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ED CC Inf Eduardo Zeferino Englert
ED CC Inf Eduardo Zeferino Englert
Em razão do exposto, pede que o presente recurso seja encaminhado ao Plenário deste
Supremo Tribunal Federal (art. 337, § 2º, do Regimento Interno), suspendendo o prazo para a
interposição eventual de outro recurso (art. 339, § 2º, do RISTF).
Nestes termos,
Pede deferimento.
1. INTRODUÇÃO
O Ministério Público Federal denunciou o réu pelo suposto cometimento dos crimes
previstos nos “artigo 288, parágrafo único (associação criminosa armada), artigo 359-L
(abolição violenta do Estado Democrático de Direito), artigo 359-M (golpe de Estado), artigo
163, parágrafo único, I, II, III e IV (dano qualificado pela violência e grave ameaça, com
emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo
para a vítima), todos do Código Penal, e artigo 62, I, da Lei nº 9.605/1998 (deterioração de
patrimônio tombado), observadas as regras do artigo 29, caput (concurso de pessoas) e artigo 69,
caput (concurso material), ambos do Código Penal”.
Face ao exposto, é preciso detalhar pormenorizadamente cada uma dos pontos ocultos,
incertos, contraditórios e desarrazoados provenientes da denúncia, a fim de revelar os motivos
pelos quais o réu - EDUARDO ZEFERINO ENGLERT - é inocente das acusações e merece o
reconhecimento formal desta condição, situação que resultará na modificação da condenação que
lhe foi imposta.
Não obstante, é pertinente transcrever todo o contexto que permeia a ação que é
imposta ao réu, desde a denúncia; sem a finalidade de desvirtuar o ocorrido ou menosprezar os
atos de 8 de janeiro, mas exercer fundamental elucidação sobre o conjunto probatório e os
elementos que serviram à condenação do réu, notadamente sobre as incidências que permitem o
manejo do presente recurso de embargos de declaração.
A alegação de que a denúncia é de fato genérica não advém de uma mera criação ou
falácia argumentativa, mas de fato exposto literalmente nos termos da denúncia, cujos argumentos
foram ratificados por alguns dos Ministros desta Corte.
Dessa forma, resta clara a afetação do voto do eminente Relator que acabou por
reproduzir elementos da peça acusatória, sem contrapor os argumentos da defesa, os documentos
probatórios, os fatos correlatos e o voto de outros Ministros, o que torna a decisão ilegítima.
Assim sendo, trago a decisão do Superior Tribunal de Justiça, em ação sob relatoria da
Ministra Nancy Andrighi, quando da absolvição do Governador do Amapá, Antônio Waldez Góes
da Silva, quando, no âmbito da AP 823, assim decidiu:
Ante o exposto, a defesa pondera cada conduta que serviu de fundamento para a
condenação do EDUARDO ZEFERINO ENGLERT.
impróprias”, e quando teria arremessado “objetos contundentes, como pontas de aço, paus,
chumbadas e diversos itens do mobiliário da Casa Legislativa” (pág. 8), local esse que nunca
adentrou - fato comprovado pelos inquéritos, pelas testemunhas e, principalmente, pelo
laudo pericial elaborado pela Polícia Federal.
Adiante, afirmou que o réu teria sido usado “rojões, fogos de artifício e bombas
caseiras, bem como vidraças, extintores de incêndio” (pág. 8), conforme relatório do Senado
Federal - local, reforço, que ele nunca adentrou, já que foi preso pela Polícia Militar do DF,
conforme descrito na denúncia pelo MPF (pág. 13), o que é ratificado pelo laudo da Polícia
Federal.
O voto vai além do que foi requerido pelo MPF nos termos da denúncia, resultando
em condenação extra petita, já que o Parquet é categórico em afirmar que o réu portava
armamentos dos mais variados, enquanto que no voto resultante da condenação, o réu é
considerado culpado mesmo sem estar portando armas.
Neste sentido, fica claro a potencial lesividade - inclusive social - que impera
sobre a possível condenação do réu que é NULA. Ademais, o voto deixa claro que o réu deveria
saber das circunstância dos fatos, de modo a optar por se amealhar aos demais integrantes. Porém,
ao longo de toda a instrução processual criminal, nunca foi mencionado sequer algum elemento
que indicasse a possibilidade de o réu saber, portar, adquirir, conduzir ou qualquer outro contexto
que confirmasse minimamente a intenção de ter ou se associar a pessoas que tivessem armas.
Desta forma, o voto também é contraditório, já que afirma que o réu não tinha armas e
que estaria em associação porque se uniu a quem ele sabia - previamente - que portava armas.
sentido de considerar que o acusado nunca esteve sob porte de armas, não é CAC -
Colecionador, Atirador desportivo e Caçador, e nunca foram encontrados quaisquer
vestígios de substâncias que revelassem o uso prévio de extintores, rojões, fogos de artifício
ou bombas caseiras, uma vez que todos os itens foram periciados, e somente uma garrafa de
água teve o uso atrelado ao réu através do perfil genético, conforme laudo pericial, o que
será melhor detalhado.
“É ainda o mais grave é tentar imputar a alguém, sem substrato fático nos
autos, a participação em crimes que a suposta associação criminosa teria
praticado, sem descrever o que determinado denunciado teria realizado
ou como teria participado da prática específica de tais crimes”1.
Dessa forma, para buscar atrelar o réu à associação, o MPF afirmou que algumas
manifestações violentas se iniciaram em 12 de dezembro de 2022, e que teriam ocorrido no
Distrito Federal; porém, como sabido e comprovado, o réu nunca esteve em Brasília antes do
dia 8 de janeiro de 2023.
1
Disponível em:
https://www.cezarbitencourt.adv.br/index.php/artigos/46-associacao-criminosa-e-responsabilidade-pelos-crimes-por-el
a-praticados
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2
Entende-se por associação criminosa, em outros termos, a reunião estável ou permanente (que não significa
perpétua) para o fim de perpetrar uma série indeterminada de crimes. Disponível em
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Resta claro que o réu nunca agiu em associação criminosa, muito menos armada,
diverso do que o que foi registrado no voto, emanado em sentido contrário às provas constantes
dos autos.
Desta forma, é possível perceber que pela primeira vez na história jurisprudencial da
Suprema Corte, tem-se a conjugação da associação criminosa armada com a descrição de crimes
multitudinários em razão das condenações provenientes dos atos de 6 de janeiro de 2023.
Controverso em si, tal configuração não pode prosperar sob pena de configurar um estado de
exceção.
Para compreensão dos motivos que levaram o MPF à concluir pela realização de
crimes de forma multitudinária, é relevante destacar a entrevista concedida pelo então acusador,
Subprocurador Geral da República, Carlos Frederico Santos, quando manifestou o seguinte5:
3
“Multidão delinquente
O fenômeno da multidão criminosa temocupado osespaços da imprensa nos últimos tempose tempreocupado
profundamente a sociedade como umtodo” Bittencourt, p. 212.
4
Cuida-se do crime multitudinário, do qual são exemplos as invasões de propriedades rurais, as brigas em estádios de
futebol etc. Pode ser definido como o crime cometido pela multidão em tumulto, espontaneamente organizada no
sentido de uma conduta comum contra coisas ou pessoas. (MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 4. ed. Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. p. 422-423).
5
Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2024/01/trabalhei-com-provas-diferente-da-lava-jato-diz-subprocurador-que-den
unciou-1400-pelo-81.shtml
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demais no sentido de propor que outras pessoas tomassem “Brasília igual ao povo de Sri
Lanka fez”. No entanto, o vídeo, que contém voz feminina, não foi produzido pelo réu, mas
recebido por outra pessoa, não havendo justificativa para condenar o réu por implicação
equivocada de prova que vincularia a sua titularidade ao acusado, condenando-o de forma injusta.
5. EXECUTOR MATERIAL
Deste modo, não havendo qualquer relação do acusado com alguma autoridade
pública, financiador político ou agente público, resta inexiste o elemento vinculativo necessário
apto a configurar - por parte DESTE RÉU - a associação criminosa armada, notadamente em
6
“Após o segundo turno, o comitê eleitoral de Bolsonaro, situado em uma casa no Lago Sul, bairro de luxo em
Brasília, tornou-se ponto de encontro do general Walter Braga Netto, candidato a vice, com políticos aliados e
militantes bolsonaristas que defendiam intervenção militar. Frequentavam a casa os deputados, senadores e militares.
Segundo matéria da CNN, que cita fontes ligadas a Bolsonaro e a Anderson Torres, Braga Netto teria debatido a
aplicação do Estado de Defesa após a derrota nas eleições. A mesma tese é defendida na chamada “minuta do golpe”
encontrada na casa de Anderson Torres. A articulação teria chegado à cúpula das Forças Armadas, que teriam, porém,
rejeitado a alternativa, o que teria inspirado um movimento de ataque a generais do Alto Comando do Exército
(generais Tomás Ribeiro, Valério Stumpf e Richard Nunes) por parte de apoiadores de Bolsonaro”. Disponível:
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=9484688&ts=1697682413143&disposition=inline
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relação aos fatos que lhe são descritos e imputados, destacando-se o que seria a sua
responsabilidade na estrutura organizacional da suposta associação, conforme a melhor doutrina7.
7
“O executor, na condição de instrumento, deve encontrar-se absolutamente subordinado em relação ao
mandante”. (...) “Todos os pressupostos necessários de punibilidade devem encontrar-se na pessoa do “homem
de trás”, no autor mediato, e não no executor, autor imediato”. (Bitencourt, p. 209).
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➡️ Somente às 17:20 do dia 8 de janeiro de 2023 é que Eduardo chega próximo ao Congresso
Nacional.
Por volta das 17h30, boa parte dos prédios invadidos havia sido
desocupada, mas uma multidão ainda se concentrava na parte externa do
Congresso Nacional. (p. 681)”.
Poder-se-á questionar, então, que o réu estava no interior do Congresso, tendo sido
expulso pelo Batalhão de Choque, porém o laudo comprova que quatro minutos antes, o réu
estava no estacionado do Supremo Tribunal Federal:
Assim sendo, resta comprovado documentalmente por inúmeras fontes que o réu não
foi responsável por qualquer ato de vandalismo, destruição ou outro ato contra o patrimônio
público. Além do mais, resta comprovado que às 17:54, o réu estava no anexo à Câmara dos
Deputados.
Verifica-se que o réu permaneceu tempo considerável em dois prédios que não
foram atacados (Ministério da Justiça e Anexo à Câmara dos Deputados), expurgando a tese
de violência aplicada ao acusado.
Por fim, tal qual narrado em seu depoimento, o réu comprovadamente só ingressou no
Palácio do Planalto para se abrigar das bombas de efeito moral que eram atiradas tanto pelo
Batalhão de Choque quanto pela Polícia Militar, pelos helicópteros e pelo Exército Brasileiro.
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Além disso, o perfil genérico traçado pela perícia também identifica o Palácio do
Planalto como o único local acessado pelo réu, e cujo material genético foi extraído de uma
garrafa plástica, conforme trechos do laudo:
7. DA AUSÊNCIA DE PROVAS
Neste mesmo sentido, tais condições foram bem ponderadas pelo Min. André
Mendonça, que defendeu o seguinte:
O vídeo sobre tomar Brasília como fez o povo de Sri Lanka, não é de sua autoria,
mas foi recebido pelo acusado, não havendo como lhe imputar a responsabilidade pelo conteúdo
recebido.
Além disso, nunca teve vínculo com qualquer outra pessoa, seja em qualquer dos
escalões ou núcleos descritos pelo MP, tal qual o caso comparativo do réu ORLANDO, cuja
decisão considerou a inexistência de provas que comprovem o envolvimento do réu nas práticas
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dos crimes tipificados nos art. 288, parágrafo único, 359-L e 359-M, do CP, resultando no seguinte
voto:
Ora, é inegável que o mesmo enquadramento merece prosperar e prevalecer para o réu
EDUARDO ZEFERINO ENGLERT, que comprovou ter chegado à sede dos Três Poderes muito
tempo depois da destruição dos prédios públicos, não ter qualquer envolvimento nos atos nem
relação com qualquer outro indiciado, provou nunca ter agido com violência ou grave ameaça
(elementares fundamentais do tipo), notadamente em razão das provas periciais que afastam
qualquer vinculação dele com algum tipo de objeto (“armas”) e por só ter entrado no Palácio do
Planalto em razão das bombas, como bem aparece no vídeo no mostra momento muito próximo ao
ocorrido, próximo às 18:30, coincidindo com o momento das prisões.
Por fim, pelo fato de o réu não ter ingressado em nenhum dos prédios públicos,
por ter estado próximo a outros deles por tempo suficiente, sem que tenham sido gerados
quaisquer danos, por ter ingressado no Palácio do Planalto apenas para se abrigar das
bombas de efeito moral, por ter comprovadamente ingressado nesta Casa após os atos
destrutivos e sem tempo hábil para ter praticado qualquer vandalismo, por estar presente na
sede dos Três Poderes somente após às 16h 40 min, sem ter praticado qualquer ação violenta
ou com grave ameaça e por ter tido sempre uma conduta pacífica e lícita ao longo de toda a
sua vida; por tais motivos, o réu é inocente de todas as acusações e de todos os crimes
imputados, não havendo espaço nem vinculação para sua condenação, notadamente porque
àquelas que lhe foram impostas, somente o foram sem a devida atenção e sem a detida
análise de responsabilidade e criação ou mesmo de difusão do conteúdo por parte do
condenado, por não ter havido vinculação lateral a outro indiciado (associação) ou mesmo a
um mandante ou autoridade pública; é desarrazoado e incondizente com a postura desta
Suprema Corte, manter a condenação de pessoa que sabida e comprovadamente não tem
nenhuma responsabilidade criminal.
9. CONCLUSÃO
Ademais, requer que a peça seja recebida e analisada com a cautela necessária para
contrapor os pontos de obscuridade e contradição, especialmente verificadas, sobretudo no voto do
e. Relator, data venia, objetivando a modificação da decisão condenatória, resultando, por fim, na
absolvição do acusado de todos os crimes que lhe foram imputados.
Nestes termos,
Pede deferimento.