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A besta de Apocalipse 17: uma


sugestão
Ekkehardt mueller, D. Min. e Ph.D.
Diretor associado do Biblical Research Institute da Associação Geral da IASD, Silver Spring, Ma-
ryland, EUA

Resumo: A ênfase deste artigo se con- Livro da Vida desde a fundação do mundo,
centra num estudo teológico e estrutural se admirarão, vendo a besta que era e não
do Apocalipse 17, uma seção da literatura é, mas aparecerá.” Informações adicionais
bíblica considerada um crux teológico. sobre a besta são fornecidas no restante de
Precisamente por seu caráter e linguagem Apocalipse 17.
enigmáticos, a besta aqui descrita tem
sugerido uma enorme variedade de alter- Os pontos em debate
nativas interpretativas. O autor apresenta Antes de estudarmos mais deta-lhada-
a sugestão que ele considera uma “opção mente Apocalipse 17, algumas perguntas
viável”, uma vez que ela “segue os prin- básicas precisam ser respondidas: (1) É a
cípios de interpretação encontrados nas besta que subiu do mar de Apocalipse 13
próprias Escrituras”. idêntica à besta de Apocalipse 17 ou a besta
de Apocalipse 17 representa um poder dife-
Abstract: This article deals with the rente? (2) Qual é a disposição de tempo da
theology and structure of Revelation 17, a visão? Descreve João os eventos partindo
section of the biblical literature considered de uma perspectiva do primeiro século d.C.,
a theological crux. Precisely as a result of ou o ponto de referência a ser encontrado é
its enigmatic character and language, the posterior e João é colocado ali em espírito?
beast described here has generated an enor- (3) É a descrição da besta de Apocalipse
mous variety of interpretation. The author 17:8 – “era e não é, e há de emergir do abis-
presents his interpretative suggestion, whi- mo, e caminha para a destruição” – paralela
ch he considers an “viable option”, since à descrição dos chifres do verso 10, que diz
“caíram cinco, um existe, e o outro ainda
it “follows principles of interpretation that
não chegou”, ou estes diferentes estágios
are found in Scriptures”. da besta não coincidem diretamente com
a subdivisão das cabeças?2 (4) Como as
Introdução cabeças devem ser interpretadas? Volver-
Apocalipse 17 é um dos capítulos mais nos-emos brevemente para estas perguntas
difíceis do Novo Testamento e tem rece- e proporemos algumas respostas.
bido muitas interpretações diferentes.1 O A besta de Apocalipse 17, bem como
presente artigo considera a besta sobre a as cabeças, têm sido compreendidas dife-
qual está montada a prostituta babilônica. rentemente por eruditos bíblicos dentro da
Apocalipse 17:7-8: “O anjo, porém, me Igreja Adventista. O The Seventh-day Ad-
disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o ventist Bible Commentary enumera várias
mistério da mulher e da besta que tem as opiniões, mas não é dogmático acerca de
sete cabeças e os dez chifres e que leva a nenhuma delas: (1) Alguns adventistas
mulher: a besta que viste, era e não é, está sustentam que a fase “era” da besta re-
para emergir do abismo e caminha para a presenta Roma pagã, a fase “não é”, o
destruição. E aqueles que habitam sobre a ínterim entre Roma pagã e Roma papal,
terra, cujos nomes não foram escritos no
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e a fase “aparecerá”, Roma papal.3 (2) também importantes diferenças. Os ele-


“Outros equiparam o período ‘era’ com mentos em comum são: ambas têm sete
aquele representado pela besta e suas sete cabeças e dez chifres (Ap 13:1; 17:7). A
cabeças; o período ‘não é’ com o intervalo besta que subiu do mar tem “uma boca que
entre o ferimento da sétima cabeça e o profere... blasfêmias” (Ap 13:5), enquanto
reavivamento da besta como ‘o oitavo’; que a outra besta está “repleta de nomes de
e o período ‘ainda é’ com o reavivamento blasfêmia” (Ap 17:3). Ambas são poderes
da besta quando ela se tornar ‘o oitavo.’”.4 que se opõem a Deus, a Jesus e aos santos
Neste caso o período “era” provavelmente (Ap 13:6-8; 17:14). As diferenças também
representaria Roma papal e a fase “apare- são notáveis: a besta que subiu do mar tem
cerá” simboliza a sua restauração após a diademas sobre seus chifres (Ap 13:1); já
cura da ferida mortal. a besta de Apocalipse 17 não tem nenhum
diadema. A cor da besta que subiu do mar
As cabeças são compreendidas por não é mencionada, mas a cor da outra besta
alguns como “toda oposição política ao é escarlate (Ap 17:3). A besta que subiu
povo e à causa de Deus”.5 Uma outra su- do mar sai do mar (Ap 13:1), mas a besta
gestão é interpretar as cinco cabeças como sobre a qual Babilônia se assenta sobe do
os animais de Daniel 7 mais o chifre pe- abismo (Ap 17:8). Isto sugere que estas
queno, isto é, os impérios desde Babilônia bestas simbolizam entidades diferentes,
ao papado, sendo a sexta cabeça a besta embora elas partilhem algumas caracterís-
que sobe do abismo (Ap 11), ou seja, a ticas e persigam objetivos semelhantes. É
Revolução Francesa, e a sétima cabeça, a necessário ter em mente que há elementos
besta que subiu da terra (Ap 13), a saber, comuns entre o dragão de Apocalipse 12
os Estados Unidos da América. Ainda ou- e a besta de Apocalipse 17, como as sete
tra proposta considera as cinco primeiras cabeças e os dez chifres (Ap 12:3; 17:7),
cabeças como os impérios Egito, Assíria, uma cor semelhante (Ap 12:3; 17:3) e a
Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia; a sexta oposição a Jesus e a seu povo (Ap 12:4-
cabeça como Roma pagã; e a sétima como 17; 17:14), e não apenas entre a besta que
Roma papal.6 A diferença entre a segunda sobe do mar de Apocalipse 13 e a besta de
e a terceira opinião sobre as cabeças é que Apocalipse 17.
a segunda coloca a sexta cabeça no ano de
1798 d.C., ao passo que no terceiro ponto A descrição da besta de Apocalipse 17
de vista, a sexta cabeça representa o tem- como “era e não é, está para emergir” relem-
po em que João vivia, ou seja, o primeiro bra ao estudante do Apocalipse de Deus o Pai,
século. Essas sugestões compreendem as que é chamado como “aquele que era, que
sete cabeças como sendo grandes poderes, é e que há de vir” (Ap 4:8, cf. 1:4, 8) assim
mas outros expositores as tomam como como em relação a Jesus que vez após outra
governantes individuais.7 Outros autores prometeu que retornaria (cf. Ap 22:12). Isso
- especialmente adventistas8 - comentam retrata a besta de Apocalipse 17 como uma
que as cabeças/reis/montanhas (Ap 17:9) contrafação, paródia e oposição a Deus.11
representam reinos e não reis individuais.9 “A besta aspira ser como Deus...”.12 Ao
Esse é o caso do livro de Daniel. “As qua- final ela não perdurará, mas será derrotada.
tro bestas de Daniel 7 são mancionadas Cristo e seus seguidores triunfarão.
como representando quatro reis (Dn 7:17)
quando, mais precisamente, Daniel qier O abismo
dizer que sejam reinos sobre os quais eles
governam”10. No Apocalipse, o abismo do qual a
besta sobe é mencionado sete vezes: (1) Em
Outro assunto é a íntima semelhan- Apocalipse 9:1 a estrela que cai do céu tem
ça entre a besta de Apocalipse 13 e 17. a chave do abismo. (2) Em Apocalipse 9:2
Conquanto a besta que subiu do mar de essa estrela abriu o poço do abismo. (3) Em
Apocalipse 13 e a besta de Apocalipse 17 Apocalipse 9:11 o rei dos gafanhotos é o
tenham alguns elementos em comum, há anjo do abismo chamado Apoliom. (4) Em
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 33

Apocalipse 11:7 a besta que sobe do abismo Satanás.16 Não há nenhuma razão para se
mata as duas testemunhas. (5) De acordo ligar o abismo de Apocalipse 11, parte da
com Apocalipse 17:8 a besta sobre a qual mesma visão das trombetas, com outra
a grande prostituta se assenta “era e não pessoa.
é, está para emergir do abismo, e caminha
Todavia, em Apocalipse 20:1-3 ocorre
para a destruição”. (6) Em Apocalipse 20:1
a grande inversão. O poder de Satanás para
um anjo desce do céu com a chave do abis-
abrir o abismo lhe é tirado. Esse poder lhe fora
mo. (7) Finalmente, em Apocalipse 20:3
dado por Deus (Ap 9:1) que está sempre no
esse anjo amarra Satanás no abismo por mil
controle. Agora o próprio Satanás é amarrado
anos. Depois desse período, Satanás será
por um anjo e confinado ao abismo por mil
solto. Quatro destas referências pertencem
anos. Parece que Apocalipse 17:8 aponta
à parte histórica do Apocalipse13, e todas
para esta mesma situação e que Apocalipse
são encontradas na visão das trombetas (Ap
20:1-3 esclarece as palavras simbólicas a
8:2-11:18).As quatro primeiras são partes
respeito da besta de Apocalipse 17. A besta
da visão da trombeta (Ap 8:2-11:18). Por
que “era e não é, está para emergir do abismo,
outro lado o mar não está ligado ao abismo
e caminha para a destruição” é Satanás, que
em Apocalipse.14
em Apocalipse 12 foi apresentado como o
A estrela cadente mencionada em Apo- grande dragão vermelho.17
calipse 9:1-2, que é capaz de abrir o poço do
Evidentemente, todas as referências ao
abismo e produzir calamidade, sofrimento e
abismo em Apocalipse tem a ver com Sa-
tortura, deve ser identificada como Satanás.
tanás. O termo é encontrado em dois outros
Em Jó 38:7, os filhos de Deus, seres celes-
lugares no Novo Testamento. Em Romanos
tiais, são chamados estrelas da manhã. Uma
10:7, o abismo pode ser o reino dos mortos.
estrela da manhã cadente ocorre em Isaías
Mas em Lucas 8:31, os demônios pedem a
14:12. Por trás do rei de Babilônia é mencio-
Jesus para não serem enviados ao abismo.
nado alguém muito superior a ele – Satanás,
Novamente isso está ligado a instrumentos
a verdadeira estrela da manhã cadente. De
satânicos. Portanto, sugerimos compreen-
acordo com Lucas 10:18, Jesus viu Satanás
der a besta sobre a qual Babilônia se assenta
caindo do céu. Em Apocalipse, estrelas,
como Satanás que opera através de poderes
quando usadas simbolicamente, se referem
políticos.18
(1) aos anjos das sete igrejas, provavelmente
líderes e ensinadores religiosos (Ap 1:20),
e (2) a seres celestiais, tais como Jesus, a Contexto e disposição do tempo
resplandecente estrela da manhã (Ap 22:16), em Apocalipse 17
ou a anjos caídos (12:4, 9). Em Apocalipse
O livro de Apocalipse pode ser dividido
9:1 ouvimos acerca de uma estrela cadente;
em duas grandes partes. A primeira parte
segundo Apocalipse 8:10, é uma grande
(Ap 1-14) consiste de várias séries históricas
estrela cujas ações produzem efeitos negati-
de eventos que abrangem desde o tempo
vos. Parece melhor compreender essa estrela
de João até à consumação final. A segunda
como Satanás, que, segundo Apocalipse
parte (Ap 15-22) lida somente com eventos
12:7-9, foi expulso do Céu.
do fim do tempos e tem sido chamada de
Obviamente, o rei dos gafanhotos e anjo a parte escatológica. Enquanto o dragão e
do abismo de Apocalipse 9:11, também a besta que subiu do mar são encontrados
chamado Abadom/Apoliom ou destruidor, na seção histórica do Apocalipse, a besta
é a estrela cadente, Satanás. Seu exército de Apocalipse 17 pertence à seção do final
demoníaco ataca a humanidade. do tempos. Portanto, devem ser esperadas
Em Apocalipse 11:7, a besta que sobe diferenças entre estas duas bestas.
do abismo e que por meio da Revolução Por outro lado referências recorrentes a
Francesa15 mata temporariamente as duas certos símbolos encontrados na mesma parte
testemunhas de Deus que representam o de Apocalipse são especialmente importan-
Antigo e o Novo Testamento, é novamente tes e esclarecem a sua interpretação.
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Apocalipse 15 e 16 contêm as sete Na literatura apocalíptica, tal como


últimas pragas. A sexta praga descreve Daniel, uma visão é freqüentemente se-
a secagem do rio babilônico Eufrates, a guida por uma explicação (cf. Dn 7:1-15
vinda dos reis do oriente (a saber, Jesus e 7:16-28 ou Ap 1:16 e 1:20). Depois de
e Sua hoste celestial) e o Armagedom. A um discurso angélico inicial no começo
sétima praga descreve o julgamento de de Apocalipse 17 encontramos duas pe-
Babilônia e o tempo em que ela se divide quenas visões seguidas por dois discursos
em três partes. De Apocalipse 17 em dian- mais longos. Em seu discurso inicial, o
te esse juízo é descrito em mais detalhes. anjo promete a João que o julgamento da
É evidente a conexão das pragas com os meretriz lhe será revelado. Todavia, as duas
capítulos subseqüentes. Em Apocalipse breves visões posteriores (Ap 17:3b-5 e
17:1, um dos anjos que tinham as sete Ap 17:6a) não focalizam o julgamento,
taças apresenta a João o julgamento da mas apresentam a besta com sete cabeças
meretriz Babilônia, que é descrita nos ca- e dez chifres. Contudo, os dois discursos
pítulos 17-19, ao passo que o julgamento angélicos seguintes não apenas explicam os
da besta do abismo que conduz a meretriz poderes antes mencionados, mas também
segue-se em Apocalipse 20. O outro anjo fornecem detalhes sobre o julgamento
dos que tinham as sete taças apresenta mencionado no primeiro discurso angélico.
então a João a noiva do Cordeiro, a Nova Provêem informação adicional não contida
Jerusalém, de uma maneira mais detalhada em nenhuma das duas visões. Portanto,
(Ap 21:9-22:6). Apocalipse 17:8-12 deve estes discursos angélicos não são apenas
ser interpretado neste contexto. um explicação das visões, mas fornecem
novas idéias.
Esboço de Apocalipse 17 Existem outras relações entre as visões
1. Narrativa: João é abordado 1 e 2 e os discursos 2 e 3 além da besta,
por um dos anjos que tinham suas cabeças e seus chifres. A primeira
as sete taças (1a) visão enfatiza a meretriz como “Babilônia,
a Grande”, enquanto que o último discurso
Discurso do anjo: a chama de “a Grande Cidade”. Na segun-
Discurso 1 (1b-2): Julgamento da me- da visão os santos são perseguidos e no
retriz. segundo discurso os crentes triunfam com
o Cordeiro.
2. Narrativa: João é levado ao
deserto (3a) As duas visões de Apocalipse 17:3b-
Visões: 6a descrevem a mulher/prostituta e suas
atividades no tempo histórico (cf. 17:4 e
Visão 1 (3b-5): A prostituta sobre a 14:8), mas não descrevem ainda o clímax
besta com sete cabeças e dez escatológico. Por outro lado, nos dis-
chifres como a mãe das mere- cursos identificam os diferentes poderes
trizes, a grande Babilônia. apresentados no início do capítulo 17 (com
Visão 2 (6a): A prostituta e os santos. exceção da besta) e retratam a besta e os
chifres em sua batalha final contra o Cor-
3. Narrativa: João se admira (6b) deiro, e em sua batalha contra a meretriz,
que é o seu julgamento. Os aliados da
Discursos do anjo: meretriz se voltarão contra ela e a destru-
Discurso 2 (7-14): A besta, as cabeças, irão.Assim o julgamento da meretriz não é
os chifres e sua futura batalha encontrado nas cenas da visão mas apenas
contra o Cordeiro e os fiéis. na apresentação, mencionada no primeiro
discurso e exucutada no último discurso.
Discurso 3 (15-18): As águas, a batalha
Além disso, o julgamento da besta é indi-
dos chifres da besta contra a
cado no segundo discurso (17:8 , 11) que
prostituta, a meretriz como a
nãohavia sido mencionado no primeiro
grande cidade.
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 35

discurso angélico. As visões referen-se a Que viste


eventos anteriores ao julgamento da me-
Os chifres são dez reis.
retriz. Após isso os aliados da meretriz se
voltarão contra ela e a destruirão. A besta 2. Terceiro Discurso do Anjo (15-18)
também será destruída. Os três discursos a. As águas (15)
tratam de julgamento. No entanto com
relação aos detalhes sobre a besta, está à Que viste
parte a descrição da besta que “era”, “não As águas são povos, e multi-
é”, e “caminha para a destruição” e que dões, e nações, e línguas
não são mencionadas mas reservadas para
o final. b. Os dez chifres e a besta (16-17)
Com respeito às atividades do fim do Que viste
tempos, há uma ênfase mais forte sobre os c. A prostituta (18)
chifres e a besta do que sobre as cabeças. As
cabeças não são diretamente mencionadas Que viste
como estando envolvidas na batalha final. A prostituta é a grande cida-
Isto pode indicar que as cabeças estão mais de.
relacionadas com o fluxo da História e,
talvez, com a própria meretriz, ao passo O segundo discurso angélico contém
que os chifres em combinação com a besta (1) informação a respeito da besta, (2) a
desempenham um papel importante na ba- identificação das cabeças e informações
talha final contra Jesus e na batalha contra a adicionais e (3) a identificação dos chifres
meretriz. Parece também evidente quando e informações adicionais com uma forte
olha-se o uso dos tempos e dos indicadores ênfase nas atividades futuras. O terceito
em relação a aparência dos chifres. Vários discurso angélico contém (1) a identifica-
verbos empregando o tempo futuro descre- ção das águas, (2) a informação sobre as
vem as atividades dos chifres, que irão obter atividades futuras dos chifres e da besta e
poder apenas no futuro, em colaboração (3) a identificação da meretriz.
com a besta “por uma hora”. Esses chifres A meretriz, as águas, as cabeças e os
atingirão o poder no futuro e colaborarão chifres são identificados. Em cada caso
com a besta “por uma hora”. é usada a frase “as (a)... são/é...” A única
Duas observações adicionais estão em entidade que não é diretamente identificada
ordem. Todavia, antes de nos volvermos a é a besta (Ap 17:8-9a). Há uma outra seção
elas, é apresentado o seguinte esboço que no terceiro discurso angélico que lida com
focaliza os discursos 2 e 3 de uma maneira a besta e os chifres, em que está faltando
mais detalhada. uma identificação (17:16-17). Mas os
chifres já foram explicados previamente.
Portanto, é outra vez a besta que não está
O segundo e o terceiro discursos explicada, embora ouçamos sobre suas
angélicos atividades. Esse fato pode ser importante
para a interpretação da passagem. Enquanto
1. Segundo discurso do anjo (7-14): o julgamento da meretriz é descrito com
Introdução (7) numerosos detalhes em Apocalipse 17-19,
o julgamento da besta é encontrado em
a. A besta (8-9a)
Apocalipse 20.
Que viste
Enquanto a besta é assinalada como o
b. As cabeças (9b-11) símbolo que não é explicado, as cabeças
As cabeças são sete montes e são indicadas de outra maneira. O segundo
sete reis. discurso lida com a besta, as cabeças e os
chifres; o terceiro com as águas, os chifres,
c. Os chifres (12-14) a besta e a mulher/prostituta. Nestas seis
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seções, cinco vezes é aplicada a frase “que relacionar-se com a época de João e, por-
viste”. Ela é encontrada em todas as enti- tanto, com a época passada mais do que
dades, exceto as cabeças. Isto pode ou não com um evento futuro. Tal conclusão tem
ser uma coincidência. Em qualquer caso, fundamento? Cremos que não.19 (1) Embo-
quando tentamos identificar os poderes de ra ambas as frases usem o tempo presente,
Apocalipse 17 em termos específicos, são é difícil conceber que, ao mesmo tempo, a
as cabeças que formam o ponto de partida. besta “não é” e uma de suas cabeças “é”.
Falta a fórmula “que viste” e são dessa for- (2) A besta não está identificada. Declara-
ma diferentes de todas as outras entidades. ções relacionadas com a besta a retratam
Assim encontraste com a besta, elas são c da perspectiva do fim do tempo e apontam
aracterizadas por dois simbolos adicionais para o seu futuro julgamento. Portanto,
(montanhas e reis). Dessa forma, o esboço a frase “não é” não liga necessariamente
de Apocalipse 17 pode nos mostrar o papel esse período ao tempo de João. (3) A fase
crucial que as cabeças desempenham ao “não é” pode ser compreendida como um
se interpretar os símbolos desse capítulo. desenvolvimento futuro, porque o tempo
Cinco das cabeças já caíram, uma existe. presente com freqüência representa o futuro
A frase “um existe” de uma maneira ou de (veja, por exemplo, Apocalipse 17:11-13;
outra deve relacionar-se com João. Há um 16:15). Além disso, a frase “e caminha
tempo específico em que João se encontra para a destruição” na mesma sentença é
e em que uma das sete cabeças também também usada no tempo presente, embora
“existe”. Então a questão é se esse tempo se relacione ao fim da besta. Até mesmo a
é o primeiro século d.C., quando João vivia frase “está para emergir do abismo” em-
ou se ele se refere ao tempo dos eventos que prega o tempo presente mesmo tendo sido
lhe foram mostrados em visão. traduzida para o português como o tempo
Como encontramos a frase “um existe” futuro.20 Que a besta não é identificada
relacionada às cabeças, assim encontramos a e que as cabeças são assinaladas podem
expressão “e não é” relacionada com a bes- apontar para o fato de que a besta deve
ta. A besta era, não é, subirá do abismo e irá ser compreendida principalmente de uma
à perdição. A besta é descrita similarmente perspectiva futura, ao passo que as cabeças
três vezes em Apocalipse 17:8 e 11: contêm o segredo para desvendar Apoca-
lipse 17. (4) A segunda parte de Apocalipse
1. Era E NÃO É 17:8 parece ligar as fases “não é/aparecerá”
e está para emergir do abis- da besta aos habitantes da Terra. Contudo,
mo este é um desenvolvimento apenas futuro,
muito provavelmente relacionado com as
E CAMINHA PARA A DES- últimas horas deste mundo.21 (5) Como
TRUIÇÃO o Livro de Apocalipse interpreta a futura
2. Era E NÃO É ascensão da besta do abismo? Resposta:
ele a descreve em Apocalipse 20 como a
mas aparecerá libertação de Satanás da prisão do abismo.
3. Era E NÃO É, Em outras palavras, a fase que lida com a
besta subindo do abismo e sua subseqüente
e é o oitavo destruição retratam eventos posteriores
e procede dos sete, ao milênio. Então a fase “não é” deve ser
compreendida como o tempo durante o mi-
E C A M I N H A PA R A A lênio. A primeira fase, descrevendo a besta
DESTRUIÇÃO como “era”, refere-se ao tempo histórico e
Como “um existe” (a sexta cabeça) termina com o início do milênio. É o tem-
se relaciona com o tempo de João, quer po que aponta para a atividade de Satanás
seja no primeiro século, quer seja em um durante a história humana até a Segunda
tempo posterior na visão, a frase “não é” Vinda de Cristo. As cabeças basicamente
(usada em relação à besta) poderia também seriam derrubadas nesse tempo, ao passo
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 37

que os chifres parecem entrar em cena lipse 17:10, “e são também sete reis, dos
apenas bem no final do tempo. Contudo, o quais caíram cinco, um existe, e o outro
enfoque especial de João é sobre o julga- ainda não chegou; e, quando chegar, tem
mento e, assim, sobre eventos que ocorrem de durar pouco” parece sugerir que no
em combinação com a Segunda Vinda de tempo em que João escreveu o livro do
Cristo e depois dela. Apocalipse, cinco reinos tinham caído e
o sexto estava reinando.23 As duas visões
A Besta (Ap 17) de Apocalipse 17:3-6 não lidam com essa
situação, nem nos dizem que João foi
1. Era. transportado a um outro tempo durante a
2. E não é. apresentação dos eventos de Apocalipse
17:7-18. Obviamente, João viveu durante o
3. Está para emergir do abismo. período da sexta cabeça. Além disso, o livro
4. E caminha para a destruição. do Apocalipse foi primariamente dirigido
a cristãos que viviam no primeiro século.
Provavelmente, eles teriam compreendido
Satanás (Ap 20) o verso 10 de tal maneira que a sexta cabeça
1. Ele existiu e atuou (Ap 12). se referisse ao tempo em que eles estavam
vivendo. Se admitirmos que a sexta cabeça
2. Ele foi aprisionado no abismo; não po- não estava reinando quando o Apocalipse
dia mais enganar a ninguém (Ap 20:1-3). foi escrito e que João foi levado para ou-
3. Após o milênio, ele é solto, reúne os tro tempo – mesmo que Apocalipse 17:10
oponentes de Deus ressurretos e ataca a seja parte de uma apresentação e não de
Cidade Santa (Ap 20:7-9). uma visão – então não seremos capazes de
chegar a qualquer interpretação definitiva
4. Após o milênio, será lançado no lago
de Apocalipse 17, porque não há nenhuma
de fogo e perecerá (Ap 20:9-10)
maneira de determinar em que tempo João
As sete cabeças são divididas em três foi transportado, quer seja nos primeiros
segmentos, sendo adicionada uma oitava séculos d.C., nos tempos medievais, dire-
cabeça: (a) cinco já caíram, (b) um existe, tamente depois de 1798, ou em um tempo
(c) outro ainda não chegou, e (d) o oitavo posterior a esses. Mas, então, tal profecia
é a besta. Embora seja tentador associar contendo declarações cronológicas não
as fases da besta com a divisão das cabe- faria sentido. Jon Paulien declarou um
ças, o texto não exige tal procedimento. princípio importante para a interpretação
Se as fases da besta e a subdivisão das da literatura apocalíptica:
sete cabeças são compreendidas como Em uma visão, o profeta pode viajar da Terra
paralelas, então a fase “não é” da besta ao Céu e vaguear de um lado para outro do passado
corresponderia ao período “um existe” para o fim do tempo. A visão não está necessa-
das cabeças. Caso seguíssemos a suges- riamente localizada no tempo e lugar do profeta.
tão acima concernente à besta do abismo, Mas quando a visão é posteriormente explicada ao
tal abordagem seria impossível, uma vez profeta, a explicação sempre vem no tempo, lugar
que se o paralelismo fosse requerido, um e circunstâncias do que tem a visão.24
rei/reino precisaria sobreviver durante o
milênio, a fase durante a qual a besta “não Segundo este princípio, a explicação das
é”. Mas isto é excluído por Apocalipse 19 cabeças é decisiva. Localiza a sexta cabeça
e 20. Além disso, como poderia a besta no primeiro século d.C. Escreve Kenneth A.
estar na condição “não é”, enquanto uma Strand sobre a besta e as cabeças:
de suas cabeças “existe”? Portanto, parece Procurar um cumprimento na História, por
melhor não tomar as fases da besta e os exemplo, para a fase ‘não é’ da besta do ca-
segmentos das cabeças como descrições pítulo 17, quando esta fase é obviamente uma
paralelas.22 visão do Julgamento, é ilógico. Ou tratar todo o
capítulo 17 inteiro como tendo um cumprimento
Uma compreensão natural de Apoca- histórico, ao invés de escatológico, é deixar de
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compreender o próprio desígnio do capítulo e de seguem o mesmo padrão das pragas egíp-
toda a segunda parte do Livro do Apocalipse, no cias. Portanto, ele fala acerca do “tema do
qual ele ocorre. Isto não é afirmar, porém, que êxodo do Egito” em Apocalipse.28 O Egito
não há absolutamente nenhum reflexo histórico como um império mundial foi seguido
no capítulo 17. A explicação das sete cabeças e
pelos assírios. Depois deles, seguem-se
dez chifres, por exemplo, deve ser do ponto de
vista de João e do tempo em que ele escreveu.
os reinos conhecidos de Daniel 2, 7 e 8.
Afinal, como pode uma explicação ser dada a não A sexta cabeça seria o Império Romano
ser em termos do que existe, mesmo que a própria e a sétima, o papado. A oitava “procede
visão seja a partir da perspectiva do julgamento dos sete”, mas não é “um dos sete”, o que
ecatológico, quando a besta “não é”? Em outras indicaria que a besta é relacionada a todas
palavras, conquanto João veja a visão da fase “não as sete cabeças, mas não deve necessaria-
é” (julgamento), as cabeças e chifres são entidades mente ser identificada como sendo uma
históricas pertencentes à fase “era”.25 delas. Isso é sustentado pelo fato de as sete
cabeças serem introduzidas com um artigo
definido (“as sete”, “as dez”, “o outro”),
Interpretação Sugerida enquanto que para a oitava cabeça falta o
artigo distinguindo-a das outras. A idéia
A Besta parece ser de que a oitava cabeça resume
todas as sete e é o seu clímax, mas não é
Já havíamos sugerido que a fase “era” como as outras.29 “Essa besta não é um dos
da besta se refere ao tempo histórico.26 Du- sete reis/reinos (verso 10), mas personifica
rante esse tempo Satanás estava e está em a totalidade da maldade delas...”30
atividade por meio de diferentes agentes.
O tempo termina com a Segunda Vinda de A sexta cabeça e a brevidade
Jesus Cristo, e, em conexão com ela, Sata-
do tempo
nás é aprisionado no abismo, entrando na
fase “não é”. Depois do milênio, Satanás é É dito da sétima cabeça que deve durar
solto do abismo, e se torna ativo conforme “pouco”. Alguns têm sugerido que isto
descrito em Apocalipse 20. Como tal, ele não pode ser aplicado ao papado, porque
é o oitavo e procede dos sete, mas será o papado já existe por mais tempo do que
julgado e destruído por Deus. vários dos outros reinos combinados.
A palavra oligos, “pouco”, “pequeno”,
As Cabeças “raro”, “curto”, é encontrada quatro vezes
em Apocalipse. Nas mensagens às sete
No tempo de João, cinco cabeças
igrejas, ela descreve a quantidade de coisas
tinham caído e uma existia. A cabeça
(Ap 2:14) e pessoas (Ap 3:4), enquanto que
existente era o Império Romano. Os cin-
em Apocalipse 12:12 e 17:10 ela se refere
co reinos precedentes começaram com o
ao tempo. Apocalipse 12:12 é interessante
Egito e continuaram com a Assíria, Ba-
porque o texto declara que depois da bata-
bilônia, Medo-Pérsia e Grécia.27 Embora
lha entre Miguel e Satanás, com a derrota
isto possa ser deduzido logicamente, uma
deste, “o diabo desceu a vós, cheio de gran-
vez que o reino existente no tempo de João
de cólera, sabendo que pouco tempo lhe
é identificado, há informação adicional en-
resta”. Esse “pouco tempo” iniciado com
contrada em Apocalipse que aponta para o
a cruz de Cristo, e que ainda permanece, já
Egito como o primeiro império. O Egito é
dura cerca de dois milênios.31
mencionado nominalmente em Apocalipse
11:8. Conquanto esse Egito seja um Egito A extensão de tempo expressa por oligos é
simbólico, porque é dito que ali o Senhor dependente daquilo com que o termo é comparado.
foi crucificado, ele ainda nos faz lembrar Em Apocalipse 12:12 oligos define o período de
tempo desde a expulsão de Satanás por ocasião
do antigo império dos faraós. É o mais an-
da crucifixão de Cristo até o final da tirania de
tigo império mencionado em Apocalipse. Satanás sobre os habitantes da Terra. Este período
Além disso, Strand mostra que as primeiras de tempo é descrito como oligos em comparação
cinco trombetas e as primeiras cinco pragas
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 39

com os mais de 4.000 anos que precederam a Apocalipse 17 é melhor compreendida


crucifixão.32 como sendo Satanás operando por meio
de poderes políticos. Ele está ativo ao
Dessa forma, o “pouco [tempo]” da longo da história humana, mas a ênfa-
sétima cabeça não exclui o papado de ser se de Apocalipse 17 é sobre o período
o cumprimento da sétima cabeça. final da história humana. (3) As fases
da besta e a subdivisão das cabeças não
Os Dez Chifres são diretamente paralelas. Enquanto que
Os dez chifres são poderes políticos as fases da besta representam o tempo
durante o tempo da sétima cabeça, que histórico, o tempo durante o milênio
apoiarão a besta (Ap 17:13). “As nações da e o tempo após o milênio, as cabeças
Terra, representadas pelos dez chifres, aqui devem ser todas posicionadas no tempo
têm o propósito de se unir com a ‘besta’... histórico. A sexta cabeça parece referir-
para forçar os habitantes da Terra a beber o se ao tempo de João, isto é, o primeiro
‘vinho’ de Babilônia..., isto é, unir o mundo século d.C.35
sob seu controle e eliminar todos os que se Embora Apocalipse 17 descreva po-
recusam a cooperar....”33 deres malignos que se encontram muito
ativos, Deus ainda está no controle. Ele
Um diagrama traz juízo sobre os inimigos do Seu povo
O diagrama abaixo é adaptado de K. e livra Seus santos de todas as perple-
Strand,34 e resume nossa discussão, nos aju- xidades e perseguições. O capítulo traz
dando a ver as relações entre as diferentes conforto para o povo de Deus. Por outro
fases e entidades da visão. lado, “a idéia da iminência é expressa”.36
Dentro em breve o Senhor virá e intervi-
rá. “Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o
Resumo Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos
Sugerimos que: (1) As sete cabeças senhores e o Rei dos reis; vencerão também
da besta representam reinos em vez de os chamados eleitos e fiéis que se acham
reis individuais. Esses reinos são Egito, com ele” (Ap 17:14).
Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Gré-
cia, Roma e o papado. (2) As bestas de
Apocalipse 12, 13 e 17 não representam
exatamente o mesmo poder. A besta de
40 / Parousia - 1º semestre de 2005

Referências se encontram os peixes, os navios, e os marinheiros


(Ap 8:8, 9; 16:3; 18:17, 19). Estes são os usos mais
1
Artigo traduzido do original em inglês por Fran- freqüentes do termo “mar”. O termo também ocorre
cisco Alves de Pontes e Rita C. Timóteo Soares. em outros contextos. Você pode jogar uma pedra no
2
A fase “era” da besta seria paralela à “caíram mar (Ap 18:21). As multidões são como a areia do
cinco”; a fase “e não é” correria paralelamente à mar (Ap 20:8). O mar deu os mortos que nele estavam
“uma existe” das cabeças e a fase “aparecerá” da (Ap 20:13), e o mar não mais existirá na nova terra
besta combinaria com “outro ainda não chegou”. (Ap 21:1). Em Apocalipse 12:17 Satanás pôs-se em
3
Veja Francis D. Nichol, ed., The Seventh-day pé sobre o mar, e em Apocalipse 13:1 a besta emergiu
Adventist Bible Commentary (Washington, DC: do mar. As duas últimas referências aludem às mul-
Review and Herald, 1957), 7:853. tidões associadas com ou representadas pelo termo
4
Ibid. “mar” (cf. Ap 17:15, onde, no entanto, “as águas”
5
Ibid., 854. são identificadas). Na maioria dos casos é difícil e
6
Ibid., 854-856. até mesmo impossível perceber no termo a noção de
7
Cf. G. K. Beale, The Book of Revelation, The um abismo. No entanto, é melhor mantermos os dois
New International Greek Testament Commentary termos separados.
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999), 871-874.
15
Cf. Nichol, 802-803.
8
Veja, por exemplo, Ranko Stefanovic, Reve-
16
Cf. Ekkehardt Mueller, “The Two Witnesses of
lation of Jesus Christ: Commentary on the Book of Revelation 11”, Journal of the Adventist Theological
Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews Univer- Society, 13/2 (2002), 30-45.
sity Press, 2002), 511-512, 515.
17
Beale, 865, mostra o paralelismo com Apoca-
9
Cf. Simon J. Kistemaker, New Testament lipse 20: “A formula tríplice corresponde à carreira
Commentary: Exposition of the Book of Revelation de Satanás em Apocalipse 20:1-10”. Ele também
(Grand Rapids, MI: Baker, 2001), 470-472. Ele afirma na mesma página: “A origem da besta do
afirma que quando a mulher é dita como sentada abismo tanto aqui [Ap 17:8a] e em 11:7, sugere que
sobre muitas águas (Ap 17:1, 15), sobre a besta (Ap a origem e poderes demoníacos da besta (como em
17:3) e sobre sete colinas ou montes (Ap 17:9), todos 9:1-2, 11; cf. 20:1-3, 7)”. Mas ele não identifica a
estes três lugares devem ser compreendidos simboli- besta como sendo Satanás.
camente. Portanto, os sete montes não apontam para
18
Kistemaker, 469, ao tentar identificar a besta
Roma, mas para os poderes mundiais “que têm seu de Apocalipse 17 parece vacilar entre a besta de
lugar na história” (471). Essa compreensão elimina Apocalipse 13a e Satanás.
a comum identificação das cabeças com imperadores
19
Contra Kistemaker, 419, e Mounce, 314.
romanos específicos – discutida por Beale, 872-
20
O esquema abaixo mostra que após o imper-
874; Kistemaker, 471-472; Robert H. Mounce, The feito inicial, apenas tempos presentes são usados no
Book of Revelation, ed. rev., The New International grego, apontando para uma lacuna entre “era” e o res-
Commentary on the New Testament (Grand Rapids, to da descrição sugerindo que as outras frases devem
MI: Eerdmans, 1998), 315-317; e Grant R.Osborne, ser compreendidas como se referindo ao futuro:
Revelation, Baker Exegetical Commentary on the
New Testament (Grand Rapids, MI: Baker, 2002), A besta...era
617-619. Beale, 868, demonstra que “no Apocalipse to therion en
ele [o termo grego] sempre significa ‘monte’ e é imperfeito
usado figurativamente para conotar força... Esse uso e não é
aponta além de uma referência literal aos ‘montes’ de kai ouk estin
Roma, e a um significado figurativo como ‘reinos’, presente
especialmente à luz de 8:8 e 14:1... Que reis que
representam ‘reinos’ são designados é evidente de e está para emergir do abismo

Daniel 7:17 (os grandes animais ‘são quatro reis’) e kai mellei anabainein ex te abussou
7:23 (‘o quarto animal será um quarto reino’).” presente e presente infinito
10
George Eldon Ladd, A Commentary on the e caminha para a destruição
Revelation of John (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
kai eis apoleian hupagei
1991), 227-228.
presente
11
Cf. Beale, 435-436; Mounce, 314.
12
Kistemaker, 469. 21
“...se admirarão” – tempo futuro
13
A parte histórica do Apocalipse termina com (Apoc.17:8).
o capítulo 14. 22
Beale, 871, parece associar o fim do período
14
O mar é associado com Deus (Ap 4:6; 15:2) “cinco (das cabeças) caíram” com o período “não é”
ou mencionado em relação com a terra (Ap 5:13; da besta. No entanto, esse é o período “um existe”
7:1, 2, 3; 10:2, 5, 6, 8; 12:12; 14:7). É o local onde das cabeças a não ser que uma lacuna seja introdu-
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 41

zida no texto. a queda de Roma até o império final do anticristo”


23
Ver Mounce, 316. (472). Enquanto Beale e Mounce mencionam esta
24
Jon Paulien, “The Hermeneutics of Biblical interpretação em particular, mas seguindo a outros,
Apocaliptic”, dissertação não publicada, 2004, 25. Kistemaker parece se ater ao apresentado aqui.
25
Kenneth A. Strand, Interpreting the Book of 28
Cf. K. A. Strand, “‘Victorious-Introduction’
Revelation: Hermeneutical Guidelines, with Brief Scenes”, Symposium on Revelation: Introductory
Introduction to Literary Analysis (Worthington, OH: and Exegetical Studies, vol. 1, Daniel and Revelation
Ann Arbor, 1979), 54-55. Committee Series, editado por F. B. Holbrook (Silver
26
Beale, 864, observa que “a existência da besta Spring, MI: Biblical Research Institute, Associação
se estende do princípio ao fim da história...” Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, 1992), 67.
26
Cf., K. A. Strand, “‘Victorious-Introduction’ 29
Nichol, 856, sugere: a ausência no grego de
Scenes in Symposium on Revelation: Introductory um artigo definido antes da palavra ‘oitavo’ sugere
and Exegetical Studies”, Book 1, Daniel and Reve- que a própria besta era a real autoridade por trás
lation Committee Series, editado por F. B. Holbrook das sete cabeças e que, dessa forma, é mais do que
(Silver Springs, MI: Biblical Research Institute, meramente uma outra cabeça, a oitava na seqüência.
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, É a sua conclusão e clímax – a própria besta”. Essa
1992), 67. observação é sustentada por Kistemaker, 473, e
27
Essa opção é mencionada por Beale, 875: “A Mounce, 318.
tentativa de identificar os sete reis com respectivos 30
Kistemaker, 473. Cf. Ladd, 231.
impérios mundiais em particular poderá ter mais su- 31
Kistemaker, 432, faz uma observação similar
cesso [do que uma tentativa de identificar as cabeças declarando que “esse pequeno período não deve ser
com os imperadores romanos], desde que isso tenha tomado literalmente, mas simbolicamente... Por-
mais a ver com as ‘sete cabeças’ em Daniel 7:3-7, tanto, o termo pouco tempo é um pequeno período
que representa quatro impérios específicos. Os cinco cronológico funcionando dentro de um período de
primeiros reis, que ‘caíram’são identificados com o tempo mais abrangente”. Por outro lado, Beale, 872,
Egito, a Assíria, a Babilônia, a Pérsia e a Grécia; sugere “que as seis primeiras ‘cabeças’ (= reinos)
Roma é aquela que ‘é’, seguida por um império duram um longo tempo provavelmente por toda a
ainda desconhecido que há de vir”. Na página 560 ele história, em contraste com a sétima ‘cabeça’”. Ele
declara: “Assim como os reinos com sete cabeças em baseia sua sugestão em Apocalipse 20:3, quando
Daniel 7:4-7 atravessam a história da Babilônia até Satanás é solto por “pouco tempo”. No entanto,
o fim, da mesma forma a besta com sete cabeças de Apocalipse 20:3 usa uma expressão diferente (mikron
Apocalipse 17 atravessa muitos séculos e, da mesma chronon) e, dessa forma, não é realmente comparável
forma, toda a história...” Osborne, 619, e Mounce, com Apocalipse 17:10 (oligon) e Apocalipse 12:12
317, relacionam os mesmos impérios. Entretanto, (oligon kairon).
Mounce mostra que Alford identifica a sétima cabeça 32
Nichol, 811.
como “o império cristão iniciado com Constantino” 33
Ibid, 857.
(317). Kistemaker, 471, assegura que “as sete colinas 34
Strand, Interpreting the Book of Revelation,
apontam para poderes mundiais que têm o seu lugar 56.
na história”. Ele menciona os cinco impérios que já 35
De acordo com Apocalipse 17:16, a besta e os
caíram: Babilônia, Assíria, Neo-Babilônia, Medo- chifres se voltarão contra a prostituta e a atacarão e
Pérsia e Greco-Macedônia. A sexta cabeça é Roma. destruirão. Neste contexto, as cabeças não são men-
A sétima são “todos os governos anti-cristãos desde cionadas, somente a besta e os chifres. Se as cabeças
são principalmente entidades passadas – como
sugerido acima – isto faz perfeito sentido.
36
Beale, 871.

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