Você está na página 1de 3

Assinalaram-se, no passado dia 16 de janeiro, 248 anos da elevação de Monchique a

vila, por intermédio do Alvará concedido nesse dia pelo rei D. José I, no ano de 1773. O
documento determinou ainda que o recém-criado concelho ficasse constituído por cinco
freguesias,
além de Monchique, também Alferce, Marmelete, Nossa Senhora do Verde e
Mexilhoeira Grande passariam a formar o termo de Monchique

Na segunda metade do século XVIII, a Coroa Portuguesa encontrou um território rico,


mas com uma economia decadente; a agricultura não era próspera, o comércio estava
nas mãos dos intermediários ingleses e as pescarias serviam maioritariamente os
interesses espanhóis em vez dos portugueses. Segundo José Horta Correia, a vida
urbana era “tradicionalmente muito activa à volta dos dois grandes centros urbanos de
Barlavento e de Sotavento, Lagos e Tavira, agora decadentes, apenas era compensada
pela lenta ascensão de Faro, que, desde o início do século XVII, se afirmava como a
principal e mais florescente cidade.”
Entretanto, a colónia catalã estabelecida em Monte Gordo desde o princípio do século
XVIII começa a ficar descontente com a fiscalidade portuguesa. A política de Carlos III
sobre as pescarias era muito semelhante à política pombalina, pois a ambas as Coroas
interessava incrementar a produção, evitar a fuga de divisas e garantir os direitos da
Fazenda.
É a partir desta altura que a monarquia decide intervir no Algarve e resolver os vários
problemas que se manifestavam. De acordo com José Horta Correia decretaram-se
“reformas sucessivas, todas interligadas, estruturadas coerentemente e rigorosamente
planificadas, que no seu conjunto manifestam duas orientações de base: continuação de
uma persistente acção centralizadora, agora ao serviço de um Absolutismo Esclarecido e
alteração ou mesmo destruição de antigas estruturas do Portugal velho.”16 Era a
reforma do Reino do Algarve.
Assim, por Decreto de 30 de Dezembro de 1772, mandaram-se unir aos próprios da
Coroa os direitos, rendas, pescarias, foros, marinhas e sapais pertencentes à Casa da
Rainha e do Infantado e, por Alvará do mesmo dia, foram incorporados na Mesa da
Ordem de Cristo as Alcaidarias-Mores e Comendas de Tavira, Castro Marim e Santo
António de Arenilha. O Marquês de Pombal frisava que a sua intenção era regular as
pescarias, isentando os produtos secos e salgados da maior parte dos direitos e proibindo
a exportação de peixe fresco, bem como baixar o preço do sal. Ora, no sentido de
reforçar as pescarias é criada a “Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do
Algarve”, a última das companhias monopolistas pombalinas que veio substituir a
antiga organização das Almadravas.
Com o objectivo primordial de “engrossar a subsistência do reino”, a Restauração do
Reino do Algarve não se limitava apenas às pescarias. Tanto que logo a 16 de Janeiro de
1773, um alvará régio determinava a abolição dos “foros usurários”, aliviando os
lavradores de encargos vexatórios. Da mesma data, é o alvará a favor da liberdade dos
negros, mulatos e mestiços do Algarve, o ponto mais importante da legislação
pombalina sobre a escravatura. Dois dias depois foi publicado outro documento,
isentando os grãos, farinhas e legumes dos direitos de entrada no Reino do Algarve, e
finalmente a 4 de Fevereiro foi promulgada a lei que abolia a “odiosa” diferença entre
os Reinos do Algarve e de Portugal, regulando direitos e contribuições sem qualquer
diferença entre os dois reinos. O Algarve mantinha a designação de reino por dignidade
histórica.
A Restauração do Reino do Algarve não esqueceu a reforma administrativa. Por
Decreto de 16 de Janeiro de 1773 e Carta Lei de 18 de Fevereiro, o lugar de Monchique,
que pertencia ao termo de Silves foi elevada a vila e o mesmo aconteceu com Lagoa,
que foi erigida em vila da Casa da Rainha, indo o seu termo até Ferragudo. A vila de
Alvor, pertencente à casa da Rainha, foi extinta devido à sua proximidade com Vila
Nova de Portimão e passou a lugar do termo desta vila. O mesmo documento ainda
alertava para o facto do lugar de Moncarapacho estar dividido entre os termos de Faro
(Casa da Rainha) e Tavira (Coroa), pelo que promulgou a passagem do lugar
inteiramente para Faro, evitando assim os conflitos de jurisdição que anteriormente
ocorriam. A localização estratégica de Alcoutim, como ponto de passagem para o
Alentejo e Espanha não foi esquecida, tendo sido criado nessa vila o lugar de Juiz de
Fora e Órfão, que não existia até então.
A Restauração do Reino do Algarve só estaria completa com a nacionalização das
pescarias do Algarve, através da Provisão de 31 de Outubro de 1733, e, depois, com a
construção de Vila Real de Santo António, determinada por Carta Régia passada a 30 de
Dezembro de 1773.

A criação do concelho de Monchique cumpriu com o objectivo de garantir as condições


e atractivos necessários para o desenvolvimento do lugar e, consequentemente, acabar
com algumas necessidades locais. No alvará são mencionadas as razões para a elevação
de Monchique a Vila, necessidade justificada pelo isolamento em que ela se encontrava.
A nível sócio-económico, a elevação de Monchique justificava-se pela inexistência de
vias de comunicação entre o litoral (Vila Nova de Portimão) e a Serra (Monchique), o
que dificultava não só a circulação de pessoas, como também o tráfego comercial. Se,
por um lado, a aspereza da serra impedia e tornava perigosos “os transitos de mais de
mil pessoas, que anualmente vão buscar ao sobredito Lugar o remedio dos banhos nele
existentes”61, por outro, limitava as comunicações e o comércio “das uteis, e
necessárias Madeiras de Castanho; das abundantes frutas, e das mais produções, em que
he fértil a referida Serra.”62 Sobre as madeiras de Monchique e sua elevação a vila lê-se
na Monografia de Vila Real de Santo António uma curiosa passagem: “(…) tendo o
Marquês de Pombal em 1773 mandado comprar as madeiras necessárias para a
reedificação de Vila Real de Santo António, lhe lembraram que essas madeiras as
poderia ele adquirir em Monchique. (…) Ficou o nobre marquês tão satisfeito com a
qualidade da madeira que em um alvará elevou Monchique a vila (…).”63
Outro motivo apontado para a elevação de Monchique a vila foi a dificuldade da
realização de uma boa administração da justiça neste lugar, devido à distância que o
separava de Silves, a cuja jurisdição pertencia. As cinco léguas que separavam as duas
localidades desenrolavam-se “por caminhos escabrosos, e quasi inaccesssiveis”,
originando que ficava “o sobredito Lugar, e Serra delle, sem correição que cohiba as
desordens, e promova as utilidades públicas.

Você também pode gostar