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A PAIXÃO DO REI

"Submeta-se ao seu rei e será


altamente recompensada"

Duologia O R – Volume I

TAMIRES BARCELLOS
Sinopse

O misterioso Dominick Andrigheto Domaschesky, Príncipe de


Orleandy, país que se estende por boa parte da Europa, se vê
diante do trono de rei muito mais cedo do que gostaria.
Com o falecimento de seu pai, Dominick assume o reinado
como principal sucessor ao trono aos trinta anos de idade. Sentia-se
preparado e confiante para assumir o poder, mas foi pego de
surpresa quando seus conselheiros lhe propuseram a achar a rainha
ideal.
Totalmente avesso a relacionamentos, Dominick tinha
colocado em sua cabeça que jamais se casaria e sequer pensava
em colocar uma aliança no dedo, mas, segundo a filosofia de seu
pai, "um rei não é nada perante a sociedade, sem uma rainha ao
seu lado".
Pressionado pelo clero, Dominick chega à conclusão de que
sim, iria se casar, mas seria do seu jeito. Com a ajuda de seu
melhor amigo e conselheiro, Dimir, ele entra em um mundo
diferente, desaparece por algumas semanas e volta com a rainha
perfeita ao seu lado.
Completamente desmemoriada, Kiara Neumann acorda em
um castelo e recebe a informação de que se tornará noiva do Rei de
Orleandy. Mas como ela poderia estar prestes a se casar se ao
menos se lembrava de sua vida? Poderia confiar na palavra de
Dominick, que não fazia a mínima questão de ser cortês com ela?
Como poderia se casar se sequer o amava? Ou melhor... Seria ela
capaz de amar um homem tão frio quanto aquele rei?
Em meio a segredos, sedução e todo um reino a ser
comandado, Dominick seria capaz de se apaixonar por sua doce
esposa? Talvez sim, mas se os segredos do passado começassem
a rondar o casal, o mundo frágil de contos de fadas seria abalado
para sempre.
Prólogo

Giorgio De Piel

21 de Fevereiro de 2015

"Ducentésima nonagésima anotação"

Quando um ciclo se acaba, outro começa, isso é fato.


Ante a falta de seu amor, hoje, eu sei e sinto, Vossa
Majestade, o querido Patrick Andrigheto Domaschesky, rei de minha
querida e amada Orleandy, partirá para os braços de sua amada
esposa, que infelizmente o deixou ao dar à luz a seu único filho,
Dominick Andrigheto Domaschesky.
Lágrimas de tristeza rolarão pelas faces de seus súditos, de
seu povo que sempre o amou e que não esperava uma morte tão
repentina. Mas é sempre assim. Algumas vezes, a morte anuncia
sua chegada antecipadamente. Outras, ela apenas vem e toma de
nós aqueles que tanto amamos.
O livro de meu querido rei se fechará nessa vida, mas se
abrirá em uma próxima, onde, com toda a certeza, amará seus
frutos para se redimir por não amar seu primogênito.
E, deixando-o, Dominick herdará o trono e comandará com
mãos de ferro. Pode nunca ter recebido amor daquele que estimava
como a um herói quando criança, mas fora preparado desde cedo
para estar ali e assumir aquele lugar.
E, então, seu novo ciclo começará.
E o amor... O amor, aquela sementinha que serve tanto para
enaltecer quanto para destruir será plantada em seu coração da
maneira mais improvável. Dominick errará, tropeçará e, com a ajuda
de sua amada, se erguerá para alcançar a glória.
Mas até lá, passará por percalços. E eu, um velho amigo e
conselheiro, estarei aqui para ajudá-lo da melhor maneira possível.
Mas, perante a tantos erros, apenas a Providência Divina saberá
responder se ele terá seu final feliz ou não.
Um novo ciclo começará...
E eu estarei aqui para observar.
Capítulo 1

"Tudo o que eu tenho está sobre o chão"


(Turning Tables, Adele)

Dominick

22 de fevereiro de 2015

Olhei para a enorme escultura feita de mármore Carrara. Era


meu pai, deitado, com as duas mãos sobre o peito. Estranho pensar
que faziam esculturas bonitas e realistas daquela maneira para
tampar a tumba de uma pessoa morta. Fora assim com minha mãe
e agora com meu pai. Os dois estavam enterrados lado a lado, em
um mausoléu dentro da maior Igreja Católica de nosso país.
Coloquei as mãos nos bolsos do meu sobretudo preto e
suspirei finalmente sozinho naquele dia tão triste para Orleandy.
Todos amavam meu pai, que sempre foi um rei dedicado, gentil e
justo. Fazia questão de estar em todas as comemorações festivas
do país e sempre fazia seu discurso televisivo em datas especiais,
como Páscoa e Natal.
Uma pena que ele não sentia realmente toda a alegria que
demonstrava em seus discursos longos e bonitos, escrito por algum
conselheiro do Parlamento. Pena também que ele, como homem e
pai, não era nem um pouco parecido com o rei altivo e sorridente
para o povo.
O Patrick que eu conhecia era um homem distante, frio, que
colocava a culpa da morte de sua mulher nos ombros do seu único
filho. Minha mãe morreu ao me dar à luz, mas não creio que tenha
sido de todo a minha culpa. Quando era pequeno, eu não entendia.
Todos no reino tinham uma mãe e eu não. Com o tempo, me foi
explicado que minha mãe teve uma complicação no parto, onde
viveria ou ela ou eu e ela escolheu me deixar viver.
Acho que meu pai nunca aceitou isso muito bem. Podia ver
em seus olhos o quanto era apaixonado por minha mãe. Seu quarto,
onde passava a maior parte de seu tempo, era repleto de quadros e
pinturas dela e ele nunca mudou sequer um objeto que ela havia
colocado ali. E eu... Bem, eu fui criado por Norah, a governanta do
palácio. Posso dizer que se tenho uma veia emotiva no meu corpo,
era por causa daquela senhora baixinha e rechonchuda, que corava
na velocidade da luz.
Ela foi minha mãe e meu pai. Foi meu porto seguro, me
ensinou coisas fundamentais, enquanto meu pai se aproximava de
mim apenas para dar alguma lição sobre ser o “Rei Perfeito”. Tenho
certeza de que, se não fosse contra a ética e a dinastia, ele
escolheria meu primo Dimir para ser rei, apenas porque não gostava
de mim. Mas, como não era possível, seu principal objetivo fora
fazer de mim um homem digno de ter o trono que sempre pertenceu
a sua família.
Agora, eu seria o rei. Pensar nisso não me deixou tão feliz
quanto eu ficava quando era criança, quando, em raríssimas vezes,
meu pai me dava um sorriso orgulhoso por ver que me dedicava em
seus ensinamentos. Sempre lutei para dar orgulho a ele e acho que
tudo isso foi em vão. Agora, entretanto, não tinha mais como fugir.
Estava pronto, preparado e decidido. Seria o novo Rei de
Orleandy e daria seguimento a tudo o que meu pai construiu.
Assim, quem sabe, ele não sinta orgulho de mim, mesmo
estando longe, no céu.
***

24 de março de 2015

Um mês depois...

Observei todos à minha frente, sentindo-me confiante.


Sentado ao meu lado esquerdo estava meu primo Dimir
Domaschesky, Duque de Sword; ao seu lado estava o Conde
Joseph Domaschesky, meu tio e pai de Dimir; e ao meu lado direito
estava o Marquês Eurick Sabar. Tirando Dimir, os outros dois
senhores haviam acompanhado o reinado do meu pai desde o
princípio.
Era o dia da minha coroação e, apesar de ser praxe ser
coroado apenas anos depois da morte monarca anterior, meus
conselheiros disseram-me que, quanto mais rápido fosse nomeado
rei, melhor. Até porque esse era um desejo de meu pai.
O salão do palácio estava lotado. Na primeira mesa pude ver
minha tia Katherine, esposa de meu tio Joseph, ao seu lado estava
Dallah, esposa de Dimir, que segurava protetoramente o pequeno
Arthur, que dormia em seu colo. Minha família de sangue se resumia
a eles, apesar de não ter muito contato com tio Joseph e tia
Katherine. Já Dimir era meu melhor amigo e Dallah era... Dallah.
Uma mulher legal, uma boa amiga e totalmente doida.
Em outra mesa fiz questão de acomodar Norah e Anna. Eram
empregadas do palácio e pude ver como se sentiam sem graça em
meio a elite, mas mesmo assim, deixei bem claro que elas eram
obrigadas a comparecer. Não sei expor meus sentimentos muito
bem, na verdade, sou completamente ignorante nesse assunto de
amor, mas elas sabiam o quanto eram especiais para mim. Foram a
mãe e o pai que eu não tive e muita coisa eu devia a elas duas.
De resto, apenas pessoas nobres e sem importância para
mim. Duas equipes de televisão estavam ali para reportar o
pronunciamento ao vivo para todo o mundo e também a equipe de
assessoria de imprensa do palácio, para transmitir tudo
simultaneamente pela internet.
Observei a tudo sem demonstrar maiores emoções e soube
que era o momento para meu discurso quando o Arcebispo John se
levantou de sua poltrona e foi ao centro do palco onde estávamos,
chamando a atenção de todos. O silêncio reinou no lugar.
— Primeiramente, gostaria de desejar uma ótima tarde a
todos os presentes. — O arcebispo começou e esperou que todos
terminassem de responder. — Como foi de desejo do nosso
saudoso Rei Patrick Andrigheto Domaschesky, estamos aqui,
reunidos no dia hoje, para dar seguimento a monarquia de nosso
amado país. Contudo, não podemos deixar de fazer uma pequena
oração para que a alma de nosso amado rei esteja descansando em
paz. Gostaria de pedir um minuto de silêncio em memória de Patrick
e nossa amada Rainha Marie que nos deixou tão cedo.
Olhei para os meus pés, ficando em silêncio junto a todos,
pensando que gostaria de ter conhecido minha mãe. Segundo
relatos, ela era uma mulher dócil e sensível, que ficou exultante
quando descobriu que estava grávida. Grávida do filho que a matou.
No fundo, meu pai sempre teve razão: se ela não tivesse me
escolhido, ainda estaria aqui. Talvez com outros filhos. E eles teriam
sido felizes, como foram antes de eu nascer e tudo acontecer.
Expulsei aqueles pensamentos infantis e voltei a olhar para
frente, percebendo que o arcebispo havia voltado a falar. Eu era um
homem formado, de trinta anos, prestes a comandar um país
importante para o Continente Europeu. Aqueles pensamentos que
sempre rondaram minha mente quando criança, teriam de morrer e
ser enterrados, quem sabe junto com meu pai, que foi a pessoa que
sempre me culpou por tudo.
— É com muito orgulho e satisfação que chamo aqui na
frente o jovem Dominick Andrigheto Domaschesky, futuro Rei de
Orleandy.
Havia perdido boa parte do discurso do arcebispo, mas a
minha expressão de seriedade alegava que não havia ser mais
presente naquele salão do que eu. Com isso, me levantei de minha
poltrona sentindo o manto vermelho de veludo pesar em meus
ombros, por cima do uniforme tradicional de coroação, que havia
sido feito sob medida para mim. Caminhei até o centro do palco e
parei em frente ao púlpito, vendo a folha impressa com o meu
discurso.
Olhei a todos sem focar em ninguém, ouvindo o aplauso
estrondoso e sentindo alguns flashes pipocar em meu rosto. Contive
o ímpeto de mandar o fotógrafo de merda parar de apertar
freneticamente aquela câmera e olhei para meu discurso, ouvindo
as palmas cessarem. Com seriedade, comecei a ler em voz alta:
— É com pesar que, há um mês, constato a perda
irremediável de meu pai. O homem que me amou, me deu suporte e
educação durante toda a minha vida, até o dia de sua morte. Se
hoje sou o homem que vos fala, saibam que não seria nada se não
fosse por vosso amado Patrick. Que Deus o tenha em bom amparo,
pai — falei, querendo rir.
Aquele discurso era uma piada.
— Contudo, é com imenso orgulho que estou aqui diante dos
senhores, para ser coroado como Rei de Orleandy, um país rico em
cultura, com um povo que tanto amo. Assim como nosso primeiro
rei, Ronald Alexander Domaschesky, que foi o homem responsável
por tornar o nosso país independente em 1755, continuarei a liderar
esse lugar com toda a minha força e ímpeto, colocando sempre em
primeiro lugar o meu povo e seus pedidos. O bem-estar de cada
família de Orleandy é o princípio de meu reinado.
"Como meu amado pai sempre falava para mim: ‘esteja ao
lado de seu povo e serás abençoado’. Aqui, diante de todos, faço o
juramento de sempre defender meu país e a nossa amada Igreja.
Prometo seguir com cada nuance de nossa Constituição e fazer
deste um reinado tranquilo e longínquo."
Encerrei ouvindo uma nova salva de palmas. Não sorri, até
porque sorrir era algo que eu pouco fazia e não iria mostrar meus
dentes apenas porque os nobres queriam me ver feliz, ou
emocionado. O arcebispo veio até mim com uma pequena taça de
prata contendo um óleo. Ao seu lado, o padre segurava uma grande
almofada de veludo contendo a enorme coroa.
— Com este óleo, te ungirei e caminhará lado a lado com o
nosso Senhor, nessa bela jornada — o arcebispo falou, ungindo-me
com o óleo. No momento seguinte, pegou a coroa nas mãos e
olhou-me. — Com esta coroa, lhe coroarei, para que se torne apto a
reinar este lugar. Com esta permissão, acenderá o nosso
candelabro, símbolo sagrado de nosso país, e essa chama se
manterá acesa por toda a eternidade.
Abaixei-me um pouco e o Arcebispo John colocou a pesada
coroa de ouro com diamantes azuis em minha cabeça. O padre me
deu uma pequena vela branca e fui guiado até a mesa de madeira
maciça ao lado do púlpito, onde estava o enorme candelabro de
ouro, com 21 velas douradas acesas, cada vela para um rei que
Orleandy já teve. A minha era a vigésima segunda e, assim que
encostei minha vela pequena à grande vela do candelabro, senti o
peso daquela responsabilidade em minhas costas.
O aplauso fervoroso de todos apenas me provou que eu
havia acabado de me tornar o Rei de Orleandy.

***

A festa em comemoração à minha coroação foi até tarde.


Garçons andavam de um lado a outro com bandejas cheias de
bebidas e comida, chefes de Estado de outros países vinham me
cumprimentar a cada momento, assim como os mais nobres de
Orleandy. Tudo estava um verdadeiro saco e confesso que o que
me prendia à festa eram as mulheres. Havia uma loira e uma
morena que estavam sentadas em uma mesa, mas que não
paravam de olhar para mim.
A morena era mais ousada. Quando eu olhava, ela me
encarava da mesma forma, altiva, como se me desafiasse a ir até lá
para falar com ela. Já a loira era mais recatada. Desviava o olhar
quando eu a encarava e se contorcia na cadeira quando meu olhar
vagueava pelo seu corpo. Era divertido ver o que eu causava nelas,
o modo como a maioria ficava tímida pelo meu olhar analisador e
minha expressão que não deixava brechas para que soubessem no
que eu estava pensando.
Mesmo assim, eu soube que não poderia ficar com nenhuma
das duas. Se antes de me tornar rei eu já tomava cuidado com
quem me relacionava, agora que tinha o peso de Orleandy nas
costas, meu cuidado deveria se triplicar. E, pelo visto, eu ficaria
algum tempo sem meu calabouço, já que cada uma das minhas
antigas mulheres havia tomado rumos diferentes.
Cansado, vi a hora se arrastar enquanto tentava ser o mais
simpático possível com todos. Quando finalmente tive um pouco de
descanso, depois de abrir brecha para uma pequena entrevista com
a assessoria de imprensa do palácio, me sentei à mesa de Dimir e
Dallah, que alimentava Arthur. Ele era um bom menino, loirinho, de
cinco anos, mas aprontava e adorava mexer em tudo o que via pela
frente.
— Tio Nick! — ele saudou, sorrindo para mim, a boca toda
suja de comida. Sorri de lado ao ouvi-lo me chamar de "Nick". Só
ele tinha permissão para isso. — O senhor estava muito legal lá em
cima. Mamãe tirou várias fotos.
— Tirou? — perguntei, olhando-o.
— Aham! — afirmou, balançando a cabecinha. — Essa sua
coroa é muito legal, depois eu vou querer usar, tá?
— Arthur, essa coroa você não vai poder usar. Use a que a
sua avó te deu — Dimir falou, limpando a boca dele com um pano
branco. Depois se virou para mim e sorriu. — Até que você não foi
nada mal.
— Se isso foi um elogio, eu agradeço — murmurei, mal-
humorado. — Aliás, quem foi que escreveu aquele discurso? Que
merda era aquela sobre meu "amado" pai?
— Não me olhe assim, Vossa Majestade, pois não fui eu —
confessou, levantando as mãos. — Deve ter sido algum assessor.
— Com certeza essa pessoa sabe muito sobre a minha vida.
— O que você queria, Dominick? Que no discurso estivesse
escrito que a sua relação com seu pai era tão fria quanto uma pedra
de gelo? Que ele não se importava com você? Querido primo, se
fosse assim, seu reinado acabaria antes mesmo e começar — falou,
sarcástico, revirando os olhos. Instantes depois um dos assessores
de imprensa o chamou e ele se levantou. — Já volto, querida.
Deu um beijo em Dallah e saiu. Segundos depois, em que eu
pensei que poderia finalmente descansar, Dallah me olhou,
especulativa.
— Você não é tão frio quanto aparenta ser, Nick — Dallah
falou, terminando de dar comida a Arthur. — Sei muito bem que
você se importou sim com a morte do seu pai. Estava escrito nos
seus olhos.
— Dallah, pode me fazer um favor?
Ela sorriu e assentiu, me olhando.
— Tome conta da sua vida — falei, vendo seu sorriso morrer.
— E não me chame de "Nick".
— Você é tão ignorante! — reclamou, olhando-me com raiva.
— Sabe do que você precisa? De uma esposa. Isso mesmo, uma
esposa! Ela vai te colocar nos eixos, igual eu coloquei Dimir.
— Uma o quê? — Ri, querendo jogar minha cabeça para trás,
mas a coroa me impediu.
Arthur riu junto comigo, colocando a mão na barriga, achando
graça, mesmo sem entender nada.
— Arthur, a sua mãe é uma piada.
— Mamãe, você é uma piada! — ele repetiu e eu baguncei
seus cabelos loiros, fazendo-o rir mais.
— Dominick, pare de ensinar essas coisas para o meu filho!
— ela reclamou, arrumando o cabelo de Arthur. — Arthur, isso que
seu tio falou é muito feio. Não repita, está bem?
— Tudo bem, mamãe, desculpe.
— E você. — Ela apontou para mim, o olhar severo, sem me
meter medo algum. — Terá que arrumar sim uma esposa mais cedo
ou mais tarde. — Então, suspirou, amável. Eu disse que ela era
louca. — Poxa, Nick, ia ser tão bom ter uma nova rainha. Sabe que
Orleandy precisa disso, não é? E ela pode se tornar a minha melhor
amiga! Eu nunca tive uma melhor amiga!
— Quantos anos você tem, Dallah? Cinco?
— Vinte e três! — falou, sorrindo para mim. — Eu sei, pareço
mais jovem, mas...
— Por favor, cale a boca. — A cortei, cansado daquela
conversa. — Eu não vou arrumar esposa nenhuma. Orleandy viveu
trinta anos sem rainha e não é agora que vai precisar de uma. Com
licença.
Me levantei e saí dali sem olhar para trás. Esposa... Aquilo só
podia ser uma piada.

***

— Uma esposa? — repeti, olhando para meu tio Joseph,


Eurick e Dimir na minha frente. — Isso é brincadeira, não é?
— Não mesmo — Tio Joseph falou, me olhando com
seriedade. — Orleandy precisa de uma rainha! Se não tivermos uma
rainha, como teremos sucessores ao trono?
— Já está me matando, tio Joseph? — Revirei os olhos,
olhando-os. — Sou novo, tenho apenas trinta anos e como rei desse
país, creio que posso me casar com sessenta anos e todos vão
concordar. Aliás... Quem seria louco de ir contra o rei?
— O clero — Eurick disse. — Não queira ver a revolta do
clero, Dominick.
— Agora a Igreja vai querer mandar na minha vida? Não vão
me expulsar do trono!
— Mas tornarão sua vida um inferno — Dimir falou.
Olhei a todos, ainda achando que aquilo era uma brincadeira.
Quando me chamaram para aquela reunião, uma semana depois da
minha coroação, pensei que era algo sobre o Parlamento, algum
evento que eu teria de ir. Jamais passou pela minha cabeça que me
jogariam aquela bomba. Me casar? Que porra era aquela?
Nunca tive namorada na minha vida, comigo as coisas eram
preto no branco: a mulher entrava, se submetia a mim, fazia o que
eu mandava e ia embora. Sem alarde, sem confusão.
E agora eles queriam me casar? Simplesmente por que
Orleandy precisava da porra de uma rainha? Era o fim dos tempos.
— Como vou me casar se ao menos namoro?
— Vai me dizer que não tem nenhuma garota que o
interesse? — Tio Joseph perguntou, apoiando os cotovelos na
mesa. — Você é um homem viajado, Dominick. Lembro-me de que
nunca parava em casa, sumia aos finais de semana... Não é
possível que não tenha uma mulher em potencial.
Parei para pensar um momento. Meu estilo de vida não
abrangia muito o leque "romantismo". O máximo que já fiz por uma
mulher foi dar um cartão sem limites em meu nome, levá-la para
jantar e... só. Meu relacionamento mais longo foi com Francesca,
durou seis meses. E ela não era o tipo de mulher que seria aceita
como Rainha de Orleandy.
— Não, eu não tenho nenhuma mulher em potencial.
— Então, iremos arrumar uma para você.
— Como?
— Faremos um baile no mês que vem e...
— Nada disso! — interrompi Eurick. — Nada de bailes, nada
de esposa, nada de rainha! Eu mal me tornei rei e já querem me
empurrar uma aliança no dedo?
— Poderíamos dar um tempo mesmo — Dimir disse,
sabendo que eu estava no meu limite. — Dominick mal se apropriou
da coroa... Não tem porque arrumar uma esposa correndo.
— São trinta anos sem uma rainha, Dimir — Tio Joseph falou.
— Orleandy precisa virar essa página! Patrick se recusou a casar
novamente, o povo entendeu porque todos amavam Marie, mas,
agora, os tempos são outros. O rei mudou e com ele vem a
mudança completa e isso inclui uma rainha.
— Vamos fazer o seguinte, Dominick — Eurick começou, me
olhando. — Joseph e eu iremos nos reunir e fazer uma lista das
melhores mulheres de Orleandy. Entregaremos a você e, então,
você decide qual delas quer conhecer.
— Eu tenho uma ideia melhor — Dimir o cortou e eu o olhei,
interessado. — Eu vou me reunir com meu primo e conversar com
ele. Somos melhores amigos, não há alguém que o conheça melhor
do que eu. Confiem em mim, arrumarei uma esposa para ele.
Joseph e Eurick olharam para Dimir, como se ponderasse
confiar nele ou não. Por fim, tio Joseph voltou para mim, levantando-
se.
— Façam isso. Se não der certo, seguiremos o plano de
Eurick.
Se despediu e junto ao Marquês, se levantou e saiu da
principal sala de reuniões do palácio. Quando finalmente me vi
sozinho com Dimir, me levantei e fui em direção ao bar, enchendo
um copo com uísque e tomando-o de uma só vez. O último mês
havia sido atribulado, uma notícia em cima da outra, todas me
atropelando sem dó.
Essa história de casamento só serviu para me fazer explodir.
— Eu não vou me casar!
— Ah, vai sim.
Me virei para ele, vendo que continuava com a mesma
expressão serena no rosto.
— Que porra é essa, Dimir? Até você está contra mim?
— Não estou contra você, Dominick. Na verdade, estou ao
seu lado, fazendo um enorme favor — falou, se levantando e indo
até o bar para se servir de uma dose e uísque. Bebeu o líquido e me
olhou. — Eu tenho um plano para você arrumar a rainha perfeita.
— Ah, tem? — murmurei, sarcástico. — Foda-se, Dimir! Eu
não quero encontrar a rainha perfeita, a rainha puta, simplesmente
não quero encontrar rainha alguma!
— Nem uma rainha submissa?
— E onde diabos eu vou arrumar uma rainha submissa?
— Confie em mim, Dominick. Quando falo que vou arrumar a
rainha perfeita, não digo que ela será perfeita apenas para
Orleandy. Ela será perfeita para você também.
Olhei para ele com o cenho franzido. A única vez que havia
visto meu primo tão decidido daquela forma fora há quase seis
anos. Como resultado, ele se casou com Dallah.
Pelo visto, o resultado dessa sua decisão traria outro
matrimônio à nossa família. E o noivo seria eu.
Capítulo 2

"Agora, o amanhã é um mistério. Eu não posso viver sem um sonho


desaparecendo da realidade"
(I Guess I Loved You, Lara Fabian)

Kiara

Três semanas depois...

Havia algo estranho.


Sentia minha boca um tanto amarga e minha cabeça estava
um pouco pesada, mas não conseguia focar em pensamento algum.
Fechei ainda mais meus olhos, com força, tentando me
lembrar de algo. Mas tudo estava branco. Minha mente era
preenchida apenas por uma voz feminina, bem longe:
— Ela está acordando! Ah, meu Deus, traz um chá, Norah.
Não, um suco. Quer dizer, acho que café é melhor. Hum... Não, café
tem cafeína, não deve fazer bem a ela.
— Cale a boca, Dallah!
— Ei, eu estou apenas cuidando do bem-estar dela, seu
idiota! Norah, chá é melhor mesmo, faz aquele de camomila... Mas
eu acho que o de laranja com mel será mais eficiente.
Por Deus! O que era aquele falatório?
Com esforço, abri meus olhos sentindo minha cabeça rodar, o
que me fez fechá-los novamente. Alguém soltou um suspiro meio
resignado ao meu lado e o sentimento de que eu estava
incomodando começou a piscar em minha cabeça que, se
mostrando inútil, continuava em branco, sem me dar uma pista do
que poderia estar acontecendo.
— Querida, abra os olhos, não precisa ter medo!
Ah, meu Deus. Medo de quê?
— Dallah, por favor, saia daí. Deixe-a respirar! — Um homem
falou, enraivecido e logo cheguei à conclusão de que o suspiro
resignado tinha vindo dele.
Cansada de ficar de olhos fechados, obriguei minha mente a
cooperar e abri minhas pálpebras devagar. Olhei ao redor. Estava
em um quarto onde as paredes eram revestidas com um papel de
fundo dourado e flores brancas. Haviam móveis de madeiras
espalhados estrategicamente por ali e o teto era todo branco,
rebaixado em gesso, com desenhos bonitos.
Quando virei minha cabeça, vi uma senhora baixinha de
cabelos brancos me olhando. Ela tinha um sorriso amável no rosto e
eu senti vontade de sorrir ao vê-la. Ao lado dela estava uma mulher
loira, muito bonita. Vestia um leve vestido azul e também sorria. Mas
nada no mundo me preparou para ver o homem que estava ao lado
dela.
Ele era... lindo. Alto, forte, o cabelo loiro-escuro e a barba
rente fizeram o meu coração bater mais forte, de uma maneira
incontrolável. Ele trajava preto da cabeça aos pés e os olhos
castanho-claros me analisavam descaradamente. Quase esqueci
como se respirava, mas me lembrei quando senti o ar me faltar
depois de tanto prendê-lo em meus pulmões.
O choque inicial passou assim que vi a loira correr e se
sentar ao meu lado na cama. Apenas naquele momento eu comecei
a pensar no óbvio: eu não me lembrava de nenhum deles.
— Olá, eu sou Dallah! — ela disse, sorridente, tocando em
minha testa. — Que ótimo, você não está com febre!
— Ela nunca esteve com febre, Dallah — O homem bonito
falou, sem paciência, aproximando-se. — Como se sente?
Demorei um pouco para perceber que a pergunta havia sido
feita para mim. Senti minha garganta seca e, sem pensar muito, me
esforcei para me sentar.
— Eu, hum... Estou bem. Eu acho.
— Tadinha, está toda perdida! — A tal Dallah falou, me
olhando com dó. — Olha, não precisa ficar assim, está bem? Norah
vai trazer um chá para você se acalmar, sei que você deve estar
bastante confusa.
— Tem certeza de que você está bem?
— Sim, eu só... Onde eu estou?
— Você está em Orleandy — a senhora respondeu, se
aproximando.
Orleandy? O que diabos era Orleandy?
— Orleandy? — perguntei, mais confusa do que antes.
— Sim. Orleandy é um país do continente europeu — ele
falou, me olhando.
— Ah... — murmurei, ainda sem saber o que era Orleandy,
muito menos o que significava um continente. — Por que eu não
consigo me lembrar? Eu não sei... Estou muito confusa.
— Isso é normal — Dallah falou, tocando em minhas mãos.
— Dominick nos contou o que aconteceu.
— Quem é Dominick? — perguntei.
Estava me sentindo uma idiota por estar tão confusa, mas
simplesmente não conseguia me lembrar de nada. E aquilo estava
começando a me deixar desesperada.
— Eu sou Dominick — o homem falou, aproximando-se. —
Dallah, acho que eu tenho o direito de contar tudo a ela. Por que
não vai ajudar Norah com o tal chá?
Dallah olhou para Dominick, depois olhou para mim, indecisa.
Por fim, me deu um sorriso amigável e se levantou, enganchando o
braço no da senhora.
— Tudo bem. Por favor, seja cortês com ela — falou, antes
de se virar.
Pude ouvir a senhora murmurar um “com licença” e, então, as
duas saíram do quarto. Olhei ao redor, engolindo em seco, temendo
ficar sozinha com aquele homem que eu ao menos conhecia — ou
achava que não conhecia — mas, mesmo assim, consegui ouvir
seus passos leves pelo quarto. Um segundo depois, ele estava
sentado na cama, no mesmo lugar onde Dallah estava segundos
atrás.
— Olhe para mim. — Seu timbre rouco me deixou claro que
não era um pedido e, temendo-o, obedeci. Dominick tinha olhos
fixos em meu rosto e sua expressão estava tão fechada quanto no
momento em que acordei. — Sei que não deve se lembrar de muita
coisa, Kiara, e estou aqui para te contar o que aconteceu.
— Kiara... É o meu nome? — perguntei, um tanto incrédula.
Alguma coisa muito errada havia acontecido comigo. Ao
menos o meu nome eu era obrigada a me lembrar... Não era?
— Sim. Kiara Neumann.
— E você é Dominick — afirmei, querendo gravar o máximo
possível de informações.
— Dominick Andrigheto Domaschesky, Rei de Orleandy.
Uau!
— Rei?
Ele apenas aquiesceu.
— E por que diabos eu conheço o rei?
— É uma história curta e quero que você preste bastante
atenção, porque odeio repetir — falou e me esperou aquiescer, o
que fiz com pressa, curiosa. — Você sempre morou no interior de
Orleandy, em uma cidadezinha chamada Piechvi. Os seus pais
morreram quando você tinha dezessete anos e você, apesar de ter
ficado sozinha, começou a trabalhar dando aulas de balé em uma
pequena escola da região. Bem, eu a conheci no seu aniversário de
vinte anos, em uma festa típica de Orleandy, onde se comemora o
dia de São Felício, padroeiro do nosso país. Foi amor à primeira
vista.
— Amor? — perguntei, interrompendo-o.
— Sim, amor — respondeu, sério demais para um homem
apaixonado. — Começamos a nos encontrar e namorar, mesmo
você morando longe da capital, mas, semana retrasada, sua vizinha
entrou em contato com meus assessores para avisar que você tinha
caído da escada de sua casa e havia sido hospitalizada. Corri até
Piechvi para vê-la e lá o médico me disse que a queda havia
afetado uma parte do seu cérebro, que você havia acordado e não
se lembrava de nada. Estava um pouco sedada e acho que não se
lembra disso.
— Não — murmurei, forçando meu cérebro a se lembrar de
qualquer detalhe, mas nada vinha. — Não me lembro.
— Ele me alertou que talvez você não se lembrasse. Por
sorte, você não machucou nada. Bem, eu não poderia deixá-la
sozinha, por isso tomei a decisão de trazê-la para cá.
— Para... cá?
— Sim, para o palácio.
Oh, meu Deus! Eu estava no palácio. Com o rei. E ele era
apaixonado por mim. Aquilo só podia ser loucura!
— Ah... — murmurei, sem saber o que dizer. Por fim, olhei
para o homem lindo que estava na minha frente, com seu maxilar
anguloso. Seu cheiro almiscarado tomava conta de todo o lugar. —
Acho que você deve estar chateado, não é?
— Chateado? Por quê?
— Por eu não me lembrar de nada.
— Por que eu ficaria chateado com isso?
— Porque agora eu nem sei quem você é.
— O que importa aqui é que eu sei quem você é, Kiara —
falou, sem se alterar. — Você é minha namorada. E, em breve, você
será minha noiva.
— Noiva?
— E iremos nos casar em dois meses.
— O quê? — Saiu mais alto do que eu pretendia, mas não
consegui me conter.
Que conversa louca era aquela?
— Você ouviu — disse, se levantando. — Vou deixá-la
descansar agora.
— Não! Calma aí, você não pode simplesmente me arrastar
para o seu palácio, jogar no meu colo que eu sofro de perda de
memória e ainda dizer que estamos de casamento marcado!
— É claro que eu posso — falou, me encarando. — Ou você
preferia que eu te deixasse onde estava? Com a cabeça em branco
e sem ninguém para cuidar de você? Deveria me agradecer, Kiara.
Eu poderia não me lembrar de nada sobre a minha vida,
poderia não saber o que significava um continente ou onde ficava
aquele tal país chamado Orleandy, mas eu sabia que aquela reação
não era de um homem apaixonado. Estava muito longe de ser.
Ainda o olhando, me levantei e parei na frente dele, vendo
que me olhava de forma altiva. Não me intimidei.
— Você está mentindo.
— Como?
— Está mentindo! É óbvio que tem algo errado, se estivesse
apaixonado por mim, não me trataria assim.
— Mas eu não estou apaixonado por você.
Olhei-o sem entender e o golpe foi tão forte que,
inconscientemente, dei dois passos para trás.
— Mas você disse que foi... amor à primeira vista.
— Da sua parte. Você me amou à primeira vista, não o
contrário.
Fiquei sem saber o que dizer. Apenas olhei para aquele
homem lindo, alto, loiro que, há apenas alguns minutos não era
nada e agora, além de ser rei — de um país que eu ao menos me
lembrava da existência — ainda era o meu futuro noivo. Um futuro
noivo que eu não lembrava e que não estava nem um pouco
apaixonado por mim.
Sinceramente? Não me lembrava de nada da minha vida,
mas, pelo que estou percebendo, ela era uma piada completa.
— Bom, já que tudo está esclarecido, vou te deixar descansar
agora. Em alguns minutos Norah e Dallah vão subir com o seu chá e
irão explicar o funcionamento do palácio. O jantar é servido às oito
horas em ponto — falou, virando-se para porta. Antes de sair,
porém, ele se virou para mim e me olhou de cima a baixo. —
Lembre-me de dar um cartão de crédito a você. Já que será a
rainha, tem de se vestir como tal. Dallah poderá te ajudar.
Sem falar mais nada, saiu.
E eu fiquei lá, olhando para as portas duplas de madeira,
perguntando-me onde minha vida havia começado, para que eu
estivesse parada ali, agora.
Capítulo 3

"Você não passa de um mentiroso"


(Warrior, Demi Lovato)

Kiara

Minha primeira reação foi olhar para minha roupa. Constatei


que não estava tão malvestida assim, já que trajava calça jeans e
uma blusa de meia manga preta, com detalhes dourados na borda.
Estava descalça e aí sim, quase chorei. Meus pés estavam
vermelhos, principalmente perto dos dedos e levei a mão à boca,
me perguntando o porquê de eles estarem assim.
Só então eu me lembrei do que o tal rei havia dito. Segundo
ele, eu dava aulas de balé, mas, mesmo assim, meus pés estavam
mesmo horríveis e senti vergonha, que logo foi substituída pela
indignação. Ele havia saído do quarto depois de jogar todos aqueles
acontecimentos no meu colo! Resumiu a nossa história em um
discurso que durou dois minutos e, ainda por cima, disse que não
estava apaixonado por mim.
Furiosa, ignorei meus pés horrorosos e fui em direção à
porta, disposta a encontrá-lo dentro daquele palácio, falar-lhe meias
dúzias de verdades e exigir que me levasse embora. Preferia sim
ficar sozinha na minha casinha em Pi... Pech... Ok, não sabia nem o
nome da merda da cidade, mas mesmo assim preferia ficar lá,
sozinha e desmemoriada, do que debaixo do teto daquele rei
arrogante.
Toquei a maçaneta dourada e abri a porta em um safanão, só
para ouvir um grito estridente, que me fez ranger os dentes e pular
para trás. Dallah me olhava assustada, com as mãos sobre o peito e
Norah olhava para ela com os olhos arregalados.
— Meu Deus do céu, Kiara! Você quase me matou do
coração! — falou, soltando um suspiro e entrando no quarto. —
Menina, onde ia toda nervosa desse jeito? Por um momento, pensei
até que Dominick era quem estava saindo do quarto... Esse jeito
furioso de abrir a porta é todinho dele.
— Eu estava indo atrás. Sabe onde ele está?
— O rei está em uma reunião com o duque Dimir, querida —
Norah disse, depositando uma bandeja de prata em cima da
mesinha próximo a porta. — Não seria de bom tom importuná-lo.
— O que ele fez comigo é que não foi de bom tom! — bradei,
me arrependendo logo depois. A senhora fofinha de cabelos
brancos nada tinha a ver com a minha irritação com Dominick.
— Ah, Deus, eu sabia que ele seria um grosso com você! —
Dallah falou, revirando os olhos. — O que foi que aquele idiota
falou?
Olhei para ela, sem saber se poderia confiar em lhe contar ou
não. Quer dizer, naquele momento, eu simplesmente não sabia se
poderia confiar em algum deles. Eu era uma louca sem memória
que, segundo Dominick, tinha sido levada para aquele palácio
porque ele sentiu pena de deixar uma menina de cabeça oca
sozinha.
— Pode confiar em nós, Kiara — Norah falou, aproximando-
se. Seu sorriso amável me acalmou um pouco. — Posso imaginar o
quanto deve estar sendo difícil para você, querida. Não sei o que
Dominick lhe falou, mas a melhor coisa que ele fez foi trazê-la para
cá.
— É mesmo, porque, veja bem, se está difícil para você
tendo todos nós aqui, imagine se você estivesse sozinha? Nossa,
seria mil vezes pior! — Dallah falou, respondendo a sua própria
pergunta.
— Dallah é maluquinha, mas tem razão. Se você estivesse
sozinha, seria realmente pior. — Norah concordou, me olhando.
— Eu sei — murmurei, me arrastando até a poltrona ali perto.
Sentei de uma só vez, sentindo-me muito cansada. — Vocês duas
têm razão, mas, mesmo assim, eu acho que preferia estar sozinha
na minha casa em Pi... Droga, eu ao menos sei o nome da cidade!
— Piechvi — Dallah respondeu. — Era lá que você morava.
— Então, eu preferia estar lá do que aqui.
— Por quê?
— Porque Dominick deixou bem claro que só me trouxe para
cá, porque ficou com pena de me deixar sozinha. Eu não sou bem-
vinda aqui! — bradei, vendo Dallah balançar a cabeça e sorrir de
leve.
— Claro que você é bem-vinda aqui, Kiara. Olha, Dominick é
só um idiota que não sabe usar as palavras, mas ele é louco por
você.
— Louco por mim? — perguntei, incrédula.
— Sim.
— Não é nada — falei, me levantando. — Ele deixou bem
claro que não é apaixonado por mim. Isso depois de ter falado que
nos conhecemos em uma festa de rua, que eu o amei à primeira
vista e que, agora, vamos noivar! E iremos nos casar em dois
meses! Como posso me casar com um homem que eu ao menos
conheço? E que, ainda por cima, deixou claro que não me ama?
Isso não existe!
— Ele falou isso? — Norah perguntou, um tanto incrédula.
— Sim, com todas as palavras!
— Dominick é realmente um idiota! — Dallah bradou,
passando as mãos pelos cabelos loiros. — Como ele pôde dizer
isso? Será que não vê o quanto está sendo burro? Meu Deus,
parece que a conversa que tive ontem com ele entrou por um ouvido
e saiu pelo outro!
— Que conversa? — perguntei, mas ela não me deu ouvidos.
— Eu avisei, eu disse com todas as letras "Nick, vá devagar,
não coloque os cavalos na frente da carruagem!"...
Senhor... Do que ela estava falando?
— Não seria a carruagem na frente dos cavalos, Dallah? —
Norah a interrompeu?
— O quê?
— "A carruagem na frente dos cavalos", esse é o ditado
certo. Até porque, normalmente, os cavalos são colocados na frente
da carruagem.
— Hã? Norah, pare, você está me deixando confusa! — ela
falou, virando-se para mim. — Olha, Kiara, Dominick não sabe muito
bem como expor os seus sentimentos e acho que deve ter se
sentido intimidado na sua frente, por isso que falou todas essas
coisas, tenho certeza de que ele não pensou direito.
— Não foi o que me pareceu.
— Mas é a verdade. Eu vou lá embaixo agora falar com ele e
prometo que no jantar ele lhe pedirá desculpas! — falou, indo até a
porta. Antes de sair, porém, voltou-se para mim e disse: — Meu
Deus, essa sua roupa é muito feia. Norah, por favor, veja se algum
dos meus vestidos cabe nela e a empreste, sim? Você precisa estar
linda para o jantar, querida.
Com um sorriso, ela saiu do quarto.
E, mais uma vez, eu me vi parada perto da porta, sem
entender qual era o problema deles com as minhas roupas.

***
Dominick

Olhei para os papéis à minha frente, disposto a prestar


atenção nos documentos que Dimir havia trazido para que eu
analisasse. Pela primeira vez na vida, eu percebi que a faculdade de
administração que eu havia feito, não tinha sido em vão. Agora,
como um homem responsável por todo um país, precisava mais do
que nunca estar inteirado de todos os assuntos.
Porém, a concentração me escapava antes mesmo de eu
chegar a terceira linha. Um belo par de olhos azuis estava
incrustado em minha mente, bem como sua voz rebelde não saía
dos meus ouvidos. A postura altiva de Kiara perante a mim não fora
algo fácil de ser ignorado, confesso que meu primeiro pensamento
foi o de a virar de costas e tapar sua boca com minha mão,
enquanto apertava seu pescoço com a outra e a obrigava a ficar
quieta.
Mas eu não o fiz porque simplesmente não podia. Ainda.
Apenas observei e contra-ataquei, prevendo que ela me daria
dor de cabeça. Já era um inferno pensar que teria de me casar,
principalmente, de que teria que me casar com uma aspirante a
rebelde. O que me confortava, era saber que eu a colocaria nos
eixos e que seria um prazer ensiná-la.
— Dominick, seu imbecil! — Dallah gritou e eu fechei os
olhos, respirando fundo. — Como você pode ser tão burro?
— Ei, Dallah, se acalma... O que houve? — Dimir perguntou.
— Não me confunda contigo, Dallah... A única burra aqui é
você — respondi, abrindo meus olhos.
Ela estava parada em frente à minha mesa, com as mãos na
cintura e seu rosto estava vermelho. Percebi que boa coisa não ia
sair dali.
— Dominick, controle as ofensas — Dimir reclamou, se
levantando e ficando ao lado de Dallah. — O que aconteceu,
Dallah?
— Esse idiota chegou para a pobre da Kiara e disse que não
está apaixonado por ela. Como pode ser tão burro, Dominick? É
assim que quer que ela acredite que vocês dois eram um casal
apaixonado antes de ela perder a memória?
— Você fez isso? — Dimir perguntou e só bastou olhar para
minha cara, para saber a resposta. — Porra, Dominick! O que foi
que nós combinamos?
— Combinamos que eu seria o namorado mais apaixonado
do mundo — murmurei, revirando os olhos.
— E é isso que você tem que ser. Para isso funcionar, você
tem que fingir, Dominick!
— Será que vocês não percebem o quanto esse plano é
idiota? O que pretendem? Que eu finja ser o noivo e o marido
perfeito para sempre? Pelo amor de Deus, isso é patético!
— Patético é você achar que pode subestimar a inteligência
daquela garota, Dominick. Ela perdeu a memória, não a capacidade
de raciocinar! — Dimir bradou, me olhando. — Realmente, você não
precisa ser o namorado mais amoroso, mas você pode, no mínimo,
ser cortês com ela.
— Foi isso que eu pedi a ele, para ser cortês. Agora Kiara
está lá em cima, dizendo que preferia estar sozinha em Piechvi do
que estar aqui, no palácio, sendo noiva desse troglodita.
Arqueei uma sobrancelha e olhei para ela, começando a rir.
Dallah era louca, mas, pelo visto, Kiara era ainda mais. Só uma
maluca para preferir estar no fim do mundo, sem memória, do que
dentro de um palácio, perto do rei.
— Isso não tem graça, Nick!
— Dimir, Dallah! — rugi e ela pulou, indo para o lado de
Dimir. — Ouça uma coisa: não importa o que Kiara está dizendo,
não importa o que ela quer fazer. Quem manda aqui dentro sou eu,
aliás, quem manda nesse país sou eu! Ela não vai sair do palácio
nem se implorar. Eu a trouxe para cá e é aqui que ela vai ficar.
— Querer tudo do seu jeito não vai melhorar as coisas,
Dominick — Dallah disse, parecendo estar sentida. — Lembre-se de
que você está prestes a se casar com uma pessoa e não a brincar
de casinha com uma boneca inflável. Mude esse seu temperamento
frio, peça desculpas a Kiara no jantar e trate de policiar essa sua
língua cheia de veneno, antes que Kiara se farte de suas ofensas —
falou e me olhou de cima a baixo, antes de se virar e sair do meu
escritório. Soltei um suspiro irritado. Por que as mulheres tinham de
ser tão sentimentais?
— Dallah está certa, Dominick.
— Para você, Dallah sempre estará certa, Dimir. Você é um
idiota apaixonado!
— Não, Vossa Majestade. Eu ser um idiota apaixonado não
influência na minha maneira de pensar — falou, sentando-se em
frente à minha mesa. — Pelo visto, você não teve sorte de arranjar
uma mulher submissa, então, é melhor amansar esse seu gênio
ruim.
— Quem me meteu nessa merda foi você!
— Sim. Mas a culpa não é toda minha, você sabe. Arque com
as consequências e seja mais gentil com a garota. Não custa nada,
a não ser o seu casamento e a pressão que sofrerá do meu pai e de
Eurick, por ainda não ter arranjado a porra de uma rainha.
Travei o maxilar, enraivecido. Mais uma vez, a imagem
daqueles olhos azuis tomou minha mente e minha vontade de
vendá-los, enquanto usava um açoite nela, me caiu tão bem quanto
uma luva.
Ela merecia.
Capítulo 4

“Se os homens fossem constantes, seriam perfeitos.”


(William Shakespeare)

Kiara

Olhei para minha imagem no espelho, enquanto ouvia Dallah


bater palmas atrás de mim, pulando de alegria. Ainda estava
tentando entendê-la, apesar de ser um tanto confusa as vezes, ela
me parecia ser uma boa mulher. Durante toda a tarde exibiu um
sorriso animado e gentil, conversou comigo e esclareceu algumas
coisas, me contou mais detalhes sobre o meu acidente.
Percebi que era muito, muito diferente de Dominick e fiquei
me perguntando o que ela seria dele. Irmã? Prima? Apesar de ser
loira, não lembrava em nada o rei frio que frequentou meu quarto
pela manhã. Na verdade, ela era bem melhor do que ele.
— Você está linda! Deslumbrante!
Desviei meus pensamentos dela e voltei a focar em minha
imagem no espelho. Devo confessar que me agradei com o que via.
O vestido verde-água que Dallah havia separado para mim era lindo
e havia caído como uma luva, apesar de eu ter mais seios do que
ela. Ele ia até a altura dos joelhos, era apertado com uma faixa de
seda amarrada na cintura, mas se abria em uma saia que fluía leve
em minhas pernas. Meus pés que estavam horrorosos quando
acordei, agora estavam bem melhor depois de tê-los deixado de
molho em água quente.
E, bem, mesmo eu falando que não, Dallah havia me
obrigado a me sentar para que pudesse me maquiar. Gostei do
batom rosado nos lábios e o blush que deixou meu rosto mais
corado. Meus cabelos estavam soltos e o reflexo no espelho me
mostrava que eu era uma mulher bonita. Reconhecer isso fez com
que eu me sentisse melhor, já que não conseguia me lembrar de
nada do meu passado.
— Pode falar, Kiara, eu arrasei, não é?
— Sim. Obrigada, Dallah.
— Não precisa agradecer, querida. Eu fico muito feliz em
ajudar! — Sorriu, parando ao meu lado. — E, então, está preparada
para o jantar? Faltam poucos minutos.
— Para falar a verdade, não — confessei. — Nem sei o que
esperar desse jantar. Pelo que me contou, nunca participei de nada
tão luxuoso. Sem contar que não estou nem um pouco interessada
em dividir a mesa com o rei.
— Não se preocupe com isso! Eu estarei sentada do seu lado
e vou te auxiliar em tudo. Sobre Dominick, eu tenho certeza de que
ele será gentil. Como eu disse mais cedo, ele só estava nervoso,
não sabia muito bem como agir, mas agora ele já deve estar melhor
— falou, enlaçando o braço no meu. — Vamos descer?
Apenas assenti e me deixei levar. Saímos do meu quarto e
passamos por um longo corredor com paredes pintadas em tons
creme e dourado. Haviam quadros pendurados na parede, e percebi
que um completava o outro, pois em cada um deles havia paisagens
bonitas, com campos verdes e céus azuis, flores do campo e muitas
árvores, que dava um certo ar acolhedor àquele corredor vazio e
cheio de portas duplas de madeira maciça.
Descemos por uma escada longa de corrimão dourado e ouvi
Dallah sussurrar em meu ouvido que era de ouro. Consegui segurar
meu espanto ao pensar que aquele corrimão era de ouro. De ouro!
Mas então eu me lembrei que estava no palácio de Orleandy e,
mesmo sem saber o real valor daquele país, era óbvio que o palácio
não seria nada menos do que luxuoso.
Quieta, observei em volta quando terminamos de descer as
escadas e paramos em um imenso hall. Vi rapidamente que do meu
lado esquerdo havia uma sala linda, com móveis de madeira branca
e poltronas em tom creme. Um lindo quadro com um cavalo branco
em meio a grama me chamou atenção e Dallah suspirou ao meu
lado.
— Essa sala é linda. Foi toda planejada pela Rainha Marie,
que Deus a tenha.
Tive vontade de perguntar o que havia acontecido com a
rainha, ou como ela havia morrido, mas não tive tempo, pois Norah
apareceu no hall falando que o jantar seria servido. Então, ao invés
de seguirmos para sala bonita pertencente à Rainha Marie, fomos
para o lado esquerdo e passamos por uma sala, mais austera do
que a outra, pintada em tons marrons e passamos por um corredor
até chegarmos a sala de jantar, que quase me fez perder o fôlego.
A primeira coisa que me chamou atenção foi o imenso lustre
de cristal no teto. Era lindo, com uma enorme luminária e os
penduricalhos caíam em forma de gota, que começavam em um
formato pequeno e terminavam em um formato maior. Assim como o
corredor do segundo andar, as paredes eram em tons cremes e
detalhes dourados e havia um grande quadro da Santa Ceia na
parede.
Norah andou pela sala até parar ao lado de um homem que
usava terno e uma mulher que trajava roupas de empregada. Então,
deixei meu olhar percorrer pela mesa e vi um homem com cabelos
castanho-claros do lado esquerdo, na primeira cadeira e Dominick,
sentado na ponta da mesa. Seu olhar estava cravado em mim, seu
maxilar rígido e as mãos unidas em cima da mesa. Tive vontade de
suspirar, mas me contive e minha atenção foi desviada dele quando
ouvi um gritinho infantil, um menininho lindo de cabelos loiros olhava
para mim e sorria, sentado ao lado direito da mesa.
— Tio Nick, a sua namorada é muito bonita! — o garotinho
falou, olhando-me, maravilhado.
Sorri para ele e Dallah começou a andar, me guiando até a
mesa. O homem que estava em pé ao lado de Norah se aproximou
e arrastou a primeira cadeira do lado direito para mim, bem ao lado
de Dominick. Percebi que não teria como fugir e apenas me sentei,
tentando não demonstrar o quanto eu estava nervosa. Dallah se
sentou ao meu lado e o menininho ficou ao lado dela, esticando-se
para me olhar.
— Oi, eu sou Arthur — ele falou, sorrindo. — Essa é minha
mamãe Dallah, aquele é meu papai Dimir e esse é o meu tio Nick,
mas você já conhece ele, né? Você é namorada dele.
— É um prazer conhecer você, Arthur — murmurei, sorrindo
para ele.
Ele suspirou e sorriu ainda mais, sem conseguir desviar os
olhos de mim. Era lindo e tive vontade de me levantar para apertá-
lo.
— Acho que você gostou da minha noiva, Arthur — Dominick
falou e levei meu olhar a ele, percebendo que ao se dirigir ao
menino ele não ficava tão severo. Seu olhar se tornava até mesmo
relaxado.
— Ela é muito linda, tio Nick — ele respondeu, animado. —
Eu vou poder casar com ela também?
Pude ouvir a risada alta de Dimir, vi de relance Dallah colocar
a mão na frente da boca para rir, mas o que realmente me prendeu
a atenção foi o sorriso enorme no rosto do Dominick. Por um
momento, eu tinha chegado a pensar que ele nunca sorria, mas
talvez Dallah tivesse razão; ele estava apenas nervoso quando
acordei. Talvez ele não fosse tão rancoroso quanto parecia ser e o
sorriso largo que deu para Arthur me fez relaxar mais.
— Seu tio chegou primeiro, Arthur — Dallah falou, passando
a mão pelo cabelo dele. — Mas um dia você vai encontrar uma
mulher linda e vai se casar com ela, tudo bem?
— Ah... Tudo bem. — ele respondeu um tanto desanimado.
— É difícil, garotão... Mas você supera — Dominick falou
para ele e piscou e eu senti meu coração acelerar, sem poder fazer
nada a não ser observar.
Não conseguia entender muito bem o que estava
acontecendo comigo. Antes de pisar nessa sala de jantar eu estava
com raiva desse rei prepotente, que foi rude comigo há apenas
algumas horas. Agora eu estava encantada porque ele sorria para o
sobrinho ao conversar sobre mim. Ele era confuso e estava me
levando a crer que eu era mais confusa ainda.
— Olá, Kiara. — A voz do homem a minha frente chamou
minha atenção e eu olhei para Dimir, que sorria para mim. — Como
está se sentindo? Imagino que deva estar bastante confusa.
— Estou melhor do que quando acordei — comentei,
deixando que uma moça colocasse um prato na minha frente. —
Obrigada por perguntar.
— De nada. Sei que deve estar se perguntando quem sou eu,
bem, eu sou Dimir Domaschesky, Duque de...
— Duque de Sword — Dominick interrompeu. — Eu sou o
futuro noivo dela, nada mais correto do que eu apresentar minha
família a ela, correto?
— Sim! — Dallah sorriu, animada ao meu lado.
— Kiara, Dimir, além de ser duque, é meu primo, filho do meu
tio Joseph Domaschesky, irmão do meu falecido pai. Dallah é
esposa de Dimir e Arthur é filho deles dois.
— Entendi. Eu sinto muito pelo seu pai e por sua mãe
também...
— Não sinta. E essa não é uma hora apropriada para falar
dos dois — me cortou e eu quase me encolhi na cadeira, mas me
esforcei para não demonstrar nada. Acho que não tive muito
sucesso, pois ele me olhou e suspirou, voltando a juntar as mãos
em cima da mesa. — Me desculpe, não quis ser rude com você.
Aliás, é isso que venho sendo desde a hora em que acordou e
queria pedir desculpas por aquilo também.
Aproveitei que outra empregada destampou o meu prato e
pensei em tudo o que havia acontecido naquele dia. Ainda estava
confusa, sem saber ao certo se poderia confiar nele ou não, apesar
de Dallah ter me confirmado sobre o acidente e a forma como eu o
havia conhecido havia também o fato de que em apenas um dia eu
não poderia confirmar se ele estava mesmo apaixonado por mim,
como também sabia que não poderia achar dentro de mim algum
sentimento para ele.
Ao menos lembrava da minha vida! Como poderia me
lembrar se o amava ou não? Ou se ele me amava? Baseada nisso,
desviei o olhar das postas grossas de peixe em meu prato e voltei a
olhá-lo, encontrando dentro de mim um motivo para desculpá-lo e
levar aquela loucura adiante.
— Tudo bem. Nós dois estávamos nervosos, então,
realmente está tudo bem para mim. Só peço para que tenha um
pouco de paciência, você sabe que eu não me lembro de nada e,
bem, talvez você possa me ajudar em tudo.
Ele tomou um gole de vinho e me olhou sobre a taça.
— Eu terei paciência e vou te ajudar, Kiara. Não só eu, mas
Dallah e Dimir também.
Assenti e ouvi Dimir perguntar algo a Dominick, mas não dei
importância, olhando para todos os talheres na minha frente.
Haviam três tipos de garfos, três tipos de colheres, três tipos de
facas e eu não sabia nem por onde começar. Confusa, olhei para
Dallah que sorriu para mim e pegou o garfo médio e a faca média.
— Esses dois talheres são para peixe — murmurou,
começando a cortar o peixe em seu prato. — Coma, o bacalhau de
Norah é divino.
A segui e cortei o peixe com cuidado, provando-o.
Realmente, era maravilhoso. O peixe sozinho parecia desmanchar
na minha boca e misturado ao molho ficava ainda melhor, quase
gemi, dando-me conta de que estava faminta, mas me contive e
apenas comi quieta, observando como Dominick parecia relaxado
perto do primo. Infelizmente, ele não sorriu mais e a cada vez que
seu olhar cruzava com o meu, eu sentia um arrepio perpassar minha
coluna.
Engoli mais um pedaço do peixe e desviei meu olhar,
sabendo que se eu o encarasse mais um pouco eu estaria muito,
muito ferrada. A beleza dele ainda seria minha ruína, mas prometi a
mim mesma ser forte e ir devagar. Precisava conhecer aquele
homem por completo para, no fim, saber se aceitava ser ou não sua
noiva por mais que ele não tivesse me deixado opção.
Capítulo 5

“Não se aproxime muito


É escuro aqui dentro
É onde meus demônios se escondem.”
(Demons, Imagine Dragons)

Dominick

Uma semana depois...

Olhei para o teto e respirei fundo, ouvindo o silêncio sepulcral


dentro do meu quarto. A única coisa que eu queria fazer ao encostar
a cabeça no travesseiro era poder fechar os olhos e dormir
imediatamente; mas nunca consegui fazer isso e como não
acreditava em milagres, sabia que não era agora que isso ia
acontecer.
Sendo assim, continuei a encarar o teto rebaixado em gesso
sem realmente ver, enquanto um par de olhos azuis tomava conta
de cada canto da minha mente. Era difícil aceitar, mas eu sabia que
não poderia ficar negando para mim mesmo o interesse que Kiara
estava despertando dentro de mim. Não era nada desesperador, eu
sabia que era apenas o meu lado carnal, que sempre fora mais
aflorado, que estava sendo tocado por ela e até que isso me
satisfazia.
Gostava muito de observá-la e percebi que a cada instante
que ficava ao meu lado, ela ficava afetada por mim. Fosse com meu
olhar, meus gestos totalmente calculados, ou quando eu me dirigia a
ela, eu conseguia perceber como sua respiração ficava contida e a
forma como suas pupilas se dilatavam. E devo confessar que me
deliciava por dentro com cada nuance dela.
Já poderia imaginá-la daquela forma suspensa no teto, com
uma venda sobre os olhos, enquanto eu apenas observava e
tomava um gole do meu uísque escocês. Só com essa imagem, um
sorriso deliciado tomou conta do meu rosto e eu não o impedi, tendo
a certeza de que teria que tê-la para mim em breve. Mesmo
sabendo que ela não era uma submissa completa, que, apesar de
não se lembrar do passado, ela tinha um caráter concreto e que
gostava de falar o que pensava, eu estava louco para domá-la e
fazê-la ficar do jeitinho que eu gostava.
Usei toda aquela semana para chegar à conclusão de que
tinha sim feito a escolha certa ao trazê-la para o palácio. No primeiro
dia fiquei em dúvida, principalmente quando me afrontou no quarto e
quando fui obrigado a pedir desculpas, quando estava mais do que
claro que eu não havia feito nada de errado. Mas agora, convivendo
com Kiara durante uma semana inteira, consegui visualizar que ela
tinha sido a minha melhor opção e, consequentemente, uma ótima
escolha.
Sua personalidade havia me deixado surpreso e irritado em
um primeiro instante, mas durante aqueles dias Dimir havia aberto
meus olhos. Seria bom ter uma rainha que tivesse caráter já que,
segundo ele, o povo de Orleandy iria adorar ter uma rainha com
aquele feitio depois de anos sem uma mulher no trono. Já sua
beleza, ao contrário do seu gênio, me deixava cada dia mais
excitado e louco para prová-la.
Era linda, com aqueles olhos azuis, corpo magro e com
curvas e os seios que eu tinha certeza de que caberiam
perfeitamente nas minhas mãos. Por falar em mãos, as minhas
coçavam ao imaginar seus cabelos cor de avelã enrolados em meus
dedos e minha palma indo de encontro a sua bunda macia e
arredondada.
Cheguei realmente à conclusão de que o esforço que estava
fazendo para ser a porra do “futuro noivo perfeito” iria ser
recompensado em breve, com ela em meus braços e sorri mais uma
vez, finalmente fechando os olhos e caindo em sono profundo.

***

A primeira coisa que ouvi foi um som, um tanto distante,


como um sussurro e ignorei, xingando meu subconsciente por
sempre me fazer despertar no meio da madrugada. Entretanto, ao
invés de eu conseguir voltar a dormir, o som ficou mais e mais
persistente e mais alto, me levando a crer que não era um sonho.
Era real.
E o conhecimento disso me fez dar um pulo na cama,
olhando ao redor e encontrando apenas a escuridão, mas não havia
mais o silêncio que se fazia antes de eu dormir. Fiquei quieto,
apenas deixando que minha audição se acostumasse com aquilo e
os acordes lentos e doces me atacaram por todos os lados, fazendo
com que meu coração quase viesse parar na garganta quando, já
desperto, consegui pensar de onde provavelmente aquele som
estava vindo.
Me levantei rapidamente e andei em direção as portas duplas
do meu quarto, abrindo-a em um solavanco. A claridade do corredor
fez com que meus olhos doessem, mas ignorei, andando pelo
corredor vazio que abrigava apenas o meu quarto e indo em direção
as escadas que me levariam ao quarto andar.
Ao andar dela. O andar da minha mãe.
Subi os degraus de dois em dois, meu coração pulando tão
rápido quanto uma cavalaria, como sempre ficava quando eu ia
àquele lugar. O corredor de paredes brancas e cortinas douradas
estava iluminado, como sempre estivera e andei rápido, sem querer
observar minha mãe em cada quadro daquelas paredes, a porta
aberta no final do corredor me chamando a atenção, o som ficando
cada vez mais alto.
Por um momento, pensei estar louco e parei próximo a porta.
Olhei ao redor vendo tudo vazio, com meu coração ainda acelerado,
e obriguei a minha mente a parar de criar aquele sonho absurdo. Eu
nunca vi a minha mãe, a não ser por fotos. Não me lembrava dela,
lembrava apenas da ideia dela, de tudo o que sempre falaram para
mim. Da forma como ela era doce, dedicada e amorosa, como
gostava de bordar, cozinhar e tocar piano.
O maldito piano estava me deixando surdo com aqueles
acordes perfeitos soando no ar. Só poderia ser um sonho! Ninguém
se atrevia a mexer em nada naquele lugar, todos sabiam as regras
que foram impostas por meu pai e que eu estava decidido a mantê-
las. Tudo ali era dela, da minha mãe! E ninguém mexia.
Engoli em seco sentindo a raiva borbulhar em meu sangue e
entrei na sala de supetão, disposto a arrancar na porrada quem quer
que estivesse ali, ainda torcendo para que tudo fosse um maldito
sonho, mas sabendo que não era.
A imagem dela ali, sentada, me fez parar. Linda e serena,
com os cabelos cor de avelã soltos, usando uma camisola branca,
olhos fechados e os dedos tocando as teclas. Parecia uma extensão
daquele lugar, ou um anjo, vestida em seda, sentada em frente ao
piano branco da minha mãe.
Minha mãe.
Aquilo me fez despertar e a raiva, que havia amainado por
alguns segundos, voltou com força total. Sem conseguir me conter,
apertei minhas mãos em punhos e fui até ela a passos rápidos. Com
o coração galopando, peguei-a pelo braço e a puxei. Primeiro ela
caiu no chão, surpresa, mas em menos de um segundo a ergui até
ficar cara a cara comigo.
— Que porra você pensa que está fazendo? — gritei, olhando
dentro de seus olhos assustados.
— Eu... Eu não...
— Fala, porra!
— Dominick, o meu braço, você está me machucando...
— Foda-se! Essa é a sala da minha mãe! Esse é o piano da
minha mãe e ninguém toca nele! Ninguém! Porra, você está
maluca?
— Eu não sabia! — Ela se retorceu contra mim, seus olhos
se enchendo de lágrimas. — Me solta, por favor, está me
machucando, eu não sabia, eu...
A larguei com força, vendo seu corpo ir para trás e respirei
fundo, a raiva borbulhando dentro de mim. Sem conseguir olhá-la,
me virei para trás dando de cara com uma pintura de minha mãe na
parede, olhando-me complacente. Fotos e pinturas, eram as únicas
coisas que eu tinha dela em minha memória. E aqueles objetos,
aquele andar, o piano, a sala no primeiro andar, eu os manteria para
sempre e ninguém tocaria.
Senti vontade de arrastar Kiara até meu quarto, até o porão e
prendê-la, castigá-la, mas me lembrei de que ainda não podia,
porque ela ainda não era minha.
— Dominick, eu sinto muito... Eu não conseguia dormir e saí
do quarto, vendo as escadas que vinham aqui para cima... Eu não
sabia onde ia dar, vi um corredor vazio e me lembrei que Dallah
havia dito que seu quarto ocupava o terceiro andar e não quis te
incomodar, então eu vim para cá. A luz do corredor estava acesa e
eu abri algumas portas, mas quando eu vi o piano... Eu não sei o
que deu em mim, eu só senti vontade de sentar ali e...
— E resolveu bisbilhotar ainda mais, sentar no piano que era
da minha mãe e simplesmente tocar! — concluí, me virando para
ela. Seus olhos ainda estavam arregalados e ela tocava o braço que
eu havia apertado. — Como se lembrou que sabe tocar piano? —
perguntei, engolindo em seco, analisando-a.
— Eu não lembrei. Eu nem sabia o que estava fazendo, eu
só... senti — murmurou, dando dois passos para trás. — Mas eu
prometo, eu juro que não venho mais aqui. Me desculpe por ser tão
curiosa.
— É claro que você não vai voltar aqui. Essa foi a primeira e
última vez que você veio a esse andar, ouviu, Kiara?
Ela assentiu, colocando uma mecha do cabelo para trás.
Quase xinguei por ser tão linda e aquilo me fez ficar com ainda mais
raiva.
— Eu entendi, Dominick — falou, voltando a me encarar. —
Eu sinto muito pela sua mãe e seu pai. Eu sei que falei isso no
nosso primeiro jantar, mas mesmo assim, eu sinto muito. Você disse
que a minha mãe morreu e mesmo sem me lembrar de nada, eu
consigo imaginar como eu posso ter me sentido na época, assim
como consigo imaginar como você deve se sentir.
— Não, você não imagina — respondi, sorrindo, me
aproximando. — Você não faz ideia.
— Ela... Morreu de quê?
— Minha mãe?
— Sim — ela respondeu, assentindo, visivelmente aturdida.
— Não é da sua conta — falei, deixando meu sorriso gelado
morrer, lutando com todas as minhas forças para não descontar nela
todas as minhas frustrações. — Eu vou te dar um conselho, Kiara, e
espero que você o siga.
Me aproximei por completo e toquei em seu queixo, sua pele
macia esquentar a ponta dos meus dedos. Ainda sentia a raiva em
meu sangue, mas o desejo por ela também veio na mesma
proporção.
— Não fique no meu caminho — murmurei, olhando em seus
olhos. — Não ouse me irritar, nem me estressar. Você não me
conhece, pode até achar que me conhece porque fui gentil e
educado durante essa semana, mas não sabe nada sobre mim. Não
implore para me conhecer de verdade, porque você não vai gostar
do que vai encontrar.
Ela tremeu e fechei os olhos, sentindo o prazer de tê-la tão
intimidada na minha presença, algo tão forte que cheguei a esboçar
um sorriso, que foi embora tão rápido quanto viera assim que ela se
afastou. Quando a olhei, ela parecia um bichinho assustado.
— Eu... vou voltar para o meu quarto — murmurou, virando-
se e indo em direção a porta.
Apenas seu perfume ficou na sala e a imagem de sua bunda
redonda coberta pela seda em minha memória.
Capítulo 6

“Estamos juntos nessa


Não sabemos quem somos
Mesmo que esteja rápido demais
Talvez devêssemos levar isso mais além.”
(Nirvana, Sam Smith)

Kiara

A água quente do chuveiro caía sobre minhas costas,


enquanto eu deixava, pela milésima vez, minha mente caminhar
para as lembranças daquela madrugada. Cada vez que lembrava do
que havia acontecido, eu chegava a uma conclusão diferente.
Primeiro eu me senti culpada — na verdade, ainda me sentia — por
ter invadido um espaço tão pessoal quanto aquele.
Com toda a certeza, se eu soubesse que aquele andar era
restrito, que era proibido estar ali, eu jamais invadiria. Quando
Dallah me levou para conhecer o palácio só havia me dito que era
proibido ficar na sala do andar debaixo, não que eu não poderia ir
aos outros andares.
A cada dia daquela semana eu conheci uma parte diferente
daquele lugar. E ficava cada vez mais encantada com a riqueza de
tudo, como se eu estivesse dentro de uma história de contos de
fada, ou até mesmo um filme. Conheci as sete salas do castelo, a
sala de armas, onde ficavam todas as espadas centenárias, a
biblioteca gigantesca e linda, que me deixou fascinada, assim como
o lado de fora do castelo com um lindo jardim de primavera e outro
de inverno.
Dallah, que morava ali com Dimir e Arthur, me mostrou seu
quarto que ficava no mesmo andar que o meu e havia me dito que o
quarto de Dominick tomava todo o terceiro andar. Confesso que
havia ficado curiosa, um único andar todo para ele, mas me lembrei
de que antes do pai morrer ele era o príncipe. E o príncipe não
poderia ter nada menos do que desejava.
Soube da existência do quarto andar e do quinto, que Dallah
havia falado que ficava os aposentos do falecido rei. E só. Ela não
havia me contado sobre o que realmente havia no quarto andar e,
uma coisa que estava aprendendo sobre mim mesma durante
aquela semana, era que eu era um poço de curiosidade. E movida
por ela, em meio a madrugada insone, senti vontade de andar pelo
castelo e logo me vi no andar de Dominick.
Era bem a cara dele, tudo muito sóbrio e elegante, o corredor
pintado de marrom, sem quadros. Senti vontade de rondar por ali,
mas eu sabia que seria arriscado e que, se ele acordasse e me
flagrasse, não saberia onde enfiar a minha vergonha, por isso segui
em frente e subi as escadas, indo para o quarto andar.
Era tão lindo que cheguei a perder o fôlego. Muito diferente
do resto do castelo, o corredor longo e claro, com pinturas de uma
mulher linda e serena. Ela era loira e tinha olhos verdes claríssimos.
Em fotos ela sorria, doce, e em pinturas ela estava séria, mas
calma.
Levei apenas alguns segundos para concluir que ela era a
antiga rainha. Dominick era muito parecido com ela, o cabelo loiro-
escuro ele havia herdado dela, assim como alguns traços faciais.
Era tão lindo quanto a mãe e aquilo me fez sorrir, enquanto me
perguntava como devia ter sido a relação entre os dois, antes de ela
partir. Pelo olhar carinhoso dela nas fotos, ele deve ter sido muito
amado e, no fundo, me senti feliz por ele.
Já que não me lembrava da minha vida, ficava feliz por ele ter
tido uma família e ter sido amado.
Caminhei pelo corredor vendo as portas duplas pintadas de
branco. Curiosa, abri a primeira porta e acendi a luz. Observei uma
segunda biblioteca, menor, entretanto, com um toque pessoal
impossível de ser negado. Ao contrário da biblioteca do primeiro
andar, aquela tinha as prateleiras pintadas de rosa claro, com livros
bem mais velhos e amarelados, mas tudo era muito limpo.
Impecável.
Havia uma escrivaninha branca, com papéis amarelados em
cima, tudo organizado. As poltronas eram parecidas com as do
primeiro andar, estofadas e de tons claros. Parecia que a paz
reinava naquele lugar.
Sem querer ser invasiva demais, apesar de saber que já
estava sendo, saí e fechei a porta, indo em frente. A segunda sala
era um pequeno ateliê, havia algumas máquinas de costura, linhas e
panos com bordados inacabados. Percebi que nunca seriam
terminados e sorri tristemente, fechando a porta. Ficava cada vez
mais claro para mim que aquele andar era todo da antiga rainha,
mas não conseguia entender o porquê de tudo permanecer
intocável.
Por fim, fui a última porta do corredor e suspirei quando meu
olhar bateu no piano branco no meio da sala. As cortinas cor de
creme deixava tudo ainda mais bonito, o chão de madeira brilhando
fortemente. Havia uma parede tomada por espelhos, linda. Foi bem
mais forte do que eu a vontade de entrar e tocar em tudo, tentei
lutar, mas foi uma luta inglória e senti meu coração pular quando me
sentei em frente ao piano e toquei em uma tecla.
Nem ao menos sabia o que estava fazendo, só deixei que
meus dedos tocassem as teclas e a música pareceu fluir de dentro
de mim, inundando o silêncio sepulcral em que aquela sala estava
mergulhada havia anos. Estava tão concentrada, tão feliz e leve que
só me dei conta de que havia sido afastada do piano quando caí
com força no chão.
Pisquei e ofeguei, saindo da letargia em que havia
mergulhado. Os olhos ferozes de Dominick ainda estavam
impressos em minha memória, bem como sua voz rascante e cheia
de fúria. Estava realmente arrependida por ter invadido aquele lugar,
se soubesse que era proibido eu jamais iria, mas ele parecia tão
cego e surdo que não ouviu minhas explicações.
Ele havia sido muito gentil comigo durante toda aquela
semana, apesar de quase não termos nos visto durante o dia e sim,
à noite, no jantar. E depois dele, onde teve uma noite em especial
em que ele ficou conversando comigo, esclarecendo algumas das
minhas dúvidas. Quase acreditei na história dele ter me falado tudo
aquilo naquele dia porque estava muito nervoso, mas agora eu
estava envolvida de novo no dilema de acreditar ou não.
Dominick havia me deixado muito claro na noite anterior que
eu não o conhecia. Ali eu realmente senti medo, pois vi uma
ferocidade inabalável em seu olhar, em seus gestos, no modo como
falou comigo, como me alertou que não gostaria de conhecê-lo de
verdade.
Agora eu me perguntava como poderia me casar com um
homem que parecia viver em uma corda bamba, onde qualquer
vento mais forte o derrubaria e ele se transformaria em uma pessoa
que eu nunca imaginei conhecer. Para mim era muito fácil, agora,
perceber que ele tinha duas faces; a do Dominick gentil e a do
violento.
E eu sabia que precisaria descobrir qual daquelas duas
personalidades era dominante para continuar com ele.
Cansada, saí do chuveiro e me sequei, sem a mínima
vontade de começar um novo dia. Muito menos de descer e ter que
tomar café da manhã sentada ao lado dele, mas sabia que não
poderia fugir, principalmente se eu estava prestes a tomar uma
decisão tão importante quanto aquela.
Peguei um dos vestidos que Dallah havia me emprestado, já
que eu adiava o máximo possível a hora de fazermos compras para
mim. Era um tomara que caia, florido e alegre, nada a ver com o
modo como eu estava me sentindo, mas não tinha muito tempo para
escolher, já que estava atrasada para o café da manhã. Penteei
meus cabelos e calcei minhas sapatilhas, antes de me olhar mais
uma vez no espelho e sair do quarto.
Desci as escadas apressada e cheguei na sala de jantar com
o coração na boca, nervosa. Todos estavam à mesa e Dominick me
olhou sem o modo gentil de antes, a raiva ainda brilhando em sua
íris. Murmurei um bom-dia baixo e fui para o meu lugar. Thomas, o
homem de terno que sempre ficava por ali na hora das refeições,
arrastou a cadeira para mim e me sentei, sem um pingo de fome.
A mesa estava silenciosa e eu me servi de uma xícara de
café, bebendo um gole, observando o modo rápido como Dominick
cortava uma panqueca americana.
— Dallah, eu havia lhe dado uma ordem semana passada...
Você se lembra?
Senti Dallah olhar para Dominick e eu continuei a encarar a
mesa cheia de comida, observando pelo meu olhar periférico que
Dominick continuava a olhar para o prato, esperando uma resposta.
— Ordem? Quais delas? Você adora dar ordens a todo
mundo o tempo todo — ela respondeu, zombeteira.
— Eu não estou para brincadeiras hoje, Dallah — Dominick
respondeu, sério e eu senti um arrepio de pavor perpassar meu
corpo, prevendo onde aquele interrogatório chegaria. — Eu havia
falado para você mostrar o palácio a Kiara e para explicar a ela
como tudo funcionava por aqui.
— Ah, sim! Eu estou fazendo isso e estamos nos divertindo
muito conhecendo tudo! Ela amou os jardins e a biblioteca, não é,
Kiara?
— Não importa o que ela amou ou deixou de amar, Dallah. —
Ele finalmente a olhou, sério. — Ontem eu a encontrei no andar da
minha mãe, tocando o piano dela. Ela me disse que você não tinha
avisado a ela sobre ser proibida a entrada de qualquer pessoa no
quarto andar. Diante disso, sabe qual foi a pergunta que eu me fiz
durante toda essa madrugada?
— Qual?
— Como uma pessoa, que já é adulta, esposa e mãe, pode
ser tão estúpida ao ponto de não explicar uma simples regra a
alguém?
Daquela vez eu o olhei. O medo que estava sentindo dele foi
substituído por um sentimento horrível, chamado de indignação. Eu
estava surpresa, quase podia sentir a minha boca se encostando ao
chão tamanha indignação ao ouvi-lo falar daquela forma com Dallah.
E, ao invés de retribuir meu olhar, ele continuou encarando-a como
se realmente estivesse esperando uma resposta para aquela
pergunta tão absurda.
— Eu... sinto muito, Dominick, eu me esqueci totalmente e...
— Não, nem tente se desculpar! Sabe, a culpa foi minha de
ter colocado justamente você, uma louca que não consegue pensar
por si própria, para fazer algo tão simples! — falou, enraivecido,
largando o guardanapo em cima do prato vazio. Levantou-se e,
olhando para Dallah, disse: — Lembre-me da próxima vez não
passar uma função tão difícil para você, Dallah. Parece que você
ainda não consegue assimilar certas coisas. Thomas, estou no
escritório e não quero ser perturbado por ninguém.
Dito isso, ele simplesmente virou as costas e saiu da sala de
jantar, sumindo por um corredor. Eu ainda fiquei alguns segundos
esperando-o voltar e dizer que aquilo era uma pegadinha, que
estava apenas brincando, mas nada aconteceu. Quando finalmente
a ficha caiu para mim, mostrando-me que ele estava falando sério,
eu me virei para Dallah e a vi com lágrimas nos olhos, disfarçando
ao dar um biscoito a Arthur, que parecia alheio a tudo olhando para
o tablet em seu colo.
— Como você permite que ele fale assim com você, Dallah?
— perguntei a ela, virando-me para encarar Dimir. — E você, Dimir?
Por que não a defendeu?
— Eu estou tão surpreso quanto você, Kiara. Dominick
sempre foi grosso, mas nunca o vi falar assim. Fiquei sem reação.
— Está tudo bem, Kiara. Dominick é assim mesmo, uma hora
você se acostuma — Dallah falou, mais recomposta, olhando
fixamente para a salada de fruta à sua frente.
— Ah, não! Sinceramente, eu não me acostumo mesmo! —
respondi, levantando-me e deixando o guardanapo sobre a mesa. —
Onde é o escritório dele?
— O quê?
— O escritório de Dominick, onde fica?
— Kiara, eu não acho que seja uma boa ideia ir falar com
ele...
— Eu vou falar com ele, Dimir, e se não me falar onde é, eu
viro esse palácio de cabeça para baixo até achar!
— Senhorita, Vossa Majestade não quer ser incomodada...
— Pois diga a Vossa Majestade que eu não só vou
incomodá-lo, como vou falar umas boas verdades na cara dele! —
falei, voltando meu olhar para Dimir e Dallah. — Então? Vão facilitar
as coisas ou eu vou mesmo ter que sair abrindo cada porta desse
castelo?
— Vá pelo corredor. Encontrará a sala do antigo rei, é a
primeira porta perto do janelão.
Não esperei que dissessem mais nada e segui pelo mesmo
corredor que Dominick tinha ido minutos atrás. Não era tão longo
quanto os outros e logo entrei na sala que Dallah havia me
mostrado há alguns dias. O janelão me mostrava que o verão
estava em alta, mas não parei para ver nada, apenas fixei meu olhar
na porta dupla de madeira e a abri assim que toquei na maçaneta.
Dominick me olhou surpreso, com o copo de uísque próximo
à boca. Não o esperei falar ou descontar a sua raiva em mim,
apenas fechei a porta em um baque seco e o encarei, raivosa, me
aproximando.
— Quem você pensa que é para falar daquela forma com a
Dallah? — gritei, empurrando-o no peito. Ele ao menos se moveu e
minha fúria aumentou. — Não é porque o senhor é o tão poderoso
Rei de Orleandy, que pode se achar no direito de atacar a todos
com essa sua arrogância. Dallah se esqueceu mesmo de me falar
sobre o andar da sua mãe, mas isso não é motivo para você chamá-
la de estúpida, nem de diminuí-la como fez agora a pouco, seu
ignorante!
Ele arqueou uma sobrancelha e tomou um gole da sua
bebida, me encarando. Sua calma me fez ficar com ainda mais raiva
e eu olhei para o copo, desejando que o mesmo explodisse na sua
mão.
— Quanto Dallah está te pagando para vir defendê-la dessa
maneira?
— Qual é o seu problema, Dominick? Eu entendo que tenha
ficado com raiva por ter me visto no piano da sua mãe, eu pedi
desculpas, disse que sentia muito! Mas mesmo assim você pareceu
um animal ontem, me ameaçando daquela forma! O que você quer
que eu faça? Me ajoelhe e beije seus pés? Quer que Dallah também
venha aqui pedir perdão de joelhos? Você pode estar magoado, eu
entendo isso, até porque eu invadi o espaço da sua mãe, mas esse
não é um erro tão indigno de perdão!
— Até que você de joelhos é uma opção bem agradável aos
meus olhos. — Sorriu, terminando o uísque.
Olhei-o, sem saber o que dizer, com a raiva ainda
borbulhando em meu sangue.
— Quem é você? O homem gentil que me tratou bem durante
esses dias, ou esse imbecil troglodita, que gosta de humilhar as
pessoas?
— Do que me chamou?
— De imbecil! De troglodita e arrogante, ignorante! — gritei,
vendo-o colocar o copo com calma em cima do bar.
— Abaixe o tom.
— Eu falo do jeito que eu quiser! Ou vai me chamar de
estúpida também?
Ele me olhou e se aproximou, seu olhar duro e semblante
franzido me fez dar dois passos para trás, apenas para tê-lo perto
de mim mais uma vez. Quanto mais ele se aproximava mais eu me
afastava, até que senti a parede contra minhas costas e ele na
minha frente, seu corpo colado ao meu e seu rosto baixo, sua
respiração tocando minha bochecha.
— Eu vou te ensinar boas maneiras, Kiara. Parece que você
se esqueceu delas junto com a sua memória.
Senti vontade de gritar quando o vi arrancar o quadro que
estava atrás de mim em um safanão, fazendo-o cair no chão. A
surpresa me deixou muda e eu ofeguei quando o vi tirar o cinto de
couro sem deixar de me encarar. Pensei em fugir e olhei para todos
os lados imaginando minhas chances de escapatória, mas as
janelas estavam fechadas com cortinas grossas tampando-as e a
porta estava muito longe. Estava sem saída, literalmente, e gritei
quando ele ergueu meus dois braços e passou o cinto entre eles,
amarrando os pulsos e prendendo-os no gancho que prendia o
quadro em cima da minha cabeça.
Me encarou, parecendo satisfeito e eu tentei puxar meu
braço, o que fez com que o couro apertasse ainda mais minha pele.
— O que vai fazer? — perguntei, assustada, impedida de me
movimentar. — Me solta daqui!
— É engraçado porque na hora de vir aqui me atacar, você
estava toda alterada... Agora parece que quer sair correndo — ele
disse, sorrindo, tocando meu queixo. Virei o rosto para o lado,
querendo fugir sem saber para onde. — Não seja arredia, Kiara.
Sabe o que faço com menininhas insolentes?
— Amarra na parede com o seu cinto?
Senti seu dedo descer pela minha bochecha até meu
pescoço, chegando ao meu colo. Meus pelos eriçaram e xinguei
meu corpo traidor por estar gostando daquela palhaçada.
— Não — sussurrou, enquanto seu olhar seguia o rastro que
seus dedos faziam. — Eu posso até usar o meu cinto, mas é para
surrar a bunda de meninas rebeldes como você. Ou eu posso
colocá-la curvada em uma gaiola, sem poder se mover por ter uma
língua tão afiada.
Senti meu coração pulsar, aturdida. Minha imaginação criava
asas ao ouvir aquilo, sem nem poder acreditar que tal coisa
realmente existia.
— Você é louco!
— Sua lista de elogios para mim só está aumentando o que,
consecutivamente, faz com que a minha lista de castigo para você
só aumente também.
Um sorriso sacana se abriu em seu rosto e seu olhar se
voltou para meu. Sua íris brilhava, pude ver o desejo e a verdade ali
dentro e estremeci da cabeça aos pés, sentindo minha vagina
pulsar. Nunca havia sentido algo parecido na vida — ou achava que
não — e, por mais que minha mente estivesse gritando para
arrumar uma forma de sair dali, meu corpo tremia com a vontade de
ficar.
Respirei fundo e, olhando em seus olhos, senti seus
polegares roçarem o bico do meu seio. Foi leve, uma carícia curta
que me fez lamber os lábios ressecados. Pensei em pedir para que
parasse, para que me deixasse ir embora, mas minha mente ficou
em branco quando senti meu vestido sendo abaixado, deixando-me
nua da cintura para cima. Ele se afastou um pouco e seus olhos
pousaram sobre meus seios desnudos, os mamilos ficando duros
rapidamente.
— Linda — murmurou, voltando a se aproximar.
— Eu... quero sair daqui. — Consegui falar, sentindo o medo
se esvaindo, dando lugar ao desejo.
— Não quer. Não precisa mentir para mim, Kiara, a sua boca
pode falar uma coisa, mas seu corpo fala outra totalmente diferente.
Suas duas mãos se fecharam levemente sobre o meu
pescoço e desceram, seus dedos passando de leve sobre meu colo
e minhas axilas, até chegar aos meus seios. Novamente seus
polegares roçaram em meus mamilos e daquela vez eu gemi, o
contato ficando mais forte, seus polegares rodeando até que ele
apertou o bico do seio direito e eu joguei a cabeça para trás,
entregue ao prazer.
— Assim que eu gosto, Kiara... Toda receptiva pra mim —
sussurrou, passando os lábios pelo meu pescoço e beliscando meu
outro seio, girando os mamilos na ponta dos dedos. — Que delícia,
Kiara, você assim, à minha mercê, esses peitos durinhos só pra
mim...
Parou de falar e abocanhou meu pescoço, sugando minha
pele e beliscando meus seios com mais força. Não consegui me
conter e gemi alto, me dando mais a ele, oferecendo meus seios
para suas mãos, sentindo meu corpo estremecer e minha calcinha
ficar cada vez mais molhada, minha vagina pulsando com força.
Ouvi seu gemido rouco perto do meu ouvido e ele voltou a me
encarar, parando de beliscar meus seios. Quase chorei pela perda
do contato, mas, então, seus dedos subiram e desceram com tudo,
o barulho dos tapas ecoando pelo escritório, meus mamilos
queimando como fogo.
— Oh, meu Deus... — gritei e senti meus olhos se encherem
de lágrimas quando sua boca se fechou sobre um mamilo ardido,
sugando-o com força. — Ah, sim...
Me esfreguei nele, buscando um alívio que não vinha, apenas
um tormento cada vez mais forte tomando conta do meu corpo, me
fazendo ofegar. Ele bateu de novo com a ponta dos dedos no meu
outro seio e as lágrimas desceram, molhando minhas bochechas, o
prazer se alastrando em meio à dor que eu sentia no bico do seio,
que logo encontrou a libertação quando ele o pôs na boca e o
sugou.
— Hum... — Ouvi seu rugido, seu olhar enraivecido
perfurando o meu. Mordeu meu mamilo e se afastou até que ele
escapuliu de seus dentes. — Porra, Kiara, você tá me
enlouquecendo... Tenho certeza de que essa boceta tá molhadinha
pra mim, não é?
Assenti, quase implorando em voz alta para que me tocasse.
Ele se afastou um pouco e observou meus mamilos inchados e
vermelhos, um sorriso voltou a nascer em seu rosto, então, voltou a
se aproximar e encheu as duas mãos com meus seios, apertando-
os.
— Sei o que quer, mas não vou tocar na sua boceta, você
não merece isso. Está tendo muita sorte por eu ter apenas te
prendido na parede e não ter surrado a sua bunda — falou, largando
meus seios e levando as mãos a calça, desabotoando-a.
Senti minha respiração falhar e meu rosto esquentar,
enquanto o via abaixando o zíper da calça e descendo-a o suficiente
junto com a cueca, até que seu membro saltou, em riste. Era lindo,
assim como ele. Enorme, passando o umbigo, grosso e cheio de
veias, a cabeça grande e senti minha vagina liberar mais líquidos,
terminando de ensopar minha calcinha.
Tocou o pau de cima a baixo, lentamente.
— Está chegando o dia em que eu vou enfiar meu pau em
cada buraco do seu corpo, Kiara — murmurou, mas meu olhar
estava fixo em seu membro e nos movimentos que fazia nele. — Vai
ser uma delícia enfiá-lo bem fundo na sua bocetinha, ou na sua
garganta... Dentro do seu cuzinho. — Se aproximou mais e
encostou a cabeça em minha barriga, a glande melada molhando
minha pele. — Vamos gozar muito juntos.
Estremeci e senti minha mão coçar com vontade de tocá-lo,
mas tudo se perdeu quando ele voltou a abocanhar meu seio, dessa
vez em volta, primeiro em um e depois em outro. Gemi alto e senti
sua mão acelerar em seu pau, enquanto ele voltava a colocar meu
bico em sua boca.
Tremi, me dei e joguei a cabeça para trás, me esfregando
nele como podia, implorando por um alívio à tormenta no meio das
minhas pernas. Me sentia como uma bomba-relógio prestes a
explodir, meu ventre parecia inchado. Minha vagina pulsou
fortemente e abri minhas pernas para receber algo entre elas. Algo
que nunca vinha.
— Por favor, por favor... — implorei, chorei, mas não fui
ouvida e ele só mamou forte ora em um seio e ora em outro.
Era tudo demais para mim. Minha cabeça rodou e gritei,
minha boceta pulsou e pingou enquanto um tremor forte tomou
conta do meu corpo. Me senti aérea por vários segundos, enquanto
meu clitóris vibrou, mas mesmo assim eu soube exatamente o que
estava acontecendo ali. Eu estava gozando, estremecendo,
enquanto um líquido quente começava a molhar minha barriga e
Dominick gemia rouco contra o meu seio.
Minhas pernas fraquejaram e eu quase caí, mas Dominick
agarrou minha cintura e me segurou, respirando forte assim como
eu. Quando se afastou, vi seu pau semiereto, a cabeça ainda mais
molhada, assim como a minha barriga. Ele também havia gozado e
o olhei, sem saber o que dizer.
Tudo ficou confuso, me sentia mole, melada e zonza, mas
sabia que tínhamos chegado a um ponto que mudava todo o nosso
relacionamento. E o pior de tudo foi saber que eu não estava
arrependida de nada do que tinha acontecido ali, no seu escritório.
Faria tudo de novo e a certeza daquilo me abalou mais do
que eu poderia imaginar.
Capítulo 7

“Você senta atrás de sua máscara


E você controla seu mundo”
(Behind The Mask, Michael Jackson)

Dominick

Desviei meu olhar de Kiara e me vesti rapidamente,


abotoando a minha calça. Ela parecia meio aturdida e gostei
daquela expressão nela, era bem mais confortável do que sua
carinha de marrenta, apesar de ter me excitado muito ao me
confrontar.
Me aproximei, levando minha mão ao cinto amarrado ao
gancho na parede, tentando entender o que havia sido tudo aquilo.
Depois de ter passado o resto da madrugada insone, o sol chegou
fazendo com que o meu mau humor piorasse. Precisava descontar
toda aquela fúria em alguém e ter Dallah ali, no mesmo lugar que
eu, fez com que minha raiva ficasse ainda mais viva. Não me
arrependia de ter descontado nela toda a minha fúria.
Principalmente quando a minha fúria tinha desencadeado
uma reação tão... diferente e deliciosa em Kiara. Satisfação era o
meu nome agora que eu havia finalmente provado alguma parte do
seu corpo. Seus seios vermelhos e ligeiramente inchados eram a
prova concreta que eu havia me deliciado bastante com ela. E
minha porra em toda sua barriga, também.
Puxei seus braços para baixo e desamarrei seus pulsos,
olhando dentro de seus olhos. Ela ainda parecia um tanto aérea e
eu sorri ao constatar que eu mexia com ela, de todas as formas,
desencadeando não só sua raiva, mas seu prazer também.
Pensei em falar alguma coisa, mas não sabia o quê. Ela
também parecia aturdida demais para falar algo, então, passei meus
dedos pelos seus braços, massageando de leve, fazendo a
circulação voltar. Meus olhos sempre presos aos dela, sem
conseguir desviar e também sem saber o porquê de ela mexer tanto
comigo.
Eu queria entender!
A última semana havia sido calma, eu havia me comportado,
mas, mesmo assim, parecia que cada respirar dela ficava marcado
em minha memória. A cada vez que ela me encarava com aqueles
olhos expressivos, eu me sentia diferente. Ontem eu senti satisfação
ao ver que ela finalmente havia entendido que não podia brincar
comigo; hoje eu fui da raiva ao desejo. E agora, estava tão perdido
quanto a criança que fui durante toda a minha infância.
E eu odiava essa sensação.
Estava disposto a perguntar a ela como conseguia mexer
tanto comigo, muitas das vezes sem ao menos dizer uma palavra,
quando ouvi a porta do meu escritório ser aberta em um safanão.
— Kiara, por que está demorando tanto... Ah, meu Deus! —
ela gritou e Kiara se encolheu em meus braços, ficando de costas
para ela. — Puta merda... Eu jamais poderia imaginar que... Deus
do céu!
— Dallah, o que foi que... Oh, porra! — Dimir xingou,
invadindo o meu escritório também.
Senti o corpo de Kiara tremer e a abracei mais forte, tocando
em suas costas, furioso por ter a nossa privacidade invadida
daquela forma.
— Aprendam a bater na porta antes de entrar! — falei baixo,
mas severo, meus olhos soltando faíscas. — Agora saiam!
— Desculpe, Dominick... Isso não vai se repetir — Dimir
murmurou e saiu, arrastando uma Dallah ainda chocada com ele.
Quando a porta foi fechada novamente, ouvi o suspiro de
Kiara e me afastei apenas um pouco, puxando seu rosto para cima
com a ponta dos meus dedos em seu queixo. O rosto dela estava
todo corado e confesso que achei aquilo adorável.
— Oh, meu Deus, que vergonha! — murmurou, sem me
olhar.
— Não precisa ter vergonha, Kiara. Somos um casal e casais
fazem sexo.
— Nós não fizemos sexo!
— Ainda — respondi, passando a mão aberta em suas
costas, descendo até sua bunda. — Não fizemos sexo ainda.
Ela se afastou, empurrando-me de leve pelo peito até se ver
livre dos meus braços. Um segundo depois estava puxando seu
vestido para cima, tampando sua barriga parcialmente molhada com
meu sêmen e seus seios vermelhos pelos meus chupões. Quase
gemi de descontentamento, mas me freei quando percebi que aquilo
seria demais, até mesmo para mim. E constrangedor também, para
um homem como eu.
— Eu... vou para o meu quarto.
Não me encarou e eu bufei, indo até o bar e enchendo meu
copo novamente. Tomei um gole de uísque e voltei a encará-la,
vendo que ela ainda estava meio perdida.
— Você pode me olhar, Kiara. Eu não vou avançar em você
como um animal.
— Você fez isso agora a pouco — acusou, finalmente me
olhando. — Pode muito bem fazer de novo!
— E você adorou, até mesmo gozou e olha que eu nem
toquei na sua boceta. — Sorri, me aproximando devagar. — Não
pense que eu não sei. Eu senti seu corpo tremendo, o modo como
gemeu... Você se entregou totalmente para mim, então, não seja
hipócrita. Você deveria me agradecer.
— Você é muito petulante!
— E você tem uma língua muito afiada. Não seria um estorvo
para mim te castigar novamente por conta dela, mas saiba que eu
não serei tão gentil como fui hoje.
Ela engoliu em seco e se afastou, lutando para manter a
expressão altiva, mas eu sabia que mexia com ela. E estava
satisfeito por saber que eu conseguia mexer com ela, tanto quanto
ela conseguia mexer comigo.
— Eu... Eu quero que você peça desculpas a Dallah.
— Você quer que eu peça desculpas a Dallah? — perguntei,
rindo. — Está mandona demais, não acha?
— O que você fez foi horrível, Dominick — murmurou, sem a
raiva de antes. Ela parecia sentida. — Não é certo xingar e maltratar
uma pessoa como você fez com ela. Dallah é uma mulher incrível,
boa e minha única amiga. É ela quem me convence a dar um voto
de confiança a você, é ela que me fala o quanto você pode ser bom
quando quer. Mas como eu vou acreditar nisso quando você a trata
daquela forma? Só por que ela se esqueceu de dar uma
informação?
— Não foi qualquer informação — murmurei, amargo, me
xingando por estar tocado pela forma como ela estava falando
comigo.
Ela se aproximou, fechando a distância entre nós e, pela
primeira vez na minha vida, eu tive vontade de fugir de uma mulher.
Eu quase dei alguns passos para trás para aumentar a nossa
distância, mas não consegui, seus olhos me prendiam bem ali, na
sua frente. Quando vi sua mão se erguendo, eu quase rugi por ser
um idiota dominado por uma mulher, mas, mesmo assim, não me
movi do meu lugar, sentindo sua mão passear levemente pelo meu
rosto.
— Eu não deveria, Nick, mas eu posso entender você. — Ela
me chamou de Nick e meu coração acelerou. — É sobre a sua mãe
que estamos falando, a mulher que te colocou no mundo e que, com
toda a certeza, te amou mais do que qualquer outra pessoa. Eu sei
que deve ser angustiante não a ter mais com você, cuidando de
você, mas ela ainda te olha e te ama de onde quer que ela esteja,
isso nunca vai mudar. Manter as coisas dela intactas é sim um meio
de preservá-la, mas se ela estiver dentro do seu coração e da sua
memória, nada mais importa.
Ela não está na minha memória! Eu não consigo me lembrar
dela de forma alguma!
Eu tive vontade de gritar e quase o fiz, mas o carinho dela em
meu rosto me impediu novamente. Na verdade, eu quase não
estava respirando, com medo de que qualquer ato meu a afastasse
de mim. Quando me dei conta disso, senti meu coração falhar uma
batida. Que porra eu estava fazendo? Desde quando eu me
importava com carinho e todas aquelas merdas?
Enraivecido, me afastei e terminei meu uísque, colocando o
copo em cima da minha mesa. Fiquei de costas para ela, encarando
meu copo vazio, sabendo que se eu voltasse a encará-la, não
conseguiria me conter e perguntaria o que diabos ela estava
fazendo comigo.
— Eu vou pedir desculpas a Dallah — murmurei, torcendo
para que aquilo a deixasse satisfeita e a fizesse, finalmente, me
deixar em paz. — Agora, vá para o seu quarto e se arrume.
— Me arrumar? Para quê?
— Você e Dallah vão fazer compras hoje.
— Mas...
— Sem mas! Chega de enrolar, Kiara, você será a porra da
rainha e tem que se vestir como tal! — falei, deixando que ela
soubesse que eu estava furioso. — Já conseguiu o que queria, eu
vou pedir desculpas a Dallah, agora você pode se retirar.
A próxima coisa que ouvi foi a porta sendo fechada de leve
atrás de mim. Estava finalmente sozinho, mas essa palavra se
tornou mais pesada do que geralmente era para mim. Eu não fiquei
apenas sozinho na minha sala; eu fiquei vazio sem Kiara ao meu
lado.

***

Kiara

Era a primeira vez que eu saía do palácio.


Me lembrei que durante toda a semana passada eu ficava
olhando pela janela, vendo o jardim e pensando como deveria ser o
lado de fora dos muros altos que rodeavam o castelo e, agora que
eu finalmente podia ver o que tanto desejei, eu não conseguia fixar
imagem alguma em minha memória.
O centro movimentado da capital de Orleandy passava como
um borrão pela janela fechada do carro. Podia ver algumas pessoas
andando, carros ao nosso lado e os morros verdejantes ao fundo.
As construções modernas em meio a construções históricas, mas
nada realmente me prendia a atenção porque Dominick era o único
que estava infiltrado em minha mente, me impedindo até mesmo de
pensar.
Seus olhos castanhos ainda me tiravam o fôlego, bem como
as lembranças de mim amarrada à parede com seu cinto. Ainda
estava meio aturdida com tudo isso, ele sequer havia me beijado,
mas, mesmo assim, a lembrança era tão real que minha pele ficava
até arrepiada, como se ainda sentisse seu toque, ora firme, ora
delicado.
Na minha cabeça, havia dois Dominick: o homem gentil que
me tratou bem durante toda a semana e que me abraçou com força
quando Dallah invadiu o escritório e o homem rude e arrogante que
destratou Dallah na mesa do café da manhã e me expulsou de seu
escritório, logo após eu ser gentil com ele.
Talvez o problema fosse isso, ser gentil. Não precisei de mais
do que dois acontecimentos para saber que Dominick não estava
acostumado com alguém sendo gentil com ele, ou ser tratado com
amabilidade. Tudo era muito seco. Sua relação com Dimir era seca,
sua relação com Dallah era ainda pior. Raras vezes o vi olhar com
agrado para alguém, com exceção de Arthur.
Mas eu tinha medo de que, quando Arthur crescesse, ele
afastasse o menino também, como fazia com todos.
Talvez seja culpa da morte da mãe e do pai. Não podia
afirmar com certeza, mas talvez sua relação com um dos dois, ou
com os dois, não tenha sido tão boa e ele acabou se tornando um
homem fechado para todos. Inabalável.
Me perguntava se, um dia, ele mudaria.
— Você está chateada comigo, não é? — Ouvi Dallah
murmurar ao meu lado, ressentida.
— Por quê?
Era difícil me dirigir a ela sem ficar corada como um tomate,
mas mesmo assim o fiz, tentando entender onde ela queria chegar.
— Por ter invadido o escritório daquela forma... Eu sinto
muito! Você estava demorando tanto, eu pensei que Dominick
estava acabando com você, mas eu não imaginei que... Bem, que
ele estaria acabando com você de outra forma. Se é que me
entende. — Ela deu de ombros, tão envergonhada quanto eu.
Não tive coragem de falar nada e torci as mãos no meu colo,
sem saber o que dizer. Olhei para frente, o motorista parecia alheio
a tudo o que estava acontecendo ali atrás e depois olhei de novo
para Dallah, que me olhava de uma forma estranha.
Pensei que ela falaria mais alguma coisa, entretanto, ela
apenas balançou a cabeça como se afastasse um pensamento e
começou a rir. Não a rir apenas, mas gargalhar com vontade e foi
tão contagiante que eu comecei a rir também, mesmo sem saber o
porquê de tanta graça. Quando paramos, parecia que um peso
havia saído dos meus ombros e eu soube que era o peso da
vergonha que estava comigo, por ter sido pega em uma situação tão
constrangedora.
— Me desculpa, mas eu nunca pensei... — Ela parou para
respirar, ainda rindo de leve. — Menina, nunca pensei que Dominick
iria te atacar daquela forma, quando foi você que foi lá para atacá-lo!
Você precisa me contar tudo, com detalhe.
— Com detalhe?
— Sim! Para que eu possa reproduzir com Dimir. Na hora eu
fiquei chocada, mas depois eu vi que tudo aquilo foi muito quente...
— Ah meu Deus, Dallah, não! — murmurei, rindo. — Você é
doida.
— Doida por adorar os prazeres da carne? Não mesmo! —
Ela revirou os olhos e o carro parou dentro de um estacionamento.
Vi o momento em que os olhos dela brilharam. — Chegamos!
Vamos, futura rainha, o shopping nos espera!

***

Dominick

A tarde passou se arrastando, literalmente. Dimir e eu nos


reuníamos no escritório de meu tio Joseph, junto com Eurick para
decidirmos sobre alguns assuntos pendentes, bem como o jantar
que seria dado no palácio no sábado, para apresentarmos Kiara a
eles.
Kiara.
Ela não saía da porra da minha cabeça, por mais que eu
tentasse. Lutei muito para me concentrar na conversa e nos
problemas a serem solucionados, mas passei a tarde vagando entre
documentos e seus olhos, entre palavras, e o gosto da sua pele que
não saía da minha boca e seu cheiro que ainda parecia marcado em
mim, mesmo depois de ter tomado banho.
Por fim, a batalha interna dentro de mim foi vencida quando a
reunião acabou e, dentro do carro, de volta para casa, eu pude
pensar apenas nela e em tudo o que ela estava fazendo comigo.
Quando a escolhi, pensei que ela seria apenas mais uma das
mulheres com quem já havia dormido. Sempre planejei transar com
ela, fazê-la minha submissa, já que iria morar debaixo do meu teto e
ser minha esposa, mas nunca pensei que ela mexeria tanto comigo.
E ainda por cima mexeria com coisas que eu não sabia lidar.
Estava convivendo com ela há pouco mais de uma semana!
Uma maldita semana e só precisou disso para que ela virasse meu
mundo de cabeça para baixo com sua postura altiva e, ao mesmo
tempo, doce.
Quando ela estava irritada eu ficava duro, quando ela
respirava eu ficava duro, quando ela se movia a porra do meu pau
ficava duro! Mas quando ela tinha aqueles ataques de carinhos para
cima de mim, eu não sabia como lidar. Por um lado, uma parte
minha queria ficar em meio a seus carinhos e palavras doces para
sempre. Por outro lado, uma parte minha, a maior delas, se
assustava com tudo aquilo, não sabia como administrar tanta
gentileza dirigida a mim.
Cheguei à conclusão de que era melhor me manter o mais
afastado possível. Ela sabia que eu não era gentil, não adiantava
mentir ou fingir, principalmente quando eu era um cara de pouca
paciência, que explodia com tanta facilidade.
Kiara seria minha esposa, a Rainha de Orleandy, seria a
mulher perfeita para a sociedade e, acima de tudo, seria minha
submissa. Se eu tinha uma luta para encarar, que fosse a luta de
fazê-la se dobrar para mim e diante de mim e não para mim me
dobrar para ela, admitindo assim, que ela mexia comigo e que eu
me importava com o modo que ela me tratava e fazia sentir.
Capítulo 8

“Estou me apaixonando pelos seus olhos


Mas eles não me conhecem”
(Kiss Me, Ed Sheeran)

Kiara

Sentei-me na poltrona, observando Dallah andar de um lado


a outro com alguns cabides em mãos, tirando vestidos e mais
vestidos de dentro do meu closet. Na verdade, eu ainda não
acreditava muito que aquela era a minha realidade, com aquele
closet grande, todo abarrotado de roupas, sapatos e maquiagens,
quase igual ao guarda-roupa que eu vi em uma revista na loja em
que estávamos no shopping.
Era um verdadeiro sonho! Não vou mentir e dizer que não
adorava tudo aquilo, até porque, que mulher não gostaria? Qualquer
uma adoraria ter um closet gigante, cheio de coisas bonitas e caras.
Porém, por mais que eu gostasse e admirasse tudo aquilo como
uma boba, tudo parecia muito longe de quem eu realmente era.
Mas, então, me vinha a pergunta: quem eu era? Na verdade,
quem eu sou?
Era mais do que uma simples crise existencial. Eu sabia o
básico sobre a minha vida, como eu vivi, o que aconteceu comigo e
com meus pais, mas eu sabia que a vida de uma pessoa não se
resumia apenas a isso. Eu não tinha amigos? Será que havia
alguém procurando por mim na antiga cidade onde eu morava? O
que meus conhecidos iriam dizer quando saísse a notícia de que eu
seria a nova rainha?
Será mesmo que eu deveria ser a nova rainha?
A verdade de tudo é que eu sentia medo. Realmente sentia
medo de descobrir quem eu realmente era, tinha medo de decidir
não ser a rainha e ser expulsa do castelo. Onde eu viveria? O que
seria da minha vida? Aguentaria viver longe de Dallah e Arthur, que
em tão pouco tempo se tornaram importantes para mim?
Ou até mesmo Dominick, aquele homem tão diferente? Eu
poderia não me lembrar de nada sobre a minha vida, mas eu sabia
que jamais havia conhecido alguém como ele. Uma hora Dominick
era educado e gentil, outra era impenetrável e intragável.
Nosso último encontro de verdade, em seu escritório, ainda
era capaz de me deixar de pernas bambas e me tirar do eixo, como
se eu fosse uma simples marionete, comandada por ele. Mas eu
sabia que não era, eu tinha personalidade e era ela que eu iria usar
no jantar que aconteceria mais tarde. Me lembraria do resto daquela
semana, onde Dominick quase não me dirigiu o olhar e seria apenas
eu mesma, sem fazer esforço para agradar a ninguém.
Perguntei a mim mesma se eu conseguiria me manter tão
indiferente, quando ele mexia comigo. Me perguntei se eu
conseguiria levar adiante aquela briga interna, onde um lado lutava
para que eu fugisse dali e descobrisse quem eu realmente era e
outro lutava para que eu ficasse e me tornasse não só a rainha, mas
uma parte daquele lar.
Uma parte de Dominick.
Eu não sabia se conseguiria. E o “não saber” complicava
ainda mais a minha cabeça tão embaralhada e confusa.
— E, então, Kiara, temos esses dois vestidos maravilhosos!
— Ela pendurou um cabide em cada dedo da mão, chamando
minha atenção. — Temos esse vestido branco perfeito, estilo Marilyn
Monroe, que foi uma diva americana maravilhosa! E esse aqui que é
creme, chique e maravilhoso, com esse cinto marrom no meio!
Confesso que esse é o meu favorito, por mais que eu ame a
Marilyn!
Olhei para os dois, vendo que realmente eram maravilhosos,
mas o vestido creme me ganhou. Em silêncio, pedi desculpas a
Marilyn Monroe — mesmo sem saber quem ela era — e fiquei com
o vestido creme, apontando para ele e vendo Dallah pular de
alegria. Às vezes ela era tão feliz quanto Arthur, um menininho com
cinco anos de idade.
— Perfeito, perfeito! Agora levante esse bumbum da poltrona
porque temos um horário marcado com meu cabeleireiro favorito!
Ele já deve ter chegado — ela falou, colocando o vestido em cima
da minha cama. — Você tem que estar perfeita para o jantar de
hoje!
Me levantei e a segui, vendo-a bater palminhas, toda
eufórica. Eu estava feliz, mas me perguntava de onde ela tirava
tanta alegria.

***

Dominick

Observei a noite chegar, enquanto abotoava meu terno negro


como o céu sem estrelas. Os dias estavam passando rápidos
demais e meu tempo estava curto. Eu tinha um mês para apresentar
uma futura rainha ao clero e essa noite era decisiva. Se meu tio
Joseph e Eurick gostassem de Kiara, em breve eu me casaria.
Se não gostassem, nada estaria feito.
Me observei no espelho e vi que estava tão impecável como
sempre, com o semblante sério e sereno, mas só eu sabia como
estava me sentindo por dentro. Depois do episódio com Kiara em
meu escritório, eu quase não falei com ela e reconhecer que aquilo
me deixava de mau humor me deixou desestabilizado.
Era estranho. Eu nunca precisei de qualquer outra pessoa
para seguir em frente com a minha vida e agora eu me via
completamente satisfeito em apenas olhar para Kiara, como se eu
não a visse meu dia não seria completo. Quando dirigíamos apenas
“bom dia” um para o outro no café da manhã, a panqueca
americana que eu tanto gostava parecia descer com mais facilidade
pela minha garganta, como se meu organismo ficasse satisfeito em
apenas tê-la falando comigo.
Mas o resto do meu dia era uma merda porque eu não a via.
E fazia questão de chegar tarde demais para não jantar em casa, a
fim de evitá-la. Por que eu fazia isso? Porque estar na presença
dela me fazia diferente, tocava algo em mim, que me transformava
em um Dominick que não podia tirar os olhos dela.
E isso me deixava puto porque eu não conseguia controlar
essa reação que parecia tão natural ao meu corpo, como andar e
respirar. Meus olhos iam até ela automaticamente, fosse quando ela
respirava, ou quando sorria para Arthur, até mesmo quando
encostava as xícaras naqueles malditos lábios, que pareciam me
chamar para beijá-la.
Me perguntava como iria fazer quando me casasse com ela.
Kiara estaria atada a mim durante a minha vida toda, dormiria no
meu quarto quando se casasse comigo, não poderia evitá-la.
Mas também sabia que, se não fosse ela, não haveria Rainha
alguma em Orleandy. Eu a tinha escolhido e mesmo que ela me
cobrisse de dúvidas em certos momentos, eu sabia que ela teria de
ser a minha esposa e a rainha do meu país.
Exatamente por isso que eu deveria mostrar a meu tio e a
Eurick que eu estava centrado e confiante, deveria provar a eles que
Kiara era a mulher certa para ser minha esposa e estar ao meu lado
como figura representativa daquele país.
Abotoei meu relógio e saí do quarto, descendo as escadas.
Passei direto pelo segundo andar e cheguei ao hall, indo em direção
à sala que pertencia ao meu pai. Um quadro com sua imagem
pintada imperava o centro da parede, acima da lareira, com sua
figura imponente me julgando eternamente com seu olhar
desafiador.
Dimir, Eurick e meu tio Joseph estavam sentados, bebendo
um cálice de vinho. Se levantaram assim que entrei na sala e
cumprimentei a todos com a cabeça, indicando que poderiam se
sentar.
— Boa noite.
— Boa noite, Dominick — Tio Joseph saudou, me
observando. — E sua futura noiva, onde está? Confesso que estou
curioso para conhecê-la.
— Eu também. Dimir nos falou muito bem dela.
— Ela já deve estar descendo, está terminando de se
arrumar com Dallah — respondi, recebendo um cálice de vinho que
Thomas ofereceu a mim. — E onde está tia Katherine? Pensei que
jantaria conosco.
— Ela resolveu ficar em casa, disse que conhecerá Kiara
quando for a hora certa. Sabe como sua tia é, não gostaria de se
envolver com a moça, para depois ela não ser aceita por nós.
— Mas ela será aceita, papai — Dimir falou, chamando sua
atenção. — Kiara é uma mulher incrível, não há motivos para não
gostarem dela.
— E de onde ela é? Me lembro muito bem de Dominick nos
falando que não tinha pretendentes... Estou curioso para saber de
onde essa mulher veio. É de Orleandy?
— Com certeza, Eurick. Não seria de bom tom ter uma rainha
que ao menos tem as raízes de nosso país — falei, tranquilo,
tomando um gole de vinho. — Kiara é uma antiga namorada
minha... Bem, eu a encontrei em um momento delicado da vida dela,
ela tinha acabado de sofrer um acidente.
— Um acidente? Que tipo de acidente?
— Ela caiu da escada da casa onde morava, em Piechvi.
— Piechvi? — Tio Joseph me interrompeu, surpreso. — Ao
menos sabia que você ia a Piechvi.
— Ia raramente. Em uma dessas ocasiões, eu a conheci.
Ficamos juntos e tornei a encontrá-la agora, depois que meu pai
morreu. Esse acidente afetou uma parte do cérebro dela e Kiara não
consegue se lembrar de seu passado...
— Perdeu a memória?
— Sim.
— E como diabos teremos uma rainha que não se lembra da
própria vida, Dominick? Ficou louco? — Eurick reclamou, furioso,
mas sem elevar o tom de voz.
— Eu não vejo problemas. Pelo contrário, é quase uma
bênção — Dimir falou, dando de ombros.
— Uma bênção?
— Sim, tio Joseph — respondi, me virando para ele. —
Assim, podemos moldar Kiara a nosso modo, fazer dela a rainha
perfeita. Ela não se lembra de nada do que aconteceu antes, a vida
dela é o agora e não tem porque nos questionar.
Dimir assentiu ao meu lado, tão ciente quanto eu de que
aquilo era uma mentira. Na verdade, pensamos que aquilo poderia
realmente ser a realidade, mas não era. Kiara era tudo, menos
moldável. E sempre, sempre questionava. Mas ninguém precisava
saber.
— Eu ainda não estou muito certo disso... — Tio Joseph
falou, suspirando. — Ela ao menos é bonita?
— Ela é linda. A mulher mais linda que eu já vi na minha vida
— murmurei, dando a minha resposta mais sincera desde o início
daquela conversa.
— Sabemos que não é só a beleza que encanta o povo,
Joseph. Temos que conhecer essa mulher, todos vão querer saber
de onde ela vem, o que ela faz, o que ela já fez! Ela ao menos se
lembra de sua própria vida, como se portará na frente de todos?
— Ela pode ser ensinada, Eurick. E como não se lembra de
sua vida, falará o que nós contarmos a ela. Olhando por esse
ângulo, é uma tacada de mestre, Dominick. Você e Dimir estão de
parabéns.
— Obrigado, papai.
— Eu só vou compactuar com isso depois de conhecê-la.
Quero saber como ela é, se merece esse trono.
— O que meu pai teve de fazer para levar minha mãe ao
trono? Qual foi a “tacada de mestre” que ele usou?
— Sua mãe era de uma família conceituada, Dominick. Todos
a respeitavam e a admiravam, seu pai não precisou de muito para
fazê-la ser aceita pelo clero — Tio Joseph respondeu.
— E, acima de tudo, ele amava sua mãe. Patrick era
completamente apaixonado por Marie e em nenhum momento
precisou fingir uma paixão que não existe, apenas para agradar ao
povo.
Em compensação, ele fingiu um amor inexistente pelo próprio
filho. Apenas para agradar seu povo.
Pensei em falar, mas fiquei em silêncio, desviando meu olhar
para o cálice quase vazio em minha mão. Amor... Nunca senti amor.
Quando era criança, eu pensei que amava meu pai, mas sua
indiferença cada vez maior com o passar dos anos só me mostrou
que amar era tão inútil quanto tentar lembrar da minha mãe.
Eu jamais lembraria da minha mãe, pois ela morreu ao me
dar à luz. Meu pai jamais mudaria por causa do meu amor, porque
ele só queria um amor, o amor da mulher que eu ajudei a morrer.
Então, morte por morte, morreu minha mãe e também meu
amor por meu pai e por qualquer ser humano.
Eu era capaz de gostar de alguém, claro. Eu gostava de
Norah e Anna, gostava de Dimir, adorava Arthur e gostava até
mesmo de Dallah, por mais que ela me fizesse perder a paciência.
Mas amar não era para mim. Talvez o amor me foi arrancado, junto
com a minha mãe.
— Com licença. — A voz de Thomas tomou minha atenção.
— A senhorita Dallah está descendo junto com a senhorita Kiara.
— Ótimo! Vamos ver o que essa futura rainha nos reserva.
Todos olharam em direção a entrada da sala do meu pai, mas
tenho certeza de que ninguém engoliu em seco de antecipação, ou
sentiu o coração bater mais rápido quando, primeiramente, o cheiro
levemente adocicado de Kiara invadiu o lugar, seguido por ela em
pessoa, linda como nunca vi antes.
Eu já a havia visto praticamente nua e sabia que ela era
estonteante. Mas aquele vestido creme colado ao seu corpo,
abraçando cada curva, quase me fez arfar. Senti meu pau endurecer
dentro da calça e o meu coração trotar como um cavalo louco,
quando meus olhos foram desde os seus pés em salto alto até seu
rosto levemente maquiado. Quase verbalizei o quanto ela estava
linda até ver seu cabelo e perceber o que fizeram com ela.
Foi automático. Em um segundo eu estava sentado e no
próximo eu estava caminhando rapidamente até ela, parando à sua
frente e pegando uma mecha sedosa de seu cabelo em meus
dedos. Ela me olhou surpresa e confusa e eu fitei em seus olhos,
sussurrando:
— O que fizeram com seu cabelo?
— Como assim? — ela respondeu no mesmo tom, sem
entender.
— Por que diabos cortaram o seu cabelo?
— Robert, cabeleireiro da Dallah, disse que tinha muitas
pontas... Ele só cortou três dedos. — Seu olhar foi até a mecha de
seu cabelo que estava em meus dedos e, então, ela fez uma careta.
Uma careta que a deixou linda. — Ficou tão ruim assim?
— Eu gostava do seu cabelo grande... — murmurei, sem
entender o que havia comigo e o cabelo dela. Que porra estava
acontecendo comigo? — Contanto que você nunca mude a cor...
— Eu não vou pintar meu cabelo.
Sorri de lado e me afastei, deixando a mecha escapar como
seda por entre meus dedos. Voltando a olhar para ela, tomei sua
mão na minha e a beijei, vendo-a piscar ainda mais surpresa.
— A propósito, você está linda. Tão linda como sempre.
— Obrigada.
Virei-me e vi que todos me olhavam surpresos. Na verdade,
era como se eu fosse outra pessoa, como se tivessem tirado o
Dominick e colocado uma capivara no meu lugar e eu quase ri com
a expressão deles. No entanto, me lembrei que era exatamente
assim que eu ficava depois que me via sozinho, lembrando-me de
como me portava na presença de Kiara.
Cheguei à conclusão de que eu era sim outra pessoa perto
dela. Só esperava saber me comportar durante todo aquele maldito
jantar.
Capítulo 9

“Então venha
Risque o fósforo, risque o fósforo agora
Nós somos um par perfeito, perfeito de alguma forma
Nós fomos feitos um para o outro”
(Fire Meet Gasoline, Sia)

Kiara

“Você está linda. Tão linda como sempre.”


Foi difícil desviar meus olhos de Dominick depois do que me
disse, mas o fiz com muita relutância, apenas para constatar que
todos na sala nos olhavam de forma estranha. Senti minhas
bochechas ficarem vermelhas, mas então Dominick pigarreou e tudo
pareceu voltar ao normal, mostrando-me que ele realmente tinha o
poder de até mesmo mudar os pensamentos de todos na sala.
Um senhor de cabelos claros e olhos verdes se aproximou de
nós dois e me analisou sem disfarçar, olhando-me de cima a baixo.
Estava nervosa, até porque ser observada tão descaradamente é
desconcertante para qualquer um, mas me mantive quieta e serena,
mesmo que por dentro tivesse vontade de sair correndo. Por fim, ele
sorriu e estendeu a mão para mim, pegando a minha e levando-a
aos lábios.
— Sou Joseph Domaschesky, Conde de Orleandy. É um
prazer conhecê-la, Kiara — falou, dando um beijo em na minha mão
em seguida.
— É um prazer conhecê-lo, senhor.
— Ah, não, por favor, me chame apenas de Joseph.
Provavelmente você será esposa de meu sobrinho e não é
necessário toda essa formalidade.
— Sobrinho?
— Sim, Kiara. Meu tio Joseph é o pai de Dimir — Dominick
respondeu, tranquilo, passando o braço por minha cintura e me
puxando de leve para si.
— E eu sou Eurick Sabar, Marquês de Orleandy. — Eurick se
aproximou de mim e repetiu o mesmo gesto que Joseph, beijando
minha mão, mas não sorriu. — Confesso que estava curioso para
conhecê-la, Kiara. Dominick me fala muito de você.
— Realmente, em nossos últimos encontros eu venho
sempre falando sobre você, Kiara. Tio Joseph e Eurick estavam
curiosos e eu os alimentei um pouco, falando sobre como você é
uma mulher doce e simpática.
A voz de Dominick continuava um tanto rouca, mas o tom
amável não passou despercebido por mim, assim como o calor
encrustado em seu olhar, o que me deixou momentaneamente sem
fala e confusa. Onde estava o Dominick que me ignorou durante
toda aquela semana? Aquele que me dirigia apenas “bom dia” no
café da manhã e sumia até o dia seguinte?
O que realmente estava acontecendo ali?
Ele está contracenando, sua boba. Fingindo ser o futuro
noivo perfeito.
Fingindo ser o futuro noivo perfeito para que todos caíssem
naquele teatro idiota onde éramos um casal apaixonado. Ali, eu
realmente senti vontade de sair correndo e fugir. Para começar,
minha vida era um papel em branco, que agora estava sendo
preenchido lentamente com altos e baixos, onde eu havia caído de
paraquedas dentro do palácio de um rei, em um país que eu ao
menos conseguia me lembrar.
E esse mesmo rei estava brincando comigo. Brincando com a
menina doce e simpática, sem memória, fazendo dela o que
quisesse, como se eu fosse uma simples e manipulável marionete.
Pude perceber ali que, na verdade, Dominick não se importava
comigo ou como eu me sentia. Ele só queria uma mulher dentro
daquela casa, que o obedecesse, que aturasse suas variações de
humor, suas patadas e arrogâncias e que, ainda por cima, atuasse
ao seu lado na frente do Conde e Marquês de seu país.
Mas ele ainda não tinha entendido que eu não era assim.
Que eu não era uma atriz e que muito menos iria me prestar ao
papel de noiva amada na frente de todo mundo, simplesmente
porque ele queria.
— Kiara? O que houve? — ele perguntou, puxando meu rosto
para si com a ponta dos dedos.
— Eu estava me lembrando que você não falou comigo
durante toda essa semana e agora está me tratando como se nada
tivesse acontecido.
O ar mudou na sala.
Uma parte de mim quis sentar em um daqueles sofás
marrons e pegar uma pipoca, enquanto assistia a cena se
desenvolver na minha frente. O outro, queria ficar ali, parada,
olhando eternamente para a expressão de surpresa e terror que
atravessou o rosto de Dominick. Quase sorri ao ver que aquele
homem tão confiante e seguro de si, havia ficado surpreso com uma
atitude minha, mas apenas o fitei, esperando que dissesse algo,
qualquer coisa.
— Hum... Kiara, não foi bem assim... — Ouvi Dimir murmurar
e me virei para ele, vendo sua cara assustada.
— É claro que foi assim, Dimir. Dominick ao menos olhava
para mim durante a única refeição que fazia no palácio. Veja bem,
Dominick, eu não estou reclamando. Realmente não me importo se
você quer ou não falar comigo, mas eu acho que você precisa se
decidir, porque eu não vou fingir que está tudo bem para eles dois,
quando na verdade, não está.
— Eu falei que essa história não daria certo... — Eurick falou,
andando até o sofá onde estava o seu sobretudo preto.
— Que história? — perguntei, sem entender.
Na verdade, parecia que eu era a única que nunca entendia
nada naquele lugar.
— Kiara, vamos até a biblioteca, por favor — Dominick falou,
soltando minha cintura e me pegando pela mão. Estávamos prestes
a sair da sala quando ele se virou e olhou para todos, até que seus
olhos pararam em Thomas, que eu ao menos tinha visto ali. —
Thomas, sirva mais um cálice de vinho a todos. Retornamos em
alguns minutos.
Não ficamos para ouvir a resposta de Thomas, apenas
atravessamos todo o hall de mãos dadas, calados. Passamos pela
sala da rainha e atravessamos um longo corredor, que eu sabia que
nos levaria a gigantesca biblioteca do palácio. Em poucos minutos
estávamos lá e quando ouvi a porta ser fechada atrás de mim, me
virei, esperando a familiar explosão de Dominick.
Uma explosão que não veio.
Ele apenas me fitou de cenho franzido e olhos inquisidores,
como se fizesse uma pergunta que eu não conseguia entender,
muito menos responder. Não era a primeira vez que eu ficava sob
sua mira intensa, mas era a primeira vez que ele me olhava daquela
forma tão diferente, como se gritasse comigo silenciosamente.
— Não... vai falar nada?
— Eu não sei como lidar com você — sussurrou, se
aproximando rapidamente de mim. Não me tocou, mas eu sentia
claramente o calor do seu corpo perto do meu, o modo como seu
olhar me embalava, prendia. — Às vezes, eu sinto vontade de
prendê-la entre meus braços e não te soltar mais, porque parece
que ficar longe de você é um suplício. Mas tem vezes, como agora,
que eu sinto vontade de agarrá-la e te castigar de uma forma que
você nunca vai esquecer!
— Me castigar?
— Sim. Não seria algo bobo como te pendurar no gancho do
meu escritório com o meu cinto, Kiara.
Ele ainda sussurrava e me olhava de maneira intensa, como
se realmente fosse me pegar a qualquer momento. Senti meu
coração acelerar, mas lutei para não deixar transparecer.
— Você não tem direito algum de sequer pensar que pode
me castigar, Dominick. Vamos ser bem sinceros, certo? Esse nosso
“relacionamento” não vai dar em nada! Você me ignora, finge que eu
não existo, mal olha na minha cara, mas, quando é para agradar
seu tio e aquele marquês lá fora, você me trata bem e finge que
somos o casal mais bem resolvido do mundo. Mas nós dois
sabemos que não é assim. Que aqui, entre as paredes desse
castelo enorme, você mal fala comigo.
— E o que você sugere? — Ele sorriu, irônico, sem se
afastar. — Que eu te jogue na casinha ridícula que você morava
antes?
— Pelo visto eu fui mais feliz na “casinha ridícula” que eu
morava antes do que aqui, com você.
— Mas você só tem a mim, Kiara. Você não tem pai, não tem
mãe, os dois estão enterrados assim como os meus! Então, pare de
reclamar e agradeça a Deus por eu ter tido pena de você e ter
trazido você para cá, para morar comigo e ser a minha esposa.
Muitas se matariam para estar no seu lugar.
— Pois pegue qualquer uma delas! — gritei, com raiva,
empurrando seu peito e saindo de perto dele. — Porque eu não
preciso da sua pena e nem do favor de ninguém, você ouviu? Como
você pode ser tão frio? Pelo amor de Deus, será que não tem um
pingo de sentimento dentro de você?
— Piedade é um sentimento...
— Eu não quero piedade! Eu não preciso de piedade! Eu
posso ter sim perdido a memória, eu posso não ter mais um pai e
nem uma mãe, mas eu ainda tenho dois braços e duas pernas e sou
suficientemente capaz de viver por conta própria, Dominick! Ou você
achou o quê? Que só porque eu não tenho memória poderia me
usar a seu bel-prazer? Da forma que achasse melhor?
Vi seu maxilar ficar tenso e a forma como fechou as mãos em
punhos, com raiva. O clima intenso que estava entre nós havia sido
rompido drasticamente e agora eu via o que estava na minha cara o
tempo todo. Conseguia enxergar com toda a clareza. Não havia
chances para nós dois.
Na verdade, nunca teve.
— Eu quero ir embora.
— O quê?
— Você ouviu. Eu quero voltar para Piechvi, quero retomar a
minha vida.
— Kiara...
— Olha, Dominick, eu agradeço muito a sua... piedade —
murmurei, me sentindo mais magoada do que eu queria admitir. —
Agradeço por ter me dado um teto durante essas semanas, por ter
me apresentado a Dallah e a Arthur, que são duas pessoas que eu
vou levar para sempre no meu coração, mas chegou a hora de eu ir
embora. Não tem mais espaço para mim aqui.
— E eu?
— O que tem você? — perguntei, vendo-o se aproximar
lentamente e parar na minha frente.
— Não vai me levar no seu coração?
Eu esperava por tudo, menos por aquela pergunta, muito
menos feita no tom lamurioso que ele usou. Realmente, Dominick
era o homem mais confuso que eu já havia conhecido, eu tinha
certeza, mesmo sem nem lembrar da minha vida. Ele era o único
que conseguia passar da raiva intensa para a tristeza em questão
de segundos, como se existisse um baú cheio de sentimentos
dentro de si e que ele não conseguia manter fechado por muito
tempo.
Não consegui responder e nem aguentar aquele olhar
suplicante que ele voltava a me dar. Era tudo tão intenso que eu
arquejei sem querer, desviando o olhar e me sentindo uma idiota por
ter vontade de pegá-lo no colo, quando ele havia esfregado na
minha cara que sentia pena de mim.
— Você não vai me levar no seu coração, Kiara — ele
murmurou, puxando meu rosto de encontro ao seu com as duas
mãos. — Não vai me levar porque eu não sou e nunca fui
merecedor de estar no coração de alguém.
— Dominick...
— Não. — Ele colocou dois dedos sobre os meus lábios, me
impedindo de continuar. — Eu quero falar. Quero deixar bem claro
que eu posso não saber amar, posso não saber como tratar bem
uma pessoa, mas eu sei que pena não é algo que eu sinta por você.
É muito mais. É um sentimento que vem tomando conta de mim de
uma maneira que eu não consigo controlar. Você está na minha
casa há menos de um mês, mas já conseguiu dominar meu
pensamento de uma maneira que nenhuma pessoa havia feito até
então e não, isso não é piedade e você sabe.
Ele parou, voltando a moldar meu rosto com suas mãos
grandes, que tomavam conta de quase toda a minha face. Senti a
ponta de seu polegar passeando levemente pela minha bochecha e
permaneci quieta, sabendo que ele precisava de apenas alguns
segundos para continuar.
— Eu não sou o homem dos sonhos de ninguém. Tenho
dentro de mim a certeza de que qualquer mulher merece alguém
melhor do que eu, mas eu simplesmente não posso te deixar ir. Não
quando você se tornou uma parte tão importante dessa casa, em
tão pouco tempo.
— Uma parte importante como um dos quadros de pintores
famosos nas paredes ou como uma pessoa?
— Como minha futura esposa.
Arquejei, sem saber o que dizer.
— Dominick, eu...
— Eu sei! Você não me ama, não está apaixonada por mim e,
acredite, eu também não estou apaixonado por você, nem ao menos
te amo porque eu simplesmente não sei como é amar alguém —
falou, sem tirar os olhos dos meus. — Mas eu quero deixar claro
que eu jamais seria capaz de te soltar em Piechvi e simplesmente
seguir com a minha vida. É por isso que eu quero a sua ajuda,
Kiara.
— Minha ajuda?
— Sim. Aceite ser minha esposa e Rainha de Orleandy. Eu
não menti quando disse que você é doce e simpática e, na verdade,
esses são uns dos muitos adjetivos que posso dar a você. Você é
forte, obstinada, linda e muito teimosa! — Ele sorriu e foi a coisa
mais linda que eu já havia visto em dias, pena que desapareceu
rápido demais. — Esteja ao meu lado nessa jornada e eu prometo
que vou lutar muito para ser um homem mais gentil e mais
maleável. Meu temperamento é difícil, eu não tenho muita paciência,
sou arrogante mesmo, admito, mas eu posso melhorar um pouco.
— Um pouco?
— Bastante, se você me ajudar. — Um esboço de sorriso
apareceu em seus lábios e, dessa vez, eu sorri pela sua resposta.
— E, acima de tudo, Kiara, seja minha mulher.
E, então, a atmosfera da sala mudou. Seu toque em meu
rosto mudou, ficou mais possessivo e quente.
— Sua mulher?
— Sim. Minha mulher na vida e na cama. Eu te desejo tanto e
tenho muita, muita coisa para te ensinar... — Ele curvou o canto do
lábio em o que parecia um sorriso safado e eu tremi, engolindo em
seco. — E então, você finalmente poderá me dar o que me
prometeu desde o dia em que eu te conheci...
— O que eu prometi?
— Sua virgindade, para mim.
Abri e fechei a boca sem saber o que dizer. Meu coração
acelerou e um intenso arrepio perpassou minha espinha, me
causando um calafrio de excitação. Suas mãos desceram pelo meu
corpo, o polegar roçou meus mamilos sobre o tecido e desceram até
minha cintura, onde me segurou com as mãos fortes e me puxou
para si, colando meu corpo no dele. Suspirei quando senti seu pau
ereto em minha barriga.
— Eu só vou te tomar na nossa noite de núpcias. Mas
prometo que até lá eu vou suprir nosso desejo de outras formas...
Formas deliciosas. — Seu nariz passeou pelo meu pescoço e logo
depois, senti seus dentes mordiscarem minha pele. — Prometo que
você nunca mais vai pensar em ir embora, Kiara. Essa ideia nunca
mais passará por sua cabeça.
Suas mãos saíram da minha cintura e seguraram minha
bunda, apertando as nádegas com força. Senti minha calcinha ficar
ensopada e tive vontade de me xingar por ser tão fácil, mas então
eu me lembrei de toda a sua proposta e, finalmente, encontrei uma
saída para nós dois.
Ele estava certo. Eu não era apaixonada por ele e nem ele
por mim. Se eu já fui apaixonada por ele, eu não me lembrava e
agora eu tinha apenas que ser adulta o suficiente para tomar minhas
próprias decisões. Dominick havia sido sincero, aliás, muito mais
sincero do que eu poderia imaginar que ele seria. Em nenhum
momento me enganou com aquela proposta indecentemente
irrecusável.
O que de ruim poderia acontecer se eu aceitasse?
Quando ele apertou minha bunda com mais força e esfregou
a ereção em minha barriga, eu tomei minha decisão. Mas quando
lambeu e chupou a pele do meu pescoço, me senti incapaz de falar
qualquer coisa em voz alta.
— Eu vou masturbar você — ele sussurrou em meu ouvido,
escorregando a mão para o meio das minhas pernas até alcançar
minha calcinha, colocando-a de lado. — E quando estiver gozando,
eu quero que me diga a sua resposta em alto e bom tom.
Não foi uma simples proposta, foi uma ordem, que eu acatei
de bom grado, principalmente quando senti seu dedo roçar de leve
em meu clitóris. Um gemido alto escapou por meus lábios e eu me
segurei em seus ombros, ouvindo-o rugir baixinho em meu ouvido,
circulando o dedo sobre meu nervo melado e enrijecido.
— Tão molhada, Kiara... É até pecado não poder enfiar meu
pau nessa boceta apertadinha, intocável.
Quase pedi para que o fizesse, mas o prazer foi mais forte e
mordi meu lábio, apertando seu ombro com força. Sentia a pressão
se formar em meu ventre e se concentrar em meu clitóris, enquanto
minhas paredes vaginais se apertavam, tentando conter o orgasmo
iminente.
Sem conseguir me segurar, rebolei em seu dedo, enfiando
meu rosto em seu pescoço, louca para explodir. O barulho de coisa
melada que seu dedo produzia em minha boceta ecoava pela sala
junto com meus gemidos e seus rugidos, mas nada daquilo parecia
perfeito o suficiente do que seu dedo em mim, que me tocava como
se já conhecesse cada parte minha.
— Você é tão safadinha... Isso, rebola no meu dedo, Kiara,
esfrega essa bocetinha.
Um gemido rompeu por minha garganta e eu joguei a cabeça
para trás, sentindo meu orgasmo vir com tanta força que eu tremi
violentamente, gozando em sua mão e liberando todo o estresse
que havia tomado conta do meu corpo nos últimos dias.
— Diga! Sua resposta, Kiara! Diga! — Dominick ordenou
rouco em meu ouvido, sem parar de me masturbar.
— Eu aceito... — Saiu como um suspiro em meio a névoa
que tomava conta da minha mente. Quando o último tremor do meu
orgasmo passou, eu encostei minha cabeça em seu ombro e
respirei fundo, repetindo: — Eu aceito ser sua esposa, Dominick.

***

Quando voltamos para a sala, todos pararam de conversar na


hora. Tive medo de que todos soubessem do que estávamos
fazendo no momento em que olhassem para o meu rosto vermelho
de vergonha, mas se perceberam, não falaram nada.
— Tudo está resolvido — Dominick disse, confiante como
sempre, sua mão ao redor da minha cintura. — Foi apenas um mal-
entendido, não foi, Kiara?
— Sim — murmurei em resposta, olhando-os. — Quero pedir
desculpas pela forma como me comportei, fui extremamente mal-
educada com os senhores.
— Não se preocupe, Kiara, entendemos perfeitamente. —
Joseph falou, parecendo encantado ao olhar para nós.
— Ótimo. Sendo assim, vamos jantar?
Com o clima um pouco mais leve, nos encaminhamos até a
sala de jantar e Dominick arrastou a cadeira para que eu me
sentasse no lugar de sempre, ao seu lado. Um entendimento mútuo
estava nos ligando naquele momento e apenas com o seu olhar eu
entendi que tinha de ser a mais educada e gentil possível.
Depois da nossa loucura na biblioteca, ele me explicou
rapidamente que aquele jantar era um teste. Dependia da opinião do
conde e do marquês para que eu fosse aceita pelo clero como
rainha, então, desempenhei meu papel impecavelmente, vendo os
olhos do tio de Dominick brilhar e, quando chegamos à sobremesa,
Eurick estava no mesmo patamar, encantado.
Ao final, a felicidade estampada no rosto dos dois não deixou
duvida do que falariam ao clero e, quando os acompanhamos até a
porta, deixaram claro em todas as palavras o que acharam de mim
ao se despedir.
— Primeiramente, quero dizer que estou encantado. Você
irradia confiabilidade e doçura, Kiara, e pode apostar, depois desse
jejum de trinta anos sem rainha, Orleandy irá adorá-la — Joseph
disse, beijando minha mão.
— Fico contente com isso, Joseph. Espero ser uma rainha
tão boa quanto a mãe de Dominick era.
— Você será, tenho certeza!
Com um sorriso, ele se afastou e Eurick se aproximou,
beijando minha mão também.
— Faço minhas as palavras de Joseph. Vous êtes belle,
chére Kiara.
— Merci.
Foi automático. O meu entendimento e a minha resposta
deixou Dominick, Dimir e Dallah surpresos, enquanto Joseph e
Eurick sorriram, felizes.
— E ainda fala um francês perfeito. Dominick, agradeça aos
céus por uma esposa como essa. Estou muito feliz com sua
escolha, meu sobrinho.
Dominick assentiu, sem sorrir, apertando minha cintura de
leve.
— Eu também, tio, eu também.
Depois de despedirem de todos, Eurick e Joseph foram
embora bem mais felizes do que vieram. Senti que Dallah queria
falar comigo, mas Dimir a arrastou para o andar de cima antes que
ela pudesse falar qualquer outra coisa, o que me fez sorrir ao
imaginar a confusão que deveria estar dentro daquela cabecinha
louca que ela tinha.
No final, restou apenas Dominick e eu no hall, e assim que
nos viu sozinhos, ele me puxou para sua frente e abraçou minha
cintura, seus olhos refletindo uma estranha leveza e bom humor.
— Então a minha futura rainha fala francês?
— Pelo que parece, sim... Você não sabia?
— Não fazia ideia, mas fiquei feliz em saber. — Aquele
esboço de sorriso apareceu novamente e, então, ele se afastou,
sério como sempre. — Eu preciso terminar de analisar alguns
documentos no escritório, mas deixe a porta do seu quarto
destrancada. Farei uma visita a você.
E, então, tão rápido como todos, ele saiu do hall e me deixou
sozinha, com a única opção de ir para o meu quarto e esperar por
sua visita.
Capítulo 10

“E eu simplesmente não consigo me afastar


Sob o feitiço dela que eu não consigo desmanchar
Eu simplesmente não consigo parar”
(Closer, Ne-yo)

Dominick

Tomei um gole de Armanhaque sentindo a bebida destilada


descer rasgando por minha garganta, despertando-me para a
realidade que eu não podia mais fugir.
Estava feito.
Eu iria me casar e seria com o tipo de mulher que eu nunca
imaginei conviver. Kiara era diferente de tudo o que eu queria como
mulher e também era a única que conseguia tocar em uma parte de
mim que nem eu sabia que existia. Era uma parte profunda, que eu
não sabia presidir.
O que era meio irônico se considerarmos o fato de que eu
sou o homem que é responsável por presidir um país inteiro.
E agora uma mulher tomava conta de uma parte inteira de
mim. Uma parte frágil, estranha e dependente dela. Uma parte
carente.
Carência.
Odeio essa palavra que é o sinônimo exato da minha
infância. Não, a quem eu estou querendo enganar? É o sinônimo
exato da porra inteira da minha vida! E como, como aquela garota
que está agora me esperando em seu quarto para ser tocada por
mim, com o corpo pronto para ser meu, conseguia mexer
justamente com esse sentimento que eu lutei tanto para ceifar?
Que eu pensei que já estivesse morto?
Queria poder perguntar a ela como conseguia fazer isso,
como conseguia me desestabilizar ao ponto de me fazer perguntá-la
se ela me levaria ou não em seu coração.
Eu era tão estúpido! O Dominick Andrigheto Domaschesky
que eu conheço jamais perguntaria algo desse tipo para uma
mulher. Então, como, de um minuto para o outro, eu tinha
transformado o leão dentro de mim em um cordeiro idiota que se
importava se alguém o levaria ou não em seu coração? Que parte
de mim havia sido dominada ao ponto de me fazer ir tão baixo?
Em que momento Kiara havia se entranhando tanto dentro de
mim? Como eu permiti?
E por que diabos eu continuo permitindo?
Terminei minha bebida e larguei o copo sobre a mesa de meu
escritório, lembrando-me da desculpa idiota que havia dado a Kiara,
apenas para ficar sozinho por alguns minutos. Longe dela eu
conseguia enxergar toda aquela situação com mais clareza, como
se a nuvem espessa que me transformava em um idiota, saísse da
frente de meus olhos.
Cheguei à conclusão de que não adiantava mais pensar. Ela
seria minha e ponto-final. E agora, com o seu consentimento, o que
me deixava irrevogavelmente mais tranquilo. Ela não poderia mais
jogar na minha cara que eu a estava mantendo presa, nem que
estava infeliz dentro do castelo, porque agora ela queria ser minha
esposa também.
Com isso ela iria me obedecer e, quando eu menos
esperasse, a teria como minha submissa e logo iria me cansar dela.
Ela seria a melhor Rainha para Orleandy, a esposa mais amorosa e
obediente que um homem iria querer.
E eu voltaria a ser o mesmo Dominick de sempre. Elevado,
dominante, consciente e responsável por cada ato que eu fizesse,
não esse idiota que se rende a uma garota de doces olhos azuis e
cabelos avelãs.
Dono de mim mesmo, saí do escritório e fui em direção ao
elevador, cansado para subir tantos lances de escada. Coloquei a
senha que me levaria direto ao calabouço e em poucos minutos eu
estava dentro do meu lugar favorito no mundo. Acendi as luzes e fui
em direção a tudo o que eu queria, pegando alguns objetos novos
que havia comprado recentemente. Com tudo em mãos, saí e fui em
direção ao meu quarto, subindo as escadas de pedras.
Coloquei tudo em uma poltrona e me livrei de meu paletó e
gravata, juntamente com minhas meias e sapatos. Abri a gola de
minha camisa e tirei minhas abotoaduras de ouro, colocando tudo
sobre a cama antes de pegar meus objetos e sair do quarto. No
corredor, desci as escadas para o segundo andar e tomei o cuidado
de atravessá-lo rapidamente, indo em direção ao quarto de Kiara,
sorrindo de leve ao girar a maçaneta e constatar que a porta estava
destrancada.
Fechei a porta atrás de mim e observei ao redor, vendo o
quarto vazio, iluminado parcamente pela luz do abajur sobre a
mesinha de cabeceira da cama e a luz que vinha do banheiro, que
estava com a porta aberta. Pude ouvir o barulho do chuveiro aberto
e resolvi esperar, colocando meus apetrechos ao meu lado sobre a
cama.
Era a primeira vez que eu entrava ali desde o dia em que ela
chegou ao castelo e era incrível como em tão pouco tempo, aquele
quarto neutro de hóspedes, já havia recebido toques dela. A
começar pelo seu cheiro impregnado em todo quarto. Então vinha
toques singelos na decoração, como almofadas mais coloridas e um
arranjo de flores naturais na mesa próxima à varanda.
Pude perceber, um tanto desgostoso, que todo lugar que ela
tocava, deixava a sua marca.
Assim como ela está fazendo com você. Te tocando aos
poucos...
Expulsei o pensamento irritante da cabeça e me concentrei
no silêncio que banhou o quarto assim que o chuveiro foi desligado.
Fiquei mais relaxado sobre a cama e contei os segundos até
finalmente vê-la e sentir todo o meu corpo ser bombardeado por sua
presença doce e incrivelmente sensual.
Ela saiu do banheiro secando os cabelos molhados, vestindo
apenas uma calcinha de renda branca, que não cobria quase nada.
Estacou ao me ver e eu quase sorri, tendo tempo para apreciá-la,
sentindo meu sangue sendo bombeado com força na cabeça do
pau, fazendo-o ficar tão duro quanto uma rocha.
Eu já a havia visto praticamente nua antes em meu escritório.
Já a havia visto de lingerie há algumas semanas, mas tê-la somente
de calcinha na minha frente foi um golpe difícil demais para suportar.
Mesmo assim, mantive a calma, dono de mim mesmo e da situação,
e ergui o canto dos meus lábios no que pareceu um sorriso, vendo-a
arfar.
— Dominick, eu... Me desculpa, eu não sabia que você
estaria aqui tão rápido — ela murmurou, descendo a toalha para
frente do seu corpo.
— Deixe a toalha no chão.
— Mas...
— Deixe a toalha no chão e venha aqui, Kiara — ordenei,
vendo-a ser relutante como sempre. Mas seu lado rebelde só me
excitava ainda mais.
Observei quando afrouxou os dedos e deixou a toalha correr
livre pelo seu corpo até o chão. Caminhou lentamente até mim e eu
abri as pernas, indicando apenas com um olhar que ela deveria
parar entre elas e ela o fez. Eu sabia que Kiara não era uma
submissa em sua essência, já tinha tido provas o suficiente para
saber disso, mas ter o controle sobre o sexo era algo que eu jamais
abriria mão. E vê-la seguir meus comandos silenciosos me provou
que, ao menos naquele quesito, eu teria êxito.
Aproximei meu rosto de sua barriga e cheirei sua pele fresca
por conta do banho, com cheiro de um hidratante adocicado
misturado com seu cheiro natural. Observei suas pernas tremerem e
acariciei sua barriga com meu nariz, descendo até chegar a sua
boceta coberta por aquele pedaço de renda que ela chamava de
calcinha. Não a toquei, não ergui minhas mãos e nem meus olhos,
deixando-a trêmula apenas com o roçar de meu nariz em sua pele.
— Afaste as pernas.
Obedeceu, afastando as pernas, deixando um espaço para
que eu pudesse descer com o nariz por sua boceta e sentisse seu
cheiro mais íntimo, o que fiz rapidamente, enfiando a ponta de meu
nariz entre seus lábios vaginais cobertos pela calcinha de renda que
começava a ficar úmida. Meu pau pulsou forte dentro da calça
apertada, exigindo atenção, louco para se enfiar ali dentro e eu rugi
baixinho, erguendo minhas mãos e enfiando-as em suas nádegas,
puxando-a para mim.
Com esse movimento, enfiei meu rosto em sua boceta e
abocanhei com calcinha e tudo, sugando seu clitóris, conseguindo
senti-lo através da renda fina. Nunca gostei tanto de uma calcinha
de renda, que me permitia sentir seu gosto e ainda assim, mantinha
todo o erotismo por tê-la coberta em minha boca que a sugava com
fome. Kiara gemeu e eu me afastei, puxando a renda delicada com
meus dentes até tê-la partida em duas, me deixando observar,
finalmente, aquela boceta que já me enlouquecia tanto.
Era linda. Delicada, depilada e livre de qualquer pelo. Com as
pernas afastadas, eu pude observar seus lábios vaginais que eram
pintados em um tom de rosa claro e seu clitóris gordinho e brilhando
de excitação, pedindo para ser lambido e sugado.
Ergui meu olhar e a vi de boca aberta, ofegante, os olhos
pidões, implorando para que eu a chupasse e acabasse com aquela
tortura. Suas pernas tremiam levemente e seus mamilos estavam
eriçados e pontiagudos, o que quase me fez sorrir de
contentamento.
— Quer que eu chupe você, Kiara?
Ela engoliu em seco e passou a língua pelos lábios, sem
saber o que dizer.
— Kiara... Eu sei que você quer, sua boceta está chorando de
tesão, mas você precisa me dizer. Em voz alta.
— Nick...
— O quê?
— Me chupe.
— Uma ordem? Não... — Balancei a cabeça, negando. —
Seja uma boa menina e implore.
— Não vou implorar.
— Não vai implorar? — Franzi o cenho, apertando sua bunda
mais forte em minhas mãos. Ela soltou um gemido de susto e eu a
observei, lembrando-me que Kiara não era como as mulheres com
quem eu me relacionava. — Boas meninas imploram, Kiara...
Pedem “por favor”.
— Então... — Ela ofegou e eu apertei mais a sua bunda. —
Eu não sou uma boa menina.
— Então... — repeti, empurrando-a para o lado e a puxando
para a cama rapidamente, ouvindo-a soltar um gritinho de surpresa.
A peguei pela cintura e a coloquei mais para cima da cama,
apoiando sua cabeça no travesseiro, deitada de bruços. Um
segundo depois eu estava em cima dela, ajoelhado em suas costas
e me abaixando até que minha boca estivesse encostada em seu
ouvido. — Você será tratada como a menina má que você é.
— Dominick...
— Quieta.
Consegui ouvir a sua respiração acelerada e me ergui, ainda
ajoelhado com seu corpo entre minhas pernas. Me estiquei e peguei
a corda que havia levado comigo, deixando que Kiara observasse
claramente os meus movimentos e o que eu levava nas mãos. Senti
seu corpo ficar tenso sob o meu e ela virou a cabeça para olhar para
mim, assustada.
— Não precisa ficar assim — murmurei, pegando a corda e
passando-a levemente por suas costas, para que ela sentisse a
maciez. — Você confia em mim, Kiara?
— Eu não... Não sei — disse em um suspiro contido, os olhos
arregalados. — Para que essa corda, Dominick?
— Para brincarmos. Eu não vou te machucar, Kiara.
— Mas lá embaixo, no seu escritório, você disse que queria
me castigar. Eu disse que não quero ser castigada, Dominick.
— E você não será. Uma coisa que eu considero acima de
tudo, Kiara, é o limite de uma pessoa. Você não quer ser castigada
e não será castigada.
— Mas você ainda quer me castigar?
— Não, eu não quero mais — respondi, sincero,
pressionando meu pau duro em sua bunda. — Sinta o quanto eu te
desejo, Kiara. Eu quero brincar com você e fazê-la gozar gostoso
para mim. Jamais te machucaria, essa não é a minha intenção. Eu
vou amarrar seu cabelo e suas mãos. Essa é uma corda juta,
natural, já foi cuidada e amaciada da forma correta e não vai
arranhar sua pele. Erga e abra a sua mão.
Hesitante, ela ergueu a mão direita e abriu. Coloquei a corda
sobre sua palma e a fiz fechar os dedos, sentindo a maciez da corda
em sua pele, provando a ela que tudo o que eu dizia era verdade.
— Está sentindo?
— Sim. É macia.
— E não vai te machucar. O nosso relacionamento tem que
ser baseado na confiança, Kiara e isso significa que você irá me
dizer quando não quiser uma coisa de verdade e eu farei o mesmo
com você. Então, eu vou respeitar a sua decisão se não quiser ser
amarrada.
Ela passou a ponta dos dedos pela corda e eu senti meu pau
pulsar ao pensar naquelas mãozinhas curiosas sendo restringidas e
amarradas, mas a decisão era dela. Na verdade, a decisão era
sempre da submissa, elas ditam as regras de até que ponto o
dominador poderia ir. E aqui não seria diferente, mesmo que Kiara
não soubesse que eu já a considerava como minha submissa.
— Pode me amarrar, Dominick — ela respondeu, erguendo a
corda para mim com a ponta dos dedos.
— Tem certeza?
— Sim.
Peguei a corda de sua mão e vi quando ela fechou os olhos.
Aproveitei e sorri de lado, deixando a corda atravessada em suas
costas e pegando o seu cabelo em minhas mãos, fazendo um rabo
de cavalo firme. Segurei as mechas com a mão esquerda e com a
direita eu peguei a corda, enrolando-a por todo o seu cabelo até a
ponta, dando um nó resistente.
Saí de suas costas e me ajoelhei na cama, ao lado dela,
observando-a ainda de olhos fechados. Parecia um anjo e senti uma
vontade absurda de beijar seus lábios.
— Sente-se de costas para mim, Kiara — ordenei mais seco
do que queria, a ideia de beijá-la novamente me deixando puto.
Sem uma palavra, ela abriu os olhos e se levantou, sentando-
se de costas para mim, as pernas para fora da cama. Parei
ajoelhado em suas costas e voltei a segurar a corda, vendo seu
cabelo avelã enrodilhado pelas cerdas amareladas e macias.
— Erga os braços.
Obedeceu e eu peguei as duas pontas da corda, levantando-
as e vendo seu cabelo se erguer junto. Passei a ponta das cordas
por seu antebraço, um pouco abaixo dos cotovelos até o punho,
fazendo ali um nó firme e estético. Como mestre em Shibari e
Kinbaku, artes milenares japonesas, era fácil para eu fazer aqueles
tipos de nós em segundos e devo confessar que aquele nó pensado
de última hora estava um tanto amador, mas iria servir.
Um dia eu ainda iria suspender Kiara no teto do meu
calabouço, tendo seu corpo todo amarrado esteticamente por
cordas juta e iria apreciar tomando um bom vinho, antes de foder
cada parte do seu corpo.
— Fique de pé e vire-se para mim.
Ela testou os braços, abaixando e levantado o antebraço,
antes de pegar apoio suficiente com os pés e se levantar, ficando de
frente para mim. Estava linda, seu cabelo chegava à altura do
cotovelo, o que significava que se ela fizesse qualquer movimento
brusco com o antebraço, seu cabelo seria puxado e a causaria dor.
Era apenas uma forma de restrição, fazendo-a consciente de que,
se por acaso fizesse algum movimento brusco, seria castigada não
por mim, mas sim por si própria e ela pareceu entender isso.
Peguei o outro objeto que havia levado comigo e me sentei
normalmente na cama, apoiando os pés nos chãos e separando as
pernas, para que Kiara ficasse no meio delas. A chamei com o dedo
e ela veio, olhando para minha mão com curiosidade.
— Sabe o que é isso, Kiara?
— Não.
— É uma calcinha vibratória. Ela é comandada por um
controle remoto wireless e com toda a certeza, vai te fazer gozar
como nunca antes. Quer usá-la?
— Vai querer que eu implore de novo? — ela perguntou e eu
sorri, divertido.
— Não. Dessa vez, eu serei bonzinho e não a farei a
implorar, ao contrário de você que é uma menina má.
— Então eu quero usar. — Sorriu, olhando-me. — Seu sorriso
é lindo, Dominick... Deveria sorrir mais.
A olhei, surpreso, meu coração dando um salto no peito. Sem
saber o que dizer, engoli em seco e posicionei a calcinha na minha
mão, ainda ouvindo sua voz ressoar em minha mente.
— Afaste as pernas — mandei, ao invés de agradecer o
elogio.
Com suas pernas afastadas, posicionei a calcinha que
parecia um tapa-sexo em sua boceta e antes de tocar o clitóris,
passei meu dedo por ali, sentindo o quanto ela estava molhada.
Fiquei tão satisfeito que quase sorri de novo, mas não o fiz e apenas
afastei meu dedo, colocando a calcinha em seu clitóris inchado de
tesão.
Quando a encarei, vi que ela lambia os lábios ressecados e
levei minhas mãos a minha calça, desabotoando-a. Levantei meu
quadril e me desfiz dela, juntamente com a cueca boxer, deixando
que meu pau saltasse em riste, totalmente duro e com as veias
demarcadas pela pele fina. Toquei-me de leve e sufoquei um
gemido ao observar que ela juntava as pernas uma na outra,
excitada.
Com meu pau na mão, abaixei-o um pouco, vendo que ela
observava meus movimentos.
— Vire-se de costas e sente-se no meu colo, Kiara, perto da
minha barriga — ordenei e ela o fez, virando-se e se sentando no
meu colo.
Passou as pernas sobre a minha e acomodou a bunda perto
da minha barriga. Quando soltei meu membro, ele parou na frente
da sua boceta tampada pela calcinha. Quando a mesma vibrasse,
daria prazer a nós dois.
— Apoie os pés no chão e passe os braços pela minha
cabeça. — Obedeceu e logo meu rosto estava colado ao dela, seu
antebraço amarrado atrás da minha cabeça e seus pés no chão. —
Perfeito. Quero que se esfregue em mim, ouviu? Esfregue essa
bocetinha no meu pau assim que a calcinha começar a vibrar.
Ouvi seu suspiro como resposta e peguei o controle com a
mão esquerda, ligando a calcinha em uma velocidade fraca e
programando para que aumentasse para a média dali a dois
minutos. Kiara gemeu quando começou a vibrar e, de repente, se
esfregou em mim, me fazendo sentir a vibração em todo o meu pau.
Larguei o controle e enchi minhas mãos com seus seios,
apertando-os e puxando os mamilos com os dedos, fazendo-a
gemer e se esfregar mais em mim, seu antebraço se movimentando
e fazendo-a puxar os cabelos, tornando tudo ainda mais intenso.
Abocanhei seu pescoço e suguei sua pele doce, rugindo
quando a vibração aumentou. Meu pau babou na ponta e Kiara
rebolou, seu corpo tremendo sobre o meu, sem o mínimo de
controle.
— Oh, meu Deus, Nick, Nick! — Ela gritava e eu sorri,
marcando seu pescoço com meus dentes e movendo meu quadril
com o dela, fazendo a fricção ficar cada vez maior.
Peguei o controle novamente e aumentei a velocidade,
ouvindo o seu choramingar alto. Meu pau pulsou violentamente com
a vibração em torno dele, parecendo dobrar de tamanho com aquela
sensação, me fazendo gemer, louco para gozar, mas ainda não
podia.
— Isso, eu estou quase lá... Nick, vou gozar, eu...
Eu sabia que iria, mas não iria deixar. Diminuí a velocidade
de propósito, mesmo sentindo o meu pau protestar contra aquilo,
dolorido. Kiara parou sobre meu colo e tentou sair do lugar, mas seu
antebraço se moveu e puxou seu cabelo para trás, fazendo-a ficar
no lugar.
— O quê? Dominick, eu...
— Você quer gozar?
— Sim! Eu estava quase, eu...
— Quer mesmo, Kiara? — A interrompi, passando meu nariz
pela pele de seu pescoço e ombro.
— Sim!
— Então implora.
— Como?
— Peça. Seja uma boa menina... — sussurrei em seu ouvido
e aumentei a velocidade da calcinha, sentindo-a tremer sobre meu
colo.
— Não... Não vou implorar.
— Kiara, é só pedir por favor, vamos...
— Ah, meu Deus! — ela gritou quando coloquei na
velocidade máxima e eu travei o maxilar, louco para gozar com
aquela vibração toda no meu pau. — Estou tão perto, eu...
— Peça! — mandei, abaixando a velocidade novamente,
quando ela estava prestes a explodir.
— Não...
— Então você não vai gozar!
— Dominick, não seja ruim, por favor...
— Por favor, o quê? — perguntei, aumentando a velocidade,
deixando no máximo.
— Me deixe gozar, por favor, por favor...
— Boa garota — rugi em seu ouvido, sentindo-a convulsionar
em meu colo.
A calcinha vibrava rapidamente entre nós dois e eu puxei
seus mamilos, mordendo seu ombro com todo aquele tesão filho da
puta que me golpeava, inchava minhas bolas e duplicava o tamanho
do meu pau. Kiara gritou, suas pernas se sacudiram com violência e
eu soube que ela tinha acabado de gozar, sua cabeça sendo
pressionada em meu ombro por conta do puxão no seu cabelo feito
pelo seu antebraço.
Eu estava prestes a gozar, mas tirei a calcinha dela e toquei
em seu clitóris encharcado, masturbando-a sem delicadeza alguma
e prolongando seu orgasmo. Senti suas lágrimas molharem meu
ombro, ela ofegou e tremeu novamente, desnorteada, gozando
desesperadamente. Quando acabou, tentou fechar as pernas, mas
eu a empurrei para a cama e trepei em cima dela, sentando sobre
sua barriga e masturbando meu pau rapidamente.
Ela gemeu e eu foquei em seus seios e seus lábios, sentindo
meu pau ficar ainda mais duro com o prazer, meu sangue
bombeando forte, o orgasmo vindo com tanta força que o primeiro
jato do meu sêmen caiu direto em seus lábios, seguido por outros
que molharam todo o seu pescoço e seios, descendo pela barriga.
Senti um arrepio delicioso perpassar meu corpo ao vê-la
lamber minha porra em seus lábios e engolir, sorrindo de leve para
mim. Naquele momento eu quis beijá-la mais do que tudo no
mundo, com meu pau pulsando em minha mão e minha porra
melando todo o seu seio, mas não fiz.
Não fiz porque eu era um covarde que tinha medo de que, ao
beijá-la, aquele sentimento ridículo crescesse e tomasse conta de
todo o meu ser.
Ao invés disso eu disfarcei, gemendo e terminando de me
masturbar, antes de sair de cima dela. Andei pelo quarto e peguei a
toalha que ela tinha deixado no chão, e voltei para a cama,
limpando-a com delicadeza. Ela estava com os olhos fechados e um
sorriso satisfeito no rosto e sorri de leve, começando a desamarrá-la
rapidamente.
Quando terminei, massageei seus braços, fazendo a
circulação voltar e me inclinei beijando a sua testa, sem entender o
porquê de eu estar tão carinhoso e cuidadoso após o nosso “quase”
sexo.
— Obrigada — ela murmurou, abrindo os olhos.
Nossos rostos estavam próximos e eu só precisava fazer um
movimento e a beijaria, apenas um...
— Pelo quê? — perguntei em um sussurro, com medo de
estourar a nossa bolha e ser jogado com força para a vida real.
— Por esse momento maravilhoso. — Ela sorriu e encarou
minha boca, pegando-me de surpresa ao colar os lábios nos meus
em um selinho rápido.
Senti meu coração saltar no peito com violência, um
sentimento tão estranho que me deixou assustado, algo que eu
nunca havia sentido em toda a minha vida. O pavor foi tão grande
que eu pulei da cama, assustando-a, mas não liguei. Apenas catei
minha cueca e calça, vestindo-as rapidamente.
— Dominick... O que foi? — ela perguntou, sem entender, se
levantando. — Eu fiz algo de errado? Eu...
— Não, você não fez nada — falei, seco, pegando a corda e
a calcinha vibratória que havia levado comigo. — Eu preciso ir...
— Mas eu pensei que você iria dormir aqui... — murmurou,
tímida, me olhando.
— A gente ao menos fodeu, Kiara, então, com toda a certeza
eu não vou desperdiçar a minha noite de sono com você ao meu
lado — falei, me aproximando da porta, sabendo que estava sendo
um estúpido, mas sem saber como agir de outra forma. — Até
amanhã.
Quando bati a porta de seu quarto atrás de mim e encarei a
parede iluminada do corredor, eu soube que algo estava
definitivamente errado comigo.
Eu estava fodido.
Fodido e com o toque de seus lábios ainda sobre os meus.
Capítulo 11

“Ninguém disse que era fácil


Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim
Eu estou voltando ao começo”
(The Scientist, Coldplay)

Kiara

Encarei o jardim de primavera à minha frente, tentando


prestar atenção nas flores de diversas cores que se espalhavam
alegremente naquele dia quente de verão. O sol banhava as
pétalas, que se abriam para receber aquela luz natural e eu quase
sorri ao perceber o quanto a natureza era bela.
Mas, então, eu me lembrei de que não tinha muitos motivos
para sorrir. Não quando o homem com quem vou me casar havia me
dito que não ia perder sua noite de sono para ficar ao meu lado.
Ainda me perguntava se ele realmente tinha dito aquilo ou se
tinha sido algo da minha cabeça. Estava tudo tão bem, na verdade,
estava tudo perfeito demais para ser verdade e quando eu já tinha
me acostumado com a situação, Dominick veio e me derrubou do
cavalo.
Ele era um mestre nisso.
As cenas da noite anterior ainda passavam como um filme na
minha cabeça. Eu conseguia sentir a sensação de seu toque em
minha pele, das cordas prendendo meus braços e aquela calcinha
vibrando em mim, me levando à loucura. Conseguia sentir seus
sussurros em meu ouvido, suas palavras de incentivo, seu tremor ao
gozar em cima de mim e seu gosto mais íntimo em meus lábios.
Mas o sabor dos lábios dele eu ainda não conhecia. Tentei
conhecer, mas com isso o encanto se quebrou e ele voltou a ser o
mesmo Dominick arrogante e idiota, que me tratava mal. Mas agora
era pior.
Era pior porque eu tinha praticamente me entregado a ele na
noite anterior. Eu sabia que, se ele quisesse, eu teria transado com
ele sem nem pensar duas vezes e tudo isso para quê? Para que ele
dissesse que não ia perder sua preciosa noite de sono ao meu
lado?
O que eu realmente significava ali? Apenas uma futura rainha
para o seu povo? Um corpo para que ele pudesse se satisfazer?
Deveria ser apenas isso, já que nem para beijá-lo eu servia muito.
Senti meu coração ficar pesado com esse pensamento.
Constatar isso me levou a pensar em minha vida, trazendo à tona a
vontade avassaladora de querer me lembrar de quem eu era, como
eu era. Ter a mente preenchida por uma neblina espessa, que me
impedia de enxergar além, me causava pânico.
Talvez, se eu me lembrasse, teria um alicerce para me apoiar
e seguiria em frente com a ideia de ir embora dali, de voltar a ter a
vida simplória que Dominick disse que eu levava. Ficaria longe dele
e de sua dupla personalidade para sempre.
Mas eu conseguiria?
Sentia-me tão presa àquele mundo à parte que era viver com
ele, que não sabia se estava preparada para me afastar ou se eu ao
menos queria me afastar. Antes eu queria. Agora, eu já não sabia
mais, principalmente depois da conversa que tivemos ontem na
biblioteca, onde ele me disse que queria se tornar um homem
melhor e se casar comigo.
Mesmo que em nossa relação não tivesse amor, eu sabia que
poderia ter respeito e parceria. Dominick não era um homem ruim,
ele apenas não sabia se portar de outra maneira sem ser como o
dono do mundo, com toda aquela arrogância que estava entranhada
nele.
Respirei fundo e senti o cheiro das flores, alguns raios de sol
começaram a alcançar minhas pernas e tomei a minha decisão. Eu
continuaria com o acordo com Dominick e lutaria para fazê-lo mudar
de verdade, a começar por hoje. Ele havia me tratado muito mal e
receberia a lição de se desculpar.
Se desculpar de verdade, não por obrigação, como era
acostumado a fazer.
Ouvi passos e me virei no banco, vendo Arthur correndo
perto das flores, vindo em minha direção. Sorri pela primeira vez
naquele dia e o abracei quando parou na minha frente, sentindo seu
cheirinho delicioso.
— Tia Kiara, por que não tomou café da manhã com a gente?
— Estava sem fome, querido.
— A minha mamãe diz que não pode começar o dia sem
comer nada. Ela fala que a gente fica dodói e eu não quero que
você fique dodói, tá bom?
Passei a mão por seu cabelo, me perguntando como ele
conseguia ser tão fofo e adorável.
— Eu não vou ficar dodói, sabe por quê?
— Por quê?
— Porque nós dois vamos lá na cozinha agora fazer um bolo
enorme de chocolate, com cobertura de chocolate! E depois vamos
comer tudinho, o que acha?
— Vamos comer um bolo enorme? — ele perguntou, os
olhinhos arregalados.
— Vamos!
— Mas não vamos dar para o papai, para a mamãe e para o
tio Nick? Eles vão ficar tristes, tia Kiara.
— Você quer dar para eles?
— Sim. Ainda mais para o tio Nick... Ele estava bravo lá na
mesa do café da manhã.
— Estava?
— Aham. Ele ficou bravo porque você não estava lá com a
gente.
Fiquei um tempo olhando para ele, sem saber o que dizer.
Descer direto para o jardim de primavera havia sido sim uma fuga,
eu não queria ver Dominick logo pela manhã, muito menos tomar
café ao seu lado, ainda mais quando não sentia fome. Mas saber
que aquilo o havia afetado me fez sorrir por dentro. Talvez assim ele
aprendesse que não é certo ser um estúpido.
— Então daremos bolo para todo mundo, assim todo mundo
fica feliz. O que acha?
— Vai ser muito legal!
Com um sorriso tipicamente infantil, Arthur me deu a mão e
fomos juntos para cozinha. Norah e Ana estavam dando ordens
sobre a preparação de almoço para aquele domingo e prontamente
pararam de falar quando entrei com Arthur ao meu lado. Os demais
empregados abaixaram a cabeça e eu me senti mal por ainda não
saber o nome de todos.
— Deseja alguma coisa, senhorita Kiara?
— A gente vai fazer um bolo enorme de chocolate com
cobertura de chocolate, tia Norah! — Arthur disse, feliz e eu sorri
para ele.
— Um bolo de chocolate com cobertura de chocolate? Certo,
Mary o fará daqui a alguns minutos...
— Não, tia Norah... A gente vai fazer. Eu e a tia Kiara! —
Arthur falou.
— Isso, Norah, Arthur e eu vamos fazer um bolo... Só
precisamos de um cantinho da cozinha, prometemos não atrapalhar.
— E nem fazer bagunça! Se eu fizer bagunça, o papai briga.
— Mas, senhorita Kiara, creio que Vossa Majestade não vá
gostar nada disso... Temos empregados de sobra, qualquer um
pode fazer o bolo e...
— Deixa que eu me entendo com a Vossa Majestade depois,
Norah — respondi convicta e me virei para Arthur. — Preparado?
— Sim!
Animado, Arthur me seguiu até o canto da cozinha e vi duas
empregadas sorrindo para nós dois. Em poucos minutos eu já
estava conversando com todas elas, enquanto ensinava Arthur a
quebrar alguns ovos na tigela. A carinha de nojo dele quando a clara
tocou em seus dedinhos foi impagável e ele quase saiu correndo,
mas ficou aliviado quando pedi para que fosse misturando a farinha
de trigo ao chocolate em pó.
Mary, Norah, Ana, Karen e Andy se dividiam entre preparar o
almoço e conversar comigo. Logo soube que Karen era mãe de dois
homens, ambos trabalhavam como segurança do castelo e Andy, a
menina mais nova ali, era casada com um deles.
Andy tinha os cabelos castanhos, era baixinha e estava
grávida de seis meses, de uma menininha. Adorava conversar e, em
meio a preparação do bolo, passei a mão em sua barriga, sentindo a
bebê mexer para mim. Mary já era uma senhora também e cortava
algumas carnes com habilidade, enquanto falava sobre a
importância de uma boa alimentação na gravidez.
Me peguei pensando em como seria estar grávida e sorri com
a felicidade que via nos olhos de Andy. Era visível o quanto estava
feliz com a gravidez e o casamento e me perguntei se eu também
viveria aquilo um dia, se seria realmente feliz em meu casamento
com Dominick, ou se teríamos filhos.
Pelo modo como as coisas andavam, se chegássemos ao
matrimónio já seria um milagre.
Afastei os pensamentos ruins da cabeça e coloquei a massa
do bolo no tabuleiro redondo, dando a tigela para Arthur passar os
dedinhos e lamber, feliz. Mary colocou o bolo no forno e eu fui
adiantar a calda de chocolate, enquanto Arthur ainda lambia o
restinho da massa.
A conversa agora era sobre a melhor dosagem de chocolate
para a calda, quando ouvi a cozinha ser banhada pelo silêncio de
repente. Olhei para Andy que tinha os olhos arregalados e a mão na
barriga, Norah e Ana se olhavam assustadas. Mary estava perto do
fogão, lívida assim como Karen. Arthur foi o único que olhou atrás
de mim e colocou o dedinho na boca, sorrindo.
— Oi, tio Nick!
Me virei e vi Dominick parado na porta da cozinha, olhando a
todos demoradamente, até parar em mim com os olhos e a
expressão duras. Tinha o maxilar cerrado e se aproximou devagar.
— O que está acontecendo aqui?
— A tia Kiara e eu estamos fazendo um bolo grandão de
chocolate! Com cobertura de chocolate!
— Você e a tia Kiara?
— Aham!
Dominick desviou os olhos de mim e olhou para Norah, que
torcia os dedos, nervosa.
— Eu não me lembro de ter dado permissão para a futura
rainha cozinhar. Pelo que sei, Norah, existem regras claras aqui
dentro. Se existem empregados, o que a futura rainha está fazendo
aqui?
— Vossa Majestade, eu...
— O quê? Dominick, olha só...
— Não se mete, Kiara! — Me olhou, duro, voltando a encarar
Norah.
— Ah, eu me meto sim! — falei, me colocando na frente dele.
Me olhou sem mudar a expressão. — Que palhaçada é essa de ser
proibida a minha entrada na cozinha? Ou de que eu preciso de
permissão para cozinhar?
— São as regras, Kiara!
— Regras? Pelo amor de Deus, com certeza tem pessoas
nesse país passando fome, morrendo e você está se preocupando
com essa regra tão ridícula? Existem coisas mais importantes para
você fazer, não acha?
O silêncio na cozinha era sepulcral e eu vi de relance Ana
tirar Arthur dali, saindo junto com ele. Dominick fechou as mãos em
punhos e olhou para Norah atrás de mim. Segundos depois, ouvi
passos pela cozinha e soube que estávamos sozinhos quando a
porta se fechou devagar atrás de nós.
— Nunca mais me desafore dessa forma na frente dos
serviçais, ouviu? Eu sou o rei desse país, todos me devem
obediência!
— Eu não devo obediência a ninguém! — falei, saindo da
frente dele e indo em direção à mesa, onde pesava o chocolate em
pó.
Tirei-o da balança e o coloquei na panela, sentindo o olhar
intenso de Dominick em minhas costas. Tentei me manter calma,
como se ele fizesse parte dos utensílios da cozinha e segui com a
panela para o fogão, ligando-o.
— Vai ficar em silêncio até quando?
— A gente ao menos fodeu, Dominick, então com toda a
certeza eu não vou desperdiçar a minha saliva falando com você —
retruquei, repetindo a sua fala da noite passada.
Ele se aproximou e parou em frente a bancada da cozinha,
que ficava perto do fogão. Se encostou ali e cruzou os braços, me
olhando fixamente.
— Então é por isso que você não foi tomar café da manhã?
Por causa do que eu falei na noite passada?
— Você queria que eu descesse sorrindo e cantando depois
de ter ouvido aquilo?
— Ficar sem comer não vai acabar com a sua raiva.
— Não é raiva, Dominick.
— É o que então?
Olhei para ele, me perguntando como ele poderia ser idiota
ao ponto de estar realmente me perguntando aquilo. Mas ele
continuava me olhando altivo, esperando minha resposta.
— É mágoa, Dominick. Ou você realmente achou que falaria
aquilo para mim, depois de tudo o que fizemos ontem, e eu ficaria
bem?
Pela primeira vez desde que tinha chegado ali, a sua
expressão mudou. Ele passou da arrogância à confusão, depois da
confusão ao arrependimento, desviando o olhar do meu. Fiquei em
silêncio e desliguei o fogo, sentindo o cheiro do chocolate tomar
conta do ambiente, mas a doçura verdadeira não me alcançava.
— Eu sei que fui um babaca, Kiara. Desculpa.
Peguei o pano de prato e abri o forno, fazendo o teste do
palito e vendo que ele saiu seco. Tirei o bolo do forno e coloquei em
cima da pia, pegando a panela com a calda de chocolate e
despejando sobre o bolo, espalhando o doce com uma espátula em
seguida.
— Kiara, não me ignora... Não é assim que vamos resolver a
nossa situação.
— Realmente, não é assim — falei, colocando a panela
dentro da pia e me virando para ele. — Só vamos resolver isso
quando você se desculpar de verdade. E, principalmente, quando
estiver disposto a mudar.
Passei por ele e fui em direção à porta fechada da cozinha,
mas sua mão agarrou meu braço e me impediu, virando-me para
ele.
— Você não está pensando em ir embora de novo, não é?
Olhei para ele vendo aquele desespero em seus olhos
novamente. Senti meu coração bater mais forte e quase o abracei,
mas eu sabia que não era aquilo que Dominick precisava.
Ele precisava era de um choque de realidade.
— Quando você se arrepender de verdade, Dominick, vem
falar comigo. Por enquanto, prefiro não olhar para você.
Me soltei e saí da cozinha, indo para o meu quarto. Sabia que
eu devia desculpas às meninas da cozinha e chamar Arthur para
comer o bolo, mas não o fiz, sentindo meu coração pular tão rápido
quanto o bater das asas de uma borboleta.
Engoli em seco, sabendo que algo estava errado. Dominick
estava mexendo mais comigo do que eu gostaria de admitir.
Capítulo 12

“E eu tomarei você em meus braços e te guardarei exatamente no lugar onde


você pertence
Até o último dia da minha vida, eu prometo isso a você
Eu prometo isso a você”
(This I Promise You, ‘N Sync)

Dominick

Uma semana depois...

— Está nervoso?
Olhei para Dimir parado próximo à minha cama. Ele vinha me
observando atentamente durante aqueles dias e aquela porra
estava me deixando ainda mais irritado. Eu não precisava de babá!
— Por que estaria nervoso, Dimir?
— Porque é como você anda ultimamente. Nervoso, irritado,
de mau humor...
— E você está que nem uma dona de casa que não tem mais
o que fazer e fica tomando conta da vida dos outros! — rosnei,
terminando de ajeitar minha gravata em frente ao espelho.
— Eu tenho que tomar conta de você, porque, se não
percebeu, eu sou a única pessoa que você está dirigindo a palavra
no momento, além de Arthur. E como eu tenho certeza que meu
filho de cinco anos não entenderia o que está acontecendo, eu que
sou mais velho estou tentando entender.
— Não tem o que entender.
— Não? Então me explica por que diabos você não está
falando com Kiara?
— Eu não tenho nenhum tipo de assunto a tratar com ela.
— Eu não consigo compreender vocês. No jantar com meu
pai e Eurick vocês estavam se dando bem e não venha me dizer
que aquilo era atuação, porque eu sei que não era. E então, no dia
seguinte, já não estavam mais se falando. Passaram a semana
inteira sem olhar um para o outro. O que está acontecendo?
Observei Dimir pelo espelho e desviei o olhar, também me
fazendo a mesma pergunta. O que estava acontecendo? Eu havia
decidido me afastar de Kiara, não falar com ela, pois sabia que isso
iria mexer com ela e logo ela viria falar comigo. Mas não aconteceu!
Ela me ignorava, passava por mim e não falava comigo, sentava ao
meu lado à mesa e sequer me olhava. Eu estava quase implorando
com o olhar para que ao menos levantasse a cabeça em minha
direção e ela não o fazia.
Por quê? Por que ela não me queria mais? Por que estava
fazendo tudo aquilo comigo? Era divertido brincar de “ignorar o
Dominick”?
— Ela não quer falar comigo! — admiti, enraivecido, me
sentando na poltrona próxima ao espelho. — Kiara está
simplesmente me ignorando, Dimir!
— Que merda você fez para que isso acontecesse?
— Por que você acha que a culpa é minha?
— É óbvio que a culpa é sua. Kiara não ia te ignorar à toa,
Dominick.
— Aconteceu uma coisa na noite do jantar... E agora ela quer
que eu peça desculpas.
— Que coisa? — perguntou com o cenho franzido, mas acho
que só precisou de um minuto para entender do que eu estava
falando. — Vocês transaram?
— Não, nós apenas... Bem, você sabe.
— E qual foi a merda que você fez depois disso? Mostrou seu
chicote a ela e ela saiu apavorada e insultada? — Ele sorriu de lado,
se divertindo com a minha situação.
— Não! Eu não sou louco de fazer isso, tem toda uma
preparação. Kiara não é submissa e se eu a apresentar a esse
mundo de forma errada, corro o risco de afastá-la para sempre.
— Tem razão — concordou, vindo em minha direção e
sentando-se na poltrona a minha frente. — E o que você fez de tão
horrível, meu amigo?
— Eu fugi. Falei umas merdas e praticamente corri do quarto
assim que terminamos.
— Por quê?
— Porque ela mexe comigo, Dimir! Ela mexe comigo de uma
forma que eu não sei lidar! O andar dela me chama atenção, seu
olhar me chama atenção, até mesmo o respirar dela me chama
atenção e essa porra nunca aconteceu comigo! Se fosse outra
mulher me ignorando, eu estaria pouco me fodendo, mas com ela
não é assim! A cada vez que eu a chamo com o olhar e ela não me
atende, eu sinto vontade de colocá-la nos meus joelhos e bater nela,
mas eu tenho certeza de que se ela me olhasse, eu esqueceria de
tudo e seria capaz de ajoelhar apenas para agradecer por ela ter me
dado um segundo da sua atenção! É isso o que ela faz comigo!
Apenas quando parei de falar foi que percebi que eu havia
levantado e que estava andando de um lado para o outro em meio
ao meu quarto. Me senti claustrofóbico quando parei, com vontade
de arrancar aquela roupa chique do meu corpo e gritar, colocar o
animal que havia dentro de mim para fora, mas não fiz. Primeiro
porque não seria sensato e segundo porque Dimir estava com os
olhos arregalados e com a boca aberta, me olhando.
— Pare de me olhar assim!
— Você... De joelhos?
— Foi só modo de dizer!
— Agradecendo um segundo de atenção?
— Dimir...
— Meu Deus — murmurou, parecendo perdido. — A situação
está pior do que eu imaginava.
Engoli em seco, passando a mão pelos cabelos, já
arrependido de ter aberto a minha maldita boca.
— Esqueça o que eu falei, Dimir. Apenas esqueça.
— Esquecer? Impossível! Dominick, eu nunca imaginei que
iria ouvir algo assim de você! — falou e me olhou como se eu fosse
outra pessoa, mas logo depois, sorriu de lado. — Não está
percebendo, não é?
— Percebendo o quê?
— Que você está se apaixonando.
Senti meu coração saltar violentamente, me fazendo parar no
meio do quarto e olhar Dimir sem realmente ver. Suas palavras se
repetiam incansavelmente na minha cabeça, enquanto eu tentava
respirar com dificuldade. Não queria acreditar naquilo! Era
impossível! Eu jamais me apaixonaria, ao menos sabia como era me
apaixonar, como sentiria aquilo?
— Não... Claro que não! — murmurei, piscando algumas
vezes para voltar a ser o dono das minhas emoções. Consegui
rapidamente e sorri com escárnio, ainda me sentindo totalmente
abalado por dentro. — Isso nunca vai acontecer, Dimir. Eu jamais
vou me apaixonar por Kiara e nem por outra mulher.
Ele se levantou e sorriu abertamente para mim, se
aproximando.
— Por outra mulher com certeza não. Mas por Kiara, você já
está praticamente de quatro. — Riu e bateu duas vezes no meu
ombro, antes de se afastar. — Vai ser uma delícia assistir a sua
transformação de camarote, Nick. Vou reservar minha pipoca.
Ainda pensei em xingá-lo, mas a próxima coisa que ouvi foi a
porta do meu quarto sendo fechada. Estava sozinho e novamente
aquela sensação de claustrofobia me tomou, juntamente com as
palavras de Dimir, fazendo-me sentar na poltrona e passar as mãos
pelos cabelos.
O que estava acontecendo com a minha vida? Quando parei
de tomar conta de mim mesmo e me permiti virar aquela massa de
emoções violentas? Quando comecei a me importar tanto assim por
Kiara?
Respirei fundo, me obrigando a voltar a ser o que era antes,
um homem concentrado, dono de suas emoções e pensamentos.
Eu não estava me apaixonando, o que sentia por Kiara era apenas
orgulho ferido. Logo que ela voltasse a falar comigo, tudo estaria
resolvido.
Simples assim.
Levantei e terminei de me arrumar, vendo que estava perfeito
para uma noite tão importante. Kiara seria apresentada a todos
como minha noiva e futura Rainha de Orleandy. Em breve, eu me
casaria e tudo andaria em seu curso normal, com Kiara sendo
minha mulher na cama e a rainha perfeita para o meu povo.

***

Desci as escadas olhando ao redor e me odiando por estar


com expectativa de ver Kiara por ali, já arrumada para a festa, mas,
claro, ela não estava. Fui em direção a sala do meu pai e observei
Dimir se servindo de licor. Assim que me viu, serviu um pequeno
copo para mim também e eu me sentei, vendo Arthur brincar com
alguns carrinhos no chão.
Quando me viu, sorriu e se levantou vindo até a mim,
ajeitando o paletó do terninho que usava. Sorri para ele.
— Eu estou bonito, tio Nick?
— Está lindo, Arthur. Tenho certeza de que vai conquistar
várias garotas na festa.
— Ah, tio Nick, mas eu não quero várias garotas... Eu quero
uma só!
— É mesmo, filho? E quem é ela? — Dimir perguntou, me
dando um copo de licor antes de se sentar.
— Ela já tem namorado, papai... E eu ouvi ela dizer para
minha mamãe que gostava um pouco dele — murmurou triste e me
olhou ressabiado. — Olha, tio Nick, não fica bravo comigo, mas eu
quero a tia Kiara. Eu queria casar com ela também, mas vocês
falaram que não pode. Ela faz um bolo de chocolate muito gostoso!
Se ela casasse comigo, eu tenho certeza de que eu teria bolo de
chocolate todos os dias!
Ouvi Dimir rir alto ao meu lado e Arthur suspirar maravilhado,
mas eu ainda estava preso na parte em que ele disse que Kiara
havia falado que gostava um pouco de mim. Quase sorri com aquilo.
Pelo menos, ela não me odiava como eu pensava.
— Parece que você tem concorrência, Dominick. E se não
abrir o olho logo, é capaz de Arthur vencer você.
— Idiota! — ralhei com ele e me virei para Arthur, que me
olhava com expectativa. — Então, quer dizer que você quer casar
com a minha noiva, Arthur?
— Quero. Ela é bonita, me conta história, brinca comigo e faz
bolo de chocolate. É a mulher perfeita para mim!
— Mulher perfeita para você? De onde você tira essas
coisas, Arthur? — Dimir perguntou, rindo.
— Papai, você que vive falando que a mamãe é a mulher
perfeita para você. Então, a tia Kiara é a mulher perfeita para mim.
— E eu fico sem mulher? — perguntei, vendo Arthur se
aproximar e pedir para sentar no meu colo.
O puxei para mim e o acomodei em minha coxa, vendo-o
olhar em meus olhos.
— Olha, tio Nick, vamos fazer assim: você casa com a tia
Kiara. Eu deixo você dormir com ela do seu lado, igual o papai faz
com a minha mamãe, eu também deixo você beijar ela na boca,
igual o meu papai faz com a minha mamãe, mesmo sendo nojento!
Mas só se você me prometer duas coisas.
— Quais coisas?
— A primeira coisa é que você vai deixar ela fazer bolo de
chocolate para mim, sem chegar bravo na cozinha igual naquele dia.
Promete?
Olhei para Dimir que me olhava divertido, com aquele sorriso
idiota no rosto.
— Prometo. E qual é a outra coisa?
— A segunda coisa é que você vai fazer a tia Kiara sorrir
mais, porque ela está triste. Eu gostava mais quando ela sorria e
queria brincar comigo. — Deu de ombros, abaixando os olhos. — Eu
acho que a tia Kiara não gosta mais de mim, porque eu levei ela
para fazer o bolo de chocolate e você brigou com ela por causa
disso.
Engoli em seco, sem saber o que dizer. Sabia que Arthur era
esperto para sua idade, que sempre estava atento a tudo, mas
nunca iria imaginar que estivesse pensando uma coisa dessas.
Muito menos que observasse o modo como Kiara estava, quando
nem mesmo eu conseguia enxergar a tristeza que ele dizia que ela
estava sentindo.
— Não pense assim, Arthur, é claro que ela gosta você —
falei, puxando seu queixinho para que me olhasse. — Kiara gosta
muito de você, eu acho que ela gosta mais de você do que de mim,
sabia?
— Será, tio Nick?
— Eu tenho certeza! — E o pior era que eu realmente tinha
essa certeza. — Eu prometo que vou fazer Kiara feliz e, se vocês
quiserem, podem fazer bolo de chocolate amanhã de novo. Prometo
não brigar mais com ela, ouviu?
— Então nós temos aval do rei para fazermos bolo de
chocolate, Arthur?
— Tia Kiara!
Virei minha cabeça tão rápido que ouvi ela estalar, mas não
me arrependi. Kiara estava... perfeita. Seus cabelos avelãs estavam
metade preso e metade solto, alguns fios adornavam seu rosto
levemente maquiado, com destaque para os lábios rosados. Seu
vestido era longo e esvoaçante, verde-água e eu sorri ao perceber
que combinava perfeitamente com o anel de noivado que em breve
estaria em seu dedo.
Ela se abaixou um pouco e abraçou Arthur, beijando-o no
rosto e eu o invejei por ter toda aquela demonstração de afeto só
para ele. E, então, eu percebi que não tinha aquilo porque não
queria. No quarto dela, noites atrás, ela quis me demonstrar esse
afeto e eu me afastei, fui um idiota. Agora eu me arrependia de
verdade sobre isso e entendi o que ela quis dizer na cozinha, sobre
arrependimento verdadeiro.
Era mais do que murmurar a palavra “desculpa”. Era carregar
no olhar e no coração o sentimento e se desculpar de verdade.
— Você está muito bonita — Arthur disse, sorrindo para ela.
— Você também está lindo com esse terno.
— Minha mamãe disse que estou parecendo um homem
grande, igual o papai.
— E está mesmo — Dallah falou, andando com seu vestido
longo azul até parar ao lado de Dimir, que já estava em pé. — Um
modelo do pai.
Dimir sorriu e a beijou de leve na boca. Percebi que eu era o
único que estava sentando, com cara de idiota, e me levantei,
olhando para Kiara. Arthur dava a mão a ela e me olhava com um
sorriso enorme no rosto, como se impulsionasse a chegar a Kiara e
cumprir o que eu havia prometido. Mal sabia ele que fazê-la sorrir
naquela noite era a minha missão. Eu iria reverter aquela situação e
terminaria aquela noite no quarto dela, dormindo com ela até o
amanhecer.
— Arthur, vamos indo para o carro — Dimir falou passando
por mim junto com Dallah.
— Tá bom. Tio Nick, não esquece do que a gente falou! —
Arthur disse, antes de beijar a mão de Kiara. — Até a festa, tia
Kiara.
— Ah... Meu filho é um cavalheiro, meu Deus! — Dallah
suspirou e o beijou, antes de sair da sala junto com Dimir.
Agora éramos apenas Kiara e eu. Ela me olhou séria e eu
senti meu coração pular com o seu olhar finalmente em mim.
Agradeci silenciosamente por isso, me sentindo mais calmo por
estar apenas na sua mira, por receber um pouco da sua atenção.
— Me espere um segundo. Eu já volto.
Me virei e deixei o copo de licor intocável na mesa, antes de
ir em direção ao elevador. Entrei e cliquei no quarto andar, sentindo
meu coração se retrair um pouco com o conhecimento de que eu iria
ao andar de minha mãe, um lugar que eu não gostava de ir. Quando
era criança, ia para lá escondido do meu pai, pois ali me sentia mais
acolhido do que em qualquer outro lugar daquele castelo.
Hoje em dia, eu fugia daquele andar porque ir ali me fazia
sentir uma criança novamente, quando não tinha forças para me
defender de toda a dor que eu sentia por ser rejeitado por meu
próprio pai.
O elevador apitou e eu saí, passando rápido pelos
corredores, sem olhar para as fotos e pinturas de minha mãe nas
paredes. Parei em frente a única porta branca que não era dupla e
digitei o código na parede, que ficava atrás de um dos quadros que
minha mãe havia pintado. Com o acesso permitido, entrei e fui em
direção a um dos inúmeros cofres onde ficavam as joias que
pertenceram a minha mãe.
Um dia eu prometi a mim mesmo que aquelas joias só
sairiam dali por motivos especiais e para pessoas que mereciam.
Até hoje, ninguém mereceu uma joia da minha mãe, mas eu sabia
que Kiara merecia. Ela receberia duas, o anel de noivado que
pertenceu a minha mãe e essa outra joia linda, que eu tinha visto
mais cedo ao pegar o anel e que agora eu sabia que combinaria
perfeitamente com ela.
Peguei a caixa de veludo negro com a joia e tranquei o cofre,
saindo da sala e fechando a porta atrás de mim, sabendo que seria
travada automaticamente.
Voltei ao elevador e desci, contando os segundos, olhando
atentamente para os números dos andares que apareciam na tela
de LED a minha frente. Quando as portas se abriram, respirei fundo
e saí lentamente, tentando ao menos demonstrar que meu coração
não pulava como um cavalo louco no peito.
Kiara estava parada no mesmo lugar e desviou o olhar do
quadro do meu pai para mim, focando em meus olhos. Eu me
aproximei e parei na frente dela, observando seus olhos azuis que
brilhavam fracos para mim, ainda magoados.
— Primeiramente, eu quero dizer que essa foi uma das piores
semanas da minha vida — comecei, sincero, sem desviar meus
olhos dos dela. — Ver você e não receber seu olhar de volta, não
ver seu sorriso, não ouvir sua voz, tirou o pouco do brilho que meus
dias têm. Eu não sabia o quanto você era importante até ser
terrivelmente ignorado por você e agora eu consigo entender o que
você quis dizer para mim na cozinha, naquele dia. Ali eu não estava
arrependido pelo que eu fiz, minhas desculpas não foram sinceras,
mas agora elas são, Kiara. Eu realmente sinto muito por ter sido um
estúpido com você.
— De verdade? — perguntou, séria, me olhando.
— De verdade. Eu poderia dar um monte de desculpas, falar
que eu sou um homem difícil, que nunca precisou ser romântico e
nem educado, que sempre quis tudo do meu jeito, mas eu prefiro
ser sincero. Naquela noite eu fui um idiota, um estúpido, estraguei
toda uma noite que poderia ser muito boa para nós dois. Com a
minha arrogância eu também estraguei toda a minha semana,
porque eu te afastei de mim, quando na verdade eu te queria ao
meu lado. Eu não peço desculpas apenas para que você volte a
falar comigo, peço desculpas porque quero acabar com essa
distância que está magoando a nós dois.
Ela ficou me olhando com a mesma expressão séria, sem
desviar os olhos do meu e quase sem piscar. Eu permaneci calado,
também olhando em seus olhos e implorando para que ela
percebesse a verdade explícita ali, acreditando fielmente na teoria
de que “os olhos são o espelho da alma e não mentem nunca”. Não
sei contabilizar se ficamos ali por segundos, minutos ou horas, me
perdi no tempo e no mar azul que eram os olhos dela, até que ela
sorriu e seus olhos brilharam.
E meu mundo pareceu parar por um segundo.
— Ah meu Deus, Dominick! Graças a Deus você acordou! —
ela gritou e se jogou em meus braços, me abraçando forte.
Eu sorri de alívio e surpresa, passando os braços por sua
cintura e finalmente sentindo seu cheiro perto de mim. Meu coração
agora pulava de alegria e eu afundei meu rosto em seu cabelo, me
sentindo um louco por ter ficado tanto tempo longe dela por causa
do meu orgulho e dos meus sentimentos.
— Graças a Deus você aceitou minhas desculpas —
murmurei em seu ouvido, tão feliz que palavras jamais iriam
descrever.
— Eu aceitei porque sei que são verdadeiras.
Me abraçou mais um pouco e, então, se afastou, sorrindo de
orelha a orelha. Quis prendê-la mais um pouco em meus braços,
mas me contive e a olhei da cabeça aos pés, vendo o quanto ela
estava maravilhosa.
— Você está linda.
— Obrigada. O senhor também está lindo, Alteza — disse,
fazendo reverência a mim.
— Só está faltando uma coisa, futura Rainha de Orleandy —
falei, erguendo a caixa de veludo e abrindo para ela. Vi quando seus
olhos se arregalaram e sorri de leve, sabendo que ela nunca tinha
visto algo como aquilo. — É um colar de ouro amarelo, cravejado
com esmeraldas. Quando vi a cor de seu vestido, me lembrei dele e
como você não está usando um colar, quero que use esse.
— É... Meu Deus, é lindo — murmurou, voltando a me olhar.
— Isso deve ter custado uma fortuna, Dominick.
— Provavelmente. Era da minha mãe. Agora é seu.
— O quê? Não! Meu Deus, eu não posso aceitar, Dominick,
isso é...
— É um presente. Minha mãe deixou em testamento todas as
suas joias para mim. Eu prometi que só daria essas joias para quem
fosse especial, para quem merecesse e você merece. Você é uma
mulher incrível, Kiara, que está me fazendo enxergar o mundo de
um jeito que nunca imaginei, está me mostrando sentimentos que
nunca provei. Você será minha esposa, estará ao meu lado todos os
dias e não há ninguém melhor do que você para carregar uma joia
que foi da minha mãe. — Me aproximei e passei a mão livre no rosto
dela, vendo seus olhos marejarem. — Por favor, aceite.
Ela apenas assentiu, emocionada, e eu sorri, tirando a joia da
caixa e indo para trás dela. Acomodei o colar em seu pescoço e
prendi atrás. Sem conseguir me conter, cheirei atrás de sua orelha e
beijei ali, descendo com beijos por seu pescoço e nuca, até seu
ombro, me sentindo um sortudo por poder estar sentindo a textura
de sua pele em meus lábios novamente.
A virei de leve para mim e ela sorriu, me olhando.
— Obrigada. Droga, vou borrar minha maquiagem — falou e
passou a mão no canto dos olhos, espantando as lágrimas. — A sua
mãe deve ter sido uma mulher muito, muito especial. Pode ter
certeza de que guardarei essa joia com muito carinho.
— Ela foi sim — respondi, passando a ponta dos dedos pelo
rosto dela. Com cuidado, me aproximei e cheguei meus lábios perto
dos seus. Senti que ela prendeu a respiração e eu quase prendi a
minha também, lutando comigo mesmo, tentando quebrar aquela
barreira insuportável. — Obrigado por tudo que está fazendo por
mim, Kiara.
Fechei meus olhos e respirei fundo, guardando seu cheiro em
minha memória e sabendo que eu estava livre. Me despi do meu
medo, da promessa que fiz a mim mesmo de nunca me apaixonar,
pois a última coisa que eu queria ser era como o meu pai, um louco
de amor. Espantei da memória todos os quadros em que o via
beijando minha mãe, espalhados por seu quarto, onde jurei que
jamais beijaria mulher alguma para não morrer de amor.
E, por fim, colei meus lábios nos de Kiara, sabendo que eu
realmente havia chegado no fundo do poço.
Eu estava me apaixonando... e não tinha mais volta.
Capítulo 13

“Você me dá borboletas por dentro”


(Butterflies, Michael Jackson)

Kiara

Pensei que estivesse flutuando em meio a um sonho onde


asas de borboletas tocavam meus lábios. Quase sorri, mas então
me dei conta de que era real. As palavras de Dominick ainda se
repetiam em minha cabeça, enquanto seus lábios estavam sobre os
meus, tímidos, apenas um toque singelo que fez o meu coração
bater mais forte no peito.
Não sei exatamente o que deu em mim, talvez fosse a
emoção ou a surpresa, mas logo me vi correspondendo. Passei os
braços pelo seu pescoço e fechei meus olhos, voltando a respirar e
pressionando meus lábios ainda mais nos seus, abrindo-os quando
ele pousou sua língua em minha boca.
Suspirei e o beijei, sendo beijada de volta, quase chorando
de emoção por finalmente ter dado aquele passo tão importante,
que selava de uma vez por todas o relacionamento louco que nós
tínhamos. Já havíamos feito muita coisa, estávamos íntimos, mas
eu sentia que faltava aquilo. Faltava saber o gosto dos seus lábios,
como ele beijava, qual era a textura de sua língua e agora eu já
sabia de tudo.
E estava apaixonada.
Sorri em meio ao beijo e ele parou aos poucos, tirando a
língua da minha boca e roçando os lábios nos meus antes de se
afastar. Um esboço de sorriso surgiu no canto de seus lábios e eu
fiz questão de guardar aquela imagem para sempre em minha
memória.
— Essa é uma bela forma de agradecimento, Vossa
Majestade — murmurei, sorrindo.
— Fico feliz que tenha gostado, futura rainha. Vou me
lembrar de fazer isso mais vezes... — falou, olhando rapidamente
em seu relógio de pulso. — Precisamos ir, tenho certeza de que
todos estão em polvorosa para conhecê-la.
Assenti e peguei a mão que estendeu para mim. Saímos do
castelo e entramos no grande carro preto que estava à nossa
espera para nos levar ao salão do palácio, que ficava a alguns
quilômetros dali. Dominick ainda segurava a minha mão, mas tinha
voltado a ficar sério e seu rosto parcialmente iluminado fazia sua
expressão parecer mais dura do que realmente estava.
Por um momento, temi que ele tivesse voltado a ser o
Dominick frio e arrogante, mas quando se virou para mim e levou
minha mão a seus lábios, soube que estava tudo bem. Ser sério
fazia parte de quem ele era e por mais que estivéssemos bem, eu
estava aprendendo que ele era um homem difícil de sorrir. Não
desperdiçava seu sorriso para qualquer coisa e muito menos para
qualquer pessoa.
Dez minutos depois o carro parou em frente a uma curta
escadaria de pedra. O motorista saiu e abriu a porta para Dominick
que saiu e me ajudou a descer. Alguns fotógrafos estavam ali fora e
senti flashes pipocarem meu rosto, mas logo subimos as escadas
com seguranças ao nosso redor e paramos em frente a uma enorme
porta dupla de madeira talhada, trabalhada com desenhos em
dourado. Um segurança abriu a porta e entramos em um corredor
longo e iluminado, parcamente vazio.
— Que bom que chegaram! Os convidados já estão
começando a perguntar por vocês — Joseph falou, vindo em nossa
direção. — Você está maravilhosa, Kiara.
— Obrigada, Joseph — agradeci, sentindo-o beijar a minha
mão de leve.
— Está tudo pronto, tio?
— Sim, só faltava vocês. A imprensa está a postos para
registrar tudo — falou Joseph, voltando o olhar para minhas mãos.
— Onde está o anel de noivado? Não está pensando em posar para
fotos sem dar o anel a ela, não é, Dominick?
— Claro que não, tio. Eu só preciso de uns segundos a sós
com Kiara e logo estaremos na frente de todos. Com o anel no dedo
dela.
Sem ao menos esperar Joseph responder, Dominick se virou
e me levou junto a si. Começamos a andar pelo extenso corredor,
decorado com candelabros e lustres nos tetos e logo entramos em
uma sala decorada com sofás e móveis antigos. Dominick fechou a
porta atrás de si e caminhou até a mim, abrindo um sorriso travesso.
— Será que eu sou o único noivo que esquece de colocar o
anel de noivado no dedo da noiva?
— Dominick... Jura que você se esqueceu disso?
Ele deu de ombros e parou na minha frente com aquele
sorriso de menino sapeca nos lábios, algo novo e lindo que eu
nunca tinha visto nele antes. Colocou a mão no bolso e tirou uma
caixinha pequena de veludo negro e, então, superando todas as
minhas expectativas, se ajoelhou na minha frente, me fazendo rir.
— Sei que sou um idiota louco por ter esquecido de fazer isso
enquanto estávamos em casa, mas há de convir comigo que
vivemos muitas emoções em poucos minutos e, sim, eu acabei me
esquecendo do pequeno detalhe de te pedir formalmente em
noivado — falou, abrindo a caixinha de veludo para mim. — Mas
ainda assim, quero saber se aceita se casar com esse cara louco,
arrogante e idiota, mas que agora tem um anel para colocar no seu
dedo... Diz que aceita, por favor?
Desviei meu olhar do anel e observei sua expressão
divertida, com uma sobrancelha arqueada. Prendi minha vontade de
rir e dizer que ele estava sendo um fofo e respondi:
— Apesar de me sentir levemente insultada por conta disso,
tenho que admitir, Rei Dominick, que se fosse para dizer “não”, eu
nem mesmo estaria aqui... Então sim, eu aceito ser sua noiva.
Ele se levantou e tirou o anel de dentro da caixinha,
colocando-a em cima de uma mesinha que estava ao nosso lado.
Pegou minha mão direita e colocou o anel em meu dedo anelar,
beijando-o em seguida.
— Essa aliança era da minha mãe. É de ouro amarelo com
esmeraldas também, mas tem pequenos diamantes cravejados em
volta da esmeralda. É incrível como ele se encaixa perfeitamente
em seu dedo... — Ele sorriu de leve, admirado. — Pode deixar que
quando nos casarmos, não esquecerei das alianças.
— Assim espero... — murmurei, olhando-o atentamente.
Senti vontade de perguntar o que estava acontecendo com
ele. Dominick estava diferente e não era só o fato de estar me
tratando bem, mas também o fato de estar sorrindo mais e de estar
até mesmo brincalhão, coisa que ele nunca tinha sido desde quando
acordei desmemoriada naquele castelo.
Quase perguntei, mas Joseph bateu na porta e disse que
estava tudo pronto para nossa chegada, me interrompendo antes de
começar. Saímos juntos da sala, de mãos dadas e quando encarei o
corredor iluminado, cheguei à conclusão de que aquela pergunta
poderia estragar o humor dele e aquela não era a minha intenção.
Já que ele estava bem-humorado e de bem com a vida, eu iria
aproveitar e torcer para que ele permanecesse daquela forma para
sempre.
Paramos em frente a uma porta dupla de madeira como as
que entramos assim que chegamos. Dava-se para ouvir o barulho
da música e das pessoas falando, mas logo a música cessou e as
conversas também. A voz grave de um homem ecoou em alto e
bom som:
— Por favor, vamos receber uma salva de palmas Vossa
Majestade, o Rei Dominick Andrigheto Domaschesky e sua noiva, a
futura Rainha Kiara Neumann.
As portas se abriram e Dominick deu um passo à frente
comigo ao seu lado, parando logo em seguida. Uma chuva de
flashes quase me deixou cega, mas me lembrei do conselho de
Dallah de me manter natural e sorrir sempre, porque as fotos
registram tudo. Todos estavam em pé e sorriram, batendo palmas e
Dominick levou minha mão aos seus lábios e beijou, começando a
circular comigo pelo imenso salão.
Vários convidados se aproximaram de nós e eu fui
apresentada a tantas pessoas que jamais conseguiria me lembrar
de todos os nomes. Todos diziam que estavam encantados e felizes
porque finalmente teriam uma nova rainha e cumprimentavam
Dominick com respeito, mesmo a maioria dos convidados sendo
bem mais velhos do que ele.
Percebi que ali estavam presente os convidados mais ricos e
ilustres, pessoas simples como as que eu vi na minha ida ao
shopping com Dallah não estavam presentes. Fui apresentada ao
principal padre e ao arcebispo do país, bem como algumas pessoas
do clero, que pareciam me avaliar mais de perto. Apesar de já ter
sido aceita por eles, sentia que qualquer passo em falso eu poderia
ser julgada de forma diferente, então apenas sorri e fui discreta, fina,
como Dallah me ensinou.
Ela poderia ser doidinha, mas, no final de tudo, foi a pessoa
que ficou me ensinando durante toda aquela semana a me
comportar nesse tipo de evento.
— Olá, querida. Eu sou Elizabeth Meltt Domaschesky, mãe
de Dimir. — Uma senhora alta e loira, bem-vestida, disse para mim,
me dando dois beijos no rosto. — Você é ainda mais bonita do que
Joseph me descreveu. Meu sobrinho não poderia ter feito escolha
melhor.
— Obrigado, tia — Dominick respondeu, sério, mas via em
seus olhos que ele estava à vontade. — Eu realmente não poderia
ter feito escolha melhor.
— Que maravilha, vocês formam um lindo casal. Tenho
certeza de que serão tão perfeitos quanto Patrick e Marie foram.
— Obrigada, senhora.
— Oh não, por favor, me chame apenas de Elizabeth.
— Titia... Não vai me apresentar a futura rainha? — Um
homem bonito falou, passando o braço pelos ombros de Elizabeth.
— Claro! Querida, esse é Robin Meltt Johnson, meu sobrinho
— Elizabeth disse, sorrindo. — É um grande homem, dono de uma
das academias de balé mais renomadas do mundo.
— Balé? — perguntei, observando-o e me lembrando de
quando Dominick havia dito que eu dava aulas de balé antes de
tudo me acontecer.
— Sim — respondeu, chegando perto de mim e beijando
minha mão. — É um prazer finalmente conhecê-la, Kiara.
— Senhorita Neumann para você, Robin — Dominick disse
ao meu lado, sério, puxando-me um pouco mais para o seu lado.
Robin sorriu. Ele era realmente muito bonito, tinha os olhos
verdes e os cabelos castanho-claros, quase como os de Elizabeth.
Usava um terno preto e não tinha barba.
— Para que tanta formalidade, Dominick? Somos
praticamente da mesma família.
— Não somos. Pelo que eu saiba, você é sobrinho apenas de
Elizabeth e não de meu tio Joseph. Seu sangue nem ao menos
chega perto do meu.
— Posso realmente não ter o seu sangue “azul”, mas isso
não me impede de fazer amizade com a futura rainha.
Principalmente quando tio Joseph me disse que ela é uma bailarina.
Na verdade, essa informação foi divulgada pelos seus assessores e
está estampando boa parte das capas de jornais do mundo inteiro,
Dominick. — Ele se virou para mim e sorriu. — Me conte, Kiara...
Como se apaixonou pelo balé?
Olhei para Dominick implorando por ajuda para sair daquela
enrascada, mas seus olhos não estavam em mim e sim em Robin.
Sua expressão havia passado da seriedade para a raiva e apertei
sua mão de leve, me preparando para responder.
— Kiara não tem tempo para conversar agora, Robin —
Dominick respondeu por mim, largando minha mão e enlaçando a
minha cintura. — Em outra oportunidade, quem sabe, ela não
converse com você. Espero que até lá você tenha aprendido a
chamá-la de “Vossa Majestade”, pois é isso que ela será e o
respeito vem acima de qualquer tipo de amizade que você queira
fazer com a minha futura esposa. Com licença.
Sem esperar por uma resposta, Dominick se virou comigo e
saiu dali me arrastando consigo. Me esforcei para acompanhar seus
passos apressados e olhei em volta, percebendo que todos estavam
entretidos demais em suas conversas para prestarem atenção em
nós dois.
— Não precisava ter sido tão grosso, Dominick. Quando ele
disse que era sobrinho de sua tia, pensei que eram amigos.
— Eu não tenho amigos, Kiara. Pensei que já tivesse
percebido isso.
— E só por causa disso precisa ser mal-educado com as
pessoas?
— Aquele filho de uma putinha estava te comendo com os
olhos e você queria que eu fizesse o quê? Sorrisse para ele? —
Rosnou para mim, parando de repente no meio do salão. — Eu não
gosto que cobicem o que é meu e acho que está bem claro que
você é minha, não é mesmo?
Abri a boca para responder, mas fui interrompida por um
senhor bem-vestido em um terno completo. Ele tinha cabelos
grisalhos e um olhar sábio e bondoso, que fez com que eu me
calasse antes mesmo de falar algo.
— Boa noite, Dominick.
Dominick se virou para o homem e revirou os olhos, soltando
uma risadinha sem humor.
— Era só o que me faltava... O que faz aqui?
— Dominick! — o repreendi, sem entender como ele podia
mudar de humor de um segundo para o outro. — Me desculpe,
senhor, ele não quis ser grosseiro.
— Não se desculpe, minha jovem, eu já estou acostumado —
falou, sorrindo. — Sou Giorgio De Piel.
— Mais conhecido como o homem que adora se meter na
minha vida — Dominick falou, segurando a minha mão. — Não me
lembro de ter colocado você na minha lista de convidados.
— Mas, surpreendentemente, eu recebi um convite. E aqui
estou — Giorgio falou, olhando rapidamente para mim e se voltando
para Dominick. — Sua noiva é muito bonita.
— Saia daqui!
— É uma boa moça, Dominick... Você teve sorte, muita sorte
— falou, soltando um grande suspiro. — Aproveite os momentos
bons que virão. Você sabe que nem todo momento bom dura para
sempre.
— E você? Será que sabe que não é nenhum tipo de Deus
ou ainda não aprendeu isso? Quero que saia daqui, Giorgio. Não
me obrigue a chamar os seguranças — Dominick falou baixo,
enraivecido, olhando nos olhos do homem.
— Dominick, por favor, contenha-se — pedi em seu ouvido,
mesmo sem entender o que era aquilo que estava acontecendo.
— Eu vou embora, Dominick, não precisa se preocupar. Foi
um prazer conhecê-la, Kiara.
Dito isso, o homem passou por nós dois, deixando sua taça
de champanhe intocável em cima da bandeja de um garçom.
Dominick respirou fundo e me soltou, todo o seu bom humor havia
evaporado como partículas no ar.
— Dominick...
— Eu preciso ficar sozinho por alguns segundos, Kiara. Vá
para a mesa de Dallah e me espere lá.
Sem ao menos me olhar, ele saiu andando e me deixou para
trás. Ainda pensei em segui-lo, mas minha curiosidade foi mais forte
e olhei para o outro lado do salão, vendo Giorgio andar entre os
convidados. Sem conseguir me conter, comecei a andar em sua
direção, apressando o passo e me desviando de alguns convidados
que me chamavam. Giorgio estava quase chegando ao jardim
quando finalmente consegui alcançá-lo e toquei em seu ombro,
impedindo-o de continuar a andar.
— Por favor, espere — pedi, vendo-o virar para mim. — O
que aconteceu lá dentro?
— Não foi nada, minha jovem. Dominick apenas não gostou
da minha presença e eu já estou indo embora.
— Mas o senhor falou umas coisas, sobre ele ter tido sorte e
sobre bons momentos que virão... O que quis dizer com isso? —
perguntei rápido demais, parando um pouco para respirar. — Me
desculpe, eu estou muito confusa.
— Eu sei que está. Sei exatamente o quanto você está
confusa, mas preste atenção no que irei te falar. — Ele parou um
pouco e olhou ao redor, certificando-se de que ninguém nos ouvia.
— Para tudo nessa vida existe explicação. Nada acontece por acaso
e vai chegar o momento que você vai se lembrar de tudo o que
houve. Mas tenha sabedoria, não deixe que as emoções te
corrompam. Tudo tem uma razão para ser. — Sorriu, bondoso e
começou a se afastar. — Agora eu preciso ir. Tenha em mente o que
eu disse.
Ele se afastou completamente e eu o deixei ir, passando cada
uma de suas frases em minha mente e tentando entender o que
aquilo significava, ficando ainda mais confusa do que antes de
procurá-lo.
Capítulo 14

“Você faz isso parecer mágica


Pois eu não vejo ninguém, ninguém
Além de você”
(Earned It, The Weeknd)

Kiara

Em alguns segundos Giorgio já havia desaparecido no


imenso jardim e eu me virei, voltando a andar entre os convidados.
A música calma que tocava voltou a penetrar meus ouvidos,
enquanto eu olhava ao redor à procura de Dominick, não o
encontrando em lugar algum. Tentei buscar dentro de mim alguma
explicação para aquela conversa estranha.
O que aquele homem queria dizer? Por que Dominick havia
ficado tão nervoso em sua presença? O que ele significava?
Para começo de conversa, eu teria que descobrir quem era
aquele tal Giorgio De Piel e o que ele representava. Com isso em
mente, fui em direção a única pessoa que deveria saber de tudo e
poderia me ajudar. Cheguei à mesa de Dallah em apenas alguns
segundos, agradecendo silenciosamente por ela estar sozinha. Ela
sorriu para mim e eu me sentei ao seu lado, sem conseguir forçar
sorriso algum.
— Ah, meu Deus... Você não parece feliz. O que Dominick
aprontou dessa vez?
— Por que acha que a culpa é de Dominick?
— Porque ele sempre faz besteira!
Sorri de leve e balancei a cabeça, negando.
— Não, dessa vez a culpa não foi dele.
— Então... O que houve?
Me aproximei dela e olhei ao redor, percebendo que todos
estavam entretidos demais para prestar atenção em nós duas e não
havia um sinal de Dominick pelo salão.
— Você sabe quem é Giorgio De Piel?
Ela se afastou e olhou ao redor também, ficando séria de
repente. Um garçom passou e ela pegou duas taças de champanhe,
colocando uma na minha frente e bebendo a sua de uma só vez.
— Hum... Giorgio De Piel?
— Sim.
— Onde o conheceu?
— Ele estava aqui na festa, foi embora há poucos minutos.
— Como ele conseguiu entrar aqui? Dominick não gosta dele!
— Eu pude perceber isso, mas gostaria de saber o porquê —
falei, ficando angustiada com toda aquela enrolação. — Fala logo,
Dallah!
— Mas eu não sei de nada.
— Sabe sim!
— Não sei!
— Dallah, por favor!
Ela suspirou e olhou para minha taça intocável e depois olhou
para mim, logo voltando o olhar para a taça de novo e pegando-a,
bebendo todo o conteúdo de uma só vez.
— Olha, Kiara... Essa história do Giorgio é muito complicada.
— Começou olhando ao redor. — Não sei se posso te contar —
sussurrou, voltando a olhar para mim.
— Por que não poderia? — sussurrei de volta.
— Porque é um assunto do Dominick. Talvez seria melhor ele
te contar. — Parou e franziu o cenho, se afastando um pouco. —
Por que estamos sussurrando? Com esse som alto ninguém vai
ouvir a gente!
Revirei os olhos, cheia de curiosidade e cansada das
maluquices de Dallah.
— Dallah, por favor! Você é a única pessoa com quem eu
posso contar! Se você não me esclarecer as coisas, como vou me
lembrar da minha vida?
— Por que quer se lembrar da sua vida?
— Dallah, pelo amor de Deus, não me enrola! Quem é
Giorgio De Piel?
— É um homem sem importância, Kiara! — Dominick falou ao
meu lado e eu pulei na cadeira pelo susto. Ele se apoiou no encosto
da cadeira e olhou para mim, sério, seu olhar me dizendo que seu
bom humor havia ido para o espaço. — Deveria parar de ser tão
curiosa e começar a se meter em assunto que lhe diz respeito.
— Esse assunto me diz respeito, visto que aquele senhor
falou sobre mim também.
— Ele é apenas um velho louco que acha que sabe de tudo,
mas, na verdade, ele não sabe de nada. Giorgio De Piel não é nada
e não tem nada a ver com a gente. Pare de perguntar sobre ele, fui
claro?
— Se ele não tem nada a ver com a gente, por que você está
tão nervoso?
— Não estou nervoso! Estou com raiva por conta da
incompetência da organização dessa festa que deixa entrar
qualquer um! Deve estar cheio de intrusos aqui dentro.
— Quem são os intrusos? As pessoas comuns que moram
em Orleandy?
— Pessoas comuns? — Ele arqueou uma sobrancelha e riu
sem humor. — O que são pessoas comuns para você, Kiara?
— Pessoas que são como eu era antes de perder a memória,
Dominick. Pessoas simples, que, com certeza, são a principal fonte
da economia desse país.
— Então você queria que as “pessoas comuns” estivessem
aqui, agora, comemorando conosco? — Ele soltou outra risada,
aproximando o rosto do meu. — Isso não existe, querida. Estamos
em um patamar muito elevado para nos misturarmos com as
“pessoas comuns”.
— Então por que está noivando comigo, Dominick? —
perguntei, vendo o sorriso dele desaparecer. — Estar aqui não me
torna diferente de qualquer um deles.
— Claro que te torna diferente. Você é a futura rainha!
— Mas antes de ser a futura rainha eu era uma “pessoa
comum”. Talvez eu esteja no mesmo patamar que Giorgio e a
maioria dos moradores do seu país — falei, empurrando-o de leve e
me levantando em seguida. — Para um rei que diz amar seu povo,
você é um homem muito esnobe e preconceituoso. Eu posso não
me lembrar da minha vida, mas eu tenho certeza de que eu não
gosto de pessoas assim.
— Kiara, por favor. — Dallah falou, parando ao meu lado. —
As pessoas estão começando a notar que o clima entre vocês está
estranho.
— Não tem nada estranho aqui! — Dominick falou, puxando-
me pela cintura de repente.
Pensei em empurrá-lo e me soltar, mas percebi que alguns
convidados estavam realmente olhando para nós e não quis causar
vexame. Dominick apertou minha cintura com força e me puxou
mais para os seus braços, beijando de leve o meu rosto.
— Não seja rebelde, Kiara... — sussurrou ao meu ouvido,
passando o nariz de leve pelos meus cabelos. — Eu já disse que
gosto de meninas boazinhas.
— Então você deveria ser “bonzinho” também — murmurei,
virando meu rosto para olhá-lo.
Ele me fitou e abriu um enorme sorriso para mim. Senti minha
intimidade pulsar com aquele olhar perverso e engoli em seco,
voltando a olhar para frente.
— Ser bonzinho não combina comigo, baby — falou,
depositando um beijo no meu ombro. — Eu prefiro ser mau. Prefiro
amarrar você na minha cama e chupar toda a sua bocetinha até
você gritar e implorar pelo meu pau. Quando você finalmente for
minha, vai viver implorando, Kiara. Implorando pelo meu pau em
cada buraquinho do seu corpo.
Ofeguei e fechei os olhos, sentindo sua respiração próxima a
mim, me deixando arrepiada da cabeça aos pés.
— Por que vocês estão sussurrando? — Dallah perguntou,
chamando minha atenção. — Eu quero participar da conversa
também!
— Ah, não quer não! — Dominick falou, rindo logo em
seguida.
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e ri sem querer,
vendo Dallah franzir o cenho, sem entender nada. Acho que ela ia
falar mais alguma coisa, mas sorriu quando Dimir apareceu e a
abraçou. Elizabeth veio logo atrás de Dimir, de mãos dadas com
Arthur, que arrastou a cadeira para ela sentar.
— Como você é cavalheiro, meu querido.
— Meu papai disse que os homens têm que tratar bem as
mulheres, vovó.
— Seu pai está te educando muito bem — Elizabeth disse,
voltando seu olhar para Dimir. — Tenho muito orgulho de você,
querido.
— Obrigado, mãe.
Senti Dominick se remexer ao meu lado, parecendo
incomodado e me virei para ele, tocando em seu rosto de leve com
a mão.
— Sua mãe também sentiria orgulho de você, Dominick —
murmurei para ele, vendo-o me olhar surpreso. — Mesmo sendo um
idiota, às vezes, como alguns minutos atrás, tenho certeza de que
ela sentiria orgulho de você.
— Não — ele sussurrou em resposta, tirando minha mão de
seu rosto. — Ela sentiria orgulho da pessoa que me torno quando
estou com você.
Sorri de leve, sentindo-o beijar minha mão com carinho. Se
estivéssemos sozinhos eu teria coragem de puxá-lo para um beijo,
mas estávamos em público e eu sabia que não teria coragem de
fazer isso, mesmo ele tendo me beijado antes de irmos para a festa.
— Soube que conheceu meu primo Robin, Kiara — Dimir
falou, chamando minha atenção.
— Você o conheceu? Nossa, ele é lindo, não é mesmo? —
Dallah falou e Dimir olhou para a cara dela, a boca ligeiramente
aberta.
— Dallah!
— Quer dizer, hum... Ele é bonitinho. Claro que você é muito
mais bonito do que ele, meu amor. Você é o homem mais lindo do
mundo! — ela falou, rápido, dando um beijo no rosto dele.
— O tempo passa e você continua a mesma, não é, Dallah?
— Elizabeth falou, bem-humorada. — Foi uma pena que você não
pôde conversar mais com meu sobrinho, Kiara. Robin é um bailarino
maravilhoso, tenho certeza de que vocês se dariam muito bem.
— Hoje é uma noite de festa, tia. Kiara não podia ficar
batendo papo com Robin.
— Sei disso, Dominick, e ele entendeu perfeitamente. Só
acho que você poderia tratá-lo um pouco melhor, querido. Robin o
considera como um primo.
— Mas ele não é meu primo — Dominick respondeu,
pegando minha mão. — Kiara e eu precisamos circular pelo salão.
Com licença.
Sem dizer mais nada, Dominick me puxou e me levou junto
consigo. Resolvi ficar em silêncio daquela vez e o segui, passando
pelos convidados que sorriam para nós dois. Um casal nos parou e
Dominick deu atenção ao homem que começou a falar sobre seu
reinado. Eu olhei em volta, tentando ver onde eu me encaixava
naquele mundo.
Todos pareciam soberbos demais, segurando taças de
champanhe importado, dando sorrisos falsos um para o outro.
Alguns me olhavam com admiração, outros me olhavam tentando
entender o que eu estava fazendo ali e eu me perguntava como
alguém conseguia viver daquela forma, de maneira tão superficial,
metidos a donos do mundo.
Ao olhar para Dominick e para o seu porte, o modo como
falava, dono da situação, vi como ele estava acostumado àquilo.
Parecia uma extensão daquele lugar e me lembrei da forma como
ele disse sobre as pessoas que não tinham a mesma classe social
que ele. Era óbvio o bastante para mim que ele não estava
acostumado com menos do que o dinheiro poderia lhe proporcionar,
mas, então, me vinha uma pergunta simples que eu nunca tinha me
feito até então.
Por que Dominick, que se mostrou tão preconceituoso há
alguns minutos, me conhecia? Por que se envolveu comigo, já que
eu morava em uma cidade pequena em Orleandy e não tinha nada
a ver com aquela vida?
Por que escolheu justamente a mim para ser a rainha,
quando era evidente que ele ao menos gostava de mim quando
acordei no palácio?
E por que ele tinha medo de Giorgi de Piel? Por que eu não
podia saber sobre ele?
Muitas perguntas, mas jurei a mim mesma que eu descobriria
as respostas, mesmo que elas fossem toscas e sem importância.
— Ei... Por que está tão longe? — O ouvi perguntar ao meu
lado, voltando a andar comigo.
— Estava apenas pensando.
— Em quê?
— Não adianta falar... Você não me dará as respostas para o
que eu quero. Parece que quer me manter no escuro para sempre.
Olhei para ele e vi seu maxilar desenhado se apertar.
Seguimos em direção ao jardim vazio e passamos pela grama
fresca, indo em direção a outra parte do salão, onde ficavam os
banheiros. Ainda pensei em perguntar o que íamos fazer ali, mas
ele abriu a porta de um dos banheiros e me empurrou para dentro
rapidamente, entrando em seguida e trancando a porta atrás de si.
— Ficou louco? O que estamos fazendo aqui?
Ele se aproximou de mim em passadas rápidas e me
encostou na parede fria atrás de mim, colocando as duas mãos em
meu rosto. Parecia desesperado e suspirou, olhando em meus
olhos.
— Por que quer tanto saber sobre a sua vida, Kiara? Por que
quer tanto saber sobre Giorgio ou qualquer outra porra?
— Porque eu não me lembro de nada, Dominick! Coloque-se
no meu lugar! Por acaso gostaria de não se lembrar sobre nada da
sua vida?
— Mas você não precisa se lembrar! Não há nada importante
na sua vida, Kiara. Eu já te contei tudo, você era uma garota pobre,
órfã de pai e mãe desde os dezessete anos, morava sozinha e dava
aulas de balé, ponto-final! Não há nada mais do que isso!
— Claro que há algo a mais do que isso, Dominick! — falei,
tocando em sua mão no meu rosto. — Há a minha história, minhas
lembranças com meus pais, os amigos que eu possivelmente
deveria ter, os meus alunos na escola de balé, há a minha vida,
Dominick! Por que quer afastar isso de mim?
— Porque eu sou o suficiente para você! Você não precisa de
mais nada, Kiara, só precisa de mim! Assim como eu só preciso de
você...
E, então, sua boca estava colada na minha e qualquer
argumento que eu tinha em mente simplesmente desapareceu.
Beijá-lo novamente pareceu reacender todo o sentimento que ele
havia colocado em meu peito.
Contra todas as possibilidades, contra tudo o que vinha
acontecendo comigo nas últimas semanas, com Dominick me
tratando a cada dia de modo diferente, uma hora bem e outra mal,
eu estava me apaixonando por ele. Eu realmente estava me
apaixonando e me encantando por aquele homem que agora me
beijava como se dependesse dos meus lábios e língua para viver.
Agarrei sua cabeça e coloquei as mãos entre seus cabelos,
puxando-o mais para mim e sugando sua língua para a minha boca.
Gemi baixinho quando senti suas mãos descerem pelo meu
pescoço e contornarem meus seios por cima do tecido do vestido,
apalpando-o e fazendo minha calcinha ficar molhada de excitação.
Seus lábios desceram por meu queixo, chegando ao meu pescoço e
sugando a pele fina para dentro da sua boca, me fazendo arfar e
meu corpo tremer em antecipação.
— Você mexe tanto comigo, tanto! — ele resmungou, rouco,
subindo a boca para minha orelha. — Eu não consigo me controlar
perto de você, Kiara. Simplesmente não consigo.
— Então não se controle — murmurei, excitada, levando
minha mão aos seus braços.
— Se eu não me controlar, vou querer comer você aqui! —
rugiu, voltando a me olhar. — E eu prometi a mim mesmo que só
vou comer você na nossa lua de mel.
— Então vamos fazer outra coisa!
Ele sorriu e se abaixou, agarrando a barra do meu vestido e
levantando-o levemente, subindo-o até pará-lo na minha cintura.
— Nós vamos fazer outra coisa — falou, olhando para minha
calcinha. — Mas para isso, eu preciso dessa bocetinha nua.
No segundo seguinte, ele já havia arrebentado a renda fina
da calcinha, deixando os restos mortais cair no chão. Sorri com
aquilo e ele me olhou, sorrindo de lado para mim.
— Desabotoe minha calça — mandou, acariciando parte da
minha cintura nua.
Pensei em contestar e falar que não, mas sabia que não
tínhamos muito tempo e decidi obedecer. Desabotoei sua calça e
desci o zíper, vendo seu pau pular em riste para mim. Mordi o lábio
e olhei para o seu membro enorme, com as veias bem desenhadas.
— Para que usar cueca?
— Sabia que ia ser mais uma peça que iria nos atrapalhar,
então, simplesmente decidi não usar.
— Então me trazer ao banheiro já era um plano traçado na
sua mente?
— Não. Eu pensei em te levar à sala onde te dei o anel de
noivado, mas sabia que por ali passa muita gente e uma dessas
pessoas poderia ouvir você gemendo meu nome — falou,
começando a roçar seus lábios nos meus. — E eu quero seus
gemidos só para mim.
— Você é um pervertido!
— E possessivo. É melhor você se acostumar — murmurou,
sério. — Afaste as pernas.
Obedeci e afastei minhas pernas, lambendo seu lábio inferior
que estava roçando nos meus. Ele suspirou e, então, senti a cabeça
do seu pau roçando meus lábios vaginais de leve, apenas uma
carícia que me fez gemer em antecipação.
— Vou roçar meu pau nessa bocetinha até você gozar... —
falou, segurando o pau na mão e roçando-o em mim. — Depois
você vai ajoelhar e chupar o meu pau até eu gozar na sua boca.
— Por que eu faria isso? — perguntei, olhando em seus
olhos.
— Porque eu estou mandando você fazer.
Ri do que ele falou, mas engasguei com minha própria graça
quando ele passou a glande robusta em meu clitóris, de cima a
baixo. Fechei meus olhos e gemi, colocando minha mão em sua
cintura e rebolando de leve, fazendo a fricção ficar mais forte. A
cabeça do seu pau fez um círculo completo no meu clitóris e, então,
desceu, parando na minha entrada.
— Quero tanto foder você, Kiara! Eu sei que quando entrar
nessa boceta não vou querer sair mais! — rugiu, forçando de leve a
cabeça na minha entrada.
— Dominick! — gemi, abrindo os olhos e abaixando-os para
ver o que ele fazia.
Quase gozei apenas com a visão do seu pau na sua mão
grande, com as veias desenhadas em alto relevo, deixando tudo
ainda mais cru e excitante. Vi quando conduziu seu membro até
meu clitóris novamente e moeu a cabeça ali, contornando meu
nervo duro de excitação.
Mordi o lábio para não gritar e apertei mais sua cintura,
puxando-o para mim e rebolando no seu membro, esfregando minha
boceta na cabeça do seu pau, sentindo o prazer invadir cada poro
do meu corpo. Gemi baixinho e Dominick puxou minha cabeça com
a mão livre.
Seu rosto estava fechado, sério demais, com os olhos duros
concentrados nos meus. Ofeguei e ele olhou para os meus lábios,
dizendo rouco:
— Estou viciado na porra da sua boca! Não posso apenas
olhar, tenho que provar de novo e de novo...
Atacou minha boca com força, enfiando a língua com
violência. Cheguei a sentir o gosto metálico do sangue e isso só me
fez gemer mais, beijando-o com a mesma paixão, voltando a
esfregar meu clitóris em seu pau.
Minhas pernas tremeram e eu finquei a unha em sua cintura,
por cima do terno, sentindo meu orgasmo surgir. Ele rodeou a
glande em meu clitóris molhado e pressionou, esfregando-o de cima
a baixo, me fazendo gritar seu nome em meio aos seus lábios. Não
consegui conter e gozei, sentindo minha boceta pulsar com força,
enquanto eu me esfregava mais nele e o beijava, mesmo
necessitando de ar.
Dominick rugiu em minha boca e se afastou um pouco,
respirando fundo e parando de apertar seu pau contra mim. Olhou
em meus olhos e vi uma força tão grande em seu olhar, uma
necessidade tão forte, que eu quase ofeguei. Ele parecia gritar algo
que eu não conseguia entender, mas que também não podia me
afastar.
— Eu preciso gozar — falou e eu ao menos pensei, apenas
me ajoelhei a sua frente e olhei para o seu membro que brilhava,
molhado pela minha excitação.
O toquei de leve, de cima a baixo e aproximei minha boca,
beijando a glande. Vi de relance Dominick jogar a cabeça para trás
e fazer carinho em minha cabeça. Excitada, toquei seu membro com
a língua, começando à parte debaixo e parando na cabeça, antes de
colocá-lo na boca.
Dominick gemeu e eu sorri, orgulhosa por estar indo pelo
caminho certo. Seguindo meu instinto, suguei seu pau levemente,
aumentando a carícia e tentando levá-lo ao máximo para dentro da
minha boca, mesmo sabendo que ele era grande demais e que eu
jamais conseguiria tê-lo todo ali dentro.
— Isso... — gemeu, voltando a me olhar e movimentar o
quadril. — Que porra de boca gostosa, Kiara... Vai mamar todo o dia
no meu pau.
Quis sorrir, mas ele empurrou o pau com força para dentro da
minha boca, golpeando minha garganta. Quase engasguei, mas ele
tirou rápido e segurou minha cabeça, fazendo-me olhá-lo.
— Vai chegar uma hora que eu vou enfiar meu pau todo na
sua boca, vou foder o fundo da sua garganta, Kiara. Mal posso
esperar por isso — rugiu, puxando o pau e deixando apenas a
glande em minha boca. — Chupa direitinho, baby, só a cabeça.
Contornei a glande com a língua e me concentrei nela,
chupando-a com força. Por instinto, toquei em suas bolas e o vi
respirar mais forte, o olhar concentrado no que eu estava fazendo.
— Pare de respirar e abra a boca — mandou, tão sério que
nem parecia que estava sendo chupado.
Obedeci e parei a respiração, abrindo a boca para ele. Sem
alterar o olhar em mim, Dominick empurrou o pau com tudo,
chocando-se em minha garganta e me penetrando. Tentei tossir,
engasgando, mas ele entrou e saiu três vezes antes de puxar o pau
todo para fora e me deixar respirar. Pensei em matá-lo, senti
vontade de fazer isso, mas ele puxou minha cabeça para cima e se
abaixou, beijando minha boca.
Poderia ter mordido a língua dele por ter me feito engasgar,
mas ele me beijou com tanto carinho que não consegui executar
meu plano. Quando se afastou, acariciou o meu rosto e sorriu de
lado.
— Você é uma boa menina, Kiara... — falou, levantando-se.
— Logo você se acostuma com isso e não vai engasgar mais. Agora
chupa só a cabeça do meu pau, vou gozar bem gostoso para você.
Excitada, peguei seu membro em minha mão e voltei a
chupar a glande, que tinha um gosto levemente salgado pelo líquido
do pré-sêmen. Vi Dominick relaxar e senti seu pau pulsar em minha
boca, crescendo ligeiramente, enquanto o sugava com força.
— Isso, Kiara... — rugiu e segurou minha cabeça com as
duas mãos, começando a gozar para mim.
O primeiro jato me assustou, mas logo veio o segundo e o
terceiro e eu não parei de chupar, engolindo tudo o que ele estava
me dando. Meu nome saía de sua boca em tons variados entre
rouquidão e rugido e quando ele parou de gozar, continuei a chupar
seu pau até deixá-lo sair da minha boca, limpo e semiereto.
— Você é incrível! — Dominick falou, me ajudando a ficar de
pé.
Ajeitou minha roupa e a sua e, então, olhou em meus olhos,
tocando em meu rosto.
— Ah, Kiara... Quando eu puder fazer tudo o que eu quero
com você...
— E o que você quer fazer?
— Em breve você saberá.
Ele sorriu e me beijou novamente, selando toda a nossa
loucura. No final, percebi que aquela paixão louca sempre iria tomar
a frente dos meus problemas e minhas dúvidas.
Só me perguntava se tudo aquilo seria bom para mim.
Capítulo 15

“Você está tão maravilhosa em seu vestido


Eu amo seu cabelo desse jeito

Caso esta seja a última coisa que eu veja


Quero que saiba que você é o suficiente para mim”
(Tenerife Sea, Ed Sheeran)

Dominick

Um mês depois...

Nem os apertos de mãos que eu era obrigado a dar e nem o


burburinho das pessoas ao redor eram capazes de desligar a minha
atenção da porta a alguns metros na minha frente.
Cumprimentei algumas pessoas com um aceno breve de
cabeça, vi de relance um fotógrafo tirar foto de mim e, nervoso como
nunca pensei que ficaria, coloquei minhas mãos para trás e engoli
em seco, aparentemente calmo, mas sentindo um vulcão prestes a
entrar em erupção dentro de mim.
— Ela não está demorando muito? — Me ouvi perguntar para
Dimir antes de conseguir me conter.
Ele riu e bateu de leve nas minhas costas, me fazendo conter
um xingamento.
— Parece que os papéis se inverteram, não é, primo?
Lembro-me muito bem que você ficou se divertindo à minha custa
quando eu estava nessa mesma situação. — Balançou a cabeça,
me olhando. — Quem diria... Nunca imaginei que ficaria nervoso,
Dominick.
— Não estou nervoso... Só não gosto de ficar aqui, em pé,
tendo que apertar a mão de todo mundo com um flash pipocando a
cada cinco segundos na minha cara! Pensei que Kiara não fosse do
tipo de noiva que atrasava.
— Toda noiva se atrasa. Parece que tem um dispositivo nelas
que as fazem chegar meia hora depois do horário marcado.
— Meia hora depois? — perguntei, assustado. Kiara estava
atrasada há menos de dez minutos e eu já estava quase desistindo
daquele casamento. Se ela se atrasasse mais, não sabia o que eu
era capaz de fazer. — Você só pode estar brincando, Dimir!
— Claro que estou brincando, Nick.
Vi Dallah terminar de cumprimentar o padre e o arcebispo e
se aproximar. Ela estava muito bonita em um vestido rosa longo e
os cabelos presos e sorriu para Dimir quando ele a abraçou.
— Vamos nos preparar... A noiva chegou.
Senti meu coração saltar mais rápido com aquelas simples
palavras e cerrei o maxilar, ficando irritado. Que porra estava
acontecendo comigo? Nunca pensei que ficaria nervoso no dia do
meu casamento, na verdade, nunca pensei que eu iria casar e agora
estava com o coração acelerado em antecipação.
Certamente era culpa de Kiara. Na verdade, ela era a única
culpada de tudo que vinha me acontecendo ultimamente. Cada
sentimento estranho que me golpeava, cada irritação e cada sorriso
era por culpa dela. Ela sabia mexer comigo como ninguém nunca
mexeu. Cheguei até mesmo a pensar que eu estava me
apaixonando, pelo menos, quando Dimir descreveu sua paixão por
Dallah há anos atrás, foi algo parecido com o que eu estava
sentindo.
Mas eu sabia que não era. Eu não estava me apaixonando,
tinha plena certeza.
Vi de soslaio quando Dimir e Dallah ocuparam seus lugares
no púlpito, um pouco atrás do padre. Os convidados se dispersaram
e foram para os seus lugares e os fotógrafos e câmeras que foram
permitidos estarem dentro da igreja, se posicionaram para pegar o
melhor ângulo de Kiara.
Respirei fundo e me obriguei a voltar a ser o Dominick
dominante e centrado que sempre fui, mas o som da marcha nupcial
me dispersou.
E a imagem da porta se abrindo para Kiara entrar me deixou
totalmente paralisado.
Ela estava... perfeita.
Arthur segurava a mão dela, usando um uniforme militar
parecido com o meu. Vinha andando confiante e com um sorriso no
rosto, olhando para todo mundo que se levantava para vê-los entrar.
Kiara vinha até mim com um sorriso lindo. Seu vestido de
noiva era lindo, com mangas compridas de renda desenhadas. Seu
cabelo que eu tanto amava estava solto, mas o véu comprido que
ela usava me impedia de ver com clareza. O vestido branco se
estendia até seus pés, elegante, deixando-a linda para mim Para,
finalmente, ser minha esposa.
Depois do que pareceu ser horas, eles chegaram perto do
altar e eu fui a seu encontro. Arthur riu para mim e Kiara se abaixou,
beijando sua testa e sussurrando algo em seu ouvido, que o fez
sorrir mais. Depois ele se virou e estendeu a mão para mim, para
que eu apertasse.
Me perguntava se ele realmente tinha cinco anos.
— Pronto, tio Nick. Fui um homenzinho que nem você pediu.
— Estou muito orgulhoso — falei, apertando sua mão.
Ele sorriu e saiu da minha frente. Sabia que tinha ido para o
lado de Dallah e que ela provavelmente estava sorrindo como uma
boba, mas não consegui desviar meu olhar de Kiara para comprovar
meus pensamentos. Ela me puxava para si com aqueles olhos tão
azuis quanto um dia de verão e, dentro de mim, eu sabia que só
queria me jogar e aproveitar aquela vida com ela, deixando para trás
tudo o que eu era e tudo o que eu tinha feito.
Não que eu me arrependesse de qualquer coisa. Eu não me
arrependia de nada.
Toquei em seu rosto de leve e com a mão livre peguei sua
mão que não segurava o buquê levando-a aos meus lábios,
beijando docemente. Ela era a personificação da beleza e da
perfeição em forma de noiva. E era toda minha.
— Você está perfeita — murmurei, antes de levá-la até o
altar.
Nos ajoelhamos em frente ao padre e eu não consegui soltar
sua mão em nenhum segundo, sentindo o calor de sua pele perto da
minha. Era muito mais que desejo ou vontade de tocá-la. Era a paz
que se instalava dentro de mim quando ela estava ao meu lado, o
sentimento bom que me invadia quando ela me deixava tocá-la
daquela forma.
Era tudo o que ela me fazia ser quando apenas olhava para
mim.
Ouvi o Padre Harry começar a falar algo sobre o amor como
principal alicerce de um casamento feliz, mas não consegui me
concentrar nas palavras. Apesar de ter me obrigado a desviar os
olhos de Kiara e encarar o padre, minha mente voava para o último
mês que passamos juntos, lado a lado, sem nenhum tipo de
discórdia ou brigas.
Foi o mês mais feliz da minha vida.
Apesar da correria com os preparativos com o casamento,
minhas ocupações com reuniões com Chefes de Estado, não nos
afastamos. Aprendi a controlar um pouco mais as palavras arredias
que vinham à minha mente de vez em quando e senti crescer dentro
de mim a verdadeira necessidade de estar perto de alguém. Algo
que nunca senti antes por nenhuma outra pessoa.
Sair do palácio era como deixar uma parte de mim para trás e
quando eu voltava, era como reencontrar essa parte e ficar
completo novamente. E essa parte era Kiara e seus sorrisos, seus
beijos, seu corpo. Apesar de não termos dormido juntos em nenhum
daqueles dias e eu ter feito um acordo comigo mesmo em não tocá-
la mais até a lua de mel, me vi satisfeito em apenas vê-la ou
contemplar seu sorriso. Poder parar e ouvir sua empolgação com
algo do casamento ou como foi o seu dia.
Nunca havia me imaginado naquela situação. O que poderia
parecer normal para a maioria das pessoas do mundo, para mim era
algo estranho, algo que nunca desejei. Nunca convivi com
demonstrações de afetos tão explícitos. Tudo começou com Dimir e
Dallah, quando os convidei para morar no palácio pouco antes de
Arthur nascer.
Via seus beijos e abraços, a forma como se olhavam e
achava aquilo desnecessário. Me perguntava como eles
conseguiam sentir aquele tipo de afeto um pelo outro, não
conseguia entender, mas agora eu sabia. Eu sabia exatamente
como era. O tipo de sentimento que te prendia a pessoa, algo difícil
de dominar e controlar.
Estaria mentindo se dissesse que não tentei impedir toda
essa avalanche de sensações. Na verdade, eu continuo impedindo.
Quando ameaça crescer demais, eu me obrigo a parar e fechar,
quando me sinto sufocado em uma reunião e minha mão coça para
tocar a pele de Kiara ou ao menos ligar para ela e ouvir sua voz —
coisa que eu vinha fazendo com uma frequência maior do que
necessária —, eu me obrigava a parar e analisava tudo aquilo.
Gritava para mim mesmo que não era aquele nome... Não
era paixão, como tinha pensado no dia em que a beijei pela primeira
vez. Eu não iria me apaixonar por ela, eu estava apenas me
apegando. E aprendendo devagar que não deveria jogar nela
palavras cruéis por causa de algo que eu não conseguia controlar,
apesar de ser culpa dela, já que ela me tocava de uma forma que
ninguém nunca tocou.
— De acordo com a Bíblia Sagrada, o casamento...
Pisquei quando a voz do padre voltou a penetrar meus
ouvidos e tentei me situar na cerimônia. Olhei de relance para a
imagem de Jesus pregado na Cruz atrás do Padre Harry, a imagem
da Ave-Maria ao seu lado e engoli em seco ao pensar que no andar
de baixo daquele mesmo lugar, meu pai e minha mãe estavam
enterrados.
Pelo menos, agora meu pai poderia descansar em paz.
Orleandy teria a tão sonhada rainha que ele tanto me pedia
enquanto ainda era vivo.
Desviei meu olhar para Kiara e a flagrei me observando. Não
sorria, mas estava serena e tinha um olhar dócil, como se soubesse
exatamente o que eu estava pensando ou sentindo. Sentia vontade
de perguntar a ela que tipo de maldição havia jogado em mim, que
havia me chamado atenção desde a primeira vez que a vi, mas me
contive e desviei meu olhar para o padre quando ouvi meu nome ser
chamado.
— Dominick, o senhor pode fazer seus votos para sua noiva
agora.
Me virei para Kiara e peguei a aliança que o padre me
estendia na almofada. Toquei em sua mão esquerda e olhei em
seus olhos. Ela sorriu novamente, como se me desse força e eu
tentei me lembrar de palavra por palavra das coisas que Dimir havia
pesquisado para mim. Coisas para se dizer em um casamento. Não
me lembrei de nada, minha mente em branco, mas me mantive sério
e dono de mim mesmo quando abri a boca e comecei a falar coisas
que eu nem mesmo sabia de onde estavam vindo:
— Kiara, com essa aliança eu te desposo e prometo diante
de Deus fazer de ti a mulher mais feliz do mundo. Prometo te
respeitar, cuidar de você, te manter sempre segura e com esse lindo
sorriso no rosto — falei, olhando de relance para Arthur, que ergueu
os olhos para mim e sorriu sapeca. — Prometo ser fiel, estar ao seu
lado em todos os momentos e te apoiar em cada passo que dará,
porque agora a sua vida também é minha e juntos escreveremos
nossa própria história, com amor e felicidade, até o fim dos nossos
dias.
Terminei de colocar a aliança em seu dedo e beijei em cima
do anel sem tirar meus olhos dos dela. Seus olhos brilharam e eu
senti a porra do meu coração ser nocauteado mais uma vez.
— Kiara, a senhorita pode fazer os seus votos.
Vi quando ela pegou a aliança na almofada e senti quando
tocou em minha mão esquerda. O aro frio do anel de ouro circulou a
ponta do meu dedo anelar e ela voltou a olhar para mim,
começando a falar:
— Dominick, com essa aliança eu te desposo e prometo a
você ser fiel, prometo cuidar de ti e me empenhar ao máximo para
fazer de você o homem mais feliz do mundo. Prometo te apoiar, te
guiar a ser um homem ainda melhor do que você já é. Entrego a
você meu coração, para que junto ao seu possamos trilhar um
caminho de paz e felicidade, com muito amor e respeito, até o fim
dos nossos dias.
Até o fim dos nossos dias.
A imagem de Kiara ao meu lado até o final da minha vida veio
com força na minha mente. Algo tão real, tão bonito e singelo que o
sorriso nasceu em meu rosto antes que eu pudesse conter. Vi o
momento em que o sorriso dela se expandiu ainda mais, seus olhos
brilhando e suas bochechas coradas, me fazendo enxergar que eu
queria aquilo, eu queria viver com ela para sempre, até o dia em que
eu partisse.
Ali, eu vi que poderia ter feito muita coisa errada na minha
vida. Talvez fui arrogante demais com todos, bruto demais com
algumas pessoas, impessoal demais com todas as submissas que
já me envolvi, mas soube que trazer Kiara para o meu lado foi a
decisão mais importante e sensata que eu já havia tomado. Tê-la ao
meu lado para sempre jamais seria um erro.
Tê-la ao meu lado agora era parte real da minha vida, da
minha própria existência.
— Sendo assim, com o poder concedido a mim, eu os
declaro marido e mulher — Padre Harry recitou, olhando-nos. —
Pode beijar a noiva.
Olhei para aqueles dois pedaços do céu que eram os olhos
dela e toquei em seu rosto, sentindo sua pele macia na ponta do
seu dedo. Estava levemente maquiada, o batom rosa claro
combinando com ela. Senti quando soltou um suspiro inaudível
quando me aproximei e toquei em seus lábios com os meus,
gravando em minha mente o momento em que ela fechou os olhos e
se entregou a mim, beijando-me pela primeira vez como minha
esposa.
Minha para sempre.

***

— Está feliz? — perguntei assim que o carro deu partida para


o salão do palácio, onde seria realizado a nossa festa.
O céu estava limpo para aquele meado de primavera no final
do mês de maio, combinando perfeitamente com aquela data tão
importante. Ao analisar tudo aquilo vi o quanto eu estava sendo
ridículo, me importando demais com um casamento que eu nem
queria, mas não me arrependi. Até porque, pela primeira vez na
minha vida, eu poderia falar que estava feliz.
— Muito feliz. E você?
— Mais do que imaginei que poderia me sentir um dia —
confessei, passando a ponta dos dedos pelo rosto dela. — Você é a
noiva mais bonita que eu já vi.
— Você também é o noivo mais bonito que eu já vi e eu gosto
muito de toda essa roupa que está usando, com pequenas
medalhas e símbolos... — falou, tocando em meu terno militar,
herança de meu país. E então, olhou rapidamente para o motorista,
voltando para mim com as bochechas coradas. — Você está muito
sexy.
— Estou? — indaguei, passando meu polegar levemente em
seus lábios, aproximando meu rosto do dela. — Espero que esteja
preparada para a noite de hoje, Kiara... — murmurei, esfregando
meu nariz em seu pescoço, subindo até a orelha. — Faltam poucas
horas para você ser minha completamente, de corpo e alma.
— De alma eu já sou... — ela sussurrou em meu ouvido,
tocando em meu ombro com as duas mãos. — Eu entreguei minha
alma e meu coração para você naquele altar, Dominick, sou toda e
completamente sua.
Me afastei um pouco e olhei em seus olhos, vendo a verdade
neles. Sorri de lado e toquei em uma mecha de seus cabelos agora
sem o véu.
— Eu também me entreguei a você, Kiara. Somos apenas
um.
— Para sempre?
— Para todo o sempre — prometi, beijando seus lábios
novamente, sem nunca me cansar deles.

***

Quando chegamos ao Salão todos já estavam lá, os


convidados se levantaram quando chegamos e bateram palmas,
jogando pétalas de rosas porque a única coisa que eu exigi era que
não me jogassem arroz. Segundo Dimir aqueles grãos entravam em
cada brecha do nosso corpo e aquela não era uma situação que eu
gostaria de provar.
Lembro-me de que quando falei isso para Kiara ela
gargalhou, graciosa, jogando a cabeça para trás. Sua risada ecoava
por todo o meu escritório e eu havia ficado fascinado. Era o som do
paraíso para os meus ouvidos.
— Enfim, casados! — Dallah falou, se aproximando.
Abraçou Kiara com força e eu fiquei satisfeito ao ver o quanto
haviam ficado amigas. Pelo menos, Kiara não ficaria sozinha. Vi
quando ela se aproximou de mim, meio incerta. Eu apenas ergui
minha sobrancelha e olhei para ela, indagando-me sobre o que ela
iria fazer, quando ela deu de ombros e se aproximou de mim,
rodeando meus ombros com seus braços.
— Não reclame! Eu gosto de você apesar de tudo, Nick...
Quer dizer, Dominick e vou te abraçar nesse momento importante!
— falou ao meu ouvido, me apertando. — Cuide bem de Kiara. Se
você a magoar, eu juro que corto o que você tem no meio das
pernas! — ameaçou e se afastou, sorrindo. — Sejam felizes, meus
queridos.
Kiara sorriu para mim, achando graça daquilo e apertou
minha mão, me olhando.
— Ah, sim... Obrigado, Dallah — falei, vendo Dallah sorrir
ainda mais. — Na verdade, obrigado por tudo.
— Não precisa agradecer. Só tenham filhos, por favor!
Rápido, porque quero sobrinhos.
— Dallah, por favor... Acabamos de nos casar! — falei,
assustado.
— Eu já casei grávida porque sou rápida, querido. — Ela
piscou e se afastou quando uma das convidadas a chamou.
Kiara ria ao meu lado, relaxada e feliz. Seu estado de espírito
me inspirava e me virei para ela, tomando-a em meus braços,
perguntando-me se viveríamos daquela forma leve para sempre.
— A festa já pode acabar... Estou louco para levá-la para o
meu quarto.
— Dominick! Você só pensa em sexo! — exclamou, rindo.
— Quando eu te comer e te fizer gozar bem gostoso, você
também só pensará em sexo... — sussurrei, beijando o rosto dela
até chegar na orelha. — Ah, Kiara, eu tenho tanta coisa para te
ensinar...
Senti o corpo dela estremecer em meus braços e estava
pronto para falar mais putaria em seu ouvido quando ouvi a voz do
organizador da festa, pedindo para que todos se sentassem porque
o jantar seria servido.
Com muito custo me afastei de Kiara e fomos até mesa
reservada a nós, junto a Dallah, Dimir e Arthur, que estava todo
bobo porque várias moças na festa haviam dito que ele estava lindo
ao lado de Kiara. O sorriso dele ia de orelha a orelha, me levando a
crer que eu não era o único que estava feliz ali, todos estavam
felizes também. Felizes de verdade, o que era muito diferente de
tudo o que eu já havia vivido até então.
O jantar foi servido e logo depois a sobremesa. Vi Robin ao
longe sentado à mesa de algumas convidadas e agradeci
mentalmente por ter tido a decência de não ser inconveniente
naquele dia em especial. A última coisa que eu queria era que
estragassem a minha festa de casamento.
As horas avançaram e eu me permiti rir ao ver tanta mulher
junta atrás de Kiara na hora de jogar o buquê. Era incrível como as
mulheres eram desesperadas para ser a próxima noiva. Uma das
convidadas foi a sortuda e elas se afastaram tentando manter a
classe, o que era difícil depois de ter pulado atrás do buquê quando
ele voou no ar.
Posei com Kiara para algumas fotos que sairiam no dia
seguinte nos jornais mais importantes do mundo. Dançamos a valsa
e o momento em que a tive em meus braços me deu muito o que
pensar.
Por qual caminho minha vida estava seguindo naquele
momento? Onde estava o Dominick que não se envolvia e não tinha
todas aquelas emoções? Onde estava o Dominick que não sorria
nunca?
Porque aquele Dominick que tinha uma linda noiva nos
braços estava feliz, estava leve, estava sorrindo e não era culpa do
vinho e champanhe que havia tomado durante a festa. A culpa era
dela. Daquela menina de olhos azuis e cabelos avelãs que me
olhava como se eu fosse o centro do seu mundo.
Mal sabia ela que ela estava começando a ser o centro do
meu mundo também.
Quando finalmente a maioria dos convidados foram embora,
Kiara e eu entramos no carro e fomos em direção ao palácio. Dallah,
Dimir e Arthur iriam passar o final de semana em Crambing, cidade
litorânea de Orleandy e o castelo seria todo meu e de Kiara.
Sorri com o pensamento e chegamos minutos depois. Desci e
a ajudei a descer, entrando em casa em seguida. Fomos em direção
ao elevador e entramos, esperando-o nos levar ao terceiro andar,
onde ficava o meu quarto. Não conseguia tirar meus olhos dela e
nem ela conseguia deixar de me fitar, suspirando quando o elevador
parou e a porta se abriu.
Saímos de mãos dadas e eu abri a porta do meu quarto,
parando e me abaixando, pegando-a no colo de surpresa. Ouvi sua
risada deliciosa e ri junto, entrando em meu quarto com o pé direito,
me perguntando porque diabos eu estava tão supersticioso de
repente.
Mas quando a coloquei no chão e a virei para mim, tudo ao
redor sumiu. Todo o pensamento, toda a diversão, toda a
descontração. Éramos finalmente apenas eu e ela, no meu quarto,
livres, e eu poderia fazer com ela o que eu quisesse. Senti meu
sangue ferver, meu coração bateu rápido e eu sorri, elevando uma
sobrancelha ao olhá-la de cima a baixo, louco para colocar em
prática tudo o que eu vinha tramando durante aquele mês inteiro
longe do corpo dela.
— Espero que esteja preparada, baby... — murmurei,
chegando perto dela, mas sem tocar em seu corpo. — Porque
iremos começar, mas não temos hora para acabar.
Ela suspirou e eu travei o maxilar, sentindo minha mão coçar
e meu pau se retorcer dentro da calça.
Kiara finalmente seria minha.
Capítulo 16

“Ponha seus lábios abertos sobre os meus, os feche devagar


Pois eles foram feitos para estar juntos
Com seu corpo no meu, nossos corações batem como um
E estamos iluminados, somos um amor em chamas”
(Afire Love, Ed Sheeran)

Kiara

Respirei fundo, sentindo um arrepio atravessar minha


espinha com a voz grave de Dominick ainda ecoando em minha
mente. Ele lambeu os lábios, me olhando como se eu fosse o
pedaço de carne mais suculento que já havia visto.
— Vire-se.
Obedeci antes mesmo de pensar em falar algo, virando-me
de costas para ele. Senti sua respiração em meu pescoço e suas
mãos subindo pela lateral do meu corpo que já tremia em
antecipação. Olhei ao redor, obrigando-me a parecer uma pessoa
sã, observando como seu quarto não tinha um toque mais pessoal,
apesar do seu cheiro estar impregnado em cada canto daquele
lugar.
Tons de marrom predominavam os móveis e o papel de
parede. Sua cama era enorme, algo que nunca havia visto até
então, com quatro colunas de madeira grossa e imponente. Estava
arrumada com lençóis de seda preto que brilhava com a fraca luz
dourada que iluminava o quarto. Janelões de vidro que iam do chão
ao teto me mostrava o lado de fora do palácio. Apesar de estar
escuro, sabia que a visão dali deveria ser de tirar o fôlego, com os
morros verdes ao longe.
— Não quero que preste atenção no quarto, Kiara... Quero
que preste atenção em mim! — falou com a voz grave em meu
ouvido, puxando-me até meu corpo se encostar ao dele. — Quero
que sinta meu toque, quero que ouça a minha voz e meus
comandos... Quero que se entregue totalmente.
Senti o zíper do meu vestido de noiva ser abaixado
lentamente e fechei os olhos, sentindo a respiração de Dominick em
minha pele e seu cheiro entrando por minhas narinas. Quando o
zíper parou na minha cintura, senti suas mãos tocarem em meus
ombros, descendo as mangas do meu vestido pelo meu braço até
ele se acomodar em minha cintura. Suas mãos quentes e grandes
se acomodaram em minha barriga e subiram lentamente até chegar
aos meus seios, onde ele tocou os mamilos com a ponta dos dedos
sem cerimônia, fazendo um gemido escapar por meus lábios.
— Agora eu posso fazer o que quiser com você, Kiara...
Posso te tocar, te beijar, chupar sua boceta e até mesmo te prender
na parede do meu escritório com o meu cinto — sussurrou em meu
ouvido, torcendo meus mamilos e me fazendo estremecer. — Você
é minha, anjo... Para cuidar, tocar, amar e foder sempre que eu
quiser. Pelo resto da nossa vida.
Pensei em contrariá-lo, mas ele beliscou e puxou meus
mamilos com força, soltando-os de repente, me fazendo gritar e
esquecer de qualquer coisa que passava por minha cabeça. Com
pressa, suas mãos seguraram meu vestido e o puxou para baixo,
deixando-me apenas com a meia de seda branca que ia até o meio
da minha coxa e minha calcinha de renda da mesma cor, presente
de Dallah para a lua de mel.
Confesso que senti vergonha quando vi aquele pedaço de
pano que ela chamava de calcinha, mas agora, sentindo a
respiração de Dominick próximo a minha bunda, eu me sentia
excitada e molhada. Queria olhá-lo, mas me contive ao ficar de
costas e soltei um grito quando senti seus dentes prender uma das
minhas nádegas, mordendo forte.
— Dominick! — gritei, tentando escapar, mas suas mãos
seguraram a minha cintura e me prenderam no lugar.
Quase esperneei com a dor, mas ele parou de morder e
beijou o lugar que ardia e palpitava, como se meu coração batesse
ali. Sem me conter, olhei para trás e a visão de tê-lo ajoelhado atrás
de mim, segurando minha cintura com força, com os olhos fechados
e os lábios em minha bunda me fez estremecer.
— Você é deliciosa... — murmurou, abrindo os olhos e
olhando diretamente para mim. Sem desviar seu olhar possessivo,
lambeu minha pele onde havia mordido e beijado.
— Não morde!
Ele parou o que estava fazendo e me olhou com as
sobrancelhas arqueadas, sério.
— Eu faço o que eu quiser.
Me olhou como se fosse o dono do mundo e mandasse em
tudo, antes de mostrar seus dentes brancos afiados para me morder
de novo, em minha outra nádega. Gritei e esperneei de verdade,
levando minhas duas mãos até a sua cabeça, mas sendo restringida
quando ele segurou as duas e as prendeu nas minhas costas,
segurando-as ali.
Parou de morder e beijou, depois lambeu e então mordeu
mais acima, segurando minha carne com os dentes em um aperto
forte, fazendo meu sangue se concentrar ali e em todas as partes
que já haviam sido mordidas. Sem parar ou ligar para os meus
apelos, que agora não passavam de gemidos, ele subiu e mordeu a
ponta do meu dedo anelar, passando a língua de leve por ali.
Não podia negar que seu ataque estava mexendo comigo,
mexendo mais do que deveria. Quando ele entrou comigo no colo
naquele quarto, pensei que faríamos amor, não que eu seria
mordida e lambida, mas eu estava além de chocada. Estava
excitada. Terrivelmente excitada.
Meu corpo tremeu mais uma vez quando ele mordeu meu
dedo médio e depois lambeu. Minha calcinha ficou ainda mais
molhada quando ele terminou de morder cada um dos meus dedos
e subiu por minhas costas, mordendo com força acima do meu
cóccix e sugando a pele logo em seguida, subindo com mordidas e
chupões por toda a minha coluna, me fazendo estremecer e gemer
sem controle.
Minha carne queimava e estava dolorida, mas nada se
comparava com o apertar incessante das minhas paredes vaginais,
ou com o peso dos mamilos por conta da excitação absurda que
atacava meu corpo naquele momento. Era algo que ia além de
qualquer explicação.
Quando ele chegou a minha nuca, levou a mão que segurava
a minha cintura até os meus cabelos, segurando-os em um rabo de
cavalo no alto. Aproveitou minha pele exposta e chupou minha nuca
com força, indo até a lateral do meu pescoço e sugando forte. Meus
joelhos fraquejaram e Dominick largou minhas mãos, segurando-me
pela barriga rapidamente e encostando meu corpo nele.
Daquela vez eu gemi, mas não foi por conta dos chupões que
me dava e sim por conta de sua ereção que pressionou com força
acima da minha bunda. Sua respiração controlada e o modo como
me olhava quando eu me atrevia a olhar para trás não denunciavam
a forma como ele também estava excitado com aquilo que fazia em
mim.
Saber que o afetava àquele ponto me deixou satisfeita, mas
começava a me perguntar quem era mais louco ali. Ele por me
morder e se excitar com aquilo ou eu por deixar, gostar e me excitar
com aquilo também.
— Minha... — sussurrou, passando os lábios pela lateral do
meu pescoço até subir para minha orelha. — Minha, só minha...
Minha Kiara...
— Só sua, Dominick... — murmurei em resposta, encostando
meu rosto em seu ombro. — Apenas sua.
Ele virou o rosto para mim e me olhou nos olhos, como se
quisesse confirmar o que eu havia dito. Não desviei o olhar e me
mantive firme, invadindo os dois cativeiros castanhos que eram seus
olhos, tão intensos e vivos que pareciam falar por si só.
Os olhos são o espelho da alma.
Ouvi dentro de mim, uma voz bonita e melodiosa no fundo da
minha mente que me fez piscar com força. Era apenas uma voz e
não uma lembrança, mas mesmo assim eu tentei voltar atrás e
capitular. De quem era aquela voz?
— Kiara... — Dominick me chamou, tocando de leve o meu
rosto. — O que foi?
— Eu lembrei de uma voz...
— Lembrou?
Percebi que havia ficado mais surpreso e confuso do que eu,
mas não me ative aquilo. Ainda queria me lembrar de mais, estava
me forçando, queria um rosto e não apenas uma voz no escuro da
minha mente.
— Era a voz de uma mulher... Ela dizia que os olhos são o
espelho da alma, mas não sei quem ela é. Não me lembro do seu
rosto, apenas de sua voz ao longe.
— Impossível, o médico me assegurou que você não se
lembraria de nada! Nunca mais! — falou nervoso, se afastando de
mim.
Olhei para ele sem entender sua reação. Dominick passou as
mãos pelos cabelos e andou de um lado para o outro, consternado.
— Dominick, você deveria estar feliz por mim. Estou
finalmente conseguindo me lembrar de algo... Não foi muita coisa,
mas pode ser um bom sinal, não é?
— Bom sinal? Que porra de bom sinal, Kiara! Você não
precisa se lembrar de nada!
— Por acaso você esconde alguma coisa de mim? —
perguntei, andando até ele. Dominick parou de andar e me encarou.
Estava completamente vestido ainda, lindo, e agora com os cabelos
revoltos e os olhos queimando. — Porque essa é a única explicação
para você não querer que eu me lembre da minha própria vida,
Dominick.
Ele respirou fundo e jogou a cabeça para trás antes de me
encarar novamente.
— Eu não escondo nada de você, Kiara. — Se aproximou e
tocou meu rosto com a ponta dos dedos. Estava mais sério do que
nunca e franziu o cenho, olhando para mim. — Só fico com receio.
— Receio de quê?
— De que você crie muitas expectativas e acabe não se
lembrando de nada concreto no final de tudo, Kiara — murmurou. —
Mas não vamos estragar nossa noite com isso... Temos muito o que
fazer.
Um pequeno sorriso se abriu em seus lábios e eu sorri
também, vendo que ele estava certo. Não iria estragar minha noite
de núpcias com uma discussão que não nos levaria a nada. Com
isso em mente, tomei coragem e dei um passo à frente, tocando na
sua roupa impecavelmente passada. O paletó preto com medalhas
e símbolos de Orleandy era lindo, mas eu sabia que, naquele
momento, ficaria ainda mais bonito longe de Dominick.
Por isso, levei minhas mãos ao primeiro botão e o tirei de sua
casa, repetindo o mesmo com os outros. Dominick apenas me
olhava. Havia voltado a ficar sério e concentrado, mas aquela
expressão me fazia ficar ainda mais excitada. Ele ficava ainda mais
sexy com aquela pose de “sou o dono de tudo”.
Tirei as abotoaduras de ouro em seu pulso e logo o paletó
estava fora do seu corpo, revelando a camisa social branca que ele
vestia por baixo. Seu perfume ficou ainda mais forte quando
comecei a desabotoar a segunda blusa, vendo cada pedaço da sua
pele que era revelado para mim. Já havia o visto sem camisa antes
— até mesmo nu já havia o visto —, mas não conseguia me
acostumar com toda aquela beleza.
Dominick era alto, forte e tinha o abdômen definido, como
uma escultura esculpida a mão pelo melhor artista. Tinha traços
fortes, os músculos dos braços eram demarcados, as veias
alteradas em seus braços e suas mãos grandes completavam o
pacote. Seu rosto era um caso à parte, tão lindo que era impossível
de desviar o olhar, com aquelas sobrancelhas castanhas um tanto
franzidas em cima de seu olhar duro e sério, seu nariz afilado e seus
lábios bem desenhados.
Quando tirei a camisa dele e coloquei a mão no cós da sua
calça social, soube que uma das partes mais bonitas dele estava
prestes a aparecer também. Senti minha calcinha ficar ainda mais
úmida com a ansiedade de vê-lo totalmente nu, mas Dominick
segurou minhas mãos antes mesmo que eu pudesse desabotoar
sua calça. Olhei para ele sem entender e recebi seu sorriso sacana
como resposta.
— Está com pressa?
— Estou. Vai me fazer implorar? — perguntei, olhando-o em
desafio.
Dominick sorriu e balançou a cabeça, negando.
— Não. Hoje é a nossa noite de núpcias, é a sua primeira vez
e quero ser gentil — murmurou, tocando meu queixo com a ponta
dos dedos. — Depois você terá a vida inteira para me implorar pelo
que você quiser, Kiara.
— Você é muito convencido.
— Eu posso ser o que eu quiser, baby. — Sorriu de lado e se
afastou, olhando para todo o meu corpo. — Tire a calcinha.
Lambi os lábios e levei minhas mãos até as laterais da minha
calcinha, tirando-a e deixando-a no chão assim como o meu vestido
que estava a alguns passos de mim, no meio da suíte de Dominick.
Vi seu olhar se tornar ainda mais vivo e a marca do seu pau ereto
ficar ainda mais pronunciada na calça. Ele passou o polegar pelo
lábio inferior e voltou a olhar nos meus olhos, enquanto toda a sua
força abalava minhas estruturas.
— Vá até a cama, sente-se e se encoste nos travesseiros.
Não tire os sapatos.
Fiz o que pediu e caminhei até sua cama gigantesca, que
tinha seu cheiro nos lençóis frios de seda. Me ajoelhei e fui até a
cabeceira, me sentando de frente para ele, que agora estava aos
pés da cama, bem próximo de mim.
— Confortável?
— Sim.
Dominick desceu as duas mãos pela barriga trincada e foi até
a calça, desabotoando-a. Antes de tirá-la, se desfez dos sapatos e
das meias, voltando a atenção para a calça preta e tirou-a por
completo. Usava uma cueca boxer branca que quase estourava por
conta da sua ereção gigantesca, que parecia uma coluna
demarcada pelo tecido.
— Está excitada, Kiara?
— Estou — respondi em um sussurro.
Ele se ajoelhou na cama, longe de mim e tocou no pau
coberto pela cueca. Me olhava nos olhos e novamente constatei
que, se não fosse pela sua ereção ali, na minha frente, jamais
imaginaria que estivesse tão excitado. Invejava seu autocontrole.
— Então ofereça sua boceta para mim.
Ofeguei com a forma tão direta e mordi o lábio, sem saber
realmente o que fazer. Ele continuou ajoelhado na minha frente,
longe o suficiente para me tocar e perto o bastante para me
observar. Seguindo meus instintos, afastei meus pés, sentindo os
saltos se fincarem na cama e joguei minhas pernas para os lados,
ficando totalmente exposta para ele.
— Afaste os lábios com a ponta dos dedos. Quero ver o
quanto está molhada.
Obedeci e senti o cheiro da minha própria excitação subir até
as minhas narinas. Minhas bochechas ficaram quentes de vergonha,
mas Dominick não olhava para meu rosto e sim para minha
intimidade ali, toda exposta para que ele pudesse observar
detalhadamente.
— Chega a estar brilhando de tão molhada, Kiara... — falou,
se aproximando rapidamente. Parou na minha frente, levantando os
olhos até encarar os meus. — Reclamou das minhas mordidas, mas
estou vendo que, na verdade, você estava gostando bastante.
— Mas estava doendo.
— Existe prazer na dor, Kiara — respondeu, descendo o
dedo indicador até o meu clitóris. — A prova está aqui, no modo
como você se excitou a cada vez que meus dentes prendiam a sua
pele e minha língua provava a sua carne.
Ele rodeou meu clitóris de leve e eu joguei minha cabeça
para trás, sentindo um tremor de prazer perpassar minha espinha.
Ofeguei baixinho e fechei os olhos, louca para provar todo o prazer
que ele era capaz de me dar, mas voltei a abri-los quando senti
Dominick se afastar de repente. Quando olhei para ele, vi que
estava se deitando de bruços na cama, seu rosto ficando de frente
com a minha intimidade.
— O que vai fazer?
— Já provei sua pele, seus lábios, seus seios... Agora vou
provar a sua boceta, antes de meter nela e te fazer minha.
Senti o ar deixar meus pulmões quando ele afundou o rosto
no meio das minhas pernas e passou língua aberta por toda a
extensão da minha boceta, de baixo para cima, devagar, realmente
degustando de mim. Minhas bochechas esquentaram com aquilo,
mas meu corpo agradeceu, cada pelinho se arrepiando ao sentir sua
língua quente em um lugar tão íntimo.
Sem conseguir me conter, levei minha mão aos seus cabelos
e o toquei, incentivando-o e abrindo mais minhas pernas para ele,
descobrindo finalmente o quanto aquilo era bom.
— Deliciosa — Dominick murmurou, puxando minha cintura
para baixo até minha boceta se colar em sua boca. — Vou te chupar
todo dia, porra de boceta gostosa!
Sorri com sua boca suja e pensei em comentar algo, mas
tudo ficou longe demais quando sua língua começou a se mover
mais rápido sobre o meu clitóris, para cima e para baixo sem parar,
pincelando meu nervo duro até que ele estava palpitando sozinho.
Gritei pelo seu nome em voz alta e puxei seus cabelos, mas aquilo
só pareceu avivá-lo ainda mais, fazendo-o sugar meu clitóris com
força para dentro da sua boca.
— Oh... Dominick! — gemi, fora de mim.
O barulho estalado da sua sucção pareceu deixar meu corpo
ainda mais em alerta, meu baixo ventre se enchendo com todo o
tesão que se espalhava pelo meu corpo. Sua língua pressionou
minha abertura, fazendo a pressão ficar ainda maior e, então, ele
subiu, seus dentes aprisionando meu clitóris antes de lambê-lo e
sugá-lo mais uma vez, com força, para dentro de seus lábios.
Não aguentei mais. Vi tudo rodar e fechei meus olhos com
força, chamando pelo seu nome e gritando coisas desconexas,
enquanto meu corpo começava a convulsionar e o orgasmo
explodia. Puxei os cabelos da nuca de Dominick, mas ele não se
afastava enquanto eu gozava feito louca, como ele nunca tinha me
feito gozar antes.
Meu corpo tremia, meu coração batia forte e eu puxava o ar
pela boca, sentindo o efeito do orgasmo deixar tudo em suspenso
enquanto eu retornava à Terra. Dominick havia parado de chupar
meu clitóris e lambia em volta da minha abertura, me deixando
molhada e ainda recolhendo todo o meu gozo.
Quis falar algo, mas minha garganta ardia demais por conta
de todo o esforço que fiz ao gritar e me encostei direito nos
travesseiros, fechando os olhos por um instante, sentindo meu
corpo exausto.
— Já cansou? — Ouvi Dominick perguntar ainda lá embaixo.
Sorri ainda de olhos fechados e senti seus beijos em meus
lábios vaginais ainda sensíveis. Quando passou a língua pelo meu
clitóris, estremeci.
— Você acabou comigo...
— Acabei? Mas eu ainda nem comecei.
Abri meus olhos e o vi se afastar, ajoelhando-se na cama.
Olhando para mim, levou as mãos até a cueca e a tirou, fazendo
seu pau saltar em riste, todo duro e grande demais, a cabeça grossa
e bem desenhada com uma gota de pré-sêmen brilhando na ponta.
Pensei em perguntar se tudo aquilo caberia em mim, mas me
repreendi ao ver como aquilo soaria infantil, então, apenas fiquei
quieta, ficando excitada apenas em ver o tamanho de sua ereção
para mim.
De joelhos, Dominick veio até mim e parou no meio das
minhas pernas. Tocou em seu membro de cima a baixo, expondo
ainda mais a glande e eu suspirei, sentindo minha boceta pulsar.
— Eu sou muito grande para você, Kiara. Além de ser virgem,
você, com certeza, é muito apertada, então se comporte — falou,
olhando em meus olhos. — Prometo que serei gentil e vou entrar
devagar.
Segurando a base do pênis, ele passou a cabeça por toda a
minha boceta, desde o clitóris até a entrada, pincelando tudo de
cima a baixo, até parar definitivamente na minha abertura. Senti um
arrepio de tensão passar pelo meu corpo e, então, Dominick se
abaixou, grudando a testa na minha. Seus olhos intensos estavam
dentro dos meus e eu ofeguei, sentindo meu coração pular com
força dentro do peito.
— Beije-me — pediu baixinho e eu me rendi, segurando seu
rosto com as duas mãos e colando meus lábios nos seus.
Assim que sua língua tocou a minha, ele forçou o membro em
minha entrada e me penetrou. Prendi a respiração por conta da
invasão, sua glande robusta me enchendo por inteira. Ele puxou
meu rosto com a mão livre e investiu a língua na minha boca,
desconectando momentaneamente o meu cérebro daquela parte do
meu corpo.
Voltei a beijá-lo com tudo de mim, meus olhos fechados e o
senti entrar cada vez mais, até que parou e quase saiu, entrando de
novo, forçando minha barreira que foi rompida o mais delicadamente
possível na sua terceira invasão. Uma lágrima involuntária molhou o
meu rosto, meu corpo ficou tenso e eu tentei empurrá-lo por conta
da dor que me pegou de surpresa, mas Dominick foi mais firme e se
manteve no lugar, sempre me beijando.
Ficou parado por um tempo, sua língua acariciando a minha
imóvel, meu corpo em repouso e minha boceta pulsando pela
invasão.
— Agora você é minha — sussurrou entre meus lábios e senti
seu pau pulsar dentro de mim. — Toda minha, Kiara, para sempre...
— Eu fui sua no momento em que te vi pela primeira vez —
murmurei, abrindo os meus olhos e encontrando os dele vivo dentro
dos meus. — No momento em que abri meus olhos naquele dia aqui
no castelo, eu soube que não tinha volta. Eu sou totalmente
apaixonada por você, Dominick.
Confessar aquilo me deixou tão feliz e emocionada que a
única coisa que pude fazer foi puxá-lo para mim e beijá-lo mais uma
vez. Dominick respondeu prontamente, segurando meu rosto com
uma mão e seu pau ainda com a outra, voltando a se mover
lentamente dentro de mim.
A dor não passava de alguns pontos aqui e ali e me
concentrei na sensação de finalmente tê-lo ali, fazendo amor comigo
na nossa noite de núpcias, a primeira vez mais real que eu poderia
ter, com o homem que eu estava apaixonada. Apesar dos altos e
baixos da nossa história até ali, sabia dentro de mim que eu havia
sido feita para ele e que fiz o certo ao aceitar seu pedido de
casamento.
Eu seria uma mulher feliz ao lado dele e um dia Dominick iria
me amar da forma que eu o amava.
Afastei meus lábios dos dele para gemer quando o senti ir
mais fundo, alcançando lugares que eu nem sabia que existiam
dentro de mim. Seus lábios desceram por meu rosto e pescoço,
depois subiram até minha orelha, onde ele mordiscou com força.
— Apertada, deliciosa... Se acostuma comigo porque ainda
tem muito pau pra você receber nessa bocetinha, Kiara...
Engolfada pelo prazer, consegui olhar para baixo e ver que
ele tinha razão. Apenas a metade de seu membro estava dentro de
mim e eu ofeguei, sem saber o que dizer. Dominick se afastou e
olhou para o mesmo lugar que eu olhava, depois voltou a olhar para
mim e sorriu, empurrando com força e indo até o fundo de uma vez
só, encostando o osso púbico no meu clitóris.
Senti meus olhos se revirarem pelo prazer e pela dor no final,
que tomou conta de todo o meu corpo. Ele se manteve lá dentro por
alguns segundos e depois saiu, voltando a meter só a metade em
mim. O prazer era forte demais e me apoiei em seus ombros,
rebolando de leve e sentindo seu pau tocar todos os nervos certos
dentro da mim.
— Porra Kiara, você é tão gostosa! Nunca vou me cansar de
comer essa boceta apertada, você é toda minha e vai receber meu
pau todos os dias, toda hora que eu quiser eu vou te encostar e
comer a sua boceta, ouviu?
— Sim... Toda hora, eu quero toda hora... — Me ouvi
implorar, fechando os olhos.
— Isso, anjo, toda hora... Abra os olhos e olhe para mim
enquanto eu te como, Kiara!
Obedeci e ele se aproximou, roçando os lábios nos meus.
— Eu vou enfiar meu pau todo nessa boceta até você perder
o ar, baby... Vai ficar tão viciada em mim quanto eu já estou em você
— falou, metendo tudo e tirando repetidas vezes. Senti meu corpo
oscilar e minha boceta pulsar, apertando seu pau. — Você quer
gozar, Kiara?
— Sim... Por favor, quero gozar!
— Então me beija.
Não pensei duas vezes e ataquei seus lábios com os meus,
beijando-o e sentindo-o meter em mim cada vez mais rápido e com
mais força. Novamente o meu corpo tremeu, minha mente voou e eu
gozei em um grito desconexo, mexendo minha cintura rapidamente
de encontro ao seu pau que batia com tudo dentro de mim.
Me debati e o beijei com força, rebolando e rebolando até que
parei e minha boceta parecia dormente. A mão de Dominick rodeou
meu pescoço e ele olhou em meus olhos, bem no fundo, seu rosto
se contorcendo seriamente.
— Eu não deveria, mas estou tão louco por você que não
posso impedir... — murmurou, metendo cada vez mais rápido. —
Vou gozar e vai ser dentro de você, Kiara, vou gozar tanto que
minha porra vai descer pela sua boceta, vou te marcar toda como
minha e você nunca mais vai esquecer.
Apenas assenti e segurei sua cintura, ajudando-o a meter
cada vez mais rápido, louca por vê-lo em um momento tão único de
prazer e descontrole. Seus olhos estavam furiosos dentro dos meus,
como se gritasse por algo em silêncio, como se me implorasse e eu
não pude fazer nada a não ser gemer junto com ele quando senti o
primeiro jato quente do sêmen me invadir.
— Porra, isso... Kiara... — ele gemia, descontrolado, gozando
e gozando dentro de mim.
Respirei fundo e levei minhas mãos ao seu rosto, puxando-o
para mim com força e selando aquele momento único com um beijo.
Sua língua na minha, seu corpo no meu, seu pau dentro de mim e
seu sêmen me inundando tornou tudo ainda mais especial e único,
me fazendo ter certeza de que eu poderia perder a memória por
mais mil vezes, mas aquilo era algo que eu nunca esqueceria.
Ele suspirou e encostou a testa na minha, abrindo os olhos e
me encarando. Estava sério e silencioso apesar da respiração falha,
mas aquilo não me abalou e eu sorri, passando a mão pelo seu
rosto com carinho.
— Eu também estou — sussurrou tão baixinho que eu quase
não entendi.
— Está o quê?
— Eu também estou apaixonado por você.
Capítulo 17

“Como um rio flui certamente para o mar,


Querida, é assim que funciona:
Algumas coisas estão destinadas a acontecer.”
(Can’t Help Falling in Love With You, Elvis Presley)

Kiara

Abri meus olhos ao sentir a claridade insistente em meu


rosto, me fazendo acordar. Lentamente consegui focar minha visão
e observei em volta, conseguindo enxergar com clareza cada canto
daquele lugar que me parecia vagamente familiar. Mas ao respirar
fundo, me lembrei exatamente de onde eu estava: no quarto de
Dominick.
Senti vontade sorrir com as lembranças que começaram a
invadir minha mente, trazendo um choque de prazer delicioso pelo
meu corpo. Aquela tinha sido a noite mais perfeita da minha vida,
mesmo não me lembrando do que havia acontecido comigo antes,
eu tinha certeza de que nada chegava aos pés da minha noite de
núpcias.
Olhei feliz e realizada para os montes verdes ao longe, que
apareciam pelos janelões de vidro no quarto de Dominick, um toque
moderno naquele quarto tão clássico e antigo, com móveis de
madeira pura.
Agora é meu quarto também, pensei virando-me lentamente
na cama e dando de cara com Dominick, que dormia
tranquilamente. Era a primeira vez que o via tão calmo, mas mesmo
assim tinha a testa franzida como sempre, como se não
descansasse mesmo ao dormir. Era ainda mais bonito daquela
forma, com os cabelos loiros bagunçados, os cílios espessos
fazendo sombra em seu rosto, a boca carnuda fechada.
Sem conseguir me conter, passei a mão de leve pelos seus
cabelos, sentindo seu cheiro impregnado em mim. Minha mente
repetia o momento em que ele disse que também estava
apaixonado por mim e foi tão real, tão verdadeiro, que pensar
naquilo me fazia perder o ar.
Como era possível todo aquele sentimento fazer morada em
meu coração, justamente quando pensei que jamais iria gostar
dele? No começo de tudo, quando ele fazia questão de ser grosso
comigo, nunca pensei que me veria ali, casada e completamente
apaixonada por ele.
O mundo realmente dava voltas.
Com medo de acordá-lo, parei de acariciar seus cabelos e
me desvencilhei de seus braços que estavam em minha cintura. Me
levantei e fui em direção ao banheiro, olhando tudo com
curiosidade. Seu banheiro era totalmente negro, desde os pisos e
azulejos até a banheira com detalhes dourados. A pia também era
de granito negro com bicas tão douradas que reluziam à luz,
realmente a cara de Dominick.
Sorri ao ver que minha escova de dentes e meus produtos de
creme e maquiagem já ocupavam um lado da bancada do banheiro.
Curiosa, olhei seus produtos do outro lado, alguns fracos de
perfumes como One Million e Paco Rabanne ocupavam seu espaço
na bancada, me fazendo lembrar de seu delicioso perfume que
parecia estar cravejado em cada parte daquele quarto.
Fiz minha higiene matinal e saí do banheiro, vendo que
Dominick ainda dormia na mesma posição que o havia deixado.
Com preguiça de me arrumar, peguei sua camisa de nosso
casamento que estava no chão e a vesti, com o plano de fazer um
café da manhã para nós dois, já que os empregados estavam de
folga naquele final de semana. Talvez ele finalmente pudesse provar
o meu bolo de chocolate, quem sabe ele não gostasse tanto quanto
Arthur.
Sorri ao me lembrar daquele pequeno príncipe que me
acompanhou até o altar. Tinha certeza de que Arthur seria o homem
perfeito para qualquer mulher.
Já estava saindo do quarto quando uma porta de madeira
negra me chamou atenção. Estava fechada e tinha entalhos bonitos
desenhados no meio, com uma maçaneta dourado brilhando com a
luz do sol que batia justamente ali. Pensei em deixar aquilo de lado
e seguir em frente, mas a curiosidade falou mais alto e antes que eu
pudesse me conter, já me encaminhava até a porta e tocava na
maçaneta, sentindo meu coração acelerar estranhamente.
Olhei rapidamente para Dominick que ainda dormia e abri a
porta, empurrando-a para trás quando constatei que estava
destrancada. Ainda pensei duas vezes antes de entrar, mas segui
meus instintos e dei um passo à frente, entrando em um lugar
estranho e iluminado por candelabros presos as paredes de pedras.
A minha frente estava uma escada que me levaria a um andar
abaixo do quarto e franzi o cenho sem entender o que era aquilo.
Desci devagar os degraus de pedra, segurando forte no
corrimão de bronze ao meu lado esquerdo. Olhei para os lados,
procurando entender o que era todo aquele cenário, mas parei
chocada no penúltimo andar, olhando para frente e sentindo meu
coração parar de bater por um segundo com aquele lugar que se
desvendava em meu olhar sobre as luzes das velas presas em
candelabros nas paredes.
Era como um cenário de horror.
A primeira coisa que prendeu minha atenção foi a cama
negra dentro de uma gaiola redonda, bem no meio do quarto. Ao
seu lado tinha uma grade presa ao chão, que logo percebi que era a
tampa de um poço. Ao lado oposto da cama tinha um trono alto da
mesma madeira negra da porta do andar de cima, com um estofado
em couro marrom.
Mas aquilo não era o pior.
Saindo da letargia, terminei de descer os dois últimos
degraus que faltavam e consegui enxergar tudo com mais clareza.
Na frente do trono tinha um enorme X em madeira, com ganchos em
suas pontas. Havia uma torre no canto do quarto, com banco longo
de madeira, como se fosse um cavalo e ao lado tinha uma grade
enorme, que me fez ficar boquiaberta.
Eram chicotes, palmatórias, cintos, chibatas, varas e até
mesmo pás enfileirados e organizados por tamanhos e tipos. Ao seu
lado tinha uma grade menor com diversos tipos de cordas, grossas,
finas, longas, coloridas, amarradas e bem cuidadas. Havia também
outra grade, dessa vez com algemas prateadas, douradas, de couro
e de pelúcia.
Sem conseguir olhar mais para aquilo, me virei para o outro
lado do quarto e vi outra cama, parecida com a de Dominick, com
quatros colunas de madeiras negras. Ao seu lado tinha um cavalete
de couro marrom e um pouco distante, tinha uma enorme cômoda
de madeira negra, entalhada em desenhos como os da porta do
andar de cima.
Respirei fundo, sem saber o que pensar. Era óbvio para mim
que tudo aquilo tinha uma finalidade: espancar alguém. Mas por
quê? Nunca tinha visto nada parecido com aquilo, ao menos sabia
que existia algo como aquele lugar.
Como alguém era capaz de gostar daquilo? De usar todas
aquelas coisas para machucar alguém?
E o pior... Por que justamente Dominick tinha um lugar tão
horrível como aquele em seu quarto?
Imaginá-lo me submetendo àqueles chicotes longos e
àquelas pás fez um arrepio de pavor passar pelo meu corpo. A ideia
da dor me deixou subitamente enojada.
— Kiara? O que está fazendo aqui?
Primeiro ouvi sua voz. Parecia estar desesperado e olhei
mais uma vez para aquela grade cheia de objetos de tortura antes
de me virar para olhá-lo. Dominick usava apenas uma cueca branca,
estava parado próximo a escada de pedra e me olhava com a boca
ligeiramente aberta, talvez surpreso ao me ver ali.
— Estou conhecendo o seu quarto — falei, demonstrando
estar mais confiante do que realmente estava. — Achei bem...
diferente.
— Uma das coisas que eu odeio é que invadam a minha
privacidade, Kiara — falou, voltando a ser sério e controlado como
sempre.
Saiu das escadas e se aproximou de mim, parando na minha
frente. Senti vontade de correr daquele lugar, as imagens daquela
grade se repetindo na minha mente, mas me mantive firme na frente
dele. Se fosse para fugir, que fosse depois de saber o porquê de ele
ter um lugar como aquele escondido no andar inferior de seu quarto.
— Acha mesmo que está no direito de reclamar de algo
depois de ter um lugar como esse dentro do seu quarto?
— Kiara...
— O que tudo isso significa? — O interrompi, olhando para
ele tão séria quanto ele me olhava.
Ele respirou fundo e passou a mão pelos cabelos, como
sempre fazia quando estava nervoso. Continuei parada olhando
para ele, esperando uma explicação — se é que havia alguma —
para toda aquela loucura.
— Não era para você descobrir assim.
— Descobrir o quê? Que eu realmente não conheço o
homem com quem eu me casei?
— Kiara, não é assim...
— É assim sim, Dominick! Você nunca me contou que
mantinha um porão cheio de objetos de tortura escondido no seu
quarto!
— Porque eu sabia que se eu contasse, você iria reagir
exatamente assim! — gritou, me olhando com as narinas dilatadas.
Por fim respirou fundo, fechando os olhos por um momento. — Eu
pratico o BDSM há dez anos, Kiara.
— BDSM?
— B e D vem de Bondage e Disciplina, S e M vem de
Sadismo e Masoquismo. Antes que me pergunte, sadomasoquismo
é o prazer sexual na dor.
— Então você sente prazer infringindo dor? — perguntei,
vendo-o assentir. Senti vontade de rir mesmo sem ter graça alguma
naquela situação. — Isso só pode ser brincadeira.
— Kiara, eu sei que isso é diferente para você, eu entendo a
sua reação, mas nem tudo é tão horrível como você está
pensando...
— É mais do que horrível, Dominick! Meu Deus, olha para
tudo isso! — falei, apontando para aquele lugar sombrio. — Você
gosta de colocar mulheres presas em gaiolas e depois bate nelas
com aquelas coisas horríveis que estão penduradas naquela grade!
— Kiara, tudo o que eu sempre fiz durante toda a minha vida,
foi consensual. Eu não pego qualquer mulher que vejo na rua e as
submeto a mim à força. Todas elas aceitam isso!
— Mas por quê? Por que você precisa disso? — perguntei,
tentando entender.
Ele desviou o olhar de mim e olhou para todo aquele porão,
focando lentamente em cada objeto. Sem conseguir me conter o
segui, olhando para tudo e sentindo mais um calafrio passar pelo
meu corpo. Ainda tentava entender quem era aquele homem na
minha frente.
Quando foquei no cinto atrás de mim, lembrei-me exatamente
do que aconteceu há alguns meses em seu escritório, ele me
pegando e me amarrando com o cinto no gancho da parede, uma
força e dominação velada em cada toque, cada respiração. Ali eu
não tinha conseguido assimilar o que havia por trás de todo aquele
ataque. Agora eu sabia muito bem. Havia um homem que tinha um
porão de tortura em seu quarto, que gostava de submeter mulheres
e usar seu chicote nelas.
Quando me virei para ele seu olhar estava cravado em mim.
Continuava sério, mas vi que seus olhos gritavam por algo
novamente, algo que eu não conseguia compreender. Lentamente
se aproximou de mim e dei um passo para trás, meu receio sendo
maior do que tudo naquele momento.
— Está com medo de mim? — perguntou baixinho, chocado.
— Eu só preciso entender o porquê de tudo isso.
— Kiara, por favor, eu não sou um monstro — falou, fechando
a distância entre nós e tocando em meu rosto antes que eu pudesse
me afastar. — Eu jamais machucaria você. Tudo isso aqui já foi o
essencial para mim, já foi a coisa mais importante da minha vida,
mas agora eu estou apaixonado por você. Nunca pensei que fosse
dizer isso um dia, mas o sexo baunilha que fiz com você ontem à
noite me deixou mais satisfeito do que qualquer outra noite que eu
tenha passado ao lado da submissa mais experiente.
— Sexo... baunilha?
— É um termo usado no mundo BDSM para o sexo comum...
apesar de achar esses termos uma palhaçada. — Ele revirou os
olhos e depois voltou a me fitar.
— Então você quer dizer que não precisa disso tudo para se
satisfazer? Que eu sou o suficiente?
— Você me satisfaz. Eu provei isso ontem — murmurou,
passando a mão de leve pelo meu cabelo. — Mas eu estaria
mentindo se dissesse que a ideia de ter você amarrada ali em cima
enquanto eu fodo sua boca ou sua boceta, não me enlouquece.
Olhei para onde ele apontou com o olhar e vi uma estrutura
de ferro dourada presa ao teto por correntes de ferro. Reluzia
fortemente à luz fraca e eu me perguntei como não tinha visto aquilo
antes.
— Eu sou louco para te prender, Kiara... — sussurrou,
passando a ponta dos dedos pelo meu couro cabeludo. Senti a
tensão se dissipar lentamente do meu corpo, me fazendo fechar os
olhos. Me arrepiei quando sua voz soprou em meu ouvido: — Sou
louco com a ideia de te colocar atravessada no cavalete e morder
suas costas, sua bunda, estalar meu chicote em você até sua pele
ficar bem vermelha, enquanto um plugue de safira, da cor dos seus
olhos, está enterrado no seu cuzinho, te preparando para mim.
— Dominick...
— Quieta, eu não terminei! — mandou, mordendo o lóbulo da
minha orelha. — Quando te vi pela primeira vez, a primeira visão
que veio na minha mente foi em você ajoelhada aos meus pés,
enquanto eu estou sentado no meu trono, olhando-a como minha
submissa, só minha, para eu usar, beijar, tocar, foder... fazer o que
eu quiser. Mas tudo depende de você. Jamais faria algo que você
não aceitasse, você precisa dizer sim para que eu dê o primeiro
passo.
— Você me quer como submissa...
— Aqui dentro, sim. Lá fora você será a minha esposa e a
rainha do meu povo. Mas entre quatro paredes, Kiara, você será
minha súdita. Apenas minha.
Seus lábios desceram pelo meu pescoço e subiram
lentamente pelo meu queixo até chegar aos meus lábios. Antes que
eu pudesse responder, sua língua já estava acariciando a minha em
um beijo quente, dominante, que não me deixou opções a não ser
retribuir.
Ainda sentia o medo em meu interior, ainda tinha perguntas
em mente, ainda queria entender o porquê de ele sentir toda aquela
necessidade de me dominar, mas apenas me entreguei aquele
momento, beijando-o com tudo de mim. Quando se afastou, olhei
em seus olhos e enxerguei que estava sendo sincero.
— Eu preciso me acostumar com essa ideia, Dominick.
— Eu sei. Sempre soube que você não seria fácil — falou,
olhando-me com o cenho franzido. — Mas eu vou te mostrar aos
poucos, Kiara, que todo o momento em que você estiver aqui
dentro, o prazer será tanto que você vai me implorar para nunca
mais parar.
— Implorar... Agora eu entendo porque você gosta tanto
dessa ideia de me ver implorando algo a você.
Ele sorriu de lado e tocou meus lábios com o polegar.
— Você vai entender muitas coisas quando eu te submeter a
mim, Kiara... Tenho tanta coisa para te ensinar.
— Espero que eu goste de aprender.
— Você gostará.
Toquei seu rosto com carinho, sabendo que ainda tinha muita
coisa para conhecer em Dominick. Mas sabia que teria que ser
cuidadosa, ir devagar, sem invadir demais seu espaço e deixá-lo à
vontade para me contar tudo.
— Agora eu acho que você tem um novo apelido — falei,
chamando sua atenção.
— Novo apelido?
— Sim... Dom.
Um sorriso enorme se abriu em seu rosto e logo em seguida
ele jogou a cabeça para trás, soltando a gargalhada mais linda e
contagiante que eu já havia ouvido.
— Ótimo! Bem melhor do que Nick — falou, voltando a me
fitar. — Prometo deixar você me chamar de Dom, combina muito
mais comigo.
— Devo concordar. — Assenti, pegando sua mão. — E eu
prometo tentar entender toda essa loucura.
— Vai ser a loucura mais deliciosa que você vai provar...
Com um sorriso safado no rosto, ele se abaixou e tocou os
lábios novamente nos meus, beijando-me. O abracei e pensei o que
mais poderia me surpreender na nossa história. Depois daquela
revelação, cheguei à conclusão de que a única coisa que poderia
realmente me deixar surpresa fosse se eu gostasse daquela
história.
De ser submissa do meu Dom.
Capítulo 18

“Continuo me rastejando, te tocando, beijando, te abraçando


O gelo está derretendo a sua volta
Pois existe uma chama entre nós
Garota, com cada toque
É como se seu corpo riscasse fósforo”
(On Fire, Bruno Mars)

Dominick

Tomei mais um gole do meu café, observando Kiara despejar


uma massa branca e homogênea dentro da frigideira quente. Nunca
havia observado uma mulher cozinhar antes e nunca imaginei que
era algo tão excitante. Bem, talvez não fosse excitante para
qualquer homem, mas para mim era, principalmente quando Kiara
estava vestida com a minha camisa e sem calcinha por baixo.
Gostava de sua postura ereta e seus cabelos avelãs soltos, o
modo como se movia com segurança e, às vezes, virava para mim
para sorrir. De longe parecia a mulher enraivecida que encontrei no
calabouço ou a menina amedrontada com todos aqueles objetos de
tortura a sua volta.
Sabia que Kiara não era uma submissa. No começo de tudo,
eu queria realmente submetê-la a mim, fazer dela uma escrava
perfeita, obediente, que só falava e me olhava quando fosse
solicitada, mas eu sabia que ela não era assim. Desde o primeiro
momento, quando gritou comigo falando que eu estava mentindo
sobre nossa história, eu soube que ela seria muito mais difícil do
que eu imaginava.
Só não sabia o quanto eu iria gostar disso.
Nunca pensei que eu fosse me apaixonar. Na verdade, nunca
quis me apaixonar, me imaginar como meu pai, um obcecado por
uma mulher, me dava arrepios. Me lembro de que quando era
criança e invadia o quarto de meu pai quando ele não estava em
casa, ficava vendo suas fotografias espalhadas pelo quarto. Eram
fotos dele e da minha mãe, sempre sorrindo, se acariciando e
beijando e eu me perguntava o porquê de ele não demonstrar
aquele amor por mim,
Por que comigo ele tinha de ser tão diferente? Tão frio e
enraivecido?
Grande parte do homem frio e cruel que me tornei foi por não
ter tido carinho e eu sabia disso. E estava bem comigo mesmo até
perceber que eu estava me apaixonando por ela.
Primeiro foi o sentimento de não poder ficar um dia sem vê-
la. Era como se algo me faltasse. Depois foi a ameaça de perdê-la,
o desespero de simplesmente vê-la partir. Em seguida eu senti que
estava me perdendo, principalmente quando a beijei pela primeira
vez. E eu queria negar a mim mesmo, mas sabia que não podia. A
verdade é que eu havia me apaixonado por ela desde a primeira vez
que eu a vi.
Eu só não queria acreditar.
— Sua panqueca americana, Vossa Majestade. — Kiara me
chamou a atenção, colocando uma panqueca dourada e cheirosa
em meu prato.
Coloquei minha xícara de volta no pires e a observei colocar
mais massa na frigideira, antes de voltar com ela ao fogo. Cortei um
pedaço da panqueca e comi, saboreando.
— Nossa... Perfeito. É a receita de Norah?
— Sim, mas eu coloquei um pouco mais de açúcar. Fico feliz
que tenha gostado — falou, sorrindo para mim. — Quem diria que o
rei de um grande país europeu é apaixonado por panquecas
americanas?
— Eu não tenho culpa se a panqueca deles é melhor do que
a nossa — falei, rindo de leve e dando de ombros. — E você a fez
ficar ainda mais saborosa.
— Obrigada.
Ela voltou com a frigideira para a mesa da cozinha e
depositou uma panqueca pronta em seu prato. Deixando a frigideira
em cima da pia, voltou para a mesa e se sentou à minha frente,
tomando um gole de seu suco.
— Sua mãe costumava cozinhar para você?
A panqueca parou na minha garganta e tomei um gole do
café para ajudar a engolir, enquanto pensava na minha resposta. Eu
poderia continuar omitindo, até porque Kiara sabia que minha mãe
havia morrido, mas não sabia quando. Entretanto, vi que mentiras
só nos manteria afastados e naquela altura do campeonato, a última
coisa que eu queria era ficar distante dela.
— A minha mãe morreu minutos depois de me dar à luz,
Kiara.
Vi o momento em que ela parou de despejar mel em sua
panqueca e me olhou, como se não pudesse acreditar, chocada
demais.
— O quê? Por que não me contou antes?
— Não é algo que eu goste muito de falar.
— Nossa, Dominick, eu sinto muito... Meu Deus, eu não
podia imaginar.
— Não precisa ficar assim, eu já superei, Kiara — menti,
voltando a cortar minha panqueca.
— Eu acho que isso não é algo que se supere, Dominick. Eu
posso imaginar o quanto sua mãe deve ter feito falta para você.
Olhei para ela com seriedade, tentando entender algo que já
estava rodeando a minha cabeça há algum tempo.
— Como você consegue carregar todo esse sentimento
dentro de si, quando não se lembra de sua própria vida, Kiara?
— Como assim?
— Você é tão boa, tão amorosa e delicada. Vejo a forma
como trata Arthur, o modo cordial e amoroso com que trata Dallah e
até mesmo as empregadas do castelo. E, principalmente, sinto o
modo como me trata. Você poderia ter virado as costas para mim,
Kiara. Nas vezes em que te tratei mal, te ignorei, fui um estúpido,
até mesmo hoje de manhã quando descobriu o calabouço, você
poderia ter me deixado e seguido em frente com a sua vida, mas
não foi isso que você fez. Você continuou ao meu lado. Por quê?
Por que se importa tanto com as pessoas?
Ela sorriu de leve e balançou a cabeça, colocando uma
mecha do cabelo para trás.
— Eu não sei — murmurou, voltando a me encarar. — Eu
apenas me permito sentir, Dominick. Eu me permito gostar das
pessoas, enxergar a melhor parte delas. Desde o começo eu
percebi que você era um homem muito fechado, que pouco fala com
as pessoas e que muito menos demonstra sentimentos. No começo
eu realmente quis ir embora, não quis pensar em nada, mas com o
passar do tempo eu tentei enxergar o seu melhor lado.
— E eu tenho um melhor lado?
— Tem sim.
— E qual é? — perguntei, subitamente interessado.
— Você é um homem bom, Dominick. Apesar de, às vezes,
ser grosso, estúpido e descontar sua raiva nas pessoas, eu sinto
que você é um homem bom, só precisa trabalhar mais isso, sabe?
Você sempre foi o homem frio e dominador e esqueceu de ser o
homem gentil e amoroso que eu sei que você é.
— Eu acho lindo que você tenha fé em mim quando nem
mesmo eu tenho.
Ela esticou a mão e tocou a minha, olhando em meus olhos.
Entrelacei nossos dedos e apertei sua mão, vendo sua aliança de
ouro reluzir na luz, lembrando que ela era minha, para sempre.
— Você vai aprender a ter fé em si mesmo, Dom — falou,
sorrindo.
Sorri também e peguei minha xícara com a mão livre, sem
querer tirar sua mão da minha. Ela também começou a cortar a
panqueca apenas com o garfo, levando-a à boca com a mão direita.
— Você já pensou sobre a nossa conversa no calabouço?
— Nós saímos de lá não tem nem uma hora, Dominick... Não
tem como pensar em um assunto sério como esse em tão pouco
tempo.
— Por que é tão relutante a isso, Kiara?
— Dominick, você está acostumado com essa vida. Para
você é fácil ter uma mulher que é submissa e está disposta a ser
chicoteada por você, mas eu não sou assim — falou, suspirando. —
Eu não sirvo para isso.
— Não tem como saber se nunca provou.
— E o que você sugere?
— Que façamos um teste. Passe o resto da manhã comigo
no calabouço, me deixe brincar com você. Prometo que não pegarei
pesado, que não a machucarei. — Apertei sua mão e me inclinei um
pouco na mesa, ficando cara a cara com ela. — Talvez esse seja o
meu melhor lado, Kiara. Dar prazer a você.
Ela ficou em silêncio, como se pesasse os prós e os contras
e eu fiquei esperando com expectativa, sonhando com um sim. Vi
seus olhos se desviarem para o prato já vazio, depois encarou o
relógio e, por fim, voltou a me fitar, decidida.
— Tudo bem. Mas só se você me prometer que vai parar
quando eu pedir.
— Sempre — respondi mais entusiasmado do que pensei
que ficaria levando sua mão aos meus lábios. Por fim me levantei
com um sorriso querendo despontar em meu rosto, provando o
quanto ela mexia comigo. — Vamos?
— Calma, eu preciso lavar a louça e...
— Você não precisa fazer nada disso — falei, dando a volta
na mesa e a puxando para mim até ter seu corpo colado ao meu. —
Você só precisa de mim e eu de você.
Um lindo sorriso se abriu em seu rosto e um gritinho escapou
por sua garganta quando a peguei no colo de surpresa. Dei um beijo
em seu pescoço e segui em direção ao elevador, colocando a senha
que me levaria até o calabouço. Em poucos minutos já estávamos
lá, os candelabros sempre acesos iluminando todos os meus
objetos milimetricamente acomodados e limpos.
Coloquei Kiara no chão e a senti estremecer de leve olhando
em volta, ainda sem estar acostumada com aquele lugar. Com
receio de que ela se sentisse amedrontada e desistisse de tudo
puxei seu rosto para mim, fazendo-a me fitar.
— Você confia em mim?
— Confio.
— Eu também confio em você e é por isso que eu preciso
que você me guie, Kiara. Se realmente quiser parar, diga apenas
“pare” e eu o farei, certo?
— Sim.
— E há uma regra imprescindível a qual você precisa seguir.
Normalmente, a submissa chama o dominador de Senhor, o que nos
coloca em um patamar acima da submissa, nos dando o poder da
situação, mas eu não quero que você me chame de Senhor.
— Quer que eu o chame de quê?
— De Rei — falei, sorrindo de lado ao fitá-la. — Rei Dom.
Ela sorriu e eu sorri também, sem conseguir me segurar.
— Tudo bem, Rei Dom.
— Perfeito. Agora, dispa-se para mim.
Me afastei o suficiente para que ela tivesse espaço para se
mover. Kiara parecia um tanto insegura e eu percebi o quanto ela
combinava com aquele lugar, como se fosse a peça mais rara e
delicada naquele ambiente tão bruto e sombrio. Me senti
embriagado e excitado com aquela visão, principalmente quando ela
mordeu o lábio, nervosa e levou os dedos aos botões da minha
camisa, começando a tirá-los de suas casas.
Vi botão por botão sendo desfeito até o final e meu pau ficou
duro como pedra quando ela afastou a camisa e a tirou, deixando-a
cair ao chão. Estava nua, linda, seu pescoço vermelho por conta
dos meus chupões na noite passada, a barriga lisa e a bocetinha
depilada, me deixando com água na boca.
— Vire-se.
Obedeceu e eu cerrei o maxilar, vendo o caminho vermelho
que descia livremente por sua coluna e parava nas carnes
rechonchudas de sua bunda, resultado das minhas mordidas. Engoli
a minha vontade de me ajoelhar e começar tudo de novo, mas sabia
que iria judiar muito do seu corpo e ela precisava estar acostumada
com tudo aquilo, para que eu pudesse mordê-la quantas vezes eu
quisesse.
— Ande até a cruz de madeira e pare quando estiver de
frente para ela.
Quando ela começou a dar os primeiros passos em direção à
cruz em forma de X eu fui em direção a minha grade de cordas,
pegando uma corda grossa e macia. Quando me virei, ela já estava
parada em frente a cruz e fui até ela, parando às suas costas. O
cheiro doce de seu cabelo penetrou minhas narinas, me fazendo
respirar fundo para guardar aquele cheiro para sempre dentro de
mim.
— Eu vou amarrar seus pulsos e seus tornozelos na cruz,
tudo bem, Kiara?
— Sim.
Sorri de lado com sua desobediência e estalei minha mão
direita com força em sua bunda, fazendo-a pular e soltar um grito.
Minha palma ardeu e eu fechei os olhos com aquela sensação
finalmente me preenchendo, depois de tanto tempo.
— Sim, o quê?
— Sim, Rei Dom — respondeu com a voz falha.
— Vire para mim. — Ela obedeceu e se virou. Suas
bochechas estavam vermelhas, o que a deixava ainda mais linda
com aquela expressão séria, tão atípica dela. — Encoste-se na cruz
e encoste os braços e as pernas em cada madeira.
Eu adorava a Kiara teimosa e mandona, mas aquela Kiara
obediente e quieta estava me deixando louco. Assim que seu braço
tocou a madeira, eu peguei uma das cordas que havia levado e
enfiei a corda no gancho dourado, logo depois envolvi-a no pulso de
Kiara, amarrando forte, mas tomando cuidado com a sua circulação
sanguínea.
Fiz o mesmo com o outro pulso e embaixo com os tornozelos,
até tê-la totalmente presa a cruz. Estava linda, as pernas abertas, a
respiração ofegante, os mamilos empinados para cima e as
bochechas coradas.
Sem dizer nada, me afastei e fui em direção a pequena mesa
de rodinhas que ficava ao lado da minha cama. A peguei em fui em
direção a grade de punições, pegando um chicote de tiras finas e
pequenas, que eu sabia que não machucaria e apenas ativaria a
sua circulação sanguínea, trazendo uma sensação de pequenos
choques elétricos. Logo depois fui com a mesa em direção a minha
grande cômoda negra que ficava do outro lado do quarto.
Sentia uma grande necessidade de tomar um bom uísque
escocês enquanto a observava. Podia ouvir sua respiração ofegante
e sentir sua inquietação e percebi que não poderia demorar muito.
Kiara era nova naquele mundo e eu sabia que ficar parada, sem ter
a mínima ideia do que poderia acontecer a seguir, podia mexer
muito com a cabeça de uma submissa inexperiente.
Meu uísque e minha observação detalhada teriam que ficar
para depois.
Abri a primeira gaveta e peguei uma linda pena de ganso,
nova, que havia comprado, mas nunca tinha usado. Em seguida,
peguei um pênis vibratório fino e pequeno e fechei a gaveta,
voltando-me para ela.
Kiara olhou nervosamente para o que havia em cima da
mesa e depois voltou a olhar para mim, sem dizer nada. Me
aproximei dela e toquei seu rosto com as pontas dos dedos,
descendo por seu pescoço, colo, passando de leve pela axila até
seus mamilos, sentindo-a estremecer. Era linda demais e eu não me
contive, beijando-a na boca.
Sabia que aquela não era uma ação correta de um
dominador, mas eu estava pouco me fodendo para regras idiotas
como aquela e a beijei com toda a paixão que sentia, fazendo-a
gemer para mim e sentindo metade da sua tensão se dissipar.
Quando me afastei, deixei seu lábio inferior escapar por meus
dentes.
Sem desviar meus olhos dos dela, peguei o vibrador e o
levantei, passando-o de leve por seus lábios.
— Chupe.
A visão de seus lábios rosados se fechando sobre aquele
pênis de plástico fez o meu pau se retorcer na cueca, babando na
ponta. Cerrei meu maxilar para tentar manter o controle e desviei
meus olhos para os seus seios que tinham os mamilos duros e
excitados, implorando para serem chupados.
Envolvi o mamilo esquerdo com a língua e o suguei para
dentro da boca, sentindo seu coração bater mais rápido. Kiara
soltou um gemido involuntário e abafado e eu prossegui, chupando
com força e mordendo no final, antes de seguir para o outro e
lamber, chupar e morder, mantendo um ritmo.
Por fim, me afastei e tirei o vibrador de sua boca, descendo-o
diretamente para sua boceta e acariciando seu clitóris ali, antes de
ligá-lo. A vibração era forte, mas durava cinco segundos e parava.
Sabia que a deixaria no limite do orgasmo e quando estivesse
prestes a explodir, iria parar e recomeçar dez segundos depois,
começando a tortura novamente.
Penetrei o vibrador em sua boceta, sentindo as paredes
molhadas com a ponta dos dedos. Kiara respirou fundo e sua boca
se abriu quando eu liguei e a vibração começou.
— Oh meu Deus, Nick...
Ela revirou os olhos e puxou as mãos, mas as cordas a
impediram de ir muito longe. Sem pensar duas vezes, juntei dois
dedos e os abaixei com força em seus mamilos, fazendo-a abrir os
olhos rapidamente com a dor.
— Nick?
— Não! Rei Dom! Rei Dom... — Choramingou e, então,
relaxou quando a vibração parou.
Pude ver e sentir sua agonia, seu corpo se revirando e
remexendo encostado à cruz de madeira. Me afastei um pouco e
peguei a pena de ganso, deixando um espaço amplo para que ela
conseguisse ver exatamente o que eu estava fazendo.
Ergui lentamente a pena e a encostei em seu rosto, descendo
de leve até o seu pescoço. Ela ofegou e gemeu baixinho quando
passei por um braço e desci até a axila, repetindo o processo do
outro lado. No momento exato em que cheguei aos seus mamilos o
vibrador foi ativado novamente e ela gemeu, jogando a cabeça para
trás e se contorcendo o máximo que conseguia.
Eu sabia exatamente o que estava acontecendo, o prazer
chegando e quase explodindo, seu corpo sendo estimulado pela
pena, se avivando em meio a cócegas leves e ficando cada vez
mais desperto para o que eu queria.
Desci com a pena por sua barriga e parei em seu monte de
Vênus, vendo-a parar de se retorcer e se acalmar, a vibração dando
pausa. Desci com a pena por uma perna e depois por outra,
chegando aos seus pés. Ajoelhado a frente dela, vi o quanto era
linda, parecia uma deusa nua, o rosto vermelho, a boceta brilhando,
toda excitada.
Sentia vontade chupá-la, mas sabia que se o fizesse, ela
gozaria e disse a mim mesmo que eu tinha que parar de seguir
apenas os meus instintos. Meu pau doía dentro da cueca, louco
para se enfiar naquela boceta quente e apertada, mas me controlei
e me levantei, largando a pena e pegando o chicote.
Kiara arregalou os olhos para o chicote negro de couro em
minha mão e eu me aproximei, puxando seu rosto para mim com a
mão livre.
— Quer parar?
Ela engoliu em seco e olhou para o chicote em minha mão,
logo depois voltou a me fitar, piscando nervosamente.
— Não quero parar, Rei Dom.
— Sempre soube que era corajosa, Kiara.
Ela abriu a boca para falar algo, mas a vibração em sua
boceta a impediu e um gemido escapou no lugar. Aproveitei aquele
momento em que seu corpo estava mais estimulado e levantei o
chicote, estalando-o em seus seios.
— Oh, meu Deus!
Seus olhos reviraram e o som do estalido ecoou pelo
calabouço, me entorpecendo. Sem conseguir me conter, estalei-o
mais embaixo, em suas costelas e Kiara se contorceu. Eu sabia que
não estava doendo, mas ela sentia tudo com ainda mais intensidade
e eu girei o chicote, descendo-o e batendo-o em sua boceta, bem
em seu clitóris.
Vi seus olhos se encherem de lágrimas e ela balançou a
cabeça, negando. A vibração havia parado, ela estava em
suspenso, tão perto de gozar e, ao mesmo tempo, tão longe e era
exatamente assim que eu queria. Subi com o chicote e o estalei no
mamilo esquerdo, depois no direito, desci para a barriga e girei a
ponta, descendo-o e estalando-o em seu clitóris novamente.
Seu corpo estremeceu, convulsionou e, então, o vibrador
voltou a funcionar. Chicoteei rapidamente suas pernas, me
ajoelhando à sua frente e largando o chicote no chão. Sua boceta
brilhava, seu líquido começava a escorrer e eu não consegui me
segurar mais, atacando seu clitóris com minha língua.
Kiara gritou e se sacudiu violentamente. Seu gosto me
embriagou e eu chupei seu clitóris com força para dentro da boca,
seu nervo duro e tensionado, louco para gozar. No final, cheguei à
conclusão de que seu prazer sempre tinha que vir em primeiro lugar
e segurei o vibrador, apertando o botão que mantinha a vibração.
Pincelei seu clitóris com a língua e me afastei, catando o
chicote com a mão livre e me levantando. Kiara me olhou com a
boca aberta, seu rosto cheio de lágrimas e eu olhei para sua boceta,
começando a pressionar seu ponto G com o vibrador.
— Eu vou chicotear seu clitóris até você gozar, Kiara —
avisei, estalando o chicote logo em seguida.
Ela engasgou, balançou a cabeça e gritou e eu estalei de
novo em seu clitóris duro e vermelho que parecia olhar para mim.
Um gemido alto escapou por sua boca e chicoteei mais uma vez
antes de ver sua bocetinha expelir líquidos transparentes e sem
cheiro. Senti vontade de sorrir, mas estava tão malditamente
excitado que só pude largar o chicote e largar o vibrador dentro
dela, antes de me abaixar.
Desamarrei seus tornozelos rapidamente, me levantando e
tirando o vibrador de dentro dela, antes de puxar suas pernas para
rodear minha cintura. Kiara me prendeu com as pernas e eu abaixei
minha cueca apenas o suficiente para o meu pau sair e logo o meti
dentro dela, longo e firme, indo até o fundo.
— Oh não, Dominick!
— Desculpa, desculpa... — murmurei contra seus lábios,
esquecendo-me totalmente de que ela era virgem até ontem e que
eu era grande demais para ela.
Cerrei o maxilar e apertei sua cintura com força, meu pau
pulsando e gritando por libertação, minhas bolas pesadas pelo gozo
reprimido. Kiara suspirou e beijou meu rosto, meu queixo, parando
em meus lábios e me beijando com calma, mesmo que seu corpo
estivesse gritando, tão sensível quanto meu pau dentro dela.
A beijei de volta, envolvendo minha língua com a sua e
voltando a meter devagar, indo e vindo mansamente, metade do
meu pau saindo e entrando apertado, até que comecei a acelerar
sem conseguir me segurar.
Sua bocetinha era como uma fornalha me apertando, uma
boca me sugando e eu gemi entre seus lábios, me perdendo. Ali eu
não era mais o dominador e ela a submissa, ali eu era apenas
Dominick, um homem apaixonado, que estava dentro do melhor
lugar do mundo, a boceta e os braços da minha mulher.
Movi meu quadril para frente e para trás, massageando suas
paredes apertadas e úmidas, cheio de tesão. Esfreguei meu osso
púbico em seu clitóris, e mordi seu lábio inferior, sentindo que ela
estava perto novamente quando apertou meu pau.
— Vou gozar de novo... De novo...
— Eu sei! Goza no meu pau, Kiara, goza bem gostoso...
Ela revirou os olhos e se entregou, apertando o quadril no
meu e gozando alucinadamente. Continuei a meter, me segurando
ao máximo e quando ela parou, tirei suas pernas da minha cintura e
saí de dentro dela, me masturbando e começando a esporrar em
sua barriga.
— Kiara... Ah, Kiara...
Gemi e gozei sem conseguir parar, um tesão tão fodido
tomando conta do meu corpo e me elevando que não pensei,
apenas senti e me entreguei.
Quando terminei, subi meu olhar lentamente pelo corpo de
Kiara, suas pernas, sua bocetinha molhada, sua barriga banhada
pelo meu gozo, seus mamilos vermelhos pelas chicotadas, sua boca
que eu tanto amava e, por fim, seus olhos. Aquele cativeiro azul que
me prendia.
Me aproximei dela e toquei seu rosto, vendo-a fechar os
olhos e aproveitar meu toque. Meu coração bateu como um cavalo
no peito, me enchendo daquele sentimento que só ela conseguia
colocar dentro de mim.
— Você é o meu melhor lado, Kiara — sussurrei, finalmente
capturando seus lábios com os meus.
Capítulo 19

“Estou esperando uma resposta


Pois construí essa cama para dois
Estou só esperando sua resposta
Eu construí essa cama para você e eu”
(Life Suport, Sam Smith)

Kiara

Olhei-me no espelho admirando como a seda azul se


moldava no meu corpo. Era um pano tão bonito e tão delicado que
dava até pena de usar, mas Dominick havia feito questão que eu
colocasse. Passei a mão por meus cabelos, gostando da forma
como faziam cachos na ponta e gostei do resultado final.
Eu estava bonita. Não tão bonita quanto estava em meu
casamento, com aquele vestido de noiva feito sob medida, mas
estava bonita por simplesmente estar feliz. Aquele sorriso não saía
do meu rosto e meus olhos não paravam de brilhar, principalmente
quando me lembrava do maravilhoso final de semana que tive ao
lado de Dominick, meu esposo.
Nunca pensei que seria tão feliz. Desde o começo, quando
acordei nesse castelo, tudo conspirava a dar errado. Se eu saísse
daqui, seria uma garota sem rumo, sem memória, que teria que
começar tudo do zero. Se eu ficasse, corria o risco de entrar em um
casamento infeliz e fadado ao fracasso. Mas ao contrário de tudo o
que eu previa, agora eu estava sim casada, mas com o homem que
eu estava apaixonada e que estava apaixonado por mim também.
Descobri com ele um sentimento muito bonito de
compreensão, porque para estar com Dominick você precisava,
antes de mais nada, compreendê-lo. Aprendi a ter paciência, a dar
um passo de cada vez. Aprendi a amá-lo. E, como se tudo isso não
bastasse, descobri o prazer.
E descobri também que eu poderia gostar bastante daquele
seu quarto cheio de objetos de tortura.
Sorri para minha imagem no espelho, subitamente
envergonhada com as memórias que invadiram minha mente. Eu
amarrada naquela cruz em forma de X, um chicote dando choques
no meu corpo, um prazer tão intenso que me fez não só gozar como
ejacular. Pelo menos, foi isso que Dominick me disse quando
perguntei sobre aquele líquido incolor que havia saído da minha
vagina.
— Você está linda — Dominick falou, me tirando de meus
pensamentos.
Ele também estava lindo, usando um terno negro de três
peças que combinava muito com o seu quarto e aquela colcha de
seda negra que cobria a cama. Sorri para ele e dei uma rodadinha
rápida, parando a sua frente.
— Eu amei o vestido. Você acertou meu tamanho.
— Sou um bom observador — falou, se aproximando de mim.
Tocou meu queixo com o polegar, aquele seu semblante sério
demais, que eu havia aprendido a amar. — Quando vi esse vestido
há algumas semanas, soube que era para você. Ele combina
perfeitamente com a cor dos seus olhos.
— Obrigada, eu adorei — falei, tocando em seus ombros. —
Você também está lindo. Tem certeza de que tudo isso é apenas
para a festa do país?
— Um rei tem sempre que estar bem-vestido e a rainha
também.
— Ainda não fui nomeada a rainha...
— Mas será em breve e eu tenho certeza de que será uma
rainha perfeita. Tão perfeita quanto minha mãe era.
Toquei em seu rosto e passei o polegar de leve em suas
sobrancelhas franzidas, que dava a ele a cara de mau que eu tanto
adorava.
— Eu me esforçarei para ser.
— Eu tenho total confiança em você.
Sem dizer mais nada, colou os lábios nos meus e eu fechei
os olhos, soltando um suspiro. Felicidade era o meu nome do meio
naquele momento, nos braços de Dominick e sendo beijada por ele.
Não, não apenas sendo beijada, mas sim sendo amada por ele, da
forma que nunca imaginei que seria.

***

Era dia primeiro de junho, feriado em Orleandy porque se


comemorava o dia de São Felício, padroeiro do país. Eu estava
encantada, via de dentro do carro as ruas cheias, coloridas, com
barraquinhas de comidas típicas, imagens do santo em todos os
lugares, as pessoas rindo e comemorando.
Uma música alegre tocava no ar e algumas pessoas
dançavam na praça principal de Ermiway, capital de Orleandy, onde
ficava o palácio e os monumentos históricos.
— Foi nessa festa que nos conhecemos, não é? — perguntei,
chamando a atenção de Dominick.
Ele se virou para mim e levou minha mão à sua boca, dando
um beijo casto.
— Foi.
— E o que eu estava fazendo? Estava dançando na praça
como eles? Ou vendendo comidas nas barraquinhas?
— Você... estava dançando — respondeu, olhando pela
janela. — Estava linda dançando no meio de todo mundo.
— E então eu parei e te olhei e foi amor à primeira vista? Da
minha parte?
— Você se encantou por mim, Kiara. E em nosso segundo
encontro, eu me encantei por você.
— Onde foi nosso segundo encontro?
— Você está curiosa hoje.
Dei de ombros e sorri de leve, apertando seus dedos
entrelaçados aos meus.
— Eu sou curiosa todos os dias. Mas hoje tive coragem de te
perguntar.
— Certo. Bem, nosso segundo encontro foi quando fiz uma
visita na cidade onde você morava.
— Piechvi.
— Isso. Você estava voltando da sua aula de balé e eu
estava perto da escola onde você dava aula. Tinha alguns
seguranças ao meu redor, mas eu te reconheci de longe e pedi para
que eles a chamassem — falou, olhando para nossas mãos
entrelaçadas. — Você veio ao meu encontro e eu te convidei para
jantar. Desde então começamos a nos ver, não com muita
frequência porque eu tinha muitos compromissos, alguns deles fora
do país, até que aconteceu o seu acidente e, bem... Aqui estamos.
Casados e felizes.
— Muito felizes! — concordei, sorrindo e apoiando a cabeça
em seu ombro. — Isso parece até história de novela ou de um livro
de romance.
— Mas não é. É a nossa história. Um pouco resumida, mas é
a nossa história — falou, dando um beijo em minha testa.
O carro continuou a andar pelas ruas movimentadas, até que
paramos em frente ao Teatro Marie Domaschesky. Dominick havia
me contado mais cedo que seu pai havia feito o teatro no começo
de seu casamento com a falecida rainha e tinha dado a ela de
presente em seu aniversário de vinte e cinco anos. Um ano antes de
Dominick nascer e ela morrer.
Saímos do carro e passamos pelo grande tapete vermelho
que estava na calçada. Vários flashes pipocaram em nossa cara e
eu sorri ao lado de Dominick, vendo-o sério como sempre, mas
ainda carinhoso comigo. Quando entramos no teatro, eu quase perdi
o fôlego.
Era simplesmente lindo.
O hall era grande e espaçoso, todo pintado de branco e
dourado. No meio tinha uma escada linda em mármore branco e
corrimãos tão dourados que parecia ouro. No topo da escada, tinha
uma enorme pintura da Rainha Marie, parecida com as que eu havia
visto em seu andar há algumas semanas.
Subimos as escadas e viramos para o lado direito, onde as
portas duplas de madeira branca estavam abertas. Entramos na
sala e vi o grande teatro, com poltronas vermelhas de veludo em
meio ao lugar parcamente iluminado. Ocupamos a primeira fileira
onde Dallah, Dimir e Arthur já estavam sentados. Pude ver Joseph e
Elizabeth ao lado deles.
Ocupei o lugar ao lado de Arthur e observei o palco grande à
minha frente, totalmente encantada.
— Oi, tia Kiara! A senhora está muito bonita.
— Obrigada, Arthur. Você também está lindo — falei,
passando a mão por seus cabelos loiros. — Está animado?
— Sim! Minha mãe disse que depois eu vou poder comer
doces. Eu só tenho que me comportar. Se eu fizer bagunça, não vou
ter doces, foi o que ela me disse.
— Mas eu tenho certeza de que você vai se comportar. Você
é um homenzinho, não é?
— Sou sim, igual ao tio Dominick e ao meu pai Dimir.
— Isso mesmo — concordei, antes de dar um beijo em sua
testa.
Voltei a olhar para frente, segurando a mão de Dominick.
Rapidamente o teatro começou a encher. O evento era gratuito e
pelo que Dallah havia me dito, a companhia de balé de Robin iria se
apresentar. Eu estava ainda mais entusiasmada e ansiosa, louca
para ver as bailarinas lá em cima. Quem sabe isso não avivasse
parte da minha memória, pelo menos a parte onde eu dava aulas de
balé.
— Kiara, eu preciso conversar com Eurick sobre alguns
eventos que ocorrerão hoje à tarde na cidade. Vou para o escritório
aqui do teatro e volto daqui a pouco, ok?
— Mas você não vai ver a apresentação?
— Devo perder apenas dez minutos, prometo voltar antes de
acabar — falou, passando a ponta dos dedos pelo meu rosto. —
Não saia daqui sem mim.
— Tudo bem, Rei Dom.
Ele sorriu de lado e aproximou o rosto do meu, olhando em
meus olhos.
— Eu posso te arrastar para o palácio agora mesmo se
continuar a me chamar assim.
— Eu adoraria voltar, mas você é o rei desse país e tem
compromissos a cumprir. Pare de ser tarado e deixe isso para mais
tarde.
Dessa vez ele abriu um sorriso lindo, deixando suas fileiras
de dentes perfeitamente brancos aparecer. Meu coração falhou uma
batida, como a boba apaixonada que eu era.
— Então mais tarde você não escapa de mim — murmurou,
beijando meus lábios de leve. — Volto em alguns minutos.
Dito isso, Dominick se levantou e saiu, sumindo das minhas
vistas segundos depois. Voltei a me virar para frente e minutos mais
tarde, as luzes do teatro se apagaram, deixando apenas um refletor
em cima do palco como ponto de luz.
Um silêncio sepulcral cobriu o lugar e logo um homem subiu
ao palco, com um microfone em mãos. Segundos depois eu o
reconheci. Era Robin. Estava bem-vestido em um terno azul-
marinho e sorriu para todo mundo quando uma salva de palmas
explodiu no lugar.
— Muito obrigado — falou, acenando para algumas pessoas.
— Primeiramente, quero desejar um ótimo dia a todos e dizer que
estou muito feliz em trazer a minha companhia para participar, mais
uma vez, dessa festa tão linda de São Felício. Como o bom
orleandês que eu sou, estou muito orgulhoso por poder dizer que
amo essa festa e amo esse país. Espero que apreciem essa
apresentação que fizemos com tanto carinho para todos vocês.
Saiu do palco e, dessa vez, todas as luzes se apagaram. O
silêncio voltou a preencher o lugar, apenas para ser quebrado pela
música clássica que começou a tocar. Meu coração bateu forte
quando, como em um flash, uma bailarina apareceu no palco,
voando com as pernas abertas. Tudo voltou a ficar escuro e outra
apareceu fazendo o mesmo movimento e, logo em seguida, várias
bailarinas começaram a dançar em sincronia, vários focos de luzes
em cima delas.
Era a coisa mais magnífica que eu já havia visto.
— É tudo tão bonito... — murmurei, observando a forma
sincronizada como elas dançavam.
— Sim, é lindo. Como uma bailarina, não vejo motivos para
estar tão surpresa. Sincronia, precisão e perfeição são as três
regras principais do balé, Kiara. Ou melhor, senhora Domaschesky.
Robin estava ao meu lado, olhando fixamente para mim.
Tinha um sorriso no canto dos lábios, como se me incitasse a
responder o que havia dito. Era óbvio para mim que ele sabia que
tinha algo errado, mas será que sabia sobre a minha perda de
memória? Se sim, o quanto ele sabia?
De repente me vi cheias de perguntas novamente, mas tinha
medo de saber as respostas.
— Não estou surpresa, estou encantada — menti, voltando a
olhar para frente. — Elas são magníficas.
— Sim, você tem razão. Nunca pensou em entrar para uma
companhia de dança, Kiara?
Engoli em seco e continuei a olhar para frente, implorando
silenciosamente por ajuda.
Onde ele queria chegar com aquela conversa?
— Claro que sim.
— E por que nunca tentou fazer um teste para minha
companhia? Não é possível que, como moradora de Orleandy, não
tenha ouvido falar sobre minha companhia de dança.
— Claro que já ouvi falar, eu apenas... Bem, eu sempre achei
que ainda não era o momento certo.
— Eu te entendo. Muitas dançarinas duvidam de si próprias,
sempre colocam algum defeito em si mesma e acham que não
estão prontas o suficiente — falou. — Agora é óbvio para mim que
você não vai mais fazer teste para nenhuma companhia, visto que é
a esposa do Rei de Orleandy e futura rainha, mas eu gostaria de
convidá-la para conhecer a escola aqui em Orleandy. Ficaria muito
contente se você fosse e tenho certeza de que as meninas iriam
adorar a visita da rainha.
Me virei para ele, aliviada por ele ter mudado de assunto e
contente pelo convite. Seria realmente incrível conhecer um lugar
dedicado ao balé. Mesmo sem me lembrar sobre a minha vida, eu
sentia grudado em mim a paixão por aquela dança. Apenas em ver
aquelas meninas ali, dançando no palco, sentia vontade de me
levantar e dançar como elas, ser livre como elas pareciam estar ali.
— Eu adoraria — respondi, abrindo um sorriso sem conseguir
me conter.
— Ótimo. Vai ser um prazer enorme recebê-la em minha
companhia. Quem sabe você não ensina a algumas meninas as
técnicas que você sabe.
— É capaz delas me ensinarem algo... Dançam tão bem. É
perfeito — falei, voltando a ver a apresentação.
— Fico contente que goste das minhas meninas.
— Kiara tem um ótimo coração — Dominick falou, parando
em frente a Robin. — Ela gosta muito de todo mundo, não se sinta
privilegiado por causa disso. Agora, você pode me dar licença? Está
ocupando o meu lugar.
— Sim, Vossa Majestade, me perdoe.
Senti o sarcasmo de Robin e me arrepiei com o olhar duro
que Dominick deu a ele. Mas Robin não ligou. Se levantou devagar
e saiu de perto de mim, dando o lugar para Domincik que se sentou
no segundo seguinte. Com um sorriso aberto, Robin me olhou e
disse:
— Nosso encontro está marcado, Kiara. Te vejo em breve.
Assim que ele saiu, Dominick se virou para mim e me olhou
ainda mais sério do que antes. Quase soltei um suspiro de
resignação. Robin sempre acabava com o bom humor dele.
— Encontro?
— Não é nada de mais, ele apenas me convidou para
conhecer sua companhia de dança.
— Você aceitou?
— Sim.
— Sem me consultar?
— Não sabia que precisava te consultar para aceitar um
convite tão simples como esse.
— Robin não faz convite simples, Kiara.
— Por que você o odeia tanto? — perguntei, me aproximando
para ver seu rosto em meio a parca iluminação. — Não consigo
entender o que ele fez para você não gostar dele.
— Se você não percebeu, eu não sou um cara de gostar de
muitas pessoas.
— Mas com ele é diferente — falei, lembrando-me de minha
suspeita inicial. — Ele sabe que eu perdi a memória?
Ele desviou o olhar de mim e soltou um suspiro que eu só
consegui ouvir porque estava muito perto, com meu rosto quase
colado ao dele.
— Sabe ou não, Dominick?
— Meu tio Joseph desconfia de que Robin ouviu uma
conversa...
— Que conversa?
— Uma conversa entre meu tio e Eurick. Eles falavam sobre
você e sua perda de memória e quando saíram do escritório, na
casa de meu tio Joseph, Robin estava lá, praticamente atrás da
porta — falou, segurando minha mão. — Eu não quero que você se
encontre com Robin, Kiara.
— Por causa disso? Saber sobre minha perda de memória
não é o fim do mundo, Dominick.
— Mas eu não confio nele, Kiara. Você não vai se encontrar
com e ele e ponto-final. Entendido?
— Entendido — falei, me virando para frente.
Não estava nada entendido.
Algo me dizia que havia mais coisa naquela história.
Dominick não ficaria daquela forma só porque Robin sabia que eu
tinha perdido a memória. Tinha uma linha solta ali e eu ia me agarrar
nela.
E iria descobrir o que estava acontecendo de verdade.
Capítulo 20

“Eu poderia fazer você feliz


Fazer os seus sonhos se tornarem realidade
Não há nada que eu não faria
Iria até o fim
Da Terra por você
Para fazer você sentir o meu amor”
(Make You Feel My Love, Adele)

Dominick

Uma semana depois...

As letras do documento que eu deveria ler estavam se


embaralhando a minha frente. Sabia que eu tinha que me
concentrar, precisava ler aquele projeto e fazer anotações do que
gostava ou não gostava, do que iria ou não permitir para a
construção de uma nova via na cidade de Dobregi, mas não
conseguia prestar atenção, me perdia sempre que chegava ao
segundo ou terceiro parágrafo.
Soltei um suspiro irritado e voltei a ler, mas novamente minha
mente vagou para ela e seus olhos azuis. E aquele sentimento que
estava tomando conta de tudo o que eu era.
Não entendia como Kiara havia conseguido fazer aquilo
comigo. E também não sabia o porquê. Será que eu era muito fraco
ou ela era especial o suficiente para tocar meu coração? O que eu
sentia por ela estava se tornando tão forte, tão impenetrável que eu
me sentia sufocado.
Prestava atenção em cada passo dela, no seu respirar, no
modo como seus olhos brilhavam ao me ver, no sorriso que sempre
se abria em seu rosto quando eu a abraçava. Era como segurar o
mundo em meus braços. Ela era o meu mundo inteiro.
Quando estava com ela todas as minhas dúvidas
desapareciam, mas agora, sozinho, eu não conseguia parar de
pensar, parar de tentar entender ou encontrar um motivo para tudo
aquilo estar acontecendo. Kiara havia deixado de ser mais uma
pessoa na minha vida. Ela era simplesmente a pessoa mais
importante da minha vida.
Mas como isso aconteceu? Em que momento ela deixou de
ser uma simples mulher e virou a dona do meu coração? Por que
eu, um homem que nunca se apaixonou, que nunca quis se
envolver, que nunca pensou em ao menos passar mais do que uma
noite ao lado de uma mulher, havia me apaixonado? Quando permiti
isso?
E por que diabos eu estava adorando essa sensação de ter,
finalmente, alguém para realmente me importar?
Eu sabia o porquê. Sabia e estava mais do que na hora de
admitir para mim mesmo.
Kiara não era qualquer mulher. Era a mulher que eu escolhi,
que, inconscientemente, eu sabia que era a certa. Que me
apaixonei, mesmo sem saber, na primeira vez que coloquei meus
olhos nela. Era mais do que desejo, mais do que um sentimento
momentâneo. Eu sabia exatamente que o que eu sentia não iria
passar nunca.Porque eu a amava. A amava com toda a força do
meu coração e iria fazer tudo para que ela nunca me deixasse.
Um dominador totalmente dominado. É o que sou.
— Dominick?
Ergui meus olhos do papel que eu deveria estar lendo e olhei
para ela. Estava linda, como sempre, cabelos soltos, um vestido
rosa de primavera e um prato na mão como um pedaço de bolo.
Sorria para mim.
— Eu fiz um bolo de chocolate com Arthur e trouxe um
pedaço para você. Estou atrapalhando?
— Tranque a porta e venha aqui.
Ela obedeceu e se virou, trancando a porta. Larguei o
documento em cima da mesa e cocei o queixo com o polegar,
observando sua bunda por debaixo do vestido. Talvez eu fosse um
tarado, mas já estava louco para apalpar aquela carne que eu sabia
que era deliciosa.
Se voltou e caminhou até mim, parando em frente à mesa.
Sem desviar meu olhar do dela, afastei minha cadeira da mesa e a
chamei com o dedo, batendo minha mão livre na minha perna,
indicando onde ela deveria se sentar. Vi suas bochechas ficando
coradas e senti meu pau se retorcer sob a calça, sabendo
exatamente que sua dona estava ali, pertinho.
Sem uma palavra ela deu a volta na mesa e se sentou no
meu colo. Seu cheiro delicioso e fresco dominou meus sentidos e
acariciei seu rosto, afastando o cabelo de seus ombros.
— Primeiramente, quero deixar bem claro que você nunca
me atrapalha. Você é a única pessoa que pode invadir esse
escritório quando quiser, sem bater na porta ou pedir permissão.
— Não sabia que eu era tão importante — falou, rindo
baixinho.
— Você é a pessoa com quem eu mais me importo no mundo
tudo, Kiara — confessei, olhando em seus olhos.
Existia dentro de mim uma grande necessidade, algo que
nunca havia sentido até então. Era a vontade de, finalmente, colocar
para fora todo aquele sentimento que vinha tomando conta do meu
coração, tomando conta de quem eu era. Queria que Kiara
soubesse exatamente tudo o que eu sentia, quanto ela era
importante para mim.
Queria que ela entendesse que não existiria mais Dominick
se ela não estivesse ao meu lado.
— O que eu sinto por você é mais do que paixão, Kiara. É
mais do que gostar, do que adorar. Em tão pouco tempo, você
conseguiu mexer comigo de uma forma que nenhuma pessoa havia
feito. Eu estava aqui, agora, pensando exatamente nisso. No quanto
você é importante para mim — murmurei, pegando seu rosto com as
minhas duas mãos. — No quanto eu te amo.
— Ah, Dominick...
Ela suspirou e sorriu, antes de colocar o prato com o bolo em
cima da mesa. Quando se virou para mim, tinha os olhos repletos
d’água. Por um momento, pensei que eu tinha falado ou feito algo
errado, mas no segundo seguinte eu entendi. Ela não chorava de
tristeza, Kiara estava emocionada.
— Eu também te amo — falou, passando a mão por meu
cabelo. — Eu te amo muito, como nunca pensei que iria amar.
Senti meu coração bater rápido no peito, como um cavalo
correndo e me permiti sorrir. Pela primeira vez na minha vida, eu
senti o que era felicidade. Não era como eu pensava, felicidade não
era dinheiro, não era ter o poder ou tomar conta de um país inteiro.
Felicidade era uma coisa simples. Felicidade, para mim, era ter o
amor daquela mulher que estava no meu colo, entre meus braços.
Meu mundo inteiro.

“Nunca houve dois corações mais abertos,


Nem gostos mais semelhantes,
Ou sentimentos mais em sintonia!”

Murmurei e, por fim, a beijei.


Sabia que poema algum no mundo seria capaz de descrever
aquele momento. Nem se eu fosse no mais fundo da minha
memória acharia algum autor que já houvesse colocado em
palavras um sentimento tão forte quanto o amor que eu sentia por
Kiara, mas Jane Austen coube exatamente naquele momento,
expressando, nem que fosse um pouco, do que estava acontecendo
ali, no meio do meu escritório, no finalzinho daquela primavera.
Era mais do que uma declaração; era o começo da vida de
um homem que, finalmente, havia descoberto o amor. E havia
descoberto, consecutivamente, o que era amar.
Agarrei a cintura de Kiara e a puxei mais para mim, beijando-
a com todo o meu coração. O sabor dos seus lábios, misturado ao
chocolate que ela, com certeza, havia acabado de comer, avivou
ainda mais a minha vontade de ser dela e de fazê-la minha.
Tão natural quanto respirar ou amá-la, comecei a despi-la,
descendo as alças finas de seu vestido. Era linda e perfeita demais,
ficando de pé na minha frente para que o vestido saísse de seu
corpo. Sua calcinha verde-claro também era linda e antes que
pudesse tirá-la, a puxei para mim, beijando sua barriga, descendo
os lábios para sua bocetinha coberta pela renda fina.
Com os dedos nas laterais, puxei sua calcinha para baixo e a
deixei toda nua. Sua respiração estava alta e ofegante, suas
bochechas vermelhas e seus mamilos duros e pontudos, implorando
para serem chupados. Com água na boca, a puxei para o meu colo
e ela se acomodou com uma perna de cada lado do meu corpo, sua
bocetinha nua tocando no meu pau duro ainda todo coberto.
— É um amor pobre aquele que se pode medir — murmurei
Shakespeare, passando a língua pelo seu mamilo durinho. — Meu
amor por você é tão grande que jamais conseguirei dizer o tamanho,
Kiara... É maior do que tudo no mundo.
Ela soltou um suspiro, encantada, e fechou os olhos, jogando
a cabeça para trás. Vi duas lágrimas molhando sua bochecha e
fechei meus lábios sobre seus mamilos, sabendo porque ela
chorava. Aquele choro de emoção que não veio antes, estava vindo
agora.
Estaria mentindo se não admitisse que eu também estava
emocionado. Mas não sentia vontade de chorar. Minha felicidade
impedia que as lágrimas viessem aos meus olhos, por isso eu fiz o
que sabia fazer de melhor: chamei-a para mim com meu corpo, meu
toque e meu beijo.
Suguei seu bico com força, ouvindo seu gemido ecoar por
todo o meu escritório. Meu pau ficou ainda mais duro quando meus
sentidos reconheceram o gosto delicioso de sua pele e pulsou
quando ela se movimentou ali, bem em cima dele, esfregando a
bocetinha aberta em mim.
Mordisquei seu mamilo e o larguei, chupando todo o seu seio,
deixando marcas vermelhas por ele. Sua mão estava em meu
cabelo, puxando-o de leve. Rosnei baixinho quando fui em direção
ao seu outro seio, seu bico estava tão duro quanto o outro,
implorando por mim. Lambi, beijei e suguei, mordiscando-o no final,
deixando-a louca de tesão.
Seu corpo era como a minha casa. Ali eu me sentia seguro,
minhas dúvidas sumiam e eu me reencontrava. Era como finalmente
estar em um lar seguro depois de passar a minha vida inteira
vagando pela escuridão. Por isso eu a venerava com meus lábios,
minha língua, meu toque, minhas mãos que passeavam por suas
costas, que apertavam sua cintura e sua bunda, meus lábios que
desciam por seu corpo, sua barriga, enquanto a inclinava toda para
trás para ter espaço suficiente para tocá-la.
Queria seu gosto em mim, impregnado na minha pele, na
minha língua, queria tudo dela. Por isso, me levantei com ela no
meu colo e a beijei. Enquanto sua língua atacava a minha e suas
pernas estavam cruzadas em minhas costas, eu estava totalmente
vestido, mas mesmo assim nu de alma e coração apenas para ela,
para minha Kiara.
A deitei sobre o sofá e a admirei, meu olhar descendo por
seu corpo, sua respiração pesada e seus olhos brilhando para mim.
Sem tirar meus olhos dos dela, comecei a me despir, tirando peça
por peça rapidamente até estar tão nu quanto ela. Meu pau doía,
erguido e excitado para ela, minha respiração estava controlada,
mas meu coração ainda batia rapidamente.
Me ajoelhei no chão e toquei suas pernas, erguendo-as e
abrindo-as para mim. Beijei sua pele, o interior de suas coxas que
tremiam de excitação e cheguei a sua bocetinha que brilhava, toda
molhada. Seu cheiro era inebriante e meu pau babou na ponta
quando a toquei com a minha língua.
Rodeei sua entrada, provando seu gosto mais uma vez, tão
viciado nela quanto um dependente químico e, sem conseguir mais
me segurar, abri minha boca e a chupei de baixo para cima,
sugando tudo para mim até chegar ao seu clitóris inchado e
vermelhinho. Kiara gritou, se contorceu no sofá e com a sua cintura
presa pelas minhas mãos, continuei a devorá-la com a minha boca,
vendo-a delirar de prazer.
Apesar de ser um mestre ali, de ensiná-la cada vez mais
sobre o sexo, sobre o orgasmo, sobre todo o prazer que poderíamos
sentir, era Kiara que realmente era a minha professora. Aquela que
me ensinava sobre o amor, sobre ser alguém melhor, sobre atrasar
o meu prazer apenas para vê-la daquela forma, gritando e tremendo
sobre o sofá, louca com o que eu fazia com ela, com o prazer que
lhe proporcionava.
E eu era louco por aquilo. Por sentir a textura sedosa de seus
lábios vaginais, por ser o único a ter estado ali, por poder lamber
seu clitóris que implorava pela minha língua, poder mergulhar meus
dedos e depois o meu pau naquela bocetinha quente e apertada.
Deixava minha língua degustá-la, lambendo seu nervo
durinho para cima e para baixo, enquanto meus dedos a comiam,
massageando aquele ponto poderoso abaixo do osso púbico. Rodei
meu dedo e o pressionei ali, indo e vindo sem parar, minha boca
sugando com força seu clitóris, prendendo-o em minha boca e
passando minha língua.
Kiara se tensionou. Suas costas se arquearam, seus seios se
empinaram em todo o seu esplendor e como a deusa que era, ela
gozou, ejaculando sem parar enquanto eu continuava a trabalhar
incessantemente em seu ponto G, levando-a ao topo.
Meu pau pareceu dobrar de tamanho ao ver o prazer dela,
tão linda e gostosa se contorcendo no sofá, gritando meu nome,
suas bochechas molhadas pelas lágrimas que eu sabia que, agora,
eram de tesão. Quando me afastei e tirei meu dedo, Kiara relaxou e
abriu os olhos, me encarando.
Não consegui ficar longe dela por muito tempo e me levantei,
apoiando meu joelho no sofá. Me deitei em cima dela, apoiando
meu peso em um cotovelo, usando a outra mão para acariciar seu
rosto e secar suas lágrimas com a ponta dos dedos. Seus lábios
estavam vermelhos, sua respiração ofegante e ela era a coisa mais
linda que eu já tinha visto.
— Você é homem da minha vida — ela sussurrou com a voz
rouca por ter gritado muito. Não consegui me mover e nem sorrir,
mas ela conseguia sentir meu coração batendo forte, colado ao seu
peito. Tocou meu rosto com carinho e sorriu para mim com seus
olhos brilhando. — Também é a pessoa mais importante do mundo
para mim e quero que saiba que eu te amo mais do que tudo. Te
amo com a força de cada batida do meu coração.
— Eu te amo mais — respondi no mesmo tom, tocando seus
lábios nos meus.
Afundei minha língua na sua e desci a mão para o meu pau,
pincelando-o em toda sua boceta. Kiara gemeu e abriu mais as
pernas, toda receptiva e eu a penetrei devagar, alargando-a aos
poucos para me comportar lá dentro, até chegar ao fundo.
Gememos juntos, mas não afastei minha boca da sua e
comecei a me mover. Sabia que já estava mais do que na hora de
me prevenir, que eu deveria me levantar dali e colocar a porra da
camisinha, que Kiara já deveria ter se consultado com uma
ginecologista para tomar anticoncepcional, mas nada disso foi o
suficiente para me afastar dali, dos braços dela, de dentro dela,
onde era o meu lugar.
Eu iria fazer amor com a minha mulher e que se fodesse a
camisinha, a porra do anticoncepcional, eu apenas a queria para
mim, livre de qualquer coisa que me impedisse de senti-la, de ser
dela e dela ser toda minha.
Tirei meu pau quase todo e meti de novo, mergulhei naquela
quentura toda, naquele lugar tão apertado e tão meu. Kiara gemeu,
suas unhas rasparam minhas costas e eu a beijei ainda mais,
metendo com força, até não saber onde ela começava ou onde eu
terminava.
Sentia o tesão forte dentro de mim, apertando minhas bolas e
fazendo meu pau ficar ainda mais duro. Kiara pulsava, sensível pelo
orgasmo anterior e pronta para gozar novamente, mas eu queria
prolongar aquilo, queria ficar ali para sempre, mas não consegui,
não quando ela gemia entre meus lábios e rebolava embaixo de
mim, se esfregando toda no meu corpo.
Sem conseguir parar, meti cada vez mais rápido, sentindo-a
toda em mim, em meu corpo, na minha boca, no meu pau e fui até o
fundo, até que a senti me apertar ao máximo e depois relaxar, seu
corpo tenso embaixo do meu, as unhas fincadas nas minhas, seu
gemido engasgado e seu gozo molhando todo o meu pau.
Me perdi nas sensações, nas emoções que me assolavam
por inteiro e um raio de tesão foi das minhas bolas até a cabeça do
meu pau, fazendo-me esporrar com força dentro dela. Gemi em
seus lábios, tentei dizer que a amava, mas as palavras saíam
desconexas e abafadas entre os nossos lábios.
Continuei a meter sem parar, meu corpo suado junto do seu,
meu pau mergulhado na sua boceta apertada e agora toda melada
pelo meu gozo e só parei quando o último jato saiu, me fazendo
ofegar, era tudo tão intenso que não parecia estar apenas dentro de
mim, mas sim naquela sala, como se tudo ali gritasse o quanto eu
amava.
Deixei sua boca e deitei minha cabeça em seu ombro, ainda
suportando meu peso em meus cotovelos. Kiara soltou um suspiro e
acariciou minhas costas suadas de cima a baixo, me dando um
carinho que nunca me permiti sentir. Respirei seu cheiro, senti sua
boceta ainda me apertando e seus seios colados ao meu peito.
— Estar em seus braços é como estar, finalmente, em casa,
Kiara — murmurei em seu ouvido, mais abalado do que queria
admitir. — Prometa-me que nunca vai me negar abrigo, que sempre
vai estar aqui, me permitindo estar no melhor lugar do mundo.
— Eu prometo.
Me ergui e olhei em seus olhos, vendo que falava a verdade.
Ali eu senti medo. O medo avassalador de um dia tudo vir à tona e
ela me deixar. Ali eu vi que, por mais que tudo dissesse que não, a
verdade poderia surgir e ela nunca iria me perdoar.
— Promete que nunca vai me deixar — pedi, sentindo meu
coração bater forte, mas, dessa vez, era de medo.
Um medo puro e aterrorizador. Como nunca senti em toda a
minha vida.
— Eu prometo. Prometo que nunca vou te deixar — falou,
sorrindo de leve e levando uma mão ao meu rosto. — Eu te amo,
Rei Dom... Como poderia te deixar?
— Você realmente promete?
— Sim, eu prometo. E você? Promete nunca me deixar?
— Como eu poderia? Você é meu mundo, Kiara, é minha vida
toda. É um anjo que entrou na minha vida e que eu amo mais do
que tudo.
Sem pensar duas vezes, a beijei, afastando de mim aquele
medo assolador. Ela era minha para sempre, nunca iria me deixar,
sempre estaria ali comigo, protegida de tudo.
Protegida da verdade que poderia acabar com a minha vida.
Capítulo 21

“Como gostaria que eu pudesse passar pelas portas da minha mente


E agarrar a memória com a mão”
(Tears and Rain, James Blunt)

Kiara

“Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te


simplesmente sem problemas nem orgulho: amo-te assim porque
não sei amar de outra maneira”
(Pablo Neruda)
Nunca esqueça que você é tudo para mim. Você é meu
mundo.
Com amor, seu Rei Dom.”

Acordei com essa mensagem escrita em um cartão branco e


bonito, repousado sobre a minha mesinha de cabeceira ao lado de
uma linda flor rosa. Foi impossível não deixar um sorriso gigante
nascer em meu rosto e li e reli o cartão milhares de vezes antes de
beijá-lo e colocá-lo dentro da gavetinha na cabeceira, junto com os
outros três que Dominick havia me dado nos dias anteriores.
Desde que nos declaramos naquela segunda-feira em seu
escritório, ele vem se mostrando cada vez mais romântico e
amoroso. Havia me confidenciado que sempre gostou muito de
poesias e literatura e que agora, comigo ao seu lado, sabia
exatamente como usar aquelas citações amorosas que ele havia
gravado.
E isso enchia meu coração de amor. Tinha certeza de que
não havia no mundo alguém mais feliz do que eu, ou uma mulher
que fosse mais amada e que amasse mais do que eu. Dominick não
era apenas o meu marido ou o homem que eu me entregava todas
as noites — às vezes a tarde também —, ele era o homem que eu
amava, o homem que eu aprendi a confiar.
Nossos momentos juntos eram incríveis, não só na cama,
mas fora dela também. Conversávamos sobre tudo, eu me sentia à
vontade com ele, estava cada vez mais viciada no seu toque, seu
cheiro, no modo como fazia amor comigo e estava gostando até
mesmo de visitar o seu calabouço.
Antigamente esse nome me dava arrepios. Mas agora, que
eu confiava em Dominick e sabia que ele jamais me machucaria,
estava gostando daquilo, de estar à mercê e saber que eu teria um
prazer inigualável.
A verdade é que aquela era a minha nova vida, uma vida que
eu já tinha aprendido a amar. Nosso relacionamento havia crescido,
minha confiança em Dominick havia crescido e eu acreditava nele
acima de tudo. Via nos seus olhos o seu amor por mim, seu
cuidado, sentia no seu toque e no som da sua voz, e naqueles
cartõezinhos que ele havia criado o hábito de sempre me deixar
escrito todas as manhãs.
Queria muito me lembrar da minha vida, saber como eu era,
reviver o momento em que o conheci e me apaixonei, mas agora eu
havia me conformado. Talvez eu lembrasse de tudo um dia, talvez
não, mas o que importava é que eu era feliz agora e acreditava em
meu marido.
E o amava com todo o meu coração.
Feliz, me levantei da cama e fui em direção ao banheiro para
me preparar para um novo dia. Depois de um banho e de terminar
de me arrumar, saí do quarto e fui em direção aos elevadores com
aquela preguiça da manhã que me impedia de descer três andares
inteiros de escadas.
Quando cheguei à mesa de café da manhã e vi apenas
Dallah e Arthur sentados, me lembrei de que Dominick havia me
avisado que teria uma reunião com Chefes de Estado no primeiro
horário da manhã e senti a saudade apertar meu peito, acostumada
a tê-lo ao meu lado no horário do café.
— Oi, tia Kiara, a senhora está muito bonita — Arthur me
saudou, sorrindo.
Me aproximei dele e beijei seus cabelos loiros, antes de
tomar o meu lugar. Thomas, sempre educado e silencioso, afastou a
cadeira para mim e depois me serviu de uma xícara fumegante de
café.
— Obrigada, Thomas — agradeci, vendo-o assentir e sorrir.
Ele pouco sorria, mas já havia feito amizade com ele. — E obrigada,
Arthur, você também está muito bonito com esse uniforme da
escola.
— Obrigado, tia Kiara. Eu gosto da escola, a tia Berenice
sempre conta histórias para a gente antes da aula acabar.
— Isso é ótimo, Arthur. — Sorri, olhando para Dallah. — Você
deve se sentir muito orgulhosa dele, não é?
— Muito! — falou, sorrindo, e passou a mão pelo cabelo do
filho. — Ele é meu maior presente.
— Mamãe, eu não sou presente, sou um homenzinho!
Ri, divertida, vendo Arthur encarar Dallah com seriedade.
Estava andando muito com Dominick, só podia ser.
— Me desculpe, meu homenzinho — Dallah respondeu,
sorrindo para ele e dando um beijo em seu rosto. — Agora vá
escovar os dentes, porque você tem que ir para a escola em vinte
minutos.
Ele assentiu e se levantou, pedindo licença ao sair da mesa,
todo educado. Dallah o acompanhou com aquele olhar de mãe
amorosa até ele sumir de nossas vistas e eu suspirei, sabendo que
quando eu fosse mãe, me sentiria tão boba quanto ela. Segundos
depois, ela me fitou e sorriu maliciosa.
— Hum... Eu estou adorando ver você e Dominick.
— Como assim?
— Estou adorando ver todo esse amor. Dimir disse que em
breve pegará diabetes, já eu estou exaltada, toda feliz! Você não
imagina o quanto eu torci por vocês, Kiara. Dominick vem se
tornando um homem cada vez melhor com você ao lado dele, já
perdi as contas de quantas vezes ele sorri por dia quando você está
por perto.
— Eu também estou muito feliz — respondi, tomando um
gole do meu café. — Nunca pensei que eu poderia amar tanto,
Dallah, principalmente Dominick. Não nos demos bem no começo,
mas agora tudo é tão diferente!
— É diferente sim. Você não é mais virgem, vocês se amam
e parecem dois coelhos. — Ela riu e eu senti meu rosto pegar fogo,
olhando discretamente para Thomas que parecia uma estátua de
cera no fundo da sala. — Acho que em breve Arthur terá um
priminho para brincar pelo palácio.
Senti meu coração estremecer com aquela possibilidade. Não
era burra, sabia que era possível já que nem sempre Dominick
gozava fora de mim. Sentia vontade de ser mãe, de ter um bebê na
minha barriga assim como Andy, empregada do palácio que estava
grávida, perto de ter seu neném. Mas nem tudo dependia de mim e
sabia que Dominick talvez não estivesse preparado e nem quisesse
ser pai agora.
— Dominick e eu somos um casal, Dallah... Para ter um filho,
o casal tem que querer, não apenas uma pessoa.
— Mas você quer?
Olhei para ela, que me olhava atentamente.
— Talvez. Eu estaria mentindo se dissesse que não quero ser
mãe, mas Dominick e eu acabamos de nos casar, somos jovens...
Acho que ainda está cedo.
— Você tem razão. Aproveite o casamento e depois os filhos
virão — falou, sorrindo, me mostrando que nem sempre ela era
doidinha. — Vamos ao shopping? Não quero ficar trancada dentro
do palácio hoje, precisamos tomar um ar puro.
Assenti, subitamente animada. Adorava sair do palácio e ver
as ruas, as pessoas, o comércio e a paisagem tão bonita de
Orleandy, que eu aprendi que ficava estonteante naquele verão
tipicamente europeu.
Depois do café, coloquei uma roupa mais elegante e me
juntei a Dallah e Arthur no carro. Ele falava e falava sentado na sua
cadeirinha, olhando pela janela fechada e apontando para as
pessoas que paravam ao ver o carro do palácio, que era conhecido
pelas bandeirinhas que ficavam presas no carro e balançavam ao
vento.
A escola onde Arthur estudava era linda, um lugar enorme
que parecia um castelo, todo em pedras brancas. Dallah havia
falado que era a escola mais conceituada de Orleandy. Ele me deu
um beijo e me abraçou apertado, antes de sair com Dallah e se
despedir dela na porta da escola. Depois encontrou dois
coleguinhas e saíram correndo, sumindo de nossas vistas.
Enquanto Dallah voltava para o carro, eu olhei para o outro
lado da rua, observando as construções modernas em meio a
construções antigas, todas belíssimas, até que um letreiro me
chamou atenção.

Robin Melt Ballet Company.

O letreiro em aço era enorme, no início de um prédio


moderno e gigante. Senti meu coração apertar e minha curiosidade
se aguçar ao ver meninas vestidas em roupas de dança entrar e sair
do prédio, com coques impecáveis e postura ereta, como a minha.
E, sem poder impedir, lembrei do convite que Robin havia me feito
na festa de São Felício e no quanto ele aguçou a minha curiosidade
para querer saber se ele sabia ou não da minha perda de memória.
Assim que Dallah entrou no carro eu me virei para ela, vendo
sua expressão se franzir.
— O que foi?
— Podemos conhecer a academia de dança do Robin?
Ela olhou além de mim e eu sabia que via o prédio ao longe,
assim como eu tinha visto há alguns segundos. Mordeu o lábio com
força e torceu as mãos, coisa que fazia sempre quando ficava
nervosa.
— Ah, Kiara, não sei... Dominick não gosta muito do Robin.
— Nós só vamos conhecer, Dallah! Por favor, ele nem precisa
saber.
— Mas você acha certo esconder isso dele? Ele confia em
você, Kiara.
— Eu juro que conto para ele quando chegarmos em casa!
Ela me olhou e depois olhou novamente para o prédio atrás
de mim. Torceu a mão e mordeu o lábio mais uma vez, antes de
finalmente me fitar e falar:
— Tudo bem, mas só porque eu adoro fazer essas coisas
proibidas!
Sorri e me virei para o motorista, pedindo para que nos
levasse ao prédio. Ele o fez sem dizer nada e eu me movi no banco,
mais curiosa do que tudo.
Quando parou em frente ao prédio, saiu do carro e abriu a
porta para nós. Vi que muitas pessoas nos olharam e acenei para
quem acenou para mim, sorrindo. Quando entramos no prédio de
piso branquíssimo e decoração em aço, uma recepcionista veio
correndo e sorrindo para gente, dizendo que já havia avisado a
Robin sobre a nossa presença.
Sorri quando algumas bailarinas vieram falar conosco. Eram
lindas e educadas e me olhavam como se eu fosse uma rainha.
Mas, então, eu me lembrei de que realmente seria a rainha daquele
povo e fiquei ainda mais feliz por saber que gostavam de mim.
— Kiara, que surpresa maravilhosa! — Robin saudou,
chegando perto de mim.
— Eu também estou aqui, Robin.
— Eu sei, Dallah — disse, sorrindo para nós duas. — Estou
muito contente que tenha vindo também.
— Kiara me arrastou.
— Dallah, por favor — murmurei, vendo sua cara fechada
para Robin. — Estávamos passando aqui em frente e eu resolvi
descer para conhecer sua academia.
— Será um prazer apresentar tudo para você. Tenho certeza
de que adorará nossa estrutura e as minhas meninas.
— Que programa maravilhoso. Kiara, preferia ter ido ao
shopping... — Dallah, parecia realmente estar entediada. — Você
vai conhecer as bailarinas e eu vou ao banheiro, te encontro depois.
— Tudo bem, prometo não demorar.
Ela assentiu e se afastou e eu acompanhei Robin até o
elevador. Ele me explicava que começou balé aos cinco anos e
desde então não parou mais. Com quatorze anos foi aceito no
Bolshoi e aos vinte anos abriu sua própria academia, que hoje era
uma das mais respeitadas no mundo.
Chegamos ao primeiro andar, que era repleto por salas de
dança para crianças. Uma era para crianças de três a cinco anos,
que ainda estava fechada àquela hora, e as outras eram para
crianças de seis a doze anos.
Eu estava fascinada com a estrutura, com salas espelhadas,
barras, o chão lindo de madeira clara e as paredes pintadas em tons
cremes.
No segundo andar, era destinado aos adolescentes e tinha
um grupo de meninas se alongando junto a professora. Uma música
clássica tocava ao fundo e elas estavam tão compenetradas que
nem se deram conta da nossa presença.
O terceiro andar já era para as bailarinas adultas e tinha um
grupo que treinava com afinco, enquanto a professora ditava regras
de posturas e passos. Senti meu coração pulsar com aquilo, uma
vontade estranha de me juntar a elas me tomou de repente, como
se eu soubesse fazer exatamente tudo aquilo. Engoli em seco e
observei maravilhada, gravando cada passo em minha mente e
prometendo a mim mesma que faria exatamente igual assim que
chegasse em casa.
— Vamos ao quarto andar, onde fica o meu escritório. Eu
tenho um presente para você.
— Presente? — perguntei, me virando para ele.
— Sim, eu comprei para você assim que a conheci no dia do
seu noivado. Só não tive oportunidade para lhe entregar.
Desconfiada, o segui até o quarto andar, que era diferente
dos demais. Era um longo corredor, e, então, chegamos onde sua
secretária estava sentada, digitando furiosamente no teclado do
computador. Ela sorriu para mim quando passei e Robin abriu a
porta do seu escritório para que eu pudesse entrar.
Sua sala era linda, com muitas fotos suas dançando e de
outras bailarinas. Havia uma estante só com prêmios, mas não
consegui prestar atenção em muita coisa, curiosa para saber o que
ele tinha para me dar. Seguiu até uma grande estante de madeira e
a abriu com uma chave, tirando de dentro dela uma fileira de livros e
uma sacola linda, cor-de-rosa.
— Isso é para você — falou, colocando os livros sobre sua
mesa.
Me aproximei e vi sobre o que era. Livros grandes, grossos,
sobre balé clássico. Maravilhada, olhei um por um, tudo sobre balé.
Havia um sobre técnicas, outro sobre passos, outro sobre a história
do balé e seus tipos que variavam entre clássico e contemporâneo.
— Nossa! — murmurei, feliz, voltando a olhar para ele. —
Robin, isso é incrível, muito obrigada.
— Não agradeça ainda, também tenho isso para você.
Então ele me deu a sacola cor-de-rosa. Olhei dentro dela e
tirei a caixa de madeira branca que havia ali, colocando-a sobre a
mesa e a abrindo. Senti meu coração pular mais rápido quando vi
um par de sapatilhas de ponta, lindas, dentro da caixa. Peguei uma
e acariciei, sentindo a textura do cetim na ponta dos dedos.
— Robin, eu nem sei que o dizer... — murmurei, olhando para
a sapatilha.
— Mas eu sei o que dizer — falou, chamando minha atenção.
— Eu sei de tudo, Kiara.
— Tudo o quê?
— Sobre você não se lembrar de nada sobre a sua vida —
disse e eu engoli em seco, confirmando minha suspeita. — Eu ouvi
uma conversa do meu tio Joseph com Eurick e achei tudo muito
estranho.
— Tudo muito estranho? Como assim?
— Não importa — falou, sorrindo fracamente. — O que
interessa é que eu comprei esses livros para que você estude e
volte a se exercitar, volte a ser a bailarina que Dominick disse que
você era antes.
Ouvi atentamente e guardei a sapatilha de volta na caixa,
fechando-a.
— Seja sincero comigo, Robin. O que você achou estranho?
— Kiara, isso não importa, eu não tenho que me meter na
sua vida e creio que Dominick me cortaria a cabeça se eu me
metesse.
— Dominick não vai saber.
Sabia que era a segunda vez que falava que esconderia algo
de meu marido em menos de uma hora, mas não conseguia me
conter. Se tinha algo estranho, como Robin dizia, eu queria saber o
que era.
Robin suspirou e passou a mão pelo queixo, falando por fim:
— Achei estranho quando meu tio Joseph havia dito que você
era de Piechvi e que Dominick ia para lá para ficar com você, antes
do seu acidente.
— Por que achou estranho?
— Porque Dominick nunca foi a Piechvi — falou, franzindo o
cenho. — Na verdade, Dominick evita ir a lugares tão simples como
Piechvi, não é do perfil dele frequentar lugares onde não tenha
riqueza e luxo.
— Mas ele me disse que passou a ir a Piechvi por minha
causa.
— Mas isso é ainda mais estranho. Meu tio dizia a Eurick que
Dominick a conheceu na festa de São Felício no ano passado... Mas
Dominick nem ficou direito na festa, ele só apareceu no discurso
que o Rei Patrick fez e foi embora. E quando digo que foi embora, é
porque ele foi para Roma, onde estava passando alguns meses.
Olhei para ele sem entender, me sentando na cadeira atrás
de mim.
— Talvez ele tenha me visto antes de ir embora... Ou até
mesmo antes do discurso do rei — murmurei, tentando achar
respostas.
Ou talvez, tentando achar desculpas para Dominick.
— Impossível, Kiara. Primeiro porque Dominick não frequenta
a festa de rua, ele nem sai do carro para olhar as pessoas e acho
que você percebeu isso no sábado.
Assenti, meio aturdida, esperando-o continuar.
— Segundo que eu me lembro muito bem que Dominick saiu
do discurso e foi direto para o aeroporto. Ele e o Rei Patrick nunca
se deram bem e pouco se falavam, nem pareciam pai e filho, então,
ele pouco ficava no palácio. Para falar a verdade, ele pouco ficava
em Orleandy. E isso só mostra que, se ele ao menos ficava no país,
como ia ao interior do país, em uma cidade tão pequena e simples
como Piechvi?
Não soube responder e ouvi um suspiro vindo de Robin.
— E também tem o fato de eu tê-lo encontrado na Rússia,
dias antes de ele aparecer com você no castelo.
— Como assim? O que ele estava fazendo na Rússia?
— Não sei, Kiara. Talvez não tenha nada a ver com você,
mas toda essa história está estranha demais.
Engoli em seco, desviando meu olhar dele e tentando
entender o que era aquilo. Todas aquelas informações batiam de
frente com tudo o que Dominick havia me contado. Já havia
percebido que ele realmente não gostava de pessoas mais simples,
na festa ele realmente não saiu do carro, mas, então, por que ele
havia me contado que me conheceu em uma festa que ele ao
menos frequentou?
Por que havia mentido?
Então eu olhei para Robin. Ele parecia estar sendo sincero,
mas Dominick não gostava dele e Dallah também não, pelo que
parecia. Não sabia muito sobre a relação dele com meu marido,
mas ele podia muito bem estar inventando tudo aquilo para
desestabilizar nossa relação.
Eu conhecia Dominick, o amava com todo o meu coração.
Robin era apenas um cara que eu havia acabado de conhecer, não
podia deixar minha mente fraca e em branco acreditar em tudo o
que ele dizia. Eu tinha que acreditar no homem que eu amava!
Ou averiguar tudo o que Robin havia falado.
Era como se meu subconsciente estivesse me alertando.
Meu coração dizia para deixar aquilo para lá e seguir em frente com
Dominick, mas minha mente dizia para ver se aquilo era realmente
verdade ou mentira.
Confusa e ainda sem saber o que realmente fazer, me
levantei e olhei para Robin, que estava em silêncio durante todos
aqueles minutos.
— Eu agradeço a explicação, Robin. Obrigada por expor suas
dúvidas — falei. — E também agradeço pelos presentes, mas não
posso...
— Pode e deve aceitar. Não aceito devolução de presentes,
Kiara — falou, sério.
Suspirei e assenti, pegando os livros. Ele colocou a caixa de
madeira na bolsa e apontou para a porta, me acompanhando.
Quando entramos no elevador, tentei me manter quieta e em
silêncio, mas me ouvi perguntar antes de poder impedir:
— Você acha que Dominick mentiria para mim?
Robin suspirou e me olhou nos olhos, me passando uma
confiança que eu não queria sentir.
— Eu acho que você deve procurar por respostas, Kiara. Não
acredite em tudo que todo mundo fala. Escute tudo, grave tudo e
procure... É a sua vida e você tem sim o direito de saber o que
realmente aconteceu. Talvez você não vá se lembrar de tudo um
dia, mas tem que saber ao menos o que de fato houve contigo.
Assenti, sabendo que ele estava certo mais uma vez. Uma
parte de mim queria largar tudo aquilo e sair correndo de volta para
os braços de Dominick e nossa vida perfeita. Outra parte — a que
me dominava — queria saber o que aconteceu de verdade, juntar as
peças soltas e montar aquele enorme quebra-cabeça.
Chegamos a recepção e Dallah estava sentada no sofá,
tomando uma xícara de café. Se levantou quando me viu e colocou
a xícara sobre a mesa, franzindo o cenho ao me ver com os livros.
— O que é isso? Isso é uma academia de dança ou uma
biblioteca?
Se eu não estivesse tão tensa riria de suas maluquices, mas
apenas fiquei quieta e deixei Robin responder:
— É só alguns livros sobre balé que dei a Kiara, para que ela
leia. Não é nada de mais. Vou acompanhar vocês até o carro.
Fomos em silêncio para o lado de fora do prédio e Robin fez
um sinal para o que o motorista ficasse no carro. Ele mesmo abriu a
porta e Dallah entrou primeiro.
— Não esqueça que você tem o direito que saber sobre a sua
vida — murmurou para mim, me dando a sacola rosa.
— Eu sei, não vou me esquecer. Obrigada por me explicar
tudo o que sabia — murmurei, conseguindo sorrir de leve antes de
entrar no carro.
Ele fechou a porta e acenou para gente e, então, o motorista
colocou o carro em movimento.
— Senhoritas, gostaria de informar que o chefe da segurança
do palácio me ligou e deu ordens para que voltássemos para lá.
— Por quê? — Dallah perguntou.
— O carro tem um sistema de GPS e o Rei Dominick soube
que estávamos aqui. Não sabia que não poderia vir a academia do
senhor Robin Meltt, Wayne, chefe da segurança, se esqueceu de
me passar esse recado. Pelo que pude entender, o rei deu ordens
expressas para que voltássemos ao palácio.
— Meu Deus do céu, Kiara! Dominick sabe que viemos aqui,
ele vai nos matar!
Suspirei e fiquei quieta, enquanto via Dallah fechar as mãos e
começar a orar. Observei a paisagem, deixando minha mente dar
voltas e mais voltas e não chegar a lugar algum. Quando chegamos
e entramos no hall, Dimir veio em nossa direção. Beijou Dallah e
depois olhou para mim.
— Dominick está no quarto, te esperando.
Apenas assenti e vi Dallah falar “boa sorte” para mim. Fui em
direção aos elevadores e senti meu coração bater mais rápido no
peito, não só pelo medo, mas também pela irritação, pela raiva e
pela suspeita de que Dominick pudesse estar, realmente, mentindo
para mim.
Quando cheguei ao nosso quarto, o mesmo estava vazio,
mas a porta do calabouço estava aberta, me dando a entender que
Dominick estava lá embaixo. Sem abaixar a cabeça, deixei os livros
e a sacola em cima da cama e desci as escadas de pedras. Quando
cheguei lá embaixo, vi Dominick próximo ao bar, usando apenas
uma calça preta social e tomando um gole de uísque.
Seu olhar parou em mim e eu fui em sua direção, observando
sua expressão dura.
— Eu falei que não queria que você se encontrasse com
Robin. Você disse que iria me obedecer. Mas, então, eu chego em
casa achando que encontraria minha querida esposa, mas descubro
que ela me desobedeceu e está na academia do filho da puta do
Robin Meltt.
Tomou o uísque todo de uma vez e, em seguida, bateu o
copo em cima do bar de madeira, sem desviar o olhar de mim. Não
me alterei e nem saí do lugar.
— Que porra você estava fazendo lá quando eu disse que
era para você ficar longe dele?
— Ficar longe dele para não descobrir que você está
mentindo para mim? — falei, vendo-o apertar o maxilar com força.
— Você está mesmo mentindo para mim, Dominick?
Seu olhar endureceu e vi de relance sua mão se fechar em
punho. Sua respiração ficou mais acelerada e daquela vez eu engoli
em seco, com medo de sua reação, mas fiquei parada no mesmo
lugar, disposta a tudo para que ele me contasse a verdade de uma
vez por todas.
Capítulo 22

“Não subestime as coisas que eu vou fazer


Há uma chama se acendendo em meu coração
Chegando num ponto de febre
Me tirando a escuridão.
(Rolling In The Deep, Adele)

Dominick

Os olhos azuis de Kiara brilhavam para mim, ferozes,


instigando-me a contar a verdade. Me perguntava como a mesma
mulher que fazia meu coração bater mais forte por amor, também
conseguia me fazer sentir tanta raiva como naquele momento.
Raiva dela, raiva de mim, raiva do mundo e, principalmente,
do filho da puta do Robin Meltt.
— Fale alguma coisa, Dominick! — Kiara gritou, fazendo-me
endurecer ainda mais.
Eu estava ali, naquele quarto, sabia que poderia castigá-la da
forma que eu quisesse. Em minha mente já passavam várias formas
de torturas, poderia colocá-la de quatro dentro do poço de castigo,
com as mãos amarradas aos tornozelos e uma mordaça apertada
em sua boca, enquanto tomava mais um copo do meu uísque
escocês e acalmava meu ânimo.
Poderia pegar meu cane favorito e bater nela, deixá-la toda
marcada. Poderia fazer uma infinidade de coisas, mas a porra do
meu amor por aquela mulher me impedia de realmente machucá-la.
Tinha dentro de mim a convicção de que jamais conseguiria
castigar Kiara, por mais rebelde, inconsequente e desobediente que
ela fosse. E apesar de ela estar inclusa na minha raiva, sabia que
não deveria me concentrar nela e sim no desgraçado que estava se
metendo na nossa vida, que estava despertando nela a curiosidade
de saber mais sobre a droga de seu passado.
O ódio crepitava dentro de mim, minhas mãos estavam
fechadas em punho e meu maxilar travado, me impedindo até
mesmo de falar porque eu sabia que se abrisse a boca iria falar
coisas que a magoariam. Por isso, me desviei dela e fui em direção
as escadas do calabouço, subindo os degraus rapidamente,
sabendo exatamente onde eu deveria ir.
— Dominick, pare com isso! — Kiara gritou, subindo atrás de
mim. — Volte aqui, eu quero saber a verdade, pare de fugir de mim!
Continuei a subir e cheguei ao meu quarto catando minha
blusa preta que havia deixado em cima da poltrona. Comecei a
abotoá-la quando Kiara parou próximo a cama, me chamando
atenção para os livros e a sacola rosa que estava ali em cima.
Poderia não ter prestado atenção em meu quarto quando cheguei,
mas teria notado aquela sacola rosa berrante ali em cima.
Me desviei de Kiara novamente e me aproximei da cama,
franzindo o cenho ao ver a pilha de livros sobre balé e a sacola meio
aberta, mostrando uma caixa de madeira. Acho que Kiara falou mais
alguma coisa, mas a minha raiva aumentou, me deixando surdo,
meu sangue fervendo. Com ódio, rasguei a sacola de papel e abri a
caixa de madeira, vendo um par de sapatilhas ali, sabendo muito
bem de onde Kiara havia tirado aquilo.
— Então, agora ele também te dá presentes? — perguntei
em tom baixo, pegando uma sapatilha na mão e me virando para
ela. — E você aceita?
— Não desconversa, Dominick, por favor! — falou, se
aproximando de mim. — Vamos conversar, é só isso que eu quero:
conversar. Quero entender tudo, saber a verdade.
— Engraçado porque quando eu quis te dar uma joia que foi
da minha mãe você não quis. E agora essas porcarias do Robin
você aceita facilmente? Que porra é essa, Kiara? — perguntei,
jogando a sapatilha com raiva em cima da cama, pois o ódio me
comia vivo.
— Eu só quero saber se você realmente está mentindo para
mim, Dominick! Será que é tão difícil responder? — gritou,
enraivecida, seu rosto ficando todo vermelho.
Mas ela não sabia o que era raiva, o que era ódio de
verdade. Eu tinha motivos para estar maluco e gritando pelo quarto,
ela não!
— Quero que jogue todas essas porras no lixo — falei,
terminando abotoar minha camisa. — Quando eu voltar não quero
ver mais um vestígio de presente de Robin nesse palácio.
— Como assim, quando você voltar? Onde você pensa que
vai?
Não respondi.
Peguei a chave do meu carro em cima da mesa próximo a
porta e saí do quarto, ajeitando o colarinho da minha camisa.
Novamente ouvi os passos corridos de Kiara atrás de mim e fui em
direção as escadas, sabendo que ela tentaria a todo custo arrancar
tudo de mim enquanto esperássemos o elevador, mas eu não falaria
nada, nunca.
Se dependesse de mim, ela viveria para sempre no escuro.
Isso me garantia que ela ficaria para sempre ao meu lado.
— Dominick, espera, você não vai sair e me deixar assim,
cheia de dúvidas!
Ela falava e falava e minha raiva aumentava enquanto descia
todos aqueles degraus. Minutos depois parei no hall e ouvi a voz de
Dimir na sala de meu pai. Andei até lá e parei na porta quando Kiara
se colocou na minha frente, espalmando as mãos no meu peito.
— Você não vai a lugar algum até termos conversado,
Dominick!
Olhei para ela e em meio a toda aquela confusão, toda
aquela raiva e ódio, o Dominick frio voltou. Eu poderia ter mudado,
poderia amar aquela mulher, mas ninguém dizia o que eu deveria ou
não fazer. Um sorriso sem humor se abriu em meus lábios e ouvi
Kiara ofegar, seus olhos foram se arregalando, me dando aquele
prazer quase mórbido de surpreendê-la.
— Quem você pensa que é para me impedir?
— Eu sou a sua esposa!
— Ainda não entendi o que uma coisa tem a ver com a outra.
— Eu sou a sua esposa e quero que fique aqui para
conversarmos!
— Eu não tenho nada para conversar com você, Kiara. E
pode ter certeza de que tenho algo mais importante para fazer agora
do que ficar aqui, olhando para sua cara de esposa idiota e curiosa
que acha que eu tenho algo para contar!
— Dominick...
— Não se meta! — cortei Dallah antes mesmo dela começar
e me virei para Dimir, que olhava a tudo calado e pensativo. —
Dimir, venha comigo.
Ele se levantou e deu um beijo em Dallah antes de vir em
minha direção. Senti vontade de beijar Kiara também, meu corpo já
sentia falta do dela, minhas mãos coçavam para tocá-la, mas o
clima entre nós dois não era um dos melhores para que eu me
aproximasse dela.
— Não esqueça de jogar aquelas porcarias no lixo.
Sem esperar resposta, me virei e saí junto com Dimir.
Johnson, meu segurança, se aproximou e eu fiz apenas um sinal
dando a entender que sairia sozinho. Quando entrei em meu carro e
o liguei, sentindo o tremor potente do motor, senti que finalmente
estava no caminho certo, indo acabar com quem queria acabar
comigo.
Dirigi rapidamente com Dimir ao meu lado, em silêncio. Ele
me conhecia como ninguém e sabia que eu não o tinha chamado
para conversar. Confiava nele cegamente, meu peito quase
explodia, me obrigando a me abrir com ele, mas sabia que ainda
não era a hora, então, apenas apertei o volante e acelerei, parando
apenas quando cheguei em frente a academia de dança de Robin.
Saí do carro e Dimir me seguiu. Todos me cumprimentavam e
abaixavam a cabeça em sinal de respeito. Duas recepcionistas se
aproximaram quando entrei no prédio brega de Robin, com fotos de
bailarinos para todos os lados e eu as ignorei, ouvindo Dimir falar
que não precisávamos de ajuda.
Seguimos para o elevador e eu contei os segundos até
pararmos no quarto andar. O ambiente era silencioso e calmo e vi
de relance a secretária se levantar rapidamente quando me viu, mas
novamente ignorei, não era com ela que eu queria falar. Segui em
direção a sala de Robin e abri a porta sem cerimônia, andando em
direção a sua cara de surpresa, que se transformou em uma careta
ridícula quando o peguei pelo pescoço e o fiz se levantar da cadeira,
encostando-o na parede atrás dele.
— Você está... maluco? — perguntou com a voz esganiçada,
os olhos esbugalhados.
— Maluco? Não, eu nunca estive tão são — falei, fechando
minha mão com prazer em seu pescoço, vendo como seu rosto se
tingia de vermelho rapidamente. — Só vim te dar um aviso: pare de
se meter na minha vida. Deixe Kiara em paz! Se eu souber que você
passou a dez metros de distância da sombra dela, eu juro que
mando te caçar nem que seja no inferno e te mato com as minhas
próprias mãos, sem dó alguma!
Eu falava baixo, mas tinha certeza de que ele conseguia ouvir
cada nota de raiva em minhas palavras. Suas duas mãos apertavam
o meu pulso, tentando me afastar, mas continuei olhando para a
cara de idiota dele, seu rosto branco ficando quase roxo, minha
raiva esvaindo com a força das minhas mãos em seu pescoço.
— Não sei onde você quer chegar com essa porra, mas acho
melhor para agora! Kiara é minha, apenas minha e não vai ser você
que vai tirá-la de mim, ouviu?
— Dominick, já chega! — Dimir disse, tocando em meu
ombro e me puxando para trás.
Me deixei levar apenas porque não queria matá-lo asfixiado.
Robin quase caiu no chão, as mãos no pescoço, tossindo e
tentando pegar ar ao mesmo tempo. Ficou assim por minutos e eu
apenas esperei, com minhas mãos fechadas em punho ao lado do
corpo, sentindo uma vontade imensa de quebrar a sua cara
tomando conta de mim.
— Você acha mesmo... — Ele ofegou, levantando a cabeça
para me olhar. — Que Kiara... acredita nessa historinha que... você
contou pra ela?
— O que foi que você disse a ela?
— Apenas falei a verdade... — disse com a voz esganiçada.
Senti meu coração pular forte no peito. — Que você nunca foi a
Piechvi... Que quase não participou... — Tossiu e respirou
novamente, seu rosto voltando a cor normal. — Da festa de São
Felício no ano passado.
— Onde você quer chegar com isso, Robin? — Dimir
perguntou, olhando-o. — Que obsessão é essa pela vida do
Dominick?
— Quero que aquela garota se lembre da verdade — disse
mais recomposto e se apoiou na mesa com as duas mãos. — Não
sei o que vocês fizeram com ela, mas essa história que contaram é
simplesmente ridícula!
Parou de falar e nos observou, respirando fundo novamente.
A cada suspiro que dava eu sentia ainda mais vontade de matá-lo
de uma vez por todas.
— E ainda tem o fato de eu ter encontrado vocês dois na
Rússia dias antes de Kiara aparecer no palácio — falou e eu fechei
minhas mãos com mais força, me segurando. — Não foram
semanas ou meses antes, foram dias! Dois dias, para ser mais
exato. E depois essa garota aparece do nada, sem memória, para
que você, Dominick, possa manipulá-la e usá-la como quiser? Um
pouco estranho, não acha?
Não consegui me conter. Minha raiva e ódio, misturados a um
medo assolador de perder Kiara me tomou e me cegou. Meu punho
bateu com tanta força no nariz de Robin que senti meus ossos
estalarem, antes da minha mão esquerda acertar o canto da sua
boca e a direita acertar o seu olho, vendo-o cair no chão sem poder
se defender.
Era bem mais magro e um pouco mais baixo que eu e
aproveitei quando caiu no chão para chutar em cheio sua costela,
vendo-o perder o ar, o rosto todo ensanguentado.
— Estranho vai ser quando o seu corpo aparecer
misteriosamente sem vida em algum beco por aí, seu filho da puta!
— gritei, me ajoelhando e puxando-o pelo colarinho de sua camisa
branca, suja de sangue. Meu rosto estava quase colado ao dele e
falei, olhando em seus olhos: — Não ouse abrir a porra dessa boca,
você ouviu? Eu fui claro? Não se meta comigo, Robin, você não é
nada perto de mim! Você não vai tirar Kiara de perto de mim, você
ouviu?
Vi quando a surpresa atravessou seu rosto contorcido em
dor. Ele ofegou.
— Você realmente a ama?
— Mais do que a mim mesmo — falei, sendo sincero em
cada palavra, apesar de cada nota sair com a raiva que sentia dele.
— Mexa com tudo o que quiser, menos com ela. Não ouse contar
mais nada, não ouse fazer qualquer coisa que possa tirá-la de mim
ou eu juro que mato você.
— Uma hora... ela vai descobrir, Dominick.
— Não se eu puder impedir!
— E se ela se lembrar? — perguntou, tocando exatamente no
meu maior temor. — Não sei quem ela é, não sei o que você fez
com ela, mas ela pode se lembrar de tudo... Talvez, se você contar a
verdade...
— Eu nunca vou falar nada e nem você!
— Dominick, entenda, eu não fiz nada disso por maldade —
falou baixo, percebi que cada movimento era um sacrifício para seu
rosto dolorido. — Eu só acho que ela tem o direito de saber quem
realmente é, o que realmente aconteceu com ela, de onde ela veio.
É a vida dela, Dominick!
— A vida dela é ao meu lado, eu sou tudo o que ela tem e ela
é tudo o que eu tenho, é isso que importa!
O larguei no chão e me levantei, olhando-o de cima. Parecia
cansado, seu rosto todo ensanguentado, o olho inchado e o canto
da boca cortado, o nariz provavelmente quebrado. Não senti
remorso, não me arrependi, porque sabia que não havia batido nele
sem motivo. Ele poderia ter arruinado a minha vida se tivesse
contado a Kiara que havia me encontrado na Rússia. Tudo poderia
ter acabado hoje, agora, eu poderia perdê-la por culpa dele!
— Está avisado. Ouse abrir a boca mais uma vez e eu corto a
porra da sua cabeça.
Saí dali sem olhar para trás. Dimir estava ao meu lado e
passei pela secretária que se levantou novamente quando me viu
passar. Voltei a ignorar a todos durante o meu percurso para fora do
prédio, meu rosto fechado sem demonstrar a fúria e o medo que
duelavam dentro de mim.
Quando liguei o carro novamente o coloquei em movimento,
me permiti olhar para Dimir que continuava calado, como se não
estivesse ali. Mas me olhava, sondando, querendo confirmar algo.
— Sim, eu a amo — confirmei, voltando a olhar para frente.
— A amo com todas as minhas forças, como nunca pensei que
amaria alguém um dia. Não pergunte como ou quando aconteceu,
pois nem mesmo eu sei responder a isso.
— Eu já sabia, mas ouvir de você deixa tudo mais real. Como
se a verdade estivesse sendo esfregada na minha cara — falou,
olhando-me com seriedade. — Acha que ela pode se lembrar?
— Ela teve um flash de memória na noite da nossa lua de
mel, se lembrou de uma mulher falando uma frase... — falei,
lembrando-me do pavor que senti naquela noite. — Garantiram que
ela não se lembraria de nada, mas e se ela se lembrar, Dimir? Ela
nunca vai me perdoar! Ela vai me deixar!
— Não tem como ela se lembrar do que realmente
aconteceu, Dominick.
— Mesmo assim. Você acha que se ela se lembrar da vida
dela, ainda vai querer ficar comigo? — Engoli em seco sentindo o
medo me assolar novamente. — Eu não posso correr esse risco,
não posso correr risco algum!
— Então terá que tomar um cuidado ainda mais redobrado.
Não creio que Robin seja um perigo, apesar de tudo, acho que ele
realmente só quis ajudar Kiara, ser o “salvador da pátria”. Mas tem
que ficar atento a Kiara, ver se ela vai se lembrar de mais alguma
coisa.
— E se ela se lembrar? O que eu vou fazer? — perguntei,
desesperado com a possibilidade. — Estar casada comigo não a
prende a mim e eu tenho certeza de que ela jamais vai me perdoar.
Com certeza, ela vai me abandonar e eu não posso viver sem ela,
Dimir... Simplesmente não posso.
— Eu não tenho nenhum conselho para te dar, Dominick, não
sei como ajudar. Talvez ela nunca se lembre de nada, nos
garantiram isso, vamos ficar atentos, mas creio que não garantiriam
algo que não se pode cumprir.
— Vou ser o homem mais atento do mundo, se depender de
mim, ela nunca se lembrará de uma vírgula do que aconteceu.
Dimir assentiu e voltou a ficar quieto, enquanto eu percorria
as ruas até chegar ao palácio. Agora que estava mais calmo, sabia
que tinha sido um idiota novamente com Kiara e sabia muito bem do
gênio da mulher que eu amava. Com certeza, ela estava magoada e
com raiva de mim, mas eu contornaria a situação, como vinha
fazendo desde sempre.
Pediria desculpas, garantiria que a história de Robin estava
errada e depois faria amor com ela. E lutaria com todas as minhas
forças contra a verdade que parecia querer engolir cada mentira que
eu contava.
Capítulo 23

“Quando me tornei um homem pensei ter acabado


Bem, eu sabia que amar poderia ser algo doloroso
Mas minha paz sempre dependeu
De todas as cinzas do meu caminho”
(Arsonist’s Lullabye, Hozier)

Dominick

Cheguei ao palácio ansioso. Estava mais calmo, apesar da


minha cara fechada e minha súbita falta de paciência, mas sabia
que tudo melhoraria assim que a visse. Por isso, saí do carro
correndo e fui em direção as escadas, subindo de dois em dois
degraus, sem me importar se alguém me via e achava estranho o
fato de eu estar correndo para entrar em casa.
Com pressa, cruzei o hall e fui em direção ao elevador, vendo
a sala vazia de meu pai. Era óbvio para mim que Kiara não estaria
ali, sentada, me esperando. A conhecia melhor do que ninguém
para ter a certeza de que ela estaria magoada comigo e ia fazer de
tudo para me ignorar, mas não ia permitir.
Não ia permitir que nada nos afastasse, nem mesmo a minha
idiotice fora de hora.
Convivendo com ela eu aprendi a pensar duas vezes antes
de falar qualquer coisa. Mesmo sem querer, Kiara me mostrava que
não era apenas ela que tinha sentimentos por mim. Um exemplo
disso era Dallah. Sempre gostei de Dallah, além de esposa do meu
primo e melhor amigo, ela era uma mulher legal, que sempre gostou
de dar conselhos fora de hora e que era, acima de tudo, confiável.
O meu maior problema com ela era a sua capacidade de rir
de tudo, de ser alegre e leve de uma forma que nunca consegui ser.
Antes eu não enxergava isso, mas agora eu sei, o que me fazia
tratá-la mal era um sentimento que me corroía: a inveja. Inveja por
vê-la sempre sorrindo, sempre soltando uma de suas burrices sem
se importar com nada, sempre enxergando o lado bom de tudo.
Mas agora, com Kiara ao meu lado, eu também era feliz.
Feliz como Dallah e passei a ser menos ignorante, menos
intolerante. As refeições que fazíamos juntos era recheada de
conversa e risada, a voz de Arthur se sobressaía e sua risada
infantil me atingia de uma forma diferente, me deixando mais leve
do que eu me permitia sentir.
Foram poucas semanas nessa felicidade, mas sentia que
poderia passar a vida inteira assim e seria extremamente feliz.
Por isso, iria lutar com todas as minhas forças para que Kiara
me perdoasse, nunca a achei idiota, curiosa sim, mas idiota jamais.
Falei aquilo sem pensar, nervoso, querendo atingi-la para que me
deixasse em paz e agora me xingava, porque, no final de tudo, o
idiota tinha sido eu. Apenas eu, como sempre.
Saí do elevador a passos largos e atravessei o corredor,
achando-o extenso demais. A porta do meu quarto estava fechada e
eu parei ali em frente, meu coração se acelerando pelo nervosismo,
minha cabeça maquinando sobre o que eu deveria falar para me
desculpar. A verdade nem era uma opção, eu teria que mentir com
muito mais veemência e ser verdadeiro em minhas desculpas.
Abri a porta e entrei. A sala da suíte estava vazia e a
atravessei, indo até meu quarto. Também estava vazio e não havia
sinais do presente de Robin em cima da cama. Pelo menos, ela
havia os jogados fora e isso me aliviou mais do que eu poderia
prever. Fui em direção ao banheiro e ela também não estava. Sem
entender nada, desci as escadas do calabouço apenas para
encontrá-lo vazio também.
Sem conseguir me conter, senti o desespero começar a
tomar conta de mim, subir como uma espiral por meu estômago e
atingir meu coração. Mas respirei fundo e parei, levando em
consideração que, se ela estava realmente com raiva de mim, não
ficaria no meu quarto. Talvez estivesse na biblioteca, no jardim, até
mesmo na cozinha. No quarto de Dallah, conversando.
Com isso em mente, peguei o elevador ali no calabouço
mesmo e coloquei o código, apertando o térreo. Em poucos
segundos estava na sala de meu pai novamente e a cruzei a passos
largos até a sala da minha mãe, indo em direção a biblioteca. Abri a
porta em um safanão, sem me importar em ser educado e entrei,
olhando em volta e não encontrando Kiara.
Já estava começando a ficar puto com aquela brincadeira de
esconde-esconde, mas me obriguei a ficar calmo e saí, indo em
direção à cozinha. Anna estava sentada à mesa grande de madeira,
cortando uma carne em fatias iguais e assim que me viu, se
levantou e me cumprimentou:
— Majestade.
— Sabe onde Kiara está?
Ela franziu o cenho e balançou a cabeça.
— Não, senhor. Vi a senhora Domaschesky apenas antes do
senhor sair do palácio.
Respirei fundo e assenti, cruzando a cozinha até a porta que
daria para o jardim de inverno. Vi as flores tipicamente frias bem
cuidadas e cruzei a grama verde, observando cada cadeira
espalhada por ali. Estava tudo vazio e segui em frente,
atravessando a frente do castelo e seguindo para o jardim de
primavera, mais florido e colorido, mas tão vazio da presença de
Kiara como o de inverno.
Daquela vez eu comecei a me desesperar de verdade, algo
que nunca senti antes. Mais cedo eu estava desesperado com a
possibilidade de Kiara me deixar; agora, estava desesperado com a
realidade de ela ter realmente me deixado apesar de saber que ela
não conseguiria sair do palácio sem a minha permissão.
Entrei em casa novamente e subi as escadas de dois em dois
degraus até chegar ao segundo andar, fui em direção ao quarto de
Dallah e bati na porta duas vezes, ansioso. Ouvi passos se
aproximarem e, então, Dallah abriu a porta, me fazendo tomar um
susto com sua cara verde.
— Que porra é essa?
— O quê?
— Essa coisa verde na sua cara?
— Ah, meu Deus, eu esqueci de tirar a máscara! — gritou,
tentando fechar a porta, mas a impedi.
Segundos depois, desistiu e saiu correndo, indo em direção
ao banheiro. Sem paciência para esperar ou ser educado, invadi
seu quarto na esperança de ver Kiara por ali, ou nos sofás ou na
cama. Não me importava se ela também estava com a cara verde,
azul ou amarela, só queria vê-la e olhar em seus olhos e sentir nem
que fosse um pouco de alívio.
Mas ela não estava. Não estava nem na sala, nem no quarto
e quando fui ao banheiro, vi apenas Dallah lavando o rosto
incessantemente.
— Onde está Kiara?
Não me respondeu. Continuou a lavar o rosto, tirando aquele
negócio pegajoso do rosto, mas eu não estava com paciência e
cada segundo que passava era menos tempo que tinha com Kiara
ao meu lado.
— Dallah, me responde! Onde está Kiara? Ela não está no
nosso quarto, não está na biblioteca, na cozinha, nos jardins, não
está aqui! Onde ela está?
Dallah ergueu o rosto e pegou uma toalha, secando-o. Por
fim, me olhou, mordendo o lábio e parecendo indecisa.
— Kiara?
— Não enrola! Eu sei que você sabe onde ela está.
— Eu não sei.
— Sabe sim!
— Não sei! Só sei que ela saiu sem motorista e sem
segurança e pegou um táxi.
Engoli em seco, olhando para ela sem acreditar. Por fim, ri.
— Você só pode estar de brincadeira...
— Não estou! Eu tentei impedi-la, disse para não sair, mas
ela não quis me ouvir. E como você não deixou proibida a saída
dela, os seguranças a liberaram. Tentaram ir com ela, mas ela
estava decidida e, bem, ela é a futura rainha e eles devem
obediência a ela... Por isso ela foi e eles ficaram.
Já não sorria mais e sentia o desespero me golpear de vez
na sua forma mais crua.
— Eu tentei ir com ela, mas... Dominick! Dominick, volte aqui!
Não vou correr atrás de você sem maquiagem, me espera...
Não ouvi mais e saí do quarto, batendo a porta com força
atrás de mim. Não conseguia acreditar, não queria acreditar que
Kiara havia saído sem ninguém ao seu lado, sozinha, para fazer o
que quisesse! Dallah só poderia estar brincando e com isso mente,
rodei todo o castelo.
Fui no andar da minha mãe, entrei em cada sala, vasculhei
cada canto, mas ela não estava. Também não estava no andar do
meu pai, nem no meu escritório, nem nos quartos de hóspedes.
Não estava em lugar algum! Fui em direção à piscina, voltei
aos jardins, e nada.
Ela não estava lá!
Não estava em lugar algum da porra daquele castelo imenso!
Senti vontade de quebrar tudo, de acabar com todo mundo,
de matar quem estava fazendo aquilo, afastando-a de mim. Meu
coração batia forte, minha respiração estava pesada e minha
cabeça parecia estar a ponto de explodir.
Ela tinha ido embora. Havia me deixado!
E pela primeira vez na vida eu senti o que era a dor da perda.
A dor de perder a mulher da minha vida.
— Dominick...
— Kiara foi embora! — gritei, interrompendo Dimir que estava
ofegante, parecia ter corrido uma maratona até os jardins. — Ela
não está em lugar algum! Saiu sozinha e ela não sabe andar por aí,
Dimir, pode se perder!
— Fique calmo. Eu já mandei Wayne e Johnson procurá-la.
Segundo eles, ela saiu não tem nem uma hora, então, com certeza,
não está muito longe.
— Dimir, eu estou desesperado. Ela não sabe de nada e já
fugiu de mim, imagina quando souber de tudo? O que eu vou fazer,
Dimir? Eu não posso viver sem ela!
— Dominick, se acalme! Ela não fugiu, talvez foi apenas dar
uma volta, tomar um ar...
— Em um táxi? Por que não saiu com um motorista? —
perguntei, tentando fazê-lo enxergar tudo pelos meus olhos. — Ela
fugiu de mim, Dimir. Eu tenho certeza de que quando voltar, não vai
nem querer olhar na minha cara.
— Eu estou aqui, Dominick.
Ouvir sua voz foi como um bálsamo. Dimir sorriu e se afastou
e eu senti vontade de sorrir também, mas antes de tudo eu me virei
para vê-la e corri até ela, sem me importar se estava sendo um
ridículo, apenas corri e a peguei em meus braços, abraçando-a
forte, meu coração trotando desesperado no peito.
Ela não me abraçou de volta, não se moveu. Mas não me
importei com aquilo naquela hora, apenas vê-la e saber que estava
ali, comigo, que não havia me deixado, já me deixava em êxtase.
Ela havia voltado! Havia voltado para mim!
— Graças a Deus... — murmurei em seu ouvido, escondendo
meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro novamente. —
Nunca mais faça isso, nunca mais fuja de mim, por favor... Você não
sabe... Não imagina o desespero e a dor que senti.
— Eu não fugi, Dominick, não sou como você que foge de
tudo — falou com a voz sem emoção e eu a apertei mais, querendo
minha Kiara de volta. — Me solta.
— Não! Pelo amor de Deus, você desapareceu, eu rodei esse
castelo todo, fui em cada canto e você não estava. Pensei que
tivesse fugido de mim e agora que voltou, quer que eu a solte?
Nunca!
— Dominick, me solta! — falou com tanta veemência que me
senti acuado, soltando-a devagar.
Parecia que não queria meu toque e confirmei isso ao olhar
para ela, sua expressão séria como nunca antes, seus olhos sem o
brilho de sempre. E o pior de tudo era saber que a culpa de tudo
aquilo era minha.
— Onde você estava? — perguntei baixinho, sem acusar,
querendo apenas conversar.
— Eu pedi para o taxista me levar para Piechvi.
— O quê? — perguntei sentindo meu coração vacilar.
— Sim, foi isso que ouviu.
— Por quê?
— Porque eu pensei: “já que meu marido não me dá
respostas, eu vou atrás das respostas”. Mas, para começar, Piechvi
fica do outro lado do país e um taxista jamais me levaria até lá. Ele
se recusou. Eu disse que pagaria quanto fosse, mas levaria dias
para chegar até lá. Então, eu voltei.
Olhei para ela sem conseguir acreditar. Se o taxista tivesse
aceitado ela estaria a caminho de Piechvi... Ficaria dias longe de
mim! E meus seguranças nem sequer saberiam onde encontrá-la.
— Mas no caminho... eu consegui me lembrar de algumas
coisas.
— Lembrar? De quê? — Consegui esconder o pavor na
minha voz, já que por dentro meu coração estava apertado. Sentia
vontade de correr para longe daquela realidade e arrastá-la comigo.
— Eu me lembrei de uma senhora. Ela estava em uma
cadeira de rodas e chamava por mim, depois falava coisas que eu
não entendia, assuntos misturados, ela parecia estar mais confusa
do que eu estou agora — falou com o cenho franzido e o olhar
perdido. — Eu me lembro exatamente dela. Seus olhos eram azuis,
seu rosto era bonito, mas tinha rugas de envelhecimento, ela era
magra e tinha os cabelos negros. Era linda. E tinha também um
homem, bem novo, talvez da minha idade. Estava abaixado ao lado
dela e segurava sua mão, sorria para ela com carinho.
Olhou de volta para mim e eu quase não respirava mais, o
medo estava me deixando em estado de choque.
— Você disse que não conheceu minha mãe, que ela e meu
pai haviam morrido... Mas eu devo ter contado bastante sobre eles
antes de perder a memória... Minha mãe vivia em uma cadeira de
rodas? Eu tinha um irmão?
Continuei a olhar para ela sem saber o que dizer, sem saber
o que fazer para esconder dela essas lembranças, essas coisas que
estavam voltando apenas para me atormentar, para acabar com a
nossa vida perfeita. Para levá-la para longe de mim!
— Dominick, por favor, seja sincero comigo.
— Você não tinha irmão — falei, engolindo em seco e
tentando demonstrar que eu estava seguro de mim. — E sua mãe
nunca esteve em uma cadeira de rodas.
— Mas então... quem são essas pessoas?
— Você se lembrou de sua vizinha. Me contava muito sobre
ela e seu filho, que os dois eram sozinhos depois que o marido dela
faleceu. Você sempre os ajudava um pouco, levando comida e
passando um tempo lá, cuidando dela enquanto o filho trabalhava.
Apenas isso.
— Mas como sabe disso tudo se nunca foi a Piechvi?
— Você realmente acredita mais em Robin do que em mim?
— Sinceramente? Eu não sei em quem devo acreditar.
Me aproximei dela e toquei em seu rosto, querendo que
enxergasse a verdade em meus olhos. Não a verdade em que eu
mentia e a enganava, mas a verdade sobre o amor que eu sentia
por ela, um amor que jamais a deixaria sofrer, que cuidaria dela para
sempre, que sempre estaria ao seu lado.
— Deve acreditar em mim. Eu te amo, Kiara, te amo mais do
que tudo. Você é meu mundo. Sei que não é fácil não se lembrar de
nada sobre a própria vida, mas acredite em mim, se lembrar não
acrescentará em nada a sua história. Sua vida é comigo, é estar ao
meu lado, é me deixar te amar com tudo o que eu tenho.
— Para que no final de tudo eu seja apenas uma esposa
idiota? — perguntou e vi seus olhos se encherem de lágrimas, ali eu
pude perceber o quanto ela estava magoada comigo. Meu coração
doeu. — Não, Dominick... Eu prefiro me lembrar de tudo e saber de
toda a verdade. Ser dona da minha própria vida.
Tirou minha mão de seu rosto e se afastou de mim,
começando a andar em direção ao castelo. Seus ombros estavam
curvados e vi quando tremeram, ouvi um soluço baixinho vindo dela.
Era a primeira vez que a via chorando e percebi que meu mundo
perfeito estava ruindo. Ela estava se afastando de mim e se
realmente se lembrasse de tudo, iria me deixar. Iria embora.
Pensei em correr atrás dela, mas sabia que se eu fosse me
enrolaria em mais mentiras. Pensei em gritar e pedir ajuda aos
Céus, a Deus, que resolveu me julgar por todos meus pecados justo
agora que eu havia encontrado a mulher da minha vida e que estava
tão feliz.
Engoli o nó que se formou em minha garganta e me lembrei
de alguém que eu não gostava, mas que sempre tinha algum
conselho para dar a todo mundo. Talvez ele, por ironia do destino,
pudesse me aconselhar também. Sem pensar duas vezes, tirei as
chaves do carro do meu bolso e fui em direção a garagem.
Dirigi rápido, feito um louco, sabendo que poderia estar
sendo um idiota. Ele sempre quis me ajudar a vida inteira. Quando
era criança, adorava chegar perto de mim e dar conselhos para me
aproximar do meu pai, mas nunca deu resultados e quando me
tornei adolescente e ele tentou fazer o mesmo, senti raiva. Porque a
cada conselho dele que eu seguia, meu pai se distanciava mais de
mim.
Mas haviam pessoas que gostavam de seus conselhos. Que
seguiam e dava certo. Talvez agora, comigo, desse certo também.
Estacionei meu carro em frente à casa grande. Saí do carro e
olhei em volta, vendo a rua vazia e fui em direção a porta de
madeira, batendo três vezes. Os segundos se arrastaram e, então, a
porta se abriu, revelando-o para mim.
— Dominick... Que bom que veio. — Sorriu, com aquela
expressão plácida de quem sabia de tudo.
— Eu preciso de ajuda.
Ele assentiu e me deixou passar. Entrei em sua casa e
observei a tudo, seus livros em cima da mesa, o cheiro de café
fresco e, por fim, olhei para ele como se implorasse.
E eu sentia que Giorgio De Piel poderia me ajudar.
Capítulo 24

“Não há algo mais doce do que minha amada


Nem ao menos quis o fruto da cerejeira
Minha amada é tão doce quanto deve ser”
(Work Song, Hozier)

Dominick

— Aceita uma xícara de café? — perguntou, indicando-me a


poltrona com a cabeça.
— Não, eu estou bem... E prefiro ficar de pé.
— Então também ficarei.
Ele se encostou em uma mesa de madeira que ficava
próximo a janela. Olhei em volta novamente, perguntando-me se
havia feito a coisa certa ao ir ali.
— O que o trouxe aqui, Dominick?
— Você sempre sabe de tudo... Como pode me perguntar o
que vim fazer aqui?
— Eu não sei de tudo, Dominick, apenas sou observador.
Mas não prevejo o futuro.
Olhei para aquele homem que eu tanto lutei para me manter
afastado. Ele não era ninguém importante, não era da minha família,
não fazia parte da nobreza, era um homem comum, mas que tinha
um diferencial: era o único amigo do meu pai.
Lembro-me de que ele era a única pessoa que meu pai não
tratava com frieza, pelo contrário, meu pai sorria com ele, se abria,
conversava. Por isso que ouvia seus conselhos quando era criança,
meu sonho era um dia ser como ele e ter a admiração de meu pai,
assim como ele tinha. Mas nada do que me falou deu certo.
Cada vez que eu me aproximava, meu pai me tratava mal,
culpando-me com o olhar pela morte da minha mãe. Quando cresci
e o enfrentei pela primeira vez, com doze anos, ele gritou comigo e
deixou explícito que minha mãe não estava viva por minha culpa,
que eu deveria ter ido no lugar dela. A partir daquele momento eu
entendi tudo. Entendi que meu pai me odiava, entendi que a culpa
era realmente minha e me afastei de tudo e todos.
Me tornei o Dominick frio, calculista, intolerante e cruel que
sempre fui. Me mudei para a Alemanha e lá estudei até entrar para
uma boa faculdade de administração e só voltava para Orleandy em
momentos importantes, onde era exigida a minha presença.
A única pessoa com quem realmente conversava e me abria
era Dimir. Ele sempre foi o meu melhor amigo e dele eu nunca abri
mão, mas para o resto do mundo eu era impenetrável. Alguns
conhecidos se afastaram de mim quando mostrei o quanto havia
mudado, mas Giorgio foi o único que permaneceu, tentando impor
todos os seus conselhos inúteis que parecia ajudar a todos, menos
a mim.
Por isso que agora, em um momento de desespero, eu havia
batido em sua porta. Seus conselhos em meu relacionamento com
meu pai não serviram de nada, mas eu tinha esperanças de que
agora seria diferente. De que ele iria me mostrar o melhor caminho
para ter Kiara para sempre.
— Eu... estou com medo de perder a minha mulher —
comecei, me obrigando a não desviar o olhar.
— A mentira está cobrando seu preço, não é, Dominick?
— Sim, mas não posso me desfazer delas.
— Por que não?
— Porque eu vou perder a Kiara se fizer isso — falei, me
aproximando. — Você precisa me ajudar!
— E como posso fazer isso, Dominick? — perguntou,
suspirando. — Não sei o que você fez, mas sei que foi algo muito
grave. Sei que essa menina veio da Rússia, Dominick.
— Claro que sabe. Assim como Robin, você resolveu fazer
um passeio pela Rússia justamente na mesma época que eu!
— Eu tenho parentes na Rússia, Dominick. Encontrar com
você lá foi uma coincidência. Mas por que ela veio de lá? O que foi
que você fez?
Olhei para ele, perguntando-me se podia ou não confiar.
Queria ajuda, mas não queria contar nada que pudesse chegar aos
ouvidos de Kiara, isso acabaria conosco da mesma forma.
— O que eu fiz não importa — falei, passando a mão pelos
cabelos, nervoso. — O que interessa é que Kiara veio para mim
com a certeza de que tinha uma amnésia permanente, mas agora
ela está se lembrando de algumas coisas sobre a sua vida. E o filho
da puta do Robin resolveu colocar na cabeça dela que a história que
contei para ela não é verdadeira! O cerco está se fechando e se ela
realmente se lembrar de tudo, jamais irá me perdoar. Eu não sei o
que fazer, Giorgio, estou desesperado! Eu não posso perdê-la, não
vou suportar perdê-la!
Ele me olhou por uns segundos, parado em frente à sua
mesa, os braços cruzados, me analisando. Senti a tensão apertar
ainda mais meu corpo e meu coração com toda aquela demora para
me dar um único conselho, mas domei meu gênio e esperei,
torcendo para que ele estivesse pensando na melhor maneira de me
ajudar.
— Eu me lembro de alguém que amou tanto quanto você
está amando agora — falou e eu quase revirei os olhos, cansado
daquela ladainha antes mesmo de começar. — Ele amou tanto e tão
fervorosamente, que só havia ela na sua vida e no seu coração. E
quando ela decidiu dar a sua vida para que seu filho vivesse, ele
odiou seu primogênito. — O olhei com seriedade, reconhecendo
aquela história. — Seu pai amou tanto a sua mãe, Dominick, que
não conseguiu perdê-la. Viveu o resto de sua vida amargurado,
colocando a culpa da morte dela em alguém inocente, mas não
entendeu que a sua esposa havia renascido em seu filho. Porque foi
isso que sua mãe fez, Dominick. Ela renasceu em você.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que, se seu pai tivesse prestado mais
atenção, ele teria te amado. Teria enxergado que sua mãe o amava
tanto e amava tanto você, que não conseguiu separar o pai do filho,
muito menos deixou o filho partir. Ela deixou todo o infinito amor
dela em você, para que você e seu pai fossem amigos e se
amassem para sempre, como deveria ser, mas não foi assim. Eu
tenho certeza de que se seu pai não tivesse passado a vida toda
sendo cego e amargurado, você não se tornaria o homem frio que é
hoje e não estaria passando por essa situação.
— Não entendo... O que a minha relação com meu pai tem a
ver com a minha relação com a Kiara?
— Eu sempre te falei uma coisa, mas acho que você
esqueceu com o tempo. Nada, Dominick, nada acontece por acaso.
Você e Kiara nasceram para ficar juntos e Deus os fez ficar juntos,
só que deixou a vida fazer isso. E a vida fez. De forma errada, mas
fez.
Franzi o cenho, sem entender nada do que ele estava
falando.
— Seja mais preciso, Giorgio.
— Existe uma coisa chamada consequência, Dominick. As
suas escolhas lhe trazem consequências, certo? — perguntou e eu
assenti, ansioso para entender onde ele queria chegar. — A escolha
do seu pai de colocar em você a culpa da morte da sua mãe, trouxe
a ele a consequência de viver o resto da vida sozinho e sem amor.
Essa mesma escolha trouxe a você, filho dele, a consequência de
se afastar, de se mudar para outro país e aprender a ser um homem
frio e amargo, que se esqueceu o que era amar. Entretanto, a partir
do momento em que você é adulto e pode fazer suas próprias
escolhas, você também recebe sua própria consequência.
Fez uma pausa e foi em direção a poltrona, se sentando.
Sem conseguir me conter me sentei também, louco para saber onde
tudo aquilo daria.
— Você escolheu ser um homem intolerante, impaciente e
sem emoção. Como consequência, conheceu de forma errada a
mulher da sua vida. Você escolheu mentir para ela desde o início.
Resolveu enganá-la e mantê-la no escuro e, como consequência,
está agora sofrendo porque pode perdê-la a qualquer momento.
Está entendendo onde quero chegar? Assim como a lei de Newton,
“cada ação tem sua reação”, é também a lei de Deus. Ele já
escreveu tudo e tudo vai se cumprir, mas depende do seu caráter,
das suas escolhas, da forma como age e é perante ao mundo que
vai fazer o curso de tudo acontecer a seu favor ou não.
— Como você sabe de tudo isso? — perguntei, chocado.
Antes não conseguia entender nada do que estava
acontecendo na minha vida, agora, via tudo com muito mais clareza.
Como era possível?
— Não é preciso de muito para entender isso, Dominick. Sou
um homem apegado a Deus e sei que nada acontece sem a
permissão Dele. Você nunca se apaixonou, tinha a convicção de
que jamais iria amar e, então, de repente, você está tão apaixonado
por Kiara quanto Patrick era por sua mãe, Marie. Isso não pode ser
coincidência, certo?
Assenti, ainda chocado com tudo o que eu havia ouvido.
— Então, você quer dizer que se eu tivesse recebido amor de
meu pai, se tivéssemos uma relação boa como pai e filho, eu agora
estaria feliz com Kiara?
— Enxergue com o olhar das escolhas, Dominick. Se você
planta roseiras com sementes boas, em um solo fértil, irá colher
rosas lindas. Mas se planta roseiras com sementes podres, em um
solo empestado de praga, nem ao menos colherá rosas. Se seu pai
nunca plantou amor em você, como você iria colher esse amor?
Entende?
— Sim — murmurei, olhando ao longe. — Se minha relação
com meu pai tivesse sido melhor, eu seria um homem melhor e
jamais mentiria para Kiara. Talvez a conhecesse de outra forma,
como um casal normal.
— Exatamente, esse é o ponto.
— Mas agora é tarde demais para mudar minhas escolhas e
as escolhas de meu pai, Giorgio. Eu quero mudar a consequência.
Não quero perder Kiara. O que eu devo fazer?
— Contar a verdade a ela.
— Não! — neguei com veemência, sentindo meu coração
apertar apenas com a possibilidade. — Nunca!
— Dominick, uma mentira nunca é sustentada por muito
tempo. Sempre, sempre haverá uma ponta solta. E, pelo visto, a sua
mentira tem várias pontas soltas... Se Kiara puxar a ponta certa, ela
desenrolará esse nó com muita facilidade. Uma hora ela vai
descobrir tudo.
— Giorgio, você não entende... O que eu fiz é muito grave!
— E você se arrepende do que fez?
Parei e olhei para ele, pensando mais uma vez naquilo.
Nunca fui um homem de me arrepender de minhas escolhas,
sempre estive certo demais sobre mim e minhas convicções para
me arrepender de algo. E sabia — na verdade, tinha a certeza — de
que não me arrependia de nada. De que faria tudo de novo e, mais
uma vez, apenas para ter Kiara ao meu lado.
— Não. Eu não me arrependo de nada.
— Então faria de novo?
— Mil vezes se fosse necessário, apenas para tê-la junto a
mim.
— E não está disposto a se desfazer dessa mentira para tê-la
para sempre ao seu lado?
— Eu tenho escolhas, Giorgio. E sei que se eu escolher pela
verdade, receberei como consequência perder a mulher da minha
vida. Ela jamais irá me perdoar.
— Realmente, Dominick. Não tem como perdoar alguém que
não quer ser perdoado.
— Mas eu quero ser perdoado!
— Como quer ser perdoado se nem ao menos se arrepende
do que fez? Só recebe perdão aquele que se arrepende de verdade,
Dominick.
Olhei para ele, ficando ainda mais nervoso com toda aquela
conversa. Na minha mente só havia uma possibilidade a ser
acatada: a que eu não colocasse em risco perder Kiara.
— O que eu devo fazer para mantê-la ao meu lado, Giorgio?
Mesmo que um dia ela descubra tudo, tem que haver algo que
possa prendê-la a mim para sempre, um vínculo inquebrável...
Qualquer coisa!
— Tem uma coisa que você pode fazer, mas requer de você
algo mais do que um esforço, Dominick. Requer responsabilidade,
paciência e, sobretudo, amor.
— E que coisa é essa? — perguntei confuso e curioso, sem
entender mais uma vez.
— Um filho.
Sua voz penetrou meus ouvidos e eu senti meu coração
parar por um segundo. Primeiro eu senti vontade de rir com aquela
ideia maluca, mas antes que eu conseguisse sequer demonstrar
algo, senti meu coração voltar a bater forte com aquela possibilidade
absurda.
Um filho.
Nunca me imaginei sendo pai. Confesso que essa era uma
das coisas que eu jurei a mim mesmo que jamais seria, porque
sabia muito bem como era ter um pai de merda e tinha certeza de
que eu seria um pai de merda para qualquer criança que eu
ajudasse a colocar no mundo. Sabia que Kiara um dia iria querer ser
mãe, mas éramos jovens e tínhamos todo um caminho a percorrer,
talvez ela se esquecesse dessa ideia e cuidasse de Arthur como
uma mãe, o adotasse de coração e ajudasse Dallah a criá-lo.
Mas agora a possibilidade de ter um filho era real! Uma
criança, algo que nunca quis, poderia ser a única coisa que
prenderia Kiara para sempre a mim.
— Um filho... — murmurei, ainda incrédulo.
— Mas veja bem, Dominick, um filho não é só uma coisa que
você vai lá e faz. É um novo ser, sangue do seu sangue, que virá
para você amar e cuidar. Amar de verdade, como seu pai te amou
quando você ainda estava na barriga de sua mãe.
Olhei para ele e vi a seriedade em sua expressão, não
deixando brechas para que eu duvidasse de tudo aquilo.
— Mas, se cada escolha tem sua consequência, eu corro o
sério risco de escolher ter um filho, ficar com ele e Kiara ir embora,
morrer como minha mãe — falei, sentindo meu corpo tremer com a
remota possibilidade de perdê-la para sempre. — Deus pode me
castigar por ser quem sou e por minhas escolhas, Giorgio.
— Deus não castiga ninguém, Dominick, Ele só não interfere
em nossas escolhas, muito menos nas consequências que isso nos
trará — falou, me olhando. — E eu não creio que Deus tiraria a vida
de alguém como Kiara apenas para castigar você, Dominick. Deus
não é ruim, muito pelo contrário. Ele é bom. Tão bom que colocou
Kiara em sua vida, para te mostrar o que é amor de verdade.
— Eu tenho tanto medo, Giorgio... — confessei, olhando para
baixo. — Medo de Kiara saber de tudo e me deixar para sempre,
medo dela parar de amar, medo de nunca mais tê-la ao meu lado,
de não sentir toda a felicidade que me arrebatou durante essas
poucas semanas. Eu posso estar sendo um idiota sentimentalista,
mas eu não posso viver sem Kiara ao meu lado, Giorgio. Ela é tudo
para mim, foi o melhor presente que Deus poderia ter me dado.
— Então você tem que mostrar isso para ela, Dominick. Sei
que não contará a verdade, vejo em seus olhos, mas mostre para
ela todo esse amor que sente. Deixe o mais explícito que conseguir
e a faça muito feliz agora, porque quando a verdade vier à tona é
com essas lembranças e com esse amor que você vai trazê-la de
volta para si.

***

Dirigi devagar daquela vez, observando as vias


movimentadas, o comércio, as pessoas andando para lá e paca cá,
mas nada se fixava na minha mente. Nunca pensei que minha
conversa com Giorgio me traria tanto aprendizado.
Fui do ódio ao desespero, do amor a dor, da cegueira ao
entendimento em um único dia. Aprendi coisas que jamais imaginei
existir e criei dentro de mim uma fé inabalável, uma certeza de que
deixei mais forte: meu amor por Kiara. Eu a amava e sabia, mas
naquele dia consegui ver exatamente a dimensão do meu amor.
E aprendi que era nesse amor que eu iria confiar.
Cheguei ao palácio no início da tarde e vi ao longe Arthur
correr pelos jardins. Sorri de leve, vendo Dallah correr atrás dele e
procurei por Kiara, mas ela não estava ali. Quase senti o desespero
me tomar novamente, mas Dimir veio caminhando tranquilo em
minha direção, me estudando ao longe.
— Ela está no quarto que ocupava antes — falou e eu assenti
em agradecimento, entrando em casa.
Subi as escadas com calma, tentando amansar as batidas do
meu coração. Assim que cheguei ao segundo andar e fui em direção
ao quarto dela, ouvi uma música calma invadir meus ouvidos.
Pensei em bater na porta, mas, ao invés disso, a abri de leve e a
visão que tive me fez arfar.
Kiara estava em frente ao espelho, havia arrastado a mesa
para perto dela e tinha os livros que Robin havia lhe dado abertos.
Lia com atenção alguma coisa e depois ficou na ponta dos pés,
usando a sapatilha nova, fazendo uma careta, mas se mantendo
ereta e imóvel, apoiando de leve os dedos da mão em cima da
mesa, ganhando equilíbrio. Depois desceu de leve e se agachou um
pouco, apenas para retornar e subir em um movimento perfeito e
sincronizado.
Sempre achei balé um saco. Nunca tive paciência para ver
uma apresentação, mas agora estava encantado. Poderia ser
idiotice, mas Kiara era perfeita naquilo, linda demais e eu fiquei ali,
observando quieto, até a música acabar e ela virar a página do livro,
lendo tudo com atenção.
Aproveitei o silêncio e entrei de vez no quarto, me
aproximando dela, sentindo seu cheiro.
— Você é perfeita — murmurei, vendo-a se virar para mim
depressa.
— Quase que você me mata do coração!
— Não era minha intenção, desculpa — falei, olhando para
os livros. — Então, não jogou nada fora?
— Não. E nem vou jogar! — disse petulante, voltando a
encarar o livro.
— Kiara, eu não quero brigar, pelo contrário... Quero te levar
a um lugar que eu acho que você vai adorar.
— Obrigada, estou muito bem aqui. E se não percebeu, estou
ocupada.
— Kiara, por favor! Você nem precisa tirar as sapatilhas, na
verdade, acho melhor ficar com elas.
Ela me olhou e suspirou, colocando uma mecha do cabelo
para trás da orelha.
— Olha, Dominick, sei que quer conversar comigo, mas
quando eu quis conversar você simplesmente...
Não ouvi mais. Na verdade, não quis ouvir mais nada e
ocupei sua boca com a minha língua, beijando-a pela primeira vez
naquele dia que havia sido tão longo e tão cansativo, que parecia ter
virado anos. Kiara ficou parada, acho que assustada, mas quando
se deu conta do que eu estava fazendo, tentou se afastar.
Eu não deixei, a puxei para mim pela cintura e a peguei meus
braços. Sentia vontade de levá-la para a cama que estava ali tão
perto, mas não o fiz e saí do quarto, indo em direção ao elevador.
Apertei o botão sem desgrudar minha boca da dela, que agora me
beijava calma, como se não quisesse dar o braço a torcer. Entrei no
elevador e tateei os botões, apertando o quarto andar e em poucos
minutos estávamos lá.
Ao contrário das outras vezes que havia ido ali, não senti dor
ou desespero, senti paz. Principalmente porque sabia que estava
fazendo o certo e estava com a mulher da minha vida nos meus
braços.
— Dominick... — Kiara murmurou quando a deixei se
desgrudar da minha boca. Olhou ao redor ainda em meus braços,
sem entender. — O que estamos fazendo no andar da sua mãe?
Não respondi e segui em frente, indo a última sala. Tinha
estado naquele lugar há poucas horas, procurando por Kiara e
agora estava aqui novamente, certo do que fazia, com ela me meus
braços. Apesar de toda a tempestade, ali parecia que o desespero e
o meu medo haviam ficado para trás.
A coloquei no chão quando entrei na sala de piano. O sensor
de movimento habilitou as luzes e logo a sala estava iluminada,
nossa imagem refletida nos enormes espelhos a nossa frente e o
piano branco em cauda no canto da sala.
— Esse não é mais o andar da minha mãe, Kiara — falei,
vendo-a olhar para mim. — Eu não preciso de coisas materiais para
me ligar a ela, porque eu a amo. Eu a amo muito e mesmo sem tê-la
conhecido, ela sempre estará no meu coração. Por isso eu quero
dar esse andar para você. Você está viva, é uma linda bailarina,
uma mulher doce e de bom coração. Sei que vai usar esse andar da
melhor forma possível e vai fazer desse um lugar feliz, como minha
mãe fez na época em que estava viva.
Ela abriu a boca para falar algo, mas apenas um suspiro saiu.
Parecia estar chocada e olhou em volta pela sala, observando tudo.
— Nós podemos colocar uma barra na frente do espelho, que
nem aquelas de fazer balé. Você pode mudar tudo o que quiser,
pode mudar a sala de costura, pode fazer umas mudanças na
biblioteca e, não sei se viu, mas tem outra sala menor que tem um
divã onde minha mãe descansava, você pode...
— Não — Me interrompeu, virando-se para mim. — Não,
Dominick, pelo amor de Deus. Esse é o andar da sua mãe, é algo
dela, você não pode dar para mim assim.
— Claro que eu posso — Falei, me aproximando dela e
pegando seu rosto em minhas mãos. — Posso porque sei que você
é a única pessoa que merece ganhar esse lugar tão especial.
Sempre me falaram que minha mãe era uma mulher doce, amorosa,
uma pessoa incrível e você é assim, Kiara. Você tem o dom de
mudar tudo para melhor, de me mudar para melhor e tenho certeza
de que vai saber usar esse lugar como ninguém. Tudo nesse
palácio é seu, tudo o que é meu é seu. O meu coração é seu — falei
e ela ofegou, me olhando sem nem piscar. — E esse andar, agora, é
todo seu também.
— Não sei o que dizer — sussurrou.
— Apenas aceite.
— Por que você faz isso comigo?
— Isso o quê?
— Uma hora me trata mal... E depois é o homem mais
incrível do mundo. Você me confunde, Dominick. Às vezes, eu não
sei quem você é de verdade.
— Eu não te trato mal por querer, jamais faria isso — falei,
querendo que ela enxergasse a verdade em meus olhos. — E eu
sou uma pessoa só, Kiara. Sou todo seu. De corpo, alma e coração.
— Promete nunca mais me magoar? Promete acabar com as
minhas dúvidas? Por favor, Dom, acabe com essa confusão na
minha cabeça — implorou, chorosa, acabando comigo.
— Eu prometo — falei.
Vou te dar um filho e não haverá mais dúvidas sobre o nosso
amor, pensei, enquanto a beijava e a puxava para mim, louco para
amá-la ali, no seu andar e provar a ela todo o meu amor..
Capítulo 25

“E eu sei que você estará lá para me orientar


O amor que você dá vai me libertar
Se você não sabe daquilo que você está dando
Eu posso te dizer, querida, é cura sexual”
(Sexual Healing, Ben Harper)

Dominick

Agarrei sua cintura e colei seu corpo ao meu, conseguindo


sentir os seus batimentos cardíacos contra o meu peito. Kiara era
mais do que a porra de uma mulher perfeita, ela era a mulher
perfeita para mim.
Toda minha.
Subi minhas mãos por seu corpo, suas costas, agarrando o
tecido de seu vestido entre meus dedos e levando-o junto. Engoli
seus gemidinhos com a minha boca e senti meu pau se retorcer na
calça quando a vi praticamente nua, usando apenas uma calcinha
de algodão cor da pele. Adorava vê-la vestida em renda e seda,
mas tê-la ali, tão simples e tão desejosa, me fez ficar ainda mais
excitado. Ela poderia estar vestida de qualquer forma, do jeito mais
ridículo, mas eu sabia que sempre ficaria duro para ela.
Tirei meus olhos de sua calcinha e subi pelo seu corpo, seus
seios deliciosos com os mamilos duros e parei em seu pescoço,
sabendo exatamente onde eu deveria começar a devorar. Apoiei
minha mão aberta em suas costas e outra em sua nuca, inclinando-
a para trás, para atacar seu pescoço com minha língua.
Kiara gemeu e senti seu corpo tremer em minhas mãos e eu
rugi com o gosto da sua pele, seu cheiro penetrando meu nariz.
Plantei beijos em seu pescoço, de cima a baixo, e, por fim, cravei
meus dentes em sua jugular. Mordi e suguei sua pele para dentro da
minha boca, marcando-a e fui para o outro lado do pescoço,
fazendo o mesmo.
— Oh meu Deus, Dominick... — murmurou e senti suas
pernas fraquejarem.
A segurei com força e desci meus lábios pelo seu colo e parei
em seus seios, os mamilos apontados para mim, implorando para
serem sugados. Passei a língua pelo bico duro, movendo-o de cima
a baixo e o coloquei na boca, sugando com força. Meu pau ficou
ainda mais duro com a imagem erótica de Kiara jogando a cabeça
para trás e gemendo meu nome em alto e bom som, fazendo sua
voz ecoar pela sala praticamente vazia.
Era a coisa mais sexy e linda que eu já tinha visto.
Uma deusa do sexo maravilhosa em toda a sua essência.
Mordi o mamilo e o soltei, sugando as laterais dos seus seios
até ficarem vermelhos, como uma fruta saborosa que havia sido
totalmente degustada. Fui ao outro seio e o lambi, chupei e mordi,
segurando-a agora pela cintura e sentindo suas mãos em meus
cabelos, me pressionando para mamar mais naquele seio tão
gostoso, que me fazia ficar doido.
Suguei dos lados, deixando-o rubro e tão duro quanto o
outro. Kiara mordia os lábios, desejosa e eu segui meus instintos,
descendo meus lábios pelo seu corpo, lambendo sua barriga até me
ajoelhar à sua frente.
Nunca havia me ajoelhado diante de ninguém, nem mesmo
do meu pai, que era um rei. Mas agora estava de joelhos para uma
mulher e mesmo assim, mesmo estando em uma posição submissa,
ainda era eu quem mandava ali. Via nos olhos de Kiara toda a sua
entrega, o modo como confiava em mim depois de tudo o que
havíamos passado naquele dia. Me encantava o modo como podia
ser doce demais, ter um coração tão bom, apesar de toda a sua
personalidade.
Beijei seu ventre e fechei meus olhos, sentindo o cheiro de
sua excitação ali tão perto de mim, minha boca se enchendo d’água
com o desejo louco de prová-la. Mas não foi só nisso que me
concentrei. Apesar do meu pau estar tão duro quanto uma barra de
ferro e Kiara estar tão molhada como sempre ficava para mim, havia
um desejo que me impulsionava a ficar ali, à sua frente, com a boca
pressionada contra o seu ventre.
Queria conversar com Deus, mas parei no meio do caminho.
Seria estranho demais conversar com Deus estando prestes a
comer minha esposa, não? Mas depois de um segundo eu joguei
tudo para o alto e fechei meus olhos com mais força, falando com
ele em silêncio.
Me permita fazer a coisa certa, por favor... Não a tire de mim.
Eu imploro.
— Dominick?
— Eu quero te fazer um filho — falei em voz alta, minha boca
ainda próxima de seu ventre.
Senti suas pernas tremerem de leve e tomei coragem de
erguer a cabeça e olhar para ela. Kiara estava chocada, seus olhos
arregalados.
— O quê?
— Um filho... — murmurei, beijando seu ventre sem deixar de
olhá-la. — Você não quer?
— Eu... Você tem certeza?
— Assim como tenho certeza de te amar.
Ela ofegou e eu esfreguei meu nariz pela sua pele, meus
lábios entreabertos pelo seu ventre, desejando com toda a força do
meu coração para que tudo desse certo.
— Dominick, se estiver fazendo isso porque acha que eu
quero um bebê...
— Eu também quero um bebê. Quero uma parte minha e sua
aqui — respondi, pousando minha mão aberta em sua barriga. —
Algo que nos ligará para sempre, que vai eternizar o nosso amor.
— Ah, Dom... — Ela sorriu e vi seus olhos se encherem de
lágrimas. — Eu nunca pensei que você iria querer um filho tão
rápido.
— Estou aqui para surpreender também, anjo... — Sorri e
abaixei sua calcinha que caiu aos seus pés ainda calçados na
sapatilha. Era uma visão sexy, ela toda nua e com as sapatilhas nos
pés, toda linda. — Abra as pernas. Vou chupar essa bocetinha antes
de meter meu filho dentro dela.
Ela riu e obedeceu, afastando as pernas. Toquei sua virilha
com a ponta dos dedos e olhei para ela, que me observava
intensamente.
— Abra a boceta para mim com a ponta dos dedos. Ofereça-
me.
Mordeu os lábios e levou as mãos aos grandes lábios,
abrindo-os. Chegava a brilhar de tão molhados que estavam, cheios
da sua lubrificação.
— Minha boceta é toda sua, Rei Dom — murmurou e olhei
para ela, vendo suas bochechas se tingirem de vermelho. — Use-a
da maneira que quiser.
Senti meu pau pulsar dentro da calça e babar na ponta, meu
tesão chegando ao auge. Travei meu maxilar com força e Kiara
percebeu, ofegando baixinho, sem tirar os olhos de mim. Não
respondi e me aproximei, encarando sua bocetinha toda molhada,
implorando para ser chupada.
Comecei de leve, encostando minha língua em seu clitóris,
esfregando o nervo duro de cima a baixo. Kiara gemeu e jogou a
cabeça para trás, afastando mais os grandes lábios e as pernas.
Movi minha língua devagar, agora em círculos, mas aquela moleza
não se parecia nem um pouco comigo, por isso a peguei firme pela
bunda, enfiando meus dedos em sua carne e a puxando para mim.
Abri minha boca por toda sua boceta e suguei seu clitóris
para dentro da minha boca, Kiara gritou, suas pernas tremeram e eu
a puxei para baixo em um solavanco. Ela entendeu exatamente o
que eu queria e se deitou, abrindo as pernas para mim, mas a virei
de bruços pela cintura e me agachei no chão, abrindo sua bunda e
descendo a língua desde seu cóccix até seu cuzinho, lambendo-o
de leve, circulando-o com a minha língua.
— Ah, Dominick! — gritou, arrastando as unhas pelo chão,
tentando esfregar a boceta contra o piso.
Lambi mais um pouco e desci até sua boceta, contornando a
abertura com a língua. Estava encharcada e suguei tudo, inebriado
com seu gosto dominando minhas papilas gustativas, me deixando
louco de tanto tesão. Penetrei minha língua e rodeei suas paredes
vaginais, sentindo-a pulsar sofregamente para mim. Sabia que
poderia gozar a qualquer momento e movi minha língua para dentro
e para fora, fazendo-a gritar pelo nome, implorar por coisas
desconexas e quando estava prestes a explodir, saí de sua boceta e
cravei meus dentes em sua bunda.
Mordi sua carne sem pena, apertando a outra nádega com
minha mão, apalpando e degustando. Suguei sua pele vermelha e a
larguei deixando o barulho ecoar pela sala. Fui até a outra nádega e
mordi de novo, forte, sentindo seu corpo estremecer abaixo do meu.
Comecei a sugar cada canto de sua bunda, cada pedaço de
carne exposta e levei a mão a minha camisa, desabotoando
rapidamente enquanto brincava com sua pele e seu gosto. Não tirei
a camisa, apenas afastei do meu peito e levei a mão a minha calça,
desabotoando e descendo junto com a cueca apenas para que meu
pau saísse. O toquei com uma mão e a outra apoiei no chão, me
dando apoio para subir por suas costas, mordendo, chupando,
sugando sua pele por toda a linha da coluna até chegar a sua nuca,
onde mordi e aproveitei para me acomodar entre suas pernas e
meter com força em sua boceta, abrindo-a toda para mim em um
golpe.
Sabia que eu era grande demais para ela, que sua boceta
ainda não estava acostumada com tudo aquilo, mas o tesão estava
me possuindo e não consegui ir devagar. Kiara pareceu gostar e se
empinou para mim como pôde, chamando pelo meu nome, me
impulsionando para meter mais contra sua bocetinha melada.
— Porra, como você é gostosa... — gemi, afastando seu
cabelo do pescoço. Beijei atrás de sua orelha e coloquei o lóbulo em
minha boca em seguida, sem parar de meter. — Eu te amo tanto,
amo tanto comer você, amo tanto estar dentro de você!
— Eu... também... — gemeu, ofegando.
— O que você ama, Kiara? Diga para mim... — exigi,
puxando seu cabelo para que seu rosto ficasse perto do meu. —
Quero ouvir!
Rebolei em seu interior e voltei a meter, saindo e entrando
sem parar, me acomodando no meio daquela carne macia e
apertada, toda molhada. O tesão era avassalador e eu podia sentir
minhas bolas se encolhendo, o tremor que passava por dentro do
meu pau, a boceta de Kiara pulsando.
— Eu amo você, Dom... Amo o seu pau, amo o jeito que faz
amor comigo...
— Isso, baby... Diga mais...
— Oh, meu Deus... — gemeu, apoiando-se nos cotovelos e
empinando mais a bunda para mim. — Amo o modo como me pega
firme... Que... que mete em mim, que me chupa...
— Vou meter e chupar para sempre, anjo... — falei e me
abaixei para chegar perto do seu ouvido. — E quando estiver
grávida, vou continuar a te comer, mas vai ser com carinho, bem
devagar, quero ver você delirar na minha cama...
— Sim! — concordou e eu virei seu rosto para mim para
atacar sua boca com a minha língua.
A beijei, gemendo em sua boca e engolindo seus gemidos
sôfregos. Seu corpo estremeceu e eu meti com violência, a cabeça
do meu pau que inchou em seu interior, enquanto um raio
atravessou minhas bolas e chegando nele. Kiara gritou, se debateu,
sua bocetinha se apertou e ordenhou meu membro duro dentro dela
e tudo ficou em suspenso quando ela gozou.
Seu corpo se tensionou, seu gemido parou no meio do
caminho e eu continuei a meter sem parar de observar sua
plenitude, a forma como se entregava. O tesão se multiplicou em
meu corpo e eu senti que estava perto, quase gozando.
— Kiara... — gemi, estocando com força dentro dela. — Ah,
baby, eu vou gozar!
Ela me olhou como podia e eu encarei seus olhos azuis
dopados pelo orgasmo que tinha acabado de ter. Senti meu pau
inchar mais, minha cabeça rodou e eu gritei quando o primeiro jato
de esperma a inundou, seguindo de outro e mais outro, me
obrigando a estocar sem parar dentro dela.
Apertei sua cintura e puxei sua cabeça para mim, beijando-a
e me esvaindo todo, deixando-a toda melada com nossos fluídos.
Quando tudo acabou, continuei a me mover devagar, apreciando
aquela maravilha que era poder fazer amor com a minha mulher.
— Eu te amo — sussurrei entre seus lábios, olhos fechados e
meu peito aberto. — Te amo com a força de cada batida do meu
coração.
— Eu também te amo, Dom... Te amo com tudo de mim.
Eu sabia que amava. E lutaria com todas as minhas forças
para que o seu amor durasse para sempre.
Capítulo 26

“Você me toca fundo, você me toca certo


Você faz coisas que eu nunca fiz
Você me faz mau, você me faz selvagem
Porque, querido, você é meu número 1"
(You’re My Number One, Enrique Iglesias)

Kiara

Olhei-me no espelho e sorri, me sentindo bonita com aquele


longo vestido azul que havia sido desenhado apenas para mim.
Estaria mentindo se dissesse que não gostava daquela vida de ter
sempre um estilista famoso a minha disposição para desenhar
vestidos com modelos exclusivos para mim. Na verdade, no começo
eu achava um exagero, mas sou mulher e, junto a Dallah, descobri
que nós gostávamos disso: de ser realmente tratada como uma
rainha. Mas, comigo, a história de rainha ia muito além de um
tratamento. Era um título. Um título que eu estava a alguns minutos
de adquirir.
Pensar nisso fez meu sorriso se desmanchar um pouco.
Estava nervosa, sentia meu corpo estremecer apenas em pensar
nessa história de, realmente, me tornar a Rainha de Orleandy. No
começo, eu tinha aceitado essa posição porque havia me casado
com Dominick. Mas agora via que ser rainha era mais do que ter o
título. Agora, eu teria um nome a zelar, um país inteiro que iria me
conhecer e respeitar, o mundo todo iria me conhecer ainda mais.
Estaria na mira de muitas pessoas, de nações inteiras. E
ainda tinha o fato de que, caso perguntassem algo sobre a minha
vida antes de ser rainha, eu teria que inventar uma história porque
não saberia realmente o que contar. Apenas sabia que tinha vindo
de Piechvi e que era órfã de pai e mãe. Não tinha familiares e,
segundo Dominick, também não tinha amigos.
Teria que inventar uma vida inteira apenas para saciar a
curiosidade de alguns.
Não me sentia preparada, na verdade, não me sentia nem
um pouco preparada para encarar toda essa realidade, mas não
tinha para onde fugir. Eu era esposa do Rei de Orleandy e ser a
rainha era como seguir a ordem natural da coisa.
— Você será uma rainha incrível. — A voz de Dominick me
fez voltar à realidade. Olhei pelo espelho e o vi atrás de mim, a
poucos centímetros de me tocar. — Tira esse medo bobo da
cabeça.
— Agora você lê pensamentos? — perguntei, sorrindo de
leve, mas ele continuou sério como sempre.
— Eu tenho alguns poderes — brincou e piscou um olho para
mim, antes de agarrar minha cintura com as mãos e me encostar
toda em seu corpo. — Você está linda, simplesmente incrível.
— Você também está lindo — murmurei, gostando do seu
terno preto com os detalhes dourados em sua gravata. — Tem
certeza de que confia em mim para estar ao seu lado nesse posto
tão importante?
— Eu confio em você de olhos fechados. Você é a única que
poderia estar ao meu lado, sendo minha esposa, a rainha do meu
país... sendo a mulher da minha vida. Eu tive essa certeza desde o
momento em que coloquei os meus olhos em você.
Sorri, sentindo meu coração bater mais forte com aquela
declaração tão linda.
— Um dia, Platão disse que “só pelo amor o homem se
realiza plenamente”. Na época em que li isso, não entendi. Na
verdade, achei uma bobeira sem tamanho, mas hoje eu
compreendo. Eu nunca me senti realizado, Kiara. Na verdade,
sempre me faltou algo. Passei a minha vida inteira achando que
esse “algo” era o amor do meu pai. Eu realmente acreditava que
essa parte que faltava em mim era ele e seu amor, seu sorriso que
ele nunca fez questão de me dar, mas agora eu sei que não.
— Seu pai? — perguntei, sem entender.
Dominick me olhou e suspirou, como se estivesse prestes a
tirar um peso de seus ombros.
— Meu pai sempre colocou em mim a culpa pela morte da
minha mãe.
— Oh meu Deus... — murmurei, sem saber o que dizer. —
Dominick, eu nunca imaginei que...
— Não, não importa — falou, tocando meus lábios com a
ponta dos dedos. — O que importa é que você me ajuda a superar
isso a cada dia. O seu amor é capaz de cobrir toda a necessidade
que sempre existiu em meu coração.
Ele parou e fez uma fileira de beijos em meu ombro, sem tirar
seus olhos dos meus. Só parou quando chegou a minha orelha e,
depois de dar um beijo atrás dela, murmurou em meu ouvido:
— O que me faltava era você e seu amor. Depois que
reconheci que estava completamente apaixonado por você, percebi
que aquela parte que faltava em mim, estava finalmente, completa.
Você fez de mim um homem plenamente realizado, Kiara.
Me desvencilhei de seus braços e me virei para ele,
abraçando-o pelo pescoço. Mesmo sério e com aquela cara de mau
que eu tanto amava, ele continuava sendo o homem mais romântico
do mundo. Seus olhos brilhavam para mim, com uma quantidade
infinita de um amor que eu sabia que jamais encontraria em outra
pessoa. Dominick me amava de verdade. Às vezes, ele poderia ser
um idiota, ser um grosso e estúpido, mas ele realmente me amava.
Me amava de uma forma que eu sabia que ninguém jamais
conseguiria amar.
E eu o amava também. O amava com a força de cada batida
do meu coração e seria assim até o fim da minha vida. Sabia que
sempre estaria ao lado dele, jamais conseguiria abandoná-lo,
porque não havia uma Kiara se não houvesse um Dominick. Sempre
estaria ali, para amá-lo, lhe dar suporte, ser sua âncora. Ser seu
tudo.
— Eu queria saber falar essas frases bonitas de filósofos e
autores, mas não conheço nenhuma... — murmurei, sorrindo para
ele. — Então, eu só posso dizer que eu te amo. Eu te amo do fundo
do meu coração, de uma forma tão grande que eu não sei explicar.
Você se tornou uma parte fundamental do meu ser, Rei Dom e,
agora, vai ter que me aturar para sempre do seu lado. Pelo resto
das nossas vidas.
— Eu serei o homem mais feliz do mundo se tiver a chance
de ficar com você para sempre, Kiara.
Meu coração bateu mais forte por ele e, sem que eu pudesse
conter, meu amor cresceu ainda mais. Feliz, colei meus lábios aos
dele e o beijei com tudo de mim, sentindo sua língua me acariciar
por dentro, me fazendo sentir amada e excitada, como se eu não o
tivesse beijado há meia hora atrás, antes dele entrar no closet para
se vestir.
— Quando voltarmos para casa, eu quero brincar com você...
— murmurou, descendo os lábios pelo meu rosto até o pescoço,
onde chupou de leve para não marcar minha pele. — Quero ter você
para mim no calabouço, quero te fazer gritar de prazer, gozar...
Quero tudo o que você pode me dar, Kiara.
— Eu também quero.
Dominick levantou o rosto e me olhou, seus lábios a poucos
centímetros dos meus. Um sorriso safado se pronunciou no canto
dos seus lábios e eu senti meu corpo estremecer
incontrolavelmente, o tesão tomando conta de mim.
— Termine de se arrumar e desça, estarei te esperando lá
embaixo com todos — falou e deu um beijo em minha testa, se
afastando a passos rápidos para a porta do quarto. Antes de sair, se
virou para mim e disse: — Tire a calcinha.
— O quê?
— A calcinha. Tire-a — falou e eu franzi o cenho, chocada. —
Agora, Kiara.
— Por quê?
— Porque eu quero.
— Mas...
— Nós não temos tempo, querida — disse, voltando-se a
mim e parando na minha frente. Estendeu a mão enorme e aberta.
— Tire a calcinha e coloque-a aqui, na minha mão.
Ergui o pano leve e fluído do meu vestido e tirei a calcinha,
passando-a pelos meus pés calçados. Levantei a renda preta e
coloquei na mão de Dominick, que a levou ao nariz.
— Não estou acreditando que você quer que eu receba o
título de rainha do seu país, sem calcinha.
— Só nós dois vamos saber — disse ainda com a calcinha
próxima ao nariz. — Você está excitada... Que delícia, anjo.
Continue assim, porque quando voltarmos quero você ensopada e
incapaz de pensar em outra coisa que não seja sexo.
Dessa vez, ele se virou e saiu do quarto, fechando a porta
atrás de si e me deixando sozinha. Me virei para o espelho e respirei
fundo, sentindo minhas paredes vaginais se apertarem. Ao contrário
do que pensei, o dia não seria apenas recheado de tensão para
mim.
Seria recheado de tesão também.

***
O arcebispo falava sobre a importância de ser uma boa
rainha e comandar um país tão amável como Orleandy. As pessoas
o olhavam compenetradas, interessadas no discurso, mas eu não
conseguia fazer o mesmo, apesar de tentar disfarçar. Dominick
estava sentado ao meu lado e segurava a minha mão, sério como
sempre, parecendo tão interessado no discurso do arcebispo quanto
todos no salão
Mas a minha mente ainda estava presa no fato de que eu
estava sem calcinha e pegajosa no meio das pernas. Como
Dominick conseguia mexer tanto comigo? Por que me excitava se
nem mesmo estava olhando para mim naquele momento? Desviei
meus olhos dele e me remexi no trono macio, me sentindo
incomodada demais, excitada demais. E, principalmente, nervosa
porque não conseguia registrar nada do que o arcebispo falava.
Se ele me fizesse alguma pergunta, estaria ferrada.
— Anjo, fique quieta, ou todos irão perceber que você está
louca para dar para mim — Dominick sussurrou no meu ouvido e
depois voltou ao seu lugar, sério, como se não tivesse dito nada de
mais.
Senti vontade de xingá-lo, mas sabia que se eu abrisse a
boca, não conseguiria falar tão baixo quanto ele, então, me obriguei
a ficar quieta e quando tentei tirar minha mão da sua, ele a apertou
e a levou aos lábios, dando um beijo amoroso. Aquilo me fez
derreter e sorrir, antes de olhar para frente novamente.
— É com muito orgulho e satisfação que chamo aqui na
frente a senhora Kiara Andrigheto Domaschesky, futura Rainha de
Orleandy.
Dominick se levantou e estava lindo demais com um manto
vermelho nas costas, assim como o meu. Sua coroa brilhava com a
luz dourada e eu o achei sexy demais com toda aquela roupa,
apesar de preferi-lo sem ela.
Assustada com meus pensamentos em um momento tão
inadequado, me obriguei a parar de pensar em sexo e aceitei a mão
que Dominick me oferecia. Me levantei e caminhei até o púlpito,
onde vi os papéis do meu discurso.
— É com imenso orgulho que estou aqui hoje, prestes a ser
coroada como Rainha de Orleandy — falei ao microfone, sentindo
alguns flashes pipocarem em meu rosto. — Me sinto honrada em
me tornar a rainha desse país que tanto amo, depois de termos
perdido nossa querida Rainha Marie, há trinta anos. Prometo estar
sempre ao lado de meu marido, o Rei Dominick Andrigheto
Domaschesky, apoiando-o e aconselhando-o a zelar sempre pelo
nosso povo e nosso país. Prometo que, junto a ele, iremos seguir
com cada nuance de nossa Constituição e fazer um reinado
tranquilo e longínquo.
Encerrei ouvindo uma salva de palmas. Sorri e o arcebispo
veio até mim com uma pequena taça de prata, contendo um óleo.
Ao seu lado, o padre segurava uma grande almofada de veludo,
contendo a enorme coroa, Dominick estava ao lado do padre e não
parava de me olhar daquele modo depravado, que me deixava
louca.
— Com este óleo, te ungirei e caminhará lado a lado com o
nosso Senhor e seu marido nessa bela jornada — o arcebispo falou,
ungindo-me com o óleo.
No momento seguinte, olhou para Dominick e ele pegou a
coroa nas mãos. Vindo até a mim, parou na minha frente e levantou
a coroa para que eu pudesse vê-la. Era linda, toda dourada e
cravejada com diamantes e uma pedra azul que me lembrava safira.
— Com esta coroa, lhe coroarei, para que se torne apta a
reinar este lugar ao meu lado. Com esta permissão, acenderá o
nosso candelabro, símbolo sagrado de nosso país, e essa chama se
manterá acesa por toda a eternidade.
Sem que eu precisasse me abaixar, Dominick colocou a
pesada coroa de ouro em minha cabeça. O padre me deu uma
pequena vela branca e fui guiada até a mesa de madeira maciça ao
lado do púlpito, onde estava um enorme candelabro de ouro, com
vinte e duas velas acesas. Dominick havia me explicado que aquele
era o candelabro dos reis. O que eu iria acender era um pouco
menor e só havia vinte e uma velas acesas, uma vela para cada
rainha que Orleandy já havia tido.
Posicionei a vela branca em minha mão na vela grande no
candelabro e a acendi, sentindo meu coração pular no peito.
O aplauso fervoroso de todos apenas me provou que sim, eu
havia acabado de me tornar a Rainha de Orleandy.
Capítulo 27

“Ninguém nunca me fez sentir do jeito que você faz


Você sabe a minha motivação
Devido a minha reputação
Por favor, me desculpe eu não quero ser rude

Mas esta noite eu vou te comer


Oh, você sabe”
(Tonight, I’m Fuck you, Enrique Iglesias)

Kiara

A festa pela minha coroação ainda estava acontecendo,


quando Dominick se intrometeu em minha conversa com duas
senhoras e disse que tínhamos um compromisso inadiável e
precisávamos ir embora. As senhoras sorriram, encantadas, com o
olhar amoroso com que Dominick me olhava e se despediram de
nós dois.
Assim que elas se afastaram, olhei para ele sem entender
que compromisso era aquele; mas, então, me lembrei. O calabouço
nos esperava.
Senti um calafrio percorrer meu corpo e mordi o lábio de
ansiedade. Passamos pelos convidados, alguns nos pararam, mas
Dominick não estendeu a conversa e seguimos em direção à saída
secreta do salão, a mesma pela qual sempre entrávamos e
saíamos. Passamos pelo corredor parcamente iluminado e, então,
um segurança abriu as portas para nós dois. Saímos, descemos as
escadas e entramos na limusine que havia nos trazido.
Assim que entramos, Dominick se sentou no banco à minha
frente e apertou um botão ao seu lado na porta. A divisória que nos
permitia ver o motorista sumiu quando uma tela preta começou a
subir. Olhei Dominick, excitada e ele olhou para a minha intimidade
tampada pelo vestido.
— Levante.
Obedeci, ansiosa, e levantei meu vestido até minha cintura.
Suspirei com seu olhar excitado e sua cara séria.
— Afaste as pernas. — Fiz o que pediu e quase gemi quando
passou o polegar pelo lábio inferior. — Abra os lábios, quero ver sua
bocetinha.
Abri e ele saiu do banco, se ajoelhando à minha frente.
Pousou as mãos abertas em meus tornozelos e subiu por minha
perna, panturrilhas, esfregou a ponta dos dedos pela parte de trás
dos meus joelhos e eu remexi os quadris, ansiosa, desejando. Subiu
as palmas das mãos abertas por minhas coxas e esfregou a ponta
dos dedos pela parte inferior, até chegar a minha virilha.
— Está molhada? — Assenti, balançando a cabeça. —
Toque-se para mim.
Molhei meus lábios secos e levei meu dedo médio ao meu
clitóris, tocando-o lentamente, em círculos. Ofeguei e gemi quando
um arrepio gostoso passou pelo meu corpo.
— É gostoso, querida?
— Sim...
— Tão gostoso quanto eu faço? Ou mais?
— É mais gostoso quando você faz.
Ele deu aquele sorriso safado e apertou minhas coxas com
força, me fazendo soltar um gemido alto, enquanto prazer tomava
conta de mim.
— Pare.
Parei, engolindo em seco. Queria tanto continuar, queria tanto
gozar, mas sabia que, naquele momento, era ele quem mandava ali.
E eu adorava obedecer.
— Me dê seu dedo.
Obedeci e gemi quando ele colocou meu dedo na boca e
chupou forte, sugando toda a minha lubrificação. Não tirou os olhos
dos meus e quando parou de chupar, mordeu a ponta do meu dedo,
me fazendo estremecer.
— Abaixe o vestido, já chegamos.
Então, como se não tivesse me deixado ainda mais excitada
do que antes, ele se levantou e voltou a se sentar à minha frente.
Abaixei o vestido e olhei ao redor, vendo o castelo a alguns metros
de nós. Respirei fundo e senti o carro diminuir a velocidade, até
parar totalmente. Sem esperar pelo motorista, Dominick saiu e abriu
a porta para mim, segurei a mão que me estendia e quase gemi
quando vi a ereção monstruosa que estufava sua calça.
Senti vontade de sorrir, mas me contive e andei ao seu lado.
Subimos as escadas, passamos pelo hall e fomos em direção ao
elevador, foi tudo tão rápido que não pude nem mesmo registrar o ar
que enchia meus pulmões. Dominick colocou o código que nos
levaria até o calabouço e, então, me olhou. Naquele momento eu
queria ter o poder de saber exatamente tudo o que se passava na
sua mente, tudo o que queria fazer comigo, mas, então, cheguei à
conclusão de que não queria saber de nada.
Queria ser surpreendida por ele. Como ele sempre fazia.
Chegamos no calabouço e estremeci, olhando ao redor.
Dominick se afastou e foi em direção ao bar, enchendo um copo de
uísque. Tomou um gole e se virou para mim, olhando-me de cima a
baixo:
— Tire o vestido.
Passei minha língua pelos lábios secos e levei minha mão a
lateral do corpo, descendo o zíper completamente até sentir o
vestido descer rapidamente pelo meu corpo. Era tomara que caia e
como não precisava de sutiã, eu já estava completamente nua nele
em apenas alguns segundos. Fiquei parada onde estava e Dominick
apontou para os meus sapatos, entendi o recado e os tirei,
deixando-os atrás de mim assim como o vestido.
Dominick terminou o uísque e encheu o copo novamente.
Tomou um gole e deu alguns passos na minha direção, até parar na
minha frente, fazendo-me ofegar e meu corpo estremecer em
antecipação.
— O que está disposta a fazer hoje, Kiara?
— Tudo — respondi, sem pensar duas vezes.
— Tudo?
— Tudo.
— E você sabe o que o “tudo” engloba? Tem alguma noção?
Olhei para a grade onde ele mantinha todos aqueles objetos
de punição e quase estremeci. Quase, mas não fiz.
— Não sei. Mas eu sei de uma coisa muito importante, Rei
Dom.
— E o que é?
— Sei que não vai me machucar. Confio em você acima de
tudo.
Dominick assentiu e colocou um dedo dentro do copo de
uísque. Olhei para aquilo sem entender, até que ele ergueu o dedo
encharcado e o passou pela minha boca, molhando os meus lábios
com o líquido. Sem conseguir me conter, abri a boca e seu dedo a
invadiu, me fazendo começar a sugá-lo. O sabor era forte, o cheiro
também, mas eu gostei e gemi quando ele girou o dedo por toda a
minha boca.
— Gosta?
Assenti e deixei seu dedo sair, não antes de morder na ponta,
como ele fizera comigo. Dominick não sorriu, na verdade, percebi
que aquele não era um dia que ele estava com muita disposição
para mostrar seus maravilhosos dentes brancos, mas não me
importei. Ele estava mais romântico do que o normal, estava lindo e
dominante, estava sendo apenas o meu Rei Dom.
Voltou a se afastar, colocou o copo ainda cheio em cima do
bar e começou a se despir. Não fez muita questão em ser rápido ou
devagar, apenas se despiu normalmente, como se eu não estivesse
ali e ele não estivesse com o pau tão duro que a glande chegava a
ficar vermelha.
Pegou o copo novamente e passou por mim, indo em direção
ao trono. Se sentou e me olhou, colocando o copo no descanso de
madeira que havia no braço da cadeira. Estava lindo, sério, gostoso
e com o pau erguido entre as pernas. Arqueou uma sobrancelha e
me chamou com a ponta dos dedos. Entendi o que queria e andei
até ele, parando à sua frente.
— Ajoelhe-se, Kiara.
Obedeci e me ajoelhei, sem tirar os olhos dele, observando
quando voltou a passar o polegar pelo lábio inferior e olhou em
meus olhos, antes de começar a falar:
— Submeta-se ao seu rei — Dominick falou com a expressão
séria. Seu rosto refletindo uma maldade que eu sabia que fazia
apenas parte do seu jogo. — E será altamente recompensada.
Senti meu corpo estremecer e minha boceta molhada com
sua voz rascante. Sob seu olhar, me ajoelhei e joguei meu corpo
para frente apoiando meus braços no chão cru de cimento do
calabouço.
Estava submetida ao meu rei, ao amor da minha vida.
— Venha aqui, de joelhos. — Obedeci e me aproximei,
parando exatamente na sua frente. — Coloque as mãos para trás.
— Coloquei e ele acariciou o pau de cima a baixo. Senti minha boca
se encher d’água. — Chupe.
Ofereceu o pau para mim e, sem pensar duas vezes, o
coloquei em minha boca. O gosto do pré-semen invadiu minha
língua e gemi de prazer, sentindo-o todo ali, na minha boca.
Adorava seu pau, a forma como era grande, como a glande era
perfeita e ficava inchada e avermelhada quando ele estava excitado
demais, como naquele momento. A forma como as veias faziam
seus desenhos únicos... Simplesmente amava aquela parte do seu
corpo, que me dava tanto prazer.
Sem as mãos era mais difícil, mas controlei o meu corpo e o
enfiei mais na minha boca, aproveitando que Dominick segurava o
pau pela base, esfregando-o na minha boca. Sabendo como ele
gostava, soltei minha respiração e deixei a glande passar pela
minha garganta, segurando-o lá dentro. Dominick ofegou e senti
suas pernas tremerem. O soltei e tirei seu pau na minha boca,
passando a língua pela glande.
Sentia o olhar de Dominick cravado em mim e quando o
coloquei de novo em minha boca, ele passou a mão pelos meus
cabelos, empurrando minha cabeça para baixo. Sabia que ele
queria que o chupasse até fazê-lo gozar e estava realmente louca
por senti-lo enchendo a minha boca com o seu prazer.
Deixei que esfregasse a glande no céu da minha boca e
quando o levei novamente a minha garganta, seu pau inchou. O
mantive e quando o soltei, senti o primeiro jato do sêmen enchendo
a minha boca. Dominick jogou a cabeça para trás e o chupei mais,
engolindo tudo, enquanto ele gozava sem parar em silêncio.
Quando terminou, senti suas pernas ainda tremerem e seu
pau pulsar, enquanto o lambia de cima a baixo, ainda duro mesmo
depois de ter gozado. Quando tirou o membro de perto da minha
boca, sentei em meus calcanhares e esperei, olhando para ele.
Sem dizer nada, Dominick levantou e passou por mim. Senti
vontade de me virar, ver o que fazia, mas continuei quieta e esperei,
ouvindo-o mexer em várias coisas e fazer barulho.
— Levante-se e venha até aqui, anjo.
Sorri de leve com aquele apelido e me levantei, sentindo
minhas pernas estremecerem. Me virei e fui até ele, espiando tudo o
que havia colocado na sua mesa de rodinhas. Parei à sua frente e
ele tocou meu rosto com uma mão, enquanto agarrou a minha
cintura com a outra e me virou sem nem me deixar respirar. A mão
que estava em meu rosto desceu até o meu pescoço e o apertou de
leve.
— Eu te amo tanto, querida... — murmurou em meu ouvido e
colou o corpo nas minhas costas, sua ereção cutucando em minha
bunda. — E você tem razão, eu jamais te machucaria. Fico muito
feliz que confie em mim.
Deu um beijo estalado em minha bochecha e me largou, se
afastando. Quando voltou, ergueu meu cabelo e o prendeu em um
rabo de cavalo no alto da minha cabeça, para logo depois passar
uma corda pela minha nuca e deixá-las penduradas na frente do
meu corpo. Me virou novamente para ele e, com habilidade, trançou
as cordas na frente do meu corpo e até abaixo do meu seio, onde as
jogou para trás.
Me virou novamente e, dessa vez, as trançou nas minhas
costas até chegar a minha cintura, onde senti dar um nó forte e
puxar minhas mãos para trás. Amarrou-as na corda, forte o
suficiente para que eu não escapasse, mas fraco o suficiente para
não me machucar e nem prender a corrente sanguínea. Senti meu
corpo estremecer de leve de excitação e ansiedade.
Com a mão em meu braço, me levou um banco longo, de
couro preto e fez com que cada uma das minhas pernas ficasse de
um lado e, com a mão apoiada na base da minha coluna, me
empurrou de leve e me fez deitar de bruços. Senti quando prendeu
meus tornozelos aos pés do banco e, quando se ergueu, gemi
quando deu um tapa ardido e forte na minha bunda.
— Você é tão gostosa... Me deixa louco, anjo.
Assenti com vontade de dizer o mesmo, mas não fiz nada e
esperei. Se afastou novamente e consegui ver quando terminou de
beber o uísque e foi em direção à mesa de rodinhas, parando com
ela atrás de mim.
— Está vendo isso? — perguntou, agachando-se, de repente,
ao meu lado.
Olhei para o que ele tinha nas mãos, era um objeto estranho,
com um monte de bolinhas que começavam pequenas e acabavam
grandes, presas em uma haste longa e branca.
— O que é isso?
— Isso se chama plugue anal — murmurou, sem tirar os
olhos de mim. — Um dia, Kiara, eu vou entrar em todos os buracos
do seu corpo, esse é o meu maior desejo.
— Todos os buracos do meu corpo? — perguntei, achando
graça. Ele apenas assentiu. — Como você é romântico.
— Eu falo frases de amor para você... Isso não é ser
romântico?
— É, claro que é. Mas é até estranho que o mesmo homem
que me fala frases de Platão e Jane Austen, também fala que quer
se enfiar em todos os buracos do meu corpo — falei, ainda sorrindo.
— Você é a minha melhor contradição, Rei Dom.
— Fico feliz que você me ame do jeito que sou — falou,
colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. — Mas
eu preciso saber se você quer isso, Kiara.
— Que você entre em todos os buracos do meu corpo? —
Assentiu e eu arqueei uma sobrancelha. — Acho que todos será um
pouco difícil, não?
— Anjo... Eu tentei ser romântico, mas você está dificultando
as coisas — falou, sorrindo de lado. — Eu quero comer seu cu,
querida. Acho que esse é o único buraco que meu pau cabe, que eu
ainda não entrei.
Ri sem conseguir me conter e Dominick riu comigo, me
fazendo revirar os olhos. Só ele conseguia falar sobre sexo anal e
me fazer rir ao mesmo tempo.
— Dói? — perguntei, curiosa.
— Não vai doer, porque vou preparar você para mim — falou,
levantando o objeto novamente. — Esse brinquedinho serve
justamente para isso, para preparar você para mim. Você quer isso?
Não farei nada que você não queira.
— Eu quero.
Não parei para pensar. Sabia que pensar demais sempre me
levava a besteiras e, acima de tudo, confiava em Dominick, o amava
e queria ser dele de todas as formas possíveis. Ele assentiu e viu
em meus olhos que eu falava o que realmente sentia e, então, se
levantou.
Mas antes de realmente se afastar, voltou e se agachou, me
beijando com força, enfiando a língua na minha boca. Gemi,
excitada com seu ataque repentino e retribuí o beijo, adorando cada
momento que passava naquele calabouço.
— Não consigo ficar longe da sua boca por muito tempo...
mesmo quando quero ser apenas um dominador que segue a regras
idiotas — murmurou entre meus lábios, antes de me beijar
novamente.
Quando se afastou, sorri satisfeita por ver que seu amor por
mim passava por cima dos seus instintos dominantes.
Vi de relance ele mexer em algo na mesa e, então, sumiu do
meu campo de visão. Alguns minutos depois, um gemido escapou
por meus lábios quando senti seus dentes se cravarem em minha
bunda, mordendo rápido antes de ir a outra nádega e morder
novamente, descer e morder de novo e, mais uma vez, me deixando
muito molhada e excitada. Quando achei que morderia de novo, ele
separou minha bunda e sua língua desceu pelo meu cóccix até
parar no meu ânus.
Lambeu, circulou e voltou a morder minhas nádegas, dessa
vez na borda delas. Minhas pernas tremeram incontrolavelmente e
gemi de novo quando, dessa vez, penetrou a ponta da língua no
meu cuzinho, me fazendo revirar os olhos.
Nunca pensei que poderia ser tão bom.
O senti se afastar novamente e quando voltou, algo molhado
e gelado encharcou meu ânus. Seu dedo circulou ali e se afastou
novamente, voltando com o plugue anal. Senti sua mão separando
uma nádega e, então, me penetrou a bola pequena. Estremeci, senti
minhas paredes anais se contraírem e, então, ele forçou e penetrou
a outra, me fazendo gemer.
— Relaxe, não quero te machucar, querida...
Respirei fundo e outra bolinha entrou, dessa vez maior. Ardeu
e foi assim até entrar a última e maior de todas, que me fez ofegar
pela dor que me tomou.
— Linda... — murmurou e se afastou. Quando parou ao meu
lado, mostrou as duas mãos vestidas em um par de luvas de couro
preta. — Eu quero dar palmadas na sua bunda até tê-la toda
vermelha e sensível... Depois, eu vou comer você e te fazer gozar
bem gostoso para mim. — Tocou a boca em minha orelha e sugou o
lóbulo, antes de sussurrar: — Amanhã, eu vou colocar outro plugue
no seu cuzinho... E quando ele estiver totalmente preparado, vou
comê-lo sem dó. É isso que quer, Kiara?
— Sim... — murmurei, excitada demais, esfregando meus
quadris na cadeira sem poder me controlar.
— Pare. Se tentar esfregar a boceta de novo eu vou te bater
com um chicote, sem pena, Kiara.
Apenas assenti e o vi se afastar, indo para trás de mim. Senti
suas mãos com as luvas subirem pelas minhas pernas, minha
bunda, minhas costas, passou pelo rosto e depois voltou a descer
levemente, o couro esquentando gradativamente, passou
novamente pelas minhas costas, meu cóccix e, quando senti que ia
passar pela minha bunda, suas mãos desceram com força pelas
minhas nádegas, me fazendo gritar.
Minha pele ficou mais quente do que o normal. Ofeguei e
senti um tapa estalar com força no meio da minha bunda,
atravessando as duas nádegas, me fazendo estremecer com força.
Senti meus olhos se encherem d’água, principalmente quando o
plugue se movimentou dentro de mim, mas não era pela dor e sim
pelo tesão: um tesão absurdo que me fazia ofegar, estremecer,
chorar e ficar ainda mais molhada.
Um novo tapa me atingiu do lado esquerdo, depois do direito,
em cima e em baixo e, então, quando pensei que não aguentaria
mais de tanto calor, Dominick me segurou pela cintura e meteu o
pau com força dentro de mim. Senti minhas paredes vaginais o
massacrarem e Dominick gemeu, descendo o corpo pelo meu,
mordendo minha nuca, meu pescoço e metendo sem parar.
— Assim... Assim, Rei Dom... — gemi, querendo me mover,
mas tinha o seu corpo em cima do meu, as mãos amarradas e os
pés também me impossibilitando.
— Te amo... Te amo, te amo, Kiara... — murmurou em meu
ouvido, riscando círculos perfeitos dentro de mim. — Obrigado por
ser minha, por ser toda minha.
— Eu te amo mais, muito mais.
— Não mais do que eu! — rugiu, voltando a morder minha
nuca.
Seu pau entrou e saiu com força, massageando todos os
meus pequenos nervos. Senti um tremor passar pelo meu corpo,
minha mente girou e tudo pareceu ficar ainda mais sensível, o
orgasmo veio com tanta força que a única coisa que pude fazer foi
gritar quando ele tirou o plugue dentro de mim de uma só vez e
meteu o pau com força, me fazendo gozar.
Tudo estremeceu dentro de mim, exatamente tudo. E
continuei gozando sem parar, sentindo todo o pau de Dominick
dentro de mim, seus dentes em minha nuca e seu gozo me
invadindo e me melando toda.
Meu coração pulou forte no peito, meu corpo tremeu e,
quando Dominick saiu de dentro de mim e desamarrou minhas
mãos, tive a certeza de que eu amava aquilo. Amava toda aquela
loucura com ele, de ser dominada por ele, de gozar daquela forma
que me tirava de órbita.
Amava-o, amava-o e amava-o.
E seria para sempre.
Capítulo 28

“Você é meu fim e meu começo


Mesmo quando perco estou ganhando
Porque te dou tudo de mim
E você me dá tudo de você”
(All of me, John Legend)

Kiara

Duas semanas depois...

Cada dia que passava eu me sentia mais feliz e realizada.


Como podia ser possível? Dominick estava me mostrando um lado
da vida que me deixava ainda mais apaixonada e animada com
tudo, principalmente com nós dois, nosso casamento e nosso amor.
Nunca imaginei que ele poderia ser esse homem tão amoroso que
estava se mostrando.
Era óbvio para mim que seu amor era verdadeiro. Eu via em
seus olhos, sentia em seu toque, no modo como fazia amor comigo,
como sussurrava aquelas frases lindas em meu ouvido. E isso
conseguia afastar de mim qualquer dúvida, qualquer receio sobre
meu passado.
Acho que eu estava me conformando, de certa forma. Estava
tão feliz ao seu lado, tão satisfeita com a nossa vida, que cada vez
mais me desprendia da curiosidade que me atormentava desde o
dia em que eu abri os olhos e me encontrei nesse castelo.
Do que iria adiantar descobrir sobre o meu passado se eu já
não tinha mais ninguém? Tinha apenas Dominick, Dallah, Arthur e
Dimir e as meninas da cozinha, com quem fiz uma forte amizade. E
agora que Dominick havia me pedido um filho, eu iria me dedicar de
corpo e alma a minha família.
Talvez fosse melhor assim. Que meu passado ficasse apenas
no passado.
A ideia de ter um bebê me deixava com o coração pulando de
alegria. Um filho. Um filho meu e de Dominick, uma parte nossa que
correria por esse castelo enorme, que nos encheria de alegria,
assim como Arthur enchia Dimir e Dallah de felicidade.
Ainda sentia a emoção tomar conta de mim ao lembrar de
Dominick ajoelhado aos meus pés, me pedindo um filho. Ali eu me
senti, realmente, como a mulher da sua vida, a única com quem ele
queria uma vida, construir uma família e ser feliz. Em minha cabeça,
achava que Dominick jamais chegaria ao ponto de realmente me
pedir um filho.
Não era do seu feitio se apegar a crianças, por mais que ele
fosse outro homem perto de Arthur. Pensava que, quando fosse
para termos um filho, seria por um pedido meu, não dele. Mas tê-lo
daquela forma, tão rendido a mim e me pedindo um bebê, me
surpreendeu e me deixou exaltada. Ele queria um filho. Um filho
comigo e eu não poderia estar mais feliz.
Me levantei do banco onde estava sentada e dei uma volta
pelo jardim. Passei a mão pelas flores abertas naquele verão e me
apaixonei pela flor rosa que estava toda aberta, linda, como se
aproveitasse o sol naquele dia lindo. Avistei Norbert, o jardineiro,
mais a frente e pedi para que ele cortasse a flor para mim.
Ela já tinha um destino certo.
Ele o fez e eu a cheirei, ainda mais emocionada por vê-la tão
perto. No momento seguinte, fui em direção à cozinha e sorri ao ver
que Andy já havia chegado com Hannah, sua filhinha que havia
nascido no mês passado. Era linda, estava vestida em um
macacãozinho rosa e eu me aproximei, entregando a rosa a Andy.
— Tome, coloque no quarto dela. Quando vi essa rosa,
lembrei logo de Hannah.
— Ah meu Deus, Kiara, é linda demais — disse, sorrindo. —
Obrigada. Quer pegá-la?
Assenti e ela me passou a bebê, pegando a rosa da minha
mão. Hannah dormia tranquila e seu cheirinho de neném me deixou
toda boba. Me sentei ao lado de Dallah na mesa da cozinha e as
mulheres não paravam de falar, enquanto eu prestava atenção na
bebê tão linda em meu colo.
— Está doendo para amamentá-la? — Dallah perguntou.
— No começo doía sim, mas agora não dói mais. Já me
acostumei.
— É a melhor sensação do mundo, não é?
— Com certeza. — Andy sorriu, toda boba. — Sou tão
apaixonada por ela.
— Tem que ser mesmo, porque Hannah é linda — murmurei,
passando o polegar em sua sobrancelha fininha.
— E você, Kiara? — Andy perguntou, sentando-se na cadeira
à nossa frente. — Dallah me contou que Dominick quer um bebê.
Você também quer?
— Eu só contei porque todas nós somos amigas — Dallah
disse fazendo uma careta. — Fiz mal?
Sorri e balancei a cabeça, olhando para elas.
— Claro que não, não fez mal — falei, vendo Norah e Anna
se juntarem a nós à mesa. — Eu quero muito ter um bebê, mas
acho que ele não vai vir esse mês.
— Ah... Por quê?
— Eu menstruei ontem — murmurei, triste, mas sabendo que
não deveria me desanimar por causa daquilo. — Mas foi estranho...
Veio muito pouquinho, sabe? E vermelho escuro, não veio como
sempre. E hoje não desceu mais. Será que estou com algum
problema?
— Ah, meu Deus! — Dallah gritou e Hannah resmungou em
meu colo, se mexendo. — Desculpa, bebezinha, desculpa... Mas,
Kiara, isso é perfeito!
— Perfeito?
— É! — Andy disse, sorrindo. — Sabe, antes de descobrir
que estava grávida a minha menstruação veio exatamente assim.
Uma semana depois, começou os enjoos, as tonturas, os desejos...
Senti meu coração bater mais forte. Principalmente quando
Anna e Norah sorriram uma para a outra e disseram, quase em
uníssono:
— Querida, você pode estar grávida!
Senti minha cabeça rodar e segurei Hannah mais forte em
meus braços, com medo de que ela pudesse cair. Eu sabia que
poderia ser possível. Dominick e eu nunca usamos proteção, ele
raramente gozava fora de mim e, depois que me pediu um filho,
fazia questão de ejacular dentro e sempre me dava aquele
sorrisinho sacana no final, como se soubesse que eu engravidaria a
qualquer momento.
Mas agora, com essa possibilidade tão real na minha frente,
senti meu corpo estremecer. Eu poderia estar grávida. Um bebê
poderia estar se formando dentro de mim.
Meu Deus, que loucura!
De repente, vi Dallah se levantar ao meu lado e desaparecer
da cozinha, enquanto Andy falava pelos cotovelos sobre o que me
aconteceria nas próximas semanas, como se já fosse certeza de
que eu estava grávida. Norah falava algo sobre começarem a
montar um cardápio mais saudável e Anna anotava tudo em seu
caderninho. Hannah dormia e minha cabeça estava cheia de tantas
informações mal processadas.
Gravidez, enjoos, pés inchados, seios doloridos, nabo,
alfaces, tomates, frutas variadas... E um bebê poderia estar se
formando na minha barriga. Cristo, eu ia ficar louca!
— Gente, por favor, calma! — Ouvi Dallah dizer ao entrar na
cozinha. Tinha sua bolsa em seu ombro e segurava a minha na
outra mão. — Vamos, Kiara, levante essa bundinha daí. Vamos
fazer um exame e acabar com essa dúvida... Que, na verdade, nem
é mais dúvida!
— Ah, eu vou também! — Andy disse, se levantando e vindo
até a mim para pegar Hannah.
— Eu também...
— Eu também, aproveito e já compro tudo o que anotamos —
Norah disse, pegando o caderninho de Ana.
— Não, nada disso. Meninas, vocês ficam. Eu acompanho
Kiara, se for todo mundo, ela vai enlouquecer. Olha como está
pálida — Dallah disse, pela primeira vez, colocando ordem em algo
que não fosse Arthur.
Veio até a mim e me pegou pela mão. Me levantei e ouvi
Andy, Anna e Norah me desejarem boa sorte. Não consegui falar
nada e assenti, seguindo os passos decididos de Dallah, que
segurava forte a minha mão.
Eu poderia estar grávida e não conseguia parar de pensar
nisso.
Atravessamos o interior do castelo e estávamos quase saindo
quando Dominick entrou e parou ao nos ver. Estava sério como
sempre, mas franziu o cenho quando me viu.
— Onde vocês vão? — Se aproximou de mim e tocou meu
rosto, passando o polegar pelos meus lábios. — Por que está tão
pálida? Está passando mal?
— Pálida? Que nada, Kiara está normal. E nós vamos ao
salão, precisamos fazer uma hidratação no cabelo e François
fechou o salão, está esperando por nós.
— Kiara não vai! Olha como está pálida... — falou,
começando a ficar nervoso. Quando tocou em minha mão, vi seu
maxilar ficar rígido. — A mão dela está gelada. O que está
acontecendo, Kiara? O que está sentindo, querida?
— Nada — murmurei, piscando e vendo que eu não podia
ficar aérea ou ele realmente não me deixaria sair. — Eu estou bem e
preciso mesmo ir ao salão com Dallah. Prometo que não vou
demorar.
— Mas eu voltei mais cedo para passar o resto da tarde com
você... — murmurou, tocando em uma mecha do meu cabelo. — E
você está linda, não precisa passar essas coisas no cabelo.
Sorri e soltei a mão da Dallah, abraçando-o pelo pescoço.
— Ah meu Deus, que melação... Vou esperar lá fora —
Dallah avisou, saindo.
Quando viu que estávamos sozinhos, Dominick me segurou
firme pela cintura com uma mão e apertou minha bunda por cima da
calça jeans com a mão livre. Sorriu de lado e, sem dizer nada,
atacou minha boca em um beijo faminto. Senti vontade de gritar por
seu ataque, mas apenas retribuí o beijo, cheia de desejo de repente.
— Quero fazer amor com você... — murmurou, passando a
língua pelo meu lábio inferior. — Fique em casa, anjo...
Pensei em responder, mas novamente ele me atacou e me
beijou como se tivesse fome de mim, massacrando minha bunda
com sua mão enorme. O abracei com mais força e estava quase
cedendo ao seu apelo, mas sabia que o que tinha que fazer era algo
de suma importância, que não poderia ficar para depois.
— Eu adoraria ficar, mas François fechou o salão por nossa
causa, amor...
— Eu pago o dobro para que você fique em casa.
— Não — falei, tocando em seu rosto. — Prometo que
quando voltar, serei só sua e não te deixarei sair do quarto.
— Olha que eu posso te levar para o calabouço e te castigar
por estar deixando o seu rei sozinho e com o pau doendo de tão
duro, querida.
Suspirei e gemi baixinho quando ele mordeu meu lábio
inferior, fazendo minha calcinha ficar molhada.
— Eu vou adorar ser castigada.
Ele sorriu e deu um tapa dolorido em minha bunda, se
afastando. Acho que gostou do que viu, porque minha bochecha
pegava fogo, tinha certeza de que eu estava vermelha pelo tesão.
— Ótimo! Acho melhor ir agora, porque se ficar por aqui por
mais um segundo, eu te jogo pelos ombros e te tranco no quarto.
Ri alto em direção à porta, vendo como ele me olhava com
um sorriso divertido nos lábios. Amava vê-lo daquela forma, tão leve
e sem toda a tensão que sempre carregava consigo.
— Eu te amo, Rei Dom.
— Eu te amo mais, querida.
Saí do castelo e encontrei Dallah já dentro do carro. Assim
que o motorista fechou a porta, ela se virou para mim e me olhou de
cima a baixo.
— Safada! Me deixou aqui sozinha para ficar se esfregando
no Dominick. Olha essa cara, toda vermelha!
Ri para ela e me encostei no banco do carro, aproveitando o
ar condicionado. Resolvi não responder, porque ela sempre falava
aquilo, mas adorava ficar se esfregando em Dimir pelos cantos do
castelo. Ao invés disso, olhei para ela e apertei minhas mãos,
começando a ficar nervosa.
— Acha mesmo que eu posso estar grávida?
— Eu tenho certeza!
Seu sorriso animado me tranquilizou e fizemos o caminho
conversando sobre banalidades, o que foi bom, já que eu estava
realmente ficando nervosa com aquela possibilidade, mesmo
sabendo que era o que Dominick mais queria. Ter um bebê.
Chegamos a um laboratório e assim que o carro parou em
uma garagem subterrânea, uma enfermeira que deveria ter uns
cinquenta anos, veio em nossa direção. Segundo Dallah, aquele era
um dos laboratórios mais confiáveis e mais discretos, por isso,
assim que ela ligou para lá, eles prepararam tudo, para que o
exame fosse feito fora do alcance de curiosos. Entramos em um
elevador privado, que nos levou direto para uma sala particular.
O lugar era calmo, a sala era toda chique, com uma televisão
grande na parede, sofás de couros brancos, uma pequena cafeteria
no canto e uma poltrona enorme para a retirada do sangue. Me
sentei ali e a enfermeira me explicou que fariam um exame de
sangue HCG. O resultado saía em três horas e percebi que seria as
três horas mais longas de toda a minha vida.
Depois de recolher o sangue, tomamos o café que a
enfermeira nos ofereceu e Dallah decidiu que, realmente, tínhamos
que fazer o cabelo. Resolvi aceitar, pois sabia que se ficasse ali iria
desmaiar de tanta ansiedade.
Ligou para François que rapidamente fechou o salão para
nos receber. Em meia hora estávamos lá e, como sempre, rimos
muito com as fofocas que ele nos contava, enquanto fazia
hidratação em nosso cabelo e suas meninas faziam nossas unhas.
Depois fizemos limpeza de pele e Dallah sugeriu uma
massagem, porque, segundo ela, mesmo me divertindo eu estava
muito tensa. Relaxei sob as mãos de Yangi, uma japonesa
simpática, que fez uma massagem que prometia tirar todos os nós
existentes me meus músculos. Quase dormi, mas olhei para o
relógio e vi que já haviam passado das três horas.
Feliz e impaciente, interrompi a massagem antes do final,
mas ao ver a cara de decepção da japonesa, me contive e fiquei até
terminar. Quando terminou, Yangi, feliz da vida, me abraçou e foi
embora, com aquela expressão de dever cumprido. Não entendi
nada, mas François sanou minhas dúvidas quando disse que Yangi
vivia para fazer aquilo e adorava saber que a cliente estava
satisfeita.
Quando, enfim, nos liberaram, eu quase não conseguia me
conter de tanta ansiedade dentro do carro. Quando chegamos a
garagem novamente, dessa vez um segurança nos levou até a sala
onde estávamos antes e a enfermeira, sorridente, veio até a mim
com um envelope nas mãos.
Senti meu coração bater acelerado e Dallah me olhou em
expectativa, quase tão nervosa quanto eu. Mas ali, com o resultado
em mãos, senti meu coração começar a se acalmar e sorri, sabendo
que não poderia fazer aquilo sozinha.
Se fosse para saber o resultado, que fosse ao lado do
homem que eu amava e que queria tanto aquele bebê quanto eu.
— O que foi? — Dallah perguntou ao me ver guardando o
envelope na bolsa.
— Vou abrir em casa com Dominick.
— O quê? — gritou, colocando a mão no coração. — Ah,
não! Não mesmo! Kiara, eu vim aqui com você, eu passei horas com
você esperando esse envelope para você me dizer que só vai abrir
junto com o Dominick?
— Mas, Dallah, ele é...
— Isso é muito injusto! Poxa, eu vim com você, eu tenho o
direito de saber antes dele!
— Dallah, Dominick é meu marido e quer muito esse bebê...
É o nosso primeiro filho, não acha justo descobrirmos juntos se há
uma criança nossa sendo gerada ou não?
Ela bufou, cruzou os braços e bateu o pé com força no chão.
Por fim, quando descruzou os braços, veio até a mim e me abraçou.
— Está bem, está bem... Só vou aceitar isso porque você é
minha amiga e eu te amo muito. E assim que descobrir o resultado,
saia correndo me gritando pelo castelo, ok? Eu quero saber tudo um
segundo depois desse envelope ter sido aberto!
— Eu também te amo muito e muito obrigada por ter me
acompanhado nesse momento tão especial.
Ela sorriu e cruzou o braço no meu. Juntas, saímos do
laboratório e voltamos ao castelo, enquanto a paisagem saía do tom
alaranjado do fim de tarde, para o azul mais escuro do começo da
noite. Dessa vez, a viagem foi feita em silêncio e quando chegamos,
Dallah me abraçou e desejou boa sorte, antes de sumir por uma das
salas do castelo.
Thomas me informou que Dominick estava no escritório e fui
até lá com o coração na boca, feliz e nervosa ao mesmo tempo. Bati
na porta e depois de escutar um “entre” vindo lá de dentro, a abri e
entrei, vendo Dominick levantar os olhos de algum documento que
lia.
Sorriu ao me ver e se levantou, vindo em minha direção. Me
olhou de cima a baixo, como se constatasse que François não tinha
me mudado em nada e depois me abraçou, beijando meus lábios.
— Hum... Sua pele está macia — murmurou, passando as
mãos pelos meus braços. — Me lembre de mandar uma gorjeta bem
gorda para François.
Ri dele e agarrei sua cintura, sentindo seu cheiro forte de
homem.
— O que houve? — perguntou, tocando minhas costas.
— Nada... Quer dizer, eu fui fazer um exame — murmurei.
Ele me afastou de repente e franziu o cenho com uma
expressão séria. Se não o conhecesse tão bem, estaria com medo.
— Exame? Está doente? Sabia que estava passando mal!
Por que mentiu para mim, Kiara?
— Calma, não é nada disso! — falei, sorrindo e abrindo a
bolsa para pegar o envelope lacrado. — Eu fui fazer um exame sim,
mas não é porque eu acho que estou doente.
— Então foi por quê?
— Porque... eu acho que estou grávida.
Suas mãos ainda estavam em minha cintura quando vi sua
expressão séria passar para uma expressão chocada. Seus olhos
se arregalaram e sua boca se abriu duas vezes, como se fosse falar
algo, mas não tivesse palavras.
— Grávida?
— Sim. — Assenti, sorrindo.
— Mas... Já sabe? Já viu o resultado?
— Não. Trouxe para ver junto com você.
Ergui o envelope e ele o olhou sem saber o que fazer. Por
fim, quando pensei que ficaria apenas olhando, ele me puxou para o
sofá e se sentou, me colocando em seu colo. Me acomodei em suas
coxas e ele continuou me segurando pela cintura com as duas
mãos.
— Abra.
Respirei fundo e abri o envelope, sentindo sua respiração em
meu pescoço. Meu coração voltou a bater forte no peito e quando
tirei o papel de dentro do envelope, minhas mãos tremiam. Olhei
tudo, lendo um monte de coisa que não entendia, até que vi, quase
no fim da folha, indicando alguns números que a enfermeira havia
me falado que indicaria e, por fim, estava escrito “gravidez em
curso”.
— “Resultado: Positivo”. — Dominick e eu lemos em
uníssono, em meio a um sussurro.
Meus olhos se encheram de lágrimas e senti Dominick soltar
um suspiro longo que pareceu vir do fundo do peito. Suas mãos
saíram de minha cintura e se fecharam sobre a minha barriga e ali
eu percebi que era real. Eu estava grávida.
Uma parte minha e de Dominick se formava dentro de mim.
— Eu te amo tanto, querida... — Dominick murmurou em meu
ouvido, levantando a minha blusa até ter as mãos em contato direto
com a minha pele. — Um filho... Você está me dando um filho.
— Eu vou te dar um filho — murmurei, pousando minhas
mãos sobre as dele. — Vamos ter um bebê, Dominick. — Sem
conseguir me conter, me virei para ele e toquei em seu rosto. Estava
sério, mas seus olhos brilhavam de um jeito que nunca tinha visto
antes. Suas mãos continuavam firmes em minha barriga. — Você
está feliz?
— Você é a única pessoa que é capaz de me fazer tão feliz
assim, Kiara — murmurou, beijando meu pescoço e subindo para
minha orelha. — Obrigado por isso. Uma parte nossa está bem aqui
— sussurrou, afagando minha barriga. — Estamos unidos para
sempre, querida. Eu te amo muito.
— Eu te amo mais. Te amo do fundo do meu coração.
Algumas lágrimas molharam meu rosto, lágrimas de
felicidade que se misturaram ao beijo amoroso que Dominick
começou a me dar. Gemi entre seus lábios e logo estava deitada no
sofá, debaixo do corpo do homem que eu amava, sendo amada e
venerada por ele.
Sendo a mulher mais feliz do mundo que carregava o fruto de
um amor verdadeiro.
Capítulo 29

“Não brinque com o meu amor


Seu coração é tão frio
Se aproveitou da minha inocência”
(Don’t, Ed Sheeran)

Kiara

Três meses depois...

“O amor não se define; sente-se”


— Sêneca.
Nunca se esqueça do quanto eu te amo, anjo.
Seu Rei Dom.

Sorri ao ler o que meu Rei Dom tinha deixado para mim
naquela manhã. Os dias, as semanas e os meses se passavam,
mas ele continuava um romântico incurável e eu amava. Feliz, me
levantei da cama, ouvindo o barulho do chuveiro ligado. Eram nove
horas da manhã, o sábado havia chegado e estava um lindo dia
para o final daquele verão.
Ansiosa, abri devagarinho a porta do banheiro e vi a silhueta
do corpo de Dominick pelo vidro embaçado do boxe. Queria
aproveitar aquele dia com ele, já que raramente parava em casa nos
dias de semana. Várias reuniões estavam tomando conta do tempo
do meu atarefado rei e eu, a rainha grávida, não podia acompanhá-
los nas viagens que ele fazia as vezes.
Tirei a camisola que vestia e, antes de entrar no chuveiro, me
admirei no espelho, vendo como minha barriga estava crescida. Era
incrível como havia disparado. No começo eu achava que tinha
pouca barriga, era praticamente um ovo aos quatro meses, mas
agora, no quinto mês, estava grande. Realmente grande, agora sim
eu parecia uma grávida de verdade. Sorri para a imagem que
aparecia para mim. Me achava uma grávida bonita e, até agora, não
tinha inchado como Dallah e Andy disseram que poderia acontecer.
Acariciei meu ventre e, disposta a não perder mais tempo,
abri a porta do boxe e entrei. Dominick estava de costas para mim,
enxaguava o cabelo, mas parou assim que me viu. Estava sério
como sempre, mas não me importei e o agarrei pela cintura,
abraçando-o com força.
— Bom dia, Rei Dom!
Senti suas mãos acariciarem minhas costas e um beijo foi
estalado em minha testa.
— Bom dia, anjo — murmurou entre meus cabelos. — O que
houve? Acordou cedo para um dia de sábado.
— É porque eu quero aproveitar o dia com você. Chegou de
viagem ontem e nem pude matar as saudades. Por favor, não
chegue mais de madrugada!
Ele sorriu e esfregou o nariz no meu. Adorava seu carinho, a
forma como me tocava e me olhava.
— Sim, Vossa Majestade. Pode deixar, não chegarei mais tão
tarde assim.
Sem falar mais nada, me puxou consigo para debaixo da
ducha. A água morna me atingiu em cheio, mas eu adorei,
principalmente porque estava ali com o meu marido depois de ficar
quase uma semana longe dele.
— Ei, não está esquecendo de nada?
Dominick franziu o cenho e me olhou.
— De quê?
— De falar com esse serzinho fofo que o senhor colocou
dentro da minha barriga! — falei, divertida, saindo debaixo da ducha
e apontando para minha barriga com orgulho. — Veja, não cresceu
mais desde a última vez que nos vimos?
Ele olhou para o meu rosto e depois desceu o olhar até a
minha barriga. Era um pouco estranho. No começo, pensei que
Dominick seria daquele tipo de pai que não se desgrudaria da
barriga até porque foi ele que tanto me pediu um filho. Mas não foi
isso que aconteceu. Às vezes, o sentia distante demais, como se
não se lembrasse de que existia um bebê dele se formando dentro
de mim.
Nas primeiras semanas, fiquei desesperada. Mas,
conversando em particular com minha ginecologista, ela disse que
isso não era incomum, que as vezes os pais de primeira viagem não
sabiam como lidar com o bebê e nem com a mãe. E disse que eu
teria que estimulá-lo, fazendo-o participar de tudo sobre o bebê,
chamá-lo para acariciar minha barriga, contar os avanços que meu
corpo sofria a cada dia.
Concordei e realmente quis fazer isso, mas com suas
viagens, ficava um tanto difícil. Quase toda semana ele tinha que ir
para algum lugar e quando voltava, por mais que eu quisesse contar
o que vinha acontecendo ou chamá-lo para ver as coisinhas que
havia comprado para o bebê, não dava tempo. Tudo era muito
corrido.
E como eu não tinha muita barriga, ele dava a desculpa de
que só iria tocar quando desse para sentir o bebê, ou quando minha
barriga estivesse redondinha. No começo, eu ri do que havia falado,
achando que era brincadeira, mas com o passar das semanas, eu vi
que não era. Ele havia falado sério.
Mas agora, com minha barriga grande, ele não tinha para
onde fugir. Exatamente por isso que peguei suas duas mãos e as
pressionei contra minha barriga de grávida. Dominick não se moveu,
estava sério demais, mas relevei e falei mesmo assim:
— Fale com o bebê. Ele já nos escuta, sabia? — murmurei,
escorregando sua mão por minha barriga. — Diga um bom-dia para
sua cria, Rei Dom! — brinquei ao vê-lo ainda muito sério.
— Como sabe que escuta?
— Eu li nos livros que comprei.
— E você acredita? — falou, rindo sarcástico no final. — Por
acaso, os autores desses livros se lembram de quando estavam na
barriga ou conseguiram interagir com um feto de vinte e duas
semanas para saber se eles realmente escutam?
Olhei para ele chocada, sem entender aquela reação tão fria
e indiferente. Mas ali eu enxerguei a verdade que estava sendo
esfregada na minha cara havia meses e eu me recusava a enxergar.
Dominick continuava a ser o mesmo comigo. Era carinhoso,
amoroso, romântico, fazia amor comigo do mesmo jeito que antes,
me tratava bem. Mas com nosso filho ele não era assim. Era frio,
distante, dava desculpas para não falar sobre ele e sempre mudava
de assunto quando eu queria conversar sobre aquela criança que se
formava dentro de mim e que eu já amava tanto.
Magoada e com raiva, tirei as mãos dele da minha barriga e
lhe dei as costas, entrando debaixo da ducha. Não sei como
encarou minha reação, se não entendeu ou fingiu que não
entendeu, mas mesmo assim veio até mim e colocou a mão na
minha cintura, beijando meu ombro e subindo até minha orelha.
— Senti saudades de você, querida...
Estressada, tirei suas mãos de mim e me virei para ele,
observando quando franziu o cenho.
— Dominick, no momento, eu sou essa criança que está
dentro de mim. Nós somos a mesma pessoa. E se você não sentiu
saudades dela, não quer saber como ela está e acha que ela não o
escuta, eu também não vou te escutar. Se pode ignorar o seu filho,
a criança que você tanto queria, pode me ignorar também!
— Jura que vai brigar comigo por causa disso, Kiara?
— Se esse “isso” for o meu filho, pode ter certeza de que sim
— falei, tirando o sabão do meu corpo e saindo do boxe.
Para não perder tempo, enrolei uma toalha no cabelo,
coloquei o meu roupão e saí do banheiro. Fui em direção ao closet e
me tranquei lá, olhando-me no espelho, sem entender o que estava
acontecendo. Senti as lágrimas começarem a se formar e respirei
fundo, tentando contê-las, mas sem obter sucesso. Estava sensível
demais, qualquer coisa me fazia chorar e agora não seria diferente.
Toquei em minha barriga e acariciei, sussurrando:
— Não ligue para o idiota do seu pai. Ele não sabe o que está
perdendo ao ignorar você, meu amorzinho.
Continuei me olhando no espelho, ainda tentando entender
como uma pessoa poderia ignorar uma criança, mesmo ela ainda
estando na barriga. Uma criança que era seu filho, sangue do seu
sangue. Mas, por fim, limpei minhas lágrimas e respirei fundo. Tinha
certeza de que agora Dominick teria um daqueles seus rompantes
de realidade e enxergaria o quanto estava sendo idiota.
Tirei o roupão e a toalha do meu cabelo e me vesti com um
dos meus novos vestidos de grávida. Era lindo, rosa, rodado e
marcava direitinho minha barriga. Em breve não me serviria mais,
por isso, resolvi estreia-lo. Talvez, quando Dominick viesse me pedir
desculpas, poderíamos sair para fazer compras para o bebê e eu já
estaria arrumada, apenas esperando.
Um pouco mais animada, abri minha gaveta com os sapatos
e estava prestes a pegar minha sandália quando vi as sapatilhas
que Robin havia me dado. As peguei e sorri um tanto melancólica.
Só havia usado algumas vezes antes da gravidez e estava com
saudades de me aventurar no balé, mas sabia que não podia. Não
colocaria minha gravidez em risco apenas porque queria me lembrar
de alguns passos de balé.
As acariciei e, de repente, senti minha mente rodar e me
lembrei. Me lembrei exatamente do dia em que mostrei minhas
sapatilhas novas para minha mãe. A cena veio tão nítida na minha
mente que eu pude me lembrar detalhe por detalhe de exatamente
tudo o que falávamos.

— Mamãe! Veja, elas não são lindas?


Sentada em sua cadeira de rodas, minha mãe me olhou. Tive
receio de que não me reconhecesse, mas sorriu para mim e me
chamou movimentando os dedos. Fui até ela e me abaixei, apenas
para sentir seu carinho terno em meu rosto.
— São lindas, minha querida — falou, agora passando as
mãos em meus cabelos. — Sabia que minha filha também dança
balé? Ela é uma linda bailarina e tenho certeza de que vai rodar o
mundo com sua dança, mesmo ainda tendo apenas dez aninhos.
Você a conhece? Conhece Kiara, minha filhinha?
Senti vontade de chorar. A amnésia estava acabando com
minha mãe, a mulher guerreira que sempre batalhou para cuidar de
mim desde que meu pai morreu, quando eu tinha cinco anos.
Acariciei suas mãos e as beijei, olhando para ela com carinho.
— Sim, eu sou sua filha, mamãe. E prometo que vou passar
no concurso, entrarei para Bolshoi, iremos para a Rússia e lá você
terá o melhor tratamento do mundo. Vamos parar de passar por
tantas necessidades, mamãe. Eu prometo.
Ela sorriu e virou a cabeça de lado, me olhando com
determinação. Por fim, balançou a cabeça e suspirou:
— Quem é você? É uma moça muito bonita, mas não gosto
de pessoas estranhas na minha casa.
Já havia se esquecido de tudo o que havíamos conversado.
Sem conseguir conter minha tristeza, descansei meu rosto em seu
joelho e chorei, sentindo uma dor atroz me espezinhar. Não queria
que mãe sofresse mais, não queria!
— Ah, querida, não chore... — Escutei Lorenzo dizer atrás de
mim.
Me levantei e vi que minha mãe cochilava com a cabeça
encostada na cadeira. Aproveitando aquele momento que não
prestava atenção em mim, fui em direção ao meu amor e o abracei
com força, me sentindo segura em seus braços, apesar de tudo.
— Me dói tanto vê-la assim e saber que não posso fazer
nada, Lorenzo.
— Eu sei, meu amor, eu sei... Me dói muito também, você
sabe o quanto amo a sua mãe, desde quando eu era um moleque
recém-chegado da França.
Sorri em meio as lágrimas, lembrando-me de quando Lorenzo
chegou com sua mãe na Inglaterra, indo morar ali na Vila. Veio da
França com sua mãe porque seu pai havia perdido todo o dinheiro
que tinham em jogos e bebidas. Rapidamente viramos amigos e sua
mãe também virou amiga da minha mãe. Elas faziam doces juntas
para vender de porta em porta, mas, quando éramos adolescentes,
as duas foram atropeladas por um ônibus que invadiu a calçada.
Minha mãe ficou paraplégica e Annemarie, mãe de Lorenzo,
morreu na hora. Lembro-me como se fosse hoje de toda aquela dor
que sentimos. E, daquele dia em diante, as coisas caíram nas
minhas costas. Comecei a dar aulas de balé em duas escolas e
sustentava a casa como podíamos, ainda tendo que arcar com os
remédios de minha mãe, que com o passar do tempo, começou a se
esquecer das coisas.
Primeiro eu pensei que havia sido uma sequela do acidente.
Mas não foi. Segundo os médicos, minha mãe estava sofrendo de
amnésia e não tinha cura, ela perderia a memória gradativamente,
talvez não perdesse completamente, mas iria perdê-la aos poucos.
Com a notícia, senti que meu mundo poderia desabar a
qualquer momento, mas Lorenzo, o meu melhor amigo e o homem
que eu amava, ficou ao meu lado e mesmo com a dor enorme que
estava sentindo por conta da perda de sua mãe, não me deixou em
nenhum momento. Trabalhava como vendedor em uma loja de
eletrodomésticos e, como não conseguia arcar com um aluguel
sozinho, veio morar comigo.
E, juntos, nos sustentávamos como podia. Os vizinhos nos
ajudaram no começo, mas ninguém ali na vila tinha dinheiro para
ficar sempre nos ajudando, mas sempre estavam ao nosso lado
para cuidar de minha mãe quando iríamos trabalhar, já que ela não
podia ficar sozinha.
Mas agora, alguns anos depois da tragédia, eu finalmente via
uma luz no fim do túnel! O Bolshoi, a melhor academia de balé do
mundo, havia aberto uma seleção e eu tinha me inscrito. Se eu
passasse, iria para a Rússia e assim que me estabelecesse lá,
levaria minha mãe e Lorenzo. Finalmente Deus havia ouvido as
minhas preces e me atendido! Iria tirar minha família daquela
situação horrível.
— Eu prometo a você que vou conseguir, amor — murmurei,
olhando nos olhos azuis de Lorenzo. — Eu prometo que passarei
para o Bolshoi e vou levar você e mamãe para a Rússia. Lá, vamos
ser felizes, meu amor, teremos uma condição melhor, vamos sair
desse sufoco. Eu juro a você.
— Eu confio em você, minha linda. Mas quero que saiba que,
se por acaso você não conseguir, vamos dar um jeito, certo? Eu já
me inscrevi para a faculdade, vou garantir a bolsa e vou estudar
com tudo de mim para te dar uma vida boa e dar uma vida boa para
a sua mãe.
— Você vai conseguir sim, mas estudará na Rússia! — falei,
sorrindo.
— Nem russo eu sei falar, linda.
— Mas vai aprender! Eu só sei falar inglês e o francês que
você tão gentilmente me ensinou, mas vou aprender a falar russo na
velocidade da luz, se assim for preciso.
— Eu também vou, querida. Por você, eu aprendo a falar até
mandarim.
Iria rir de sua brincadeira, mas ele me beijou antes, me
impedindo. Só consegui pensar que eu tinha sorte de ter um
namorado tão bom quanto o meu francês de olhos azuis.

— Kiara! Kiara, abra a porra da porta e pare de ser infantil!


Eu também preciso me vestir!
Tirei os olhos da sapatilha e me virei para a porta do closet
que estava sendo esmurrada por Dominick. Não consegui pensar
em nada, nem mesmo previ o que estava fazendo quando abri a
porta em um safanão e empurrei Dominick com todas as minhas
forças, olhando para sua cara de assustado.
— Por quê? Por que mentiu para mim? — gritei, sentindo
minhas mãos tremerem.
— O quê? — perguntou com os olhos arregalados. — Kiara,
sobre o que está falando?
— Por que não me disse que minha mãe sofria de amnésia?
Por que não me contou que eu tinha um namorado chamado
Lorenzo? Por que mentiu falando que eu sempre morei em
Orleandy, quando, na verdade, eu morava na Inglaterra?
— Kiara, como que...
— Espera! — falei, erguendo a mão, sentido minha cabeça
doer quando juntei todos os pontos. — Eu estava prestes a fazer um
teste para o Bolshoi... Se eu passasse, iria para Rússia... E você,
você, Dominick, esteve na Rússia alguns dias antes de voltar para
Orleandy comigo... — Minhas pernas tremiam e, subitamente sem
forças, me sentei na cama, passando a mão pela cabeça. —
Dominick, por favor... me diga a verdade.
— Como sabe que estive na Rússia?
— Robin me contou! — falei, tremendo. — É verdade... Claro
que é verdade! Você esteve mesmo na Rússia!
Ele veio até a mim e, desesperado, se ajoelhou aos meus
pés. Passou a mão pelo meu rosto molhado de suor. Minhas mãos
tremiam tanto que não consegui fazer nada para afastá-lo.
— Kiara, não sei quem te contou isso, mas quero deixar claro
que é tudo mentira...
— Ninguém me contou, Dominick. Eu me lembrei!
— Lembrou? — murmurou, desviando os olhos de mim. —
Como assim, lembrou?
— Me lembrei nesse exato momento! Minha mãe estava em
uma cadeira de rodas, não andava por conta de um acidente que
aconteceu em 2010, quando eu tinha quinze anos — falei, me
lembrando de datas que me deixavam com ainda mais dor de
cabeça. — Ela sofria de amnésia, não se lembrava mais de mim...
Eu estava em casa com ela e Lorenzo, meu namorado, e falava
sobre o concurso para entrar no Bolshoi. Se eu passasse, iria para a
Rússia.
De repente, Dominick se levantou e foi para dentro do closet.
Ouvi as gavetas sendo batidas com violência, portas e, minutos
depois, ele saiu totalmente vestido, passando a mão pelos cabelos,
sem ter ao menos o trabalho de penteá-los. Foi em direção à porta,
mas antes de sair olhou para mim:
— Não saia daqui!
— O quê? — perguntei, me levantando, sem ligar se estava
nervosa ou não. — Dominick, você não vai sair agora, nós temos
que conversar...
— Eu disse para você não sair daqui, porra! — gritou,
apontando o dedo na minha cara antes de sair do quarto e bater a
porta com força.
Por um segundo, fiquei sem ação. Se alguma pessoa tinha o
direito de gritar e apontar o dedo na cara era eu, não ele! Com isso
em mente, saí do quarto e fui em direção ao elevador. Parecia que
os segundos se arrastavam, mas assim que o elevador chegou,
esmurrei o botão do térreo. Quando cheguei a sala do pai de
Dominick, vi a porta do seu escritório ser batida com força e o
barulho da chave sendo girada me deixou ainda mais em alerta.
Sem me importar de ser pega em flagrante, parei atrás da
porta e encostei meu ouvido na madeira, ouvindo Dominick gritar
coisas que eu não conseguia entender, por fim, ouvi a voz de Dimir
dominar o escritório:
— Calma, Dominick! Assim não conseguimos entender nada
do que está falando!
— Verdade, sua gritaria está me assustando e eu quero
entender o que aconteceu — Dallah disse, me fazendo ficar ainda
mais em alerta.
Se Dallah estava ali, ela também sabia de tudo. Senti meu
peito ficar ainda mais apertado pela angústia.
— Kiara se lembrou de tudo!
— Como assim, “tudo”?
— Oh meu Deus! De tudo?
— Praticamente! — Dominick falou, enraivecido. Sua voz
saía rouca e ouvi um soco sendo dado na mesa. — Se lembrou que
morava na Inglaterra, que namorava um francês filho da puta! Se
lembrou da maldita da mãe dela, se lembrou que faria um concurso
para entrar para o Bolshoi e que se entrasse, iria para a Rússia!
— Meu Deus do céu!
— E não levou dois minutos para se lembrar do que o filho da
puta do Robin contou, de que eu tinha ido para Rússia dias antes de
aparecer com ela. — Fez uma pausa e acho que meu coração
parou de bater junto com o silêncio. — Ela vai se lembrar de tudo...
Vai se lembrar exatamente de tudo e vai me deixar!
— Calma, Dominick, ela não vai te deixar. Não esqueça que
ela está esperando um bebê...
— Ah sim e eu espero que essa criança a segure perto de
mim, porque eu não estou aturando a porra dessa gestação à toa!
Minha boca se abriu e levei minhas duas mãos a minha
barriga, sentindo meu coração se partir ao meio. Não consegui
conter as lágrimas que começaram a descer sem controle, uma dor
tão grande me sufocou, que respirar estava sendo difícil. Ele não
amava nosso bebê, só quis um filho para me prender a ele. Aquele
homem mentiroso, que dizia me amar, esteve mentindo para mim
durante todo esse tempo.
Não havia me conhecido em festa alguma, não tinha
convivido comigo em nenhuma cidade no interior de Orleandy. Havia
me separado da minha mãe doente, do meu namorado, mas por
quê? Como?
Como havia me feito perder a memória? Como havia formado
um plano tão brilhante?
Meu coração, indignado e massacrado, me mandava correr
dali. Não queria ouvir mais nada, não queria me destruir mais, mas
minha mente me obrigava a ficar, me obrigava a procurar entender
como ele havia feito aquilo comigo.
— Não fale assim, Dominick, é apenas uma criança. Não tem
culpa de nada.
— Não vai ter culpa se for capaz de manter Kiara ao meu
lado mesmo depois de ela descobrir toda a verdade, senão vai ser
apenas mais uma tentativa falha de manter a mulher que eu amo
perto de mim! Sem contar que essa criança já está me afastando de
Kiara, está fazendo-a ficar longe de mim! — Deu mais um soco na
mesa e daquela vez eu torcia com todas as minhas forças para que
ele quebrasse todos os dedos por falar daquele jeito do meu filho. —
Eu preciso de uma solução! Vamos ligar para Paolo, ele precisa
aplicar aquela coisa nela, ela precisa esquecer!
— Está maluco? Ela está grávida! Não pode passar por esse
procedimento, a não ser que você queira perder o seu filho.
— Eu estou pouco me fodendo para filho, Dimir! Eu quero
apenas Kiara, só ela!
— Mas vai acabar ficando sem nenhum dos dois por conta da
sua burrice! — Dallah disse, parecendo estar indignada. — Eu disse
que tráfico de mulheres só iria ferrar com vocês dois. Mas não me
escutaram! Agora que eu me apeguei a Kiara, que a amo como
minha irmã, ela vai se lembrar de tudo e nunca vai perdoar a gente!
— Tráfico de mulheres... — murmurei sem conseguir
acreditar.
Meu Deus... Meu Deus... O que estava acontecendo?
— Tia Kiara, por que você está escutando a conversa atrás
da porta? — Arthur perguntou, me fazendo pular de susto.
— Querido! Por favor, quase me mata do coração! — falei,
me abaixando um pouco para falar com ele. Apesar de toda a
decepção que estava sentindo, de toda a dor, eu precisava saber
sobre exatamente tudo o que havia acontecido comigo. — Arthur,
você pode fazer um favor para mim?
— Sim... Tia Kiara, por que está chorando?
— Não estou chorando, amor, foi apenas uma poeira que
caiu nos meus olhos. Pode me ajudar?
— Posso!
— Eu preciso muito do notebook da sua mãe... Você pode
pegá-lo para mim e levá-lo a biblioteca? Vou te esperar lá, tudo
bem?
— Tá bom, tia, já volto!
Ele saiu correndo em direção as escadas e eu fui direto para
a biblioteca, atravessando as salas em tempo recorde. Meu coração
batia forte, sentia vontade de chorar, mas apenas esperei, vendo
Arthur entrar na biblioteca minutos depois.
— Pronto, tia Kiara.
— Obrigada, meu amor. Agora eu preciso de outro favor —
falei, pegando o computador. — Quero que fique de olho no
escritório do tio Nick e assim que todo mundo sair de lá, você corre
aqui para me avisar, tudo bem?
— Tudo bem.
— Mas não pode contar para ninguém, ouviu?
— Não vou contar, vou ser tipo o espião secreto que vi no
desenho! — falou sorrindo e saiu correndo.
Sorri de leve ao ver sua inocência de criança e percebi que,
até uma hora atrás, eu também era inocente. Não só inocente, como
burra e cega. Uma verdadeira idiota, mas agora não seria mais.
Abri o computador e coloquei no Google. Não sabia
exatamente por onde deveria começar, mas sabendo que teria que
ser rápida, escrevi “tráfico de mulheres” na caixa de procura. Em
segundos, apareceu um monte de links e cliquei no primeiro, onde
dizia que o tráfico de mulheres se dava mais no âmbito sexual, onde
eram vendidas em leilões como escravas sexuais.
Era uma das formas ilegais mais lucrativas, estimava-se que
o tráfico humano movimentava mais de 32 bilhões de dólares por
ano. Era um crime na maioria dos países, mas isso não impedia em
nada a sua prática, onde máfias conseguiam camuflar o tráfico.
Senti meu peito oscilar com aquela possibilidade tão absurda.
Leilão de mulheres. Meu Deus, aquilo realmente existia! E eu não
conseguia pensar em outra coisa, a não ser que eu tinha sido
vendida assim como várias daquelas mulheres. Sequestradas,
violadas, leiloadas como se fossem objetos.
Minha angústia cresceu e não consegui ler mais nada sobre
aquilo. Larguei o computador e abracei minha barriga, me
perguntando como alguém poderia vender outra pessoa. Como
conseguiam ser tão frios, tão desumanos? Mas, acima de qualquer
coisa, me perguntava se Dominick havia tido a coragem de
participar de algo tão sujo, tão cruel como aquilo.
Não podia acreditar... Não queria acreditar!
— Tia Kiara! — Arthur falou baixinho, abrindo a porta de
repente. — Todo mundo saiu do escritório! Tio Nick subiu as
escadas e minha mãe foi para a cozinha com meu pai.
Assenti, me levantando e indo até ele. Dei um beijo em sua
testa e acariciei seu rosto.
— Obrigada, meu lindo. Agora vai brincar, viu? E não diga a
ninguém que eu estou no escritório do tio Nick.
— Não vou falar — disse e saiu correndo, depois de me dar
um beijo no rosto.
Sabia que não podia esperar por muito tempo, pois logo
Dominick descobriria que eu não estava no quarto, por isso saí da
biblioteca e atravessei as salas com cuidado, olhando em volta para
ver se ninguém estava por perto. Quando finalmente entrei no
escritório, senti minhas pernas tremerem de nervoso e temi pelo
meu bebê. Não era bom passar por tudo aquilo, mas acariciei minha
barriga rapidamente e segui em frente, fechando a porta atrás de
mim.
Olhei ao redor. Já estava ali dentro, mas ao menos sabia o
que eu realmente queria achar. Se Dominick havia me comprado,
com certeza haviam documentos, mas onde ele deixaria esse tipo
de papelada? Em um banco? Em casa? Onde?
Fui pela lógica de que, se deixasse em casa, não deixaria em
uma das gavetas que não tinham trancas ou armários. Deixaria em
um cofre. E eu sabia exatamente onde ficava o cofre naquela sala,
atrás do único quadro da sua mãe que ficava pendurado ali, na
parede detrás da sua mesa. Sem pensar duas vezes, fui até lá e tirei
o quadro. Não sabia a combinação, mas segui minha intuição e
coloquei sua data de nascimento.
Óbvio demais, claro que não seria essa, então optei pela data
de nascimento de sua mãe, que ele havia me falado e eu havia
gravado, mas também não era. Pensei na minha data de
nascimento, 03/01, mas também não era. Já estava sem opções
quando pensei que poderia ser a data em que cheguei ao palácio.
Poderia ser loucura, mas era minha última opção e resolvi arriscar.
Girei cada número com o coração acelerado e quando a luz
verde piscou e o barulho da trava se abrindo inundou meus ouvidos,
senti meu corpo ser coberto pelo alívio, apenas para se afundar no
abismo da aflição novamente.
Com as mãos trêmulas, peguei todos os papéis que haviam
ali. Descartei documentos de seguro e ações e vi um em outra
língua. Não consegui identificar de imediato, mas percebi que
estava em russo. Sem conseguir me segurar mais, me sentei e vi
que naquele mesmo documento, tinha um atrás em inglês. Percebi
que se tratava da mesma coisa, só que eram cópias nas duas
línguas.
Li cada linha, cada frase, sem entender muita coisa daquela
linguagem de advogado, mas consegui entender que era um
contrato exclusivo e confidencial, datado em abril de 2015, na
Rússia, onde era realizada a compra de Kiara Rose Neumann a
Dominick Andrigheto Domaschesky pelo valor de duzentos e
cinquenta milhões de dólares.
Minha garganta se fechou e meu peito pareceu explodir em
uma dor atroz que não consegui conter. Enquanto desconfiava,
ainda tinha a esperança de que poderia ser mentira, talvez uma
brincadeira de mau gosto ou um pesadelo terrível. Queria abrir os
olhos e ver que tudo não passou de ilusão, que eu estava casada
com o homem que me amava, com o homem apaixonado que me
pediu um filho, me fazia tão feliz, mas percebi que, na verdade,
aquela parte da minha vida era uma ilusão.
Estava vivendo uma história que não existia. Eu não era a
Kiara Neumann, órfã de pai e mãe, que morava em Piechvi. Eu era
a Kiara Neumann, inglesa, que tinha uma mãe doente e um
namorado amoroso, mas fora tirada do seu próprio lar e vendida a
um homem que não tinha um coração. Um homem que anulou a
verdadeira Kiara para construir uma nova, do jeito que ele queria,
para enganar o quanto quisesse.
O homem que eu amava era um monstro.
Só percebi que estava chorando quando as lágrimas
começaram a molhar aqueles documentos sujos em cima da mesa.
A dor era tão grande que me sufocava, tinha vontade de vomitar de
tanto nojo daquela história, tinha vontade de esquecer tudo de novo,
apenas para não passar por isso que estava vivenciando agora.
Minha cabeça pesava e, sem aguentar mais, a segurei com
as mãos. Pude ouvir passos, alguém gritava, mas queria apenas me
desconectar do mundo, queria esquecer de tudo e que todo mundo
me esquecesse também, mas vi que não seria possível. Os passos
se aproximaram cada vez mais e levantei mais minha cabeça, meus
olhos estavam embaçados pelas lágrimas, mas mesmo assim eu
queria ver a entrada monumental do homem que eu achava que me
amava.
E eu vi.
Vi o exato momento em que Dominick entrou com a
respiração acelerada, descabelado. Abriu a boca como se fosse
gritar alguma coisa, aquela cara de mal, pronto para atacar quem
quer que fosse, mas pareceu se tornar um menino perdido quando
viu minhas lágrimas.
— Kiara...
Minha mente rodou, um soluço escapou por meus lábios.
Senti vontade de ir até ele, de bater nele, até que aquela dor saísse
de mim, mas não consegui.
A pressão em meu peito aumentou, senti meu ventre oscilar
e, por fim, veio a escuridão. E eu me entreguei a ela, torcendo para
que me tirasse daquele lugar e me levasse para bem longe de toda
aquela dor.
Capítulo 30

“Tudo de mim
Porque não leva tudo de mim?
Você não vê?
Que eu não sou bom sem você

Pegue os meus lábios


Eu quero perdê-los
Pegue os meus braços
Eu nunca vou usá-los

O seu adeus me deixou com lágrimas nos olhos


Como eu posso continuar, querida, sem você?
Você levou a parte que uma vez foi meu coração
Então, por que não leva tudo de mim?”
(All of me, Michael Bublé)

Dominick

Meu mundo inteiro se desfez no momento em que vi a


cabeça de Kiara escorregar por entre as mãos e cair apagada em
cima da mesa. Todo o ódio, o rancor e a raiva que sentia do mundo
se transformaram em um medo que me fez ofegar, que me paralisou
e me impediu de pensar ou agir.
Quis correr até ela, pegá-la em meus braços e salvá-la, mas
meu corpo não obedecia às ordens do meu cérebro, tudo estava em
suspenso.
Minha vida estava arruinada. Eu iria perdê-la e a certeza
daquilo me fez ofegar.
— Precisamos levá-la para o hospital! — Dallah gritou, me
fazendo acordar. Já estava ao lado de Kiara, tocando em seu rosto
e eu não conseguia sair do lugar. — Venham pegá-la, pelo amor de
Deus! Kiara está gelada, pálida, precisa ir a um hospital!
Vi Dimir passar por mim e erguer Kiara em seus braços. Meu
coração batia forte e Dallah entrou em meu campo de visão,
chamando a minha atenção:
— Você deixou bem claro que não liga para a criança que
Kiara está carregando no ventre. Infelizmente, Dominick, eu não
tenho o poder de mudar sua forma de pensar ou de sentir, mas
posso falar algo que vai abrir os seus olhos — falou com uma
seriedade que eu nunca tinha visto. — Não importa o que você
acha, o que você pensa ou o que você sente. Você engravidou Kiara
sem pensar nas consequências. Você não gosta do filho que você
tanto quis ter, mas Kiara não. Kiara é totalmente apaixonada por
essa criança, Kiara é mãe com todo o significado da palavra. E se
você a ama de verdade, como tanto gosta de falar, vai mudar essa
expressão de idiota, vai pegá-la dos braços de Dimir e levá-la a um
hospital. E rezará com todo o afinco para que Kiara não tenha
perdido essa criança, porque, se ela tiver perdido... ela nunca vai te
perdoar.
Foi como levar um choque de realidade. O que eu estava
pensando? O que estava fazendo? Que porra estava acontecendo
comigo? Eram perguntas demais e sabia que não teria resposta, na
verdade, não quis encontrar respostas. Minha mulher estava grávida
e desmaiada por minha culpa e eu precisava salvá-la.
Não respondi. Fui em direção a Dimir e ele passou Kiara para
os meus braços sem hesitar, passando a minha frente e gritando
pelos seguranças e motoristas. Dallah saiu falando algo sobre pegar
documentos e eu olhei para Kiara em meus braços, pálida, os olhos
inchados como se tivesse chorado muito. Meu peito doeu e, sem
conseguir me segurar, desci meus olhos de seu rosto para sua
barriga.
Sempre soube que eu não era como outras pessoas. Sempre
fui um homem frio, calculista, que queria tudo ao seu modo. Mas
nunca fui um monstro, nunca desejei o mal de alguém. E agora
sentia dentro de mim o peso dos meus próprios atos, das minhas
próprias palavras.
Em meio ao nervosismo de perdê-la, achei que um filho
poderia mantê-la ao meu lado. Estava cego, desesperado, sem
saída e fiz Kiara acreditar que realmente queria um filho. Mas
como? Como poderia querer uma criança quando não conseguia
lidar comigo mesmo? Quando não conseguia administrar meus
pensamentos, minhas emoções, minhas próprias escolhas?
Por que eu havia sido tão idiota? Não era para ir por aquele
caminho, mas mesmo assim fui. Kiara acreditou em mim,
engravidou. Quando soube que estava grávida, o alívio tomou conta
do meu coração, mas não conseguia sentir aquela emoção genuína
que Dimir sentiu por Arthur. Na verdade, eu não conseguia sentir
nada por aquela criança. Por isso fiquei afastado, não queria saber,
queria me manter longe, talvez fosse melhor. Do jeito que eu era,
seguiria o exemplo do meu pai e seria um merda. Criança alguma
merecia isso.
Mas nunca, nunca fui o monstro que tomou conta de mim
nessa tarde. Um cara sem escrúpulos, sem coração. Nunca havia
passado pela minha cabeça falar mal do meu próprio bebê. Eu não
era aquele homem, falei tudo aquilo da boca para fora. Não amava
aquela criança, mas não a odiava, não desejava seu mal.
E, acima de tudo, não desejava o mal da minha própria
mulher, daquela que eu amava acima de qualquer coisa.
— Dominick? Por que ainda está aqui? Vamos para o carro,
anda! — Dallah disse com a bolsa no ombro.
Assenti e a segui a passos largos para fora de casa. Vi que
Arthur chorava em um canto no colo de Anna, que olhava para nós
com cara de assustada. Não parei, mas vi Dallah ir até ele e falar
algo em seu ouvido, depois ela saiu do meu campo de visão quando
saí do palácio e fui em direção ao carro que estava estacionado em
frente as escadas.
Entrei com cuidado com Kiara em meu colo e Dimir tomou a
direção. Segundos depois, Dallah ocupou o banco do carona e logo
estávamos passando pelos portões do castelo. Havia um carro com
seguranças na nossa frente e outro atrás e eu sabia que em breve
aquilo chamaria a atenção da imprensa e tudo se transformaria em
um inferno, principalmente porque sabiam que Kiara estava grávida.
Mas nem aquilo conseguiu me irritar, não quando eu estava
tão preocupado com a mulher da minha vida. Por que ela tinha tido
aquele desmaio? O que diabos estava acontecendo?
— Eu sinto muito... — sussurrei em seu ouvido, passando
minha mão pelo seu rosto. — Eu sinto muito, meu amor, sinto muito
por tudo o que fiz, por ter sido um idiota, por ter falado tanta coisa
que eu tenho certeza de que você ouviu, por você ter descoberto
todas as coisas que fiz para tê-la ao meu lado.
Ela continuava lá, parada, com os olhos fechados, respiração
lenta. Não se movia e eu daria minha vida apenas para ver a cor
dos seus olhos de novo, ouvir a sua voz, nem que fosse para me
xingar.
Desci minha mão do seu rosto e olhei para sua barriga agora
redondinha, denunciando claramente sua gravidez. Um bebê crescia
ali dentro, um bebê que era meu e dela. Nervoso e meio sem saber
o que fazer, pousei minha mão em sua barriga e senti uma
ondulação muito leve na palma da minha mão. Meu coração bateu
mais forte e franzi o cenho, deixando minha mão aberta ali.
— Se alguma coisa acontecer a você, eu nunca vou me
perdoar... — murmurei baixinho, olhando para sua barriga. — Se
realmente me escuta, fique quietinho e se comporte, por favor. Você
precisa ficar calminho junto com a sua mãe, entendeu?
Uma nova ondulação surgiu, seguida de mais uma e por fim,
parou. Só então eu percebi que estava segurando a respiração,
tenso e, ao mesmo tempo, maravilhado com aquela sensação tão
estranha e prazerosa. Era normal que mexesse assim? Como Kiara
deveria se sentir com aquilo?
Maravilhada, feliz, e eu perdi aquilo, perdi a primeira vez que
o bebê havia mexido, perdi o avanço da sua barriga, perdi tudo e
não conseguia entender o porquê de agora estar me importando, já
que há apenas meia hora eu estava louco, cheio de raiva,
descontando em palavras errôneas tudo o que eu sentia.
Tirei minha atenção de Kiara quando o carro entrou em um
ambiente escuro. Reconheci que era o estacionamento do hospital e
assim que o carro parou, uma equipe completa de médicos e
enfermeiros se aproximaram com uma maca. Dimir saiu e abriu a
porta, me ajudando a sair junto com Kiara em meus braços.
No momento em que a coloquei na maca e que os
enfermeiros a cercaram, tampando-a de mim, eu finalmente entendi
o que estava acontecendo. Até aquele momento eu estava absorto
demais, dentro de uma bolha de emoções e arrependimentos que
me impediam de enxergar com clareza, de sentir o que se passava
ao meu redor, mas, ali, eu vi o que estava na minha cara.
Minha mulher havia descoberto tudo. Seu pavor e nervosismo
foram tão grandes que seu corpo não aguentou. Estava grávida,
magoada, ferida, tão abalada que perdeu os sentidos. E a culpa era
minha. Totalmente minha!
Culpado demais, abri espaço entre os enfermeiros que
andavam em direção à entrada reservada do hospital e olhei para o
médico que checava os pulsos de Kiara:
— A vida da minha mulher está nas suas mãos! — gritei,
fazendo-o me olhar assustado. — Se você não salvá-la eu juro que
farei o inferno nesse hospital, acabo com a sua carreira, entendeu?
Salve a vida dela e a do meu filho!
— Eu farei o possível, Vossa Majestade...
— Faça o impossível! — exigi, vendo-o assentir e entrar com
Kiara na emergência.
Dimir me segurou pelos ombros e murmurou algo em meu
ouvido que eu não fiz questão de entender. Deve ter me pedido
calma, mas naquele momento eu sentia tudo, menos calma! Estava
desesperado, abalado, com tanto medo de que algo acontecesse a
Kiara ou ao bebê, que lutei com todas as minhas forças para não
quebrar tudo o que via pela frente.
Ficamos na sala de espera reservada e eu não conseguia
parar de andar de um lado para o outro. Dallah já havia resolvido a
documentação, Dimir já havia falado com o nosso assessor de
imprensa, que estava tentando acalmar os ânimos dos repórteres
que pareciam farejar tragédias no ar. Apenas o barulho do relógio
era ouvido na sala e, para mim, os segundos estavam durando
horas.
— Vossa Majestade. — O médico me chamou. Quando o vi,
meu coração disparou no peito, me deixando ainda mais nervoso. —
Eu me chamo Rodolph Waters e sou o ginecologista obstetra do
hospital. Estou cuidando do caso da rainha e vim aqui dar o parecer
de como ela está.
— Ah, meu Deus, diga logo, não aguento mais todo esse
nervoso! — Dallah disse, se levantando e parando ao meu lado.
— Ela está bem? E o bebê? — perguntei.
— A pressão de Kiara aumentou um pouco, estava 17/11,
mas o batimento cardíaco estava normal. Ela já teve algum caso de
pressão alta durante a gestação?
— Não, nunca — respondi.
— Costuma se alimentar mal?
— Não! Kiara está seguindo direitinho a dieta que a médica
dela passou — Dallah respondeu, me fazendo enxergar o quanto eu
estava sendo relapso. Aquela era uma pergunta que eu não saberia
responder.
— Ela passou por algum estresse ultimamente?
— Hoje — respondi, sentindo-me mais culpado do que antes.
— Ela se estressou muito hoje.
— Era nesse ponto que eu queria chegar. Kiara é uma
gestante saudável. Fizemos um exame de sangue nela e o
resultado não poderia ser melhor, tudo nela está normal, não abusa
na alimentação, então, esse aumento na pressão está totalmente
ligado ao seu emocional. Uma mulher grávida está sempre
propensa a riscos e não pode passar por nervoso, ou alguma
situação que a deixe abalada — disse, olhando rapidamente em sua
ficha. — O caso de Kiara não chega a ser uma hipertensão ou pré-
eclampse, mas, a partir de agora, deixo claro que ela não pode
passar por nenhum tipo de estresse, porque se a pressão dela
aumentar novamente, devemos nos preocupar.
— Pode ter certeza de que ela não vai mais passar por
nenhum tipo de estresse — garanti. — Mas até agora você não me
disse como ela e o bebê estão.
— Os dois estão bem. Kiara já acordou, está repousando e
tomando um remédio na veia para abaixar totalmente a pressão.
Iremos fazer uma nova ultrassonografia agora para ver como está o
bebê. Vim aqui para deixá-los atualizados e saber se o senhor não
quer acompanhá-la no exame.
Olhei para Dallah e Dimir sem saber o que responder. Nunca
havia ido a uma consulta com Kiara, felizmente, minhas viagens
sempre estavam marcadas para os dias de suas visitas a médica.
Mas agora, depois de todo esse risco que corremos, eu me sentia
na obrigação de acompanhar tudo, cada passo e assim estaria
também mais próximo de Kiara.
Tanto Dimir quanto Dallah entenderam o que quis dizer com o
olhar e assentiram. Estavam do meu lado, mesmo sabendo que
Kiara já sabia da verdade e se viraria contra nós três. Agradeci com
um aceno de cabeça e me virei para o médico, apontando para a
porta. Ele entendeu e fomos juntos em direção ao elevador que nos
levou ao quinto andar. Percebi que cada passo que eu dava, cada
vez que respirava, ficava mais nervoso, ansiando pelo momento em
que veria a mulher da minha vida.
Entramos em um quarto todo branco, decorado em tons
pastéis. Estava tudo em silêncio e quase parei de respirar quando vi
Kiara ali, deitada em uma maca, o braço furado recebendo a
medicação e olhos fechados. Ao ouvir a porta ser fechada, ela abriu
os olhos e se virou, seus olhos parando em mim.
Vi um mundo de sentimentos tomar conta de seus olhos
azuis. Vi primeiro o modo apaixonado como me fitou e me permiti
sentir um pouco de alívio, apenas para ser jogado ao limbo quando
seus olhos se encheram de dor, de raiva e de uma mágoa tão
grande que afetou direto o meu coração.
O médico pareceu não perceber e começou a falar algo que
chamou a atenção de Kiara. Ela assentiu para ele e eu me
aproximei, parando ao seu lado na cama. Não me olhou mais, mas
eu não tirei meus olhos dela, não conseguia me desgrudar. Vi de
relance o médico ligar o aparelho de ultrassom e depois prestei
atenção quando levantou o vestido de hospital que Kiara usava e
aplicou gel em sua barriga.
Confesso que tive vontade de arrancá-lo dali quando vi o
modo como sorria para Kiara, todo aberto e simpático, mas me
contive. Tudo o que eu não precisava agora era ser o ogro que
Kiara tanto odiava. Colocou o aparelho na barriga da Kiara e uma
imagem surgiu na tela, capturando minha atenção. Primeiro tudo
estava escuro, um pouco cinza, até que eu vi.
Era um bebê ali, um bebê perfeito. Consegui ver sua cabeça,
os bracinhos, as perninhas que pareciam estar cruzadas. E quando
o médico posicionou o aparelho em outro ângulo, vi com perfeição o
bebê chupando o dedo.
— Veja só, chupando o dedo, que danadinho. — Ele sorriu e
olhou para Kiara e depois para mim. — Já sabem o sexo?
— Ainda não — Kiara respondeu e pude perceber a nota de
emoção na sua voz.
— É uma pena que esteja de pernas cruzadas, senão veria o
sexo para vocês — disse, apertando em um botão na máquina. —
Vamos ouvir o coração agora, papais.
E, de repente, o quarto silencioso se encheu com o barulho
de um coração batendo rápido, muito rápido. Foi impossível
descrever como me senti quando percebi que aquele era o barulho
do coração do meu filho. Da criança que eu tinha feito pouco caso
mais cedo.
Que tipo de monstro eu era para ignorar aquilo? Ignorar uma
criança, minha criança, que estava se formando no ventre da minha
mulher?
Ali eu percebi o quanto eu vinha sendo desumano desde que
Kiara me contou sobre a gravidez. Eu encarava aquela criança
como apenas mais uma pessoa na minha vida, que chegaria e não
faria diferença nenhuma, a não ser prender Kiara a mim. Mas agora,
depois de quase tê-la perdido, tendo a oportunidade de ver sua
imagem perfeita na tela, ouvir seu coração bater forte e rápido, eu
via o quanto eu estava errado, o quanto eu tinha perdido. E o quanto
eu poderia perder, já que Kiara sabia de toda a verdade. Ou ao
menos parte dela.
— Perfeito — o médico disse, chamando nossa atenção. Só
naquele momento eu pude ver que Kiara sorria encantada, olhando
para a tela. — O bebê está ótimo e a mamãe está indo pelo mesmo
caminho.
Depois de desligar a máquina, o médico puxou alguns lenços
de papéis para que Kiara se limpasse. Vi que ela ia pegá-los com a
mão que não estava no soro, mas fui mais ágil e peguei, olhando
para ela.
— Eu limpo — murmurei, encostando o papel com delicadeza
em sua barriga.
O olhar que me deu congelou tudo dentro de mim.
— Bem, vou deixá-los sozinhos agora, mas volto quando
terminar de tomar a medicação. Qualquer coisa é só apertar o botão
ao lado da cama e uma das enfermeiras virá atendê-los — disse,
indo em direção a porta. — Com licença.
O médico saiu e eu continuei o que estava fazendo,
limpando-a com cuidado.
— Tire as mãos de mim — Kiara disse entredentes, fazendo-
me parar na hora.
Em segundos, eu percebi o que estava acontecendo. Meu
coração bateu apertado no peito, um nó ridículo se formou na minha
garganta e minhas pernas vacilaram quando ela tirou minha mão de
sua barriga como se tivesse com nojo de mim.
— Kiara...
— Saia daqui!
— Kiara, por favor, você não pode se estressar...
— Então saia do quarto! Me deixe sozinha!
— Não! Eu não vou sair!
Ela passou a mão livre pelo cabelo e respirou fundo,
fechando os olhos. Quando tornou a abri-los, me fitou com raiva.
— O que você quer? Por que está aqui?
— Não é óbvio? Meu amor, eu...
— Não me chame de “meu amor”! Eu não sou nada sua! —
disse, quase gritando. — Ah, não... Na verdade, eu sou sim. Eu sou
alguma coisa. Eu sou a porra da mercadoria que você comprou por
duzentos e cinquenta milhões de dólares em um leilão de mulheres!
— Por favor, fale baixo...
— Falar baixo? — Ela riu e revirou os olhos. — Claro que
você quer que eu fale baixo. Ninguém pode descobrir o criminoso
que você é!
— Kiara, por favor, me deixe explicar...
— Explicar o quê? — perguntou, em um tom mais baixo
dessa vez. — Explicar que você estava sem nada para fazer e
resolveu que comprar uma mulher era um bom passatempo? Que
gastar duzentos e cinquenta milhões de dólares em um leilão de
mulheres era ótimo para te tirar do tédio? Que foi prazeroso cada
momento que você mentiu para mim, me enganou e me anulou
como se eu não fosse nada, como se eu não tivesse uma vida?
A mágoa em sua voz acabou comigo, me tirou o chão. Senti
meu mundo perfeito ruir, desmoronar totalmente na minha frente e
eu não pude fazer nada.
— Você é um homem totalmente sem escrúpulos. Que gosta
de brincar com sentimentos, gosta de ferir. Que sentiu prazer em me
ferir!
— O quê? Não, Kiara, eu nunca...
— Cale a boca! — gritou e eu ofeguei, assustado, sem poder
fazer nada a não ser ficar quieto e ouvir. — Como você pôde? Como
teve a capacidade de me afastar da minha própria vida? Da minha
mãe doente? Que tipo de ser humano é você?
— Kiara, eu te salvei! A sua mãe, ela te maltratava, ela...
— É mentira!
— É verdade! Ela batia em você, eles me contaram isso
quando eu fui... Quando eu...
— Foi me comprar? Por que não consegue dizer a palavra
agora?
Olhei para ela me sentindo envergonhado, sem ter como me
defender de cada uma de suas palavras.
— Não invente histórias. Minha mãe nunca encostou um
dedo em mim.
A olhei surpreso.
— Não? Mas... eu não entendo, foi isso que me disseram.
— Não importa o que te disseram, o que importa é o que eu
estou falando! O que importa é o que você fez, é tudo que falou... —
disse, balançando a cabeça, incrédula. Seus olhos estavam cheios
de lágrimas. — Como você teve coragem de me pedir um filho e...
— Ela parou e ofegou, começando a chorar sem parar. Senti meu
coração morrer. — E dizer tudo aquilo que disse hoje?
— Kiara, eu...
— Não! Você não tem direito de falar nada! — disse e
soluçou, tão magoada, tão ferida, que eu tive vontade de me
esconder. De morrer. — Eu pensei que você era um homem
solitário. Que era frio porque sempre foi sozinho, porque teve um pai
que nunca ligou para você, porque perdeu a mãe quando nasceu.
Mas não, Dominick, você é assim por escolha própria. Você faz
cada uma das suas merdas sabendo exatamente onde está se
metendo, sabendo exatamente o que está fazendo! — Fez uma
pausa e fungou, colocando o cabelo para trás da orelha. — Você é
incapaz de amar alguém.
— Não! Kiara, não diga isso! — falei, dando a volta na cama
e segurando seu rosto em minhas mãos. — Eu amo você! Eu amo
você com toda a minha alma, com tudo de mim!
— Não, você ao menos sabe o que é amor! Uma pessoa que
é capaz de amar não faz isso, não fala do próprio filho da maneira
que falou hoje, não compra outro ser humano, não afasta a filha de
uma mãe doente! — disse, tirando minha mão do seu rosto. — Eu te
amo. Eu te amo muito, Dominick, eu te amo como nunca amei
alguém. Eu era capaz de fazer tudo para te ver feliz, eu só queria
ser uma boa esposa para você, ser a mãe dos seus filhos, ter uma
vida ao seu lado. Mas que vida? Como eu poderia ser feliz ao lado
de um homem que me enganou durante todos esses meses? Que
mentiu para mim, que me manipulou como se eu fosse uma peça de
um jogo?
Tirou minha outra mão de seu rosto e me fitou nos olhos. Vi
ali, pela primeira vez, algo que eu não queria enxergar. Algo que
lutei muito para não acontecer. Vi que ela estava desistindo de tudo.
De mim, do nosso amor, da nossa vida.
Estava me deixando.
— Não... — murmurei, voltando a pegar seu rosto em minhas
mãos. — Por favor, não faz isso! Não faz isso, não me deixe, Kiara,
por favor!
— E o que você quer que eu faça? — murmurou com a voz
abalada pelo choro.
— Que me perdoe! Que me perdoe por tudo o que fiz, por
tudo o que falei!
— E você se arrepende?
A fitei, sem saber o que dizer. Eu me arrependia sim. Me
arrependia de ter falado daquela forma do nosso filho, me
arrependia por ter sido um idiota, um estúpido. Mas não me
arrependia de tê-la comprado. Porque sabia que, se não fosse por
isso, por tê-la pegado para mim naquele leilão tão impessoal, eu
jamais teria conhecido o amor e a felicidade em sua forma mais
pura.
— Foi o que pensei — concluiu, tirando minha mão de seu
rosto novamente.
— Não, Kiara, me deixe explicar.
— Não, Dominick. Deixe que eu te explique uma coisa —
falou, ainda chorando. — O que você fez comigo, tudo o que falou...
não tem perdão. Eu... Eu simplesmente não consigo! Não consigo
nem pensar direito, não consigo entender o porquê. O porquê de
você ter feito tudo isso comigo.
— Kiara, por favor...
— Sou eu quem imploro, Dominick, Me deixe em paz. Me dê
o divórcio, me deixe livre para voltar a ser a Kiara que eu sempre fui.
Não essa personagem que você inventou para mim.
Olhei para ela sentindo tudo dentro de mim abalado demais.
Não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo, no que ela
estava querendo dizer.
— Não! — falei, convicto, me levantando. Sentia vontade de
chorar, mas me fiz de forte e a olhei de peito aberto, deixando que
visse todo o meu amor. — Eu não vou te dar o divórcio! Não vou
desistir de você!
— Dominick, não importa o que você diga, eu...
— Não! Eu te escutei calado até agora, mas, dessa vez, é
você quem vai me escutar! — falei, cerrando as mãos em punho. —
Eu me arrependo sim! Me arrependo da forma como falei do nosso
filho, me arrependo por todas as vezes em que fui um idiota com
você, em que a tratei mal. Me arrependo de muitas coisas, mas de
tê-la comprado? Não, eu não me arrependo, sabe por quê? Porque
eu sei que se eu não o tivesse feito, outro faria. E esse outro iria te
maltratar, iria fazer de você uma escrava ou coisa pior, poderia te
matar! Quando te comprei, não sentia nada por você, nem pena eu
sentia. Mas eu te amei. Eu ainda te amo, te amo com tudo de mim e
vou te amar para sempre! E vai ser esse amor que vai fazer você
me perdoar e voltar para mim. Vai ser o que eu sinto por você que
vai arrancar toda essa mágoa e essa raiva que sente por mim!
Estava ofegando, descontrolado, me sentia fora de lugar,
como se eu estivesse vendo aquela cena fora do meu corpo. Tudo
estava errado, os sentimentos estavam errados, mas eu iria
consertar, nem que fosse a última coisa que eu fizesse na minha
vida.
— Eu te amo, Kiara. Eu te amo e irei me redimir por todo o
mal que causei a você.
Não esperei para ouvi-la e nem fiz questão de saber como
tinha ficado depois do meu ataque. Apenas me virei e saí daquele
quarto, deixando meu coração com ela, mas carregando a minha
alma cheia de culpa.
Andei rápido pelo corredor e quando achei o banheiro, entrei
e me tranquei. Senti vontade de gritar, de socar o espelho até que
minha mão começasse a sagrar para que alguma parte do meu
corpo doesse mais do que o meu peito, mas a única coisa que
consegui fazer foi me arrastar até o chão e chorar. Chorar como eu
nunca tinha me permitido chorar antes.
Lágrimas embaçavam minha visão, me faziam estremecer,
meu peito arder, não conseguia respirar. Mas cada uma daquelas
lágrimas que molhavam meu rosto, me limpavam e banhavam por
dentro, fazendo nascer um novo Dominick.
O Dominick que estava disposto a fazer de tudo para
conseguir o perdão da mulher amada.
O Dominick pronto para a redenção.
A REDENÇÃO DO REI

"Eis aqui o seu rei, submetido ao seu


amor, à espera da redenção"

Duologia O R – Volume II

TAMIRES BARCELLOS
Sinopse

O que o Rei Dominick Andrigheto Domaschesky tanto temia,


aconteceu. A mulher que amava havia descoberto toda a verdade
que ele escondia e seu casamento estava prestes a ser destruído.
Mas ele a amava. A amava mais do que um dia poderia
imaginar e iria lutar com todas as suas forças para reverter aquela
situação. Sabia que ela estava arrasada, magoada e o odiava
naquele momento, mas ele era mais forte e muito mais teimoso do
que qualquer sentimento controverso ao seu amor.
Daquela vez, ele não iria passar por cima de coisas certas
para ter o que queria. Ele iria passar por cima de si próprio, passar
por cima de seu jeito arrogante, de sua ignorância, de seu caráter e
viraria outro homem.
Um Dominick perfeito e pronto para ser redimido.
Mas o que ele não sabia era que Kiara já tinha um objetivo
em mente.
Algo que, com toda a certeza, poderia acabar com ele para
sempre.
Prólogo

Giorgio De Piel

27 de Outubro de 2015

“Ducentésima Nonagésima Primeira anotação.”

Um novo ciclo se iniciou.


Dominick errou, tropeçou e agora está no chão. Seria correto
um homem que nunca teve carinho, amor e proteção, sofrer tanto
quando justamente começou a amar pela primeira vez em sua vida?
Talvez não fosse justo.
Mas, como tanto falei, recebemos as consequências de
nossas escolhas e ela pode tardar, mas sempre virá. As
consequências chegaram para Dominick. Ele teve a oportunidade
de mudar tudo enquanto estava em seus dias felizes, mas optou por
continuar na mentira.
Agora suas mentiras foram jogadas por terra e a verdade
está cobrando seu preço.
E sua amada, com o gosto amargo de ser enganada ardendo
em sua boca, não acredita em uma forma de perdoá-lo. Está
magoada, arrasada, devastada e se sente preparada para tudo. Até
mesmo para acabar com o homem que ama.
Não consigo prever um final, mas sei como tudo vai se
encaminhar. Muita dor os espera e só me resta torcer para que a
redenção chegue para ambos.
Que Dominick consiga ser perdoado.
E que Kiara consiga o perdoar.
Capítulo 1

“Quando olho em seus olhos


É como observar o céu de noite
Ou um belo amanhecer

Não desistirei de nós


Mesmo que os céus fiquem violentos
Estou lhe dando todo o meu amor.”
(I Won’t Give Up, Jason Mraz)

Dominick

10 de abril de 2015 – Moscou, Rússia

Terminei de colocar minhas abotoaduras de ouro, eu me olhei


no espelho, passando a mão de leve pelo meu cabelo. Estava há
dias na Rússia e, finalmente, havia chegado o grande dia. Segundo
Dimir, aquela era a noite em que eu voltaria para o hotel convicto de
que tinha a rainha perfeita para levar a Orleandy.
Esperava que ele estivesse certo.
Coloquei meu relógio, ajeitei o terno e saí do quarto,
encontrei Dimir no corredor vazio. Parou de andar ao me ver e,
juntos, fomos em direção ao elevador. Ele era meu melhor amigo e
confiava nele, mas não estava confortável com aquela situação de
escolher uma mulher para me casar.
Era o cúmulo. Eu, que sempre tive a convicção de que seria
um homem livre, de que jamais cairia de amores por uma mulher,
jamais ficaria como meu pai, um louco de amores por uma mulher,
agora me via obrigado a me casar.
Mas não tinha muito o que fazer. Talvez fosse realmente bom
ter uma mulher ao meu lado, seria ótimo para minha imagem e para
a imagem de Orleandy.
Percebi que aquele era o primeiro sacrifício que eu fazia pelo
meu país.
— Ansioso? — Dimir perguntou, virando-se para mim.
— Entediado. Não aguento mais ficar aqui.
— Pare de reclamar. Deveria estar agradecendo.
— Por estar prestes a ser amarrado a uma mulher estranha
apenas para satisfazer o ego de Orleandy?
— Você está com um humor horrível! — falou e eu revirei os
olhos, cansado.
Descemos direto no estacionamento privado do hotel e
entramos no carro que nos levaria a Black House. Dimir já havia me
explicado como eram as coisas, mas fiquei impressionado com a
estrutura do lugar quando o carro parou em frente aos grandes
portões negros de ferro.
Depois de sermos identificados e liberados, entramos e olhei
ao redor, sério, mas curioso. O caminho pavimentado nos levava a
uma imponente mansão ao fundo, com estrutura em pedras e
arquitetura totalmente pontiagudas. Para quem não conhecia,
aquela era apenas uma propriedade privada de um homem muito
rico.
Para nós, bilionários imersos em um mundo negro que
poucas pessoas tinham o privilégio de conhecer, aquela mansão
abrigava a compra e venda de mulheres. Devo confessar que
quando Dimir me contou o que tinha em mente, pensei duas vezes
em ir até ali. Nunca precisei pagar uma prostituta para me satisfazer,
então, por que diabos eu compraria uma mulher para me casar?
Mas, então, motivos fortes me fizeram enxergar que aquela
era a melhor opção que eu tinha.
Eu não iria apenas comprar uma mulher.
Eu iria comprar uma mulher que tinha a mente em branco,
para que eu pudesse moldar da forma que eu quisesse. Melhor do
que ter uma mulher submissa, que estava disposta a fazer todas as
minhas vontades, era ter uma mulher totalmente dependente.
Porque é isso que ela seria, totalmente dependente de mim e das
minhas vontades, faria o que eu mandasse e estaria sempre
disposta a me servir.
Eu não poderia escolher uma esposa melhor.
No hall, um homem vestido em um terno azul-escuro e
usando luvas brancas, começou a andar na nossa frente, indicando
o caminho. A decoração era luxuosa e objetiva, nada enfeitado ou
simples demais. Havia muito objeto em ouro, quadros raros e caros
nas paredes e móveis de madeira pura.
Depois de andarmos por um imenso corredor, o homem de
luvas brancas, cuja plaquinha em seu peito estava escrito seu
nome, Harry, parou em frente a uma porta e deu dois toques,
abrindo-a em seguida. Um escritório se revelou para nós e três
homens se reuniam ali, dois deles tomando uísque e fumando
charuto.
— Senhores. — Apontou e Dimir entrou antes de mim,
familiarizado com o lugar.
Entrei em seguida e a porta se fechou atrás de nós. O
homem barrigudo atrás da mesa acenou para nós com o charuto
entre os dedos e os dois da frente se levantaram, apertando nossas
mãos.
— É um prazer revê-lo, Dimir — falou com um forte sotaque
russo, depois de repousar seu charuto no cinzeiro.
— Igualmente, Pavlo — Dimir respondeu, sorrindo de leve. —
Este é meu primo, Dominick Andrigheto Domaschescky, futuro Rei
de Orleandy. Dominick, esse é Pavlo, sócio e cientista da Black
House.
— É um prazer conhecê-lo, senhor Domachescky. Quando
Dimir comunicou que o senhor o acompanharia dessa vez e que
está em busca da mulher perfeita, ficamos animados.
Apenas assenti, olhando para o homem ao seu lado. Ele
sorriu, parecendo deslocado e estendeu a mão. Apertei.
— Me chamo Lorenzo. É um prazer conhecê-lo, senhor.
— E eu sou Orel. Orel Black — disse o que estava atrás da
mesa, arqueando sua grossa sobrancelha branca. — Dono desse
lugar. Por favor, sentem-se, gosto que meus convidados fiquem à
vontade. Harry, sirva-os uma dose de uísque. — Seu olhar não saiu
de mim e, por fim, ele sorriu. — Não tem língua, senhor
Domaschescky?
Me sentei em uma poltrona ao lado de Dimir, observando
Pavlo e Lorenzo se sentarem em seguida. Harry trabalhava em um
bar ao canto do escritório e Orel continuava me observando, dessa
vez com o charuto entre os lábios.
— Gosto de observar tudo a minha volta, antes de falar algo.
— Eu gosto disso, gosto de homens observadores, que
pouco falam, mas que pensam. Por isso contratei Pavlo e Lorenzo
para trabalhar comigo, são meus homens de confiança.
— É um prazer servir ao senhor, Mestre Black.
— Faço das palavras de Pavlo as minhas, Mestre.
Orel assentiu e pousou o charuto no cinzeiro, voltando seu
olhar para mim.
— Tudo na Black House gira em torno disso, senhor
Domaschescky: confiança. E sigilo. Tudo que é feito aqui, fica aqui.
Por isso temos essa necessidade de conversar com cada amigo que
chega a nossa casa, pois é isso que todos vocês são para nós,
amigos. — Fez uma pausa e sua sobrancelha voltou a se arquear.
— Esse lugar foi criado para suprir desejos como os do senhor, de
encontrar uma mulher perfeita, para fazer o que quiser. A partir do
momento em que o senhor entra aqui, estamos dispostos a suprir
todas as expectativas.
— Exatamente — Pavlo disse, sorrindo. — Por isso criou-se,
desde o princípio, a necessidade de moldar cada mulher para o seu
dono. É aí que eu entro. A partir do momento em que o senhor
entrar na sala escura, tenha a certeza de que cada mulher que
senhor ver tem sua mente apagada por mim. Eu detenho a fórmula
do esquecimento, eu tenho o poder de iniciar a mulher que o senhor
quer criar.
— Gostaria de saber mais detalhes sobre isso — murmurei,
pegando o copo de uísque em cima da bandeja que Harry trazia. —
A “fórmula do esquecimento”.
— É simples. Sou formado em Química, mas sempre quis ir
além. Sempre achei que poderia criar um submundo usando
fórmulas, inventos, substâncias e foi isso que fiz. Criei uma fórmula,
um líquido sem cor, sem gosto e sem cheiro, que, aplicado na área
da nuca, é capaz de chegar às amídalas, onde se encontram as
memórias declarativas, que são responsáveis por toda a parte
sentimental e emocional de uma pessoa. Essa fórmula faz com que
a amídala pare de funcionar por dez minutos, e quando volta, toda a
memória da pessoa já está totalmente apagada.
— E tem chances de a memória voltar?
— Não. Uma vez que a amídala é desativada, ela não é
capaz de voltar atrás e buscar informações antigas.
— Incrível — murmurei, realmente impressionado.
— Estou cercado por profissionais altamente competentes,
senhor Domaschescky.
— Não tenho dúvidas, Orel.
— Eu sou responsável por cuidar de toda a documentação,
armazenar informação — Lorenzo disse, chamando minha atenção.
— E fui eu que trouxe a principal mulher dessa noite.
— Uma joia rara — Orel murmurou e vi Pavlo assentir,
concordando. — Uma beleza diferente de tudo o que já vi e olha que
só lidamos com as mulheres mais bonitas, senhor Domaschesky.
— Como é ela?
— Se chama Kiara. Kiara Rose Neumman. É uma mulher
dócil, amorosa, tem os cabelos cor de avelã, olhos azuis e é linda,
linda de uma forma que eu tenho certeza de que o senhor nunca
viu. — Lorenzo sorriu e eu o olhei sem entender. Por um momento vi
um sentimento em seus olhos, carinho.
— E é virgem — Pavlo disse, como se não acreditasse. —
Sabe o quanto é difícil achar uma mulher de vinte anos e virgem?
Como Orel disse, é realmente uma joia rara.
— Quer uma mulher para se casar, não é?
Assenti, olhando para Orel.
— Ela é a mulher perfeita, eu tenho certeza.
— No leilão de hoje, o mestre de cerimônias começará com o
lance de cem milhões de dólares. Normalmente começamos com
trinta milhões, mas Kiara é especial. Se eu fosse o senhor, ficava
atento, pois nossos principais amigos não costumam deixar passar
uma mulher assim.
— Quero deixar claro que o fato de ela ser virgem não enche
os meus olhos — falei, convicto. — E que só a levarei se ela
realmente me interessar.
— Tenho certeza de que vai, senhor Domaschescky. Kiara é
capaz de encantar e fascinar qualquer pessoa.
— Ela é alguma coisa sua?
Ele arregalou um pouco os olhos e engoliu em seco,
negando. Óbvio que era algo dele, e gostei menos dele por conta
disso. Eu não era um homem de grandes sentimentos, mas sabia
que seria incapaz de vender qualquer pessoa da minha família. Já
aquele homem na minha frente, com certeza não pensava como eu.
— Não, senhor. Ela não é nada minha.
— Bem, faltam apenas dez minutos para o começo do leilão.
Espero que goste, Dominick e se sinta à vontade — Orel disse. —
Harry, acompanhe-os até o salão.

***

Nos acomodamos dentro de uma sala pouco iluminada e


privada. Um vidro estava à nossa frente, onde era possível que
assistíssemos a todo o leilão, mas que o mestre de cerimônia e a
mulher que fosse leiloada não nos visse. Até aquele momento,
tirando o fato da “fórmula do esquecimento”, era daquilo que eu
havia gostado mais. A descrição.
Nenhum cliente via o outro, tudo era de modo sigiloso, cada
comprador ficava em uma sala, que comportava até três pessoas.
Dimir estava ao meu lado, tomando seu uísque aos poucos,
relaxado. Apesar de nunca ter comprado uma mulher, havia me dito
que acompanhava amigos e que era sexy ver uma mulher drogada
se contorcendo sobre a poltrona vermelha que ficava no centro do
palco.
Sabia que não era melhor do que ninguém, mas tinha plena
consciência de que a mulher que fosse comigo seria extremamente
sortuda. Iria morar em um palácio e se tornaria a rainha de toda uma
nação, enquanto as outras teriam destinos diferentes e certamente
macabros. Pois, era claro demais para mim que os homens que iam
ali gastar milhões de dólares com uma mulher, não o faziam apenas
para ter uma esposa ao seu lado.
— Boa noite, senhores. — Um homem de terno disse no
centro do palco, o som de sua voz se propagou por toda a sala. —
Daremos início a mais um leilão de lindas joias esta noite...
— Joias? — perguntei, arqueando uma sobrancelha para
Dimir.
— Cafona, eu sei. Mas eles não perdem essa mania de
chamar as mulheres de “joias”, talvez seja para romantizar a coisa.
— Romantizar um leilão de mulheres? — Ri sem humor,
revirando os olhos. Que ideia patética.
— Vai entender. — Dimir deu de ombros, bebendo.
O mestre de cerimônia falou algo sobre o leilão estar especial
e que havia uma “joia rara” que entraria no meio do leilão para
surpreender a todos. Logo o nome dela me veio à cabeça.
Kiara.
Bebi mais um gole de meu uísque e fiquei indignado ao me
pegar pensando em como ela seria. Se seria realmente bonita como
haviam descrito. Talvez ela não fosse aquilo, na verdade, talvez não
fosse nada, apenas mais um corpo que veria naquela noite.
A primeira mulher que entrou era extremamente loira e
magra. Seu nome era Francesca. Foi colocada sentada na poltrona
e eu não conseguia entender que tipo de droga era aquela que eles
injetaram nela, que a fazia se contorcer como se estivesse tendo um
orgasmo. O mais impressionante era perceber que aquilo era tudo,
menos sexy. Na verdade, estava longe de ser sexy.
Seu lance começou com trinta milhões. Fiquei me
perguntando quem seria o louco de dar trinta milhões em uma
mulher tão sem graça, mas, para meu espanto, ela foi vendida por
sessenta milhões. Não sei se ficava com pena do destino dela, ou
do dinheiro que o comprador tinha gasto.
A próxima era uma ruiva legítima, chamada Brione. Era linda,
tinha de admitir. Como tinha uma visão privilegiada, pude ver que
tinha os olhos verdes, a pele clara e também se remexia na poltrona
como Francesca. Entretanto, por mais que fosse linda, não havia me
cativado. E eu só sairia dali com a mulher que me cativasse.
Brione foi vendida por noventa milhões.
Em seguida, veio Ashanti. Uma negra, também linda, com
tudo no lugar, os cabelos encaracolados até a cintura. Percebi que o
mestre de cerimônias falava e falava sobre vários atributos que
todas elas tinham, mesmo sabendo que aquilo não influenciaria em
nada em nossa escolha.
Ashanti também passou por mim e eu já estava ficando puto.
Achei que seria algo rápido e fácil, mas percebi que, ou eu era
exigente demais, ou nenhuma daquelas mulheres tinham algo de
diferente.
Vendida por noventa e cinco milhões de dólares, Ashanti foi
retirada do palco e a luz foi focada em cima do mestre de cerimônia,
que tinha um sorriso irritante no rosto.
— Senhores, como de praxe, a joia mais importante da noite
estará ali, naquela poltrona, dentro de alguns minutos. Antes, me
deem a oportunidade de falar sobre ela. — Pude ver os olhos dele
brilharem, como se ela realmente fosse coisa de outro mundo. Já
estava começando a me perguntar qual seria o problema de todos
eles. — Seu nome é Kiara. E, como o nome, ela também é linda,
mas não apenas linda. Kiara é dona de um lindo par de olhos azuis
e cabelos avelãs, tem um sorriso encantador e um corpo que
chamaria atenção até mesmo de um cego. — Ele riu e eu não achei
a mínima graça. Na verdade, estava entediado. — Mas, acima de
todos esses atributos, Kiara tem algo que as demais não têm. Kiara
é intocável, virgem.
Ainda me perguntava no que um hímen influenciava em uma
compra, quando o mestre de cerimônia deu um passo para o lado e
disse:
— Aproveitem a apresentação sem moderação.
Tudo ficou escuro durante vários segundos, até que,
finalmente, uma luz branca se acendeu sobre a poltrona e lá estava
ali. Primeiramente, não vi nada de mais. A tal Kiara estava com a
cabeça para trás, braços apoiados no sofá e pernas cruzadas.
Então, virou a cabeça para frente.
E eu senti meu coração dar um pulo no peito.
Ela era linda. Ainda mais linda do que haviam descrito para
mim. Era óbvio que estava drogada, se contorcia sobre a enorme
poltrona, mas nada tirava a sua beleza, a forma como seus olhos
azuis se conectou com a plateia, olhando sem ver.
Até que ela me encarou. Mesmo por trás do vidro que a
impedia de ver qualquer pessoa, eu senti seu olhar no meu.
Não entendi o que aconteceu, mas foi forte e rápido, me
atingiu de uma forma que me deixou paralisado. Sem poder tirar os
olhos dela, apertei o botão ao meu lado. Dimir me encarou e eu
falei, ainda a olhando:
— É ela.
— Tem certeza?
— Nunca estive tão certo de algo em toda a minha vida —
murmurei, engolindo em seco, constatando o quanto ela era linda.
— Ela tem que ser minha.
— Então, ela será sua. — Ele sorriu e se encostou na
poltrona, como se estivesse assistindo a um show.
— Os lances começam com cem milhões de dólares...
— Cento e dez milhões — falei, pressionando o botão que
ativava o microfone da sala, como fui instruído.
— Cento e dez milhões para o cavalheiro da sala preta. Mais
algum lance? Ah, sim, cento e vinte e cinco milhões para o
cavalheiro da sala verde.
— Cento e cinquenta! — falei, ficando irritado.
Eles não viam que ela seria minha? Filhos da puta!
— Cento e cinquenta milhões para o cavalheiro da sala preta.
Cento e sessenta milhões para o cavalheiro da sala azul.
Pensei em mais um lance, mas ele continuou falando:
— Cento e setenta e cinco milhões para o cavalheiro da sala
verde...
Muita concorrência para pouca paciência. Com raiva, quase
soquei o botão e falei:
— Duzentos e cinquenta milhões!
Dimir cuspiu o uísque que bebia e me olhou, horrorizado. O
mestre de cerimônias ficou calado, boquiaberto, e tudo entrou em
um silêncio profundo, enquanto Kiara continuava lá, linda, se
contorcendo no sofá. Quando ela fosse minha, não iria se expor
daquela maneira para ninguém, só para mim!
— Uau... Bem, duzentos e cinquenta milhões para o
cavalheiro da sala preta. Mais algum lance? — Ele esperou
durantes alguns segundos e eu quase saí da sala, apenas para tirar
Kiara dali nos meus braços e gritar para todos que havia acabado. A
mulher era minha, porra! — Então, dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-
lhe três! Kiara foi vendida por duzentos e cinquenta milhões para o
senhor da sala preta. Ótimo investimento, senhor.
Me recostei à poltrona, satisfeito, tomando um gole do meu
uísque. Quase sorria. Quase.
— Você ficou maluco?
— Por quê?
— Ficou maluco, porra?
— Dimir... — murmurei, sabendo que, depois daquela
compra, nada mais me faria ficar irritado.
— Duzentos e cinquenta milhões? Porra, Dominick, você está
louco? Vai desviar tudo isso de Orleandy? É muito dinheiro!
— Não! Não sou tão idiota assim — murmurei, olhando para
ele. Kiara já havia saído da sala. — Eu tenho cem milhões no banco
e mais cem milhões em ações. Desviarei apenas cinquenta.
— Como tem esse dinheiro todo?
— Vendi algumas propriedades que era de meu pai e foi
passado para o meu nome. Também tenho a herança de minha
mãe. Dinheiro não é problema, Dimir.
— Mas ainda assim, Dominick... É muito dinheiro. O que essa
garota fez com você?
— Nada, ela não fez nada. Eu só não meço esforços para ter
aquilo que eu quero — falei, sorrindo daquela vez e terminando
minha bebida. — Vamos embora.
Dimir soltou um suspiro ao meu lado e saímos da sala, vendo
que Harry ainda estava parado do lado de fora da porta, como se
fosse uma estátua. Enquanto caminhávamos, percebi que cada
porta tinha um homem com o mesmo uniforme, como se fossem
mordomos. E todos eles, sem exceção, tinham uma plaquinha
escrito “Harry”. Cheguei à conclusão de que tentar entender aquele
lugar não me levaria a nada.
Quando saímos do corredor que nos levava ao salão, Orel,
Pavlo e Lorenzo apareceram. Todos sorriam.
— Senhor Domaschescky, estou tão contente com a sua
compra! Sabia que não resistiria aos encantos de nossa joia rara! —
Orel disse, apertando minha mão.
— Fico contente que não tenha se enganado, Orel.
— Eu fico ainda mais contente.
— Amanhã terminamos as negociações e Kiara será
totalmente sua — Pavlo disse, apertando minha mão em seguida. —
Lorenzo, acompanhe-o até a porta, tudo bem?
Me despedi de todos e segui Lorenzo com Dimir ao meu lado.
Quando chegamos na porta do hall, Lorenzo se virou para mim e
pediu para falar comigo, a sós. Dimir assentiu e se afastou, indo em
direção ao carro. Estava pensando que tipo de assunto ele teria
para tratar comigo, quando começou a falar:
— Eu tenho algo a ver com Kiara — murmurou, olhando em
meus olhos. — Ou melhor, tinha. A partir de agora, ela é toda do
senhor e estou supercontente com isso, pois sei que ela não será
estuprada, maltratada ou morta, o que acontece com muitas
meninas que saem daqui.
— O que ela era sua?
— Isso não importa.
— Então... Onde quer chegar?
Ele suspirou.
— Kiara sofria muito, a mãe a maltratava e teve uma vida
muito difícil — falou, engolindo em seco. — Só quero fazer um
pedido: cuide dela. Kiara é uma mulher maravilhosa, o senhor vai
enxergar isso rapidamente quando começar a conviver com ela.
Então, não a deixe sofrer, ela merece ser feliz.
— Ela vai se casar comigo e será a Rainha de Orleandy. Com
certeza, ela será feliz.
— E eu creio nisso. — Sorriu e estendeu a mão. — Obrigado.
— Pelo quê?
— Por tê-la salvado.

***

Ela estava ao meu lado, adormecida e protegida no banco do


meu jatinho. Era ainda mais linda de perto, mesmo sedada e de
olhos fechados. Aproveitando que Dimir estava dormindo do outro
lado, passei a mão pelos seus cabelos, adorando a textura e a cor.
O que estava acontecendo comigo? Nunca me apeguei a
detalhes e agora... agora eu observava tudo, até mesmo a forma
como seu peito subia e descia com a sua respiração. Ela tinha
cheiro de flores e mesmo vestida em calça jeans e blusa, algo
normal demais para mim, estava linda.
Tirei a mão dela e me virei para o outro lado, encarando a
escuridão pela janela. Merda! Não quero mais olhá-la. Ela é só uma
mulher comum, apesar de ser linda, mas ela seria só mais uma.
Seria minha esposa, mas seria apenas mais uma.
Soltei um suspiro.
Por que eu sentia que, falando aquilo para mim mesmo, eu
estava apenas me enganando?

***

27 de outubro de 2015 – Orleandy.

— Porque eu estava me enganando — murmurei para mim


mesmo, me lembrando de que a última vez que a havia observado
dormindo assim, tinha sido na noite em que embarcamos da Rússia
para Orleandy.
Havia entrado escondido no quarto do hospital. Kiara não
queria companhia enquanto estava acordada, mas, dormindo, ela
não poderia fazer nada. E eu aproveitei aquele momento para vê-la.
Estava com os olhos inchados, havia chorado, mas ainda estava
linda, dormindo com uma mão na barriga.
— Eu me enganei por um tempo, Kiara. Achei que não
amava você. Na verdade, eu achei que eu era incapaz de amar
alguém — falei, repousando minha mão em sua barriga, sem
entender como e nem porque aquilo me deixava tão emotivo. —
Mas eu amo você. Eu amo você com todo o meu coração e vou
fazer de tudo para que você me perdoe. Serei um novo homem,
meu amor. Serei alguém digno de ter você e seu amor. E prometo
ser o marido e o pai que você sempre sonhou que eu fosse.
Quis beijar seus lábios, mas sabia que se fizesse, ela
acordaria. Por isso, olhei para sua barriga, querendo enxergar
aquele bebê de pernas cruzadas e chupando dedo que apareceu na
tela naquela tarde. Com cuidado, me aproximei mais:
— Prometo que vou deixar de ser esse idiota que você ouviu
hoje de manhã — murmurei para a barriga. — Falei muita besteira,
não é? Eu sei, eu sei que eu disse, mas nunca quis seu mal, eu só...
eu só fui além do que poderia ter ido. No começo, eu te queria
muito. Depois, eu não te queria tanto assim. Agora, eu quero tanto
você que meu peito chega a doer. Provavelmente, sua mãe me
manterá afastado de você, mas saiba, bebê... Meu bebê. — Sorri,
sentindo uma lágrima rolar pelo meu rosto. — Você entrou no meu
coração hoje e não sairá mais. Espero que um dia me perdoe
também.
Então, com o coração batendo forte, eu beijei sua barriga. E
beijei de novo e, mais uma vez, com cuidado.
— Eu te amo, meu bebê.

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