Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Tem-se como proposta o exame da criação do inimigo, como herança de um direito penal
contemporâneo, mas marcadamente absolutista, e a análise da aplicação da dinâmica atuarial
na política criminal e seus influxos, sobretudo na criminalização do movimento hip-hop. Quer-
se discutir as condições sócio-políticas que marcaram a criação do inimigo, nos Estados
absolutistas, e seus reflexos nos dias atuais, analisando a transposição da lógica de eliminação
desses não-sujeitos, para as especificidades no diálogo (im)possível com o Estado de Direito,
pretensamente democrático, onde há a aplicação de critérios exportados da estatística para o
sistema de política criminal, objetificando elementos socioculturais subjetivos e os colocando
como fatores de risco estáticos, passíveis de punição pela sua periculosidade, criminalizando o
movimento social, tornando-
ABSTRACT
It is proposed to examine the creation of the enemy, as inheritance of a contemporary but
distinctly absolutist criminal law, and the analysis of the application of actuarial dynamics in
criminal policy and its inflows, especially in the criminalization of the hip-hop movement. We
want to discuss the socio-political conditions that marked the creation of the enemy in absolutist
states and their present-day reflexes, analyzing the transposition of the logic of elimination of
these non-subjects in a (im) possible dialogue with the State of Law, allegedly democratic,
where there is the application of criteria exported from statistics to the criminal policy system,
objectifying subjective sociocultural elements and placing them as static risk factors,
punish
-
Keywords: Criminal Law of the Enemy, Actuarial criminal policy, Criminalization, Hip-hop
movement.
1
Doutorando em Direitos e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV). Mestre em
Direito pela mesma instituição. E-mail: lucas-kaiser@hotmail.com.
Dirigindo-se ao meirinho, o juiz Algonso
Hernández Pardo, ordena.
- Faça o condenado entrar.
(Eduardo Galeano)
INTRODUÇÃO
que se cria uma norma para definir que algo é certo ou bom, define-se, por tabela, que algo não
é certo ou não é bom (o que não se enquadra na primeira categoria); noutras palavras, produz-
se uma norma a concepção de normal o anormal.
Desse modo, qualquer cultura que aborde temáticas tidas como desviantes, como o
hip-hop eis que está imerso numa realidade produzida como desviante , são consideradas
anormais e, portanto, invisibilizadas.
construção do
do jovem pobre e geralmente negro; esse jovem, que irá agir reativamente
potencializando os estigmas que inicialmente sofria; o sistema penal que apenas
reforça e ajuda a produzir esses estereótipos, geralmente os piorando em escala
gigantesca (especialmente a partir do sistema carcerário); a mídia, reproduzindo uma
cultura do espetáculo em que a alteridade é consumida na representação a partir do
fortalecimento do medo coletivo e assim por diante (PINTO NETO, 2011).
2
Em referência à música do grupo O Rappa.
3
Em referência à música Vida Loka parte I, dos rappers
penal marcadamente absolutista é, de fato, olhar parcialmente para o problema, o que
impossibilita que se perceba a transgressão enquanto negação da norma como tentativa de
visibilização, e, sobretudo, que se enxerguem possíveis papeis potencialmente emancipatórios
dessa cultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. Rio de Janeiro:
ICC, 1999.
CHOMSKY, Noam. A minoria próspera e a multidão inquieta. 2. ed. Brasília: Unb, 1999.
LINCK, José Antônio Gerzson [et al.] (organizadores). Criminologia cultural e rock. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 3.
ed. São Paulo: Cortez, 2010.
ZAFFARONI, Eugênio Raul. O inimigo no direito penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan,
2011.