadas no mesmo período.

4.5 Critérios de custeio de saídas

Os métodos de custeio das saídas que têm vindo a ser preconizados são os seguintes:

• Custo específico (ou identificação específica)


• Custo médio ponderado (CMP)
• FIFO (first in, first out)
• LIFO (last in, first out)
• critério não permitido na NCRF 18
• Custo padrão

Objetivo - mensurar a saída de inventários (para venda ou consumo) e resulta da necessidade


de tratar os inventários que se encontram em armazém com diferentes valores de compra ou
de produção.
Permite definir como é que o custo de compra ou de produção unitário, atualmente
suportado, é atribuído às existências finais e ao CMVMC e, consequentemente, a escolha da
fórmula de custeio deve refletir corretamente:

• A imputação do CMVMC ao resultado do período.


• A correlação entre o CMVMC e o rédito das vendas.
• A aplicação do pressuposto do acréscimo.

Custo específico

É conceptualmente o método mais correto:

• porque identifica cada bem vendido e cada bem que consta dos inventários;
• mas só é praticável desde que seja possível identificar fisicamente os bens adquiridos
em cada compra, tendo uma aplicação limitada.

Este método:

• permite grande correlação entre rendimentos e gastos relacionados com as vendas;


• os inventários finais são mensurados ao efetivo (correspondente) custo da aquisição;
• o fluxo contabilístico é igual ao fluxo real e físico.

Custo médio ponderado (CMP) - O custo de cada elemento é determinado a partir de uma
média ponderada do custo dos elementos existentes. Tanto o custo das saídas como o dos
inventários finais são mensurados a custos médios.

Custo médio = Custo total inventários existentes + Custo total novas entradas

Quantidades existentes + Novas quantidades entradas

É um método de aplicação simples e que permite minimizar o efeito das variações dos custos
de aquisição ou de produção.
FIFO ou método do custo cronológico direto - Neste método, mensura-se a saída dos
inventários a preços mais antigos, o que significa que:

• o CMVMC é mensurado aos custos mais antigos;


• os inventários finais são mensurados aos custos mais recentes, ou seja, muito
próximos dos de mercado.
• A sua aplicação produz, em geral, os mesmos efeitos em inventário periódico ou em
inventário permanente.
• O método FIFO aproxima o fluxo físico dos bens com o fluxo contabilístico.
• O método FIFO é desaconselhável em períodos de inflação acentuada (os réditos são
mensurados a preços mais recentes enquanto os gastos correspondem às aquisições
mais antigas).

LIFO ou método do custo cronológico inverso - Ao contrário do anterior, que segue o fluxo
dos bens, este método segue a corrente dos custos, resultando que:

• o CMVMC está mensurado aos custos mais recentes;


• os inventários finais são mensurados aos custos mais antigos.

A aplicação do método produz resultados diferentes conforme se utilize o sistema de


inventário permanente ou o sistema de inventário periódico.
→ Utilizando este método, as vendas correntes são balanceadas com custos de saída
mais próximos dos custos de reposição: num cenário inflacionista, pode produzir
menores resultados em relação ao FIFO.
→ Assim, origina um certo benefício fiscal por diferimento, no tempo, do imposto a
pagar.
→ O LIFO é, dos métodos referidos, aquele que minimiza os efeitos da inflação. Contudo,
os inventários são mensurados a preços mais antigos, o que não traduz de forma
adequada a situação atual da empresa.

4.5 Contabilização das operações com inventários e AB


Sistema de inventário permanente

Compra de Inventários

→ Compras a Fornecedores (custo de aquisição)


→ “Inventários” a Compras (custo de aquisição)

Devolução a fornecedores

→ Fornecedores a Compras – Devoluções de compras (valor da devolução)


→ Compras – Devoluções de compras a “Inventários” (valor da devolução)
Venda e consumo de Inventários

→ Clientes a Vendas (valor da venda: a preço de venda)


→ CMVMC a “Inventários” (valor do CMVMC: a preço de custo)

Devoluções de clientes

→ Vendas – Devoluções de vendas a Clientes (valor da devolução: a preço de venda)


→ “Inventários” a CMVMC (correção do custo das vendas: a preço de custo)
Operações com produtos acabados, subprodutos…

→ “Inventários” a Variações nos inventários da produção (entradas a preço de custo)


→ Variações nos inventários da produção a “Inventários” (saídas a preço de custo)
Ofertas de Inventários

→ Outros gastos - Ofertas e amostras de inventários a Regularização de inventários


(custo dos inventários oferecidos)
→ Regularização de inventários a “Inventários” (custo dos inventários oferecidos)

Quebras (anormais) de Inventários

→ Outros gastos - Perdas em inventários - Quebras a Regularização de inventários (a


preços de custo)
→ Regularização de inventários a “Inventários” (a preços de custo)
Sobras (anormais) de Inventários

→ Regularização de inventários a Outros rendimentos - Ganhos em inventários – Sobras


(ganho referente a inventários)
→ “Inventários” a Regularização de inventários (ganho referente a inventários)

Afetação de Inventários a Investimentos

→ Ativos fixos tangíveis - … a Regularização de inventários (a preços de custo)


→ Regularização de inventários a “Inventários” (a preços de custo)

Sinistros

Originam uma perda (custo dos inventários sinistrados > indemnização)

→ Outros gastos - Perdas em inventários - Sinistros a Regularização de inventários (custo


dos inventários sinistrados)
→ Regularização de inventários a “Inventários” (custo dos inventários sinistrados)
→ Outras contas a receber - Outros devedores
→ a Outros gastos - Perdas em inventários – Sinistros (valor da indemnização do seguro)

Originam um ganho (custo dos inventários sinistrados < indemnização)

Movimento contabilístico idêntico ao anterior, utilizando-se a conta

→ «Outros Rendimentos – Ganhos em inventários – Sinistros».

Sistema de inventário intermitente ou periódico

Durante o período económico:

→ Compra de Inventários Compras a Fornecedores (custo de aquisição)


→ Venda de Inventários Clientes a Vendas (preço de venda)

As ofertas e todas as perdas e ganhos resultantes de inventários são registadas, mas as contas
de «Compras» e de «Regularização de Inventários» apenas se saldam à data do Balanço, após
a inventariação física.

À data do Balanço:

➢ Contagens físicas dos inventários finais em armazém;


➢ Valorização dos inventários finais: aplicação dos critérios de custeio;
➢ Transferência do valor das subcontas de «Compras» para as respetivas contas da
classe de «Inventários»;
➢ Transferência do valor das subcontas de «Regularização de Inventários» para as
respetivas contas da classe de «Inventários».
➢ Apuramento do CMVMC = Si + Compras ± Reg. Invent. – Sf
➢ Variação dos Inventários da Produção = Sf ± Reg. Invent. – Si
➢ Contabilização do CMVMC e/ou da Variação dos Inventários da Produção:
CMVMC a “Inventários” (valor do CMVMC)
e/ou
“Inventários” a Variação nos inventários da produção (var. produção positiva)

Ativos biológicos de produção (ABP)

• Pela aquisição dos ABP: Justo Valor (ganho)


o Ativos biológicos de produção (justo valor) a Fornecedores (custo de aquisição)
o a Ganhos por aumentos de justo valor (acréscimo do JV face ao CA)
• Pela aquisição dos ABP: Justo Valor (perda)
o Ativos biológicos de produção (justo valor)
o Perdas por reduções de justo valor (acréscimo do CA sobre o JV) a
Fornecedores (custo de aquisição)
• Alienação de ABP mensurados ao justo valor
Outros Rendimentos – Alienação de ABP
ou:
Outros Gastos – Alienação de ABP a Ativos biológicos de produção (Pelo
desreconhecimento do ativo biológico de produção)

Outras contas a receber / Caixa / D. ordem a Outros Rendimentos – Alienação de ABP


ou:
a Outros Gastos – Alienação de ABP (Pelo valor da venda)
• Abate de ABP mensurados ao justo valor
Outros Gastos – Abate de ABP a Ativos biológicos de produção (pelo
desreconhecimento do ativo biológico de produção por abate)

Contabilização de ABP por aplicação do método do custo: Tratamento contabilístico similar


ao dos Ativos Fixos Tangíveis (aquisição, depreciação, imparidades, alienação e abate).

Ativos biológicos consumíveis:

• Pela aquisição
Compras - Ativos biológicos a Fornecedores (Pelo custo de aquisição)
CMVMC - Ativos biológicos a Compras - Ativos biológicos (Pelo custo de aquisição)
Ativos Biológicos Consumíveis a Variação nos inventários da produção – Ativos
biológicos (Pelo reconhecimento do ativo biológico)

Contabilização de ABP por aplicação do método do custo: Tratamento contabilístico similar


ao dos Ativos Fixos Tangíveis (aquisição, depreciação, imparidades, alienação e abate)
4.6 Imparidades dos inventários

Os inventários devem ser mensurados pelo:

• Custo ou valor realizável líquido, dos dois o mais baixo

Perda por Imparidade (custo > valor realizável líquido)

Custo ou valor realizável líquido (VRL), dos dois o mais baixo - Quando o custo de aquisição ou
de produção não se afigure recuperável por ser superior ao VRL, os inventários devem ser
evidenciados no Balanço ao preço de mercado:

• Custo de reposição (ou custo corrente): aplica-se a bens adquiridos para a produção
(matérias-primas e materiais diversos);
• Valor realizável líquido: aplica-se a bens detidos para venda (mercadorias e produtos
acabados).

VRL é inferior ao custo deverá ser feito um ajustamento através de subconta apropriada
«Perdas por Imparidade Acumuladas», a qual irá deduzir ao valor dos Inventários (que se
encontram contabilizados ao custo).

NOTA: No caso de matérias-primas e outros consumíveis, não serão reduzidos abaixo do custo
se for previsível que os produtos acabados em que serão incorporados sejam vendidos pelo
custo ou acima do custo

Contabilização das perdas por imparidade: Deve ser sempre realizada a comparação entre o
valor atual da perda e a estimativa do ano anterior, reconhecendo-se em cada período apenas
a diferença correspondente:

• Se a estimativa do ano é superior à do ano anterior (constituição ou reforço):


Perdas por imparidade – Em inventários a Perdas por imparidade acumuladas
• Se a estimativa do ano é inferior à do ano anterior (reversão ou anulação):
Perdas por imparidade acumuladas a Reversões De perdas por imparidade – Em
inventários

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