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BENJAMIN, Walter. Paris no Segundo Império.

In: Charles Baudelaire: um


lírico no auge do capitalismo. São Paulo, Brasiliense. 1989.

A Modernidade

A imagem do artista

“Baudelaire conformou sua imagem de artista a uma imagem de herói.


Desde o início, uma intercede pela outra.” p.67.

Imagem do artista = associada ao trabalho  a um esforço físico

Metáfora do esgrimista – a “estranha esgrima”

- A imagem do artista em Baudelaire está associada ao trabalho:

“Musset nunca teria entendido quanto trabalho se requer para ‘fazer com
que de uma fantasia nasça uma obra de arte’” p.67

“B, ao contrário, desde o 1o momento surge diante do público com um


código próprio, com preceitos e tabus próprios. 67

Barrès  quer “reconhecer em cada ínfimo vocábulo baudelairiano o rastro


dos esforços que o ajudaram a alcançar tamanha grandeza.”

Gourmont “Mesmo em suas crises nervosas, Baudelaire conserva algo de


sadio.” p.67

Gustave Kahn  “Em Baudelaire, o trabalho literário era semelhante a


um esforço físico.” p. 68

a prova está em sua pp obra  metáfora do esgrimista

imagem de artista  imagem de Herói



metáfora do esgrimista

1
Cf. “O pintor da Vida Moderna” descr. de Constantin Guys trabalhando

Cf. Poema “O Sol” de As flores do mal  se retrata envolvido nessa


“estranha esgrima”

Exercerei a sós a minha estranha esgrima,


Buscando em cada canto os acasos da rima,
Tropeçando em palavras como nas calçadas,
Topando imagens desde há muito já sonhadas.

Flâneur X poeta
Coerentemente com essa maneira de trabalhar
 “o flâneur de Baudelaire não é um auto-retrato do poeta no grau
que se poderia imaginar” p. 69.

 “Um traço importante do Baudelaire real – ou seja, daquele que se


entrega à sua obra – não entrou nessa imagem. Trata-se da distração.
p. 69.

“No flâneur, o desejo de ver festeja o seu triunfo”.

Flâneur X detetive amador X Basbaque

 o flâneur não pode: - concentrar-se na observação


 disto resulta o detetive amador;

o flâneur pode: - estagnar na estupefação


 neste caso se torna um basbaque

flâneur x basbaque:

“Não se deve confundir o flâneur com o basbaque; existe aí uma nuance a


considerar... O simples flâneur está sempre em plena posse de sua
individualidade; a do basbaque, ao contrário, desaparece. Foi absorvida pelo
mundo exterior...; este o inebria até o esquecimento de si mesmo. Sob a
influência do espetáculo que se oferece a ele, o basbaque se torna um ser
impessoal; já não é um ser humano; é o público, é a multidão.” p. 69.
2
Descrições reveladoras da cidade grande

Cidade grande  “as descrições reveladoras da cidade grande não se


originam nem de um nem de outro; procedem daqueles que “atravessam a
cidade distraídos, perdidos em pensamentos ou preocupações. É a eles
que faz jus a imagem de “estranha esgrima.”
 p. 69  Baudelaire teve em mira o seu comportamento, que é tudo
menos o do observador.” p. 69.

A imagem da esgrima no trabalho de Baudelaire


“Reconhecer sob a imagem da esgrima o trabalho que B. dedicava aos seus
poemas significa aprender a vê-los como uma série ininterrupta das mais
pequenas improvisações. As variantes de seus poemas atestam como era
constante no seu trabalho e como o afligiam as mínimas coisas.” p. 70.

Baudelaire e transformação da rua num refúgio


Baudelaire  início da carreira = quarto sem vestígio de escritório

“Naquela época aspirava, simbolicamente, à conquista da rua” 70

B. “Mais tarde, ao abandonar paulatinamente sua existência burguesa, a rua


se tornou cada vez mais um refúgio”.

Flânerie  faz da necessidade uma virtude


 associada à concepção do herói

flânerie  “desde o início, porém, havia na flânerie a consciência da


fragilidade dessa existência”. p. 70.

Flânerie  “Ela faz da necessidade uma virtude e nisso mostra a estrutura
que, em todas as partes, é característica da concepção de herói em
Baudelaire.” p. 70.

Baudelaire  penúria disfarçada

Baudelaire: penúria disfarçada  mas “diz respeito tb à produção poética”



3
“Para um escritor, B. tinha um grande defeito do
qual ele mesmo não suspeitava: sua ignorância. O
que sabia, sabia a fundo, mas sabia pouca coisa.” 71.

“O estilo de vida da boêmia contribuiu para desenvolver uma superstição


sobre a criação à qual Marx se opõe com uma afirmação válida tanto para o
trabalho mental quanto manual.”

Marx  “Os burgueses têm ótimas razões para imputar ao trabalho uma
força criadora sobrenatural, pois justamente do condicionamento do trabalho
à natureza se segue que o homem desprovido de qq outra propriedade além
de sua força de trabalho deve ser, em quaisquer condições sociais ou
culturais, escravos dos outros homens que se fizeram detentores das
condições concretas de trabalhos.” 71

A imagem do despossuído

Baudelaire “possui pouco daquilo que é parte das condições materiais do


trabalho intelectual.” 71

Por esse tempo  “o despossuído aparece em outro ponto sob a imagem do


herói e, com efeito, ironicamente”. 72.

O despossuído, o salteador, o mercenário  esgrimem de um modo


diferente

“O olhar que se volta desta visão para a do poeta esgrimista encontra-a


por alguns segundos superposta à do salteador, o mercenário que
‘esgrime’ de modo diferente e que erra pela região.” 72

Sobre o heroísmo, cf. p. 73 e poema As Velhinhas.

B  “No peito de seus heróis não reside nenhum sentimento que não
encontra lugar no peito dessa gente miúda, reunida para ouvir a música
militar.”73

 Jardins de que fala o poema = os abertos aos habitantes da cidade;


“cuja nostalgia vagueia em vão ao redor dos grandes parques
fechados.

4
 O público que neles aparece não é de modo algum aquele em circula
o flâneur.” 73

Em 1851 escreve Baudelaire :

“Não importa o partido a que se pertença, é impossível não ficar


emocionado com o espetáculo dessa multidão doentia, que traga a poeira
das fábricas, inspira partículas de algodão, que se deixa penetrar pelo
alvaiade, pelo mercúrio e todos os venenos usados na fabricação de obras-
primas ... Essa multidão se consome pelas maravilhas, as quais, não
obstante, a Terra lhe deve. Sente borbulhar em suas veias um sangue púrpura
e lança um olhar demorado e carregado de tristeza à luz do sol e às sombras
dos grandes parques.” p. 73.

Multidão = o pano de fundo do qual se destaca o perfil do herói

“Essa população é o pano de fundo do qual se destaca o perfil do herói. A


imagem que assim se apresenta foi rotulada por Baudelaire à sua maneira:
abaixo dela escreveu ‘a Modernidade’”. 73

Multidão  Herói  Modernidade

“O herói é o verdadeiro objeto da modernidade. Isso significa dizer que,


para viver a modernidade, é preciso uma constituição heróica”

 (Balzac = mesma opinião). “Com ela Balzac e Baudelaire se contrapõem


ao romantismo.
 Transfiguram a paixão e o poder decisório;

 já o romantismo glorifica a renúncia e a entrega” 73

O herói moderno

Mas em Baudelaire esse novo modo de ver é incomparavelmente mais


reticulado  2 metáforas o mostram  ambas mostram o herói em sua
aparência moderna:

1o Balzac  “o gladiador se torna caixeiro-viajante


2o Baudelaire  “reconhece no proletário o lutador escravizado”

5
Modernidade e suicídio
Modernidade  suicídio

“As resistências que a modernidade opõe ao impulso produtivo natural ao


homem são desproporcionais às forças humanas. Compreende-se que ele se
vá enfraquecendo e busque refúgio na morte. A modernidade deve manter-
se sob o signo do suicídio, selo de uma vontade heróica, que nada concede a
um modo de pensar hostil. Esse suicídio não é renúncia, mais sim paixão
heróica. É a conquista da modernidade no âmbito das paixões. Assim, o
suicídio, como a ‘paixão particular à vida moderna’, aparece na clássica
passagem dedica à teoria da modernidade.” 74-75.

“O suicídio de heróis antigos é uma exceção”. 75.

- Baudelaire tb não encontrava a representação do suicídio nos modernos,


“Mas a modernidade mantém pronta a matéria-prima de tais representações e
espera um mestre. Essa matéria-prima se depositou nas camadas, que, de
ponta a ponta aparecem como o fundamento da modernidade.” 75.

Suicídio  “podia parecer aos olhos de um Baudelaire o único ato heróico


que restara às ‘populações doentias’ das cidades naqueles tempos
reacionários.”75.

Suicídio

Cores que favorecem essa imagem = preto e cinza  “a moda as forneceu”

“A libré continuamente igual da desolação testemunha a igualdade.” 76

Roupa escura dos homens  para B. = “tonalidade crepuscular do


Moderno”.

O semblante da modernidade

“Baudelaire define o semblante da modernidade, sem desmentir-lhe o sinal


de Caim sobre a fronte:
 ‘a maioria dos poetas que se ocuparam de temas realmente modernos
contentaram-se com temas conhecidos e oficiais / ... / nossas vitórias e
nosso heroísmo político /... /

6
 E, no entanto, há temas da vida privada bem mais heróicos.

 O espetáculo da vida mundana e das milhares de existências


desregradas que habitam os subterrâneos de uma cidade grande –

o - dos criminosos e das mulheres manteúdas -- / ... / provam que


precisamos abrir os olhos para reconhecer nosso heroísmo.’”
77
O Apache complementando a figura do herói moderno

“Aqui surge o apache na imagem do herói.”77

Apache  associado a Baudelaire (pelo isolamento)



“O apache renega as virtudes e as leis.
 Rescinde de uma vez por todas o contrato social.

 Assim se vê separado do burguês por todo um mundo.” 78.

“Baudelaire foi o 1o a explorar esse filão”.

“O herói de Poe não é o criminoso, mas o detetive.”

“Balzac, só conhece o grande marginal da sociedade.”

Apache  “Antes de B., o apache que, durante toda a vida permanece


relegado à periferia da sociedade e da cidade grande, não tem lugar algum na
literatura.” 78

“Seu ‘atelier’ tornou-se o Le Chat Noir.”78

O lixo das ruas como matéria poética – o seu assunto heroico 78

“Os poetas encontram o lixo da sociedade nas ruas e no pp lixo o seu


assunto heróico. Com isso no tipo ilustre do poeta aparece a cópia de um
tipo vulgar.” Cf. trapeiro.

O Trapeiro e a transformação do lixo das ruas

Baudelaire o define:
7
“Aqui temos um homem -- ele tem de recolher na capital o lixo do dia que
passou. Tudo o que a cidade grande jogou fora, tudo o que ela perdeu,
tudo o que desprezou, tudo o que destruiu, é reunido e registrado por ele.
Compila os anais da devassidão, o cafarnaum da escória; separa as coisas,
faz uma seleção inteligente; procede como um avarento com seu tesouro e
se detém no entulho que, entre as maxilas da deusa indústria, vai adotar a
forma de objetos úteis ou agradáveis.” 78

Trapeiro e poeta

“Essa descrição é apenas uma dilatada metáfora do comportamento do


poeta segundo o sentimento de Baudelaire.” 78

Trapeiro e poeta

“Trapeiro ou poeta -- a escória diz respeito a ambos; solitários, ambos

realizam seu negócio nas horas em que os burgueses se entregam ao sono; o

pp gesto é o mesmo em ambos. Nada fala do andar abrupto de Baudelaire; é

o passo do poeta que erra pela cidade a cata de rimas; deve ser tb o passo do

trapeiro que, a todo instante, se detém no caminho para recolher o lixo em

que tropeça. muitos pontos indicam que B. tenha querido dissimuladamente

valorizar esse parentesco ....”79

“Uma luz suspeita recai sobre a poesia do apachismo.”



“Representa a escória os heróis da cidade grande ou será antes herói o
poeta que edifica sua obra a partir dessa matéria?” 79
 “a teoria da modernidade admite ambas as hipóteses.

Baudelaire mais velho -

8
Baudelaire mais velho  “insinua já não sentir empatia pela espécie de
gente entre a qual buscava heróis na juventude.”79

“Na verdade, esse recuo já está previsto no conceito de herói moderno que,
fadado à decadência, dispensa o surgimento de qq poeta trágico para
descrever a fatalidade dessa queda. Mas assim que vê os seus direitos
conquistados, a modernidade expira. Então será posta à prova. Após a sua
extinção, verificar-se-á se algum dia pode ou não tornar-se antiguidade.” 79-
80

Baudelaire se impõe uma tarefa de Hércules: dar forma à modernidade

Baudelaire  “Na época em lhe coube viver, nada lhe está, mais próximo da
‘tarefa’ do herói antigo, dos ‘trabalhos’ de um Hércules, do que a que se
impôs a si mesmo como a sua: dar forma à modernidade.” 80

modernidade X antigüidade

 das relações estabelecidas com a modernidade, a mais notável é a que


tem com a antigüidade.

“A modernidade assinala uma época; designa, ao mesmo tempo, a força que


age nessa época e que a aproxima da antigüidade.”

atribui essa força com veemência a Wagner e, a contragosto a Hugo

Modernidade  essência da teoria de Baudelaire sobre a modernidade



“Segundo essa teoria, o exemplo da antigüidade se limita
à construção; a substância e a inspiração são assuntos da modernidade”

Construção = temas e proceder dramático (de Wagner)


Substância e inspiração = expressão

Final do ensaio sobre Guys = definição de modernidade

“Por toda parte buscou a beleza transitória e fugaz de nossa vida


presente. O leitor nos permitiu chamá-la de modernidade.” 80
9
Para Benjamin, “A teoria da arte moderna é, na visão baudelairiana da
modernidade, o ponto mais fraco.
 Essa visão apresenta os temas modernos ”81
 A teoria deveria ter visado a um debate com a arte antiga. 81


“sua teoria não superou a renúncia que, em sua obra, aparece como perda da
natureza e da ingenuidade.”81  “expressão da parcialidade da teoria é sua
dependência de Poe.

Vera a análise do poema O Cisne p. 81

A atonia (espécie de debilidade) se manifesta centena de vezes na poesia de


Baudelaire. 82

Haussmann

“A cidade de Paris ingressou neste século sob a forma que lhe foi dada por
Haussmann.” 84
 Transformação da imagem da cidade
 Bairros inteiros foram destruídos
 Começou as obras em 1859

“Aquilo que sabemos que, em breve, já não teremos diante de nós torna-se
imagem. 85

Meryon (água-forte)

“Meryon fez brotar a imagem antiga da cidade sem desprezar um


paralelepípedo.” 85

Meryon
 teve em Baudelaire o único defensor 85
 B. sobre M. “quando se trata de Meryon, referencia a modernidade,
mas lhe homenageia o rosto antigo
 Porque também em Meryon se interpenetram a antiguidade e a
modernidade. 86

10
 Também em Meryon se manifesta inconfundivelmente a forma dessa
superposição, que é a alegoria. 86

A lésbica como heroína da modernidade

Baudelaire refere-se à Mme. Bovary


 “pelo que tem de mais enérgico e pelos seus objetivos de extrema
ambição, mais também pelos seus sonhos mais profundos, Mame.
Bovary permaneceu sendo um homem” 90
 sobre Flaubert
 “Todas as mulheres intelectuais lhe devem ser gratas por elevar a
‘fêmea’ a uma altura .... onde ela participa da dupla natureza que
constitui o homem perfeito: a aptidão para o cálculo e para o sonho.”
90
Baudelaire em relação à lésbica
“reserva-lhe um espaço na imagem da modernidade; na realidade não a
reconhecia.” 91

O século XIX começou a empregar a mulher, sem reservas, no processo


produtivo, fora do âmbito doméstico, /.../ mas de modo primitivo: colocava-
as nas fábricas. 91

Mulher
“Para Baudelaire, a mulher vale como escrava ou animal, mas lhe dirige as
mesmas homenagens que são prestadas à Virgem Maria .... Amaldiçoa o
progresso, abomina a indústria do século...e, no entanto, usufrui o toque
especial que essa indústria trouxe à vida diária. 92

A imagem dos navios

“ser acalentado entre os extremos, como é privilégio dos navios – eis o


anseio de Baudelaire.” 93
navios – indolência e extremo desdobramento de forças. 93

“Há uma constelação especial de circunstâncias onde, também no ser


humano, se reúnem grandeza e indolência. Ela governa a existência de
Baudelaire. Ele a decifrou, denominando-a “a modernidade”.
 “o herói é tão forte, tão engenhoso, tão harmonioso, tão estruturado
como esses navios
 para ele o alto-mar acena em vão  pois uma estrela má paira
sobre a sua vida:
11
O herói da modernidade como dândi – derradeira encarnação

“A modernidade se revela como sua fatalidade. Nela o herói não cabe; ela
não tem emprego para esse tipo. Amarra-o sempre a um porto seguro;
abandona-o a uma eternidade ociosa. Nessa sua derradeira encarnação o
herói aparece como dândi.”
 Figuras que, graças à sua energia e serenidade, são perfeitas em cada
gesto. 93
 Age como se fosse levado pela própria grandeza
 Assim se compreende a crença de Baudelaire de que sua flânerie, em
certas horas, se revestisse da mesma dignidade que a tensão de sua
força poética. 93

O Dândi
 Para B. o Dândi se apresentava como descendente de grandes
antepassados
 O dandismo é para ele “o último brilho do heróico em tempos de
decadência.
 O dândi é uma criação dos ingleses, que eram líderes do comércio
mundial. 93 – (nas mãos dos especuladores da bolsa de Londres)
 Ver aproximação do dândi como especulador da Bolsa de valores.

O herói moderno não é herói

“Baudelaire não encontrou satisfação na sua época”. 94

Baudelaire  como não possuía grandes convicções, estava sempre


assumindo novos personagens:
 Flâneur, apache, dândi e trapeiro não passavam de papéis entre outros
 “Pois o herói moderno não é herói, apenas representa o papel de
herói. 94

“A modernidade heróica se revela como uma tragédia onde o papel do


herói está disponível.”

Ao pintar Baudelaire, Coubert reclama que a cada dia Baudelaire tem uma
aparência diferente. 95

O Incógnito

12
“Por detrás das máscaras que usava o poeta Baudelaire guardava o
incógnito. O tanto que tinha de provocador no trato, tinha de prudente em
sua obra. O incógnito é a lei da sua poesia.”
 Sua versificação é comparável à planta de uma grande cidade. 95

“Baudelaire conspira com a própria língua, calcula os seus efeitos passo


a passo.” 95

“Que sempre tenha evitado descobrir-se frente ao leitor atraiu os mais


capazes.” 95

‘Baudelaire ultrapassou tanto o jacobinismo linguístico de Victor Hugo


quanto as liberdades bucólicas de Sainte-Beufe. Suas imagens são originais
pela vileza dos objetos de comparação. Espreita o processo banal para
aproximar o poético.” 96

As Flores do Mal é o primeiro livro a usar na lírica palavras não só de


proveniência prosaica, mas também urbana.

O seu vocabulário está de antemão destinado à alegoria 97

Baudelaire faz das alegorias suas confidentes. 97

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RESUMO

1 -Baudelaire  imagens do artista  herói


trabalho

 Trabalho literário  esforço físico ( metáfora do esgrimista)

Baudelaire  pintor da vida moderna – Cf poema “O sol”

2 - Flâneur  imagem fluida  não é um auto-retrato do poeta no grau


que se imagina p.69.


a) questão distração x trabalho
b) o traço daquele que se entrega à sua obra não entrou
nessa
imagem.

Flâneur  concentrado na observaçào = detetive


 estagnado na estupefação = basbaque

3 - Cidade Grande  suas descrições reveladoras não se originam do


Flâneur nem do Basbaque. procedem daqueles
que atravessam a cidade distraídos, perdidos em
preocupações e pensamentos (Cf. O Pintor)

é a eles que faz jus a “estranha esgrima”

Baudelaire  tudo, menos observador p. 69

“estranha esgrima”  pode ser associada a pequenas improvisações



também não se ajusta totalmente ao trabalho
de B. que era constante em seu trabalho

4 - Baudelaire  início carreira  quarto = não escritório,  aspira


14
simbolicamente à conquista da rua
 + tarde ao abandonar a existência burguesa, A Rua =
cada vez mais o seu refúgio  é o momento da flânerie,
mas com a consciência da fragilidade dessa existência.

Flânerie  faz da necessidade uma virtude



isso = concepção de herói em B.

5 - Imagem de herói da modernidade  verdadeiro objeto da


modernidade:

a) o despossuído

b) o poeta esgrimista  imagem superposta à do salteador, o


mercenário que “esgrime” de modo diferente e que erra pela região
 para viver a modernidade é preciso uma constituição heróica
 B. reconhece no proletário o lutador escravizado
 Balzac  o Gladiador  caixeiro viajante
 B. e Balzac = nesse sentido opõem-se ao romantismo (renúncia
e entrega)


transfigura a paixão e o poder decisório

c) suicídio  selo de uma vontade heróica (“As resistências que a


modernidade opõe ao impulso produtivo natural ao
 homem são desproporcionais às forças humanas)

- não é renúncia, mas paixão heróica.


É a conquista da modernidade no âmbito das paixões.

 cores = preto e cinza = favorecem essa imagem  Tonalidade


crepuscular do moderno.

Modernidade  sinal de Caim


 precisamos abrir os olhos para reconhecer nosso
heroísmo

“O espetáculo da vida mundana; milhares de existências desregradas


que habitam os subterrâneos de uma cidade grande.”
15
d) O apache  outra imagem de herói ( associado por B. pelo
isolamento
 renega as virtudes e as leis
 rompe com o contrato social
 separado do burguês por todo um mundo
 B. o 1o. a explorar esse filão

e) O trapeiro  recolhe o lixo do dia que passou


 recolhe tudo o que a cidade grande
 jogou fora
 perdeu
 desprezou
 destruiu
 compila os anais da devassidão
 separa as coisas; seleção inteligente

QUESTÃO: O herói da modernidade representa a escória da cidade


grande, ou será aquele que edifica a sua obra a partir dessa matéria.

B.  mais velho recua  não sente mais empatia pela espécie de gente
entre a qual buscava os seus heróis.


mas esse recuo  já está previsto no conceito de herói moderno, fadado à
decadência; à fatalidade da queda.

QUESTÃO : MODERNIDADE X ANTIGUIDADE

“Na época que lhe coube viver, nada lhe está mais próximo da tarefa do
herói antigo  dos trabalhos de um Hércules  Dar forma à
MODERNIDADE.

6 - A heroína da modernidade  a lésbica

Lésbica = dupla natureza  a) aptidão para o cálculo; b) aptidão para o


sonho
16
Dândi  outra imagem de herói da modernidade
 alia reações fulminantes a atitudes e mímicas relaxadas

Imagens de herói:
-Flâneur
- apache
 dândi
 trapeiro
 conspirador
 prostituta

Todas as imagens não passam de papéis  “pois o herói moderno não é


herói, apenas representa o papel de herói” 94

O herói da modernidade é estilhaçado

“A modernidade heróica se revela como tragédia onde o papel de herói


está disponível”

Baudelaire  assume ou representa vários papéis  “por detrás das


máscaras que usava o poeta, em B. guardava o incógnito.

A Alegoria
B.  O INCÓGNITO é a lei da sua poesia - ler p. 95
 sua versificação = comparável à planta de uma grande cidade 
“alguém pode movimentar-se despercebido, encoberto por
quarteirões de casas, portais, cocheiras e pátios”  nessa planta,
“indicam-se as palavras o seu lugar exato”

 “conspira com a língua, calcula seus efeitos passo a passo


 não se descobriu diante do leitor

Baudelaire  ultrapassou o jacobinismo lingüístico de V. H. e as


liberdades bucólicas de Saint-Beuve
 suas imagens são originais pela vileza dos objetos de
comparação
 Espreita o processo banal para aproximar o poético
 os processos de construção poética “só se tornam
17
significativos no alegórico”

Benjamin define alegoria: “Superposição de Antiguidade e Modernidade

Baudelaire  seu processo de construção elemento desconcertante que as


distinguem das usuais “alegorias ordinárias”. 96
 usa alegorias abundantemente  mas através do ambiente
lingüístico para onde as transporta muda=lhes essencialmente
o caráter

As Flores do Mal  1o. livro a usar na lírica palavras de proveniência


prosaica, mas também urbana. P. 96

Ver p. 97

Baudelaire  vocabulário destinado à alegoria


 poesia = para ele = ataque, surpresa
 faz das alegorias as suas confidentes

8 - Dar forma à Modernidade

para W. B. a teoria da arte moderna é ( em B.) o ponto mais fraco:


 apresenta os temas modernos
 não há um debate com a arte antiga
 sua teoria não superou a RENÚNCIA  que aparece como perda da
natureza e da ingenuidade.
 nenhuma das teorias estéticas baudelairiana expõe a modernidade em sua
interpenetração com a antiguidade como ocorre em certos trechos de As
Flores do mal, Cf, poema O cisne.

p.80 W. B. “De todas as relações estabelecidas pela modernidade, a mais


notável é a que tem com a Antiguidade.

p.80 Modernidade  “assinala uma época; distingue ao mesmo tempo a


força que age nessa época e que a aproxima da Antiguidade.

p.81  Essência da teoria Baudelairiana sobre a arte moderna:


 A Antiguidade se limita à construção
 A Modernidade  a substância e a inspiração
18
Walter Benjamin  a doutrina de B. se resume assim: “no belo atuam
conjuntamente um elemento eterno e imutável e um ELEMENTO
relativo e imutável. Este último é fornecido pela época, pela moda, pela
moral, pelas paixões.

 para W.B. esta definição não vai ao fundo da questão.

Poemas de As Flores do Mal  certos trechos expõem a questão da


modernidade em sua relação com a Antigüidade.

O cisne = poema alegórico  a cidade, tomada por constante movimentação


se paralisa. cidade = torna-se quebradiça, como vidro. Mas também como
vidro, transparente. i. é transparente em seu significado

- Nesse poema, Paris  sua estrutura = FRÁGIL


 cercada de símbolos:

símbolos de fragilidade = o cisne, a negra

símbolos históricos = Andrômaca (seu nome significa = aquela que luta


como se fosse um homem)

O traço comum aos dois símbolos é a desolação pelo que foi e a


desesperança pelo que virá. Nessa debilidade a modernidade se alia à
Antiguidade.

As Flores do Mal  PARIS, sempre que aparece, carrega essa marca: O


crepúsculo matinal, o soluçar de alguém que desperta  soluçar reproduzido
na matéria da cidade

“O Sol” mostra a cidade puída  o velho que ainda trabalha em idade


avançada é a alegoria da cidade

Baudelaire  para ele, Cidade Grande = debilidade

DEBILIDADE  essa atonia que aparece centena de vezes na poesia de B.


é uma espécie de mímese da morte

19
9 - “A cidade de Paris ingressou neste século sob a forma que lhe deu
Haussmann  transformação da imagem da cidade

p. 84  reflexões de Maxime Du Camp (1862)  vendo a


transformação da cidade  plano de escrever sobre Paris o livro que os
historiadores da Antigüidade não escreveram

Cidade Moderna = paisagem movente sob o signo da mudança

Poema de V. H. “Ao arco do Triunfo” 1837  poema onde aparece a


imagem de uma “antiguidade parisiense”, onde sobrevivem apenas 3
monumentos da cidade arruinada: Sainte-Chapelle, a coluna Vandôme e o
Arco do Triunfo.  poema = uma imagem do século XIX conforme à
Antiguidade. P.83

W. B.  o poema de V. H = é a grande descrição técnico-administrativa


que Du Camp fez de sua cidade  deve-se reconhecer a mesma
inspiração decisiva para a idéia baudelairiana de Modernidade. 84

Haussmann

- Início década de 50  população começa a aceitar a idéia de uma grande


e inevitável expurgação da imagem urbana

W.B. “Pode-se supor que, em seu período de incubação, essa limpeza fosse
capaz de agir sobre uma fantasia significativa com tanta força, se não mais,
quanto o espetáculo dos próprios trabalhos urbanísticos.” - Cita Joubert 
“os poetas são mais inspirados pelas imagens do que pela pp presença dos
objetos.”

W. B “Aquilo que sabemos que, em breve, já não teremos diante de nós,


torna-se imagem.” 85

cita o trabalho de Meryon  as vistas de Paris em água-forte”  não era a


visão arqueológica da catástrofe o que realmente o movia. Para ele, a
antiguidade deveria surgir de um só golpe de uma modernidade intacta. 85

20
“Meryon fez brotar a imagem da antiga cidade sem desprezar um
paralelepípedo”  era essa a visão da coisa à qual Baudelaire
continuamente se entregara na idéia da Modernidade.

Meryon  reverencia a Modernidade, mas lhe homenageia o rosto antigo.


Porque também em Meryon se interpenetram Antiguidade e Modernidade; tb
se manifesta inconfundivelmente a forma dessa superposição que é a
ALEGORIA.  fidelidade na reprodução de Paris, que logo se converteria
num campo de ruínas. 86

Essas gravuras “embora feitas imediatamente a partir da vida, dão impressão


de vida já passada, já extinta, ou prestes a morrer,

10 - Baudelaire quer ser lido como um escritor da Antiguidade

O desejo de B foi satisfeito, mas aponta para uma questão que é perceptível
em seu tempo

“Decerto Paris ainda está de pé; e as grandes tendências do


desenvolvimento social ainda são as mesmas. Porém, o fato de terem
permanecido estáveis torna mais frágil, em sua experiência, TUDO O
QUE ESTIVERA SOB O SIGNO DO VERDADEIRAMENTE NOVO.”

W.B.  A modernidade é o que fica menos parecido consigo mesmo; e a


Antiguidade – que deveria estar nela inserida – apresenta, em realidade – a
imagem do antiquado.” 88

W. B.  cita Jules Lemaitre sobre B.  “creio que o especificamente


baudelairiano consiste em unir sempre 2 modos opostos de reação...
poder-se-ia dizer: uma passada e uma presente. Uma obra-prima da
vontade... , a última novidade no domínio da vida dos sentimentos. 92

“ESTAMOS DIANTE DE UMA OBRA CHEIA DE ARTIFÍCIOS E


CONTRADIÇÕES PREMEDITADAS”

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