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Para o cientista político Tarso Ñunes, o caso se configurou como casuísmo, uma vez
que foi confirmada inclusive a ligação do candidato a presidente pelo PSDB, José Serra,
para o ministro do STF Gilmar Mendes. “A lei quando foi votada, no final do ano
passado, foi considerada inconstitucional. Então, agora, adotar esta medida de exigi-la,
como fez o Congresso Nacional, é um casuísmo. Essa exigência foi motivada pelo DEM
(chapa de Serra) para retirar os votos dos menos favorecidos”, justificou.
Se nestas eleições não houve casuísmo, ao longo da história eles marcaram a caminhada
do Brasil para a democracia. No período do regime de exceção (64 a 85), os políticos de
oposição clamavam contra os casuísmos que asseguravam aos militares uma maioria
para aprovar o que quisessem. O primeiro casuísmo – o AI 2 – veio em 65, extinguiu o
pluripartidarismo surgido com a queda de Getúlio Vargas depois do término da II
Guerra Mundial na década de 40 e criou o bipartidarismo com a Arena, legenda do
governo, e com o MDB, da oposição.
O cientista político Benedito Tadeu Cesar destaca a Lei Falcão, criada em 1978, como
um dos casos mais marcantes de casuísmo eleitoral. A norma surgiu para evitar o
crescimento do MDB, que já vinha crescendo desde 1974 com o surgimento do horário
eleitoral gratuito. “A Arena se sentiu ameaçada de perder a maioria no Congresso e
restringiu a propaganda para que fosse com fundo neutro, sem muitos recursos. E isso
atingia diretamente o MDB que desenvolveu coisas inéditas na época, como o uso de
gráficos e outras inovações na propaganda na televisão”, explica.
Tadeu Cesar lembra também da reforma eleitoral em 1980, que também foi um
casuísmo. Na época, a eleição seria de voto duplo para o cargo de senador e, com a
reforma proposta pelo chefe da Casa Civil do presidente João Figueiredo, passou a
existir o senador biônico. “O senador biônico era indicado pelo governo. Um deles é
Octávio Cardoso, marido da jornalista que hoje disputa uma vaga no Senado, Ana
Amélia Lemos”, fala.
Com a reforma eleitoral de 1980, o cientista político recorda que surgiram novos
partidos, além da Arena, transformada em PDS, e do MDB, em PMDB: PDT, PP, PT e
PTB. “Só que também foi um casuísmo, porque tinha uma regra que proibia ligações
internacionais nos partidos, o que impossibilitava a fundação dos partidos comunistas e
também obrigava os partidos a terem o nome de partido na sigla, o que era bom para a
Arena”, conta.
Outro casuísmo que marcou o processo eleitoral no Brasil, segundo Tadeu Cesar, foi
quando, em 1982, houve nova alteração da lei eleitoral, obrigando a vinculação total dos
cargos. “O pacote de novembro exigia voto na chapa completa dos partidos. Isso era
para o PDS (ex-Arena), que herdou toda a estrutura partidária da Arena e estava
estruturado em todos os diretórios municipais. O voto municipal puxaria o voto
nacional”, explica.
Um dos derrotados nesta época, Olívio Dutra, que se tornou governador mais tarde
(1999-2003), preferiu não falar daquilo que já passou, mas criticou a atuação do poder
Judiciário brasileiro nos últimos tempos. “Por trás está sempre o conflito de interesses
entre os que defendem os interesses populares e os que defendem um projeto de
minoria”, alega. Segundo ele, este setor (Judiciário) tem apoio social e sustentação
econômica forte de poderosos grupos econômicos, apesar de aparecem como defensores
dos interesses coletivos.