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Trabalho de Astrofísica Galáctica

Determinação da distância do centro galáctico a partir da distribuição dos


aglomerados globulares

Rafael Ferreira do Amaral Silva

Departamento de Física – UFMG

Introdução

Em 1918 H. Shapley mediu as distância para uma amostra de Aglomerados


Globulares e determinou o centro da distribuição destes objetos.
Reconhecendo que esses aglomerados são componentes relevantes na
morfologia de nossa Galáxia, associou este centro ao centro da Galáxia. Ele
não considerou o efeito da extinção interestelar e portanto superestimou
a distância dos AGs.

O objetivo principal deste exercício é reproduzir o método de Shapley mas


usando o avermelhamento interestelar disponível para 157 aglomerados
globulares na Via Láctea(Harris 2010). Para isso, iremos utilizar
programação ao nosso favor para trabalahr com esses dados.

Aglomerados Globurales(AGs)

São um sistema contendo centenas, milhares ou mesmo centenas de


milhares de estrelas unidas por um campo gravitacional em comum. Em
nossa Galáxia há milhares de aglomerados, focaremos em aglomerados
globulares, que são mais densos, populosos e velhos.

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As estimativas mais confiáveis de metalicidade para os AGs baseiam-se na
observação do espectro de estrelas individuais em alta resolução.

Os AGs conhecidos na galáxia possuem propriedades que variam bastante,


apresentam diferentes graus de concentração central, possuem massas
variando entre milhares a milhões de massas solares, magnitude visual
absoluta variando entre -10 até -3, etc.

Os gráficos obtidos nesse trabalho, assim como todos os cálculos foram


obtidos através de um código na linguagem Phyton.

https://colab.research.google.com/drive/1le_iFIsEfN9YT24Y3BhhUUgDG_
u0HsJ2?usp=sharing

Latitude galáctica em função da metalicidade([Fe/H]) dos AGs

Incialmente, utilizando a tabela indicada no roteiro desse trabalho, com


valores de diversos parâmetros para 147 AGs, foi feito um gráfico do
módulo da latitude galáctica(𝑏) em função da metalicidade[Fe/H] e, em
seguida, um gráfico adicional da componente z da distância(𝑑𝑧 ) em função
de [Fe/H].

Figura 1: |𝑏| x [Fe/H] Figura 2: 𝑑𝑧 x [Fe/H]

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Analisando os gráficos, percebe-se que os AGs presentes nas periferias da
Via Láctea são minoria, com apenas algumas unidades de AGs espalhados
numa distância(z) acima de 50kpc, dentro do Halo galáctico, já o restante
em sua maioria se encontram mais próximos do Bojo, a 5kpc de
distância(z). Com relação à latitude galáctica, a maioria dos AGs se
encontram próximos do plano galáctico, há uma concentração maior deles
no intervalo 20° < 𝑏 < 50°, e acima desse valor se encontram muito
poucos AGs.

A partir de então, foram divididos em três grupos esses AGs:

▪ Grupo 1: todos os AGs.

▪ Grupo 2: AGs com [Fe/H] ≤ −1.2

▪ Grupo 3: AGs com [Fe/H] > −1.2

A ideia é que cada grupo desses deve definir uma distribuição


esfericamente simétrica em torno do centro galáctico. Como o grupo 1
engloba toda a amostra, não é necessário mostrá-lo novamente, porém,
para os grupos 2 e 3, foram feitos gráficos da distância(z) em função da
metalicidade à fim de estabelecer alguma relação distância-metalicidade.

Figura 3: Grupo 2 - 𝑑𝑧 x [Fe/H

Figura 3: Grupo 2 - 𝑑𝑧 x [Fe/H] 3 Figura 4: Grupo 3 - 𝑑𝑧 x [Fe/H]


Analisando as figuras 3 e 4 percebe-se que os AGs menos metálicos se
distribuem por todo o Halo galáctico e os AGs mais metálicos estão
concentrados próximo do disco galáctico.

Determinando a distância do Sol ao centro galáctico

Para determinar o valor médio para cada componente dos grupos de AGs,
foram utilizadas as seguintes equações:
𝑛
1
𝑅0𝑥 = ∑ 𝑑𝑥𝑖 (1)
𝑛
𝑖=1

𝑛
1
𝑅0𝑦 = ∑ 𝑑𝑦𝑖 (2)
𝑛
𝑖=1

𝑛
1
𝑅0𝑧 = ∑ 𝑑𝑧𝑖 (3)
𝑛
𝑖=1

De forma que, n é o número de aglomerados em cada grupo e os valores


de 𝑑𝑥 , 𝑑𝑦 , 𝑑𝑧 , são obtidos através da tabela fornecida.

Com os valores obtidos nessas equações, agora é possível estimar a


distância do Sol ao centro galáctico a partir da eq. 4:

𝑅0 = √𝑅0𝑥 2 + 𝑅0𝑦 2 + 𝑅0𝑧 2 (4)

Os resultados obtidos podem ser vistos na tabela 1.

4
𝑅0𝑥 (𝑘𝑝𝑐) 𝑅0𝑦 (𝑘𝑝𝑐) 𝑅0𝑧 (𝑘𝑝𝑐) 𝑅0 (𝑘𝑝𝑐)
Grupo 1 6,01 ± 1,00 −1,38 ± 0,90 −1,15 ± 1,26 6,27
Grupo 2 5,95 ± 1,62 −2,03 ± 1,49 2,05 ± 2,06 6,61
Grupo 3 6,89 ± 0,64 −0,08 ± 0,43 −1,12 ± 0,53 6,98

Tabela 1: Valores médios das componentes de distância

Para cada componente da distância representada na tabela 1 foi feito o


cálculo da incerteza da média dividindo o desvio padrão das amostras dos
grupos pela raiz quadrada da quantidade de elementos em cada amostra.
Assim, foram obtidos erros maiores do que 100pc para quase todas as
componentes. Além disso, foi feita propagação de incertezas na equação 4
para calcular o erro associado à distância do Sol ao centro galáctico(𝑅0 ).
Os valores de incerteza são muito altos principalmente para o grupo 2,
sendo assim, não tomaremos como referência esses valores obtidos pela
média das componentes para determinar a distância do Sol ao CG.

Dito isso, segue-se o trabalho obtendo-se três histogramas para cada um


dos grupos, com um intervalo de 2kpc na contagem dos AGs. Os
histogramas podem ser vistos nas figuras 5, 6 e 7.

Figura 5: Histogramas - Grupo 1: n° de AGs x distância(𝑑𝑥 , 𝑑𝑦 , 𝑑𝑧 )

5
Figura 6: Histogramas - Grupo 2: n° de AGs x distância(𝑑𝑥 , 𝑑𝑦 , 𝑑𝑧 )

Figura 6: Histogramas - Grupo 3: n° de AGs x distância(𝑑𝑥 , 𝑑𝑦 , 𝑑𝑧 )

Se as distribuições para as componentes y e z forem aproximadamente


simétricas, com máximos em torno de dy = 0 e dz = 0, então pode-se
estimar com melhor precisão o o valor de 𝑅0 considerando que as
distâncias dos AGs ao longo do eixo x têm uma distribuição gaussiana.
Deste modo, o número de AGs observados, No, em cada intervalo de
largura ∆(dx) = 2kpc é dado por:

1 𝑑 −𝑅
− ( 𝑥 0)
𝑁0 (𝑑𝑥 , 𝑅0 , 𝜎) = 𝑁𝑚𝑎𝑥 ∙ 𝑒 2 𝜎 (5)

Com isso, com os histogramas obtidos anteriormente, são traçadas


gaussianas em cada um dos grupo, mostrado nas figuras 7, 8 e 9.

6
Figura 7: Gaussianas - Grupo 1: n° de AGs x distância Figura 8: Gaussianas - Grupo 1: n° de AGs x distância

7
Figura 9: Gaussianas - Grupo 3: n° de AGs x distância

Analisando os histogramas e distribuições gaussianas pode-se inferir


alguns resultados:
▪ Os AGs estão mais aproximadamente simetricamente distribuídos
em torno de um ponto central.
▪ O grupo 3 de AGs possui a melhor distribuição simétrica, tal que os
picos em 𝑑𝑦 e 𝑑𝑧 estão mais centrados em 0 do que os demais. Já
para 𝑑𝑥 , pode-se inferir que o Sol também não está centrado num
ponto 0.
▪ Foram obtidos para cada caso um valor de 𝑅0 , a incerteza associada
a esse valor foi obtida pela matriz de covariância, pegando a diagonal
principal da matriz.

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Para finalizar essa análise, comparamos os valores de 𝑅0 obtidos
pelas gaussianas, através da equação 4, com os valores de 𝑅0 obtidos
tanto pela equação 4 usando os valores da tabela, quanto pela
equação 1. Na eq. 1, considerando que o sol está exatamente sobre
o plano galáctico e que a distribuição de AGs é perfeitamente
simétrica, fazendo com que 𝑅0𝑦 = 𝑅0𝑧 = 0
e 𝑅0𝑥 = 𝑅0 . Todos esses resultados obtidos podem ser vistos na
tabela 2.
𝑅0 (𝑘𝑝𝑐) → 𝑒𝑞. 4 𝑅0 (𝑘𝑝𝑐) → 𝑒𝑞. 7 𝑅0 (𝑘𝑝𝑐) → ℎ𝑖𝑠𝑡
Grupo 1 6,01 6,27 7,25 ± 0,01
Grupo 2 5,95 6,61 7,39 ± 0,04
Grupo 3 6,89 6,98 7,67 ± 0,08

Tabela 2: Valores de 𝑅0

Para dar continuidade, percebe-se que o valor de 𝑅0 que mais se adequa é


dado pelas distribuições gaussianas, tomando uma média desses valores
para cada um dos grupos, temos que: 𝑅0 = (7,32 ± 0,05)𝑘𝑝𝑐. Esse valor
se encontra próximo ao valor encontrado por Bica et. al.
𝑅0 = (7,2 ± 0,3)𝑘𝑝𝑐

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Relação [Fe/H] x R
(Distância dos aglomerados ao centro galáctico)

Para confirmar a relação da metalicidade com a distâncias dos


aglomerados globulares, é possível determinar a distância galactocêntrica
de todos eles, utilizando a lei dos cossenos:

𝑅 2 = 𝑑 2 + 𝑅02 − 𝐷 = 2𝑅0 𝑑𝑐𝑜𝑠 𝜃 (6)

𝑑̅ ∙ 𝑅̅̅̅0
𝑐𝑜𝑠𝜃 = (7)
|𝑑̅ | ∙ |𝑅
̅̅̅0 |

cos 𝜃 = cos 𝑏 ∙ cos 𝑙 (8)

Encontrado o valor de 𝜃 pode-se obter o valor de R e então é possível


fazer gráficos de [Fe/H] em função de R para toda a amostra de AGs, como
mostram as figuras 10, 11 e 12.

Figura 10: Grupo 1 – R x [Fe/H]

10
Figura 11: Grupo 2 – R x[Fe/H] Figura 12: Grupo 3 – R x [Fe/H]

Analisando primeiramente a figura 10, percebe-se que os AGs mais


distantes, acima de 40kpc, estão dispostos em metalicidade menores,
[Fe/H]< −1. Certamente pode-se concluir que os AGs com maior distância
ao CG possuem valores de metalicidade menor do que os AGs que se
encontram mais próximos. Excluindo os AGs que não possuem valor de
[Fe/H] na tabela, percebe-se pela figura 12 que de fato a maioria dos
aglomerados com metalicidade mais alta estão mais bem mais próximos
do Centro Galáctico do que os demais com metalicidade baixa, que podem
se encontrar até mesmo em distâncias longínquas do Halo galáctico.

Aglomerados que possivelmete são anômalos são os que possuem


distância ao CG acima de 100kpc. Há apenas dois deles em nossa amostra,
alguns entre 90kpc e 100kpc, mas não dá pra ter certeza sem um estudo
detalhado do movimento próprio e velocidade radial dos aglomerados.

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Conclusão

Ao realizar esse trabalho, verificou-se através de códigos na linguagem


Python, e através de três métodos distintos, que a distribuilção de
aglomerados globulares em nossa galáxia possui forte relação com as suas
metalicidades. Com isso, foi possível determinar um valor para a distância
do Sol ao Centro Galáctico, tal que o valor mais apropriado obtido, atrave´s
de distribuições gaussianas, foi de (7,2 ± 0,3)𝑘𝑝𝑐. Dito isso, encontrou-se
um valor aproximadamente igual à metade do valor encontrado por
Shapley no século XX.

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