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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

TRIÂNGULO MINEIRO – CAMPUS UBERLÂNDIA CENTRO


Curso de Pós-graduação Especialização em Tecnologias, Linguagens e Midas em
Educação

KELLY ALVES CAMILO

Contos de fadas: um estudo cultural dos contos clássicos e os produzidos pela


indústria cinematográfica

Uberlândia
2019
ME DO DICENT
KELLY ALVES CAMILO

Contos de fadas: um estudo cultural dos contos clássicos e os produzidos pela


indústria cinematográfica

Projeto de pesquisa apresentado às disciplinas:


Metodologia da Pesquisa Científica e Grupo
de Estudo e Pesquisa do Curso de Pós-
graduação Especialização em Tecnologias,
Linguagens e Midas em Educação do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Triângulo Mineiro – Campus Uberlândia
Centro.

Professora: Drª. Elisa Antônia Ribeiro e Drª


Gysely Suely Lima

Uberlândia
2019
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 4
2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................ 5
3 OBJETIVOS .................................................................................................................................. 5
3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................. 5
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................. 5
4 HIPÓTESE .................................................................................................................................... 5
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO DA LITERATURA ......................................................... 6
6 METODOLOGIA......................................................................................................................... 14
7 CRONOGRAMA ......................................................................................................................... 15
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 16
1 INTRODUÇÃO

O ato de ouvir e contar histórias são hábitos desenvolvidos pelo homem ao longo
de sua existência. Os contos de fadas surgiram a partir da oralidade entre as camadas
populares, sendo uma miscelânea de mitos, lendas e acontecimentos históricos.
Portanto, essas narrativas possuem origem na tradição oral que se transformaram em
contos populares ao longo do tempo e posteriormente foram escritas pelo francês
Charles Perrault, pelos alemães Jacob e Wilhelm Grimm e pelo dinamarquês Hans
Christian Andersen como resultado de um trabalho de pesquisa da tradição oral
pertencente ao folclore, cada um com suas especificidades.
Palavras como reis, rainhas, príncipes, princesas, bruxas, porções mágicas
aparecem recorrente nos contos. Mas embora os contos clássicos tenham recebido outra
roupagem ao longo do tempo, os personagens permanecem praticamente inalterados.
Reis, 2014 nos diz que:

Os personagens surgem com novas vestimentas, desfragmentados e


desconstruídos de suas formas originais. Isso pode ser observado em filmes
tais como, Deu a louca no Chapeuzinho 1 e 2, onde o personagem,
Chapeuzinho Vermelho está lá, embora a história tenha um contexto
totalmente diferente da original; ou em Branca de Neve e o Caçador,
personagens da clássica história, porém, mais uma vez, apresentados em um
contexto bem diferente; Enrolados, trazendo a jovem que é trancada em uma
torre, Rapunzel, e afastada do convívio familiar até conhecer um príncipe que
a salva. Até aí, poderíamos pensar que não é tão diferente assim, até
percebermos que o príncipe, nesta versão, é um ladrão. E há muitas outras
versões das conhecidas histórias clássicas e o personagem principal sempre
está presente, de uma forma ou de outra (REIS, 2014, pg.14).

Gotlib ( 2004) corrobora com essa ideia e afirma que o conto se caracteriza com
o seu movimento enquanto uma narrativa através dos tempos. Na verdade, o que houve
na sua ―história‖ foi uma mudança de técnica, não uma mudança de estrutura: o conto
permanece, pois, com a mesma estrutura do conto antigo; o que muda é a sua técnica.
Mas muitos são os estudos a respeito das transformações que acontecem nos
contos de fadas, sejam eles por contextos socioculturais ou por adaptações motivadas
pela indústria cultural que, na maioria das vezes, visa a um fim econômico,
desvinculado do papel original de transmissor de valores dos contos de fada. As
adaptações realizadas pela indústria cultural são intenções sociais, políticas, culturais,
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econômicas e morais, conduzindo por vezes à negação da realidade, desvinculadas dos


modelos arquetípicos propostos pelos contos originais, possuindo outros valores que
diferem dos modelos originais (MARTINS E REIS 2014/2015).
Mas então por que estudar os contos de fadas? Sem dúvida são inúmeros os
motivos que me levaram a recorrer a eles. A partir da vivência como professora de
educação infantil, foi instaurada a vontade de pesquisar sobre ―os contos de fadas‖. Na
realidade, os contos permearam minha infância na idade escolar, no qual tínhamos que
fazer teatros para apresentações. Recordo-me de fazermos a peça ―Chapeuzinho
Vermelho‖, no qual eu atuava como o lobo. Posteriormente, na graduação em
Pedagogia, na disciplina de metodologia da língua portuguesa estudamos sobre as
características de um conto de fada o que suscitou ainda mais o fascínio pelos contos de
fadas tradicionais.
Na rotina escolar percebo a fascinação das crianças pelas histórias dos contos de
fadas, no entanto na versão cinematográfica da Disney. É notável o desejo, por
exemplo, das meninas em serem a Elsa, do filme ―Frozem‖, é tão perceptível esse
desejo que em vários momentos algumas crianças se fantasiam de princesas. Mas afinal
de que tipo de princesas estamos falando?
Braga (2004) nos diz que ―a cultura da mídia põe à disposição imagens e figuras
com as quais seu público possa identificar-se, imitando-as‖. Além do mais, no ―Mundo
Maravilhoso da Disney‖, as protagonistas dos desenhos são altamente sensual sendo
magras, com seios fartos, cintura fina, cabelos sedosos e esvoaçantes, a própria boneca
Barbie. Passam ideia de que meninas devem dar atenção à imagem, à aparência, à moda.
Diante do exposto, esta pesquisa buscar responder à problemática: De que
maneira os aspectos sociais e culturais de diversas sociedades em diferentes épocas
influenciam diretamente nos contos de fadas, dando versões diferentes e modificações
desses contos?
O presente trabalho busca organizar uma reflexão sobre os contos de fadas, suas
origens, suas modificações ao longo do tempo e a cultura veiculada pela mídia, através
da vertente histórica e social na busca dos significados morais e pedagógicos dos contos
de fadas como representação da sociedade.
A relevância deste estudo está em demostrar de que maneira os contos chegaram
e sobreviveram em nossa cultura e de que forma a "política Disney" influencia ou
exerce uma ação na formação de crianças e jovens. Assim este estudo se limitará em
fazer referencial a definições da literatura infantil, dando ênfase aos contos de fadas.
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2 JUSTIFICATIVA

O interesse em estudar contos de fadas foi engendrado com base nas atividades
profissionais que desenvolvo como professora de educação infantil. Desse modo
sabemos que ainda existe uma força e a nítida presença dessas histórias que
sobreviveram através dos tempos e ainda continua reverberando nos dias de hoje.
Portanto faz-se necessário analisar contos de fadas em uma perspectiva cultural,
considerando-os como parte daquilo que a humanidade constitui e também como uma
herança cultural.

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Discutir a questão dos aspectos históricos sociais dos contos de fadas, bem
como suas transformações, variações tendo como base os Estudos Culturais.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

-Contextualizar a origem dos contos de fadas e suas contribuições para a sociedade


daquele período;
-Investigar as transformações que ocorreram ao longo do tempo nos contos de fadas;
-Fazer uma comparação entre os contos de fadas originais e os vinculados pela mídia
cinematográfica.

4 HIPÓTESE

Os contos clássicos sofreram adaptações conforme a organização da sociedade


em que eram e que ainda são introduzidos e reproduzidos. Mas, na trajetória de
sentidos, significações e ressignificações das histórias de contos de fadas, podemos
inferir que essas narrativas estão eivadas de proposições a uma ordem social e cultural
estabelecida.
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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO DA LITERATURA

O homem moderno ainda se encanta com as histórias da antiguidade, e com isso


muitos pesquisadores têm-se dedicado a estudá-las e analisá-las, tentando descobrir os
seus significados. Os contos populares ou histórias já foram estudados e analisados sob
os mais diferentes pontos de vista, por sociólogos, psicanalistas, antropólogos,
psicólogos, educadores, entre outros, cada qual dando sua interpretação e se
aprofundando no seu eixo de interesse, sendo, portanto, portadores de múltiplos
sentidos.
Um dos pioneiros estudos científicos sobre contos populares foi o de Vladimir
Propp (2001) que, na década de 1920 na Rússia, dedicou-se à análise estrutural de cem
narrativas contidas na mais conhecida coletânea de contos populares. Propp em sua obra
―Morfologia do Conto Maravilhoso‖ classificou as funções dos personagens em 31, que
ele chamou de ―elementos narrativos constantes‖.
Gotlib (2004), tomando como referência essas funções de Propp, fez uma análise
em ―O Chapeuzinho Vermelho‖ e verifica algumas funções dos personagens: há a
função da ausência de um dos membros da família (o Chapeuzinho), que é a primeira
função determinada por Propp, há também uma ordem que lhe é dada (pela mãe); o
engano da vítima (pelo lobo, que irá devorá-la); a salvação do herói (pelo caçador); a
punição do antagonista (morte do lobo).
Propp estabelece também sete personagens, cada uma com sua ―esfera de ação‖,
que são: o antagonista ou agressor, o doador, o auxiliar, a princesa e seu pai, o
mandatário, o herói e o falso herói.
O autor Bruno Bettelheim, em sua obra A psicanálise dos contos de fadas
(2004), explora os contos de fadas buscando seus significados psicológicos.
Robert Darnton em seu livro ―O Grande Massacre de Gatos: e outros episódios
da história cultural francesa‖, analisa as maneiras de pensar na França do século XVIII.
No capítulo um, intitulado ―Histórias que os camponeses contam: o significado de
Mamãe Ganso‖, o autor busca fornecer interpretações do folclore francês, mas
especialmente pertinente aos camponeses.
Ele começa o capítulo com uma crítica à psicanálise, afirmando que a mesma
―não questiona suas origens nem se preocupa com outros significados que possam ter
tido em outros contextos‖. Os contos seriam documentos históricos e surgiram ao longo
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de muitos séculos, sofrendo diferentes transformações, em diferentes tradições culturais.


Para Darnton, a fim de entender o mundo, o historiador deveria buscar através desses
contos, e com o apoio da antropologia e do folclore, as visões de mundos particulares
por trás deles, considerando que as próprias mentalidades mudaram (DARNTON,
1986).
Mas afinal onde teriam nascido esses contos maravilhosos? Os contos de fadas
são narrativas muito antigas e que, logo no começo, não se destinavam às crianças e
eram mitos difundidos por inúmeros povos.
Segundo Mariza Mendes (2000), ―as histórias que hoje conhecemos como
"contos maravilhosos", "contos de magia" ou "contos de fada" são remanescentes da
tradição mitológica, e os mitos se originaram dos rituais praticados nas tribos
primitivas‖. Reis (2014) também corrobora com essa ideia:

O conto de fadas surge na Europa, durante a Idade Media, e tem por fonte a tradição
oral, provavelmente as narrativas primordiais que ficaram registradas na memória
dos povos e foram transmitidas através dos tempos. Muitos contos revelam a
afinidade com os ritos iniciáticos dos povos primitivos, em que o iniciado, para
alcançar outra etapa da vida, submete-se a inúmeras provas cuja superação
comprova o seu amadurecimento (REIS, 2014, pg.26).

O ato de contar histórias está alicerçado na relação tempo e espaço, bem como
na relação com o outro, pois são passadas de pessoa para pessoa, construindo assim a
figura do narrador. Bettelheim (2004) nos diz que as os mitos, as estórias de fada só
atingem uma forma definitiva quando estão redigidos, pois assim não estariam mais
sujeitos a mudança contínua, como acontece na tradição oral. Antes de serem redigidas,
as estórias ou eram condenadas ou amplamente elaboradas na transmissão através dos
séculos; algumas estórias misturavam-se com outras. Todas foram modificadas pelo que
o contador pensava ser de maior interesse para os ouvintes, pelo que eram suas
preocupações do momento ou os problemas especiais de sua época.
Nesse contexto, Carter (2005) também reforça sobre a origem das histórias:
O mais provável é que a história tenha sido composta mais ou menos da
forma como a temos agora, a partir de todo tipo de fragmento de outras
histórias, há muito tempo e em algum lugar remoto — e foi remendada,
sofreu pequenos acréscimos e supressões, mesclou-se com outras, quando
então nossa informante lhe deu sua forma pessoal, para adequá-la a um
público ouvinte de, digamos, crianças, bêbados num casamento, velhas
debochadas ou pessoas presentes num velório — ou simplesmente para o seu
próprio prazer (CARTER, 2005).
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A passagem da oralidade para o texto escrito é notável, no conto de fadas, pela


inclusão da moralidade como forma de educar crianças. Antes os contos de fadas eram
histórias narradas em círculos sociais adultos como formas de entretenimento e, assim,
possuíam doses de elementos sexuais e de violência, não apresentando nenhum aspecto
de moralidade (REIS, 2014).
Darnton (1986) nos diz que algumas histórias da Mamãe Ganso dos camponeses
franceses, possuem o que ele diz de ―características de pesadelo‖. Cita como exemplo a
versão primitiva da ―Bela Adormecida‖, no qual o príncipe casado, viola a princesa e
ela têm vários filhos com ele, sem acordar. As crianças quebram o encantamento ao
mordê-la para a amamentação.
O autor citado acima nos diz que as histórias ou contos existiam por meio da
tradição popular oral e que antes de serem registradas já duravam séculos. Situou que os
contos na tradição dos camponeses pretendiam divertir os adultos ou assustar as
crianças, como no caso do conto de ―Chapeuzinho Vermelho‖, e que essas histórias
pertenciam a um fundo de cultura popular, no qual os camponeses foram acumulando
através dos séculos, com perdas notavelmente pequenas.
Os contos são, portanto, resultado de criações populares e são a eles
incorporados os modos de viver e pensar das pessoas de diversas épocas e regiões por
onde circularam. Alberti, 2006 nos diz que:

Há indicações de que essas histórias transitaram na Europa durante a Idade


Média, época em que o trabalho árduo nos campos, a pobreza e as doenças
tornavam a vida muito difícil. À noite, depois de muito trabalho, as pessoas
reuniam-se em roda, inventando e contando histórias. Não por acaso, havia
sempre dificuldades e obstáculos que os heróis precisavam vencer, contando
com ajuda mágica e milagres, presentes em todos os contos. Além disso, os
finais eram sempre felizes, pois se a realidade da vida cotidiana era difícil, ao
menos as histórias terminavam como um ―conto de fadas‖ (ALBERTI, 2006,
pg. 23).

Darnton (1986) nos mostra a realidade dos camponeses franceses no início do


período moderno e que mesmo possuindo um pouco mais de liberdade, se comparado
aos ingleses e mais que os servos, os camponeses franceses ainda ―não podiam escapar
a um sistema senhorial que lhes negava terras suficientes para alcançarem a
independência econômica, e que lhes sugava qualquer excedente por eles produzido‖.
Nessa sociedade os homens trabalhavam do amanhecer ao anoitecer, as mulheres
se casavam tarde, as grandes massas humanas viviam em um estado de subnutrição.
Para a maioria dos camponeses a vida na aldeia era uma luta pela sobrevivência. Ao
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analisar as versões camponesas de Mamãe Ganso, o autor nos mostra que há elementos
do realismo e os contos ajudava a orientar os camponeses, pois mapeavam os caminhos
do mundo.
Os contos de fadas passaram a ser reescritos a fim de atender à nova concepção
de infância que se criava na sociedade, uma vez que a ideia que temos de infância hoje
surgiu somente no século XVIII. Darnton (1986) mostra bem essa concepção dizendo
que:
Assim as crianças se tornavam observadoras participantes das atividades
sexuais de seus pais. Ninguém pensava nelas como criaturas inocentes, nem
na própria infância como usam fase diferente da vida, claramente distinta da
adolescência, juventude e da fase adulta por estilos especiais de vestir e de se
comportar (DARNTON, 1986, pg. 47).

Nesse contexto a autora Simone de Campos Reis, 2014 afirma que a noção de
família nuclear surge com a ascensão da burguesia no século XVIII e passa a valorizar a
infância enquanto etapa que merece a atenção dos educadores por ser uma fase
existencial propicia à aquisição de hábitos e formação moral do futuro adulto.
Nessa perspectiva Clarice Cohn (2005) em sua obra ―Antropologia da Criança‖,
nos mostra o estudo histórico de Philippe Ariês, que considera a ideia de infância uma
construção social e histórica do Ocidente. A ideia de criança não existe desde sempre, e
o que hoje entendemos por infância foi sendo elaborado ao longo do tempo na Europa,
simultaneamente com mudanças na composição familiar, nas noções de maternidade e
paternidade, no cotidiano e na vida das crianças, inclusive por sua institucionalização
pela educação escolar.
Três autores são considerados referências quando falamos de contos de fadas:
Perrault (Século XVII), os dos Irmãos Grimm e os criados por Andersen (Século XIX).
O escritor francês Charles Perrault reescreveu vários dos contos de fadas
populares, com destaque para o seu livro Contos da mãe Gansa (1697), acrescentando
uma moral ao final, atribuindo a eles um valor pedagógico. Os contos de fadas passaram
a ter, então, um direcionamento maior para as crianças. Os ―Contos da Mãe Gansa‖,
tinham a intenção de ajudar na formação moral das meninas, em especial. (REIS,
2014).Tomemos como exemplo a moral da história de ―Chapeuzinho Vermelho‖ de
Perrault,2015:
Aqui se vê que os inocentes,
Sobretudo se são mocinhas
Bonitas, atraentes, meiguinhas,
Fazem mal em ouvir todo tipo de gente.
E não é coisa tão estranha
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Que o lobo coma as que ele apanha.


Digo o lobo porque nem todos
São da mesma variedade;
Há uns de grande urbanidade,
Sem grita ou raiva, e de bons modos,
Que, complacentes e domados,
Seguem as jovens senhorinhas
Até nas suas casas e até nas ruinhas;
Mas todos sabem que esses lobos tão bondosos
De todos eles são os mais perigosos.

Para a Darnton (1986) a moral dessa história para menina é clara: afastem-se dos
lobos. No entanto, ao fazer alguns retoques nos contos originais, Perrault suprimiu
questões referentes à violência e sexualidade, fazendo com que as histórias sejam
aceitas de ante da população erudita. Tomemos como exemplo o conto Chapeuzinho
Vermelho, em que a versão recolhida por Perrault, difere da versão conhecida por nós
(FALCONI, FARAGO, 2015).
A versão verdadeira da história Chapeuzinho Vermelho termina sem caçador,
sem resgate da vovó que acaba ficando dentro da barriga do lobo, sem final feliz: ―E,
dizendo essas palavras, o lobo mau se atirou sobre Chapeuzinho Vermelho e a comeu‖.
Na verdade as histórias foram reformuladas para seu público, como no caso os nobres:

Nessa perspectiva, podemos dizer que a literatura para crianças e jovens teve
início na cultura europeia, e foi disseminado apelo francês Charles Perrault,
ao reunir em um livro as histórias narradas pela camada populares francesas
do Ancien Régime. Ao coletar histórias tradicionais, Perrault iniciou um
trabalho de resgatar histórias contadas de boca a boca. Sendo assim, o
contista não criou a narrativa de seus sonhos, mas sim adaptou para que estas
se adequassem a corte francesa do rei Luís XIV. (FALCONI, FARAGO,
2015).

Os contos incluídos no livro Os ―Contos da Mãe Gansa‖, são: A Bela


Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, A Barba Azul, O Gato de Botas, As
Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.
Outro célebre nome que aparece quando pensamos em conto de fadas são os
estudiosos Jacob e Wilhelm Grimm ao qual fizeram uma coletânea dos contos
tradicionais alemães, na tentativa de encontrar nesses contos populares alguma raiz
linguística relacionada à cultura alemã. Eles recolheram mais de 100 contos voltados
para crianças e adultos, apresentando versões diferentes dos mesmos contos de Perrault.
Existe uma diferença entre as versões dos Irmãos Grimm e de Perrault :a versão dos
Irmãos Grimm está muito mais próxima da versão original, sem as inserções morais de
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Perrault. O intuito deles era mostrar a evolução da linguagem através dos diferentes
contos. (REIS, 2014)
Os irmãos publicaram os Contos de fadas para crianças e adultos (1812-1822)
ao qual podemos destacar os contos que foram traduzidos para o português: A Bela
Adormecida, Os Músicos de Bremen, Os Sete Anões e a Branca de Neve, Chapeuzinho
Vermelho, A Gata Borralheira, O Corvo, As Aventuras do Irmão Folgazão, A Dama e o
Leão.
Ainda no século XIX, na Dinamarca, Hans Christian Andersen escreveu mais de
200 contos infantis, parte de fontes da cultura popular; parte de sua imaginação. Desse
modo, Andersen insere elementos maravilhosos e o sentimento romântico do século
XIX, fazendo um misto de pensamentos mágicos, presente na memória popular.
Segundo Falconi e Farago, 2015:

Andersen difere de Perrault e dos Irmãos Grimm, pelo fato de não se limitar
em recolher e recontar histórias tradicionais, pois além de colher contos,
criou diversas histórias novas, seguindo o modelo das histórias tradicionais e
conservando sua principal característica: uma visão poética e melancolia.
Assim, seu livro, além de serem contos compilados nos países nórdicos,
também trazia histórias como, O Patinho feio, A Roupa Nova do Imperador,
O Soldadinho de Chumbo, entre outras (FALCONI, FARAGO, 2015).

Dessa forma, percebemos que houve inúmeras adaptações dos mais conhecidos
contos de fadas. Na contemporaneidade, essas reformulações foram feitas
principalmente pelo cinema e pela companhia The Walt Disney. Esses contos,
resgatados pela revolução tecnológica, muitas vezes recebem outra roupagem como, por
exemplo, Branca de Neve e o caçador (2012), Frozen (2013), Malévola (2014), A Bela e
a Fera (2017).
O autor Bruno Bettelheim, 2004, em sua obra ―A psicanálise dos contos de
fadas‖ afirma que:
A maioria das crianças agora conhece os contos de fadas só em versões
amesquinhadas e simplificadas, que amortecem os significados e roubam-nas
de todo o significado mais profundo - versões como as dos filmes e
espetáculos de TV, onde os contos de fadas são transformados em diversão
vazia (BETTELHEIM, 2004, pg.23).

O mundo capitalista aceitou totalmente as criações da Companhia Disney e seus


desenhos animados influenciaram características particulares como, por exemplo, o
embelezamento, inclusive dos contos de fada, fosse por meio de filmes, livros, ou peças
de teatro. Além do império de entretenimento e economia construído, a Disney tornou-
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se um veículo de disseminação de ideologias, em favor do Estado e da promoção dos


valores culturais americanos voltados, especificamente, às crianças (MARTINS; REIS,
2014/2015).
Nesse contexto, as animações, com seu caráter persuasivo, modificaram a
cultura infantil. Para as autoras citadas acima, a Disney representa o domínio capitalista,
por meio de seus desenhos animados, estabelecendo assim, relações de poder em torno
de políticas e ideologias, que poderiam ser destinadas desde a educação até ao comércio
desenfreado de produtos relativos aos personagens Disney.
As identidades individuais e coletivas das crianças e dos jovens são amplamente
moldadas, política e pedagogicamente pela cultura visual. Como consequências dessa
transformação, verifica-se que esse modelo de cultura infantil, penetrou nas instituições
escolares. Silva, 2010 nos diz que: ―a forma envolvente pela qual a pedagogia cultural
está presente na vida de crianças e jovens não pode ser simplesmente ignorada por
qualquer teoria do currículo‖.
Nesse sentido, surgiram análises dessa pedagogia da mídia, e Silva, 2010 cita,
por exemplo, os estudos de Henry Giroux no qual em suas análises dos filmes
produzidos pela Disney, problematizou a suposta inocência e o caráter aparentemente
inofensivo e até benigno dessas produções culturais para o público infantil. Giroux cita
como exemplo, o filme ―A pequena sereia‖ ou ―Aladim‖, no qual vê uma pauta
pedagógica carregada de pressupostos etnocêntricos e sexistas no qual moldam as
identidades infantis e juvenis.
Partindo de tais convicções, entendemos que as diversas formas culturas de
entretenimento infantil carregam ensinamentos implícitos, como estereótipos culturais,
modelos de papéis e preconceitos, hegemonia branca nos desenhos de príncipes e
princesas, estímulo ao consumo exacerbado.
Partindo desse pressuposto de que essa produção cultural desenvolvida pela
mídia capitalista no qual alguns estereótipos, como a ideia de papéis distintos entre
homens e mulheres na sociedade, onde homens eram apresentados como fortes, viris,
valentes, heróis salvadores de donzelas indefesas, frágeis e submissas, que
representavam as mulheres, são apresentados, alguns autores da modernidade procuram
desconstruí-los.
Obras como a Coleção Antiprincesas, contam histórias de mulheres latino-
americanas que não viveram em castelos, que não se destacaram por sua dedicação aos
afazeres domésticos, que não sonharam com bailes em palácios e príncipes encantado,
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mas são mulheres reais e fantásticas, que marcaram as artes e a história da América
Latina. São contadas nessa coleção histórias de antiprincesas como Fridda Kallo,
pintora mexicana, Violeta Parra, uma autodidata Chilena, Clarice Lispector, uma
antiescritora popular do Brasil que quebrou as regras literárias e abandonou uma vida de
princesa para voltar à sua terra, entre outras. Essa coleção também se aventurou em
contar histórias sobre Anti-heróis.
Essas histórias de antiprincesas e anti-heróis contrapõem-se as histórias contadas
nas versões produzidas pela Disney, segundo Silva (2016) os personagens das
produções cinematográficas são:

Os príncipes e princesas são personagens predispostos a aventuras,


desempenham papéis de heróis, sempre resgatando alguém. As princesas
geralmente caracterizadas pelos atributos femininos de bela, virtuosa, honesta
e generosa, recebem como merecimento um belo prêmio o ―príncipe
encantado‖, marcando dessa forma a passividade e a função social de
organização familiar que constrói um imaginário de felicidade atrelado à
realização matrimonial. Observa-se nessas histórias que há sempre uma busca
de realização interior pelo amor, essa busca parece ser a problemática
existencial, e sempre aparece com um final feliz. O herói conquista o objetivo
almejado, os protagonistas sempre pertencem a classe mais abastada,
concedendo pouquíssimo espaço para os personagens identificados como
pobres (SILVA, 2016).

Seguindo essa lógica de desconstrução dos estereótipos impostos pela cultura


cinematográfica, a série lançada pela Plan International Brasil intitulada como a
―Revolução das Princesas‖, reconta histórias infantis empoderando suas personagens.
Os contos de Ariel, Bela Adormecida, Rapunzel e Cinderela foram então reconstruídos
sobre outra perspectiva social.
Braga (2004) nos diz que questionar sobre as diferenças culturais em contextos
políticos, sociais e históricos é o papel que os Estudos Culturais se propõem a refletir na
atualidade, bem como a multiplicidade de objetos de investigação que pretendem
assumir. Nesse caminho, propõe uma pedagogia crítica da mídia, possibilitando que os
indivíduos entendam a cultura e a sociedade em que vivem a partir de um instrumental
crítico que os ajude a evitar a manipulação da mídia, permitindo que outras formas de
transformação cultural e social sejam produzidas.
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6 METODOLOGIA

Sabe-se que os contos de fadas surgiram da tradição oral e eram contadas por
pessoas do povo com o objetivo de distração e entretenimento. Depois foram transcritas
espalhando e permanecendo viva até os dias atuais. Os contos de fadas não tem somente
a função de divertir e encantar, mas representam as características da sociedade. Por
este motivo, será realizada a pesquisa bibliográfica sobre os contos de fadas desde a sua
origem até as transformações contemporâneas.
Portanto, o presente trabalho se concretizará mediante pesquisas descritivas e
explicativas, limitando-se a pesquisas bibliográficas, mostrando o que é um conto de
fadas, suas origens e transformações. Gil (2008, p. 28) nos explica o que é pesquisa
exploratória:

As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver,


esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.
De todos os tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menor rigidez no
planejamento. Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e
documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos
de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são
costumeiramente aplicados nestas pesquisas.

Com relação à pesquisa descritiva Manzato e Santos (2012) nos diz que ela
observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-
los. Procura também descobrir, com precisão possível, a frequência com que um
fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características.
Segundo os autores citado acima, a pesquisa descritiva pode ser realizada por
meio dos estudos descritivos na qual se trata do estudo e da descrição das
características. Incluem nesta modalidade os estudos que visam identificar as
representações sociais e o perfil de indivíduos e grupos, como também os estudos que
visam identificar estruturas, formas, funções e conteúdos.
O tipo de pesquisa a ser utilizada no desenvolvimento deste trabalho será a
qualitativa. A pesquisa será realizada com levantamentos bibliográficos, nas quais serão
consultados livros e artigos científicos, de pesquisadores e estudiosos relacionados ao
tema, tomando como referência à origem dos contos de fadas e suas transformações.
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7 CRONOGRAMA

O cronograma, com a previsão do tempo que será despendido em cada atividade,


esta representado no Quadro 1 .

Quadro 1: Cronograma de execução das atividades.

2019
Atividades Julho Agosto Setembro Outubro Novembro
Levantamento
bibliográfico

Elaboração do TCC
Revisão do TCC
Defesa do TCC
Fonte: Elaboração própria
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REFERÊNCIAS

ALBERTI, Patrícia Bastian. Contos de fadas tradicionais e renovados: uma


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