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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE LICENCIATURA EM LÍNGUAS E ADMINISTRAÇÃO

TURMA: SO208
EPIFÁNIA ERACEMA FALCÃO DOMBALA - 1000028356
ESTER MARIA DO AMARAL SILVA - 1000029895
IVANIRA FREITAS - 1000029024
ELIANE
PALMIRA QUISSUA
DOCENTE: PROFESSOR EURÍCO SATUMBU

TRABALHO ACADÉMICO DA DISCIPLINA DE DOUTRINA SOCIAL DA


IGREJA

A ENCÍCLICA CARITAS IN VERITATE DE BENTO XVI

LUANDA

21.11.2023
Conteúdo
BILHETE DE IDENTIDADE .............................................................................................. 5
CONTEXTO SÓCIO-POLÍTICO ........................................................................................ 5
COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA......................................................................................... 5
PRINCÍPIOS, FONTES E VALORES.................................................................................. 6
CAPÍTULO I....................................................................................................................... 7
A MENSAGEM .................................................................................................................. 7
DA POPULORUM PROGRESSIO ...................................................................................... 7
CAPÍTULO II ..................................................................................................................... 8
O DESENVOLVIMENTO HUMANO .................................................................................. 8
NO NOSSO TEMPO........................................................................................................... 8
CAPÍTULO III .................................................................................................................... 9
FRATERNIDADE, ............................................................................................................. 9
DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO ............................................................................... 9
E SOCIEDADE CIVIL ....................................................................................................... 9
CAPÍTULO IV .................................................................................................................. 11
DESENVOLVIMENTO DOS POVOS, ............................................................................... 11
DIREITOS E DEVERES, AMBIENTE............................................................................... 11
CAPÍTULO V ................................................................................................................... 12
A COLABORAÇÃO ......................................................................................................... 12
DA FAMÍLIA HUMANA .................................................................................................. 12
CAPÍTULO VI .................................................................................................................. 16
O DESENVOLVIMENTO................................................................................................. 16
DOS POVOS E A TÉCNICA ............................................................................................. 16
CONCLUSÃO.................................................................................................................. 20
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 21
RESUMO

A Encíclica “Caritas in Veritate” de Bento XVI transforma a Doutrina Social da Igreja em nada menos
que a relação entre a Igreja e o mundo, pois se trata “do desenvolvimento humano integral na caridade
e na verdade”, ampliando ao máximo o tema do desenvolvimento presente na “Populorum Progressio”
de Paulo VI da qual recorda o quadragésimo aniversário.
É uma encíclica de amplo respiro, perfeitamente inserida no pontificado de Bento XVI, que não só fez
dos termos “caridade” e “verdade” o coração de seu magistério, pois os considera o coração mesmo do
cristianismo, mas também insere de modo radical o tema de “Deus no mundo” ou seja, o cristianismo
é somente útil ou é indispensável para a construção de um verdadeiro desenvolvimento humano? O
Papa pensa que é indispensável e, na encíclica, diz o porquê. Por isso, trata-se de um texto corajoso,
que elimina qualquer dúvida possível com relação ao papel público da fé cristã e ao fato de que dela
deriva uma visão coerente de vida, em pé de igualdade com outras visões.
O mundo, segundo a “Caritas in veritate” não deve apenas ser acompanhado por uma caridade sem
verdade, mas deve ser salvo pela caridade na verdade. Para chegar a essa conclusão, o papa retoma
Paulo VI e indica o ponto de vista teológico pelo qual a Igreja deveria considerar os fatos sociais.
Trata-se de duas considerações estratégicas que o Cardeal Renato Martino e Dom Giampaolo
Crepaldi, presidente e secretário do Pontifício Conselho Justiça e Paz, apresentando a encíclica em 7
de julho, mostraram muito bem.
O primeiro capítulo da encíclica, dedicado a Paulo VI, recorda sua encíclica “Populorum Progression”
de 1967. Paulo VI não estava incerto sobre o valor da Doutrina Social da Igreja, como muitos
disseram e continuam dizendo, nem teria atenuado a importância de uma presença pública do
cristianismo na história. Pelo contrário, Bento XVI diz que ele assentou as bases da grande retomada
que pouco depois aconteceria com João Paulo II. E sendo Paulo VI o papa do Concílio, é evidente que
com esse trabalho de Bento XVI representa a revalorização de todo um período histórico.
Esta retomada do pensamento de Paulo VI tem o mesmo significado da condenação à “hermenêutica
da fratura”, na análise do Vaticano II, feita por ele em 2005. A “Caritas in veritate” afirma que não
existem duas doutrinas sociais, uma pré-conciliar e outra pós-conciliar, mas uma única Doutrina
Social da Igreja. Quanto à visão teológica da qual partir, o papa esclarece que não se trata de qualquer
análise sociológica, mas da fé dos apóstolos. Ou seja, a Igreja não parte “do mundo”, mas da fé dos
apóstolos. Só assim a Doutrina Social da Igreja pode ser útil para o mundo. Esta é a perspectiva central
de toda a encíclica e a razão de ser das posições que sustenta. Que o verdadeiro desenvolvimento não
pode separar os temas da justiça social daqueles do respeito da vida e da família. Que não se pode lutar
pela proteção da natureza se esquecendo de que a pessoa humana é superior a todo o resto da criação.
Que a eugenia é muito mais preocupante que a diminuição da diversidade nos ecossistemas. Que o
aborto e a eutanásia corroem o senso da lei e impedem, na origem, toda forma de acolhida ao mais
fraco representando uma ferida de enormes consequências para a comunidade humana. Que a
economia precisa de gratuidade e que essa não deve ser simplesmente superposta no fim ou pensada
ao lado da atividade econômica, mas pelo contrário deve ser elemento de solidariedade no interior
mesmo dos processos econômicos e sem isto a própria atividade redistributiva do Estado se tornará
impossível. Essas e outras considerações presentes na encíclica nascem do Evangelho. Mas, o
Evangelho, enquanto ilumina essa realidade social, econômica e política, lhe restitui a autonomia da
própria dignidade, mostrando convergências antes impensadas entre a visão cristã e as necessidades
autênticas da sociedade humana.
Pensemos, por exemplo, na economia: a globalização, em função da competição, impede os Estados
de praticar a solidariedade “depois” da produção. É necessário organizar a solidariedade já dentro da
atividade produtiva, como buscam fazer, por exemplo, ainda que entre mil contradições, os
movimentos de responsabilidade social das empresas. Aqui se encontram as necessidades concretas da
economia globalizada de hoje e as indicações da fé cristã para a qual a economia é sempre um facto
humano e comunitário e, portanto, a dimensão ética não lhe diz respeito apenas no momento seguinte,
mas no interior do próprio processo produtivo. Nesta encíclica, pela primeira vez, são tratados de
modo sistemático os temas da globalização, do respeito ao meio ambiente e da bioética, que nas
encíclicas precedentes haviam sido tocados. É uma encíclica que olha decididamente para o futuro,
com a coragem do realismo da sabedoria cristã. A polarização Norte-Sul deve ser superada, diz Bento
XVI, a responsabilidade do subdesenvolvimento não é só de alguns, mas de muitos, inclusive dos
países emergentes e das elites dos países pobres. Algumas vezes, até mesmo as organizações
humanitárias e os organismos internacionais parecem mais interessados com o próprio bem estar e
com a própria burocracia que com o desenvolvimento dos países pobres. O turismo sexual não é
sustentado apenas dos países dos quais partem os “clientes”, mas também daqueles que os hospedam.
A corrupção pode ser encontrada também nas ajudas humanitárias. Os países industrializados erram ao
proteger excessivamente a propriedade intelectual, principalmente no caso dos medicamentos. Nos
países considerados atrasados, existem realmente superstições e visões ancestrais que podem impedir
o desenvolvimento... E vai por aí afora...
É uma encíclica que condena as ideologias do passado e também as novas: do terço mundismo ao
ecologismo. Mas enfrenta, sobretudo, uma: a ideologia da técnica, à qual está dedicado todo o sexto
capítulo. Depois da falência das ideologias políticas, se consolidou a ideologia da técnica, ainda mais
perigosa na medida em que se alimenta da cultura relativista que a cerca. O ponto de vista central da
encíclica foi retomado por Dom Crepaldi, que ao apresenta-la no Vaticano, caracterizou-a como a
“prevalência do receber sobre o fazer”. E assim voltamos ao problema de fundo: sem Deus os homens
são fruto do acaso e da necessidade e nada têm a receber. Mas então o mundo inclusive o mercado e a
comunidade política necessita de um pressuposto que ele mesmo não pode dar-se. A pretensão cristã
permanece sempre a mesma.
BILHETE DE IDENTIDADE

Significado = Caridade na Verdade


Autor: Papa Bento XVI
Assunto: O Desenvolvimento Humano Integral na Caridade e na Verdade
Data De Publicação: 07.07.2009

CONTEXTO SÓCIO-POLÍTICO

Este documento foi escrito no Século XXI. O Século XXI é o vigésimo primeiro século da Era
Cristã ou Era Comum, e primeiro século do terceiro milênio. De uma forma geral, o início do
século XXI foi caracterizado por uma época de prosperidade na Europa e nos Estados
Unidos, seguidos de uma forte recessão, que teve início em 2008; pela Primavera Árabe no
norte da África; pelo rápido crescimento da economia da República Popular da China, que
se tornou a segunda maior economia depois dos Estados Unidos; e pela ascensão da
esquerda na América Latina, assim como seu declínio a partir do final da década de 2010. A
estimativa para o meio do século é que a maior parte da economia global estará
concentrada nos países conhecidos como BRICS: Brasil, Rússia, Índia, República Popular
da China e África do Sul. Em termos de comportamento, o mundo ocidental caracterizou-se
pela secularização. Em escala global, verifica-se o aprofundamento do processo de
globalização da economia e da informação, potencializado sobretudo pela revolução digital,
que, embora tivesse início ainda no fim do século XX, tornou-se efetivamente uma revolução
no século XXI.
COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA

O documento original da carta ENCÍCLICA CARITAS IN VERITATE foi escrito em Latim e está
composto por seis capítulos mais introdução, conclusão e bibliografia.
 Introdução: (1-9)
 Capítulo I: A MENSAGEM DA POPULORUM PROGRESSIO (10-20).
 Capítulo II: O DESENVOLVIMENTO HUMANO NO NOSSO TEMPO (21-33)
 Capítulo III: FRATERNIDADE, DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO E SOCIEDADE CIVIL
(34-42) Capítulo IV: DESENVOLVIMENTO DOS POVOS, DIREITOS E DEVERES,
AMBIENTE (43-52)
 Capítulo V: A COLABORAÇÃO DA FAMÍLIA HUMANA (53-67.
 Capítulo VI: O DESENVOLVIMENTO DOS POVOS E A TÉCNICA (68-77)
 Conclusão: (78-79)
 Bibliografia: (1-159)

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PRINCÍPIOS, FONTES E VALORES

No parágrafo 10 e 11 do capítulo I "A mensagem da Populorum Progressio" estam presentes os


princípios da participação, da solidariedade e da subsidiariedade. Conforme a décima segunda, terceira
e quarta frase do parágrafo onze, que diz: O homem não se desenvolve apenas com as suas próprias
forças, nem o desenvolvimento é algo que se lhe possa dar simplesmente de fora. Muitas vezes, ao
longo da história, pensou-se que era suficiente a criação de instituições para garantir à humanidade a
satisfação do direito ao desenvolvimento. Infelizmente foi depositada excessiva confiança em tais
instituições, como se estas pudessem conseguir automaticamente o objectivo desejado. Na realidade,
as instituições sozinhas não bastam, porque o desenvolvimento humano integral é primariamente
vocação e, por conseguinte, exige uma livre e solidária assunção de responsabilidade por parte de
todos.
As fontes presentes no texto são: A Tradição da fé apostólica e a revelação bíblica.
De acordo a segunda frase do parágrafo 10, pode-se notar a fonte da Tradição Apostólica da Igreja no
seguinte trecho: por isso, o ponto de vista correcto é o da Tradição da fé apostólica.
Na 17ª e 18ª frase do parágrafo 11, está presente a fonte da Revelação Bíblica, como se vê
no trecho seguinte: Além disso, tal desenvolvimento requer uma visão transcendente da pessoa, tem
necessidade de Deus: sem Ele, o desenvolvimento é negado ou acaba confiado unicamente às mãos do
homem, que cai na presunção da autossalvação e acaba por fomentar um desenvolvimento
desumanizado. Aliás, só o encontro com Deus permite deixar de « ver no outro sempre e apenas o
outro »[17], para reconhecer nele a imagem divina, chegando assim a descobrir verdadeiramente o
outro e a maturar um amor que « se torna cuidado do outro e pelo outro »[18].
Os valores que estão presentes no texto são: a caridade, a verdade e a liberdade.
Na primeira frase do parágrafo 10 está presente os valores da caridade e da verdade, como conta no
trecho seguinte: a releitura da Populorum progressio, mais de quarenta anos depois da sua
publicação, incita a permanecer fiéis à sua mensagem de caridade e de verdade.
Na oitava frase do parágrafo 11consta o valor da liberdade, como se vê na frase seguinte:
Ela tem um papel público que não se esgota nas suas actividades de assistência ou de educação, mas
revela todas as suas energias ao serviço da promoção do homem e da fraternidade universal quando
pode usufruir de um regime de liberdade.

6
CAPÍTULO I

A MENSAGEM
DA POPULORUM PROGRESSIO

A Populorum Progressio é uma encíclica de Paulo VI, publicada em 1967, que fala sobre o
desenvolvimento humano integral. Desenvolvimento significa crescimento, progresso,
evolução, avanço, adiantamento, prosperidade… Desenvolvimento humano é o processo pelo
qual uma sociedade melhora a vida dos seus cidadãos através do aumento dos bens com os
quais podem satisfazer as necessidades básicas e complementares de todos e a criação de um
entorno que respeite os direitos humanos. Também é considerado como a quantidade de
opções que tem um ser humano no seu próprio meio de fazer o que deseja ou de ser o que
deseja ser. O desenvolvimento humano pode ser definido como uma forma de medir a
qualidade de vida humana no meio em que se vive, sendo uma variável-chave para a
classificação de um país ou região. Num sentido genérico o desenvolvimento humano é a
aquisição por parte dos indivíduos, comunidades e instituições a capacidade de participar
efetivamente na construção de uma sociedade próspera tanto num sentido material como
imaterial (espiritual, relacional, individual, etc.). Bento XVI comemorou o quadragésimo
aniversário da Populorum Progressio ao publicar a sua encíclica "Caritas in Veritate" e voltou
a falar do desenvolvimento humano integral que Paulo VI já falará na Populorum Progressio,
aquando da sua publicação. A igreja, ao anunciar o evangelho de Cristo no mundo, está a
contribuir para o desenvolvimento humano integral — disse Bento XVI nas palavras de Paulo
VI. Uma das missões da igreja é de educar a sociedade. O desenvolvimento do homem
depende dos seus valores em todas as dimensões (espiritual, mental, física e emocional). Para
um bom desenvolvimento humano o homem precisa de Deus. Sem Deus o homem caminha
para o desumanismo. A relação entre a Populorum Progressio e o Concílio Vaticano II diz que
só existe uma única Doutrina Social da Igreja. Embora haja várias encíclicas, mas todas elas
têm o mesmo objectivo (levar o evangelho de Cristo ao mundo). Bento XVI diz que Paulo VI
recomenda a todos, que nos desenvolvamos na caridade cristã para um bom desenvolvimento
humano. Neste texto as fontes de investigação da doutrina social da igreja foram as encíclicas
Evangelii Nuntiandi, Humanae Vitae, Evangelium Vitae de João Paulo II, a Carta Apostólica
Octogésima Adveniens e o cristianismo. Os valores são o cristianismo, a caridade na verdade,
a liberdade e a justiça. Os princípios são o Princípio do Bem-Comum, da Solidariedade, do
Respeito à vida humana, da Participação e da Destinação Universal dos Bens. As fontes
presentes são a Lei natural, a Revelação Bíblica e a Tradição Apostólica da Igreja Católica.
7
CAPÍTULO II

O DESENVOLVIMENTO HUMANO
NO NOSSO TEMPO

Paulo VI tinha uma visão coerente do desenvolvimento. O termo “desenvolvimento” referia-se


principalmente ao objectivo de erradicar a fome, a pobreza, as doenças endémicas e o analfabetismo
entre as nações. Isto implicou, do ponto de vista económico, a sua participação activa e igualitária no
processo económico internacional; do ponto de vista social, a evolução para sociedades educadas e
compassivas; e do ponto de vista político, a consolidação de regimes democráticos capazes de garantir
a liberdade e a paz. Depois de tantos anos, ao observarmos com preocupação os desdobramentos e as
perspectivas das crises ocorridas neste período, nos perguntamos até que ponto as expectativas de
Paulo VI foram atendidas pelo modelo de desenvolvimento adotado nas últimas décadas.
Reconhecemos que as preocupações da Igreja sobre a capacidade de um homem puramente
tecnológico para impor objectivos realistas e gerir adequadamente as ferramentas à sua disposição
eram justificadas.
O lucro é útil se for orientado para um objetivo final que determine como ele é produzido e utilizado.
O objectivo exclusivo do lucro, quando mal gerado e não orientado em última instância para o bem
comum, corre o risco de destruir riqueza e criar pobreza. O desenvolvimento económico desejado por
Paulo VI deverá ser capaz de gerar um crescimento real, inclusivo e sustentável para todos.
É verdade que o desenvolvimento foi e continua a ser um factor positivo, tirando milhões de pessoas
da pobreza e dando a muitos países a oportunidade de se tornarem actores eficazes na política
internacional. No entanto, deve reconhecer-se que o próprio desenvolvimento económico foi e
continua a ser afectado por anomalias e problemas dramáticos, que são ainda mais exacerbados pela
actual crise.
Esta crise coloca-nos inevitavelmente diante de escolhas que afectam cada vez mais o destino da
humanidade, que não pode ignorar a sua natureza.
As forças técnicas em jogo, as interdependências globais, os efeitos prejudiciais sobre a economia real
de actividades financeiras mal utilizadas e predominantemente especulativas, os fluxos migratórios
significativos muitas vezes causados e geridos de forma inadequada, e a exploração descontrolada dos
recursos da terra, obrigam-nos hoje a reflectir sobre as medidas necessárias para enfrentar problemas
que não só são novos em comparação com os enfrentados pelo Papa Paulo VI, mas também e
sobretudo, têm um impacto decisivo no bem-estar presente e futuro da humanidade.
Os aspectos da crise e as suas soluções, bem como um possível novo desenvolvimento futuro, estão
cada vez mais interligados.
São mutuamente dependentes, exigindo novos esforços no sentido de um quadro global e de uma nova
síntese humanística.
8
CAPÍTULO III

FRATERNIDADE,
DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
E SOCIEDADE CIVIL

A encíclica Quadragésimo Anno de Bento XVI, que tem como tema: “Caridade na Verdade”, é
uma das maiores encíclicas sociais de toda história da Igreja Católica, no capítulo III, sua Santidade,
Papa Bento XVI fala-nos da Fraternidade, do Desenvolvimento Económico e da Sociedade Civil.
A “Caridade na Verdade”, é para o Papa Bento XIV, uma das virtudes que mais se destaca na vida
social.
Em relação à Fraternidade, Papa Bento XVI, considerava – a como sendo o laço de união entre os
homens, baseado no respeito mútuo, pela dignidade da pessoa humana e na igualdade de direitos e
deveres de todos dentro de uma sociedade. Ela remete-nos ao amor ao próximo, à justiça social, à
tolerância, paz e solidariedade. A fraternidade se traduz na sua própria existência, uma forma de
ligação ao amor do Todo – Poderoso: Deus, visto que o amor de Deus está acima de todas as coisas
(cfr. João 13: 34 e João 15: 12 e 17). A Fraternidade coloca o homem como um animal político, que
fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal, estabelece com os seus semelhantes uma
relação de igualdade, visto que em essência, não existe nada que os diferencie, são como irmãos
(fraternos). A fraternidade não é independente da igualdade e nem da liberdade, pois para que cada
uma efetivamente se manifeste é preciso que as demais sejam válidas. A fraternidade expressa a
dignidade de todos os homens, considerando-os iguais e assegura-lhes plenos direitos (sociais,
políticos e individuais)
O Papa Bento XVI faz referência à fraternidade, conforme ela é expressa no primeiro artigo
da Declaração universal dos direitos do homem quando ela afirma que: “todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir uns para
com os outros em espírito de fraternidade”.
Sendo o Desenvolvimento econômico o processo pelo qual ocorre o crescimento económico,
acompanhado de variações positivas, isto é, variações qualitativas" (melhorias nos aspectos
relacionados com a qualidade de vida, educação, saúde, infraestrutura e profundas mudanças da
estrutura socio - económica de uma região e/ou país, o Papa Bento XVI quis com isto mostrar, que as
medidas por indicadores sociais como o índice de desenvolvimento humano, o índice de pobreza
humana ou seja, o desenvolvimento econômico seja um processo pelo qual a renda nacional real de
uma economia deve aumentar durante um longo período de tempo. A renda nacional real refere-se ao
produto total de bens e serviços finais do país, que deve ser expresso não em termos monetários, mas
sim em termos reais: a expressão monetária da renda nacional deve ser corrigida por um índice
apropriado de preço de bens e consumo .

9
A sociedade Civil segundo Sua Santidade Papa Bento XVI, refere-se ao conjunto das organizações
de acções colectivas e voluntárias em torno de interesses comuns, seus propósitos e valores. A
Sociedade Civil, são organizações distintas que diferentemente do estado, família e mercado, possam
trabalhar em todas para o bem comum. A Sociedade Civil, comumente é aquela que abraça uma
diversidade de espaços, actores e formas institucionais, variando em grau de formalidade, autonomia e
poder. Elas por norma na sua actuação, são organizações não governamentais de desenvolvimento e de
caridade, religiosas, associações profissionais, grupos de autoajuda, etc..
Neste capítulo III e seguintes, o Papa Bento XVI, procura mostrar as reflexões sobre como a Igreja
deve se comportar diante dos graves problemas da época. Nestes capítulos, nota-se à tomada de
posição da Igreja perante os desafios da “questão antropológica", neste contexto:
1. Destaca-se a afirmação de que: "as grandes novidades que o quadro do desenvolvimento
dos povos apresenta hoje levantam, em muitos casos, a exigência de novas soluções. Elas são
procuradas conjuntamente no respeito das leis próprias de cada realidade e na luz de uma
visão integral do homem, que respeitem os vários aspectos da pessoa humana, contemplada
com o olhar purificado da caridade" (Parágrafo 32), razão pela qual sustenta que os novos
desafios devem ser enfrentados em uma ótica personalista e comunitária;
2. É introduzido o conceito-chave que afirma que: "A caridade na verdade coloca o homem
diante da estupefaciente experiência do dom. A gratuidade está presente em sua vida de
múltiplas formas, com frequência não reconhecidas por causa de uma visão apenas
produtivista e utilitarista da existência. O ser humano é feito para o dom que exprime e atua a
dimensão de transcendência" (Parágrafo 34);
3. Afirma-se que a verdade é um dom maior que "não é produzida por nós, mas sempre
encontrada, ou melhor, recebida" (Parágrafo 34), para aprofundar as categorias da revelação e
sustentar que: "a criatura humana, enquanto de natureza espiritual, se realiza nas relações
interpessoais. Quanto mais às vive de modo autêntico, mais amadurece a própria identidade
pessoal. Não é isolando-se que o homem valoriza a si mesmo, mas pondo-se em relação aos
outros e com Deus. [...] Isso vale também para os povos" (Parágrafo 53);
4.São abordados temas como finanças éticas (Parágrafo 45); tutela do ambiente (Parágrafo
48); uso responsável dos recursos energéticos (Parágrafo 49); liberdade religiosa (Parágrafo
55); colaboração fraterna entre crentes e não crentes (Parágrafo 56); papel da cooperação
internacional (Parágrafo 58); turismo internacional como fator de crescimento (n. 61);
fenômeno das migrações (n. 62); novas tarefas das organizações sindicais dos trabalhadores
(n. 64); reforma das Nações Unidas e a necessidade de uma verdadeira autoridade política
mundial (Parágrafo 67). As Fontes, os Princípios e os Valores presentes nesta encíclica são: A
Revelação Bíblica, o Bem Comum, Destinação Universal dos bens da Terra, Subsiariedade e
Solidariedade. A Justiça, a Verdade, A Caridade, que se traduz no Amor.

10
CAPÍTULO IV

DESENVOLVIMENTO DOS POVOS,


DIREITOS E DEVERES, AMBIENTE

O tema do desenvolvimento dos povos está intimamente ligado com o do desenvolvimento de cada
indivíduo, a pessoa humana está dinamicamente orientada para o próprio desenvolvimento. Não se
trata de um desenvolvimento garantido por mecanismos naturais, porque cada um de nós sabe que é
capaz de realizar opções livres e responsáveis. A solidariedade universal é para nós não só um facto e
um benéficio, mas também um dever.
Actualmente muitos querem ver os seus direitos reconhecidos, mas ao mesmo tempo, direitos
elementares e fundamentais são violados e negados a uma boa parte da humanidade.
Tem pessoas que consideram o aumento da população como a causa principal do subdesenvolvimento,
é importante realçar que aumentam as crises em países com uma preocupante queda da natalidade. A
igreja lembra que os direitos humanos devem ser respeitados também no uso da sexualidade. Trata-se
de um campo que não pode ser reduzido a mero fato hedonista. " A ABERTURA MORAL
responsável à vida é uma riqueza social e económica, grandes países superaram os seus problemas
graças as capacidades dos seus habitantes, é importante propor ás novas gerações a beleza da família e
do matrimónio.
A economia como sector da actividade humana tem necessidade da ética para funcionar
correctamente. A Doutrina Social da Igreja, que se baseia no princípio da dignidade da pessoa
humana, muito contribui para a elaboração das normas éticas neste campo, sem nos esquecermos que
fomos criados à imagem e semelhança de Deus, temos uma dignidade inviolável , portanto as normas
morais têm um valor transcendente.
As empresas que têm por finalidade o lucro e organizações que não buscam o lucro, surgem empresas
intermediárias ou seja empresas que valorizam a economia de comunhão- elas não excluem o lucro,
mas o consideram " INSTRUMENTO PARA REALIZAR FINALIDADES HUMANAS e SOCIAIS e
não só fazem também com que as pessoas e os povos a serem beneficiados se tornem protagonistas do
seu desenvolvimento.
O AMBIENTE
Não podemos pensar em desenvolvimento sem levar em conta a dimensão ecológica.
Há espaço para todos na Terra. É preciso que entreguemos às novas gerações uma terra em condições
de ser habitada e cultivada. Isto exige uma mudança de mentalidade e, consequentemente, de estilo de
vida. O ser humano precisa ser protegido de si mesmo , " Requer uma espécie de ecologia do homem.
A história nos mostra que, quando os direitos humanos fundamentais não são respeitados, como
exemplo: A VIDA e a MORTE de forma natural. " a consciência comum acaba por perder o conceito
de ecologia humana e também de ecologia ambiental.
11
CAPÍTULO V

A COLABORAÇÃO
DA FAMÍLIA HUMANA

Uma das pobrezas mais profundas que o homem pode experimentar é a solidão. Vistas bem as
coisas, as outras pobrezas, incluindo a material, também nascem do isolamento, de não ser
amado ou da dificuldade de amar. As pobrezas frequentemente nasceram da recusa do amor
de Deus, de uma originária e trágica reclusão do homem em si próprio, que pensa que se basta
a si mesmo ou então que é só um facto insignificante e passageiro, um «estrangeiro» num
universo formado por acaso. O homem aliena-se quando fica sozinho ou se afasta da
realidade, quando renuncia a pensar e a crer num Fundamento[125]. A humanidade inteira
aliena-se quando se entrega a projectos unicamente humanos, a ideologias e a falsas
utopias[126]. A humanidade aparece, hoje, muito mais interactiva do que no passado: esta
maior proximidade deve transformar-se em verdadeira comunhão. O desenvolvimento dos
povos depende sobretudo do reconhecimento de que são uma só família, a qual colabora em
verdadeira comunhão e é formada por sujeitos que não se limitam a viver uns ao lado dos
outros
54. O tema do desenvolvimento coincide com o da inclusão relacional de todas as pessoas e
de todos os povos na única comunidade da família humana, que se constrói na solidariedade,
tendo por base os valores fundamentais da justiça e da paz. Esta perspectiva encontra um
decisivo esclarecimento na relação entre as Pessoas da Trindade na única Substância divina.
A Trindade é absoluta unidade, enquanto as três Pessoas divinas são pura relação. A
transparência recíproca entre as Pessoas divinas é plena, e a ligação de uma com a outra total,
porque constituem uma unidade e unicidade absoluta. Deus quer-nos associar também a esta
realidade de comunhão: «para que sejam um como Nós somos um» (Jo 17, 22). O mesmo
resulta das experiências humanas comuns do amor e da verdade. Como o amor sacramental
entre os esposos os une espiritualmente a ponto de formarem «uma só carne» (Gn 2, 24; Mt
19, 5; Ef 5, 31) e, de dois que eram, faz uma unidade relacional e real, de forma análoga a
verdade une os espíritos entre si e fá-los pensar em uníssono, atraindo-os e unindo-os nela. 55.
A revelação cristã sobre a unidade do género humano pressupõe uma interpretação metafísica
do humanum na qual a relação seja elemento essencial. Também outras culturas e outras
religiões ensinam a fraternidade e a paz, revestindo-se, por isso, de grande importância para o
desenvolvimento humano integral; mas não faltam comportamentos religiosos e culturais em

12
que não se assume plenamente o princípio do amor e da verdade, e acaba-se assim por refrear
o verdadeiro desenvolvimento humano ou mesmo impedi-lo. Nestes contextos, o amor e a
verdade encontram dificuldade em afirmar-se, com prejuízo para o autêntico
desenvolvimento. Por este motivo, se é verdade, por um lado, que o desenvolvimento tem
necessidade das religiões e das culturas dos diversos povos, por outro, não o é menos a
necessidade de um adequado discernimento. A liberdade religiosa não significa
indiferentismo religioso, nem implica que todas as religiões sejam iguais[133].
Tal discernimento deverá basear-se sobre o critério da caridade e da verdade. Dado que está
em jogo o desenvolvimento das pessoas e dos povos, aquele há-de ter em conta a
possibilidade de emancipação e de inclusão na perspectiva de uma comunidade humana
verdadeiramente universal. O critério «o homem todo e todos os homens» serve para avaliar
também as culturas e as religiões. O cristianismo, religião do «Deus de rosto humano»[134],
traz em si mesmo tal critério. 56. A religião cristã e as outras religiões só podem dar o seu
contributo para o desenvolvimento, se Deus encontrar lugar também na esfera pública,
nomeadamente nas dimensões cultural, social, económica e particularmente política. A
doutrina social da Igreja nasceu para reivindicar este «estatuto de cidadania»[135] da religião
cristã. A negação do direito de professar publicamente a própria religião e de fazer com que as
verdades da fé moldem a vida pública, acarreta consequências negativas para o verdadeiro
desenvolvimento. A exclusão da religião do âmbito público e, na vertente oposta, o
fundamentalismo religioso impedem o encontro entre as pessoas e a sua colaboração para o
progresso da humanidade. A vida pública torna-se pobre de motivações, e a política assume
um rosto oprimente e agressivo. Os direitos humanos correm o risco de não ser respeitados,
ou porque ficam privados do seu fundamento transcendente ou porque não é reconhecida a
liberdade pessoal.
O diálogo fecundo entre fé e razão não pode deixar de tornar mais eficaz a acção da caridade
na sociedade, e constitui o quadro mais apropriado para incentivar a colaboração fraterna
entre crentes e não crentes na perspectiva comum de trabalhar pela justiça e a paz da
humanidade.
A subsidiariedade respeita a dignidade da pessoa, na qual vê um sujeito sempre capaz de dar
algo aos outros. Ao reconhecer na reciprocidade a constituição íntima do ser humano, a
subsidiariedade é o antídoto mais eficaz contra toda a forma de assistencialismo paternalista.
Pode motivar tanto a múltipla articulação dos vários níveis e consequentemente a pluralidade
dos sujeitos, como a sua coordenação. Trata-se, pois, de um princípio particularmente idóneo

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para governar a globalização e orientá-la para um verdadeiro desenvolvimento humano. Para
não se gerar um perigoso poder universal de tipo monocrático, o governo da globalização
deve ser de tipo subsidiário, articulado segundo vários e diferenciados níveis que colaborem
reciprocamente. A globalização tem necessidade, sem dúvida, de autoridade, enquanto põe o
problema de um bem comum global a alcançar; mas tal autoridade deverá ser organizada de
modo subsidiário e poliárquico[138], seja para não lesar a liberdade, seja para resultar
concretamente eficaz.
58. O princípio de subsidiariedade há-de ser mantido estritamente ligado com o princípio de
solidariedade e vice-versa, porque, se a subsidiariedade sem a solidariedade decai no
particularismo social, a solidariedade sem a subsidiariedade decai no assistencialismo que
humilha o sujeito necessitado. Esta regra de carácter geral deve ser tida em grande
consideração também quando se enfrentam as temáticas referentes às ajudas internacionais
destinadas ao desenvolvimento. A verdade é que o maior recurso a valorizar nos países que
são assistidos no desenvolvimento é o recurso humano: este é o autêntico capital que se há -de
fazer crescer para assegurar aos países mais pobres um verdadeiro futuro autónomo. Há que
recordar também que, no campo económico, a principal ajuda de que têm necessidade os
países em vias de desenvolvimento é a de permitir e favorecer a progressiva inserção dos seus
produtos nos mercados internacionais, tornando possível assim a sua plena participação na
vida económica internacional.
Existem, em todas as culturas, singulares e variadas convergências éticas, expressão de uma
mesma natureza humana querida pelo Criador e que a sabedoria ética da humanidade chama
lei natural[140]. Esta lei moral universal é um fundamento firme de todo o diálogo cultural,
religioso e político e permite que o multiforme pluralismo das várias culturas não se desvie da
busca comum da verdade, do bem e de Deus. Por isso, a adesão a esta lei escrita nos corações
é o pressuposto de qualquer colaboração social construtiva. Em todas as culturas existem
pesos de que libertar-se, sombras a que subtrair-se. A fé cristã, que se encarna nas culturas
transcendendo-as, pode ajudá-las a crescer na fraternização e solidariedade universais com
benefício para o desenvolvimento comunitário e mundial. 60. Quando se procurarem soluções
para a crise económica actual, a ajuda ao desenvolvimento dos países pobres deve ser
considerada como verdadeiro instrumento de criação de riqueza para todos.
Uma solidariedade mais ampla a nível internacional exprime-se, antes de mais nada,
continuando a promover, mesmo em condições de crise económica, maior acesso à educação,
já que esta é condição essencial para a eficácia da própria cooperação internacional.

14
Ao considerar os problemas do desenvolvimento, não se pode deixar de pôr em evidência o
nexo directo entre pobreza e desemprego. Em muitos casos, os pobres são o resultado da
violação da dignidade do trabalho humano, seja porque as suas possibilidades são limitadas
(desemprego, subemprego), seja porque são desvalorizados «os direitos que dele brotam,
especialmente o direito ao justo salário, à segurança da pessoa do trabalhador e da sua
família». Uma vez que existem novas formas de pobreza também nos países ricos, o micro-
financiamento pode proporcionar ajudas concretas para a criação de iniciativas e sectores
novos em favor das classes débeis da sociedade, mesmo numa fase de possível
empobrecimento da própria sociedade. A interligação mundial fez surgir um novo poder
político: o dos consumidores e das suas associações. O desenvolvimento integral dos povos e
a colaboração internacional exigem que seja instituído um grau superior de ordenamento
internacional de tipo subsidiário para o governo da globalização[149] e que se dê finalmente
actuação a uma ordem social conforme à ordem moral e àquela ligação entre esfera moral e
social, entre política e esfera económica e civil que aparece já perspectivada no Estatuto das
Nações Unidas.

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CAPÍTULO VI

O DESENVOLVIMENTO
DOS POVOS E A TÉCNICA

68. O tema do desenvolvimento dos povos está intimamente ligado com o do


desenvolvimento de cada indivíduo. Por sua natureza, a pessoa humana está dinamicamente
orientada para o próprio desenvolvimento. Não se trata de um desenvolvimento garantido por
mecanismos naturais, porque cada um de nós sabe que é capaz de realizar opções livres e
responsáveis; também não se trata de um desenvolvimento à mercê do nosso capricho,
enquanto todos sabemos que somos dom e não resultado de auto-geração. Em nós, a liberdade
é originariamente caracterizada pelo nosso ser e pelos seus limites. Ninguém plasma
arbitrariamente a própria consciência, mas todos formam a própria personalidade sobre a base
duma natureza que lhes foi dada. Não são apenas as outras pessoas que são indisponíveis;
também nós não podemos dispor arbitrariamente de nós mesmos. O desenvolvimento da
pessoa degrada-se, se ela pretende ser a única produtora de si mesma. De igual modo,
degenera o desenvolvimento dos povos, se a humanidade pensa que se pode re-criar valendo-
se dos «prodígios» da tecnologia. Analogamente, o progresso económico revela-se fictício e
danoso quando se abandona aos «prodígios» das finanças para apoiar incrementos artificiais e
consumistas. Perante esta pretensão prometeica, devemos robustecer o amor por uma
liberdade não arbitrária, mas tornada verdadeiramente humana pelo reconhecimento do bem
que a precede. Com tal objectivo, é preciso que o homem reentre em si mesmo, para
reconhecer as normas fundamentais da lei moral natural que Deus inscreveu no seu coração.
69. Hoje, o problema do desenvolvimento está estreitamente unido com o progresso
tecnológico, com as suas deslumbrantes aplicações no campo biológico. A técnica - é bom
sublinhá-lo - é um dado profundamente humano, ligado à autonomia e à liberdade do homem.
Nela exprime-se e confirma-se o domínio do espírito sobre a matéria. O espírito, «tornando-se
assim "mais liberto da escravidão das coisas, pode facilmente elevar-se ao culto e à
contemplação do Criador"»
O desenvolvimento tecnológico pode induzir à ideia de auto-suficiência da própria técnica,
quando o homem, interrogando-se apenas sobre o como, deixa de considerar os muitos
porquês pelos quais é impelido a agir. Por isso, a técnica apresenta-se com uma fisionomia
ambígua. Nascida da criatividade humana como instrumento da liberdade da pessoa, pode ser
entendida como elemento de liberdade absoluta; aquela liberdade que quer prescindir dos

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limites que as coisas trazem consigo. O processo de globalização poderia substituir as
ideologias com a técnica[152], passando esta a ser um poder ideológico que exporia a
humanidade ao risco de se ver fechada dentro de um a priori do qual não poderia sair para
encontrar o ser e a verdade.
Às vezes, também a paz corre o risco de ser considerada como uma produção técnica, fruto
apenas de acordos entre governos ou de iniciativas tendentes a assegurar ajudas económicas
eficientes. É verdade que a construção da paz exige um constante tecer de contactos
diplomáticos, intercâmbios económicos e tecnológicos, encontros culturais, acordos sobre
projectos comuns, e também a assunção de empenhos compartilhados para conter as ameaças
de tipo bélico e cercear à nascença eventuais tentações terroristas. Mas, para que tais esforços
possam produzir efeitos duradouros, é necessário que se apoiem sobre valores radicados na
verdade da vida. Por outras palavras, é preciso ouvir a voz das populações interessadas e
atender à situação delas para interpretar adequadamente os seus anseios. De certo modo, deve-
se colocar em continuidade com o esforço anónimo de tantas pessoas decididamente
comprometidas a promover o encontro entre os povos e a favorecer o desenvolvimento
partindo do amor e da compreensão recíproca. Entre tais pessoas, contam-se também fiéis
cristãos, empenhados na grande tarefa de dar ao desenvolvimento e à paz um sentido
plenamente humano.
Está-se perante uma opção decisiva. No entanto, a racionalidade da tecnologia centrada sobre
si mesma apresenta-se como irracional, porque implica uma decidida rejeição do sentido e do
valor. Não é por acaso que a posição fechada à transcendência se defronta com a dificuldade
de pensar como tenha sido possível do nada ter brotado o ser e do acaso ter nascido a
inteligência[153]. Face a estes dramáticos problemas, razão e fé ajudam-se mutuamente; e só
conjuntamente salvarão o homem: fascinada pela pura tecnologia, a razão sem a fé está
destinada a perder-se na ilusão da própria omnipotência, enquanto a fé sem a razão corre o
risco do alheamento da vida concreta das pessoas[154].
Caritas in veritate por esta estrada, é preciso afirmar que hoje a questão social tornou -se
radicalmente antropológica, enquanto toca o próprio modo não só de conceber mas também
de manipular a vida, colocada cada vez mais nas mãos do homem pelas biotecnologias. A
fecundação in vitro, a pesquisa sobre os embriões, a possibilidade da clonagem e hibridação
humana nascem e promovem-se na actual cultura do desencanto total, que pensa ter
desvendado todos os mistérios porque já se chegou à raiz da vida. Aqui o absolutismo da
técnica encontra a sua máxima expressão. Em tal cultura, a consciência é chamada apenas a

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registar uma mera possibilidade técnica. Contudo, não se podem minimizar os cenários
inquietantes para o futuro do homem e os novos e poderosos instrumentos que a «cultura da
morte» tem à sua disposição. À difusa e trágica chaga do aborto poder-se-ia juntar no futuro -
embora sub-repticiamente já esteja presente in nuce - uma sistemática planificação eugénica
dos nascimentos. No extremo oposto, vai abrindo caminho uma mens eutanasica,
manifestação não menos abusiva de domínio sobre a vida, que é considerada, em certas
condições, como não digna de ser vivida. Por detrás destes cenários encontram-se posições
culturais negacionistas da dignidade humana. Por sua vez, estas práticas estão destinadas a
alimentar uma concepção material e mecanicista da vida humana. Quem poderá medir os
efeitos negativos de tal mentalidade sobre o desenvolvimento? Como poderá alguém admirar-
se com a indiferença diante de situações humanas de degradação, quando se comporta
indiferentemente com o que é humano e com aquilo que não o é? Causa estupefacção a
selecção arbitrária do que hoje é proposto como digno de respeito: muitos, prontos a
escandalizar-se por coisas marginais, parecem tolerar injustiças inauditas. Enquanto os pobres
do mundo batem às portas da opulência, o mundo rico corre o risco de deixar de ouvir tais
apelos à sua porta por causa de uma consciência já incapaz de reconhecer o humano. Deus
revela o homem ao homem; a razão e a fé colaboram para lhe mostrar o bem, desde que o
queira ver; a lei natural, na qual reluz a Razão criadora, indica a grandeza do homem, mas
também a sua miséria quando ele desconhece o apelo da verdade moral. 76. Um dos aspectos
do espírito tecnicista moderno é palpável na propensão a considerar os problemas e as moções
ligados à vida interior somente do ponto de vista psicológico, chegando-se mesmo ao
reducionismo neurológico. Assim esvazia-se a interioridade do homem e, progressivamente,
vai-se perdendo a noção da consistência ontológica da alma humana, com as profundidades
que os Santos souberam pôr a descoberto. O problema do desenvolvimento está estritamente
ligado também com a nossa concepção da alma do homem, uma vez que o nosso eu acaba
muitas vezes reduzido ao psíquico, e a saúde da alma é confundida com o bem-estar emotivo.
Na base, estas reduções têm uma profunda incompreensão da vida espiritual e levam-nos a
ignorar que o desenvolvimento do homem e dos povos depende verdadeiramente também da
solução dos problemas de carácter espiritual. Além do crescimento material, o
desenvolvimento deve incluir o espiritual, porque a pessoa humana é «um ser uno, composto
de alma e corpo»[156], nascido do amor criador de Deus e destinado a viver eternamente. O
ser humano desenvolve-se quando cresce no espírito, quando a sua alma se conhece a si
mesma e apreende as verdades que Deus nela imprimiu em gérmen, quando dialoga consigo

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mesma e com o seu Criador. Longe de Deus, o homem vive inquieto e está mal. A alienação
social e psicológica e as inúmeras neuroses que caracterizam as sociedades opulentas devem-
se também a causas de ordem espiritual. Uma sociedade do bem-estar, materialmente
desenvolvida mas oprimente para a alma, não está, por si mesma, orientada para o autêntico
desenvolvimento. As novas formas de escravidão da droga e o desespero em que caem tantas
pessoas têm uma explicação não só sociológica e psicológica, mas essencialmente espiritual.
O vazio em que a alma se sente abandonada, embora no meio de tantas terapias para o corpo e
para a mente, gera sofrimento. Não há desenvolvimento pleno nem bem comum universal sem
o bem espiritual e moral das pessoas, consideradas na sua totalidade de alma e corpo. 77. O
absolutismo da técnica tende a produzir uma incapacidade de perceber aquilo que não se
explica meramente pela matéria; e, no entanto, todos os homens experimentam os numerosos
aspectos imateriais e espirituais da sua vida. Conhecer não é um acto apenas material, porque
o conhecido esconde sempre algo que está para além do dado empírico. Todo o nosso
conhecimento, mesmo o mais simples, é sempre um pequeno prodígio, porque nunca se
explica completamente com os instrumentos materiais que utilizamos. Em cada verdade, há
sempre mais do que nós mesmos teríamos esperado; no amor que recebemos, há sempre
qualquer coisa que nos surpreende. Não deveremos cessar jamais de maravilhar-nos diante
destes prodígios. Em cada conhecimento e em cada acto de amor, a alma do homem
experimenta um «extra» que se assemelha muito a um dom recebido, a uma altura para a qual
nos sentimos atraídos. Também o desenvolvimento do homem e dos povos se coloca a uma
tal altura, se considerarmos a dimensão espiritual que deve necessariamente conotar aquele
para que possa ser autêntico. Este requer olhos novos e um coração novo, capaz de superar a
visão materialista dos acontecimentos humanos e entrever no desenvolvimento um «mais
além» que a técnica não pode dar. Por este caminho, será possível perseguir aquele
desenvolvimento humano integral que tem o seu critério orientador na força propulsora da
caridade na verdade.

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CONCLUSÃO

Papa Leão XIII concluiu dizendo que o cristianismo é um factor fundamental para o desenvolvimento

integral do homem todo e de todos os homens. Porque, sem isso, o homem não valoriza a vida humana

tal como deveria, impedindo o seu próprio progresso e o das pessoas que o rodeiam. O homem precisa

de Deus para se autoconhecer e conhecer o caminho da vida. Porque, sem Ele, nada somos e nada

podemos fazer. Devemos nos esforçar para sermos justos e todos colaborarmos para que tenhamos

uma sociedade onde todos caminham pelo caminho da justiça. A falta do amor ao próximo é o maior

obstáculo para o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens.

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BIBLIOGRAFIA

https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-
xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate.html

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