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III-

Na pós-modernidade, a sociedade e o conhecimento são reflexivos. Isso significa que eles


refletem constantemente as mudanças ocorridas em seu interior na sua relação com o outro.
O conhecimento científico está sempre se renovando e como a sociedade é constituída por ele
reflete e reexamina suas práticas sociais.

A reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são
constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre estas próprias
práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter. Temos que elucidar a natureza deste
fenômeno. Todas as formas de vida social são parcialmente constituídas pelo conhecimento que
os atores têm delas. (GIDDENS, A.)

Discutimos nos módulos anteriores que a sociedade moderna surge a partir dos ideais
cientificistas e iluministas fundamentados na razão e no homem como protagonista do
seu destino. Posteriormente estudamos que a pós-modernidade, ou modernidade tardia
como Giddens define, se tratava de uma sociedade que passa por transformações
constantes e muito rápidas. Uma sociedade onde as certezas e os valores sociais estão
fragmentados, instáveis, seja em razão da diversidade do mundo social ou em relação à
complexidade do conhecimento científico, que abandona a explicação linear de causa e
efeito.

Marx identificou que na sociedade capitalista tudo se transforma em mercadoria para ser
vendida ou comprada, desde o trabalho até a produção industrial. Não perdemos essa
característica no mundo atual, porém essa dinâmica adquire uma característica
acentuada na sociedade da informação. A informação possui valor porque a partir dela
se organiza a produção e organizamos a sua comercialização. Ao falarmos de
conhecimento e teorias científicas, falamos de uma dimensão do mundo social que está
intimamente relacionada à realidade.

O caráter reflexivo do conhecimento sociológico e da sociedade pós-moderna, segundo


Giddens, significa que as práticas sociais refletem o caráter instável do mundo. O
conhecimento é gerado de forma contínua e sistemática, questionando antigas certezas e
produzindo novas. Longe da certeza iluminista ele se apresenta sempre em dúvida o que
permite buscar novas formas de compreender o mundo e abre novas interrogações sobre
ele. Para ficar um pouco mais concreto, pense que ao descobrirmos a cura para uma
doença descobrimos outros processos físicos e químicos que precisamos entender. Na
medida em que essa nova pesquisa avança, ela pode mudar a compreensão que tínhamos
sobre determinada doença.

Para Giddens, o conhecimento e a realidade social provocam mudanças entre si. Na


medida em que o conhecimento é constitutivo da vida social, a vida em sociedade muda
e requer a produção de um novo conhecimento para dar conta da nova realidade.
Resumindo, temos um mundo em constante mudança e um conhecimento em constante
mudança.

Diferente da tradição o conhecimento científico se renova. Porém, o conhecimento


científico fica obsoleto não por ser necessariamente falso, mas por refletir uma realidade
mutante e mudar com ela. O conhecimento se torna obsoleto porque podemos descobrir
outras formas de lidar com um mesmo problema.
Ao longo deste estudo, temos ressaltado a volatilidade e a velocidade das
transformações na sociedade moderna que podem parecer justificar a percepção de que
não há algo certo ou errado, ou que tudo é permitido. De fato, o mundo social é muito
mais plural que o mundo natural e permite enxergarmos um leque mais amplo de
interpretação do mundo. É importante, ultrapassarmos essa visão binária do mundo
porque em regra vemos o mundo em gradações. Em outras palavras, um indivíduo pode
julgar uma pessoa bonita ou feia, mas, em regra, ele costuma achar uma pessoa mais
bonita do que outra. Vários padrões de beleza coexistem.

O fato de não vivermos em mundo de verdades rígidas, ou de padrões rígidos, não


significa ausência de parâmetros. Giddens identifica na reflexividade a capacidade e a
necessidade de o conhecimento acompanhar as mudanças sociais, de rever sua
compreensão do mundo, ao mesmo tempo em que ele é um promotor dessas mudanças.
Para Giddens, essa dinâmica é muito mais visível nas ciências sociais e humanas.

Segundo Giddens:

Com o advento da modernidade, a reflexividade assume um caráter diferente. Ela é


introduzida na própria base da reprodução do sistema, de forma que o pensamento e a
ação estão constantemente refratados entre si. A rotinização da vida cotidiana não tem
nenhuma conexão intrínseca com o passado, exceto na medida em que o que "foi feito
antes" por acaso coincide com o que pode ser defendido de uma maneira proba à luz do
conhecimento renovado.

Se o mundo pré-moderno se organizava a partir da certeza religiosa ou da tradição, o


mundo moderno se organizava a partir da certeza científica. A reflexividade da
modernidade tardia, ou pós-modernidade, entende que o nosso conhecimento está
sempre em dúvida, e isso impacta no cotidiano e na sociedade. Isto porque, como
falamos temos um conhecimento e uma realidade social mutante.

Como viemos discutindo no curso, essa percepção sociológica do mundo nos permite
compreender os movimentos fundamentalista e extremistas, uma vez que eles buscam
na crítica a ciência e na resposta do passado uma certeza para defender uma plataforma
política. A desconfiança em relação ao conhecimento científico ou a insegurança sobre
como devemos viver os relacionamentos afetivos, a vida profissional e familiar faz com
que busquemos no passado um porto seguro, uma terra firme.

Os conflitos geracionais refletem essa dinâmica. Quando falamos de encaixe, reencaixe,


de reflexividade, estamos jogando luz sobre como as práticas sociais mudam cconforme
a compreensão e a mudança do próprio mundo. Isso gera uma incerteza, uma
insegurança que pode resultar em violência para impedir uma separação, conter a
criminalidade ou a indisciplina de um filho. O indivíduo isolado neste mundo
inconstante, não tem estrutura econômica, formação educacional ou inteligência
emocional para lidar com essas questões. Políticas públicas ligadas à educação ou às
políticas sociais que permitam incluir e reorientar o sujeito são extremamente
importantes.
Fique por dentro

Segundo Giddens, a reflexividade marca a modernidade. Ela está presente na vida


pessoal, na sociedade e no conhecimento científico, principalmente, nas ciências sociais.
Essa característica do mundo contemporâneo significa que tudo está o tempo todo
mudando. Refletindo as mudanças que ocorrem no seu interior como aquelas externas a
ele. Então, a ciência possui uma dinâmica própria na qual se renova o conhecimento e,
ao mesmo tempo, esse conhecimento constitui a base da nossa sociedade. A vida social
em si depende da informação circulante e a atualização dele afeta e muda a própria
sociedade que reflete essa mudança. Vamos estudar mais sobre a reflexividade da
modernidade ao ler as páginas 5 e 6 do artigo Anotações sobre a modernidade na
obra de Anthony Giddens, de Antônio Ozaí da Silva.

Saiba Mais

O documentário a seguir apresenta uma reflexão sobre o mundo contemporânea quando


as metanarrativas não conseguem responder às demandas universais do ser humano.
Na pós-modernidade, o indivíduo critica a modernidade capitalista, mas não tem uma
resposta única que deve ser buscada pelo indivíduo continuamente. Talvez, possamos
perceber nessa época uma necessidade humana de se encontrar a humanidade que não
se limita na verdade científica, religiosa ou metanarrativas universais. Quando
elaboramos uma entrevista, como a do nosso trabalho final, precisamos ter a humildade
para ouvir o outro e não o doutrinar. Isso porque vivemos em um mundo cada vez mais
plural.
Globalização e modernidade líquida

O desenvolvimento tecnológico e a globalização possibilitaram a emergência de uma


realidade social fluida. A mudança é a única certeza do mundo hoje. Ela permite o
deslocamento de pessoas, ideias e coisas deslocando-as do seu tempo e espaço original.
Ela permite a presença e a ausência no entrelaçamento de eventos e relações sociais
quando usamos a internet ou nos deslocamos em grandes distaâncias. Mas, antes de
avançarmos, assista ao vídeo que preparei abaixo:

Nessa realidade virtual e veloz, não consolidamos relações profundas e nos adaptamos
constantemente à mudança.

O conceito de globalização é melhor compreendido como expressando aspectos


fundamentais do distanciamento entre tempo e espaço. A globalização diz respeito à
intersecção entre presença e ausência, ao entrelaçamento de eventos e relações sociais à
distância com contextualidades locais. (GIDDENS, A.)

A insegurança e a instabilidade na pós-modernidade sem amplia com a tecnologia e a


globalização.
Zygmunt Bauman, sociólogo e autor do livro Modernidade líquida, argumenta que
vivemos em um mundo em constante mudança. Os valores sociais, assim como as
relações sociais, mudam em uma velocidade que impedem o seu enraizamento na
sociedade. Ele defende que no passado tínhamos uma modernidade sólida fundada na
indústria e no conhecimento inflexível da ciência. Na medida em que o conhecimento e
a tecnologia evoluíam, e a sociedade se tornava cada vez mais virtualizada, passamos a
viver em uma modernidade líquida, na qual a única certeza é a mudança.

Bauman usa a analogia de um lago congelado por uma fina camada de gelo. Para um
patinador poder deslizar sem que o peso force o gelo a se romper, ele precisa correr.
Quanto maior a velocidade do patinador menos pressão sobre o gelo ele realiza e
consegue percorrer o trajeto. A demanda por produtividade, por qualificação
profissional, por compromissos sociais alimenta uma velocidade frenética na vida
contemporânea.

Segundo ele, a globalização, resultante em grande parte do desenvolvimento


tecnológico, muda radicalmente essa relação espaço e tempo. Podemos ouvir música
celta ou comer comida japonesa em algum aplicativo. Mercadorias e insumos se
deslocam pelo mundo através de sites de compras e sistemas de pagamentos com cartão
de crédito internacional. Em tese, podemos viver da maneira como quisermos, no lugar
que desejarmos, no tempo que escolhermos. Na prática pode não se bem assim porque
não podemos passar o final de semana em Paris. Em contrapartida, as informações
disponíveis na internet, os produtos comercializados e as tecnologias de realidade
aumentada podem nos proporcionar algum nível de experiência.

Na sua perspectiva, a tecnologia permite o controle da vida, mas não pode ser
controlada pelo Estado., assim como a livre circulação do capital não pode ser regulada
pelo poder político. Os governos tentam regular a economia ou o comportamento social.
Os Estados possuem alguma capacidade de tributar ou legislar sobre esses temas, mas as
dinâmicas sociais e de mercado são mais rápidas. Podemos ver isso quando durante o
século XX tivemos a instituição do divórcio, do casamento homoafetivo, a emancipação
da mulher e outras demandas que forçaram a mudança na legislação ou na
jurisprudência. Os Estados cobram impostos das atividades econômicas, mas a depender
das taxas as empresas podem migrar para outros países.

Contudo, Bauman crítica a globalização ao expressar no seu próprio nome o caráter


excludente dela. A globalização afeta de forma diferente as classes mais pobres e as
mais ricas. Alguns setores se beneficiam da globalização reduzindo custos e
aumentando a produção enquanto outros sofrem com a automação e a concorrência
global. Se falássemos de universalização estaríamos falando de algo que beneficiaria a
todos.

Na face perversa da globalização se dá quando ela estratifica a mobilidade humana.


Enquanto acionistas podem comprar e vender as ações das empresas, o trabalhador está
preso a sua relação de trabalho. O capital circula livremente pelo mundo, enquanto as
pessoas precisam de vistos de trabalho e de residência, que não são fáceis de se obter,
caso queiram e possam mudar de país. Do contrário, com maior frequência, os mais
pobres estão limitados a sua localidade e possuem alternativa para mudar de vida.
A forma de entreter e movimentar essa economia é o consumo. O consumo depende da
necessidade ou do desejo. Por isso, Bauman entende o tempo presente como uma
modernidade líquida. Nosso maior objeto de desejo desaparece quando consumido e um
novo desejo é produzido. Os indivíduos transformados em consumidores, consomem
pessoas, relacionamentos, produtos e serviços. Nesse ritmo, não conseguimos nos fixar.
Tudo flui. Tudo escorrega entre as mãos como água. A água assume o formato do seu
recipiente e evapora com o tempo.

Essa realidade traz para o serviço social novas expressões da questão social. A mudança
da organização econômica, volatilidade dos valores sociais e instabilidade das relações
sociais afetam a vida das pessoas que são afetadas por essa realidade, mas elas não têm
consciência disso e, por consequência, não dominam a própria vida. Como se vivessem
fluindo nesse sistema sem ter autocontrole.

Fique por dentro


O pensamento de Bauman não difere essencialmente do pensamento de Giddens,
porém, atribui uma perspectiva diferente ao diferencia a modernidade sólida, que surge
com a modernidade e se consagra na certeza da ciência e na indústria, da modernidade
líquida, que se estrutura a partir da renovação constante do saber, bem como o uso
intensivo da tecnologia. O contexto que surge com essas mudanças é marcado pela
mudança constante, capaz de assumir qualquer formato (por isso, líquido) de maneira
superficial e mutável. Podemos compreender melhor essa dinâmica no livro Cultura e
Pós-modernidade, de Felipe Bueno Amaral, das páginas 46 a 51.

Saiba Mais

Zygmunt Bauman nos apresenta no vídeo abaixo, a sua visão sobre o mundo
globalizado e tecnológico que ele denominou de modernidade líquida. A sociologia é
uma ferramenta que nos permite ver além dos fatos sociais, buscando as lógicas do
mundo social. Essa percepção do mundo nos permite entender em que contexto estamos
inseridos, as oportunidades e os desafios que teremos de enfrentar e como os impactos
dessas dinâmicas sociais estarão presentes no cotidiano profissional
Pós-modernidade, cultura e identidade

A cultura é uma construção humana e ao mesmo tempo nos identificamos com ela.
Reflete as práticas sociais, crenças, valores do grupo social no qual o indivíduo se
identifica. Na pós-modernidade a produção e circulação de cultura permite a difusão da
diversidade cultural quando os indivíduos resgatam suas origens ou se reconhecem nos
movimentos sociais ou nas características e modos de vida de um grupo ou das tribos
modernas que conhecemos.

Como podemos perceber os impactos da pós-modernidade?

Podemos ver que os impactos da pós-modernidade, ou modernidade tardia, podem ser


percebidos em diferentes contextos no mundo atual. Nesta última atividade, vamos fazer
uma reflexão sobre o impacto da pós-modernidade em relação a questões culturais e
identitárias.

Do ponto de vista antropológico, a cultura é uma construção humana na qual


ressignificamos o mundo. Isso significa que o interpretamos de acordo com a nossa
cultura e educação. Por isso, quando vejo uma floresta, ela pode significar um lugar
preservação da natureza um ou local de exploração madeireira. O valor e o significado
do mundo são construídos pelo homem, e este olha o mundo através dessas lentes.

Enquanto construção humana, ela é o resultado do seu tempo e do seu espaço. Então, se
nascemos no ocidente, provavelmente, nossas crenças e valores estarão associados à
cultura ocidental. Somos herdeiros de uma cultura machista, racista e preconceituosa do
mundo. Muitas crenças e valores que, no passado, nem passavam pela cabeça das
pessoas, hoje, são aceitas. A dissolução do matrimônio era uma realidade que não
passava na cabeça das pessoas em razão da sua importância na religião. As mulheres
passaram a questionar essa situação e começaram a lutar pelo direito de divórcio.
Certamente, enfrentaram muitas críticas, mas hoje é algo comum na sociedade.

Quando essas questões são desencaixadas e reencaixadas, usando a expressão de


Giddens, ou quando são revistas na pós-modernidade, elas não são mais aceitas.

A identidade cultural é entendida na pós-modernidade como resultado, em grande parte,


do mundo globalizado e tecnológico em que vivemos. Ocorre um descentramento do
sujeito quando ele tem acesso a outras culturas e outros estilos de vida.

A identidade social era constituída nas relações interpessoais e dentro do universo


acessível àquela pessoa. O indivíduo se reconhecia como sujeito no espelhamento com
outras pessoas com quem ele convivia. Hoje, através da internet, estamos acessíveis a
diferentes culturas, movimentos sociais e a todo tipo de informação. Nos identificamos
com crenças e valores que podem ser produzidos em qualquer lugar e época. Afinal, na
internet podemos acessar informações de todos os lugares, tempo e a reproduzimos no
dia a dia.

Nesse contexto, a construção da identidade moderna pode ser feita através de colagens e
da justaposição de histórias, notícias ou material que o sujeito tenha acesso ao longo da
vida. O fato de ser inglês, homem ou mulher tinha um significado no passado, mas,
atualmente, esse significado pode ser produzido por pedaços de história. Em outras
palavras, ser mulher pode significar ser uma pessoa forte, ao mesmo tempo meiga,
politizada, religiosa, em uma combinação infinita de adjetivos.

A pós-modernidade produz, nesse sentido, a crise de identidade quando nossa adesão a


uma causa não significa a adoção integral das crenças e valores de determinado grupo
social. Quando podemos nascer em um determinado contexto social e nos
identificarmos com outro, onde os padrões não são mais predefinidos e podem ser
flexibilizados.

A globalização e a tecnologia foram decisivas para propiciar a difusão e o uso da


informação e das culturas. Os movimentos feministas, LGBTQIA+, dos negros, entre
outros se beneficiam desse processo quando podem resgatar sua história e divulgar seus
princípios, possibilitando que movimentos locais possam interagir com grupos similares
espalhados pelo mundo.

Estabelecendo uma relação da matéria com o serviço social, podemos pensar que o
público atendido provém de diferentes realidades, são influenciados por diferentes
informações. Os movimentos sociais podem ajudar a estabelecer redes de
relacionamento que empoderam seus participantes. O indivíduo pode encontrar nos
diferentes grupos sociais, as respostas que melhor atendem às suas angústias. Além
disso, devemos entender que uma sociedade democrática precisa ser capaz de conviver
com a diversidade.

Fique por dentro

A questão identitária é cada vez mais relevante no mundo hoje. Identificar-se com um
grupo do ponto de vista do gênero, origem ética ou pelo estilo de vida parece ser
necessário para a busca da felicidade enquanto indivíduo. Além disso, pertencer a um
grupo permite a inserção em um ambiente de proteção onde se encontra pessoas iguais.
A pós-modernidade permite a convivência da diversidade ainda que se encontre
resistências tanto pessoais quanto sociais. Possui, também, uma relevância política na
busca da afirmação de políticas inclusivas para os diversos segmentos sociais. Você
encontra mais informações sobre o assunto no livro A Sociologia de Anthony Giddens,
de Jean Nizet, nas páginas 100 e 101.

I-Modernidade, pós-modernidade e pós-colonialismo


A sociologia surgiu com os ideais iluministas da modernidade baseados na razão e no
protagonismo humano. Vivemos em meio a um desenvolvimento econômico, tecnológico e
social ao qual chamamos de pós-modernidade, modernidade líquida ou modernidade tardia.
Mas, o que isso significa? Ao mesmo tempo, vamos estudar o pós-colonialismo como uma
outra abordagem dessa mesma realidade. Antes de prosseguir, assista ao vídeo abaixo:

Até aqui, estudamos os clássicos da sociologia, como Marx, Weber e Durkheim,


principalmente, no momento que ela se constituía como um campo de saber
independente de outras ciências. Eles construíram as bases para que outras teorias e
outras abordagens fossem desenvolvidas.

A ênfase de Weber e Durkheim estava na construção de uma explicação sobre a ordem


social. Como entender as dinâmicas que nos mantêm unidos. Weber até esboça uma
explicação para a mudança quando aborda o surgimento do capitalismo, mas ele quer
entender os tipos de sociedades e suas dinâmicas. Ele explica a ordem social partindo do
indivíduo (ação social) para entender o todo. Durkheim fez o caminho inverso, para
entender como a sociedade (fato social) se impõe sobre o comportamento social.

Marx oferece uma explicação sobre a sociedade capitalista e sua organização, mas sua
preocupação se concentra na mudança. Ele quer entender a mudança. Mais do que isso,
ele quer promover essa mudança, essa revolução. Por isso, sua teoria se concentra nos
conflitos sociais que surgem das contradições do capitalismo. Nessa perspectiva, ele
também parte de um todo social para compreender o comportamento social, o sujeito.

Nesta atividade, vamos estudar a sociologia mais recente. Diferentemente de outras


ciências, as teorias sociológicas não são totalmente refutadas por uma teoria mais nova.
De certo modo, ideias, conceitos, percepções ainda servem de inspirações para vermos o
mundo. Porém, fazemos isso com uma abordagem mais sofisticada para conseguir
capturar a complexidade do mundo atual o que não seria possível usando o
conhecimento passado de maneira rígida como um dogma, uma verdade imutável.

Vimos, também, que a sociedade moderna, capitalista, urbana, republicana e industrial


transformou radicalmente a sociedade feudal e rural europeia. Antes disso, a
organização social obedecia a uma dinâmica mais coletiva orientada por valores
políticos o que foi mudando para uma dinâmica mais individualista orientada por
valores econômicos. Vale destacar, também, que essa sociedade moderna fundada no
conhecimento científico se contrapunha às sociedades anteriores que tinham no
conhecimento religioso e nos costumes a referência para a vida cotidiana.

Atualmente, estamos em uma etapa mais avançada da sociedade moderna e capitalista,


que se consolidou há mais de 200 anos. A organização do processo de produção e
acumulação do capital, assim como a organização da sociedade, mudou ao longo do
tempo e se tornou mais complexa. Surge, então, um debate sobre a dimensão dessas
mudanças o que faz com que alguns autores qualifiquem a sociedade atual como pós-
moderna ou modernidade tardia, ou mesmo, dando um significado diferente para o que
se chama pós-modernidade.

Isso se deve ao fato de que crença na ciência como verdade absoluta foi questionada.
Giddens diz que grande parte desse questionamento surgiu depois da Segunda Grande
Guerra Mundial, quando a ciência não foi usada para a construção de um mundo
melhor, mas para sua destruição com o uso da bomba atômica. Existe uma dimensão
ética e política que pode comprometer tanto o resultado da pesquisa quanto o uso do
conhecimento produzido.

A ciência continua sendo o tipo privilegiado de conhecimento e intervenção no mundo.


Porém, se a ciência moderna se constituiu como um método que produz um
conhecimento linear estabelecendo relações de causa e efeito, hoje admitimos que a
realidade é muito mais complexa e que outras formas de conhecimento podem ser
válidas. Por exemplo, a evasão escolar pode ser explicada pela má qualidade da
educação, mas também pode ser atribuída a diversos outros fatores. Embora, a educação
seja uma das melhores formas de ascensão social e melhoria de vida, uma pessoa pode
decidir trabalhar e atingir o mesmo resultado. Essa verdade absoluta atribuída à ciência
não é correta.
Além disso, tivemos durante o século XX o ressurgimento da religião como forma de
explicar e de estar no mundo. Novos movimentos religiosos e novas expressões da
religiosidade se difundiram nesse período. Bem como, movimentos conservadores que
buscam resgatar valores tradicionais e se colocando em oposição ao pensamento
científico muitas vezes.

Essa crítica sobre uma verdade absoluta permite uma abertura sobre padrões de
sociedade e de estilo de vida. Surge a questão da diversidade em relação ao gênero, à
raça e à definição de família. O conceito de certo e errado que, no passado, era definido
pela religião, e, depois, pela ciência, hoje, encontra-se fragmentado.

Isso não é um problema para a sociologia ou para a sociedade em si. Porque isso seria
um julgamento de valor que compete ao mundo político e ao indivíduo decidir. O que se
vê de fato é uma pluralidade de realidades, uma pluralidade de culturas, uma pluralidade
de sentimentos, preferências e estilos de vida. Nesse contexto, os movimentos sociais
encontram espaço para crescer e se consolidar como agentes legítimos na sociedade.

Grande parte dessa diversidade é proporcionada pelo próprio avanço tecnológico, tanto
no campo da produção, quanto na informação.

No passado, o lema do fordismo era: “todo mundo tem direito a ter um carro desde que
na cor preta e no modelo T”. Em outras palavras, faça o que quiser, mas não fuja do
padrão.

Em contrapartida, Youtube, redes sociais e sites permitem que pessoas que se


reconheçam como iguais e se encontrem, fortalecendo a identidade da pluralidade de
grupos sociais. Muitos teóricos viram nessa realidade fragmentada a principal
característica da pós-modernidade.

Para Giddens, ainda que o mundo atual seja bem diferente daquele que deu origem à
sociedade moderna, ainda operamos em última instância dentro dos padrões da
modernidade. Se o capitalismo, hoje, não se resume às relações de produção na fábrica,
ou está concentrado em uma classe ou país, ainda assim estamos dentro dos contornos
de uma sociedade científica e capitalista. Para ele, nós podemos falar em pós-
modernidade, mas ela não se resumiria a essa crítica dos valores sociais, veremos esse
ponto ao longo do nosso estudo.

Nesse contexto, surgiu o pós-colonialismo, questionando o conceito de pós-


modernidade porque ela significaria admitir a diversidade, mas assumindo ainda o poder
do discurso do dominador. Por exemplo, se eu digo que aceito o negro, o LGBT ou
outro grupo social, ainda assim estaria em uma posição de autoridade. O pós-
colonialismo reivindica o lugar de fala e a narrativa. Não é o dominante aceitando o
“outro”, mas cada grupo se empoderando e se afirmando de forma legitima.

O pós-colonialismo é um movimento intelectual que surge em meados do século XX


quando as colônias europeias na Ásia e na África conseguem sua independência e
passam a reivindicar um espaço autônomo de pensamento social.
De qualquer sorte, temos, hoje, uma sociedade plural onde os atores sociais reivindicam
e interpretam o mundo a partir da realidade em que se encontram. O grande desafio está
em incorporar a diversidade, admitir que não existe um único modelo de certo ou errado
porque o mundo social não é assim. Porém, isso não pode significar que vale tudo.
Encontrar esse ponto de equilíbrio entre a diversidade e os limites dessa diversidade de
valores é algo a ser compreendido.

Queremos chamar atenção aqui para essa compreensão sobre a diferença entre
modernidade, pós-modernidade e pós-colonialismo, pois, cada vez mais, esse debate
teórico está no cotidiano.

Fique por dentro

A análise sociológica requer a compreensão das mudanças que ocorrem nas sociedades
humanas. Essas mudanças ocorrem somente na organização política e econômica, ela
afeta a vida das pessoas, as práticas sociais do cotidiano. Envolvem a história das ideias
do pensamento humano. A identificação de continuidades e mudanças é importante para
entender o contexto em que vivemos. Leia da página 11 a 14 do livro Cultura e pós-
modernidade, de Talita Nascimento, para podermos complementar a compreensão das
mudanças que caracterizam nosso tempo.

Tradição x Ciência na pós-modernidade

Nesta atividade, abordaremos a relação entre tradição e ciência na pós-modernidade. As


sociedades pré-modernas tinham, na tradição, a forma privilegiada de ser e de estar no
mundo. A pós-modernidade reconhece a ambição modernista de substituir a ciência pela
religião, porém, ela revela que esse projeto fracassou ao trocar uma narrativa por outra
quando a nossa realidade é muito mais complexa e plural. Assista ao vídeo abaixo, para
compreender melhor esse assunto.

A ideia de modernidade, na sua forma mais ambiciosa, foi a afirmação de que o homem
é o que ele faz, e que, portanto, deve existir uma correspondência cada vez mais estreita
entre a produção, tornada mais eficaz pela ciência, a tecnologia ou a administração, a
organização da sociedade, regulada pela lei e a vida pessoal, animada pelo interesse,
mas também pela vontade de se liberar de todas as opressões. Sobre o que repousa essa
correspondência de uma cultura científica, de uma sociedade ordenada e de indivíduos
livres, senão sobre o triunfo da razão? Somente ela estabelece uma correspondência
entre a ação humana e a ordem do mundo, o que já buscavam pensadores religiosos,
mas que foram paralisados pelo finalismo próprio às religiões monoteístas baseadas
numa revelação. É a razão que anima a ciência e suas aplicações; é ela também que
comanda a adaptação da vida social às necessidades individuais ou coletivas; é ela,
finalmente, que substitui a arbitrariedade e a violência pelo Estado de direito e pelo
mercado. A humanidade, agindo segundo suas leis, avança simultaneamente em direção
à abundância, à liberdade e à felicidade. (ALAIN TOURAINE)

O projeto da modernidade é ambicioso. Os ideais iluministas inspiravam as


transformações que estavam em curso em uma direção radicalmente nova em relação a
qualquer tipo de sociedade humana anterior. O mundo como produto da intervenção
consciente do homem numa perspectiva linear, objetiva e certeira em direção ao futuro.

As sociedades pré-modernas eram orientadas pela tradição, segundo Giddens. A


tradição, os costumes são os elos que unem as pessoas no seu cotidiano, no seu
pensamento e no seu comportamento. A tradição busca no passado uma orientação
sobre como agir no presente e no futuro em um ciclo infinito de continuidade e
repetição.

A tradição está vinculada a uma forma de estar no mundo dada pela superstição. Um
pensamento mágico no qual o indivíduo deve se adaptar porque se explica no costume
ou na religião. Nesse sentido, o comportamento humano seguirá rituais predefinidos que
são importantes na preservação de uma memória comum e de verdades compartilhadas
por uma comunidade.

Em resumo, as sociedades pré-modernas guardam uma verdade sobre a forma de ser e


de estar no mundo. O sentido do correto e do bem são preservados pelos guardiões da
tradição., reconhecidos pela sua conduta moral e pelo que representam naquela
comunidade, seja ele um político ou um líder religioso. Essas verdades e padrões são
como metanarrativas que explica a sociedade e ao mesmo tempo é usada como a
maneira correta de viver nessa sociedade – meta pode ser compreendida aqui como a
direção e a narrativa, a história, segue essa direção.

A modernidade quebra com essa tradição, mas ao mesmo tempo constrói novas
tradições e novas metanarrativas. A ciência é colocada como único conhecimento
verdadeiro sobre o mundo e o cientista como o guardião e o produtor desse
conhecimento. Uma nova crença se coloca sobre as crenças anteriores, acreditando que
a razão humana bastaria para definir a ética e os valores da modernidade.

As tradições do passado que envolviam o rei, o sacerdote ou uma figura de poder, bem
como os cerimoniais religiosos ou políticos são reinventados. A formatura na escola, a
nomeação de um funcionário público ou um simples procedimento de identificação
pessoal são novas práticas sociais, necessárias em uma sociedade de massa quando
precisamos reconhecer quem é a autoridade ou qual sua qualificação.

Contudo, a modernidade não repete o passado. Inspirada no iluminismo, ela se projeta


como uma direção para o futuro. Seus fundamentos são a ciência e o protagonismo
humano. O conhecimento científico se renova através das pesquisas e de suas
descobertas. O homem como produtor da sua própria história constrói instituições
sociais e organizações para suportar uma sociedade de massa que se aprimora em um
contexto democrático.

A pós-modernidade coloca em xeque as promessas da modernidade. Isso porque se


entende que os ideais iluministas que inspiraram a modernidade trocam uma
metanarrativa ancorada na religião para estabelecer uma outra metanarrativa ancorada
na ciência e entendida na sua forma mecânica e linear. No entanto, o mundo social é
muito mais plural e admite outras formas de pensar a sociedade.

Certamente, o conhecimento científico tem um papel central na nossa sociedade, mas a


resposta da ciência para os problemas sociais, para a diversidade cultural e étnica não é
uniforme. Ao contrário, cada grupo social se proclama o direito de contar a sua história
e escrever o seu futuro. Por isso, o feminismo, o movimento negro, o movimento
LGBTQI+ entre outros se mobilizam afirmando sua identidade e reivindicando seu
lugar de fala nessa sociedade. Nesse contexto a pós-modernidade não pode ser
entendida como um conflito onde a perspectiva de um grupo irá se impor sobre as
demais. Ao contrário, é a perspectiva da convivência diante do reconhecimento da
diferença.

Procuramos destacar, nesta atividade, a questão da tradição e da ciência como modos de


ser e estar no mundo que nos ajudam a compreender a nossa realidade e comparar os
diferentes contextos em que ela surge. Como as tradições e as “novas” tradições
estabelecem referências a partir das quais interagimos no mundo. Como esses conceitos
estão presentes no nosso cotidiano e ajudam a entender as dinâmicas sociais que nos
deparamos no fazer profissional.

Fique por dentro

Retomamos o estudo do papel da ciência nas sociedade pós-moderna porque vivemos


essencialmente em uma sociedade da informação. A informação, base de todo
conhecimento, é o elemento a partir do qual operamos no mundo. Conhecimento não é
apenas teoria. O conhecimento é tudo o que informa nossa ação. A forma como o
conhecimento é compreendido na pós-modernidade difere de outros períodos históricos,
mas possui uma importância maior uma vez que circula pela internet, influenciando a
política, a vida das pessoas e o mundo dos negócios. O texto de Felipe Amaral pode nos
ajudar a entender as mudanças que afetam a pós-modernidade quando ele aborda o
pensamento de Bauman, entre as páginas 38 e 41, do livro Cultura e Pós-
modernidade.

Comunidade e sociedade na pós-modernidade

Quando colocamos em perspectiva as relações sociais nas sociedades pré-modernas,


modernas e pós-modernas, recorremos à organização social e à distinção clássica entre
comunidade e sociedade. E, quando pensamos a sociedade pós-moderna como aquela
que leva o individualismo ao extremo, a convivência só se torna possível se buscarmos
relações íntimas como forma de estabelecer relações estáveis e o uso de sistemas
abstratos para mediar as relações entre pessoas que não se conhecem. Agora, assista ao
vídeo com mais detalhes sobre a comunidade e sociedade:

Quando trazemos a ideia da tradição para a organização das sociedades humanas,


estabelecemos uma relação com os conceitos de comunidade e sociedade. A ideia de
comunidade na sociologia é diferente do uso que fazemos dela no cotidiano. No senso
comum, comunidade é uma região de urbanização precária e população de baixa renda.

Na sociologia, comunidade é um conjunto de pessoas que vivem em um determinado


espaço e compartilham dos mesmos interesses e, em geral, do mesmo estilo de vida. As
pessoas se reconhecem entre si como pertencentes ao mesmo grupo porque as relações
são mais pessoais e obedece a regras comuns. Predominam os mesmos valores e
costumes. A ideia de pertencer àquela coletividade é muito forte. Essa configuração traz
uma certa estabilidade nas relações pessoais, pois existe uma expectativa no
comportamento das pessoas que é referenciada pela tradição.

Em outras palavras, quando falamos em honrar a palavra, ou quando, no seu prédio ou


rua, você sabe o aconteceu com o filho de determinada pessoa, em certo sentido,
estamos falando de uma vida que é compartilhada com outras pessoas. Na qual se
espera determinado comportamento. Quanto mais voltamos no tempo, na medida em
que a população humana era menor, mais esse sentimento comunitário aumenta. A vida
da comunidade dependia de todos em tempos de guerra ou de paz.

A sociedade, ao contrário, pode ser composta por várias comunidades e pessoas que se
relacionam entre si de maneira mais impessoal e formal. Ela abrange vários espaços
geográficos e é utilizada para representar, de forma mais abstrata, o interesse de todos
que fazem parte dela. As relações sociais entre as pessoas e as comunidades são
mediadas pelas instituições sociais e políticas. Por exemplo, na escola, recebemos
pessoas de diferentes lugares, e sua organização permite a convivência delas de acordo
com suas regras.

A sociedade enquanto conceito e realidade histórica como conhecemos surgiu com a


modernidade. O Estado-nação (o país) como instituição política moderna representa a
organização política da sociedade. Isso significa que em determinado território as
guerras entre feudos na Idade Média, ou entre as cidades-estados na Grécia Antiga,
estão pacificadas. Os diferentes grupos sociais passam a fazer parte de algo maior, a
sociedade.

A sociedade, em um contexto urbano, liberal e capitalista, liberta o indivíduo do


compromisso que ele tem com a comunidade. A questão é: Se estamos em uma
sociedade de indivíduos, o que motivaria a confiança e a coordenação social?

A vida comunitária continua a existir conjuntamente com a vida em sociedade quando


em determinada região temos as características descritas acima. Porém, a sociedade é
esse todo maior no qual os indivíduos transitam e vivem.

Essa ideia de liberdade é extraordinária, porém ela significa que estamos sozinhos. Que
dificilmente podemos contar com o apoio da comunidade. Podemos ter o suporte de
políticas sociais, mas eles não suprem todas as necessidades. A família pode ser esse
espaço de acolhimento, mas não de proteção integral. Quando olhamos para o passado,
o filho seguia a profissão do pai e o seu lugar no mundo estava estabelecido. Não existe
esse compromisso do indivíduo com a família, assim como a família é composta por
outros indivíduos comprometidos com suas respectivas vidas. Certamente, existe um
senso comunitário na família, mas ela própria vem se modificando no mundo
contemporâneo.

Segundo Zigmunt Bauman, vivemos em uma modernidade líquida, na qual tudo muda e
se dissolve muito rapidamente. Conforme a sociedade se globaliza e as relações afetivo-
sociais se virtualizam por meio das redes sociais, os padrões éticos e morais são
dissolvidos e mudam de uma hora para outra. Em outras palavras, os comportamentos
que eram aceitáveis até um momento se tornam politicamente incorretos em outro.
Vemos, ainda, as pessoas escolhendo ou justificando seus comportamentos a partir das
suas crenças e preferências; o autor equipara esse fato às vontade de um consumidor,
alguém que consome pessoas, relacionamentos e valores sociais sem conseguir
consolidar parâmetros suficientemente sólidos para orientar a sociedade.

Segundo Giddens, na modernidade tardia as relações sociais são desencaixadas dos


modelos tradicionais da vida comunitária e reencaixadas na sociedade contemporânea.
A sociedade moderna é centrada no indivíduo, em uma sociedade de massa, onde
predomina relações impessoais e superficiais entre pessoas que não se conhecem ou mal
se conhecem. Nessas condições, a confiança somente pode ser restabelecida através de
compromissos com rosto e sem rosto. Isto é, buscamos, nas relações íntimas, a
confiança e a segurança necessárias para estabilizar relações sociais no primeiro caso. A
confiança entre pessoas que não se conhecem só é possível através de sistemas abstratos
de organização da sociedade que veremos mais adiante. Um cenário bem diferente das
comunidades antigas.

Em certo sentido, quando hoje discutimos as relações familiares, afetivas e sociais,


estamos tentando estabelecer algum padrão que sirva de referência para a convivência
social. Seja um grupo defendendo valores tradicionais ou outro trazendo a possibilidade
de novas formas de convivência, ao final, estamos procurando uma forma de dar
unidade a essa diversidade. Nesse sentido, vemos o ressurgimento de novas
comunidades, ou tribos, que se caracterizam por algum tipo de identificação, um
movimento social ou pessoas que gostam de histórias de super-heróis por exemplo,
porém, em um contexto diferente das sociedades pré-modernas.

Fique por dentro


Entre a confiança que as pessoas vivem em uma comunidade onde ela é conhecida, algo
comum no passado e a impessoalidade da sociedade de massa, nas sociedades pós-
modernas, assistimos ao ressurgimento das tribos, dos grupos identitários menores
unidos por gostos, preferencias ou características comuns que lhe dão vida. Os
micromovimentos identitários, em oposição aos grandes movimentos sociais, ligados às
grandes causas sociais, apontam a pluralidade de modos de vidas na pós-modernidade e
o desejo de segurança em espaços sociais em que a pessoa se sente acolhida e
reconhecida. Fora desse contexto, somos mais um na multidão experimentando um
sentimento de abandono em uma sociedade volátil. Leia este pequeno trecho nas
páginas do livro As consequências da modernidade, de Anthony Giddens.

II- Descontinuidades e continuidades na pós-modernidade

As sociedades humanas mudam ao longo do tempo. Contudo, entre um momento


histórico e outro algumas mudanças são mais radicais que outras. Segundo Giddens, na
modernidade tardia presenciamos uma mudança significativas em relação aos modelos
de sociedade anteriores que são perceptíveis pela velocidade da mudança, pelo escopo
da mudança e pela natureza das mudanças nas instituições sociais modernas. Para isso,
vamos assistir ao vídeo abaixo:

A pós-modernidade pode ser compreendida a partir de diferentes autores. Vamos nos


concentrar no pensamento de Bauman e Giddens. Desse modo podemos ter um fio
condutor para pensar o mundo atual.

Ressaltamos, nas atividades anteriores, a crítica ao conhecimento científico, quando ele


abandona explicações simples e lineares de causa e efeito admitindo a complexidade do
mundo, o que requer explicações que considerem vários fatores.
Destacamos, também, algumas transformações sociais sobre quando a vida comunitária
perde o caráter coletivo, pessoal e se torna mais impessoal e individualista, no momento
em que o Estado-nação incorpora várias comunidades, e a sociedade adquire uma
dimensão diferente das realidades históricas anteriores.

Giddens percebeu uma descontinuidade entre a sociedade moderna e as pré-modernas.


Esse autor chama de "modernidade tardia" a época em que vivemos. Segundo ele, o
mundo se opõe em grande medida à sociedade moderna da forma como ela se
constituiu, mas ainda estamos dentro das suas fronteiras. Ele destaca três características
principais de descontinuidade entre as sociedades modernas e pré-modernas.

A primeira descontinuidade se dá em relação à velocidade das transformações.


Historicamente, quando pensamos em valores sociais ou a vida cotidiana das pessoas,
vemos poucas mudanças por centenas de anos.

Na Idade Média, ou na Antiguidade Clássica, viveríamos uma vida inteira sem qualquer
mudança. Muitos sequer saiam da sua vila ou do seu feudo. A guerra, talvez, fosse um
dos eventos mais radicais no período. Mesmo assim, por exemplo, os romanos se
limitavam a cobrar impostos das regiões conquistadas sem interferir na religião ou nos
costumes dos povos dominados.

Em seu livro, Caminho crítico, Buckminster Fuller analisou a curva do conhecimento


da humanidade. Ele observou que se considerarmos o primeiro ano da Era Cristã até
hoje, a humanidade levou 1500 anos para dobrar seu conhecimento sobre o mundo. A
partir de 1750, o conhecimento dobrou em, apenas, 250 anos. Depois de 1900, a
capacidade da humanidade em dobrar o conhecimento diminuiu para 100 anos e, após a
Segunda Grande Guerra, para 25 anos. Atualmente, considera-se que a capacidade de
dobrar o conhecimento humano ocorre a cada ano e que podemos reduzir em breve para
12 horas a capacidade de produzir o dobro do conhecimento humano. Podemos ver
parte disso acontecendo a cada lançamento de celular ou outros produtos vendidos no
mercado. O enfrentamento da Covid é um outro exemplo da capacidade de produção do
conhecimento humano.

A velocidade na produção do conhecimento não é apenas uma observação da realidade.


Conhecer significa que a vida vem mudando em uma velocidade extraordinária.
Inteligência artificial, automação, o mundo do trabalho, a indústria de alimentos, o
smartphone impactam na forma como vivemos. A nossa vida muda nessa velocidade.
Os valores sociais e os relacionamentos afetivos também são impactados. Por isso, há
um certo sentimento de que “tudo que é sólido se desmanchar no ar”.

A segunda dimensão dessa descontinuidade está na sua abrangência, no seu escopo. Ela
não atinge apenas um país, ou uma geração, mas todos os países e povos. O
desenvolvimento tecnológico e a globalização diminuíram as distancias geográficas.
Isso configurou o que a sociologia chamou de produção flexível, de capitalismo
flexível.

O modelo de produção do capitalismo monopolista se pautava no fordismo. Produção


em massa, organizada de maneira rígida, a partir de uma matriz com várias filiais
espalhadas pelo mundo. Com a tecnologia, o Toyotismo possibilitou a produção
flexível. A produção poderia ser feita por encomenda uma vez que fosse possível alterar
as configurações de um robô para ele mudar as características do produto a ser vendido.
As fábricas passaram a mudar de lugar, bem como a forma de trabalhar e de receber
matéria-prima na sua cadeia de suprimento, buscando modos de aumentar os lucros.

Grande parte do desenvolvimento que vemos na China reflete essa realidade. Produzir
lá é mais barato e transportar a mercadoria de lá para outros países não é difícil e caro.
A divisão internacional do trabalho reorganiza a relação entre os países. Empresas como
Amazon, Aliexpress são exemplos de como comprar, vender e produzir adquirem uma
dimensão mundial. O grande capital circula pelos países buscando a melhor forma de
reduzir custos e aumentar lucros. Isso afeta os países e as pessoas.

A terceira característica da descontinuidade entre as sociedades antigas e a moderna é a


natureza intrínseca das instituições modernas. O advento do Estado-Nação não encontra
paralelo na história humana. Um país reunindo diversas comunidades em uma única
organização política e social. O mercado nacional e a forma como ele transformam as
relações de trabalho em mercadoria como estudado no módulo anterior. A própria
cidade moderna na sua dimensão e na sua dinâmica social e operacional muito diversa
da cidade feudal ou das cidades-Estado gregas.

Por isso, para Giddens a mudança, a descontinuidade da vida no mundo moderno e


antigo, ou quando observamos o hoje em relação à modernidade nos seus primeiros
momentos no século XVI, notamos uma mudança significativa. Em relação à
modernidade, compartilhamos alguns fundamentos, contudo, interagimos muito mais
com a política, a economia de uma maneira bem mais complexa e a dinâmica do que no
passado.

Quando nos deparamos com o trabalhador que busca a assistência social ou quando
estamos em uma comunidade carente, percebemos os impactos que essas mudanças
acarretam à vida das pessoas. As estratégias de enfrentamento da questão social se
tornam um desafio maior que nos obriga a entender cada vez mais essa realidade e criar
estratégias de intervenção mais poderosas. Um grande desafio!

Fique por dentro

A simples constatação de que a vida, hoje, passa muito mais rapidamente do que no
passado, parece uma observação menos importante. Porém, nesse intervalo, observamos
uma mudança significativa nas profissões, no conhecimento humano, nos valores
sociais, no comportamento entre tantos aspectos da vida moderna. Para Giddens, essa é
uma forma de perceber as descontinuidades entre a vida nas sociedades pré-modernas e
na modernidade tardia. Podemos compreender seu pensamento por meio da leitura do
artigo de Antonio Ozai da Silva, na página 3.

Saiba Mais

Quando analisamos as práticas sociais, notamos uma mistura de informações


misturando o passado, o presente, o futuro, os lugares e, em seguida, a recombinação
desses elementos. A expressão "tudo junto e misturado" traduz esse sentimento, no
qual estão a diversidade e as possibilidades de encaixe, desencaixe e reflexividade de
que fala Giddens. O vídeo abaixo ilustra esses conceitos:

Encaixe e desencaixe: a relação espaço-tempo na modernidade

Nas sociedades pré-modernas a relação espaço-tempo estão entrelaçadas. Existe um


lugar e um tempo em que as relações sociais se desenvolvem. Na modernidade tardia o
espaço-tempo são desencaixados dos seus contextos originais e reencaixados em outros
contextos. A vida no mundo contemporâneo permite cada vez mais a produção de um
mosaico de experiências sociais e culturais sobrepostas, misturando o antigo e o novo, o
ocidente e o oriente, por exemplo. Para entender melhor essa relação, assista ao vídeo
que preparei a seguir:

Na sociedade pré-moderna o tempo e o local estão entrelaçados. O tempo de acordar, o


tempo de dormir, o tempo de trabalhar coincide com o tempo natural e com o lugar. O
tempo de plantar, o tempo de colher, assim como cada momento está intimamente
interligado ao lugar que o homem está presente. Estar no campo ou na cidade antiga
implica em acordar em um dado momento quando iniciamos nossas atividades
cotidianas. A presença do indivíduo no espaço e no tempo é necessária para a
manutenção da organização social.

O deslocamento da produção rural para a indústria na cidade provoca uma ruptura no


tecido social. As pessoas que viviam em um feudo, convivendo com um conjunto de
famílias, são deslocadas para a cidade. Significa dizer que há um desencaixe na forma
de se relacionar com as pessoas e com o espaço. O espaço urbano e industrial é mediado
pelo relógio que determina quando devemos trabalhar ou não. A indústria determina
com quem o indivíduo vai trabalhar pois tem a contratação, a demissão e a hierarquia do
trabalho a partir das condições ditadas pelo homem capitalista.

Nesse contexto, o tempo é controlado pelo homem que determina quando devemos
fazer algo ou quando podemos descansar. Na medida em que o mundo se globaliza,
cada vez mais há uma necessidade de articular os horários entre os diferentes países
(espaço). Cada vez mais a sociedade funciona num único ritmo ditado pelo capital. O
Natal, as datas comemorativas implicam na mobilização da indústria para o consumo
que é impulsionado pela mídia gerando uma percepção de urgência. Nossas vidas ficam
mais corridas para conseguir fazer tudo dentro desse tempo e não trabalhamos para um
espaço específico porque a produção pode estar sendo vendida em qualquer lugar.

O desencaixe entre espaço e tempo é tão grande que não precisamos estar presentes.
Giddens chama de tempo de “ausência”. Imagine um curso on line que você faça de
qualquer lugar, em qualquer tempo. Quem ensina não está ali e ao mesmo tempo você
precisa fazer o curso porque é a forma de entrar ou se manter no mercado de trabalho. O
mundo cada vez mais virtual amplia essa desconexão entre produção e consumo em um
espaço cada vez mais vazio.

Como podemos trazer esse conceito para o cotidiano do assistente social?


Essa pergunta nos ajuda a fazer várias reflexões em diferentes direções. Imagine que
numa família existem várias gerações: avós, pais e filhos. Procure imaginar onde cada
um deles trabalha, trabalhou ou vai trabalhar. Como cada geração estudou? Como cada
geração experimenta suas relações afetivas e seus valores morais?

Parece que vivemos em mundos diferentes. Há um desencontro de opiniões. Alguma


coisa está fora de lugar e temos de reencaixar no lugar. Vamos nos adaptar à realidade
daquele núcleo familiar. Temos de ser flexíveis para reorganizar as relações
hierarquizada da família tradicional para a realidade da família contemporânea. Essa
reorganização do espaço-tempo não é dada por uma ordem social pré-existente como no
passado onde o papel do pai e da mãe estavam definidos. Vamos presenciar diferentes
realidades.

Fique por dentro


A experiência da vida na sociedade pós-moderna representa um total desencaixe na
relação espaço tempo. Abandonamos as estações do ano, o dia e a noite que orienta o
trabalho na agricultura, para um estilo de vida no qual os horários e os lugares para se
trabalhar ou estar dependem exclusivamente da vontade ou da necessidade humana. A
esse desencaixe da sociedade tradicional temos de reordenar a vida nessa dinâmica que
não se restringe apenas a forma, mas a maneira como nos relacionamos com o mundo
hoje. Podemos estudar mais sobre o tema no livro A Sociologia de Anthony Giddens, de
Jean Nizet entre as páginas 55 e 58.

Saiba Mais
A teoria sociológica de Giddens nos permite entender a dinâmica entre a estrutural
social e o comportamento do indivíduo. Se conseguimos entender a dinâmica entre o
indivíduo e a sociedade, podemos identificar os elementos que poderemos fazer uso se
quisermos uma intervenção social efetiva. Podemos identificar como o indivíduo
interage com a estrutura social para provocarmos um estímulo positivo na conduta das
pessoas assistindo o vídeo abaixo:

Fichas simbólicas e o reordenamento social na modernidade tardia

No mundo atual, convivemos os mais variados tipos de pessoas. Apesar de não


interagirmos com todas, cada uma contribui para a ordenação da nossa sociedade.
Giddens acredita que sistemas abstratos, como as fichas simbólicas, ajudam a
compreender essa dinâmica. As fichas simbólicas são meios de intercâmbio, que são
compartilhados e aceitos em um grupo, permitindo que nos relacionemos com os outros,
como explico no vídeo abaixo:
O tempo e o espaço não estão sob nosso controle, e o mundo moderno nos tira da zona
de conforto quando nos diz onde devemos trabalhar, com quem e como nos relacionar,
como conseguimos nos encontrar no mundo sem entrar em depressão? Em outras
palavras, vivemos, hoje, em um mundo complexo, competitivo e instável o que um
certo pânico em relação ao que somos e ao que devemos ser. As doenças relacionadas à
depressão, ao pânico, à hiperatividade e ao stress refletem a angústia vivida por muitas
pessoas, mesmo de maneira inconsciente. Nesse mundo plural, em constante mudança,
que tira tudo do lugar, como podemos reencaixar as peças para podermos reconstituir
uma nova organização social inclusiva e estável?

Existe uma cópia da Estátua da Liberdade em frente ao New York City Center, um
shopping no Rio de Janeiro. Essa, talvez, seja uma imagem de como as coisas, a
imagem, o tempo sai do lugar, se desloca para outras regiões e cria novas formas de
identidade. Isso porque algumas pessoas, ao passar no local, se identificam com o estilo
americano de ser, assim como outros, sendo ocidentais, se identificam com uma religião
oriental.

A mudança é constante, mas precisamos encontrar um tempo e um espaço onde ela


possa se fixar e permanecer. Em certo sentido, quando vemos movimentos identitários
que buscam sua ancestralidade, seu empoderamento, observamos, na verdade, um
movimento de reencontro do seu lugar, de afirmação das necessidades da sua existência
no tempo presente e no futuro. Muitas vezes, quando nos identificamos com um grupo
social (igreja, partido, movimento social, profissão) e conseguimos permanecer nele,
parte das angústias da modernidade desaparecem.

Giddens explica como essa dinâmica de desencaixe e encaixe ocorre através do sistema
de fichas simbólicas e dos sistemas peritos. Nas suas palavras:

Por fichas simbólicas quero significar meios de intercâmbio


que podem ser "circulados" sem ter em vista as características
específicas dos indivíduos ou grupos que lidam com eles em
qualquer conjuntura particular. Vários tipos de fichas
simbólicas podem ser distinguidos, tais como os meios de
legitimação política; devo me concentrar aqui na ficha do
dinheiro. (GIDDENS, A.)
Giddens chama a atenção para os mecanismos que permitem o desencaixe das relações
tradicionais ao mesmo tempo em que eles permitem uma infinidade de novas
configurações sociais. O dinheiro permite que pessoas desconhecidas se relacionem,
como em um comércio eletrônico, independentemente das crenças e valores que elas
possuem. Não sabemos nada sobre o dono de um comércio eletrônico e somos capazes
de realizar uma transação de compra e venda.

O dinheiro produz, também, um desencaixe em relação ao próprio valor que ele possui,
como vimos em Marx. Compramos uma mercadoria por um determinado valor e este
não tem relação com o tempo trabalhado, custo de produção ou outro critério qualquer.
A marca, o marketing, vai além da necessidade e induz a compra por um valor sem
nenhuma conexão com o mundo real. O valor é o valor percebido pelo consumidor.
Quanto ele está disposto ou foi convencido a pagar.

Em contrapartida, o dinheiro permite o reencaixe das relações sociais ao possibilitar que


elas existam com outros formatos.

Em primeiro lugar, quero complementar a noção de


desencaixe com a de reencaixe. Com este termo me refiro à
reapropriação ou remodelação de relações sociais
desencaixadas de forma a comprometê-las (embora parcial ou
transitoriamente) a condições locais de tempo e lugar. Quero
também distinguir entre o que devo chamar de compromissos
com rosto e compromissos sem rosto, * Os primeiros se
referem a relações verdadeiras que são mantidas por, ou
expressas em conexões sociais estabelecidas em
circunstâncias de co-presença. Os segundos dizem respeito ao
desenvolvimento de fé em fichas simbólicas ou sistemas
peritos, os quais, tomamos em conjunto, devo chamar de
sistemas abstratos. Minhas teses gerais serão as de que todos
os mecanismos de desencaixe interagem com contextos
reencaixados de ação, os quais podem agir ou para sustentá-
los ou para solapá-los; e de que os compromissos sem rosto
estão vinculados de maneira ambiguamente análoga àqueles
que exigem a presença do rosto. (GIDDENS, A.)
Então, na modernidade, a política, a religião, o dinheiro e o trabalho, na forma como nos
relacionamos com eles hoje, nos retiram da tradição e nos reencaixam em novas
relações sociais. Por exemplo, quando o budismo é praticado, ele sai do tempo e
espaço, 2500 anos atrás e do Oriente, respectivamente, para ocupar um outro espaço na
vida das pessoas no ocidente. Nesse sentido, a religião funciona como uma ficha
simbólica que permite a interação com outras pessoas. Ele representa, simbolicamente,
um meio de identificação e reconhecimento de outros iguais.

O assistente social se depara no seu cotidiano com histórias de vidas onde essas
“doenças”, como depressão, violência doméstica e síndrome de pânico ocorrem com
frequência. Ele se depara com pessoas que possuem dificuldade de socialização.
Pessoas com dificuldade de se localizarem na vida, na profissão, nas relações afetivas e,
muitas vezes, isso ocorre porque, ao começarem a estudar ou se relacionar com alguém,
o mundo muda, e a pessoa tem de começar tudo de novo. Essa fluidez é o que Bauman
chama de modernidade líquida. Sempre que achamos que estamos em terra firme, algo
vira lama, e a sensação é de que vamos afundar. A existência de políticas públicas e
redes de proteção social podem ser um apoio importante no empoderamento e na
construção de estratégias de enfrentamento dessas questões.
Fique por dentro

A continuidade é aquilo que existia no passado e permanece no mundo atual. A


descontinuidade significa o oposto, quando uma determinada configuração que havia no
passado deixa de existir. Em certo sentido, as sociedades não mudam porque a família,
o trabalho, o conhecimento entre outros aspectos do mundo social estão presentes na
história humana desde a antiguidade. A descontinuidade está na forma e no conteúdo
como essas dimensões da vida social se organizam e se posicionam no mundo hoje.

Em outras palavras, a família de ontem, não é a mesma de hoje, assim como a forma
como nos relacionamos com os membros dela. Compreender essa descontinuidade
significa compreender a diferença das sociedades pré-modernas da sociedade moderna.

Desencaixar a família, na forma como ela se estruturava 2000 anos atrás, e entender
como ela se encaixa hoje é o objetivo de Giddens. Podemos estudar um pouco mais os
conceitos de Giddens sobre encaixe e desencaixe no artigo de Antonio Ozai da Silva,
entre as páginas 3 e 5.

Saiba Mais

Neste vídeo, teremos a oportunidade de aprofundar nossa compreensão sobre a


globalização e o pensamento de Anthony Giddens. Ao descrever uma dada realidade,
como a globalização, podemos contrapor a realidade descritas com outros momentos da
história humana entendendo melhor suas continuidades e descontinuidades. O olhar
sociológico sobre o mundo surge dessa reflexão que busca a lógica, as estruturas que
caracterizam uma determinada realidade.

A partir dessa visão global, podemos pensar a situação particular, ao passo que nossa
intervenção local impacta no contexto global no qual ela está situada. Obviamente,
existe um limite entre a conservação e a mudança de uma ordem social. E para nos
ajudar a compreender melhor sobre, assista ao vídeo abaixo sobre Globalization and
Communication.
Sistemas peritos e o reordenamento social na modernidade tardia

Giddens identifica um segundo mecanismo de desencaixe na modernidade tardia que


são os sistemas peritos. Nas suas palavras:

Por sistemas peritos quero me referir a sistemas de excelência técnica ou competência


profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que
vivemos hoje. A maioria das pessoas leigas consulta "profissionais" — advogados,
arquitetos, médicos etc., — apenas de modo periódico ou irregular. Mas os sistemas nos
quais está integrado o conhecimento dos peritos influencia muitos aspectos do que
fazemos de uma maneira contínua.” - (GIDDENS, A.)
Agora que já vimos um pouco sobre o seu pensamento sobre o desencaixe na
modernidade, vamos assistir ao vídeo no qual contextualizo esse tema com mais
detalhes:

Como pudemos ver, para o autor, grande parte da vida no mundo contemporâneo existe
por causa dos sistemas peritos. Sistemas que nos ajudam a interagir com situações bem
complexas, apesar de aparentemente serem simples. Diz ele que o simples ato de morar
em uma casa requer que confiemos em um conjunto de sistemas peritos como os
arquitetos, engenheiro, eletricista e outros serviços que me fazem confiar que aquele
espaço está seguro para uso.

Giddens argumentar que confiamos nos sistemas peritos mesmo que nós não tenhamos
conhecimento suficiente. Isso significa que precisamos ter “fé” nele. Porém, a “fé” não
está propriamente na pessoa, mas no conhecimento produzido no sistema. Nós
acreditamos que o cotidiano do hospital ou do aeroporto seguem uma rotina que vai
além do profissional que está nos atendendo. E, a nossa experiência com tratamentos
médicos reafirma nossa “fé” no sistema.

Nesse sentido, o sistema perito substitui o conhecimento religioso, a pessoa do religioso


e a igreja, local onde praticamos a religião. Isto é, o conhecimento é deslocado do
espaço tradicional. Como não conseguimos conhecer tudo, nos resta a confiança.

Outro aspecto dos sistemas peritos é a sua natureza. O conhecimento perito é mutável,
quando ele faz novas descobertas e aprimora suas práticas. O conhecimento novo, em
geral, impacta na mudança de comportamento tanto do técnico quando das pessoas
comuns.

O caráter impessoal e mutável do sistema perito, a sua organização sistêmica desencaixa


as relações espaço-tempo da sociedade tradicional, fornecendo novas “garantias” que
permitam a vida social. Cria um contexto, onde as pessoas podem interagir com outras
pessoas sem as conhecer.

Pode parecer um pouco abstrato, porém, as Fake News questionam os sistemas peritos
quando contestam sua legitimidade e o conhecimento produzido. Isso só é possível
quando depositamos mais confiança na pessoa do que no sistema perito; ou quando
acreditamos que uma decisão pode gerar um resultado mágico oposto ao fato científico.

Fique por dentro

Várias atividades do mundo atual precisam de sistemas altamente complexos e


especializados para funcionarem. Giddens os chama de sistemas peritos, como a
medicina ou o aeroporto. Partes do seu funcionamento são compreensíveis ao cidadão
comum, que os conhecem e utilizam. Além disso, o conhecimento científico está
disponível como conteúdo na internet, em livros ou em cursos ao público em geral e a
todos aqueles que queira vir a ser perito (especialista).

Podemos estudar um pouco mais os conceitos de Giddens sobre encaixe e desencaixe no


artigo de Antonio Ozai da Silva, entre as páginas 3 e 5.

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