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DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL

Diretriz / Ano ESPEN / 2023

Objetivos Atualização da diretriz onde são apresentados novos métodos de


cuidados aos pacientes com doenças inflamatórias intestinais.

Introdução Prevenção da DII

A doença inflamatória intestinal (DII) é classificada Para prevenção da DII, a diretriz propõe
como distúrbio inflamatório crônico do trato recomendações dietéticas específicas. Uma dieta
digestivo. O termo engloba dois ramos da ciência rica em frutas e vegetais, ácidos graxos n-3 e pobre
médica: doença de Crohn (DC) e a colite em ácidos graxos n-6 está associada a um risco
ulcerativa (CU). reduzido de desenvolver DII. Enquanto o consumo
de alimentos ultraprocessados e emulsificantes
dietéticos podem estar associados a um risco
aumentado de DII e neste caso recomenda-se a
exclusão.

O aleitamento materno também se mostrou


eficiente na redução do risco de DII.

Aspectos Gerais da nutrição na DII O papel dos profissionais de Saúde

Pacientes com DII são considerados em classe de Buscando uma evolução na terapia nutricional e
risco, portanto, necessitam de monitoramento evitando episódios de desnutrição nos pacientes, a
regular, principalmente no que diz respeito à equipe multidisciplinar deve se preocupar em
desnutrição. prestar suporte, aconselhando-os individualmente,
bem como contribuindo na triagem nutricional e
A desnutrição é uma deficiência nutricional que manejo dietético.
pode acometer pacientes tanto na colite ulcerativa
como na doença de Crohn, embora com maior
prevalência na DC, devido à capacidade de afetar
qualquer parte do trato gastrointestinal, enquanto
na CU é restrita ao cólon e tem poucos efeitos
diretos de má absorção.

O monitoramento para pacientes com DII é


fundamental no momento do diagnóstico e depois,
de forma regular, estando relacionada com
a atividade, duração, extensão da doença e
principalmente, a magnitude da resposta
inflamatória que impulsiona o catabolismo.
O tratamento da desnutrição diagnosticada deve
ser iniciado imediatamente, evitando uma piora no
prognóstico, complicações, mortalidade e
promovendo a qualidade de vida.

Necessidades energéticas Recomendações energéticas na doença ativa

Em geral, as recomendações de necessidades De uma forma geral, a diretriz não discrimina


energéticas totais dos pacientes com DII são recomendações de dietas específicas para remissão
semelhantes às da população saudável, ou seja, de pacientes com DII, entretanto o
de 30 a 35 kcal/kg/dia. acompanhamento nutricional pode avaliar má
absorção ou má digestão em casos isolados:
Em alguns casos, dependendo do estado da
doença, existe uma demanda de necessidades Pacientes com doença de Crohn: apresentando
energéticas específicas, sendo necessário a estenoses intestinais e sintomas obstrutivos,
recomenda-se uma dieta com textura adaptada
determinação com base na calorimetria indireta e
ou nutrição exclusiva via enteral (finalizado
fator de atividade física individual.
distalmente à obstrução).
Pacientes com DII (adultos e crianças): sob
Macronutrientes: a diretriz recomenda maior tratamento com corticosteroides ou suspeita
ingestão de proteína na DII ativa, que deve ser
de hipovitaminose D, recomenda-se
de 1,2 e 1,5 g/kg/d em adultos, enquanto na
monitoramento do nível sérico de 25(OH)
DII em remissão o fornecimento deve ser vitamina D e, em alguns casos, a
semelhante em relação à recomendação na
suplementação de cálcio, prevenindo baixa
população em geral (cerca de 1 g/kg/d em densidade mineral óssea. Já em pacientes que
adultos). apresentem hiperoxalúria, recomenda-se
Micronutrientes: recomenda-se o
monitoramento devido à má absorção de
acompanhamento regular e correção de gordura.
déficits específicos.

Ferro: recomenda-se a suplementação quando


detectada anemia por deficiência deste nutriente,
podendo ser utilizado como tratamento em
pacientes com doença clinicamente inativa
(tolerantes ao ferro oral) ou ativa (com intolerância
ao ferro oral, hemoglobina abaixo de 100g/L ou
que precisem de estimuladores de eritropoiese).

Terapia Nutricional Ativa na DII Aspectos cirúrgicos da nutrição na DII

A indicação de terapia nutricional engloba algumas Fase pré-operatório: Recomenda-se avaliar


etapas, sendo a suplementação nutricional oral a o estado nutricional e realizar intervenções
primeira delas, garantindo um suporte à dietéticas em pacientes com desnutrição ou
alimentação normal. com risco nutricional, enquanto pacientes
submetidos à cirurgia eletiva, podem ser tratados
Embora seja o meio mais recomendado, alguns seguindo o protocolo de recuperação aprimorada
pacientes não de adaptam somente com a
(ERAS). Recomenda-se ainda a exclusão do jejum
alimentação oral, recomendando-se a nutrição pré-operatório a partir da meia-noite.
enteral ou nutrição parenteral, em último caso ou
em casos específicos, como: obstrução ou falha
Fase perioperatório: Em pacientes cirúrgicos que
intestinal ou complicações (vazamento de
apresentem desnutrição no momento da cirurgia ou
anastomose ou fístula intestinal de alto débito).
que não estiverem aptos a reiniciar a dieta oral
adequadamente dentro de sete dias no pós-
A administração da NE em DII deve ser feita através
operatório., deve-se iniciar a administração da
de sondas nasais ou acesso percutâneo, sendo
terapia nutricional médica imediatamente,
preferencialmente administrada por bomba de
recomendando ainda:
alimentação enteral.

A suplementação nutricional oral: quando


Como terapia nutricional primária e de suporte em
impossibilitados de ingerir suas necessidades
DII ativa, recomenda-se dieta polimérica com teor energéticas/proteicas apenas com alimentação
moderado de gordura (NE padrão). normal.
A combinação de NE e NP: quando
A diretriz aponta uma eficácia da nutrição enteral impossibilitados de atender a <50% das
exclusiva, podendo ser recomendada no necessidades de energia/nutrientes somente
com ingestão oral e enteral por mais de sete
tratamento de remissão em crianças e
dias.
adolescentes com doença de Crohn ativa leve,
evitando-se apenas em casos de colite Lembrando que diagnosticada a desnutrição
ulcerativa em adultos ou crianças. perioperatória, a cirurgia deve ser adiada por 7 a 14
dias, recomendando-se início imediato da terapia
Pacientes que apresentem diarreia grave devem
nutricional (suplemento oral, NE ou NP).
ser monitorados em relação à débito de fluidos e
sódio urinário e em casos de estomas contínuos de Pacientes cirúrgicos com doença de Crohn devem
alto débito, podem ser necessárias infusões obter suporte nutricional precoce, a fim de evitar
parenterais (fluidos e eletrólitos). possíveis riscos de complicações pós-operatórias, e
em particular, aqueles que apresentem insuficiência
Em pacientes com DII, todo esforço deve ser feito
gastrointestinal prolongada, deve-se optar
para evitar a desidratação:
obrigatoriamente à administração da NP.

Pacientes com DC e com fístula distal e baixo


Pacientes com colite ulcerativa devem receber uma
débito: geralmente podem receber todo o
suporte de NE, já em pacientes com DII com estratégia nutricional individualizada, considerando
déficits nutricionais, devem ser estado nutricional e gravidade da doença.
implementadas intervenções para prevenir a
síndrome de realimentação (de fosfato e Fase pós- operatório: A ingestão alimentar normal,
tiamina principalmente). suplementação ou nutrição enteral deve ser iniciada
logo após a cirurgia, optando pela administração de
Pacientes com CU grave: a NE pode ser
água e eletrólitos de acordo com as necessidades
recomendada como terapia de suporte, em
individuais, garantindo estabilidade hemodinâmica.
contrapartida, deve-se evitar a NP (a menos que o
paciente não possa ser alimentado de outra forma).

Modulação da Microbiota Recomendações dietéticas e outras específicas


para a fase de remissão

Probióticos: de uma forma geral, os Nesta fase de remissão, a dieta enteral e parenteral
probióticos não devem ser recomendados não devem ser consideradas terapias primárias,
para tratamento da DC, seja na fase ativa ou
recomendando-se priorizar padrões alimentares
para prevenção na fase de remissão e
saudáveis, evitando gatilhos nutricionais individuais
recorrência pós-operatória da doença. Por
outro lado, servem como alternativa para (neste caso, a dieta deve ser ajustada).
pacientes com CU (submetidos à terapia com
ácido 5-aminossalicílico) e na prevenção de Em geral, a suplementação também não é indicada
pouchite. (principalmente de ácidos graxos n-3), embora
Prebióticos: a terapia prebiótica não deve ser casos pontuais exijam a administração de alguns
recomendada para tratamento nas DC e CU, tipos de vitaminas:
na doença ativa ou manutenção da remissão,
não havendo recomendações também na Vitamina B12: quando há queixa de íleo
pouchite. ressecado ou diagnóstico de deficiência de
Antibióticos: não há recomendação de vitamina B12.
administração de antibióticos para o manejo Vitamina B9: pacientes tratados com
da DC. Porém, são indicados na CU (incluindo sulfassalazina e metotrexato.
doença aguda grave), tanto na fase ativa como Suplementações ou dieta enteral: para
na manutenção da remissão, podendo ser pacientes diagnosticados com desnutrição,
utilizados somente como terapia inicial na impossibilitado de seguir aconselhamento
puchite aguda (ciprofloxacina e metronidazol). dietético.
Transplante de microbiota fecal: não há
recomendação para transplante de A prática de atividade física adaptada
microbiota fecal na DII.
(principalmente treinos de resistência) deve ser
encorajada em todos os casos, com o objetivo de
recuperação da massa muscular e melhora no
desempenho.

Novas Recomendações Referências

A diretriz propõe recomendações específicas para BISCHOFF, A. S.; BAGER, B. P.; ESCHER, C. J.; et al.
pacientes com DII, em alguns casos: ESPEN guideline on Clinical Nutrition in
inflammatory bowel disease. Clinical Nutrition
Obesidade: monitoramento, sendo
Journal, vol. 42, Mar. 2023.
recomendado a redução do peso nesta fase
de remissão (se estável) e aconselhamento
para seguir as diretrizes atuais de obesidade.
Gestação: monitoramento do estado de ferro
e níveis de vitamina B9 e se diagnosticado a
deficiência, deve-se suplementar
adicionalmente.
Lactação: monitoramento do estado
nutricional e suplementação, se necessário.

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