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Alana Bedford - Um Harém em Chamas - Ðøøm Scans
Alana Bedford - Um Harém em Chamas - Ðøøm Scans
Alana Bedford
UM HARÉM EM CHAMAS
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Título do original:
STRANGERS IN THE HAREM
Capa: Darlon
1979
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2
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20
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— Curve-se diante de Sua Majestade, porco
imundo! — ordenou um guarda, empurrando Hank
para o chão.
— Deixe-o. Pode se retirar. Se precisar eu cha-
mo. Eu posso me cuidar.
O rei e Hank ficaram a sós.
— De onde você é, meu rapaz?
Haron tinha a cara de um javali e estava bêbado.
— Sou alemão, Majestade.
— Eu gosto muito dos alemães. Durante a guer-
ra eles me perseguiram. Hoje eu me divirto enra-
bando-os. Você tem um corpo muito bonito. Tire
esses trapos.
— Mas Majestade, com tantas mulheres ao seu
dispor, seus olhos são atraídos logo por um reles
eunuco? O senhor não preferirá uma das jovens
donzelas do seu harém?
— Não discuta! Estou cansado de mulheres.
Quero homens! Eu os domino! Só assim posso sa-
tisfazer minha real volúpia! Eu sou o rei e dou as
ordens! Obedeça!
— Permita-me ponderar que eu não chego bem
a ser um homem. Eu sou castrado.
— É assim mesmo que eu quero. Os homens —
a bebedeira do rei já alterava sua voz — são uns in-
gratos. Uma vez, quando era soldado, fui comer um
colega e ele me pegou a força. No fim, eu fui o en-
rabado! Não, homens de verdade, não. Só eunucos.
Assim não corro perigo.
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Haron chorava de desgosto. Tomou mais um
largo gole de sua taça e disse:
— Você pensa que não dói? Eu só não gritei
porque não queria que os outros me vissem na posi-
ção de fêmea. Mas eu estou me vingando dos ho-
mens. Um a um, de preferência alemães. Assim a
vingança é dupla.
— Está bem, Majestade. Não vamos discutir,
mas eu gostaria de tomar um trago para me desini-
bir. Eu sou muito envergonhado.
— Sim — concordou com voz pastosa — mas,
certamente, para olhar minhas mulheres na hora do
banho, você não será tão envergonhado.
— Certamente, Majestade, quer dizer, não, Ma-
jestade, eu não costumo fazer como os meus cole-
gas.
Hank serviu-se de um cálice de vinho e encheu
o do rei. Sem que ele percebesse, adicionou vodca
de uma garrafa que se encontrava sobre o bar.
— Que colegas? Quem são os que espiam mi-
nhas mulheres? Vou mandar castrá-los!
— Mas eles já são castrados.
— Então vou mandar matá-los! Diga os seus
nomes!
— Se o senhor esperar que eu me lembre...
Hank percebeu que o rei estava cada vez pior.
Não conseguia mais ficar em pé sem se apoiar. As
palavras já estavam sendo pronunciadas de forma
quase ininteligível. Ofereceu-se para servir outra
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doze. Desta vez, exagerou na vodca. Haron sorveu
um gole largo e esqueceu o assunto dos eunucos.
— Agora, te aproxima que eu quero me saciar.
— Um brinde à Sua Majestade.
Foi a dose salvadora. O rei não pode erguer sua
taça. Baixou a cabeça, bebeu como um porco e caiu
para frente, entornando o resto da mistura. Salvo da
sanha sexual, Hank abriu a porta e chamou o guar-
da.
— O rei não está se sentindo bem. Creio que
bebeu demais.
Aguardou que o monarca fosse levado para seus
aposentos para não despertar suspeitas e só então
retirou-se.
Chegou no harém em tempo de encontrar as
meninas acordadas. Entrou, sem ser chamado, para
procurar Carol.
— O rei gosta de homens mesmo! Prefere eunu-
cos porque tem medo de ser comido. É um tarado.
Dei um porre nele e me salvei.
— Verdade? Você conseguiu escapar mesmo?
Não minta, boneca...
— Ora, vá se foder! Você acha graça porque
não esteve a ponto de ser enrabado.
— Por falar nisso, as garotas estão ansiosas para
vê-lo.
— Mas antes quero saber como estão os seus
contatos.
— Tudo bem. Todas prontas para nos acompa-
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nhar no momento oportuno.
— Então vamos ver o que há para o jantar.
A alegria das mulheres ao verem o moço chegar
foi ruidosa.
— Silêncio! — pediu ele. — Se Gonevna nos
descobre, estamos fritos!
— A velha já deve estar dormindo — disse Se-
leny.
Mira estava com toda a corda. Com o cabelo
penteado, rosto pintado, apresentou-se envolta num
véu enorme, que cobria todo o seu corpo. Deu uma
volta como se fosse um manequim numa passarela
e desenrolou o pano que a cobria. Foi o mais rápido
strip-tease da história. Em menos de um segundo o
seu corpo surgiu nu diante dos olhos da reduzida
plateia.
— Essa menina está pedindo... — observou
Klê.
— Estou mesmo! — contestou Mira, em cima.
— Estou pedindo para ser tratada como ontem. Se
possível, melhor.
— Pena que só temos um homem — disse Se-
leny.
— Ontem vocês não tinham nenhum. Quando
Hank apareceu vocês se regalaram. Hoje ele já não
é mais suficiente. Ah, a ambição humana!... — co-
mentou Carol.
— Mas se só tem um, a solução é uma só. Va-
mos ao ataque — sugeriu a pequena que tinha sido
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deflorada na noite anterior cujo nome ainda não era
conhecido por Hank. — A pequena Ira está impaci-
ente e você é o culpado!
— Claro! Todas as culpas recaem sobre este po-
bre mortal. Mas eu as assumo com prazer. E quero
ser culpado de mais coisas, esta noite.
As moças foram se acomodando sobre a cama,
cada uma com mais esperanças de ser a primeira.
Até Carol participou do grupo. Numa suruba, quan-
to mais gente, melhor.
A pequena Ira estava mesmo impaciente! Os
instintos sexuais transbordam com facilidade. Uma
garota que ontem era virgem, hoje já estava prepa-
rada para avançar seus conhecimentos. É bem ver-
dade que o ambiente de um harém é muito propício
para o desenvolvimento de sonhos e fantasias eróti-
cas. Dezenas de mulheres vivendo sob a expectati-
va de serem amantes de um só homem, geralmente
voluptuosas, jovens e ardentes, na maioria dos ca-
sos muito mal-amadas. As conversas são sempre
sobre assuntos sexuais. Mas como todas as escolas,
nos haréns há as alunas mais competentes.
Era o caso da pequena Ira, não muito pequena
por fora — pois tinha um corpo bastante desenvol-
vido — nem por dentro. Não perdeu tempo. Agar-
rou-se no pau de Hank com indisfarçável apetite.
Enterrou-o na sua boca faminta com tal entusiasmo
que as outras recuaram para assistir o novo show
que ela estava proporcionando. E só aquele contato
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foi suficiente para que ela começasse a mover todas
as partes do seu corpo, como se estivesse sendo
acariciada e possuída por meia dúzia de homens in-
visíveis. Arfava o peito, esfregava os seios nas per-
nas de Hank, mexia a bunda, abria e fechava as per-
nas, segurava o saco com as mãos, lambuzava a ca-
beça da pica com a língua, depois introduzia-a de
volta até sua garganta.
Não deixava dúvidas de que chegaria ao orgas-
mo facilmente sem mais ajuda. Mas não pode evi-
tar que sua cena erótica estimulasse as demais. Um
de seus movimentos foi interceptado pela sua quase
xará, Mira, que lançou-se em direção a sua vagina,
para sugá-la. Klê e Seleny também prepararam suas
línguas e dentes e entraram na dança. O corpo de
Ira ficou completamente marcado nas costas, co-
xas, e seios, por manchas avermelhadas, que não
deixavam dúvidas quanto à volúpia com que as
moças praticavam o sexo.
Carol estranhou que nenhuma delas tivesse per-
cebido que Hank tinha livre uma de suas melhores
partes. Ainda bem! Nada melhor para saciá-la do
que a ágil língua do colega. Acomodou-se sozinha
junto ao rosto do agente que, apesar de dominado
pelo enxame de mulheres, pode dedicar-se à sabo-
rosa vagina de pentelhos morenos, tão sua amiga.
A língua viscosa penetrou por entre seus gran-
des lábios, numa união erótica abrasadora. Carol
estava com saudades e entregou-se. Fez mais ainda.
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Deitou-se no sentido oposto, encontrando a cabeça
de Ira ocupada com o seu objetivo. Nada melhor do
que a diplomacia. Deu um beijo no ouvido da garo-
ta, lambeu o seu pescoço, juntou sua boca nos bei-
jos ao cacete, depois segredou-lhe ao ouvido:
— Mira está louquinha para que você vá chupá-
la. Ela está dizendo que você é muito ingrata. Fica
com sua língua aqui e não faz a mesma coisa que
ela está lhe fazendo. Seja boazinha com ela.
A novidade pareceu atraente para a jovem cor-
ça. Arregalou os olhos, pensou um instante e per-
guntou:
— Verdade? Não posso permitir isso. Ela é tão
gostosinha!
Lá se foi ela, levando Seleny. O seu objetivo foi
alcançado: tinha só para si o pênis de Hank. Envol-
veu a língua nos ovos e subiu até a cabeça verme-
lha. Seus lábios fizeram um biquinho arredondado,
menor do que o diâmetro do falo.
Forçou a entrada pela passagem estreita, lenta-
mente, até sentir no céu da boca o toque irresistível.
Então começou a chupar o membro descontrolada-
mente.
Klê fez questão de trazer sua colaboração. Com
a ponta da língua tesa, percorreu a linha da coluna
vertebral de Carol desde o pescoço até dentro do
rego. A pele da agente ficou eriçada, deixando-a a
apenas um passo do clímax.
As outras três garotas, comandadas por Seleny,
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desempenhavam perfeitamente suas relações ho-
mossexuais. Mira sentia-se desbravada, conquista-
da de uma forma nova. Alucinada pelo gozo, aca-
baram-se quando Seleny mandou.
— Enterra tua língua dentro da buceta de Mira
— disse ela. — Vocês precisam se acabar juntas.
Ela já está gozando.
As gatas miaram, gemeram, se retorceram e caí-
ram quase mortas sobre a cama. A orientadora foi
recolher o repasto. Deitou-se sobre os corpos
exaustos e ficou gozando o contato passivamente.
Mais tarde pretendia aprontar a sua.
Klê demonstrou vontade de chupar o pau de
Hank também.
— Mas só um pouquinho, tá? — disse Carol. —
Quando ele acabar quero beber sua porra.
Falou alto, despertando a curiosidade das de-
mais, que se aproximaram para assistir a proeza.
Quando Carol sentiu o seu orgasmo aflorar, provo-
cado pela língua poderosa de Hank, afastou a boca
de Klê, precisando usar energia. Seu corpo estre-
meceu, quando ela começou a meter e tirar a pica
da boca, auxiliando com a mão, como se estivesse
tocando uma punheta nele. Carol começou a gozar
e, ansiosa, pediu:
— Acaba! Acaba comigo! Dá a tua porrinha na
minha boca!
O primeiro jato subiu acertando nos lábios da
agente. Logo, mais outro, que ela, já preparada, re-
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cebeu com a língua. Lambendo os beiços, olhos ar-
regalados, recolheu o líquido e engoliu. Espremeu
o pênis e apanhou com a ponta da língua a última
gota que brotou no pequeno orifício da uretra.
As outras garotas aplaudiram sua performance,
mas protestaram porque não tinham podido provar
o sabor do sêmen viscoso.
— Agora me lembrei que não tinha jantado. —
disse Carol, apreciando o efeito da sua piada. —
Depois, desta, nem vou precisar.
— Agora ele é meu — disse Seleny. — dei-
tando-se ao lado de Hank para tomar posse.
Uma cortina ao fundo da sala moveu-se, como
se atrás dela houvesse uma pessoa. Mira ficou as-
sustada. Klê aproximou-se com cuidado, afastou o
tecido, mas não encontrou ninguém. O quê teria
sido?
— Vamos olhar pela janela — disse Seleny.
Elas se precipitaram juntas em direção à sacada
que dava para o pátio, ainda a tempo de verem um
vulto saindo em passo acelerado.
— Gonevna! — exclamou Mira.
— Acho que não — disse Klê. — O que a velha
estaria fazendo aqui?
— É possível que seja. Bisbilhotar é a sua fun-
ção — disse Carol.
— Se ela nos viu, estamos fodidas. Seremos de-
nunciadas. O rei vai mandar nos matar.
A pequena Ira estava com medo. Sabia do casti-
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go para as mulheres infiéis e não queria passar por
ele. Era muito jovem e agora que tinha descoberto
os prazeres da vida, tinha muitos motivos para que-
rer preservá-la.
Hank achou que havia chegado a hora de contar
a verdade.
— Minhas queridas, ouçam com atenção. Gora
e eu não somos o que vocês estão pensando. Esta-
mos aqui em missão especial para resgatar duas ga-
rotas presas no harém. Temos um plano de fuga já
estabelecido. Se alguma coisa acontecer, vamos
executá-lo antes. Vocês, se quiserem, podem nos
acompanhar.
— Você não é princesa? — perguntou Mira.
— Não, meu bem. Meu nome é Carol Sinclair e
sou agente secreta de uma organização internacio-
nal, como Hank.
— Puta que o pariu! Nunca tinha pensado que
uma dessas histórias de 007 poderia acontecer co-
migo! — exclamou Klê. — Vocês podem contar
com a minha colaboração para tudo. Sou voluntá-
ria, com muito prazer. Isso pode significar a nossa
libertação.
Todas concordaram. Tinham razões de sobra
para desejarem se ver livre de Haron e de seu ha-
rém. E se medo havia, a possibilidade de serem de-
nunciadas e condenadas a morte o eliminou.
***
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Às dez horas da manhã Hank foi chamado no-
vamente a presença do rei. Por sorte havia uma das
garotas nas proximidades, quando um guarda veio
buscá-lo. Imediatamente Mira correu para avisar
Carol. Esta avisou todas as moças que estavam en-
volvidas na trama. Novo sobreaviso.
Quando Hank entrou nos aposentos do rei notou
a presença de Gonevna e não teve mais dúvidas do
que ocorreria. O guarda não foi dispensando. A
porta ficou aberta e na outra sala havia mais ho-
mens. A coisa estava preta.
— Ontem à noite você me embebedou. Mas
hoje você não escapa. Estou mais ansioso do que
ontem. Só que vamos ter que prepará-lo. Eu lhe
disse que preferia eunucos. Escolhi você porque é
um belo representante da espécie. Mas, segundo fui
informado, há pequenos detalhes que precisam ser
removidos. Já tenho, um especialista pronto para
corrigir o seu defeito. Você tem culhões muito
grandes para um eunuco.
No começo, Haron falou com acentuada ironia
na voz, mas suas últimas palavras estavam carrega-
das de ódio e foram pronunciadas de forma aterro-
rizante.
As reações do agente, até agora um brincalhão,
foram imediatas. Ele percebeu que a hora H tinha
chegado. A boa vida terminara. Somente uma ação
rápida e vigorosa poderia salvá-lo. Baixou a cabeça
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e caminhou lentamente em direção da porta. Go-
nevna disse para o guarda:
— Agarre-o. Não é preciso dar trabalho para os
guardas da outra sala.
Hank fechou a porta sem estardalhaço para não
atrair os que estavam fora, e virou-se com tal rapi-
dez e violência que o capanga não teve tempo de
descobrir de onde veio a porrada que o derrubou
desmaiado. Na sequência, uma estatueta de bronze
atingiu a cabeça de Gonevna, prostrando-a ensan-
guentada. O rei, covarde e atônito, ficou petrificado
esperando o ataque. Um soco no nariz o derrubou
próximo à janela.
Hank pensou um pouquinho qual seria o seu
próximo passo. Para grandes problemas, grandes
soluções. Apanhou o fardo caído e o jogou pela ja-
nela. Tinha livrado Togomê do seu tirano. Não sa-
bia que rumos o país poderia tomar, mas aquele não
mais aterrorizaria a população.
(O episódio passou para a história do país com
o nome de “Defenestração de Der al Azan”).
Correu até a porta, arrumou o cabelo e abriu-a
repentinamente.
— Socorro! Socorro! Ajudem o rei! Ele caiu
pela janela!
Alguns dos homens correram pelas escadas.
Dois deles quiseram, entrar, mas ele não deixou.
— Lá embaixo! Ele caiu! Não adianta vir para
cá.
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Eles recuaram e seguiram os demais. Ele tomou
o mesmo caminho, sem demonstrar nenhuma atitu-
de suspeita. Chegou ao pátio antes que a confusão
tivesse se espalhado. Então rumou para o harém.
— Meninas, começou a guerra! Eu matei o rei!
Vamos fugir pela porta sul, que nos oferece mais
condições. Os soldados vão se concentrar na parte
norte. Vão demorar alguns minutos para descobri-
rem o que realmente aconteceu, pois nem Gonevna,
nem o homem que estava junto, terão condições de
contar o que eu fiz. Vamos aproveitar a vantagem.
A reunião do grupo despertou a atenção das ou-
tras mulheres. A desconfiança de uma fuga logo
correu entre elas. Enquanto o grupo atravessava o
grande salão para sair pelas janelas dos fundos, ou-
tras foram aderindo. Quando chegaram ao portão,
não havia restado nenhuma esposa, ou melhor, ne-
nhuma viúva para chorar a morte do falecido sobe-
rano.
Foi sorte. O exército de mulheres, mesmo sem
armas dominou a guarnição sem maiores proble-
mas. O que poderia um grupo de soldados fazer
contra um bandido furioso, lutando pela vida?
O comandante da guarda estava preocupado
com a possível sobrevivência do rei. Antes de qual-
quer providência militar, determinou que chamas-
sem um médico. Ainda não suspeitava de que aqui-
lo fosse o início de uma rebelião. Quando um sol-
dado da porta sul, que conseguira escapar à fúria
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das mulheres, chegou até ele com as notícias da
fuga, ele caiu em si. Mas até que reunisse um gru-
po, houve tempo para que as comandadas de Hank
e Carol ganhassem o casario próximo ao palácio.
Ali, receberam reforços inestimáveis. Andra fi-
cou surpresa ao encontrar o seu namorado Manot.
Escondido permanentemente para fugir aos guardas
de Haron, tinha escolhido um lugar que julgava se-
guro. Um casebre bem próximo ao palácio.
Ligado aos grupos de resistência ao tirano, tinha
condições de orientar os fugitivos. Conhecia todos
os esconderijos clandestinos.
Além desse reforço, perceberam que a popula-
ção, por diversas maneiras, estava prestando auxí-
lio. A rua central do bairro, tão logo eles passaram,
foi bloqueada com uma barricada. Armas surgiram,
atiradas anonimamente das janelas.
Rapidamente se constituíram numa força de
combate. Hank nomeou Carol, Manot, Akama e
mais duas mulheres “Chefes de Grupo”. Cada uma
reuniu em torno de si um número mais ou menos
igual de voluntárias, para prosseguir a fuga.
Quando se aproximavam de um cruzamento
próximo a um quartel, foram barrados por um forte
contingente armado. Os comandantes ordenaram
que as mulheres tomassem posição junto as paredes
das casas e que se entrincheirassem onde pudes-
sem.
Um oficial, que parecia o comandante do desta-
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camento, aproximou-se com a espada em continên-
cia, montado um belo cavalo.
— Quem comanda isso aqui? — perguntou alti-
vo.
— Sou eu — disse Hank, levantando-se do seu
esconderijo. — Meu nome é Hank Stinger. Sou um
agente estrangeiro que vim para salvar duas moças
sequestradas, do harém de Haron.
— Mas sua missão pode desencadear uma revo-
lução completa no país. O rei morreu. Eu recebi
instruções de interceptá-los.
— Então tente — disse Hank.
— Mas não quero. A maioria das forças arma-
das não concorda com a política que vinha sendo
imprimida ao país. Queremos aproveitar o momen-
to. Você tem sua missão a cumprir. Eu sei do fato.
São moças estrangeiras. Pois cuide do seu trabalho
e me passe o comando da revolução, até que outro
oficial de maior patente se disponha a comandar-
nos. Não posso permitir que um estrangeiro chefie
uma revolta no meu próprio país.
— E que garantias teremos de que o senhor não
vai nos trair? — insistiu o agente.
— A minha palavra de oficial honrado. O meu
batalhão está pronto para nos seguir.
— Isto é muito irregular. Pelas regras do nosso
exército, não temos comandante. Como vamos fa-
zer para que o senhor assuma? — disse Carol, meio
na gozação.
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— Pois então, agora vocês tem um comandante.
Todos de acordo?
Hank sacudiu a cabeça. O jovem oficial desceu
do cavalo e foi até ele. Com lágrimas nos olhos, fez
uma continência informal e abraçou o agente.
— Obrigado, muito obrigado por ter começado
uma coisa que nós não sabíamos como fazer. Vocês
teriam passado por nós de qualquer forma. Não ati-
raríamos em mulheres. Não somos da corrupta
guarda do rei. Somos profissionais e temos nosso
código de honra. Mas assim é melhor. Juntos pode-
remos prosseguir com muitas chances de progresso
— fez uma pausa e alterou sua voz gentil até então.
— O que estão esperando? Mexam-se! Precisamos
sair daqui para um lugar mais seguro!
Quando as mulheres se aproximaram dos solda-
dos, estes irromperam numa saudação alegre, que
pouco a pouco foi se transformando numa confra-
ternização, não sem alguns flertes e promessas para
encontros posteriores. Cada um deles recebeu uma
prenda das garotas. Um lenço, uma fita de cabelo,
um pedaço de um vestido. Algumas, mais audacio-
sas, arrancavam uma renda de uma peça íntima ou
uma liga, para oferecer. Orgulhosamente, o coman-
dante prendeu um pedaço de fazenda no seu unifor-
me. Todos seguiram o seu exemplo.
— Não esqueceremos que as mulheres deram à
luz este país! — pronunciou ele erguendo a espada.
A frase se espalhou pelo bairro e no meio da tar-
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de corria de boca em boca pela cidade toda. Ao cair
da noite, de cada casa uma senhora, uma moça uma
menina, saiu disposta a se juntar aos rebeldes. Os
contingentes femininos engrossavam em cada es-
quina. Não havia um chefe, um líder. Era espontâ-
neo, uma força da natureza, que indicava o cami-
nho. Milhares de mulheres, de todas as idades. Al-
gumas armadas com espingardas de caça, outras
com facas de cozinha. As que não conseguiam
arma ou que se achavam incompetentes para empu-
nhar uma, levavam aquilo que achavam útil. Um
prato de bolinhos para os soldados, um vidro de re-
médio para os possíveis feridos, uma manta de lã
para agasalhar um combatente.
Os maridos, os namorados, os irmãos, de posi-
ções políticas definidas, assistiam a tudo, impassí-
veis. Talvez pelo efeito da surpresa. Não esperavam
um movimento tão repentinamente. Só à noite, co-
movidos com o desprendimento das mulheres é que
os primeiros batalhões masculinos foram formados.
Em boa hora, porque a resistência heroica da popu-
lação feminina não seria suficiente para resistir à
Guarda Real.
Mas os combates não chegaram a ocorrer. Os
soldados, os oficiais, sempre tem uma mulher para
respeitar. E eles não se sentiram com coragem para
atacar os revoltosos. Um a um, os quartéis foram
aderindo. E cada homem, soldado ou não, exibia a
prenda de uma mulher.
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Pela manhã do dia seguinte, a Guarda do rei
morto estava sitiada, sem condições de resistir. A
república foi proclamada pelo General comandante
do exército e um governo foi formado, sob a chefia
de um antigo juiz da corte suprema.
Manot foi convidado para o ministério.
As mulheres do harém que eram naturais do
país, foram se reunir aos seus familiares. As estran-
geiras foi oferecida a possibilidade de ficar, se qui-
sessem, ou de partir para seus países. Nesse caso, o
governo custearia todas as despesas de viagem.
Luna e Andra, agora livres, decidiram ficar no
país. Uma tinha o pai, a outra, o noivo. Akama re-
solveu voltar para casa. Mira também. Muitas que
não conhecemos também foram repatriadas.
Carol e Hank mantiveram uma posição muito
discreta. Por iniciativa própria, pediram para ficar
no anonimato. Mas particularmente, os comandan-
tes locais os homenagearam, sempre com agradeci-
mentos calorosos. Foram convidados a visitarem o
país, numa “missão cultural”, um ano depois.
Assim terminou o episódio de libertação de
duas garotas sequestradas por um tirano usurpador
de um trono que nunca existiu. As mulheres do ha-
rém merecem todo o crédito pela façanha.
Mas a história de uma parte delas ainda não ter-
minou.
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FIM
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