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Duologia O R – Volume I
TAMIRES BARCELLOS
Sinopse
Giorgio De Piel
21 de Fevereiro de 2015
Dominick
22 de fevereiro de 2015
24 de março de 2015
Um mês depois...
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Kiara
Kiara
***
Dominick
Kiara
Dominick
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Kiara
Dominick
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Kiara
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Dominick
Kiara
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Dominick
“Então venha
Risque o fósforo, risque o fósforo agora
Nós somos um par perfeito, perfeito de alguma forma
Nós fomos feitos um para o outro”
(Fire Meet Gasoline, Sia)
Kiara
***
Dominick
Kiara
Dominick
— Está nervoso?
Olhei para Dimir parado próximo à minha cama. Ele vinha me
observando atentamente durante aqueles dias e aquela porra
estava me deixando ainda mais irritado. Eu não precisava de babá!
— Por que estaria nervoso, Dimir?
— Porque é como você anda ultimamente. Nervoso, irritado,
de mau humor...
— E você está que nem uma dona de casa que não tem mais
o que fazer e fica tomando conta da vida dos outros! — rosnei,
terminando de ajeitar minha gravata em frente ao espelho.
— Eu tenho que tomar conta de você, porque, se não
percebeu, eu sou a única pessoa que você está dirigindo a palavra
no momento, além de Arthur. E como eu tenho certeza que meu
filho de cinco anos não entenderia o que está acontecendo, eu que
sou mais velho estou tentando entender.
— Não tem o que entender.
— Não? Então me explica por que diabos você não está
falando com Kiara?
— Eu não tenho nenhum tipo de assunto a tratar com ela.
— Eu não consigo compreender vocês. No jantar com meu
pai e Eurick vocês estavam se dando bem e não venha me dizer
que aquilo era atuação, porque eu sei que não era. E então, no dia
seguinte, já não estavam mais se falando. Passaram a semana
inteira sem olhar um para o outro. O que está acontecendo?
Observei Dimir pelo espelho e desviei o olhar, também me
fazendo a mesma pergunta. O que estava acontecendo? Eu havia
decidido me afastar de Kiara, não falar com ela, pois sabia que isso
iria mexer com ela e logo ela viria falar comigo. Mas não aconteceu!
Ela me ignorava, passava por mim e não falava comigo, sentava ao
meu lado à mesa e sequer me olhava. Eu estava quase implorando
com o olhar para que ao menos levantasse a cabeça em minha
direção e ela não o fazia.
Por quê? Por que ela não me queria mais? Por que estava
fazendo tudo aquilo comigo? Era divertido brincar de “ignorar o
Dominick”?
— Ela não quer falar comigo! — admiti, enraivecido, me
sentando na poltrona próxima ao espelho. — Kiara está
simplesmente me ignorando, Dimir!
— Que merda você fez para que isso acontecesse?
— Por que você acha que a culpa é minha?
— É óbvio que a culpa é sua. Kiara não ia te ignorar à toa,
Dominick.
— Aconteceu uma coisa na noite do jantar... E agora ela quer
que eu peça desculpas.
— Que coisa? — perguntou com o cenho franzido, mas acho
que só precisou de um minuto para entender do que eu estava
falando. — Vocês transaram?
— Não, nós apenas... Bem, você sabe.
— E qual foi a merda que você fez depois disso? Mostrou seu
chicote a ela e ela saiu apavorada e insultada? — Ele sorriu de lado,
se divertindo com a minha situação.
— Não! Eu não sou louco de fazer isso, tem toda uma
preparação. Kiara não é submissa e se eu a apresentar a esse
mundo de forma errada, corro o risco de afastá-la para sempre.
— Tem razão — concordou, vindo em minha direção e
sentando-se na poltrona a minha frente. — E o que você fez de tão
horrível, meu amigo?
— Eu fugi. Falei umas merdas e praticamente corri do quarto
assim que terminamos.
— Por quê?
— Porque ela mexe comigo, Dimir! Ela mexe comigo de uma
forma que eu não sei lidar! O andar dela me chama atenção, seu
olhar me chama atenção, até mesmo o respirar dela me chama
atenção e essa porra nunca aconteceu comigo! Se fosse outra
mulher me ignorando, eu estaria pouco me fodendo, mas com ela
não é assim! A cada vez que eu a chamo com o olhar e ela não me
atende, eu sinto vontade de colocá-la nos meus joelhos e bater nela,
mas eu tenho certeza de que se ela me olhasse, eu esqueceria de
tudo e seria capaz de ajoelhar apenas para agradecer por ela ter me
dado um segundo da sua atenção! É isso o que ela faz comigo!
Apenas quando parei de falar foi que percebi que eu havia
levantado e que estava andando de um lado para o outro em meio
ao meu quarto. Me senti claustrofóbico quando parei, com vontade
de arrancar aquela roupa chique do meu corpo e gritar, colocar o
animal que havia dentro de mim para fora, mas não fiz. Primeiro
porque não seria sensato e segundo porque Dimir estava com os
olhos arregalados e com a boca aberta, me olhando.
— Pare de me olhar assim!
— Você... De joelhos?
— Foi só modo de dizer!
— Agradecendo um segundo de atenção?
— Dimir...
— Meu Deus — murmurou, parecendo perdido. — A situação
está pior do que eu imaginava.
Engoli em seco, passando a mão pelos cabelos, já
arrependido de ter aberto a minha maldita boca.
— Esqueça o que eu falei, Dimir. Apenas esqueça.
— Esquecer? Impossível! Dominick, eu nunca imaginei que
iria ouvir algo assim de você! — falou e me olhou como se eu fosse
outra pessoa, mas logo depois, sorriu de lado. — Não está
percebendo, não é?
— Percebendo o quê?
— Que você está se apaixonando.
Senti meu coração saltar violentamente, me fazendo parar no
meio do quarto e olhar Dimir sem realmente ver. Suas palavras se
repetiam incansavelmente na minha cabeça, enquanto eu tentava
respirar com dificuldade. Não queria acreditar naquilo! Era
impossível! Eu jamais me apaixonaria, ao menos sabia como era me
apaixonar, como sentiria aquilo?
— Não... Claro que não! — murmurei, piscando algumas
vezes para voltar a ser o dono das minhas emoções. Consegui
rapidamente e sorri com escárnio, ainda me sentindo totalmente
abalado por dentro. — Isso nunca vai acontecer, Dimir. Eu jamais
vou me apaixonar por Kiara e nem por outra mulher.
Ele se levantou e sorriu abertamente para mim, se
aproximando.
— Por outra mulher com certeza não. Mas por Kiara, você já
está praticamente de quatro. — Riu e bateu duas vezes no meu
ombro, antes de se afastar. — Vai ser uma delícia assistir a sua
transformação de camarote, Nick. Vou reservar minha pipoca.
Ainda pensei em xingá-lo, mas a próxima coisa que ouvi foi a
porta do meu quarto sendo fechada. Estava sozinho e novamente
aquela sensação de claustrofobia me tomou, juntamente com as
palavras de Dimir, fazendo-me sentar na poltrona e passar as mãos
pelos cabelos.
O que estava acontecendo com a minha vida? Quando parei
de tomar conta de mim mesmo e me permiti virar aquela massa de
emoções violentas? Quando comecei a me importar tanto assim por
Kiara?
Respirei fundo, me obrigando a voltar a ser o que era antes,
um homem concentrado, dono de suas emoções e pensamentos.
Eu não estava me apaixonando, o que sentia por Kiara era apenas
orgulho ferido. Logo que ela voltasse a falar comigo, tudo estaria
resolvido.
Simples assim.
Levantei e terminei de me arrumar, vendo que estava perfeito
para uma noite tão importante. Kiara seria apresentada a todos
como minha noiva e futura Rainha de Orleandy. Em breve, eu me
casaria e tudo andaria em seu curso normal, com Kiara sendo
minha mulher na cama e a rainha perfeita para o meu povo.
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Kiara
Kiara
Dominick
Um mês depois...
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Kiara
Kiara
Dominick
Kiara
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Dominick
Kiara
Dominick
Dominick
Dominick
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Dominick
Kiara
***
O arcebispo falava sobre a importância de ser uma boa
rainha e comandar um país tão amável como Orleandy. As pessoas
o olhavam compenetradas, interessadas no discurso, mas eu não
conseguia fazer o mesmo, apesar de tentar disfarçar. Dominick
estava sentado ao meu lado e segurava a minha mão, sério como
sempre, parecendo tão interessado no discurso do arcebispo quanto
todos no salão
Mas a minha mente ainda estava presa no fato de que eu
estava sem calcinha e pegajosa no meio das pernas. Como
Dominick conseguia mexer tanto comigo? Por que me excitava se
nem mesmo estava olhando para mim naquele momento? Desviei
meus olhos dele e me remexi no trono macio, me sentindo
incomodada demais, excitada demais. E, principalmente, nervosa
porque não conseguia registrar nada do que o arcebispo falava.
Se ele me fizesse alguma pergunta, estaria ferrada.
— Anjo, fique quieta, ou todos irão perceber que você está
louca para dar para mim — Dominick sussurrou no meu ouvido e
depois voltou ao seu lugar, sério, como se não tivesse dito nada de
mais.
Senti vontade de xingá-lo, mas sabia que se eu abrisse a
boca, não conseguiria falar tão baixo quanto ele, então, me obriguei
a ficar quieta e quando tentei tirar minha mão da sua, ele a apertou
e a levou aos lábios, dando um beijo amoroso. Aquilo me fez
derreter e sorrir, antes de olhar para frente novamente.
— É com muito orgulho e satisfação que chamo aqui na
frente a senhora Kiara Andrigheto Domaschesky, futura Rainha de
Orleandy.
Dominick se levantou e estava lindo demais com um manto
vermelho nas costas, assim como o meu. Sua coroa brilhava com a
luz dourada e eu o achei sexy demais com toda aquela roupa,
apesar de preferi-lo sem ela.
Assustada com meus pensamentos em um momento tão
inadequado, me obriguei a parar de pensar em sexo e aceitei a mão
que Dominick me oferecia. Me levantei e caminhei até o púlpito,
onde vi os papéis do meu discurso.
— É com imenso orgulho que estou aqui hoje, prestes a ser
coroada como Rainha de Orleandy — falei ao microfone, sentindo
alguns flashes pipocarem em meu rosto. — Me sinto honrada em
me tornar a rainha desse país que tanto amo, depois de termos
perdido nossa querida Rainha Marie, há trinta anos. Prometo estar
sempre ao lado de meu marido, o Rei Dominick Andrigheto
Domaschesky, apoiando-o e aconselhando-o a zelar sempre pelo
nosso povo e nosso país. Prometo que, junto a ele, iremos seguir
com cada nuance de nossa Constituição e fazer um reinado
tranquilo e longínquo.
Encerrei ouvindo uma salva de palmas. Sorri e o arcebispo
veio até mim com uma pequena taça de prata, contendo um óleo.
Ao seu lado, o padre segurava uma grande almofada de veludo,
contendo a enorme coroa, Dominick estava ao lado do padre e não
parava de me olhar daquele modo depravado, que me deixava
louca.
— Com este óleo, te ungirei e caminhará lado a lado com o
nosso Senhor e seu marido nessa bela jornada — o arcebispo falou,
ungindo-me com o óleo.
No momento seguinte, olhou para Dominick e ele pegou a
coroa nas mãos. Vindo até a mim, parou na minha frente e levantou
a coroa para que eu pudesse vê-la. Era linda, toda dourada e
cravejada com diamantes e uma pedra azul que me lembrava safira.
— Com esta coroa, lhe coroarei, para que se torne apta a
reinar este lugar ao meu lado. Com esta permissão, acenderá o
nosso candelabro, símbolo sagrado de nosso país, e essa chama se
manterá acesa por toda a eternidade.
Sem que eu precisasse me abaixar, Dominick colocou a
pesada coroa de ouro em minha cabeça. O padre me deu uma
pequena vela branca e fui guiada até a mesa de madeira maciça ao
lado do púlpito, onde estava um enorme candelabro de ouro, com
vinte e duas velas acesas. Dominick havia me explicado que aquele
era o candelabro dos reis. O que eu iria acender era um pouco
menor e só havia vinte e uma velas acesas, uma vela para cada
rainha que Orleandy já havia tido.
Posicionei a vela branca em minha mão na vela grande no
candelabro e a acendi, sentindo meu coração pular no peito.
O aplauso fervoroso de todos apenas me provou que sim, eu
havia acabado de me tornar a Rainha de Orleandy.
Capítulo 27
Kiara
Kiara
Kiara
Sorri ao ler o que meu Rei Dom tinha deixado para mim
naquela manhã. Os dias, as semanas e os meses se passavam,
mas ele continuava um romântico incurável e eu amava. Feliz, me
levantei da cama, ouvindo o barulho do chuveiro ligado. Eram nove
horas da manhã, o sábado havia chegado e estava um lindo dia
para o final daquele verão.
Ansiosa, abri devagarinho a porta do banheiro e vi a silhueta
do corpo de Dominick pelo vidro embaçado do boxe. Queria
aproveitar aquele dia com ele, já que raramente parava em casa nos
dias de semana. Várias reuniões estavam tomando conta do tempo
do meu atarefado rei e eu, a rainha grávida, não podia acompanhá-
los nas viagens que ele fazia as vezes.
Tirei a camisola que vestia e, antes de entrar no chuveiro, me
admirei no espelho, vendo como minha barriga estava crescida. Era
incrível como havia disparado. No começo eu achava que tinha
pouca barriga, era praticamente um ovo aos quatro meses, mas
agora, no quinto mês, estava grande. Realmente grande, agora sim
eu parecia uma grávida de verdade. Sorri para a imagem que
aparecia para mim. Me achava uma grávida bonita e, até agora, não
tinha inchado como Dallah e Andy disseram que poderia acontecer.
Acariciei meu ventre e, disposta a não perder mais tempo,
abri a porta do boxe e entrei. Dominick estava de costas para mim,
enxaguava o cabelo, mas parou assim que me viu. Estava sério
como sempre, mas não me importei e o agarrei pela cintura,
abraçando-o com força.
— Bom dia, Rei Dom!
Senti suas mãos acariciarem minhas costas e um beijo foi
estalado em minha testa.
— Bom dia, anjo — murmurou entre meus cabelos. — O que
houve? Acordou cedo para um dia de sábado.
— É porque eu quero aproveitar o dia com você. Chegou de
viagem ontem e nem pude matar as saudades. Por favor, não
chegue mais de madrugada!
Ele sorriu e esfregou o nariz no meu. Adorava seu carinho, a
forma como me tocava e me olhava.
— Sim, Vossa Majestade. Pode deixar, não chegarei mais tão
tarde assim.
Sem falar mais nada, me puxou consigo para debaixo da
ducha. A água morna me atingiu em cheio, mas eu adorei,
principalmente porque estava ali com o meu marido depois de ficar
quase uma semana longe dele.
— Ei, não está esquecendo de nada?
Dominick franziu o cenho e me olhou.
— De quê?
— De falar com esse serzinho fofo que o senhor colocou
dentro da minha barriga! — falei, divertida, saindo debaixo da ducha
e apontando para minha barriga com orgulho. — Veja, não cresceu
mais desde a última vez que nos vimos?
Ele olhou para o meu rosto e depois desceu o olhar até a
minha barriga. Era um pouco estranho. No começo, pensei que
Dominick seria daquele tipo de pai que não se desgrudaria da
barriga até porque foi ele que tanto me pediu um filho. Mas não foi
isso que aconteceu. Às vezes, o sentia distante demais, como se
não se lembrasse de que existia um bebê dele se formando dentro
de mim.
Nas primeiras semanas, fiquei desesperada. Mas,
conversando em particular com minha ginecologista, ela disse que
isso não era incomum, que as vezes os pais de primeira viagem não
sabiam como lidar com o bebê e nem com a mãe. E disse que eu
teria que estimulá-lo, fazendo-o participar de tudo sobre o bebê,
chamá-lo para acariciar minha barriga, contar os avanços que meu
corpo sofria a cada dia.
Concordei e realmente quis fazer isso, mas com suas
viagens, ficava um tanto difícil. Quase toda semana ele tinha que ir
para algum lugar e quando voltava, por mais que eu quisesse contar
o que vinha acontecendo ou chamá-lo para ver as coisinhas que
havia comprado para o bebê, não dava tempo. Tudo era muito
corrido.
E como eu não tinha muita barriga, ele dava a desculpa de
que só iria tocar quando desse para sentir o bebê, ou quando minha
barriga estivesse redondinha. No começo, eu ri do que havia falado,
achando que era brincadeira, mas com o passar das semanas, eu vi
que não era. Ele havia falado sério.
Mas agora, com minha barriga grande, ele não tinha para
onde fugir. Exatamente por isso que peguei suas duas mãos e as
pressionei contra minha barriga de grávida. Dominick não se moveu,
estava sério demais, mas relevei e falei mesmo assim:
— Fale com o bebê. Ele já nos escuta, sabia? — murmurei,
escorregando sua mão por minha barriga. — Diga um bom-dia para
sua cria, Rei Dom! — brinquei ao vê-lo ainda muito sério.
— Como sabe que escuta?
— Eu li nos livros que comprei.
— E você acredita? — falou, rindo sarcástico no final. — Por
acaso, os autores desses livros se lembram de quando estavam na
barriga ou conseguiram interagir com um feto de vinte e duas
semanas para saber se eles realmente escutam?
Olhei para ele chocada, sem entender aquela reação tão fria
e indiferente. Mas ali eu enxerguei a verdade que estava sendo
esfregada na minha cara havia meses e eu me recusava a enxergar.
Dominick continuava a ser o mesmo comigo. Era carinhoso,
amoroso, romântico, fazia amor comigo do mesmo jeito que antes,
me tratava bem. Mas com nosso filho ele não era assim. Era frio,
distante, dava desculpas para não falar sobre ele e sempre mudava
de assunto quando eu queria conversar sobre aquela criança que se
formava dentro de mim e que eu já amava tanto.
Magoada e com raiva, tirei as mãos dele da minha barriga e
lhe dei as costas, entrando debaixo da ducha. Não sei como
encarou minha reação, se não entendeu ou fingiu que não
entendeu, mas mesmo assim veio até mim e colocou a mão na
minha cintura, beijando meu ombro e subindo até minha orelha.
— Senti saudades de você, querida...
Estressada, tirei suas mãos de mim e me virei para ele,
observando quando franziu o cenho.
— Dominick, no momento, eu sou essa criança que está
dentro de mim. Nós somos a mesma pessoa. E se você não sentiu
saudades dela, não quer saber como ela está e acha que ela não o
escuta, eu também não vou te escutar. Se pode ignorar o seu filho,
a criança que você tanto queria, pode me ignorar também!
— Jura que vai brigar comigo por causa disso, Kiara?
— Se esse “isso” for o meu filho, pode ter certeza de que sim
— falei, tirando o sabão do meu corpo e saindo do boxe.
Para não perder tempo, enrolei uma toalha no cabelo,
coloquei o meu roupão e saí do banheiro. Fui em direção ao closet e
me tranquei lá, olhando-me no espelho, sem entender o que estava
acontecendo. Senti as lágrimas começarem a se formar e respirei
fundo, tentando contê-las, mas sem obter sucesso. Estava sensível
demais, qualquer coisa me fazia chorar e agora não seria diferente.
Toquei em minha barriga e acariciei, sussurrando:
— Não ligue para o idiota do seu pai. Ele não sabe o que está
perdendo ao ignorar você, meu amorzinho.
Continuei me olhando no espelho, ainda tentando entender
como uma pessoa poderia ignorar uma criança, mesmo ela ainda
estando na barriga. Uma criança que era seu filho, sangue do seu
sangue. Mas, por fim, limpei minhas lágrimas e respirei fundo. Tinha
certeza de que agora Dominick teria um daqueles seus rompantes
de realidade e enxergaria o quanto estava sendo idiota.
Tirei o roupão e a toalha do meu cabelo e me vesti com um
dos meus novos vestidos de grávida. Era lindo, rosa, rodado e
marcava direitinho minha barriga. Em breve não me serviria mais,
por isso, resolvi estreia-lo. Talvez, quando Dominick viesse me pedir
desculpas, poderíamos sair para fazer compras para o bebê e eu já
estaria arrumada, apenas esperando.
Um pouco mais animada, abri minha gaveta com os sapatos
e estava prestes a pegar minha sandália quando vi as sapatilhas
que Robin havia me dado. As peguei e sorri um tanto melancólica.
Só havia usado algumas vezes antes da gravidez e estava com
saudades de me aventurar no balé, mas sabia que não podia. Não
colocaria minha gravidez em risco apenas porque queria me lembrar
de alguns passos de balé.
As acariciei e, de repente, senti minha mente rodar e me
lembrei. Me lembrei exatamente do dia em que mostrei minhas
sapatilhas novas para minha mãe. A cena veio tão nítida na minha
mente que eu pude me lembrar detalhe por detalhe de exatamente
tudo o que falávamos.
“Tudo de mim
Porque não leva tudo de mim?
Você não vê?
Que eu não sou bom sem você
Dominick
Duologia O R – Volume II
TAMIRES BARCELLOS
Sinopse
Giorgio De Piel
27 de Outubro de 2015
Dominick
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