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Índice

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO..................................................................................................2
1.1. Objetivo geral...................................................................................................................3
1.2. Objetivos específicos.......................................................................................................3
1.3. Delimitações do estudo....................................................................................................3
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA.........................................................................4
2.1. Globalização....................................................................................................................4
2.1.1. A globalização na década 80.....................................................................................5
2.1.2. Geopolítica das Organizações da Sociedade Civil....................................................7
2.1.3. A Emergência das Redes Transnacionais.................................................................8
2.1.4. A criminalização dos movimentos sociais..............................................................10
2.2. Integração regional.........................................................................................................11
2.2.1. Relançando o regionalismo africano.......................................................................12
2.2.2. Integração regional e tratados de livre comércio....................................................14
2.2.3. Implicações para a África.......................................................................................16
2.2.4. Investindo em Infraestrutura e Fortalecendo os Mercados de Capitais..................18
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DE PESQUISA................................................................20
3.1. Desenho de pesquisa......................................................................................................20
3.2. Método de Coleta de Dados...........................................................................................20
3.3. Coleta de Dados Secundários.........................................................................................20
CAPÍTULO IV: CONCLUSÃO...............................................................................................21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................22

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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

O presente trabalho proposto pelo docente ao grupo cujo tema central é globalização e
integração regional, é muito relevante, não só nos aspetos académicos, mas também na nossa
vida cotidiana. Esse breve estudo não pretende esgotar o tema.

No entanto, procuraremos desenvolvê-lo da maneira mais completa possível, abordando


aspetos doutrinários, ora com a finalidade de mostrar o quanto importante é o estudo da
globalização e integração regional e no que cerne a engenharia civil.

Preliminarmente, serão apontadas conceitos do tema acima citado. Em seguida, buscar-se-á


fazer uma análise sobre este tema, verificando de que modo a globalização e integração
regional contribui para uma maior efetividade no controlo, na monitorização e enquadramento
de pessoas em determinada área de trabalho existentes no país.

A avaliação da integração regional no contexto da globalização implica em considerar uma


dimensão nem sempre muito analisada desse processo. É muito comum se enfatizar a
dimensão internacional da integração e menos a regional, que supõe levar em conta
adicionalmente a intensidade e a qualidade da articulação produtiva e comercial
intrarregional.

Em princípio, as duas dimensões da integração não são contraditórias, podendo se auto


reforçar ou seja, o adensamento das relações intrarregionais pode reforçar a inserção
internacional dos diversos países, ampliando o seu dinamismo.

Na perspetiva da Unctad (2007), os processos de integração regional são defensáveis porque


permitem adensamento de cadeias produtivas e ganhos de escala de produção que não seriam
viáveis em países isolados.

O documento defende claramente a ideia de que os acordos de integração permitem uma


maior diversificação das economias de nações de uma região qualquer, conduzindo, de um
lado, a obtenção de economias de escala e ganhos tecnológicos e, de outro, a possibilidade de
implantar segmentos produtivos de maior crescimento da demanda e dinamismo tecnológico.
Nesse processo, o mecanismo básico de integração regional se daria por meio da ampliação
do comércio intraindustrial, reflexo da crescente divisão intrarregional do trabalho.

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As economias regionais que logram esse processo de integração seriam beneficiadas por uma
dupla força dinâmica: a oriunda dos mercados globais e aquelas decorrentes dos mercados
intrarregionais.

As conceções ortodoxas veem com reserva os processos de integração regional, como, por
exemplo, na tese do desvio de comércio defendida por Bhagwati, Greenaway e Panagariya
(1998) e Bhagwati (2008), considerando os acordos regionais, para aprofundar a integração,
como instrumento de rent-seeking dos grupos mais organizados. Suas implicações seriam o
recrudescimento do protecionismo inter-blocos e uma significativa distorção na alocação de
recursos com perda de eficiência.

Visões mais conciliatórias, oriundas das instituições multilaterais, como em Schiff and
Winters (2003), compreendem as iniciativas de integração como resultante do questionamento
do multilateralismo a partir do fracasso da rodada de Doha. No entanto, defendem a sua
compatibilidade com o livre comércio a partir do entendimento desses acordos como building
blocs, visando a integração global.

1.1. Objetivo geral

O presente estudo tem como objetivo estudar a globalização e integração regional, para
resolução de questões a serem propostos pelo docente futuramente.

1.2. Objetivos específicos

 Descrever o conceito de globalização e integração regional;


 Identificar as características da globalização e integração regional;

1.3. Delimitações do estudo

O presente trabalho incide sobre o estudo da globalização e integração regional. Estes serão os
principais enfoques para o estudo.

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CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Globalização

A globalização é um conceito que gerou intenso debate, desde que não há um consenso
quanto ao seu significado e impactos. Alguns autores preferem analisar esse fenômeno a partir
dos chamados aspetos materiais: fluxos de comércio, de capital e de pessoas facilitados por
um contexto de avanço na comunicação eletrônica que parece suprimir as limitações da
distância e do tempo na organização e na interação social.

O termo globalização gera intenso debate quanto ao seu significado e suas características
centrais. Em meio a essa acalorada discussão, no entanto, foi possível chegar a alguns
consensos e um deles refere-se ao fato de que, apesar de a globalização ser um fenômeno
mundial, seus impactos são locais e regionais, impulsionando mudanças que se desenvolvem
de diferentes formas e com intensidade variada. Como resultado, a nova ordem internacional
marcada pela globalização gera distintos comportamentos nos Estados.

Essa constatação é parcialmente verdadeira para a América Latina, onde cada nação buscou
estabelecer uma estratégia própria dentro desse novo cenário mas, ao mesmo tempo, constata-
se um comportamento similar entre os países: redemocratização, adoção de políticas de
caráter neoliberal, reestruturação do Estado e participação em processos de integração
regional.

O fenômeno da globalização tem uma relação direta e dinâmica com a lógica da


regionalização, ao transformar o contexto e as condições da interação e da organização social,
levando a um novo ordenamento das relações entre território e espaço socioeconômico e
político.

Este contexto pós-Guerra Fria significa para a lógica do Estado um desafio, no sentido de
estabelecer mecanismos de controlo para o fenômeno da globalização e seus efeitos sobre as
sociedades e economias.

A explicação para a semelhança seria que essas alternativas foram impostas desde fora por
meio das grandes instituições financeiras internacionais, como o FMI (Fundo Monetário
internacional) e o Banco Mundial.

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Sem isentar a parcela de influência desses organismos no processo, pensar assim nos parece
simplificar demais a resposta. As opções foram determinadas também pelos contextos
internos da região e por sua posição dentro do próprio sistema internacional.

As posições assumidas pelos Estados latino-americanos foram se aproximando porque, mais


do que estratégias de inserção econômica num mundo globalizado, fazem parte de um
processo de redefinição do papel do Estado dentro dessa nova realidade, na qual a integração
regional assume uma função importante.

2.1.1. A globalização na década 80

Os anos 1980 são singulares para os analistas de relações internacionais latino-americanos


porque, economicamente, essa foi considerada uma década “perdida”, uma vez que a região
passou por um período de estagnação e forte recessão, embora na esfera política se tenha
iniciado o processo de redemocratização.

No plano ideológico, os governos de Ronald Reagan e Margareth Thatcher consolidaram a


perceção de que a saída para a crise econômica, que afetava também os países desenvolvidos,
estava na retomada pelo Estado da adoção de práticas econômicas, políticas e ideológicas
liberais, mais tarde denominadas neoliberais.

Perceção essa que foi reforçada com o colapso da União Soviética e o fi m da Guerra Fria. Tal
posição difundiu-se para a grande maioria dos países ocidentais e significou uma mudança nas
suas estratégias, especialmente naquelas ligadas à questão do desenvolvimento, que deixou de
ser uma atribuição exclusiva do Estado.

Em decorrência disso, cresceu a importância da esfera econômica na determinação dos


relacionamentos entre os Estados, fenômeno esse identificado muitas vezes com a
globalização. Esta tornou-se o elemento explicativo do que ocorre mundialmente, tornando-se
desde a causa do chamado “colapso” do Estado-nacional até a responsável pelo trabalho
infantil em algum país da Ásia.

Estaria, inclusive, alterando a própria ordenação do tradicional sistema internacional, ao


fortalecer o papel das empresas transnacionais como atores relevantes em detrimento dos
governos, que perderam o controlo sobre a circulação de capitais e investimentos.

Estaríamos presenciando o surgimento de uma nova ordem mundial baseada não mais na
força e no poder das nações, mas sim nas interações comerciais e financeiras, condicionantes

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dos interesses e estratégias de ação dos países (Oliveira, 2001).Contudo, pensar a globalização
apenas nos seus aspetos comerciais, econômicos e financeiros seria restringir a análise apenas
aos seus aspetos materiais, que sem dúvida são importantes e constituem a face mais evidente
da globalização, mas não correspondem à sua totalidade.

A globalização representa uma mudança significativa no alcance espacial da ação e da


organização social, que tornam-se “atividades e relações que se materializam em escala inter-
regional ou intercontinental.” (Castells, 1996, apud Held e McGrew, 2001: 12). Essa é uma
conceção multidimensional, na qual os diferentes aspetos do fenômeno da globalização
avançam em ritmos e geografias diferenciados.

Numa visão centralizada nos aspetos materiais da globalização, o papel do Estado no sistema
internacional contemporâneo passa a ser o de liberalizar e potencializar as forças mais
dinâmicas da economia mundial de qualquer entrave, principalmente institucionais. Parte das
estratégias utilizadas nesta tarefa ocorre através da transferência dos bens públicos coletivos
para a esfera privada, utilizando subsídios estatais com esse objetivo.

Outro papel atribuído aos Estados por essa visão da globalização é o de garantir um clima
interno confiável para o desenvolvimento dos negócios e útil também para atrair capital
financeiro e com ele a disponibilidade de crédito para o financiamento das atividades
econômicas no âmbito doméstico, bem como para a captação de recursos necessários aos seus
investimentos em infraestrutura, visando o aprofundamento do ciclo de desenvolvimento.

A perspetiva que enfatiza apenas as questões estritamente econômicas supõe como


consequência da globalização o enfraquecimento dos Estados enquanto atores internacionais.
Os governos que anteriormente estabeleciam e regulavam as condições externas do mercado
tornaram-se alvos da especulação internacional, principalmente no âmbito financeiro. Esse
contexto de incerteza gera forte preocupação pela regulamentação internacional da
globalização, especialmente na área financeira.

Todavia, de acordo com a perspetiva multidimensional adotada neste trabalho, a relação entre
globalização e Estado não se resume a um enfraquecimento deste último e à busca de uma
nova forma de ordenamento e controle internacional. Essa perspetiva vê uma reformulação do
papel do Estado, promovida pelos efeitos da globalização, que traz para o âmbito nacional
novos desafios e uma nova lógica de funcionamento.

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O primeiro ponto a ser destacado nessa nova lógica do Estado é que este não pode ser
considerado como um ente isolado dentro do sistema internacional, ou seja, os Estados e as
suas respetivas sociedades estão cada vez mais inseridos em sistemas e redes mundiais de
interação, implicando mudanças estruturais na organização social, que por sua vez leva a um
reordenamento das relações de poder entre e através das regiões.

2.1.2. Geopolítica das Organizações da Sociedade Civil

A globalização abriu uma estrutura de oportunidade e ameaças políticas que gerou novas
formas e repertórios de mobilizações e de disputas entre a sociedade civil e as empresas
multinacionais, as instituições internacionais e o Estado nacional. Como nenhuma destas
instituições são absolutamente homogêneas há departamentos setoriais que às vezes
colaboram com as propostas das organizações sociais.

Os embates que ocorreram durante as reuniões entre setores sociais e governamentais, que
carregavam interesses diferenciados, é um processo silencioso e que invariavelmente produz
baixas entre os setores sociais menos capitalizados, que são excluídos destes meetings, em
geral por não dominarem o idioma inglês. Não há nestes casos uma traição de classe, que soa
como uma crítica radical, mas a aceitação, por parte de representantes sociais, de uma
proposição que estendeu até o seu limite.

As oportunidades e ameaças conjunturais tendem, no jogo político, a se transformarem em


conflitos que se propagam regionalmente e se prolongam por tanto tempo que se tornam
“territórios em situação de guerra” (Ceceña, 2014).

Em períodos anteriores o sistema de segurança continental norte-americano, que prioriza a


presença direta das forças armadas, está utilizando mecanismos mais sutis de intervenção, que
contam com a conivência de setores das elites e dos parlamentos nacionais.

O domínio econômico depende de alterações nas normas de mercado para que o capital possa
se reproduzir por meio dos TLCs ou de empréstimos oferecidos pelas IFIs aos Estados
nacionais. O domínio econômico projeta espaços geopolíticos de poder que desenha os
corredores geográficos e militares que garantem a área de segurança dos Estados Unidos.

As mudanças na ordem global, movidas por interesses dos países centrais, arquitetaram uma
conjuntura marcada por mobilizações sociais, que se propõem a construir uma sociedade pós-
capitalista a partir de uma visão descolonizadora, com espaços de integração social com

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ampla participação popular, representação direta nas diversas estruturas do Estado e das
instituições de integração regional.

Setores paradigmáticos da sociedade como os camponeses e os indígenas se organizam para


defender seus direitos territoriais, desafiar as elites latifundiárias e o aparelho repressivo do
sistema. Setores sociais conservadoras e a direita partidarizada reagem com violência e
mobilizam as forças legais e as ilegais para impedir qualquer ameaça ao status quo.

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) publicou o Relatório Violência contra os Povos


Indígenas no Brasil Dados de 2014, denunciando que no mesmo ano ocorreram 135 suicídios,
sendo a maioria praticada por jovens. Só no Estado de Mato Grosso do Sul chega-se a 707
suicídios (2000 a 2014). Os dados oficiais indicam a ocorrência de pelo menos 785 mortes de
crianças de 0 a 5 anos (Rangel e Liebgott, 2014:17).

Para combater e denunciar internacionalmente as violações de direitos humanos constituídos e


as ameaças embutidas nos TLCs a Rebrip, além de casos empíricos apresentados perante o
Tribunal Permanente dos Povos (TPP), promoveu encontros de representantes com redes de
cinco continentes.

Estes encontros, estimulados por Ongs estadunidense, europeias, resultaram na criação da


rede social transnacional “Nosso Mundo não está à Venda” (Our World is not for Sale –
OWINFS). A OWINFS, rede transnacional que agrega movimentos e organizações sociais
para combater os acordos de livre comércio e inversões, promove ações contra a globalização
orientada pelas multinacionais. Essa nova forma de rede social transnacional altera a estrutura
tradicional do associativismo em relação aos Estados ao criar novas representações e
mobilizações coletivas centradas mais em vínculos socioeconômicos do que em relações
político-partidárias ou ideológicas (Gohn, 2013:12).

As propostas da Rebrip encampadas pela OWINFS e apresentadas nas reuniões da


Organização Mundial do Comércio buscavam garantir instrumentos de salvaguardas e
barreiras de proteção aos setores produtivos rurais e urbanos de pequeno porte, que não têm
escala de produção.

É importante ressaltar que os negociadores oficiais de comércio internacional são, em geral,


agressivos com as redes sociais que aportam novas perspectivas, porque o ambiente
institucional de negociação não permite que se questione a irracionalidade econômica do
sistema capitalista.

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2.1.3. A Emergência das Redes Transnacionais

No início da década de 2000, as redes sociais transnacionais emergiram com força no cenário
internacional estimulando os setores progressistas da sociedade civil a pensar em um novo
modelo de Estado que compartilhe certas áreas de decisão com as representações sociais
coletivas, que não trazem características partidárias ou de interesse privado. Há uma diferença
entre “pressão social” (advocacy) e lobby empresarial na medida em que aqueles o fazem em
nome da comunidade sem intenção primeira de lucros ou benesses.

É justo que quando um coletivo, como o GT Agricultura da Rebrip, defende os pequenos


proprietários produtores de leite de uma multinacional como a Nestlé, está defendendo que os
agricultores familiares partilhem dos lucros no final da cadeia de produção e não sejam super
explorados. Essa percepção é axiomática entre a diplomacia oficial.

As relações de confiança entre a maioria dos negociadores e os representantes de


organizações sociais demonstram aprovação para as ações promovidas em nome de setores
menos privilegiados da sociedade. Alberto Melucci enfatiza que os laços de amizade ou
confiança entre membros importantes de diferentes organizações constroem uma “rede
latente” ou “submersa” (Melucci apud Abers e Von Bülow, 2011:75).

Ao entregar crachás que permitem as organizações integrarem as delegações diplomáticas


nacionais atribui-se igualmente um reconhecimento e uma legitimidade àquela representação.
Essa representação, denominados por Flávia Barros de “diplomacia civil”, que se relaciona
com a diplomacia oficial e com os negociadores internacionais (Barros, 2011: 317), tem
acesso a certos espaços de negociação que nenhuma outra organização pode ocupar.

Os crachás oficiais permitem que os representantes sociais transitem nos espaços de


negociação e nas mobilizações de protesto, que se concentram em locais estratégicos. Esses
representantes se transformam em verdadeiros intermediários ou brokers. Com estes broker as
“últimas notícias” correm de dentro para fora do local de reunião e são informadas ao coletivo
nas concentrações de rua. Em reuniões menores as lideranças das redes definem as novas
estratégias a partir das informações obtidas, esta flexibilidade estar dentro e fora ao mesmo
tempo podem desnortear os aparatos repressivos e de segurança.

Muitas vezes o diplomata-negociador utiliza esses brokers para repassar uma notícia que o
cargo não lhe permite e, assim, os intermediários sociais suprem a mídia internacional com
declarações e mantem à tensão do jogo de posições entre os países ou os blocos. As redes

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sociais, por seu lado, aproveitam as tensões e criam oportunidades para intervenções que
favoreçam suas posições.

Entre os diversos grupos de países agregados durante as negociações da OMC, por exemplo,
foram perdendo foco, o único que mantém alguma expressão é o G20. Adriano Campolina
observa que o G20 “tem potencialidades para afetar as negociações nas demais áreas da OMC
em futuro próximo, bem como poderá ir além da OMC afetando outros espaços da política
internacional”, porém com o crescimento das forças partidárias e sociais de direita no Brasil e
na América Latina esta projeção poderá perder sua previsibilidade (Campolina, 2004:134).

As redes sociais regionais e transnacionais no sistema capitalista contemporâneo


incorporaram o paradoxo de só atuarem em um cenário de forte negociação neoliberal. Sem o
pano de fundo da liberação econômica e comercial as redes sociais definham ou hibernam,
por mais que tenham contribuído para algumas alterações na estrutura de comportamento do
mercado internacional.

As demandas e as denúncias das organizações sociais pouco afetaram a couraça protetora da


OMC, mas algumas vezes fizeram-na se mexer. Porém, as grandes corporações
multinacionais desenham e redesenham as normas do mercado impondo um continuum que
repagina a geopolítica mundial e o sistema-mundo contemporâneo, que rege o Estado, a
sociedade e o mercado.

2.1.4. A criminalização dos movimentos sociais

A globalização, sob a hegemonia euro-norte-americana, recupera as arcaicas diretrizes da lei


de segurança nacional que são recompostas em termos de segurança continental a partir das
particularidades de cada nação latino-americanas e dos países do leste europeu. Neste
contexto, a ameaça real está oculta e se mascara sob os diversos termos como anticomunismo,
guerrilha, drogas, narcotráfico, imigração, terrorismo, entre outros.

Além de redignificar a questão da segurança continental o processo de globalização, por um


lado, subverte ao acelerar o processo do capitalismo industrial moderno com a irrupção de
novas técnicas de informação e comunicação, que revolucionam as plantas e as plataformas
de montagens dos grandes parques industriais.

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A revolução tecnológica, por outro lado, traz consigo um maior controle das ações individuais
e coletivas. Os aparelhos de segurança e informação nacional são acionados pelas elites
sociais e políticas para transgredir os direitos de inviolabilidade da correspondência, do sigilo
das comunicações, sem autorização judicial.

Recorde-se o caso esdruxulo do Ministro da Fazenda do Brasil, Antônio Palocci, que foi
demitido pelo presidente Lula por ter pediu a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo
Costa. No parlamento ações semelhantes tornaram-se rotineiras e foram largamente utilizadas
pelos partidos conservadores contra lideranças sociais e sindicais que tiveram que enfrentar as
comissões parlamentares de inquérito (CPI), instituídas contra diversos movimentos sociais e
sindicais, como a CPI do Conselho Indigenista Missionário.

Todas as investigações realizadas pelos congressistas não resultaram em nenhuma proposição


legislativa ou em uma confirmação de ato ilegal por parte das lideranças, das organizações e
dos movimentos sociais, mas serviram para difundir entre os setores da população menos
informados a desconfiança nestas organizações, por meio da mídia.

Outra tentativa de atacar os movimentos sociais foi o projeto de lei do senador do PSDB-SP,
Aloysio Nunes Ferreira, que enquadrava as manifestações individuais ou coletivas durante
atos políticos, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou categoria profissional
como ato de terrorismo.

2.2. Integração regional

Embora a avaliação dos fluxos de capitais em direção à periferia contenha informações


valiosas, ela é insuficiente para caracterizar as formas diferenciadas de integração. Contudo, a
partir dessa classificação inicial é possível avançar na distinção de perfis financeirizados ou
produtivistas. Nos primeiros, a integração foi comandada pela dimensão financeira da
globalização; e nos segundos, pela produtiva.

Uma série de distinções de performance marca esses padrões não só no âmbito dos fluxos de
capitais, mas, também, quanto à convergência ou divergência ante os países centrais medidas
em termos de renda e, sobretudo, de desenvolvimento produtivo-tecnológico, o catching-up.

Durante o regime de Bretton Woods há uma convergência acentuada entre as duas regiões no
que tange às taxas de crescimento. Estas, além de elevadas, demonstram, na América Latina,
baixa volatilidade, em contraste com o Leste da Ásia, região na qual a China demonstrava

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maior instabilidade. No período da globalização a situação se modifica, pois aumenta o
diferencial de crescimento em favor das duas sub-regiões asiáticas.

Essa última dimensão do processo de desenvolvimento é explorada por Palma (2004), ao


distinguir elementos particulares, presentes nos países de acumulação produtivista e ausentes
nos financeirizados.

As nações do primeiro tipo, as denominadas “gansos voadores” (flying geeses), teriam a sua
performance marcada por ganhos simultâneos de competitividade e de posicionamento, vale
dizer, não só modernizaram as atividades tradicionais por meio do progresso tecnológico
como diversificaram as suas estruturas produtivas, aproximando-as do paradigma
predominante em nações avançadas.

Já os países do segundo tipo, denominados de “patos vulneráveis” (lame ducks), realizaram,


quando o fizeram, apenas a primeira parte do processo, ou seja, a modernização dos setores
tradicionais. Nos primeiros superou-se a divisão internacional do trabalho herdada e nos
segundos, esta se reafirmou.

A distinção realizada por Palma (2004) toma por base a classificação dos setores industriais
segundo intensidade tecnológica. Assim, para o primeiro grupo de países houve ganhos de
produtividade e de competitividade naqueles segmentos intensivos em força de trabalho,
recursos naturais e com baixo conteúdo tecnológico, mas a mudança central foi aquela
relativa à incorporação de novos segmentos produtivos, de média e alta intensidade
tecnológica (efeito posicionamento).

Para o segundo grupo, os ganhos foram restritos ao aumento de competitividade nos


segmentos de baixa intensidade tecnológica e intensivos em força de trabalho e recursos
naturais. Essa configuração confere a esses últimos um handicap no processo de
desenvolvimento na medida em que os setores nos quais se especializam têm taxa de
crescimento inferior à média ou, dito de outra maneira, possuem demanda com menor
elasticidade-renda.

2.2.1. Relançando o regionalismo africano

Enquanto a África tem um longo histórico de iniciativas de integração regional, os resultados


tem sido, de um modo geral, desapontadores. Na sua apresentação, Nureldin Hussain e
Naceur Bourenane mostram que, na última década, na medida em que um número crescente
de países iniciou timidamente um processo de abertura de suas economias e remoção das

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barreiras mais notórias ao investimento e formação de negócios, os acordos regionais estão
sendo revividos.

No espírito do Acordo de Abuja, a integração regional é vista como uma estratégia de fazer
face à globalização, enquanto instrumentos de políticas específicas têm que ser usados para
aumentar a capacidade doméstica e o interesse nacional.

Enquanto a participação do setor privado é vista como essencial nesta nova fase, existe
também a percepção de que o setor público deva se envolver na criação de um ambiente
auspicioso para iniciativas regionais florescerem e tornarem-se sustentáveis.

Adrian Wood, em um discurso proferido em nome de Clare Short, argumentou que não existe
a necessidade para a África de escolher entre multilateralismo e regionalismo. Elas não são
estratégias conflitantes. Pelo contrário, para fazer frente aos desafios da globalização, a
integração regional e a cooperação são complementos vitais para o multilateralismo.

Em outras palavras, a África deve praticar “regionalismo aberto”. Claramente, nas palavras de
Michael Spicer, a abertura funciona parcialmente, pois ela envia um sinal sobre qual tipo de
economia deseja ter o estado que liberaliza – um que é aberto não apenas ao comércio, mas
também para idéias, pessoas, habilidades e investimento; um que quer competir no cenário
mundial; e um que luta por valores políticos e práticas sociais internacionalmente aceitáveis.

Complementarmente a isto, de acordo com Koos Richelle, é a necessidade que os países em


uma região exercitem a propriedade das atividades regionais desde o início. Neste respeito,
deveria existir uma maior consistência entre as organizações em nível nacional e em nível
regional para minimizar os efeitos negativos da variabilidade de políticas econômicas
dirigidas pelos estados sócios.

Uma importante implicação prática é que o processo de PRSP (trabalhos de estratégia de


redução da pobreza) deveria certamente levar em conta a dimensão regional. Com base em
uma leitura cuidadosa da história da Comunidade do Leste Africano, Jakaya M. Kikwete
argumentou que outros requisitos para uma integração bem-sucedida incluem atenção para um
compartilhamento proporcional dos benefícios da integração econômica, introdução de
mecanismos de compensação adequada para reequilibrar a situação, criação de fóruns formais
e informais de discussão política entre os estados membros, e mecanismos participativos para
a sociedade civil e o setor privado.

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De qualquer maneira, vários participantes pediram cautela contra depositarmos esperanças
muito elevadas sobre o regionalismo: de acordo com Sheila Page, por exemplo, em pequenos
países pequenas mudanças resultarão em pequenos resultados. Além do mais, enquanto a
África tem que se integrar para aumentar as chances de sobreviver à competição externa, foi
também destacada a necessidade de encontrarmos um caminho de desenvolvimento baseado
em uma abertura generalizada para outras regiões e continentes.

De acordo com Kiichiro Fukasaku, o continente ainda se compara desfavoravelmente com


outras regiões em desenvolvimento em termos de seus esforços de liberalização, parcialmente
por que a arrecadação geral de impostos permanece fraca e isto dificulta a redução de tarifas
alfandegárias.

Além do mais, disse Ademola Oyejide, tem sido limitada à magnitude da liberalização do
comércio que poderia ser atribuída a iniciativas regionais. Entretanto tal quadro está sendo
mudado rapidamente. Por exemplo, UEMOA implementou uma tarifa externa comum (de
quatro taxas variando de zero a vinte por cento).

Aparentemente a CEMAC implementou um processo semelhante na mesma direção. Além


disso, dado que muitos países têm sido reformadores relutantes com pobre desempenho em
termos de crescimento, são os países mais fracos que muitas vezes definido a agenda de
negociações regionais. A possibilidade do uso de uma abordagem de geometria variável como
uma maneira de quebrar o impasse, foi citada por Jorge Braga de Macedo, como foram os
benefícios potenciais derivados da supervisão multilateral em agrupamentos regionais.

2.2.2. Integração regional e tratados de livre comércio

A União Europeia, modelo neoliberal de bloco econômico ideal para os novos atores do
mercado internacional, teve suas origens em 1958, se consolidou em 1993 e entrou em vigor
em 2009 (cinquenta e um anos depois), com o Tratado de Lisboa. As tratativas para firmar o
Nafta (North American Free Trade Agreement) iniciaram em 1988 e só foram se efetivar em
1991, entre os Estados Unidos, Canadá e México.

Diante da nova forma de estruturação do mercado internacional legitimada pelos organismos


e instituições financeiras internacionais, que significava a hegemonia da política economica
neoliberal, os ideólogos do neoliberalismo afirmam o fim da luta de classes ou o “fim da
História”.

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Por outro lado, alguns especialistas interpretam que a globalização é um processo que se
contrapõe ao sitema capitalista ao mobilizar conjunto de forças sociais, culturais e economicas
cujo capitalismo não pode absorver sem abrir uma série estruturas de oportunidades políticas
para a intervenção das forças sociais organizadas e transformadoras (Martins, 2011, Tarrow,
1994, Tilly, 1977).

Paradoxalmente o pensamento que alimentou a construção da integração regional sul-


americana não foi o da esquerda, mas o das multinacionais, apoiadas por agências
governamentais e por programas das organizações multilaterais (FMI, BID e BM).

A integração econômica é um investimento político e financeiro intraestatal que requer


recursos significativos que a economia privada ou as organizações não-governamentais
(Ongs) não dispõe alocar e no qual a participação da sociedade civil se restringiu, por um
período, a ter apenas um caráter consultivo.

Somente no final da década de 1990 é que algumas centrais sindicais abriram alguns canais de
diálogo com as comissões do PARLASUL e as redes sociais de Ongs, organizações
identitárias e trabalhistas, iniciaram a pressão por maiores espaços de participação.

Esses novos atores não são bem vistos pelas grandes corporações cujo interesse é manter o
esquema de exploração da mais-valia relativa da mão-de-obra dos trabalhadores latino-
americanos. A proposta desses agentes econômico estatais não leva a uma integração
sociocultural, mas a preocupação de garantir espaços comerciais que mantenham a clássica
divisão internacional do trabalho.

Ruy Mauro Marini afirma que a América Latina cumpre a função no desenvolvimento do
capitalismo de área com capacidade de ofertar alimentos em escala mundial condição
necessária para sua integração à economia internacional no sentido de contribuir para a
ampliação do mercado de matérias-primas (vegetais e minerais) em função do
desenvolvimento industrial (Marini, 1973:4).

Essa trajetória dos países e blocos latino-americanos em se integrarem no mercado


internacional somente pelo nível do comércio além de ser economicamente prejudicial, não
leva a integração regional ou continental. O termo integrar possui uma noção intrínseca de
equidade entre as partes integrantes. Por isso, o conceito de integração econômica demanda
mais que a abertura de mercado, subentende a conciliação de políticas macroeconômicas,
políticas de inversão, níveis salariais, entre outros (Jelin, 2003:33).

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Von Bülow define “múltiplas trajetórias para a transnacionalidade” como “um processo pelo
qual indivíduos, grupos e/ou organizações não estatais se mobilizam em torno a objetivos e
alvos comuns, atuando simultaneamente dentro e fora das fronteiras nacionais” (Von Bülow,
2009:143).

Creio que a variedade de trajetória que as organizações sociais têm para a ação internacional,
apesar de ser diferente dos caminhos que os Estados ou os Blocos econômicos podem adotar
por suas características específicas, pode ser ampliada para a análise das opções adotadas por
estas e outras instituições.

Diante de economias nacionais e sociedades civis débeis os países centrais, apoiados pelas
IFIs, setores das elites nacionais e da mídia conservadora, que atua como um ator político
sustenta a expansão capitalista apoiando regimes ditatoriais que se estabeleceram nos países
latino-americanos nas décadas de 60 e 70. A sustentação dos regimes de exceção revelava a
face contraditória da política externa do capitalismo ocidental conduzido pelos Estados
Unidos, que por um lado, patrocinava as ditaduras em seu espaço geopolítico, por outro
rejeitava os regimes políticos em vigor na URSS, China, Vietnã do Norte e em outros países,
de orientação socialista ou comunista.

No início dos anos de 1980, o neoliberalismo se consolida na América do Sul em consonância


com a redemocratização e com o refluxo de alguns intelectuais que aceitam o argumento de
que o paradigma socialista e o marxista não respondem às questões colocadas pela sociedade
contemporânea.

As décadas finais do século XX, a democratização dos anos de 1980 e a globalização dos anos
de 1990, marcaram um tempo transicional de crise nos quais se observa um processo
acelerado de urbanização, concentração da terra e a emergência da política contra terrorismo.
A internacionalização dos conflitos e interesses demarcam alguns países e regiões que
integrariam o “eixo do mal”, na infeliz declaração de George W. Bush, e coloca em alerta os
países e as sociedades sobre quais das múltiplas trajetórias para a transnacionalidade
pretendem escolher.

2.2.3. Implicações para a África

Em vista de algumas das falhas no processo de reforma na África, inclusive na área de


integração regional, existe uma crescente percepção por parte dos formuladores de políticas,

16
que uma análise cuidadosa das experiências em outras regiões do mundo em desenvolvimento
poderia potencialmente melhorar a qualidade das políticas.

Até agora a maioria das atenções tem sido no modelo europeu de integração, onde,
naturalmente, as condições iniciais são bastante diferentes e onde as instituições foram
construídas de cima para baixo. Por outro lado, de acordo com Andréa Goldstein e Carlos
Quenan, a América Latina adotou uma abordagem diferente para o regionalismo,
implementando mudanças de políticas em uma maneira relativamente rápida e acompanhando
a abertura comercial com uma quantidade de reformas profundas nas políticas econômicas
domésticas.

Outro ponto que caracterizou a experiência da América Latina nos anos noventa, foi a clareza
dos objetivos atribuídos à integração regional, especialmente no caso do Mercosul, e a
resultante leveza do arranjo institucional para gerenciá-los. Estes contrastam acentuadamente
com a África, onde objetivos não realistas são combinados com uma estrutura ultrapassada de
agências oficiais.

A integração é mais um processo que um objetivo em si, e a vontade política é crucial, como
evidenciado no Mercosul pelo fato que o Brasil serviu de locomotiva enquanto, no passado
pelo menos, nenhum país pareceu capaz de fazer isto em qualquer das principais iniciativas
regionais na África.

Os participantes também enfatizaram o fato de que os organismos regionais tais como o


Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Comissão Econômica das Nações Unidas para
a América Latina e o Caribe, tiveram um papel crucial em articular uma doutrina coerente de
regionalismo aberto. Os setores público e privado na UE, no Mercosul e na NAFTA têm sido
complementares, mas em alguns casos tem havido uma liderança exclusiva ou do setor
público ou do setor privado.

Entretanto, o motivo em fazer a comparação entre estes dois continentes diferentes não é tanto
de estabelecer a América Latina como modelo, mas como chamar antecipadamente a atenção
dos formuladores de política africanos, para os desafios que a maioria dos agrupamentos
avançados estão enfrentando agora e quais destes a África irá também enfrentar no futuro
próximo.

Em particular, na medida em que as medidas implementadas na Argentina por ocasião deste


fórum poderiam colocar em risco a própria existência do Mercosul, vários participantes,

17
incluindo Marie-Christine Crosnies, observou que os países africanos devem encontrar
mecanismos de coordenar políticas econômicas e reduzir a vulnerabilidade para choques
externos. Paul Isenman também enfatizou que o Mercosul foi bem sucedido onde outros
esforços falharam pois seus membros tinham uma mentalidade em comum: a visão que eles
compartilharam era “aberta”.

Se um agrupamento regional tiver um visível objetivo de abertura, mas seus membros de fato
não estão tão comprometidos e possuem visões muito divergentes entre e dentro dos países, as
chances para o sucesso são altamente limitadas. A falta de retornos aparentemente rápidos,
um compreensível sentimento de injustiça vis-à-vis o sistema de comércio mundial, e a
dependência da ajuda podem piorar estes problemas.

Rolf J. Langhammer também enfatizou que a América Latina teve, até agora, um sucesso
apenas limitado em melhorar a qualidade da infraestrutura física de modo a remover as
barreiras ao comércio.

As reformas e o regionalismo aberto não foram ainda capazes de propiciar altas taxas de
crescimento de modo a frear a “fuga de cérebros”, um fenômeno que é comum à África e
América Latina. Ao mesmo tempo, deve ser levado em conta que as lutas e a fome não são
tão prevalentes na América Latina como são na África, de modo que a prevenção de crises e
sua resolução é uma questão menos importante para os latinos.

2.2.4. Investindo em Infraestrutura e Fortalecendo os Mercados de


Capitais

A infraestrutura africana é afligida por muitos problemas que foram bem sumarizados por
Hilde F Johnson. As decisões sobre o que e onde construir foram tomadas durante o período
colonial, com o objetivo de extrair um ou dois produtos primários para o mercado,
transportados aos portos onde eles poderiam ser exportados.

Não surpreendentemente, muitos países africanos permanecem dependentes em um único


produto de exportação e produtos complementares são poucos e muito espaçados. A
infraestrutura permanece concentrada nas áreas urbanas, refletindo as prioridades das elites
urbanas, a despeito do fato de que os pobres que vivem na zona rural constituem 80% da
população.

A infraestrutura africana é também deficientemente mantida e custosa para operar, ela sofre
da falta de participação e investimentos do setor privado, e novos investimentos são muitas

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vezes incentivados por financiamento de concessões, ou de instituições financeiras
internacionais ou de países doadores.

Desta maneira, sem nenhuma surpresa, o insuficiente investimento em infraestrutura pode


gerar pesadas externalidades ao crescimento, especialmente no turismo, construção e na
agricultura setores que, de acordo com Nazir Alli, podem contribuir com 90% dos empregos
que se espera sejam criados na África do Sul nos próximos sete anos.

W.T. Oshikoya e M.Nureldin Hussain analisaram como o reconhecimento que a integração


regional é um conceito que se estende mais além do comércio e produção e que ele deve
incluir um sistema financeiro sólido e que -ganhou popularidade nos anos noventa a idéia de
uma rede eficiente de infraestrutura. Com infraestrutura pobre ou não existente, a
aglomeração de economias não pode ser criada.

Exemplos de projetos de infraestrutura que explicitamente levam em conta dimensões


regionais, são os “corredores econômicos” na Comunidade de Desenvolvimento Sul-Africana,
na Bolsa de Valores Regional da África Ocidental, em Abidjã, ou Air Afrique.

Para todas estas iniciativas funcionarem, é crucial dar-se um real significado para os conceitos
tais como governança e transparência, de modo a que não permaneçam apenas como
pensamentos idealistas. Necessitamos aprender mais sobre estratégias alternativas que
poderiam ser consideradas pelos países africanos para responder a estes desafios, assim como
para compreender o dilema levantado por Shemmy C. Simuyemba.

Outras regiões emergentes como a Europa Oriental e a América Latina recebem maiores
investimentos que a África, apesar dos riscos de corrupção não serem menores. É também
importante usar o desenvolvimento da infraestrutura para ajudar o setor informal a participar e
beneficiar-se do processo de globalização e liberalização.

Na base de sua própria experiência, Hilde F.Johnson enfatizou que a sociedade civil pode
exercer uma vigilância extremamente efetiva, acompanhando as ações dos formuladores de
políticas e assegurando que eles ajam no interesse de todas as partes interessadas,
melhorando, desta forma, a credibilidade de todo o processo.

Em todas essas áreas existem alguns grandes obstáculos a serem superados. Ao mesmo tempo
em que o investimento é a chave na promoção da integração, a África é conectada
financeiramente ao resto do mundo com vários canais negativos, incluindo endividamento,
lavagem de dinheiro e fuga de capitais.

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A solução da crise da dívida através de estratégias inovadoras, tais como a Iniciativa para os
Países Altamente Endividados, é, desta forma, uma prioridade, especialmente em vista da
criação de mercados de bônus para financiar projetos de infraestrutura de longo-prazo. Em
segundo lugar, a crescente integração global dos mercados financeiros reduz a necessidade de
praças financeiras nacionais, especialmente em países que são pobres e pequenos demais para
alcançar uma escala mínima eficiente em termos de faturamento e liquidez.

Ainda assim, mostram Keith Jefferis e Kennedy Mbekeani, o viés dos investidores contra o
risco, que excluem todas, com a exceção de algumas corporações africanas de primeira linha,
dos principais mercados financeiros da OCDE. Os mercados regionais podem, desta forma
obter um nicho para si, se eles aumentarem a competição entre as diferentes formas de
intermediação financeira, que é um vetor importante no desenvolvimento do mercado.

Foi apresentada, em particular, por Jean-Paul Gillet, a experiência da Bolsa Regional de


Valores da África Ocidental em Abidjã. Além disso, o levantamento de recursos em nível
doméstico permanece uma necessidade para as companhias emitirem ações nas bolsas de
valores da OCDE. Outro grande problema deriva da falta de know-how em muitos países
africanos.

A elevada dependência de consultores, técnicos e empresas de contratação estrangeiras,


enfraquece o sentido de propriedade dos projetos e pode perpetuar a dependência de ajuda.

CAPÍTULO III: METODOLOGIA DE PESQUISA

Este capítulo visa descrever os procedimentos metodológicos adotados para o trabalho desde
o desenho da Pesquisa, a população em estudo, o tamanho da amostra, os métodos de coleta
de dados primários e secundários e os procedimentos para análise e tratamento dos dados. Os
Autores abordam as principais regras da produção científica fornecendo uma melhor
compreensão sobre a natureza e objetivos de trabalho. De acordo GIL (1999:23) a
metodologia de Pesquisa visa fornecer informações básicas de pesquisa servindo de guia para
a elaboração do projeto, auxilia na descrição dos princípios teóricos e fornece orientações
práticas que ajudarão o autor a aprender, a pensar criticamente, a ter disciplina e rigor,
escrever e apresentar trabalhos conforme padrões metodológicos e académicos; Identifica
como se processam as operações mentais no processo de pesquisa científica.

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3.1. Desenho de pesquisa

Nesta pesquisa foi utilizada o método de abordagem qualitativa. Este tipo de investigação
segundo Richardson (2011 e indutivo e descritivo na medida em que um investigador
desenvolve conceitos, ideias e entendimentos a partir dos padrões encontrados nos dados.

3.2. Método de Coleta de Dados

Para a coleta de dados, o estudo fundamentou-se na recolha de dados, secundário. Os dados


secundários os estudo recorreram á pesquisa bibliográfica, Pesquisa Documental, Artigos e
Revistas que versam sobre a matéria em análise.

3.3. Coleta de Dados Secundários

Os dados secundários foram obtidos partir de várias fontes como preconiza a pesquisa
bibliográfica que segundo Gil (2004: 44) tem de ser desenvolvida com base em material já
elaborado de autores credíveis. Estas fontes foram obtidas na internet e outras literaturas afins.
Também foi privilegiado a pesquisa documental que segundo Gil (2001:) vale-se de matérias
que não recebem ainda um tratamento analítico.

CAPÍTULO IV: CONCLUSÃO

A vida do sistema mundial, segundo Wallerstein “é feita das forças conflitantes, que o
mantém unido pela tensão e cada grupo procura eternamente separá-lo para remodelá-lo para
sua vantagem. A criação de instituições como o Banco Mundial, o FMI e a OMC vêm servir
aos interesses dos países centrais, que se apropriam das presidências e das áreas decisórias
dessas instituições. Gramsci já alertava que “cada nación importante puede tender a dar un
sustrato económico organizado a su propia hegemonía política sobre las naciones que le están
subordinadas”.

As multinacionais, além de se favorecerem da proteção dos países de origem e se colocarem


em posições mais favoráveis para explorar o mercado, agem com voracidade e, como o

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mercado internacional não tem ética, saqueiam as economias dos países semi e periféricos por
meio de relações comerciais desiguais.

O discurso único do neoliberalismo econômico colocou o mercado como regulador das


relações entre os Estados e entre os Estados e as sociedades. O novo tipo de liberalismo
econômico, cuja base ideológica é o discurso neoliberal, permitiu que os Estados ocidentais
centrais refinassem suas formas de dominação ao criar instituições que aparentemente
minimizavam as tensões entre o centro, a semi e a periferia do sistema-mundo.

As organizações sociais, rurais e urbanas, agrupam-se em redes sociais heterogêneas e se


integram a movimentos internacionais, como a Via Campesina ou a Aliança Social
Continental para reagir diante do avanço das grandes corporações. O mercado mundial se
transformou em mercado global, que ao se apropriar da revolução eletrônica criou mercados
virtuais e transformou produtos primários, inclusive os alimentícios, em commodities,
impondo uma nova divisão internacional do trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ativismo através da fronteira entre Estado e sociedade?”, Sociologias, Ano 13, N° 28, pp.
5284.

Alonso, A. (2009): “As teorias dos movimentos sociais: um Balanço do debate”, Lua Nova,
N° 76, pp. 49-86.

Barros, F.L. (2011): “Redes e participação social em campos políticos da cooperação


internacional – a experiência brasileira”, Revista Sociedade e Estado, Vol. 26, N° 2.

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regulação do comércio mundial”, Boletim de Economia e Política Internacional, N° 18.

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Giraldo, J. (2010): Fusil o toga, toga o fusil: El Estado contra la Comunidad de Paz de San
José de Apartadó, Bogota, Editorial Codice.

Martins, C.E. (2011): Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina, São


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mais ampla do contexto político da contestação”, Sociologias, Ano 13, N° 28, pp. 18-51.

Mohamadieh, K. (2015): “Os fundos abutres sangram a economia dos países pobres”, Other
News, disponible en: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Os-fundos-abutres-
sangram-aeconomia-dos-paises-pobres/7/33232

Nunes, J.A. (2009): “O resgate da epistemologia”, en Sousa Santos, Boaventura de y


Meneses, Maria de Paula (orgs.), Epistemologias do Sul, Ed. Almedina.

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