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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO

NUTRICIONAL PARA PACIENTES


COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 3
Objetivo da disciplina 3
Objetivos específicos 3
Habilidades e competências a serem alcançadas
3
Ementa da disciplina 3
Bibliografia básica da disciplina 4

1 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL


7
Educação e aconselhamento nutricional 8
Sugestões de técnicas e ferramentas sobre
educação e aconselhamento nutricional 10
Estratégias comportamentais para maior adesão à
conduta nutricional 13
Modelo transteórico da mudança comportamental
19

2 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL


PARA PACIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA
25
Estudos sobre educação e aconselhamento para
pacientes com doença renal crônica 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Objetivo da disciplina

Abordar aspectos sobre educação e aconselhamento


nutricional para pacientes com doença renal crônica.

Objetivos específicos

 Abordar técnicas de educação e aconselhamento nutricional.


 Apresentar os estudos científicos vinculados ao tema no
contexto da doença renal crônica.

Habilidades e competências a serem alcançadas

Compreender técnicas e estratégias de educação e


aconselhamento nutricional com foco em pacientes com doença renal
crônica.

Ementa da disciplina

Discutir aspectos sobre educação e aconselhamento


nutricional, bem como apresentar estudos vinculando o tema no
contexto da doença renal crônica. As informações incluídas na

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apostila são baseadas em estudos científicos, diretrizes de órgãos


renomados na área e opiniões de especialistas.

Bibliografia básica da disciplina

Cuppari, L.; Avesani, C.M.; Kamimura, M.A. Nutrição na doença


renal crônica. Manole, 1° Ed., 2013.

Alvarenga, M., Figueiredo, M., Timerman, F.; Antonaccio, C.


Nutrição comportamental. 2ª Ed. São Paulo: Manole. 2019.

Cuppari, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar da


EPM-UNIFESP: Nutrição clínica no adulto. 4ª ed. Manole: São
Paulo, 2018.

Cuppari, L. Nutrição nas doenças crônicas não-


transmissíveis. 1ª ed. Manole: São Paulo, 2009.

Cozzolino, SMF; Cominetti, C. Livro: Bases bioquímicas e


fisiológicas da nutrição, nas diferentes fases da vida, na
saúde e na doença. Ed. Manole, 2ª edição, 2020.

Zambeli, C.M.S.F. et al. Diretriz BRASPEN de Terapia


Nutricional no Paciente com Doença Renal. BRASPEN J
2021; 36 (2o Supl 2): 2-22.

Ikisler, T.A. et al. KDOQI Clinical Practice Guideline for


Nutrition in CKD: 2020 Update. AJKD, vol 76, iss 3, suppl 1,
September 2020.

Pereira, R.A. et al. Diet in Chronic Kidney Disease: an


integrated approach to nutritional therapy. Rev Assoc Med
Bras 2020; 66(SUPPL 1):S:59-S67.

Kistler, B.M. et al. The International Society of Renal Nutrition


and Metabolism Commentary on the National Kidney
Foundation and Academy of Nutrition and Dietetics KDOQI

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Clinical Practice Guideline for Nutrition in Chronic Kidney


Disease. J Ren Nutr. 2021.

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1 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO
NUTRICIONAL

Introdução devidamente explicadas ao


paciente.
A educação e o
aconselhamento nutricional Nesse cenário, percebe-
devem ser pilares do se que para todo e qualquer
tratamento nutricional. Isso paciente, é necessário reservar
porque há evidências de que a momentos do tratamento para
adesão à conduta nutricional é dedicar à educação e ao
maior quando o paciente aconselhamento nutricional.
compreende o porquê aplicar
cada estratégia e a importância Essa postura é ainda
dessas para a sua saúde. mais importante em casos
Inclusive, é aconselhado pelo graves, onde a não adesão à
Conselho Federal de conduta nutricional pode trazer
Nutricionistas (CFN) que as repercussões drásticas, como
estratégias e condutas no caso de pacientes com
nutricionais sejam doença renal crônica.

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Como abordado em desconhecem que a não adesão


outros materiais desse curso, os ao tratamento nutricional pode
pacientes com doença renal causar a evolução precoce da
crônica necessitam aderir a doença, levando à necessidade
estratégias nutricionais de terapia dialítica ou
rigorosas em determinados transplante renal.
momentos do tratamento,
como restrição proteica no Com base no exposto,
tratamento conservador, fica clara a importância de
restrição de sódio, potássio e estimular a educação e o
fósforo no caso de alterações no aconselhamento nutricional
metabolismo desses nutrientes, para pacientes com doença
restrição hídrica especialmente renal crônica. Discutir sobre
no tratamento dialítico, dentre educação e aconselhamento
várias outras. nutricional é justamente o
objetivo da presente seção.
Nesse contexto, se o
paciente não compreender a Educação e
importância de aderir a essas aconselhamento
estratégias e o impacto que a nutricional
não adesão delas pode causar
na sua saúde (incluindo na A educação e o
evolução da doença), aconselhamento nutricional
dificilmente haverá sucesso no compreendem técnicas e
tratamento, repercutindo em estratégias com fins de instruir
um pior prognóstico. o paciente sobre aspectos
vinculados à nutrição.
Apesar da relevância do
tema, estudos indicam que Normalmente, instrui-se
alguns pacientes com doença o paciente acerca da conduta
renal crônica não nutricional de acordo com a sua
compreendem a importância de condição clínica (exemplo:
aderir a essas estratégias, bem explicar a importância da
como não têm discernimento de restrição proteica para um
que a não aplicação dessas paciente em tratamento
condutas aumenta o risco de conservador, da restrição de
morbidade e de mortalidade. potássio para um paciente com
Alguns pacientes, inclusive, hipercalemia, da restrição

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hídrica e de sódio para um compartilhamento de


paciente com ganho excessivo informações oralmente etc.
de peso entre as sessões
dialíticas etc.) Há ainda outras formas
atuais e inovadoras, como
Além disso, pode-se atividades na consulta ou
trazer informações que “deveres de casa” e jogos
favoreçam a autonomia do (tendência chamada de
paciente, como explicação de “gameficação”). É importante
rótulos alimentares, como que se entenda que não há um
montar um prato de forma único modo de promover
equilibrada, dicas para não educação e aconselhamento
exagerar em eventos festivos nutricional, podendo variar de
etc. acordo com a criatividade do
profissional e a interação com o
Alguns profissionais paciente.
ainda se aprofundam nas
discussões de educação e Além disso, não se deve
aconselhamento nutricional, estabelecer um padrão de
abordando temas básicos sobre educação e aconselhamento
nutrição, como o que são nutricional, pois os pacientes
macronutrientes e têm perfis diferentes e
micronutrientes, qual a sua aprendem de formas diversas. É
importância, quais as fontes importante que o profissional
alimentares, dentre outros analise a sua relação com o
assuntos. paciente e escolha um método
que seja mais assertivo ao caso.
Essas informações A seguir serão apresentadas
podem ser transmitidas usando algumas estratégias para tal.
ferramentas diferentes, como
apresentação de Power Point, Independente do modo
exercício prático (exemplo: que a educação e o
leitura de rótulos), entrega de aconselhamento nutricional
materiais impressos (exemplo: serão estabelecidos, é
folders) ou de materiais digitais necessário que eles estejam
(exemplo: e-books), roda de presentes no tratamento
conversa com outros pacientes, nutricional. É interessante que
em todas as consultas seja

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reservado um momento para como apresentações simples e


tal. Além da aplicação de didáticas no Power Point.
técnicas, é necessário Nesse caso, sugere-se a inclusão
questionar o paciente de figuras e recursos visuais,
constantemente se há dúvidas, evitando o excesso de textos, de
de modo que ele não saía da modo a evitar uma
consulta com questionamentos apresentação monótona.
não respondidos.
Caso o profissional não
Sugestões de técnicas e queira aplicar essa estratégia,
ferramentas sobre pode-se transmitir as
educação e informações na forma de uma
aconselhamento conversa, mas é preciso
nutricional organizar de forma lógica os
assuntos que se quer abordar e
Uma ferramenta que se garantir que o paciente foi
pode utilizar é uma entrevista capaz de assimilar o conteúdo.
com o paciente, o questionando Nesse caso, pode-se fazer
sobre o que ele sabe acerca de algumas perguntas no final da
determinado assunto, exemplo: conversa para verificar se o
o que um paciente com doença paciente conseguiu
renal crônica sabe sobre as compreender os pontos chave.
estratégias nutricionais Caso não queira fazer perguntas
aplicadas nesse contexto. para não constranger o
paciente, pode-se elencar
É interessante também alguns dos pontos mais
questionar ao próprio paciente importantes da conversa e
o que ele gostaria de saber, reforça-los no final. Além disso,
quais assuntos vinculados à é essencial destinar um
nutrição o interessam e quais as momento para tirar dúvidas, de
formas ele gostaria de receber modo que o paciente não saía
esses conteúdos (textos, dicas com questionamentos não
práticas, conversas, vídeos etc.) respondidos.

A partir daí, pode-se É muito comum a


elaborar materiais para tornar a entrega de materiais impressos
educação e o aconselhamento ao paciente, como textos, livros,
nutricional mais dinâmicos, revistas etc. Nesse caso, sugere-

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se evitar o excesso de conteúdo for após a entrega, pode-se


escrito, para que isso não seja solicitar que o paciente leia o
um empecilho para pacientes material para discutir com o
que não têm o hábito de ler ou profissional na próxima
que não têm tempo. Outra dica oportunidade.
importante é evitar o excesso de
termos técnicos. A linguagem Evidências indicam que
deve ser simples e direta, sem a uma das principais formas de
inclusão de palavras de difícil aprendizado é a prática de
entendimento ou de textos exercícios. Nesse cenário,
longos sem necessidade. atividades práticas são bastante
bem-vindas quando o objetivo é
Mesmo com a entrega de promover educação e
materiais impressos, é preciso aconselhamento nutricional.
explica-los ao paciente. Isto é, Um exemplo é a leitura de
não basta apenas entregar os rótulos, em que se pode levar
materiais ao paciente e inferir vários rótulos ao consultório,
que ele adquirirá aquele ensinar o paciente a ler um
conhecimento. É necessário deles e depois solicitar que o
explicar ao paciente as paciente leia os outros sozinho,
informações de forma oral, o estimulando com perguntas
ressaltar os pontos principais e (exemplo: o que significa essa
garantir que houve o porcentagem, qual é o
entendimento deles. Consegue- ingrediente mais presente na
se perceber que os materiais formulação etc.)
impressos são um
complemento da educação e do No que concerne aos
aconselhamento nutricional, pacientes com doença renal
mas não devem ser aplicados de crônica, essa é uma atividade
forma isolada, pois há grandes interesse quando é preciso
chances de o paciente não ler o restringir a oferta de
material ou não o compreender. determinados nutrientes, como
sódio e proteínas. Assim, pode-
Uma alternativa é ter se ensinar o paciente a avaliar
uma conversa com o paciente quando os alimentos são ricos
sobre os pontos mais ou pobres nesses nutrientes,
importantes antes ou após a utilizando-se como base as
entrega do material escrito. Se porcentagens dos valores

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diários (VD) dos rótulos Para que se crie uma


alimentares. conexão entre os pacientes, é
preciso deixá-los falar sobre as
Outra ferramenta é a suas experiências, os seus
roda de conversas com entendimentos, as suas
pacientes que enfrentam expectativas etc. Isso tende a
desafios semelhantes. No caso gerar empatia entre os
de pacientes com doença renal pacientes e fortalecer o elo de
crônica, pode-se reuni-los e confiança e respeito entre eles.
discutir sobre temas Quanto mais o paciente se
importantes, como mitos e sentir acolhido e representado,
verdades sobre a conduta mais ele tende a encontrar
nutricional na doença renal apoio no grupo e mais fácil
crônica, bem como assuntos tende a ser a adesão ao
importantes para esse público, tratamento proposto.
exemplo: perda de massa
muscular, hipercalemia, Uma questão
restrição proteica e hídrica etc. importante ao se trabalhar em
grupo é escolher um público
É importante sempre que tenha problemas
apontar soluções e alternativas, semelhantes, por exemplo:
caso contrário o paciente pacientes com doença renal
entenderá que a doença só traz crônica. Quanto mais parecidos
impedimentos e pode ficar forem os casos, mais efetivas
desestimulado. É interessante tendem a ser as estratégias
mostrar que, mesmo com as aplicadas. Imagine que um
limitações, o paciente pode ter grupo tem características em
uma dieta saudável e prazerosa. comum – conversar com esse
grupo torna-se mais fácil, pois
As conversas e eles enfrentam os mesmos
interações em grupo parecem problemas, tendem a ter os
ser bastante efetivas, sendo que mesmos interesses e as mesmas
evidências indicam que há mais curiosidades. Contudo, se esse
sucesso na abordagem coletiva, grupo for muito diferente,
quando em comparação com a exemplo: uma criança com
individual, pois no grupo os diabetes mellitus tipo I, um
pacientes encontram apoio uns adulto com dislipidemia e um
nos outros. idoso com doença renal crônica,

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mais difícil se torna a Outra sugestão é que se


comunicação entre eles, pois os tenham datas definidas sobre o
temas de interesse são muito início e o final das atividades
variados e as situações muito em grupo, senão os pacientes
diversas, o que dificulta o podem ficar desestimulados
estabelecimento de um elo de por não ter um panorama geral
empatia e pode levar ao do tratamento.
desinteresse no grupo.
Outras atividades que
Outro ponto importante podem ser feitas em grupo,
quando se trabalha com grupos além das rodas de conversa,
é sempre motivar a ida aos são: envio de materiais e dicas
encontros, especialmente se em grupos de WhatsApp ou em
eles forem presenciais. Há uma outros aplicativos de
tendência de os indivíduos comunicação, aulas de
desistirem do grupo ao longo do culinária, palestras sobre
tratamento. Nesse cenário, é assuntos importantes, palestras
relevante que se tenha um com convidados (exemplo:
cronograma interessante ao médico, enfermeiro,
público, com atrações que farmacêutico), entre outros.
chamem a sua atenção. O
contato próximo com os Mais uma vez, é
membros do grupo, atividades importante se ter em mente que
diferentes e atrativas (evitando não há uma única forma de
monotonia de atividades, por estabelecer a educação e o
exemplo: sempre fazer aconselhamento nutricional.
palestras) e criar expectativa Quanto mais criativo, melhor. A
nos participantes podem ser ideia é testar as estratégias e
estratégias para manter a selecionar quais são as mais
adesão do grupo. efetivas, lembrando que nem
todas as estratégias
Sempre que possível, funcionarão com todos os tipos
sugere-se que os membros do de paciente, algumas podem ser
grupo recebam um cronograma muito efetivas para uns, mas
com as atividades, de modo a pouco funcionais para outros.
gerar curiosidade e fazer com
que os membros sejam atraídos Estratégias
a participar. comportamentais para

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maior adesão à conduta A primeira sugestão é


nutricional evitar estabelecer um excesso
de metas de uma vez. Isso
Embora a educação e o porque o paciente pode sentir-
aconselhamento nutricional se frustrado quando há muitas
sejam importantes para metas a cumprir. Além disso, se
favorecer a adesão ao muitas metas forem
tratamento, há de se admitir estabelecidas o paciente pode
que eles não são os únicos esquecer de algumas delas,
fatores responsáveis para tal. deixando de cumpri-las.
Há evidências de que alguns
pacientes não seguem a Sugere-se estabelecer
conduta estabelecida mesmo cerca de três metas por vez.
quando há aplicação de Pode-se propor metas com
estratégias educacionais. diferentes graus de dificuldade,
como uma meta fácil, uma meta
Nesse cenário, há média e uma meta difícil. O
algumas estratégias grau de dificuldade varia de
comportamentais que acordo com o paciente, sendo
poderiam ser utilizadas para que uma mesma meta pode ser
favorecer a adesão ao fácil para um paciente, mas
tratamento nutricional. Dentre difícil para outro. É importante
elas, destacam-se: propor as metas durante ou
estabelecimento de metas, após a consulta, de modo que
definição de prós e contras, elas sejam individualizadas ao
quadro de vitórias e controle de caso.
hábitos. Cada uma dessas
ferramentas será explicada e Além disso, as metas
exemplificada a seguir. devem ser hábitos/atividades
que ainda não foram
Metas conquistados pelo paciente. Por
exemplo: imagine um paciente
Pode-se estabelecer que consome 2 L de água por
metas ao paciente de modo a dia, mas consome apenas uma
facilitar o alcance do objetivo. fruta diariamente – uma meta
Contudo, há alguns critérios relevante para esse paciente é
para que as metas sejam bem passar a consumir pelo menos
feitas e mais efetivas. três frutas por dia (algo que ele

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não faz), mas não continuar preferível algo do gênero:


ingerindo 2 L de água por dia, consuma pelo menos três
pois isso ele já faz (não é uma porções de frutas por dia
meta, é manutenção). (mensurável).

Metas bem estabelecidas A meta também precisa


tendem a ser específicas, ser atingível, ou seja, ela
mensuráveis, atingíveis e precisa estar de acordo com as
relevantes ao paciente. A possibilidades do paciente no
primeira característica da meta momento em que é traçada. Por
é ser específica, ou seja, é exemplo: imagine um paciente
preciso que o paciente tenha que ingere apenas um copo de
clareza de qual é o desafio. água por dia (200 ml). Não é
Imagine duas metas: 1- beber atingível para esse paciente
mais água (inespecífica) e 2- começar a ingerir 2 L de água
beber 2 L de água por dia diariamente, pois essa meta
(específica). Na primeira está muito distante da realidade
(inespecífica), se o paciente do paciente no momento.
ingerir um gole a mais de água Assim, deve-se propor metas
ele já estaria cumprindo a meta. condizentes com a situação
Já na segunda (específica), a atual do paciente e ir
meta só é atingida quando a progredindo de forma
ingestão de água é acima de 2 L gradativa, para que o desafio
por dia, fazendo com que o não seja demasiado e frustre o
resultado seja muito mais paciente quando no insucesso.
efetivo.
Algumas metas podem
A meta específica já ser temporais. Ou seja, terem
tende a ser mensurável, como um prazo. Seguindo o exemplo
no exemplo anterior. O fato de anterior, uma meta para o
ser mensurável é importante paciente poderia ser: começar a
para que o paciente saiba se ingerir 1 L de água até a
conseguiu ou não atingir a meta próxima consulta (por um mês)
no dia. Nesse sentido, deve-se e, então, após esse período, a
evitar metas que o paciente não meta seria aumentada. Ou seja,
consiga medir com clareza, houve um prazo para seguir
como: consuma mais frutas ao uma meta que depois foi
dia (difícil de mensurar), sendo substituída. Nem sempre as

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metas na nutrição são devem melhora-lo. Contudo,


temporais, pois algumas delas poucos sabem o que fazer para
devem ser seguidas para o resto tal. Nesse sentido, não adianta
da vida, exemplo: beber pelo apenas solicitar que o paciente
menos 2 L de água por dia. ingira mais água, mas sem
propor métodos para atingir
Outro ponto é ser esse fim. Assim, acompanhado
relevante. Precisa-se convencer da meta deve vir um método
o paciente de que aquela meta é para atingi-la. Por exemplo, no
importante para ele. Imagine quesito aumento da ingestão de
um paciente que não tem água, pode-se sugerir que o
constipação intestinal, mas tem paciente leve uma garrafa de
acne vulgar. Falar para esse água consigo diariamente, que
paciente que ingerir mais água ele coloque lembretes na sua
é relevante para que ele não estante de trabalho (exemplo:
tenha constipação intestinal post it), que use despertador no
não é uma boa estratégia, pois celular ou aplicativos, que
esse não é um problema do coloque rodela de frutas na
paciente, então não há porquê água para tornar o sabor mais
ele se sacrifique por algo que ele agradável etc.
não almeja. No entanto, se esse
paciente tiver ciência de que a Prós e contras
ingestão de água pode atenuar a
presença de acne vulgar, que é Outra estratégia é
algo que causa sofrimento a ele, pontuar quais são os prós e os
a meta passa a ser relevante e o contras em cada mudança de
paciente começa a ver hábito do paciente.
vantagem em segui-la. Normalmente, aplica-se essa
estratégia nas mudanças de
Por fim, é preciso propor comportamento mais difíceis
um caminho/método de como o ao paciente, aquelas que não
paciente pode alcançar a meta são facilmente alcançadas por
em questão. Um exemplo é a ele.
meta de aumento da ingestão
de água. Quase todos os Imagine que uma meta
pacientes que ingerem pouca do paciente é consumir mais
água têm ciência de que esse frutas, mas ele dificilmente
não é o melhor hábito e de que consegue atingi-la. Pode-se

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fazer a atividade de prós e todas as metas propostas ao


contras com o paciente durante paciente, mas sim aquelas que
a consulta. Nessa atividade, ele tem mais dificuldade em
pontua-se quais as vantagens seguir.
na mudança (exemplo: melhor
funcionamento do intestino, Quadro de vitórias
menor risco de doenças, atingir
O quadro de vitórias é
as recomendações de vitaminas
uma ferramenta em que o
etc.) e quais as desvantagens da
paciente preenche diariamente
mudança, se houver (exemplo:
uma conquista em relação à
se organizar para levar frutas
nutrição. Essas conquistas
para o trabalho, se planejar
podem ser estabelecidas em
para ir à feira uma vez por
consulta, de acordo com as
semana).
dificuldades do paciente,
exemplo: consumir pelo menos
Antes de aplicar a
três frutas por dia, consumir
atividade de prós e contras, é
pelo menos quatro
imprescindível que o
legumes/verduras diariamente,
profissional tenha certeza de
consumir alimentos na versão
que há mais vantagens do que
integral etc.
desvantagens naquela
mudança, senão o paciente
É comum entregar uma
pode ficar ainda mais
folha ao paciente com o
desestimulado em aderi-la.
calendário do mês e pedir para
que ele preencha uma vitória
É importante que o
diária em relação à nutrição.
paciente participe dessa
Com essa ferramenta, o
ferramenta, que ele contribua
paciente tende a se sentir
com as escolhas de prós e
motivado pelas vitórias que já
contras, pois quanto mais o
conquistou e instigado a se
paciente interagir e tiver
empenhar para preencher uma
consciência dos benefícios da
conquista diária.
mudança, mais fácil será aderi-
la.
Controle de hábitos

Ressalta-se, mais uma


De modo semelhante ao
vez, que não há necessidade de
quadro de vitórias, o controle
aplicar essa estratégia com

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de hábitos é uma ferramenta também aqueles que ele deve


em que o paciente assinala deixar de fazer ou fazer com
diariamente se conseguiu menor frequência. Sugere-se
realizar determinado hábito ou que os hábitos a serem
não. estabelecidos e controlados
sejam definidos em consulta
Por exemplo: imagine junto com o profissional.
que a meta é ingerir 2 L de água
por dia. Todo dia que o paciente A ideia é incluir hábitos
alcançar a meta, ele assinala o que sejam mais difíceis de
controle de hábitos, mas serem aderidos pelo paciente.
mantém o espaço em branco Vale salientar que se deve evitar
quando a meta não tiver sido incluir uma quantidade
atingida. excessiva de hábitos, pois o
paciente pode se sentir
No final do mês, o desestimulado se perceber que
paciente conseguirá avaliar o não está cumprindo com o
quanto ele cumpriu das metas, proposto. Além disso, o
o que é digno de ser paciente pode até se sentir
parabenizado e o que precisa desanimado e indisposto a
ser melhorado. É comum que os preencher a ferramenta se ela
pacientes não tenham muito for muito grande e tomar muito
discernimento de como foi o tempo do seu dia. Ademais,
mês. Exemplificando, as vezes o quanto mais metas, mais
paciente não atinge a meta, pois chances de o paciente esquecer
pede fast-food e delivery com de cumpri-las ao longo do dia.
mais frequência do que
imagina. Contudo, quando esse Após um mês de
hábito fica registrado no preenchimento do controle de
controle de hábitos, o paciente hábitos, o paciente pode levar a
consegue ter clareza do que ferramenta para ser avaliada
pode ser melhorado para por ele e pelo profissional em
atingir o seu objetivo. consulta. Nesse momento, cabe
ao profissional verificar quais
Percebe-se que não hábitos o paciente conseguiu
necessariamente se precisa aderir, os quais não necessitam
colocar apenas hábitos que o estar no controle de hábitos do
paciente deve fazer, mas próximo mês.

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Não obstante, é preciso ser bem aceita pelo paciente ou


avaliar quais hábitos não foram o oposto. Os estágios do modelo
praticados e compreender o transteórico da mudança
porquê. Nesses casos, deve-se comportamental são os
propor alternativas e sugestões seguintes: pré-contemplação,
de como o paciente pode aderir contemplação, preparação,
ao hábito no próximo mês. É ação e manutenção.
importante ter em mente que
não basta apenas incluir o O primeiro, pré-
hábito novamente no controle contemplação, é quando o
de hábitos, sem ao menos paciente não está disposto a
propor ideias e soluções de mudar, pois não vê necessidade
como torná-lo mais fácil e na mudança em questão. Por
frequente na vida do paciente. exemplo: imagine uma pessoa
que não faz exercício físico, que
Um exemplo de controle não vê importância na prática e
de hábitos é apresentado na que não tem
Figura 1. interesse/afinidade por tal.
Pode-se dizer que essa pessoa
Modelo transteórico da está em estágio de pré-
mudança comportamental contemplação, pois ela nem
sequer planeja, mesmo que em
Mesmo aplicando todas um futuro distante, aderir ao
as estratégias anteriores, alguns hábito.
pacientes não aderirão à
conduta proposta. Isso porque O segundo estágio,
há muitos fatores envolvidos na contemplação, é quando o
mudança de comportamento, indivíduo passa a perceber
incluindo o quanto o paciente importância na mudança e a
vê necessidade na mudança e cogitar aderi-la, apesar de
sente-se disposto a mudar. incertezas dos mais diversos
tipos (exemplo: se conseguiria
O modelo transteórico aplica-la, se tem
da mudança comportamental tempo/disposição para tal, se
traz alguns estágios da de fato há necessidade etc.) Por
mudança de comportamento, exemplo: imagine que o
os quais evidenciam o quanto indivíduo da hipótese anterior
uma proposta de mudança pode começa a perceber importância

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em praticar exercício físico, passa a cogitar a possibilidade


pois se deu conta de que seus de iniciar a prática, apesar de
amigos/familiares que ter dúvidas sobre o que, como,
praticam exercício são mais quando e de que modo fazer o
dispostos e saudáveis do que exercício físico.
ele. Nesse cenário, o indivíduo

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Figura 1. Sugestão de controle de hábitos. Fonte: autoria própria.

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O terceiro estágio, paciente nessa fase de


preparação, é quando o preparação, de modo a ajudá-lo
indivíduo decide incluir aquele em estabelecer a logística para
hábito em sua vida, passando a iniciar a prática de modo mais
se organizar para tal. Por efetivo. Além disso, é um
exemplo: no caso hipotético, o momento importante para que
indivíduo se matrícula na o profissional mantenha
academia, adquire os produtos contato próximo com o
necessários (exemplo: roupas e paciente, para que, caso a
calçados) e programa os logística/método seja falho, se
horários em que incluirá a possa propor uma alternativa
prática no seu dia. viável antes que o paciente
decida desistir do hábito.
Esse estágio é bastante
delicado, pois, como o O quarto estágio, ação, é
indivíduo não colocou o hábito quando o paciente coloca a
em prática ainda, ele pode não mudança em prática. Como
ser muito realista quanto a mencionado anteriormente,
inclusão dele em sua rotina. Por esse é o momento em que
exemplo: no caso hipotético, o alguns problemas/dificuldades
indivíduo poderia programar a podem ser percebidos,
prática de exercício às 7 h da aumentando as chances de
manhã, mesmo que seu desistência. Em razão disso,
ingresso no trabalho seja às 8 h. esse é um momento para
Como ele nunca praticou manter contato próximo com o
exercício físico, não paciente, de modo que ele não
compreende ao certo quanto desista de implementar a
tempo precisará disponibilizar mudança na sua rotina.
para a sessão de exercícios, para
se arrumar e para se alimentar Finalmente, o quinto
antes do expediente. Isso pode estágio é chamado de
criar problemas e desestimular manutenção, que é quando o
o paciente a continuar a prática, indivíduo consegue manter a
fazendo com que ele abandone mudança por determinado
o hábito. período de tempo, conseguindo
estabelecer o hábito em sua
Por isso, é interessante rotina.
que o profissional oriente o

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

É importante pontuar
que em todos os estágios,
inclusive o de manutenção, o
indivíduo pode ter recaídas e
abandonar o hábito. É preciso
que o paciente saiba que essa
situação pode acontecer
(exemplo: ficar um mês inteiro
sem praticar exercício físico),
mas que ele deve retomar a
rotina assim que possível. Se
necessário, devem-se fazer
ajustes para tornar as
mudanças mais possíveis de
serem implementadas.

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

2 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO
NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM
DOENÇA RENAL CRÔNICA

Introdução No entanto, parece que


muitos pacientes com doença
A doença renal crônica é renal crônica não
uma das condições mais compreendem quais estratégias
complexas no sentido de nutricionais devem ser
condutas nutricionais. Além da aplicadas e o porquê delas.
grande quantidade de Além disso, muitos não têm
estratégias, a não adesão do discernimento dos riscos de não
paciente ao tratamento seguir a conduta nutricional.
repercute em efeitos drásticos,
como aumento do risco de Estudo observacional
morbidade e de mortalidade, realizado por Gricio et al.
bem como piora da qualidade (2009) observou que pacientes
de vida. Ademais, a não adesão com doença renal crônica em
ao tratamento resulta na tratamento conservador
evolução precoce da doença, possuíam informações
podendo haver necessidade de equivocadas sobre a doença,
terapia dialítica ou transplante não compreendendo o que
renal antes do planejado. significava a condição, sua
severidade, sua possibilidade

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

de evolução e o seu manejo dificuldade de entender o que


dietético. Dos 20 pacientes com precisa ser mudado. Ademais,
doença renal crônica em os pacientes desconhecem a
tratamento conservador importância da dietoterapia e
estudados, 2 não souberam ao do tratamento medicamentoso
menos explicar o que é a na fase conservadora, o que
doença, enquanto os demais contribui com a progressão
apresentavam definições vagas mais rápida da doença renal
(exemplo: falência renal) ou crônica. É ainda mais curioso
expressões negativas (exemplo: que os pacientes não se dão
doença que gera nem ao menos conta da
limitações/dificuldades e traz gravidade das consequências da
consequências ruins à saúde). doença e da futura necessidade
Em relação ao tratamento de tratamento dialítico.
conservador em si, 17 pacientes
sabiam da necessidade de Considerando a
alterações dietéticas, 16 importância da educação e do
pacientes compreendiam a aconselhamento nutricional
necessidade de medicamentos e para pacientes com doença
2 pacientes relataram que o renal crônica, o objetivo da
repouso e a prática de presente seção é abordar
exercícios físicos faziam parte estudos científicos que
do tratamento. Curiosamente, avaliaram o conhecimento dos
poucos pacientes entendiam o pacientes sobre a doença renal
prognóstico da doença, crônica e aqueles que
havendo apenas comentários abordaram estratégias
breves sobre a possibilidade de educacionais e de
tratamento dialítico no futuro. aconselhamento para esse
público.
Esse estudo aponta o
quanto os conhecimentos dos Estudos sobre educação e
pacientes com doença renal aconselhamento para
crônica a respeito da doença e pacientes com doença
de seu tratamento/prognóstico renal crônica
é vaga. A repercussão disso é
que os pacientes compreendem As estratégias
pouco sobre o que causou o nutricionais para pacientes com
problema e, em razão disso, têm doença renal crônica são

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

complexas, especialmente que servem os rins, o que é a


quando o público em questão é doença renal crônica, quais são
infantil. Em revisão as principais causas da doença,
bibliográfica, Santana et al. como é o seu tratamento, como
(2016) discutem a possibilidade prevenir etc.
de desenvolvimento de um
aplicativo educacional voltado a A educação e o
esse público. Apesar de aconselhamento também
existirem poucos estudos a podem ocorrer de modo
respeito do assunto, os autores presencial, como no projeto
abordam a ideia como elaborado por Oliveira et al.
promissora. (2020), onde os pacientes eram
abordados no momento de
Vale salientar que espera do atendimento
existem alguns aplicativos, ambulatorial. Os pacientes
como o Renal Health eram orientados sobre o projeto
(desenvolvido por estudantes educacional e convidados a
do Programa de Pós-Graduação participar. A ideia foi de aplicar
em Saúde Coletiva da Unifor, uma metodologia participativa
em parceria com o Núcleo de e problematizadora, em que o
Aplicação em Tecnologia da paciente e o seu acompanhante
Informação), mas que são eram colocados como atores no
voltados para o público adulto processo de aprendizagem, de
com doença renal crônica, não modo a discutir sobre suas
para crianças. vivências em relação à doença e
à sua dietoterapia. Embora a
Interessantemente, o ideia pareça bastante razoável e
aplicativo Renal Health e possa ser utilizada na prática,
outros semelhantes podem ser uma importante limitação
uma estratégia educacional desse estudo é que não foi
interessante para pacientes aplicado um método para
com doença renal crônica. avaliar se a intervenção havia
Como exemplo, no aplicativo sido bem sucedida (exemplo:
Renal Health (disponível para um questionário antes e depois
download na Play Store), são do projeto educacional), o que
esclarecidas dúvidas comuns de torna a eficácia da estratégia
pacientes com doença renal dúbia e desconhecida.
crônica, como: o que são e para

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

A dissertação de É preciso compreender que as


mestrado de Barreto (2011) estratégias educacionais devem
também compreendeu a ser aplicadas de forma
implementação de um coerente, para que o paciente
programa educacional com fins não deixe de seguir as
de orientar pacientes com recomendações, mas que
doença real crônica em também não tenha medo de se
tratamento conservador quanto alimentar a ponto de ter maior
ao consumo de sódio e de risco de desnutrição, de
proteínas. Observou-se que o sarcopenia, de
grupo que recebeu a imunocomprometimento, de
intervenção ingeriu menos morbidade e de mortalidade.
proteínas do que o grupo
controle, apesar de não ter
havido diferença no consumo
de sódio. Esse trabalho enfatiza
o quanto as estratégias de
educação e de aconselhamento
nutricional podem ser efetivas
em adequar o consumo
alimentar de pacientes com
doença renal crônica e mitigar o
desenvolvimento da doença.

A necessidade de aplicar
estratégias educacionais de
maneira adequada e coerente,
com respaldo em ciência e sem
“terrorismo nutricional’, é
latente. Machado et al. (2014)
observaram que pacientes com
doença renal crônica em terapia
dialítica ingerem menos
energia e proteínas do que o
recomendado (~ 19 kcal/kg/dia
e 0,9 g/kg/dia,
respectivamente), dentre
outras inadequações dietéticas.

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alvarenga, M., Figueiredo, M., Kistler, B.M. et al. The


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Aplicativos como

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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

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