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Direito Processual Penal

Polícia Judiciária

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Cícero Robson Coimbra Neves

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Adrielly Camila de Oliveira Rodrigues Vital
Polícia Judiciária

• Conceito de Polícia Judiciária;


• Ciclo de Polícia;
• Cadeia de Custódia;
• Prisão em Flagrante;
• Inquérito Policial.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer o ciclo de polícia e os feitos de polícia judiciária que poderão ter o agente de
segurança pública como um dos principais atores.
UNIDADE Polícia Judiciária

Conceito de Polícia Judiciária


No desempenho de suas atividades como agente de segurança pública, sua atua-
ção terá uma conotação preventiva, mas também repressiva. Em outras palavras, o
agente de segurança pública atua em situação de normalidade, regra geral por ações
ostensivas que previnem a infração penal; mas, também, ocorrendo essa infração,
há a necessidade de retomada da normalidade, ingressando-se com medidas de re-
pressão imediata e de investigação.
Ao processo penal interessa, particularmente, a etapa final, que caracteriza a
polícia judiciária.
Acompanhando a conceituação de Álvaro Lazzarini (1987, p. 36), polícia judiciária
“é polícia repressiva, porque atua após a eclosão do ilícito penal, funcionando
como auxiliar do Poder Judiciário”.
Essa atividade, note-se, possui seus mecanismos de controle, que podem ser
interno, com a atuação das corregedorias, e externo, incumbência constitucional do
Ministério Público, nos termos do Art. 129, VII, da Constituição Federal, que impõe
como função institucional do Ministério Público:
Exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei comple-
mentar mencionada no artigo anterior.

Mas este é o “bolo pronto”, a conclusão do estudo. Para realmente compreender a


polícia judiciária, mostra-se necessário conhecer o ciclo de polícia na persecução criminal.

Ciclo de Polícia
Como se disse, a atuação do agente de segurança pública ocorre antes da eclosão
da infração penal, em período de normalidade, mas segue após a prática de um crime
ou contravenção. Trata-se do Estado na persecução, na perseguição do crime ou da
contravenção penal.
Vejamos um quadro (Figura 1), também do Professor Lazzarini (1999, p. 97).

Figura 1 – Persecução criminal


Fonte: LAZZARINI, 1999

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Extrai-se, do quadro a seguir, que o ciclo de polícia é composto por três fases:
1. Situação de normalidade, em que impera a boa ordem pública em seus
aspectos de salubridade, segurança e tranquilidade pública;
2. Momento do rompimento da ordem pública;
3. Fase de investigação.

Na fase de normalidade, a ação policial correlata é a prevenção por meio da


polícia administrativa, denominada pela Constituição Federal de polícia ostensiva,
compreendendo ações visíveis (ostensivas) nas ruas com o intuito de dissuadir o
intento criminoso.

Falhando, por qualquer razão, a atuação preventiva e ocorrendo o delito (ou con-
travenção penal), passa-se à segunda fase do ciclo de polícia que, na quebra da
ordem pública, possui por ação policial correlata a repressão imediata, a fim de que
se faça retornar ao estado de normalidade por meio de atos de contenção, sendo tal
atribuição comum da polícia ostensiva e da polícia judiciária.

Contida a eclosão e a duração do crime que foi reprimido de forma imediata,


inicia-se a terceira fase do ciclo de polícia, que é a repressão mediata, materializada
pela investigação, área exclusiva da polícia judiciária.

Com o término da fase de investigação, encerra-se o ciclo de polícia, mas se


prossegue na persecução criminal com a denúncia do Ministério Público, que
deflagra a instrução processual penal, fase regida pela ampla defesa e contraditório,
prosseguindo-se a persecução penal, em caso de condenação, com a fase da apli-
cação da pena, “ponto culminante de todo o trabalho iniciado no ciclo de polícia”
(LAZZARINI, 1999, p. 96), efetivando-se a repressão com a aplicação da sanção,
de caráter punitivo e intimidatório, concomitante com as ações de ressocialização,
reeducação e reinserção do preso à sociedade.

Pois bem, já conhecemos o ciclo de polícia, resta saber quais instituições atuam
nas fases desse ciclo, e a resposta está nos Arts. 142 e 144 da Constituição Federal.

O Art. 142 da Constituição Federal dispõe que:


As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aero-
náutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presi-
dente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

Como assevera Fernando Cunha (2005, p. 157-8), as:


[...] missões constitucionais precípuas atribuídas às Forças Armadas evi-
denciam dois campos de atuação. O primeiro deles, de atuação externa,
refere-se à defesa da Pátria, contra agressões estrangeiras, devendo ser
mantidos a todo custo o território e a soberania nacionais. O segundo,
de atuação interna, trata da defesa das instituições democráticas, como
garantia dos três poderes constitucionais.

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Acrescenta o autor que a Carta Magna também:


[...] reservou às Forças Armadas a atribuição eventual e subsidiária, de
atuação interna, de garantia da lei e da ordem, por iniciativa de qualquer
um dos chefes dos poderes constitucionais. Trata-se de atribuição sub-
sidiária, haja vista que a atribuição precípua de manutenção da ordem
pública pertence aos órgãos constantes do Art. 144 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.

Nesse contexto, podemos dizer que as Forças Armadas devem ser empregadas
precipuamente para a defesa externa do País e para a garantia dos poderes constitu-
cionais, ou seja, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Executivo, ao qual,
frise-se, as Forças Armadas pertencem.

Mas a Constituição Federal também confere às Forças Armadas, por provocação


do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciário, a garantia da lei e da
ordem, sendo clara a possibilidade de, eventualmente, as Forças Armadas serem empre-
gadas para a preservação da ordem pública (Garantia da Lei e da Ordem ou GLO).

Em uma acepção substancial, a ordem pública pode ser conceituada na feliz pro-
posição de Azor Lopes da Silva Junior (2010, p. 24-5), segundo quem ordem pública:
É um estado de paz social, onde não emergem conflitos, seja entre os
indivíduos da mesma sociedade, seja entre eles e o Estado, e mesmo
entre Estados soberanos. Assim, na primeira parte da nossa definição
estariam compreendidas as leis civil e penais que regram o convívio entre
os homens; na segunda parte as liberdades civis, que limitam o poder do
Estado e, na última parte, a ideia de ordem pública internacional.

Conforme já suscitado, a ordem pública a ser tutelada possui, tradicionalmente,


tríplice caráter, envolvendo segurança, tranquilidade e salubridade pública.

Acerca da organização, preparo e emprego das Forças Armadas, a disciplina está


contida na Lei Complementar n. 97, de 9 de junho de 1999. Dela se extrai duas
possibilidades de atuação das Forças Armadas na segurança pública: garantia da lei
e da ordem e prevenção e repressão em faixa de fronteira.

Claro, além dessas possibilidades, há também o emprego em casos pontuais,


como na intervenção federal em Estados, como se viu, na história recente, ocorrer
na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro.

A garantia da lei e da ordem, além da Lei Complementar acima indicada, possui


diretrizes definidas no Decreto n. 3.897, de 24 de agosto de 2001, marcando-se
um caráter subsidiário da atuação das Forças Armadas. Seu Art. 3º, por exemplo,
dispõe que, na:
[...] hipótese de emprego das Forças Armadas para a garantia da lei e
da ordem, objetivando a preservação da ordem pública e da incolumi-
dade das pessoas e do patrimônio, porque esgotados os instrumentos a
isso previstos no Art. 144 da Constituição, lhes incumbirá, sempre que
se faça necessário, desenvolver as ações de polícia ostensiva, como as

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demais, de natureza preventiva ou repressiva, que se incluem na compe-
tência, constitucional e legal, das Polícias Militares, observados os termos
e limites impostos, a estas últimas, pelo ordenamento jurídico.

Claramente, havendo o esgotamento das possibilidades afetas aos órgãos de segu-


rança pública, enumerados no Art. 144 da Constituição Federal, as Forças Armadas
terão o papel de preservar a ordem pública em toda a sua acepção, ou seja segurança,
tranquilidade e salubridade pública. O parágrafo único desse mesmo artigo esclare-
ce que se consideram “esgotados os meios previstos no Art. 144 da Constituição,
inclusive no que concerne às Polícias Militares, quando, em determinado momento,
indisponíveis, inexistentes, ou insuficientes ao desempenho regular de sua missão
constitucional”, fixando, claramente, um emprego subsidiário das Forças Armadas,
devendo o poder constituído primeiro lançar mão das Polícias Militares e somente
após constatar a insuficiência, fomentar o emprego das Forças Armadas.
Ela deve ser episódica, em área preestabelecida e por tempo limitado.

Vamos ouvir o que o próprio Ministério da Defesa nos diz sobre Garantia da Lei e da Ordem, no
vídeo “O que é Garantia da Lei e da Ordem?”, disponível em: https://youtu.be/kn1JXuL4sg4

No outro veio de atuação em segurança pública, a Lei Complementar n. 97/1999,


dispõe no Art. 16-A, que as Forças Armadas:
[...] além de outras ações pertinentes, também como atribuições subsi-
diárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias,
atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fron-
teira terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da
posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre
ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou
em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo.

Assim, as Forças Armadas executam, dentre outras funções, ações de patrulha-


mento, de revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves
e de prisões em flagrante delito.

A faixa de fronteira referida é delimitada pelo § 2º do Art. 20 da Constituição


Federal, segundo o qual:
A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das
fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada
fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização
serão reguladas em lei.

Naturalmente, nas situações acima enumeradas, as Forças Armadas possuem


poder de polícia e atuam como agentes de preservação da ordem pública, o que
inclui a segurança pública. Esse poder de polícia se refere apenas à polícia adminis-
trativa, pois a polícia judiciária nessa atuação dependerá do âmbito em que ocorre
a infração penal. Assim, por exemplo, se em uma atuação de garantia da lei e
da ordem as Forças Armadas se depararem com a prática de um homicídio e, na
repressão imediata, prenderem o autor do fato, a polícia judiciária será exercida

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pela instituição estadual, a Polícia Civil, como veremos; caso as Forças Armadas
se deparem, a atuação em faixa de fronteira, com um caso de tráfico de drogas
internacional, a polícia judiciária será exercida pelo órgão federal, a Polícia Federal.
Mas cuide que as Forças Armadas possuem atribuição de polícia judiciária quando
o crime for militar, na chamada polícia judiciária militar. Por exemplo, caso, em atu-
ação de garantia da lei e da ordem, uma pessoa (civil ou militar) pratique homicídio
contra um integrante das Forças Armadas nessa atuação, o crime será militar e a
polícia judiciária ficará a cargo das Forças Armadas.
Assim, podemos resumir que as Forças Armadas atuam no ciclo de polícia na
primeira e segunda fase – preservação da ordem (segurança) pública e repressão à
infração penal – de maneira específica, pela ostensividade, mas não atuam na ter-
ceira fase, de polícia judiciária. Por outro lado, em crimes militares, há a atuação de
polícia judiciária militar.
Conhecido o Art. 142 da Constituição Federal, impõe-se, agora, compreender o
Art. 144, também da Constituição, que assim dispõe:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabili-
dade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da in-
columidade das pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI – polícias penais federal, estaduais e distrital.

Soma-se a esta previsão, o § 8º do mesmo Art. 144 que dispõe que os “muni-
cípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações, conforme dispuser a lei”.

Estes são os órgãos que atuam, em regra, na segurança pública do Brasil. Diz-se
em regra, justamente pelo reconhecimento de algumas exceções, com a já mencio-
nada atuação das Forças Armadas.

Pois bem, a primeira instituição é a Polícia Federal, instituída por lei como órgão
permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destinan-
do-se (Art. 144, § 1º, CF):
I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em de-
trimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prá-
tica tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de
outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

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III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

Em simples análise, colocando o disposto na moldura do ciclo de polícia, percebe-se


que a Polícia Federal atua em todas as fases do ciclo. Por exemplo, ela previne o contra-
bando e o descaminho, ou seja, pela atuação ostensiva em fronteiras, nos aeroportos etc.,
ela busca desestimular a prática desses delitos, em típica atuação de polícia administrativa
(preventiva). Mas também, como diz a própria norma, reprime esses crimes, ou seja,
procede a repressão imediata e os investiga, em atuação de polícia judiciária (repressiva).
Mas não é só. Também se consagra a Polícia Federal como a instituição de
polícia judiciária que apura infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas
e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme. Mais ainda é quem exerce
com exclusividade as funções de polícia judiciária da União.
Por essa razão, por exemplo, se o Exército se deparar com um crime de tráfico inter-
nacional de drogas na sua atuação em faixa de fronteira, deverá reprimir imediatamente
(prender o autor, por exemplo) e encaminhar o fato para ser registrado e investigado pela
Polícia Federal. O mesmo se diga na atuação da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia
Ferroviária Federal que, como veremos, não possuem atribuição de polícia judiciária.
A Polícia Rodoviária Federal, órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se ao patrulhamento ostensivo das rodovias
federais. Note-se que não se dá atribuição de polícia judiciária à Polícia Rodoviária
Federal, de maneira que, em se deparando com um ilícito penal na atuação de polícia
preventiva, deverá encaminhar a apuração do fato para a Polícia Federal ou para a
Polícia Civil, conforme a natureza do ilícito. Note-se, ainda, que a polícia ostensiva
em rodovias estaduais e municipais não cabe à Polícia Rodoviária Federal.
Muito parecida é atribuição da Polícia Ferroviária Federal. Trata-se de órgão per-
manente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destinando-se
ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. Note-se que “patrulhamento” é
polícia ostensiva preventiva, não possuindo atribuição de polícia judiciária. Mas é
uma instituição que vive uma crise, por não haver clara regulamentação. Sobre o
assunto, Rodrigo Foureaux (2019, p. 61) dispõe:
A Mensagem n. 312, de 11 de junho de 2018, comunicou ao Senado Fe-
deral o veto da participação da Polícia Ferroviária Federal no Sistema Único
de Segurança Pública – SUSP, sob o fundamento de que ‘apesar do órgão
constar como integrante da segurança pública, conforme Art. 144 da Cons-
tituição, entende-se que a norma constitucional possui eficácia limitada e atu-
almente não existe lei específica que regulamente a criação do referido órgão.

O impasse (ou crise) gera uma situação de insegurança na vida cotidiana dos cidadãos, como
se pode ver na cidade de Recife/PEn no vídeo “Função de policial ferroviário precisa de
regulamentação para atuar em Recife-PE”. Disponível em: https://youtu.be/bdbEC8EPzrI

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Chegando ao nível dos Estados e do Distrito Federal, temos as polícias civil.


A elas, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a com-
petência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares.
Extrai-se, portanto, que no nível constitucional a Polícia Civil apenas possui atri-
buição de polícia judiciária, com exceção dos casos de infração penal a cargo da
União, em que a polícia judiciária é da Polícia Federal, e das infrações penais mili-
tares, em que a polícia judiciária é exercida pelas Polícias Militares e pelos Corpos
de Bombeiros Militares. Trata-se da maioria dos crimes perpetrados no Brasil, de
maneira que as Polícias Civis possuem uma gama enorme de trabalho.

Chegamos às Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.

A maior Polícia Militar do Brasil é a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Veja este interes-
sante vídeo “Institucional PMESP”, disponível em: https://youtu.be/hjCOxYpnqX8

A missão constitucional das Polícias Militares, assim conforme expressa no


Art. 144 da Lei Maior, não se reduz ao exercício do “policiamento ostensivo”,
como muitos tendem a acreditar, mas têm elas por mister o exercício da “polícia
ostensiva” e a “preservação da ordem pública”.

A polícia ostensiva impõe uma elasticidade na compreensão da missão da Polícia


Militar, de sorte que toda e qualquer atividade na prevenção do delito, alcançada
pela ostensividade, está compreendida na expressão.

Policiamento ostensivo, pelo n. 27 do Art. 2º do Regulamento para as Polícias Mili-


tares e Corpos de Bombeiros Militares (R-200), aprovado pelo Decreto n. 88.777, de
30 de setembro de 1983, é a ação policial “exclusiva das Polícias Militares, em cujo
emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados de relance,
quer pela farda, quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da
ordem pública”.

Pois bem, a atuação das Polícias Militares, pela elasticidade que suscita a
expressão “polícia ostensiva”, vai além do mero policiamento ostensivo. Tentemos
entender o que se propõe pelo estudo da atividade de levantamento criminal por
corpo velado de policiais militares que atuam em fase precedente ao policiamento
ostensivo, verificando quais locais têm maior incidência criminal e identificando, às
vezes, quais são os autores do delito. Nesse exemplo, embora não haja uma atividade
de policiamento ostensivo, e sim policiamento velado, a atuação é perfeitamente
compreendida pela expressão “polícia ostensiva”, visto que prepara o emprego do
policiamento fardado. A questão é polêmica, inclusive com decisões judiciais em
contrário, mas é a melhor compreensão.

Verifica-se, também, que a redação atual da Constituição da República é mais feliz


que a redação da Constituição anterior, uma vez que grafa a expressão “preservação
da ordem pública” em vez de “manutenção da ordem pública”. Pelo texto em vigor,

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além de manter, dar continuidade, deve a Polícia Militar restaurar a ordem pública,
o que levou vários estudiosos, como citam Soares, Souza e Moretti (2000, p. 102),
a sacramentarem que “pode a Polícia Militar atuar na esfera de atribuições de outros
órgãos policiais, na falência ou inoperância destes”.

Com efeito, se o termo “polícia ostensiva” já significou uma ampliação, a expressão


“preservação da ordem pública” potencializa a atribuição constitucional das Polícias
Militares a um patamar inimaginável. Em outros termos, tomando por base que a
ordem pública pode ser compreendida sob três aspectos – segurança pública, salubri-
dade pública e tranquilidade pública –, a missão constitucional das Polícias Militares
não encontra limites legais estritos. Nesse sentido, muito bem expõe Álvaro Lazzarini
(1987, p. 14) que, no que interessa especialmente às Polícias Militares:
A ordem pública, que elas têm por missão assegurar, definir-se-á pelo seu
caráter principalmente material, cuidando de evitar desordens visíveis,
isto é, só as manifestações exteriores de desordem justificam sua inter-
venção, como lembra, com ponderação, Jean Rivero que, ainda, acres-
centa o caráter público de sua ação em geral, ou seja, a polícia não só
respeita o foro íntimo, como ainda o domicílio privado, exceto na medida
em que as atividades que aí se desenrolarem tiverem efeitos externos,
havendo, até mesmo, um caráter limitado nessa ação à tranquilidade, à
segurança e à salubridade, tudo sem prejuízo de que, no caso particular
das polícias especiais, a noção de ordem pública pode receber um con-
teúdo mais vasto.

Não interessa à missão das Polícias Militares, dessa forma, apenas a execução do
policiamento ostensivo, incurso no conceito mais abrangente de “polícia ostensiva”,
com vistas à segurança pública, mas também, em situações específicas, a atuação em
outros setores da sociedade organizada – não só de outros órgãos policiais, assim pen-
samos – de forma a garantir a não agressão à ordem pública em sua tríplice acepção.

Ainda no Art. 144 da Constituição Federal, ao tratar dos Corpos de Bombeiros,


há a definição de uma atividade-fim, qual seja, execução de atividades de defesa civil,
sendo todas as demais atividades carecedoras de previsão legal (extinção de incên-
dios, salvamento em altura etc.). Ao contrário do que muitos pensam, não é missão
constitucional dos Corpos de Bombeiros a atividade de extinção de incêndios, mas
sim as atividades de defesa civil. As demais atividades dependem de lei ordinária
específica da Unidade Federativa que discipline o conteúdo de todas as atividades
dos Bombeiros.

Defesa civil, como acertadamente diz Álvaro Lazzarini (2010, p. 11), não é, no
plano constitucional, um órgão, e sim uma atividade que pode ser conferida a diversos
órgãos, mas apenas o Corpo de Bombeiros tem essa destinação constitucional.

Pelo que dispõe a atual lei que disciplina o Sistema Nacional de Defesa Civil
(SINDEC), a Lei n. 12.608, de 10 de abril de 2012, a Política Nacional de Proteção e
Defesa Civil, portanto, a própria essência da Defesa Civil no Brasil, abrange as ações
de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção e
defesa civil (Art. 3º), incumbindo propriamente ao Corpo de Bombeiros a atuação

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especial nas ações de resposta pelo socorro de vítimas, muito embora estritamente
pela previsão constitucional possa atuar nas demais fases.

No que concerne às outras missões conferidas ao Corpo de Bombeiros, no plano


infraconstitucional, como acima dito, cada Unidade Federativa irá defini-las por lei
estadual. Também tomando o exemplo do Estado de São Paulo, o Art. 39 da já
referida Lei n. 616/74, dispõe que o:
Comando do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar é o órgão responsá-
vel perante o Comando Geral, pelo planejamento, comando, execução,
coordenação, fiscalização e controle de todas as atividades de prevenção,
extinção de incêndios e de buscas e salvamentos, bem como das ativida-
des técnicas a elas relacionadas no território estadual.

Em São Paulo, portanto, além das atividades de defesa civil, o Corpo de Bom-
beiros, integrante da Polícia Militar, desenvolve as atividades de prevenção, extinção
de incêndios e de buscas e salvamentos (estas últimas, ainda que não ligadas a um
cenário de defesa civil).

Pelo § 5º-A do Art. 144 da CF, às polícias penais, vinculadas ao órgão adminis-
trador do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos
estabelecimentos penais. Recente criação constitucional da Emenda Constitucional
n. 104/2019, a polícia penal ingressa na persecução criminal na execução da sentença,
portanto, fora já do ciclo de polícia, mas não deixa de ser após a fase do processo.

Finalmente, as Guardas Municipais, pelo já transcrito § 8º do Art. 144, poderão


ser criadas (faculdade) pelos municípios e são destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Essa, ao menos, é matriz inaugural
da Constituição Federal, mas, com o tempo, as Guardas Municipais têm assumido
papel mais relevante na segurança pública.

Ainda assim, como aponta Rodrigo Foureaux (2019, p. 120-1) há correntes antagô-
nicas sobre a concepção das Guardas Municipais como órgãos de segurança pública.
De nossa ordem, enxergamos claramente as Guardas Municipais como instituições
abarcadas pelo sistema de segurança pública, ou Sistema Único de Segurança Pública
(SUSP), exatamente com coloca a Lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018. Aliás, essa
Lei vai além e traz outras previsões, não prestigiadas no Art. 144 da CF.

Figura 2 – Símbolo da Guarda Civil Metropolitana da Cidade de São Paulo


Fonte: prefeitura.sp.gov.br

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Não se pode olvidar que existe norma federal que traz o Estatuto Geral das Guardas
Municipais, a Lei n. 13.022, de 8 de agosto de 2014, que traz como atribuições das
Guardas Municipais do Brasil algumas previsões claras de polícia preventiva, como:
• Prevenir e inibir, pela presença e vigilância, bem como coibir, infrações penais
ou administrativas e atos infracionais que atentem contra os bens, serviços e
instalações municipais;
• Atuar, preventiva e permanentemente, no território do Município, para a prote-
ção sistêmica da população que utiliza os bens, serviços e instalações municipais;
• Exercer as competências de trânsito que lhes forem conferidas, nas vias e logra-
douros municipais, nos termos da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
(Código de Trânsito Brasileiro), ou de forma concorrente, mediante convênio
celebrado com órgão de trânsito estadual ou municipal;
• Encaminhar ao delegado de polícia, diante de flagrante delito, o autor da infração,
preservando o local do crime, quando possível e sempre que necessário;
• Desenvolver ações de prevenção primária à violência, isoladamente ou em con-
junto com os demais órgãos da própria municipalidade, de outros municípios ou
das esferas estadual e federal;
• Auxiliar na segurança de grandes eventos e na proteção de autoridades
e dignatários.

Cadeia de Custódia
Conhecido o ciclo de polícia e as instituições que podem atuar, precisamos tecer
breves comentários sobre a cadeia de custódia.
Sempre houve uma preocupação com o encontro, preservação, transporte e
acondicionamento de instrumentos e objetos de infrações penais, mas a questão
ganhou maior relevância com a Lei n. 13.964, de 24 de dezembro de 2019.
Esta lei trouxe o Art. 158-A e seguintes para o Código de Processo Penal, que,
de início define cadeia de custódia como:
O conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e docu-
mentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em ví-
timas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.

Mas o que o agente de segurança pública tem com isso? Tudo, pois o Código tam-
bém menciona que:

Art. 158-A. § 1º Início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de


crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a exis-
tência de vestígio.
Art. 158-A. [...]
§ 2º. Agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para
a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.

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Traduzindo o comando legal, nas cenas de crime, o espaço onde o fato foi
cometido e que interessa muito à polícia judiciária, deverá haver a preservação pelo
isolamento do local até que seja procedida a perícia. O agente de segurança pública,
como agente público que, em regra, primeiro se depara com a situação, deve cuidar
de seu isolamento e preservação. Desse passo inicial poderá depender o sucesso da
perícia e, em consequência, da investigação de polícia judiciária.

Figura 3 – Local de crime isolado e preservado


Fonte: Fotolia

Prisão em Flagrante
Já conhecemos a polícia judiciária e as instituições que a exercem. Agora, vamos
falar um pouco da atuação investigativa.

Basicamente, ao ocorrer uma infração penal, três possibilidades se inauguram


para reprimir, registrar e investigar dita infração pelos órgãos detentores de atribuição
no ciclo de polícia.

É possível que a infração seja aquela denominada de menor potencial ofensivo,


definida no Art. 61 da Lei n. 9.099/1995 como sendo as contravenções penais e os
crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou
não com multa. Nestes casos, a atuação das autoridades de polícia será a lavratura
do chamado “Termo Circunstanciado”, forma de registro expedida que evita, por
exemplo, o encarceramento na prisão em flagrante. Na atualidade, embora haja
discussão, o Termo Circunstanciado tem sido elaborado por outras instituições que
não sejam regularmente detentoras de atribuição de polícia judiciária comum, como
a Polícia Militar de Santa Catarina.

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Não se tratando de infração de menor potencial ofensivo, a apuração será pelo
inquérito policial, que veremos adiante, mas isso se não ocorrer o caso de flagrância
do crime (que não seja de menor potencial ofensivo).

Havendo a situação de flagrância, o correto registro será o auto de prisão em flagrante.


Como a prisão em flagrante se constitui, na visão majoritária, por uma medida
cautelar, imposta à pessoa, deixaremos para abordá-la com mais detalhes na pró-
xima unidade, mas já devemos conhecer as espécies de flagrância para excluir as
situações em que o inquérito policial tomará corpo.
Quando alguém estará em flagrante? A resposta está na própria lei, no Art. 302
do CPP (com correlato no Art. 244 do CPPM):
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I – está cometendo a infração penal;

II – acaba de cometê-la;

III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qual-
quer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;

IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou


papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Você deve fixar, desde agora, essas hipóteses. Nelas, não sendo o caso de infra-
ção penal de menor potencial ofensivo, será lavrado o auto de prisão em flagrante
pela polícia judiciária.

Não sendo infração de menor potencial ofensivo e nem caso de flagrância,


tomará corpo, pela polícia judiciária, o inquérito policial, que passaremos a conhecer.

Inquérito Policial
Uma das formas de apurar uma infração penal pela polícia judiciária – que não
seja caso de flagrante e nem infração penal de menor potencial ofensivo – é o in-
quérito policial.

Como conceito de inquérito policial, podemos adotar o de Renato Brasileiro


(2020, p. 175):
Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido por
Delegado de Polícia, o inquérito policial consiste em um conjunto de dili-
gências realizadas pela polícia investigativa objetivando a identificação
das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à
autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular
da ação penal possa ingressar em juízo.

Note-se, ele é preparatório, portanto, não é indispensável à instauração da ação


penal, consistindo em peça de informação, que pode ser substituído por outro

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UNIDADE Polícia Judiciária

procedimento. Para ser mais claro, a regra é a instauração de inquérito para apurar
crimes, mas, eventualmente, se um outro procedimento apuratório (sindicância, por
exemplo) for concluído e evidencie a prática de crime, o Ministério Público pode
oferecer a denúncia com base no outro procedimento.
Sua finalidade, como diz o autor, é a identificação das fontes de prova e a colheita
de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal para
que o titular da ação penal pública, o Ministério Público, ou privada, o ofendido ou
seu representante possam demandar perante o Poder Judiciário.
Quem conduzirá esse inquérito será o titular da polícia judiciária. No processo
penal comum, a delimitação está no Art. 4º do CPP, que define que a polícia judi
ciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas cir-
cunscrições e terá, por fim, a apuração das infrações penais e da sua autoria. Ou seja,
a regra de atuação é a dos Delegados de Polícia Civil e de Polícia Federal, nos ter-
mos constitucionais já estudados.
No caso de crimes militares, a atribuição de polícia judiciária militar está definida
no Art. 7º do CPPM, e pode ser resumida nas autoridades militares, oficiais, desde o
comandante de unidade até o comandante da Força (Marinha, Exército, Aeronáutica,
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares), com possibilidade de delegação
a oficiais da ativa.
Estes atores são autoridades de polícia judiciária, mas isso não exclui, por exemplo,
a possibilidade de o Ministério Público exercer por autoridade própria a investigação
de ilícitos, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal, em 14 de maio de 2015,
no Recurso Extraordinário n. 593.727.
Quanto ao sigilo do inquérito, a autoridade policial o assegurará se neces-
sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Nos atestados de
antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar
quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes.
Seguindo adiante, a instauração de um inquérito policial, nos crimes de ação
pública – crimes em que o Ministério Público, conhecendo os elementos que indi-
quem autoria e materialidade, pode promover o início do processo pela denúncia,
sem depender da vontade do ofendido, a exemplo do crime de homicídio (Art. 121
do Código Penal) –, será de ofício pelas autoridades policiais, ou mediante requisição
da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou
de quem tiver qualidade para representá-lo.
O requerimento do ofendido conterá, sempre que possível, a narração do fato,
com todas as circunstâncias, a individualização do indiciado ou seus sinais caracterís-
ticos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os
motivos de impossibilidade de o fazer e a nomeação das testemunhas, com indicação
de sua profissão e residência. Caso haja indeferimento do requerimento, caberá re-
curso para o chefe de Polícia.
No processo penal militar, o inquérito policial militar também pode ser instau-
rado de ofício, mas admite-se instauração por determinação, delegação requisição

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(apenas do MP), em virtude de sindicância e por requerimento do ofendido (Art. 10
do CPPM), mas do indeferimento do requerimento não caberá recurso.

Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração


penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la
à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará
instaurar inquérito.

O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não


poderá sem ela ser iniciado. Alguns crimes, embora a ação penal seja pública –
proposta pelo Ministério Público –, o processo somente terá corpo se o ofendido,
ou quem o represente, formular uma representação, que não tem forma definida,
bastando a declaração de vontade no sentido de ver o autor processado. Exemplo:
crime de perigo de contágio venéreo (Art. 130 do Código Penal).

Nos crimes de ação privada – nestes crimes não é o Ministério Público que pro-
move a ação penal, mas o próprio ofendido ou quem o represente, oferecendo a
queixa-crime, a exemplo do crime de calúnia (Art. 138 do Código Penal) –, a auto-
ridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha
qualidade para intentá-la. Nestes casos, os autos do inquérito serão remetidos ao
juízo competente e aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal,
ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.

Dispõe o CPP que, logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a
autoridade policial deverá:
• Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e con-
servação das coisas até a chegada dos peritos criminais; neste ponto, note-se,
alinhado à cadeia de custódia, a preservação já deve ter começado antes da
autoridade policial chegar ao local, por ação do primeiro agente de segurança
pública que detectar um local de crime:
• Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais;
• Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e
suas circunstâncias;
• Ouvir o ofendido;
• Ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capí-
tulo III do Título Vll, do Código, devendo o respectivo termo ser assinado por
duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
• Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
• Determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quais-
quer outras perícias;
• Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e
fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

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UNIDADE Polícia Judiciária

• Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar


e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois
do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter;
• Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência, o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
dos filhos, indicado pela pessoa presa;
• Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado
modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos,
desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.

O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado, poderão requerer qualquer


diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

Todas são medidas investigativas ou preparatórias para a investigação e, claro, em


algumas situações, algumas delas poderão não ser adotadas. Por exemplo, é possível
que o ofendido esteja hospitalizado, não sendo factível sua oitiva.

No que se refere à organização, todas as peças do inquérito policial serão, num


só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas
pela autoridade.

O prazo do inquérito policial comum é de 10 dias, se o indiciado estiver preso,


contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de
prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade
poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão
realizadas no prazo marcado pelo juiz.

O encerramento do inquérito se dará com minucioso relatório do que tiver sido


apurado e enviará autos ao juiz competente. No relatório poderá a autoridade indicar
testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam
ser encontradas.

Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acom-


panharão os autos do inquérito.

A Lei n. 13.964/2019, conhecida como “Pacote Anticrime” trouxe uma previ-


são no inquérito que atinge aos agentes de segurança pública. Trata-se do Art. 14-A
do CPP, com correlato do Art. 16-A do CPPM.

Por ele, nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no


Art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais,
inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a
investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profis-
sional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no Art. 23
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado
poderá constituir defensor. A disposição também se aplica aos servidores militares

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vinculados às instituições dispostas no Art. 142 da Constituição Federal, desde que
os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.

Há, assim, uma faculdade de constituição de advogado, que, em verdade, já exis-


tia e existe para qualquer pessoa investigada criminalmente.

Para tanto, o investigado deverá ser “citado” (melhor seria intimado) da instau-
ração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até
48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. Esgotado este prazo
com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável
pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à
época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
indique defensor para a representação do investigado. Aqui houve uma inovação de
a administração ter que providenciar um defensor, frise-se, apenas nos casos indi-
cados pelo Art. 14-A.

A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. O arquiva-


mento apenas é alcançado pela atuação do Ministério Público.

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UNIDADE Polícia Judiciária

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Atuação do Exército na Garantia da Lei e da Ordem
https://youtu.be/v3EGCz4Ii0s

Leitura
Poder de Polícia das Forças Armadas
https://bit.ly/2P4bClK
Segurança Pública
FOUREAUX, R. Segurança Pública. Salvador: Jus Podivm, 2019, p. 117-173.
Pacote Anticrime
LIMA, R. B. de. Pacote anticrime. Salvador: Jus Podivm, 2020, p. 250-258.

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Referências
ASSIS, J. C. de. Código de Processo Penal Militar anotado. Curitiba: Juruá, 2004.

________; NEVES, C. R. C.; CUNHA, F. L. Lições de direito para a atividade das


Polícias Militares e das Forças Armadas. Curitiba: Juruá, 2005.

CINTRA, A. C. de A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria geral do


processo. São Paulo: Malheiros, 2007.

FOUREAUX, R. Segurança Pública. Salvador: Jus Podivm, 2019.

LIMA, R. B. de. Manual de processo penal. Salvador: Jus Podivm, 2020.

MORAES, A. de. Direito constitucional. São Paulo: Atlas, 2006.

LAZZARINI, A. Direito administrativo da ordem pública. Rio de Janeiro:


Forense, 1987.

________. Estudos de direito administrativo. São Paulo: RT, 1999.

________. Da defesa civil e seu poder de polícia. A Força Policial, São Paulo:
Polícia Militar do Estado de São Paulo, n. 65, p. 11, 2010.

LENZA, P. Direito constitucional esquematizado. 10. ed. São Paulo: Método, 2006.

SILVA JR, A. L. da. Fundamentos jurídicos da atividade policial. São Paulo:


Suprema Cultura, 2010.

SOARES, A.; SOUZA, O. H. O.; MORETTI, R. de J. Legislação policial militar


anotada. São Paulo: Atlas, 2000.

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