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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ- FAEC

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO CEARÁ 02


RESUMO- A OLIGARQUIA ACCIOLYNA

Tradicionalmente denomina-se Primeira República o período da História do


Brasil compreendido entre 1889 e 1930. A massa foi mantida à margem das decisões
políticas e os grupos agrários, especial- mente os de São Paulo e Minas Gerais, tomaram
conta do estado (Política do Café com Leite).
No ano de 1889, Accioly obteve um mandato para o Senado do Império, não
sendo, todavia, empossado devido ao golpe da República.
O texto questiona como Nogueira Accioly se manteve tanto tempo no governo,
se uma das características da história política cearense é a fragilidade estrutural das
oligarquias dirigentes, as quais estão sempre se alternando ou se coligando no poder?
Respondendo à isso emprestava submissão e apoio à presidência da República e
aos grandes líderes políticos nacionais, como o gaúcho Pinheiro Machado, o
oligarca Além dos latifundiários, Accioly possuía uma aliança com destacados grupos
econômicos locais, sobretudo, os grandes comerciantes de exportação e importação de
Fortaleza, como os franceses Bóris Fréres, também era importante para o acciolismo o
nepotismo, isto é, o emprego somente de parentes e correligionários de estrita confiança
nos principais cargos administrativos do Estado, objetivando com isso mais coesão e
homogeneidade do grupo oligárquico, e afastar-se os riscos de defecções.
Um dos primeiros empreendimentos de Accioly no poder foi a construção de
linhas telegráficas, ligando Fortaleza às principais cidades do interior, sob o argumento
de que isso facilita- ria a administração e a ação governamental. Questionava-se
igualmente a qualidade da construção - houve trechos em que antes de ser aberto o tráfego,
os postes caíram, ficando interrompida a linha. Outro episódio famoso da oligarquia foi
o da construção de seis pontes de ferro. O início do primeiro governo do comendador foi
até de bonança, situação proporcionada pelos bons invernos. Contudo, em 1898, o Ceará
foi castigado por calamitosa seca, situação amenizada pelo inverno do ano seguinte e
novamente agravada pela grande cstiagem de 1900.
O texto traz ainda a questões das secas por si mesmas fazem aumentar a tensão
social e desgastam a imagem dos governantes. Quando, porém, estes omitem-se
completamente, como no caso de Accioly na- quelas estiagens, a insatisfação atinge
patamares elevados. O oligarca transferiu totalmente a responsabilidade do combate às
secas para O governo federal. Accioly chegou ao cúmulo de tentar proibir a emigração
dos retirantes interioranos (os quais não paravam de chegar a Fortaleza) para outros
estados, temendo perder eleitores e mão de obra barata.
Outro que igualmente foi atacado pela oligarquia em virtude da seca de 1900 foi
o farmacêutico e escritor oposicionista Rodolfo Teófilo. Vendo a fome, as doenças e a
omissão governamental dizimarem a população, Teófilo iniciou por conta própria a
fabricação de vacina antivaríola. Contando com o apoio de alguns médicos amigos,
passou a percorrer todas as manhãs os subúrbios de Fortaleza, vagando de casebre em
casebre, convencendo e até mesmo pagando às pessoas para se deixa- rem vacinar as
camadas populares temiam a vacina e consideravam a peste um castigo de Deus.
A oligarquia Accioly, porém, vendo ali não só um ato sanitário, mas político -
evidenciava-se o descaso do poder público com a saúde - reagiu e começou a perseguir e
a denegrir a imagem de 'Teófilo pela imprensa.
Utilizando-se dos currais eleitorais, das fraudes, de violência, da máquina
pública, o PRF elegeu Pedro Borges presidente do Estado. O médico Pedro Augusto
Borges chegava ao governo tendo como missão, para tanto dedicou-se a analisar as contas
do Estado em busca de irregularidades. Não foi difícil encontrar várias evidências de
fraudes, desvios de verbas públicas, nepotismo e corrupção.
A situação parecia grave. Accioly, todavia, resolveu o impasse à sua maneira,
apresentando a Pedro Borges uma proposta esdrúxula: o governante esqueceria as
acusações e entregaria os documentos dos ilícitos em troca do apoio total da Assembleia
Legislativa e de uma eleição certa para o Senado após o término do mandato. Borges
aceitou e a partir dali tornou-se um forte aliado de Accioly. Sua administração (entre
1900-04), portanto, é um prosseguimento da oligarquia.
Um dos sonhos maiores da oligarquia era dotar o Ceará de um estabelecimento
de ensino superior - afinal, Accioly desejava que seus muitos filhos virassem doutores!
Havia, não obstante, um obstáculo: a falta de recursos. Pressionado, Pedro Borges levou
o assunto ao senador Accioly, o qual "encontrou” a solução: fechar 90 escolas primárias
no interior e aplicar os recursos a elas destinados na fundação da faculdade - o que
importava para o senhor comendador que centenas de crianças pobres ficassem sem
aprender a ler?
Dessa forma, a 21 de fevereiro de 1903 era pomposamente inaugurada a
Academia Livre do Direito do Ceará, cujos membros, na maioria, pertenciam à família
de Accioly, do diretor aos estudantes. A população da capital, por sua vez, recebeu com
indiferença a fundação da academia, descrente quanto à utilidade daquela escola superior
para seus filhos.
Mais um evento violento verificado no período de Pedro Augusto Borges foi a
chamada "Revolução do Crato". Nos sertões cearenses, sobretudo no Cariri, a violência
social e política provocava alarme. Grupos de cangaceiros matavam, roubavam,
incendiavam fazendas sem que nenhuma providência fosse tomada pelo governo.
Ao final da administração Pedro Borges, o domínio da máquina eleitoreira
permitiu um revezamento no poder: o presidente foi para o Senado e Accioly retornou ao
governo, para seu segundo mandato.
Em se tratando das oposições O rompimento entre boa parte dos comerciantes
da capital e Accioly deveu-se, sobretudo, à postura do Estado em penalizar com altos
impostos o comércio interno e privilegiar com taxas leves, os negócios de importação e
exportação (daí também o apoio da Casa Boris Frères ao comendador).
A elevação dos tributos promovida pela oligarquia em 1904 e em 1907 sobre
comércio interno, indústria e profissões provocou indignação entre os cearenses e foi
usada politicamente pela oposição para atacar o grupo político dominante.
A consequência disso foi a transformação desses setores populares em
instrumento de manobra das oligarquias oposicionistas, tanto que, após lutarem brava-
mente e derrubarem Accioly, foram mantidos distantes da esfera decisória do poder.
Perante o crescimento da oposição, a oligarquia acciolyna buscava reagir. Mas
Accioly fez mais: manobrou para impedir o voto dos eleitores oposicionistas. A peça
fundamental para o cadastramento de novos eleitores consistia num comprovante de
residência, o qual deveria ser expedido pelo delegado de polícia. Se, contudo, o delegado
não conhecesse o eleitor, deveria o tal comprovante ser atestado pela assinatura de três
comerciantes da localidade.
Para os novos votantes adeptos do governo, a declaração era imediatamente
fornecida; mas para os eleitores vinculados à oposição, negava-se o documento, sob o
pretexto de que ninguém os conhecia. Assim ocorreu com Rodolfo Teófilo, conhecido de
um delegado desde criança e ainda vizinho deste!
Após um recuo inicial, Accioly, usando de brechas na lei, conseguiu o
consentimento jurídico para indicar o filho ao Senado (e este seria facilmente eleito) e
para sua terceira eleição ao comando do Estado. O presidente da República, Afonso Pena,
chegou a enviar telegrama a Accioly parabenizando pela ocorrência e desejando feliz
continuidade. E assim Accioly ganhou mais quatro anos de poder.
Nada de importante realizou na terceira gestão. Criava-se um abismo entre
Fortalezenses e a Oligarquia. Em 1910 chegava à Presidência do Brasil o marechal
gaúcho Hermes da Fonseca, aquela administração (1910-14), segmentos das classes
médias urbanas e do exército, unindo-se à oligarquias dissidentes, inicia- ram um
movimento para moralizar o país e era a chamada Política salvar a República das
Salvações, a qual consistiu em revoltas armadas ocorridas em alguns estados
(especialmente do norte/nordeste) "política das salvações" seria um dos fatores que
possibilitaram a que- da da oligarquia acciolyna no Ceará. Após mais de uma década de
governo, Accioly via com preocupação o crescimento das oposições e o
descontentamento popular. Não seria prudente ele ou alguém da família tentar
diretamente um novo mandato.
O nome ideal teria sido indicado pelo general Dantas Barreto, figura ligada à
“política das salvações" e governante de Pernambuco no estado vizinho, havia poucos
meses que Barreto, acontecia uma revolta popular A 29 de dezembro de 1911 uma
manifestação oposicionista promovida na Praça do Ferreira foi dissolvida pela cavalaria
da polícia, havendo troca de tiros e um saldo de muitos feridos. Estava declarada
oficialmente a guerra entre rabelistas e acciolystas
Nos dias 21. 22. 23 e 24 de janeiro de 1912. Fortaleza virou uma praça de guerra.
Os soldados da polícia atiravam em casas fechadas, a ma tar crianças, mulheres, velhos
ou simples transeuntes. Com o prolongamento das lutas, os "patriotas" ficaram na
iminência de invadir o Palácio da Luz, sede do governo. Como última alternativa, após
muita relutância, restou a Accioly, para ao menos salvar sua vida, acatar o conselho
Francisco Sá: a renúncia, genro, realizada em 24 de janeiro de 1912.
A notícia foi recebida com euforia pelos fortalezenses. Festa nas ruas, alegria,
abraços, lágrimas, sorrisos. Era o fim de 16 anos de oligarquia.
Encerrava-se, portanto, o período acciolyno. Teve-se uma dura campanha
eleitoral, cujo auge foi a repressão feita por Accioly à "Passeata das Crianças", na qual
morreram algumas pessoas. Em decorrência, houve uma revolta na capital cearense,
forçando Accioly a renunciar.

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