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A NOÇÃO DE COMPETÊNCIAS E
HABILIDADES E A ORGANIZAÇÃO
CURRICULAR. O CURRÍCULO POR
COMPETÊNCIAS
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
3. refletir sobre as diferentes concepções de currículo por competências e suas implicações para a prática
pedagógica;
4. evidenciar alguns aspectos que caracterizam o currículo por competências, tais como a transposição didática,
“A abordagem por competências é entendida de formas muito diversas e, às vezes, chega a ser mal-entendida.
finalidades e os conteúdos do ensino. Não é nada anormal, pois, que se confronte uma imensa diversidade de
concepções da cultura e da escola, umas explícitas e construídas, outras intuitivas e esboçadas.” Philippe
Perrenoud
Você já deve ter ouvido falar, já viu ou utilizou documentos curriculares ou de avaliação, oficiais ou escolares,
onde estão expressos os objetivos como norteadores da prática escolar, não é mesmo?
Nestes documentos, os objetivos podem aparecer desvinculados das disciplinas ou não. É mais comum
Neste encontram-se os objetivos gerais, que revelam o que se deseja desenvolver naquela disciplina ao longo
daquele segmento de ensino e os objetivos específicos, que expressam o que se espera que o aluno aprenda
procedimentais e atitudinais.
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Um dos aspectos ressaltados por Macedo (2007) é que este modelo curricular que podemos
denominar de “currículo por competências”, embora possa ser utilizado como uma reedição do
modelo tecnicista de Tyler - voltado exclusivamente para os objetivos instrucionais - promova uma
...na medida em que as diferentes instâncias do saber, conceitos, procedimentos e atitudes - são
vistos separadamente, perdendo o seu caráter relacional, também pode ter “nos seus fundamentos a
Antes de analisarmos mais profundamente a gênese deste modelo curricular, sua influência no Brasil, limites e
ser competente. Em outras palavras, habilidade faz parte de competência, mas esta exige muitos outros aspectos
além daquela.”
Lino de Macedo
É muito comum as pessoas utilizarem as palavras “competência” e “habilidade” como sinônimas. Embora estes
Segundo Macedo (2008), “habilidade significa fazer algo com qualidade, ter capacidade,
inteligência, destreza, astúcia, ter manha. Habilidade é saber ver, ouvir, comunicar.” Para
ele, a “habilidade é uma expressão de competência, mas esta não se reduz àquela. Ou seja,
Habilidade
para ser competente, temos de ter várias habilidades, mas nossa competência não se
resume a um somatório de habilidades [...]. Para ser competente devemos ser habilidosos,
Tomando estas conceituações como pontos de referência, seria inevitável nos perguntarmos:
• “Seria, então, a competência a latência da habilidade?”
• “Seria a habilidade a concretização da competência, a competência traduzida em ação?”
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Ropé e Tanguy (1997) assinalam que a noção de competência está permeada por dúvidas quanto ao seu real
significado e que na área educacional tende a ser concebida como “saberes e conhecimentos”.
Perrenoud nos instiga a refletir um pouco mais sobre a relação entre estes dois conceitos. Para ele, existe a
tentação de reservar a noção de competência para as ações que exigem um funcionamento reflexivo mínimo, que
No meu entender, estes últimos fazem parte da competência... Seria paradoxal que a competência aparentasse
desaparecer no momento exato em que alcança sua máxima eficácia. (PERRENOUD, 1999, p. 26)
Portanto, fazendo uma tentativa de síntese conceitual, vamos considerar, a princípio, estes conceitos como faces
O que mais nos interessa, nesta aula, é entender como o conceito de competência foi se constituindo no campo
competência, no qual coexistem tradições teóricas a princípio consideradas contraditórias, como a psicologia
cognitiva e comportamental e novas conceituações. Para a autora, “ao mesmo tempo que conserva tradições
curriculares do passado, cria novos sentidos para o uso do conceito no currículo ajustado ao contexto atual”
(ibid.:4).
Para Dias, as análises orientadas pelo princípio de recontextualização (BERNSTEIN, 1998) evidenciam a
compreensão dos sentidos que se configuram nos discursos sociais e acadêmicos. Esta abordagem do tema
possibilita compreender como, quando e onde foram sendo produzidos os diferentes significados de
competência, sendo um caminho para o entendimento mais profundo e reflexivo desta polissemia.
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Ao analisar o ressurgimento do conceito de competência na pedagogia e nas propostas curriculares brasileiras,
com base na formulação de alguns autores que estudaram esta temática, a autora ressalta alguns aspectos que
configuram o caráter polissêmico e inconclusivo do conceito de competência, dos quais destacamos os seguintes:
"A noção de competência voltou a se fazer presente no mercado das ideias pedagógicas" (THERRIEN
As ideias de Philippe Perrenoud e Cesar Coll foram divulgadas amplamente no Brasil através da publicação de
seus livros, pela editora Artmed e da sua participação em eventos no país, e tiveram grande influência no campo
da educação, sendo identificados pelos professores como referências neste tema; não há um novo paradigma,
mas novos sentidos para um conceito já existente, hibridizados com significações atribuídas em tempos
passados, isto é, uma recontextualização; o caráter de conhecimento prático, sendo "a competência inseparável
da ação, [...] um atributo que só se pode ser apreciado e avaliado em uma situação dada" (ROPÉ e TANGUY, 1997,
p.16).
Dias (2002) destaca que, tanto no campo da educação como no campo do trabalho, a difusão do conceito de
competência torna-se mais significativa a partir da década de 80. Segundo ela, há pontos convergentes no uso do
campos científicos.
Segundo ele, esta recontextualização só foi possível devido a uma convergência nos campos sociopsicológico e
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Neste processo de recontextualização há a criação de novos sentidos, porém mantém alguns sentidos do
Mas o que mais instigava Bernstein, e que é fundamental nos perguntarmos, é como o discurso pedagógico
Segundo Dias (2002), nas análises das atuais reformas curriculares, diversos autores vêm apontando
aproximações entre o atual modelo de competências com os modelos curriculares dos teóricos da eficiência
social, destacando que estas influências se iniciam nas décadas 1920, com a incorporação dos princípios da
Administração Científica e do trabalho industrial para o campo curricular, sendo revitalizadas por Bobbit e Tyler,
que, como vimos anteriormente, foram os precursores de um modelo curricular tecnicista, organizado por
objetivos, através do qual pretendia-se preparar os estudantes para a vida adulta e para o trabalho.
O currículo por objetivo, segundo Dias (ibid), teve seu auge nas décadas de 60 e 70, sendo este modelo curricular
influenciado, também, pelos trabalhos de Benjamim Bloon, Robert Marger e James Popham, que tinham como
3 Taxonomia de Bloom
A Taxonomia de Bloom (1973) foi, durante um bom tempo, o “manual” de inúmeros professores desta época, no
qual as ideias de desempenho, condições e critérios eram os eixos centrais do currículo e da formulação dos
objetivos de aprendizagem.
A estreita relação entre a adoção das competências como princípio organizador do currículo e as novas formas
autora faz da importância que o conceito assume nos documentos internacionais de orientação para as reformas
curriculares, especialmente no Relatório Jacques Delors (2001), e como eles se constituem como forte eixo nas
propostas curriculares brasileiras para a educação básica e formação profissional (DIAS, 2002, p.79), tendo este
Segundo Lopes e Macedo (2012), nosso currículo importou, durante muitos anos, os modelos curriculares
americanos.
Segundo as autoras, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, representa a primeira tentativa de
definir diretrizes curriculares no Brasil, sendo utilizada como referencial em muitos estados e municípios.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), de 1997, bem mais detalhados e compilados por áreas de
conhecimento, embora não reconhecidos oficialmente pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) como
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currículo nacional, tornaram-se também documentos de referência no Brasil, assumindo, segundo as autoras, o
Elas lembram que, até o final de 2012, o Ministério da Educação (MEC) deve complementar as diretrizes
curriculares aprovadas entre 2009 e 2011, definindo as expectativas de aprendizagem que nortearão a educação
brasileira.
deve ser ensinado, e documentos como os PCNs e Projetos Políticos Pedagógicos, que traduzem as intenções
Estas diferentes formas de organizar o currículo representam, também, modos distintos de conceber os
Ao analisar como a noção de competência se expressa nos currículos, Macedo (2007) ressalta que algumas
“atitudes didático-pedagógicas podem ser apontadas como pertinentes ao trabalho formativo via um currículo
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O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Novas formas de organização curricular na contemporaneidade, seus limites e contribuições;
• currículo por projetos;
• currículo por problemas;
• currículo por temas geradores;
• currículo por módulos de aprendizagem;
• currículo por ciclos de formação.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu a distinção e complementaridade dos conceitos de “competência” e “habilidade”;
• analisou como o conceito de competência tem influenciado as propostas curriculares brasileiras;
• refletiu sobre as diferentes concepções de currículo por competências e suas implicações para a prática
pedagógica.
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