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MANUAL DE NUTRIÇÃO NA

DOENÇA INFLAMATÓRIA
INTESTINAL (DII)
Uma abordagem para ser explorada por pessoas com
DII e seus profissionais de saúde sobre importância
da alimentação assistida e explicação sobre dietas e
recomendações nutricionais observadas no Brasil.

Material elaborado pela Nutricionista:

Izabel Lamounier
Mestre em Nutrição Experimental pela USP; Especialista
em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN;
Nutricionista da ABCD e Membro do GEDIIB.

Realização e apoio:
Material elaborado pela Nutricionista Izabel Lamounier

A Doença Inflamatória levar a resultados ruins em relação à saúde


Intestinal (DII)1,2 mental, qualidade de vida, estado nutricional e
deficiências nutricionais.
Trata-se de uma condição inflamatória A seguir, veremos:
crônica que afeta o sistema gastrointestinal, • Abordagens nutricionais atuais utilizadas na
cuja prevalência tem aumentado ano a ano. Doença de Crohn (DC) e na colite ulcerativa (CU);
• Tratamentos relacionados aos sintomas clínicos
A Doença de Crohn (DC) e a Colite e também para o processo inflamatório;
• Evidências por trás do papel da nutrição que
Ulcerativa (CU) são cada vez mais
vêm sendo estudadas e das dietas específicas no
diagnosticadas em populações pediátricas
tratamento de pacientes com DII;
e adultas. Desde o início do século 21, a DII
• Os pontos fortes e algumas limitações das
tornou-se um problema de saúde global.
evidências atuais.
Lembre-se que este é um material informativo.
Apesar dos avanços no tratamento médico, Em caso de dúvidas, aproveite para discutir com
a remissão clínica e a cicatrização da mucosa o profissional de saúde que te acompanha.
ainda não são alcançadas em muitos pacientes.
Dietas na DII1
A causa, provavelmente, está enraizada no
fato de o sistema imunitário, o microbioma dos A contribuição da dieta para o desenvolvimento e
geneticamente susceptíveis e o ambiente não tratamento da DII tem um papel importante.
conseguirem fornecer uma resposta adequada,
o que, subsequentemente, leva à inflamação Tanto na DII pediátrica como na adulta, foi
crônica do intestino. demonstrado que as intervenções nutricionais
Evidências recentemente crescentes têm sugerido melhoram os sintomas clínicos, bem como a carga
que um dos principais fatores ambientais que inflamatória.
desempenham um papel no início e no curso
da doença é a dieta. Isto leva à conclusão de O impacto da intervenção nutricional é melhor
que pode ser utilizada como parte da estratégia exemplificado por meio do uso da Nutrição Enteral
para reduzir os sintomas clínicos e a inflamação Exclusiva (NEE) na DC. Existem novas evidências
intestinal. sobre dietas alimentares integrais excludentes –
Dieta de Exclusão da Doença de Crohn (DEDC),
associada à Nutrição Enteral Parcial (NEP),
Desta forma, a dieta passa
assim como a Dieta de Carboidratos Específicos
a ser um tópico importante
para pessoas com DII. (DCE), Dieta de Oligossacarídeos, Dissacarídeos,
Monossacarídeos e Polióis de Baixa Fermentação
(FODMAP), Dieta Mediterrânea (DM) e Dieta
As pessoas com DII consideram que sua dieta Anti-inflamatória para DII (DAI-DII) – são muito
é importante para controlar os sintomas e, discutidas.
frequentemente, questionam e querem obter A literatura clínica atual apoia a eliminação de
orientação adicional sobre este assunto. componentes prejudiciais e a incorporação de
Evitar alimentos ditos autoprescritos/por alimentos integrais pouco processados na dieta,
conta própria não previne recaídas, mas pode desde que orientadas por um profissional de saúde.

Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


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Nutrição Enteral Exclusiva (NEE)1,3 O impacto da NEE com fórmula polimérica com
TGF-β2, no microbioma intestinal está bem
O tratamento de primeira linha para a indução documentado, o que resulta na diversidade
da remissão da DC pediátrica leve a moderada bacteriana intestinal e nas taxas mais altas de
é a Nutrição Enteral Exclusiva (NEE), que é a
cicatrização da mucosa em comparação com
terapia nutricional mais estabelecida e baseada
os esteroides. Outros mecanismos potenciais
em evidências usada na DII.
pelos quais esta dieta induz a cicatrização
A NEE era tradicionalmente utilizada para
da mucosa incluem o efeito direto na via da
terapia nutricional em pacientes com DC
cascata inflamatória, hormônios como o fator
aguardando cirurgia. Ao longo dos anos, novas
de crescimento sérico semelhante à insulina 1
evidências surgiram sobre o uso da NEE na
(IGF-1) e o fator de crescimento transformador
indução e manutenção da remissão da DC. A
beta sérico (TGF-1). Todas essas alterações
NEE é classificada com base na composição dos
nutrientes: apoiam um efeito sistêmico anti-inflamatório,
• As dietas chamadas elementares e são postuladas para explicar a cicatrização
compreendem inteiramente aminoácidos e são da mucosa em pessoas que a utilizaram.
isentas de antígenos; Ocorre também melhora significativa nas
• Dietas chamadas de semielementares medidas laboratoriais, incluindo aumento
compreendem oligopeptídeos; da albumina e diminuição da velocidade de
• Dietas conhecidas como poliméricas hemossedimentação (VHS). Isso destaca
compreendem proteína íntegra derivada de o impacto de uma dieta regular na carga
alimentos como leite e ovos. inflamatória da DC.
O papel da NEE é mais conhecido na DC Um dos desafios da NEE é a adesão e a
pediátrica, como em crianças adolescentes, e tolerabilidade, especialmente em adultos.
foi recomendada como terapia de primeira linha
para indução de remissão na DC luminal pela Nutrição Enteral Parcial (NEP) e
Organização Europeia de Crohn e Colite. Dieta de Exclusão da Doença de
A terapia NEE é definida como o uso de uma Crohn (DEDC)1,4
fórmula polimérica com presença de TGF-β2
completa, com todos os nutrientes e com A Nutrição Enteral Parcial (NEP) é definida
presença de inúmeros estudos na DII como única pela ingestão alimentar de parte das calorias
ingestão alimentar durante 6 a 10 semanas. provenientes da fórmula polimérica com
TGF-β2 completa e o restante por alimentos
naturais, com melhora dos sintomas e
benefícios nutricionais. Ela é chamada
Foi demonstrado que leva à de enteral pois é registrada na ANVISA
remissão clínica e bioquímica em,
aproximadamente, 80% dos pacientes como fórmula enteral e oral, podendo ser
pediátricos com DC, com cicatrização administrada também via oral (pela boca).
endoscópica significativamente
melhorada da mucosa. Para compreender melhor o papel da dieta na
DC, a Dieta de Exclusão da Doença de Crohn
(DEDC) foi combinada com a NEP. A DEDC
Cerca de 73% de taxas de é uma dieta alimentar destinada a limitar
cicatrização de mucosa na ordem a exposição aos alimentos que se acredita
de 89%, em comparação com terem um impacto negativo no microbioma
corticosteroides.

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Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


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intestinal, alterarem a função da barreira


2ª FASE
intestinal ou induzirem inflamação do cólon.
Há uma ênfase geral em proteínas magras
É a fase de transição, e começa após as 6
de alta qualidade, amido resistente e fibras
semanas iniciais. Para melhorar a qualidade
moderadas, evitando, ao mesmo tempo, alto
teor de gordura, laticínios, alto teor de açúcar, e flexibilidade das refeições, os seguintes
aditivos artificiais e emulsificantes. A DEDC elementos dietéticos adicionais são
é combinada com quantidades variáveis de permitidos:
NEP ao longo do tempo, incluindo uma fase
de indução e manutenção. GLÚTEN CARNE VERMELHA

1ª FASE FEIJÃO ÓLEO DE PEIXE

Envolve um controle rigoroso durante Após o período de intervenção de 6


6 semanas. Alimentos promotores de semanas, espera-se observar algum alívio
inflamação que são ricos em açúcar e dos sintomas da DC. Nesta fase, uma dieta
gordura são excluídos. Durante esse período, mais rica em fibras, que inclui vegetais e
a tolerância e a intolerância alimentar são frutas, geralmente é permitida. Além disso, o
avaliadas. A fase inicial também restringe o número de produtos alimentícios na primeira
consumo de hortaliças e frutas, de modo a fase é aumentado, e a fórmula polimérica
limitar o consumo de fibra alimentar. com TGF-β2 completa é reduzida para 25%
da ingestão calórica diária.
EXEMPLO:
3ª FASE

150 a 200 g de peito de É a de manutenção, e inicia-se 12 semanas


frango + dois ovos + duas após o início do tratamento nutricional.
batatas + uma maçã + duas Alimentos que não são permitidos durante
as fases iniciais podem ser acomodados
bananas
com consumo intermitente e controlado.
= plano de refeição para o Esta fase não tem uma duração estipulada
dia inteiro. e é concebida como uma dieta saudável
sustentável e em longo prazo.

Os estudos demonstraram taxas de remissão


em crianças e adultos semelhantes às da
Associado ao consumo da fórmula NEE. Tanto a NEP associada à DEDC e à
NEE resultam em altas taxas de remissão e
polimérica com TGF-β2 que é completa
diminuição da inflamação em 6 semanas, sem
e deve fornecer 50% da ingestão
diferença significativa entre os grupos. A NEP
calórica, simultaneamente.
com a DEDC apresenta uma tolerabilidade
maior, quando comparada com a NEE.

Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


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A DCE é uma dieta que elimina carboidratos


A DEDC com a NEP pode ser usada como
complexos e os substitui por carboidratos
tratamento de resgate para pacientes com
Doença de Crohn que falharam na terapia simples, como os monossacarídeos. Os
biológica. Também é eficaz na indução carboidratos complexos não digeridos
e manutenção da remissão em adultos com
permanecem no intestino por períodos
Doença de Crohn leve à moderada.
prolongados, fornecendo substrato para
espécies bacterianas pró-inflamatórias,
Está associada a alterações significativas
aumentando a permeabilidade intestinal.
tanto no microbioma intestinal quanto no
Assim, a hipótese é que a DCE reduziria a
metaboloma. As conclusões da NEP com
inflamação intestinal e melhoraria a função da
DEDC apoiam o conceito de exclusão alimentar,
barreira intestinal. A dieta permite a inclusão
assistida por profissional de saúde especialista,
de carnes não processadas, carboidratos
para manter a remissão e oferecem uma opção
simples (monossacarídeos), todas as gorduras
alternativa e mais sustentável à NEE que torna
e óleos, queijos envelhecidos, iogurte sem
possível a intervenção nutricional na DII.
lactose e frutas e vegetais frescos, exceto
Dieta de Carboidratos alguns vegetais ricos em amido. No entanto,
Específicos (DCE)1,3 proíbe produtos lácteos, queijos de pasta
mole, adoçantes, exceto mel e grãos.
Na década de 30, o pediatra Dr. Sydney
Haas desenvolveu a Dieta de Carboidratos
Específicos (DCE) como tratamento para Contudo, a DCE é uma dieta restritiva com
pacientes com doença celíaca. benefícios pouco claros tanto na população
adulta quanto na pediátrica.
Tal dieta exclui:

Todos os grãos/cereais; Dieta de Oligossacarídeos,


Dissacarídeos, Monossacarídeos
Açúcares (exceto mel);
e Polióis de Baixa Fermentação
Alimentos processados; (FODMAP)1,3
FODMAPs consistem em moléculas que
Laticínios (além de iogurte
são mal absorvidas no intestino delgado
totalmente fermentado e alguns
e fermentadas por bactérias no cólon.
queijos duros).
Esses componentes não digeríveis nos
A DCE foi popularizada na década de 90, alimentos (oligossacarídeos, dissacarídeos,
depois que a filha de Elaine Gottschall foi monossacarídeos e polióis) potencialmente
tratada com sucesso para colite ulcerativa. provocam sintomas em, aproximadamente,
Embora o mecanismo de ação para a DCE 39% dos pacientes com DII, que reportam
não seja conhecido, levanta-se a hipótese os sintomas semelhantes à Síndrome do
de que a dieta diminui a inflamação Intestino Irritável (SII). A SII é um distúrbio
intestinal, alterando o microbioma fecal de gastrointestinal funcional caracterizado por
um estado pró-inflamatório para um estado uma constelação de sintomas, incluindo dor
não inflamatório. abdominal, distensão abdominal e diarreia.

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Alguns estudos em pacientes adultos com Doença propriedades anti-inflamatórias postuladas.


de Crohn e colite ulcerativa demonstraram Indivíduos adultos com DII seguindo a DM
que uma dieta pobre em FODMAPs reduziu os apresentaram diminuição do Índice de Massa Corporal
sintomas semelhantes aos da SII e aumentou a (IMC), da circunferência da cintura e redução da
qualidade de vida dos pacientes. esteatose hepática na ultrassonografia hepática.
Outros resultados foram associados à melhora
espontânea da atividade da doença, medida
​mbora a dieta pobre em FODMAPs
E
pelo Índice de Atividade da Doença de Crohn
altere o microbioma intestinal, não há (CDAI/IADC) e escore Mayo, diminuição da PCR
um impacto claro na diversidade do e da calprotectina fecal e melhora da qualidade
microbioma e não há qualquer impacto de vida na Doença de Crohn e colite ulcerativa.
nos marcadores de inflamação. Algumas semelhanças da DM são percebidas
por alguns profissionais, as quais podem ter
Os estudos sugerem que a dieta pobre em sido adaptadas para embasar a DEDC e NEP.
FODMAPs melhora os sintomas em pacientes
com DII com baixa ou nenhuma atividade Dieta Anti-inflamatória para DII
da doença, particularmente naqueles (DAI-DII)3
com SII concomitante. No entanto, até o A dieta anti-inflamatória para DII (DAI-DII) foi
momento, não há evidências que explorem criada para reduzir a inflamação no intestino
o papel da dieta pobre em FODMAPs na e, consequentemente, reduzir a frequência
indução ou manutenção da remissão na e a gravidade das crises da DII e manter a
DII ativa. Portanto, pode haver um papel remissão. Baseia-se na teoria de que certos
dessa dieta em pacientes com DII com carboidratos fornecem um substrato para que
sintomas persistentes apesar da remissão os micróbios patogênicos pró-inflamatórios
clínica, provavelmente devido ao seu efeito multipliquem no lúmen intestinal, iniciando e
nos sintomas gastrointestinais, e não na mantendo, assim, uma cascata de inflamação
inflamação intestinal. intestinal.

Dieta Mediterrânea (DM)1 A DAI-DII tem cinco componentes:

A Dieta Mediterrânea (DM) é caracterizada Modificação na ingestão de carboidratos;


por:
Ingestão de pré e probióticos;
Maior consumo de vegetais, frutas, cereais,
Modificação na ingestão de gordura;
nozes, legumes e gordura insaturada;
Revisão da ingestão alimentar, intolerância
Consumo moderado de peixe e laticínios; alimentar e nutrientes em deficiência;

Modificação das texturas dos alimentos


para melhorar a absorção de nutrientes e
Consumo reduzido de gordura saturada,
carne e doces. reduzir a fibra alimentar insolúvel.

A DM tem sido extensivamente estudada A dieta consiste em carnes magras, aves,


fora da DII e está associada a uma série peixes, eliminação de carboidratos específicos
de benefícios, incluindo diminuição de (carboidratos altamente processados ou
doenças cardiovasculares e câncer, devido às refinados, como a lactose),

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inclusão de pré e probióticos (cebola, alho- intestinal. Estudos apontam risco aumentado de
poró, vegetais fermentados, iogurte fresco desenvolver colite ulcerativa e Doença de Crohn
cultivado, kefir, missô, prebióticos solúveis com o consumo elevado de carne.
naturais, como banana, aveia e farinha de
O alto consumo de carne leva a uma
linhaça), modificação de gorduras (óleos
diminuição na oxidação dos Ácidos
vegetais, óleos ômega-3, gorduras totais
Graxos de Cadeia Curta (AGCC), o que
e saturadas reduzidas) e inclui uma gama leva à quebra do revestimento mucoso
limitada de produtos lácteos (iogurte, queijos do intestino, afinando, assim, a barreira
envelhecidos). Além disso, a dieta começa intestinal.
com texturas suaves e purê e progride,
gradualmente, para texturas mais sólidas A ruptura da barreira da mucosa intestinal, um
para melhorar lentamente a tolerância. importante mecanismo de proteção natural,
Para estudar essa dieta, os investigadores leva ao aumento da permeabilidade aos
ofereceram-na a 40 pacientes com DII, dos patógenos entéricos, o que pode aumentar a
quais apenas 24 a seguiram. Eles, então, inflamação intestinal.
revisaram retrospectivamente os registros dos Tem havido interesse na associação entre
pacientes (apenas 11 tinham dados completos gorduras alimentares e o risco de DII.
disponíveis). Destes 11 pacientes, 8 tinham As dietas ocidentais (que são vistas, em
Doença de Crohn e 3 tinham colite ulcerativa. sua maioria, como dietas não saúdaveis,
Todos os pacientes apresentaram melhora ricas em gorduras e açúcares e pobres em
nos índices de gravidade da doença desde o fibras e frutas), costumam ter uma grande
início até 1 a 4 semanas após a modificação da quantidade de ácidos graxos ômega-6,
dieta, e todos eles foram capazes de reduzir, como ácido araquidônico e ácido linoleico,
pelo menos, um medicamento relacionado à e uma baixa quantidade de ácidos graxos
DII. Porém, o estudo foi pequeno, foi uma série ômega-3, como ácido docosahexaenoico e
de casos, e menos da metade dos pacientes ácido eicosapentaenoico. Os ácidos graxos
que receberam a dieta tinha dados completos ômega-6 têm um efeito pró-inflamatório, que
disponíveis para análise. propaga os danos causados por uma barreira
Até que tais evidências de alto nível intestinal rompida.
estejam disponíveis, não se deve Sua ação pró-inflamatória é mediada por:
recomendá-las a pessoas com DII.
Disbiose intestinal, que permite
Componentes Dietéticos e um microambiente enriquecedor
Grupos Alimentares3,5 de bactérias patógenas;

Componentes dietéticos como carne vermelha,


várias gorduras e aditivos alimentares têm sido Regulação positiva de genes pró-
implicados na patogênese* da DII, enquanto inflamatórios;
outros, como a fibra alimentar, são considerados
protetores. O mecanismo por trás dessas associações
Diminuição na proporção de ácidos
observadas ocorre por meio da interrupção da biliares, ácido ursodesoxicólico e
barreira intestinal, que propaga a inflamação ácido desoxicólico.
* Patogênese é a palavra usada pela ciência para detalhar a origem e o desenvolvimento
de uma doença com todos os fatores incluídos nela. O termo patogênese vem do
grego “páthos”, que significa sofrimento, e “gênese”, que significa origem.

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Em contraste com o alto consumo de AGCC necessários para nutrir o microbioma


gordura e carne na dieta, o alto consumo intestinal e aumentar a barreira epitelial
de fibras e frutas diminui o risco de intestinal. A dieta pobre em gordura e rica
desenvolver Doença de Crohn, mas não a em fibras melhora a qualidade de vida,
colite ulcerativa. Essa diminuição do risco além de diminuir a disbiose intestinal e os
ocorre porque a fibra dietética fornece os marcadores de inflamação intestinal.

Figura 1. Envolvimento do papel da dieta na patogênese e tratamento da Doença de Crohn

EXACERBAÇÃO
Dieta rica em açúcar, rica
em gordura, pobre em Combine com
fibras e pró-inflamatória terapia médica

Fatores genéticos,
imunológicos e Baixo teor de açúcar e gordura, alto
ambientais teor de fibras, vitamina D e proteínas
de alta qualidade

Exclua e inclua periodicamente

DOENÇA REMISSÃO
DE CROHN

INTESTINO
SAUDÁVEL
Dieta
saudável

ESTÁVEL

Frutas e Vegetais5
Frutas e vegetais são um grupo diversificado A restrição dietética significativa de fibras leva
de alimentos que, geralmente, têm em a um maior consumo bacteriano de muco do
comum alto teor de fibras. As fibras não cólon, o que pode contribuir para a inflamação.
são digeridas no intestino delgado humano, Fibras solúveis específicas, incluindo banana
mas a maioria é fermentada por enzimas e brócolis, reduzem a adesão e translocação
bacterianas no cólon, tendo em vista que bacteriana pelo epitélio; a fibra também pode
as fibras solúveis se dissolvem mais rápido servir como substrato de crescimento para
do que as insolúveis. A fermentação produz importantes bactérias comensais produtoras
Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC), de AGCC. Estudos epidemiológicos sugeriram
como o butirato, que atuam como fontes de que os pacientes com DII consomem menos
carbono e energia para o epitélio do cólon. frutas e vegetais antes do início da doença,
A diminuição da produção de AGCC pode particularmente os pacientes com Doença
ocorrer em pacientes com DII ativa. de Crohn.

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Assim sendo, na Doença de Crohn, é


prudente recomendar consumo moderado Isso levou a alterações na
microbiota intestinal e, portanto,
a elevado de frutas e vegetais. Em pacientes
a um aumento do risco de
com doença estenosante sintomática ou desenvolver Doença de Crohn.
significativa, a ingestão de fibras insolúveis
deve ser restrita. Na colite ulcerativa,
Em estudos populacionais, bebidas com alto teor de
não não há evidências suficientes para
açúcar (seja sacarose ou frutose) podem agravar a
recomendar qualquer alteração ou restrição
DII, particularmente no contexto de uma dieta pobre
específica na ingestão de frutas e vegetais. em fibras. O consumo deve ser limitado mesmo
durante a remissão, pois exacerba os sintomas
Açúcar Refinado e Carboidratos4,5 gastrointestinais em pacientes com DII. Dietas
ricas em açúcar podem não aumentar os níveis de
Tanto na Doença de Crohn como na colite
marcadores de inflamação, mas podem alterar a
ulcerativa não há evidências suficientes para
abundância de microorganismos patogênicos nas
recomendar qualquer alteração específica na
fezes. Em contraste, dietas com baixo teor de açúcar
ingestão de carboidratos complexos. Pode ser
eliminam a patogênese da DII.
prudente usar uma dieta pobre em FODMAPs
quando os pacientes apresentarem sintomas Glúten e Trigo5
persistentes, apesar de não ocasionar
Os sintomas associados ao glúten são mais
alteração no processo da inflamação. comuns entre os pacientes com Doença de
Entretanto, uma outra posição na literatura Crohn estenosante ou mais grave e doença ativa.
atual aponta que uma dieta rica em açúcar, Não existem dados que indiquem que a cura da
incluindo dietas ricas em sacarose e mucosa pode ser alcançada pela restrição dietética.
frutose, correlaciona-se positivamente com a
Na Doença de Crohn e colite ulcerativa, não há
incidência e gravidade das DII. No entanto, a evidências suficientes para recomendar a restrição
associação entre ingestão de carboidratos e de trigo e glúten. Apenas indivíduos que tenham
DII não é relatada. real necessidade de restrição, recomendada pelo
Em estudos com animais, camundongos profissional de saúde, devem fazê-la, por isso que
alimentados com uma dieta rica em açúcar a indústria, por lei, deve sempre indicar se um
mostraram alterações pró-inflamatórias no produto contém ou não glúten.
cólon consistentes com Doença de Crohn:
Carne Vermelha, Carne
Aumento da permeabilidade Processada, Aves e Ovos5
intestinal; Os estudos apontam uma associação entre
a ingestão de carne vermelha e a incidência
Aumento dos níveis de
ou agravamento da colite ulcerativa. Por
lipopolissacarídeos séricos,
exemplo, um estudo francês com 67.581
uma endotoxina bacteriana e
condutora de inflamação. pessoas mostrou que a ingestão elevada
de proteína animal foi associada a um risco
significativamente aumentado de DII, Doença
de Crohn e colite ulcerativa.

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A ingestão de gorduras e especificamente de estágios iniciais da doença. Pelo contrário, o


ácido mirístico estava associada a crises. O consumo de dietas com baixo teor de gordura
consumo diário de peito de frango e dois pode diminuir os marcadores inflamatórios
ovos/dia durante 12 semanas foi associado fecais e a abundância bacteriana em
a altas taxas de remissão na Doença de pacientes com Doença de Crohn.
Crohn ativa, sugerindo que esses produtos
Gorduras Saturadas5
são seguros para consumo moderado como
Entre 412 pacientes com colite ulcerativa em
fonte de proteína na Doença de Crohn.
remissão clínica com mesalazina, apenas a
maior ingestão de ácido mirístico, um ácido
Gordura Total4,5 graxo saturado foi associada a um aumento na
Em pacientes adultos com colite ulcerativa, o probabilidade de exacerbação dentro de um
aumento do consumo de carne, especialmente ano.
carnes processadas, e enxofre foi associado Gorduras Insaturadas5
a um maior risco de recaída.
Ácidos Graxos Monoinsaturados (AGMIs)
​Existem 4 tipos de gorduras: A gordura monoinsaturada, incluindo ácido
palmitoleico e ácido oleico, é encontrada
em óleos vegetais, incluindo azeite, bem
ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS como em nozes de macadâmia. As fórmulas
suplementadas com ácido oleico (um tipo
de AGMI) ou ácido linoleico (um PUFA n-6)
ÁCIDOS GRAXOS MONOINSATURADOS
apontou que o ácido linoleico apresentava
taxas de remissão mais altas na Doença
ÁCIDOS GRAXOS POLI-INSATURADOS de Crohn.

A Dieta de Exclusão da Doença de Crohn


GORDURAS TRANS (DEDC) com Nutrição Enteral Parcial (NEP)
permite azeite ilimitado rico em AGMI, e
essa dieta foi associada à remissão clínica e
Uma dieta rica em gordura por 4 semanas
redução da inflamação.
resulta no aumento dos níveis de triglicérides,
colesterol e ácidos graxos livres no plasma Ácidos Graxos Poli-insaturados (AGPIs)
e na mucosa colônica, juntamente com mais Os alimentos ricos em AGPI n-3 incluem
citocinas pró-inflamatórias produzidas pela peixes marinhos como salmão, cavala e
mucosa intestinal e um aumento significativo arenque, bem como as sementes oleaginosas
na permeabilidade da barreira mucosa, o (como nozes, linhaça, cânhamo e sementes de
que agrava o estresse oxidativo na mucosa chia). Os estudos apontam uma diminuição
e, portanto, impulsiona rapidamente o não significativa na atividade da doença em
desenvolvimento de inflamação intestinal. pessoas diagnosticadas com colite ulcerativa
O efeito prejudicial dos ácidos graxos livres a que consumiram 600 mg de salmão
no intestino é referido como lipotoxicidade semanalmente durante 8 semanas. Pacientes
intestinal e é evidente mesmo durante os cujas dietas apresentam uma proporção maior

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de AGPI têm maior probabilidade de estar que o consumo prolongado de fibra alimentar
em remissão. diminuiu o risco da Doença de Crohn. Assim,
o aumento do consumo de fibra alimentar
​Gorduras Trans
poderia reduzir o risco da Doença de Crohn.
As gorduras trans são utilizadas em alimentos
A fibra alimentar, quando orientada de
industrializados com adição de gordura
forma individualizada pelo profissional de
parcialmente hidrolisada, para garantir, por
saúde, pode ajudar a reduzir:
exemplo, aumento do prazo de validades. Entre
os alimentos que apresentam gordura trans:
pipoca de micro-ondas, margarina, massas Ganho de peso
instantâneas, bolos prontos, salgadinho de
pacote, chocolates, sorvetes e biscoitos.
Diarreia e sangramento fecal
Estudos em pessoas recém-diagnosticados
com colite ulcerativa, comparados com
Além disso, retarda a liberação de fator de
indivíduos saudáveis, descobriram que o
necrose tumoral sérico-α. Acredita-se que
maior consumo de gorduras totais e gorduras
os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC)
trans está significativamente associado ao
desempenhem um papel importante nesse
aumento do risco de colite ulcerativa. A
processo. Os AGCC são metabólitos da
maior ingestão de gorduras trans em longo fibra alimentar que são quebrados pela
prazo demonstra uma tendência do aumento microbiota intestinal no intestino, e reduzem
da incidência de colite ulcerativa. Além disso, os defeitos da barreira intestinal e os níveis
acredita-se que as gorduras trans tenham de inflamação. Assim, uma maior ingestão de
outros efeitos deletérios à saúde. fibra alimentar ou AGCC pode prevenir a colite.
Assim, recomenda-se: Além disso, a fibra alimentar desempenha
um papel importante na manutenção da
• Na Doença de Crohn, deve-se reduzir a
homeostase intestinal, alterando a microbiota
exposição às gorduras saturadas e evitar
intestinal e metabólitos.
gorduras trans;
• Na colite ulcerativa, é aconselhável reduzir Já a falta de fibra alimentar pode:
o consumo de ácido mirístico (óleo de palma,
óleo de coco); Alterar as características do metaboloma da
microbiota intestinal, causando desvio na resposta
• É prudente aumentar o consumo alimentar imune intestinal à inflamação, rompimento da
de ácidos graxos ômega-3 (DHA e EPA) e integridade da barreira mucosa intestinal e
evitar gordura trans. tornando a mucosa intestinal mais suscetível à
indução de colite;

Além disso, torna os indivíduos mais suscetíveis


aos patógenos intestinais. Vale ressaltar que a
fibra alimentar aumenta a irritação mecânica do
Fibra Alimentar4 intestino.
A ingestão diária de alimentos ricos em
É por isso que a ingestão de fibra alimentar
fibras, como vegetais e frutas, é necessária
deve ser evitada durante as fases iniciais da
para atender às necessidades diárias defibra ativação da doença. Depois que os sintomas
alimentar. Um estudo de 26 anos, incluindo do paciente melhoram, a ingestão de fibra
aproximadamente 200.000 pessoas, mostrou alimentar pode ser aumentada.

Realização e apoio:

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Vitamina D 4
Acredita-se que a vitamina D esteja envolvida adicionados e açúcar em refrigerantes
em processos como diferenciação de células com um aumento da DII. O consumo
imunes, regulação da microbiota intestinal, de adoçantes artificiais aumenta os
transcrição de genes e manutenção da marcadores inflamatórios no sistema
integridade da barreira intestinal. gastrointestinal. A utilização da
maltodextrina ocasiona maior formação
A vitamina D pode prevenir o desenvolvimento
de biofilme celular de cepas de E. coli, que
da DII por meio de seus efeitos na função
aderem às células epiteliais intestinais e
de barreira e na homeostase da microbiota
imitam as formações densas de biofilme
intestinal e pode melhorar a progressão
encontradas no intestino de pacientes
da doença pelas respostas imunes anti-
com Doença de Crohn. Os adoçantes
inflamatórias.
artificiais comuns e a maltodextrina
Maltodextrina e Adoçantes induzem alterações na microbiota
Artificiais5 intestinal que são semelhantes às
observadas na DII.
A maltodextrina é um amido hidrolisado
e um polissacarídeo dietético comum Dessa forma, pode ser prudente limitar
que pode ser usado como espessante a ingestão de alimentos que contenham
para alimentos e na confeitaria. Existe, maltodextrina e adoçantes artificiais,
por exemplo, no mercado, um adoçante tanto na Doença de Crohn quanto na
artificial, que é composto por 1% de colite ulcerativa.
sucralose e, aproximadamente, 99% de
maltodextrina.

Emulsificantes e Espessantes
O aumento do consumo de
adoçantes artificiais nas É comum a adição de emulsificantes aos
últimas décadas é paralelo alimentos processados, com o fim de melhorar
ao aumento da incidência de
a textura e a qualidade dos alimentos.
casos de DII.
Contudo, pode ser prudente reduzir a
ingestão de alimentos processados que
Essa tendência é semelhante ao aumento contenham carragenina, carboximetilcelulose
da disponibilidade de maltodextrina e polissorbato-80 em pacientes com DII, visto
na dieta. que existem dados epidemiológicos que
Vários estudos epidemiológicos apoiam uma associação entre as exposições
correlacionaram o consumo de adoçantes destes emulsificantes e a incidência de DII.5

Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


MANUAL DE NUTRIÇÃO NAS DIIS

Nanopartículas e Sulfitos5 ou alimentos ricos em maltodextrinas,


adoçantes artificiais contendo sucralose ou
Os sulfitos, por exemplo, são usados para
sacarina e alimentos processados contendo
conservar:
nanopartículas.
Vinho e cerveja
Na colite ulcerativa, recomenda-se o aumento
do consumo de produtos naturais fontes de
Suco de limão comercial ácidos graxos ômega-3. Os alimentos que os
pacientes com colite ulcerativa devem evitar
são semelhantes aos da Doença de Crohn,
Vinagres
com possível adição de carne vermelha e
processada (Figura 2).
Frutas secas ou enlatadas Não houve evidências suficientes para
recomendar mudanças no consumo de
Carnes processadas frutas ou vegetais para pacientes com colite
ulcerativa. Para pacientes com Doença
Quando usados como conservantes, de Crohn ou colite ulcerativa, não houve
geralmente, não são nanopartículas, mas evidências suficientes para recomendar
podem sê-lo quando usados em outras mudanças no consumo de trigo ou glúten,
formulações, como sulfito de ferro. aves, bebidas alcoólicas, desde que não
seja o consumo excessivo de álcool (na
Contudo, também pode ser prudente reduzir
ausência de outras doenças hepáticas) e
a exposição a alimentos processados que
açúcares refinados.
contenham dióxido de titânio e sulfitos em
pacientes com DII, visto que podem aumentar
a inflamação intestinal ou mesmo prejudicar Nenhuma dessas recomendações
a função da barreira intestinal. pretende excluir o papel da nutricionista
Essas orientações nutricionais da Organização para avaliação nutricional da desnutrição
Internacional para o Estudo das Doenças e da correção de deficiências
Inflamatórias Intestinais (IOIBD) baseiam-se nas nutricionais quando necessário.
melhores evidências disponíveis até o momento.
As recomendações visam reduzir os
Para pacientes com Doença de Crohn,
sintomas e a inflamação. Para pacientes
recomenda-se:
com sintomas persistentes, apesar da
Ingestão regular de frutas e vegetais (na resolução da inflamação e ausência de
ausência de estenoses sintomáticas); estenoses, uma dieta baixa em FODMAP
ou sem lactose pode melhorar os sintomas.
Redução da ingestão de gordura saturada,
trans, aditivos como polissorbato-80 e
carboximetilcelulose, laticínios processados

Realização e apoio:

Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


Material elaborado pela Nutricionista Izabel Lamounier

Figura 2. Recomendações Nutricionais da Organização Internacional para o


Estudo da Doença Inflamatória Intestinal (IOIBD)
ALIMENTOS QUE CONTENHAM
É PRUDENTE AUMENTAR OS

VEGETAIS FRUTAS ÓLEOS ÔMEGA 3 DE PEIXES E ALIMENTOS


ALIMENTOS QUE CONTENHAM

Recomendações para Recomendações para colite ulcerativa


Doença de Crohn
É PRUDENTE DIMINUIR

• Carne vermelha, carnes processadas


• Gordura saturada e trans
• Gordura láctea, óleo de palma e coco
• Emulsificantes
• Gordura saturada e trans
• Carrageninas
• Emulsificantes
• Adoçantes artificiais
• Carrageninas
• Maltodextrinas
• Adoçantes artificiais
• Dióxido de titânio
• Maltodextrinas
• Dióxido de titânio

Estilo de Vida e DII6


Vários fatores do estilo de vida podem Em pacientes com DII estabelecida, esses
modificar o risco de desenvolver DII, fatores de estilo de vida podem afetar
incluindo: significativamente a história natural e os
resultados clínicos. O exercício recreativo
ATIVIDADE FÍSICA diminui o risco de exacerbação e fadiga em
E OBESIDADE
pacientes com DII.

Em contraste, a obesidade:
ESTRESSE
Aumenta o risco de recaída;

Está associada a maior ansiedade, depressão,


SONO fadiga e dor e maior utilização de cuidados
de saúde;

Modifica desfavoravelmente a farmacocinética


TABAGISMO dos agentes biológicos e está associada a um
maior risco de falha do tratamento.

Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


MANUAL DE NUTRIÇÃO NAS DIIS

A perturbação do sono é altamente prevalente O objetivo é alcançar resultados mais


em pacientes com DII, independentemente duradouros e benéficos na mudança do
da atividade da doença, e aumenta o risco de comportamento alimentar do paciente.
recaída e fadiga crônica. Da mesma forma, o Tudo isso se baseia na ideia de que a
estresse, percebido em eventos importantes personalização e o aconselhamento
da vida, pode desencadear exacerbação nutricional alcançarão melhores resultados
do que as abordagens genéricas
sintomática em pacientes com DII, embora
disponíveis, levando assim a mudanças de
seu impacto na inflamação não seja claro.
estilo de vida em longo prazo. Ademais,
O tabagismo está associado a desfechos este aconselhamento personalizado
desfavoráveis, incluindo risco de demonstrou ser superior à abordagem
dependência de corticosteroides, cirurgia convencional. A nutrição de precisão é
e progressão da doença em pacientes com um passo em frente a um caminho para
Doença de Crohn; em contraste, fumar não fornecer aconselhamento nutricional
afeta significativamente os resultados em individual, mais benéfico para o paciente.
pacientes com colite ulcerativa, embora Isso mostra o relacionamento entre a
alguns estudos sugiram que possa estar pessoa individual, seu fenótipo e consumo
alimentar específico. Para aplicar essas
associado a um menor risco de exacerbação.
ideias, as tecnologias recentemente
desenvolvidas continuarão a ganhar
importância e a ajudar imensamente no
O efeito do uso de álcool e cannabis processo de tomada de decisão.
em pacientes com DII é inconsistente,
com alguns estudos sugerindo que a As duas principais alavancas são:
cannabis pode diminuir a dor crônica
em pacientes com DII, sem um efeito Nutrigenética: tenta compreender
significativo de remissão biológica. as várias respostas fenotípicas a
uma dieta específica e como estão
relacionadas ao genótipo individual.

Embora esses fatores de estilo de vida


sejam potencialmente modificáveis, apenas Nutrigenômica: o foco é a forma
alguns estudos de intervenção foram como os nutrientes afetam a
expressão genética.
conduzidos.

Nutrição Personalizada7 Na medicina de precisão, há uma tentativa


A nutrição personalizada é um tipo para compreender as respostas diferenciais
de abordagem em que características às dietas e nutrientes com base em perfis
individuais, como idade, sexo e o estado da genéticos, epigenéticos e microbianos
microbiota intestinal, são usados para refinar intestinais.
o aconselhamento nutricional e torná-lo mais Assim, o grau de compreensão biológica
adequado para cada paciente. pode orientar para um aconselhamento

Realização e apoio:

Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


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nutricional adequado, bem como melhorar incluem avaliar o estado nutricional e evitar
a compreensão de como e quais nutrientes deficiências nutricionais.
e componentes não nutricionais específicos A capacidade de elaborar um plano

podem desencadear uma resposta de dieta ideal para um paciente
inflamatória intestinal quando encontrados individualizado, provavelmente, será mais
com certas cepas específicas de bactérias eficaz no tratamento. Aumentará a
intestinais e transformar isso na chave para adesão, pois as estratégias personalizadas
aconselhamento pessoal em DII. As mudanças são mais bem percebidas pelos pacientes
no padrão alimentar devem ser feitas após e são menos restritivas. Avanços
uma análise minuciosa de comportamentos, significativos na nutrição personalizada e
preferências, barreiras e objetivos. sua incorporação em avaliações precisas
Os objetivos da nutrição personalizada de saúde na DII são esperados no futuro.

DIRETRIZES ATUAIS8
Antes de uma prescrição dietética, o profissional de saúde deve levar em consideração as
diretrizes atuais da Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN), que
dentre inúmeras recomendações importantes, vinte são apresentadas a seguir:

1
Uma dieta rica em frutas e vegetais, rica em ácidos 7
A suplementação de ferro deve ser recomendada
graxos n-3 e pobre em ácidos graxos n-6 está em todos os pacientes com DII quando houver
associada a um risco reduzido de desenvolver DII anemia por deficiência de ferro. O objetivo da
e, portanto, é recomendada. suplementação de ferro é corrigir a anemia e
normalizar os estoques de ferro.
2
Alimentos ultraprocessados ​​ e emulsificantes
dietéticos, como carboximetilcelulose, podem 8
Todos os pacientes com DII devem receber
estar associados a um risco aumentado de DII e, aconselhamento individual por um nutricionista
portanto, geralmente, tais exclusões podem ser como parte da abordagem multidisciplinar para
recomendadas. melhorar a terapia nutricional e evitar desnutrição
e distúrbios relacionados à nutrição.
A amamentação deve ser recomendada porque é
3 9
Não existe uma “dieta oral para DII” que possa
o alimento ideal para bebês e reduz o risco de DII. ser geralmente recomendada para promover
a remissão em pacientes com DII com doença
4
Em geral, a oferta de energia deve ser de 30 a 35 ativa, o profissional de saúde deve avaliar cada
kcal/kg/dia, uma vez que as necessidades particularidade e necessidade do seu paciente de
energéticas dos pacientes com DII são forma individualizada levando em consideração
semelhantes às da população saudável. evidências científicas.

Os requisitos de proteína estão aumentados 10 A dieta de exclusão da DEDC + NEP deve ser
5 considerada como uma alternativa à NEE em pacientes
na DII ativa, e a ingestão deve ser aumentada
(para 1,2 – 1,5 g/kg/d em adultos), na fase de pediátricos (crianças e adolescentes) com Doença de
remissão geralmente não são elevadas e o Crohn leve a moderada para alcançar a remissão.
fornecimento deve ser semelhante (cerca de 1 g/ Em pacientes adultos, uma DEDC pode ser
kg/d em adultos) em relação ao recomendado na 11
considerada com ou NEP em Doença de Crohn
população em geral. ativa leve a moderada.

6
Pacientes com DII devem ser examinados Pacientes com DII (adultos e crianças) com doença
12
regularmente quanto a deficiências de ativa, sob tratamento com corticosteroides ou
micronutrientes, inclusive na fase de remissão, e com suspeita de hipovitaminose D, devem ser
déficits específicos devem ser adequadamente monitorados quanto ao nível sérico de 25(OH)
corrigidos. vitamina D e, se necessário, suplementação de
cálcio/vitamina D deve ser prescrita para prevenção
de baixa densidade mineral óssea.

Este é um material informativo e não substitui as recomendações e orientações do profissional de saúde.


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13
Se a alimentação oral não for suficiente, a Nutrição 17
Em pacientes com colite ulcerativa, probióticos
Enteral (NE) pode ser considerada como terapia selecionados ou preparações contendo probióticos
de suporte. NE com evidências cientificas que podem ser usados ​​como uma alternativa à terapia
comprovem seu benefício na DII, geralmente, tem padrão com ácido 5-aminossalicílico (5-ASA)
preferência sobre Nutrição Parenteral (NP), a menos caso este não seja tolerado para o tratamento de
que seja totalmente contraindicada. doença ativa leve ou moderada.

14
A NEE é eficaz e pode ser recomendada como Na bolsite, probióticos multiespécies podem ser
18
primeira linha de tratamento para induzir a considerados para prevenir esse processo.
remissão em crianças e adolescentes com Doença
de Crohn ativa leve. Fique atento às fórmulas e às
evidências do uso. 19
Aqueles que têm DII devem seguir os princípios
de padrões alimentares saudáveis e​​ evitar gatilhos
A NE (dieta polimérica) deve ser empregada para nutricionais individuais. Se problemas clínicos
15
terapia nutricional primária e de suporte em DII particulares ainda estiverem presentes durante a
ativa. fase de remissão, a dieta deve ser ajustada.

16
Os probióticos não devem ser recomendados Em todos os pacientes com DII, o treinamento
20
para tratamento da Doença de Crohn, nem para de resistência deve ser encorajado. Em pacientes
tratamento de doença ativa, nem para prevenção com DII com diminuição da massa muscular e/ou
de recidiva na fase de remissão ou recorrência desempenho muscular, atividade física apropriada
pós-operatória da doença. (principalmente treinamento de resistência) deve
ser recomendada.

CONCLUSÃO

A nutrição no cuidado dos pacientes utilização de terapias nutricionais requer


com DII é fundamental para melhorar uma discussão cuidadosa.
os resultados. Compreender e definir Os pacientes devem ser acompanhados
melhor as intervenções nutricionais para por um nutricionista e ter objetivos
a indução da remissão e manutenção da e expectativas claramente definidos.
DII é fundamental para o refinamento Se a dieta está sendo usada como
da medicina personalizada. A pesquisa intervenção primária, como NEE, NEP
atual apoia dietas terapêuticas na DII. com DEDC ou DCE, ou como intervenção
Apesar disso, as terapias nutricionais secundária, como Dieta Mediterrânea, o
não são rotineiramente integradas no desenvolvimento de um plano específico
atendimento ao paciente. Tal como para o paciente é essencial.
acontece com a intervenção médica, a

Referências: 1. Reznikov EA, Suskind DL. Current Nutritional Therapies in Inflammatory Bowel Disease: Improving Clinical
Remission Rates and Sustainability of Long-Term Dietary Therapies. Nutrients. 2023; 15:668-79. 2. Bonsack O, et al. Food
avoidance and fasting in patients with inflammatory bowel disease: Experience from the Nancy IBD nutrition clinic. United
European Gastroenterol J. 2023; 1–10. 3. Saha S, Patel N. What Should I Eat? Dietary Recommendations for Patients with
Inflammatory Bowel Disease. Nutrients. 2023; 15: 896-907. 4. Xu D, et al. Progress and Clinical Applications of Crohn’s Disease
Exclusion Diet in Crohn’s Disease. Gut Liver. 2023; https://doi.org/10.5009/gnl230093. 5. Levine A, et al. Dietary Guidance
From the International Organization for the Study of Inflammatory Bowel Diseases. Clin Gastroenterol Hepatol. 2020; 18:
1381–1392. 6. Rozich JJ, et al. Effect of Lifestyle Factors on Outcomes in Patients with Inflammatory Bowel Diseases. Am J
Gastroenterol. 2020; 115(6): 832–840. 7. Grudeva L, Petrova A, Gancheva D. A Personalized Diet Plan For Inflammatory Bowel
Disease. Current Evidence And Future Insights. Scripta Scientifica Medica. 2023; 55(1):83-88. 8. Bischoff SC, et al. ESPEN
guideline on Clinical Nutrition in inflammatory bowel disease. Clinical Nutrition. 2023; 42:352-379.

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ENTENDENDO MELHOR OS SINTOMAS
Os sintomas da DII variam de leves a severos, podendo até
desaparecer ou diminuir durante as remissões.
E, para conhecer melhor esses sinais e sintomas em pacientes
brasileiros, a Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e
Doença de Crohn (ABCD1) fez uma pesquisa e coletou os
seguintes resultados:

1.261 PARTICIPANTES

46%
têm entre 35 e 65 anos
68%
do sexo feminino
56,5%
com Doença de Crohn

SINAIS E SINTOMAS MAIS RELATADOS PELOS PACIENTES


ANTES E APÓS DIAGNÓSTICO:

DIARREIA DOR CÓLICAS CANSAÇO/ PERDA DE


ABDOMINAL FADIGA PESO

+ de 38% disseram sofrer perda


de peso no último ano.

! É SUPERIMPORTANTE FICAR ATENTO(A) E


CONVERSAR COM SEU PROFISSIONAL DE SAÚDE.

Referência: 1. ABCD em Foco. ED_72.pdf. Disponível em: (abcd.org.br). Ano XXI nº72 | 2021.

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