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ESTUDO BÍBLICO
Rev. André Arêa

Data: 06/08/20
Local: IP Mutuaguaçu
Tema: O Batismo com o Espírito Santo e Fogo
Texto Bíblico: Mateus 3.11-12

LEITURA BÍBLICA
Mateus 3.11-12
11
Eu vos batizo com água, para arrependimento;
mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso
do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar.
Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
12
A sua pá, ele a tem na mão e limpará
completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no
celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.

INTRODUÇÃO
No estudo anterior vimos que João, o batista, introduziu o
“batismo de arrependimento”, o qual era aplicado a todos os que
mostrassem arrependidos de seus pecados, tanto os gentios quanto os
judeus. A oferta do Evangelho é apresentada a todos, mas, somente os
escolhidos de Deus chegam ao arrependimento e compromisso de vida
e dedicação a Deus simbolizado pelo batismo.
Os versículos que serão abordados hoje estão em estreita conexão
com o v. 10 que diz: “Já está posto o machado à raiz das árvores;
toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no
fogo” (v.10), e assim tratam do duplo resultado da obra de Cristo:
salvação e condenação.
Mas, antes vejamos:

1) A humildade de João Batista (v.11)


11
Eu vos batizo com água, para arrependimento;
mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso
do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar.
Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
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O vigor profético com que João Batista anunciava a vinda do Reino


dos Céus, a instauração de um batismo que não fazia acepção de
pessoas por sua nacionalidade (como acontecia no Judaísmo) fizeram
com que as pessoas começassem a olhar para João Batista como se ele
fosse o Messias (Lc 3.15; cf. Jo 1.19-20; 3.25-36).
Mas, ele sabia o seu papel. Ele sabia quem ele era nos propósitos
de Deus. Por isso mesmo, tratou logo de fazer a distinção entre si e o
Messias: “Eu vos batizo com água para arrependimento; mas aquele
que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias
não sou digno de levar” (v.11).
Primeiramente, João está dizendo que ele não era o Messias, mas,
sim, que “aquele que vem depois de mim”, o qual “é mais poderoso
do que eu”, este sim era o Messias.
É importante ressaltar que João Batista nunca realizou um só
milagre em todo o seu ministério, e isto foi divinamente
providencial, pois, sem realizar milagres as pessoas já o viam como
Messias, muito mais difícil seria convencê-las do contrário se ele
realizasse milagres como alguns profetas.
Em segundo lugar, destacamos aqui a humildade dele. Era serviço
de um escravo tirar as sandálias dos pés do seu senhor e carrega-las
mesmo que estivessem sujas e imundas com a poeira e lama. Na
cultura judaica, os pés eram um dos órgãos considerados mais imundos
pelo contato com o solo.
Assim, João deixou claro que ele não era digno sequer de servir
ao Messias ainda que com o serviço mais desprezível e humilhante
aos olhos dos homens.

2) O batismo com o Espírito e com fogo (v. 5-6)


O batismo que João aplicava às pessoas arrependidas “com água
para arrependimento” era um símbolo do que seria o batismo que o
Senhor Jesus Cristo haveria de efetuar sobre esses corações já
arrependidos e que receberam o batismo de João, pois, “Ele vos
batizará com o Espírito Santo e com fogo” (v.11c).
Um erro teológico que deve ser evitado aqui é o de se pensar que
hoje, após arrepender-se e ser batizado na igreja, a pessoa deve
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esperar ser “batizada” com o Espírito Santo, como se pensa no meio


carismático e pentecostal.
Este texto deve ser visto na perspectiva do Pentecostes, ou
seja, o Espírito Santo que fora prometido nos dias do profeta Joel
(Jl 2.28) ainda não havia sido derramado, pois isto só aconteceria
alguns anos depois (ver At 1.8). O Espírito Santo só viria após a
ascensão de Cristo aos céus.
Mas, há outro aspecto aqui que tem sido motivo de interpretações
erradas, a saber, o que é esse batismo “com fogo”? Três
interpretações são oferecidas.
A interpretação mais comum é que “fogo” aqui é uma referência
ao derramamento do Espírito no dia do Pentecostes, em forma de
“línguas, como de fogo” (At 2.3). Tal interpretação embora seja a
mais utilizada, é equivocada.
Outra interpretação é que João Batista está contrastando sua
pessoa com a do Senhor Jesus, e por isso ele usa os seguintes
elementos:

Jesus Cristo João Batista


Em contraste com

Ele é digno de glória Não era digno de levar Suas


Ele é Todo-Poderoso sandálias
Ele é infinito Não tinha poder algum
Ele é eterno Era finito
Ele batiza com fogo Era temporal
Batizava com água

Assim, o batismo com o Espírito e com fogo, de conformidade com


os que adotam essa interpretação é o processo de “santificação”1
operado pelo Espírito Santo no coração do crente, e o “fogo” aqui é
num sentido figurado, simbolizando a purificação que Deus faz no
coração da pessoa expurgando toda sujidade e impureza.
Porém, a terceira interpretação traz um peso maior consigo. Como
já dissemos anteriormente, o v. 10 é de suma importância para
entendermos os v.11-12.

1
Matthew Henry e R.V.G. Tasker concorda com essa interpretação.
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No v. 10 João introduz o “juízo de Deus sobre os homens”2. Ali


vimos que João estava rechaçando os fariseus e saduceus deixando
bem claro que precisavam de arrependimento, pois, do contrário,
haveriam de sofrer o juízo de Deus.
Agora, no v. 12 ele apresenta o Senhor Jesus como Aquele que
tem em Suas mãos o poder para separar o “trigo” que são os Seus
filhos, da “palha” que são os pecadores condenados (O Sl 1 usa essa
mesma figura para falar dos justos e dos perversos).
Naqueles tempos o joeirar o trigo era uma tarefa difícil, feita
rudimentarmente sobre um terreno duro e côncavo rodeado de pedras
ou de uma mureta conhecido como eira (vide as figuras a seguir). Ali
era colocado os feixes de trigo. Uma espécie de trenó puxado por
aninais sobre o qual um homem subia era passado sobre o trigo. Assim
os grãos
desprendiam-se das espigas e da palha.
O processo de separação do trigo da moinha era feito com a ação
do vento. As porções eram agitadas contra o vento e assim, os grãos
pesados caiam no chão e a moinha era separada.

2
Warren Wiersbe e F.F. Bruce concorda com essa interpretação.
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Enquanto os grãos eram devidamente armazenados “no celeiro”,


a moinha (palha, restolhos, etc.) era jogada no fogo “inextinguível”.
Esse adjetivo aponta para o fato de que o batismo “com fogo”
se refere ao Juízo Final.
Da mesma forma, o Senhor Jesus recolherá na Glória Eterna os
Seus filhos como o agricultor recolhe no celeiro o seu trigo; e lançará
nas chamas eternas e inextinguíveis os pecadores rebeldes que não se
arrependeram.
Mas, então, qual dessas três interpretações é a correta? Penso que
a resposta esteja em combinarmos as duas últimas dando mais
destaque à terceira que relaciona o batismo “com fogo”, com o Juízo
Final.
Como nos lembra William Hendriksen, encontramos nas Escrituras
o fogo tanto significando a ira de Deus sendo derramada sobre os
pecadores, como também indica a obra da graça de Deus purificando
os Seus filhos (Is 6.6-7; Zc 13.9; Ml 3.3; 1Pe 1.7)3.

Para Pensarmos e Praticar


Cristo virá para fazer uma distinção:
Pela obra poderosa da Sua graça: batizando com o Espírito
Santo;
Pela determinação final do Seu julgamento: separará o
trigo da palha, o crente do ímpio;
Pelo destino eterno de cada um: os crentes recolhidos nos
céus, e os ímpios no inferno.
Quem realmente teve um encontro com Cristo, sabe qual é o seu
papel e posição no Reino de Deus, e, por isso mesmo, jamais roubará
para si a glória que é Dele.
Aquele que sente o fogo santo de Deus ardendo em seu coração
purificando-o dos seus pecados jamais precisa temer o fogo
inextinguível destinado aos ímpios.

3
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p. 294.
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Assim, vemos que Cristo tanto salva os eleitos de Deus como Ele
próprio é que lançará no fogo eterno aqueles pecadores rebeldes.

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