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RUA DOUTOR HEITOR BLUM, 230,

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AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR RELATOR DA AP 1091 MINISTRO


ALEXANDRE DE MORAES

EDUARDO ZEFERINO ENGLERT, devidamente qualificado, injustamente condenado nos


autos da Ação Penal 1091, vem à presença de Vossa Excelência, apresentar respeitosa e
tempestivamente o presente recurso de EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM EFEITOS
INFRINGENTES, com a finalidade de esclarecer ambiguidades, obscuridades, contradições e
omissões na condenação criminal imposta ao embargante.

Em razão do exposto, pede que o presente recurso seja encaminhado ao Plenário deste
Supremo Tribunal Federal (art. 337, § 2º, do Regimento Interno), suspendendo o prazo para a
interposição eventual de outro recurso (art. 339, § 2º, do RISTF).

Nestes termos,
Pede deferimento.

Florianópolis, 5 de fevereiro de 2024.

Marcos Vinicius Rodrigues de Azevedo


OAB/SC 50.049
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1. INTRODUÇÃO

O Ministério Público Federal denunciou o réu pelo suposto cometimento dos crimes
previstos nos “artigo 288, parágrafo único (associação criminosa armada), artigo 359-L
(abolição violenta do Estado Democrático de Direito), artigo 359-M (golpe de Estado), artigo
163, parágrafo único, I, II, III e IV (dano qualificado pela violência e grave ameaça, com
emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo
para a vítima), todos do Código Penal, e artigo 62, I, da Lei nº 9.605/1998 (deterioração de
patrimônio tombado), observadas as regras do artigo 29, caput (concurso de pessoas) e artigo 69,
caput (concurso material), ambos do Código Penal”.

No decorrer da peça acusatória, foram identificadas diversas manifestações


genéricas e outras que não comprovaram o envolvimento do réu nos crimes que lhe foram
imputados, resultando na condenação de uma pena de 17 anos de prisão e pagamento de
indenização por dano moral coletivo, por crime que não praticou.

Face ao exposto, é preciso detalhar pormenorizadamente cada uma dos pontos ocultos,
incertos, contraditórios e desarrazoados provenientes da denúncia, a fim de revelar os motivos
pelos quais o réu - EDUARDO ZEFERINO ENGLERT - é inocente das acusações e merece o
reconhecimento formal desta condição, situação que resultará na modificação da condenação que
lhe foi imposta.

Ademais, como ocorreu ao longo de todas as manifestações, a defesa deste Réu


sempre atuou em respeito aos Poderes constituídos e a atuação dos Ministros desta Corte, sem
realizar juízos subjetivos ou levantar teorias acerca do envolvimento de outras autoridades. Ao
contrário, o interesse da defesa é exclusivamente no objetivo de comprovar a inocência do réu
que resultará na sua absolvição.

Não obstante, é pertinente transcrever todo o contexto que permeia a ação que é
imposta ao réu, desde a denúncia; sem a finalidade de desvirtuar o ocorrido ou menosprezar os
atos de 8 de janeiro, mas exercer fundamental elucidação sobre o conjunto probatório e os
elementos que serviram à condenação do réu, notadamente sobre as incidências que permitem o
manejo do presente recurso de embargos de declaração.

Verifica-se, portanto, pontos de obscuridade, contradição, omissão e ambiguidade ao


longo, especialmente, do Acórdão, conforme a defesa passa a detalhar.

2. DA PRECARIEDADE E PREJUDICIALIDADE DA DENÚNCIA

A alegação de que a denúncia é de fato genérica não advém de uma mera criação ou
falácia argumentativa, mas de fato exposto literalmente nos termos da denúncia, cujos argumentos
foram ratificados por alguns dos Ministros desta Corte.

A peça acusatória narra o seguinte:


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No trecho “composta por milhares de pessoas”, o MPF menciona que em momento


posterior irá “individualizar as condutas” de modo que “a responsabilização de cada agente será
feita em denúncias separadas”, segundo descreve em nota de rodapé. Porém, isso não ocorre de
fato, resultando, portanto, em uma acusação genérica conforme descrito pelo próprio
Parquet. Desrespeito proteções como a vedação a condenações coletivas e incorrendo em
violação ao princípio da individualização da pena.

Dessa forma, não há nenhuma descrição mínima que pudesse indicar a


responsabilidade do acusado ou o envolvimento em conjunto de ações com outros investigados.
Assim sendo, não só a inaptidão da denúncia resulta na precariedade dos argumentos impostos
sobre o acusado, mas tal condição implica na absoluta ausência de provas do ocorrido

Portanto, a denúncia se configura genérica não só pelos motivos expostos ao


longo da defesa, mas pela manifestação do órgão acusatório. Neste ponto, alegar-se-á que a
superveniência de sentença condenatória tem o condão de elidir a inépcia da denúncia. Argumento
que inviabiliza e constrange a defesa, porém, não pode ser capaz de permitir a condenação injusta,
ilegal e arbitrária do réu, de modo que a prejudicialidade da denúncia, implica nas contradições e
omissões que permitem a condução do presente recurso.

Dessa forma, resta clara a afetação do voto do eminente Relator que acabou por
reproduzir elementos da peça acusatória, sem contrapor os argumentos da defesa, os documentos
probatórios, os fatos correlatos e o voto de outros Ministros, o que torna a decisão ilegítima.

Neste mister, o julgamento do réu é incapaz de eliminar as diversas deficiências


decorrentes da denúncia, tendo em vista que as contradições e omissões são evidenciadas a partir e
desde aquela peça vestibular.

Assim sendo, trago a decisão do Superior Tribunal de Justiça, em ação sob relatoria da
Ministra Nancy Andrighi, quando da absolvição do Governador do Amapá, Antônio Waldez Góes
da Silva, quando, no âmbito da AP 823, assim decidiu:

“Conforme destaca Eugênio Pacelli, a exposição do fato criminoso com


todas suas circunstâncias tem o objetivo de atender à necessidade de
permitir, desde logo, o exercício da ampla defesa pelo denunciado. De
fato, “conhecendo com precisão todos os limites da imputação, poderá o
acusado a ela se contrapor o mais amplamente possível, desde, então, a
delimitação temática da peça acusatória, em que se irá fixar o conteúdo
da questão penal” (Curso de Processo Penal, 13ª ed. 2ª tiragem, Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2010, pág. 189).
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No concurso de agentes, com o intuito de viabilizar o exercício da ampla


defesa dos acusados, impõe-se que – excetuada a circunstância de todos
terem participado igualmente da ação criminosa ou de a conduta de
todos ter sido difusa, não sendo possível distinguir a atuação de cada um
– a denúncia aponte individualizadamente a conduta de cada coautor ou
partícipe.

Em regra, é preciso, portanto, que a denúncia delimite com precisão


quais seriam as ações praticadas pelos autores e aquelas realizadas pelos
partícipes, haja vista que a participação envolve a prática de conduta
diversa daquela envolvida na autoria, sobretudo no que se refere à
realização dos atos de execução.

Desse modo, ocorre a inépcia da denúncia ou queixa quando sua


deficiência resultar em prejuízo ao exercício da ampla defesa do acusado,
ante a falta de descrição do fato criminoso, da imputação de fatos
determinados ou da circunstância de da sua exposição não resultar
logicamente a conclusão.
Quanto ao tema, a jurisprudência desta Corte adota o entendimento de
que “a denúncia é uma proposta da demonstração de prática de um fato
típico e antijurídico imputado a determinada pessoa, sujeita à efetiva
comprovação e à contradita; assim, denúncias que não descrevem os
fatos na sua devida conformação, não se coadunam com os postulados
básicos do Estado de Direito” (APn 561/MS, Corte Especial, DJe
22/04/2010).

Desse modo, a “inequívoca deficiência, impedindo a compreensão da


acusação a ponto de comprometer o direito de defesa leva à eventual
inépcia da denúncia” (APn 644/BA, Corte Especial, DJe 15/02/2012).

Assim sendo, a partir da generalidade das informações contidas na denúncia, foi


possível a condenação do réu a uma pena consideravelmente relevante, notadamente, as
fundamentações do voto do eminente Relator, data venia, foram pautadas exclusivamente nos
argumentos (genéricos) apresentados pelo Ministério Público.

Portanto, verifica-se a omissão na análise probatória no presente caso e ausência


de manifestação sobre os argumentos da defesa, resultando na nulidade da sentença, de
modo que o manejo deste recurso encontra viabilidade prática em razão dos termos correlatos no
voto do e. Relator e dos demais Ministros que o seguiram, sem outras ponderações.

Ante o exposto, a defesa pondera cada conduta que serviu de fundamento para a
condenação do EDUARDO ZEFERINO ENGLERT.

3. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ARMADA

O Ministério Público denunciou o réu pelo cometimento de crime de associação


criminosa armada. Ocasião em que afirmou que o réu estava “de forma armada” (pág. 2) agindo
com a finalidade de cometer crimes. Posteriormente, descreveu que ele estava com “armas
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impróprias”, e quando teria arremessado “objetos contundentes, como pontas de aço, paus,
chumbadas e diversos itens do mobiliário da Casa Legislativa” (pág. 8), local esse que nunca
adentrou - fato comprovado pelos inquéritos, pelas testemunhas e, principalmente, pelo
laudo pericial elaborado pela Polícia Federal.

Adiante, afirmou que o réu teria sido usado “rojões, fogos de artifício e bombas
caseiras, bem como vidraças, extintores de incêndio” (pág. 8), conforme relatório do Senado
Federal - local, reforço, que ele nunca adentrou, já que foi preso pela Polícia Militar do DF,
conforme descrito na denúncia pelo MPF (pág. 13), o que é ratificado pelo laudo da Polícia
Federal.

“O denunciado foi preso em flagrante pela Polícia Militar do Distrito Federal


no interior do Palácio do Planalto”

Portanto, a Procuradoria faz uma miscelânea de informações para tentar conduzir o


juízo de Vossas Excelências a considerar que o réu estava portando armas brancas e/ou armas de
fogo, porém, em momento algum, o MPF afirmou que o réu portava armas - argumento que serviu
de base para a condenação, conforme fundamentação do e. Relator, conforme trecho do voto:

“Não se exige que todos os integrantes da associação criminosa estejam


armados, bastando que apenas um dos integrantes se encontre nessa
condição para que a imputação recaia sobre todos, desde que exista o
conhecimento dessa circunstância” (página 101 do Acórdão)

A decisão, portanto, evidencia duas problemáticas. Primeiro, porque deixa claro,


ainda que indiretamente, que o réu não portava armamentos. Segundo, porque a tese de que
os envolvidos que não estivessem portando armas fossem igualmente responsabilizados pelo
crime de associação criminosa armada.

O voto vai além do que foi requerido pelo MPF nos termos da denúncia, resultando
em condenação extra petita, já que o Parquet é categórico em afirmar que o réu portava
armamentos dos mais variados, enquanto que no voto resultante da condenação, o réu é
considerado culpado mesmo sem estar portando armas.

Neste sentido, fica claro a potencial lesividade - inclusive social - que impera
sobre a possível condenação do réu que é NULA. Ademais, o voto deixa claro que o réu deveria
saber das circunstância dos fatos, de modo a optar por se amealhar aos demais integrantes. Porém,
ao longo de toda a instrução processual criminal, nunca foi mencionado sequer algum elemento
que indicasse a possibilidade de o réu saber, portar, adquirir, conduzir ou qualquer outro contexto
que confirmasse minimamente a intenção de ter ou se associar a pessoas que tivessem armas.

Desta forma, o voto também é contraditório, já que afirma que o réu não tinha armas e
que estaria em associação porque se uniu a quem ele sabia - previamente - que portava armas.

O argumento sobre a impossibilidade de configuração desta associação será detalhado


mais adiante, onde a defesa descreve, com base no laudo pericial e na referência de geolocalização
do réu, onde ele esteve em cada momento desde a sua chegada em Brasília, até o momento da
prisão.

Não obstante, objetivando descaracterizar quaisquer implicações relacionadas à


associação criminosa armada, convém registrar que todos os relatórios foram conclusivos no
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sentido de considerar que o acusado nunca esteve sob porte de armas, não é CAC -
Colecionador, Atirador desportivo e Caçador, e nunca foram encontrados quaisquer
vestígios de substâncias que revelassem o uso prévio de extintores, rojões, fogos de artifício
ou bombas caseiras, uma vez que todos os itens foram periciados, e somente uma garrafa de
água teve o uso atrelado ao réu através do perfil genético, conforme laudo pericial, o que
será melhor detalhado.

Ademais, a elementar do tipo de associação conjuga a necessidade do réu estar


vinculado a outras pessoas, de modo que todos possam ser descritos e caracterizados

“É ainda o mais grave é tentar imputar a alguém, sem substrato fático nos
autos, a participação em crimes que a suposta associação criminosa teria
praticado, sem descrever o que determinado denunciado teria realizado
ou como teria participado da prática específica de tais crimes”1.

O eminente Revisor decidiu no mesmo sentido, ao expor:

“Ora, a condenação pela prática do delito de associação criminosa exige


a identificação dos membros integrantes de um grupo determinado de
pessoas que tenham se associados previamente para o cometimento de
crimes. Nesse sentido, não se pode presumir, data venia, que todos os
acusados presos nos edifícios invadidos ou em suas imediações
mantivessem, indistintamente, tal vínculo associativo, com certa
estabilidade e o objetivo de praticar delitos indeterminados” (página 176,
do Acórdão).

O Ministro André Mendonça, por sua vez, votou no seguinte sentido:

“E sobre a banalização que, nos últimos vinte anos, se tem verificado no


cotidiano forense quanto ao conceito de associação criminosa, o mesmo
autor menciona a prática abusiva de se denunciar por tal delito,
indiscriminadamente, “qualquer concurso de mais de três pessoas,
especialmente nos chamados crimes societários, em autêntico louvor à
responsabilidade penal objetiva, câncer tirânico já extirpado do
ordenamento jurídico brasileiro” (BITENCOURT, Cezar Roberto.
Tratado de Direito Penal: parte especial. 7ª ed. São Paulo. Saraiva, 2013,
v. 4, p. 452 - destaquei)”.

Dessa forma, para buscar atrelar o réu à associação, o MPF afirmou que algumas
manifestações violentas se iniciaram em 12 de dezembro de 2022, e que teriam ocorrido no
Distrito Federal; porém, como sabido e comprovado, o réu nunca esteve em Brasília antes do
dia 8 de janeiro de 2023.

1
Disponível em:
https://www.cezarbitencourt.adv.br/index.php/artigos/46-associacao-criminosa-e-responsabilidade-pelos-crimes-por-el
a-praticados
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O argumento acusatório foi manifestado na fundamentação do voto do e. Relator, o


que é equivocado pela razão acima exposta, também pelo que não há nenhum vínculo subjetivo
incidente antes de 8 de janeiro de 2023.

Qualquer afirmação de vínculo anterior à data do fato é desprovida e merece o devido


reparo, já que serviu de fundamento para a condenação do réu, o que resultou na omissão quanto
ao depoimento pessoal do acusado, bem como ao conteúdo inerente ao laudo pericial da PF.

Em razão da narrativa equivocada do Ministério Público, o voto do Eminente Relator


seguiu no sentido traçado na peça acusatória, de modo que, ao longo das páginas 97 a 106, do
Acórdão, fez-se referência justamente a fatos que nunca tiveram a participação do acusado,
dentro os quais destaco, em síntese:

“Isso porque o acampamento montado em frente aos quartéis generais,


mais especificamente o situado em Brasília, apresentava uma complexa e
engenhosa organização, demonstrando a estabilidade e a permanência da
associação, pressuposto do tipo objetivo”.

“Justamente por isso houve a aglomeração de pessoas em acampamentos,


não somente em Brasília, mas em todo o país, com intuito de provocar
amotinamento daqueles submetidos ao regime castrense”.

“A materialidade do delito está comprovada nos autos, conforme


detalhado em item anterior, pois desde a proclamação do resultado das
Eleições Gerais de 2022 pelo TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE),
constatou-se a difusão de diversos atos antidemocráticos, com a prática
de violência e grave ameaça às pessoas, como o bloqueio do tráfego em
diversas rodovias do país, e o episódio ocorrido no dia 12/12/2022, data
da diplomação dos eleitos perante o TSE, no qual manifestantes
praticaram vandalismo e depredação nos arredores do edifício-sede da
Policia Federal em Brasília, tudo com o intuito de abolição do Estado
Democrático de Direito, pleiteando um golpe militar e o retorno da
Ditadura.”

“No dia 24/12/2022 foi localizado artefato explosivo junto a um


caminhão-tanque, tendo os autores sido identificados e presos, bem como
declarado que o planejamento do crime ocorreu no acampamento do
QGEx.”

Como exposto e comprovado, o acusado nunca esteve em Brasília até o dia 8 de


janeiro de 2023, ratificado pelo réu em audiência e comprovado por laudo pericial, não
havendo razões mínimas que indicassem sua participação em tais atos de forma associada.

A condenação, portanto, ofende não só a presunção de inocência como a legalidade


em si. Ademais, equipara réu desarmado, sem histórico criminal, portador de bons antecedentes,
sem vínculo com autoridades públicas, sem filiação partidária, a criminosos que agem com
extrema violência e finalidade abrupta de ofender a ordem pública:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. CONDENAÇÃO


POR CRIMES DE ROUBO E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PRISÃO
PREVENTIVA. MOTIVAÇÃO ADEQUADA. 1. É imperiosa a necessidade
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de se garantir a ordem pública, evidenciada sobretudo diante de fatos


concretos aos quais se atribuiu extrema gravidade e que revestem a
conduta de remarcada reprovabilidade. O paciente e seus comparsas,
integrantes de associação criminosa armada, utilizando de veículos que
sabiam ser produtos de crimes e portando armamento pesado (um fuzil
762 e outro 556-R15, além de uma metralhadora calibre .50) e
explosivos, interceptaram um carro-forte da empresa de segurança
Brinks, mediante disparos das armas de fogo, para subtrair a quantia de
R$ 950.000,00 e diversas armas utilizadas pelos seguranças. Na fuga,
ainda subtraíram outros veículos. 2. Nos termos da jurisprudência de
ambas as Turmas desta CORTE, o destacado modo de execução e a
gravidade concreta do delito constituem fundamentos idôneos à
determinação da custódia cautelar para resguardar a ordem pública.
Precedentes. 3. Agravo Regimental a que se nega provimento. (HC 198681
AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado
em 08-04-2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-069 DIVULG
12-04-2021 PUBLIC 13-04-2021)

Ademais, a doutrina especializada2 ensina que para a configuração da associação


criminosa armada é necessária a reunião estável ou permanente, com a finalidade de cometer
crimes, não sendo, portanto, o caso, já que a (i) a intenção do acusado nunca foi o de cometer
crimes, mas manifestar sua opinião política; (ii) a alegada e não comprovada vinculação de
pessoas não se deu em caráter estável ou permanente.

Demonstrar e descrever analiticamente a existência dos elementos que comprovem a


vinculação do EDUARDO ao caso, seja de ordem objetiva ou subjetiva à dita associação, é
fundamental, sob pena de pecar por falta de demonstração da existência de elementos constitutivos
desse crime.

Na verdade, a estrutura central do núcleo do crime de associação criminosa reside na


consciência e vontade de os agentes organizarem-se em associação criminosa, com o fim
específico de praticar crimes indeterminados, o que não consta no presente caso, especificamente
sobre a conduta DESSE RÉU.

Caso, eventualmente, se considere a participação efetiva e comprovada do réu, é


necessário ponderá-la com situações semelhantes, ainda que envolvendo uso de violência ou grave
ameaça. Quando o Poder Judiciário entendeu que a manifestação com a finalidade de invocar a
atenção de autoridades públicas, não tem natureza criminosa, e não restaria configurada a tese
de associação criminosa, conforme TJSP:

“Não caracterização de quadrilha ou bando [hoje, associação criminosa]


– Movimento dos Sem Terra – Associação para a prática de crimes não
comprovada – Invasão de propriedades com a finalidade de pressionar
autoridades – Expediente que, apesar de perturbar a ordem pública,
importa ilícito civil – Absolvição mantida” (Ap. 272.550-3-Andradina, 5.ª
C., rel. Dante Busana, 26.10.2000, v. u., JUBI 54/01).

2
Entende-se por associação criminosa, em outros termos, a reunião estável ou permanente (que não significa
perpétua) para o fim de perpetrar uma série indeterminada de crimes. Disponível em
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Resta claro que o réu nunca agiu em associação criminosa, muito menos armada,
diverso do que o que foi registrado no voto, emanado em sentido contrário às provas constantes
dos autos.

4. DO CONFLITO ENTRE CRIME MULTITUDINÁRIO E ASSOCIAÇÃO


CRIMINOSA

Há uma gigantesca controvérsia entre a relação decorrente do que se imputa como


crime multitudinário e associação criminosa armada.

Conforme exposto acima, o MPF enquadrou o réu em um tipo específico de conduta,


colocando-o como “executor material” dos crimes. A acusação mencionou que havia um
planejamento estratégico definido e detalhado, em que os grupos tinham tarefas individuais e
responsabilidades conjuntas.

No entanto, tal afirmação é absolutamente contrária à natureza jurídica do crime


multitudinário, cuja conduta é determinada no momento do ocorrido, o que a doutrina
denomina de “multidão delinquente”3, que ocorre de forma espontânea e não planejada4.

Desta forma, é possível perceber que pela primeira vez na história jurisprudencial da
Suprema Corte, tem-se a conjugação da associação criminosa armada com a descrição de crimes
multitudinários em razão das condenações provenientes dos atos de 6 de janeiro de 2023.
Controverso em si, tal configuração não pode prosperar sob pena de configurar um estado de
exceção.

O Ministro André Mendonça, inclusive, manifestou a mesma preocupação no voto que


proferiu, quando destacou que via como “(...) paradoxal, como uma contradição em si, nos
referirmos aos manifestantes como “turba” ou “horda” e, ao mesmo tempo, enquadrá-los todos
como participantes de uma associação criminosa organizada” (item 47, do voto, página 204, do
Acórdão).

Para compreensão dos motivos que levaram o MPF à concluir pela realização de
crimes de forma multitudinária, é relevante destacar a entrevista concedida pelo então acusador,
Subprocurador Geral da República, Carlos Frederico Santos, quando manifestou o seguinte5:

3
“Multidão delinquente
O fenômeno da multidão criminosa temocupado osespaços da imprensa nos últimos tempose tempreocupado
profundamente a sociedade como umtodo” Bittencourt, p. 212.
4
Cuida-se do crime multitudinário, do qual são exemplos as invasões de propriedades rurais, as brigas em estádios de
futebol etc. Pode ser definido como o crime cometido pela multidão em tumulto, espontaneamente organizada no
sentido de uma conduta comum contra coisas ou pessoas. (MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 4. ed. Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. p. 422-423).
5
Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2024/01/trabalhei-com-provas-diferente-da-lava-jato-diz-subprocurador-que-den
unciou-1400-pelo-81.shtml
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Portanto, ao expor ao entrevistador que o MPF não tinha condições de individualizar


cada uma das condutas, o acusador optou por uma situação minimamente controversa para
responsabilizar todos os investigados.

No entanto, a Corte acatou o argumento, ainda que insólito, do Parquet, resultando na


condenação do EDUARDO ainda que sem qualquer vínculo, nem mesmo momentâneo, com os
demais investigados.

Dessa forma, verificam-se os pontos de obscuridade, contradição e omissão presentes


no Acórdão e que culminaram na condenação do réu. A afirmação da defesa segue na mesma
linha de raciocínio do voto do Eminente Revisor, segundo o qual:

“O depoimento (de José Eduardo Natale de Paula Pereira, Assistente


Técnico lotado no GSI), porém, embora detalhado no que concerne à
dinâmica das invasões, às medidas por ele adotadas e ao comportamento
dos manifestantes que visualizou e com os quais interagiu, não apontou a
parte ré como autora, individualmente ou em algum grupo de
manifestantes mais agressivos de qualquer ato de depredação ou de
violência”.

“A ausência de suporte probatório mínimo a sustentar a condenação do


réu é reforçada diante da realidade - conforme consta do depoimento
prestado por José Eduardo Natale - de que as pessoas que depredaram
eram a minoria e de que cerca de 1.500 (mil e quinhentos) indivíduos
chegaram a invadir o Palácio do Planalto, de modo que não havia
empecilho para que muitos deles deixassem o prédio após os
vandalismos”.

“A prova testemunhal não confirmou, portanto, a tese da acusação


segundo a qual todos os manifestantes detidos no interior do prédio
público compunham, indistintamente, uma espécie de “turba” homogênea,
que teria atuado com unidade de desígnios”.

“(...) os manifestantes detidos no local compunham grupos


heterogêneos, descoordenados e desorganizados, com variadas posturas
e comportamentos, sendo certo que, consoante já dito, uma minoria
vandalizada e boa parte posicionava e atuava ostensivamente contra as
depredações”.

Para sustentar a condenação do acusado, o eminente Relator vinculou o réu a um


vídeo em que é exposto uma manifestação que teria o condão de gerar animosidade aos
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demais no sentido de propor que outras pessoas tomassem “Brasília igual ao povo de Sri
Lanka fez”. No entanto, o vídeo, que contém voz feminina, não foi produzido pelo réu, mas
recebido por outra pessoa, não havendo justificativa para condenar o réu por implicação
equivocada de prova que vincularia a sua titularidade ao acusado, condenando-o de forma injusta.

Resta assim, verificada a hipótese de erro material (hipótese de aplicabilidade dos


embargos de declaração com amparo no Código de Processo Civil), que poderia ser resolvido pela
omissão na análise aprofundada da prova, eliminando a titularidade imposta ao réu, que serviu de
fundamento para a condenação.

5. EXECUTOR MATERIAL

O MPF descreve que as condutas foram praticadas com a divisão organizada e


estrutura de tarefas que contemplavam quatro grupos relevantes:

5.1.1. núcleo dos instigadores e autores intelectuais dos atos antidemocráticos;


5.1.2. núcleo dos financiadores dos atos antidemocráticos;
5.1.3. núcleo das autoridades de Estado responsáveis por omissão imprópria,
5.1.4. núcleo de executores materiais dos delitos, no qual está inserido o
denunciado.

A narrativa que envolve o presente contexto é - por si só - bastante controversa, uma


vez que a possibilidade de considerar que inúmeros agentes públicos com destacada relevância,
envolvidos no mais alto escalão do sistema organizacional do Governo Federal (Generais,
Deputados, Senadores, Ex-Ministros, entre outros, como, o Ex-Presidente Jair Bolsonaro, General
Heleno, Anderson Torres, Generais Braga Neto, Tomás Ribeiro, Valério Stumpf e Richard Nunes -
todas autoridades mencionadas no Relatório Final Aprovado pela CPMI6) estariam envolvidos na
suposta associação, mas somente os executores materiais (o nível mais baixo e irrelevante na
hierarquia mencionada pelo MPF), seriam os responsáveis pela usurpação do Poder, e
acabariam sendo os únicos condenados nas ações penais relativas, ainda mais considerando
as penas tão relevantes.

Ocorre, no entanto, que para comprovação da execução material de um determinado


crime, é fundamental e necessário a vinculação de um mandante, alguém que determine a
realização do ato, fato que nunca foi comprovado nem teve vinculação relacionada
diretamente ao réu.

Deste modo, não havendo qualquer relação do acusado com alguma autoridade
pública, financiador político ou agente público, resta inexiste o elemento vinculativo necessário
apto a configurar - por parte DESTE RÉU - a associação criminosa armada, notadamente em

6
“Após o segundo turno, o comitê eleitoral de Bolsonaro, situado em uma casa no Lago Sul, bairro de luxo em
Brasília, tornou-se ponto de encontro do general Walter Braga Netto, candidato a vice, com políticos aliados e
militantes bolsonaristas que defendiam intervenção militar. Frequentavam a casa os deputados, senadores e militares.
Segundo matéria da CNN, que cita fontes ligadas a Bolsonaro e a Anderson Torres, Braga Netto teria debatido a
aplicação do Estado de Defesa após a derrota nas eleições. A mesma tese é defendida na chamada “minuta do golpe”
encontrada na casa de Anderson Torres. A articulação teria chegado à cúpula das Forças Armadas, que teriam, porém,
rejeitado a alternativa, o que teria inspirado um movimento de ataque a generais do Alto Comando do Exército
(generais Tomás Ribeiro, Valério Stumpf e Richard Nunes) por parte de apoiadores de Bolsonaro”. Disponível:
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=9484688&ts=1697682413143&disposition=inline
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relação aos fatos que lhe são descritos e imputados, destacando-se o que seria a sua
responsabilidade na estrutura organizacional da suposta associação, conforme a melhor doutrina7.

Assim sendo, a denúncia apresentada foi incapaz de imputar a responsabilidade


do réu como suposto executor, muito menos comprovar o vínculo subjetivo que atrela o
executor ao mandante.

6. DA DESCRIÇÃO DETALHADA DOS MOVIMENTOS DO RÉU EM 8 DE


JANEIRO DE 2023

Diante da análise dos documentos - especialmente do laudo pericial elaborado pela


Polícia Federal - o Supremo Tribunal Federal não considerou objetivamente os argumentos
ponderados pela defesa que iam no sentido de ausência de vinculação do réu aos demais agentes,
notadamente quando analisados em comparação aos movimentos realizados pelo réu desde sua
chegada em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Apesar disso, consta do voto condenatório que:

“(...) o Ministério Público sustenta que, embora não seja possível


precisar o momento exato em que houve a adesão, ou a associação, para
a prática de crimes, é certo que ela se deu anteriormente ao dia 8 de
janeiro de 2023”.

Diverso do comprovado documentalmente e detalhado pelas testemunhas, não há


vinculação alguma do réu com qualquer agente em nenhuma das esferas relatadas pelo Ministério
Público - configurando a ausência de associação.

Ademais, após a petição solicitando esclarecimentos (doc 24858a2a), o julgamento foi


levado ao Plenário, justamente em razão da comprovação - por meio do laudo pericial elaborado
pela Polícia Federal - de que o réu só esteve em Brasília em 8 de janeiro de 2023.

A informação é relevante para confirmar a omissão na análise do laudo pericial,


mesmo após petição solicitando esclarecimentos - que comprovam não só a ausência de
vinculação prévia à suposta associação, como afasta a configuração dos demais crimes que lhe
foram imputados.

Diante disso, o documento comprova o seguinte contexto:

➡️ Eduardo estava localizado na coordenada -15.8173418 -47.8401291 às 16:13 do dia 8 de


janeiro de 2023. Conforme dados do Google, a geolocalização confirma a narrativa do
acusado em seu depoimento, de que estava no CTG Jayme Caetano Braun:

Trecho do laudo (doc. 4a3a3e0 - p. 70)

7
“O executor, na condição de instrumento, deve encontrar-se absolutamente subordinado em relação ao
mandante”. (...) “Todos os pressupostos necessários de punibilidade devem encontrar-se na pessoa do “homem
de trás”, no autor mediato, e não no executor, autor imediato”. (Bitencourt, p. 209).
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➡️ Eduardo estava localizado na coordenada -15.797591 -47.865842 às 16:35 do dia 8 de


janeiro de 2023, no Ministério da Justiça, local que não foi afetado.

Trecho do laudo (doc. 4a3a3e0 - p. 70)

➡️ Somente às 17:20 do dia 8 de janeiro de 2023 é que Eduardo chega próximo ao Congresso
Nacional.

Trecho do laudo (doc. 4a3a3e0 - p. 71)


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Notadamente, o local já estava sendo desocupado quando o réu chegou próximo à


entrada do Congresso, o que inclusive foi exposto no Relatório aprovado pela CPMI:

“O Batalhão de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal que havia


sido requerido, às 15 horas, pelo diretor da Polícia Legislativa da Câmara
dos Deputados, Paul Pierre Deeter, chegou ao Congresso Nacional apenas
às 17 horas. No entanto, em pouco mais de 3 minutos, conseguiu expulsar
todos os invasores, que passaram a se concentrar no gramado em frente”

Por volta das 17h30, boa parte dos prédios invadidos havia sido
desocupada, mas uma multidão ainda se concentrava na parte externa do
Congresso Nacional. (p. 681)”.

Poder-se-á questionar, então, que o réu estava no interior do Congresso, tendo sido
expulso pelo Batalhão de Choque, porém o laudo comprova que quatro minutos antes, o réu
estava no estacionado do Supremo Tribunal Federal:

Trecho do laudo (doc. 4a3a3e0 - p. 71)


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Assim sendo, resta comprovado documentalmente por inúmeras fontes que o réu não
foi responsável por qualquer ato de vandalismo, destruição ou outro ato contra o patrimônio
público. Além do mais, resta comprovado que às 17:54, o réu estava no anexo à Câmara dos
Deputados.

Verifica-se que o réu permaneceu tempo considerável em dois prédios que não
foram atacados (Ministério da Justiça e Anexo à Câmara dos Deputados), expurgando a tese
de violência aplicada ao acusado.

Por fim, tal qual narrado em seu depoimento, o réu comprovadamente só ingressou no
Palácio do Planalto para se abrigar das bombas de efeito moral que eram atiradas tanto pelo
Batalhão de Choque quanto pela Polícia Militar, pelos helicópteros e pelo Exército Brasileiro.
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O vídeo abaixo mostra exatamente o momento em que os manifestantes presentes no


Palácio passam a entrar no prédio no momento em que as bombas eram lançadas, fato que foi
narrado pela testemunha Major José Eduardo Natale em seu depoimento tanto na fase
investigativa quanto processual:
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Além disso, o perfil genérico traçado pela perícia também identifica o Palácio do
Planalto como o único local acessado pelo réu, e cujo material genético foi extraído de uma
garrafa plástica, conforme trechos do laudo:

Desta forma, verificada a omissão e obscuridade na análise do laudo pericial, convém


seja recebido o presente recurso para que no mérito seja julgado procedente de forma a revogar a
decisão que ensejou a condenação do réu, resultando na iminente absolvição do embargante.

Assim sendo, fica claro estarmos diante da hipótese denominada de “decisão


suicida”, em que o magistrado reconhece que o réu só esteve em Brasília na tarde do dia 8 de
janeiro de 2023, porém ainda assim o associa aos anteriores anteriores, vinculando-o aos
acampamentos em frente ao GQEx em 7 de janeiro e em atos isolados ocorridos em Brasília
em datas em que o réu estava distante mais de 1.728 km (distância entre Brasília-DF e Santa
Maria-RS).

Verifica-se, portanto, clara situação de nulidade da decisão.

7. DA AUSÊNCIA DE PROVAS

A ausência de provas que importem na responsabilidade do réu, notadamente diante da


ausência de vínculo associativo, incide sobre as demais hipóteses criminais. Assim, a falta de
provas resulta na impossibilidade de comprovação do réu quanto aos crimes de Golpe de Estado,
de Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito e de Dano.

A omissão ocorre, dentre outros pontos, como resultado da ausência de análise de


ponderações da defesa do acusado, quando se comparou a situação de outro réu absolvido
justamente por não terem sido encontradas provas que pudessem conduzir à condenação do réu,
conforme trecho do voto do Relator que conduziu à absolvição daquele acusado:

A ausência de provas que apontem o elemento subjetivo para a prática de


ambos os delitos previstos no artigo 359 e no delito previsto no artigo 288,
todos do Código Penal, na presente hipótese, acaba por gerar dúvidas
sobre a conduta do réu e, em especial, sobre a presença do necessário
elemento subjetivo do tipo para a caracterização dos tipos penais
apontados pelo Ministério Público.

Nenhuma das provas produzidas e reconhecidas pelo Plenário do


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL como suficientes para a
PROCEDÊNCIA TOTAL das APs 1060, 1183, 1502 (julgadas em sessão
Plenária, nos dias 13 e 14 de setembro), APs 1413, 1109, 1505 (julgadas
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em SV 26 a 2 de outubro) e APs 1116, 1171, 1192, 1263, 1498, 1416


(julgadas em SV 6 a 16 de outubro) está presente em relação ao réu
ORLANDO RIBEIRO JUNIOR, gerando razoável dúvida sobre a
presença de seu dolo para a prática das infrações penais.

(Elementos que deveriam ser aplicados em mesma equivalência ao


EDUARDO ZEFERINO ENGLERT)

As provas produzidas nas APs 1060, 1183, 1502 (julgadas em sessão


Plenária, nos dias 13 e 14 de setembro), AP 1413 (julgada em SV 26 a 2
de outubro) e APs 1116, 1171, 1192, 1263, 1498, 1416 (julgadas em SV 6 a
16 de outubro) demonstraram que os réus frequentaram os clandestinos
acampamentos em frente aos quarteis do Exército – em Brasília e,
alguns, em sua própria cidade – participando ativamente das ilícitas
manifestações que pleiteavam golpe de Estado, induzindo, instigando e
aguardando uma suposta intervenção militar e afastamento dos Poderes
da República e encerramento de nosso Estado Democrático de Direito.

De igual maneira, as provas produzidas nas APs 1060, 1183 (julgadas em


sessão Plenária, nos dias 13 e 14 de setembro), APs 1109, 1505 (julgadas
em SV 26 a 2 de outubro) e APs 1116, 1171, 1192, 1263, 1498, 1416
(julgadas em SV 6 a 16 de outubro) comprovaram a própria CONFISSÃO
dos réus, que realização diversas gravações de áudios e vídeos
transmitidos pelos seus celulares demonstrando a prática dolosa dos
crimes imputados pelo Ministério Público.

Na AP 1502 (julgada em sessão Plenária, nos dias 13 e 14 de setembro) e


AP 1109 (julgada em SV 26 a 2 de outubro), há, ainda, laudo de imagens
dos réus circulando tranquilamente no local do crime; enquanto na AP
1505 (julgada em SV 26 a 2 de outubro), AP 1498 (julgada em SV 6 a 16
de outubro) e AP 1064 (jul

Na presente ação penal, entretanto, inexiste qualquer outro elemento


probatório que possa – sem dúvida razoável – comprovar seu elemento
subjetivo do tipo – DOLO – para a prática dos crimes imputados pela
Procuradoria Geral da República e previstos nos arts. 288, parágrafo
único (associação criminosa armada), 359-L (abolição violenta do Estado
Democrático de Direito), 359-M (golpe de Estado).

Além disso, no mesmo voto, o e. Relator destacou:

“O Estado de Direito não tolera meras conjecturas e ilações do órgão de


acusação para fundamento condenatório em ação penal, pois a prova
deve ser robusta, consistente, apta e capaz de afastar a odiosa
insegurança jurídica, que tornaria inviável a crença nas instituições
públicas, como bem destacado por esta CORTE SUPREMA, em
julgamento do HC 121.405/MG, em 19/3/2014, de relatoria da Min. ROSA
WEBER, que apreciando o tema da responsabilidade penal, afirmou a
imprescindibilidade de:
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"ser reconhecida a presença de prova acima de qualquer dúvida razoável.


(...) A presunção de inocência, ou de não culpabilidade, é princípio
cardeal no processo penal em um Estado Democrático de Direito."

As provas, portanto, precisam ser incontestáveis, não se admitindo


condenações com base em dúvida razoável, como destacado pelo então
DECANO da SUPREMA CORTE, Min. CELSO DE MELLO:

"nenhuma acusação penal se presume provada. Esta afirmação, que


decorre do consenso doutrinário e jurisprudencial em torno do tema,
apenas acentua a inteira sujeição do Ministério Público ao ônus material
de provar a imputação penal consubstanciada na denúncia. Com a
superveniência da Constituição de 1988, proclamou-se, explicitamente
(art. 5o, LVII), um princípio que sempre existira, de modo imanente, em
nosso ordenamento positivo: o princípio da não culpabilidade" (AP
858/DF, Pleno, trecho do voto do Min. Celso de Mello. Acórdão publicado
no DJe de 7-11-2014)”.

Neste mesmo sentido, tais condições foram bem ponderadas pelo Min. André
Mendonça, que defendeu o seguinte:

“(...) na falta de provas contundentes e acima da dúvida razoável


produzidas pela acusação quanto ao dolo efetivo do acusado, é caso de
absolvição pelo delito do art. 359-L, do Código Penal”. (item 33, página
199 do Acórdão).
8. DA NECESSÁRIA ABSOLVIÇÃO QUANTO AOS DEMAIS CRIMES

Detalhados todos os pontos necessários à interposição dos embargos de declaração,


verificadas as omissões, contradições e obscuridades que merecem o devido reparo, a defesa passa
a se posicionar sobre a absoluta ausência de configuração dos demais crimes.

Abordado acima, a equivalente hipótese de absolvição do réu ORLANDO deveria ser


aplicada ao o acusado EDUARDO ZEFERINO ENGLERT, notadamente por não ter tido qualquer
envolvimento anterior com os manifestantes que estiverem em Brasília em 8 de janeiro de 2023.

Da mesma forma, Eduardo nunca enviou qualquer informação que apontasse


para o suposto interesse em cometer crimes de tais naturezas, da mesmo forma que nunca
manifestou nem enviou comentários em grupos. Nada obstante, caso o réu tivesse mesmo
praticado tais atos, a Corte estaria punindo ele por atos preparatórios, que não implicam em
responsabilidade penal.

O vídeo sobre tomar Brasília como fez o povo de Sri Lanka, não é de sua autoria,
mas foi recebido pelo acusado, não havendo como lhe imputar a responsabilidade pelo conteúdo
recebido.

Além disso, nunca teve vínculo com qualquer outra pessoa, seja em qualquer dos
escalões ou núcleos descritos pelo MP, tal qual o caso comparativo do réu ORLANDO, cuja
decisão considerou a inexistência de provas que comprovem o envolvimento do réu nas práticas
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dos crimes tipificados nos art. 288, parágrafo único, 359-L e 359-M, do CP, resultando no seguinte
voto:

“Com efeito, o estado de dúvida obstaculiza o juízo condenatório,


devendo-se sempre ressaltar o papel do processo penal como instrumento
de salvaguarda das liberdades individuais, conforme bem sublinhou o
Min. CELSO DE MELLO, nos Votos que proferiu na AP 869/AL,
Segunda Turma, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, j. 29/9/2015, e no HC
73.338-7/RJ, Primeira Turma, Rel. Min. CELSO DE MELLO, j.
13/8/1996. Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTE a Ação Penal
promovida contra ORLANDO RIBEIRO JUNIOR para absolvê-lo das
práticas dos crimes previstos nos arts. 288, parágrafo único (associação
criminosa armada), 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de
Direito) e 359-M (golpe de Estado)do Código de Processo Penal”.

Ora, é inegável que o mesmo enquadramento merece prosperar e prevalecer para o réu
EDUARDO ZEFERINO ENGLERT, que comprovou ter chegado à sede dos Três Poderes muito
tempo depois da destruição dos prédios públicos, não ter qualquer envolvimento nos atos nem
relação com qualquer outro indiciado, provou nunca ter agido com violência ou grave ameaça
(elementares fundamentais do tipo), notadamente em razão das provas periciais que afastam
qualquer vinculação dele com algum tipo de objeto (“armas”) e por só ter entrado no Palácio do
Planalto em razão das bombas, como bem aparece no vídeo no mostra momento muito próximo ao
ocorrido, próximo às 18:30, coincidindo com o momento das prisões.

Por fim, pelo fato de o réu não ter ingressado em nenhum dos prédios públicos,
por ter estado próximo a outros deles por tempo suficiente, sem que tenham sido gerados
quaisquer danos, por ter ingressado no Palácio do Planalto apenas para se abrigar das
bombas de efeito moral, por ter comprovadamente ingressado nesta Casa após os atos
destrutivos e sem tempo hábil para ter praticado qualquer vandalismo, por estar presente na
sede dos Três Poderes somente após às 16h 40 min, sem ter praticado qualquer ação violenta
ou com grave ameaça e por ter tido sempre uma conduta pacífica e lícita ao longo de toda a
sua vida; por tais motivos, o réu é inocente de todas as acusações e de todos os crimes
imputados, não havendo espaço nem vinculação para sua condenação, notadamente porque
àquelas que lhe foram impostas, somente o foram sem a devida atenção e sem a detida
análise de responsabilidade e criação ou mesmo de difusão do conteúdo por parte do
condenado, por não ter havido vinculação lateral a outro indiciado (associação) ou mesmo a
um mandante ou autoridade pública; é desarrazoado e incondizente com a postura desta
Suprema Corte, manter a condenação de pessoa que sabida e comprovadamente não tem
nenhuma responsabilidade criminal.

9. CONCLUSÃO

Por todo o exposto, a defesa do então condenado EDUARDO ZEFERINO


ENGLERT requer que o presente recurso de EMBARGOS DE DECLARAÇÃO seja
devidamente recebido por ser tempestivo, encaminhando a peça recursal ao Plenário,
interrompendo-se os prazos para a interposição de qualquer outro recurso.
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Ademais, requer que a peça seja recebida e analisada com a cautela necessária para
contrapor os pontos de obscuridade e contradição, especialmente verificadas, sobretudo no voto do
e. Relator, data venia, objetivando a modificação da decisão condenatória, resultando, por fim, na
absolvição do acusado de todos os crimes que lhe foram imputados.

Subsidiariamente, caracterizada a hipótese de nulidade da decisão, nos termos dos


argumentos e fundamentos apresentados ao longo do presente recurso, convém que seja
reconhecida pela Corte e declarada a nulidade da presente ação.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Florianópolis, 05 de fevereiro de 2024.


Assinado de forma digital por MARCOS
MARCOS AZEVEDO AZEVEDO SOCIEDADE INDIVIDUAL DE
ADVOCACIA:45587858000132
SOCIEDADE DN: c=BR, st=SP, l=Sao Paulo, o=ICP-Brasil,
ou=Secretaria da Receita Federal do Brasil -
INDIVIDUAL DE RFB, ou=RFB e-CNPJ A1, ou=AC SERASA
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ADVOCACIA:455878 ou=VIDEOCONFERENCIA, cn=MARCOS
AZEVEDO SOCIEDADE INDIVIDUAL DE
58000132 ADVOCACIA:45587858000132
Dados: 2024.02.05 16:59:03 -03'00'

Marcos Vinicius Rodrigues de Azevedo


OAB/SC 50.049

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