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Fichamento Giddens - As Consequências da Modernidade

INTRODUÇÃO

Na introdução, Giddens destaca que realizará durante a obra uma análise institucional da
modernidade com ênfases cultural e epistemológica, afastando-se da maior parte das
abordagens normalmente realizadas (p.11).
Tenta, de antemão, definir o que seria modernidade, afirmando que: “modernidade refere-
se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do
século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência”
(p. 11).
Estaríamos, assim, no limiar de uma nova época. Alguns autores destacam a emergência
de um novo sistema social, mas a maioria chama a atenção para um estado de coisas
que está chegando ao fim.
Neste sentido, para Jean-François Lyotard, a pós-modernidade representa “um
deslocamento das tentativas de fundamentar a epistemologia, e da fé no progresso
planejado
humanamente” (p. 12). Ela seria caracterizada pelo desaparecimento da grande
narrativa, através da qual somos inseridos na historia como seres tendo um passado
definitivo e um futuro predizível.
A sensação de que vivemos diante de um universo de fatos que não podem ser
inteiramente compreendidos e que estão fora do nosso controle gera a idéia de que
não se pode obter um conhecimento sistemático sobre a organização social (p.12). Para
analisar o fenômeno,
não basta inventar novos termos, deve-se olhar novamente para a natureza própria da
modernidade.
Para tanto, Giddens desenvolve suas concepções em torno do que ele chama de uma
interpretação descontinuísta do desenvolvimento social moderno, que compreende que
as instituições sociais modernas são, em alguns aspectos, diferentes de outros tipos da
ordem tradicional (p.13).

AS DESCONTINUIDADES DA MODERNIDADE.
Segundo Giddens, os modos de vida produzidos pela modernidade nos afastam de todos
os tipos tradicionais da ordem social de uma maneira sem precedentes. As
transformações produzidas pela modernidade seriam mais profundas tanto em seu
aspecto vertical quanto do ponto de vista horizontal (p. 14). Em virtude da radicalidade
dessas transformações, há uma limitação de nosso conhecimento de períodos anteriores
para interpretá-la.
O caráter descontinuísta da modernidade não tem sido tão enfocado, sobretudo, por
influência do evolucionismo social. Por isso, deve-se deslocar a narrativa evolucionária ou
desconstruir seu enredo tanto para melhor elucidar a modernidade quanto para alterar o
enfoque de parte do debate pós-moderno.

SEGURANÇA E PERIGO, CONFIANÇA E RISCO.


Giddens entende que a modernidade é um fenômeno de dois gumes. As instituições
sociais modernas criaram a oportunidade para os seres humanos desfrutarem de uma
vida segura e confortável (creditadas à eficácia do estado nação em prover mais segurança do
que havia no regime feudal) e este aspecto de oportunidade sempre foi mais fortemente
enfatizado pelos fundadores clássicos da sociológica, como Marx , Durkheim e Max
Weber. Contudo, gerou
diversos efeitos indesejáveis, como:
o O trabalho industrial moderno, para além de submeter os homens a disciplina de
um trabalho maçante e repetitivo, apresenta um potencial destrutivo de larga escala em
relação ao meio ambiente;
o Os totalitarismos, que pareciam ser pertencentes ao passado, estão contidos nos
parâmetros da modernidade, como demonstram os episódios do Holocausto, do fascismo
e do stalinismo;
o A industrialização da guerra refuta a tese durkheimiana de que o industrialismo
geraria uma ordem industrial pacífica e integrada. Os pensadores sociais também não
puderam prever a invenção do armamento nuclear.

O mundo moderno é, assim, repleto de perigos. Essa constatação tem contribuído para a
perda da crença no progresso e, por conseqüência, para a dissolução de narrativas da
história.

CONFIANÇA.
A confiança, como definida pelo Oxford English Dictionary seria compreendida como
“crença ou crédito em alguma qualidade ou atributo de uma pessoa ou coisa, ou a verdade de
uma
afirmação” (p.38).

Tanto crença como crédito estariam vinculados de algum modo à fé. Niklas Luhmann
distingue fé e confiança, ressaltando que esta deve ser compreendida específicamente em
relação ao risco, um termo originado a partir da época moderna.
Para Luhmann, a noção de confiança desponta a partir da compreensão de que as
nossas
atividades e decisões podem gerar resultados inesperados. O risco, em grande medida,
substitui a idéia de fortuna e está apartado das cosmologias. Embora crença e confiança
se relacionem a expectativas que podem ser frustradas ou desencorajadas, a confiança
pressupõe consciência das circunstâncias de risco. Dessa forma, “um individuo que não
considera alternativas está numa situação de crença; enquanto que alguém que
reconhece essas alternativas e tenta calcular os riscos assim reconhecidos, engaja-se em
confiança” (p. 39).
Giddens critica a concepção de Luhmann porque entende que a confiança é geralmente
um estado mais contínuo do que a sua teoria implica. Além disso, discorda de Luhmann
quando ele conclui que quem se abstém de agir não incorre em risco, pois a inação
seria frequentemente arriscada.
Feitas essas objeções, ele tenta conceituar o que ele entende por confiança:
1. a confiança estaria relacionada à ausência de tempo e espaço: não haveria
necessidade de se confiar em alguém ou num sistema cujas atividades ou procedimentos
fossem plenamente conhecidos e compreendidos;
2. a confiança está vinculada não ao risco, mas à contingência: a confiança resulta da
credibilidade em face de conseqüências contingentes, não importando se esses resultados
decorram das ações humanas ou das operações de sistemas;
3. a confiança não se confunde com a fé na credibilidade de uma pessoa ou de um
sistema; ela deriva dessa fé. Seria uma espécie de elo que liga fé e crença.
4. quando se fala em confiança em sistemas peritos ou em fichas simbólicas, não nos
referimos à fé na probidade moral dos outros, mas na fé na correição de princípios dos
quais se é ignorante;
5. por isso, confiança seria a “crença na credibilidade de uma pessoa ou sistema,
tendo em vista um dado conjunto de resultados ou eventos, em que essa crença
expressa uma fé na probidade ou amor de um outro, ou na correção de princípios
abstratos”.

Sistemas peritos (ou de especialistas) são as ciências e áreas técnicas como a engenharia, a
medicina, as tecnologias de comunicação e até um eletricista. Nós acreditamos que por trás das
decisões dessas pessoas existe um sistema de conhecimento e esses peritos sabem o que estão
fazendo. Não precisamos entender o trabalho delas para confiar em seus serviços porque
acreditamos que sabem o que estão fazendo.

Não sabemos muito sobre os princípios que envolvem a construção de casas, edifícios e pontes,
apenas acreditamos que são construídas com conhecimento especializado e assim
atravessamos as pontes e habitamos casas e edifícios.

Giddens afirma que acreditamos nos peritos e especialistas porque somos desde cedo
socializados para acreditar nesses sistemas através da escola. As matérias como biologia, física,
química nos socializam com a ciência, com a crença de que existem especialistas que
pesquisaram e sabem como as coisas funcionam.

Outro fator que gera confiança é a rotineirização. Ela está trazendo essa ideia da psicologia de
Winnicott e Erick Erickson, os quais falam do desenvolvimento da confiança ontológica na
criança. A rotina na vida da criança estabelecida pelos pais/cuidadores desde cedo faz com que
ela vá aos poucos entendendo que se ela tem fome alguém virá e a alimentará, se chora
alguém irá socorrê-la e isso vai aos poucos sendo introjetado como uma confiança na
continuação de sua auto-identidade. É uma espécie de confiança existencial de que o mundo
continuará a existir e de que é seguro viver. Isso permite que o indivíduo viva sem sentir-se
amedrontado ou paranoico o tempo todo.
Na vida adulta (se o processo de desenvolvimento da segurança ontológica foi bem sucedido)
conseguimos andar nas ruas, entrar em prédios altos, atravessar pontes, enfim, viver sem achar
que uma ameaça pode nos matar a qualquer tempo.

Além da rotina e da segurança ontológica competem para que confiemos em sistemas


abstratos peritos ou especialistas algumas contingências que precisamos enfrentar e, então,
não temos escolha a não ser confiar na credibilidade desses sistemas.

Fichamento do artigo “Capital Social e Confiança em Plataformas Digitais: estudo comparativo


entre Airbnb e Couchsurfing”. – Vanessa Amália Dalpizol Valiati, Ana Clara Schuler e Franciele
Silva

Para as autoras as duas plataformas “agregam valor de capital social aos perfis através da
reputação construída”. P. 44

Perguntas: o que faz as pessoas confiarem numa reputação? Quais os atributos se valoriza
numa reputação?

A empresa não deve focar apenas na comunicação dela com o cliente/consumidor/usuário, mas
na comunicação e interação cada vez mais constante entre esses usuários/consumidores. Isso
aumenta a confiança, pois cria um senso de comunidade.

As autoras observam uma mudança no mercado, uma passagem do foco em “me brands” (em
que haveria hiperconsumismo) para “we-based relationships” (comum à ideia de economia
compartilhada das plataformas analisadas no artigo).

Nesse segundo modelo a confiança é condição para que as experiências ocorram. Essa
confiança passa pela pré-disposição do usuário de se relacionar e confiar em desconhecidos a
partir de seus perfis nas plataformas.

Comunicação fácil e com informações completas é um aspecto importante para essa confiança.
Os perfis dos hosts precisam prover o máximo de informação para que o potencial guest confie,
os perfis mais completos geralmente são os mais bem sucedidos.

Autoras citam Raquel Recuero, segundo quem os atributos para formação de capital social de
perfis nas redes sociais e que também se aplicam aos perfis de anfitriões no Airbnb e
Couchsurfing são: gostos, formação educacional, boas fotos, boas descrições, boa comunicação,
demonstração de que gerencia bem a acomodação etc.

PERGUNTO: quais seriam esses atributos para empresas?

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