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e colaboradores

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Mecanismo do Parto
Adriani Oliveira Galão
Cristiano Caetano Salazar
Fernando Freitas

O nascimento é, na maioria das vezes, um pro- rior, do promontório à borda inferior da sínfise,
cesso natural e fisiológico, mas sempre bastante em geral 12 cm, e que tem valor para estimar
complexo. Um entendimento do mecanismo do a medida das outras conjugatas) e o diâmetro
parto, da contratilidade uterina, da pelve mater- transverso máximo (tranversal, dos dois pontos
na e de suas relações com o feto são fundamen- mais afastados da linha inominada do ilíaco,
tais para a adequada assistência obstétrica. Este 13-13,5 cm). No estreito médio, consideramos
capítulo abordará conceitos essenciais sobre o um diâmetro anteroposterior (em geral 12 cm) e
que ocorre naturalmente nas apresentações ce- outro transverso (biespinha isquiática, 10,5 cm).
fálicas, em partos eutócicos. No estreito inferior, há a conjugata exitus (an-
teroposterior, da margem inferior da sínfise até
o cóccix – quando mede em geral 9,5 cm – ou
Pelve materna até a articulação sacrococcígea após retropulsão
do cóccix – com 11 cm) e o diâmetro transverso
O canal do parto é constituído pela pelve óssea bi-isquiático (11 cm).
(sacro, cóccix, ilíacos esquerdo e direito) e pelos
tecidos moles (cérvice e musculatura do asso- Durante o trabalho de parto, a apresenta-
alho pélvico), que oferecem graus variados de ção fetal – por meio de forças ativas e pas-
resistência à expulsão fetal. sivas – procura acomodar-se com suas me-
nores dimensões, a fim de transpor todos
A pequena pelve (ou escavação) é a que tem esses diâmetros ao longo do canal do parto.
expressão obstétrica, pois forma o trajeto duro
do parto; é limitada, acima, pelo estreito supe- Nas apresentações cefálicas, partindo da atitude
rior (do promontório à borda da sínfise púbica) inicial indiferente ou de ligeira flexão, a cabeça
e, abaixo, pelo estreito inferior (da borda infe- se flete gradualmente, substituindo-se diâme-
rior da sínfise à ponta do cóccix). O estreito mé- tros maiores por outros menores: occipitofrontal
dio é a área de menores diâmetros da pequena (12 cm) pelo suboccipitofrontal (11 cm) e, fi-
pelve e passa ao nível das espinhas isquiáticas nalmente, pelo suboccipitobregmático (9,5 cm)
(Fig. 20.1). (Fig. 20.3).
Há vários diâmetros de interesse no estudo da Nas apresentações com deflexão cefálica, esta
pelve (Fig. 20.2). No estreito superior, são diâ- se acentua, substituindo-se o occipitomentonia-
metros de interesse: a conjugata vera anatômica no (13 cm) pelo submentobregmático (9,5 cm) –
(anteroposterior, do promontório à borda supe- o diâmetro de insinuação das apresentações de
rior da sínfise púbica, em geral 11 cm), a con- face. Os diâmetros e circunferências do tronco
jugata vera obstétrica (anteroposterior, do pro- que importam ao tocólogo são: diâmetro bia-
montório à face posterior da sínfise, em geral cromial (12 cm), circunferência biacromial (35
10,5 cm), a conjugata diagonalis (anteroposte- cm), diâmetro bitrocanteriano (9,5 cm) e circun-
302 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

12,25

11 12,5

13
12

A B

A
B

C
D

12
9,5-11
10,5 11

C D

Figura 20.1 Os estreitos da bacia. A, o estreito superior da bacia, visto de cima; B, o plano de maiores
dimensões, visto de baixo; C, o estreito médio (plano de menores dimensões), visto de baixo; D, o estrei-
to inferior, visto de baixo; no centro, corte sagital indicando os planos assinalados A, B, C e D.
Fonte: Adaptada de Montenegro e Rezende Filho (2008a).

ferência bitrocanteriana (27 cm com pernas es- tro acima (-1, -2, -3, …) ou abaixo (⫹1, ⫹2,
tendidas, 35 cm com pernas flexionadas). ⫹3, …) desse plano. Os eixos da bacia, impor-
tantes para orientar as direções a imprimir às
Há quatro tipos fundamentais de bacia determi-
trações e partos instrumentados, consideran-
nados pela relação da porção posterior do es-
do a posição de litotomia, são: eixo de entra-
treito superior (no diâmetro transverso máximo) da (traçado de trás para diante e de cima para
com a região anterior, formando pelves mais ar- baixo no sentido dos pés do obstetra), eixo do
redondadas, ovaladas ou triangulares. As bacias estreito inferior (que aponta para os joelhos e
ginecoide, antropoide, androide e platipieloide depois para o peito do obstetra), e eixo do es-
estão ilustradas na Figura 20.4. treito vulvar (que se orienta para cima, no sen-
Os planos da bacia são imaginários e traçados tido da face do tocólogo).
nas várias alturas da escavação pélvica, mere- A semiologia da bacia procura, por meio de
cendo referência os planos de Hodge (primei- pelvimetria, antever o prognóstico do parto
ro traçado pela borda superior do púbis e pelo com base nos diâmetros mensuráveis da pelve
promontório; segundo correspondente à borda óssea. Realizada décadas atrás como rotina, a
inferior do púbis; terceiro na altura das espi- pelvimetria radiológica caiu em desuso devido
nhas isquiáticas; e quarto partindo da ponta à ausência de associação fidedigna dos seus
do cóccix) e os planos de De Lee: estando o parâmetros com os desfechos no nascimento
plano “zero” na altura das espinhas isquiáticas, (American College of Obstetricians and Gyneco-
os outros planos são traçados a cada centíme- logists, 2003).
Rotinas em Obstetrícia 303

Os parâmetros que hoje em dia ainda são utili-


zados são a conjugata diagonalis (de cujo valor
se deduz 1,5 cm para obter a conjugata vera
obstétrica, sendo favoráveis ao parto eutócico
quando medem em torno de 12 e 10,5 cm, res-
pectivamente, ou quando o promontório não é
acessível), a conjugata exitus (favorável de 9-11
11 cm), o ângulo de abertura da arcada púbica
(desfavorável se ⬍ 90o, favorável se ⬎ 90o) e
o diâmetro bi-isquiático (favorável se 9 cm ou
mais ou, subjetivamente, se as espinhas isquiáti-
cas não estão muito aproximadas).
12

Contratilidade uterina
10,5
9,5 Para a avaliação da contratilidade uterina, o
11 método mais utilizado é a tocografia, que é a
interpretação gráfica das contrações uterinas
durante o trabalho de parto (TP). Pode ser reali-
zada de maneira externa (não invasiva) ou inter-
na (invasiva).
Figura 20.2 Corte sagital da bacia, mostrando as
conjugatas (vera anatômica, vera obstétrica, dia- A contração uterina pode ser avaliada em rela-
gonalis, exitus sem e com retropulsão do cóccix) e ção a: pressão ou tônus, intensidade, frequên-
seu valores habituais.
cia, duração e forma de onda contrátil.
Fonte: Adaptada de Montenegro e Rezende Filho (2008).
As contrações ocorrem durante toda a gestação.
No início da gestação, ocorrem pequenas contra-
A pelvimetria clínica, por sua vez, pode ser ções com intensidade de 2 a 4 mmHg e com fre-
útil para qualitativamente identificar pel- quência de 1 a 3 minutos (ondas de Alvarez) que
ves com maior risco de distocia. podem ser registradas a apartir de 9 semanas.

9,5

11
SO
SO

F
BP
B

9,5
OM
OF
12
SMB

BT
8
13,5 9,5

Figura 20.3 Diâmetros principais do crânio fetal. BP, biparietal; BT, bitemporal; OF, occipitofrontal; OM,
occipitomentoniano; SMB, suboccipitomentoniano; SOF, suboccipitofrontal; SOB, suboccipitobregmático.
Fonte: Adaptada de Montenegro e Rezende Filho (2008).
304 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Ginecoide Antropoide Androide Platipieloide

Figura 20.4 Tipos fundamentais de bacia.


Fonte: Adaptada de Funai e Norwitz (2009).

Essas contrações não são sentidas pela paciente mais favoráveis que são alcançados durante o
nem pela palpação abdominal. Após a 13a sema- trajeto do parto, vistos na Figura 20.5 (Biswas;
na de gestação até a 30a semana, contrações de Craigo, 1994, Cheng; Canghey, 2007).
10 a 15 mmHg, com duração de 30 segundos
Assim, o mecanismo do parto depende da mor-
ou mais (contrações de Braxton-Hicks) estão pre-
fologia e da configuração da pelve (parte óssea
sentes, ocorrendo esporadicamente até de hora
e musculoaponeurótica), da apresentação e do
em hora. Após a 30a semana, sua frequência se
tamanho fetal e da contratilidade uterina.
aproxima de 1 a cada 10 minutos, adquirindo
ritmo regular nas duas últimas semanas antes O mecanismo do parto é uma combinação de
do parto. Podem ser palpadas e sentidas pela eventos que, embora contínuos e simultâneos, se-
paciente como um endurecimento indolor do rão descritos separadamente por motivos didáti-
útero. Na passagem do período pré-parto para o cos. Uma vez que em 95 a 96% dos casos o parto
parto, ocorrem mudanças progressivas e graduais se processa em apresentação cefálica fletida, ou
na frequência e na intensidade contrátil. Na fase apresentação de vértice (Cheng; Canghey, 2007),
ativa do TP, à medida que a dilatação progride, será dada ênfase ao seu estudo (Fig. 20.6).
aumentam a intensidade e a frequência das con-
trações até o período expulsivo. Após o parto, as
contrações rítmicas têm a função de levar à de-
quitação placentária ou ao secundamento e fazer
Tempos do mecanismo
a hemostasia do leito placentário com expulsão do parto
de coágulos e lóquios da cavidade uterina. Encaixamento ou insinuação
É a passagem da maior circunferência da apre-
sentação pelo anel do estreito superior da pelve
Mecanismo do parto (Fig. 20.6-2). Nas apresentações de vértice, é a
O nascimento fetal compreende o período que passagem do diâmetro biparietal. Nas nulíparas,
vai desde o início das contrações regulares até a geralmente ocorre nas duas últimas semanas de
expulsão da placenta (Cheng; Canghey, 2007). gestação (insinuação estática); nas multíparas,
O TP pode ser definido como a sequência de geralmente ocorre após o início do TP (insinua-
contrações uterinas involuntárias e coordenadas ção dinâmica). A variedade de posição de encai-
que resultam no apagamento e na dilatação do xamento depende da morfologia da pelve. Nas
colo uterino. Tais contrações associadas ao es- morfologias ginecoide, androide e platipeloide,
forço voluntário da parede abdominal levam à geralmente o encaixamento se dá pelo diâme-
expulsão, através do canal do parto, dos produ- tro transverso. Nas morfologias andropoides, o
tos da concepção (Archie, 2007). encaixamento se dá pelas posições posteriores e
diretas (Fig. 20.7).
O parto transcorre segundo a “teoria da menor
resistência”, ou seja, a apresentação fetal tem Na insinuação, nas posições transversas, a sutu-
que se adaptar aos menores diâmetros possíveis ra sagital penetra no estreito superior de maneira
a fim de transpor as dimensões e os contornos sinclítica (equidistante do púbis e do promontório
Rotinas em Obstetrícia 305

Cavidade uterina

Anel de retração fisiológica

Colo
Vagina

Anel de retração fisiológica

Figura 20.5 O canal de parto.

sacral) ou assinclítica por flexão lateral da cabeça


do feto. Esse assinclitismo pode ser posterior (obli- Rotação interna da cabeça
quidade de Litzmann quando a sutura sagital está
mais próxima da sínfise púbica com exposição A descida da cabeça em direção ao estreito mé-
maior do parietal posterior ao exame digital) ou dio da pelve distende e dilata o conjunto muscu-
anterior (obliquidade de Naegele quando a sutura loaponeurótico do diafragma pélvico. Quando a
sagital está mais próxima do promontório com ex- altura da cabeça alcança os músculos elevado-
posição maior do parietal anterior ao exame digi- res do ânus, tende a executar um movimento
tal) (Fig. 20.8). Graus moderados de assinclitismo espiralado rodando o ápice fetal no sentido de
no TP são normais; se muito acentuados, podem menor resistência (Fig. 20.6-3, 4). Na posição
determinar desproporção cefalopélvica. occipitoanterior, a rotação cefálica será de 45º,
e nas occipitoposteriores, de 135º, em direção à
sínfise púbica. Com a rotação interna da cabeça
e sua progressão no canal, ocorre a penetração
Flexão dos ombros no estreito superior da bacia.
Ocorre tão logo encontre resistência do colo
uterino, das paredes pélvicas ou do assoalho
pélvico. Importante para a passagem do me- Desprendimento ou extensão
nor diâmetro cefálico pelo menor diâmetro da da cabeça fetal
pelve. O objetivo é substituir o diâmetro occi-
pitofrontal pelo subocciptobregmático, menor e Terminada a rotação interna da cabeça, a base
mais favorável ao transcurso do parto. do occipital será colocada sob a arcada púbica,
com a sutura sagital orientada na direção an-
teroposterior. Por movimento de extensão (de-
flexão), o polo cefálico direciona seu despren-
Descida dimento seguindo a curvatura inferior do canal
Ocorre desde o início do TP e só termina com a de parto (que, nesse ponto, dirige-se para cima);
expulsão do feto (Fig. 20.6). Resulta das forças a nuca se apoia na margem inferior da sínfise
do TP e do apagamento do segmento inferior púbica, e a cabeça oscila em torno desse ponto,
uterino. Sua velocidade depende da resistência avançando e distendendo os tecido vulvares. O
pélvica e da intensidade das contrações. períneo torna-se alongado, a vulva abre-se, e o
306 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

1. Flutuação da cabeça antes do encaixe 5. Extensão completa

2. Encaixamento, flexão e descida 6. Restituição (rotação externa)

3. Continuação da descida, rotação interna 7. Liberação do ombro anterior

4. Rotação completa, início da extensão 8. Liberação do ombro posterior

Figura 20.6 Tempos do mecanismo de parto.


Rotinas em Obstetrícia 307

Cinecoide Androide Platipeloide (plana) Antropoide

Figura 20.7 Morfologia da pelve e variedade de posição no encaixamento.

Assinclitismo anterior Sinclitismo normal Assinclitismo posterior


Obliquidade de Naegele Obliquidade de Litzmann

Plano
occipito-
Parietal Sutura frontal Parietal
anterior sagital posterior
Plano do
estreito superior

Figura 20.8 Sinclitismo e assinclitismo.


308 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

couro cabeludo torna-se visível entre as contra- desprender-se. Continuando a progressão em


ções. Com o progredir da extensão, faz-se um direção à saída, e com o tronco fletido lateral-
movimento de báscula apoiado na margem in- mente, desprende-se o ombro posterior (Fig.
ferior do púbis, permitindo a passagem de occi- 20.6-8).
pital, bregma, fronte, nariz, boca e, finalmente,
É comum a saída dos ombros requerer ajuda
mento pela fenda vulvar (Fig. 20.6-5). manual. Em geral, utiliza-se uma depressão
suave da cabeça fetal, sem tração exagerada
(para não lesar o plexo braquial), ajudando na
Restituição ou rotação progressão do ombro anterior sob a sínfise, se-
externa da cabeça fetal guida da elevação suave da cabeça para liberar
o ombro posterior e restante do feto.
Após a cabeça defletir-se e passar pela vulva, ela
rota para a posição anatômica correta em relação
ao dorso fetal – se esquerda ou direita, depende
da orientação do feto. Esse é um movimento pas-
Efeitos do mecanismo
sivo resultante da liberação das forças exercidas do parto
previamente sobre o polo cefálico pela pelve ós- Os movimentos cardinais do parto produzem
sea e musculatura maternas (Fig. 20.6-6). efeitos sobre o feto, sobre o canal do parto e so-
bre as relações entre eles, que podem ser dividi-
dos em mecânicos, dinâmicos e plásticos (Freitas
Saída de ombros e expulsão et al., 2001):

Desde sua passagem pelo estreito superior da Efeitos mecânicos – acomodação à área do
bacia, as espáduas estão com o diâmetro bia- estreito superior, com diminuição linear e vo-
cromial orientado no sentido oblíquo direito ou lumétrica dos diâmetros fetais; insinuação e
do transverso da bacia. Chegando ao assoalho sinclitismo ou assinclitismo; rotação interna,
pélvico, sofrem também movimento de rotação desprendimento e rotação externa da apresen-
interna para orientar o biacromial para a dire- tação; rotação interna e desprendimento dos
ção anteroposterior da saída do canal. O om- ombros; desprendimento do resto do corpo fe-
bro anterior coloca-se sob a arcada púbica, e o tal.
posterior, junto ao assoalho pélvico, impelindo o Efeitos dinâmicos – apagamento e dilatação
cóccix materno para trás (Fig. 20.6-7). cervical; formação e expansão do segmento
inferior do útero; dilatação da inserção cervical
Assim, após o desprendimento da cabeça, con-
na vagina; dilatação de vagina, vulva e períneo;
tinua a descida do feto com a transposição do
formação e ruptura da bolsa amniótica.
ombro anterior pela arcada púbica, quando
aparece através do orifício vulvar, para, a seguir, Efeitos plásticos – bossa serossanguinolenta.

REFERÊNCIAS

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CIANS AND GYNECOLOGISTS. 2003. 2007.
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Rotinas em Obstetrícia 309

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New Jersey: Prentice Hall Internatio- nism of normal labor and delivery. fundamental. 11. ed. Rio de Janeiro:
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FREITAS, F. et al. Contratilidade ute- fundamental. 11. ed. Rio de Janeiro: ro: Guanabara-Koogan, 2008c. cap.
rina e mecanismo do parto. In: FREI- Guanabara-Koogan, 2008a. cap. 9, 13, p. 158-163.
TAS, F. et al. Rotinas em obstetricia. 4. p. 111-117.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. cap. MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE
25, p. 292-302. FILHO, J. R. Estudo da bacia. In: RE-

TESTE SEUS CONHECIMENTOS

1. Nas apresentações cefálicas b. Curva da dilatação à esquerda da linha


occipto-anteriores, o mecanismo de de alerta no partograma e bradicardia
desprendimento da cabeça fetal se dá por: fetal.
a. Flexão. c. Dinâmica uterina de 5:10’ e velocidade
b. Rotação interna. de dilatação < 3 cm/h.
c. Deflexão. d. Sangramento via vaginal e bradicardia
fetal.
d. Rotação externa.
e. Peso fetal avaliado de 4.100 g em
e. Lateralização (assinclitismo).
parturiente com pelvimetria clínica
mostrando ângulo subpúbico > 90º.
2. São sinais clínicos de desproporção
cefalopélvica:
a. Bossa serossanguínea, edema de colo e
parada da dilatação por mais de 2 horas.

Para consultar as respostas desta seção e outros conteúdos complementares, acesse o hotsite
do livro: www.grupoaeditoras.com.br/rotinasginecoeobstetricia.
21

Assistência ao
Trabalho de Parto
Sérgio H. Martins-Costa
Ana Maria Carvalho Vidal
Maria Teresa Pedrazzi Chaves
José Geraldo Lopes Ramos

O ideal seria que toda gestante chegasse ao mo- tante chega ao centro obstétrico (CO) com dila-
mento do trabalho de parto (TP) após assistência tação cervical de 3 cm ou mais e contrações com
e preparo pré-natais adequados. O pré-natal é o frequência de pelo menos três a cada 10 minu-
período no qual devem ser feitos o rastreamento tos, presume-se que esteja em fase ativa do TP.
dos fatores de risco gestacionais e o tratamento Esse método presuntivo de diagnosticar o TP traz
das enfermidades associadas. Entretanto, estudos muitas incertezas durante os períodos iniciais (fi-
têm demonstrado que apenas a assistência pré- nal da fase latente e início da fase ativa do TP).
-natal não consegue identificar adequadamente o Pacientes com fatores de risco gestacionais
risco intraparto. Em um estudo incluindo gesta- (p. ex., crescimento intrauterino restrito
ções a termo com asfixia fetal, 63% das pacientes [CIUR], pós-datismo, doença hipertensiva
não tinham fatores de risco conhecidos. Portanto, específica da gestação, diabete melito ges-
o TP, o parto e o puerpério são períodos nos quais tacional, etc.) devem ser admitidas mesmo
a atenção médica e de enfermagem qualificada na fase latente.
pode ser decisiva para o bom desfecho da gesta-
ção (Organização Pan-Americana da Saúde; Orga- Por outro lado, para as gestantes hígidas, a in-
nização Mundial da Saúde, 2004). ternação nessa fase do TP deve ser evitada, pois
poderá gerar falsas expectativas de evolução,
favorecendo intervenções desnecessárias e fre-
quentemente iatrogênicas.
Conceito
A primeira dificuldade para entender o TP nor-
mal é reconhecer o seu começo. A definição Fases clínicas do parto
tradicional – contrações uterinas que produzem
apagamento e dilatação cervical – não permite As fases clínicas do parto são divididas em qua-
tro períodos, denominados períodos clínicos do
sempre ao médico determinar o seu começo,
parto:
porque esse diagnóstico, muitas vezes, só é con-
firmado retrospectivamente. > Primeiro período: dilatação
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), > Segundo período: expulsão
a admissão para acompanhamento do TP é feita
> Terceiro período: dequitação
com base no grau de dilatação e na presença de
contrações uterinas frequentes. Quando a ges- > Quarto período: primeira hora pós-parto
Rotinas em Obstetrícia 311

Primeiro período: dilatação > Vermelha: categoria de emergência (atendi-


mento imediato). Por exemplo, iminência de
É o intervalo desde o início do TP até a dilatação
eclâmpsia, sangramento vaginal.
completa. Esse período compreende as fases la-
tente e ativa de TP. A fase latente apresenta dura- > Amarela: categoria de urgência (atendimen-
ção variável e caracteriza-se pela dilatação lenta to assim que possível ou no máximo em 20
do colo (velocidade de dilatação menor do que 1 minutos). Por exemplo, hipertensas sem si-
cm/h) até os 3 cm e padrão contrátil irregular. A nais premonitórios de eclâmpsia, sangramen-
fase ativa caracteriza-se pela dilatação rápida (ve- to pequeno, trabalho de parto.
locidade de dilatação ⱖ 1 cm/h) dos 3 aos 10 cm
> Verde: categoria de urgência menor (atendi-
e padrão contrátil regular e doloroso. A fase ativa
mento assim que possível, tempo máximo de
subdivide-se em três fases: aceleração, acelera-
espera de 1 hora). Por exemplo, hipertensão
ção máxima e desaceleração (Friedman, 1978).
leve, bolsa rota com LA (líquido amniótico)
Segundo período: expulsão claro, pós-datismo.

Caracteriza-se pela descida da apresentação e > Azul: categoria sem urgência (atendimento
expulsão do feto, compreende o período entre conforme disponibilidade, tempo máximo de
a dilatação completa e o desprendimento do espera de 2 horas). Por exemplo, pródromos
concepto. de trabalho de parto com sinais vitais nor-
mais, pré-natal.
Terceiro período: dequitação ou Durante a consulta de admissão, deve-se bus-
secundamento car, além do diagnóstico de trabalho de parto, a
identificação de eventuais situações de risco ma-
É o período de tempo entre a expulsão do feto e
terno e perinatal. São feitos anamnese, avaliação
a saída da placenta e das membranas ovulares.
dos dados da carteira de pré-natal, com atenção
especial à tipagem sanguínea e sorologias para
Quarto período: primeira hora sífilis, toxoplasmose, hepatite B e HIV, e exa-
pós-parto me físico obstétrico com registro dos sinais. Na
É a primeira hora após a expulsão da placenta. anamnese, deve-se ainda dar atenção a dados
como idade da gestante, paridade, cirurgias pré-
vias, características das gestações e dos partos
anteriores, uso de álcool, fumo ou outras drogas
Admissão ou emergência e história de patologias prévias e seus tratamen-
obstétrica tos. Na história familiar, é importante a identifi-
cação de casos de pré-eclâmpsia (mormente mãe
Em 2004, o Ministério da Saúde lançou a Políti-
e irmãs) e de diabete melito. O cálculo da idade
ca Nacional de Humanização (PNH) incentivan-
gestacional (IG) é um ponto crucial da admissão
do a utilização de programas de acolhimento
obstétrica e deve ser feito com a maior minúcia
com classificação de risco nos setores de emer-
possível. Estima-se a IG com base no dia da úl-
gência. Esse tipo de programa auxilia na quali-
tima menstruação (DUM), na data de percepção
ficação do trabalho realizado nas emergências
dos primeiros movimentos fetais (17a semana na
obstétricas, proporcionando redução no tempo
multigesta e 20a semana na primigesta), na ava-
de espera das pacientes, organizando o fluxo de
liação da medida da altura uterina (AU = medida
atendimento e facilitando uma atuação rápida
em cm entre a sínfise púbica e o fundo do úte-
de equipe nos casos mais urgentes.
ro) e em exames ultrassonográficos do feto, que
As diretrizes do acolhimento devem ser terão maior precisão quanto mais precocemente
adaptadas às emergências obstétricas e às re- tiverem sido realizados. Deve-se ter em mente
alidades locais de cada maternidade. De acor- que o cálculo da IG com base na DUM só tem
do com os sinais e sintomas apresentados na valor para mulheres com ciclos menstruais regu-
chegada, a gestante será classificada em qua- lares, sem uso de contraceptivos hormonais nos
tro categorias de prioridade no atendimento. meses que antecederam a provável concepção.
312 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

A história de perdas vaginais deve ser valorizada A ausculta da frequência cardíaca fetal (FCF)
e pesquisada. Sangramentos podem estar asso- deve obrigatoriamente ser realizada durante o
ciados à placentação anômala, ao descolamento exame. O local de melhor audição dos batimen-
da placenta ou às microlesões provocadas pelo tos cardiofetais (BCFs) é o que corresponde à
processo de dilatação do colo uterino. A elimi- localização do ombro anterior do feto. Pode-se
nação de muco com raias de sangue (sinal do usar estetoscópio de Pinard ou sonar Doppler.
parto) é comum na fase latente do parto. Pode Em todos os casos, a ausculta deve ser feita du-
ocorrer perda involuntária de urina pela pressão rante e após uma contração uterina, na busca
da apresentação fetal sobre a bexiga. A perda de eventuais alterações da FCF.
de LA é comum durante o TP. Portanto, quando
No exame da genitália externa e interna, a pre-
ocorrer perda de LA associada às contrações ute-
sença de lesões e/ou secreções deve ser registra-
rinas, o diagnóstico de TP pode ser firmado, in-
da e caracterizada. Sempre que houver história
dependentemente do grau de dilatação cervical.
de perdas vaginais, deve-se fazer um exame es-
No exame físico, além do exame obstétrico com- pecular antes do toque vaginal. Havendo saída
pleto, deve-se prestar atenção especial nos si- de LA, deve-se caracterizá-la quanto à presença
nais vitais (pressão arterial, frequências cardíaca ou não de mecônio.
e respiratória, temperatura axilar e estado das
O toque vaginal deve procurar além do grau de
mucosas), na ausculta cardíaca e pulmonar e na
dilatação (em centímetros) e do apagamento da
presença ou não de veias varicosas na vulva e
cérvice (em percentuais), o estado das membra-
nos membros inferiores ou de eventuais lesões
nas, o tipo e a altura da apresentação fetal, a va-
de pele. Não se deve esquivar de realizar inspe-
riedade de posição e as características do trajeto
ção e palpação das mamas.
pélvico (acessibilidade do promontório, diâme-
A palpação uterina deve buscar identificar o tro bi-isquiático e ângulo subpúbico). Deve-se
tamanho e o número de fetos, além da situa- evitar o toque vaginal na presença de ruptura da
ção, da apresentação e da lateralidade do(s) bolsa, a não ser que a paciente esteja em franco
concepto(s). Utilizam-se para tal as manobras trabalho de parto.
de Leopold. Nunca se deve esquecer de medir e
Após o exame, a paciente e seus familiares de-
anotar a AU. A avaliação da contratilidade ute-
vem receber sempre informações claras sobre
rina deve ser feita com a mão do examinador
toda a avaliação realizada e conduta indicada.
espalmada na altura do fundo uterino, durante
Principalmente nos casos em que, após a ava-
um período de 10 minutos, registrando-se sua
liação, for decidido pela não internação da pa-
frequência e intensidade (fraca, média ou forte).
ciente, o médico deve se certificar de que suas
Uma dinâmica uterina irregular e com frequên-
orientações foram bem entendidas e fazer o
cia inferior a três contrações a cada 10 minutos
registro escrito da avaliação, da conduta e das
deve fazer suspeitar de fase latente ou falso TP
recomendações dadas.
(Tab. 21.1).

Tabela 21.1 Critérios para diferenciar entre TP verdadeiro e falso

Verdadeiro Falso

Contrações Regulares Irregulares


Intervalos Gradativamente decrescentes Irregulares
Duração Aumento gradativo Irregulares
Intensidade Aumento gradativo Irregulares
Alterações cervicais Dilatação e apagamento progressivo Sem alterações
Descida da apresentação Progressiva Sem alteração
Localização da dor Costas e abdome Apenas no abdome
Efeitos da sedação As contrações não cessam As contrações cessam
Rotinas em Obstetrícia 313

QUADRO 21.1
Exame obstétrico na admissão

1. Verificar sinais vitais (medir a PA com a paciente sentada ou em decúbito lateral esquerdo)
2. Medir a altura uterina (correlacionar com a IG presumida)
3. Realizar as manobras de Leopold (identificar situação, apresentação e lateralização do feto)
4. Auscultar os BCFs (antes, durante e após uma contração)
5. Medir a intensidade e a frequência das contrações uterinas em 10’
6. Inspecionar a vulva (perda de LA, sangue, mecônio, secreções)
7. Realizar exame especular (suspeita de rupreme ou placenta prévia)
8. Realizar toque vaginal (dilatação e apagamento cervical; tipo, variedade e altura da apresentação;
pelvimetria clínica)

persistirem dúvidas, pode-se aconselhar deam-


Ultrassonografia bulação e reavaliação da paciente em 2 horas.
Se houver progressão da dilatação após esse
Em algumas circunstâncias, durante o TP, a eco- período, o diagnóstico de TP será confirmado.
grafia pode complementar a avaliação clínica es- A falha de progressão em uma cérvice com me-
clarecendo um diagnóstico duvidoso. Poderá ser nos de 3 cm de dilatação, em geral, exclui a fase
útil no momento da admissão hospitalar, na sus- ativa do TP.
peita de apresentações incomuns de gemelarida-
de, de aumento ou diminuição do volume de LA,
no diagnóstico diferencial entre placenta prévia
(PP) e no descolamento prematuro da placenta Procedimentos de rotina
(DPP), assim como na avaliação da vitalidade fe-
tal (ver Cap. 19, Ultrassonografia obstétrica). O registro rotineiro dos sinais vitais maternos
é um parâmetro importante para o controle
contínuo da saúde materna e fetal. São pro-
cedimentos rotineiros durante a admissão das
Diagnóstico de trabalho de parturientes os registros do peso, da pressão
parto arterial, da temperatura corporal e da fre-
Na maioria das parturientes, a internação hos- quência cardíaca materna. A tonsura perine-
pitalar deve ser indicada na fase ativa do TP, ou al e o enema não devem ser feitos de rotina.
seja, uma contração uterina regular a cada 3 a Embora com o uso de enemas a eliminação
5 minutos e dilatação cervical igual ou maior do de fezes durante o nascimento seja menor, a
que 3 cm, com colo fino e apagado. Em uma realização ou não do enema não altera a taxa
primeira avaliação, pode haver dificuldade na de infecção neonatal ou da episiotomia (Cuer-
determinação do diagnóstico de TP. Quando vo; Rodrigues; Delgado, 2004; Drayton; Rees,
1984; Romney; Gordon, 1981). A tonsura tem
como objetivo facilitar o manejo cirúrgico da
episiotomia e da episiorrafia. Entretanto, o seu
uso pode aumentar o desconforto materno
QUADRO 21.2 e incrementar o risco de transmissão de in-
Fase ativa do trabalho de parto fecções, como as que ocorrem pelos vírus da
imunodeficiência humana e da hepatite C (Or-
Dilatação cervical ⱖ 3 cm e colo apagado ganização Mundial de Saúde, 1996). Não há
Dinâmica uterina ⱖ 2 contrações /10’ evidências que apoiem a indicação rotineira de
enema e tricotomia.
314 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Nascimento

Secundamento
mmHg
60
250 50
Período expulsivo 40
F
30
20
G
10
0
Atividade uterina (Unidades Montevidéu)

0 10
0 10 20

200 mmHg
60
50

Parto Final da dilatação


40 6 horas depois do parto
30
20
10
E
0
0 10
H
150
0 10 20
mmHg
50
40
30 D
Início da dilatação 20
10 12 horas depois do parto
0
0 10
100
I
mmHg
40
Pré-parto 30
20 C 0 10 20
10
0
0 10
50 mmHg
Gravidez 30 24 horas depois do parto
mmHg
20
20 B
10 A 10
0 J
0 0 10
0 10 20 minutos Atividade 0 10 minutos
uterina

15 20 25 30 35 40 1 2

Semanas de gravidez Puerpério

Figura 21.1 Gráfico de evolução de contratilidade uterina.


Fonte: Adaptada de Caldeyro-Barcia e Poseiro (1960), Rezende (1995).

É rotina na admissão de toda paciente no cen-


tro obstétrico a realização de teste rápido para
HIV, quando esta não o tiver realizado no último
trimestre de gestação, já que, se positivo, deve-
rá ser realizada profilaxia com antirretrovirais a
para proteção do recém-nascido contra a trans-
missão vertical durante o parto.
O uso rotineiro de enema e tricotomia no
TP não trazem benefícios.

Pré-parto
O acompanhamento da parturiente na sala de
pré-parto consiste basicamente na monitoração Figura 21.2 Altura da apresentação fetal (planos
clínica da progressão do TP e na vigilância da de De Lee).
Rotinas em Obstetrícia 315

Figura 21.3 Variedade de posições.

saúde fetal. Durante esse período, é importante taxas de parto operatórias, as cesarianas e os
fornecer à parturiente suporte emocional ade- índices de Apgar ⬍ 7 no quinto minuto (Hod-
quado, visto que com frequência o TP é acom- nett, 2002). A presença de um(a) acompanhan-
panhado de angústia e medo, muitas vezes ali- te leigo(a) junto à parturiente produz melhor
cerçados em fantasias de morte e de destruição satisfação no parto e maior taxa de lactação
da genitália. Em 1933, Read já chamava atenção (Hofmeyr, 1991; Langer et al., 1998). A presen-
para a interferência dos fatores emocionais no ça de uma doula, treinada para acompanhar
TP, descrevendo a existência de uma cadeia de todo o trabalho de parto, é útil para ajudar e
eventos interligados formada por sugestão, falta dar confiança e coragem à mãe, estimulando-a
de conhecimento e solidão, provocando medo, a participar com maior satisfação do nascimen-
tensão e dor. to do bebê. Ela ajuda a parturiente a encontrar
posições mais confortáveis, orienta formas de
Mediante o esclarecimento dos mecanismos,
respiração e meios naturais que podem aliviar os
das etapas e dos fenômenos da parturição,
desconfortos, como banhos, massagens e téc-
podem-se fornecer à grávida maior segurança
nicas de relaxamento. A doula não substitui a
e confiança. O apoio continuado dado às par-
presença do pai ou acompanhante, mas pode
turientes pelos profissionais de saúde diminui
mostrar-lhes como serem úteis. Essa prática de
a necessidade de medicações analgésicas, as
apoio emocional tem-se mostrado um método
efetivo de suporte no parto.
Em 07 de abril de 2005, passou a vigorar no
Brasil a Lei 11.108, que faz alterações na Lei
QUADRO 21.3 8.080 de 1990, garantindo à parturiente o di-
reito de ter a presença de um acompanhante a
Sugestão sua escolha, durante todo o período de trabalho

de parto, parto e pós-parto imediato, em todo
Falta de o âmbito do Sistema Único de Saúde. Além do
→ Medo → Tensão → Dor
conhecimento estímulo à presença do acompanhante junto à
↑ parturiente, o uso de métodos não farmacoló-
Solidão gicos para alívio da dor pode auxiliar o trabalho
de parto, promovendo maior satisfação e bem-
316 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

-estar, pela sensação de domínio da dor e do to perto do parto, para evitar uma estimulação
estresse do trabalho de parto. Entre os métodos indevida do pâncreas fetal, com consequente
não farmacológicos de alívio da dor, são úteis as hiperinsulinemia e hipoglicemia neonatal. Tam-
técnicas de relaxamento muscular, a aplicação bém ter cuidado com o uso de ocitocina em al-
de massagens na região lombossacra e as du- tas doses ou por tempo prolongado (12-24 h),
chas ou imersão em água morna. Esses métodos que podem levar à hiponatremia ou à sobrecar-
têm mostrado boa aceitação entre as pacientes ga hídrica.
e parecem fornecer sensação de bem-estar. A
eficácia desses métodos de alívio da dor, em
relação aos desfechos perinatais favoráveis e Avaliação fetal
desfavoráveis, ainda não está comprovada por
estudos clínicos bem delineados. A avaliação do feto deve ser feita pela ausculta
intermitente do ritmo cardíaco fetal (pelo menos
a cada 30 min). A ausculta dos BCFs deve ser
realizada com estetoscópio de Pinard ou sonar
Avaliação materna Doppler, principalmente durante e logo após as
Durante o primeiro período do parto, os sinais contrações (20 s antes e até 20 s após o tér-
vitais maternos devem ser avaliados a cada 60 mino da contração), com o objetivo de detectar
minutos. A presença de hipertermia e de taqui- alterações do ritmo cardíaco associadas às con-
cardia em pacientes com ruptura prematura de trações.
membranas (rupreme) é altamente sugestiva de
O aparecimento de desacelerações suspeitas
infecção ovular. Pacientes com evolução eutóci-
(desacelerações tardias) ou bradicardia persis-
ca do TP não necessitam permanecer em jejum.
tente (FCF abaixo de 100 bpm por tempo ⱖ 3
A administração de líquidos claros, por via oral,
min), na ausculta clínica, deve ser seguido de
tem sido estimulada por ser benéfica e evitar a
avaliação por cardiotocografia intraparto. No
desidratação. Nos casos de pacientes que ne-
entanto, o uso rotineiro da cardiotocografia
cessitem de anestesia, tendo ingerido outros
em parturientes de baixo risco deve ser evitado,
alimentos dentro das últimas 8 horas, pode-se
devido ao número excessivamente alto de resul-
administrar uma ampola de cimetidina por via
tados falso-positivos da monitoração eletrônica
intramuscular 1 hora antes do procedimento
fetal, produzindo, com frequência, indicações
(Hodgkinson et al., 1983).
inadequadas de cesariana em fetos não reativos
Em gestantes de baixo risco, deve-se estimular a (Leveno et al., 1986). Thacker e colaboradores
deambulação durante o período pré-parto, não (2004), em revisão de metanálise que incluiu
havendo necessidade de permanência no leito. 13 ensaios clínicos randomizados e controlados
Caso a paciente prefira guardar repouso ao lei- com 18.561 parturientes e 18.695 recém-nasci-
to, deve-se evitar o decúbito dorsal, que provo- dos, avaliaram os riscos e benefícios do uso ro-
ca compressão aortocava pelo útero gravídico, tineiro da monitoração eletrônica fetal versus a
podendo induzir fenômenos de bradicardia fetal ausculta clínica intermitente dos BCFs.
e de hipotensão materna (síndrome da hipoten-
Houve uma diminuição estatisticamente signi-
são supina).
ficativa de convulsões neonatais no grupo da
Na maioria das vezes, não há necessidade de monitoração eletrônica contínua (RR: 0,5; IC
cateterização venosa e de infusão de líquidos, 95%: 0,32-0,82) sem diferenças nos índices de
uma vez que mais de 80% das parturientes Apgar, internação em UTI neotatal, mortalidade
têm partos dentro das primeiras 8 horas após perinatal ou paralisia cerebral dos recém-nasci-
a admissão. No caso das poucas que tiverem dos. No grupo monitorado, houve um aumen-
TP disfuncional ou quando houver necessidade to das taxas de cesariana (RR: 1,41; IC 95%:
de administrar medicação endovenosa, deve-se 1,23-1,61) e partos operatórios (RR: 1,20; IC
puncionar uma veia periférica. Nesses casos, de- 95%: 1,11-1,30). Essa revisão não recomenda o
ve-se ter o cuidado de não administrar grandes uso rotineiro de monitoração eletrônica fetal em
volumes de soro glicosado, principalmente mui- gestantes de baixo risco.
Rotinas em Obstetrícia 317

QUADRO 21.4 QUADRO 21.6


Categoria I Categoria III

> Linha de base 110-160 bpm > Variabilidade da linha de base ausente e
> Variabilidade moderada qualquer um dos seguintes fatores
> Ausência de desaceleração intraparto > Desacelerações tardias recorrentes
variáveis ou tardios > Desacelerações variáveis recorrentes
> DIPs precoces presentes ou ausentes > Bradicardia
> Acelerações transitórias presentes ou > Padrão sinusoidal
ausentes

mostrou-se benéfica apenas nos casos de oli-


Cardiotocografia fetal intraparto goidrâmnio e desacelerações variáveis repeti-
A cardiotocografia tem indicação quando exis- das. Nesses casos, a amnioinfusão pode reduzir
tem fatores de risco materno, como hiperten- as indicações de cesariana por condição fetal
são arterial sistêmica (HAS), CIUR, presença de não tranquilizadora da taxa de cesarianas e
mecônio, DMG, aloimunização, oligoidrâmnio melhora do desfecho neonatal. Está contrain-
(maior bolsão ⬍ 2 cm). dicada nas seguintes situações: apresentações
anômalas, desproporção cefalopélvica (DCP),
Existem vários critérios para a classificação dos
monitoração categoria III, cesariana prévia, pla-
traçados de cardiotocografia. No HCPA, utiliza-
centação baixa, DPP, corioamnionite, doença
mos a classificação em três categorias sugerida
cardíaca ou pulmonar materna, anomalias ute-
pelo ACOG (American College of Obstetricians
rinas, anomalias fetais.
and Gynecologists, 2009):
Material para amnioinfusão
> 1 L de solução fisiológica isotônica
Amnioinfusão
> Equipo de soro
Indicado inicialmente para a prevenção da sín-
o
drome de aspiração de mecônio na vigência de > Sonda uretral grossa n 16, sem balonete ou
o
mecônio espesso, atualmente a amnioinfusão nasogástrica n 8.

QUADRO 21.5
Categoria II

> Linha de base > Desacelerações periódicas ou episódicas


– Bradicardia sem variabilidade ausente – Desacelerações variáveis recorrentes com
– Taquicardia variabilidade mínima ou ausente
> Variabilidade batida a batida – Desacelerações prolongadas ⬎ 2 e ⬍ 10
– Mínima min
– Ausente, mas sem desacelerações – Desacelerações tardias com variabilidade
recorrentes moderada
– Aumentada – Desacelerações variáveis com retorno
> Acelerações transitórias (AT) lento à linha de base e rebote ou
– Ausência de AT após estimulação fetal “ombro” posterior
318 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

MEF INTRAPARTO

Parturiente com complicações

Avaliar o traçado a cada 15´ Registrar no prontuário a


no 1o e 5´ no 2o período classificação e a conduta

Classe I Classe II Classe II


Fortemente preditivo de estado Não é preditivo de estado ácido-base É associado com estado ácido-base
ácido-base fetal normal fetal anormal fetal anormal

• Mudar a posição da mãe


Reavaliar dentro • Descontinuar ocitocina
do contexto • Tratar hipotensão
clínico • Tratar taquissistolia

Com
Sem melhora do
melhora do
traçado
traçado

Manter MEF Parto pela via mais


Manter MEF
rápida

Figura 21.4 Fluxograma da monitoração eletrônica fetal (MEF) por cardiotocografia intraparto.

Técnica de amnioinfusão Riscos da amnioinfusão


> Fazer mais algumas aberturas laterais na ex- O risco de efeitos adversos é raro. Há relatos de
tremidade da sonda. insuficiência cardíaca e embolia pulmonar. Esses
acontecimentos devem estar relacionados com
> Realizar higiene da vulva e vagina. a infusão excessiva de soro fisiológico.
> Introduzir a sonda por via transcervical, por
baixo da sínfise púbica, de maneira mais es-
téril possível. Avaliação da progressão do
> Posicionar a sonda intraútero acima da apre- trabalho de parto
sentação fetal. Partograma
> Conectar a sonda no equipo do soro e fixá-la O partograma é um gráfico de acompanha-
com esparadrapo na coxa da paciente. mento da evolução clínica do primeiro pe-
> Infundir, por gravidade, solução fisiológica ríodo de TP baseado no trabalho pioneiro de
isotônica (não precisa ser pré-aquecida) na Friedman (1978), que, analisando graficamen-
te a evolução clínica de mais de 10 mil partos,
dose de 800 mL em 1 h e após 180 mL/h, a
estabeleceu as características de normalidade
60 gt/min.
e de disfunção do TP. Ele mostrou que a curva
> Manter CTG durante o procedimento. da dilatação cervical tem um aspecto sigmoide
Rotinas em Obstetrícia 319

e divide-se em duas fases bastante distintas: a A avaliação da dilatação e da descida da apre-


fase latente e a fase ativa (Friedman, 1978). Seu sentação deve ser realizada a cada 2 horas, a
uso clínico foi proposto pela primeira vez por dinâmica uterina a cada hora e os batimentos
Philpott e Castle (1972), no Zimbábue, estabe- cardíacos fetais a cada 30 minutos, quando não
lecendo o sistema de duas linhas, denominadas houver fatores de risco.
linha de alerta e linha de ação, possibilitando,
Um progresso satisfatório no primeiro período é
dessa forma, evidenciar claramente a evolução
medido principalmente pela dilatação da cérvi-
anormal do TP. Posteriormente foram realizadas
ce, tendo menos importância a altura da apre-
algumas modificações, como o partogarama
sentação fetal (Stronge, 1994). O ideal é que a
composto da Organização Mundial da Saúde,
dilatação progrida à esquerda ou sobre a linha
compreendendo todo o primeiro período do
de alerta (vel ⱖ 1 cm/h).
parto (fase latente e fase ativa) e o modificado,
também da OMS, que considera apenas a fase Se, na primeira avaliação, 2 horas após a inclu-
ativa. Um estudo na Nigéria mostrou que o pro- são no partograma, a evolução da dilatação for
gresso e a duração do trabalho de parto tanto inferior a 1 cm/h, procede-se à amniotomia,
de multíparas quanto de nulíparas foram simila- com intuito de aumentar a força e a frequên-
res quando acompanhados com o partograma cia das contrações. Caso a curva de dilatação
modificado da OMS. Atualmente, esse último mantenha-se à direita da linha de alerta nas
é considerado o partograma de escolha, sen- próximas avaliações, deve-se fazer uma cuida-
do seu uso recomendado em todo serviço em dosa reavaliação da permeabilidade do trajeto
que se realiza treinamento de profissionais em pélvico e das características da contratilidade
obstetrícia. O partograma da OMS modificado uterina em busca das possíveis causas de disfun-
é composto por duas linhas: a de alerta, a qual ção. Afastados os sinais de desproporção cefa-
traduz uma evolução fisiológica de 1 cm/h, e a lopélvica ou condição fetal não tranquilizadora,
de ação, com intervalo de 4 horas da linha de inicia-se ocitocina para correção de dinâmica. A
alerta. Assim se pode acompanhar a evolução ocitocina pode ser infundida por gotejo gravita-
do TP, proporcionando a observação e diagnós- cional ou pela bomba de infusão. O gotejo não
tico de progressão lenta precocemente, opor- deve ultrapassar 60 gotas por minuto (15 a 20
tunizando intervenções médicas no intuito de gt = 1 mL).
evitar o parto prolongado e identificar precoce-
Durante o uso da ocitocina, as contrações ute-
mente o parto obstruído (DCP). O partograma é
rinas devem ser avaliadas constantemente, e a
muito utilizado em maternidades devido a sua
ocitocina deverá ser descontinuada se houver
utilidade e praticidade, sendo seu uso obrigató-
hiperestimulação do TP, evidenciada pela ocor-
rio em diversos estados brasileiros por legislação
rência de taquissistolia (mais do que 5 contra-
dos conselhos regionais de medicina.
ções em 10 min) associada a desacelerações
Com o diagnóstico de fase ativa de trabalho de da frequência cardíaca fetal. Quando a infusão
parto, inicia-se o preenchimento do partogra- de ocitocina é descontinuada, sua concentra-
ma. O acompanhamento é realizado conforme ção plasmática cai rapidamente devido à sua
o protocolo de atendimento de gestantes com meia-vida média ser de aproximadamente 5
IG ⱖ 34 sem, com feto único e apresentação minutos.
cefálica fletida em trabalho de parto, como ilus-
Para a detecção do parto disfuncional, a ava-
trado na Figura 21.6.
liação mais importante ocorre nas primeiras
Inicia-se o registro no gráfico do partograma 3 horas após o início da fase ativa. Quando a
com um “X”, marcando a dilatação cervical so- curva da dilatação se afasta mais do que 2 ho-
bre a linha de alerta, o ponto convergente da ras à direita da linha de alerta, trata-se de um
dilatação e a hora correspondente ao exame, trabalho de parto disfuncional. Nesse momento,
determinando o ponto “zero”. A altura da apre- o obstetra deve buscar a causa clínica da dis-
sentação é representada com um círculo, cuja função. Não havendo sinais clínicos de DCP ou
referência são os planos de De Lee, marcados na de condição fetal não tranquilizadora, deve-se
margem direita do gráfico. estimular a contratilidade uterina como ante-
320 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Exame obstétrico na admissão

Não - Liberação da paciente


- Reavaliar em 2-3 horas Trabalho de parto?

Não Sim

Não Fase ativa do TP?


Há fatores de risco?

Sim
Sim

- Internar e iniciar partograma Manter cardiotocografia


- Internar e iniciar CTG
Sim Sim

Verificar:
- Dilatação e descida a cada 120` Há fatores de risco?
- Dinâmica uterina a cada 60`
Categoria 3? Categoria 2? Categoria 1?
Não
Sim
Avaliar BCFs a cada 30`

Individualizar a
conduta Sim
Vel dilatação ≥ 1cm/h? - Observar evolução no partograma
Sim

Não
Sim

Amniotomia Vel dilatação ≥ 1cm/h?


Cesariana
Não

Sim - Desprop. Cefalopélvica? Não - Correção de dinâmica com ocitocina`


- Cond. fetal não tranquilizadora? - Reavaliar em 60`-120`

Figura 21.5 Fluxograma de conduta para parturientes com feto em apresentação cefálica fletida e IG
ⱖ 34 semanas.

riormente indicado (amniotomia, ocitocina) e/ou QUADRO 21.7


tratar uma possível inversão do tríplice gradien- Sinais de DCP
te descendente com analgesia. Se o diagnóstico
de DCP ou condição fetal não tranquilizadora > Dinâmica uterina ⱖ 4/10’
forem evidenciados, a indicação de cesariana é > Bolsa rota
mandatória. > Bossa serossanguínea
> Edema de colo
O acompanhamento correto com o auxílio do > Parada de progressão
partograma é fundamental para que se evitem
Rotinas em Obstetrícia 321

de urgência (ver Cap. 26, Cesariana). As indica-


QUADRO 21.8 ções mais comuns de cesariana no TP são a DCP
Correção de dinâmica uterina e a condição fetal não tranquilizadora. Por esse
motivo, os hospitais devem ter normas escritas
> Diluir 5 UI de ocitocina em 500 mL de sol para regular o fluxo de procedimentos a serem
Fisiol. 0,9% realizados, visando sempre à diminuição dos ris-
> Iniciar infusão a 30 mL/h cos maternos e fetais.
> Aumentar a velocidade da infusão em 30
mL de 30/30’ Trabalho de parto com cesariana
prévia
Gestantes com cesariana prévia podem optar
entre realizar uma cesariana eletiva de repeti-
erros de interpretação da evolução do traba- ção ou submeter-se a um trabalho de parto. A
lho de parto. decisão quanto à forma de nascimento deve
ser de cada paciente após discussão e orien-
tação com o médico ou enfermeiro sobre os
riscos adicionais no TP particularizados caso a
Cesariana caso, aumentando o seu conhecimento para
A cesariana indicada durante o trabalho de par- que a opção seja feita em bases objetivas e
to tem morbimortalidade aumentada e deve não subordinada a fantasias sobre riscos hi-
sempre ser considerada como um procedimento potéticos. O comitê de prática obstétrica do

180
170
160
150
140
Batimentos cardíacos fetais
FCF

130
120
110
100
90
80 I
LA I I 0 0
MOLDAGEM 0 0 0 0
10

9 -4

8 Dilatação cervical -3

7 -2
Dilatação em cm

6 -1
Plano de De Lee

Descida da apresentação
Descida
Colo

5 0

4 +1
Linha de ação
3 +2
Arx.
2 +3

1 Linha de alerta +4

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

8 9 10 11 12 13
Hora
5
4
Contrações

3
2
Contrações uterinas
1

Figura 21.6 Partograma com o primeiro período do parto de evolução normal.


322 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

180
170
160
150
140
FCF

130
120
110
100
90
80
LA I I 0 0 0 0
MOLDAGEM 0 0 0 0 + +
10

9 -4

8 -3

7 -2
Dilatação em cm

6 -1

Plano de De Lee
Descida
Colo

5 0

4 +1

3 +2

2 +3
At Ocit
1 +4

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Hora
8 9 10 11 12 13 14 15
5
4
Contrações

3
2
1

Figura 21.7 Correção da dinâmica com amniotomia (At) e ocitocina (Ocit.) no primeiro período do
parto.

ACOG (2004) selecionou os seguintes critérios há evidências consistentes mostrando que o


para identificar as gestantes potencialmente trabalho de parto induzido em mulheres com
candidatas a trabalho de parto após cesariana cesariana prévia tem maior risco de ruptura
prévia: uterina do que o trabalho de parto de início
espontâneo nessas gestantes (Cahiell; Wa-
> Sem contraindicações tradicionais ao traba-
lho de parto ou parto vaginal. terman; Stamilo, 2008; Lydon-Rochele et al.,
2001; McDonagh; Osterweil; Guise, 2005).
> Uma única incisão uterina transversa baixa Em números absolutos, esses riscos são pe-
sem outras cicatrizes uterinas. quenos (1% na indução com ocitocina vs.
> Pelve materna adequada ao exame clínico. 0,4% com trabalho de parto espontâneo). Nas
pacientes com cesariana prévia, a evolução do
> Sem história de ruptura uterina. primeiro período do parto deve ser eutócica
> Médico obstetra disponível acompanhando a obedecendo todos os critérios de normalidade
fase ativa de trabalho de parto para indicar do partograma (velocidade de dilatação 0,8 a
cesárea de emergência caso necessário. 1 cm/h), e a presença de qualquer disfunção
deve merecer atenção redobrada no intuito
> Médico anestesista preparado para uma ce-
de surpreender precocemente qualquer sinal
sárea de emergência caso necessário.
de TP obstruído. Deve-se ter em mente que
O uso de ocitocina e analgesia durante o tra- a presença de desacelerações variáveis e pro-
balho de parto não estão contraindicados em longadas na CTG pode ser o primeiro sinal de
pacientes com cesariana prévia. Entretanto, uma ruptura uterina.
Rotinas em Obstetrícia 323

180
170
160
150
140
FCF

130
120
110
100 I II
90
80
LA I I I 0 0 0
MOLDAGEM 0 0 0 + ++ ++
10

9 -4

8 -3

7 -2
Dilatação em cm

6 -1

Plano de De Lee
Descida
Colo

5 0
At Ocit Indicado
4 cesariana +1

3
por DCP +2

2 +3

1 +4

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

8 9 10 11 12 13 14 15
Hora
5
4
Contrações

3
2
1

Figura 21.8 Partograma sugestivo de desproporção cefalopélvica.

Contraindicações para trabalho de balho de parto ou condição fetal não tranqui-


parto com cesariana prévia: lizadora tem particularmente pior prognóstico,
sendo que menos de 50% de tais mulheres con-
-Incisão corporal “clássica” prévia ou em forma
seguem ter parto vaginal.
de T ou extensa cicatriz fúndica (p. ex., miomec-
tomia).
> Ruptura uterina prévia. Assistência ao segundo
> Impossibilidade ou dificuldade de realização período do parto
de cesárea de emergência.
Ao completar-se a dilatação cervical, iniciam-se
> 2 ou mais cicatrizes uterinas prévias. os esforços expulsivos ou puxos. Nesse momen-
to, deve-se realizar um toque vaginal com o
Aproximadamente 75% das mulheres que op-
objetivo de certificar-se de que a dilatação está
tam por submeter-se a trabalho de parto com
completa e de avaliar-se a altura e a variedade
cesárea prévia tem sucesso. A taxa de sucesso
da apresentação. As variedades occipitopos-
é maior se a mulher já teve outro parto vaginal
teriores estão associadas a períodos expulsivos
posterior à casariana, se a indicação da cesárea
mais prolongados e a maior necessidade de uso
anterior foi por apresentação não cefálica, e em
de fórcipe. Nas parturientes que estão em uso
mulheres que entram espontaneamente em tra-
de analgesia peridural, os esforços expulsivos
balho de parto.
não acontecem espontaneamente, pois são de-
A combinação de indução do trabalho de par- sencadeados por estímulos dolorosos. A práti-
to em mulheres sem parto vaginal prévio com ca de orientar o início dos puxos no momento
casariana prévia por falha de progressão do tra- do diagnóstico de dilatação completa tem sido
324 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

questionada, e um estudo randomizado, mul- Pode-se dar à paciente orientação adequada


ticêntrico, envolvendo 1.862 parturientes mos- para o aproveitamento máximo das contrações
trou que retardar os puxos foi um meio efeti- expulsivas (manobra de Valsalva), já que se origi-
vo de reduzir partos difíceis em nulíparas (risco nam de músculos estriados do abdome que es-
relativo 0,79; 95%IC: 0,66-0,95) (Fraser et al., tão, em parte, submetidos à vontade da pacien-
2000). Se o feto estiver reativo e a apresentação te, o que lhe permitirá intensificar os esforços
ainda alta, podemos aguardar até que a pacien- expulsivos. Nessa situação, é importante evitar
te sinta necessidade de fazer força. que várias pessoas falem simultaneamente com
a parturiente, já que isso, na maioria das vezes,
A posição mais utilizada para a assistência ao
em vez de auxiliá-la, aumenta sua inquietude e
segundo e ao terceiro período do parto é a de
angústia.
Laborie-Duncan, com decúbito dorsal, mesa de
parto com posição verticalizada ao máximo e A vitalidade do concepto deve ser rastreada
flexão e abdução máximas das pernas e coxas. auscultando-se os BCFs a cada 5 minutos ime-
Essa posição amplia o estreito inferior e expõe diatamente antes, durante e após as contrações
suficientemente o períneo e a fenda vulvar, uterinas, pois nessa fase pode haver compressão
favorecendo as manobras de episiotomia e a funicular e consequente diminuição da perfusão
instrumentalização do parto quando necessá- fetal.
rias. Alguns autores sugerem o uso rotineiro de
No momento do desprendimento da cabeça,
posições mais verticalizadas, como o parto de
deve-se tentar evitar a deflexão súbita da apre-
cócoras, que estão associadas a períodos expul-
sentação por meio da manobra de Ritgen (uma
sivos menos dolorosos ou a maior tolerância à
das mãos, coberta por uma compressa, exerce
dor. Embora haja uma discussão sobre qual é
leve compressão para diante sobre o mento fe-
a melhor posição para o parto, não há qual-
tal pelo períneo, enquanto a outra comprime o
quer diferença mensurável cientificamente que
vértice, controlando o desprendimento da cabe-
aponte vantagens reais de uma sobre a outra
ça no intervalo entre dois puxos).
para o resultado perinatal (Schneider-Affeld,
1994). No entanto, parturientes com insufi- Havendo mecônio, o nariz e a boca do feto de-
ciência cardíaca devem permanecer em decú- vem ser aspirados com sonda. Na ocorrência de
bito lateral (posição de Simms), a fim de evitar circular de cordão frouxa, essa deverá ser desfei-
a compressão dos grandes vasos abdominais ta deslizando o cordão sobre a cabeça fetal. Se
pelo útero aumentado. a circular estiver apertada, o cordão deverá ser
seccionado entre duas pinças.
Após a escolha da posição mais adequada,
deve-se fazer antissepsia das mãos e dos an- Quando o desprendimento dos ombros não
tebraços e colocar avental e luvas esterilizadas. acontece espontaneamente, a cabeça fetal é
Faz-se, a seguir, a antissepsia da região perine- segurada com ambas as mãos e tracionada de-
al e das coxas da paciente, com colocação dos licadamente para baixo, juntamente com uma
campos esterilizados. flexão e abdução máximas dos membros infe-
riores da parturiente (manobra de McRoberts),
Nas pacientes que não receberam analgesia
a fim de liberar o ombro anterior; em seguida,
peridural ou subdural, pode-se fazer bloqueio
uma leve tração para cima desprenderá o om-
bilateral dos nervos pudendos, com uma infil-
bro posterior. Imediatamente após a liberação
tração de 2 a 3 mL de anestésico local sem vaso-
dos ombros, deve-se aplicar 10 UI de ocitocina
constrictor, em um ponto imediatamente abaixo
intramuscular (IM), com o intuito de diminuir a
e atrás das espinhas isquiáticas. Se for optado
perda sanguínea puerperal e prevenir a hemor-
pela realização de uma episiotomia, completa-
ragia por atonia uterina (Prendiville; Elbourne;
-se a anestesia do períneo com uma infiltração
McDonald, 2004).
ampla em “leque” da região escolhida para a
intervenção, incluindo-se a metade posterior da Após o nascimento, de preferência antes da pri-
vulva, a fáscia, os músculos elevadores do ânus meira inspiração do recém-nascido, pode-se sec-
e a cunha perineal. cionar um segmento do cordão umbilical para
Rotinas em Obstetrícia 325

medida de gasometria arterial. Já com o recém- examinou uma coorte de 148 recém-nascidos,
-nascido sobre o ventre materno, completa-se a utilizando a determinação do pH da artéria
aspiração das secreções do nariz, da boca e da umbilical e um escore neurológico na segunda
faringe, secando-o e envolvendo-o em um cam- semana de vida para avaliar a repercussão do
po de tecido seco, para evitar a perda excessiva tempo do segundo período do parto sobre os
de calor. Quando a mãe for do tipo Rh-negativo, recém-nascidos. Os períodos expulsivos variaram
o cordão umbilical deve ser imediatamente pin- de menos de 60 minutos (66% das nulíparas) a
çado para diminuir a transfusão materno-fetal. 159 minutos. Nenhuma correlação foi encontra-
da entre o tempo de expulsão e o estado dos
A amamentação deve ser estimulada desde a recém-nascidos. Em 1995, Monticoglou e cola-
sala de parto, para incentivar o apego entre mãe boradores publicaram um estudo de 6.759 par-
e bebê. Sempre que o recém-nascido apresen- tos de recém-nascidos em apresentação cefáli-
tar um índice de Apgar abaixo de 7 ou houver ca de gestações a termo pesando mais do que
passagem de mecônio, ele deverá ser levado de 2.500 g. Em 11% dos casos, o período expulsivo
imediato ao neonatologista para atendimento durou mais de 3 horas. Não foi possível encon-
especializado. trar correlação alguma entre a duração do se-
gundo estágio do parto e os baixos escores de
Episiotomia Apgar no 5o minuto, convulsões neonatais ou
As indicações da episiotomia são feto não reati- internação na UTI neonatal. Portanto, se as con-
vo, variedades occipito-posteriores, fetos gran- dições clínicas da parturiente e do feto forem sa-
des, uso de fórcipe, insuficiência cardíaca mater- tisfatórias e houver sinais de progressão da des-
na e período expulsivo prolongado. Ao optar-se cida da apresentação, não existirá necessidade
pela realização da episiotomia, ela deve ser feita alguma de se abreviar um período expulsivo que
preferencialmente quando a apresentação fetal esteja durando menos do que 2 horas em uma
estiver abaixo do terceiro plano e utilizando-se a nulípara ou menos do que 1 hora em uma mul-
técnica médio-lateral esquerda feita com bistu- típara (Organização Mundial de Saúde, 1996).
ri. Para a secção do músculo elevador do ânus,
pode-se utilizar tesoura.
Carroli e Belizan (2004) avaliaram a prática da Assistência ao terceiro
episiotomia por meio de uma metanálise de 12 período do parto
ensaios clínicos randomizados, concluindo que
Logo após a expulsão do feto, começa o terceiro
há indícios claros para recomendar-se uma práti-
período do parto ou secundamento, caracteriza-
ca restritiva em vez de rotineira. O uso restritivo
do pelo descolamento, descida e desprendimen-
da episiotomia mostrou menor risco de morbi-
to da placenta e das membranas.
dade relevante, incluindo laceração perineal
posterior, necessidade de sutura de lacerações Não há um critério universalmente aceito para
perineais ou complicações da cicatrização em duração normal desse período. A duração mé-
intervalo de sete dias. Além disso, não se identi- dia é 5 a 6 minutos, sendo que 90% das pla-
ficou qualquer diferença em relação à incidência centas são expulsas dentro dos primeiros 15 mi-
de traumatismos vaginais graves, dor, dispareu- nutos e 97% dentro dos primeiros 30 minutos
nia ou incontinência urinária. No HCPA, a partir após o nascimento. Partos prematuros são asso-
de 2000, quando foi adotada recomendação ciados a uma duração maior do terceiro período
para uso restritivo da episiotomia, sua frequência comparados com partos a termo. Quanto maior
passou de 87% para 54% dos partos em 2008. o tempo de secundamento, maior o volume da
perda sanguínea pós-parto.
Duração do período expulsivo Ainda hoje, muitas mortes maternas resultam de
A duração média do segundo período do parto complicações no terceiro período do parto, em
em primíparas é de aproximadamente 45 minu- particular, de hemorragia pós-parto. Estima-se que
tos. O estudo de Wormerveer (Knuist; Eskes; Van 25% das mortes maternas na América Latina e no
Alten, 1989; Van Alten; Eskes; Treffers, 1989) Caribe sejam por hemorragia, a maioria pós-parto
326 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

(Organização Pan-Americana da Saúde; Organiza- uterotônicos injetáveis convencionais (ocitocina)


ção Mundial da Saúde, 2004). Reduzir a probabi- no manejo ativo do terceiro período do parto,
lidade de hemorragia pós-parto pelo manejo ativo já que a ocitocina apresenta o menor índice de
rotineiro do terceiro período do parto representa efeitos adversos (Gülmezoglu et al., 2004).
um fator importante na redução da morbimortali-
Após a dequitação, deve ser realizado toque re-
dade materna (Elbourne et al., 2004).
tal para certificar-se de que não ocorreu algu-
ma lesão intestinal. Repete-se a antissepsia do
períneo, trocam-se os campos esterilizados e
Manejo ativo do terceiro as luvas e inicia-se a revisão do trajeto pélvico,
período do parto que é obrigatória nos casos de uso de fórcipe,
fetos macrossômicos, sangramento aumentado,
Denomina-se manejo ativo do terceiro período expulsão distócica ou abrupta e opcional no res-
do parto a administração de ocitocina IM (10 tante dos casos.
UI) logo após o desprendimento do ombro do
recém-nascido, combinada com a tração contro- Na episiorrafia, a mucosa vaginal pode ser su-
lada do cordão umbilical associada à contrapres- turada de maneira contínua até a carúncula hi-
são no corpo uterino logo acima da sínfise púbi- menal, procedendo-se a sutura dos planos mus-
ca. Segue-se, ainda, ao clampeamento precoce cular e subcutâneo concomitantemente para
do cordão e verifica-se a integridade da placen- facilitar o fechamento e evitar a permanência de
ta. Revisões sistemáticas de estudos randomi- vasos sangrantes (principal causa de hematomas
zados multicêntricos têm comparado o manejo de episiotomia). Desde a carúncula até a junção
ativo com a conduta expectante, concluindo ser escamomucosa, a sutura é realizada com pontos
o manejo ativo superior ao expectante, devido à separados principalmente com ácido poliglicóli-
menor perda sanguínea e menor incidência de co. Terminada a episiorrafia, repete-se o toque
outras complicações, como hemorragia pós-par- retal e confere-se o tônus uterino e os sinais vi-
to, anemia e necessidade de transfusões sanguí- tais maternos.
neas. O manejo ativo diminui em 40% a ocor-
rência de hemorragia puerperal sem acrescentar
risco significativo para a parturiente (Prendiville; Assistência ao quarto
Elbourne; McDonald, 2004). Portanto, essa con-
duta deve ser instituída em todos os partos e
período do parto
cesarianas, respeitando-se eventuais contraindi- A primeira hora após a saída da placenta é con-
cações ao uso da ocitocina. siderada o quarto período do parto. Nesse pe-
ríodo, a paciente deve ser encaminhada para
Não existem evidências suficientes que justifi-
um local onde seja possível manter observação
quem o uso preferencial do misoprostol profi-
atenta por pessoal de enfermagem (sala de re-
lático em mulheres de baixo risco em vez dos
cuperação pós-parto), visto haver ainda risco
significativo de complicações hemorrágicas.
Nesse local, além dos sinais vitais, deve-se ob-
QUADRO 21.9 servar o grau de contratura uterina (formação
do globo de segurança de Pinard) e a presença
Manejo ativo no terceiro período
ou não de hemorragia. A causa mais frequente
> Uso de ocitocina profilática após de hemorragia pós-parto é a hipotonia uterina
o desprendimento dos ombros do (ver Cap. 49, Hemorragia pós-parto). O RN, logo
recém-nascido após ser examinado pelo pediatra, retorna à
> Clampeamento precoce e tração companhia materna, permanecendo com a mãe
controlada do cordão umbilical na sala de recuperação e, após, no alojamento
conjunto até a alta hospitalar.
Rotinas em Obstetrícia 327

REFERÊNCIAS

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TESTE SEUS CONHECIMENTOS

1. São sinais de desproporção cefalopélvica, 2. Na assistência ao terceiro período do parto,


exceto: deve-se:
a. Dinâmica uterina diminuída. a. ter uma evolução expectante.
b. Bolsa rota. b. utilizar ocitocina 20 UI intravenosa de
c. Bossa serosanguínea. rotina.
d. Edema de colo. c. massagear o útero.
e. Parada de progressão. d. realizar clampeamento precoce e tração
controlada do cordão umbilical.
e. inserir misoprostol intravaginal de rotina.

Para consultar as respostas desta seção e outros conteúdos complementares, acesse o hotsite
do livro: www.grupoaeditoras.com.br/rotinasginecoeobstetricia.
22

Parto Disfuncional
Rui Lara de Carvalho
Maria Teresa Pedrazzi Chaves
Cristiano Caetano Salazar

O trabalho de parto (TP) disfuncional, carac- patologia, os fatores de risco relacionados e o


terizado por progressão lenta e anormal, é a manejo do TP complicado por distocia.
principal indicação de cesariana primária nos
Estados Unidos, sendo responsável por cerca
de 60% das cesarianas naquele país (Ameri- Diagnóstico e caracterização
can College of Obstetricians and Ginecolo-
clínica
gists, 2003). No Hospital de Clínicas de Porto
Alegre (HCPA), representa 32% das indicações Para o diagnóstico adequado do parto disfun-
de cesariana. Um estudo dinamarquês relatou cional, é necessário conhecermos os períodos
uma incidência de 37% de parto disfuncional do TP normal, apontados por Friedman (1983)
entre nulíparas de baixo risco – quase dois ter- em seus estudos clássicos, e reconhecermos seu
ços dos casos no período expulsivo (Kaergaard início (ver Caps. 20, Mecanismo do parto e 21,
et al., 2009). Assistência ao trabalho de parto). A Tabela 22.1
resume os critérios para diagnóstico das disfun-
Cerca de 20% de todos os TPs são afetados ções, conforme período do parto, paridade e
por distúrbios de lentificação ou de parada de presença de anestesia regional.
progressão (Zhu, 2006, apud Satin, 2009). Ape-
sar da alta prevalência de disfunções do TP, há O trabalho de parto normal divide-se em três
períodos:
variabilidade considerável no diagnóstico, no
manejo e nos critérios que apontam quais casos > primeiro período: tempo desde o início
de distocia requerem intervenção. Este capítulo do trabalho de parto até a dilatação cervical
objetiva revisar as definições correntes, a fisio- completa;

Tabela 22.1 Critérios diagnósticos para padrões anormais do trabalho de parto

Padrão de evolução do trabalho de parto Nulíparas Multíparas

Primeiro período
Lentificação da dilatação < 1,2 cm/h < 1,5 cm/h
Parada de dilatação >2h >2h

Segundo período
Lentificação da descida < 1 cm/h < 2cm/h
Parada da descida (sem analgesia regional) >2h >1h
Parada da descida (com analgesia regional) >3h >2h

Fonte: Adaptada de Satin (2009) e American College of Obstetricians and Gynecologists (1996).
330 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

> segundo período: tempo desde a dilatação cervicais, porém com velocidade de dilatação
cervical completa até a expulsão do feto; lenta (< 1 cm/h).
> terceiro período: tempo desde a expulsão Disfunção da fase latente
do feto até a saída da placenta.
A duração média da fase latente é de 6,4 horas
em nulíparas e 4,8 horas em multíparas e não é
Disfunções do primeiro período influenciada por idade materna, peso fetal ou
O primeiro período inclui duas fases distintas: anormalidades obstétricas (Satin, 2009).
a fase latente e a fase ativa de TP. Essa última O diagnóstico de fase latente prolongada é
pode ser subdividida em fase de aceleração, fase fundamentado no tempo excessivo após o início
de inclinação máxima e fase de desaceleração das contrações regulares e dolorosas, sem alcan-
da dilatação cervical. çar uma dilatação cervical maior que 3 ou 4 cm.
A representação gráfica da dilatação cervical Nos últimos 20 anos, o critério mais comumente
versus o tempo durante o trabalho de parto é aceito é o de Friedman e Neff (National Colla-
feita por meio de uma curva sigmoidal (Fried- borative Perinatal Project), que considera como
man, 1983) (Fig. 22.1). fase latente prolongada aquela com duração
A fase latente do TP é representada pelo seg- superior a 20 horas em primíparas e 14 horas
mento inicial da curva e é definida como o em multíparas (quatro desvios-padrão da média
período compreendido entre o início do TP e de duração da fase latente). Esse estudo exten-
o início da fase ativa. O início da fase latente so envolveu 58.806 partos, entre 1958 e 1965,
(bem como sua transição para a fase ativa) incluindo o seguimento dos recém-nascidos
pode apresentar-se clinicamente como de difí- (Friedman, 1983). Esse estudo, porém, só se re-
cil definição. Na tentativa de padronizarem-se portou à morbimortalidade perinatal, não ten-
tais tempos, considera-se o início do TP – ou do sido avaliada a morbimortalidade materna.
fase latente – como o aparecimento das con- Além disso, tais estatísticas são de mais de 20
trações dolorosas e regulares que evoluem com anos atrás, podendo não refletir, portanto, o
mudança gradual na dilatação e apagamento manejo obstétrico e perinatal correntes.

Fase latente Fase ativa


10

Fase de desaceleração

–3
Fase de aceleração
8

–2
Dilatação cervical (cm)

Planos de DeLee
6

–1
Segundo estágio
Fase ascendente máxima

0
4

+1
+2
2

+3
+4
+5
0

0 2 4 6 8 10 12 14
Tempo de trabalho de parto (h)

Figura 22.1 Representação gráfica da dilatação cervical (em centímetros) versus o tempo de trabalho
de parto (em horas) – curva sigmoidal.
Fonte: Friedman (1983).
Rotinas em Obstetrícia 331

Mais recentemente, na University of Califor- uma dilatação no sentido cranial, já que a


nia, em San Francisco, EUA, foram estudados cérvice vai se retraindo ao redor do polo fe-
11.000 partos com fase latente prolongada en- tal até atingir a dilatação completa.
tre 1975 e 1990, que foram avaliados quanto ao
A descida da apresentação fetal ocorre
desfecho materno e perinatal, definindo como
concomitantemente à dilatação cervical e inicia-
fase latente prolongada aquela com duração
-se de maneira tardia na fase ativa da dilatação,
maior do que 12 horas em pacientes primíparas
em geral a partir de 7 ou 8 cm em nulíparas, tor-
e 6 horas em multíparas. Esse estudo mostrou
nando-se mais rápida acima de 8 cm. O padrão
que uma fase latente prolongada pode estar
da descida apresenta alta variabilidade, a qual
associada a maior incidência de anormalidades
depende de cada paciente e da paridade. Em
durante a fase ativa de TP, maior necessidade de
pacientes multíparas, a descida da apresentação
ressuscitação neonatal, entubação por mecônio
em geral ocorre próximo ao alcance da dilatação
espesso, índices de Apgar mais baixos no quin-
cervical máxima (Cunningham et al., 2001).
to minuto, maior tempo de hospitalização dos
recém-nascidos, febre materna e maior número Em 1972, Philpott e Castle, com base nos pa-
de lacerações de terceiro e de quarto graus (Car- drões de normalidade para dilatação definidos
valho et al., 2006). por Friedman, criaram um sistema gráfico, a
fim de facilitar o estudo da dinâmica do parto
Conforme o consenso do American College of
e auxiliar o diagnóstico precoce do parto dis-
Obstetricians and Gynecologists (ACOG), de
funcional, que foi utilizado em maternidades
1996, uma fase latente prolongada não é indi-
sem recursos do Zimbábue. Em nosso meio, os
cativa de parada de progressão, e esse diagnós-
conceitos de Friedman e os de Philpott e Castle,
tico não deve ser feito durante a fase latente do
relacionados às linhas de alerta e às de ação, fo-
TP. Assim, a indicação de cesariana por falta de
ram introduzidos e tiveram grande divulgação a
progressão da dilatação somente é aceita a par-
partir de Costa (1979) e Paula e colaboradores
tir da fase ativa. Entretanto, a presença de uma
(1984). O partograma original de Philpott sofreu
fase latente prolongada é um fator de risco para
algumas modificações ao longo dos anos. Atual-
uma fase ativa disfuncional subsequente e um
mente, o partograma modificado da OMS é o
risco maior de cesariana.
de escolha no HCPA, sendo composto por duas
Disfunção da fase ativa linhas: a de alerta, que traduz uma evolução mí-
nima fisiológica de 1 cm/h (percentil 10 de evo-
O início da fase ativa do TP, também conheci-
lução da dilatação em nulíparas); e a de ação,
do como trabalho de parto propriamente dito,
com intervalo de 4 h da linha de alerta (Groes-
inicia-se quando a dilatação cervical alcança
cher; Glover, 2001) (ver Cap. 21, Assistência ao
pelo menos 3 cm em primíparas e 4 cm em mul-
trabalho de parto).
típaras, havendo contrações fortes e regulares,
junto com outros sinais de modificação cervical Atualmente, utiliza-se uma classificação prática
(apagamento ou semiapagamento, perda de para categorizar as anormalidades do TP: distúr-
tampão mucoso, formação de bolsa das águas, bio de lentificação (progressão anormalmente
etc.) (Montenegro; Rezende Filho, 2008a; Satin, lenta do trabalho de parto) e distúrbio de parada
2009). Esse período caracteriza-se pela fase de (parada completa de progressão). Esses distúrbios
dilatação cervical rápida (≥ 1 cm/h). requerem que a parturiente tenha entrado na
fase ativa, podendo ocorrer também no segundo
A fase ativa é dividida em um período de
período do trabalho de parto (American College
dilatação inicial (fase de aceleração), com
of Obstetricians and Gynecologists, 2003).
duração de aproximadamente 1 hora, evo-
luindo para um período posterior, em que a A duração média da fase ativa é de 4,6 horas
velocidade de dilatação é linear e bastante em nulíparas e 2,4 horas em multíparas. O
rápida (fase de inclinação máxima). O pe- diagnóstico de fase ativa prolongada, ou parto
ríodo final da fase ativa caracteriza-se por disfuncional primário, é feito no período de di-
uma dilatação em velocidade constante, ha- latação, conforme a evolução no partograma.
vendo, além da dilatação lateral, também Nele, é identificada uma dilatação em evolu-
332 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

ção, porém muito lenta, ultrapassando à direi- Dessa forma, o ACOG recomenda que a dura-
ta a linha de alerta (velocidade de dilatação é ção normal do segundo período de TP seja ba-
inferior a 1 cm/h) (Friedman, 1983). Uma fase seada na paridade e na presença de anestesia
ativa anormalmente lenta é definida como 12 regional, e que não seja realizada nenhuma in-
horas para nulíparas e 5 horas para multíparas tervenção enquanto o padrão dos batimentos
(Satin, 2009). cardíacos estiver normal e for observado algum
A progressão para o parto deve ocorrer em cer- progresso na descida da apresentação (Ameri-
ca de um terço dos casos de TP disfuncional. can College of Obstetricians and Gynecologists,
Aproximadamente dois terços das pacientes 2003).
com fase ativa prolongada encaminham-se para
Trabalho de parto precipitado
um quadro de parada secundária da dilatação,
situação em que o prognóstico se torna mais Quando o TP evolui rápido demais, também é
reservado (Friedman, 1983; Hunter; Enkin; Tu- considerado disfuncional. O termo “parto pre-
gwall, 1983). cipitado” refere-se ao trabalho de parto que
dura menos que 3 horas desde o início das con-
A identificação dessas alterações pelo partogra-
trações até o nascimento. Chama-se o período
ma deve ser complementada pelo exame clínico,
expulsivo de precipitado quando dura menos de
que, não demonstrando sinais consistentes com
20 minutos (Satin, 2009).
o diagnóstico de desproporção cefalopélvica
(DCP), permite que a disfunção seja manejada O parto precipitado está associado a uma maior
por meio da infusão de ocitocina e outras inter- frequência de lacerações de trajeto. Além dis-
venções (ver adiante e Cap. 21, Assistência ao so, muitas vezes é seguido de hipotonia uterina,
trabalho de parto). merecendo atenção especial no quarto período
do parto (Yamano, 2009).
Disfunções do segundo período
A duração média do segundo período do TP é
de 66 minutos em pacientes nulíparas e de 20 Fisiopatologia
minutos em multíparas. Friedman (1983) defi-
niu, como um segundo período anormalmente A progressão disfuncional do trabalho de parto
longo, 3 horas para nulíparas e 1 hora para mul- ocorre por meio de três mecanismos distintos
típaras. (Carvalho et al., 2006):

O limite de duração máximo associado a um > Anormalidades da contração uterina, isto é,


desfecho perinatal normal foi inicialmente contrações insuficientemente fortes ou ina-
definido como 2 horas. Posteriormente, propriadamente coordenadas para apagar e
esse limite foi aumentado, quando obser- dilatar a cérvice, ou, ainda, inadequação dos
vou-se que a duração do segundo estágio esforços expulsivos durante o segundo está-
– se considerada isoladamente, sem outros gio do TP.
confundidores – não constitui um fator de
> Anormalidades da pelve materna.
risco para morbidade neonatal. Entretanto,
a morbidade materna pode aumentar tan- > Anormalidades de apresentação, posição, di-
to em nulíparas quanto em multíparas com mensões ou desenvolvimento do feto.
período expulsivo prolongado (Satin, 2009).
Anormalidades da contração uterina
A anestesia regional, a duração do primeiro pe-
(discinesias)
ríodo de TP, a paridade, a estatura materna, o
peso fetal e a altura da apresentação no mo- São anomalias na onda contrátil do útero, que
mento da dilatação completa influenciam a du- devem ser adequadas quantitativa e qualitati-
ração do segundo período. Porém, os estudos vamente para produzirem dilatação cervical
mostraram que esses fatores juntos são respon- e descida da apresentação. As discinesias não
sáveis por menos de 25% da variação da dura- corrigidas resultam em TP prolongados ou com
ção do segundo período (Piper et al., 1991). parada de progressão. Além disso, nos distúr-
Rotinas em Obstetrícia 333

bios hipercontráteis da matriz, a circulação Incoordenação e inversão do gradiente con-


uteroplacentária está mais comprometida, fa- trátil: as contrações eficazes em promover
vorecendo o surgimento de hipoxia intrauterina dilatação cervical e descida da apresentação se
(Yamano, 2009). propagam por todo o útero de forma genera-
lizada e sincronizada, caracterizando o tríplice
Hipoatividade: quando as contrações têm
gradiente descendente (TGD) de contrações (ver
pouca intensidade (elevação menor que 25
Cap. 20, Mecanismo do parto). Quando existe
mmHg do tônus basal – hipossistolia), fre-
incoordenação do gradiente, partes distintas do
quência menor do que 2 em 10 minutos (bra-
órgão se contraem de forma independente e
dissistolia) e atividade uterina abaixo de 100
assincrônica, impedindo que todo o útero alcan-
unidades Montevidéu (UM) – (ver Cap. 20,
ce o máximo de contração simultaneamente.
Mecanismo do parto). Ocorre de forma idio-
Quando ocorre inversão do TGD, as contrações
pática ou secundária à diminuição do estímulo
nascem na parte inferior do útero e se propa-
contrátil, à analgesia inadequada precoce e à
gam para cima, com duração maior no istmo do
incoordenação do gradiente de contração. O
que no corpo – ineficazes para dilatar o colo e
progresso do parto é lento, sem prejuízo ma-
tendendo a fechá-lo. Conforme o grau de inco-
terno e nem fetal, exceto o proveniente do
ordenação, algumas partes relaxam ao mesmo
trabalho prolongado.
tempo que outras iniciam contrações, podendo
Hiperatividade: quando a intensidade das produzir dinâmica de ritmo muito irregular com
contrações é exagerada (maior do que 50 mmHg pequena intensidade, taquissistolia e até mesmo
do tônus basal – hipersistolia), com frequência hipertonia uterina. Acredita-se que muitos dos
maior do que 5 em 10 minutos (taquissistolia) e casos de incoordenação do gradiente estejam
atividade uterina ultrapassando 250 UM. Pode associadas à secreção aumentada de hormônios
surgir sem causa evidente ou por doses excessi- adrenais, vigentes em situações de dor, medo e
vas de ocitocina. Há autores que também apon- estresse.
tam como fator de risco para hiperatividade a
toxemia gravídica, a sobredistensão uterina e a Distocias do trajeto
descarga de substâncias adrenérgicas decorren- Muitas condições patológicas do canal do par-
te de estresse. Pode produzir sofrimento fetal, to geram dificuldades na evolução do trabalho,
rotura uterina e TP precipitado. podendo ocorrer distocias no trajeto mole ou no
Hipotonia uterina: descrita como tônus ute- arcabouço ósseo da pelve.
rino inferior a 8 mmHg (útero “mole”), em ge- Distocia cervical: o colo uterino é responsável
ral está associada à hipoatividade do útero. São
pela não progressão do parto. Pode existir um
fatores associados à hipotonia uterina: número
distúrbio funcional (espasmo do orifício inter-
elevado de partos prévios, primiparidade tardia,
no) ou anatômico (rigidez ou aglutinação após
alterações uterinas (miomatose, adenomiose,
cervicites, cirurgias, cauterizações ou em primi-
malformações), sobredistensão das fibras mus-
gestas idosas; expansão desigual do segmento
culares.
inferior do colo em mulheres com distopias,
Hipertonia uterina: o tônus basal do útero originando dilatação saciforme). O colo, mesmo
é aumentado (> 12 mmHg), chegando a inten- fechado, pode ficar completamente apagado e
sidades maiores que 30 mmHg – situação em delgado, fazendo com que haja confusão com
que se torna muito difícil perceber as contra- dilatação completa e com presença de bolsa
ções (impressão de útero “muito duro”). Além amniótica íntegra. Nessas situações, em que não
do aumento idiopático do tônus primário (hi- se consegue facilmente desfazer a constrição ou
pertonia autêntica ou essencial), pode ser se- bridas com o dedo, a alternativa é a cesariana.
cundária à sobredistensão uterina, à incoorde- O edema de colo, observado em partos prolon-
nação do gradiente contrátil ou à taquissistolia. gados, muitas vezes pode ser um sinal de DCP e
As causas mais comuns são infusão inadequada pode dificultar a dilatação cervical ou impedi-la;
(exagerada) de ocitocina e descolamento pre- em casos simples, com dilatação completa, po-
maturo de placenta. de-se tentar levar o lábio anterior edemaciado
334 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

para cima da apresentação; quando a dilatação de medidas radiológicas associadas ao peso fe-
permanece estacionária, é necessário cesariana. tal estimado) na identificação de pacientes com
maior risco de cesariana; entretanto mais estu-
Outras distocias de trajeto mole: tumora-
dos são necessários.
ções prévias que se interpõem fixamente diante
da apresentação fetal podem dificultar ou im- Nos casos com vício acentuado do estreito su-
pedir a descida desta, como é o caso de gran- perior, não ocorre insinuação do polo cefálico.
des miomas de segmento inferior e tumores de Nos vícios de menor redução de diâmetro, o
ovário e de reto. Septos vaginais, cistos ou abs- polo cefálico transpõe o estreito superior, mas
cessos da glândula de Bartholin, grandes condi- o período expulsivo tende a ser prolongado.
lomas vulvares ou vaginais e linfogranuloma ve- Nas pelves afuniladas, comumente ocorre des-
néreo podem reduzir a elasticidade dos tecidos cida do polo cefálico, com parada em varieda-
vulvoperitoneais e a patência do trajeto. Varizes de de posição tranversa à altura das espinhas
vulvares não costumam acarretar maiores trans- isquiáticas.
tornos, mas deve-se evitar sua rotura e, conse-
Quando o vício pélvico é de pequena monta,
quentemente, um hematoma vulvovaginal.
pode-se submeter a parturiente à prova de TP,
Distocias do trajeto duro (vícios pélvi- procurando-se, contudo, impedir que o período
cos): segunto Montenegro e Rezende Filho expulsivo seja prolongado. A instrumentação do
(2008b), pelve viciada é aquela que apresenta parto está indicada quando ocorre interrupção
acentuada redução de um ou mais de seus diâ- da descida e da rotação interna, havendo con-
metros ou modificação apreciável de forma. Em dições para aplicação do fórcipe e não havendo
relação ao estreito superior, considera-se vício afunilamento pélvico. Nos demais casos, a casa-
pélvico quando o diâmetro anteroposterior é riana é necessária. Supondo que os diâmetros
menor do que 10 cm, e o do transverso médio, da pelve possam ser ampliados, propõem-se
menor do que 12 cm. Quanto ao estreito mé- diferentes posicionamentos da parturiente: de
dio, o vício é caracterizado diâmetro menor do cócoras, em cadeira (banqueta) obstétrica ou
que 15 cm entre promontório e borda inferior ajoelhada (posição genupeitoral). Estudos mais
do púbis ou diâmetro interespinhoso transver- antigos não demonstraram diferenças significa-
so menor do que 10,5 cm. Considera-se vício tivas na resolução do parto, sendo necessários
de estreito inferior quando a distância entre as novos ensaios comparativos randomizados para
tuberosidades isquiáticas é menor do que 8 cm. determinar sua eficácia (Piato, 2009).
Suspeita-se de pelve afunilada quando os diâ-
metros do estreito superior são normais, mas o Distocias fetais
ângulo do arco subpúbico é menor do que 90o Alterações na maneira como o polo cefálico
(Piato, 2009). avança na pelve, como desproporção entre as
medidas do feto e as do trajeto que se apre-
A pelvimetria clínica pode ser útil para avaliar
senta, podem determinar lentidão e parada na
qualitativamente as características gerais da
progressão do TP. Aqui serão discutidos somen-
arquitetura pélvica e identificar pacientes com
te os elementos relacionados às apresentações
maior risco de distocia. A pelvimetria radiológi-
cefálicas.
ca, que foi utilizada de forma relativamente am-
pla no passado, está praticamente abandonada. Anormalidades da rotação do polo cefáli-
Uma revisão sistemática em quatro ensaios com co: as variedades de posição posteriores (occi-
mais de 1.000 mulheres concluiu que gestantes pitodireita posterior, occipitoesquerda posterior
que fizeram pelvimetria radiológica tiveram mais e occipitossacra) caracterizam-se por descida
chances de serem submetidas à cesariana (odds mais lenta, ao mesmo tempo que ocorre a gran-
ratio 2,17, p < 0,05), sem qualquer impacto sig- de rotação interna necessária para que o polo
nificativo nos desfechos perinatais (Pattinson, cefálico se posicione em occipitopúbico. Quan-
2003). Alguns trabalhos publicados descreve- do essa rotação não acontece (variedades poste-
ram a utilidade da ressonância nuclear magnéti- riores persistentes), o período expulsivo se pro-
ca e do índice fetal-pélvico (calculado por meio longa. Em um estudo com nulíparas em período
Rotinas em Obstetrícia 335

expulsivo sob analgesia neuroaxial, a duração tem extensão suficiente para possibilitar a pe-
média do segundo estágio para a variedade oc- netração do polo cefálico na concavidade do
cipitopúbica foi de 2,2 horas, e de 3 horas para sacro. Quando a apresentação é mento-púbi-
occipitossacra; os índices de cesariana foram 3,4 ca, é possível aguardar a evolução do traba-
e 15,2%, respectivamente (Senecal et al., 2005). lho de parto, pois os diâmetros apresentados
são compatíveis com os estreitos do trajeto.
Respeitadas as condições de aplicabilidade (ver
Entretanto, mesmo nesses casos, os índices de
Cap. 24, Parto vaginal instrumentado) e confor-
cesariana são elevados, uma vez que a apre-
me o grau de deflexão, pode-se utilizar o fórcipe
sentação de fato se associa frequentemente a
para promover a rotação da apresentação para
vício pélvico, a macrossomia fetal e a outros
uma variedade de posição anterior ou mesmo
problemas (inserção baixa de placenta, circular
proceder ao desprendimento em occipitossa-
cro. Pode-se realizar manualmente a rotação de cordão umbilical e contrações espásticas do
das posteriores defletidas para occipitospúbica músculo do pescoço fetal).
da seguinte forma: coloca-se a mão na pelve Nas apresentações de fronte, o maior diâmetro
posterior atrás do osso occipital do feto, agindo da apresentação é o occipitomentoniano, me-
como um “calço” para fletir a cabeça; aplica-se dindo geralmente em torno de 13,5 cm – in-
força rotatória ao polo cefálico, usando, como compatível com o parto transpélvico. Se, ao lon-
alavanca, qualquer fontanela ou sutura, sempre go do período expulsivo, não ocorrer evolução
durante uma contração e o esfoço expulsivo para cefálica fletida ou para apresentação de
materno (Damos et al., 2000). face, a cesariana é necessária.
As variedades occipitotransversas baixas, carac- Apresentações compostas: nesses casos,
terizadas pela persistência do polo cefálico em existe prolapso de um dos membros superiores
occipitotransversa direita ou esquerda após in- do feto para o lado do polo cefálico, que é fre-
sinuação e descida profunda na pelve, podem quentemente associado à prematuridade. Nos
determinar lentificação e parada de progressão casos em que existe prolapso apenas da mão,
(período expulsivo médio de 2,5 horas e índice deve-se adotar conduta expectante (a redução
de cesariana de 6,9%) (Senecal et al., 2005). da mão prolapsada durante o toque geralmente
Novamente, encontrando-se em altura favo- é possível). A prática de reposição manual, nos
rável e respeitando-se as condições de aplica- casos de prolapso de todo o membro superior,
bilidade, pode-se utilizar o fórcipe de Kielland está praticamente abandonada, por estar asso-
para proceder a rotação; outra alternativa é ciada a complicações, especialmente a prolapso
rotar digitalmente a apresentação para uma de cordão. Quando não ocorre a correção es-
variedade oblíqua e então utilizar o fórcipe de pontânea da distocia, deve-se optar por cesaria-
Simpson-Braun para completar a rotação e o na (Seeds; Cefalo, 1982, apud Piato, 2009).
desprendimento.
Desproporção cefalopélvica (DCP): é a fal-
Nos casos em que o polo cefálico mantém-se ta de proporcionalidade entre a bacia e o feto.
em altura desfavorável à extração com fórcipe, a Apesar de essa desproporção ser causada pelo
cesariana é necessária. crescimento fetal excessivo ou por anormalida-
Anormalidades de flexão do polo cefáli- des cranianas (p. ex., hidrocefalia), pode, muitas
co (deflexões): nas apresentações de face, vezes, ocorrer em consequência de vício pélvico
a cabeça fetal encontra-se completamente ou de atitude viciosa da cabeça fetal, descritos
defletida, de tal forma que o occipito encos- anteriormente. Apesar de ser possível levantar a
ta na coluna vertebral. O diagnóstico é feito hipótese de DCP em gestantes com fetos apa-
pelo toque vaginal, identificando-se boca, na- rentemente macrossômicos, ou em primíparas
riz e arcadas orbitárias; quando existe bossa cuja cabeça fetal não se insinuou até as proxi-
serossanguinolenta, pode-se confundir com midades do parto (pois, em multíparas, o polo
apresentação pélvica. Quando a variedade muitas vezes se encaixa próximo ao período ex-
de posição é mento-sacra, o parto vaginal é pulsivo), hoje em dia é difícil firmar o diagnósti-
impossível, uma vez que o pescoço fetal não co antes de se instalar o TP.
336 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Em DCPs relativas, o TP normalmente é prolon- e a progressão do TP é, até hoje, objeto de mui-


gado e exaustivo; pode-se observar excessiva tos estudos, devido à possibilidade de causar pa-
moldagem do crânio fetal, acavalamento dos rada de progressão, variedades de posição me-
ossos cranianos, bossa serossanguinolenta e nos favoráveis ao parto e, consequentemente,
edema de colo. Em DCPs absolutas, o parto tor- maior índice de cesárea.
na-se completamente obstruído, e o polo cefá-
As revisões sistemáticas em geral concordam
lico permanece encravado no estreito superior,
que a analgesia neuroaxial está associada a um
havendo progressiva distensão do segmento
aumento na duração do primeiro e do segun-
inferior do útero ao longo do TP.
do estágios do parto (modificando, inclusive,
No início do parto obstruído mecanicamente o critério para normalidade da duração do pe-
(por DCP, apresentações anômalas ou tumo- ríodo expulsivo), incidência de má posição fetal
res prévios), as contrações são normais, mas (apresentações defletidas, variedades de posição
progridem em intensidade e frequência, cul- transversas), uso de ocitocina e parto instrumen-
minando em hipersistolia e taquissistolia. Após tado. Entretanto, não se encontrou associação
algumas horas de hiperatividade, as contrações com elevação do índice de cesárea.
acabam ficando hipoativas (inércia secundária)
Possivelmente, diferentes técnicas (raquianeste-
ou aumentam ainda mais sua frequência e seu
sia, peridural ou analgesia combinada) e drogas
tônus (taquissistolia e hipertonia). Se a hiperati-
(opioides, anestésicos locais de baixa dose), mo-
vidade e a obstrução persistirem, pode ocorrer
mento de administração da analgesia, redução
um encurtamento do corpo uterino que não se
da infusão de anestésicos no segundo período,
complementa com a descida do fundo do ór-
uso apropriado de ocitocina e postergação dos
gão, mas condiciona o estiramento longitudinal
esforços expulsivos na segunda fase do parto
do segmento inferior; cada contração torna o
podem determinar grandes diferenças na inci-
corpo mais curto e espesso, enquanto o istmo
dência de distocia. O American College of Obs-
se estira e afina. O limite entre o segmento su-
tetricians and Gynecologists considera que, em
perior e o inferior fica muito evidente, anormal-
fase ativa do TP, a decisão de iniciar uma anal-
mente elevado, constituindo o anel de Bandl
gesia neuroaxial depende principalmente do
(ou anel de retração patológica), acompanha-
desejo da paciente, levando em consideração
do da ascenção dos ligamentos redondos, que
fatores como paridade e técnica disponível; não
ficam tensos, dolorosos e facilmente palpáveis
se recomenda aguardar uma dilatação cervical
(sinal de Frommel). Nessa condição, é grave o
arbitrária (4 ou 5 cm) para iniciar a analgesia
comprometimento do feto, submetido a séria
(American College of Obstetricians and Gyneco-
hipoxia, e iminente a rotura uterina.
logists, 2003).
O diagnóstico de DCP deve ser firmado mais
precocemente, antes que ocorra comprometi-
mento fetal e materno, por meio da observação Fatores de risco
de fenômenos mecânicos, plásticos e dinâmicos
da parturição. Utilizam-se, para isso, o parto- Há relatos associando idade materna avançada,
grama, e a correção apropriada das discinesias. nuliparidade, ansiedade materna, gestação múl-
Se houver dinâmica uterina adequada, sem tipla e infecções intrauterinas a prolongamento
progressão ao longo de determinado período da fase ativa. Analgesia peridural, primeiro pe-
de tempo (em geral, 2 horas) – especialmente ríodo prolongado, nuliparidade, fetos grandes
quando associado a sinais maternos (edema de e apresentação alta, no momento da dilatação
colo) e fetais (bossa, acavalamento de suturas, cervical completa, são associados a um período
etc.) – faz-se o diagnóstico de DCP e indica-se expulsivo prolongado.
a cesariana. Procurando identificar fatores de risco para di-
ficuldade de nascimento entre nulíparas no se-
Analgesia neuroaxial
gundo período do parto, foi realizada uma aná-
O impacto da analgesia neuroaxial sobre a ativi- lise multivariada com 1.862 mulheres, na qual o
dade uterina, o posicionamento do polo cefálico risco de parto disfuncional foi maior em mulhe-
Rotinas em Obstetrícia 337

res com baixa estatura (menos de 150 cm), ida- prolongada, quando relacionada a uma anor-
de maior que 35 anos, idade gestacional maior malidade do TP subjacente, deve ser manejada
que 41 semanas, intervalo entre o início da anal- com ocitocina, enquanto outros recomendam
gesia peridural e a dilatação cervical maior que 6 alternativas mais conservadoras. Dentre essas
horas, altura da apresentação em –2 de De Lee medidas, propõe-se a analgesia com opioides,
com dilatação completa e variedades de posição deambulação, mudança de decúbito, redução
occipitoposteriores. Mesmo assim, o modelo de de estresse, hidratação, suporte energético, ba-
análise multivariada apresentou sensibilidade de nho, descolamento digital de membranas, esti-
apenas 57%, especificidade de 75% e valor pre- mulação mamilar (esta atualmente desencoraja-
ditivo positivo de 35% para parto disfuncional da, devido ao risco de hiperestimulação), etc. A
(Fraser et al., 2002). amniotomia é eficaz ao corrigir a dinâmica em
uma fase latente prolongada, mas deve ser uti-
O Quadro 22.1 resume os principais fatores de lizada de maneira bastante criteriosa, uma vez
risco para parto disfuncional. que uma fração significativa (cerca de 10%) das
pacientes que se apresentam com contrações
dolorosas e sem dilatação cervical estão, na ver-
Tratamento dade, em falso trabalho de parto. Há carência
de estudos sobre como, quando e com o que
O manejo do trabalho de parto disfuncional en- intervir na fase latente prolongada (Greulich;
volve uma abordagem sistematizada, acompa- Tarrant, 2007).
nhamento do progresso e controle do bem-estar
materno e fetal. Uma vez em fase ativa de TP, o toque vaginal
deve ser realizado a cada uma ou duas horas
Manejo das disfunções de primeiro para avaliar se a progressão está adequada. Os
período resultados dos exames devem ser registrados no
partograma, que permite a representação gráfi-
Na fase latente prolongada, podem-se tomar
ca do andamento do TP e evidencia quando os
medidas gerais para corrigir as discinesias, es-
limites da progressão normal são ultrapassados.
pecialmente na tentativa de coordenar o TGD.
Havendo lentificação ou ausência de evolução
O manejo, entretanto, é controverso, pois al- dentro dos períodos preestabelecidos, deve-se
guns especialistas acreditam que a fase latente intervir para corrigir possíveis distúrbios da con-
tratilidade uterina.
Em casos de hiperatividade uterina (taquissis-
QUADRO 22.1 tolia, hipertonia), deve-se reduzir ou retirar a
ocitocina (caso esteja sendo infundida), realizar
Fatores de risco para parto
analgesia ou amniotomia (procurando coorde-
disfuncional
nar o TGD de contração), aumentar a infusão de
> Idade materna avançada
líquidos ou iniciar a adminstração de uterolíticos
> Complicações da gestação (nifedipina, salbutamol intravenoso), além das
> Condição fetal não tranquilizadora medidas gerais de mudança de decúbito e redu-
> Anestesia peridural ção do estresse (Yamano, 2009).
> Macrossomia fetal
> Contração pélvica Ocitocina
> Variedade de posição occipitossacra
> Nuliparidade A hipocontratilidade uterina é melhor manejada
> Baixa estatura (menos de 150 cm) com ocitocina, única medicação aprovada pelo
> Corioamnionite Food and Drug Administration (FDA) para esti-
> Gestação pós-termo mulação na fase ativa do trabalho de TP.
> Obesidade
Numerosos protocolos para o uso de ocitocina
Fonte: Satin (2009). têm sido avaliados. Os regimes de altas doses
foram associados a maior incidência de taquissis-
338 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

tolia e hiperestimulação. Independentemente do mas pode aumentar o risco de corioamnionite


regime adotado, a ocitocina infundida é titulada (recomendação grau B) (American College of
conforme o efeito, particular e imprevisível para Obstetricians and Gynecologists, 2003).
cada mulher. A maioria dos estudos randomi-
zados comparando protocolos de ocitocina em Hidratação
doses baixas (dose inicial de 0,5 a 2 mUI/min, O aumento de líquidos melhora o rendimento da
incrementos de 1 a 2 mUI/min) ou altas (dose musculatura esquelética durante o exercício pro-
inicial 4 a 6 mUI/min, incrementos de 4 a 6 mUI/ longado. Com base nessa informação, os cientis-
min) mostra que ambos são eficazes ao reduzir tas inferiram que o aumento de fluidos intrave-
a duração do trabalho de parto, sem aumentar nosos administrados melhorariam o progresso do
a morbidade materna ou fetal, e sem diferença TP. Em um estudo, 200 mulheres nulíparas com
entre si com relação ao índice de cesárea. Em ge- gestações normais e em fase ativa de TP espon-
ral, os regimes de altas doses resultam em partos tâneo foram randomizadas para receber 125 mL
menos duradouros, mas com maior incidência ou 250 mL de fluido intravenoso por hora. A fre-
de hiperestimulação (mesmo sem observação de quência de TP prolongado por mais de 12 horas
eventos adversos nos fetos); os regimes de baixa foi menor no grupo mais hidratado (13 vs. 26%);
dose são associados a menos hiperestimulação houve menor necessidade de uso de ocitocina
uterina e doses máximas mais baixas. Entrentan- para distocia no grupo mais hidratado (49 vs.
to, um ensaio clínico envolvendo 1.676 mulhe- 65%). Para saber o quanto o estado de hidrata-
res, que comparava regimes de alta e baixa dose ção natural da paciente afeta o curso do trabalho
para correção de dinâmica demonstrou que à de parto são necessárias maiores investigações.
alta dose se associou menor IC por distocia (9
vs. 12%), redução de 3 horas na duração do par- Outros métodos
to, menos corioamnionite (8 vs. 12%) e menos Deambulação e diferentes posicionamentos: as
sepse neonatal (0,3 vs. 2%). Segundo o ACOG mulheres em TP devem ser encorajadas a assu-
(American College of Obstetricians and Gyneco- mir a posição que lhes parecer mais confortável.
logists, 2003), os regimes de altas doses podem Devem ser orientadas quanto ao fato de a de-
ser utilizados em multíparas, mas não há dados
ambulação não aumentar a progressão do TP,
disponíveis sustentando a sua utilização em mu-
mas também não ter nenhum efeito prejudicial
lheres com cicatriz uterina prévia.
(recomendação grau A).
Amniotomia Suporte emocional continuado: o acompanha-
A amniotomia é comumente realizada para mento por enfermeiros, doulas ou uma pessoa
induzir ou aumentar o TP. Existem poucos es- leiga durante o trabalho de parto tem vários
tudos na literatura avaliando o seu papel para benefícios para as gestantes e seus recém-nas-
melhorar o progresso do TP. Um estudo recente cidos, sem nenhuma evidência de efeito pre-
observou dois grupos: um no qual foi realizada judicial. Em uma revisão sistemática incluindo
amniotomia planejada durante a fase ativa de 12.000 mulheres envolvendo 15 estudos, a pre-
TP, e outro grupo sem intervenção. A amnioto- sença contínua de um acompanhante reduziu
mia foi associada com redução da duração do a necessidade de medicação para dor, o parto
TP em 1-2 horas e uma diminuição no uso de vaginal operatório, os índices de cesariana e os
ocitocina. Em um outro estudo randomizando índices de Apgar, que foram menores que 7 no
459 mulheres para realização de amniotomia 5o minuto (Hodnett et al., 2003, apud Ameri-
eletiva versus amniotomia apenas na vigência can College of Obstetricians and Gynecologists,
de indicações específicas, a amniotomia eletiva 2003). A presença de um acompanhante ofere-
foi associada a uma diminuição da necessida- cendo suporte contínuo individual deve ser esti-
de de ocitocina (36 vs. 76%) e da duração da mulado (recomendação grau A).
fase ativa de TP (4 h 35 min vs. 5 h 56 min).
Em resumo, a amniotomia pode ser usada para Manejo ativo do trabalho de parto (MATP)
melhorar a progressão do trabalho de parto, O conjunto de intervenções para nulíparas, conhe-
diminuindo a necessidade do uso de ocitocina, cido como manejo ativo do trabalho de parto, foi
Rotinas em Obstetrícia 339

desenvolvido na Irlanda e descrito por O´Driscoll, existem quaisquer dados científicos que ates-
em 1984, como proposta para evitar o parto dis- tem a segurança e a adequação da utilização do
tócico e reduzir o IC. Os principais elementos des- MATP em multíparas, gestantes com cesariana
se sistema de manejo consistem em educação da prévia, pacientes com parto induzido, gestações
paciente, admissão em fase ativa inequívoca, am- gemelares, apresentações não cefálicas e grávi-
niotomia em até 1 hora após a admissão, em caso das em fase latente do trabalho de parto.
de progressão de dilatação < 1 cm, início de cor-
No HCPA, não se utiliza mais o MATP como ro-
reção com ocitocina 1 hora após a amniotomia, se
tina, preferindo-se a condução do parto com
progressão da dilatação < 1 cm, uso de ocitocina
base no partograma da Organização Mundial
em altas doses, partograma de linha única (de
da Saúde (OMS) modificado (ver Cap. 21, Assis-
ação), suporte de enfermagem individual, critérios
tência ao trabalho de parto).
estritos para interpretação do comprometimento
fetal e auditoria dos partos operatórios. Cesariana
A segurança do MATP foi demonstrada em vá- A parada de progressão do TP é diagnosticada
rios ensaios randomizados envolvendo mais de quando, após a correção das possíveis discine-
3.000 pacientes, não sendo evidenciadas dife- sias com uso de ocitocina e/ou amniotomia, e
renças na morbimortalidade materna e neona- tendo alcançado uma dinâmica uterina adequa-
tal. Infelizmente, o sucesso do MATP ao reduzir da (≥ 200 uM) por mais de 2 horas, não ocorrer
o IC não foi uniforme; um grande ensaio ran- evolução do TP. Nessa situação, estamos prova-
domizado relatou redução no índice de cesaria- velmente diante de uma DCP, quando, em geral,
nas somente após controlar inúmeras variáveis deve-se indicar uma cesariana.
de confusão, e uma metanálise com 4 ensaios
Contudo, em um estudo clínico envolvendo 542
randomizados não encontrou diferenças no IC.
gestantes com parada ou lentificação do TP, a
Recentemente, a Colaboração Cochrane publi- cesariana só foi indicada após 4 horas de dinâ-
cou uma metanálise com 7 estudos, nos quais mica uterina adequada e mantida. Esse proto-
houve uma redução modesta e não significativa colo resultou em 92% de partos vaginais, sem
do IC (risco relativo 0,88; intervalo de confiança desfechos adversos maternos ou fetais graves, o
95% 0,77-1,01). Ao retirar-se um estudo com que leva a considerar que o período mínimo de
muitas exclusões pós-randomização, obteve-se uso de ocitocina para parada de progressão na
uma redução significativa no IC (risco relativo fase ativa possa ser estendido de 2 para 4 horas
0,77; intervalo de confiança 95% 0,63-0,94). O (Rouse et al., 1999, apud Satin, 2009). O Na-
MATP foi associado a trabalhos de partos mais tional Institute for Health and Clinical Excellen-
curtos e a maior número de mulheres dando à ce (NICE) do Reino Unido também recomenda
luz em 12 horas. Não houve diferença em uso iniciar ocitocina e monitorar o progresso por 4
de analgesia, parto instrumentado, complica- horas –; não havendo dilatação de pelo menos
ções e satisfação materna (Heather et al., 2009). 2 cm nesse intervalo, é indicada uma cesariana.

Assim, o MATP é eficaz em promover partos mais Manejo das disfunções do segundo
rápidos e pode estar associado a uma redução período
modesta no IC, à custa de várias intervenções
Diante de um segundo período de parto pro-
bem-definidas. Não se sabe qual(is) delas é(são)
longado, é mandatório reavaliar a mãe, o feto
o(s) componente(s) fundamental(is) para o re-
e as forças expulsivas. Se as membranas ainda
sultado, nem se os elementos separados (p. ex.,
estiverem íntegras, deve-se realizar amniotomia.
somente ocitocina em altas doses, somente am-
Ressalta-se que a episiotomia de rotina não di-
niotomia precoce ou somente cuidado individual)
minui o segundo período de parto.
produziriam os mesmos desfechos. Cabe ressal-
tar que as publicações sobre manejo ativo dispo- Quando essa situação for diagnosticada, o obs-
níveis incluem somente nulíparas com gestações tetra tem quatro opções: continuar observando,
únicas, apresentação cefálica e espontaneamente corrigir as alterações contráteis, realizar um par-
em fase ativa do trabalho de parto. Assim, não to vaginal operatório ou realizar uma cesariana.
340 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Manejo expectante várias situações, é prudente solicitar a redução


Em fetos com padrão normal de batimentos das doses de analgesia peridural, pois essa pode
cardíacos, um segundo período de parto prolon- prejudicar a habilidade da parturiente em reali-
gado pode ser manejado com uma conduta ex- zar os puxos.
pectante, pois, na maioria dos casos, é possível
Parto vaginal instrumentado
ter um parto vaginal. Os índices de parto vaginal
com um segundo período de parto entre 2 a 4 O fórcipe ou o vácuo são utilizados em 5% dos
horas são de 90% e, após 4 horas, são de 66%. partos nos Estados Unidos. O sucesso do seu
O desfecho neonatal é indiferente quando o se- uso depende do treinamento e da habilidade
gundo período é menor ou maior que 2 horas do obstetra. O fórcipe é uma ferramenta impor-
(Satin, 2009). tante em distocias fetais por alteração na flexão
Quando a apresentação está alta no período ou por rotação do polo cefálico. A decisão de
expulsivo, deve-se aguardar para conduzir o realizar um parto operatório ou continuar ob-
parto somente quando a gestante já estiver sen- servando dependerá das condições clínicas da
tindo espontaneamente os puxos. Propõem-se mãe e do feto e do treinamento do obstetra (ver
alternativas de posicionamento (verticalização, indicações e contraindicações no Cap. 24, Parto
cócoras, deambulação), mas há poucos ensaios vaginal instrumentado).
clínicos disponíveis sobre o assunto.
Cesariana
Correção das discinesias Na presença de uma condição preocupante du-
É importante que a dinâmica continue sendo rante a monitoração fetal ou se as intervenções
eficaz, forte e regular. Devem-se corrigir even- conservadoras descritas tiverem falhado, deve
tuais disfunções contráteis com ocitocina. Em ser indicada a cesariana.

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342 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

TESTE SEUS CONHECIMENTOS

1. Considere as afirmações sobre o parto 2. Considere as afirmações sobre a evolução


disfuncional. do segundo período do parto.
I. O trabalho de parto na fase ativa I. As variedades de posição posteriores são
é considerado anormal quando a causas de descida mais lenta do polo
velocidade da dilatação for menor do cefálico.
que 1 cm/hora. II. Pelve afunilada pode ser causa de parto
II. A presença de uma fase latente obstruído com parada da descida da
prolongada frequentemente propicia apresentação.
uma fase ativa disfuncional. III. Nas variedades de posição mentossacral,
III. A amniotomia é a primeira e mais efetiva o parto vaginal é impossível.
conduta a ser tomada na fase latente
prolongada. Quais estão corretas?
a. Somente I.
Quais estão corretas:
b. Somente II.
a. Somente I. c. Somente I e II.
b. Somente II. d. Somente III.
c. Somente I e II. e. I, II e III.
d. Somente III.
e. I, II e III.

Para consultar as respostas desta seção e outros conteúdos complementares, acesse o hotsite
do livro: www.grupoaeditoras.com.br/rotinasginecoeobstetricia.
23

Indução do Parto
Eduardo Pandolfi Passos
Jaqueline Neves Lubianca
Viviane Renata Philipsen
Rosielle Mallmann Trombetta
Francieli Maria Vigo
Valentino Magno

A indução do parto tem por objetivo o término


da gestação pela via vaginal, através da estimu- QUADRO 23.1
lação das contrações uterinas antes do início Indicações de indução do TP
espontâneo de trabalho de parto (TP). Está in-
dicada em situações nas quais aguardar o tra- > Gestação com 41 semanas ou mais
balho de parto espontâneo resultaria em riscos > Pós-datismo
maternos ou fetais. O Quadro 23.1 ilustra as in- > Ruptura prematura de membranas
dicações mais comuns de indução do TP. Nessas > Corioamnionite
> Hipertensão arterial sistêmica (HAS) e/ou
situações, o obstetra precisa decidir a melhor via pré-eclâmpsia
de parto, cotejando indução do colo e cesariana > Diabete melito/gestacional
eletiva quanto aos possíveis riscos de uma e as > Crescimento intrauterino restrito (CIUR)/
potenciais complicações da outra. oligoidrâmnio
> Morte fetal
De acordo com o National Center for Health > Isoimunização Rh
Statistics, a taxa de indução de parto mais do > Anomalias fetais incompatíveis com a vida
que dobrou na última década, passando de 9%
em 1989 para cerca de 20% em 2000. Como
a indução do TP é realizada, na maior parte
das vezes, com uma cérvice não modificada ou
desfavorável, a duração da indução poderá ser
prolongada e resultar em maior taxa de casa-
Avaliação pré-indução
riana. Além disso, a indução prolongada gera Antes da indicação de indução do TP, é importan-
maior ansiedade para o casal que aguarda o te a avaliação correta da idade gestacional (IG), da
nascimento do bebê. A maioria dos obstetras, apresentação fetal, das características cervicais e
nesses casos, opta por administrar agentes mo- da vitalidade fetal. Além disso, devem-se excluir
dificadores do colo antes de iniciar a infusão de situações que contraindiquem a indução ao parto.
ocitocina, na tentativa de melhorar as taxas de Após a avaliação desses critérios, procede-se a es-
sucesso da indução. colha do melhor método de indução para o caso.
Este capítulo aborda os métodos farmacológicos
disponíveis para modificação cervical e indução
Idade gestacional
do TP quando o término da gestação for neces- A IG deve ser confirmada da forma mais preci-
sário ou desejável. sa possível, aliando história clínica, dia da últi-
344 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

ma menstruação (DUM), altura uterina (AU) e, Contraindicações à indução


de preferência, ultrassonografia de 1o trimestre.
O Quadro 23.2 mostra situações consideradas
Todos os esforços devem ser empregados para
contraindicações à indução do TP.
evitar a indução de fetos pré-termo.

Tipo de apresentação
A indicação de indução é restrita a apresenta-
Métodos de modificação
ções cefálicas fletidas. Fetos em apresentação cervical (pré-indução) e
pélvica são candidatos à cesariana eletiva, por indução do trabalho de parto
comprovadamente se associarem a menor mor-
bimortalidade neonatal (Hannah et al., 2000). Há grande preocupação em relação à eficácia e
Outras formas de apresentação, como córmica à segurança dos medicamentos que promovem
e cefálica defletida, são consideradas contrain- modificação cervical e indução do TP. Tanto uma
dicações absolutas à indução do parto. pequena eficácia do método quanto uma contra-
tilidade uterina excessiva aumentam as chances
Avaliação cervical de cesariana, sendo que a última condição ainda
pode determinar dano materno (ruptura uterina
O escore de Bishop (Tab. 23.1) é o principal
e suas consequências) e fetal (condição fetal não
determinante do sucesso na indução do
tranquilizadora). Contratilidade uterina excessiva
parto.
pode se expressar como taquissistolia, hipersisto-
Para seu cálculo, são considerados a dilatação, o lia (duração maior que 2 minutos) ou como pe-
apagamento, a consistência e posição do colo e queno intervalo de relaxamento entre as contra-
a altura da apresentação. Escores mais altos (> ções (intervalo de 1 minuto entre as contrações).
9) estão relacionados à maior taxa de sucesso; Taquissistolia é definida como a ocorrência de 6
escores inferiores a 4, à maior falha de indução. ou mais contrações em 10 minutos, ocorrendo
Nesses casos, quando a cérvice é dita desfavo- em dois períodos consecutivos ou por 30 minu-
rável à indução, há necessidade de preparação tos. Se a taquissistolia associar-se a alterações da
prévia do colo, utilizando-se modificadores des- frequência cardíaca fetal, é denominada síndro-
te, como baixas doses de ocitocina, gel ou supo- me de hiperestimulação uterina. Cada uma des-
sitórios de prostaglandina E2, misoprostol, mife- sas situações exigirá manejo específico, conforme
pristona ou procedimentos mecânicos (sonda de o método que estiver sendo empregado.
Foley, descolamento de membranas).
Ocitocina
Ressalta-se que, apesar do escore de Bishop ser
amplamente utilizado em publicações cientí- A ocitocina é o hormônio hipotalâmico liberado
ficas, possui grande variabilidade inter e intra- pela hipófise posterior em resposta à distensão
observador, sendo pouco empregado na prática cervical (reflexo de Ferguson) e à manipulação
obstétrica. Frequentemente, utilizam-se apenas do mamilo. Induz produção de ácido araqui-
os seus critérios para avaliar as condições do dônico pela decídua, o qual se transforma em
colo à indução, sem a soma dos pontos. prostaglandina F2α, potencializadora do efeito

Tabela 23.1 Escore de Bishop

Pontuação 0 1 2 3
Dilatação (cm) 0 1-2 3-4 5-6
Apagamento (%) 0-30 40-50 60-70 80
Altura da apresentação* –3 –2 –1/0 +1/+2
Consistência do colo Endurecido Médio Amolecido
Posição do colo Posterior Médio Anterior

*Conforme planos de De Lee.


Rotinas em Obstetrícia 345

parto. Seu uso se iniciou em 1980, quando se


QUADRO 23.2 tornaram disponíveis por via vaginal. Vários en-
Contraindicações à saios clínicos randomizados e controlados por
indução do TP placebo demonstraram eficácia de prostaglan-
dina E2 intracervical na indução do trabalho de
> Situação transversa parto, principalmente em pacientes com baixos
> Apresentação cefálica defletida escores de Bishop. Uma metanálise evidenciou
> Desproporção cefalopélvica menor falha de indução no grupo tratado quan-
> Placenta prévia oclusiva total do comparado a placebo. Não houve diferença
> Vasa prévia
significativa na incidência de efeitos adversos,
> Gestação múltipla
> Grande multiparidade como hiperestimulação, hipertonia ou sofrimen-
> Herpes genital ativo to fetal. Outra comparação entre prostaglandina
> Cesariana corporal, miomectomia ou E2 e ocitocina encontrou menor índice de falhas
metroplastia prévia e de ausência de resposta em 12 horas com a
> Carcinoma cervical invasivo primeira, não se observando, porém, diferença
nas taxas de cesariana. Apesar de ser o único
modificador cervical aprovado nos Estados Uni-
dos para pré-indução, alto custo, instabilidade
em temperatura ambiente e administração in-
contrátil da ocitocina. Foi sintetizada em 1955 tracervical limitam de modo importante seu uso.
e até hoje é o único agente liberado pelo Food Além disso, boa parte das pacientes que a utiliza
and Drug Administration (FDA) para indução do necessita também da ocitocina para desencade-
TP com feto vivo (Shyken; Petrie, 1995). ar TP efetivo. O uso intravenoso (PGF2α) e oral
(PGE2) de prostaglandinas não oferece vanta-
O miométrio inicia sua resposta à ocitocina em
gens em relação à ocitocina, pois o primeiro de-
torno de 20 semanas de gestação, aumenta gra-
termina maior frequência de hiperestimulação
dativamente até 30 semanas e alcança seu má-
uterina, e o segundo, maiores efeitos adversos
ximo no termo. Essa maior sensibilidade coinci-
maternos, como náuseas e vômitos.
de com um aumento no número de receptores
no miométrio e na decídua. Existem poucos re- Apesar de empregadas nos EUA, as prosta-
ceptores de ocitocina no colo uterino; portanto glandinas não são opções práticas para a in-
uma resposta uterina adequada não determina dução do parto, pois, embora eficazes, são
necessariamente dilatação cervical. de difícil armazenamento e administração e
de alto custo.
Na pré-indução, a ocitocina, empregada em bai-
xas doses por períodos prolongados, determina Misoprostol
apagamento e amolecimento do colo e pro-
move aumento do número de seus receptores O misosprostol – análogo da PGE1 – tem sido
no miométrio. Ocasiona mínima percepção de empregado tanto para modificação cervical
contrações pela paciente, permitindo o descan- quanto para a indução do TP, principalmente
so nessa fase inicial. Após 12 a 18 horas, rea- em países nos quais a PGE2 e PGF2α não estão
valiam-se as condições do colo (Shyken; Petrie, disponíveis. Inicialmente, foi empregado ape-
1995). Se houve aumento no escore de Bishop, nas em casos de morte fetal intraútero, princi-
infunde-se ocitocina em doses progressivamen- palmente em gestações de 2o trimestre, quan-
te maiores para realizar a indução. É considera- do a resposta à ocitocina é pequena. Após os
da alternativa dentre os agentes modificadores resultados de vários ensaios clínicos, teve seu
do colo, porque demanda muitas horas para uso expandido para gestações com feto vivo,
produzir apagamento do colo. pré-termo e a termo.
Em 2001, a Agência Nacional de Vigilância Sa-
Prostaglandinas nitária (Anvisa) licenciou o misoprostol para uso
As prostaglandinas PGE2 (dinoprostona) e obstétrico em ambiente hospitalar, na apresen-
PGF2α têm sido empregadas para indução do tação de comprimidos de 25 μg por via vaginal.
346 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Tem como vantagens principais a facilidade de hiperestimulação uterina com alteração da fre-
uso e o armazenamento (pode ser estocado à quência cardíaca fetal (FCF) com misoprostol (RR
temperatura ambiente), a elevada eficácia em 2,04; IC 95%: 1,49-2,80), não houve diferenças
promover contratilidade uterina, poucos efeitos significativas nos desfechos perinatais ou mater-
adversos sistêmicos e o baixo custo em relação nos, nem nas taxas de cesarianas.
às prostaglandinas.
Misoprostol vaginal versus ocitocina na
Misoprostol na pré-indução em colos pré-indução
desfavoráveis Foram incluídos 13 ensaios clínicos com 1.767
As publicações a respeito do uso de misoprostol participantes. Não houve diferença significativa
em gestações a termo iniciaram na década de entre misoprostol e ocitocina no que diz respeito
1990. Em 1997, Sanchez-Ramos publicou uma à falha em atingir TP em 24 horas (RR 0,66; IC
metanálise englobando resultados de 8 ensaios 95%: 0,44-1,00) e ao menor uso de anestesia
clínicos (1.000 mulheres), demonstrando clara- epidural (RR 0,82; IC 95%: 0,67-1,00). Houve
mente a eficácia do misoprostol na pré-indução. mais hiperestimulação uterina sem alteração da
Seu uso quase triplicou a chance de haver parto FCF (taquissistolia) com misoprostol (RR 2,22; IC
vaginal nas primeiras 24 horas de indução (RC 95%: 1,77-2,79). Os achados foram inconsis-
2,6; IC 95%: 1,9-3,7) e menor intervalo entre tentes no que diz respeito à taxa de cesarianas,
o início da indução e o parto (4,5 horas) quan- variando de drástica redução para não diferença
do comparado a controles. A ocorrência de ta- com uso de misoprostol. Não houve diferenças
quissistolia foi mais frequente com emprego de nos desfechos perinatais ou maternos. É impor-
misoprostol (RC 2,7; IC 95%: 1,8-4,0), já a de tante considerar que, para os dados citados foi
taquissistolia e de síndrome de hiperestimulação empregado um cálculo de dose média de miso-
uterina foi dependente da dose empregada, não prostol, pois as doses e os intervalos de adminis-
diferindo significativamente daquela observada tração eram muito variáveis nos trials.
com placebo ou dinoprostona (PGE2) quando
Baixa dose de misoprostol vaginal versus
são utilizadas doses menores ou iguais a 25 μg.
alta dose
Outras complicações intraparto e o número de
admissões em UTI neonatal não diferiram signi- Foram incluídos 13 ensaios com 2.138 partici-
ficativamente nos expostos a misoprostol ou a pantes. As doses comparadas variaram entre
dinoprostona e ocitocina. Essa metanálise não 12,5, 25, 50 e 100 μg a cada 4 a 6 horas.
encontrou redução nas taxas de cesariana. Os esquemas de menor dose demonstraram
Mais recentemente, uma revisão Cochrane in- igual eficácia em atingir o parto em 24 horas,
cluiu 70 ensaios clínicos comparativos entre mi- mas se associaram a maior uso de ocitocina
soprostol intravaginal com placebo, prostaglan- complementar (RR 1,23; IC 95%: 1,08-1,40),
dinas vaginais, prostaglandinas intracervicais particularmente em ensaios clínicos que em-
e ocitocina na pré-indução e indução de parto pregaram menos de 50 μg. Houve menor hi-
(Hofmeyr; Gülmezoglu, 2009). Os principais re- perestímulo uterino sem alterações de FCF (ta-
sultados foram os seguintes: quissistolia) (RR 0,61; IC 95%: 0,49-0,76) e com
alterações da FCF (RR 0,50; IC 95%: 0,36-0,71)
Misoprostol vaginal versus prostaglandinas com menor dose. Não houve diferença na via de
intravaginais na pré-indução parto, na taxa de liquido amniótico tinto de me-
cônio ou nos eventos adversos maternos. Não
Foram incluídos 25 ensaios clínicos randomiza-
houve mortes maternas e apenas uma morte
dos (ECRs) com 3.651 participantes. Com o uso
perinatal foi descrita.
de misoprostol, houve menor falha em atingir
TP em 24 horas (RR 0,80; IC 95%: 0,57-0,87), Pelos resultados encontrados nessa metanálise,
menor necessidade de uso complementar de conclui-se que o uso intravaginal de misoprostol
ocitocina (RR 0,65; IC 95%: 0,57-0,73) e me- associa-se à menor falha de indução em 24 ho-
nor necessidade de analgesia epidural (RR 0,91; ras nas comparações com prostaglandinas intra-
IC 95%: 0,84-0,99). Apesar de ocorrer mais vaginais e talvez tendência (intervalo chega a 1)
Rotinas em Obstetrícia 347

de menor falha quando comparado à ocitocina, ginal, taxa de cesariana e falha de parto em 24
com menor uso de analgesia epidural. Apesar horas foi similar nos dois grupos, mas o tempo
de a necessidade suplementar de ocitocina ser entre o início do tratamento e o parto foi ines-
maior com doses inferiores a 50 μg, o esquema peradamente maior com misoprostol (13,1 ±
de baixa dose (25 μg a cada 4 horas) deve ser o 10,2 com ocitocina vs. 16,3 ± 7,3 horas com
preferido, pois mantém a mesma eficácia com misoprostol), a despeito das pacientes tratadas
menores riscos de hiperestimulação uterina. com misoprostol poderem usar ocitocina suple-
mentar. Também não houve diferenças na ne-
Para esses autores, mesmo sendo o misoprostol cessidade de analgesia peridural, nos desfechos
igualmente eficaz às outras prostaglandinas na adversos maternos (hiperestimulação, infecção
indução do TP, com baixo custo e conveniência ovular, hemorragia pós-parto, transfusão san-
de uso, a falta de regimes de tratamento padro- guínea, endometrite, ruptura uterina) e neona-
nizados torna seu uso problemático, pelo me- o o
tais (Apgar no 1 e no 5 minuto, pH da artéria
nos nos EUA. Em 2002, o FDA aprovou a inclu- umbilical < 7, internação em UTI neonatal).
são de uso do misoprostol durante a gestação
para modificação cervical e indução do parto, Esse estudo não reproduziu a prática obsté-
mas não se posicionou em relação à eficácia trica no Brasil, onde comumente se emprega
e à segurança da droga, nem estipulou doses misoprostol até tornar o colo favorável ou por
ou intervalo de doses. Como a relação custo- 24 horas e não somente por 12 horas, mas a
-benefício e a análise de riscos potenciais po- vantagem da ocitocina demonstrada poderia
dem variar em diferentes cenários, é importante recomendar a mudança dessa prática. A visão
que profissionais e órgãos governamentais edi- conjunta desses estudos sugere que o miso-
tem diretrizes para o seu uso, considerando as prostol possa ter efeitos superiores à ocitocina
evidências disponíveis e as circunstâncias locais em desfechos intermediários, mas que não se
(p. ex., não disponibilidade de prostaglandinas reflete na redução da frequência de cesarianas
PGE2 e PGF2α). e de diminuição total do período de parto. Sua
vantagem de administração e a segurança de-
O benefício do misoprostol em desfechos monstrada nas metanálises permanecem como
relevantes, como redução das taxas de ce- possibilidades terapêuticas atraentes. Recente-
sarianas, não tem sido claramente demons- mente o American College of Obstetricians and
trado. Gynecologists publicou diretrizes sobre a indu-
ção do TP, e incluiu o misoprostol como uma
Um ensaio clínico recente (Fonseca et al., 2008)
das possibilidades para isso, considerando que
foi especificamente desenhado para verificar o
existe experiência clinica e publicações científi-
efeito do misoprostol na taxa de partos vaginais
cas suficientes para garantir sua segurança de
após indução, apresentando resultados de certa
uso, quando empregado em doses apropriadas
forma antagônicos aos descritos anteriormente.
(ACOG…, 2009).
Foram incluídas pacientes com gestação única,
apresentação cefálica, colo desfavorável (Bishop O misoprostol tem sido utilizado para a in-
< 5) e mais de 24 semanas (93% com mais de dução do parto, mas não se documentou
37 semanas) de idade gestacional. As pacientes sua superioridade sobre a ocitocina em des-
foram randomizadas para receber ocitocina so- fechos primordiais, como a taxa de cesaria-
zinha (iniciando com 2-4 mUI/min até 40 mUI/ na.
min) ou pré-indução com misoprostol (25 μg a
cada 4 horas, máximo de 3 doses + ocitocina Misoprostol na indução com feto morto no
o
complementar se necessário). Calculou-se em 2 trimestre
540 pacientes o tamanho da amostra, mas o Nas situações de feto morto no 2o trimestre, o
estudo foi interrompido com aproximadamente emprego de misoprostol vaginal resulta em me-
160 pacientes por grupo devido à recomenda- nor tempo de indução se comparado ao uso de
ção do comitê de análise interina, pois não se ocitocina (14 vs. 31 horas), sobretudo nas pa-
vislumbrava possibilidade de haver real vanta- cientes com colo desfavorável e naquelas com
gem do misoprostol. A frequência de parto va- bolsa íntegra (13,8 vs. 26,9 horas). Não houve
348 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

diferença entre pacientes com Bishop igual ou para infusão contínua deve ser preparada com
superior a 6 ou bolsa rota. 10 U de ocitocina em 1.000 mL de soro fisio-
lógico ou Ringer lactato (concentração de 10
Comparado o PGE2 oral, à misoprostol in-
mUI/mL), colocada em bomba de infusão e co-
travaginal apresentou resultados similares no
nectada a outra via que contenha solução fisio-
que tange ao tempo de indução de gestação
lógica e eletrólitos, para garantir rápida adminis-
com feto morto no 2o trimestre, sendo a taxa
tração de fluidos em casos de hiperestimulação
de resolução com misoprostol de 89% em 24
uterina ou sofrimento fetal.
horas. Efeitos (febre, diarreia, vômitos, dor ab-
dominal) adversos foram mais frequentes com A depuração da ocitocina é renal e hepática,
a via oral. decorrente da ação da ocitocinase, enzima pro-
duzida pela placenta e com alta atividade du-
Um ECR comparou o misoprostol via oral e in-
rante a gestação, o que determina meia-vida de
travaginal na indução de parto com feto morto,
5 a 17 minutos. Assim, só a infusão intravenosa
no 2o e no 3o trimestres de gravidez. No gru-
contínua permite a manutenção de níveis san-
po da administração oral, o tempo médio entre
guíneos constantes e o rápido controle da dinâ-
indução e parto foi significativamente menor,
mica uterina com o ajuste de dose.
resultando em maior número de partos dentro
de 24 horas, porém os efeitos gastrintestinais Ainda existe muita controvérsia com relação às
foram mais frequentes. doses empregadas na indução do TP. Alguns au-
tores advogam doses baixas (entre 2 a 6 mUI/
Assim, a recomendação atual é que se use pre-
min), e outros as preferem mais elevadas (Tab.
ferencialmente a via vaginal, na dose de 400
23.2).
μg a cada 4 horas até a eliminação do feto. O
tempo médio para expulsão é cerca de 18 horas Para os primeiros, o uso de doses “fisiológicas”
(nível de evidência I) (Akoury et al., 2004). parece ser suficiente para provocar contrações
uterinas sem riscos de hiperestimulação e sofri-
O uso de misoprostol nas induções de feto mento fetal. Aqueles que utilizam doses mais
morto no 2o trimestre resulta em menor altas justificam que o objetivo principal é desen-
tempo de indução. cadear dinâmica uterina regular (3 contrações
em 10 minutos) em curto período de tempo. Os
limites máximos de ocitocina referidos na litera-
Prescrição dos métodos de tura são extremamente variáveis, entre 20 e 400
modificação cervical e de mUI/min, e parecem ser puramente arbitrários.
Assim, a dose sempre deverá ajustar-se à respos-
indução do trabalho de parto ta uterina e às condições fetais, com tendência
Ocitocina atual para emprego de doses totais não supe-
riores a 16-20 mUI/min. Pacientes com menores
A ocitocina é administrada pelas vias intrave-
dilatação cervical, paridade e idade gestacional,
nosa ou intramuscular, em preparações que
bem como aquelas com maior superfície corpo-
contêm 10 UI/mL de solução. Na pré-indução,
ral, podem necessitar de doses maiores.
preconiza-se infusão contínua com doses não
superiores a 4 mUI/min, durante 12-18 horas Os intervalos dos incrementos de dose também
(geralmente à noite), mantendo-se o feto sob são discutíveis. Rotineiramente recomendam-
monitoração eletrônica contínua. A solução -se ajustes a cada 20-30 minutos, tendo-se de-

Tabela 23.2 Protocolos de indução com ocitocina: dose baixa e alta

Regime Dose inicial Ajuste a cada aumento Intervalo do ajuste de dose (min)

Dose baixa 0,5-2 1-2 mUI/min 15-40


Dose alta 6 3-6 mUI/min 15-40

Fonte: ACOG… (2009).


Rotinas em Obstetrícia 349

monstrado menores tempo de indução e índice A hipercontratilidade uterina compromete a


de falhas com esse intervalo. Outros estudos, perfusão uteroplacentária, podendo ocasionar
porém, apontam eficácia semelhante com ajus- sofrimento fetal. Deve ser manejada pronta-
tes a intervalos de 40-60 minutos (Lazor et al., mente, com diminuição ou suspensão da infu-
1993; Mercer et al.,1991). Até o momento, não são, o que causará rápido relaxamento uterino,
existe uma clara evidência da superioridade de pela pequena meia-vida da ocitocina. Se ainda
um ou outro esquema. assim persistir o hiperestímulo e houver sinais de
sofrimento fetal, medidas de ressuscitação in-
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
traútero (mudança para decúbito lateral esquer-
adota o protocolo de indução em regime de
do, hidratação, agentes tocolíticos) devem ser
dose alta (Tab. 23.3) com ajustes de 5 mUI a
iniciadas. As medidas preventivas dessa situação
cada 20 minutos. A dinâmica uterina e os ba-
incluem diminuição de dose ou até descontinua-
timentos cardíacos fetais (BCFs) são avaliados
ção do fármaco quando a paciente atinge a fase
antes de cada ajuste. Os BCFs devem ser mo-
ativa do trabalho de parto. Há igual necessidade
nitorados também durante e após a contração
de redução temporária de dose ao ocorrer am-
uterina para assegurar o bem-estar fetal. Após niorrexe ou proceder-se à amniotomia.
atingir contrações uterinas regulares (fase ativa
do TP), as doses são mantidas. A ruptura uterina é um evento bastante grave,
porém raro, que incide em cerca de 0,2 a 0,5%
Os riscos associados à infusão de ocitocina in- dos TPs. São fatores de risco: multiparidade, so-
cluem intoxicação hídrica, hipotensão, hipe- bredistensão uterina (polidrâmnio, gestação ge-
restimulação uterina com ou sem sofrimento melar) e apresentações fetais anômalas.
fetal agudo, ruptura uterina, descolamento de
placenta e, possivelmente, hiperbilirrubinemia O Quadro 23.3 resume as principais vantagens e
neonatal. O uso prolongado também está rela- desvantagens da ocitocina.
cionado com hipotonia uterina pós-parto.
Quando usada em altas doses, a ocitocina apre- Misoprostol
senta efeitos vasodilatador e antidiurético, de- O misoprostol admite as vias oral, sublingual,
correntes de sua similaridade estrutural com bucal e retal. As doses utilizadas para modifica-
a vasopressina, outro hormônio liberado pela ção e indução cervicais variam de acordo com
neuro-hipófise. A administração intravenosa em a idade gestacional e aviabilidade do concepto.
bolus pode resultar em hipotensão grave, hipo- Dose intravaginal de 25 μg a cada 3-4 horas
perfusão coronariana e parada cardíaca, efei- em gestações a termo com feto vivo mantém a
tos ainda mais pronunciados em pacientes sob eficácia e associa-se à menor ocorrência de ta-
anestesia. Intoxicação hídrica e hiponatremia quissistolia, sendo a atualmente recomendada
podem ser evitadas com a infusão criteriosa de (Hofmeyr, 2009). A administração é suspensa ao
líquidos e eletrólitos. atingirem-se 3 contrações fortes em 10 minutos

Tabela 23.3 Protocolo de bomba de Infusão de ocitocina no HCPA

Vazão (mL/h) Volume (mL) Concentração

30 mL/h 500 mL 5 mUI/min


60 mL/h 500 mL 10 mUI/min
90 mL/h 500 mL 15 mUI/min
120 mL/h 500 mL 20 mUI/min
150 mL/h 500 mL 25 mUI/min
180 mL/h 500 mL 30 mUI/min
210 mL/h 500 mL 35 mUI/min
240 mL/h 500 mL 40 mUI/min
350 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

QUADRO 23.3
Vantagens e desvantagens do uso da ocitocina

Vantagens Desvantagens

Segurança no uso (curta Pobre resposta em colos desfavoráveis (baixo escore de Bishop)
meia-vida)
Riscos conhecidos de longa data Necessidade de infusão intravenosa, com restrição relativa no
leito
Boa resposta em rupreme Risco de intoxicação hídrica
Hiperbilirrubinemia fetal*
Hipotensão, se administrada em bolus intravenoso**
*
Efeitos dependentes da dose administrada. No caso da intoxicação hídrica, os riscos aumentam em doses maiores que 20
mUI/min.
**
Efeito que pode ser ominoso se a paciente já estiver hipovolêmica.

ou se alcançarem as doses máximas descritas empregadas. A principal preocupação durante


(150 e 300 μg, respectivamente, para gestações seu emprego é a estimulação uterina excessiva.
a termo ou pré-termo) ou, no máximo, 3 doses. Nessa circunstância, recomenda-se lavagem da
o vagina com soro fisiológico, quando tal via foi
Para induções no 2 trimestre, com fetos mor-
empregada, e medidas de ressuscitação intraú-
tos, empregam-se doses maiores, preferen-
tero se houver sofrimento fetal. O prognóstico
temente por via vaginal para evitar os efeitos
neonatal não parece ser alterado pelo uso de
adversos sistêmicos. A dose recomendada é de
misoprostol, porém nenhum dos estudos dispo-
400 μg a cada 4 horas até a eliminação do feto.
níveis até o momento foi delineado para verifi-
Um ensaio clínico comparou misoprostol em car esse desfecho, o que exige cautela na avalia-
forma de gel e comprimidos vaginais. O inter- ção desse resultado.
valo médio entre a administração e o início da
Ruptura uterina é mais frequente em casos de
contratilidade uterina (13,8 vs. 18,2 horas) e o
indução, independentemente do método, tam-
parto (22,4 vs. 29 horas) foi menor com o uso
bém ocorrendo com misoprostol. Em estudo de
de comprimidos (p < 0,01), bem como o núme-
Sciscione e colaboradores, a ruptura ocorreu em
ro médio de inserções do fármaco (1,4 vs.1,9) e
uma mulher com duas cicatrizes de cesarianas,
a necessidade de complementação com ocitoci-
mediante o uso de misoprostol vaginal, condi-
na (p < 0,05). A umidificação dos comprimidos
ção que contraindica o uso desses agentes.
de misoprostol para uso vaginal com 1 mL de
ácido acético a 3% não conferiu melhor respos- O Quadro 23.4 resume as principais vantagens e
ta (Sanchez-Ramos, 2002a; 2002b). desvantagens do misoprostol.
Frequentemente há necessidade de associar
ocitocina na indução do TP quando prostaglan- Métodos mecânicos de indução
dinas são empregadas como modificadores cer- Os métodos mecânicos de indução são uma al-
vicais em colos desfavoráveis. Recomenda-se, ternativa aos farmacológicos.
então, um intervalo mínimo de 4 horas para se
iniciar a infusão de ocitocina, a fim de se evitar Laminárias
a somação de efeitos e hiperestímulo uterino.
Com uso descrito desde o século XVIII, a lami-
O misoprostol raramente induz náuseas, vômi- nária era utilizada como dilatador cervical por
tos, dor abdominal, diarreia e febre, efeitos ad- suas propriedades osmóticas, promovendo uma
versos que parecem relacionar-se a doses e vias expansão radial lenta; entretanto sua utilização
Rotinas em Obstetrícia 351

QUADRO 23.4
Vantagens e desvantagens do uso do misoprostol

Vantagens Desvantagens

Boa resposta em colos desfavoráveis Riscos menos conhecidos que a ocitocina


Tendência menor de falha em atingir Meia-vida longa
TP em 24 h vs. ocitocina Sem diferença na taxa de cesarianas
Não há necessidade de infusão intravenosa Contraindicação em cesarianas prévia
Maior risco de hiperestimulação uterina

clínica tem sido preterida pelo risco de infecção minárias, higroscópicos) de maturação cervical
e pela disponibilidade de outros métodos mais não se relacionaram com maior risco de infec-
efetivos. ção (Heinemann et al., 2008). São necessários
mais estudos para avaliar esse desfecho, mas
Sonda de Foley frente ao conhecimento atual, o uso de Foley
A sonda de Foley transcervical age tanto por deve ser limitado a situações em que não se
ação mecânica sobre a cérvice quanto pela li- possa empregar prostaglandinas, considerando-
beração de prostaglandinas, por meio da sepa- -se sempre a razão risco-benefício.
ração entre cório e decídua. A sonda é inserida
Amniotomia
através do orifício cervical interno e mantida no
espaço extra-amniótico até a sua expulsão es- Não há evidência suficiente sobre os efeitos
pontânea (geralmente em 12 horas) ou remo- da amniotomia como método isolado para in-
ção após 24 horas. dução do TP. Pode acarretar aumento do risco
de infecção se houver demora no início do TP,
A média de mudança no escore de Bishop é de além do risco inerente de prolapso de cordão.
3,3 para 5,3 (Gelber; Sciscione, 2006). Não há A amniotomia como forma de correção do TP
dados comparativos com placebo. O uso combi- é um método bastante difundido (ver Cap. 21,
nado de sonda de Foley e ocitocina não foi mais Assistência ao trabalho de parto). A amniotomia
efetivo do que o uso apenas da sonda (Pettker só deve ser realizada em apresentações cefálicas
et al., 2008). Comparada ao uso de prostaglan- fixas (encaixada).
dinas, a indução com sonda de Foley mostrou
efetividade similar; a combinação de sonda e Descolamento de membranas
prostaglandinas não foi mais efetiva do que o Consiste na separação das membranas amnioco-
uso de prostaglandinas isoladas. Além disso, as riônicas do segmento inferior pelo toque vaginal,
prostaglandinas estão associados a maior risco provocando a liberação local de prostaglandinas
de hiperestimulação uterina com ou sem alte- locais. Uma metanálise do Cochrane avaliou a
ração na FCF quando comparadas à indução eficácia do procedimento em induzir o trabalho
com sonda de Foley. Com relação ao risco de de parto em gestações a termo, comparando a
infecção, dados de metanálise da Cochrane de não tratamento, uso de prostaglandinas e ocito-
2001 não evidenciaram aumento no risco. Ou- cina (22 trials, 2.797 pacientes). Foi demonstrado
tra metanálise encontrou dados discordantes. redução na duração da gestação e na frequência
Heinemann, em metanálise que incluiu 30 ECRs, de gestações que se estendem além de 41 (RR
encontrou aumento significativo de corioamnio- 0.59, 95% CI 0.46 to 0.74) e 42 semanas (RR
nite nas pacientes que usaram sonda de Foley 0.28, 95% CI 0.15 to 0.50). Para evitar uma in-
em comparação com o uso isolado de métodos dução formal, o descolamento de membranas
farmacológicos. Outros métodos mecânicos (la- devera ser realizado em 8 pacientes (NNT = 8).
352 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Não houve diferença no risco de infecção ma- os índices de cesarianas (Biswas, 2003). Uma re-
terna ou neonatal (Boulvain; Stan; Irion, 2009), visão sistemática não encontrou aumento signifi-
e não houve redução das taxas de cesariana. Os cativo no risco de ruptura uterina em indução de
autores concluem que o método pode ser em- TP com ocitocina nessas pacientes comparado a
pregado em pacientes que provavelmente vão pacientes com cesarianas prévia em TP espon-
necessitar indução, uma vez que reduz a taxa de tâneo; entretanto o primeiro grupo apresentou
indução formal, mas que não há justificativa para maior risco de evolução para cesariana do que
sua realização de rotina próximo do termo em o segundo (McDonagh; Osterweil; Guise, 2005).
gestações não complicadas. Quando empregado,
As evidências existentes não permitem conclu-
seus potenciais benefícios devem ser cotejados
sões definitivas sobre o risco de ruptura ute-
com os efeitos adversos decorrentes do método,
rina em pacientes com uma cesariana prévia
como desconforto materno, sangramento vagi-
submetidas à indução do parto com ocitocina.
nal e contrações irregulares. Apesar de a técnica
O ACOG recomenda aconselhamento das pa-
ter sido associada a maior risco de ruptura pre-
cientes quanto aos possíveis riscos de ruptura
matura de membranas (Hill et al., 2008), outras
uterina e riscos perinatais associados. A taxa de
revisões sistemáticas, incluindo uma com 1.525
sucesso na indução de parto após cesariana va-
mulheres, não encontraram esse resultado.
ria de 60 a 80%, sendo que história de parto
vaginal prévio e condição do colo uterino são
fatores relacionados a maior taxa de sucesso. O
Indução em situações parto vaginal após duas cesariana prévias possui
um risco inaceitável de ruptura uterina, cerca de
especiais 5 vezes maior do que com apenas uma cesaria-
Cesariana prévia na prévia, sendo indicação de cesariana.
A tentativa de realização de parto vaginal após O conhecimento da causa da cesariana previa-
uma cesariana prévia com cicatriz uterina seg- mente realizada, das condições de realização e
mentar parece ser um método seguro de reduzir de suas possíveis complicações pode auxiliar na

QUADRO 23.5
Recomendações ACOG segundo níveis de evidência

Nível A > Análogos da PGE são efetivos para maturação cervical e indução do parto.
> Tanto regimes de dose baixa quanto de dose alta de ocitocina são apropriados para
pacientes com indicação de indução do parto.
> O uso de misoprostol via vaginal antes de 28 semanas de gestação parece ser o
método mais eficaz para indução do parto, independentemente do escore de Bishop.
O uso de ocitocina em doses altas é uma alternativa aceitável.
> 25 μg de misoprostol deve ser considerada a dose inicial para maturação cervical e
indução do parto. A frequência de administração não deve ser maior do que a cada 3-6 h.
> PGE2 intravaginal parece ser um método seguro e efetivo para a indução de parto em
pacientes com ruptura prematura de membranas.
> O uso de misoprostol em pacientes com cesariana ou cirurgia uterina prévia está
associado a aumento do risco de ruptura uterina, devendo ser evitado no 3o trimestre
de gestação.
> A sonda de Foley é uma alternativa aceitável e efetiva para maturação cervical e
indução do parto
Nível B > O uso de misoprostol na dose de 50 μg a cada 6 h, para indução do parto, pode ser
apropriado em algumas situações. Entretanto, o uso dessa dose está associado a um
aumento do risco de complicações, incluindo taquissistolia com alterações na FCF.
Rotinas em Obstetrícia 353

tomada de decisão. No HCPA, realiza-se moni- Sciscione; Srinivasana, 2004). Um protocolo ca-
toração fetal contínua durante a indução do TP nadense sobre o tema (SOGC…, 2005) admite
com ocitocina em cesariana prévia. O uso judi- o uso de sonda de Foley para maturação cervical
cioso de ocitocina, evitando-se doses excessivas em pacientes com essas condições.
ou períodos prolongados sem evidência de pro-
gressão, parece ser capaz de diminuir os índices O uso de misoprostol para maturação cervical e
elevados de cesariana. indução do parto no 3o trimestre em pacientes
com cicatriz uterina prévia está associado a alto
Outra opção nessa situação seria a indução do risco de ruptura uterina, não sendo recomenda-
parto com métodos mecânicos. Os estudos são do pela ACOG.
discordantes. Alguns demonstram que o risco de
ruptura uterina em indução com sonda de Foley O uso de analgesia, nesses casos, é controverso.
seguido de ocitocina é similar ao de pacientes Certos autores citam a possibilidade de masca-
com cesariana prévia com TP espontâneo (Bujold; ramento do quadro de ruptura uterina. O pro-
Blackwell; Gauthier, 2004; Ravasia; Wood; tocolo da ACOG recomenda analgesia epidural,
Pollard, 2000). Outro estudo mostra aumento do desde que se mantenha monitoração constante.
risco de ruptura uterina com uso de sonda de Fo- No Quadro 23.5 podemos verificar as indicações
ley em pacientes com cesariana prévia (Hoffman; para indução e seus níveis de evidência.

REFERÊNCIAS

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LEITURAS SUGERIDAS

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TESTE SEUS CONHECIMENTOS

1. Os esquemas de indução de parto com 2. É correto afirmar em relação à indução com


misoprostol em baixa dose (< 50 mcg) sonda Foley:
demonstraram: a. Não deve ser utilizada.
a. Maior uso de ocitocina. b. Somente deve ser indicada se o feto
b. Maior hiperestímulo uterino. estiver morto.
c. Maior taxa de cesarianas. c. É prescrita com índice de Bishop acima
d. Menor taxa de líquido meconial. de 6.
e. Menores eventos adversos maternos. d. Está mais associada ao hiperestímulo
uterino.
e. É de eficácia similar às prostaglandinas.

Para consultar as respostas desta seção e outros conteúdos complementares, acesse o hotsite
do livro: www.grupoaeditoras.com.br/rotinasginecoeobstetricia.
24

Parto Vaginal Instrumentado


Fernando Freitas
Ana Maria Carvalho Vidal
Teresinha Zanella
Sérgio H. Martins-Costa
José Geraldo Lopes Ramos

O parto vaginal instrumentado é aquele em que Nos EUA, aproximadamente 5% de todos os


o fórcipe ou o vácuo-extrator (também conhe- partos são instrumentados. No Hospital de Clí-
cido como ventosa) são utilizados para auxiliar nicas de Porto Alegre (HCPA), a incidência de
no nascimento. O uso criterioso desses instru- fórcipe em 2007 foi de 4,59%, de um total de
mentos tem grande importância na assistência 3.585 nascimentos. Em 2008, foram realizados
ao segundo período do parto. 3.875 partos, sendo 1,96% instrumentados
com fórcipe. Em 2009, essa taxa vem manten-
do-se em torno de 2%.

Incidência
A taxa total dos partos vaginais instrumen-
Indicações e contraindicações
tados vem diminuindo nos últimos anos. Geralmente as indicações para o uso de vá-
Observa-se, entretanto, que a utilização do cuo-extrator e de fórcipe são as mesmas, não
vácuo-extrator vem aumentando, com uma existindo indicação absoluta (Quadro 24.1). Cada
incidência atual 4 vezes maior que a do fórcipe caso deverá ser avaliado individualmente. As
(Martin et al., 2007). contraindicações estão citadas no Quadro 24.2.

QUADRO 24.1
Possíveis indicações para uso de vácuo-extrator ou de fórcipe

> Complicações maternas que contraindiquem a manobra de Valsalva: distúrbios cardiovasculares,


pulmonares, neurológicos, descolamento de retina
> Dificuldade ou impossibilidade de utilização da prensa abdominal: distúrbios neurológicos,
musculares, eclâmpsia, hérnias abdominais, anestesia condutiva (entre outras)
> Condição fetal não tranquilizadora
> Prolapso de cordão (indicação exclusiva para fórcipe)
> Sangramento intenso (suspeita de descolamento prematuro de placenta)
> Falha da progressão da descida e/ou da rotação da apresentação
> Período expulsivo prolongado
> Exaustão materna
> Cabeça derradeira no parto pélvico (indicação somente para fórcipe de Piper)
356 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

QUADRO 24.2
Contraindicações para uso de vácuo-extrator ou de fórcipe

> Distúrbios desmineralizantes fetais conhecidos: osteogênese imperfeita


> Distúrbios hemorrágicos fetais: hemofilia, trombocitopenia aloimune
> Cabeça fetal não encaixada
> Posição fetal desconhecida
> Apresentações anômalas: face (mento posterior), fronte
> Suspeita de desproporção cefalopélvica
> Prematuridade fetal: contraindicação relativa. O vácuo-extrator não deve ser utilizado antes de
34 semanas de gestação devido ao aumento do risco de hemorragia intraventricular (ACOG,
2000)
> Peso fetal: macrossomia fetal pode estar associada com o aumento de risco de danos fetais em
partos instrumentados.

> A presença de pessoa capacitada para acom-


Condições de aplicabilidade panhamento contínuo da parturiente duran-
te todo o trabalho de parto e parto, forne-
> Dilatação completa. cendo suporte emocional e físico, além de
> Membranas amnióticas rotas. orientações específicas, tem sido uma medi-
da capaz de reduzir a necessidade de inter-
> Sem impedimento de partes moles ou duras venções operatórias.
do trajeto.
> Utilizar o partograma, administrar ocitocina e
> Volume (cabeça fetal) e espaço (pelve) com- retardar os puxos em pacientes com analge-
patíveis (ausência de desproporção cefalo- sia também são intervenções alternativas com
pélvica). nível de evidência IA (Saunders et al., 1989).
> Cabeça encaixada. > Outras medidas alternativas são: proporcio-
nar período de descanso materno, mudança
> Diagnóstico correto da variedade de posição
na posição materna, adequação da analgesia
e altura da apresentação.
e reavaliação das condições clínicas, do pa-
> Médico com conhecimento e habilidade na drão de monitoração da frequência cardíaca
utilização do instrumento escolhido. fetal, do peso fetal estimado (considerar pos-
sibilidade de distocia de ombro na macrosso-
> Presença de equipe capacitada para ressusci- mia fetal) e da posição fetal.
tação neonatal.
> A rotação manual do polo cefálico, além de
> Possibilidade de realização de cesariana ime- ser uma alternativa à instrumentação, é con-
diata se necessário. siderada uma arte da obstetrícia.
> Regra da técnica consciente: segurança de > A realização de episiotomia e a indicação de
que todos os pré-requisitos foram preenchi- cesariana são intervenções operatórias a con-
dos. Não se admite presunção. siderar.

Alternativas Classificação
> Várias intervenções não operatórias têm sido Classificação para partos vaginais assistidos (fórci-
efetivas na diminuição da necessidade de ins- pe e vácuo-extrator) considerando-se os dois prin-
trumentação do parto vaginal. cipais fatores de risco para o binômio materno-fe-
Rotinas em Obstetrícia 357

tal: a altura da apresentação e o grau de rotação > Avaliação dos riscos e benefícios associados a
(American Academy of Pediatrics; American Col- cada instrumento para cada paciente.
lege of Obstetricians and Gynecologists, 2002).
> Grau de analgesia materna.
Fórcipe ou vácuo-extrator de alívio Como regra, considera-se o vácuo-extrator mais
> O couro cabeludo é visível no introito vaginal seguro para a mãe (associado a menos trauma-
sem a separação dos lábios. tismos maternos), enquanto o fórcipe é conside-
rado provavelmente mais seguro para o feto (as-
> O crânio fetal ocupa o assoalho pélvico. sociado à menor incidência de cefaloematoma
> A sutura sagital está no diâmetro anteropos- e hemorragia retiniana). Comparativamente, o
terior, ou occipitossacro (direita ou esquerda), vácuo é de mais fácil aplicação, necessita de me-
ou occipitopúbico (direita ou esquerda). nos analgesia materna, determina menos força
sobre a cabeça fetal, não alterando o diâmetro
> A cabeça fetal está no períneo. dela. O fórcipe, entretanto, pode ser utilizado
> A rotação não excede 45º. em fetos prematuros (< 34 semanas), na cabeça
derradeira do parto pélvico com feto único ou
no segundo gemelar, em fetos com suspeita de
Fórcipe ou vácuo-extrator baixo
coagulopatia ou trombocitopenia, em pacientes
> O ponto mais baixo da cabeça fetal está no com contraindicação para manobra de Valsalva,
plano ≥ +2 de De Lee, mas não no assoalho em partos sob anestesia geral, em casos de pro-
pélvico. lapso de cordão e em variedades de posição que
> Rotação ≤ 45° da esquerda ou direita ante- necessitem maiores graus de rotação.
rior para occipitopúbica – OP, ou da esquerda Considerando a eficácia dos dois instrumentos,
ou direita posterior para occipitossacra – OS. bem como a menor morbidade materna quan-
> Rotação > 45º. do comparado o parto vaginal instrumentado
com a cesariana, tanto o American College
Fórcipe ou vácuo-extrator médio como o Royal College of Obstetricians and Gy-
necologists preconizam o uso de ambos, fórcipe
> A cabeça fetal encontra-se acima do plano
e vácuo-extrator, reforçando a necessidade de
+2 de De Lee, porém insinuada.
treinamento para esses equipamentos nos pro-
Fórcipe ou vácuo-extrator alto foi eliminado des- gramas de residência médica.
ta classificação, uma vez que não é mais utiliza-
do na obstetrícia moderna.
O emprego com sucesso do fórcipe médio Fórcipe obstétrico
na obstetrícia moderna pode até ser uma O primeiro fórcipe foi projetado no final do sé-
brilhante demonstração de técnica, mas é culo XVI pela família Chamberlen. Modificações
má conduta obstétrica. sucessivas foram tentadas desde então, dando
Quanto mais penetrada a cabeça fetal na origem a diversos tipos de fórcipe. Há descrição
bacia, mais se tem garantia da não morbi- de cerca de 700 tipos, porém, na atualidade, três
dez do fórcipe. são os mais usados: Simpson e Kielland, para as
apresentações de vértice, e Piper, para cabeça
derradeira nas apresentações pélvicas (Fig. 24.1).
Escolha do instrumento O fórcipe é constituído por dois ramos articulá-
veis, sendo que cada ramo possui quatro compo-
A escolha do instrumento a ser utilizado deve
nentes: o cabo, a articulação, a haste e a colher.
ser baseada nos seguintes fatores:
O instrumento foi projetado com duas curvatu-
> Nível de treinamento com cada instrumento.
ras; uma para acomodar a cabeça fetal e a outra
> Disponibilidade do instrumento. para coincidir com a curvatura pélvica (Fig. 24.2).
358 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Figura 24.1 Da esquerda para a direita: fórcipe de Simpson, fórcipe de Kielland, fórcipe de Piper.

Pega ideal > A sutura sagital estará perpendicular ao pla-


no das hastes, em toda a sua extensão.
A pega ideal é a biparietomalomentoniana. As
colheres estarão simetricamente dispostas a > Ao se tentar introduzir um dedo entre o fór-
cada lado da cabeça fetal, apreendendo os pa- cipe e a cabeça fetal, não se deverá ter aces-
rietais e os malares, e a ponta atingirá a altura so às fenestras.
das mandíbulas, ocupando o espaço entre o
pavilhão auricular e a fossa orbitária, conforme Técnica
pode ser visto na Figura 24.3. > Posição de litotomia, sendo que a nádega
São critérios para o diagnóstico da pega ideal: deve ultrapassar ligeiramente o bordo da
mesa ginecológica.
> A pequena fontanela (lambda ou fontanela
posterior) deverá estar na distância de um > Analgesia peridural do período de dilatação
dedo transverso do plano das hastes. ou pelo bloqueio bilateral dos pudendos.

1 2 3 4

Figura 24.2 Cabo (1), articulação (2), haste (3) e colher (4). (Acima: curvatura pélvica; abaixo: curvatura
cefálica.)
Rotinas em Obstetrícia 359

Recomenda-se, no fórcipe médio, a manobra de


Pajot. Com a mão direita, segura-se o cabo e a
articulação, e a mão esquerda é colocada sobre
as hastes para que a força de tração seja exerci-
da no eixo da pelve (Fig. 24.5).
Uma boa técnica para se efetuar a tração consis-
te em sobrepor uma das mãos à outra quando
ocorre a aplicação do fórcipe baixo ou de alívio,
uma vez que, nesses planos, a força se efetua
no eixo da pelve (Fig. 24.6).
Figura 24.3 A pega ideal, biparietomalomento-
niana.
Posições diretas
> Esvaziamento da bexiga (sondagem vesical).
Occipitopúbicas (OP)
Nas posições OP, o ramo esquerdo será o pri-
> Verificação das condições de aplicabilidade
meiro a ser introduzido. A mão direita servirá
do fórcipe.
de guia, sendo colocada entre a hemipelve es-
> Avaliar necessidade de episiotomia. querda e a cabeça fetal. O ramo esquerdo deve
ser segurado pela mão homônima do médico,
> Apresentação do fórcipe (o fórcipe é coloca-
como se fosse um punhal ou uma caneta. A
do à frente do períneo, imitando a posição
ponta da colher é delicadamente introduzida na
que irá ocupar quando aplicado na pelve).
vagina entre a cabeça fetal e a superfície pal-
> Aplicação do fórcipe escolhido. mar dos dedos. O cabo é seguro de início quase
verticalmente, mas, à medida que a colher se
> Confirmação da boa pega. adapta à cabeça fetal, é abaixado a uma posição
> Tração (rotação se necessário) e extração. próxima à horizontal. Repete-se a mesma técni-
ca de introdução com a colher direita, tendo a
A tração deve ser perpendicular aos planos pélvi- mão esquerda como guia (Figs. 24.7 e 24.8). Ar-
cos de acordo com a altura da cabeça (Fig. 24.4). ticulam-se os ramos e procede-se à extração. A

Figura 24.4 Direção a imprimir às trações, perpendiculares ao plano pélvico e de acordo com a altura
da cabeça.
360 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Figura 24.5 Manobra de Pajot, recomendada na tração das cabeças médias.

força de tração deve ser leve ou moderada, du- efetuar pequenas correções. A desarticulação e
rante a contração uterina e sempre, se possível, a retirada das colheres em tempo hábil da expul-
com a ajuda materna. Somos favoráveis a ter são também são boas condutas.
um ponto de apoio na base da mesa ginecológi-
ca. Tal procedimento de estabilidade do opera- Occipitossacras (OS)
dor não deve estar correlacionado com trações Frequentemente, nas posições OS, a pega bipa-
máximas da obstetrícia do passado. À medida rietomalomentoniana é de obtenção mais difícil
que progride a apresentação, a força de tração devido a certo grau de deflexão da cabeça. A
deve ser diminuída para permitir a deflexão es- fontanela bregmática pode ser facilmente identi-
pontânea, uma vez que a deflexão instrumental ficada, mas os menos alertados podem confun-
em tempo incorreto é responsável pela maioria di-la com a fontanela lambdoide ou com a gran-
dos prolongamentos de episiotomia e de lesões de fontanela. Procura-se, na posição OS, realizar
perineais. O fórcipe na deflexão da cabeça fe- a pega biparietomalomentoniana. Entretanto, a
tal deve ser um orientador expectante pronto a introdução das colheres não é diferente da apli-

Figura 24.6 Técnica correta de sobreposição das mãos para fórcipe do estreito inferior e baixo.
Rotinas em Obstetrícia 361

Bexiga vazia

Reto vazio

Figura 24.7 Aplicação do fórcipe Simpson em OP.


Fonte: Adaptada de Cunningham e colaboradores (2005).

cada na posição OP. Dependendo da altura da 2. Tração horizontal até que a base do nariz es-
apresentação, deve-se inicialmente efetuar: teja sobre o púbis;
1. Tração para baixo até o preenchimento do 3. Levantamento lento dos cabos até o aflora-
assoalho pélvico e a distensão do períneo; mento do occipital, quando se segue mo-

Bexiga vazia
ão
tra ç
da
o

ã

Dir

Reto vazio

Figura 24.8 Extração do fórcipe Simpson em OP.


Fonte: Adaptada de Cunningham e colaboradores (2005).
362 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Tração horizontal até


esta referência

Lenta elevação
até a exteriorização
do occípito

Figura 24.9 Tração e extração em OS.


Fonte: Adaptada de Cunningham e colaboradores (2005).

vimento lento para baixo com liberação do tóidea, utilizam-se pequenas correções com o
nariz, da face e do queixo (Fig. 24.9). dedo indicador, como se fosse a manobra er-
rante ou deslizante do fórcipe de Kielland nas
posições transversas.
Posições oblíquas Após a articulação do fórcipe e a confirmação
Nas posições oblíquas, o primeiro ramo a ser in- da boa pega, procede-se à tração e à rotação,
troduzido deve ser o que vai ficar em contato que são realizadas classicamente com um movi-
com o parietal posterior, ou seja, com o qua- mento de grande arco executado nos cabos (Fig.
24.11).
drante posterior da pelve.
Nessas posições anteriores, pela tração e desci-
Occipitoesquerda anterior (OEA) da da cabeça, há grande facilidade de rotação,
O fórcipe é colocado na frente do períneo, imi- que pode ser efetuada por um pequeno movi-
tando a posição que irá ocupar quando inserido mento de chave dos cabos sem dano materno e
na pelve. Segura-se o ramo esquerdo, introdu- fetal (Fig. 24.12).
zindo-o na pelve, no parietal posterior, usando
como guia a mão direita, que é introduzida na Occipitodireita anterior (ODA)
vagina até o início da palma.
Aplicação idêntica à OEA, mas o primeiro ramo
O ramo direito será locado usando-se a espiral introduzido deverá ser o direito. Nesses casos,
de Lachapelle (Fig. 24.10). Introduz-se a colher ao articular os ramos, é preciso descruzá-los.
de cima para baixo até ser preenchida pela ca-
beça fetal. Segue-se um movimento em espiral Oblíquas posteriores
tríplice de abaixamento, translação e torção, Nas posições oblíquas posteriores, a rotação
fazendo a colher alocar-se no parietal anterior. manual deve ser tentada. Na posição occipitoes-
Quando esse ramo não ficar bem posicionado, querda posterior (OEP), com a mão direita apre-
e para evitar a pegada oblíqua ou frontomas- endendo o polo cefálico, com os quatro dedos
Rotinas em Obstetrícia 363

Figura 24.10 Aplicação em OEA. Locado o esquerdo posterior, o segundo ramo anterior direito é leva-
do a fazer a espiral de Lachapelle.

Figura 24.11 A melhor maneira de executar a rotação da cabeça fetal com o fórcipe. Circundação se-
gundo o eixo das colheres e atuação da força sobre os cabos, em movimento amplo. A base do cone
corresponde à extremidade manual do instrumento.
364 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Figura 24.12 Aplicação em OEA e rotação para OP.

sobre o parietal posterior e com o polegar no ODA. Terminada a rotação, mantém-se a mão
anterior, tenta-se o giro para OEA (Fig. 24.13). que a executou na vagina, liberando apenas o
polegar, pois a mão será utilizada como guia
Na posição occípito-direita posterior (ODP), usa-
para a colocação do fórcipe.
-se a mão esquerda, tentando a rotação para

Figura 24.13 Rotação manual de OEP para OEA.


Fonte: Adaptada de Cunningham e colaboradores (2005).
Rotinas em Obstetrícia 365

Uma boa possibilidade prática é a de utilizar, nas facilita a rotação em movimento de chave em
posições posteriores e nas transversas, a rotação fechadura.
digital. Durante a contração uterina e o esforço
expulsivo materno, coloca-se o dedo médio ou
indicador no bordo saliente do parietal anterior Posições transversas
que forma a pequena fontanela e efetua-se a
rotação (Fig. 24.14). Nas posições occípito-transversas (OT), deve-
-se tentar a rotação manual ou digital da cabe-
Na aplicação de fórcipe na posição OEP, a pri- ça. A rotação digital (manobra de Freitas) pode
meira colher a ser aplicada é da direita, a do pa- ser efetuada colocando-se o dedo indicador no
rietal posterior. A orientação deve ser invertida bordo saliente do parietal anterior da fontanela.
para a posição ODP. Durante a contração e o puxo materno, execu-
Quando a cabeça está bem fletida (com aces- ta-se a rotação digital para posição anterior, na
so só à pequena fontanela), a rotação anterior qual, se necessário, fica mais fácil a aplicação
pode ser obtida seguindo-se as normas descritas do fórcipe. A rotação manual pode ser utilizada
para tração e rotação. isolada ou em conjunto com instrumentos, com
ausência ou mínimo risco para o binômio ma-
Porém, se houver algum grau de deflexão (aces- terno-fetal. Quando tal rotação não é obtida e a
so às duas fontanelas) ou dificuldade de rotação utilização do fórcipe é indicada, usa-se o fórcipe
instrumental, como frequentemente acontece de Kielland, que, por possuir pequena curvatura
nas pelves antropoides, deve-se efetuar a rota- pélvica, é o de escolha para rotação. Ele tem um
ção e a expulsão na posição OS. encaixe deslizante e, em cada cabo, há uma pe-
Com o fórcipe de Simpson, devido à curvatura quena saliência que indica a direção do occipital.
pélvica, deve-se rodar a cabeça com movimento Há dois métodos de aplicação da colher ante-
de grande arco até a posição anterior, retirar as rior. O primeiro consiste na introdução da colher
colheres e aplicá-las novamente, constituindo a com a curvatura cefálica voltada para cima e,
dupla pegada de Scanzoni. após ter penetrado na cavidade uterina, é vira-
O fórcipe de Kielland é o mais indicado pela da 180° para se adaptar à curvatura cefálica da
quase inexistência de curvatura pélvica, o que cabeça (Fig. 24.15). Essa manobra está pratica-
mente abandonada pelo risco de comprometer
o seguimento inferior do útero.

Figura 24.15 Aplicação “direta” do ramo anterior.


Fórcipe de Kielland em occipitoesquerda transver-
Figura 24.14 Rotação sagital. sal (OET).
366 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

A segunda possibilidade – e a mais utilizada – ridural ou subdural) deve ser incentivado du-
é o método migratório ou deslizante. A colher rante o uso do fórcipe, pois diminui o descon-
anterior é introduzida na lateral da pelve sobre o forto materno. Pacientes que estão em uso de
bregma ou face e, por varredura, até o parietal analgesia durante o primeiro período do parto
sob a sínfise púbica. O cabo da colher é segura- têm aumentado o uso de fórcipe, tanto pela
do próximo da nádega materna oposta durante diminuição da atuação espontânea da prensa
toda a manobra (Fig. 24.16 A, B, C). Pode-se abdominal, como por uma maior incidência de
também introduzir a colher e fazer a sua migra- dificuldade na rotação interna do polo cefálico.
ção pelo movimento em espiral de Lachapelle
descrito anteriormente (Fig. 24.16 D). Questionamentos
O ramo posterior é introduzido diretamente. A 1. Há condições de aplicabilidade do fórcipe?
mão-guia introduzida na fúrcula orienta o movi- Certifique-se.
mento curvilíneo do fórcipe de cima para baixo. 2. Os batimentos cardíacos estão normais?
Efetua-se a tração e a rotação em movimento de Certifique-se.
chave (Fig. 24.16 E, F).
3. As contrações uterinas são suficientes? Cer-
Analgesia tifique-se.
Embora não sendo imprescindível, o uso de 4. A utilização da prensa abdominal pela ges-
analgesia obstétrica (bloqueio anestésico pe- tante está correta? Certifique-se.

A B

Figura 24.16 A, B e C – Aplicação “itinerante” do ramo anterior. Fórcipe de Kielland em OET. (continua)
Rotinas em Obstetrícia 367

5. A obstetrícia é a arte de saber esperar. Devo 10. O que eu toco é a bossa serossanguínea ou
aguardar? o vértice da apresentação?
6. Se eu aguardar, poderá haver progressão e/ 11. Tenho experiência ou devo chamar alguém
ou rotação da apresentação, principalmen- para me auxiliar? O reconhecimento da difi-
te nas posições transversa e posterior? culdade e a mudança da via de parto é uma
expressão de amadurecimento obstétrico.
7. Qual a duração do período expulsivo?
12. O feto entrou em sofrimento e há condições
8. O período expulsivo prolongado com feto
de aplicabilidade. Procedo à intervenção?
em boas condições justifica-se?
13. O feto entrou em sofrimento e não há con-
9. Será válida a tentativa de rotação manual
dições de aplicabilidade. Indico cesariana?
ou digital do polo cefálico?

D E

Figura 24.16 (continuação) D, E e F – OET. A migração da colher direita, pela espiral de Lachapelle,
auxiliando o volteio com o dedo indicador da mão-guia.
368 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Vácuo-extrator
Nos últimos anos, tem havido um renovado in-
teresse no uso do vácuo-extrator. Em 1992, o
número de partos assistidos com vácuo-extrator 3 cm
ultrapassou o número de partos assistidos com
fórcipe nos EUA, e, a partir de 2000, dois terços
dos partos assistidos foram com vácuo-extrator. 3 cm F = ponto de flexão

Os vácuos-extratores com cúpula de material Figura 24.17 Ponto de flexão na cabeça fetal.
macio (plástico ou silicone) minimizam os trau-
mas maternos e fetais. A cúpula de plástico ma-
cia parece ser mais apropriada para partos não
complicados que necessitem de assistência no
segundo período. As cúpulas de metal são in-
dicadas para casos com dificuldade de rotação,
pois podem promover maior tração, mas au-
mentam muito o risco de trauma grave na ca-
beça do feto.
O vácuo exerce menor força sobre a cabeça fe-
tal, requer menos anestesia e provoca menor Figura 24.18 Localização da ventosa.
laceração da vagina e do colo do útero. Pode,
ainda, reduzir a necessidade de episiotomia,
lacerações e rotura de esfincter anal se com-
parado ao fórcipe (Sultan et al., 1993; Sultan;
Johanson; Carter, 1998).

Aplicação do vácuo-extrator
Ponto de flexão
A colocação correta da cúpula é o fator mais
importante na determinação do sucesso do uso
do vácuo-extrator, e a identificação do ponto de
flexão na cabeça fetal é fundamental para que
5-6 cm
isso ocorra. Quando o diâmetro mentovertical
aponta para baixo, a cabeça fetal está em com- Figura 24.19 Localizando o ponto de flexão.
pleta flexão. O ponto de flexão situa-se sobre
a linha da sutura sagital, a aproximadamente 6
cm da fontanela anterior e a 3 cm da fontanela
> Com o dedo no ponto de flexão e a superfí-
posterior (Fig. 24.17). Portanto, a cúpula deve
cie da palma da mão em direção superior, a
ser aplicada 3 cm à frente da fontanela poste-
parte posterior do dedo deve fazer contato
rior, ficando o centro da cúpula sobreposto ao
com a fúrcula vaginal, sendo essa a distância
ponto de flexão, e sua borda sobre a fontanela e a direção que devem ser obtidas para a ex-
posterior (Figs. 24.18 e 24.19). Nessa situação, tração (Fig. 24.20).
as condições para a tração correta e a exteriori-
zação fetal são maximizadas. A seguinte técnica
auxilia na identificação do ponto de flexão: Técnica de aplicação
1. Revise as condições de aplicabilidade.
> Use o dedo médio para identificar a fontane-
la posterior, movendo-o para frente ao longo 2. Esvaziamento vesical (sondagem, se ne-
da sutura sagital por aproximadamente 3 cm. cessária).
Rotinas em Obstetrícia 369

11. Simultaneamente a cada contração uterina,


aplique uma tração suave na linha perpen-
dicular ao plano da campânula (iniciar no
3 cm
começo da contração e do puxo materno).
Com a mão que não está tracionando, pal-
pe a cabeça fetal ao lado da campânula
para avaliar possíveis deslizamentos e a des-
cida da apresentação fetal.
12. A primeira tração ajuda a encontrar a dire-
ção adequada para puxar. A tração deve ser
perpendicular ao vácuo-extrator e na linha
do eixo da pelve. Se a cabeça fetal estiver
Figura 24.20 Inserindo a ventosa. assinclítica (lateralizada) ou não estiver bem
flexionada, a tração deve dirigir-se para
uma linha que procure corrigir a inclinação
3. Com luvas estéreis, verifique as conexões e ou a deflexão.
teste o vácuo no aparelho.
13. Entre as contrações, o vácuo pode ser dimi-
4. Avalie a variedade de posição, palpando a nuído para menos de 200 mmHg ou manti-
linha da sutura sagital e as fontanelas. do, segundo a preferência do obstetra. Não
há evidência de que a manutenção do vá-
5. Identifique a fontanela posterior (occipital –
cuo entre as contrações seja prejudicial para
menor e em forma de Y).
o feto. Rápida aplicação de pressão máxima
6. Aplique a cúpula de maior tamanho que de sucção de 600 mmHg é aceitável, embo-
se adapte bem, com o centro dela sobre ra pressão acima de 450 mmHg raramente
o ponto de flexão (os bordos da cúpula seja necessária. A tração deve auxiliar as
devem estar a aproximadamente 3 cm da forças expulsivas maternas, mas não pode
fontanela anterior e sobre a fontanela pos- ser a força principal para vencer as resistên-
terior). A fontanela anterior é o ponto de cias à descida.
referência para checagem da aplicação, já
14. Não tracione no intervalo das contrações e
que a fontanela posterior está parcialmente
puxos.
bloqueada pela cúpula.
15. No intervalo entre as contrações, verifique
7. Pode ser necessária a realização de uma
os batimentos cardíacos fetais e a aplicação
episiotomia para a aplicação adequada.
da cúpula.
Caso não seja necessária nesse momento,
postergue a avaliação de sua necessidade 16. Nunca utilize o vácuo-extrator para girar
até que a cabeça fetal esteja distendendo o ativamente a cabeça fetal. A rotação ocor-
períneo ou que o períneo esteja interferin- rerá espontaneamente durante a tração.
do no eixo de tração. Havendo progresso na descida, admite-se
até 2 ou 3 trações em um período de tem-
8. Verifique a aplicação da cúpula. Assegu-
po de 15 a 30 minutos.
re-se de que não haja tecido mole materno
dentro do bordo da campânula (cérvice ou 17. Não persista se não houver descida da apre-
mucosa vaginal). sentação durante as contrações.
9. Com a bomba, crie um vácuo de pressão 18. Não utilize o vácuo-extrator se o feto estiver
negativa de 0,2 kg/cm² (200 mmHg) e veri- gravemente comprometido.
fique novamente a posição da cúpula.
19. Não utilize o vácuo como uma alternativa
10. Aumente o vácuo para 0,8 kg/cm² (500 para a exaustão materna. Evite aumentar a
a 600 mmHg) e verifique novamente a força de tração para compensar a perda de
aplicação. força da parturiente.
370 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

de risco da morbidade do fórcipe está associado


com a rotação > 45º e com a altura da apresenta-
ção (fórcipe médio). Fórcipe de alívio e baixo com
rotação < 45º podem ser utilizados com seguran-
ça para a mãe e feto (Hankins; Rowe, 1996).
Os riscos maternos a longo prazo relacionados ao
parto vaginal instrumentado, que incluem incon-
tinência fecal e urinária, prolapso genital e for-
mação de fístula, são os mesmos para ambos os
instrumentos. Embora faltem estudos apropria-
dos, a cesariana parece ser mais vantajosa quan-
Figura 24.21 Método de tração.
do se estuda morbidade materna a longo prazo.

Morbidade fetal
A morbidade fetal atribuída ao parto vaginal ins-
Morbidade do parto vaginal trumentado parece ser resultado do trabalho de
operatório parto anormal, o qual leva à necessidade de inter-
venção, e não da intervenção em si. Towner e co-
Morbidade materna
laboradores, em 1999, em estudo com 583.340
Embora também possam ocorrer em partos vagi- nascimentos, demonstraram que o risco de he-
nais espontâneos, algumas complicações mater- morragia intracraniana associada ao vácuo extra-
nas são mais frequentes em partos instrumenta- tor foi semelhante a do fórcipe e ao da cesariana
dos (Quadro 24.3). As lesões maternas são mais durante o trabalho de parto, mas mais elevado
frequentes e mais extensas com o fórcipe, quan- que nos partos espontâneos ou na cesariana rea-
do comparado ao vácuo-extrator. Ainda assim, a lizada fora do trabalho de parto (Quadro 24.4).
curto prazo, o parto vaginal instrumentado pos-
sui menor morbidade materna que a cesariana. A complicação fetal mais séria do parto vaginal
instrumentado é a hemorragia intracraniana. Le-
A episiotomia parece aumentar, ao invés de dimi- sões oculares externas e paralisia do nervo facial
nuir, o trauma perineal, tanto em nulíparas quan- são mais comuns com fórcipe. Já complicações
to em multíparas. O risco de trauma materno como o cefaloematoma e a hemorragia retiniana
aumenta nas posições fetais posteriores. O gran- são mais comuns com o vácuo do que com o fórci-
pe. A incidência de complicações neonatais graves

QUADRO 24.3
Morbidade materna do parto
QUADRO 24.4
vaginal instrumentado
Morbidade fetal do parto
> Lacerações cervicais vaginal instrumentado
> Lacerações vaginais graves
> Lesões do assoalho pélvico de 3o e 4o > Hemorragia intracraniana
graus > Cefaloematoma
> Lacerações de bexiga > Hemorragia subgaleal
> Hematomas vaginais > Hemorragia retiniana
> Prolongamento da episiotomia > Fratura de crânio
> Aumento da perda sanguínea e da > Paralisias do nervo facial ou braquial
necessidade de transfusão sanguínea > Hiperbilirrubinemia
> Retenção e incontinência urinária > Marcas e lacerações faciais e do couro
> Incontinência feca cabeludo
>Prolapso genital e formação de fístula >Sequela neurológica tardia
Rotinas em Obstetrícia 371

com vácuo é de aproximadamente 5% (American > Não houver progresso da descida em três
College of Obstetricians and Gynecologists, 2000). trações consecutivas e/ou após 30 minutos.
Sugere-se que o uso do vácuo-extrator não
dure mais de 20 minutos ao todo. Entre 11 e
Insucesso na aplicação dos 20 minutos de aplicação, o número de lesões
fetais é muito maior do que com menos de
métodos 10 minutos (Teng, 1997).
As maiores taxas de falha estão associadas com:
Ocorrendo falha na tentativa do parto vaginal
> Índice de massa corporal materna > 30. instrumentado, indica-se a cesariana, uma vez
que o uso subsequente dos diferentes instru-
> Peso fetal estimado > 4.000 g
mentos aumenta significativamente o potencial
> Posições posteriores. de lesões materno-fetais (American College of
Obstetricians and Gynecologists, 2000).
> Altura classificada como instrumentação mé-
dia (1/5 da cabeça é palpável via abdominal).
O parto vaginal instrumentado deverá ser aban- Considerações finais
donado, caso não haja evidência da descida pro-
gressiva da apresentação com cada tração exer- Em obstetrícia, frequentemente enfrentamos di-
cida ou se o parto não for iminente na sequência lemas para decidir a conduta a tomar, os riscos
de três trações, com o aparelho corretamente e benefícios decorrentes de cada opção para o
aplicado por médico experiente (Royal College binômio mãe-filho e, conforme a urgência, o
of Obstetricians and Gynecologists, 2005). tempo necessário para efetuar cada técnica.
As maiores possibilidades de litígio resultam da Alternativas não operatórias, como suporte
falha em não abandonar o procedimento na emocional, mudança de posição, uso de oci-
hora certa (Gei; Belfort, 1999). tocina e analgesia, retardar os puxos e rotação
manual, assim como alternativas operatórias
Ao utilizar o vácuo, o médico deverá desistir do
como uso de episiotomia, fórcipe ou vácuo e ce-
procedimento quando:
sariana, devem ser avaliadas cuidadosamente e
> Houver três desprendimentos da cúpula. individualmente.

REFERÊNCIAS

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372 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

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LEITURAS SUGERIDAS

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7456, p. 24-26, 2004. ZEALAND COLLEGE OF OBSTE-

TESTE SEUS CONHECIMENTOS

1. O fórcipe para as apresentações transversas 2. Para a aplicação do vácuo-extrator é correto:


deve apresentar: a. Realizar episiotomia.
a. Haste longa. b. Colocar a cúpula na fontanela anterior.
b. Articulação móvel. c. Inserir a cúpula no ponto de flexão.
c. Colher fenestrada. d. Aplicar a cúpula na fontanela posterior.
d. Curvatura pélvica. e. Todas as alternativas estão corretas.
e. Curvatura cefálica.

Para consultar as respostas desta seção e outros conteúdos complementares, acesse o hotsite
do livro: www.grupoaeditoras.com.br/rotinasginecoeobstetricia.
25

Apresentações Anômalas
Fernando Freitas
Joana Araújo
João Sabino L. da Cunha Filho
Sérgio H. Martins-Costa
José Geraldo Lopes Ramos

uterinos, polidrâmnio, vícios pélvicos, gemelari-


Apresentação pélvica dade, brevidade de cordão, inserção anômala da
placenta, oligoidrâmnio e crescimento intraute-
A apresentação pélvica ocorre quando o feto, rino restrito. A ocorrência de apresentação pél-
em situação longitudinal, está com as nádegas vica na gravidez anterior também é fator pre-
situadas no estreito superior. disponente, sendo sete vezes mais comum nas
pacientes com história prévia.
Tanto fatores que impedem a locação da cabeça
Incidência e etiologia
na porção inferior do útero quanto fatores que
O formato piriforme do útero favorece o posi- impedem a versão espontânea podem explicar a
cionamento do feto na cavidade uterina e expli- persistência da apresentação pélvica.
ca a predominância das apresentações cefálicas
A apresentação pélvica incompleta (modo de
nos fetos a termo, tentando acomodar o polo
nádegas) é a modalidade mais frequente (60
pélvico (mais volumoso e móvel) no fundo uteri-
a 65%). A posição com maior incidência é a
no (mais amplo).
esquerda, e entre as variedades predominam
Nos prematuros, a frequência da apresentação as anteriores. Em gestações gemelares, a in-
pélvica aumenta, pois, nesse período, o polo ce- cidência de apresentação pélvica, no primeiro
fálico é maior. A incidência da apresentação pél- gemelar, é de 25% e, no segundo, de cerca
vica reduz à medida que se aproxima do termo, de 50%.
já que é frequente a versão espontânea para a
apresentação cefálica. Com 32 semanas de ges-
tação, apenas 16% dos fetos ainda são pélvicos Diagnóstico
e, ao termo, apenas 3 a 4%. A versão espon-
tânea pode ocorrer em qualquer momento da Nas consultas pré-natais, durante o exame físi-
co, a palpação abdominal deve ser realizada ro-
gestação; após 36 semanas, a versão cefálica
tineiramente. As manobras de Leopold forne-
ocorre em até 25% dos fetos em apresentação
cem dados para o diagnóstico da situação e da
pélvica. Em algumas circunstâncias, o feto não
apresentação fetal; o polo cefálico, duro e com
realiza essa versão natural.
“rechaço”, localizado no fundo uterino e a ná-
Inúmeros fatores podem predispor a apresenta- dega percebida como uma formação irregular
ção pélvica: prematuridade, multiparidade, mal- e redutível no estreito superior da pelve mater-
formações congênitas, malformações e tumores na são fortes evidências de apresentação pélvi-
374 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

ca. A identificação do melhor foco de ausculta apresentação pélvica, pois isso pode ser en-
(ombro do feto) nos quadrantes superiores do contrado nas situações transversas com dorso
abdome materno, acima da cicatriz umbilical, superior ou mesmo em uma apresentação ce-
também sugere o diagnóstico de apresentação fálica com procidência de um membro inferior
pélvica. No toque vaginal, a linha de orientação (Figs. 25.1 e 25.2).
é o sulco interglúteo, e o ponto de referência
mais preciso para o diagnóstico de apresenta- A ultrassonografia deve ser utilizada na suspeita
ção pélvica é o sacro fetal. Indica-se a varieda- clínica de apresentação pélvica para a sua con-
de de posição pela letra S (SEA, SEP, SET, SDA, firmação e para rastrear as causas mais frequen-
SDP, SDT, SP, SS) conforme o sacro esteja volta- tes de apresentações anômalas, como malfor-
do para a esquerda, para a direita, para cima mações fetais, localização de placenta, volume
ou para baixo. de líquido amniótico, além de estimar o peso
Nas apresentações pélvicas incompletas, pode- fetal, o volume e a altitude da cabeça no final da
-se palpar o sacro, as tuberosidades isquiáticas, gestação, parâmetros essenciais para a escolha
o sulco interglúteo e o ânus e até a genitália ex- da via de parto.
terna quando em trabalho de parto durante a Apesar das características clínicas, cerca de 21 a
descida da apresentação. 33% das portadoras de feto em apresentação
Nas apresentações pélvicas completas, to- pélvica têm sua condição diagnosticada somen-
cam-se os pés junto à nádega. O toque de te no trabalho de parto, o que acrescenta riscos
apenas um pé não autoriza o diagnóstico de maternos e fetais significativos.

B
A

C E

Figura 25.1 Modalidades de apresentação pélvica. Os tipos fundamentais: A, apresentação pélvica


completa; B, apresentação pélvica incompleta (modo de nádegas). Os tipos mistos: C, apresentação pél-
vica completa (outra forma); D, apresentação pélvica incompleta (modo de pé); E, apresentação pélvica
incompleta (modo de joelho).
Fonte: Adaptada de Wilson (1961).
Rotinas em Obstetrícia 375

Sacro esquerda anterior Sacro direita anterior Sacro direita posterior

Figura 25.2 Exemplos de posições em apresentações de nádegas.

sentações pélvicas com modo de pés, o prolapso


Complicações da de cordão ocorre em 15 a 18% das vezes.
apresentação pélvica A apresentação pélvica pode também ser um
Tanto a mãe quanto o feto estão sujeitos a maior preditor de um feto neurologicamente anormal
chance de complicações quando se compara a já na vida intrauterina. Em uma análise de 57
apresentação pélvica com a cefálica. Esses ris- mil gestações, foi concluído que é possível que a
cos incluem morbidade e mortalidade perinatal, apresentação pélvica não seja uma coincidência,
dificuldades na extração do feto, prolapso de mas uma consequência de um feto já de menor
cordão, placenta prévia, anomalias congênitas qualidade, e que nenhuma intervenção médica
e maior incidência de cesariana. A prematuri- possa reduzir as taxas de morbimortalidade a ní-
dade e as malformações congênitas, importan- veis semelhantes aos dos fetos cefálicos. Outros
tes contribuintes para a mortalidade perinatal, autores, posteriormente, confirmaram a associa-
embora associadas à apresentação pélvica, são ção entre paralisia cerebral e apresentação pélvi-
causa e não consequência dela. Isso explica por ca, a despeito da via de parto.
que a mortalidade perinatal é mais elevada nos O feto em apresentação pélvica também está su-
fetos pélvicos do que nos cefálicos, mesmo que jeito a maior chance de um parto difícil. Isso pode
os primeiros nasçam por cesariana (Fig. 25.3).
ocorrer em virtude do não reconhecimento da
A incidência de prolapso de cordão é significa- apresentação anômala antes do início do traba-
tivamente aumentada na apresentação pélvi- lho de parto, da ocorrência de um parto pélvico
ca. Em fetos cefálicos, essa situação ocorre em distócico e especialmente em razão da situação
0,4% dos partos, mas, em apresentação pélvica conhecida como “apreensão da cabeça derradei-
completa, a incidência é de 4 a 6%, e, nas apre- ra” que será detalhadamente descrita a seguir.

100
Mortalidade (%)

75

50

25

0
2 3 4 5
Peso (kg)

Figura 25.3 Mortalidade fetal no parto vaginal na apresentação pélvica em relação ao peso fetal.
Fonte: Adaptada de Myers-Cough, 1982.
376 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Em relação aos riscos maternos, estão associa- vo de comparar a morbimortalidade materna e


dos à cesariana, eletiva ou de emergência, mais neonatal em fetos com apresentação pélvica que
frequente nesses casos, e às manobras realiza- nasceram por parto vaginal com os nascidos por
das em um parto difícil. cesariana; foram randomizadas 2.088 mulhe-
res (Hannah et al., 2000). Os autores relataram,
como principais resultados, uma menor incidên-
Escolha da via de parto cia de mortalidade peri e neonatal e de morbi-
dade neonatal no grupo de mulheres após cesa-
Nos últimos 35 anos, ocorreu uma mudança sig- riana (1,6 vs. 5%; RR 0,33 com IC 95% de 0,19
nificativa de opinião dos obstetras a respeito da a 0,56, p ⬍ 0,0001). Não houve diferença entre
melhor via de parto na apresentação pélvica. Na os grupos em termos de morbimortalidade ma-
prática obstétrica contemporânea, a grande maio- terna, 3,9% para cesariana e 3,2% para parto
ria dos fetos em apresentação pélvica nasce por ce- vaginal. Os autores concluíram que a cesariana
sariana, o que representa cerca de 15% do total de planejada é melhor do que o parto vaginal para
cesarianas. A maior razão para o aumento da taxa feto a termo com apresentação pélvica, princi-
de cesariana é a crença de que, evitando-se o par- palmente nos países onde a mortalidade perina-
to vaginal, evita-se também a morbidade e a mor- tal é inferior a 20 por 1.000 nascidos vivos.
talidade associadas à apresentação pélvica. Além
Esse estudo foi multicêntrico, realizado em 26
disso, o treinamento inadequado de um grande
países diferentes e 121 centros. A difícil unifor-
número de obstetras na condução desse tipo de
mização de prática médica, de conduta e de
parto também desencoraja esse procedimento.
controle adequados é uma das críticas ao es-
tudo. Analisando os casos de morte neonatal,
13 para o grupo de parto vaginal e 3 para o de
Cesariana versus parto cesariana, podemos reavaliar os resultados, pois
vaginal dois fetos faleceram antes da randomização, um
feto faleceu após ter apresentado um quadro de
Classicamente, a cesariana está bem indicada diarreia e vômitos (grupo do parto vaginal), um
nas apresentações pélvicas associadas aos se- feto tinha várias malformações (grupo do par-
guintes fatores complicadores: to vaginal) e um feto faleceu dormindo (grupo
> Vício pélvico do parto vaginal). Excluindo-se esses 5 casos, a
prevalência de morte neonatal para grupo de
> Peso fetal (⬍ 2.000 g ou ⬎ 3.500 g) cesariana foi de 2/1.038 (0,20%) e de 8/1.034
> Prematuridade (IG entre 26 e 34 semanas) (0,77%) para parto vaginal, uma diferença esta-
tisticamente não significativa (p ⬎ 0,05). Outros
> Rupreme pontos discutíveis do estudo são quanto a dife-
> Malformações fetais renças de morbimortalidade neonatal entre os
países estudados, o peso de fetos superiores a
> Hiperextensão da cabeça fetal 4.000 g, a taxa de infecção pós-cesariana (que
> Trabalho de parto disfuncional foi muito baixa) e o peso materno que não apre-
sentou controle quanto ao índice de massa cor-
> Apresentação pélvica incompleta (modo de pórea (Cunha-Filho; Passos, 2001).
pés ou de joelhos)
Além do estudo de Hannah e colaboradores
> Primípara (exceto as que sejam eleitas como (2000), há outros dois estudos randomizados
em condições ideais para parto transvaginal) comparando parto com cesariana eletiva na apre-
sentação pélvica. Quando reunidos em uma meta-
Nas situações em que esses critérios não são
nálise, também evidencia-se vantagem da cesaria-
preenchidos, pode ocorrer alguma discussão a
na em relação à morte perinatal ou à morbidade
respeito da melhor via de parto.
grave (RR 0,33). Esses estudos justificam a ten-
Hannah e colaboradores realizaram, em 2000, dência atual de indicação da cesariana para quase
um ensaio clínico randomizado com o objeti- todos os casos de fetos em apresentação pélvica.
Rotinas em Obstetrícia 377

Restam para o parto pelviano aqueles casos quanto à dilatação e à descida da apresentação
em que a paciente já chega em trabalho de contraindica o parto vaginal.
parto avançado com nascimento iminente
Para que a paciente possa ser submetida ao par-
e aqueles em que se realiza com sucesso o
to transpelviano, deve-se assegurar de os crité-
procedimento de versão cefálica.
rios descritos a seguir estejam presentes.
> Modo de nádegas ou completo (o modo de
pés ou a modalidade composta contraindi-
Assistência ao parto pélvico cam parto transpelviano)
O fato de a maioria dos nascimentos serem por > Peso fetal entre 2.000 e 3.500 g
cesariana faz com que o obstetra de hoje apre-
sente menor experiência com esses casos e ne- > Idade gestacional ⬎ 34 semanas
cessite de uma revisão teórica mais aprofunda- > Cabeça fetal fletida
da, pois não estamos isentos de ter que realizar
um parto pélvico em uma emergência. Ainda, > Pelve materna adequada
a extração do feto em apresentação pélvica em > Trabalho de parto eutócico com boa propor-
uma cesariana deve ser realizada com os mes- ção fetopélvica
mos conceitos utilizados no parto transpelviano.
> Ausência de malformações (como hidrocefa-
Existem diferenças fundamentais no parto pélvi- lia, meningomielocele, etc.)
co em relação ao de vértice. Em um parto cefá-
lico, a apresentação ao desprender-se é seguida > Dilatação completa
pelo desprendimento do restante do corpo, em > Obstetra experiente
geral sem dificuldades. Ao contrário do cefálico,
em que há moldagem da cabeça, no parto pélvi- Pacientes com fetos que apresentam malfor-
co não há tempo para isso, e a sucessão de par- mações incompatíveis com a vida ou gestação
tes fetais expulsas apresenta volumes progressi- com feto morto podem sempre ser submetidas
vamente maiores. A saída da pelve até a altura ao parto pélvico via vaginal independentemente
do cordão umbilical pode causar compressão dos critérios citados anteriormente.
desse, por isso, após a passagem da nádega fe- Várias medidas devem ser tomadas para a assis-
tal pelo introito, o abdome, o tórax, os braços e tência a um parto transpelviano:
a cabeça devem ser expulsos prontamente.
> Presença de um obstetra experiente e trei-
O parto pélvico processa-se em três segmen- nado para a execução dos procedimentos e
tos, com dificuldades crescentes à medida que manobras que se fizerem necessários e da
vai progredindo. De acordo com sua sequência, prevenção e/ou resolução de distocias que
são eles: desprendimento do polo pélvico, des- possam ocorrer.
prendimento dos ombros e desprendimento da
> Um auxiliar preparado para ajudar nas mano-
cabeça. O maior problema no parto vaginal é
bras, um neonatologista, uma equipe de en-
a possibilidade de o corpo do feto passar por
fermagem e um anestesista também devem
uma cérvice incompletamente dilatada, levando
estar na sala.
à não passagem da cabeça. Por essa razão, é im-
perativo evitar a tração prematura dos pés ou do > Acesso venoso, para pronta administração
corpo fetal. A regra cardinal do parto pélvico é de medicações, infusão de ocitocina, indu-
evitar manipular o feto até que a expulsão tenha ção anestésica de emergência, etc. (A in-
ocorrido até o nível do umbigo. fusão de ocitocina no período expulsivo é
recomendada.)
Apesar de o partograma ter sido idealizado para
as apresentações cefálicas, deve-se utilizá-lo > Bloqueio dos pudendos com anestesia ge-
para controle da evolução normal, não haven- ralmente é suficiente e tem a vantagem de
do contraindicação de correção de dinâmica nos manter o reflexo expulsivo e a paciente alerta
partos disfuncionais. Uma resposta inadequada para ajudar no período expulsivo.
378 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

> Analgesia peridural, no período de dilatação, A assistência ativa ao parto pélvico começa
pode ser útil por assegurar o não uso, pela com a liberação das nádegas. Deve-se evitar
gestante, da prensa abdominal antes da dila- qualquer tração; a espera atenta é a melhor
tação completa e pelo relaxamento perineal conduta. Uma tração inadvertida pode ocasio-
e a analgesia facilitarem o emprego de ma- nar elevação dos membros superiores e defle-
nobras assistenciais do parto dos ombros e xão da cabeça.
liberação da cabeça derradeira.
Quanto às manobras para auxiliar o período
> As membranas deverão ser mantidas íntegras expulsivo, são mais favoráveis as que envolvem
até o período expulsivo. Se ocorrer amnior- menor manipulação, já que o risco de lesões
rexe, o exame de toque deve ser imediata- será menor. Tais manobras devem ser tentadas,
mente realizado para afastar-se prolapso de em ordem adequada para dificuldades crescen-
cordão. tes, à medida que as manobras anteriores não
se mostrarem exitosas.
> Monitoração dos batimentos cardíacos fetais
por tococardiografia ou sonar.
Manobra de Bracht
> Episiotomia ampla, médio-lateral, pois ate- A manobra idealizada por Bracht, em 1935,
nua os traumas craniencefálicos, diminui visa a realizar o parto dos ombros e cabeça.
a compressão funicular e facilita o des- Uma vez desprendida as nádegas com o bi-
prendimento das espáduas e da cabeça trocanteriano no diâmetro anteroposterior do
derradeira. estreito inferior, há uma rotação espontânea
> Fórcipe de Piper deve estar presente na mesa de 90°, ficando o dorso fetal dirigido para
de instrumentos. cima, principalmente nas apresentações pél-
vicas incompletas em que os membros ficam
O parto pélvico via vaginal pode ocorrer de três junto ao abdome fetal. As nádegas sobem em
maneiras: direção à sínfise púbica e, uma vez desprendi-
1. Parto pélvico espontâneo: quando o feto é da parte do tronco, quando a parturiente está
expelido de forma completamente espontâ- em posição supina, o feto tende a “cair” por
nea, sem qualquer manipulação. ação da gravidade. Nesse momento, o obste-
tra deve, antes de qualquer manobra, fazer
2. Extração parcial: há desprendimento espon- uma alça no cordão umbilical para evitar sua
tâneo do feto até a cintura, mas o restante compressão.
do corpo é extraído pelo obstetra.
A manobra de Bracht objetiva continuar o mo-
3. Extração total ou grande extração: o feto é vimento de rotação do dorso fetal em torno da
extraído pelo médico. sínfise púbica antes da ação da gravidade. Após
A paciente deve ser instruída a não fazer força o desprendimento das nádegas e parte do tron-
até a dilatação completa para evitar a passa- co, o médico coloca os polegares ao longo das
gem da pelve fetal, que é macia e menor, por coxas e os quatro dedos restantes das mãos so-
um colo incompletamente dilatado, com conse- bre a nádega correspondente e, sem exercer ne-
quente dificuldade posterior no desprendimento nhuma tração, eleva o tronco fetal em direção
dos ombros e da cabeça. ao ventre materno.
O parto é mais fácil e a morbimortalidade pe- Os braços devem desprender-se espontanea-
rinatal é menor quando se permite o despren- mente com os ombros atravessando o estreito
dimento espontâneo das nádegas. É recomen- inferior da bacia no diâmetro transverso. A se-
dado que o esforço expulsivo, quando do início guir, durante o desprendimento da cabeça, o
da exteriorização da nádega, seja contido caso a auxiliar pode exercer leve pressão suprapúbica
contração esteja no final. Uma nova contração e, com o movimento do tronco fetal em direção
poderá, por causa da sua duração, expulsar a ao hipogástrio materno, há a liberação do men-
nádega, o tronco e a cabeça sem necessitar de to, da boca e das demais partes da face e o polo
maiores intervenções. cefálico do nascituro (ver Fig. 25.4).
Rotinas em Obstetrícia 379

Figura 25.4 Manobra de Bracht.


Fonte: Adaptada de Lorca (1948).

Manobra de Rojas cima e liberação do braço posterior (ver Figs.


25.12, 25.13 e 25.14).
Foi descrita por Rojas, em 1925, para a liberação
de braços estendidos ou, em caso de falha da
manobra de Bracht, para a liberação dos om- Manobra de Pajot
bros e da cabeça. O feto será apreendido pela Usada para liberar braços elevados para a frente
cintura pélvica e rodado no sentido do seu dor- ou para trás da cabeça. Introduz-se a mão na va-
so, ficando o biacromial no diâmetro anteropos- gina, coloca-se o polegar na axila e o dedo índice
terior do estreito inferior. ao longo do úmero e o médio na prega do co-
Se faz tração axial constante e se efetua rota- tovelo em que a tração é exercida. Faz-se dessa
ção de 180° do tronco fetal da direita para a forma o membro deslizar sobre a face do feto,
esquerda e vice-versa, havendo transformação como se o feto enxugasse o rosto e, por abai-
do ombro posterior em anterior até que o ante- xamento, a sua liberação. Após sustentar o feto
rior fique sob o púbis e permita a introdução do pelos pés, elevando-o, executa-se procedimento
dedo indicador na dobra do cotovelo e, por leve semelhante para a liberação do braço posterior
tração, a liberação do membro. Segue-se, pela (ver Figs. 25.15, 25.16 e 25.17 e 25.18).
manobra de rotação, a transformação do mem-
bro posterior em anterior e, em ato contínuo, a Manobra de Mauriceau
sua liberação (ver Figs. 25.5, 25.6, 25.7, 25.8, Essa manobra é utilizada para a extração da
25.9, 25.10 e 25.11). cabeça fetal ou liberação de cabeça derradeira
retida. O corpo do feto é apoiado sobre a face
Manobra de Deventer-Müller ventral do antebraço do médico. Os dedos in-
É uma manobra menos utilizada para a libera- dicador e médio são introduzidos na boca do
ção dos membros superiores. O feto é seguro feto, sobre a língua. Os dedos indicador e mé-
pela pelve; roda-se o tronco, deixando-se o dio da mão oposta são colocados na fúrcula da
biacromial no diâmetro anteroposterior da pel- região cervical do feto. Seguem-se movimento
ve; efetua-se tração para baixo até a cintura conjunto de flexão (dedos da boca) e de tração
escapular e, com um movimento de oscilação, e flexão da cabeça (dedos da fúrcula), de tal ma-
procede-se à liberação do membro anterior. Se- neira que o occipito fique subpúbico. O médico
guem-se movimento de tração e oscilação para aproxima-se da região perineal materna e exe-
380 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Figura 25.5 Manobra de Rojas. Dorso à esquerda.


Deflexão dos braços; o anterior entre a cabeça e
o arco anterior da bacia; o posterior em relação à Figura 25.7 Manobra de Rojas. O braço posterior
metade esquerda da cabeça. está transformado em anterior e exibe-se sob a
arcada púbica, graças à tração contínua e à rota-
ção para trás e para direita do tronco.

Figura 25.6 Preensão do polo pélvico. Imprime-se


ao tronco fetal um movimento de translação e de
rotação para a direita de modo que o dorso passe
da esquerda para a região do púbis e depois para Figura 25.8 Manobra de Rojas. Desprendimento
a direita. O braço posterior desloca-se para adian- do braço pelo indicador que vai à procura da do-
te, e, ao toque, reconhece-se o ângulo inferior da bra do cotovelo para a liberação do braço ante-
omoplata. rior, que se facilita por trações para baixo.
Rotinas em Obstetrícia 381

Figura 25.9 Manobra de Rojas. Desprendido o


Figura 25.11 Manobra de Rojas. Por trações para
braço anterior, executa-se idêntico movimento
baixo associadas à rotação e à translação, solta-se
de translação e rotação do corpo fetal, agora em
o braço anterior ou, então, ultima-se o despren-
sentido inverso, isto é, da direita para a esquerda.
dimento das espáduas por depressão digital da
Desse modo, transforma-se o braço posterior em
flexura do cotovelo.
anterior, e o dorso ficará voltado para a esquer-
da. Essa transformação rotativa deve ser ajudada
por trações constantes.

Figura 25.10 Manobra de Rojas. Terminada a ro- Figura 25.12 Manobra de Denventer-Müller.
tação, o braço posterior fica anterior com o coto Primeiro tempo: anteroposteriorização do bia-
desprendido sob a arcada púbica. cromial.
382 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Figura 25.13 Manobra de Denventer-Müller. Se-


gundo tempo: oscilação do feto para baixo. Figura 25.16 Manobra de Pajot. Desprendi-
mento do braço posterior. Liberado o anterior,
sustenta-se o concepto pelos pés, com uma das
mãos, que o levanta e o aproxima do abdome
materno.

Figura 25.14 Manobra de Denventer-Müller. Ter-


ceito tempo: oscilação do feto para cima.

Figura 25.17 Manobra de Pajot. Desprendimen-


Figura 25.15 Manobra de Pajot. Aplicado o po- to do braço posterior (em seguimento ao repre-
legar na axila e apoiados o índice ao longo do sentado na Fig. 22.16). Elevado o concepto com
úmero e o médio na prega do cotovelo em que a mão que pela face palmar lhe corresponde ao
a tração é exercida, desliza-se o membro sobre a dorso, a oposta desvencilha, com a manobra de
face do feto e seu plano ventral. Pajot, o braço posterior.
Rotinas em Obstetrícia 383

A B

Figura 25.18 Formas incorretas de desprendimento do braço: A, pode ocasionar fratura de úmero; B,
frequente traumatismo articular.

cuta com as mãos um movimento de circundu- ta a conversão das apresentações pélvicas


ção da cabeça fetal em torno do púbis para a em cefálicas mediante versão externa. Esse
liberação do polo cefálico. Simultaneamente, o procedimento consiste na transformação da
auxiliar fará pressão sobre o abdome, na entra- apresentação pélvica em cefálica mediante a
da da pelve, para auxiliar a liberação da cabeça suave manipulação no abdome materno (Fig.
fetal (ver Fig. 25.19 e 25.20). 25.22).

Aprisionamento da cabeça derradeira Segundo o American College of Obstetricians


and Gynecologists (2000), a versão cefálica ex-
Poucas situações são tão produtoras de ansie- terna está indicada para todas as pacientes com
dade no obstetra como o aprisionamento da ca- feto em apresentação não cefálica que desejam
beça após o desprendimento do tronco em um tentar parto vaginal e não apresentam contrain-
parto pélvico. Essa situação é mais frequente em dicações ao procedimento. Deverá ser realizada
fetos prematuros e em partos mal conduzidos preferentemente com 37 semanas de gestação,
ou que chegaram ao hospital em expulsão. Nes- visto que 80% das versões espontâneas já ocor-
ses casos, poderemos lançar mão de anestési- reram até essa idade gestacional, a partir da
cos alogenados que promovem relaxamento da qual são observados índices menores de rever-
cérvice uterina, fórceps de piper, ou realizar as sões. Além disso, na possibilidade de ocorrerem
incisões de Dürhsen, que são incisões no colo acidentes durante a versão, o feto já apresenta
uterino (às 2, 6 e 10 h), utilizando-se tesoura maturidade pulmonar, o que permitirá a imedia-
reta (ver Fig. 25.21). ta interrupção da gestação.
Deve ser realizada em ambiente hospitalar, com
condições de efetuar-se cesariana caso ocorra
Versão cefálica externa alguma complicação. O uso de anestesia geral
Para tentar diminuir tanto a taxa de cesaria- está contraindicado, pois, além de contribuir
nas com seu risco materno quanto a de partos para o aumento da mortalidade perinatal, com
vaginais em apresentação pélvica com maior a paciente desperta, pode-se interromper o pro-
morbidade materno-fetal, tem sido propos- cedimento ao menor sinal de dor.
384 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

A B

Figura 25.19 Manobra de Mauriceau: A, primeiro tempo; B, segundo tempo.

Em metanálise publicada em 2009, Kok e cola- esse escore, maior a possibilidade de êxito na
boradores demonstraram que placentação pos- versão. Com escore inferior a 3, as versões não
terior (OR: 1,9; CI 95%: 1,5-2,4), apresentação tiveram sucesso, ao passo que todas as versões
pélvica completa (OR: 2,3; CI 95%: 1,9-2,8) e foram exitosas com escore igual ou maior a 9.
índice de líquido amniótico maior do que 10
cm (OR: 1,8; CI 95%: 1,5-2,1) estão relacio- Esse sistema de avaliação talvez nos seja útil
nados com maior sucesso da versão cefálica para definir quais pacientes possam vir a ser
externa. Outros fatores, como nuliparidade, mais beneficiadas com a versão ou para identi-
placenta anterior ou lateral e feto com dorso ficar aquelas com baixa chance de sucesso, em
posterior, estão relacionados com menor suces- que não se justificariam os riscos inerentes ao
so da versão. procedimento.

Em 1993, Newman e colaboradores propuseram Contraindicações absolutas para a versão cefáli-


um modelo de avaliação quanto ao sucesso da ca externa (Sela, 2009):
versão externa utilizando um sistema de escore > Bolsa rota
semelhante ao índice de Bishop. Quanto maior
> Anomalia uterina ou tumor prévio
> Placenta prévia
> Descolamento prematuro de placenta
> Malformação fetal grave
> Cardiotocografia não reativa
> Hiperextensão da cabeça fetal
> Gemelaridade
Contraindicações relativas para versão cefálica
externa:
> Crescimento intrauterino restrito

A B > Obesidade materna

Figura 25.20 A, forma correta; B, forma incorreta. > Doenças intercorrentes: hipertensão arterial,
diabete, etc.
Rotinas em Obstetrícia 385

Figura 25.21 Fórcipe Piper, aplicação em cabeça derradeira.

> Oligoidrâmnio formações fetais grosseiras. Auxiliará também


na localização placentária, assim como na esti-
> Cesariana prévia
mativa de peso fetal e de quantidade de líquido
> Técnica de realização da versão cefálica ex- amniótico.
terna
Depois disso, inicia-se a tocólise, que deve ser
O manejo da paciente candidata à versão inicia- mantida por no mínimo 15 minutos antes da
-se por uma avaliação do bem-estar fetal por realização da versão ou até que se consiga um
meio de uma cardiotocografia e perfil biofísico relaxamento uterino adequado, usando-se um
fetal. Isso excluirá pacientes cujos fetos apre- ␤-adrenérgico, salbutamol ou terbutalina, que
sentem sinais de insuficiência placentária ou poderá ser suspenso a qualquer momento se
de sofrimento fetal. O exame ecográfico pode necessário. A paciente é posicionada em Tren-
confirmar também o número de fetos, a apre- delemburg ou em decúbito lateral com o dorso
sentação fetal, o posicionamento do dorso, o fetal para cima. O obstetra coloca-se junto à pa-
grau de flexão da cabeça, além de afastar mal- ciente, no lado correspondente ao dorso fetal.

Figura 25.22 Versão externa.


386 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Tabela 25.1 Sistema de escore proposto para avaliação do sucesso da versão cefálica externa

Escore 0 1 2
Paridade 0 1 ⱖ2
Dilatação ⱖ 3 cm 1-2 cm 0 cm
Peso fetal estimado ⬍ 2.500 g 2.500-3.000 g ⬎ 3.500 g
Placenta anterior posterior lateral/fúndica
Altura da apresentação (De Lee) ⱖ –1 –2 ⱕ –3

Fonte: Adaptada de Newman e colaboradores, 1993.

A versão propriamente dita pode ser realizada reduzindo substancialmente a taxa de cesariana
em três tempos (ver Fig. 25.22): nas apresentações pélvicas, reduzindo o risco
relacionado ao parto pélvico e evitando cesaria-
1. Elevação das nádegas: segura-se o polo pél-
nas nas próximas gestações. Em extensa revisão
vico com ambas as mãos na região hipogás-
entre 1980 e 1991, esses autores encontraram
trica, elevando-o e deslocando-o para a fossa
65% de sucesso nas versões, com redução da
ilíaca correspondente ao dorso fetal.
taxa de cesariana de 83% para 37%.
2. Evolução: enquanto uma mão mantém as
A versão cefálica externa, no entanto, não é um
nádegas elevadas, a outra segura a cabe-
procedimento totalmente destituído de riscos.
ça fetal, acentuando a sua flexão. Uma das
Kok e colaboradores, em metanálise de 2008,
mãos procura descer a cabeça, mantendo
estimaram o risco de complicações decorrentes
sempre a sua flexão, enquanto a outra deslo-
da versão cefálica externa em torno de 6,1%
ca as nádegas na direção oposta alcançando
(95% CI 4,7-7,8), incluindo morte fetal, DPP,
o fundo uterino. A ação de ambas as mãos
cesariana de emergência, prolapso de cordão,
deve ser simultânea.
sangramento vaginal, ruptura de membranas,
3. Fixação: após completada a versão, fixa-se o cardiotocografia não reativa e aloimunização.
polo cefálico no estreito superior, seguran- Esses autores estimaram o risco de complica-
do-o por alguns minutos. Simultaneamente, ções graves (morte fetal e DPP) em torno de
coloca-se a paciente em posição de Trende- 0,24% (95% CI 0,17-0,34) e o risco de cesa-
lemburg invertida para auxiliar a fixação. riana de emergência em torno de 0,35% (95%
CI 0,26-0,47). Não há correlação dos riscos com
A maioria das versões é facilmente realizada, não
o sucesso ou não da versão cefálica externa
necessitando mais do que 5 minutos para sua
(Grootscholten et al., 2008).
realização. Ao final do procedimento, a avaliação
do bem-estar fetal é repetida. A indução do tra- No entanto, se praticada com delicadeza e den-
balho de parto imediatamente após a versão não tro das normas técnicas, os riscos podem ser mi-
está indicada. Deve-se aguardar que a paciente nimizados, não contraindicando sua tentativa.
entre em trabalho de parto espontaneamente. Os estudos randomizados e metanálises desses
estudos demonstram ser um procedimento se-
No caso de tentativa de versão sem sucesso, de-
guro e um dos poucos procedimentos capazes
ve-se realizar a avaliação de bem-estar fetal e, se
de reduzir a crescente taxa de cesarianas.
não houver contraindicações, pode-se aguardar
chegar a 39 semanas de gestação para a reali-
zação de cesariana eletiva (American College of
Obstetricians and Gynecologists, 2000). Apresentação córmica
Em pacientes Rh-negativo, está indicada a ad-
(situação transversa)
ministração de imunoglobulina anti-Rh após o A situação transversa ocorre quando o dorso fe-
procedimento. Zhang, Bowe e Foetney (1993) tal está localizado em posição perpendicular em
concluíram que a versão é um método seguro, relação ao eixo longitudinal do útero.
Rotinas em Obstetrícia 387

O polo cefálico pode estar localizado à direita


ou à esquerda, e o dorso fetal pode estar volta- Apresentação de face
do para cima ou para baixo. Nas posições com
dorso superior, palpam-se os membros fetais ao A apresentação de face ocorre quando há hipe-
toque vaginal; nas posições com dorso inferior, rextensão do pescoço fetal com a face apresen-
palpa-se o ombro fetal. A maioria dos fetos em tando-se no canal de parto. Ao toque vaginal,
situação transversa no início da gestação rota palpa-se o mento fetal como ponto de referên-
espontaneamente para situação longitudinal e cia. Essa apresentação é rara, tendo uma inci-
apresentação cefálica próximo ao termo. dência estimada de 1/800 nascimentos.

Os índices de complicações relacionadas à apre- O diagnóstico da apresentação de face geral-


sentação transversa podem estar elevados, uma mente é firmado durante o trabalho de parto.
vez que esse diagnóstico frequentemente só é Ao exame de toque, pode-se palpar a órbita,
realizado quando a paciente encontra-se em o nariz, a boca ou o mento fetal. Antes do
franco trabalho de parto. trabalho de parto, pode-se suspeitar de uma
apresentação de face quando se observa hipe-
O parto normal está contraindicado em pacientes
rextensão do pescoço fetal na ultrassonografia.
com fetos em apresentação transversa. Nesses ca-
Mais de 60% das apresentações de face ocor-
sos, deve-se indicar a cesariana se a paciente en-
rem com o mento anterior, 15% com mento
contra-se em trabalho de parto ou com bolsa rota.
transverso e 25% com mento posterior (Sha-
Em fetos com dorso superior, a extração do con-
ffer et al., 2006).
cepto pode ser realizada por meio da tração dos
pés ou após versão para apresentação pélvica ou O parto normal pode ser realizado em pacientes
cefálica. Em fetos com dorso inferior, a extração com apresentação de face e mento anterior. À
somente poderá ser feita após rotação interna do medida que a face desce pelo canal de parto,
feto, geralmente para apresentação pélvica. Em o mento fetal toca a sínfise púbica materna,
casos de extração difícil, a abertura de uma incisão ocorrendo flexão do pescoço, o que possibilita
uterina em T pode ser necessária para a retirada o parto normal (Rezende, 1998).
do concepto com vitalidade (Hankins et al., 1990).
Nas apresentações com mento posterior ou
Caso o diagnóstico da apresentação transversa transverso, a flexão do pescoço não ocorre, o
ocorra em torno das 37 semanas, antes do tra- que impossibilita o parto normal. Nesses casos,
balho de parto e com as membranas íntegras, a está indicada a cesariana.
paciente pode ser submetida à versão cefálica
externa. Ao contrário das pacientes submetidas Os recém-nascidos geralmente apresentam al-
à versão cefálica com fetos pélvicos, as pacien- gum grau de edema de face, o que pode difi-
tes com fetos em situação transversa devem ter cultar o seu atendimento em sala de parto. Por
seu parto induzido imediatamente após a ver- esse motivo, a presença de um neonatologista
são. Isso porque esses fetos têm alto índice de experiente é sempre recomendada, mesmo
reversão espontânea (Cunningham et al., 2005) quando a cesariana está indicada.

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TESTE SEUS CONHECIMENTOS

1. A manobra para desprendimento dos 2. São contraindicadas para versão cefálica


ombros na apresentação pélvica é conhecida externa, exceto:
como manobra de: a. Bolsa rota.
a. Bracht. b. Placenta prévia.
b. Rojas. c. Miomatose uterina.
c. Deventer-Müller. d. Descolamento prematuro da placenta.
d. Pajot. e. Hiporextensão da cabeça fetal.
e. Mauriceau.

Para consultar as respostas desta seção e outros conteúdos complementares, acesse o hotsite
do livro: www.grupoaeditoras.com.br/rotinasginecoeobstetricia.

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