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INQUÉRITO POLICIAL
Conceito de polícia
Espécies de polícia
Polícia preventiva
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Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PROCESSUAL PENAL CPF - 04326633123
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O art. 32, §4º, da CF, estabelece que Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do
Distrito Federal, da polícia penal.
Polícia Judiciária
A polícia judiciária, também chamada de polícia repressiva, é a que atua após a prática da
infração penal.
Tem, pois, função repressiva, de restaurar a ordem pública e a segurança individual, só
podendo ser acionada após a prática da infração penal, ao passo que a função da polícia militar é
preventiva, à medida que visa impedir a prática de infrações penais.
A polícia judiciária tem as seguintes funções:
a) apurar as infrações penais, mediante investigação da autoria e da materialidade.
b) auxiliar o Poder Judiciário a cumprir as medidas judiciais determinadas. Exemplo:
cumprimento dos mandados judiciais de prisão e de busca e apreensão. Outro exemplo:
cumprimento do mandado judicial de condução coercitiva de determinada testemunha.
A polícia judiciária não é órgão do Poder Judiciário, mas, sim, do Poder Executivo.
O nome Polícia Judiciária resulta do fato de ela auxiliar no fornecimento dos elementos para o
juiz poder julgar.
Modernamente, a doutrina estabelece uma distinção entre a polícia judiciária e a polícia
investigativa, mas, em sentido amplo, ambas são espécies do gênero polícia judiciária.
Em sentido estrito, porém, a polícia investigativa é a que visa apurar a autoria e materialidade
das infrações penais, ao passo que a polícia judiciária propriamente dita é a que auxilia o Poder
Judiciário no cumprimento das medidas judiciais.
Os órgãos que exercem a função de polícia judiciária são os seguintes:
a) Polícia Civil Estadual, quando se tratar de crimes da competência da Justiça Estadual. A
Polícia Civil Estadual tem função residual, pois lhe competirá apurar os crimes que não sejam da
competência da Justiça Federal nem da Justiça Militar.
b) Polícia Federal, quando se tratar de crimes da competência da Justiça Federal. Outrossim,
nos crimes da Justiça Estadual que exigem uma repressão uniforme, em razão da repercussão
interestadual ou internacional (art. 144, §1º, I, CF).
c) Polícia Militar, em relação aos crimes militares.
Convém observar que Polícia Federal e a Polícia Militar têm função híbrida, pois, além do
policiamento preventivo, ainda exercem a função de polícia judiciária.
Conceito e finalidade
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A respeito das infrações penais de menor potencial ofensivo, que são as contravenções e os
delitos cujas penas abstratas não excedam a dois anos, serão apurados mediante instauração de um
procedimento investigatório denominado Termo Circunstanciado.
Vê-se assim que o inquérito policial, embora seja o principal, não é o único procedimento de
investigação previsto no ordenamento jurídico. Aliás, além do Termo Circunstanciado, há ainda
outros procedimentos investigatório, conforme será visto mais adiante.
Funções
Natureza jurídica
O inquérito policial é um procedimento administrativo, pois é composto por uma série de atos.
Não se trata, portanto, de um mero ato administrativo.
É um procedimento flexível, pois o CPP delimita cronologicamente apenas o primeiro e o último
ato, portaria (em regra) e relatório, respectivamente. Quanto aos demais atos, que se desenvolvem
entre estes dois intervalos, o CPP não impõe uma ordem cronológica para que sejam praticados. Não
se trata, destarte, de um procedimento rígido.
O inquérito não é um processo administrativo, posto que não há partes, contraditório nem
ampla defesa e, por isso mesmo, não visa a aplicação de qualquer sanção.
O processo administrativo é instaurado para se aplicar uma sanção administrativa, por isso,
deve ser pautado pelo princípio do contraditório, ao passo que o inquérito policial não visa aplicar
qualquer sanção, sendo um mero procedimento de investigação.
De acordo com o princípio da independência formal, as nulidades dos atos do inquérito não
anulam a ação penal. Se, por exemplo, a confissão na fase policial se operou mediante tortura, o
inquérito e a ação penal serão válidos, recaindo a nulidade apenas sobre a confissão.
Dessa forma, os atos do inquérito que contiverem eventuais nulidades, por exemplo,
interceptação telefônica sem ordem judicial, não anularão o inquérito nem o eventual processo penal
nele embasado, incidindo a nulidade tão somente sobre prova viciada e demais que tenham derivado
dela.
O que se colhe no inquérito, a rigor, não é prova, mas sim elementos de informações que, para
efeito de embasamento do recebimento da ação penal, equiparam-se às verdadeiras provas.
Entretanto, para efeito de condenação, os elementos produzidos no inquérito policial não
podem, de forma isolada, justificar a procedência da ação.
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É, pois, vedada condenação baseada exclusivamente no inquérito policial, sob pena de flagrante
violação aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Tem, entretanto, o inquérito policial o condão de reforçar ou complementar outras provas colhidas
em juízo, mediante contraditório, servindo, destarte, para auxiliar o magistrado a complementar a
sua convicção.
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policial.
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O órgão acusatório e o órgão julgador devem ser anteriores ao fato criminoso, pois, de acordo
com o art. 5º, LIII, da CF, ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente.
Consagrou-se, destarte, neste dispositivo constitucional, os princípios do promotor natural e
do juiz natural.
Nesta linha de raciocínio, entra em cena o princípio do delegado natural, segundo qual ninguém
será investigado senão pela autoridade policial previamente prevista.
O delegado natural é, pois, aquele que, antes da prática do fato criminoso, detém a atribuição para
presidir as investigações.
O §4o do art. 2º da Lei 12.830/13 dispõe que:
“O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser
avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo
de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento
da corporação que prejudique a eficácia da investigação”.
O §5o do aludido dispositivo acrescenta que:
“A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado”.
Estas normas começam a dar os primeiros passos para a implantação do princípio do delegado
de polícia natural, à medida que dificulta a avocação do inquérito pela autoridade policial superior,
bem como a remoção, posto que ambas as medidas só podem ser tomadas mediante
fundamentação.
A Constituição não prevê o princípio do delegado natural, mas, salvo mediante fundamentação,
a presidência do inquérito deve ser do delegado de polícia que, antes do crime, já dispunha dessa
atribuição.
O princípio do delegado natural, entretanto, comporta três exceções:
a) avocação do inquérito;
b) redistribuição do inquérito;
c) remoção do delegado de polícia natural.
As três exceções acima exigem decisão administrativa fundamentada autoridade policial
superior.
A fundamentação deve ser por motivo de interesse público. Outrossim, nas hipóteses de
inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia
da investigação.
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Indubitavelmente, o princípio do delegado natural foi consagrado pela lei 12.830/17, pois antes
dela a autoridade policial superior simplesmente avocava o inquérito, sem qualquer fundamentação,
designando outro delegado de polícia para presidir as investigações.
Características
Escrito
Dispensável
O inquérito policial é dispensável, pois a denúncia ou queixa pode também se embasar noutras
peças de informações. Aliás, nas infrações penais de menor potencial ofensivo, não há inquérito, nas
Termo Circunstanciado.
Nada obsta, portanto, que o Ministério Público dispense o inquérito e fundamente a denúncia
noutros elementos (art. 46, § 1º, do CPP).
O inquérito não é assim essencial para a ação penal.
Cumpre, entretanto, ressalvar que, nos crimes de ação penal pública incondicionada, que é a
regra, a autoridade policial tem o dever de instaurá-lo de ofício.
Por isso, quando se afirma que o inquérito é dispensável é no sentido de que ele não é essencial
para o oferecimento da ação penal.
Sigiloso
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O inquérito é sigiloso, mas o sigilo, via de regra, não se aplica ao advogado. Em hipótese alguma,
poderá haver sigilo para o juiz ou membro do Ministério Público.
O advogado, cujo acesso ao inquérito houver sido negado indevidamente pela autoridade
policial, pode impetrar mandado de segurança ao juízo da comarca, tendo em vista que lhe foi violado
um direito líquido certo, previsto no Estatuto da OAB.
Além disso, também pode ingressar com reclamação ao STF, quando houver violação da súmula
vinculante 14.
O STF já admitiu também a impetração de “habeas corpus”, pelo próprio indiciado, quando for
negado o acesso do inquérito ao seu advogado, pois a supressão desse direito lhe acarreta risco de
cerceamento da sua liberdade de locomoção.
No tocante ao sigilo, cumpre ainda mencionar que o funcionário público que violar segredo de
que tem conhecimento em razão do cargo comete o delito do art. 325 do CP. Em razão do sigilo,
nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá
mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes
(parágrafoúnico do art. 20 do CPP). É facultado, porém, ao próprio investigado requerer uma certidão
com menção do indiciamento.
Há, por fim, em caráter excepcional, inquéritos policiais públicos, mediante expressa e
justificada fundamentação da autoridade policial, quando a publicidade for necessária para a
elucidação dos fatos. Exemplo: divulgação de um retrato falado do criminoso. Claro que a
publicidade não será plena, mas apenas sobre os aspectos onde realmente se necessita da
colaboração da população.
O sigilo no inquérito se desdobra em três graus:
a) automático ou extremo;
b) extensivo;
c) extremado.
O sigilo automático ou externo é o que se opera por força de lei, sem que haja uma expressa
manifestação da autoridade policial.
Dispensa-se, portanto, despacho da autoridade policial. Em regra, todo inquérito é sigiloso em
relação à população em geral.
O objetivo do sigilo é assegurar o sucesso das investigações e também proteger a dignidade das
pessoas envolvidas.
A propósito, dispõe o art. 20 do CPP: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário
à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”.
Este sigilo externo, que recai tanto sobre a existência quanto sobre o conteúdo do inquérito,
vedando-lhe o acesso a qualquer pessoa, não se aplica à autoridade judiciária, ao membro do
Ministério Público, ao advogado, ao indiciado e à vítima. Quanto ao advogado, mesmo sem
procuração, tem o direito de examinar os inquéritos policiais e qualquer outro procedimento
investigatório, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e
tomar apontamentos, em meio físico ou digital (art. 7º, XIV, da Lei 8.906/94).
Sigilo extensivo
O sigilo extensivo é o decretado pela autoridade policial para vedar que os advogados sem
procuração, e eventualmente o próprio indiciado ou a vítima, tenha acesso aos autos do inquérito.
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É possível quando o sigilo for necessário à elucidação dos fatos ou aos interesses da sociedade.
Nesse caso, além do juiz e do Ministério Público, o acesso aos autos só será deferido ao
advogado que apresentar procuração (art. 7º, §10, da Lei 8.906/94).
Sigilo extremado
O sigilo extremado é o decretado pela autoridade policial para vedar que, até mesmo o
advogado com procuração, tenha prévia ciência dos próximos atos de investigação que ainda serão
realizados.
Entretanto, uma vez documentado nos autos o ato praticado, o advogado, com procuração,
passa a ter acesso, que lhe poderá ser franqueado pela própria autoridade policial.
Sobre o assunto, dispõe a Súmula Vinculante 14:
“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
Nos crimes relacionados com organização criminosa, se a autoridade policial decretar o sigilo,
o advogado com procuração nos autos, após documentada a diligência realizada, só poderá ter
acesso a ela com autorização judicial (art. 23 da Lei 12.850/2.003).
Inquisitivo
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a) o investigado acompanhado do seu advogado. Nesse caso, o interrogatório deve ser feito na
presença do referido advogado e, antes de se iniciar o ato, a autoridade policial deverá garantir ao
investigado o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor para receber as instruções
pertinentes. Este direito à entrevista, antes da lei 13.869/2019, só era previsto na fase judicial, mas
em relação ao preso também passou a ser admitido na fase investigatória, nos termos do art. 20,
caput, da aludida lei. A propósito, configura crime de abuso de autoridade impedir, sem justa causa,
a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado (art. 20, caput, da lei 13.869/2019). Em
relação ao investigado solto, a lei é omissa sobre o direito à entrevista prévia com o seu advogado ou
defensor. Uma primeira corrente, admite, por analogia ao §5º do art. 185 do CPP. Outra corrente,
porém, sustenta que, em relação ao indiciado solto, não há na fase policial o direito à entrevista
prévia com o advogado.
b) o investigado desacompanhado do seu advogado. Nessa situação, o interrogatório poderá
ser realizado sem a presença do referido advogado. De fato, não teria cabimento se aguardar a
chegada do defensor, para só depois se proceder ao interrogatório.
Como decorrência do caráter inquisitivo, não se poderá alegar a suspeição da autoridade
policial nos atos de inquérito, mas elas deverão se declarar suspeitas, quando ocorrer motivo legal
(art. 107 do CPP). Se o delegado de polícia não se declarar suspeito por ser, por exemplo, amigo
íntimo do investigado, a suspeição não poderá ser arguida em juízo, mas o interessado poderá
pleitear o seu afastamento mediante requerimento administrativo endereçado à autoridade policial
superior.
O caráter inquisitivo é, pois, amenizado pelo fato de ser possível, durante o inquérito policial,
as seguintes defesas:
a) “habeas corpus”, mandado de segurança e petições dirigidas ao magistrado ou ao membro
do Ministério Público ou à Corregedoria da Polícia, para conter os abusos da autoridade policial. São,
pois, medidas exógenas, pois se desenvolvem fora do inquérito.
b) requerimento de quaisquer diligências, razões e quesitos, feitos pelo próprio investigado
ou seu respectivo advogado, nos termos dos arts. 14 do CPP e 21, XXI, da Estatuto da OAB, que podem
ou não ser deferidas pela autoridade policial. O advogado não será, entretanto, intimado
previamente da perícia, embora tenha o direito de formular quesitos.
c) exercício da autodefesa durante o interrogatório.
Vê-se assim que também se preserva um contraditório mínimo, de caráter endógeno, ou seja,
que se verifica no bojo do próprio inquérito policial.
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testemunha.
Procedimento discricionário
Oficial
O inquérito é presidido exclusivamente pela autoridade policial, isto é, por um órgão oficial do
Estado.
Os auxiliares da autoridade policial também devem ser agentes da polícia civil.
A atividade de presidir o inquérito policial é indelegável. Outrossim, a atividade de prestar
auxílio as investigações. O investigador de polícia, por exemplo, não pode transferir ao seu irmão a
função de investigar.
Aliás, a presidência do inquérito policial não pode ser transferida ao juiz nem ao membro do
Ministério Público.
Oficioso ou obrigatoriedade
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A autoridade policial deve instaurar, de ofício, o inquérito policial, tão logo tenha tomado
conhecimento dos fatos (art. 5º, I, do CPP). Outrossim, determinar, de ofício, a realização das
diligências.
Nada obsta que, antes de se instaurar formalmente o inquérito, a autoridade policial,
providencie o VPI (verificação de procedência da informação).
O caráter oficioso tem, portanto, dois aspectos:
a) instauração do inquérito, independentemente de requerimento da pessoa interessada,
quando se tratar de crime de ação penal pública incondicionada.
b) determinar as diligências pertinentes, independentemente de requerimento da pessoa
interessada.
O pressuposto para se instaurar inquérito é que o fato seja típico. Ainda que patente a legítima
defesa ou outra excludente da antijuridicidade ou culpabilidade, o inquérito deve ser instaurado.
Instaura-se, por exemplo, inquérito nos crimes praticados por doentes mentais. O inquérito só não
será instaurado nas seguintes situações:
a) fato atípico;
b) extinção da punibilidade. Exemplo: prescrição.
c) ausência de elementos mínimos para se iniciar uma investigação.
d) infração penal praticada por menor de dezoito anos. Nesse caso, será instaurado perante o
juízo da infância e juventude o procedimento infracional.
Nos crimes de ação penal pública condicionada e nos crimes de ação penal privada, a
instauração não pode ser de ofício, pois depende da provocação do legitimado, mas, após a
instauração, a autoridade policial deve determinar de ofício as diligências.
Quanto aos inquéritos originários, que são os instaurados para investigar os crimes praticados
por pessoas que têm foro por prerrogativa de função, nos casos de competência do STF, é preciso
autorização do próprio STF para se instaurar o inquérito (arts. 230 a 234 do Regimento Interno do
STF). Exemplo: crime praticado por Presidente da República.
O STJ e os TRF’s, entretanto, nos crimes de suas competências originárias, não exigem, para a
instauração do inquérito, que haja uma prévia autorização judicial. Mas o STJ já decidiu que nesses
casos haveria também a necessidade de prévia autorização do STJ ou TRF, conforme a hipótese.
Indisponível
Uma vez instaurado o inquérito deverá ser concluído e remetido ao juízo competente, pois a
autoridade policial não poderá arquivá-lo, ainda que o fato seja atípico. Aliás, nem o Ministério
poderá arquivá-lo, mas apenas o juiz mediante requerimento do Ministério Público.
É o que dispõe o art. 17 do CPP:
“A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito”.
Quanto ao VPI, que antecede o inquérito, pode ser arquivado pela própria autoridade policial.
Temporário
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“Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo
marcado pelo juiz”.
O CPP não fixa um limite máximo para número desses pedidos de prorrogação de prazos, mas
assim como o processo o inquérito deve também ser regido pelo princípio da duração razoável, por
força da aplicação analógica do art. 5º, LXXVIII, da CF.
NOTITIA CRIMINIS
Conceito
Espécies
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Delatio criminis
Delatio criminis é a comunicação do crime feita pela vítima ou por qualquer do povo, de
forna escrita ou oral.
A delatio criminis pode ser:
a) simples: é a feita por qualquer do povo (artigo 5º, §3º do CPP).
b) postulatória: é a feita pela vítima ou por seu representante legal, nos crimes de ação penal
pública condicionada a representação. Aludida delatio criminis recebe o nome de postulatória, pois,
além de comunicar a existência do crime, constitui requisito essencial para se instaurar o inquérito
policial. A representação da vítima ou de seu representante legal poderá ser dirigida ao delegado de
polícia, ao Ministério Pública ou ao juiz (art. 5º, §4º do CPP). Representação, a propósito, é a
manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal para que seja instaurada a
persecução penal. Pode ser escrita, verbal ou ainda emanar de qualquer manifestação inequívoca
da vontade de desencadear as investigações, como, por exemplo, a lavratura do boletim de
ocorrência.
Em regra, as pessoas não têm o dever fazer a notitia criminis. Quem, por exemplo, presencia
um crime não é obrigado a comunicar o fato à autoridade policial.
Em duas hipóteses, porém, existe o dever de delatar. São as seguintes:
a) funcionário público que, no exercício das funções, toma conhecimento de crime de ação
penal pública incondicionada. Caso se omita, cometerá a contravenção penal do art. 66 da LCP ou o
crime de prevaricação, previsto no art. 319 do CP, se a omissão houver sido para satisfazer interesse
ou sentimento pessoal.
b) pessoa que teve conhecimento de crime de ação penal pública incondicionada no exercício
da medicina ou de outra profissão sanitária. A omissão em delatar é contravenção penal do art. 66
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da LCP, desde que a comunicação não exponha o cliente a procedimento criminal. Não há, por
exemplo, o dever de o médico delatar o autoaborto, pois a paciente será exposta ao risco de ser
processada criminalmente, aliás, nesse caso, o médico delator responderá pelo crime de violação de
segredo profissional, previsto no art. 154 do CP.
Formas de instauração
As formas de instauração do inquérito policial variam conforme o tipo de ação penal previsto para o
delito.
Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial pode ser instaurado pelas
seguintes formas:
a) portaria da autoridade policial;
b) requisição do juiz;
c) requisição do representante do Ministério Público;
d) requerimento da vítima ou de seu representante legal ou de qualquer do povo.
e) auto de prisão em flagrante.
Nos crimes de ação penal pública, condicionada à representação, o inquérito policial pode ser
instaurado de duas formas:
a) representação da vítima ou de seu representante legal;
b) auto de prisão em flagrante.
Nos crimes de ação penal pública, condicionada à requisição do ministro da justiça, o inquérito
também só pode ser instaurado de duas formas:
a) requisição do ministro da justiça;
b) auto de prisão em flagrante.
Por fim, nos crimes de ação penal privada, o inquérito também só pode ser instaurado de duas
formas:
a) requerimento da vítima ou de seu representante legal;
b) auto de prisão em flagrante.
Portaria
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Requerimento
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O auto de prisão em flagrante, malgrado o silêncio do art. 5º do CPP, também é uma das formas
de instauração do inquérito policial.
O auto de prisão em flagrante dispensa a portaria da autoridade policial, pois ele já é a peça
inaugural do inquérito policial.
Convém observar que o auto de prisão em flagrante não dispensa a instauração formal do
inquérito, mas apenas a portaria.
Nos crimes de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à representação, o auto
de prisão em flagrante só poderá ser lavrado mediante prévia autorização da vítima ou de seu
representante legal.
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Nos crimes e ação penal pública condicionada à requisição do ministro da justiça, o auto de
prisão em flagrante, para ser lavrado, depende da prévia autorização do referido ministro.
Representação
Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação, conforme já visto, o inquérito
policial só pode ser instaurado de duas formas: representação da vítima ou de seu representante
legal e auto de prisão em flagrante.
A representação é a manifestação da vítima ou de seu representante legal que autoriza a
instauração do inquérito policial e da ação penal.
A nomenclatura reapresentação só é utilizada para os crimes de ação penal pública
condicionada à representação.
A representação pode ser escrita ou verbal ou por qualquer ato que revele de forma inequívoca
o propósito de instauração da persecução penal.
A representação pode ser dirigida à autoridade policial, ao juiz ou ao Ministério Público.
Caso seja endereçada ao juiz ou ao representante do Ministério Público, eles poderão requisitar
a instauração do inquérito à autoridade policial, instruindo à requisição com a representação. Dessa
forma, força convir que é também possível a requisição nos crimes de ação penal pública
condicionada à representação, desde que ela esteja acompanhada da representação.
O prazo para a representação é de seis meses a contar do conhecimento da autoria do crime.
Expirado este prazo, haverá a extinção da punibilidade em face da decadência.
Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, conforme já dito, não há inquérito, mas
Termo Circunstanciado.
O Termo Circunstanciado pode ser instaurado sem a representação, pois, nas infrações penais
de menor potencial ofensivo, ela poderá ser oferecida na audiência preliminar de conciliação. O não
oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que
poderá ser exercido no prazo previsto em lei (art. 75 da lei 9.099/95).
Nos crimes de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça, o inquérito
policial só pode ser instaurado de duas formas: requisição do Ministro da Justiça e auto de prisão em
flagrante.
A requisição do Ministro da Justiça não é uma ordem, mas uma mera autorização, por
escrito, para que o inquérito seja instaurado.
A lei não fixa prazo para a requisição, que poderá ser apresentada a qualquer tempo enquanto
o delito não estiver prescrito.
O art. 6º do CPP prevê o rol exemplificativo dos atos que integram o procedimento do inquérito
policial.
A autoridade policial pode ainda praticar outros atos, pois o aludido rol exemplificativo.
Outrossim, deixar de praticar alguns dos atos previstos no citado art. 6º.
Assim que tomar conhecimento da infração penal a autoridade policial já deverá iniciar a
prática dos referidos atos.
De fato, de acordo com o art. 6o do CPP, logo que tiver conhecimento da prática da infração
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silêncio, sob pena de nulidade do referido ato, mas, caso não lhe haja prejuízo, será válido.
Antes de o indiciado assinar o termo de interrogatório, é preciso que lhe seja feita a leitura na
presença de duas testemunhas.
Exige-se duas testemunhas apenas para ouvir a leitura, mas, durante o interrogatório, não há
necessidade de testemunhas nem de advogado.
Não se nomeia curador ao indiciado menor de 21 anos, pois, desde o advento do Código Civil
de 2.002, a capacidade plena é adquirida aos 18 anos, estando, pois, revogado tacitamente o art. 15
do CPP, que dispunha: “Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade
policial”. Referia ao menor de 21 anos, pois o menor de dezoito não tem responsabilidade penal.
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações.
O reconhecimento de pessoas ou coisas pode ser feito pela vítima, por testemunhas e até
mesmo pelo indiciado.
No reconhecimento de pessoas, que é regido pelo art. 226 do CPP, a pessoa que tiver de fazer
o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; e a pessoa, cujo
reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la.
O indiciado, sob pena de condução coercitiva, não pode se negar a participar, pois dele não se
exige qualquer postura ativa, mas apenas passiva, de modo que não há falar-se em violação ao
princípio do “nemo tenetur se detegere”, que veda apenas os atos tendentes compelir que o
indiciado colabore ativamente. Ele tem, portanto, o deve tolerar o reconhecimento
O reconhecimento de coisas, por exemplo, do instrumento do crime, segue, no que houver,
este mesmo procedimento (art. 227 do CPP).
É também possível o reconhecimento através de fotografias.
Quanto a acareação, trata-se do esclarecimento de pontos divergentes das pessoas que já
foram ouvidas. Elas são colocadas frente a frente e indagadas sobre as divergências. É possível a
acareação entre testemunhas, vítimas e indiciados.
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias. O exame de corpo delito é obrigatório nas infrações não transeuntes, que são as que deixam
vestígios materiais.
Nas infrações transeuntes, que são as que não deixam vestígios materiais, por exemplo,
ameaça verbal, não há falar-se em exame de corpo de delito.
Visa-se, através do exame de corpo de delito, se apurar os vestígios deixados pela conduta
criminosa. Nem mesmo a confissão do indiciado é capaz de dispensá-lo.
Outras perícias, que não se relacionam à apuração dos vestígios do crime, não se enquadram
como exame de corpo de delito e, por isso, são sempre facultativas.
O exame de corpo de delito e demais pericias devem ser feitos por um perito oficial ou por dois
não oficiais.
O indiciado e o seu advogado podem formular quesitos ao perito, mas, nesta fase do inquérito,
não têm o direito de indicar assistente técnico.
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar
aos autos sua folha de antecedentes.
A identificação criminal, é feita pelo processo dactiloscopia, onde se extrai as
impressões digitais dos dedos das mãos do indiciado.
O civilmente identificado não pode ser submetido à identificação criminal, consoante art. 5º,
LVIII, da CF, salvo nos casos previstos em lei que, no caso, é a Lei 12.037/09.
O inciso em análise ainda prevê que a autoridade policial deverá juntar a folha de antecedentes,
que é o passado criminoso do indiciado. Só são considerados maus antecedentes as condenações
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transitadas em julgado. A propósito, dispõe o art. 444 do STJ: “É vedada a utilização de inquéritos
policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base”.
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social,
sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Trata-se, aqui, da apuração da conduta social e da personalidade do indiciado.
A conduta social é o relacionamento familiar e social do indiciado, bem como a sua condição
econômica.
A personalidade, por sua vez, é o caráter do indiciado, com vistas a apurar o seu temperamento,
ou seja, se ele revela ou não periculosidade ou aptidão para delinquir.
A personalidade pode ser extraída de fatos ocorridos antes, durante ou depois da conduta
criminosa.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma
deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela
pessoa presa.
Este inciso foi introduzido pelo Estatuto da Primeira Infância, que é a Lei 13.257/2016.
As informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma
deficiência são exigidas quando se tratar de indiciado preso ou solto.
Em contrapartida, contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, é uma
informação colhida apenas quando se tratar de indicado preso.
Reconstituição do crime
O art. 7o, em complemento ao anterior, traz mais uma diligência, a reconstituição do crime,
que é a reprodução simulada do fato criminoso, através de uma encenação, onde se fotógrafa todas
as etapas.
Com efeito, dispõe o citado art. 7º:
“Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie
a moralidade ou a ordem pública”.
O indiciado, ainda que já tenha confessado anteriormente, não é obrigado a participar, pois
não pode ser compelido a produzir provas contra si mesmo.
Na reconstituição simulada feita sem a presença do indiciado, tanto ele quanto o seu eventual
advogado não são sequer intimados.
Na fase processual, entretanto, caso o juiz ordene a reconstituição do crime, embora o acusado
também não seja obrigado a participar, será necessária, sob pena de violação do princípio do
contraditório, a sua intimação e do respectivo advogado.
Não será possível a reconstituição que contrarie a moralidade ou a ordem pública, sendo, por
exemplo, vedada em caso de estupro.
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a diligência, mediante prévia autorização judicial, poderá ser determinada pela autoridade policial
ou pelo membro do Ministério Público, mas o acesso ao conteúdo da comunicação, dependerá de
uma ordem judicial específica, por força do art. 5º, XII, da CF.
A propósito, reza o art. 13-B do CPP:
“Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o
membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização
judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso”.
O § 4o do art. 13-B esclarece que se não houver uma manifestação judicial no prazo de 12 (doze)
horas, a própria autoridade competente, ou seja, o delegado de polícia ou membro do Ministério
Público, requisitará as informações às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou
telemática, com imediata comunicação ao juiz.
A aludida requisição tem caráter repressivo, quando feita durante o inquérito policial, ou
preventivo, quando determinada antes. Nesse último caso, o § 3o do art. 13-B preceitua que o
inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do
registro da respectiva ocorrência policial.
Se o juiz deferir o pedido, dentro das 12 (dize) horas, o § 2 o do art. 13-B reza que o sinal:
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de
autorização judicial, conforme disposto em lei;
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a
30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período;
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de
ordem judicial”.
É, pois, correta a cautela do legislador de não permitir o acesso ao conteúdo das conversas,
pois o pedido se limitou às informações sobre sinais ou outros meios técnicos que levam à localização
da pessoa.
O monitoramento dos sinais, sem ordem judicial, pode perdurar por período não superior a 30
(trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período; ou seja, no máximo 60 (sessenta) dias.
Acima desse período, o monitoramento só será possível mediante ordem judicial.
Por fim, embora o dispositivo só se refira ao delito de tráfico de pessoas, por analogia, também
deve ser aplicado aos demais delitos do art. 13-A do CPP.
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Indiciamento
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IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL
INTRODUÇÃO
De acordo com o art. 5º, LVIII, da CF, “o civilmente identificado não será submetido a identi De
acordo com o art. 5º, LVIII, da CF, “o civilmente identificado não será submetido a identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.
Pois bem, a lei 12.037/2.009 é a que prevê essas hipóteses em que o agente deve sujeitar-se à
identificação criminal ainda que apresente a identificação civil.
Trata-se, portanto, de uma lei cujo objetivo foi a de regulamentar a norma constitucional
acima.
Quanto à lei 10.054/2.000, a primeira a cuidar do assunto, foi expressamente revogada (art.
9º).
IDENTIFICAÇÃO CIVIL
A identificação civil que, em regra, obsta a criminal é a que se verifica mediante os seguintes
documentos:
a) carteira de identidade. É o caso do RG, CPF, carteira de identidade de estrangeiro e outros;
b) carteira de trabalho;
c) carteira profissional, ou seja, de motorista;
d) passaporte;
e) carteira de identificação funcional. Exemplo: carteira de escrivão de polícia;
f) outro documento público que permita a identificação do indivíduo. Exemplo: certidão de
nascimento ou de casamento.
Os documentos de identificação militar, para os efeitos desta lei, são também equiparados aos
documentos de identificação civil, conforme parágrafo único do art. 2º.
É válida também a apresentação de fotocópia autenticada dos documentos acima, pois ela tem
o mesmo valor que o original, conforme art. 232, parágrafo único, do CPP.
Mediante a apresentação de quaisquer desses documentos, por mais grave que seja o delito,
não se poderá realizar, em regra, a identificação criminal, sob pena de crime de abuso de autoridade
(art. 33 da lei 13.869/2019).
Espécies
A identificação criminal é o gênero que abrange três espécies:
a) a coleta das impressões digitais (identificação dactiloscópica ou papiloscópica);
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biológico para a obtenção do perfil genético do agente com o fim de confrontar com o perfil genético
de outras pessoas igualmente suspeitas.
Eis então o rol taxativo das hipóteses de identificação criminal do civilmente identificado.
Note-se que não é o tipo de crime que define o cabimento ou não dessa identificação.
Ainda que se trate de organização criminosa, homicídio qualificado, estelionato, falsificação de
documento, etc., a identificação criminal não será cabível fora das situações previstas nesse art. 3º.
A identificação criminal, quando permitida, deverá limitar-se às prioridades necessárias para se
evitar o constrangimento do identificado. Será ela então juntada aos autos de comunicação da prisão
em flagrante, ou do inquérito policial ou do Termo Circunstanciado.
É vedado mencionar a identificação criminal do indiciado em atestados de antecedentes ou em
informações não destinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória
(art.6º).
Exclusão da identificação
Recursos
Não é cabível recurso, por falta de previsão legal, contra a decisão judicial que indefere o
pedido de identificação criminal, mas caso seja deferido ao arrepio da lei será possível a impetração
de mandado de segurança, se houver a violação de direito líquido e certo, ou ainda “habeas corpus”,
se o risco recair sobre a liberdade de locomoção.
IDENTIFICAÇÃO GENÉTICA
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Quanto aos membros do Ministério Público, o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado
pelo Procurador-geral da Justiça ou da República.
Vê-se assim que o delegado de polícia, ainda que presente o presidente do tribunal ou o
procurador-geral, não poderá lavrar, nessas situações, o auto de prisão em flagrante.
A autoridade policial pode, entretanto, efetuar a prisão em flagrante, mas a lavratura do
respectivo auto não é da sua atribuição.
A força letal é a que pode produzir a morte. No jargão policial é o “atirar para matar”.
A investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional,
de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do CP (excludentes da
ilicitude), exige a notificação do investigado e a constituição de defensor, quando envolver servidores
vinculados aos órgãos da segurança pública, mencionados no art. 144 da CF, que são os seguintes:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
A propósito, dispõe o art. 14-A do CPP:
“Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição
Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais
procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força
letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações
dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado
poderá constituir defensor”.
O § 1º do art. 14-A acrescenta que:
“Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração
do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
horas a contar do recebimento da citação”.
Na verdade, não há falar-se em citação, mas, sim, em notificação, pois ainda não existe
processo.
No tocante aos servidores militares das Forças Armadas ( Marinha, Exército e Aeronáutica),
investigados pelo uso da força letal, só se aplica o procedimento acima, quando os fatos investigados
se relacionarem a missões para a Garantia da Lei e da Ordem ( art. 144-A, § 6º, do CPP).
Em relação a essas investigações, o investigado deverá ser notificado da instauração do
procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas
a contar do recebimento da citação.
Expirado este prazo sem a constituição de defensor, a autoridade responsável pela
investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência
dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a
representação do investigado (art. 14-A, § 2º, do CPP).
Caso flua também este prazo sem a indicação de defensor, o CPP não prevê a nomeação de
defensor dativo pelo juiz das garantias, mas esta providência se revela adequada para que cumpra a
vontade da lei.
Há, pois, a necessidade de o investigado estar representado por advogado ou defensor público
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na fase investigatória.
Em relação aos demais investigados, a constituição de defensor na fase investigatória é uma
mera faculdade.
Convém destacar que o inquérito é inquisitivo. Por consequência, o papel do defensor não será
propriamente de apresentar defesa, mas, sim, de acompanhar o procedimento investigatório.
O prazo para conclusão do inquérito policial varia, conforme se trate de indiciado solto ou de
indiciado preso.
Estando o indiciado solto, o prazo para a conclusão do inquérito, em regra, é de 30 (trinta) dias,
contado do início da sua instauração formal (art. 10 do CPP). Nesse caso, admite-se inúmeras
prorrogações, mediante autorização judicial.
Há, entretanto, as seguintes exceções:
a) inquérito policial militar: o prazo é de 40 (quarenta) dias, podendo ser prorrogado por mais
20 ( vinte) pela autoridade militar superior ( art. 20 do CPPM);
b) Lei de drogas: o prazo é de 90 (noventa) dias, podendo ser duplicado pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade policial (art. 51 da Lei 11.343/06).
c) crimes contra a economia popular: o prazo é de 10 (dez) dias (art. 10, §1º, da Lei 1.521/51).
Pode ocorrer de o indiciado se encontrar preso e depois ser solto no curso das investigações,
nesse caso, o prazo para conclusão do inquérito será de 30 (trinta) dias, seguindo-se as regras do
prazo previsto para o indiciado solto, conforme art. 10 do CPP, contado do início da instauração do
inquérito.
Por outro lado, na hipótese de indiciado preso, o prazo para conclusão do inquérito, em regra,
é de 10 (dez) dias, contado do início da execução da ordem de prisão (art. 10 do CPP). Há, contudo,
as seguintes exceções:
a) inquérito policial federal: o prazo é de 15 (quinze dias), nos termos do art. 66 da Lei 5.010/66,
podendo ser prorrogado por mais 15 (quinze). O delegado federal, quando pedir a prorrogação do
prazo, deverá apresentar o preso ao juiz federal;
b) inquérito policial militar: o prazo é de 20 (vinte) dias (art. 20 do CPPM);
c) Lei de drogas: o prazo é de 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por mais 30 (trinta),
conforme art. 51, parágrafo único, da Lei 11.343/2.003, ou seja, admite-se, como na situação
anterior, que o prazo seja duplicado.
d) crimes contra a economia popular: o prazo é de 10 (dez) dias para o indiciado preso ou solto
dias (art. 10, §1º, da Lei 1.521/51);
e) crimes hediondos e equiparados, quando houver prisão temporária decretada. Nesses
crimes, o prazo da prisão temporária, em vez de 5 (cinco) dias, será de 30 (trinta) dias, prorrogável
por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade, podendo, destarte, totalizar 60
(sessenta) dias. Por interpretação lógica, força convir que o prazo de conclusão do inquérito também
será de 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por mais 30 (trinta), à medida que a prisão
temporária tem a finalidade de auxiliar as investigações.
Quanto à prorrogação do prazo, é possível, sem limitação, em relação ao indiciado solto, mas,
em regra, é proibida para o indiciado preso, pois se há elementos para a prisão é porque as provas
produzidas já são mais que suficientes para a propositura da ação penal, de modo que o eventual
pedido de prorrogação ensejará ao indiciado uma oportunidade para a impetração de “habeas
corpus”, pois a autoridade policial estará reconhecendo implicitamente que os elementos colhidos
até então são insuficientes.
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O pedido de prorrogação, a rigor, só é possível, para o indiciado solto, e, ainda assim, quando
o fato for de difícil elucidação (§ 3º do art. 10 do CPP). Na prática, contudo, os juízes são generosos
com esses pedidos. Se houvesse um maior rigor a celeridade seria cumprida.
O pedido de prorrogação é formulado pela autoridade policial e endereçado ao juiz, que, antes
de decidir, envia os autos do inquérito ao Ministério Público, cuja manifestação, não é prevista na lei,
mas, de fato, é necessária, pois, sendo ele o titular da ação penal, pode perfeitamente entender que
os elementos colhidos já são suficientes para a propositura da ação penal.
O juiz, caso defira o pedido, tomará duas providências:
a) ordenará a devolução dos autos à Delegacia de Polícia, para ulteriores diligências;
b) fixará prazo para a realização dessas diligências.
No tocante à prorrogação em relação ao indiciado preso, só é possível, conforme já salientado
anteriormente, em três hipóteses:
a) crimes federais;
b) crimes da Lei de drogas;
c) crimes hediondos e equiparados, onde houver sido decretada a prisão temporária do
indiciado.
Sobre a forma de contagem do prazo para conclusão do inquérito, é pacífico que, quanto ao
indiciado solto, segue a mesma regra dos prazos processais, previsto no §1o do art. 798 do CPP, ou
seja, não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. Noutras
palavras, começa a fluir no primeiro dia útil seguinte à instauração formal do inquérito. O prazo que
terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato (§3º do art.
798 do CPP).
Quanto ao indiciado preso, prevalece que a contagem é idêntica à do solto, iniciando-se no
primeiro dia útil seguinte à prisão e prorrogando-se se o último dia cair em domingo ou feriado.
Entretanto, não é pacífico, pois há entendimento que o prazo teria natureza penal, iniciando-
se no dia prisão e não no primeiro dia útil seguinte, computando-se, destarte, o dia do começo, nos
termos do art. 10 do CP), sendo ainda vedada a prorrogação, a suspensão e a interrupção.
A forma de contagem do prazo, a meu ver, deve ser regida pelo art. 798 e respectivos
parágrafos do CPP, e não pelo Código Penal, que só poderia ser aplicado, por analogia, se o diploma
processual fosse omisso.
Quanto à contagem do prazo de prisão, este, sim, segue o critério material do art. 10 do CP.
Acrescente-se ainda que, em relação ao indiciado solto, o prazo de conclusão do inquérito é
impróprio, pois a sua violação não gera qualquer consequência, a não ser nas vias administrativas da
Corregedoria da Polícia.
Em contrapartida, para o indiciado preso, a ultrapassagem do prazo legal, fere o princípio do
princípio da razoabilidade, devendo o magistrado relaxar a prisão, ordenando a imediata soltura do
indiciado.
Há entendimento que permite a compensação de prazos, ou seja, se o inquérito extrapola os
dez dias, mas a denúncia é oferecida de imediato, de modo entre o início da prisão e oferecimento
da denúncia não houver transcorrido mais que quinze dias não haveria constrangimento ilegal.
Por fim, nos crimes contra economia popular, a retardação injustificada, pura e simples,
do prazo, quer o indiciado esteja solto ou preso, importa em crime de prevaricação, previsto no art.
319 do CP, conforme §4º do art. 10 da Lei 1.521/51.
De acordo com o art. 10, §1º, do CPP, o inquérito policial deverá ser concluído com um
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De acordo com o art. 10, §1º, do CPP, o inquérito policial, devidamente relatado, deverá ser
enviado ao juiz competente que, por sua vez, abrirá vista imediata ao Ministério Público.
Há entendimento que este dispositivo legal, que coloca o juiz como intermediário, não teria
sido recepcionado pela Constituição de 1.988, por violar o sistema acusatório. Dessa forma, tanto o
inquérito policial relatado quanto os pedidos de diligências devem ser enviados diretamente ao
Ministério Público, sem passar pelo crivo do Poder Judiciário.
Não visualizo qualquer requisito de violação do sistema acusatório, pois o registro do inquérito
policial junto ao Poder Judiciário é apenas uma forma de controle.
Qualquer lei estadual que altere o citado art. 10, §1º, do CPP será tida como inconstitucional,
pois os Estados-membros não podem legislar sobre processo.
No âmbito federal, o CJF (Conselho da Justiça Federal) editou a resolução nº 63/09 que prevê
a remessa do inquérito policial relatado e dos pedidos de diligências diretamente ao Ministério
Público Federal, só passando pelo Poder Judiciário quando houver necessidade de alguma decisão
judicial, como a comunicação da prisão em flagrante, o pedido de prisão temporária ou preventiva,
o requerimento de interceptação telefônica, etc.
É evidente a inconstitucionalidade desta resolução, pois ela afronta o princípio da legalidade.
A ADI 4305, proposta pela Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, contra a
aludida resolução, ainda está pendente de julgamento no STF.
No tocante aos crimes de ação penal privada, não há qualquer polêmica, pois o inquérito
policial é remetido ao juízo competente, onde ficará aguardando em cartório a iniciativa da vítima,
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que terá o prazo de 6 (seis) meses, a contar do conhecimento da autoria, para oferecer a queixa-
crime. Findo este prazo sem a oferta da queixa-crime, haverá a extinção da punibilidade, em face da
decadência.
A vítima, nos crimes de ação penal privada, também pode requerer ao juiz a entrega do
inquérito policial, mediante translado, ou seja, mantendo-se uma cópia no cartório (art. 19 do CPP).
Nos inquéritos de ação penal privada, embora o CPP seja omisso, o juiz deverá também abrir
vista ao Ministério Público, para analisar se o delito é realmente de ação penal privada ou de ação
pública.
Introdução
A justiça negociada, que é o acordo entre o Ministério Público ou a vítima e o autor do delito,
é o gênero que, no Brasil, comporta as seguintes modalidades:
a) composição civil (art. 74 da lei 9.099:95);
b) transação penal (art. 76 da lei 9.099/95);
c) suspensão condicional do processo (art. 89, da Lei no 9.099/95).
d) acordo de colaboração premiada (Lei 12.850/13);
e) acordo de não persecução penal (art. 28-A do CPP).
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Conceito
O acordo de não persecução penal é o instituto pelo qual o Ministério Público se abstém de
oferecer a denúncia em face da confissão do autor da infração penal, que ainda esboça sua anuência
em se sujeitar a determinadas condições não privativas de sua liberdade.
Inicialmente, era previsto na Resolução no 181 do CNMP (Conselho Nacional do Ministério
Público), de 07 de agosto de 2017, que sofreu alterações significativas, no dia 24 de janeiro de 2018,
mas atualmente encontra-se disciplinado pelo art. 28-A do CPP, introduzido pela lei 13.964/2019.
Fundamento
O acordo de não persecução é uma medida de política criminal, que visa atingir os seguintes
objetivos:
a) celeridade na resolução das infrações penal de média gravidade;
b) redução de custos para se evitar os efeitos maléficos de uma condenação penal;
c) desafogamento dos presídios.
Trata-se uma exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, pois o Ministério
Público se abstém de oferecer a denúncia.
Fundamento jurídico
O acordo de não persecução penal, que autoriza o Ministério Público a abster-se de instaurar
procedimentos criminais desnecessários, é previsto nas Regras de Tóquio, aprovada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas, que se equiparam aos tratados internacionais (Resolução no 45/110).
O referido acordo, conforme já dito, foi regulamentado pela Resolução no 181 do Conselho
Nacional do Ministério Público, de 07 de agosto de 2017, que sofreu alterações significativas, no dia
24 de janeiro de 2018.
Com o advento da Lei 13.964/2019, o assunto passou a ser disciplinado pelo art. 28-A do CPP,
operando-se, destarte, a revogação global da Resolução 181.
A propósito da Resolução 181, uma corrente proclamava a sua inconstitucionalidade, por
violação do princípio da legalidade, tendo em vista que o acordo de não persecução penal não
poderia ter sido inserido no ordenamento jurídico através de um simples ato administrativo.
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Ainda que se confira força de lei às Resoluções do Conselho Nacional do Ministério Público, ela
não poderia versar sobre o assunto, porquanto compete à União legislar sobre direito processual,
nos termos do art. 22, I, da CF.
Outra corrente sustentava que como o acordo de não persecução penal era previsto nas Regras
de Tóquio, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que se equiparam aos tratados
internacionais, a Resolução 181 não teria criado direito novo, mas apenas regulamentado um
instituto que já era previsto pelo ordenamento jurídico pátrio.
A situação é idêntica à audiência de custódia, regulamentada pela Resolução no 213 do
Conselho Nacional da Magistratura, que se encontra prevista no art. 7º, nº 5, da Convenção
Interamericana de Direitos Humanos.
A constitucionalidade da audiência de custódia foi reconhecida pelo STF, sob o argumento que
a Resolução 213 não criou direito novo, mas apenas regulamentou um instituto que já era previsto
em tratado internacional vigente no Brasil.
Por consequência, o mesmo raciocínio deveria ser aplicado à Resolução 181.
A matéria, porém, acabou sendo disciplinada pelo art. 28-A do CPP e, por consequência, a
discussão acima perdeu o interesse prático.
O Ministério Público poderá propor ao investigado o acordo de não persecução penal, desde
que presentes os seguintes requisitos cumulativos:
a) for cominada à infração penal uma pena mínima inferior a 4 (quatro) anos. Se a pena mínima
for igual a 4 (quatro) anos, o acordo não será possível. Para aferição da pena mínima cominada ao
delito, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. Se houver
causa de aumento de pena em quantidade variável, toma-se por base a pena mínima e se aplica o
aumento mínimo. Se houver causa de diminuição de pena em quantidade variável toma-se por base
a pena mínima e se aplica a diminuição máxima.
b) infração penal sem violência ou grave ameaça a pessoa. Quanto à violência imprópria, não
obsta o referido acordo, pois é vedada a analogia “in malam partem”. Na violência imprópria, o
agente, sem empregar força física ou grave ameaça, reduz a vítima à impossibilidade de resistência.
Exemplos: hipnose, sonífero, etc.
c) o investigado tiver confessado formal e circunstanciadamente a prática da infração penal.
Exige-se que se trate de uma confissão formal, onde se tenha assumido com nitidez a autoria.
Outrossim, uma confissão circunstanciada, ou seja, detalhada.
d) que não seja caso de arquivamento. Se não houver indícios de autoria nem prova da
materialidade, o Ministério Público deverá promover o arquivamento e, nesta situação, caso haja o
acordo de não persecução penal, o juiz não poderá homologá-lo.
e) que não seja cabível a transação penal da Lei 9.099/95.
f) que o investigado não seja reincidente;
g) que o investigado não revele conduta criminosa habitual, reiterada ou profissional, baseada
em elementos probatórios. Se, entretanto, as infrações penais pretéritas forem insignificantes, será
possível o acordo de não persecução penal.
h) não ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo;
i) não se tratar de crime praticado no âmbito de violência doméstica ou familiar;
j) não se tratar de crime praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;
k) que a celebração do acordo atenda ao que seja necessário e suficiente para a reprovação e
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No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução
penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior do Ministério Público, na
forma do art. 28 deste Código. (§ 14.do art. 28-A do CPP.
Assim, presentes os requisitos acima, caso o Ministério Público opte pelo oferecimento da
denúncia, abstendo-se de propor o acordo de não persecução penal, a lei não autoriza o juiz a
rejeitar a denúncia e remeter os autos ao órgão superior do Ministério Público, nos termos do art. 28
do CPP, pois esta providência só poderá ser tomada pelo investigado.
Condições
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Formalidades do acordo
O acordo de não persecução penal poderá ser formulado em qualquer momento da fase
investigatória.
Entretanto, uma vez oferecida a denúncia, não será mais possível, pois o oferecimento da
denúncia é irretratável.
Não há previsão legal para o acordo de não persecução penal nos delitos de ação penal privada.
Sobre o assunto certamente haverá três correntes.
Primeira, não é possível, por falta de previsão legal.
Segunda, é possível, por analogia “in bonam partem”, mas a proposta deverá emanar do
Ministério Público.
Terceira, é possível, por analogia “in bonam partem”, sendo que a proposta deverá emanar do
querelante.
Homologação judicial
A homologação do acordo de não persecução penal será feita pelo juiz, em audiência, onde se
deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor,
e sua legalidade.
É, pois, necessária a oitiva judicial do investigado, na presença de seu defensor.
No caso de prisão em flagrante, o acordo de não persecução poderá ser celebrado na mesma
oportunidade da audiência de custódia.
Se o juiz considerar o acordo cabível e as condições adequadas e suficientes, ele o homologará
e depois devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de
execução penal.
Assim, o acordo, para surtir efeito, terá que ser homologado pelo juiz, sujeitando-se, destarte,
ao controle jurisdicional.
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Suspensão da prescrição
Não corre prescrição enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução
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Cumprimento do acordo
O artigo 129, VII, da CF atribui ao Ministério Público a função de exercer o controle externo da
polícia, nos termos da Lei Complementar de iniciativa dos Procuradores Gerais da União e dos
Estados.
A propósito, o art. 9º da LC nº 75/93 também prevê expressamente que o Ministério Público
exercerá o controle externo da polícia.
A resolução n. 20/2007 do CNMP regulamenta o controle externo da atividade policial pelo
Ministério Público.
O controle externo é viabilizado pelo conjunto de normas que autorizam o Ministério Público
a fiscalizar os atos da polícia.
Justifica-se a sua existência pela adoção do sistema de freios e contrapesos, segundo o qual
uma instituição tem o poder de fiscalizar a outra, embora não haja hierarquia entre elas.
O controle externo visa prevenir e corrigir as irregularidades, abuso de poder, falhas técnicas e
omissões da polícia. Outrossim, zelar pelos direitos fundamentais, cumprimentos das leis, probidade
administrativa, celeridade e aperfeiçoamento das funções policiais.
A forma de se exercer o controle externo se verifica através dos seguintes mecanismos:
a) propositura de medidas judiciais cíveis e criminais contra os responsáveis;
b) propositura de medidas extrajudiciais contra os responsáveis;
c) livre acesso aos estabelecimentos policiais e prisionais para se verificar a regularidade da
situação;
d) acesso a documentos relativos às atividade-fim policial;
e) poder de representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a
omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder
f) requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão
ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial;
g) promover a ação penal por abuso de poder.
A prisão de qualquer pessoa deve ser imediatamente comunicada ao Ministério Público, por
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força do artigo 306 do CPP. Se for crime da justiça estadual, a autoridade policial deve comunicar o
Ministério Público estadual ou do Distrito Federal, conforme a hipótese. Se for crime da justiça
federal, o delegado de polícia federal deve comunicar o Ministério Público federal. Se for crime
eleitoral, o Ministério Público eleitoral.
Nesta comunicação, a autoridade policial deverá enviar cópias dos documentos que
comprovem a legalidade da prisão, outrossim, informar o local da prisão.
AÇÃO PENAL
Teorias
Teoria imanentista
De acordo com a teoria imanentista, ação é o próprio direito material posto em juízo. É, pois,
a ação um dos aspectos do direito material.
Não existe, para esta teoria oriunda do Direito Romano, diferença entre o direito de ação e o
direito material.
Dessa forma, para a teoria imanentista, a ação seria movida contra o réu e não contra o Estado.
Assim, o direito de ação não seria autônomo em relação ao direito material. Pelo contrário, se
confundiria com próprio direito material.
Dentre as críticas a esta teoria, merecem destaque:
a) Se a ação for improcedente, não há direito material, mas, no entanto, exercitou-se o direito
de ação.
b) Na ação declaratória negativa visa-se declarar a inexistência do direito material, por
consequência, exerce-se o direito de ação sem que haja direito material. Exemplo: habeas corpus
impetrado para trancar inquérito policial por fato atípico.
É assim perfeitamente possível o direito de ação sem que haja o direito material e, diante dessa
evidência, a aludida teoria revela-se ilógica, pois não explica as ações improcedentes nem as ações
declaratórias negativas.
Teoria concreta
A teoria concreta preconiza que ação é o direito de se obter uma sentença favorável.
Representou um avanço em relação à teoria anterior, pois consagra a ação como sendo um
direito autônomo em relação ao direito material.
O direito de ação, para a aludida teoria, existe independentemente do direito material, mas
está condicionado à existência do direito material, à medida que só existe direito de ação se a
sentença for procedente, ou seja, quando houver o reconhecimento do direito material.
De acordo com a teoria concreta, a ação seria exercida simultaneamente contra o réu e contra
o Estado.
Este conceito, entretanto, também não explica as ações julgadas improcedentes nem as ações
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declaratórias negativas, pois, nessas duas hipóteses, não há o reconhecimento do direito material.
Nestas duas situações, segundo a teoria concreta, não haveria direito de ação. Só após a sentença é
que se ficaria sabendo da existência ou não do direito de ação, pois este só existe quando a sentença
for procedente.
Teoria abstrata
A teoria eclética, idealizada pelo jurista Liebman, define a ação como sendo o direito ao
julgamento de mérito, favorável ou não.
É também uma teoria abstrata, pois o direito de ação se revela autônomo em relação ao direito
material, ou seja, o direito de ação existe quer a sentença seja procedente ou improcedente.
Assim como a teoria abstrata, a teoria eclética preconiza que a existência do direito de ação
independe da existência do direito material.
É, pois, a teoria que encontra o maior número de seguidores.
Em ambas as teorias, a ação é movida contra o Estado e em face do réu, pois é o direito de se
obter um provimento jurisdicional.
Tanto uma como outra consagram a existência do direito de ação, quer a sentença seja
procedente ou improcedente.
As duas também admitem a ação declaratória negativa, ou seja, que visa proclamar a
inexistência do direito material. Exemplo: ação de “habeas corpus” para trancar inquérito policial
instaurado para investigar fato atípico.
A diferença reside no fato de a teoria abstrata defender a ação como sendo um direito
incondicionado, que existe também nas sentenças terminativas, onde o processo é extinto sem
resolução do mérito, ao passo que a teoria eclética advoga a ação como um direito condicionado, ou
seja, de se obter um julgamento de mérito e, para isso, deve passar primeiro pelo crivo da análise
de certas condições.
Dessa forma, o direito de ação, para a teoria eclética, só existe nas sentenças de mérito, sejam
elas procedentes ou improcedentes, mas não existe nas sentenças terminativas.
Conceito de ação
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O direito de ação está previsto no artigo 5º, XXXV, da CF, que dispõe o seguinte:
“A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Consagra-se, nesse dispositivo constitucional, o princípio da universalidade da jurisdição, que
é a base do direito de ação.
Condições da ação
Condições da ação são os requisitos necessários para o julgamento do mérito, que pode ser
procedente ou improcedente.
Carência de ação
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queixa.
Após prolatar a sentença, o juiz esgota o seu poder jurisdicional e, dessa forma, a carência de
ação só poderá ser reconhecida pelo tribunal em eventual recurso e, após o trânsito em julgado, será
ainda cabível revisão criminal ou “habeas corpus”.
Condições genéricas
Condições genéricas são aquelas necessárias para toda e qualquer ação. São elas:
a) Legitimidade ad causam;
b) Interesse de agir.
Alguns autores também incluem a possibilidade jurídica do pedido.
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Legitimidade ativa
Nos crimes de ação penal pública, a legitimidade é do Ministério Público. A vítima não pode
movê-la, sobe pena de rejeição da queixa-crime, por carência de ação, salvo no caso de inércia do
órgão ministerial, quando então poderá ingressar, através de uma queixa-crime, e não de uma
denúncia, com a ação penal privada subsidiária da pública (artigo 5º, LIX, da CF).
Abre-se exceção aos crimes contra a honra de funcionário público, em razão da função, cuja
ação penal é pública condicionada à representação, mas a jurisprudência faculta à vítima a
legitimidade concorrente para ofertar a queixa-crime, independentemente da inércia do Ministério
Público.
A propósito, dispõe a súmula 714 do STF:
“É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor
público em razão do exercício de suas funções”.
Nessa situação, como se vê, ficará a critério da vítima oferecer a queixa-crime ou representar ao
Ministério Público para que o mesmo ofereça a denúncia.
Esta súmula é objeto de crítica, pois não tem qualquer embasamento legal.
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Por outro lado, nos crimes de ação penal privada, a legitimidade é da vítima ou do seu
representante legal. Se a vítima for menor e a queixa-crime houver de ser oferecida em face do seu
representante legal, o juiz lhe nomeará um curador especial, que poderá ou não apresentar a queixa-
crime.
Na hipótese de falecimento da vítima, ou de ausência civil declarada judicialmente, será
possível a legitimidade sucessiva e a queixa-crime poderá, então, ser movida ou prosseguida pelo seu
ascendente, descendente, cônjuge ou irmão.
A propósito, dispõe o art. 31 do CPP:
“No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão”.
Cumpre observar que, nos casos de ação penal privada, o Ministério Público não pode, em
nenhuma hipótese, oferecer a denúncia, sob pena de rejeição por ilegitimidade “ad causam”. Se, no
curso do processo, houver a desclassificação de um crime de ação pública para outro de ação privada,
o juiz deverá anular todo o processo, inclusive, a denúncia, e, caso já tenha decorrido o prazo de seis
meses para a queixa-crime, que conta do conhecimento da autoria, impõe-se a decretação da
extinção da punibilidade pela decadência.
Por fim, quanto à pessoa jurídica, pode oferecer queixa-crime, nos crimes de ação penal
privada onde figurar como vítima. Exemplo: difamação.
Sobre o assunto, dispõe o art. 37 do CPP:
“As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação
penal, devendo ser representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou,
no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes”.
Legitimidade passiva
Princípio da intranscendência
A ação penal, seja pública ou privada, é regida pelo princípio da intranscendência, que consiste
no fato de a denúncia ou queixa não poder abranger os familiares e sucessores do acusado.
Nem mesmo a execução da pena de multa pode recair sobre os familiares ou sucessores do
condenado morto, pois a pena é intransmissível.
De fato, reza o art. 5º, XLV, da CF:
“Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”.
Vê-se assim que o princípio da intransmissibilidade da pena comporta duas exceções: a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens que, nos termos da lei, podem
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
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Uma corrente encara o interesse de agir como sendo o binômio, necessidade e adequação, e
outra como o trinômio, necessidade, adequação e utilidade.
Na falta de interesse de agir, o pedido é juridicamente possível, ou seja, admitido pelo
ordenamento jurídico, mas o processo deve ser extinto sem resolução do mérito pelo fato de a ação
penal se revelar desnecessária ou inadequada ou ainda inócua para o atendimento do pedido.
Necessidade
Necessidade é o fato de a lide só poder ser solucionada através de uma ação judicial.
No processo civil, há inúmeras hipóteses onde a propositura da ação se revela desnecessária.
Exemplo: não é cabível ação para se declarar a existência de um contrato escrito que nunca fora
impugnado.
No processo penal, porém, a necessidade é presumida, pois a pena não pode ser imposta sem
uma ação judicial, mas há duas exceções:
a) transação penal nas infrações penais de menor potencial ofensivo;
b) acordo de não-persecução penal formulado pelo Ministério Público.
Através destes dois institutos se impõem penas restritivas de direitos ou de multa, sem que
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haja necessidade de uma ação penal, mas ambos dependem de homologação judicial.
Presentes os requisitos para a transação ou para o acordo de não-persecução penal, o
Ministério Público não poderá mover a ação penal e, caso a proponha, o juiz deverá enviar os autos
ao Procurador Geral de Justiça ou à Câmara de Coordenação e Revisão, conforme se trate do
Ministério Público Estadual ou Federal, para que estes órgãos superiores reavaliem a real
necessidade da ação penal.
Adequação
Utilidade
A utilidade é o fato de a ação penal ser idônea para a satisfação da pretensão punitiva.
Assim, diante da extinção da punibilidade, por exemplo, prescrição, não há falar-se em
interesse de agir.
A extinção da punibilidade, para uma corrente, torna o pedido juridicamente impossível. Outra,
sustenta que torna a ação inútil, ou seja, situa-se no âmbito da falta de interesse de agir. Há ainda
uma terceira corrente, que insere a utilidade no conceito de justa causa para a ação penal.
Justa causa
Justa causa é o lastro probatório mínimo para que a denúncia ou queixa possa ser recebida.
Enquanto que, no processo civil, a ação pode ser ajuizada sem que haja qualquer prova,
relegando-se a produção das provas para depois, no processo criminal, exige-se, desde o início, um
mínimo de prova, sob pena de rejeição da denúncia ou queixa.
Justifica-se a disparidade pelo fato de o processo penal, por si só, já se revelar infamante,
desmoralizando a pessoa.
A falta de justa causa, consoante preceitua o art. 395, III, do CPP, gera a rejeição da denúncia
ou queixa.
É preciso, destarte, para que a denúncia ou queixa seja recebida, dois requisitos:
a) certeza da materialidade. Não é necessário, neste momento do recebimento da denúncia ou
queixa, a juntada do laudo de exame de corpo de delito, salvo na lei de drogas, que exige o laudo de
constatação por ocasião da denúncia, e os crimes contra propriedade imaterial, cuja denúncia ou
queixa deve vir instruída com a homologação judicial do laudo pericial de apreensão da mercadoria.
O assunto será abordado oportunamente.
b) indícios suficientes de autoria.
Outros autores ainda acrescentam, no âmbito da justa causa, mais dois requisitos:
a) a prova da antijuridicidade;
b) a prova da culpabilidade.
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No crime de lavagem de capitais, previsto na lei 9.613/98, a justa causa é duplicada, pois a
denúncia, sob pena de rejeição, deve demonstrar:
a) a prova mínima da ocultação de bens e valores;
b) a prova mínima da infração penal anterior.
As condições gerais da ação, conforme já visto, são as exigidas para todas as ações.
As condições especiais ou específicas, também chamadas de condições de procedibilidade,
são aquelas exigidas apenas para determinadas ações.
Dentre outras, são as seguintes:
a) Representação da vítima ou de seu representante legal, nos crimes de ação penal pública
condicionada à representação. Exemplo: crime de ameaça (art. 147 do CP).
b) Requisição do Ministro da Justiça, nos crimes de ação penal pública condicionada à
requisição do Ministro da Justiça. Exemplo: crime contra a honra do Presidente da República (art.
145, parágrafo único do CP).
c) Ingressar o agente no território nacional, quando se tratar de delito praticado no exterior,
nos casos de extraterritorialidade condicionada (art. 7º, §2º, a, do CP)
d) Provas novas, quando a denúncia se refere a crime, cujo inquérito havia sido anteriormente
arquivado. Igualmente, no caso de impronúncia anterior.
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e) Autorização de 2/3 (dois terços) da Câmara dos Deputados para se instaurar processo contra
Presidente da República ou Vice ou Ministro de Estado (art. 51, I, da CF).
f) Exame pericial homologado pelo juiz, nos crimes contra a propriedade imaterial (art. 529 do
CPP).
A condição da ação é necessária para poder se iniciar a ação, ao passo que a condição de
prosseguibilidade é necessária para que a ação possa continuar. Se, por exemplo, no curso do processo
sobrevier doença mental ao réu, o processo será suspenso e, para poder prosseguir, será preciso que ele se
restabeleça. Outro exemplo: a morte do querelante suspende a ação penal privada até que haja a habilitação
dos sucessores.
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As duas últimas correntes mostram-se insustentáveis, uma vez que a falência independe da
insolvência econômica ou da cessação dos pagamentos. A primeira corrente contém o inconveniente
de transformar o magistrado em consumador do crime.
Por mais lógica, preferimos a segunda corrente.
No tocante aos delitos pós-falimentares, que são os cometidos depois da sentença de falência,
o momento consumativo varia conforme se trate de delito material, formal ou de mera conduta.
Ação de conhecimento
A ação de execução penal não visa obter o reconhecimento do direito, mas sim a sua satisfação,
pois este tipo de ação pressupõe que o direito material já esteja reconhecido através de uma
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Ação cautelar
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A ação penal privada propriamente dita ou principal ou exclusiva pode ser movida pelas
seguintes pessoas:
a) pela vítima ou, no caso de incapacidade, pelo seu representante legal.
b) pelo curador nomeado pelo juiz, quando o interesse da vítima menor ou incapaz colidir com
o interesse do seu representante legal.
c) pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, no caso de morte ou ausência da vítima.
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A ação penal privada personalíssima é a que só pode ser movida pela própria vítima. O seu
representante legal não poderá propô-la.
O único exemplo é o delito do art. 236, parágrafo único, do CP, que prevê o crime
de induzimento a erro essencial de casamento e ocultação de impedimento matrimonial.
No caso de morte ou ausência da vítima, os sucessores não poderão mover nem prosseguir
com a ação.
A ação penal privada subsidiária da pública, também chamada de ação penal incidentalmente
privada, é a proposta pela vítima ou seu representante legal, nas hipóteses de inércia do Ministério
Público em oferecer a denúncia dentro do prazo legal.
É prevista nos arts. 5º, LIX, da CF, 100, § 3º, do CP e 29 do CPP.
Será analisada oportunamente.
Ação de prevenção penal é que visa aplicar ao réu uma medida de segurança.
Ocorre quando o fato criminoso houver sido praticado por doente mental ou pessoa com
desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26, caput, do CP).
Ocorre a ação penal secundária quando a lei prevê, como regra, uma espécie de ação para
determinado crime, mas, em certas circunstâncias estabelece outra.
Nos crimes contra a honra, por exemplo, em regra, a ação penal é privada, mas há algumas
exceções, como a injúria racial, cuja ação é pública condicionada à representação (art. 141, §3º do
CP).
Ação penal indireta
A ação penal indireta ocorre quando, na ação penal subsidiária da pública, o polo ativohouver
sido assumido pelo Ministério Público, em razão da inércia ou abandono do querelante.
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Conceito
A ação penal pública é a proposta pelo Ministério Público, que é o seu titular exclusivo.
O Ministério Público, nos termos do art. 129, I da CF, detém o monopólio desta ação.
Ninguém mais poderá propô-la, mas apenasrequerer ao Ministério Público a sua propositura.
Princípio da obrigatoriedade
Princípio da indisponibilidade
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denúncia, mas propõe que, após o seu recebimento, o processo permaneça suspenso para que o réu
cumpra determinadas condições.
Princípio da divisibilidade
Princípio da oficialidade
O princípio da oficialidade consagra que, na ação penal pública, a persecução penal só poderá
ser exercida por órgãos do Estado.
Dessa forma, o inquérito policial deve ser presidido pela autoridade policial e a denúncia
oferecida pelo Ministério Público.
Abre-se exceção à ação penal privada subsidiária da pública, movida pela vítima ou seu
representante legal, mediante queixa-crime, quando a denúncia, por inércia, não for oferecida
dentro do prazo legal. A referida ação será regida pelos princípios da ação penal pública.
Em relação à ação penal exclusivamente privada, o princípio da oficialidade vigora apenas na
fase pré-processual, pois o inquérito também será presidido pela autoridade policial, tendo em vista
que o particular não tem poderes investigatórios.
Princípio da autoritariedade
Princípio da oficiosidade
O princípio da oficiosidade é o que impõe aos órgãos incumbidos da persecução penal o dever
de agirem de ofício.
Este princípio vigora apenas nos crimes de ação penal pública incondicionada. Nesses delitos,
o delegado de polícia deve instaurar de ofício o inquérito policial e o Ministério Público oferecer a
denúncia, também de ofício, prescindido-se de qualquer autorização da vítima.
Este princípio, entretanto, não vigora nas ações penais privadas, pois a instauração do inquérito
policial depende de prévia autorização da vítima ou de seu representante legal.
Igualmente, não vigora nas ações penais públicas condicionadas, pois a instauração do
inquérito e o oferecimento da denúncia dependem de prévia autorização da vítima ou de seu
representante legal e, em alguns casos, de requisição do Ministro da Justiça.
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No silêncio da lei, a ação penal será pública incondicionada (art. 100 do CP).
Assim, quando a lei cria um tipo penal e silencia sobre a natureza da ação é porque ela será
pública incondicionada.
Nesse caso, a autoridade policial instaura o inquérito de ofício. Igualmente, a denúncia será
ofertada de ofício pelo Ministério Público, sem necessidade de autorização da vítima.
Nos casos de ação penal privada ou pública condicionada, ainda assim a ação penal será pública
incondicionada quando o crime for praticado em detrimento do patrimônio ou interesse das pessoas
políticas.
A propósito, dispõe o §2o do art. 24 do CPP:
“Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União,
Estado e Município, a ação penal será pública”.
Titularidade
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Forma da representação
Destinatários da representação
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Natureza jurídica
Retratação da representação
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A ação penal pública condicionada à requisição do ministro da justiça é a que só pode ser
proposta pelo Ministério Público, mediante prévia autorização escrita do referido ministro.
São raras as hipóteses. Exemplo: crime contra a honra do Presidente da República ou Chefe de
Governo estrangeiro (art. 145 do CP). Outro exemplo: crime praticado por estrangeiro contra
brasileiro no exterior (art. 7º, §3º, “b”, do CP).
O Ministério Público é o seu titular exclusivo, porém, para ajuizá-la é necessária a requisição do
Ministro da Justiça.
A requisição é uma autorização, e não uma ordem, para que seja instaurada a persecução
penal.
Diante da requisição, o Ministério Público poderá tomar as seguintes medidas:
a) oferecer a denúncia: quando a requisição estiver devidamente instruída. Nesse caso,
dispensa-se a instauração do inquérito.
b) requerer, ao juiz, o arquivamento da requisição: quando o fato não constituir crime ou não
houver indícios mínimos de autoria.
c) requisitar a instauração de inquérito policial para a realização de novas diligências.
A requisição do Ministro da Justiça deve ser feita por escrito. Não pode ser verbal.
A lei não fixa prazo decadencial para a requisição, que poderá ser feita a qualquer tempo
enquanto não ocorrer a prescrição.
A requisição é regida pelo princípio da oportunidade, pois o Ministro da Justiça tem a faculdade
de elaborá-la ou não, conforme a sua conveniência e oportunidade.
Na hipótese de concurso de agentes, basta requisitar contra um deles para que o Ministério
Público possa ofertar a denúncia contra todos. É o chamado efeito extensivo ou eficácia objetiva da
requisição.
Quanto à retratação da requisição pelo Ministro da Justiça, o assunto é polêmico.
Para uns, diante do silêncio intencional da lei, não é possível, caso contrário a retratação, à
semelhança da representação, teria sido expressamente prevista pelo legislador.
Outros admitem, até antes do oferecimento da denúncia, por analogia ao art. 25 do CPP; que cuida
da representação, e também por ser a requisição um ato administrativo discricionário, portanto,
revogável de acordo com a conveniência e oportunidade.
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Considerações iniciais
A ação penal privada é a proposta pela vítima ou por seu representante legal.
Nesse tipo de ação, o autor recebe o nome de querelante e o réu de querelado. Para movê-la, será
necessária a constituição de advogado.
A ação penal privada, conforme já visto, é uma exceção, pois, no silêncio da lei, a ação será pública
incondicionada.
Assim, só é admitida nos casos expressos em lei, que a identifica no tipo penal, através da expressão
“somente se procede mediante queixa”.
Queixa-crime, por sua vez, é o nome da petição inicial da ação penal privada.
Nesta ação, o Estado transfere à vítima o jus persequendi in juditio (direito de perseguir a vítima em
juízo), e não o jus puniendi, pois direito de punir pertence ao Estado -juiz, e não ao querelante.
Justifica-se esta ação nos delitos que afetam imediatamente os interesses particulares da vítima, e
secundariamente, os interesses do Estado. Por exemplo os crimes contra a honra (art. 145 do CP).
Outro fundamento que a justifica é o strepitusjudicii, ou seja, o escândalo do processo. Nesses
delitos, é correta a postura do legislador em se deferir à vítima o poder de decidir se irá ou não
processar o agente, posto que o escândalo gerado pelo processo pode lhe causar um mal maior que
o próprio delito.
A ação penal exclusivamente privada, também chamada de ação penal privada propriamente
dita, é a que pode ser proposta pelas seguintes pessoas:
a) pela vítima ou por seu procurador com poderes especiais (art. 30 do CPP).
b) pelo representante legal, quando a vítima for menor ou incapaz. Se houver mais de um
representante legal, nada obsta que apenas um deles nova a ação penal. O guardião da vítima
menor, nomeado pelo juiz, também pode ofertar a queixa-crime.
d) pelo curador especial nomeado pelo juiz, quando a vítima não tiver representante legal, ou
quando, colidir os seus interesses com os de seu representante. Exemplos delito praticado pelo tutor
contra o pupilo.
Para uma corrente, não há obrigatoriedade de o curador especial mover a ação penal privada,
pois esta é regida pelo princípio da oportunidade. Outra lhe impõe a obrigatoriedade, pois ele seria
um substituto processual.
e) Cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, quando a vítima morrer ou for declarada
ausente por decisão judicial (art. 24, § 1º do CPP). Trata-se de um rol taxativo, porém, por isonomia,
e não por analogia, se inclui também o companheiro; outra corrente, entretanto, nega este direito
ao companheiro, sob o fundamento da vedação da analogia “in malam partem”, tendo em vista que
se trata de uma norma com traços preponderantes de direito penal, à medida que a perda do prazo
para oferecer a queixa gera a extinção da punibilidade. Há uma ordem de preferência, primeiro
cônjuge ou companheiro, e caso este não se manifeste, o ascendente, depois o descendente e, por
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último, o irmão. Prevalece a vontade positiva de ofertar a queixa. Se, por exemplo, o cônjuge não
quer, mas o descendente quer, este poderá ofertar a queixa.
f) pela pessoa designada no contrato ou estatuto, quando a vítima for pessoa jurídica.
No silêncio do contrato ou estatuto, pelos seus diretores ou sócios-gerentes, A propósito, dispõe o
art. 37 do CPP: “As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a
ação penal, devendo ser representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem
ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes”.
Quanto ao prazo para propor a ação penal exclusivamente privada, é de 6 (seis) meses, a contar
do conhecimento da autoria do fato. A instauração do inquérito não suspende nem interrompe este
prazo, cuja natureza é decadencial.
A ação penal privada, nas duas modalidades anteriores, é regida pelos seguintes princípios:
a) princípios da oportunidade;
b) princípio da disponibilidade;
c) princípio da indivisibilidade.
Princípio da disponibilidade
Princípio da indivisibilidade
O princípio da indivisibilidade prevê que a queixa-crime deve ser oferecida contra todos os
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agentes.
A vítima não tem, destarte, o poder de selecionar aqueles que serão processados. Caso exclua
um deles, haverá extinção da punibilidade, pela extensão da renúncia tácita, em relação a todos os
demais.
Se, no curso do processo, a vítima perdoar um dos querelados, a extinção da punibilidade se
estenderá a todos que aceitarem o perdão. O processo, porém, prosseguirá contra os que se negarem
a aceitar o perdão. Trata-se da única hipótese de exceção ao princípio da indivisibilidade.
No concernente à pluralidade de crimes, não se aplica o princípio da indivisibilidade, que se
refere à pluralidade de agentes. Nada obsta assim que o querelante deixe de ofertar a queixa-crime
em relação a alguns delitos.
Por outro lado, o Ministério Público, nos casos de ação penal privada, também atua, como fiscal
da lei, podendo, nos termos do §2º do art. 46 do CPP aditar a queixa no prazo de 3 (três) dias,
devendo o juiz, após o recebimento da peça inicial , lhe abrir a oportunidade para se manifestar.
Há três correntes acerca da extensão do aditamento proposto pelo representante do
“parquet”.
Primeira, o aditamento é possível, inclusive, para incluir corréus. Este posicionamento fere
a legitimatio ad causam para oferecer a queixa-crime, que pertence ao querelante, e não ao
Ministério Público.
Segunda, o aditamento é vedado em qualquer situação, tendo em vista o princípio da
oportunidade da ação penal privada. Esta doutrina nega vigência ao citado §2º do art. 46 do CPP, que
prevê expressamente a possibilidade de aditamento.
Terceira, adotada no STJ, o aditamento da queixa-crime pelo Ministério Público só é
possível para corrigi-la ou complementá-la acerca de circunstâncias de tempo, local e modo de
execução do crime, mas não poderá aditá-la para incluir novos corréus ou novos crimes, sob pena de
violação do princípio da oportunidade da ação penal privada.
O Ministério Público deverá, entretanto, velar pelo princípio da indivisibilidade da ação penal
privada. Dessa forma, ao verificar que a queixa-crime não abrange um ou mais dos agentes deverá,
caso a omissão do querelante tenha sido voluntária, requerer a extinção da punibilidade em relação
a todos os corréus. Se, ao revés, a omissão houver sido involuntária, deverá requerer a intimação do
querelante para incluir os demais, sob pena de extinção da punibilidade contra todos, em função da
extensão da renúncia tácita.
A ação penal privada subsidiária da pública, também denominada de ação penal supletiva ou
ação penal incidentalmente privada, é a proposta pela vítima ou por seu representante legal, quando
o Ministério Público não oferece a denúncia nem toma qualquer outra providência, dentro do prazo
legal.
Está prevista nos arts. 5º, LIX, da CF, 100, § 3º, do CP e 29 do CPP.
Esta ação penal é regida pelos princípios da ação penal pública, sendo, portanto, vedado o
perdão, a perempção, etc.
Não é cabível esta ação quando o Ministério Público pleiteia o arquivamento do inquérito ou
requisita novas diligências, pois, nessas hipóteses, não há falar-se em inércia.
Se, entretanto, as diligências requisitadas forem completamente inócuas, será possível a
queixa subsidiária, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Exemplo: requisitar a juntada de
laudo pericial que já esteja nos autos. Outro exemplo: requisitar depoimento testemunhal já colhido.
O prazo para se oferecer a denúncia, em regra, é de 5 (cinco) ou 15 (quinze) dias, conforme se
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O art. 107 do CP prevê algumas causas específicas de extinção da punibilidade da ação penal
privada. São as seguintes:
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a) decadência;
b) renúncia;
c) perdão;
d) perempção.
A doutrina, entretanto, acrescenta mais uma hipótese, que é a desistência da ação.
Presente uma dessas causas, o juiz deverá prolatar decisão declaratória de extinção da
punibilidade.
Nessa decisão, não se analisa se o querelado é culpado ou inocente, mas, transitada em
julgado, fará coisa julgada material, não podendo mais ser objeto de discussão.
Prova ilícita
Conceito
De acordo com a doutrina dominante, a expressão prova ilegal é o gênero que abrange duas
espécies: a prova ilícita e a prova ilegítima.
Nessa linha de raciocínio, prova ilícita é a que viola normas de direito material, ao passo que a
prova ilegítima viola normas processais.
O art. 157 do CPP, introduzido pela lei, define as provas ilícitas como sendo “as obtidas em
violação a normas constitucionais ou legais”
Diante disso, surgiram duas correntes.
Primeira, de natureza ampliativa, a prova que viola normas processuais também é ilícita, pois
o citado art. 157 se refere simplesmente à violação das normas legais, sem fazer distinção entre as
normas de direito material e as de direito processual. Por consequência, não haveria mais qualquer
distinção entre as provas ilícitas e as ilegítimas.
Segunda, de natureza restritiva, as provas que violam normas processais não são ilícitas, mas,
sim, ilegítimas, pois as normas legais, a que se refere o art. 157 do CPP, são apenas as de direito
material, sob pena de se valorizar excessivamente o formalismo processual, em flagrante violação ao
princípio da instrumentalidade das formas, que analisa o processo como um meio e não como um
fim em si mesmo.
Esta última corrente é a que prevalece tanto na doutrina quanto na jurisprudência, de modo
que as provas ilícitas são:
a) as que violam normas constitucionais;
b) as que violam normas legais de direito material.
Assim, toda prova que violar as normas constitucionais será tida como ilícita.
Exemplo: interceptação telefônica sem ordem judicial (art. 5º, XII, da CF). Outro exemplo: confissão
judicial sem que o réu tenha sido advertido do direito ao silêncio (art.5º, LXIII, da CF). Mais um
exemplo: interrogatório judicial sem a presença de advogado (art. 5º, LX, da CF).
É importante ainda destacar que configura crime de abuso de autoridade, proceder à obtenção
de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito (art. 25,
caput, da lei 13.869/2019). Também comete crime de abuso de autoridade, nos termos do parágrafo
único do citado art. 25, quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio
conhecimento de sua ilicitude.
O efeito da prova ilícita é a sua inadmissibilidade no processo, e, por isso, deve ser
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Provas Ilegítimas
A teoria dos frutos da árvore contaminada (“fruits of the poisonous tree”) preconiza que as
provas derivadas da ilícita também serão ilícitas.
Assim, a nulidade da prova torna também nula todas as provas colhidas a partir dela, mas não
implica necessariamente na absolvição do réu, pois, não obstante a ilicitude, a condenação se mostra
viável desde que amparada por outras provas lícitas.
Aludida teoria encontra-se consagrada no §1º do art. 157 do CPP, ao prever que são
inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas.
Se, por exemplo, o cadáver da vítima só for localizado após o suspeito ter confessado mediante
tortura, impõe-se a nulidade do exame de corpo de delito e, dessa forma, a materialidade teria que
ser comprovada através do exame de corpo de delito indireto, ou seja, por duas testemunhas que
sabiam da existência do cadáver.
Outro exemplo: a apreensão ilícita de um livro contábil torna nula a perícia que fora feita sobre
este livro.
Mais um exemplo: será nulo o eventual depoimento de testemunha referida numa
interpretação telefônica realizada sem ordem judicial.
A teoria da prova ilícita por derivação, entretanto, não é absoluta, pois ela é mitigada pelas
teorias da fonte independente e da descoberta inevitável.
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Só será válida a nova prova quando suprimindo mentalmente a prova ilícita anterior ainda
assim os fatos seriam provados por outros meios. Se, por exemplo, a confissão mediante tortura
gerar a localização de parte do cadáver, o posterior exame de corpo de delito também será nulo, mas
se uma outra parte do mesmo cadáver for encontrada casualmente, sem qualquer relação com a
confissão anterior, o novo exame de corpo de delito será válido.
Da mesma forma, se a testemunha foi inquirida judicialmente, ao ser mencionada numa
interceptação telefônica obtida sem ordem judicial, o seu depoimento será nulo, mas se, durante a
instrução, esta mesma testemunha for referida por outra, o juiz poderá colher validamente o seu
depoimento.
Na dúvida, porém, se há ou não nexo causal entre as duas provas, impõe-se a nulidade, por força do
princípio “in dúbio pro reo”.
A teoria da tinta diluída apregoa que a prova derivada da ilícita pode se tornar válida se
posteriormente o agente resolver colaborar espontaneamente. Exemplo: João é preso ilegalmente
e, em razão disso, confessa que guardava drogas. Esta confissão é nula e, por consequência, também
será nula a apreensão da droga. Se, entretanto, devidamente assistido por advogado, ele realizar
uma delação premiada, confessando este e outros delitos, a prova se convalidaria.
Esta teoria não é prevista no direito brasileiro, mas é apoiada por parte da doutrina, sendo,
pois, de aceitação duvidosa.
É também conhecida pelos seguintes nomes: teoria da mancha purgada, teoria da limitação
dos vícios sanados, teoria da limitação da contaminação expurgada e teoria do nexo causal
atenuado.
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De acordo com esta teoria, a prova colhida de boa-fé, sem conhecimento da ilicitude, deve ser
considerada válida. Exemplo: o mandado judicial de busca e apreensão é cumprido de boa-fé noutra
residência e acaba sendo apreendido documentos criminalmente comprometedores.
Aludida teoria também não é prevista no direito brasileiro, de modo que a tendência é que a
prova seja considerada nula.
Provas no lixo
No tocante às provas que são encontradas no lixo, que já se encontrava na rua, são válidas,
independentemente de autorização da pessoa, pois subentende-se que houve renúncia tácita à
proteção do direito à intimidade. Exemplo: lixeiro encontra vídeos que comprovam a pedofilia.
Se, contudo, o lixo ainda se encontrava nas dependências da residência, a prova só será válida
se a sua apreensão for precedida de autorização do morador ou de ordem do juiz competente.
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Na cooperação jurídica entre dois países, para a prova ser válida, basta que ela seja obtida de
acordo com as normas previstas no ordenamento jurídico do país que presta o auxílio, cuja soberania
deve ser respeitada.
A propósito, dispõe o art. 13 da LINDB:
“A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao
ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira
desconheça”.
Se, por exemplo, a autoridade judiciária brasileira solicita uma busca e apreensão domiciliar à
autoridade estrangeira e a diligência é cumprida sem ordem judicial, posto que no referido país a
própria polícia tem poder para determinar esta medida, a prova deverá ser aceita.
Quanto às provas vedadas pelo ordenamento jurídico brasileiro, por exemplo, a colhida
mediante tortura, ainda que seja aceita pelas leis do país onde fora produzida, não poderá ser
acolhida no Brasil.
Recursos
Em relação à decisão que, antes da sentença, reconhece a ilicitude da prova, será cabível, por
interpretação extensiva do art. 581, XIII, do CPP, o recurso em sentido estrito, pois a hipótese
equivale a uma nulidade parcial do processo.
Se a ilicitude só vier a ser reconhecida na sentença, o recurso será a apelação.
Se o juiz reputar válida a prova lícita, será possível a impetração de “habeas corpus” ou mandado de
segurança, conforme a infração penal seja ou não cominada com pena privativa de liberdade.
Descontaminação do julgado
Princípio da proporcionalidade
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Com base no princípio da proporcionalidade, a prova ilícita pode ser validamente aproveitada,
quando o interesse que ela visa preservar for superior ao interesse lesado por ela.
O aludido princípio deve ser analisado sob dois aspectos:
a “pro reo”;
b) “pro societate”.
A doutrina dominante admite, com base no princípio da proporcionalidade, que a prova ilícita
seja utilizada em benefício do réu.
O fundamento é que os princípios constitucionais da presunção de inocência e ampla defesa e,
sobretudo, o direito de liberdade, sobressaem em relação proibição da prova ilícita.
Exige-se, porém, para validar uma prova ilícita, que ela seja o único meio disponível para se
comprovar a inocência do réu.
De fato, com a instauração da persecução penal há uma situação de perigo atual ou iminente
ao direito de liberdade, de modo que a prova ilícita poderá ser aceita, se não havia outros meios para
se comprovar a inocência do acusado.
O certo é que, diante da caracterização do estado de necessidade, a rigor, a prova se revela
materialmente lícita.
Quanto à prova de uma declaração, obtida mediante tortura, não poderá, segundo a doutrina
dominante, ser utilizada nem mesmo em benefício do réu, diante da incerteza do seu conteúdo antes
da sua colheita,mas não se pode olvidar que as provas beneficias ao réu não exigem o grau de certeza,
bastando, para surtirem efeito, que criem no espírito do magistrado uma dúvida fundada.
Se, por outro lado, mediante tortura, alguém entregar a prova material da inocência do
acusado, sem prestar qualquer declaração, não há como negar a sua validade. O assunto, contudo, é
polêmico, pois inúmeros juristas colocam a proibição da tortura como sendo uma vedação absoluta.
O princípio da proporcionalidade, em regra, não serve para justificar a prova ilícita “pro
societate”, pois a eficácia da persecução criminal não pode prevalecer sobre os direitos
fundamentais.
Mas, consoante já decidiu o STF, em casos extremos de necessidade inadiável e incontornável,
o magistrado poderá ponderar os direitos constitucionais em conflito para considerar a prova válida,
como no exemplo de uma busca domiciliar realizada sem ordem judicial, para combater o tráfico de
drogas, em local dominado pela criminalidade organizada.
De fato, nenhuma liberdade pública tem caráter absoluto, só podendo ser invocada à vista de
uma finalidade ética. Se, por exemplo, o investigador de polícia invade uma residência, sem ordem
judicial, para apreender as provas do homicídio, que estavam prestes a serem destruídas, não há
como lhe censurar o comportamento, de modo que, diante da situação de estado de necessidade,
esta prova deverá ser reputada válida.
Igualmente, com base no princípio da proporcionalidade, não se poderá anular a prova do
sequestro, obtida pela mãe do sequestrado, através de uma interceptação telefônica sem ordem
judicial.
Quem viola direitos constitucionais não se encontra na situação de exigir que os seus
direitos sejam integralmente respeitados.
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Introdução
Conceito
O exame de corpo de delito é a espécie de perícia que visa apurar os vestígios da infração
penal oriundos diretamente da conduta típica.
É, pois, tão importante que a sua ausência gera a nulidade absoluta do processo, sendo que
nem mesmo a confissão do réu pode supri-lo.
Entretanto, conforme já dito, trata-se de uma espécie de perícia, ou seja, nem toda perícia
constitui exame de corpo de delito.
As demais periciais, caso não sejam requeridas nem providenciadas de ofício pelo magistrado,
não têm esta força de anular o processo, ao passo que o exame de corpo de delito é uma perícia
obrigatória.
Por isso, fiz questão de inserir no conceito acima que o exame de corpo de delito é o que visa
apurar os vestígios oriundos diretamente da conduta típica, isto é, do núcleo do tipo.
No estupro com lesão corporal, por exemplo, o exame de corpo de delito é o laudo médico
que registra as referidas lesões, e não o exame no eventual esperma cujos vestígios ainda constavam
no lençol.
No homicídio, o exame de corpo de delito é a necrópsia feita no cadáver da vítima. Outras
perícias, como o exame balístico e o exame das digitais do acusado, conquanto úteis, não constituem
exame de corpo de delito, de modo que a sua falta não gerará a nulidade do processo.
Caso seja encontrado só uma parte mínima do cadáver, por exemplo, a arcada dentária, a
perícia odontológica que identifica a vítima terá o “status” de exame de corpo de delito, à medida
que se prestou à prova irrefutável da materialidade.
Há, a rigor, no tocante à prova da materialidade das infrações penais que deixam vestígios
materiais, resquícios do sistema da prova legal ou tarifada, posto que o legislador não aceita outro
meio de prova, mas apenas o exame de corpo de delito, quando este for possível, negando validade
até mesmo à confissão da réu.
Nem por isso, entretanto, o exame de corpo de delito se classifica como uma prova
hierarquicamente superior às outras, pois, diante de contraprova, o juiz poderá lhe negar valor.
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Exemplo: a prova testemunhal convence o magistrado que as lesões corporais detectadas no exame
de corpo de delito não foram produzidas pelo réu.
Na doutrina, o corpo de delito costuma ser definido como sendo o conjunto de todos os
vestígios deixados pela infração penal.
A meu ver, porém, o corpo de delito se refere apenas ao conjunto dos vestígios essenciais à
existência da infração penal. No homicídio, por exemplo, o corpo de delito é o cadáver e não os
buracos na parede deixados pelos disparos de arma de fogo desfechados pelo réu na direção da
vítima.
O exame de corpo de delito, por sua vez, é uma perícia que se realiza sobre o corpo de delito.
Dessa forma, é possível o corpo de delito sem que haja o respectivo exame de corpo de delito,
por exemplo, em caso de negligência da autoridade policial.
O exame de corpo de delito é obrigatório nos crimes não transeuntes, também denominados
de delitos de fatos permanentes (“delicta facti permanentis”), que são os que deixam vestígios
materiais, passíveis, portanto, de serem analisados. Exemplos: estupro com lesão corporal;
injúria por escrito, etc.
Em relação aos delitos transeuntes, que são os que não deixam vestígios materiais, não há
falar-se em exame de corpo de delito. Exemplos: estupro com grave ameaça, injúria verbal, etc.
A propósito, dispõe o art. 158 do CPP: “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”.
O exame de corpo de delito é a única perícia cujo requerimento não pode ser indeferido pelo
juiz nem pela autoridade policial.
A propósito, dispõe o art. 184 do CPP:
“Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia
requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade”.
Assim, nos delitos não transeuntes, a falta do exame de corpo de delito, direto ou indireto,
gera a nulidade absoluta do processo, se a falta não for suprida pela prova testemunhal (art. 564, III,
b, do CPP).
A referida nulidade é absoluta, pois o art. 572 do CPP, que prevê as nulidades sanáveis, não
faz qualquer menção à falta do exame de corpo de delito.
É claro que se ainda for possível a realização do exame de corpo de delito, o juiz deverá
ordenar a sua feitura, nos termos do art. 156, II, do CPP, reservando-se a decretação da nulidade
apenas às hipóteses de impossibilidade absoluta em se realizar o referido exame.
No tocante à lesão corporal leve, que constitui infração penal de menor potencial ofensivo,
dispensa-se o exame de corpo de delito, podendo a materialidade ser comprovada por boletim
médico ou prova equivalente (art. 77, § 1º, da lei 9.099/95).
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Espécies
O exame de corpo de delito e as demais perícias, em regra, podem ser ordenadas pela
autoridade policial, na fase do inquérito e pelo Ministério Público, nos procedimentos investigatórios
que instaurar.
Na fase processual, porém, somente o juiz pode ordenar a sua realização.
Quanto ao exame de insanidade mental, mesmo na fase do inquérito policial, só poderá ser
ordenado pelo juiz, mediante representação da autoridade policial (art. 149, § 1º, do CPP).
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“Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que
envolva:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência”.
A prioridade é no sentido de ser elaborado na frente dos exames de corpo de delito atinentes
aos demais crimes.
Perito
O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior (art. 159 do CPP).
Assim, o perito, seja oficial ou não, precisará ter curso superior.
Caso o perito não tenha curso superior, há três correntes.
Primeira, o laudo será nulo.
Segunda, será uma mera irregularidade.
Terceira, em regra, o laudo será nulo, salvo quando o assunto não exigir grande conhecimento
técnico, científico ou artístico para se apurar o fato. Num determinado caso concreto, por exemplo,
para se aferir a eficácia da arma em efetuar disparos, o STJ considerou válida a prova pericial
elaborada por dois policiais, sem curso superior, posto que eles tinham “expertise” no assunto.
Espécies de perícia
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Nomeação do perito
Número de peritos
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Peritos oficiais
O perito oficial é um funcionário público concursado que integra os quadros da polícia técnica,
prestando compromisso apenas quando toma posse no cargo, estando, pois, dispensado de prestar
compromisso por ocasião da feitura dos laudos.
Tratando-se, porém, de perícia complexa, que é a que abrange mais de uma área de
conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte
indicar mais de um assistente técnico (§7o do art. 159 do CPP).
O §1o do art. 159 do CPP acrescenta que na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
Assim, em não havendo perito oficial, o exame de corpo de delito deverá ser feito por dois
peritos não oficiais, com curso superior. Caso seja feito por apenas um perito não oficial, a nulidade
será absoluta.
A propósito, dispõe a Súmula 361 do STF:
“No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o
que tiver funcionando anteriormente na diligência de apreensão”.
Estes peritos não oficiais são também chamados de peritos leigos, mas a expressão é
inadequada, pois a atuação deve ser preferencialmente na área onde possui habilitação técnica com
curso superior.
Os peritos não oficiais, diferentemente dos oficiais, prestarão o compromisso de bem e
fielmente desempenhar o encargo (§2o do art. 159 do CPP).
Este compromisso deve ser colhido formalmente, mediante assinatura do respectivo termo,
antes de iniciar a execução de cada perícia. A falta de assinatura do termo de compromisso é uma
mera irregularidade.
Há alguns delitos em que, na falta de perito oficial, a perícia poderá ser realizada por um único
perito não oficial. São os seguintes:
a) crimes de drogas, quer se trate do laudo de constatação ou do laudo definitivo. O perito que
subscreveu o laudo de definitivo pode ser o mesmo do laudo de constatação (art. 50 da lei
13.243/06).
b) crimes militares (art. 318 dó CPPM).
c) crimes contra a propriedade imaterial (art. 530-D do CPP).
d) crimes falimentares. Nesses delitos, o relatório do administrador judicial será acompanhado
do laudo do contador encarregado do exame da escrituração do devedor (art. 186, parágrafo único,
da lei 11.101/2.005).
e) lesão corporal leve, regida pela lei 9.099/95, a materialidade será comprovada por boletim
médico ou prova equivalente (art. 77, §1º, da lei 9.099/95).
Na perícia complexa, quando houver mais de um perito oficial, ou na perícia feita por dois
peritos não oficiais, é possível que haja divergência entre eles.
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O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 (dez) dias, podendo este prazo ser
prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.
O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
A autópsia, porém, será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no
auto (art. 162 do CPP).
A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.
Laudo complementar
Assistentes técnicos
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Os esclarecimentos do perito são feitos através da sua oitiva pelo juiz ou mediante laudo
complementar.
Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, requerer a oitiva dos peritos para
esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos.
Nesse caso, o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas devem
ser encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias.
Também é possível se requerer a inquirição dos assistentes técnicos pelo juiz.
Autópsia
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b) quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade
de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.
Exumação
A exumação é o fato de se desenterrar o cadáver para que possa ser realizado o exame
cadavérico.
A inumação, ao revés, é o fato de se enterrar o cadáver.
Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e
hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de
desobediência.
No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em
lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo
constará do auto.
Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento
pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de
testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver,
com todos os sinais e indicações.
Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que
possam ser úteis para a identificação do cadáver.
Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade policial
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos,
que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos (art. 169 do
CPP).
Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório,
as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.
Perícias de laboratório
No furto qualificado pelo rompimento ou destruição de obstáculo, previsto no art. 155, §4º, I,
do CPP, é indispensável, para o reconhecimento da qualificadora, o exame de corpo de delito
atestando a danificação do obstáculo.
O laudo deve descrever os vestígios e indicar com que instrumentos, por que meios e em que
época presumem ter sido o fato praticado.
A propósito, dispõe o art. 171 do CPP;
“Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou
por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos,
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por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado”.
Perícia de escalada
No tocante ao furto qualificado pela escalada, o art. 171 do CPP, que exige o exame de corpo
de delito, pecou pelo exagero, pois a escalada nem sempre deixa vestígios, caso os deixe, apenas
nessa hipótese, é que o exame de corpo de delito será obrigatório.
Perícia de avaliação
No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo
que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e
as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato (art. 173 do CPP).
Perícia grafotécnica
O exame grafotécnico é o que visa apurar se determinado escrito emanou ou não do réu ou de
outra pessoa, mediante comparação das caligrafias.
É, pois, o exame de corpo de delito exigido nos crimes de falsidade material de documento.
Na falsidade ideológica, não há falar-se em exame grafotécnico, pois o escrito emana da pessoa
competente, recaindo a falsidade apenas sobre o conteúdo, posto que o documento é formalmente
perfeito.
No exame grafotécnico, geralmente o perito dita para a pessoa as mesmas palavras que
pretende confrontar, mas o réu ou indiciado não é obrigado a colaborar, pois não pode ser compelido
a produzir provas contra si mesmo.
Pelo CPP, entretanto, este ditado só é realizado quando não houver escritos para a comparação
ou forem insuficientes os exibidos.
Na fase do inquérito policial, o indiciado, durante o exame, não precisa estar acompanhado de
advogado, mas na fase judicial o advogado é imprescindível, sob pena de nulidade da referida prova.
Para fazer a comparação dos escritos, poderão também servir quaisquer documentos que a
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dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre
cuja autenticidade não houver dúvida.
A autoridade policial ou judiciária, quando necessário, requisitará, para o exame, os
documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a
diligência, se daí não puderem ser retirados.
A perícia grafotécnica gera praticamente uma certeza acerca da autoria do escrito.
Nesse aspecto, cumpre relembrar o caso em que o júri absolveu o réu do crime de homicídio
doloso, para condená-lo pelo culposo, com base em uma carta psicografada pelo famoso médium
Chico Xavier, na qual a vítima morta reconheceu a inocência do acusado, confirmando a versão de
que o disparo que a matou teria sido acidental.
Foi feito o exame grafotécnico e, para a surpresa de todos, a caligrafia realmente coincidia com
a da vítima. O detalhe é que Chico nem conhecia a vítima nem o réu, tendo sido descartada qualquer
hipótese de fraude.
Trata-se, pois, de um enigma, que a ciência ainda precisa decifrar.
DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
Conceito
Natureza jurídica
No sistema inquisitivo, o interrogatório é um meio de prova, pois o acusado não pode se recusar
a responder às perguntas. Por consequência, a função do interrogatório, no sistema inquisitivo, é a
busca da verdade real.
No Brasil, não obstante previsto no título referente às provas, o certo é que, tendo em vista
que a Constituição Federal assegura ao acusado o direito ao silêncio, o interrogatório se reveste da
natureza jurídica de meio de defesa. Trata-se da defesa direta, onde o acusado tem a oportunidade
de rebater a acusação.
De fato, o objetivo central do interrogatório não é a produção de prova, mas, sim, lhe
proporcionar o direito de defesa. Os argumentos dessa corrente são os seguintes:
a) o direito à entrevista prévia com o seu defensor, antes de ser interrogado;
b) o direito ao silêncio;
c) a proibição de se interpretar o silêncio em seu desfavor;
d) a inserção do interrogatório como sendo o último ato da instrução probatória.
e) a mera faculdade do réu em atender à intimação para interrogatório, sendo vedada a sua
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condução coercitiva.
f) a possibilidade de exercer a autodefesa e indicar provas (art. 189 do CPP).
Assim, sobre a natureza jurídica do interrogatório, prevalece que se trata de ato de defesa,
mas há ainda as correntes que o encaram como sendo:
a) um meio de prova, pois se encontra no capítulo referente das provas. É um argumento
topográfico, que não pode sobrepor à essência do ato.
b) um meio preponderante de prova e secundariamente um meio de defesa. Esta teoria mista
argumenta que o interrogatório visa formar o convencimento do magistrado na busca da verdade
real.
c) é um meio preponderante de defesa e secundariamente um meio de prova.
Momento do interrogatório
O interrogatório, desde o advento da lei 11.719/08, de primeiro passou para o último ato da
instrução processual, tanto no procedimento comum quanto no sumaríssimo, outrossim, no júri.
Assim, na audiência instrução e julgamento, nos termos do art. 400 do CPP, a ordem é a
seguinte:
a) declarações da vítima;
b) inquirição das testemunhas de acusação;
c) inquirição das testemunhas de defesa;
d) esclarecimentos dos peritos;
e) acareações;
f) reconhecimento de pessoas e coisas;
f) interrogatório do acusado.
Há, contudo, quatro procedimentos onde o interrogatório figura como sendo o primeiro ato.
São os seguintes:
a) lei de drogas (art. 57 da lei 11.343/06);
b) crimes militares (arts. 302 e 404 do CPPM);
c) crimes de licitação (art. 104 da lei 8.666/93);
d) crimes de competência originária dos tribunais (art. 7 da lei 8.037/90).
Nessas hipóteses, entretanto, o plenário do STF já decidiu que, desde o advento da lei
11.719/08, o interrogatório também deverá ser o último ato da instrução processual, pois é a maneira
de se melhor preservar o princípio da ampla defesa, impondo-se se, destarte, o emprego da
interpretação sistemática.
A todo tempo o juiz, antes de prolatar a sentença, poderá proceder a novo interrogatório de
ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes (art. 196 do CPP).
Como o interrogatório é o último ato do processo, será difícil ocorrer um novo interrogatório.
O tribunal, antes de julgar o recurso, também tem a faculdade de determinar a realização de
um novo interrogatório (art. 616 do CPP).
Condução coercitiva
O art. 206 do CPP prevê a condução coercitiva para o interrogatório ou qualquer outro ato que
não possa ser realizado sem a presença do acusado, como, por exemplo, o reconhecimento pessoal.
Não obstante o art. 206 do CPP condicione a condução coercitiva ao não atendimento da
intimação pessoal, o certo é que na prática alguns juízes já expediam o mandado de condução
coercitiva juntamente com o mandado de busca e apreensão domiciliar, como ocorreu com o ex-
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Ausência do interrogatório
O réu tem o direito de ser interrogado e o juiz o dever de lhe dar esta oportunidade, sob pena
de nulidade do processo, por violação do princípio da ampla defesa.
Conquanto o réu possa abrir mão do direito de ser interrogado e de participar da audiência de
instrução e julgamento, o juiz não pode se omitir em lhe intimá-lo para estes atos.
Em suma, se o réu não for intimado para interrogatório haverá nulidade absoluta do processo,
mas, uma vez intimado, pode se recusar a ser interrogado.
Características
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II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a
presença de seu patrono.
O silêncio não importará em confissão e nem poderá ser interpretado em prejuízo da defesa
(parágrafo único do art. 186 do CPP).
Quanto ao art. 198 do CPP, que estatui que o silêncio servirá para formação do convencimento
do magistrado, não foi recepcionado pela Constituição. Ainda que se interprete de forma diferente,
teria sido revogado tacitamente pelo parágrafo único do art.186 do CPP, introduzido por lei
posterior.
h) garantia da liberdade de autodeterminação.
O interrogatório não pode ser feito pelo juiz em tom de ameaças e nem através de perguntas
capciosas e complexas.
As perguntas devem ser claras e objetivas.
São também proibidos, ainda que o réu consinta, os meios que afetam a sua liberdade psíquica.
Exemplos: hipnose, soro da verdade. Outrossim, o polígrafo e outros detectores de mentira.
O CPP não prevê o tempo máximo de duração do interrogatório, mas o exagero, sem intervalo,
pode caracterizar tortura psicológica, ou seja, tratamento desumano e degradante, em flagrante
violação à Constituição Federal.
i) ato público
Em regra, o processo é público e, por consequência, o interrogatório também o será,
franqueando-se o acesso ao público em geral.
Excepcionalmente, a publicidade poderá ser restringida, nos processos que, por força de lei
tramitam em segredo de justiça, e noutras hipóteses determinadas pelo juiz para defesa da
intimidade e da ordem pública ou social.
Em havendo segredo de justiça, a publicidade será restrita, pois só poderão participar o juiz, o
Ministério Público, o acusado, o seu defensor e os funcionários da justiça, vedando-se o acesso ao
público em geral.
j) garantia de entrevista prévia e reservada com seu respectivo advogado ou defensor público,
antes de ser interrogado.
Em qualquer modalidade de interrogatório, ainda que realizado mediante vídeoconferência, o
juiz garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor durante um tempo
razoável.
O direito de entrevista prévia e reservada, que é uma conversa reservada entre o réu e seu
advogado ou defensor público, para acertar os pontos da defesa.
Antes da lei 13.869/2019, o referido direito não precisava ser assegurado antes da audiência
de instrução e julgamento, mas apenas antes do interrogatório.
A aludida lei, entretanto, assegura a entrevista pessoal antes de qualquer audiência judicial.
Além disso, o réu tem o direito de sentar-se ao lado do seu advogado ou defensor e com ele
comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência
realizada por videoconferência.
Caso o advogado ou defensor, antes da audiência queira realizar uma entrevista com o réu preso,
deverá deslocar-se por conta própria até o presídio, pois o Poder Judiciário não tem o dever de
escoltar o preso até a Defensoria Pública.
Se o interrogatório for realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a canais
telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado
presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.
Assim, no interrogatório por videoconferência, há necessidade de dois advogados ou dois
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Local do interrogatório
Estando o réu solto, o interrogatório será realizado na sala de audiência do fórum do juízo onde
tramita o processo.
Abre-se exceção ao réu que reside noutra comarca. Nesse caso, o interrogatório poderá ser
feito no juízo deprecado, mas só depois de toda a instrução ser concluída, pois o interrogatório é
sempre o último ato da instrução.
O princípio da identidade física do juiz, conforme já visto anteriormente, é relativo e, por isso,
não há qualquer problema em ser excepcionado.
Quanto ao interrogatório do réu preso, poderá ser realizado nos seguintes lugares:
a) em sala própria do presídio em que estiver recolhido. O interrogatório nesse local só será
possível quando se garantir a segurança do juiz, do membro do Ministério Público e dos auxiliares
bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. Este interrogatório não pode ser feito na
cela, mas sim numa sala própria, ou seja, específica para se realizar audiência ou reuniões. A
publicidade também deve ser observada, mas de forma restrita, vedando-se o acesso ao público em
geral, com o fito de se garantir a segurança do presídio e da sociedade.
b) na sala de audiência do fórum do juízo onde tramita o processo., quando não for possível
nos lugares acima. Nesse caso, será requisitada a apresentação do réu preso em juízo, mediante
escolta. Pelo CPP, a regra é que o interrogatório do réu preso se realize no presídio, mas na prática é
na sala de audiência do fórum.
c) por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens.
Interrogatório por vídeo conferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real.
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DA CONFISSÃO
Conceito
Confissão é o meio de prova em que o acusado admite a autoria da infração penal que lhe é
imputada.
Toda vez que o réu confessar, o juiz deve lhe indagar os motivos do crime e se há outras pessoas
envolvidas no delito.
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Natureza jurídica
Classificação
Características
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Momento da confissão
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A confissão, em regra, é feita durante o interrogatório do acusado, mas nada obsta seja
também feita fora do interrogatório, nas, nesse caso, será tomada por termo nos autos.
DECLARAÇÕES DO OFENDIDO
Conceito
Ofendido ou vítima é o sujeito passivo da infração penal, ou seja, o titular do bem jurídico lesado
ou exposto a perigo de lesão.
Não se confunde com o prejudicado pelo crime, pois este pode ser qualquer pessoa que, na
esfera cível, tenha direito à indenização em razão da prática do crime.
No furto de veículo, por exemplo, a seguradora não se enquadra como vítima, mas, sim, como
prejudicada.
Declarações da vítima
Sempre que possível, a vítima será ouvida, tanto na fase policial quanto na judicial. Às vezes,
porém, não é possível a sua oitava, como no caso de morte ou desaparecimento.
A vítima, para ser ouvida, poderá ser arrolada tanto pela acusação quanto pela defesa.
Caso não tenha sido arrolada pela acusação nem pela defesa, o juiz poderá determinar de ofício
a sua oitiva, ainda que se trate de ação penal privada, onde ela já figura como querelante. Outrossim,
quando ela já figurar como assistente de acusação na ação penal pública.
Antes de ser inquirido, o ofendido será qualificado para só depois lhe ser perguntado sobre as
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor e as provas que possa indicar.
A vítima, ao contrário da testemunha, não presta depoimento nem compromisso, mas, sim,
declarações, não estando sujeita ao crime de falso testemunho, mas se atribuir a autoria a uma
pessoa, sabendo da sua inocência, responderá pelo crime de denunciação caluniosa ou então de
calúnia, conforme haja ou não a instauração, contra esta pessoa, de um dos procedimentos previstos
no art. 339 do CP.
Além disso, a vítima, embora também deva ser arrolada na denúncia ou queixa, não é
computada no rol de testemunhas.
Não há, destarte, limite ao número de vítimas que podem ser ouvidas.
A testemunha pode eximir-se de depor nas situações do art. 206 do CPP, ou seja, quando o réu
for seu ascendente, afim em linha reta, descendente, cônjuge ou irmão, salvo quando não for possível
por outro meio se obter a prova dos fatos.
Nessas hipóteses, porém, a vítima não poderá se eximir de prestar as declarações.
A vítima, quando intimada para prestar declarações, deixar de comparecer sem motivo justo,
ao contrário da testemunha, não responderá pelo crime de desobediência, mas também poderá ser
conduzida coercitivamente à presença da autoridade policial ou judicial.
Esta condução coercitiva pode ser decretada para a sua oitiva ou para a realização do exame
de corpo de delito ou para outros atos em que a sua presença seja necessária.
Claro que a vítima, a não ser que consinta, não poderá ser compelida a realizar os exames
periciais que invadem a sua intimidade, como, por exemplo, a perícia que visa comprovar o seu
defloramento.
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O §1o do art. 201 do CPP refere-se à condução coercitiva pela autoridade, sem distinguir entre
a policial e a judicial e, por isso, segundo a doutrina dominante, ambas podem determinar a condução
coercitiva, pois onde a lei não distingue ao intérprete não é lícito distinguir.
Frise-se, porém, que a vítima que não comparece não responde pelo crime de desobediência,
pois a lei prevê a condução coercitiva, mas não faz a ressalva expressa sobre a existência do crime de
desobediência.
Diversamente, a testemunha, responderá por este delito, por força do § 1o do art. 201 do CPP
que, em relação a ela, além da condução coercitiva, ressalva expressamente a existência do delito de
desobediência.
Espaço reservado
Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para
o ofendido (§4º do art. 201 do CPP). Esta providência é para evitar que o ofendido seja constrangido
pelo acusado.
O contraditório, entretanto, terá que ser preservado durante as declarações do ofendido.
Aliás, nos termos do art. 217 do CPP, quando verificar que a presença do réu poderá causar
humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou à vítima, de modo que prejudique a
verdade do depoimento, o juiz deverá fazer a inquirição por videoconferência e, somente na
impossibilidade de inquirir a testemunha e a vítima por videoconferência, é que o juiz determinará a
retirada do réu, realizando-se inquirição com a presença do seu defensor.
O ofendido, consoante o §2o do art. 201 do CPP, esteja o réu preso ou solto, será comunicado
pessoalmente dos seguintes atos processuais relativos:
a) ao ingresso e à saída do acusado da prisão;
b) à designação de data para audiência, ainda que não tenha sido requerida a sua inquirição;
c) da sentença;
d) dos eventuais acórdãos que tenham mantido ou modificado a sentença.
As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado, admitindo-se,
por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico (§ 3o do art. 201 do CPP).
Vê-se assim que a intimação será pessoal e não através do advogado.
Atendimento multidisciplinar
Segredo de justiça
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meios de comunicação, pois, estes, sobretudo, quando o crime é praticado contra alguma
celebridade, entram em alvoroço e não medem esforços para publicarem a notícia.
Por isso, nos processos que não sejam sigilosos, o juiz poderá determinar o segredo de justiça
em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a respeito da vítima.
É claro que, em relação aos processos que já tramitam em segredo de justiça, o acesso aos
autos já será automaticamente vedado ao público em geral.
Valor probatório das declarações da vítima
Sobre o valor probatório das declarações da vítima, à semelhança dos demais meios de prova,
é também relativo e, por isso, o juiz, para formar o seu convencimento, deve confrontá-las com as
demais provas.
Nos crimes cometidos em recintos fechados, sem testemunhas oculares, como é o caso dos
delitos contra a dignidade, prova se revela diabólica, pois o fato se torna de difícil comprovação, razão
pela qual as declarações da vítima ganham uma importância maior, mas, ainda assim, não pode ter
valor absoluto nem dispensar outras provas com as quais deverá também ser confrontada.
PROVA TESTEMUNHAL
CONCEITO
CLASSIFICAÇÃO
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se inclui o companheiro.
f) numerárias: é a arrolada pela parte e computada para efeito do número máximo de
testemunhas, pois se sujeita ao compromisso.
g) extranumerária: é a que não é computada no número máximo de testemunhas que cada
parte pode arrolar. Estas testemunhas podem ser arroladas sem limite. São as testemunhas judiciais,
isto é, ouvidas de ofício pelo juiz, os informantes arrolados pelas partes, mas não sujeitos a
compromisso legal, bem como a testemunha arrolada pela parte, que nada souber que interesse à
decisão da causa.
h) própria: é a depõe sobre o fato criminoso que é objeto do processo.
i) imprópria ou instrumentária ou fedatária: é a que depõe sobre a regularidade de um ato
processual. Exemplo: testemunhas da apresentação do preso à autoridade por ocasião do auto de
prisão em flagrante (art. 304, § 2º, do CPP).
j) testemunha de canonização ou de caráter ou de antecedente: é a que depõe sobre a vida
pessoal do réu. Exemplo: diz que o réu é trabalhador e um bom pai de família.
k) testemunha remota: é a que depõe através de videoconferência.
l) testemunha de fora da terra: é a ouvida noutro juízo, através de carta precatória.
m) testemunha vulnerável: é a suscetível de ser facilmente intimidada com a simples presença
do acusado. Exemplos: idosos, vítimas de crimes sexuais, vítimas de crimes ocorridos em recinto
familiar, menores de 14 anos, doentes mentais, pessoa que não pode oferecer resistência.
n) testemunha suspeita: é a que tem interesse ou motivo para mentir. Exemplo: amigo íntimo
do réu. Outro exemplo: inimigo do réu. Mais um exemplo: pessoa que depende economicamente do
réu.
o) testemunha anônima: é aquela cuja identidade não é revelada ao acusado, que não terá
assim acesso ao seu nome, endereço, etc. É prevista na lei 9.807/99, que visa proteger vítimas e
testemunhas, quando houver fundados indícios de ameaças à integridade física e moral. Este
anonimato depende de uma decisão judicial. A restrição da publicidade é plenamente justificável
pelo interesse social.
De acordo com o STF, porém, o defensor do acusado deverá ter acesso aos dados qualificativos
da testemunha, sob pena de violação do princípio da ampla defesa, mas ele obviamente deverá
manter o sigilo.
p) testemunha ausente: é a que não comparece para prestar depoimento em juízo. Caso não
seja mais possível ouvi-la, por exemplo, morte ou superveniência de doença mental, o depoimento
prestado na fase policial terá valor probatório complementar ou subsidiário, nos termos do art. 155
do CPP, mas não poderá embasar com exclusividade uma condenação, salvo em duas hipóteses. A
primeira ocorre quando a ausência da testemunha emanar de ato ilícito do próprio acusado.
Exemplo: o réu mata a testemunha. Outro exemplo: a testemunha, diante das ameaças do acusado,
tomou rumo ignorado. A segunda situação, que é o depoimento “ad perpetuam rei memoriam”, se
verifica quando a oitiva, na fase investigatória, fora colhida pelo juiz, na presença do acusado e de
seu defensor, mediante produção antecipada de provas, nos termos do art. 225 do CPP.
Características
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204 do CPP).
Será nulo o depoimento da testemunha que se limita a ratificar o seu depoimento prestado na
fase policial, após ter sido lido pelo magistrado.
Admite-se, contudo, que algumas pessoas prestem depoimento por escrito, mediante
observância do contraditório, com formulação das perguntas por escrito pelas partes e transmitidas
ao depoente através de ofício.
Com efeito dispõe o § 1o do art. 221 do CPP:
“O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara
dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por
escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão
transmitidas por ofício”.
Outras exceções são os depoimentos do mudo, do surdo e do surdo-mudo que, nos termos do
parágrafo único do art. 223 c/c art. 192 do CPP, serão feitos pela forma seguinte:
I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente;
II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito;
III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as
respostas.
c) objetividade: o depoimento deve versar sobre o que a testemunha viu, sentiu e ouviu e não
sobre o que pensa. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo
quando inseparáveis da narrativa do fato (art. 213 do CPP).
d) retrospectividade: o depoimento deve recair sobre fatos já ocorridos e não sobre o que ainda
poderá ocorrer. Assim, a testemunha não pode depor sobre fatos futuros, ou seja, ainda não
ocorridos, salvo no depoimento que versa sobre informações técnicas como na hipótese do
testemunho de um médico ortopedista que atesta que a incapacidade oriunda da lesão não será
permanente.
e) individualidade: as testemunhas serão inquiridas cada uma de per si.
f) incomunicabilidade: uma testemunha não pode ouvir o depoimento da outra. Antes do início
da audiência e durante a sua realização, serão reservados espaços separados para a garantia da
incomunicabilidade das testemunhas (parágrafo único do art. 210 do CPP). Assim, o juiz deve
velar pela incomunicabilidade das testemunhas, mas caso elas se comuniquem não haverá nulidade,
mas mera irregularidade. Diferentemente, no júri, os jurados, sob pena de nulidade do julgamento,
não podem se comunicar (arts. 466, § 1º e 564, III, "j", do CPP).
Dever de comparecer
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Dever de qualificação
A qualificação, que é feita logo após o compromisso, é o dever de a testemunha declarar seu
nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é
parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer dela (art. 203 do
CPP).
Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha, o juiz procederá à verificação pelos meios
ao seu alcance, podendo, entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo (art. 205 do CPP).
Vale lembrar que o rol de testemunhas, sempre que possível, também deve qualificar as
testemunhas.
Não há, no tocante à qualificação, o direito ao silêncio. A testemunha que se recusa a fornecer
os dados de sua qualificação comete a contravenção penal do parágrafo único do art. 68 da LCP. E,
caso forneça dados falsos, responderá, para uma corrente, pelo crime de falsa identidade (art. 307
do CP), enquanto outra sustenta que o crime é de falso testemunho (art. 32 do CP).
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Dever de depor
A testemunha não tem direito ao silêncio. Caso se recuse a depor será presa em flagrante pelo
delito de falso testemunho.
Assim, em regra, a testemunha não pode se recusar a depor, salvo nas hipóteses do art. 206 do
CPP.
Com efeito, poderão se recusar a depor o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o
cônjuge, ainda que desquitado (separado judicialmente), o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo
do acusado. Por isonomia ao casamento, também deve ser incluído o companheiro da união estável
ou da união homoafetiva.
O objetivo da lei é preservar a paz familiar.
As aludidas pessoas, entretanto, caso queiram, poderão depor, mas não prestarão
compromisso.
Ainda que não queiram, terão o dever de depor, sem prestar compromisso, quando não for
possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
O informante que prestar depoimento falso ou se recusar a responder às perguntas, para uns,
incidirá no crime de falso testemunho; outros, ao revés, os eximem deste delito, ante à ausência do
compromisso e também pela inexigibilidade de conduta diversa em função dos laços familiares que
mantém com o réu.
Por outro lado, estão proibidas de depor, nos termos do art. 207 do CPP, as pessoas que, em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela
parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.
São os chamados confidentes necessários ou testemunhas sigilatárias. Exemplos: padre,
médico, advogado.
Os confidentes necessários têm o dever de guardar segredo, sob pena de cometerem o delito
de violação de segredo profissional, previsto no art. 154 do CP.
Não podem depor, salvo em duas situações.
Primeira, quando houver a autorização do titular do segredo. Ainda que sejam desobrigadas
pelo titular do segredo, haverá a mera faculdade de depor.
Segunda, mesmo sem autorização do titular do segredo, salvo quando houve justa causa. De
fato, o sigilo profissional cederá em face de circunstâncias excepcionais que configurem justa causa,
como nos casos de grave ameaça ao direito à vida e à honra ou que envolvam defesa própria.
Nestas duas situações, o depoimento será sob o compromisso de dizer a verdade,
respondendo, portanto, pelo delito de falso testemunho.
Cumpre ainda esclarecer que qualquer pessoa poderá ser testemunha, inclusive, os menores
de 14 anos e os doentes mentias, mas é claro que não prestarão compromisso.
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No tocante aos policiais que participaram da diligência de prisão ou das investigações, também
podem ser testemunhas.
Discute-se, porém, se esse tipo de depoimento poderia ou não embasar, por si só, uma
condenação. Há três correntes.
Primeira, trata-se de uma testemunha suspeita e, por isso, o depoimento não poderia embasar
uma condenação.
Segunda, trata-se de um agente público dotado de credibilidade, pois seus atos gozam da
presunção de legitimidade e, diante disso, a condenação poderia se estribar exclusivamente nos
testemunhos policiais.
Terceira, trata-se de uma prova igual às demais, pois não há hierarquia entre as provas,
podendo o juiz valorá-la como outra prova qualquer, inclusive, para fundamentar uma condenação.
Número de testemunhas
De acordo com a doutrina, a acusação deve arrolar as testemunhas na denúncia ou queixa, sob
pena de preclusão (art. 41 do CPP).
Na jurisprudência, caso a denúncia ou queixa tenha sido oferecida sem testemunhas, o STJ
permite que, até antes da citação, seja apresentado o rol, podendo o juiz intimar o órgão acusatório
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Substituição de testemunhas
O CPP é omisso acerca da substituição de testemunhas, mas, desde que não haja má-fé da
parte, será possível nas hipóteses do art. 451 do CPC, aplicável por analogia.
De acordo com o art. 451 do CPC, depois de apresentado o rol, a parte só pode substituir a
testemunha:
I - que falecer;
II - que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;
III - que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for encontrada.
Fora dessas hipóteses, a substituição só será possível mediante concordância das partes.
O CPP também previa a substituição de testemunhas, nos arts. 397 e 405, cuja redação fora
modificada pela lei 11.719/08, que acabou se omitindo acerca do assunto. O silêncio não fora
intencional ou eloquente, mas fruto de um lapso, sendo suprível a lacuna através da analogia.
Desistência da testemunha
O §2o do art. 401 do CPP preceitua que a parte poderá desistir da inquirição de qualquer das
testemunhas arroladas, mas o juiz poderá ouvi-las de ofício.
A desistência é um ato unilateral da parte, pois não depende da anuência da outra parte.
Por isso, para de precaver da desistência, nada obsta que a acusação também arrole
testemunhas arroladas pela defesa e vice-versa.
A desistência pode ser solicitada até durante a audiência una de instrução e julgamento.
É vedada a desistência em duas hipóteses:
a) após o início do depoimento;
b) durante a sessão de julgamento do plenário do júri, salvo mediante anuência dos jurados,
do juiz - presidente e da parte contrária.
Direito de confronto
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Antes de iniciado o depoimento, nos termos do art. 214 do CPP, as partes poderão arguir:
a) a contradita da testemunha;
b) a parcialidade da testemunha.
A contradita ou arguição de parcialidade deve ser apresentada antes do início do depoimento,
sob pena de preclusão, mas há quem sustente que pode ser arguida até antes do fim do depoimento.
O juiz fará consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só excluirá a
testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208.
Contradita é o meio utilizado pela parte contrária para impedir o depoimento da testemunha.
A parte que arrolou a testemunha também poderá contraditá-la, mas nesse caso a desistência é o
meio mais eficaz.
Na arguição de parcialidade, por sua vez, o que se visa não é a exclusão da testemunha, mas
sim a exclusão do seu compromisso, mediante comprovação de circunstâncias ou defeitos, que a
torna suspeita de parcialidade, ou indigna de fé, reduzindo-se, destarte, o valor probatório do seu
depoimento.
Diante das situações dos arts. 207 e 208 do CPP, a parte pode contraditar a testemunha ou
simplesmente arguir a sua parcialidade.
Com efeito, logo após a qualificação, é lícito à parte contraditar a testemunha ou arguir a sua
parcialidade.
O juiz deverá então ouvir a testemunha sobre os fatos que buscam impugná-la. Caso ela negue,
a parte poderá comprovar a contradita ou a arguição de parcialidade com documentos ou com
testemunhas apresentadas no ato e inquiridas em separado.
Sendo provados ou confessados os fatos a que se refere, o juiz dispensará a testemunha ou lhe
tomará o depoimento como informante.
Vê-se assim que a apresentação prévia do rol de testemunha tem a função de viabilizar a
eventual contradita ou arguição de parcialidade.
O juiz costuma resolver, na própria audiência, o incidente de contradita ou de parcialidade, mas
caso haja necessidade de provas adicionais ele suspenderá a audiência para poder solucionar depois.
A testemunha que residir fora da comarca poderá ser ouvida de duas formas: carta precatória
ou videoconferência.
Na inquirição por carta precatória, o juízo deprecante, que é o que expede a precatória,
fixará prazo razoável para o seu cumprimento e devolução pelo juízo deprecado.
A lei é omissa sobre o prazo para a devolução da precatória, mas na prática costuma variar
entre 30 (trinta) a 90 (noventa) dias.
Na inquirição por precatória, é possível que uma testemunha de defesa seja ouvida no juízo
deprecado antes da testemunha de acusação inquirida pelo juízo deprecante.
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Esta inversão da ordem de inquirição, em se tratando de carta precatória, não provoca nulidade
do processo.
O § 1o do art. 222 do CPP esclarece que expedição da precatória não suspenderá a instrução
criminal, que será realizada normalmente no juízo deprecante para a inquirição das demais
testemunhas.
Findo o prazo marcado para a devolução da precatória poderá realizar-se o julgamento, mas,
a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será juntada aos autos (§ 2o do art. 222 do CPP).
Portanto, a carta precatória sempre deverá ser devolvida e juntada ao processo ainda que já
haja sentença transitada em julgada. Mesmo ciente da sentença, o juízo deprecado deverá cumprir
a precatória, realizando a inquirição.
Se, por ocasião do retorno da precatória, já houver sentença e o processo estiver no tribunal
em grau de recurso, o juiz deverá remetê-la ao tribunal e este então abrirá vista para as partes
complementarem as razões e contrarrazões recursais.
Na hipótese de o retorno da precatória se verificar somente após o trânsito em julgado da
sentença absolutória, não caberá nenhuma medida processual, pois é proibida a revisão criminal “pro
societate”, mas se a sentença for condenatória ainda será possível a revisão criminal, caso a prova
produzida seja capaz de alterar o julgado.
É importante ressaltar que o juízo deprecante deverá apenas intimar a defesa da expedição da
precatória, competindo à própria defesa verificar por conta própria a data da designação da
audiência no juízo deprecado (súmula 273 do STJ).
Caso não haja a intimação da expedição da precatória, a nulidade será relativa, condicionada à
demonstração de prejuízo (súmula 155 do STF).
Se, no juízo deprecado, não houver o comparecimento do advogado do réu, ainda que ele
tenha sido intimado da expedição da precatória, o juiz deverá nomear ao réu um defensor “ad hoc”,
sob pena de nulidade absoluta do depoimento, em virtude da ausência de defesa técnica (súmula
523 do STF).
Quanto à presença do réu solto no juízo deprecado, é facultativa, estando a seu critério
comparecer ou não. Igualmente, quando se tratar de réu preso, salvo quando se ele houver
formulado requerimento prévio solicitando a sua presença, nesse caso, lhe será assegurado o direito
de presença, sob pena de nulidade do depoimento testemunhal.
Outra opção para se inquirir a testemunha que reside fora da comarca é ouvi-la através de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real.
Deverá ser permitida a presença do defensor.
Esta inquirição poderá ser realizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
julgamento (§ 3o do art. 222 do CPP).
Carta de ordem
Nos processos de competência originária dos tribunais, a testemunha que reside noutro local
será ouvida, pelo juízo de primeiro grau, mediante carta de ordem.
Carta rogatória
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Quando a testemunha residir fora do Brasil, a sua inquirição será feita através de carta
rogatória.
O art. 222-A do CPP esclarece, entretanto, que as cartas rogatórias só serão expedidas se
demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de
envio.
Não há qualquer inconstitucionalidade em se exigir previamente a justificativa da
imprescindibilidade do depoimento, conforme já decidiu o STF, pois a referida norma visa preservar
o princípio da duração razoável do processo.
Não foi prevista a utilização de videoconferência para a inquirição de testemunhas que residem
no exterior. Abre-se exceção ao crime organizado transnacional e outros delitos regidos pela
Convenção de Palermo, onde há previsão expressa.
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Ordem de inquirição
A prova testemunhal, em regra, é sempre admissível, salvo nos casos em que a lei não a admite.
Com efeito, não se admite a prova testemunhal nas seguintes hipóteses:
a) exame de corpo de delito, salvo quando não for possível a realização da perícia.
b) prova do estado civil;
c) prova da idade;
d) prova da morte.
Falso testemunho
Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que alguma testemunha fez afirmação falsa,
calou ou negou a verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a instauração
de inquérito (art. 211 do CPP).
Tendo o depoimento sido prestado em plenário de julgamento, o juiz, no caso de proferir
decisão na audiência (art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença, após a votação
dos quesitos, poderão fazer apresentar imediatamente a testemunha à autoridade policial (parágrafo
único do art. 211 do CPP).
Nomeação de intérprete
Quando a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete para traduzir
as perguntas e respostas.
Interprete é o que viabiliza, em tempo real, a comunicação entre duas pessoas.
Difere do tradutor, que é o que verte para o idioma nacional um texto escrito em língua
estrangeira.
O intérprete faz a tradução em tempo real e deverá ser nomeado ainda que o juiz conheça a
língua estrangeira.
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eles relacionadas;
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos
âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada.
Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de
delitos de que trata a Lei 11.340/06, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte
procedimento:
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os
equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar
ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida;
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência
doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial;
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e
a mídia integrar o inquérito.
Conceito
Procedimento
Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, o art. 226 do CPP prevê
que a autoridade policial ou judicial, deverá observar o seguinte procedimento:
I - o reconhecedor, ou seja, a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a
descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras
que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a
apontá-la. Se a pessoa não for colocada ao lado de outras pessoas, permanecendo sozinha na sala,
ainda assim o reconhecimento será válido, pois a lei prevê que ela deva ser colocada ao lado de outras
pessoas, se possível, sem que haja uma obrigatoriedade.
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de
intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a
autoridade providenciará para que esta não veja aquela. O parágrafo único do art. 226 preceitua que
“o disposto neste inciso no III não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de
julgamento”, mas a doutrina sustenta que o magistrado, quando necessário, deve sim tomar as
providências para que a pessoa a ser reconhecida não veja o reconhecedor, quer se trate da fase
policial ou da fase judicial.
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela
pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
A inobservância do procedimento acima será, segundo uma corrente, mera irregularidade, não
acarretando qualquer nulidade.
A 6ª Turma do STJ, porém, passou a decidir que as normas sobre reconhecimento de pessoas
ou coisas devem ser rigorosamente observadas, sob pena de nulidade da prova, pois se tratam de
garantias mínimas para quem se encontra na condição de suspeito da prática de um crime (Habeas
Corpus 598.886-SC).
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Reconhecimento fotográfico
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O exame fonográfico não se confunde com o exame de autenticação de voz, também chamado
de exame de verificação de locutor, perícia que visa apurar se a voz gravada na interceptação
telefônica, ordenada pelo juiz competente, emana ou não de determinada pessoa. Esta, por força do
princípio acima, também não poderá ser compelida a cooperar.
Retrato falado
ACAREAÇÃO
Conceito
A acareação ê o meio de prova que visa sanar as divergências das declarações sobre fatos ou
circunstâncias relevantes, colocando os declarantes frente a frente.
É, pois, o confronto entre pessoas que prestaram depoimentos ou declarações divergentes.
A acareação poderá ser feita tanto na fase policial quanto na fase processual, podendo ser ordenada,
de ofício, respectivamente, pelo delegado de polícia ou pelo juiz.
A acareação pode também ser requerida pela vítima e pelo indiciado ou seu advogado. Quanto
ao Ministério Público, na fase do inquérito policial, pode requisitar a acareação à autoridade policial,
mas na fase judicial terá que requerê-la ao juiz.
A acareação, na fase do inquérito, é presidida pelo delegado de polícia e, na fase judicial, pelo
juiz.
O Ministério Público não pode presidir a acareação, salvo nos procedimentos investigatórios os
criminais instaurados no âmbito do próprio Ministério Público.
Hipóteses
A acareação só é cabível quando a contradição recair sobre fato relevante, isto é, que possa
influir na decisão da causa.
De acordo com o art. 229 do CPP a acareação será admitida entre:
a) acusados;
b) entre acusado e testemunha;
c) entre testemunhas;
d) entre acusado e a vítima;
e) testemunha e a vítima;
f) entre as vítimas.
O pressuposto da acareação é, pois, a divergência sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
Não é cabível a acareação entre o Ministério Público e o advogado do réu e nem entre o
advogado do réu e o assistente de acusação.
Também não existe acareação entre peritos. Em caso de divergência nos laudos perícias, o juiz
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poderá ordenar que os peritos apresentem um laudo complementar ou então nomear um terceiro
perito.
Procedimento
Os acareados, postos frente a frente, serão reperguntados, para que expliquem os pontos de
divergências, podendo confirmar ou alterar a versão anterior.
Em seguida, reduz-se a termo o ato de acareação, consignando-se o que foi dito por cada um
dos acareados (parágrafo único do art. 226 do CPP).
Alguns processualistas sustentam que, no termo de acareação, malgrado o silêncio da lei,
poderá também constar as reações anormais dos acareados. Exemplos: a menção ao nervosismo, o
fato de ter gaguejado, a hesitação nas respostas, etc.
Se um dos acareados residir fora da comarca, em princípio não se expede carta precatória. Com
efeito, os pontos divergentes de suas declarações serão relatados ao acareado presente, que deverá
então esclarecer a divergência, consignando-se no auto o que explicar ou observar. Somente se
subsistir a divergência, ou seja, se for mantida a sua versão, é que haverá necessidade de expedição
de carta precatória para se ouvir o outro acareado.
A propósito, dispõe o art. 230 do CPP:
“Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra, que esteja presente,
a esta se darão a conhecer os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar ou
observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar onde resida a
testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta e as da testemunha presente, nos
pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim de que se complete a diligência,
ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para a testemunha presente. Esta
diligência só se realizará quando não importe demora prejudicial ao processo e o juiz a entenda
conveniente”.
A acareação, quando um dos acareados residir fora da comarca, também pode ser realizada
por videoconferência ou por outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo
real (art. 222, §3o, do CPP). Nesse caso, será expedida a carta precatória para que o juiz deprecante
tenha contato com o acareado que está no juízo deprecada.
Acrescente-se ainda que ninguém poderá ser compelido a se submeter ao procedimento de
acareação. A vítima e a testemunha que não comparecem para a acareação, poderão, contudo, ser
conduzidas coercitivamente, pois há o dever de comparecer, mas não serão obrigados a realizar o
ato.
Quanto ao réu, não tem sequer o dever de comparecer, sendo vedada a sua condução
coercitiva, pois, nesse caso, a acareação é um prolongamento do interrogatório, sendo que o plenário
do STF já decidiu pela vedação da condução coercitiva para o fim interrogatório.
Indeferimento
O indeferimento fundamentado do pedido de acareação, pelo fato de o juiz reputar esta prova
desnecessária, não é causa de anulação do processo, mesmo porque raramente os acareados
modificam as versões anteriores.
Valor probatório
O valor probatório da acareação é o mesmo do meio de prova que o antecedeu, ou seja, terá
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DOS INDÍCIOS
Conceito
Requisitos
Natureza jurídica
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A palavra indício, embora no citado art. 239 tenha sido empregada como um dos meios de
prova, noutras passagens do CPP, no que diz respeito às decisões prolatadas antes da sentença, é
utilizada como sinônima de prova semiplena, quando se refere, por exemplo, à necessidade de
“indícios de autoria” para se decretar a prisão preventiva e para pronunciar o réu (arts. 312 e 413 do
CPP).
A prova plena, cumpre recordar, é a que gera um juízo de certeza, ao passo que a prova
semiplena gera um juízo de probabilidade para o magistrado.
Como se verá adiante, os indícios, à medida que foram inseridos como um dos meios de prova,
podem também ensejar uma prova plena, a ponto de, com base neles, o juiz prolatar sentença
condenatória, pois, tendo em vista a adoção do sistema do livre convencimento, não há falar-se em
hierarquia entre provas, não podendo a prova indiciária ser relegada a uma prova de segunda
categoria.
A existência do crime que deixa vestígios deve ser comprovada através do exame de corpo de
delito direto ou indireto.
Por consequência, os indícios não podem ser utilizados para comprovar a existência do crime,
ou seja, a materialidade. Aliás, nem a confissão se presta para comprovação da materialidade.
Entretanto, os indícios podem ser utilizados para comprovação da autoria e de outros fatos
relevantes, pois, no Brasil, adota-se o sistema do livre convencimento motivado ou da persuasão
racional, competindo ao magistrado atribuir a cada prova o valor que entender adequado.
Aliás, a prova indiciária é muito utilizada para os fatos de difícil comprovação.
Não é correto classificar a prova indiciária sempre como semiplena, pois ela também pode se
revelar plena.
Convém relembrar que a prova semiplena demonstra uma probabilidade e a prova plena revela
uma certeza.
Por consequência, a prova semiplena, por si só, não pode embasar uma condenação.
A prova indiciária pode gerar um juízo de probabilidade ou de certeza, conforme as
características da premissa maior ou dos próprios indícios.
Se a premissa maior revela certeza, a prova indiciária também gerará uma certeza. Exemplo:
a) premissa maior: ninguém pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
b) premissa menor: João, no dia e horário do crime, estava num restaurante.
c) conclusão: não foi João o autor dos golpes de faca desferidos contra a vítima.
Vê-se assim que da prova do álibi se deduz a negativa de autoria.
Se, ao revés, a premissa maior revela apenas probabilidade, a prova indiciária, em regra,
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também gerará probabilidade, mas o conjunto de indícios poderá levar à certeza, ainda que,
isoladamente, todos eles conduzam a uma mera probabilidade.
Exemplo:
a) premissa maior ou regra geral. Exemplo: quem é encontrado com uma faca na mão ao lado
do corpo da vítima provavelmente é o homicida.
b) premissa menor ou particular. Exemplo: João foi encontrado com uma faca na mão ao lado
da vítima esfaqueada.
c) conclusão: João provavelmente é o autor do delito.
Entretanto, somando-se a outros indícios é possível se formar o juízo de certeza. Imagine que,
no exemplo acima, ainda havia os seguintes indícios:
a) a camisa de João continha sangue da vítima;
b) a faca apreendida tinha também sangue da vítima;
c) João, na véspera, havia discutido com a vítima.
É, pois, perfeitamente possível que a autoria seja comprovada apenas com base em indícios,
que, nesse caso, se revelará como prova plena. Exemplo de condenação com base em indícios
ocorreu no famoso homicídio cometido contra Isabela Nardoni.
As presunções se baseiam na lei, que dá o fato como provado, dispensando-se outras provas.
Exemplo: o menor de 18 (dezoito) anos é inimputável (art. 27 do CP).
Os indícios são fatos secundários, conhecidos e provados que, por dedução, levam à certeza ou
probabilidade do fato principal, mas que não têm o condão de dispensar outras provas.
A presunção é, pois, o fato que, por força de lei, se considera comprovado. Exemplo: o menor
é penalmente incapaz.
O indício é o fato indicativo, ou seja, que sinaliza o que se pretende provar. Exemplo: a
menoridade é indício de imaturidade.
DA BUSCA E DA APREENSÃO
Conceito
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Também é possível a apreensão sem busca, quando a pessoa se entrega ou a coisa é entregue
espontaneamente à autoridade.
Em regra, porém, a apreensão resulta de uma busca prévia.
Vê-se assim que a busca e a apreensão são duas medidas distintas, mas normalmente
determinadas conjuntamente.
Natureza jurídica
Espécies de busca
Horário da busca
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A busca domiciliar só pode se realizar durante o dia, mediante ordem do juiz competente.
No período noturno, não pode ser determinada nem pelo juiz.
A busca pessoal, que abrange também a busca em veículos, pode ser determinada tanto pelo
juiz quanto pelo delegado de polícia, em qualquer horário, durante o dia ou a noite.
Conceito de casa
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e-mail enviado pelo cliente ao advogado, onde ele traça a estratégia da defesa ou confessa o delito.
Requisitos
A busca domiciliar, durante o dia, em regra, só pode ser realizada com ordem judicial e, à noite,
é vedada, nem o juiz pode autorizá-la.
A expressão “durante o dia” abrange o período após as 5h (cinco horas) e anterior as 21h (vinte
e uma horas).
De fato, configura crime de abuso de autoridade, previsto no art. 22, §1º, III, da lei 13.869/2019,
cumprir mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h
(cinco horas).
Este dispositivo legal, de forma indireta, definiu a noite como sendo o período posterior às 21h
(vinte e uma horas) e anterior às 5h (cinco horas).
Antes desta norma, havia quatro corrente acerca do conceito de noites:
a) o período das 6 (seis) às 20 (vinte) horas, por analogia ao art. 212 do CPC. Era a posição
dominante;
b) das 6 (seis) às 18 (dezoito) horas;
c) o período em que há iluminação solar;
d) o período da aurora ao crepúsculo.
Sem ordem judicial, contudo, poderá ser determinada, durante o dia ou a noite, a busca
domiciliar, nas seguintes hipóteses:
a) com o consentimento do morador;
b) flagrante delito;
c) desastre;
d) para prestar socorro.
A propósito, dispõe o art. 5º, XII, da CF:
“A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial”.
Consentimento do morador
Flagrante delito
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O § 1o do art. 240 do CPP prevê o rol exemplificativo das hipóteses de busca domiciliar, mas
que também se aplicam à. busca pessoal.
É preciso, para se realizar a busca, que haja fundadas razões, sob pena de a prova se revelar
ilícita.
As fundadas razões, dentre outras, são as seguintes:
a) prender criminosos.
O mandado de prisão autoriza a busca pessoal, mas não autoriza a busca domiciliar.
Para que haja a busca domiciliar e prisão, é preciso que no próprio mandado de busca domiciliar
conste também o mandado de prisão ou então que se exiba dois mandados, o de busca domiciliar e
o de prisão.
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos.
As coisas achadas são as perdidas em local público, nesse caso, quem as encontrar deverá
devolver. Quanto às coisas obtidas por meios criminosos, só poderão ser objeto de busca e apreensão
quando se tratar do produto direto do crime, pois, em relação ao produto indireto, a medida cabível
não é a busca e apreensão, mas, sim, o sequestro.
O produto direto é a coisa obtida com a ação criminosa, por exemplo, o veículo furtado.
O produto indireto, por sua vez, é o obtido através da alienação do produto direto, por
exemplo, o carro comprado com o dinheiro roubado. Nesse caso, conforme já dito, a medida cabível
será o sequestro e não a busca apreensão.
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou
contrafeito.
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a
fim delituoso.
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu.
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja
suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato. Ainda que a
carta esteja fechada, tendo em vista que nenhum direito é absoluto, será possível a busca e
apreensão, quando houver suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato.
g) apreender pessoas vítimas de crimes.
Nesse caso, como se trata de uma prestação de socorro, o art. 5º, XI, da CF dispensa até mesmo
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A busca domiciliar autoriza a busca pessoal das pessoas que se encontram na residência
atingida, sem necessidade de nova ordem judicial, quando houver fundada suspeita de que alguém
oculte consigo arma proibida ou um dos objetos mencionados acima (§ 2o do art. 240 do CPP).
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A busca domiciliar será executada por oficiais de justiça ou por policiais civis, que poderão
solicitar o apoio da polícia militar.
Quanto à guarda metropolitana municipal, de acordo com a Lei 13.022/2014, poderá também
realizar busca pessoal, quando houver uma fundada suspeita.
É, entretanto, inconstitucional este poder de policiamento ostensivo, conferido pela Lei
13.022/2014, pois a função da guarda metropolitana, por força do art. 144, §8º, da CF, é a de
proteger os bens, serviços e instalações municipais.
A guarda municipal não tem função preventiva ou de policiamento ostensivo e não pode
também exercer o papel de investigar crimes.
Em casa habitada, a busca será feita de modo que não moleste os moradores mais do que o
indispensável para o êxito da diligência (art. 248 do CPP).
As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem
à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou
a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente sua qualidade e o objeto da
diligência.
Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a entrada.
Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de força contra coisas existentes no
interior da casa, para o descobrimento do que se procura.
Vale lembrar que as ofensas perpetradas contra os policiais caracterizam crime de desacato e
se houver violência ou ameaça para impedir a busca domiciliar o agente responderá pelo crime de
resistência.
Quando ausentes os moradores, ou quando eles forem menores ou incapazes, a busca será
igualmente realizada, mas deverá ser intimado a assistir à diligência qualquer vizinho, se houver e
estiver presente.
A lei exige a intimação do vizinho que estiver presente em três situações:
a) moradores ausentes;
b) moradores menores;
c) moradores incapazes.
O morador será intimado a mostrar a pessoa é objeto da busca. Outrossim, a coisa, quando
esta for determinada.
Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida e posta sob
custódia da autoridade ou de seus agentes.
Finda a diligência, os executores lavrarão o auto de busca e apreensão, assinando-o com duas
testemunhas presenciais; e, no caso de moradores ausentes, o auto também será assinado pelo
vizinho que presenciou a diligência.
O auto de busca e apreensão deve ser circunstanciado, ou seja, é preciso descrever as coisas
apreendidas. A ausência deste laudo torna a prova ilegítima, por violação das formalidades legais.
Este auto, sempre que possível, deverá ser assinado por duas testemunhas presenciais e, se os
moradores estiverem ausentes, os vizinhos que acompanharam a diligência também deverão assiná-
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lo. Se a diligência foi realizada em local ermo ou distante, onde não há testemunhas, o auto será
lavrado sem testemunhas.
Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, os motivos da diligência serão
comunicados a quem tiver sofrido a busca, se o requerer.
A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia, ainda que de
outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, devendo
apresentar-se à competente autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a urgência desta.
Se, entretanto, não houver o segmento ou perseguição, para se adentrar noutra comarca será
necessária a prévia autorização da respectiva autoridade.
Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em seguimento da pessoa ou coisa,
quando:
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem sem interrupção,
embora depois a percam de vista;
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações fidedignas ou
circunstâncias indiciárias, que está sendo removida ou transportada em determinada direção, forem
ao seu encalço.
Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para duvidar da legitimidade das pessoas que,
nas referidas diligências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que
apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre a
diligência.
Busca pessoal
A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da
diligência (art. 249 do CPP). Caso haja retardamento da diligência, a busca pessoal na mulher poderá
ser feita por homem, mas a busca em suas partes íntimas sempre terá que ser feita por outra mulher.
A busca pessoal é cabível nas mesmas situações de busca domiciliar.
Em regra, exige mandado expedido pelo juiz ou pela autoridade policial.
De acordo com o art. 244 do CPP, a busca pessoal independerá de mandado em três situações:
a) no caso de prisão. De fato, para se cumprir mandado de prisão ou quando se tratar de prisão
em flagrante, se faz obviamente necessária a revista pessoal.
b) quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
objetos ou papéis que constituam corpo de delito. Exige-se uma fundada suspeita objetiva, baseada
em elementos concretos, e não meramente subjetiva, estribada na intuição. Onde a lei escreve
“fundada suspeita” leia-se “fundadas razões”, consoante entendimento dominante.
c) quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. Nesse caso, a busca pessoal
pode se estender a todas as pessoas que se encontram no local, ainda que o mandado não se
relacione com elas.
Outra hipótese de dispensa do mandado se verifica na hipótese de a busca pessoal ser realizada
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Recurso
A decisão judicial, que defere ou indefere a busca domiciliar ou pessoal, tem caráter definitivo,
pois extingue o respectivo procedimento cautelar de busca e apreensão.
Por consequência, o recurso cabível contra esta decisão é o de apelação, nos termos do art.
593, II, do CPP.
DA PRISÃO EM FLAGRANTE
Conceito
A palavra flagrante advém do latim “flagrare”, que significa queimar, arder em chamas,
conferindo-se a ideia daquilo que é visível e evidente.
A prisão em flagrante é a que se realiza sem ordem judicial pelo fato de o agente ser
surpreendido no momento da prática da infração penal ou logo depois.
A prisão em flagrante poderá ser realizada em qualquer local, inclusive, em casa alheia,
outrossim, noutra comarca ou Estado da federação, independentemente de prévia autorização
judicial.
Espécies de flagrante
As situações de flagrante delito, que autorizam a respectiva prisão, estão previstas no art. 302
do CPP, que prevê nos incisos I a IV uma ordem decrescente de imediatidade.
Dessa forma, o flagrante se desdobra em:
a) próprio (incisos I e II);
b) impróprio (inciso III);
c) presumido (inciso IV).
Em todas as modalidades, a prisão em flagrante se revela possível para crimes consumados ou
tentados, dolosos ou culposos. Outrossim, para as contravenções, pois a expressão “flagrante delito”
foi empregada pela Constituição em sentido amplo para abranger o gênero “infração penal”.
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Flagrante próprio
Flagrante impróprio
Flagrante presumido
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tipicidade material do crime furto, mas o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado, pois se
verifica a tipicidade formal.
Em princípio, a presença de causas de exclusão da antijuridicidade não impede a prisão em
flagrante.
A propósito, dispõe o §º1 do art. 310 do CPP:
“Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições
constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940
- Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante
termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação”.
Vê-se assim que, em regra, a autoridade policial não poderá se abster de lavrar o auto de prisão
em flagrante, mas por razões lógicas, em casos onde a legítima defesa ou outra excludente da
antijuridicidade ou da tipicidade material se revelar evidente e inequívoca, a autoridade policial
deverá se abster de lavrar o auto de prisão em flagrante, aplicando-se por analogia o §1o do art. 304
do CPP, que autoriza a não lavratura do auto de prisão em flagrante diante da falta de fundada
suspeita.
Quanto às excludentes da culpabilidade, à exceção da menoridade que é disciplinada pela Lei
8.069/90, as demais não impedem a lavratura do auto de prisão em flagrante e, ainda que esteja
evidente a sua presença, a autoridade policial não poderá se eximir de lavrar o flagrante, pois a
análise das excludentes da culpabilidade só pode ser feita pelo juiz.
Sujeito ativo da prisão em flagrante é quem realizou a captura do delinquente, podendo ser
qualquer pessoa, inclusive, a vítima e os agentes policiais.
Conforme já salientado anteriormente, o sujeito ativo não se confunde com o condutor, mas
nada obsta que o próprio sujeito ativo também conduza o capturado até a delegacia de polícia.
A pessoa que deu a voz de prisão, para uns, não poderá transferir a outra que não lhe auxiliou
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na prisão a função de condutor, pois não se pode admitir a prisão em flagrante por delegação. Outra
corrente, entretanto, admite que o condutor pode ser uma pessoa que não tenha participado da
prisão nem presenciado a infração penal. Esta última orientação é a mais correta, pois o CPP não
exige que o condutor tenha participado da prisão.
No tocante ao sujeito ativo, o flagrante se desdobra em facultativo e obrigatório.
Flagrante facultativo
Flagrante obrigatório
O sujeito passivo do flagrante, também chamado de flagranciado, em regra, pode ser qualquer
pessoa, ressalvando-se as hipóteses das imunidades já abordadas anteriormente.
O CPP é omisso acerca da possibilidade de se prender em flagrante o agente que, logo após o
crime, apresenta-se espontaneamente à autoridade policial, confessando a autoria.
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A situação, a rigor, não se encaixa em nenhuma das modalidades de flagrante, previstas no art.
302 do CPP, pois em todas elas se o exige que o preso seja apresentado por “alguém”. Assim, a lei
não prevê o chamado flagrante por apresentação.
Assim, o agente que se apresenta espontaneamente não poderá ser preso em flagrante, mas
nada obsta que o juiz decrete a sua prisão preventiva, quando presentes os requisitos legais, desde
que haja representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Público.
A lavratura do auto de prisão em flagrante deve cumprir os requisitos legais, sob pena de
relaxamento da prisão, mas, nesse caso, não se anulará o eventual processo e nada obsta que o juiz,
desde que presentes os requisitos legais, decrete a prisão preventiva.
Acerca dos requisitos para a lavratura do auto de prisão em flagrante são os seguintes:
a) lavrado por escrito;
b) lavrado pelo escrivão de polícia e presidido pela autoridade policial, em regra;
c) observância da ordem de inquirição e das demais formalidades.
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delito seja praticado na sua presença ou contra ela, no exercício suas funções (art. 307 do CPP).
Há, entretanto, algumas hipóteses em que a presidência do auto de prisão em flagrante é feita
por outras pessoas. São elas:
a) Crime cometido no recinto da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. O auto de
prisão em flagrante pode ser lavrado pela própria Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. A
propósito, dispõe a súmula 397 do STF: “O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a
prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito”.
b) Crime militar. O auto de prisão em flagrante será presidido por uma autoridade militar (art.
245).
c) quando o fato for praticado na presença do juiz ou contra este, no exercício de suas funções.
Nesse caso, o art. 307 do CPP, em sua parte final, autoriza o próprio juiz a presidir o auto de prisão
em flagrante, mas a hipótese, segundo alguns autores, viola o sistema acusatório e, por isso, não
teria sido recepcionado pela Constituição de 1.988. A rigor, não há falar-se em violação do sistema
acusatório, pois este magistrado obviamente não poderá julgar a causa, em razão do seu
impedimento (art. 252, II e IV, do CPP). Nessa situação em que o auto de prisão em flagrante é
presidido pelo magistrado, a doutrina sustenta que não há falar-se em comunicação à autoridade
judiciária competente. A meu ver, o juiz, ao presidir o auto de prisão em flagrante, estará exercendo
função administrativa e, em razão do seu impedimento para exercer a jurisdição, deverá ser feita esta
comunicação ao seu substituto legal.
d) crime praticado por magistrado;
e) crime praticado por membro do Ministério Público.
Quanto à prisão em flagrante dos membros da magistratura e do Ministério Público só é
possível nos crimes inafiançáveis.
No caso dos magistrados, a lavratura do auto de prisão em flagrante deverá ser feita pelo
presidente ou vice-presidente do tribunal ou por um desembargador designado para esse fim.
Quanto aos membros do Ministério Público, o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado
pelo Procurador-geral da Justiça ou da República.
Vê-se assim que o delegado de polícia, ainda que presente o presidente do tribunal ou o
procurador-geral, não poderá lavrar, nessas situações, o auto de prisão em flagrante.
A autoridade policial pode, entretanto, efetuar a prisão em flagrante, mas a lavratura do
respectivo auto não é da sua atribuição.
Ordem de inquirição
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caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a
apresentação do preso à autoridade (§2o do art. 304 do CPP). O CPP se refere à assinatura, mas é
evidente que estas duas testemunhas deverão ser também ouvidas.
Após a inquirição das testemunhas, se procederá ao interrogatório do preso, que deverá ser
informado do seu direto constitucional de permanecer calado.
O preso não será interrogado quando estiver hospitalizado ou impossibilitado por alguma outra
razão, como, por exemplo, embriaguez.
Quanto ao inimputável por doença mental, só será interrogado quando conseguir se expressar.
Caso contrário, o auto de prisão em flagrante será lavrado sem o seu interrogatório. Por cautela, a
fim de se evitar o relaxamento da prisão, é preciso nomear um curador ao inimputável por doença
mental, por analogia ao art. 72 do CPC. Este curador deverá ser um advogado, que deverá
acompanhar a lavratura do auto de prisão em flagrante.
Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência
de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa (art. 304, §4o, do CPP).
Quando o preso se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em
flagrante será assinado por duas testemunhas instrumentais ou fedatárias, ou seja, que tenham
ouvido a leitura do auto na presença do preso (§3o do art. 304 do CPP).
Assistência de advogado
A autoridade policial tem o dever de informar o preso acerca do seu direito de ser assistido por
advogado, nos termos do 5º, LXIII, da Constituição Federal.
É, pois, dever da autoridade policial criar a oportunidade para o preso indicar advogado, mas
este tem a mera faculdade de indicar ou não.
Se a autoridade policial não informar o conduzido deste direito, o auto de prisão em flagrante
será nulo.
Após informar o preso deste direito, se ele não indicar advogado, o auto de prisão em flagrante
será lavrado sem a presença do advogado.
Se, entretanto, o preso indicar advogado, a autoridade policial deverá tomar as medidas para
avisá-lo. Se, entretanto, o advogado indicado não puder ou não quiser comparecer ou não for
localizado, o auto de prisão em flagrante será lavrado sem a sua presença, sem qualquer nulidade,
pois se trata de um procedimento inquisitivo, onde não há contraditório.
Cumpre ainda esclarecer que a autoridade policial não poderá nomear nem indicar advogado
à pessoa presa em flagrante.
Vê-se assim que o auto de prisão em flagrante poderá ser lavrado sem a presença do advogado
constituído, mas se este estiver presente e for barrada a sua participação, haverá nulidade da prisão.
É importante destacar que pratica crime de abuso de autoridade, nos termos do parágrafo
único do art. 15 da lei 13.869/2019, quem prossegue com o interrogatório:
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a
presença de seu patrono.
Dessa forma, caso o advogado indicado pelo preso não seja localizado, o auto de prisão em
flagrante será lavrado, mas a autoridade policial não poderá interrogar o preso.
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Conquanto o CPP seja omisso acerca do prazo para se concluir a lavratura do auto de prisão em
flagrante, a doutrina sustenta que é de 24 (vinte e quatro) horas, a contar da captura, posto que,
dentro deste prazo, deve ser expedida a nota de culpa e realizada a comunicação da prisão ao juiz e
ao Ministério Público.
O §1o do art. 304 do CPP preceitua que, após a inquirição do condutor e das testemunhas, o
auto prisão em flagrante só será lavrado quando houver fundada suspeita contra o conduzido.
A “contrário sensu”, em não havendo fundada suspeita, a autoridade policial se abstém de
lavrar o auto de prisão em flagrante, liberando o conduzido. Ter-se-á, nesse caso, o chamado auto
de prisão em flagrante negativo.
Uma primeira corrente sustenta que se trata da única hipótese de relaxamento da prisão em
flagrante levado a efeito pela autoridade policial.
Outros, ao revés, asseveram que ainda não havia prisão a ser relaxada, posto que o auto de
prisão em flagrante ainda não havia sequer sido lavrado, de modo que a hipótese seria de não
confirmação da voz da prisão.
A referida discussão, entretanto, é destituída de qualquer efeito prático, sendo uma questão
puramente terminológica.
Recolhimento à prisão
Tríplice comunicação
Conforme §1o do art. 306 do CPP, em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão,
será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante.
É crime de abuso de autoridade, nos termos do art. 12, caput, da lei 13.869/2019, “deixar
injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal”.
O juiz competente é o do local da consumação do crime e não o do local onde se verificou a
lavratura do auto de prisão em flagrante, salvo quando o crime também houver se consumado neste
local.
O Ministério Público também deverá imediatamente comunicado, no prazo de 24 horas,
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Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, caso o preso não informe o nome
de seu advogado, será enviada à Defensoria Pública cópia integral do auto de prisão em flagrante
(§1o do art. 306 do CPP).
Vê-se que não há obrigatoriedade de a Defensoria Pública acompanhar a lavratura do auto de
prisão em flagrante.
A Defensoria Pública só será comunicada quando o preso não indicar advogado.
Nota de culpa
A nota de culpa é o documento que a autoridade policial entrega à pessoa presa em flagrante,
dando-lhe ciência da sua prisão.
No prazo de 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será entregue ao preso,
mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, devendo constar o motivo da prisão, o
nome do condutor e os das testemunhas (§2o do art. 306 do CPP).
Este prazo se conta da captura e não da lavratura do auto de prisão em flagrante.
Quando o preso se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o recibo será assinado
por duas testemunhas instrumentárias ou fedatárias.
A nota de culpa cumpre o preceito constitucional que prevê ao preso o direito à identificação
dos responsáveis pela sua prisão (art. 5º, LXIV, da CF). Os responsáveis pela prisão em flagrante são
o condutor e a autoridade policial.
É crime de abuso de autoridade, nos termos do art. 12, parágrafo único, III, da lei 13.869/2019,
deixar de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas.
De acordo com o art. 310 do CPP, interpretado em conjunto com os arts. 282, §2o, 311 e 319
do CPP, ao receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas
após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do
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Dá-se quando as circunstâncias fáticas, preordenadas por outrem, induzem o agente a realizar
a conduta criminosa, ao mesmo tempo em que são tomadas providências inviabilizadoras da
consumação.
A hipótese, que é conhecida como crime de ensaio ou de experiência, depende de dois
requisitos:
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Outro bom exemplo é o da desprevenida empregada que no ato de subtrair as jóias da patroa,
expostas propositadamente ao seu fácil alcance, recebe a voz de prisão do provocador, que armou a
arapuca para comprovar a sua desconfiança sobre a serviçal. Trata-se, sem dúvida, de flagrante
provocado. Se, porém, malgrado o empenho do provocador, a empregada conseguir ludibriar sua
vigilância, subtraindo com sucesso as joias da patroa, caracteriza-se o delito de furto. Nesse caso, não
há crime de ensaio, porque a tomada de providência não tornou absolutamente impossível a
consumação; se o provocador agiu com dolo eventual, assumindo o risco de a larápia consumar a
subtração, ser-lhe-á também imputado o delito de furto, na condição de partícipe. Se, ao invés, o
êxito da gatuna deveu-se à imprudência do provocador, este por nada responderá, uma vez que não
há participação culposa em crime doloso. Se houvesse em nosso Código a figura do furto culposo,
este delito lhe seria imputado.
Por último, cumpre não confundir flagrante provocado e flagrante esperado. No primeiro, a
iniciativa do crime é do provocador; no segundo, a iniciativa emana do próprio agente. O flagrante
provocado é nulo, não há sequer tentativa. O flagrante esperado é válido, subsistindo a tipicidade da
conduta realizada pelo agente.
Dá-se o flagrante esperado quando a polícia toma conhecimento de que alguém irá cometer
um delito, comparecendo ao local para dar voz de prisão ao delinquente. É o que ocorre quando a
vítima da extorsão, não suportando mais as ameaças, avisa a polícia, que a instrui a levar o dinheiro
no lugar combinado pelo extorsionário, que acaba sendo preso no local. Note-se que a conduta de
extorquir foi realizada sem qualquer provocação, de modo que o flagrante é válido, por ser esperado,
e não provocado.
O policial, para surpreender o criminoso em flagrante, pode se disfarçar, fazendo-se passar por
outra pessoa, desde que haja elementos probatórios razoáveis de uma conduta criminal
preexistente.
Trata-se de uma postura legítima, introduzida pela lei 13.964/2019, em relação aos crimes do
§2º do art. 17 e parágrafo único do art. 18, ambos do Estatuto do Desarmamento, outrossim, no art.
33, §1º, IV, da Lei de Drogas, desde que haja elementos probatórios razoáveis de uma conduta
criminal preexistente.
Com relação a outros delitos, há duas exegeses.
Primeira, o flagrante será válido, desde que haja elementos probatórios razoáveis de uma
conduta criminal preexistente, pois o ordenamento jurídico admite todos os meios de prova
moralmente legítimos.
Segunda, o flagrante será nulo, pois o ato de induzir ou instigar a conduta criminal atenta contra
os preceitos morais.
O instituto em análise comporta duas situações:
a) há elementos probatórios razoáveis preexistentes acerca da autoria. Nesse caso, é lícito o
disfarce para se obter a prova da materialidade. Exemplo: o policial disfarçado, após a coleta das
provas da autoria do delito de venda de drogas, se oferece para comprar droga, com o intuito de
comprovar a materialidade, prendendo o traficante em flagrante no ato da entrega da droga. Ainda
que o traficante não possuísse a droga, comprando-a de um terceiro para satisfazer o desejo do falso
cliente, o flagrante será válido, diante da presença de elementos probatórios razoáveis preexistentes
acerca da autoria. Se, ao revés, não havia elementos probatórios razoáveis preexistentes acerca da
autoria, o flagrante será nulo, nos termos da súmula 145 do STF. Antes da lei 13.964/2019, que criou
os tipos penais acima, o flagrante era nulo, ainda que houvessem elementos probatórios
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Dá-se o flagrante esperado quando a polícia toma conhecimento de que alguém irá cometer
um delito, comparecendo ao local para dar voz de prisão ao delinquente.
É o que ocorre quando a vítima da extorsão, não suportando mais as ameaças, avisa a polícia,
que a instrui a levar o dinheiro no lugar combinado pelo extorsionário, que acaba sendo preso no
local.
Note-se que a conduta de extorquir foi realizada sem qualquer provocação, de modo que o
flagrante é válido, desde que feito logo após a exigência da vantagem indevida, por ser esperado, e
não provocado.
Cumpre não confundir flagrante provocado e flagrante esperado. No primeiro, a iniciativa do
crime é do provocador; no segundo, a iniciativa emana do próprio agente. O flagrante provocado é
nulo, não há sequer tentativa. O flagrante esperado é válido, subsistindo a tipicidade da conduta
realizada pelo agente.
Flagrante prorrogado
Flagrante forjado
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Crimes permanentes são aqueles em que a consumação, por vontade do agente, prolonga-se
no tempo.
Há, pois, a manutenção da situação contrária ao direito. O bem jurídico é continuadamente
agredido.
A característica do crime permanente é que a cessação da situação ilícita depende apenas da
vontade do agente. Exemplos: sequestro (CP, art. 148), redução a condição análoga à de escravo (CP,
art. 149), casa de prostituição (CP, art. 229), etc.
Os crimes permanentes classificam-se em necessariamente permanentes e eventualmente
permanentes.
Os primeiros são os delitos para os quais é essencial à sua consumação a manutenção da
conduta ilícita, por um tempo juridicamente relevante. Exemplo: sequestro.
Os segundos são os delitos normalmente instantâneos, mas, no caso concreto, por vontade do
agente, ocorre a manutenção da situação ilícita. Exemplo: furto de energia elétrica (art. 155, § 3o, do
CP) e usurpação de função pública (art. 328 do CP).
Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a
permanência (art. 303 do CPP).
Vale lembrar que, para se realizar a prisão em flagrante, é possível inclusive a violação de
domicílio no período noturno.
Crime habitual é o composto pela reiteração de atos que revelam um estilo de vida do agente.
Exemplos: rufianismo (CP, art. 230); exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (CP,
art. 282); curandeirismo (CP, art. 284); contravenção de exercício ilegal de profissão ou atividade (art.
47 da LCP).
Enquanto no crime habitual cada ato isolado constitui fato atípico, de modo que a tipicidade
depende da reiteração de um número de atos, no crime continuado cada ato isolado, por si só, já
constitui crime.
Cumpre, ainda, não confundir o crime habitual com a habitualidade no crime. No primeiro, a
reiteração do mesmo comportamento é elemento necessário à tipicidade, sendo, pois, característica
do fato. Na segunda, a repetição é uma característica do delinquente, que adquiriu o hábito de
praticar delitos.
Conquanto uma parcela da doutrina negue a possibilidade de prisão em flagrante nos crimes
habituais, pois estes delitos exigem a reiteração de atos, e não apenas um ato isolado, o certo é que
o flagrante é, sim, possível, desde que se consiga demonstrar o conjunto de atos reveladores do
estilo de vida do agente. No delito de estabelecimento de exploração sexual, por exemplo, previsto
no art. 229 do CP, será possível o flagrante quando os agentes policiais se depararem com prostitutas
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e clientes no local.
Flagrante fracionado
O flagrante fracionado é o se verifica no crime continuado quando o agente houver sido preso
em flagrante, por mais de uma vez, por delitos que integram a mesma continuidade
delitiva. Exemplo: no início do mês de abril, o agente foi preso em flagrante por furto, mas acabou
obtendo a liberdade provisória, mas quinze dias depois fora novamente preso em flagrante por outro
furto similar ao anterior, em relação de continuidade delitiva, nos termos do art. 71 do CP.
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PRISÃO PREVENTIVA
Conceito
Prisão preventiva é a decretada pelo juiz para assegurar a eficácia das investigações ou do
processo criminal.
A prisão preventiva não viola o princípio da presunção da inocência, pois se trata de uma prisão
de natureza processual e não do cumprimento antecipado da pena.
Aliás, a própria Constituição Federal admite a prisão antes do trânsito em julgado da
condenação.
A propósito, dispõe o art. 5º, LXI, da CF:
“Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente”.
O art. 5º, LXVI, da CF também preceitua que:
“Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança”.
Natureza jurídica
Trata-se de uma modalidade de prisão cautelar, pois é decretada antes do trânsito em julgado
da sentença condenatória, com o escopo de se assegurar o resultado eficaz do processo.
Quando entrou em vigor o CPP, a prisão preventiva era obrigatória para os delitos com pena
máxima de reclusão igual ou superior a 10 (dez) anos e, para os demais, era facultativa.
Esta classificação se encerrou com a Lei 5.349/67, desde então o juiz, em nenhuma hipótese, é
obrigado a decretar a prisão preventiva.
O §2º do art. 310 do CPP restaurou uma espécie de prisão “ex legis” ou obrigatório, ao dispor
que:
“Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou
milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou
sem medidas cautelares”.
O dispositivo acima é flagrantemente inconstitucional, por violação aos princípios da presunção
de inocência e da jurisdicionalidade.
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A prisão temporária só pode ser decretada na fase das investigações, ao passo que a prisão
preventiva é cabível tanto na fase das investigações quanto na fase processual.
Na prisão temporária, a lei específica, através de um rol taxativo e nominativo, os delitos onde
ela é cabível; na prisão preventiva, por sua vez, o art. 313 do CPP faz menção às hipóteses de sua
admissibilidade, mas sem nominar especificamente os delitos onde a referida prisão seria cabível.
A prisão temporária tem prazo certo de duração, que, em regra, é de 5 (cinco) dias,
prorrogáveis por mais 5 (cinco), sendo que, nos delitos hediondos e equiparados (tortura, terrorismo
e tráfico de entorpecentes), o prazo é de 30 (trinta) dias, prorrogáveis por mais 30 (trinta).
A prisão preventiva, por sua vez, não tem prazo pré-determinado de duração, sendo, pois,
decretada por tempo indeterminado, embora deva ser revista a cada 90 (noventa) dias.
O art. 311 do CPP prevê que a prisão preventiva é cabível em qualquer fase da investigação
policial ou do processo penal.
A fase investigatória, em regra, é feita através do inquérito policial, mas, conforme já
visto anteriormente, o ordenamento jurídico também admite outros procedimentos investigatórios,
como as Comissões Parlamentares de Inquérito e os procedimentos criminais presididos pelo
Ministério Público.
Em todos os procedimentos criminais investigatórios, será cabível a decretação da prisão
preventiva, tanto é que o art. 282, §2º, do CPP, admite a decretação de medidas cautelares pessoais,
entre as quais se inclui a prisão preventiva, no curso de investigação criminal.
O art. 311 do CPP, ao se referir à investigação policial, deve ser interpretado em conjunto com
o citado art. 282, §2º, do CPP, que faz menção à investigação criminal.
Aliás, não há sequer necessidade da instauração formal do inquérito policial para que seja
decretada a prisão preventiva. Basta, conforme preceitua o art. 311 do CPP, a instauração de uma
investigação preliminar, que antecede à formal instauração do inquérito policial.
No tocante aos delitos onde é cabível a prisão temporária, prevista na Lei 7.960/89, segundo
uma parcela da doutrina, não é possível a prisão preventiva durante a fase investigatória, com o
escopo de assegurar a eficácia das investigações, por força do princípio da especialidade.
De fato, à medida que a lei, na fase investigatória, estabeleceu uma prisão específica para se
assegurar o sucesso das investigações, não tem cabimento o magistrado lançar mão da prisão
preventiva.
Nestes delitos da lei 7.960/89, a prisão preventiva só poderá ser decretada após o oferecimento
da denúncia.
Expirado o prazo da prisão temporária sem que a denúncia tenha sido oferecida, o magistrado
não poderá, na fase das investigações, decretar a prisão preventiva.
Força convir, portanto, que, na fase investigatória, a prisão preventiva só poderá ser decretada
em relação aos delitos não abrangidos pela lei da prisão temporária.
Por outro lado, uma vez decretada a prisão preventiva, ainda na fase das investigações, caso o
Ministério Público, em vez de oferecer a denúncia, opte por requisitar diligências complementares à
autoridade policial, uma corrente sustenta que o investigado deveria ser posto em liberdade, pois se
não há elementos para o oferecimento da denúncia também não há, com maior razão, para a
decretação da prisão preventiva.
Outra corrente, ao revés, assevera que, nesta situação de requisição de diligências
complementares, é, sim, possível a prisão preventiva, pois ela pode ser decretada na fase das
investigações antes mesmo de o inquérito policial ser concluído.
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Creio que, desde que haja a certeza da materialidade e indícios suficientes de autoria, a prisão
preventiva pode ser mantida ou decretada, ainda que o Ministério Público requisite o retorno do
inquérito à polícia para a realização de diligências complementares relacionadas a outros aspectos
da peça acusatória. Por exemplo, diligência para se apurar a presença de uma determinada
qualificadora.
A prisão preventiva pode ser decretada no curso das investigações e em toda fase processual,
inclusive, depois do encerramento da instrução criminal.
A instrução se encerra com a produção das provas, mas, mesmo depois de encerrada, será
possível a prisão preventiva.
Nada obsta, portanto, que seja decretada, de forma fundamentada, e nunca automática, na
própria sentença condenatória (§1o do art. 387 do CPP), outrossim, na sentença de pronúncia (§3odo
art. 413 do CPP).
Também é possível sua decretação na fase recursal, desde que não se trate de recurso exclusivo
da defesa.
Tanto na fase da investigação criminal quanto na fase processual, o juiz não pode decretar de
ofício.
A propósito dispõe o art. 311 do CPP, com redação dada pelo Pacote Anticrime:
“Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial”.
De acordo com o STJ, antes da entrada em vigor do Pacote Anticrime, não era ilegal a
decretação de prisão preventiva de ofício, ainda que decorrente de conversão da prisão em flagrante,
pois as normas de natureza processual sujeitam-se ao princípio “tempus regit actum” e não
retroagem para atingir atos praticados antes da sua vigência.
Quanto ao assistente de acusação, só poderá requerer a prisão preventiva na fase judicial, pois
ele não atua na fase policial.
Nos crimes de ação penal privada, o requerimento pode ser formulado pelo querelante.
Na fase processual, o requerimento de prisão preventiva pode ser feito pelo Ministério Público
ou assistente de acusação e, quando se tratar de ação penal privada, pelo querelante.
Quanto à autoridade policial, uma vez encerrada as investigações, não tem mais interesse em
representar pela decretação da prisão preventiva. Noutras palavras, instaurado o processo, o
delegado de polícia não poderá mais pleitear a decretação da prisão preventiva.
Em relação às Comissões Parlamentares de Inquérito, obviamente não poderão decretar
prisões preventivas, mas, no curso da CPI, de acordo com o art. 3o-A da Lei 1.579/1.952, caberá ao
presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, por deliberação desta, solicitar, em qualquer fase
da investigação, ao juízo criminal competente medida cautelar necessária, quando se verificar a
existência de indícios veementes da proveniência ilícita de bens.
Uma corrente, com base neste art. 3o, sustenta que a CPI poderá requerer ao juiz a decretação
da prisão preventiva.
Outra corrente, ao revés, assevera que ela não desfruta de legitimidade, pois a medida cautelar,
a que se refere o citado art. 3o-A, é a que diz respeito à indisponibilidade dos bens adquiridos
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ilicitamente. Nada obsta, entretanto, que a CPI solicite à autoridade policial ou ao Ministério Público
que formulem ao juiz o pedido de prisão preventiva.
Cumpre observar que o STJ tem admitido que o juiz, de ofício, converta a prisão em flagrante
em prisão preventiva.
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O fato de o crime ter tido grande repercussão social, para a primeira corrente, não é
fundamento para a prisão preventiva. Esta hipótese, entretanto, para segunda corrente, pode
justificar a decretação da prisão preventiva para que seja mantida a credibilidade do Poder Judiciário.
Quanto ao desejo de a população linchar o criminoso, não autoriza a prisão preventiva. Nesse
caso, a prisão para protegê-lo se revelaria absurda, pois o Estado pode muito bem lhe conferir
proteção sem ter que prendê-lo.
Por fim, a prisão preventiva pode ser decretada ainda que o réu seja primário, tenha bons
antecedentes, residência fixa, profissão e se porte como bom pai de família, pois, não obstante estes
atributos, a periculosidade, no sentido do risco da prática de novos delitos, pode estar presente.
Cumpre salientar que a prisão preventiva para garantir a ordem pública, ou seja, para se evitar
a prática de novos crimes, a rigor, não tem o escopo de assegurar o resultado útil do processo, mas,
sim, evitar um mal que poderá ocorrer fora do processo. De qualquer maneira, a sua natureza
cautelar se revela presente, à medida que previne novos delitos, embora no fundo não vise
assegurar o resultado útil do processo onde ela fora decretada.
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Não se pode, segundo o STF, se decretar a prisão preventiva nas seguintes hipóteses:
a) fuga para evitar prisão em flagrante;
b) fuga posterior à decretação da prisão preventiva para se questionar em juízo, com
fundamentos relevantes, a legalidade desta prisão. Seria realmente absurdo obrigar o agente a se
entregar para poder impugnar a legalidade da prisão.
No tocante à fuga para evitar a prisão em flagrante ou para impugnar judicialmente a prisão
preventiva, o STJ tem considerado que são indícios reveladores da intenção de fugir, ensejando,
portanto, a decretação da prisão preventiva.
Também não se deve decretar a prisão preventiva, por receio de fuga, quando o criminoso for
estrangeiro em situação regular, com residência fixa e exercer atividade lícita.
Nesse caso, não faz sentido se presumir a intenção de fuga. Aliás, se tiver residência fixa no seu
país de origem, a prisão preventiva, segundo o STJ, não precisará ser decretada, quando houver,
entre o Brasil e o referido país, acordo internacional ou tratado para cumprimento, em seu território,
das decisões judiciais brasileiras.
Não basta, para a decretação da prisão preventiva, a presença dos requisitos previstos no art.
312 do CPP, pois é ainda necessária a presença de um dos requisitos do art. 313 ou de seu parágrafo
único.
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Crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos
Para que se decrete a prisão preventiva, é preciso que se trate de um crime doloso punido com
pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos.
Nos delitos cuja pena máxima não excede a 4 (quatro) anos, a pena privativa de liberdade pode
ser substituída por pena restritiva de direitos e, por isso, a lei excluiu a possibilidade de decretação
da prisão preventiva.
Se, de fato, no final do processo, o agente não sofrerá a pena de prisão, a decretação da prisão
preventiva se revela desproporcional.
Qualquer delito, cuja pena máxima seja superior a 4 (quatro) anos, em tese, admite a prisão
preventiva, pouco importa se a pena é de reclusão ou detenção, pois a lei se refere genericamente à
pena privativa de liberdade sem especificar as espécies.
Se houver qualificadora, que é o tipo derivado com pena própria, se levará em conta a pena
máxima da qualificadora.
Em havendo causa de aumento de pena, toma-se por base a pena máxima e a aumenta no
máximo que a causa de aumento permite, pois, dessa forma, se obterá pena máxima.
Quando houver causa de diminuição de pena, toma-se também por base a pena máxima e a
diminui no mínimo que a causa de diminuição permite, pois assim se obterá a pena máxima.
Quanto às agravantes e atenuantes genéricas, não serão levadas em conta para o cálculo da
pena máxima.
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Quando houver mais de um delito, em concurso material, para se calcular a pena máxima, faz-
se o somatório das respectivas penas máximas e somente quando a soma exceder a 4 (quatro) anos
é que será cabível a decretação da prisão preventiva.
No concurso formal e no crime continuado, toma-se a pena máxima e a aumenta no máximo
permitido pelos arts. 70 e 71 do CP, respectivamente.
Quanto aos crimes culposos, ainda que a pena seja superior a 4(quatro) anos, não caberá a
prisão preventiva, pois a lei se refere aos crimes dolosos. Mais adiante faço menção às duas hipóteses
de prisão preventiva por crime culposo.
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intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
A vítima do delito, como se vê, pode ser tanto a pessoa do sexo masculino quanto do sexo
feminino.
O delito deve ser doloso, malgrado o silêncio da lei, pois na violência está implícita a exigência
do dolo. Ademais, a prisão preventiva se releva desproporcional com a violência culposa.
A prisão preventiva, para ser decretada com base nesta situação de violência doméstica e
familiar, segunda a doutrina dominante, pressupõe a violação ou o risco de violação das medidas
protetivas de urgência.
Mas, assim como nas hipóteses anteriores, é preciso que também estejam presentes os
requisitos do art. 312 do Código Penal.
Não basta, destarte, para a decretação da prisão preventiva, o simples descumprimento das
medidas protetivas de urgência, sendo, pois, essencial, a presença dos requisitos do art. 312 do
Código Penal.
Sobre estas medidas Protetivas de urgência, dispõe o art. 22 da Lei 11.340 de 2006:
“Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei,
o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas
protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente,
nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de
distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica
da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de
atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios”.
Com o advento do art. 313, III, do CPP, em estudo, introduzido pela Lei 12.403/2.011, estas
medidas protetivas de urgência também passaram a ser aplicadas quando a vítima da violência
doméstica e familiar for criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, ainda que
do sexo masculino. Aliás, antes desta lei, a jurisprudência, por analogia, já a aplicava para proteger
estas pessoas.
É claro que a decretação da prisão preventiva por descumprimento de medida protetiva de
urgência só será possível quando esta medida houver sido imposta em razão de crime.
Afinal, a prisão preventiva tem natureza processual penal, ou seja, não se trata de uma prisão
civil.
O mero descumprimento da medida protetiva de urgência, imposta sem que haja a prática de
algum delito, enseja a execução específica da medida protetiva e não a prisão preventiva, pois esta
não pode ser desconectada do crime.
Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la
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De acordo com o art. 314 do CPP, a prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz
verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato acobertado pelas causas de
exclusão da ilicitude previstas no art. 23 do CP, que são as seguintes: legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito.
Por analogia, a norma do art. 314 do CPP também se aplica às causas de exclusão da ilicitude
previstas na Parte Especial do Código Penal e na Legislação Penal Extravagante, outrossim, às causas
de exclusão da culpabilidade, pois, diante do prognóstico de absolvição, não faz sentido a prisão
preventiva.
No tocante à inimputabilidade por doença mental, porém, prevista no art. 26, caput, do
CP, cujo prognóstico é de uma sentença absolutória impropria, com imposição de medida de
segurança, a prisão preventiva que outrora era cabível, com o advento da Lei 12.403/2.011, passou
a ser substituída pela internação provisória em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, nos
crimes com violência ou grave ameaça, conforme art. 319, VII, do CPP. Esta internação provisória é
classificada como medida alternativa diversa da prisão e só é cabível nos crimes com violência ou
grave ameaça, desde que haja risco de reiteração criminosa.
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Haverá, pois, constrangimento ilegal quando o atraso houver sido provocado pelo Ministério
Público, em razão das excessivas diligências requeridas. Outrossim, pelo próprio Poder Judiciário.
É claro que o excesso de prazo provocado por manobras da defesa não caracteriza
constrangimento legal.
A propósito, dispõe a súmula 64 do STJ:
“Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa”.
Por outro lado, encerrada a instrução criminal fica superada a alegação de constrangimento
por excesso de prazo (súmula 52 do STJ).
Da mesma forma, pronunciado o réu, fica superada a alegação de constrangimento ilegal por
excesso de prazo (súmula 21 do STJ).
Vê-se assim que o excesso de prazo que caracteriza constrangimento ilegal só pode ser arguido
até antes do término da instrução.
Encerrada a instrução, não há mais nenhum prazo a ser seguido.
Estas duas súmulas estimulam a morosidade do Poder Judiciário, pois preceituam que, após o
encerramento da instrução ou após a sentença de pronúncia, não há falar-se em excesso de prazo,
podendo o réu ser mantido preso preventivamente enquanto aguarda o julgamento do seu recurso
pelo tribunal ou a designação de data para ser julgado pelo Tribunal do Júri.
Noutras palavras, na prática, a prisão preventiva, que perdura após a instrução, acaba sendo
uma forma de cumprimento antecipado da pena.
Força convir, porém, que se a demora extrapolar o limite do razoável, será cabível “habeas
corpus” para fazer cessar o constrangimento ilegal. Por exemplo: 3 (três) anos após a prisão o
processo ainda não chegou ao fim.
Relaxada a prisão por excesso de prazo, nada obsta a decretação de uma nova prisão
preventiva, desde que baseada em fatos supervenientes à soltura do réu.
O efeito extensivo da concessão do “habeas corpus”, em razão do excesso de prazo, pode ser
concedido de ofício pelo tribunal aos outros corréus que se encontram em situação idêntica ao do
paciente, por força do art. 580 do CPP.
A liberdade provisória, que é concedida em razão do excesso de prazo, deveria ser plena, sem
qualquer ônus ao réu, mas o STJ tem imposto restrições, como, por exemplo, o dever de comparecer
a todos os atos do processo, sob pena de revogação do benefício.
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decretar, substituir ou denegar prisão preventiva ou qualquer outra medida cautelar diversa da
prisão, vedada a exposição de motivos genéricos e abstratos” (Jurisprudência em teses do STJ).
Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de
cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação
ou recebimento de denúncia (§2º do art. 313 do CPP).
Na verdade, todo e qualquer decisão judicial deve ser fundamentada, sob pena de nulidade
absoluta, conforme art. 93, IX, da CF.
A fundamentação não pode simplesmente se limitar afirmar que a prisão preventiva é
necessária para a garantia da ordem pública ou econômica ou da instrução criminal ou para a
aplicação da lei penal.
É, pois, necessário que o magistrado aponte os fatos concretos que tornam a prisão preventiva
necessária.
Outrossim, esclareça que ela é imprescindível.
Sobre o assunto, dispõe o § 2º do art. 315 do CPP:
“Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador;
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Em havendo mais de um réu, a fundamentação deve ser feita de forma individualizada para
cada um deles.
O reforço de fundamentação emanado do tribunal não sana o vício da ausência ou insuficiência
de fundamentação da decisão de primeiro grau que havia decretado a prisão preventiva, pois é esta
decisão que deve se sujeitar à análise da legalidade.
Quanto à fundamentação “per relationem” ou “aliunde”, é o fato de o magistrado, ao decretar
a prisão preventiva, se reportar aos argumentos da representação da autoridade policial ou ao
requerimento do Ministério Público, adotando-os como razão de decidir, sem transcrevê-los em sua
decisão. Trata-se de um tema polêmico, mas a jurisprudência tem admitido, desde que a
representação ou o requerimento estejam baseados em elementos concretos.
Por fim, a falta ou insuficiência da fundamentação na decisão que decreta a prisão preventiva
pode ser impugnada através de “habeas corpus".
De acordo com o § 2º do art. 315 do CPP, “não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida. Exige-se assim a fundamentação acerca da pertinência
da norma invocada em relação ao caso concreto, isto é, uma explicação da subsunção do fato ao
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texto normativo.
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso. Não basta, por exemplo, o juiz dizer que o delito praticado pelo réu teve
consequências graves, sendo essencial que se explique porque concluiu pela existência dessa dessas
consequências. Vê-se assim que as cláusulas gerais, também chamadas de janelas abertas do
ordenamento jurídico, devem ser preenchidas no caso concreto pelo magistrado.
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão. Visa-se, aqui, evitar
as fundamentações padronizadas, de índole genérica, que não contém as especificidades do caso
concreto.
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo, capazes de, em tese, infirmar
a conclusão adotada pelo julgador. O juiz é obrigado a analisar todas as teses suscitadas pela
acusação e defesa, mas se o acolhimento de uma tese afastar automaticamente a outra, ter-se-á a
rejeição implícita. Se, por exemplo, o juiz reconhece que o réu é o autor do crime, pelo fato de ter
sido reconhecido por uma determinada testemunha, a tese do álibi, que havia sido sustentada pela
defesa, estará implicitamente refutada.
A análise das teses apresentadas pela acusação e defesa, conforme ensina Norberto Avena,
não precisa ser direta e expressa, pois pode ser feita de forma contextual, sem necessidade de
resposta individualizada a todos os argumentos.
Quanto à fundamentação per relationem, que é a que adota, como razão de decidir, as
alegações do Ministério Público ou da defesa, caso se limite a transcrever a referida manifestação,
sem tecer outras considerações, será nula, pois implica em delegação da jurisdição, mas impõe-se a
validade quando a transcrição servir apenas de apoio à motivação própria já explanada.
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos. Denomina-se distinção o método pelo qual o juiz analisa se o caso concreto pode ou
não ser considerado análogo ao precedente jurisprudencial ou súmula do tribunal. É, pois, o
confronto entre o caso em julgamento e o precedente jurisprudencial ou súmula. Se o juiz não
empregar esse método de distinção a decisão será nula por falta de fundamentação. Caso o
precedente judicial ou súmula se apoie em fundamento jurídico não invocado no processo, o juiz,
antes de aplicar a distinção, deverá dar oportunidade para a manifestação das partes sobre essa
questão, por força do art. 10 do CPC.
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Este inciso VI consagra na esfera processual penal os precedentes obrigatórios ou vinculantes, que
doravante deverão ser seguidos pelo juiz. Entretanto, o CPP não esclarece quais seriam estes
precedentes obrigatórios, sendo aplicado, por analogia, nos termos do art. 3º do CPP, o art. 927 do
CPC, que prevê os precedentes que necessariamente deverão ser observados pelos magistrados.
Com efeito, de acordo com o art. 927: “Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do
Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados”.
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Impõe-se também aqui a aplicação do método de distinção, isto é, o confronto entre o caso
concreto e a súmula, jurisprudência ou precedente judicial invocado, apontando-lhe as diferenças
para afastar a sua incidência ao caso em julgamento.
Os incisos V e VI do §2º do art. 315 do CPP se diferenciam em dois aspectos.
Com efeito, o inciso V consagra a distinção positiva, que é a fundamentação para aplicar o
precedente judicial, enquanto que no inciso VI há a distinção negativa, isto é, para afastar a sua
incidência do caso concreto.
O inciso V exige distinção positiva até para a aplicação de precedentes meramente persuasivos,
que são os oriundos de tribunais aos quais o juiz não se encontra vinculado, ao passo que a distinção
negativa do inciso VI só é necessária aos precedentes obrigatórios, que são os oriundos do tribunal
ao qual o juiz está vinculado. Exemplo: o juiz do Estado de São Paulo, para afastar uma jurisprudência
do tribunal de Minas Gerais, não precisa aplicar o método de distinção, mas para acolhê-la será
necessário o emprego da distinção positiva.
O precedente vinculante só não será seguido quando o juiz ou tribunal distinguir o caso sob
julgamento, demonstrando, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese
fática distinta, a impor solução jurídica diversa (Enunciado 306 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis).
Assim, a não aplicação do precedente somente ocorre em três situações:
a) quando, após a aplicação da distinção, se conclui que ele difere do caso concreto;
b) “overruling”: superação total por outro precedente judicial;
c) “overriding”: limitação da sua incidência por força de lei superveniente.
Denomina-se “overruling” a substituição de um precedente judicial por outro. Trata-se de um
instituto similar à revogação das leis.
O “overruling” pode ser:
a) expresso (“express overruling”): ocorre quando o tribunal, no corpo de um julgamento
posterior, retira textualmente a força vinculante do precedente anterior, substituindo-o por outro.
b) tácito (“implied overruling”): quando um julgamento posterior do tribunal revela-se
incompatível com o precedente judicial anterior. A rigor, não é possível, pois, de acordo com o § 4º
do art. 927 do CPC: “A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese
adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada
e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção, da confiança e da
isonomia”.
Por outro lado, cumpre não confundir o “overruling”, que é a substituição total de um
precedente por outro, com “overriding”, que é apenas a limitação do âmbito de aplicação de um
precedente, em razão da superveniência de uma nova lei.
Finalmente, as hipóteses, descritas no §2º do art. 315 do CPP, de decisões não fundamentadas
são meramente exemplificativas (Enunciado 303 do Fórum Permanente de Processualistas Civis).
Exemplo: o juiz não aprecia as provas produzidas pela parte derrotada. Outro exemplo: o juiz declara
a lei inconstitucional sem apontar as razões.
Em se tratando de contravenção penal, não é cabível a prisão preventiva, pois os arts. 312 e 313
do CPP se referem expressamente ao crime, sendo vedada a analogia em normas restritivas de direito.
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Em regra, é proibida a prisão preventiva nos crimes culposos, pois o art. 313, “caput”, refere-
se expressamente aos crimes dolosos.
É, entretanto, cabível a prisão preventiva nos crimes culposos em duas hipóteses:
a) quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa, pois o parágrafo único do art. 313
do CPP não exige, nesta situação, que o crime seja doloso.
b) quando a prisão preventiva houver sido decretada em razão do descumprimento
injustificado das medidas cautelares pessoais diversas da prisão. Nesse caso, conforme já visto,
prevalece que a prisão preventiva pode ser decretada mesmo fora das hipóteses do art. 313 do CPP.
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pois o juiz ainda deverá analisar se a medida será ou não suficiente para afastar o “periculum in
libertatis”.
Tratando-se, porém, de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência, o juiz terá o dever de substituir pela prisão preventiva domiciliar, salvo nos
crimes com violência ou grave ameaça a pessoa e nos crimes contra o próprio filho ou
dependente. A propósito, dispõe o art. 318-A do CPP:
“A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente”.
A substituição pela prisão preventiva domiciliar poderá ser efetuada sem prejuízo da aplicação
concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste Código (art. 318-A do CPP).
Exemplo: monitoramento eletrônico. Outro exemplo: proibição de manter contato com determinada
pessoa.
A medida alternativa de recolhimento domiciliar, por sua vez, prevista no art. 319, V, do CPP,
tem as seguintes características:
a) é possível para qualquer pessoa;
b) é cumprida apenas no período noturno e nos dias de folga;
c) não tem a natureza de prisão, mas, sim, de medida cautelar pessoal diversa da prisão.
d) não haverá detração penal, pois não se trata de prisão. É, entretanto, razoável se pleitear,
por analogia, a detração penal.
e) o juiz não poderá ordenar a vigilância externa da residência, pois não se trata de prisão.
A prisão preventiva domiciliar é possível somente até antes do início do cumprimento da pena,
pois se trata de uma prisão cautelar.
Iniciado o cumprimento da pena, a partir do trânsito em julgado da condenação, a prisão
domiciliar não será mais possível quando houver sido imposto o regime fechado ou semiaberto, salvo
quando não houver vaga no regime semiaberto.
No regime aberto, entretanto, será possível a prisão domiciliar, mas somente nas hipóteses do
art. 117 da LEP, que são as seguintes:
a) condenado maior de 70 (setenta) anos;
b) condenado acometido de doença grave;
c) condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
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d) condenada gestante.
Esta prisão domiciliar imposta para o cumprimento da pena tem caráter penal e não processual.
Trata-se de uma forma de cumprimento do regime aberto.
O CPP prevê a prisão preventiva domiciliar, mas é omisso acerca da prisão domiciliar
autônoma.
A prisão domiciliar autônoma é a imposta sem que haja a prévia decretação da prisão
preventiva.
É admitida pelo eminente processualista Renato Brasileiro de Lima como medida alternativa à
prisão preventiva, podendo ser concedida a qualquer pessoa, ainda que não constante no rol do art.
318 do CPP.
Para tanto, invoca-se o princípio da proporcionalidade e o poder geral de cautela do
magistrado.
A proporcionalidade se verifica quando a prisão domiciliar se mostrar adequada e suficiente
para neutralizar o perigo advindo da liberdade plena.
Não me parece correto este ponto de vista. De duas uma, ou a prisão preventiva se faz
necessária e, nesse caso, o juiz a substitui por prisão preventiva domiciliar às pessoas arroladas no
art. 318 do CPP ou então não se faz necessária e o juiz aplica uma das medidas alternativas do art.
319 do CPP.
A admissão da prisão cautelar domiciliar autônoma, sem a prévia decretação da prisão
preventiva, afronta o princípio da legalidade.
O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da
investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente
decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem (art. 315 do CPP).
Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua
manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar
a prisão ilegal (art. 315, parágrafo único, do CPP).
Prisão temporária
Conceito
A prisão temporária, regulada pela Lei 7.960/1989, é a decretada pelo juiz, na fase das
investigações, para a apuração de determinados delitos especificados pela lei.
Trata-se, portanto, de uma prisão que só pode ser decretada na fase das investigações. Não
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existe prisão temporária na fase processual. Dessa forma, recebida denúncia, o juiz deve revogar a
prisão temporária e conceder a liberdade ou então substituir a prisão temporária pela prisão
preventiva.
A Lei 7.960/89 se refere às investigações do inquérito policial, mas a doutrina, com base na
interpretação extensiva, admite a prisão temporária em qualquer investigação criminal formalmente
instaurada. Exemplo: procedimento criminal investigatório instaurado pelo Ministério Público. Outro
exemplo: Comissão Parlamentar de Inquérito.
Embora a lei se refira ao indiciado, o certo é que, nos procedimentos investigatórios diversos
do inquérito policial, não há indiciamento e, no entanto, é possível prisão temporária.
Requisitos
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extremamente difícil a decretação da prisão temporária. Bastaria, por exemplo, para obstar a prisão
temporária, que o indiciado tivesse residência fixa ou fornecesse os elementos para sua
identificação.
c) é preciso a presença cumulativa dos 3 (três) incisos acima e dos requisitos da prisão
preventiva. Esta corrente transforma a prisão temporária numa espécie de prisão preventiva,
dificultando a sua decretação em delitos de extrema gravidade.
d) só é cabível nos delitos acima, desde que presentes os requisitos dos incisos I ou II. É a
posição dominante.
Assim, na esteira desta última corrente, os requisitos da prisão temporária são os seguintes:
a) presença de uma das hipóteses dos incisos I ou II: imprescindível para as investigações ou a
ausência de residência fixa ou ainda o não fornecimento dos elementos necessários ao
esclarecimento da identidade do investigado.
Basta a presença de uma dessas três situações, desde que o delito seja daqueles que admitem
a prisão temporária.
Se o agente, por ser morador de rua, não tem residência fixa, será ilegal a decretação da sua
prisão temporária ou preventiva, pois, nesta situação, oriunda da miserabilidade, segundo o STF, não
se pode presumir a fuga.
Quanto à prisão temporária para esclarecer a identidade do suspeito, só deverá ser decretada
quando a identificação dactiloscópica não sanar a dúvida e, uma vez esclarecida a identidade, o
agente deve ser posto em liberdade.
b) fundadas razões de autoria ou participação do indiciado num delito previsto no rol do inciso
III do art. 1º da Lei 7.960/89 ou no art. 2° da Lei 8.072/90. Fora desses delitos, não é cabível a prisão
temporária. É importante frisar que os delitos hediondos e equiparados, ainda que não constantes
na Lei 7.960/89, admitem também a prisão temporária.
É preciso, para decretação da prisão temporária que haja indícios suficientes de autoria ou
participação, tanto é que a lei se refere a “fundadas razões”, que devem ser demonstradas através
de dados objetivos.
Não se pode também olvidar que a prisão temporária só será cabível quando as medidas
cautelares pessoais diversas da prisão, previstas no art. 319 do Código Processo Penal, forem
insuficientes para assegurar o resultado das investigações.
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k) crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956;
l) crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 da Lei
o
n 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade policial
ou requerimento do Ministério Público.
O juiz não pode decretá-la de ofício.
No caso de representação da autoridade policial, o juiz deve ouvir previamente o Ministério
Público e, se este discordar, a prisão temporária não deverá ser decretada.
Quanto à vítima, não tem legitimidade para requerer a prisão temporária. Aliás, nenhum crime
de ação penal privada admite a prisão temporária.
Embora o juiz não possa decretar de ofício a prisão temporária, nada obsta que, caso haja
representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Público solicitando a prisão
preventiva, opte pela decretação da prisão temporária, que é uma medida mais branda, posto que
tem prazo determinado.
Decisão judicial
Prazo
Em regra, o prazo da prisão temporária é de até de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período,
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Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5° da
Constituição Federal. Exemplos: direito ao silêncio, direito de assistência do advogado, direito de
comunicar a prisão à família ou outra pessoa.
O preso ainda será submetido, antes do início da prisão e por ocasião da soltura, ao exame de
corpo de delito.
Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoriamente, separados dos demais
detentos.
Conceito
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Requisitos
As medidas cautelares pessoais diversas da prisão só podem ser aplicadas quando presentes os
seguintes requisitos:
a) “fumus comissi delicti”: prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria.
b) “periculum in libertatis: necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou
instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais
(art. 282 do CPP). Veja que são os mesmos requisitos previstos no art. 312.
Cumpre observar, porém, que enquanto as medidas alternativas exigem os fundamentos do
art. 312, a prisão preventiva, além dos fundamentos do art. 312, só será cabível nas hipóteses do
art. 313 do CPP.
Nessas hipóteses do art. 313 do CPP, contudo, o juiz só decretará a prisão preventiva se não
houver uma medida alternativa do art. 319 igualmente eficaz.
Critérios de aplicação
O art. 319 do CPP prevê o rol dessas medidas alternativas e a opção por uma ou outra deve se
atentar, segundo o art. 282, II, do CPP, para a adequação da medida aos seguintes critérios:
a) gravidade do crime;
b) circunstâncias do fato; e
c) condições pessoais do indiciado ou acusado.
As referidas medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente (§1 o do
citado art. 282).
Assim, o juiz poderá aplicar apenas uma medida alternativa ou então cumulá-la com outra ou
outras.
Somente o juiz pode aplicar as medidas alternativas, sendo vedada a sua aplicação pela
autoridade policial. Entretanto, tanto na fase investigatória quanto na fase processual, o juiz não
pode decretá-las de ofício, conforme já estudado anteriormente.
A propósito, dispõe o §2º do art. 282 do CPP:
“As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no
curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento
do Ministério Público”.
Cumpre frisar, porém, que, na fase investigatória, o juiz pode decretá-las de ofício para
substituir a prisão em flagrante.
Em regra, as medidas cautelares pessoais não podem ser decretadas “inaudita altera parte”,
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isto é, sem ouvir a parte contrária, impondo-se, destarte, a observância do princípio do contraditório.
A propósito, dispõe o §3o do art. 282 do CPP:
“Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o
pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo
de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo
os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em
decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional”.
Ainda que a medida tenha sido pleiteada na fase investigatória, será necessário o contraditório,
pois o citado §3o do art. 282 do CPP não faz qualquer ressalva nesse sentido.
Abrem-se, contudo, duas exceções:
a) casos de urgência;
b) casos de perigo de ineficácia da medida. Exemplo: prisão preventiva decretada para se evitar
a fuga.
Nessas duas hipóteses, porém, o juiz deverá especificar as razões que o levaram a dispensar o
contraditório prévio, fundamentando a sua decisão em elementos do caso contrato que justifiquem
esta medida excepcional.
Será, entretanto, garantido o contraditório postergado ou diferido, pois o réu poderá se
manifestar posteriormente mediante requerimento de revogação da medida ou impetração de
“habeas corpus”, sendo que, no caso de “error in procedendo”, será cabível a correição parcial.
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legal, com respeito ao contraditório e ampla defesa, salvo nos casos de urgência e de perigo de
ineficácia da medida.
É, destarte, necessário que o contraditório e ampla defesa sejam observados em dois
momentos:
a) antes de se decidir sobre o caráter injustificado do descumprimento das obrigações.
b) antes de se decidir sobre as consequências do descumprimento injustificado.
Cumpre anotar que a lei não prevê nem dispensa expressamente o contraditório. Há, pois, uma
omissão, impondo-se, por analogia ao §3º do art. 282 do CPP, a observância do contraditório prévio,
salvo nos casos de urgência e de perigo de ineficácia da medida.
Revogação e substituição
O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando
verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que
a justifiquem (§5º do art. 282 do CPP).
Proibição de aplicação
As medidas alternativas não podem ser aplicadas nas infrações penais às quais se cominam
apenas pena de multa ou restritiva de direitos.
De fato, ao se estabelecer a possibilidade de conversão em prisão preventiva, o legislador
deixou claro que estas medidas só são cabíveis quando a pena cominada for privativa de liberdade.
A propósito, dispõe o §1o do art. 283 do CPP:
“As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a que não for isolada,
cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade”.
Formas de aplicação
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liberdade deve ser plena, sem qualquer restrição, mas o STJ tem admitido, mesmo no relaxamento, a
aplicação das medidas alternativas do art. 319 do CPP, quando presentes os requisitos do art. 312 do
CPP.
Duração
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Esta medida só pode ser aplicada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado permanecer distante de uma determinada pessoa, que não precisa ser
necessariamente a vítima. Exemplos: proibição de o réu manter qualquer tipo de contato com os
outros acusados, com a vítima e testemunhas.
O contato, a que se refere a lei, não é apenas o pessoal, mas qualquer tipo de contato.
Exemplos: e-mail, telefone, correspondência, etc.
Abrange, inclusive, a proibição de manter contato visual. Por consequência, é lícito ao juiz fixar
uma distância mínima de aproximação do acusado com a pessoa cujo contato é proibido.
Esta medida, segundo o texto da lei, só poderá ser aplicada quando a permanência for
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução processual. Por exemplo: necessidade de
participar do reconhecimento pessoal.
Na prática, contudo, tem sido também aplicada com base em qualquer dos fundamentos do
art. 282, I, do CPP. Exemplo: para evitar a fuga.
De fato, se até a prisão preventiva pode ser decretada para impedir a fuga ou garantir a ordem
pública, nada obsta que o juiz opte por esta medida alternativa, que é mais branda.
O acusado não poderá, contudo, ser compelido a realizar um comportamento ativo para
produzir provas contra si mesmo.
Quanto à mudança de endereço dentro da mesma cidade ou para outra cidade da mesma
comarca, não há proibição, mas existe o dever implícito de comunicar esta mudança no
processo. Não há, entretanto, necessidade de prévia autorização judicial.
Diverge assim da fiança onde há a proibição de se afastar da residência por mais de 8 (oito) dias
sem informar o juízo. De fato, na medida em análise a proibição é de se ausentar da comarca e não
da residência.
De acordo com a lei, esta medida exige que o investigado ou acusado tenha:
a) residência fixa;
b) trabalho fixo.
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Esta medida alternativa, segundo o texto da lei, só pode ser aplicada quando houver justo
receio da utilização da função pública ou atividade econômica ou financeira para a prática de novas
infrações penais.
Na verdade, contudo, pode também ser aplicada com base em qualquer dos fundamentos do
art. 282, I, do CPP. Exemplo: para garantia da instrução, a fim de se evitar a intimidação de
testemunha.
De fato, se até a prisão preventiva pode ser decretada para se assegurar a instrução processual
nada obsta que o juiz opte por esta medida alternativa, que é mais branda.
Conforme se pode verificar, esta medida também pode ser aplicada a quem não é funcionário
público, desde que exerça atividade econômica ou financeira.
Quanto à suspensão parcial da função pública também pode ser ordenada pelo juiz. Exemplo:
o juiz suspende o funcionário público das funções externas, mas mantém as funções internas de
expedientes administrativos.
No tocante aos deputados, federais ou estatuais, e senadores, a suspensão do mandato
também pode ser imposta pelo Poder Judiciário que, em seguida, deverá submeter a decisão à
respectiva Casa Legislativa para que esta dentro de 24 (vinte e quatro) horas, pelo voto da maioria
de seus membros, resolva sobre a suspensão do mandato.
O §2º do art. 53 da CF se refere à deliberação sobre a prisão, mas, por interpretação extensiva,
segundo o STF, abrange também as demais medidas cautelares pessoais diversas da prisão,
pois qualquer ato emanado do Poder Judiciário que impossibilite direta ou indiretamente o exercício
do mandato parlamentar deve ser submetido ao controle político da respectiva Casa Legislativa.
Convém ainda esclarecer que esta medida alternativa é uma mera suspensão. Não se trata da
perda da função pública.
A perda, por sentença criminal, efeito específico da condenação, que exige fundamentação
expressa na sentença, só pode se verificar após o trânsito em julgado, nos termos do art. 92, I, do
CP, quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever; para com a Administração Pública, outrossim,
quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
crimes.
A medida cautelar de suspensão do exercício da função pública, antes de ser inserida no CPP,
através da 12.403/2.011, já era prevista nos crimes praticados por prefeito, por magistrados e nos
crimes de drogas.
No tocante aos crimes de drogas, tratando-se de condutas tipificadas como infração do
disposto nos arts. 33, caput e §1o, e 34 a 37 da Lei de Drogas, o juiz, ao receber a denúncia, poderá
decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público,
comunicando ao órgão respectivo (§1o do art. 56 da Lei 12.343/06).
O §5º do art. 2º da Lei 12.850/2.013, também preceitua que se houver indícios suficientes de
que o funcionário público integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento
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cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer
necessária à investigação ou instrução processual.
Em duas hipóteses, o órgão julgador tem o dever de se pronunciar expressamente sobre a
suspensão da função pública.
Com efeito, nos crimes praticados por prefeito, ao receber a denúncia, o tribunal
obrigatoriamente deverá deliberar de forma fundamentada sobre o seu afastamento ou não do
exercício do cargo durante a instrução criminal (art. 2º, II, do Decreto-lei 201/67).
Igualmente, nos delitos praticados por magistrado, o tribunal, ou seu órgão especial, ao receber
a denúncia ou queixa, poderá, em decisão tomada pelo voto de dois terços de seus membros,
determinar o afastamento do cargo do magistrado denunciado (art. 29 da LC 35/79).
Por outro lado, durante o período da suspensão da função pública, a remuneração é mantida,
segundo o STF, sob pena de violação do princípio da presunção da inocência. Aliás, não se pode
sequer reduzir os vencimentos do servidor público afastado, pois estes são irredutíveis (art. 37, XV,
da CF).
O STJ, porém, já decidiu que a remuneração deve cessar no período da suspensão.
Com efeito, o art. 229, I, da Lei 8.112/90 preceitua que:
“À família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão, nos seguintes valores:
I – dois terços da remuneração, quando afastado por motivo de prisão, em flagrante ou
preventiva, determinada pela autoridade competente, enquanto perdurar a prisão”.
Assim, nos termos desta lei, cessa-se a remuneração até que seja deferido o pedido de auxílio
reclusão. O servidor terá direito à integralização da remuneração, desde que absolvido. Uma vez
absolvido, o juiz ordenará a cessação da medida de suspensão.
Ora, esta previsão legal de suspensão dos vencimentos, além de inconstitucional, por violar o
princípio da presunção da inocência, ainda se refere à prisão em flagrante ou preventiva, sendo
vedada a analogia para abranger as medidas alternativas, pois, em hermenêutica, não se admite a
analogia em normas restritivas de direito.
Por fim, no Código de Trânsito Brasileiro, há também uma medida cautelar pessoal. Com efeito,
o juiz poderá decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir
veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção (art. 294 do CTB). Esta medida pode ser decretada
de ofício em qualquer fase da investigação ou da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público
ou ainda mediante representação da autoridade policial.
Internação provisória
Esta medida alternativa de internação provisória, além da prova da existência do crime e dos
indícios suficientes de autoria, exige mais 4 (quatro) requisitos cumulativos:
a) que o agente seja inimputável ou semi-imputável, em razão de doença mental (art. 26 do
Código Penal).
A prova que o agente é inimputável ou semi-imputável, devido à urgência em se aplicar a
medida, pode ser feita por qualquer meio. Em função da urgência e das evidências, não é preciso se
aguardar o laudo pericial elaborado no incidente de insanidade mental.
b) que o crime tenha sido com violência ou grave ameaça. A violência deve ser contra pessoa e
não contra coisa.
c) que haja risco de reiteração criminosa.
d) que se trate de acusado, ou seja, que a ação penal já tenha sido proposta. Não cabe esta
internação provisória na fase do inquérito policial, pois o art. 319, VI, do CPP se refere apenas ao
acusado.
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tratamento a melhor opção será pela prisão preventiva, ainda que presentes os requisitos da
internação provisória, pois, nesse caso, o prognóstico será de imposição de pena e não de medida de
segurança.
Fiança
Monitoração eletrônica
A proibição de ausentar-se do país é uma medida cautelar pessoal diversa da prisão que não
consta no rol do art. 319 do CPP, mas figura no art. 320 do CPP.
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As medidas cautelares inominadas ou atípicas são aquelas não previstas em lei, mas impostas
pelo magistrado com base no seu poder geral de cautela.
No processo penal, segundo a doutrina dominante, não é possível estas medidas, pois implicam
em violação ao princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF).
De a fato, a liberdade de locomoção é livre em todo território nacional, salvo nos casos
previstos em lei (art. 5º, XI, da CF).
Assim, por força do princípio da legalidade, não se pode conferir ao juiz criminal o poder geral
de cautela.
Outra corrente, entretanto, admite o poder geral de cautela na seara criminal e, por
consequência, a adoção de medidas cautelares inominadas, desde que menos lesivas que a medida
que a lei prevê para a hipótese.
Noutras palavras, com base no princípio da proporcionalidade, seria cabível uma medida
cautelar inominada para afastar a medida cautelar nominada mais rigorosa.
Diante do extenso rol do art. 319 do CPP, que prevê inúmeras medidas alternativas, a discussão
perdeu um pouco do interesse prático, pois a opção por uma medida cautelar inominada, para os
que a admitem, só seria possível quando nenhuma destas medidas típicas solucionassem a contento
a questão.
PROCEDIMENTO
Conceito
Procedimento é o conjunto de atos processuais, ordenados, por lei, numa sequência lógica e
cronológica, através do qual o processo atinge o seu fim.
O processo, que é o instrumento da jurisdição, se desenvolve através de um procedimento, que
é o instrumento do processo.
É claro que o processo não se resume ao procedimento, pois ele ainda contém, além do
procedimento, outros dois elementos, que são os sujeitos processuais e a relação jurídica processual.
Classificação
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O CPP também prevê alguns procedimentos especiais, mas a maioria se encontra em leis
especiais.
Os procedimentos especiais previstos no CPP são os seguintes:
a) júri;
b) crimes contra a honra;
c) crimes contra a propriedade imaterial;
d) crimes praticados por funcionários públicos.
Fora do CPP há inúmeros procedimentos especiais.
Exemplo: crimes de competência originária dos tribunais (Lei 8.038/90). Outro exemplo: crimes
da lei de droga (lei 11.343/06).
O procedimento comum é subsidiário, pois só será aplicado quando não houver previsão de
procedimento especial.
A propósito, dispõe o art. 394, §2o, do CPP:
“Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste
Código ou de lei especial”.
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local da consumação do delito mais grave, deverá ser adotado o procedimento que oferece uma
maior amplitude de defesa e este procedimento não será necessariamente o mais longo. O
procedimento comum ordinário, por exemplo, oferece maior amplitude de defesa que o previsto na
lei de drogas e, por isso, deverá ser adotado em caso de conexão ou continência dos delitos da lei de
drogas com outras infrações penais.
Em algumas situações, a lei define a categoria do procedimento comum sem levar em conta as
regras acima. São os seguintes:
a) crimes e contravenções com violência doméstica e familiar contra mulher. Nessas infrações
penais, a lei veda o procedimento comum sumaríssimo do Juizado Especial Criminal, ainda que a pena
abstrata máxima não exceda a 2 (dois) anos (art. 41 da Lei 9.099/95). Será, portanto, adotado o
procedimento comum ordinário ou sumário, conforme a pena seja igual ou superior a 4 (quatro) anos
ou inferior a 4 (quatro) anos, respectivamente.
b) crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima privativa de liberdade não
ultrapasse 4 (quatro) anos. Estes delitos seguirão o procedimento sumaríssimo do Juizado Especial
Criminal (art. 94 da Lei 10.741/03). Entretanto, os institutos da transação penal e composição civil
dos danos, só serão cabíveis quando a pena máxima não exceder a 2 (dois) anos. Quanto aos delitos
do Estatuto do Idoso, cuja pena máxima seja superior a 4 (quatro) anos, seguirá o procedimento
comum ordinário.
c) crimes falimentares. Nestes delitos, por força do art. 185 da Lei 11.101/05, recebida a
denúncia ou queixa, sempre se adotará o procedimento comum sumário, ainda que a pena seja igual
ou superior a 4 (quatro) anos.
d) os crimes de organização criminosa. Estes delitos e as infrações penais conexas serão
apurados mediante procedimento comum ordinário, ainda que a pena seja inferior a 4 (quatro) anos
(art. 22 da Lei 12.850/13).
O art.394, § 4º, do CPP ordena que algumas normas do procedimento comum ordinário sejam
aplicáveis a todos os procedimentos penais de primeiro grau, quer estejam ou não previstos no CPP,
inclusive, aos crimes eleitorais e militares.
Estas normas são as seguintes:
a) as hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa (art. 395 do CPP);
b) a citação do acusado, após o recebimento da denúncia ou queixa, para apresentar a resposta
à acusação, no prazo de 10 (dez) dias (art. 396 do CPP);
c) a resposta à acusação (art. 396-A do CPP);
d) a possibilidade de absolvição sumária (art. 397 do CPP);
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No procedimento comum ordinário, a sequência dos atos processuais deve observar a seguinte
ordem:
a) oferecimento da denúncia ou queixa;
b) recebimento da denúncia ou queixa;
c) citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias;
d) resposta à acusação;
e) eventual réplica da acusação;
d) eventual absolvição sumária;
e) despacho de designação da audiência una de instrução e julgamento, quando não houver a
absolvição sumária;
f) audiência una de instrução e julgamento;
g) sentença.
Após o oferecimento da denúncia ou queixa, o próximo passo será o seu recebimento para que
o procedimento possa seguir adiante.
É claro que, nas hipóteses de inépcia da denúncia ou queixa, outrossim, quando faltarem
pressupostos processuais, condições da ação ou justa causa, o juiz rejeitará a peça acusatória.
A rejeição pode ser, inclusive, parcial, por exemplo, a denúncia versa sobre dois crimes, mas
em relação a um deles o fato é atípico.
Força convir, portanto, que o recebimento da peça acusatória depende do preenchimento dos
seus requisitos formais e da presença dos pressupostos processuais, das condições da ação e da justa
causa.
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Se, por equívoco, o juiz receber uma denúncia ou queixa, que deveria ser indeferida, nada obsta
que posteriormente ele se retrate desta decisão para rejeitar a peça acusatória e extinguir o processo
sem resolução do mérito. De fato, por se tratar de matéria de ordem pública não há falar-se em
preclusão “pro judicato”.
Outra corrente, ao revés, invoca a preclusão “pro judicato” para impedir que o juiz rejeite
posteriormente a denúncia ou queixa que já havia sido recebida.
Ora, em nome de uma injustificada formalidade, não se pode prolongar uma ilegalidade, de
modo que esta corrente, “data venia”, se revela incorreta.
O ato judicial que recebe a denúncia ou queixa classifica-se como um simples despacho e, dessa
forma, dispensa qualquer fundamentação, segundo a jurisprudência, mas na doutrina, pelo fato de
interromper a prescrição e influir na fixação da competência por prevenção, há quem sustente a
necessidade de fundamentação.
Cumpre ressalvar que, nos procedimentos onde há a defesa preliminar, que antecede ao
recebimento da denúncia ou queixa, a jurisprudência exige a fundamentação.
Fora dessa hipótese, a fundamentação é desnecessária e se revela inconveniente, pois o
magistrado teria que tomar o cuidado de não adentrar no mérito.
Aliás, quando o magistrado não se pronuncia expressamente sobre o recebimento da peça
acusatória, mas ordena a citação do réu, ter-se-á o seu recebimento implícito ou tácito, que é
admitido pela jurisprudência.
O recebimento da denúncia ou queixa gera dois efeitos importantes:
a) interrompe a prescrição (art. 117, I, do CPP);
b) fixa a competência por prevenção (art. 83 do CPP).
Não há previsão de recurso contra o despacho que recebe a denúncia ou queixa. É, entretanto,
cabível “habeas corpus”, mas se a pena cominada para a infração penal não for privativa de liberdade,
a medida adequada será o mandado de segurança.
Citação
A citação do acusado, para, no prazo de 10 (dez) dias, apresentar a resposta à acusação, deve
ser pessoal.
Se o réu não for encontrado, far-se-á a citação por edital e, nesse caso, se ele não responder à
acusação, haverá a suspensão do processo, nos termos do art. 366 do CPP.
Na hipótese de o réu se ocultar para não ser citado, será feita a citação por hora certa e, nesse
caso, se ele não apresentar a resposta à acusação, o juiz lhe nomeará um defensor dativo,
prosseguindo-se se normalmente o processo (art. 362 do CPP).
Resposta à acusação
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Uma segunda corrente preconiza que, nos referidos procedimentos, não há necessidade de
uma nova defesa, através da resposta à acusação, pois na própria defesa preliminar o acusado poderá
argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, juntar documentos e oferecer
justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo
sua intimação, quando necessário.
Este último ponto de vista é o mais acertado, pois, na verdade, as normas do procedimento
comum devem ser aplicadas apenas subsidiariamente aos demais procedimentos.
No processo penal, nos termos dos arts. 362, parágrafo único, e 367 do CPP, a revelia se verifica
quando:
a) o acusado, citado, deixar de apresentar a resposta à acusação;
b) o acusado, intimado pessoalmente para qualquer ato processual, deixar de comparecer sem
motivo justo;
c) o acusado, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.
Os efeitos da revelia são os seguintes:
a) nomeação de defensor dativo, quando o acusado, citado pessoalmente ou por hora certa,
deixar de apresentar resposta à acusação;
b) suspensão do processo, quando o acusado houver sido citado por edital e não apresentar a
resposta à acusação nem constituir advogado. Quanto aos procedimentos com defesa preliminar, o
acusado é primeiramente notificado pessoalmente para apresentar a defesa preliminar.
Somente após o recebimento da denúncia ou queixa, é que será citado. Se, ao ser notificado
pessoalmente, constituiu defensor para apresentar a defesa preliminar e, depois, por não ter sido
encontrado, houver citado por edital, não haverá a suspensão do processo. De fato, o art. 366 do CPP
só prevê a suspensão do processo ao réu citado por edital quando este não houver constituído
advogado.
c) prosseguimento do processo, salvo na hipótese acima, em que a citação ocorreu por edital;
d) o acusado não será mais intimado dos demais atos processuais, salvo em relação à sentença
condenatória, por força do art. 392 do CPP. Não será, contudo, intimado de eventuais acórdãos. Da
sentença, o réu pode recorrer pessoalmente, nos termos do art. 577 do CPP, daí a razão de sua
intimação, mas em relação aos acórdãos, o recurso só poderá ser interposto por seu
advogado. Quanto ao advogado do réu revel, será intimado normalmente de todos os atos
processuais;
e) quebramento da fiança, quando havia obtido liberdade provisória com fiança, caso
regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo justo (art. 341, I, do
CPP). Nessa situação, o juiz, além de determinar a perda da metade do valor da fiança, poderá impor
as medidas cautelares alternativas do art. 319 do CPP ou, em último caso, decretar a prisão
preventiva;
f) realização do julgamento pelo tribunal do júri, quando se tratar de crime doloso contra a
vida, caso tenha sido regularmente intimado. Assim, o julgamento pelo júri não será adiado pelo não
comparecimento do acusado solto, que tiver sido regularmente intimado (art. 457 do CPP).
A revelia, entretanto, no processo penal, não gera a presunção de veracidade dos fatos
descritos na denúncia ou queixa.
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Absolvição Sumária
Após a resposta da acusação ou depois da eventual réplica, o próximo passo é a análise das
hipóteses de absolvição sumária.
A absolvição sumária é o julgamento antecipado da lide, que decreta a improcedência da ação,
nas hipóteses do art. 397 do CPP, sem que tenha sido designada a audiência de instrução e
julgamento.
No processo penal, o julgamento antecipado da lide só é admitido para se julgar a ação
improcedente. Jamais poderá haver julgamento antecipado para se condenar o réu.
Assim, de acordo com o art. 397 do CPP, as causas de absolvição sumária são as seguintes:
a) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato. É preciso, para a absolvição
sumária, um juízo de certeza acerca da presença de uma das causas de exclusão da antijuridicidade.
Exemplos: legítima defesa e estado de necessidade. Na dúvida, o juiz designará audiência de
instrução e julgamento, pois, neste momento do processo, vigora o “in dubio pro societate”.
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade. Aqui também, para a absolvição sumária, exige-se um juízo de certeza. Quanto à
inimputabilidade do art. 26, “caput”, do CP, não enseja a absolvição sumária, pois, para a imposição
de medida de segurança, exige-se que o processo avance para a fase de produção das provas orais.
A sentença que impõe medida de segurança é absolutória imprópria, pois nela há a aplicação de uma
sanção penal.
III - que o fato narrado evidentemente não constitua crime. Trata-se da absolvição sumária por
fato atípico. É preciso, para a absolvição sumária, um juízo de certeza, ou seja, que se trate de um
fato evidentemente atípico.
IV - que esteja extinta a punibilidade do agente. Aqui o legislador se equivocou, pois a sentença
que reconhece a extinção da punibilidade não é absolutória, mas, sim, meramente declaratória. De
fato, na sentença absolutória, o juiz, após analisar as provas, reconhece que o réu é inocente e, por
isso, julga a ação improcedente, ao passo que, na extinção da punibilidade, o juiz não analisa as teses
de condenação nem de absolvição e, por isso, o réu não é reconhecido como sendo culpado nem
inocente. A rigor, na extinção da punibilidade, não há falar-se em absolvição ou improcedência da
ação, devendo o juiz, no dispositivo da sentença, decretar: “Ante o exposto, julgo extinta a
punibilidade”. A morte, por exemplo, é uma das hipóteses de extinção da punibilidade, de modo que
não teria cabimento o juiz absolver ou condenar uma pessoa morta.
Cumpre distinguir a absolvição sumária do procedimento comum com a absolvição sumária da
primeira fase do procedimento do júri.
No procedimento comum, a absolvição sumária se verifica antes da fase instrutória; no
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A audiência de instrução e julgamento é una, pois nela serão inquiridas na seguinte ordem:
a) a vítima;
b) as testemunhas de acusação;
c) as testemunhas de defesa;
d) interrogatório do réu.
Na audiência ainda poderá haver, antes do interrogatório, esclarecimentos dos peritos,
acareações e reconhecimento de pessoas e coisas.
A propósito, dispõe o art. 400 do CPP:
“ Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta)
dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas
pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como
aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
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alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa,
prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença (art. 403 do CPP).
Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 (dez)
minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa (§2o do art. 403 do
CPP).
Dessa forma, se houver assistente de acusação, que falará por 10 (dez) minutos, a defesa terá
também o acréscimo de mais 10 (dez) minutos.
Na ação penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público falará depois do querelante
e o prazo, por analogia ao § 2o do art. 403 do CPP, também será de 10 (dez) minutos. Igualmente,
será acrescido em 10 (dez) minutos o prazo para a defesa, por força do princípio da isonomia.
Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual, ou
seja, 20 (minutos) para cada, prorrogáveis por mais 10 (dez), ainda que o advogado seja o mesmo
(§1o do art. 403 do CPP).
Em havendo mais de um acusado, a lei é omissa sobre o prazo do órgão acusatório, mas, para
que seja preservado o princípio da paridade de armas, aplica-se por analogia o §1o do art. 403 do
CPP, de modo que o prazo também será individual. Se, por exemplo, houver 3 (três) réus, o Ministério
Público terá 20 (vinte) minutos para cada um.
Estas alegações orais, na prática, são ditadas ao escrevente. Quem fala primeiro é a acusação
e depois a defesa. O escopo da lei, entretanto, era o de promover o debate similar à sessão de
julgamento do tribunal do júri, registrando-se na ata apenas um breve resumo dos fatos relevantes
(art. 405 do CPP).
Nas alegações orais, as partes podem arguir preliminares, por exemplo, nulidade e, no mérito,
expor ao juiz as razões do pedido de condenação ou de absolvição.
Em determinadas hipóteses as alegações orais poderão ser substituídas por memoriais
escritos.
Com efeito, o juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais.
Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença (§3o do art. 403 do CPP).
Na verdade, as alegações finais podem ser substituídas por memoriais escritos nas seguintes
hipóteses:
a) causas complexas;
b) excessivo número de acusados;
c) interrogatório por carta precatória. Após o retorno da precatória, o juiz pode abrir vista para
os memoriais, em vez de designar uma audiência somente para as alegações orais;
d) deferimento de diligências. Cumpridas as diligências, o juiz poderá abrir vista para os
memoriais, em vez de designar uma audiência somente para as alegações orais.
e) por acordo entre as partes, segundo a jurisprudência.
O prazo para a apresentação dos memoriais é de 5(cinco) dias sucessivos. Assim, após a juntada
dos memoriais da acusação, a defesa terá 5 (cinco) dias para apresentar os seus memoriais.
Em caso de o acusado não apresentar as alegações orais ou os memoriais, a eventual sentença
condenatória será nula. A nulidade, quer se trate de ação penal pública ou privada, será absoluta por
violação do princípio da ampla defesa.
Por isso, em caso de desídia ou recusa do advogado em apresentar as alegações orais ou os
memoriais, o juiz deverá intimar o réu para constituir novo defensor, fixando-lhe prazo, findo
este, com a persistência da inércia, o juiz lhe nomeará um defensor dativo. Além disso, o juiz poderá
multar o advogado, que abandonou o processo, entre 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos.
Força convir, portanto, que a apresentação intempestiva dos memoriais é uma mera
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O procedimento comum sumário, disciplinado nos arts. 531 a 538 do CPP, é aplicável nas
seguintes hipóteses:
a) Crimes cuja pena privativa de liberdade máxima seja inferior a 4 (quatro) e superior a 2 (dois)
anos, salvo nos casos de organização criminosa, cujo procedimento será sempre o comum ordinário,
ainda que a pena seja inferior a 4 (quatro) anos (art. 22 da Lei 12.850/13);
b) Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal
encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento (art. 538 do
CPP). Esta remessa será feita quando o acusado não for encontrado para ser citado, posto que não
há no juizado a citação por edital, outrossim, se a complexidade ou circunstâncias do caso não
permitirem a formulação da denúncia do Ministério Público ( art. 66, parágrafo único, e art. 77, § 2º,
da Lei 9.099/99).Vale lembrar que o procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Criminal é
aplicado aos crimes cuja pena máxima não exceda a 2 (dois) anos, outrossim, as contravenções
penais, qualquer que seja a quantidade da pena. Feita a remessa dos autos para o juízo comum, será
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adotado o procedimento comum sumário, mas será possível aplicar a transação penal e de outros
institutos despenalizadores.
c) crimes falimentares. Nestes delitos, por força do art. 185 da Lei 11.101/05, recebida a
denúncia ou queixa, sempre se adotará o procedimento comum sumário, ainda que a pena seja igual
ou superior a 4 (quatro) anos.
O procedimento comum sumário é muito parecido com o procedimento comum ordinário.
Com efeito, a sequência de seus atos é a seguinte:
a) oferecimento da denúncia ou queixa;
b) recebimento da denúncia ou queixa;
c) citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias;
d) resposta à acusação;
e) eventual réplica da acusação;
d) eventual absolvição sumária;
e) despacho de designação da audiência una de instrução e julgamento, quando não houver a
absolvição sumária;
f) audiência una de instrução e julgamento;
g) sentença.
De acordo com o §5o do art.394 do CPP aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos
especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.
As diferenças entre estes os procedimentos ordinário e sumário são apenas as seguintes:
a) a audiência una de instrução e julgamento, quando não houver a absolvição sumária, deve
ser designada no prazo de 30 (trinta) dias no procedimento comum sumário e de 60 (sessenta) dias
no procedimento comum ordinário (arts. 400 e 531 do CPP);
b) na fase de instrução, no procedimento comum sumário, poderão ser inquiridas até 5 (cinco)
testemunhas arroladas pela acusação e 5 (cinco) pela defesa e, no procedimento comum ordinário,
até 8(oito), conforme arts. 401 e 532 do CPP;
c) no procedimento comum ordinário, a lei prevê, após o interrogatório do réu, a possibilidade
de requerimento de diligências, silenciando sobre isso no procedimento comum sumário, mas nada
obsta que também haja o requerimento de diligências imprescindíveis.
d) no procedimento comum ordinário, o juiz, em determinadas hipóteses, pode ordenar a
substituição das alegações orais pelos memoriais escritos. No procedimento comum sumário, não há
esta previsão, de modo que as alegações finais, em princípio, serão sempre orais, mas em
determinadas situações, como, por exemplo, o número excessivo de acusados, malgrado o silêncio
da lei, não haverá qualquer prejuízo, mas vantagem, em se substituir as alegações orais por
memoriais, de modo que não há falar-se em nulidade. O prazo para as alegações orais, no
procedimento sumário, também é de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo
o juiz, a seguir, sentença (art. 535 do CPP).
A blogueira e influenciadora digital Mariana Ferrer narrou à polícia que um empresário a teria
dopado e estuprado, numa festa em Santa Catarina, em 2018 e, diante disso, o Ministério Público
ofereceu a ação penal.
Durante a audiência, o advogado de defesa fez várias censuras à vida pessoal de Mariana,
exibindo-lhe fotos íntimas, afirmando ainda que “jamais teria uma filha” do “nível” dela.
A humilhação da vítima por fatos não relacionados com o processo, causou comoção nacional,
inspirando a elaboração da Lei 14.245/2021, que introduziu no Código de Processo Penal o art. 400-
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INTRODUÇÃO
O Juizado Especial Criminal, conhecido pela sigla JECRIM, tem competência apenas para a
conciliação, processo, julgamento e execução das infrações penais de menor potencial ofensivo.
No âmbito dos Estados-Membros e do Distrito Federal, é previsto no art. 98, I, da CF, e, no
âmbito da Justiça Federal, no §1º do citado artigo.
Com efeito, dispõe o art. 98, I, da CF:
“A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais
de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas
hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro
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grau”.
O § 1º do art. 98 da CF acrescenta que:
“Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal”.
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
A Lei 9.099/95 rege o Juizado Criminal dos Estados-Membros e Distrito Federal, mas é também
aplicada ao Juizado Criminal Federal.
Com efeito, a Lei 10.259/2.001, que disciplina o Juizado Especial Federal, aborda apenas os
aspectos cíveis e, na seara criminal, faz expressa remissão a todos os institutos da lei 9.099/95.
O art. 95 da Lei 9.099/95 ordenou aos Estados e Distrito Federal a criação e instalação
dos Juizados Especiais permanentes, no prazo de seis meses, a contar da vigência desta Lei.
E, posteriormente, o parágrafo único do art. 95 da Lei 9.099/95, introduzido pela Lei
12.726/2.012, ordenou também aos Estados e Distrito Federal a criação e instalação dos Juizados
Especiais itinerantes, no prazo de seis meses, a contar da vigência desta Lei, que deverão dirimir,
prioritariamente, os conflitos existentes nas áreas rurais ou nos locais de menor concentração
populacional.
Vê-se assim que este juizado especial itinerante deve priorizar sua atuação:
a) nas áreas rurais;
b) nos locais de menor concentração populacional.
Composição
A jurisdição de consenso é a que visa a composição da lide através do acordo entre as partes.
Diversamente, na jurisdição de conflito, o objetivo do processo é, em regra, a imposição de
uma pena privativa de liberdade.
No juizado especial criminal vigora a jurisdição de consenso, pois se visa solucionar o conflito
através de três institutos despenalizadores, que são os seguintes:
a) composição civil dos danos;
b) transação penal;
c) suspensão condicional do processo.
Este último instituto também é cabível para infrações penais que não sejam de menor potencial
ofensivo, cuja pena mínima não exceda a um ano.
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Particularidades do JECRIM
De acordo com o art. 61 da lei 9.099/95, com redação dada pela Lei 11.313/2.006, são duas as
espécies de infrações penais de menor potencial ofensivo:
a) As contravenções penais, qualquer que seja a quantidade da pena abstrata;
b) Os crimes a que a lei comina pena privativa de liberdade máxima não superior a 2 (dois)
anos, cumulada ou não com multa. Toma-se, pois, por base, a pena abstrata e não a pena concreta.
Se a pena abstrata excede a 2 (dois) anos, ainda que o tipo penal preveja também a multa como pena
alternativa, não há falar-se em infração penal de menor potencial ofensivo.
Se houver causa de aumento de pena, para verificar se a pena excede ou não a 2(dois)
anos, toma-se por base a pena máxima e sobre ela se aplica o aumento máximo.
Na causa de diminuição de pena, toma-se a pena máxima e sobre ela se aplica o percentual
mínimo de diminuição, pois dessa forma se obtém a pena máxima
As agravantes e atenuantes genéricas não exercem qualquer influência. De fato, as agravantes
não podem elevar a pena acima do máximo e as atenuantes não podem trazê-la abaixo do mínimo.
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Ainda que a pena abstrata não exceda a 2 (dois) anos, por exemplo, ameaça, afasta-se a
competência do JECRIM e, por consequência, instaura-se inquérito policial, e não TC, sendo que o
agente poderá ser preso em flagrante e não lhe será aplicada a transação penal nem adotado o
procedimento sumaríssimo da Lei 9.099/95.
Aliás, o STF já decidiu que nem a suspensão do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95,
pode ser aplicada aos crimes que envolvem violência doméstica e familiar.
A súmula 536 do STJ dispõe que: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não
se aplicam nas hipóteses de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”.
Nos crimes que têm procedimentos especiais, mas que sejam de menor potencial ofensivo,
como é o caso dos crimes contra a honra, impõem-se também a aplicação do procedimento
sumaríssimo do JECRIM, pois a lei não os ressalva.
Quanto aos crimes de menor potencial ofensivo praticados por agentes com foro por
prerrogativa de função, seguirão o procedimento especial dos crimes de competência originária dos
tribunais, aplicando-se, contudo, as medidas despenalizadoras da Lei 9.099/95. Exemplos: crimes
praticados por juízes de direito, promotores de justiça, deputados, etc.
Crimes eleitorais
VÍTIMA IDOSA
Aos crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena abstrata não excede a 4 (quatro) anos,
aplica-se o procedimento da Lei 9.099/95, conforme prevê o art. 94 da Lei 10.741/2.003.
Na ADI 3.096, julgada em 2.010, o STF decidiu que, nos delitos cuja pena máxima excede a 2
(dois) anos, aplica-se tão somente o procedimento da Lei 9.099/95, mas sem os respectivos
benefícios.
Assim, os benefícios da Lei 9.099/95, como a composição civil, a transação penal, a vedação da
prisão em flagrante, etc., não são aplicáveis aos crimes do Estatuto do Idoso em que a pena abstrata
exceda a 2 (dois) anos. Exegese diversa, em vez de beneficiar, prejudicaria o idoso.
Se, no entanto, a pena abstrata do crime praticado contra idoso não exceder a 2 (dois) anos,
torna-se perfeitamente possível a aplicação de todos os institutos da lei 9.099/95.
CRIMES DE TRÂNSITO
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Competência do JECRIM
Tanto o Juizado Criminal Estadual ou Distrital quanto o Juizado Criminal Federal só tem
competência para as infrações penais de menor potencial ofensivo. Por exemplo: desacato contra
policial federal, a competência é do Juizado Criminal Federal.
O JECRIM federal só tem competência para julgar os crimes de menor potencial ofensivo, que
se enquadram no art. 109 da CF.
Convém lembrar que justiça federal não tem competência para julgar contravenções penais,
ainda que elas atentem contra bens, interesses ou serviços da União.
As contravenções serão da alçada do JECRIM Estadual ou do Distrito Federal.
As infrações penais de menor potencial ofensivo, em regra, não podem ser julgadas pelo juízo
comum.
Para uns, a competência do JECRIM é absoluta, pois é em razão da matéria, prevista na CF (art.
98, I).
Outros, ao revés, sustentam que a competência é relativa, pois a própria Lei 9.099/95 prevê
algumas hipóteses de modificação da competência, sendo que a competência absoluta é
imodificável.
Esta última corrente é a mais correta, pois se houver sido aplicado pelo juízo comum os
institutos despenalizadores não haverá qualquer nulidade, diante da falta de prejuízo. Se, entretanto,
houver sido negada esta possibilidade, a nulidade será absoluta.
Definida a justiça do JECRIM, o próximo passo é estabelecer a competência territorial.
A competência territorial do Juizado Criminal será determinada pelo lugar em que houver sido
praticada a infração penal (art. 63 da Lei 9.099/95).
Uma primeira corrente interpreta como sendo o local da consumação, que é o foro competente
para os crimes em geral (art. 70 do CPP).
Outra sustenta que se trata do local da conduta criminosa (ação ou omissão), por força do art.
4o do CP, que consagra a teoria da atividade. Com efeito, dispõe o art. 4º do CP: “Considera-se
praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”.
Há ainda uma terceira corrente, que adota a teoria da ubiquidade, de modo que o foro
competente seria tanto local da conduta quanto o do resultado.
A meu ver, a competência do Juizado não é do local da consumação e, sim, o da prática da
conduta, sendo, pois, uma exceção à regra geral do art. 70 do CPP.
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Conflito de competência
Princípios
Objetivos
O processo perante o JECRIM objetivará, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos
pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade (art. 62).
O JECRIM tem, pois, dois objetivos:
a) a reparação do dano causado pela infração penal; e
a) a descarcerizacão.
Citação
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No JECRIM, nos termos do art. 66, a citação será sempre pessoal, podendo ser feita da seguinte
forma:
a) no próprio juizado, sempre que possível;
b) por mandado.
Não é possível as seguintes citações:
a) pelo correio;
b) por meio eletrônico;
c) por edital;
d) por carta rogatória, posto que incompatível com o princípio da celeridade.
No JECRIM, segundo uma corrente, é também proibida a citação por hora certa.
O Fórum Nacional dos Juizados Especiais (FONAJE), no entanto, admite a citação por hora certa,
posto que a Lei 9.099/95 proíbe apenas a por edital.
Quanto à citação por carta precatória, ao acusado que reside noutra comarca, é possível, por
aplicação subsidiária do CPP. Nesse caso, em vez da precatória, nada obsta seja citado por qualquer
outro meio de comunicação.
Intimação
A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se
de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de
mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.
Assim, enquanto a citação no JECRIM só pode ser feita por oficial de justiça em cumprimento
de mandado judicial ou no próprio juizado, a intimação admite as seguintes modalidades:
a) via postal, com AR;
b) oficial de justiça, independentemente de mandado;
c) no próprio juizado;
d) qualquer meio idôneo de comunicação.
Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os
interessados e defensores.
Informações importantes
Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de sua citação, constarão duas observações:
a) a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado;
b) a advertência de que, na falta do seu advogado, ser-lhe-á designado defensor.
DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA
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CONEXÃO E CONTINÊNCIA
Em caso de conexão e continência entre um crime que seja de maior potencial ofensivo e outro
de menor potencial ofensivo, afasta-se, por força do parágrafo único do art. 60 da Lei 9.099/95, a
competência do JECRIM.
Impõem-se, nesses casos, a reunião dos processos perante o juízo comum ou tribunal do júri,
conforme a hipótese, observando-se, contudo, nesses procedimentos, em relação às infrações de
menor potencial ofensivo, os institutos da transação penal e da composição civil dos danos.
Entretanto, a conexão entre infrações penais de menor potencial ofensivo cuja soma das penas
não excede a 2 (dois) anos não retira a competência do JECRIM. Igualmente, na continência, quando
a pena não se exceder a 2 (dois) anos.
CAUSAS COMPLEXAS
FASE PRELIMINAR
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Termo circunstanciado
Nas infrações penais de menor potencial ofensivo não se instaura inquérito policial, mas termo
circunstanciado.
O termo circunstanciado é uma narrativa minuciosa da ocorrência, similar ao boletim de
ocorrência, onde a autoridade policial ouve informalmente a vítima, as testemunhas e o autor da
infração penal, inserindo no termo apenas um resumo do que cada um relatou.
O termo circunstanciado deve necessariamente conter a identificação do autor da infração
penal.
Após a sua lavratura, o autor da infração penal será encaminhado ao JECRIM pela autoridade
policial ou então assinará o termo de compromisso de comparecimento ao JECRIM.
A Lavratura do termo circunstanciado (TC) será feita pela autoridade policial que tomar
conhecimento da infração penal.
Não há, destarte, a instauração de inquérito policial nem de boletim de ocorrência.
Todavia, a autoridade policial deverá requisitar os exames periciais necessários.
Se, após a lavratura do termo circunstanciado, se verificar que se trata de um caso complexo
ou que há conexão ou continência com outro delito, que retira a competência do juizado criminal, a
autoridade policial poderá determinar a instauração do inquérito policial.
Sobre a atribuição para a lavratura do terno circunstanciado, segundo o STF, é exclusiva da
autoridade policial.
O Provimento 806/03 do Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo, porém,
admite que o termo circunstanciado seja também lavrado por oficial da Polícia Militar.
Data venia, a Lei 9.099/95 atribui apenas à autoridade policial a lavratura de
termo circunstanciado, justamente por se tratar de função investigativa, que é exclusiva da polícia
judiciária, nos termos do art. 144, § 1º, I, da CF.
Aliás, o decreto 1.557/2.003, do Estado do Paraná, que atribuía também à polícia militar
poderes para lavratura de termo circunstanciado foi declarado inconstitucional pelo STF, na
ADI 3.614, por usurpação de atribuição da polícia civil.
O termo circunstanciado, malgrado o silêncio da lei, devido à possibilidade de haver uma
posterior transação penal, não poderá constar de certidões de antecedentes criminais.
No termo circunstanciado, diante da possibilidade de transação penal, também não se deve
realizar o indiciamento, pois, em havendo transação penal, a infração penal não poderá constar em
certidões criminais.
Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, vigora a liberdade provisória obrigatória.
Não se imporá, destarte, prisão em flagrante nem se exigirá fiança ao autor do fato que, após
a lavratura do termo circunstanciado, for imediatamente encaminhado ao JECRIM pela autoridade
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policial ou então assumir o compromisso de a ele comparecer na data que lhe for designada.
Trata-se de uma medida que visa evitar o recolhimento ao cárcere, mas não impede que, diante
do flagrante, haja a captura e a condução coercitiva.
Não haverá, entretanto, a lavratura do auto de prisão em flagrante, devendo o autor do fato
ser posto em liberdade sem fiança.
Caso ele se recuse a assumir o compromisso de comparecer ao JECRIM, a autoridade policial,
nas infrações penais onde se comina pena privativa de liberdade, lavrará o auto de prisão em
flagrante e, em seguida, arbitrará a fiança, mas se à infração penal não for cominada pena privativa
de liberdade, após a lavratura do auto de prisão em flagrante, a autoridade policial concederá a
liberdade provisória sem fiança.
Lavrado o auto de prisão em flagrante, por recusar-se a comparecer aos atos do juizado,
conquanto seja o indivíduo colocado em liberdade, as investigações serão feitas através de inquérito
policial, posto que o auto de prisão em flagrante é uma das formas de instauração do inquérito e,
nesse caso, será possível o indiciamento, segundo já decidiu o STJ, embora o tema seja polêmico,
diante da possibilidade de transação penal.
No delito do art. 28 da Lei de Drogas, porte ou plantio para consumo próprio, aplica-se, tão
somente, a Lei 9.099/95, conforme §1º do art. 28 da Lei 11.343/06, sendo, ainda vedado, em
qualquer hipótese, a prisão em flagrante. Portanto, apreende-se a droga, lavra-se o TC e, na
sequência, libera-se o agente, ainda que ele não assuma o compromisso de comparecer aos atos do
JECRIM.
A composição dos danos, também chamada de transação civil ou conciliação civil, é o acordo
entre o autor do fato e a vítima sobre o montante que o primeiro deverá indenizar à segunda.
A conciliação será conduzida pelo juiz ou conciliador sob sua orientação.
Não há necessidade da participação do Ministério Público na composição civil dos danos, salvo
quando houver interesse de incapaz (art. 178, II, do CPC).
A composição dos danos será reduzida a escrito e homologada pelo juiz mediante sentença
irrecorrível, que tem a eficácia de título executivo, podendo ser executada no juízo cível competente.
Até 40 (quarenta) salários mínimos, a execução poderá ser feita no juizado especial cível, nos
termos do art. 3º, § 1º, II, da Lei 9.099/95, e, acima deste valor, no juízo cível comum.
Frise-se que, dessa sentença, não cabe nenhum recurso.
Este acordo homologado por sentença ainda tem o efeito de extinguir a punibilidade quando
se tratar de crime de ação penal privada ou ação penal pública condicionada à representação, pois,
de acordo com o parágrafo único do art. 74, ele equivale à renúncia ao direito de queixa ou
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representação.
Na ação penal privada, esta renúncia ao direito de queixa, por força do princípio da
indivisibilidade da ação penal privada, beneficiará os demais coautores e partícipes que não
participaram da conciliação.
Não ação penal pública incondicionada, o juiz também homologará a eventual composição dos
danos. Nesse caso, porém, não haverá a extinção da punibilidade, mas apenas a redução da pena de
um a dois terços, quando se tratar de crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, nos termos do
art. 16 do Código Penal.
Oferecimento de representação
Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação, dispõe o art. 75 da Lei
9.099/95, que “não obtida a conciliação dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo”.
Uma primeira corrente, com base neste dispositivo legal, sustenta que, ainda que a vítima
tenha oferecido anteriormente a representação, haverá a necessidade de uma nova
representação, na hipótese de resultar infrutífera a tentativa de composição civil dos danos.
Uma segunda corrente, acertadamente, com base no princípio da informalidade, outrossim,
pelo fato de o artigo 92 da Lei 9099/95 mandar aplicar subsidiariamente ao juizado criminal as
disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal, preconiza que a representação oferecida
anteriormente, por ocasião da lavratura do termo circunstanciado, já seria suficiente, dispensando-
se uma nova representação. Por consequência, o disposto no citado art. 75 só seria aplicado quando
não houvesse uma representação anterior.
O parágrafo único do citado art. 75, por sua vez, acrescenta que “o não oferecimento da
representação na audiência preliminar não implica decadência do direito de representação, que
poderá ser exercido no prazo previsto em lei”.
Sobre o termo inicial do prazo decadencial de 6 (seis) meses para a oferta da representação,
também há duas correntes.
Primeira, é a data da audiência preliminar, por interpretação do parágrafo único do art. 75.
Segunda, é a data do conhecimento da autoria do crime, nos termos do art. 38 do CPP.
A primeira corrente, por consagrar uma interpretação ilógica, não pode prevalecer.
Com efeito, nos crimes que não são de menor potencial ofensivo, o prazo de representação se
inicia com o conhecimento da autoria, por consequência, seria incoerente que nos delitos de menor
potencial ofensivo o prazo só se iniciasse depois, quando restasse infrutífera a conciliação dos danos
civis. Estar-se-ia consagrando um prazo maior para delitos menos graves.
Vale lembrar, porém, que não se exige uma representação formal, pois a simples lavratura do
termo circunstanciado, a pedido da vítima, já equivale a representação.
Os crimes de lesões corporais leves e lesões culposas são de ação penal pública condicionada à
representação, nos termos do art. 88 da Lei 9.098/95.
O prazo para ofertar a representação é de 6(seis) meses, a contar do conhecimento da autoria
do delito.
O prazo de 30 (trinta) dias, previsto no art. 90, foi instituído apenas para os delitos cometidos
antes da Lei 9.099/95.
Em relação à contravenção de vias de fato, por interpretação lógica, também depende de
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Oferecimento da queixa
Nos crimes de ação penal privada, não obtida a composição dos danos civis, malgrado o silêncio
da lei, será também dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de, através de advogado ou
defensor público, exercer o direito de queixa verbal, que será reduzida a termo.
Nos crimes de ação penal privada, o não comparecimento da vítima à audiência preliminar, não
gera a extinção da punibilidade, pois ainda não há a oferta da queixa-crime, de modo que não há
falar-se em perempção, mas os autos permanecerão em cartório aguardando uma nova provocação
ou o decurso do prazo decadencial.
Conceito
Transação penal é o acordo entre o Ministério Público e o autor do fato, pelo qual o primeiro,
em troca de não oferecer a denúncia, propõe ao segundo a aceitação de uma pena de multa ou
restritiva de direitos.
Esta imposição de pena sem julgamento não é inconstitucional, posto que autorizada
expressamente pelo art. 98, I, da CF.
Nas infrações penais de menor potencial ofensivo vigora o princípio da obrigatoriedade regrada
ou discricionariedade regrada ou mitigada ou balizada da ação penal pública, enquanto que nos
demais delitos esse princípio ainda é absoluto, à medida que o Ministério Público não terá outra
opção que não seja o oferecimento da denúncia.
Requisitos
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c) Não ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores por outra transação penal.
Quanto ao prazo de 5 (cinco) anos, conta-se da extinção da punibilidade do delito que motivou a
transação anterior.
d) Que os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos e as
circunstância do crime indiquem que a pena aplicada na transação é necessária e suficiente. Trata-
se de um requisito subjetivo, que consagra o princípio da suficiência da pena.
e) Aceitação da proposta pelo autor da infração penal e seu defensor. Caso a transação tenha
sido realizada sem a presença de advogado ou defensor público, a nulidade será absoluta, por
violação do princípio da ampla defesa. Se o advogado ou defensor Público concorda com a proposta
do Ministério Público, mas o autor do delito a rejeita, o juiz não poderá homologar a transação. Se,
ao revés, o autor do delito concorda, mas o advogado ou defensor público rejeita a proposta, o juiz
poderá homologar a transação, pois, por se tratar de um instituto baseado na justiça consensual, a
vontade do autor deverá prevalecer sobre a do causídico.
Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a transação penal exige mais um requisito,
que é a prévia composição do dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade (art.
27 da Lei 9.605/98).
Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação ou requisição do ministro da
justiça, por sua vez, a transação ainda depende de outros dois requisitos:
a) que haja a representação ou requisição do ministro da justiça, conforme a hipótese;
b) que não tenha ocorrido a homologação judicial da composição civil dos danos. De fato, a
composição civil dos danos equivale à renúncia do direito de representação, e, por consequência,
extingue a punibilidade, inviabilizando-se a posterior transação penal.
Homologação
Na transação, a pena sugerida pelo Ministério Público pode ser restritiva de direitos ou multa.
Aceita a proposta, o juiz não estará obrigado a homologar automaticamente o acordo, pois terá
que analisá-lo sob o prisma da legalidade.
O juiz não poderá intervir no mérito da transação, salvo para reduzir a pena de multa, quando
ela for a única pena cominada ao tipo penal.
De fato, se o tipo penal prevê tão somente a pena de multa, como ocorre em várias
contravenções penais, o juiz reduzirá a pena até a metade (§1º do art. 76).
Presentes os requisitos legais, o juiz prolatará sentença homologatória da transação, da qual
caberá o recurso de apelação no prazo de 10 (dez) dias.
Trata-se de uma sentença condenatória imprópria, pois não gera os efeitos secundários da
condenação.
Uma segunda corrente sustenta que a sentença é constitutiva, pois não há condenação sem o
devido processo legal.
Uma terceira corrente ensina que é meramente declaratória, pois apenas homologa a vontade
das partes (posição do STJ).
Efeitos
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Não produz assim qualquer efeito extrapenal e o único efeito penal secundário será a vedação,
durante os próximos 5 (cinco) anos, de uma nova transação penal, uma espécie de maus
antecedentes restrito ao JECRIM.
Aliás, a transação penal nem consta na certidão de antecedentes, exceto quando requisitado
esse documento por juiz criminal. Assim, a certidão de antecedentes deve sair com a observação de
que nada consta.
Não é dado ao juiz o poder de conceder de ofício a transação penal contra vontade do Ministério
Público.
Por analogia, o juiz pode aplicar o art. 28 do CPP e enviar os autos ao Procurador Geral de
Justiça quando o promotor de justiça optar pelo oferecimento da denúncia em vez de propor a
transação penal.
No âmbito do Ministério Publico Federal, se houver o oferecimento da denúncia sem a prévia
proposta de transação, o juiz, em vez de receber a denúncia, remeterá os autos à Câmara de
Coordenação e Revisão do MPF.
O Procurador Geral de Justiça ou a Câmara de Coordenação e Revisão do MPF poderá insistir
na denúncia ou então propor a transação ou designar outro membro do Ministério Público para
propô-la.
É também cabível a transação penal nos crimes de ação penal privada, mas a proposta deve ser
feita pela vítima ou por seu representante legal, e não pelo Ministério Público.
O entendimento contrário, que atribui a legitimidade ao Ministério Público, não pode ser
aceito, pois implica em usurpação da legitimidade “ad causam” para a ação penal privada.
Na hipótese de o querelante não oferecer a transação penal, ela se inviabilizará, pois o juiz não
poderá concedê-la de ofício. Outra corrente minoritária sustenta que, nesse caso, o Ministério
Público poderia fazer a proposta.
Nos crimes de ação penal privada só será possível transação quando não houver ocorrido a
composição civil dos danos, pois, nesse caso, antes de surgir a oportunidade para a transação, já terá
ocorrido a extinção da punibilidade.
Assistente de acusação
Convém salientar que, nos crimes de ação penal pública, a vítima não participa da transação
penal, cuja proposta deve ser formulada exclusivamente pelo Ministério Público.
A lei também não confere legitimidade ao assistente de acusação.
Aliás, antes do oferecimento da denúncia não é sequer possível a figura do assistente de
acusação, pois este só pode atuar após o recebimento da denúncia.
Forma
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A transação pode ser ofertada por escrito ou verbalmente e deverá conter na proposta uma
pena de multa ou restritiva de direitos.
Concurso de pessoas
Em caso de concurso de pessoas, a proposta não precisa ser direcionada a todos eles.
A aceitação por um não se comunica aos demais.
Recurso
Acrescente-se ainda que da sentença que homologa a transação é cabível o recurso de apelação,
nos termos do art. 75, § 5º, da Lei 9.099/95.
Igualmente, caberá apelação contra decisão que não homologar a transação, nos termos do
art. 593, II, do CPP, pois se trata de uma decisão com força de definitiva.
Coisa julgada
Transação penal, conforme já visto, é o acordo entre o Ministério Público e o autor do fato,
pelo qual o primeiro, em troca de não oferecer a denúncia, propõe ao segundo a aceitação de uma
pena de multa ou restritiva de direitos. Se o autor do fato aceitar a proposta e o juiz homologá-la,
operar-se-á a extinção da punibilidade com a cláusula “rebus sic stantibus”, podendo o Ministério
Público oferecer a denúncia apenas na hipótese de o autor descumprir a pena.
Não faz, destarte, coisa julgada material a sentença que homologa a transação penal.
A propósito, dispõe a súmula vinculante 35:
“A homologação da transação penal prevista no art. 76 da Lei 9.99/95 não faz coisa julgada
material e, descumpridas as suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial”.
A transação penal e a composição civil, em regra, devem ser oferecidas na audiência preliminar,
antes da propositura da denúncia ou queixa.
Entretanto, poderão ser feitas depois nas seguintes hipóteses:
a) se, na fase preliminar, não tiver havido possibilidade de realização. Nesse caso, o juiz do
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JECRIM, na audiência de instrução e julgamento, antes de iniciar o ato, dará oportunidade para a sua
realização (art. 79 da Lei 9.099/95).
b) se, no curso do processo que tramita no juízo comum, houver sido dado ao fato criminoso,
descrito na peça acusatória, uma nova definição jurídica, conferindo-lhe o tratamento de infração
penal de menor potencial ofensivo. Trata-se da chamada “emendatio libelli”. Nessa situação, o juiz
simplesmente deverá prolatar uma decisão desclassificatória, onde reconhece a sua incompetência,
ordenando a remessa dos autos ao JECRIM, nos termos do § 2o do art. 383 do CPP, quando então
será dada oportunidade para a composição civil e transação. Caso, entretanto, o magistrado, no
próprio processo que tramita no juízo comum, resolver abrir a oportunidade para a conciliação civil
ou transação penal, não há falar-se em nulidade, diante da ausência de qualquer prejuízo.
c) se, no curso do processo que tramita no juízo comum, houver a alteração do fato descrito na
peça acusatória, que se transmuda em infração penal de menor potencial ofensivo, em razão de
novos elementos ou circunstâncias surgidos durante a instrução. Nessa situação, que é de “
mutatio libelli”, que enseja o aditamento da denúncia pelo Ministério Publico, feito o aditamento
para se considerar o fato como sendo infração penal de menor potencial ofensivo, o juiz deverá
reconhecer a sua incompetência e ordenar a remessa dos autos ao JECRIM, nos termos do art. 384
do CPP, quando então será dada oportunidade para a composição civil e transação. Se, por exemplo,
após a instrução, se constatar que não se trata de receptação dolosa, mas culposa, o Ministério
Público deverá aditar a denúncia, posto que a culpa, até então, não se encontrava descrita na peça
acusatória.
d) acusado por infração penal de menor potencial ofensivo, que é citado por edital no juízo
comum, mas que depois comparece. Nesse caso, ser-lhe-á, no próprio juízo comum, dada
oportunidade para a composição civil e transação, mas os autos não retornarão ao JECRIM.
e) acusado por infração penal de menor potencial ofensivo, cujos autos, devido à sua
complexidade, tenham sido remetidos ao juízo comum. Nesse caso, o juízo comum deverá dar
oportunidade para a composição civil e transação.
f) acusado, no juízo comum, por dois delitos, cuja soma das penas excedia a 2 (dois) anos, mas
que, em razão da absolvição de um deles, o delito remanescente passou a admitir a composição civil
e transação. Nesse caso, ao contrário dos art. 383 § 2o e 384 do CPP, persiste a competência do juízo
comum, conforme art. 81 do CPP, que consagra o princípio da perpetuação da jurisdição. Entretanto,
antes de também sentenciar o delito remanescente de menor potencial ofensivo, o juiz deverá dar
oportunidade para a realização da composição civil e da transação.
Cumpre ainda acrescentar que quando a transação é realizada antes do oferecimento da
denúncia, o assistente de acusação não poderá recorrer da sentença que a homologou, pois a lei não
admite que ele atue antes do recebimento da denúncia.
Nas hipóteses acima, porém, onde a transação é realizada depois do recebimento da denúncia,
não vejo óbice para o recurso do assistente de acusação para questionar a legalidade da transação.
A transação e a prescrição
A prescrição, como se sabe, inicia-se a partir da consumação do delito e a sua primeira causa
de interrupção é o recebimento da denúncia ou queixa, conforme art. 117, I, do CP.
A realização da transação penal não tem a força de interromper nem de suspender a prescrição,
pois, ao contrário do que ocorre com a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei
9.099/95, onde a lei ordena a suspensão da prescrição, na transação , a lei é omissa acerca do
assunto, sendo vedada a analogia “in malam partem”.
A prescrição só será interrompida com o recebimento da denúncia ou queixa, que, em caso de
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PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO
Não sendo possível a transação penal, o Ministério Público oferecerá a denúncia e, nos crimes
de ação penal privada, a vítima poderá oferecer a queixa.
A denúncia ou queixa pode ser oferecida oralmente na própria audiência preliminar ou depois,
por escrito.
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A prova da materialidade da infração penal que envolve lesão corporal pode ser feita por
boletim médico ou outra prova equivalente. Portanto, para o oferecimento da denúncia, dispensa-
se o exame de corpo de delito desde que a materialidade esteja comprovada por esses outros meios.
A propósito dispõe o art. 77, § 1º, da Lei 9.099/95
“Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência
referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo
de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente”.
Uma primeira corrente, com base na interpretação literal, sustenta que o exame de corpo de
delito só pode ser substituído pelo boletim médico para efeito de oferecimento da denúncia ou
queixa, mas, por ocasião da sentença condenatória, haverá a necessidade do exame de corpo de
delito.
Outra corrente, com fundamento na interpretação extensiva e no princípio da informalidade,
assevera que a materialidade poderá ser comprovada, inclusive, para efeito de sentença
condenatória, com base no boletim médico ou outra prova equivalente, dispensando-se o exame de
corpo de delito.
Esta última exegese é a mais correta, sob pena de o referido dispositivo legal se revelar inócuo,
posto que, em regra, para efeito de oferecimento da denúncia ou queixa, o exame de corpo delito é
dispensável para todos os crimes.
Quanto ao número de testemunhas, uma primeira corrente sustenta que o máximo é de 3
(três)para cada parte, por aplicação subsidiária do art. 34 da Lei 9.099/95, que cuida do juizado cível.
Outra corrente apregoa que o número seria 5 (cinco), por aplicação subsidiária do procedimento
comum sumário do CPP.
Tanto a denúncia quanto a queixa podem ser oral ou escrita, outrossim oferecidas na própria
audiência preliminar ou depois. Caso seja oral será reduzida a escrito.
Convém observar que, enquanto as testemunhas de acusação devem ser arroladas na
denúncia ou queixa, sob pena de preclusão, as testemunhas da defesa não precisam ser arroladas,
pois o acusado será citado para trazê-las à audiência ou apresentar requerimento para intimação,
no mínimo cinco dias antes da realização da audiência, conforme § 1º do art. art. 78 da Lei 9.099/95.
Assim, o réu simplesmente leva as suas testemunhas à audiência, sem prévia comunicação ao
juízo.
Citação do réu
Após a oferta da denúncia ou queixa, o réu será citado para comparecer à audiência de
instrução e julgamento.
Cumpre observar que a lei ordena a citação antes do recebimento da denúncia ou queixa, pois
a decisão de admissibilidade ou não da peça acusatória só será prolatada na audiência de instrução
e julgamento.
A doutrina observa que não se trata propriamente de citação, mas, sim, de notificação, posto
que a citação pressupõe o recebimento da denúncia ou queixa.
Na verdade, trata-se ao mesmo tempo de notificação e citação sob condição suspensiva, pois
o ato citatório só se aperfeiçoará se houver o recebimento da denúncia ou queixa.
A lei rotulou o ato de citação para evitar que, após o recebimento da denúncia ou queixa,
houvesse a necessidade de uma citação, que implicaria em designação de nova audiência, retardando
inocuamente o andamento do processo, em contraste com o princípio da celeridade.
Se a denúncia ou queixa houver sido oferecida na audiência preliminar, na qual o acusado se
encontrava presente, a citação, para comparecer à audiência de instrução e julgamento, se
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Aberta a audiência, o primeiro ato é a defesa preliminar, isto é, o juiz dará a palavra ao defensor
para responder oralmente à acusação. Caso a defesa já esteja escrita, o juiz poderá autorizar a sua
juntada aos autos, dando oportunidade para que seja lida pelo órgão acusatório.
Em seguida, o juiz receberá ou não a denúncia ou queixa. Portanto, a denúncia ou queixa não
são recebidas ou rejeitadas de plano, mas somente após a apresentação da defesa preliminar, sob
pena de nulidade do processo.
É pacífico na jurisprudência que o recebimento da denúncia ou queixa não precisa ser
fundamentado.
Na ação penal privada, o não comparecimento do advogado do querelante a esta audiência
ensejará a extinção da punibilidade pela perempção (art. 60, III, do CPP).
A defesa preliminar tem o objetivo convencer o magistrado acerca da rejeição da denúncia ou
queixa, suscitando a inépcia da peça acusatória, a falta de pressupostos processuais, de condições da
ação ou de justa causa.
Entretanto, como não haverá depois do eventual recebimento da denúncia ou queixa uma nova
oportunidade para a apresentar a defesa de mérito , que é denominada de resposta à acusação, é
conveniente que, na própria defesa preliminar, o acusado também suscite as teses de absolvição ou
de redução da pena, mas se não o fizer ainda poderá argui-las durante os debates.
Uma outra corrente, porém, sustenta que, após o recebimento da denúncia ou queixa, ainda
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não teria início a instrução processual, pois teria que se dar oportunidade para a apresentação da
defesa meritória, que é denominada
de resposta à acusação.
De fato, o §4º do art. 394 do CPP ordena que a resposta à acusação seja aplicada a todos os
procedimentos, inclusive, quando regidos por leis especiais.
Entretanto, a apresentação de duas defesas na mesma audiência colide com o princípio da
simplicidade, que é um dos postulados do juizado criminal, além de ferir o princípio da celeridade e
representar uma superfetação, ou seja, algo inútil, tendo em vista que, na própria defesa preliminar,
será também possível concentrar todas as teses meritórias.
Ademais, §5o do art. 394 do CPP esclarece que:
“Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as
disposições do procedimento ordinário”.
Vê-se assim que a aplicação das normas do procedimento comum ordinário tem caráter
subsidiário, não podendo contrariar as finalidades da lei.
Após a defesa preliminar, se houver o recebimento da denúncia ou queixa, o juiz analisará a
possibilidade de absolvição sumária, nos termos do §4º do art. 394 do CPP.
Outra corrente, porém, sustenta que o juiz, após o recebimento da denúncia ou queixa, não
precisaria analisar esta possibilidade, pois o recebimento da denúncia ou queixa implica em rejeição
tácita da tese de absolvição sumária.
Em não sendo o caso de absolvição sumária, inicia-se a fase de instrução com a inquirição na
seguinte ordem:
a) vítimas;
b) testemunhas de acusação;
c) testemunhas de defesa;
d) interrogatório do réu, se estiver presente.
Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o juiz
limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias (§1º do art. 81 da Lei
9.099/95).
Tem sido admitido, porém, por força do direito à prova, a inquirição de testemunhas através
de carta precatória, pois o CPP é aplicado subsidiariamente ao procedimento sumaríssimo.
Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva
de quem deva comparecer.
Após o interrogatório do réu, passa-se imediatamente aos debates orais, no prazo de 20 (vinte)
minutos para a acusação e 20 (vinte) para a defesa.
A lei não prevê a substituição dos debates orais pelos memoriais escritos, mas caso haja esta
substituição não haverá nulidade, diante da falta de prejuízo.
Ato contínuo, haverá a prolação da sentença no próprio termo da audiência. A sentença
dispensa o relatório.
De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes,
contendo:
a) um breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência; e
b) a sentença.
RECURSOS
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recurso extraordinário.
Apelação
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Embargos de declaração
É pacífico que do acórdão da turma recursal é cabível recurso extraordinário ao STF (Súmula
640 do STF).
De fato, este recurso é cabível quando a causa for decidida em única ou ultima instância, não
se exigindo, ao contrário do que ocorre com o recurso especial, que seja decidida por órgão de
segundo grau de jurisdição.
Não é cabível, destarte, o recurso especial ao STJ, pois a turma recursal não é um órgão de
segundo grau de jurisdição, posto que composta por magistrados de primeiro grau de jurisdição
(Súmula 203 do STJ).
Ademais, a turma recurso não é um tribunal, sendo que recurso especial só é cabível contra
decisões de tribunal.
Uma primeira corrente sustenta que não é cabível o recurso em sentido estrito, posto que,
além de não previsto na Lei 9.099/95, a matéria poderá ser arguida em preliminar de apelação.
Outra corrente, que é dominante, acertadamente, admite este recurso nas hipóteses do art.
581 do CPP, pois o CPP é aplicado subsidiariamente (art. 92 da Lei 9.099/95). Exemplo: decisão que
reconhece a prescrição ou outra causa de extinção da punibilidade (art. 581, VIII, do CPP). Outro
exemplo: decisão que reconhece a incompetência do JECRIM (art. 581, II, do CPP).
De fato, a exclusão do recurso em sentido estrito tornaria irrecorríveis as duas decisões citadas
nos exemplos acima e outras decisões relevantes, previstas no art. 581 do CPP.
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Mandado de segurança
Sobre o mandado de segurança contra ato de juiz do JECRIM, dispõe a súmula 376 do
STJ:“Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado
especial”.
Não obstante a súmula acima, o pleno do STF já decidiu que não cabe mandado de segurança
contra as decisões interlocutórias do juizado criminal, pois elas poderão ser impugnadas em
preliminar de uma futura apelação.
Quanto ao mandado de segurança interposto contra decisão da turma recursal, de acordo com
o STF, é da competência da própria turma recursal e não do STF ou do Tribunal de Justiça.
“Habeas corpus”
É ainda possível se impetrar “habeas corpus”, contra acórdão da turma recursal, perante o
Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, conforme se trate de JECRIM Estadual ou Federal. A
Súmula 690 do STF, que atribuía essa competência ao STF, foi cancelada.
A rigor, não há hierarquia entre a turma recursal e os tribunais de justiça ou tribunais regionais
federais, tanto é que estes tribunais não são instâncias revisoras dos acórdãos das turmas recursais,
mas o STF, por uma questão pragmática, resolveu lhes atribuir a competência para a análise de
“habeas corpus”, contra acórdão da turma recursal, cancelando a súmula 690.
Revisão criminal
Por aplicação subsidiária do CPP, também será cabível, após o trânsito em julgado da sentença
ou acórdão condenatório, a revisão criminal, que será julgada pela turma recursal, e não pelo tribunal
de justiça.
No âmbito do juizado cível, a lei vedou expressamente a ação rescisória, silenciando, de forma
eloquente, acerca da revisão criminal, autorizando implicitamente o seu cabimento.
CONCEITO
Norma geral
Conquanto previsto na Lei n. 9.099/95, o “sursis” processual é norma geral, aplicável, por isso,
a todo o direito penal, inclusive aos delitos que apresentam procedimento especial.
É, pois, um equívoco supor que a suspensão condicional do processo seria cabível apenas nas
infrações penais de menor potencial ofensivo, pois esse instituto é aplicável a todos os demais crimes
cuja pena mínima não exceda a 1 (um) ano.
Na época, introduziu-se no projeto que gerou a Lei 9.099/95 dois outros projetos de leis que
tramitavam separadamente. Foi uma forma de aprová-los em conjunto. O primeiro foi o que passou
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a exigir representação na ação penal relativa aos crimes de lesão corporal leve e lesões culposas (art.
88). O segundo foi justamente a suspensão condicional do processo (art. 89).
Vedação
Requisitos
Pena mínima
Conforme já dito, para se obter o benefício, a pena abstrata mínima deve ser igual ou inferior
a um ano;
Abre-se exceção aos tipos penais que preveem alternadamente pena privativa de liberdade ou
multa, nesse caso, ainda que a pena mínima seja superior a um ano, admite-se a suspensão do
processo, conforme Informativo 475 do STF. Exemplo: o crime do art. 7o da Lei 8.137/90 prevê como
pena uma detenção de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
Na hipótese de tentativa ou outra causa de diminuição de pena, toma-se a pena abstrata
mínima e se reduz ao máximo, obtendo-se assim a pena mínima. Uma tentativa de furto qualificado
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(§ 4o do art. 155 do CP), por exemplo, cuja pena mínima é de 2 (dois) anos, mas que, reduzida no
máximo de 2/3 (dois terços) pela tentativa, totaliza 8 (oito) meses, admite a suspensão condicional
do processo.
Ao revés, quando houver causa de aumento de pena, toma-se a pena mínima e se aumenta no
mínimo, verificando-se, em seguida, se excede ou não a 1 (um) ano.
Na hipótese de concurso de infrações penais, dispõe a Súmula 243 do STJ:
“O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima
cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um ano”.
A propósito, ainda dispõe a Súmula 723 do STF:
“Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado se a soma da pena
mínima da infração mais grave com o aumento de um sexto for superior a um ano”.
Assim, no concurso material, para a análise da concessão do benefício, faz-se a soma das penas
mínimas.
No concurso formal e crime continuado, aplica-se sobre a pena mínima o percentual mínimo
de aumento, que é de 1/6 (um sexto).
NATUREZA JURÍDICA
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sentença absolutória, o magistrado se abstém de julgar o acusado pelo outro delito, abrindo vista ao
Ministério Público para se pronunciar sobre a suspensão do processo.
Na hipótese de a desclassificação ou procedência parcial se verificar no tribunal, em grau de
recurso, o julgamento deverá ser convertido em diligência para que o juiz intime as partes, a fim de
se viabilizar a concessão do benefício.
Se, antes do trânsito em julgado, ocorrer a extinção da punibilidade, em relação a um dos
crimes, viabilizando-se o benefício quanto ao delito remanescente, creio que o juiz ou tribunal deva
converter o julgamento em diligência para que o Ministério Público ofereça a proposta de suspensão
do processo.
Há, entretanto, entendimento no sentido de que a prescrição com base na pena concreta, ainda
que ocorra antes do trânsito em julgado da condenação, obstaria o benefício para os demais delitos,
pois, nesse caso, a procedência da ação teria sido total, sendo inaplicável a súmula 337 do STJ.
Fora das hipóteses de desclassificação e de procedência parcial, se o benefício não houver sido
proposto por ocasião do oferecimento da denúncia, a defesa deve pleiteá-lo na resposta à
acusação, sob pena de preclusão, pois o não oferecimento da proposta de suspensão do processo é
causa de nulidade relativa, sujeitando-se, destarte, à preclusão.
Recursos
Período de prova
O período de prova é o lapso de tempo em que o acusado deve cumprir as condições legais e
judiciais.
Durante o período de prova, cujo prazo é idêntico ao do “sursis”do Código Penal, ou seja de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, o réu deve cumprir as condições legais do art. 89, § 1o, I a IV, da Lei n.
9.099/95 e outras que o juiz eventualmente fixar.
Na hipótese de contravenção penal, o período de prova é de 1 (um) a 3 (três) anos.
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Extinção da punibilidade
Expirado o período de prova sem que tenha havido revogação, o juiz declarará extinta a
punibilidade (§ 5o do art. 89 da Lei n. 9.099/95).
Dessa decisão é cabível o recurso em sentido restrito (CPP, art. 581, IX).
De acordo com o STF, ao contrário do “sursis” do Código Penal que, por força de lei, extingue-
se automaticamente com o simples decurso do prazo do período de prova (art. 82 do CP), na
suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95, a extinção da punibilidade
depende de decisão judicial.
Enquanto não prolatada essa decisão, o benefício pode ser revogado, ainda
que tardiamente, quando se detectar que, durante o período de prova, ele deveria ter sido
revogado. Impõe-se, por exemplo, a revogação quando, expirado o período de prova, o juiz verificar
que, na vigência do benefício, o agente foi processado por outro crime.
Questão aberta a polêmicas é a de saber se o juiz pode ou não conceder, de ofício, o “sursis”
processual.
Uns respondem afirmativamente, argumentando que, em se tratando de direito subjetivo de
liberdade do réu, não se pode atribuir ao promotor de justiça a decisão sobre o cabimento ou não do
benefício.
Outros respondem negativamente, apegados no próprio texto da lei, que confere ao Ministério
Público o monopólio da proposta da medida.
Filio-me a esta última corrente.
O “sursis” processual representa uma mitigação ao princípio da obrigatoriedade da ação penal,
cuja titularidade a Constituição Federal assegura ao Ministério Público (CF, art. 129, I).
É lógico, portanto, que apenas o titular da ação penal deve deter o poder de disponibilidade do
“jus persequendi in juditio”.
Caso, porém, o Ministério Público , por mero capricho, ou por um falso juízo, deixe de propor
a suspensão do processo, o juiz, entendendo cabível a suspensão, pode remeter os autos ao
Procurador-Geral da Justiça, provocando a sua opinião sobre a questão, aplicando, por analogia, o
art. 28 do CPP (Súmula 696 do STF). No âmbito federal, porém, o juiz remeterá os autos à Câmara
Criminal do Ministério Público Federal, que é o órgão competente para apreciar a discordância do
pedido de arquivamento de inquérito policial.
Nos crimes de competência originária dos tribunais, a proposta de suspensão do processo
deverá ser feita pelo Procurador Geral da República ou Procurador Geral de Justiça, conforme o caso,
e, caso não seja feita, não há o que fazer senão determinar o prosseguimento do processo.
Discute-se sobre a concessão da suspensão do processo em relação aos delitos de ação penal
privada.
Uma primeira corrente preconiza pela impossibilidade, argumentando que o art. 89 somente
admite a aplicação do instituto por proposta do Ministério Público, quando do oferecimento da
denúncia, não se referindo à queixa-crime, acrescentando-se ainda que a ação penal privada tem
natureza dispositiva, havendo possibilidade de renúncia ao direito de queixa e de perdão do
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ofendido.
Uma segunda corrente sustenta que o benefício deve ser estendido aos delitos de ação penal
privada, por analogia “in bonam partem”.
Filio-me a esta última corrente. Resta saber quem deve propor a suspensão do processo.
Uns entendem que é o querelante (posição dominante); outros sustentam que é o Ministério
Público. Uma terceira corrente atribui ao juiz a iniciativa da proposta.
A meu ver, a proposta deve ser feita pelo querelante, mas se este não a fizer, o Ministério
Público poderá propô-la. Com efeito, não é razoável permitir a suspensão do processo aos casos de
ação penal pública, e negá-la nos delitos de ação penal privada, que, em regra, são mais brandos.
Não se pode dar um tratamento mais rigoroso aos fatos de menor gravidade.
Cumpre ainda acrescentar que o Ministério Público atua na ação penal privada como “custos
legis”, devendo propor a suspensão do processo, quando cabível, na hipótese de o querelante, por
mero capricho, deixar de realizá-la. Afinal, o querelante é um substituto processual, que defende em
nome próprio o interesse punitivo do Estado, competindo ao Ministério Público fiscalizá-lo e velar
pelos direitos públicos subjetivos de liberdade do acusado.
Outra corrente, porém, em caso de o querelante se recusar a formular a proposta, sustenta
que o benefício não poderá ser concedido, pois ele é o titular exclusivo da ação penal privada.
EFEITOS
CONDIÇÕES
REVOGAÇÃO
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Note-se que, durante o período de prova, a prescrição permanece suspensa (§6º do art. 89 da
Lei n. 9.099/95).
Em dois casos revoga-se obrigatoriamente a suspensão do processo.
O primeiro deles ocorre quando o réu vier a ser processado por outro crime, pouco importa se
praticado antes ou depois do delito que ensejou a suspensão condicional do processo. É, no entanto,
essencial, para que haja a revogação obrigatória, que a denúncia ou queixa já tenha sido recebida,
pois antes disso, a rigor, ainda não há processo.
A meu ver, há violação do princípio da presunção da inocência. A hipótese deveria figurar como
causa de prorrogação.
O segundo tem lugar quando o réu não efetuar, sem motivo justo, a reparação do dano.
Por outro lado, revoga-se facultativamente o benefício, isto é, a critério do juiz, quando o réu
vier a ser processado por contravenção ou descumprir qualquer das condições que lhe tenham sido
impostas (§4º do art. 89).
PRORROGAÇÃO
Nos crimes ambientais, conforme art. 28 da Lei 9.605/98, a extinção da punibilidade, em razão
da suspensão condicional do processo, dependerá de laudo de constatação da reparação do dano
ambiental, ressalvado os casos de absoluta e comprovada impossibilidade, ou seja, quando o acusado
for insolvente ou o dano for irreparável.
Na hipótese desse laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo
de suspensão do processo será prorrogado até o máximo, ou seja, 4 (quatro) anos acrescido de mais
um ano, totalizando-se, destarte, 5(cinco) anos, com suspensão do prazo de prescrição.
Nesse período de prorrogação não incidem as condições.
Findo esse prazo, será feito novo laudo de constatação e, apurada que a reparação não foi
integral, será admitida ainda outra prorrogação idêntica, ou seja, de até 5(cinco) anos.
Ao final dessas prorrogações, a declaração de extinção da punibilidade dependerá de um
terceiro laudo de constatação que comprove a reparação do dano ambiental. Se o dano não houver
sido reparado integralmente, revoga-se o benefício e o processo prossegue, salvo se do laudo de
constatação o juiz concluir que o acusado tomou as providências necessárias à reparação integral do
dano, nesse caso, ainda que a reparação não tenha sido integral, o juiz poderá declarar extinta a
punibilidade.
Fora dos crimes ambientais, não há outra hipótese de prorrogação da suspensão condicional
do processo.
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O “sursis” processual também difere do antigo “sursis” inglês, que adotava o sistema do
“probation system”.
No primeiro, o juiz não prolata decisão sobre a culpabilidade do réu.
No segundo, o juiz chega a declarar o réu culpado, suspendendo, só depois disso, a prolação da
sentença condenatória.
JÚRI
Introdução
Fundamento constitucional
O tribunal do júri não está previsto no capítulo que a Constituição Federal reserva ao poder
judiciário, mas, sim, no art. 5º, XXXVIII, como sendo um dos direitos e garantias individuais.
Dessa forma, trata-se de cláusula pétrea e, por consequência, não se pode, através de emenda
constitucional, excluir do tribunal do júri o julgamento dos crimes dolosos contra vida, mas nada
obsta uma emenda constitucional para ampliar a sua competência.
Características
Plenitude da defesa
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O tribunal do júri tem competência apenas para julgar os crimes dolosos contra a vida e os que
lhes são conexos.
Quanto às contravenções penais conexas aos crimes dolosos contra vida, só serão julgadas pelo
júri da justiça estadual.
A justiça federal não tem competência para julgar contravenções penais e, por consequência,
o júri federal também não poderá julgá-las, mantendo-se, destarte, em relação a elas a competência
do juízo singular da Justiça Estadual.
Os crimes dolosos contra a vida, que estão previstos no capítulo I do título I da parte especial
do Código Penal, são os seguintes:
a) homicídio (art. 121 do CP);
b) participação em suicídio (art. 122 do CP);
c) infanticídio (art. 123 do CP);
d) aborto (arts. 124 a 128 do CP).
Os delitos que atentam contra a vida, mas que não são classificados como crimes dolosos
contra vida, são excluídos da competência do Júri.
Dessa forma, não são julgados pelo Tribunal do Júri, dentre outros, os seguintes delitos:
a) latrocínio (súmula 603 do STF);
b) extorsão são mediante sequestro seguida de morte (art. 159, § 3º, do CP);
c) genocídio, com morte (Lei 2.889/56).
Quanto aos crimes dolosos contra a vida praticados por agentes que têm foro por prerrogativa
de função, previsto na Constituição Federal, a competência também não será do tribunal do júri. No
homicídio doloso praticado por promotor de justiça, por exemplo, a competência será do tribunal de
justiça.
Se, porém, o foro por prerrogativa de função houver sido previsto pela Constituição Estadual,
prevalecerá a competência do Júri (súmula vinculante 45).
Vale lembrar que o Supremo Tribunal Federal não tem mais admitido foro por prerrogativa de
função fixado exclusivamente nas constituições estaduais.
Há ainda os crimes dolosos contra a vida classificados como crimes militares, cuja competência
é afeta à justiça castrense. São eles:
a) os cometidos por militar da ativa contra militar da ativa (art. 9º, II, “a”, do CPM).
b) os crimes cometidos por militar das Forças Armadas, em serviço, contra civil, nas situações
do § 2o do art. 9º do CPM)
Os crimes dolosos contra a vida cometidos por militares contra civis, serão da competência do
Tribunal do Júri (§1o do art. 9º do CPM). Abre-se exceção aos cometidos por militares das Forças
Armadas, nas situações do art. 9º, §2o, do CPM, nesse caso, ainda que a vítima seja civil, a
competência será da justiça militar da União.
Sumário da culpa
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Impronúncia e despronúncia
A impronúncia é o ato judicial que extingue o processo sem resolução do mérito, com
fundamento na falta de prova da materialidade do fato ou na ausência de indícios suficientes de
autoria ou de participação.
Noutras palavras, é a decisão que determina que, em razão da fragilidade das provas, o réu não
será levado a júri.
A impronúncia não faz coisa julgada material, mas apenas a formal, pois, diante do surgimento
de novas provas, uma nova denúncia ou queixa substitutiva poderá ser oferecida, enquanto não
ocorrer a extinção da punibilidade (art. 414, parágrafo único, do CPP).
As provas, para a ensejar outra denúncia ou queixa, devem ser substancialmente novas, ou
seja, até então desconhecidas.
Quanto às provas formalmente novas, que são as que já eram conhecidas, mas não foram
requeridas, não autorizam outra denúncia ou queixa.
O surgimento de provas novas, autoriza uma outra denúncia ou queixa, e não o
reaproveitamento da peça acusatória anterior, de modo que haverá uma nova ação penal.
A impronúncia, em regra, é prolatada após as alegações orais, mas se o juiz pronunciar o réu,
em havendo a interposição de recurso em sentido estrito, o magistrado poderá se retratar e decidir
pela impronúncia.
Esta impronúncia feita pelo juiz, por ocasião do juízo de retratação, ou pelo tribunal, ao julgar
o recurso interposto contra a decisão de pronúncia, é denominada de despronúncia.
Despronúncia é, pois, a impronúncia do réu que inicialmente havia sido pronunciado.
Sobre a natureza jurídica da impronúncia, há duas correntes.
Primeira, é uma decisão interlocutória mista terminativa, pois extingue uma fase do
procedimento, sem adentrar no mérito de o acusado ser culpado ou inocente.
Segunda, trata-se de uma sentença terminativa, pois extingue o processo sem resolução do
mérito.
O art. 416 do CPP corretamente a rotula de sentença, pois as decisões interlocutórias, ao
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Desclassificação
A desclassificação se verifica quando o juiz sumariante se convence que o delito praticado, além
de ser diverso do descrito na peça acusatória, não se enquadra como crime doloso contra a vida.
A desclassificação, na fase do sumário da culpa, encontra-se prevista no art. 419 do CPP,
podendo sujeitar o acusado a crime mais grave ou menos grave.
Exemplo: desclassificação de homicídio para latrocínio. Outro exemplo: desclassificação de
tentativa de homicídio para lesão corporal.
Na hipótese de o magistrado, por exemplo , entender que não se trata de homicídio, mas de
infanticídio, ou seja, quando decidir pela ocorrência de crime doloso contra a vida diverso do descrito
na peça acusatória, a situação não será de desclassificação e, sim, de pronúncia.
Portanto, na desclassificação regulada pelo art. 419, o juiz sumariante discorda da
tipificação descrita na peça acusatória, mas no sentido de que não se tratar de um crime doloso
contra a vida.
A decisão de desclassificação não deve indicar o delito para o qual fora desclassificado, mas
apenas se limitar a excluir a ocorrência do crime doloso contra vida, descrito na peça acusatória,
salientando que o delito é outro de competência do juiz singular. Não se deve, por exemplo, na
decisão de desclassificação, aduzir que o homicídio é culposo, em vez de doloso, mas simplesmente
salientar que desclassifica o delito de homicídio doloso para outro de competência do juiz singular.
Aliás, ainda que se indique o delito, esta nova capitulação jurídica não vinculará o outro
magistrado.
A doutrina recomenda que a indicação do delito só deve ser feita quando necessária para se
conhecer o juízo competente. Por exemplo: desclassificação da tentativa de homicídio para lesão
corporal leve, em vez da lesão grave, para que os autos sejam remetidos ao JECRIM.
A desclassificação pode derivar de 2 (dois) aspectos:
a) “emendatio libelli “ (art. 383 do CPP ): quando a despeito de não ter surgido, durante a
instrução, nenhum fato novo, o juiz passar a entender que o fato descrito na peça acusatória não se
enquadra como crime doloso contra a vida.
b) “mutatio libelli”(art. 384 do CPP) : quando, durante a instrução, surgir fato novo, não contido
na peça acusatória, que convença o magistrado acerca da existência de delito diverso dos dolosos
contra a vida. Nesse caso, o aditamento da peça acusatória pelo órgão acusatório deverá ser feito no
juízo competente, para o qual será remetido o processo.
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Com efeito, se o juiz sumariante não for competente para o julgamento do novo delito,
remeterá os autos ao juiz que o seja.
Aliás, em regra, com a desclassificação, cessa a competência do juiz sumariante, salvo em duas
hipóteses.
Primeira, nos casos em que na comarca houver uma única vara criminal.
Segunda, quando houver mais de um crime doloso contra a vida e a desclassificação recair
sobre apenas um deles. Nesse caso, em face da conexão, o crime desclassificado não será remetido
ao juízo singular, pelo contrário, será também objeto de pronúncia.
Fora destas duas hipóteses, a desclassificação implica na remessa dos autos ao juiz singular.
Esta remessa ao juízo competente, porém, só deve ser feita após o trânsito em julgado da
decisão que desclassificou o delito.
Com a desclassificação, cessa a competência do juiz sumariante e, por isso, estando o réu
preso, os autos do processo serão remetidos ao juiz competente, à disposição do qual ficará o
acusado preso.
É, pois, o juiz competente que deverá decidir se a hipótese é ou não de concessão da liberdade
provisória.
Vê-se assim que a desclassificação não gera a imediata soltura do réu.
Quanto aos delitos conexos, reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou
continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de
maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente (parágrafo único
do art. 81 do CPP). Trata-se de uma exceção à regra da “perpetuatio jurisdictionis”.
O juiz competente para o novo delito, ao receber o processo, malgrado o silêncio da lei, deverá
tomar as seguintes providências:
a) dar oportunidade para as partes se manifestarem, pois, até então, a acusação e a defesa se
baseavam noutro delito. Ainda que se trate da hipótese de “emendatio libelli”, prevista no art. 383
do CPP, que não implica em alteração da situação fática, é recomendável que, antes da sentença, as
partes tenham oportunidade para se manifestarem. Outra corrente sustenta que, na “emendatio
libelli”, por não ter surgido nenhum fato novo, o magistrado, para o qual o processo fora enviado,
ao receber os autos já poderia proferir sentença, sem a prévia manifestação das partes
b) dar oportunidade para o Ministério Público aditar a denúncia, no prazo de 5(cinco) dias,
quando a desclassificação houver sido motivada pelo surgimento de fato novo (art. 384 do CPP).
Trata-se da hipótese de “mutatio libelli”.
c) analisar se é ou não o caso de concessão da liberdade provisória ao acusado que se encontra
preso.
Renato Brasileiro ainda sustenta que haverá necessidade de o juiz competente renovar a
instrução, por força do princípio da identidade física do juiz, mas creio que não seja necessário, pois
este princípio não tem caráter absoluto.
O juiz, para o qual processo fora remetido, quando integrante da mesma Justiça, não
poderá, segundo alguns autores, suscitar o conflito negativo de competência, com o escopo de
sustentar a competência do júri, pois a matéria se encontra preclusa, à medida que a referida decisão
não havia sido impugnada ou, caso impugnada, tinha sido confirmada pelo tribunal ao julgar o
recurso.
Outros admitem a suscitação do conflito, ainda que a decisão desclassificatória tenha sido
confirmada pelo tribunal, pois a incompetência absoluta não se prorroga.
Um terceira corrente ainda sustenta que se o conflito puder agravar a situação do réu para lhe
gerar a imputação de crime mais grave, não poderá ser suscitado, sob pena de violação do princípio
da proibição da “reformatio in pejus”, mas se for benéfico para o réu poderá ser suscitado.
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Por outro lado, quando o processo houver sido remetido da justiça federal para a estadual ou
vice-versa ou para a justiça militar ou para a justiça de outro Estado da federação, nada obsta a
suscitação do conflito, que será dirimido pelo STJ.
No tocante à desqualificação, que é o fato de o juiz, na sentença de pronúncia, excluir as
qualificadoras, não tem sido aceita pelos tribunais, por violar o princípio do juiz natural, salvo em
casos manifestamente evidentes, posto que a competência para analisar as qualificadoras é do júri.
De fato, na sentença de pronúncia, as dúvidas devem ser resolvidas contra o acusado. Por isso,
o juiz sumariante, em caso de dúvida, também não poderá desclassificar o homicídio doloso para o
culposo.
É cabível o recurso em sentido estrito contra a decisão desclassificatória, pois este ato implica
no reconhecimento da incompetência do juízo (art. 581, II, do CPP). Se, em razão do recurso, houver
a pronúncia, por retratação do juiz sumariante, caberá um novo recurso em sentido estrito.
O recurso pode ser interposto pela seguintes pessoas:
a) Ministério Público;
b) réu ou seu defensor.
Quanto ao assistente de acusação, o assunto é polêmico, mas prevalece que não poderá
recorrer, por falta de interesse, pois a alteração do delito, gerada pela desclassificação, não influi na
sua pretensão indenizatória.
Quanto ao réu ou seu defensor, tem interesse em recorrer, ainda que a desclassificação seja
para delito menos grave, pois no júri vigora a plenitude da defesa, que é mais amplo que o princípio
da ampla defesa.
Convém destacar que o réu e seu defensor não poderão recorrer para pleitear a absolvição
sumária, pois o eventual provimento pelo Tribunal suprimiria o primeiro grau de jurisdição, além de
violar o princípio do juiz natural. Este recurso, portanto, nem será conhecido.
Absolvição sumária
Absolvição sumária é o nome dado à sentença de mérito prolatada pelo juiz sumariante,
quando:
I – estiver provada a inexistência do fato. Há, nessa hipótese, a certeza acerca da inexistência
do crime. Quando não houver prova da existência do fato, a situação será de impronúncia.
II – estiver provado não ser o réu o autor ou partícipe do crime. Igualmente, há aqui a certeza
que o réu não é autor nem participe do delito. Quando não houver indícios suficientes de autoria, a
hipótese será de impronúncia.
III – o fato não constituir infração penal. Trata-se da absolvição sumária por fato atípico.
Exemplo: atirar em cadáver supondo erroneamente que se encontrava vivo.
IV – estiver demonstrada a causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. A expressão
“isenção de pena” refere-se às causas de exclusão da culpabilidade e a expressão “exclusão do crime”
às causas de exclusão da ilicitude.
O parágrafo único do art. 415 do CPP ressalva expressamente que:
“Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade
prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo
quando esta for a única tese defensiva”.
A inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, prevista
no art. 26, “caput”, do CPP, desde que seja a única tese de defesa, também gerará a absolvição
sumária, com imposição de medida de segurança. Esta sentença, diante da imposição de uma sanção
penal, é denominada de absolvição sumária impropria.
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Pronúncia
Conceito
Momento da pronúncia
A pronúncia pode ser prolatada pelo juiz sumariante, nos seguintes momentos:
a) em regra, após as alegações orais;
b) no juízo de retratação do recurso em sentido estrito interposto contra a decisão
desclassificatória;
c) pelo tribunal ao dar provimento à apelação interposta contra a sentença de impronúncia ou
de absolvição sumária.
Natureza jurídica
Preclusão
A decisão de pronúncia, após a preclusão, não poderá ser modificada, sujeitando-se, destarte,
à coisa julgada formal, salvo quando surgir fato novo que altere a classificação do crime.
Requisitos
Basta, para a pronúncia, que o juiz esteja convencido da certeza da materialidade do fato e
da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
Exige-se, pois, dois requisitos:
a) certeza da materialidade. Na dúvida sobre a materialidade, impõe-se a impronúncia. Não se
aplica, no aspecto da materialidade, a regra probatória do “in dubio pro societate”.
b) indícios suficientes de autoria ou de participação. Aqui não se exige certeza, mas apenas a
probabilidade, não sendo insuficiente, porém, a simples possibilidade. Na dúvida, impõe-se, para
uma corrente, a pronúncia, por força do princípio “in dubio pro societate”, mas uma outra corrente,
adotada pelo STF, ensina que, na dúvida acerca da autoria ou participação, o réu deve ser
impronunciado, com base na regra probatória do “in dubio pro reo”.
Assim, de acordo com a Excelsa Corte, o “in dubio pro societate”, não vigora na fase da
pronúncia.
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Fundamentação
Crimes conexos
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fazer constar na pronúncia os crimes conexos, sem fazer qualquer análise de mérito.
O juiz sumariante só analisa o mérito, ainda assim de forma superficial, em relação aos crimes
dolosos contra a vida.
Há, entretanto, outra corrente que defende a análise do mérito dos crimes conexos pelo juiz
sumariante, que poderia, destarte, proferir, em relação a estes delitos, a impronúncia, a
desclassificação e a absolvição sumária, posto que não há qualquer vedação legal nesse sentido.
A pronúncia, salvo no tocante à tentativa, não pode fazer menção às causas de diminuição de
pena, mas a defesa obviamente poderá argui-las em plenário do Júri.
A propósito, dispõe o art. 7º da Lei de Introdução ao CPP:
“O juiz da pronúncia, ao classificar o crime, consumado ou tentado, não poderá reconhecer a
existência de causa especial de diminuição da pena”.
A razão da vedação é favorecer o réu, evitando que a acusação tome ciência antecipada das
teses de defesa.
Agravantes e atenuantes
As agravantes e atenuantes também não podem ser mencionadas na pronúncia, mas a
acusação e a defesa poderão argui-las em plenário do júri.
Emendatio libelli
A “emendatio libelli “ é a alteração da classificação do crime, com base nos fatos descritos na
própria peça acusatória.
Nesse caso, não há necessidade de aditamento da denúncia.
De acordo com o art. 418 do CPP, o juiz , na pronúncia, poderá dar ao fato definição jurídica
diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.
O dispositivo acima tem o mesmo conteúdo do art. 383 do CPP.
A “emendatio libelli” pode gerar duas situações:
a) desclassificação: quando o juiz sumariante considerar que não se trata de crime doloso
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“Mutatio libelli”
Concurso de pessoas
De acordo com o art. 417 do CPP, “se houver indícios de autoria ou de participação de outras
pessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, determinará o
retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. 80 deste
Código”.
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Na verdade, há, no dispositivo em análise, uma imprecisão terminológica, pois o juiz deve
tomar esta providência antes da pronúncia ou da impronúncia.
O Ministério Público, nesse caso, terá a opção de, no prazo de 15 (quinze) dias, aditar a
denúncia ou requerer a separação dos processos, conforme prevê o art. 80 do CPP, oferecendo
denúncia autônoma.
Efeitos da pronúncia
A pronúncia, conforme já dito, mesmo após já estar preclusa, poderá ser alterada quanto surgir
fato novo que altere a classificação do crime. Por exemplo: após a pronúncia por tentativa de
homicídio, a vítima, em razão da conduta do agente, vem a morrer.
Nesse caso, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público, para o fim de
aditamento da denúncia (art. 421, § 1o , do CPP).
Recebido o aditamento pelo juiz, será preciso reabrir toda a fase instrutória , interrogando-se
novamente o réu, sendo que, após as alegações orais, o juiz prolatará uma nova decisão de
pronúncia.
Na hipótese de a morte da vítima ocorrer após a sentença condenatória do júri, se ainda não
transitou em julgado, o fato ainda poderá ser alegado em grau de recurso, cujo provimento
acarretará a nulidade do julgamento para que se proceda ao aditamento da denúncia e a prolação
de uma nova decisão de pronúncia.
Se, entretanto, a morte da vítima ocorrer somente após o trânsito em julgado da sentença
condenatória do tribunal do júri não será mais possível o aditamento da denúncia, pois é vedada a
revisão criminal “pro societate”.
Liberdade provisória
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simples pronúncia, mas o § 3o do art. 413 estatui que o juiz deverá também se manifestar,
motivadamente, sobre a necessidade da decretação da prisão preventiva ou da imposição de
quaisquer das medidas cautelares alternativas do art. 319 do CPP.
Não há mais a prisão por pronúncia, que era uma modalidade autônoma de prisão cautelar.
Intimação da pronúncia
Crise de instância
Antes da lei 11.689/2008, em sendo o delito inafiançável, o réu tinha que ser intimado
pessoalmente para o julgamento pelo júri.
Caso não fosse localizado, o processo era suspenso, pois a lei só admitia a intimação por edital
em relação aos delitos contra a vida afiançáveis.
A crise de instância consistia na suspensão do processo, nos crimes dolosos contra a vida
inafiançáveis, até que houvesse a localização do réu para a sua intimação pessoal acerca da data do
julgamento pelo tribunal do júri.
Com a reforma processual trazida pela lei 11.689/2008, passou a ser admitida a intimação por
edital, quando o réu não for localizado, quer o delito contra a vida seja afiançável ou inafiançável.
Por consequência, não existe mais a chamada crise de instância.
A propósito, todos os crimes dolosos contra a vida são afiançáveis, exceto dois, o homicídio
praticado em ação típica de grupo de extermínio e o homicídio qualificado, posto que ambos são
hediondos.
Recurso
Da decisão de pronúncia é cabível o recurso em sentido estrito (art. 581, IV, do CPP).
Desaforamento
Conceito
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Natureza jurídica
Endereçamento
Momento do pedido
Legitimidade
Manifestações
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O desaforamento, quanto procedente o pedido, deverá ser feito para outra comarca da
mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas (art. 427 do CPP).
Não se exige, entretanto, que se trate de uma comarca vizinha ou próxima.
No júri da justiça estadual, o desaforamento não poderá ser feito para comarca de outro Estado
da federação.
No júri da justiça federal, o desaforamento poderá ser para outro Estado, desde que também
sujeito à jurisdição do mesmo Tribunal Regional Federal.
O desaforamento também atrairá para o novo local o julgamento dos crimes conexos e dos
coautores ou participes (art. 78, I, do CPP).
Causas de desaforamento
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Reaforamento
A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publicada pela
imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do
Júri.
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A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz
presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva (art. 426, § 1º).
A alteração se dá mediante inclusão ou exclusão de jurados.
Contra a decisão que altera a lista de jurados, o art. 581, XIV, prevê o recurso em sentido
estrito, no prazo de 20 (vinte) dias, a contar da publicação da lista definitiva de jurados.
Este recurso, que será julgado monocraticamente pelo presidente do tribunal de justiça ou do
tribunal regional federal, poderá ser interposto pelo Ministério Público, por advogados, pelo jurado
excluído ou incluído e por qualquer do povo, representado por advogado.
Outra corrente, entretanto, sustenta que não é mais cabível o recurso em sentido estrito, posto
que o art. 426, § 1o, do CPP, introduzido pela Lei 11.689/08, prevê a reclamação de qualquer do
povo, operando-se a revogado tácita do art. 581, XIV.
A meu ver, não houve revogação, pois a reclamação é cabível para impugnar a lista provisória
de jurados, que é publicada até o dia 10 de outubro de cada ano, ao passo que o recurso em sentido
estrito é o meio de impugnação da lista definitiva, que é publicada até o dia 10 de novembro de cada
ano.
Urna geral
Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verificados na presença do
Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil e de
defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, permanecerão guardados em urna
fechada a chave, sob a responsabilidade do juiz presidente.
Trata-se da urna geral, de onde se extrai, através de sorteio, os 25 (vinte e cinco )
jurados. Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamente, completada.
Após a organização da pauta dos processos que serão submetidos a julgamento pelo júri, o juiz
presidente determinará a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da
Defensoria Pública para acompanharem, em dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão
na reunião periódica (art. 432).
A audiência de sorteio não será adiada pelo não comparecimento dos entes acima.
O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas abertas, cabendo-lhe retirar as cédulas até
completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para a reunião periódica ou extraordinária (art.
433).
Assim, o tribunal do júri é composto pelo juiz presidente e por 25 (vinte e cinco) jurados, dentre
os quais 7(sete) formarão o Conselho de Sentença.
O sorteio será realizado entre o 15o (décimo quinto) e o 10o (décimo) dia útil antecedente à
instalação da reunião.
O jurado não sorteado poderá ter o seu nome novamente incluído para as reuniões
futuras.
Convocação dos jurados sorteados
Os jurados sorteados serão convocados pelo correio ou por qualquer outro meio hábil para
comparecer no dia e hora designados para a reunião, sob as penas da lei.
No mesmo expediente de convocação serão transcritos os arts. 436 a 446 do CPP.
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Serão afixados na porta do edifício do Tribunal do Júri a relação dos jurados convocados, os
nomes do acusado e dos procuradores das partes, além do dia, hora e local das sessões de instrução
e julgamento.
O Tribunal do Júri, conforme já dito, é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por
25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados.
Trata-se de um órgão colegiado heterogêneo, pois é composto por um juiz técnico e por juízes
leigos. É ainda um órgão temporário, pois perdura somente no período da reunião periódica.
Os 25 (vinte e cinco) jurados serão convocados para participar de todas as sessões de
julgamentos dos processos que integram a pauta da reunião periódica.
Destes 25 (vinte e cinco) 7 (sete) serão sorteados e constituirão o Conselho de Sentença.
Em regra, em cada sessão de julgamento, é feito um novo sorteio dos 7 (sete) que constituirão
o Conselho de Sentença.
O mesmo Conselho de Sentença, porém, poderá conhecer de mais de um processo, mediante
três requisitos cumulativos:
a) que os julgamentos sejam no mesmo dia;
b) concordância das partes;
c) deverão prestar novo compromisso.
São impedidos de servir no mesmo Conselho:
I – marido e mulher;
II – ascendente e descendente;
III – sogro e genro ou nora;
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;
V – tio e sobrinho;
VI – padrasto, madrasta ou enteado.
O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável
reconhecida como entidade familiar.
Dos impedidos entre si por parentesco ou relação de convivência, servirá o que houver sido
sorteado em primeiro lugar.
Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as
incompatibilidades dos juízes togados.
Igualmente, não poderá servir o jurado que:
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa
determinante do julgamento posterior;
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O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à
publicação da lista geral fica dela excluído ( § 4o do art. 426).
Trata-se de uma forma de se impedir o chamado jurado profissional.
Este impedimento só se verificará quando o jurado houver integrado o Conselho de Sentença,
sem que tenha sido recusado.
A violação desta norma constitui causa de nulidade absoluta.
Função de jurado
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Escusa de consciência
Benefícios do jurado
Multa ao jurado
Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado para a sessão ou
retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será aplicada multa de 1 (um) a 10 (dez) salários
mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição econômica.
Não há, pelo não comparecimento, o crime de desobediência, pois a lei previu apenas a muita,
sem a ressalva expressa da desobediência.
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Jurados suplentes
Adiamento do júri
Até o momento de abertura dos trabalhos da sessão, o juiz presidente decidirá os casos de
isenção e dispensa de jurados e o pedido de adiamento de julgamento, mandando consignar em ata
as deliberações.
Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimento deverão ser, salvo
comprovado motivo de força maior, previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do
Tribunal do Júri.
Convém esclarecer que o adiamento ocorre antes do início da sessão de julgamento.
Iniciada a sessão de julgamento, com a presença de pelo menos 15 (quinze) jurados, se por
alguma razão ela não puder prosseguir, a hipótese será de dissolução do tribunal do júri e, se a causa
impeditiva do prosseguimento surgir após a formação do Conselho de Sentença, a situação será de
dissolução do Conselho de Sentença.
Sobre o adiamento, há as seguintes hipóteses:
I- Ausência do Ministério Público
Se o Ministério Público não comparecer, o juiz presidente adiará o julgamento para o primeiro
dia desimpedido da mesma reunião, cientificadas as partes e as testemunhas.
Se a ausência não for justificada, o fato será imediatamente comunicado ao Procurador-Geral
de Justiça com a data designada para a nova sessão.
Não há, destarte, a possibilidade de o juiz nomear promotor “ad hoc”.
II- Ausência do advogado do assistente de acusação
Quanto à ausência do advogado do assistente de acusação, ainda que justa, não adiará o
julgamento, pois sua atuação é secundária.
O art. 457 , por equívoco, se refere à ausência do assistente, mas quis se referir ao advogado
do assistente de acusação.
III- Ausência do advogado do réu
Se a falta, sem justificativa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for por este
constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão.
A comunicação da OAB exige dois requisitos cumulativos:
a) ausência injustificada do advogado do réu;
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A segunda fase do procedimento do júri, que é denominada de “iudicium causae”, tem início,
após a preclusão da decisão de pronúncia, com a preparação do processo para julgamento.
É, pois, a fase que medeia entre a preparação do processo para julgamento em plenário e o
efetivo julgamento pelo plenário do júri.
Esta segunda fase do procedimento do júri é composta pelos seguintes atos:
a) envio dos autos ao juiz competente;
b) intimação das partes para apresentar o rol de testemunhas e requerer outras provas;
c) decisão de saneamento do processo;
d) relatório do processo;
e) inclusão do processo na pauta de reunião periódica do júri;
f) designação da data da sessão de julgamento;
g) intimação para a sessão de julgamento;
h) sessão de julgamento;
i) sentença.
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Público.
Outra corrente, porém, sustenta que, por falta de previsão legal, o assistente de acusação não
poderia arrolar testemunhas, nem mesmo para complementar o rol apresentado pelo Ministério
Público.
Na hipótese de o Ministério Público já ter arrolado 5 (cinco) testemunhas, que é o máximo
permitido para esta segunda fase, o assistente de acusação poderá arrolar testemunhas para serem
ouvidas como testemunhas do juízo, condicionada ao deferimento do juiz.
O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se uma das partes
tiver requerido a sua intimação por mandado, na oportunidade de que trata o art. 422 deste Código,
declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua localização (art. 461).
Esta declaração de imprescindibilidade deverá ser feita no momento da apresentação do rol de
testemunhas.
Após o prazo de 5(cinco) dias, para apresentação do rol de testemunhas e formulação dos
requerimentos de outras provas, o juiz prolatará uma espécie de decisão de saneamento do
processo.
Este saneamento consiste no deferimento ou indeferimento das provas requeridas, outrossim,
na ordenação das diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que
interesse ao julgamento da causa.
Trata-se, pois, realmente, de uma espécie de decisão de saneamento , cujo objetivo é sanar
as nulidades e esclarecer os fatos relevantes.
O não deferimento de eventuais diligências poderá ser arguido em preliminar de apelação,
podendo ensejar a nulidade do julgamento.
Relatório do processo
Após o cumprimento das diligências deferidas, o juiz fará um relatório sucinto do processo,
determinando sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri.
Este relatório, que é um resumo do processo, sem qualquer análise do mérito, será entregue
aos jurados, que integram o Conselho de Sentença, juntamente com a cópia da pronúncia (art. 472,
parágrafo único).
Antes das mudanças trazidas pela lei 11.689/08, havia necessidade da leitura deste relatório
em plenário do júri, após o interrogatório do réu.
A função desse relatório é auxiliar os jurados a conhecerem o processo, posto que eles nada
sabem acerca do fato que será objeto de julgamento.
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Tendo o processo sido incluído na pauta de julgamento, o juiz presidente mandará intimar as
partes, o ofendido, se for possível, as testemunhas e os peritos, quando houver requerimento, para
a sessão de instrução e julgamento, observando, no que couber, o disposto no art. 420 do CPP.
O assistente de acusação somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até 5 (cinco)
dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar (art. 430).
Os 25 (vinte e cinco) jurados sorteados também serão convocados pelo correio ou por qualquer
meio hábil.
Sessão de julgamento
A sessão de julgamento é uma audiência concentrada e indivisível. Se, por alguma razão,
houver a dissolução do Conselho de Sentença, outra sessão será designada e nenhum ato da sessão
anterior poderá ser aproveitado.
Antes de se instalar a sessão de julgamento, haverá os seguintes atos:
a) verificação da presença das partes e das testemunhas;
b) incomunicabilidade das testemunhas;
c) verificação da presença dos jurados.
Assim, antes de constituído o Conselho de Sentença, as testemunhas serão recolhidas a lugar
onde umas não possam ouvir os depoimentos das outras.
Em seguida, o juiz presidente verificará se a urna contém as cédulas dos 25 (vinte e cinco)
jurados sorteados.
Após verificar o comparecimento das partes e das testemunhas, o juiz ordenará que seja
realizada a chamada dos 25 (vinte e cinco) jurados sorteados.
Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juiz presidente declarará instalados os
trabalhos, anunciando o processo que será submetido a julgamento.
Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão computados para a constituição do
número legal de 15 (quinze).
Não havendo o número mínimo de 15 (quinze )jurados, o júri será adiado e se procederá ao
sorteio de tantos jurados suplentes quantos necessários para complementar o número de 25 (vinte
e cinco), designando-se nova data para a sessão do júri.
Os nomes dos suplentes serão consignados em ata, devendo ser providenciadas a sua
convocação.
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Para se perfazer o número mínimo de 15(quinze) jurados, que devem estar presentes, discute-
se sobre a possibilidade do empréstimo de jurados, que haviam sido convocados para sessão de
outro tribunal do júri do mesmo fórum, no mesmo dia e na mesma hora.
De acordo com STJ, não há nulidade. A doutrina trata a hipótese como nulidade absoluta, nos
termos do art. 564, , III,”i”, do CPP, além de violar o direito de a parte conhecer com antecedência o
nome dos jurados.
Outra corrente sustenta que não há nulidade, pois a parte poderá fazer uso da recusa
imotivada, reservando-se a nulidade somente quando houver fato até então desconhecido apto para
ensejar a recusa motivada.
Após a instalação da sessão de julgamento, com o comparecimento de pelo menos 15 (quinze)
jurados, os próximos atos são os seguintes:
a) advertências;
b) composição do conselho de sentença;
c) compromisso dos jurados;
d) instrução em plenário;
e) debates;
d) réplica;
e) tréplica;
f) votação;
g) sentença.
Advertências
Comparecendo pelo menos 15 (quinze) jurados, antes do sorteio dos membros do Conselho de
Sentença, o juiz presidente os advertirá sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades
constantes dos arts. 448 e 449 do CPP.
O juiz presidente também advertirá os 25 (vinte e cinco) jurados de que, uma vez sorteados,
não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob
pena de :
a) exclusão do Conselho;
b) multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos;
Os jurados se sujeitam, destarte, a uma constante vigilância, inclusive, nos eventuais intervalos
do júri.
A vedação se refere apenas à comunicação sobre fatos relacionados com o processo. Caso se
comuniquem sobre outros assuntos, não há falar-se nas sanções acima.
Verificando que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados presentes, o juiz
presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença.
A comunicação desses jurados, entre si ou com terceiro, durante a sessão do júri, ensejará a
dissolução do Conselho e se a sessão prosseguir haverá a nulidade absoluta do julgamento.
Na composição do Conselho de Sentença, é preciso analisar os seguintes atos:
a) recusas imotivadas;
b) estouro de urna.
Recusas imotivadas
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À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juiz presidente as lerá, e a defesa e,
depois dela, o Ministério Público poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada parte, sem
motivar a recusa.
Trata-se da recusa imotivada ou peremptória, que é rejeição de até 3 (três) jurados sem
precisar expor as razões.
A defesa pode recusar 3 (três) e o Ministério Público outros 3 (três).
Se o mesmo réu tem mais de um defensor, ainda assim serão apenas 3(três) recusas
imotivadas.
Não há previsão legal para se estender este direito ao advogado do assistente de acusação,
mas nada obsta que o Ministério Público lhe transfira esta atribuição.
Na hipótese de ação penal privada subsidiária da pública, a recusa imotivada não poderá ser
feita pelo Ministério Público, mas sim pelo querelante.
O jurado recusado imotivadamente por qualquer das partes será excluído daquela sessão de
instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteio para a composição do Conselho de Sentença com
os jurados remanescentes (art. 468).
Assim, o jurado recusado pelo defensor será excluído ainda que tenha sido aceito pelo
Ministério Público, e vice-versa.
Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas imotivadas poderão ser feitas, desde que
haja acordo entre eles, por um só defensor. Nesse caso, serão apenas 3(três) recusas imotivadas. Em
não havendo acordo, cada advogado poderá recusar até 3(três) jurados, situação que pode dificultar
a formação do conselho de sentença.
Em havendo mais de um acusado patrocinado pelo mesmo advogado, por analogia ao art. 468
do CPP, as recusas imotivadas são de apenas 3(três) jurados, mas outra corrente sustenta que cada
réu tem o direito de realizar 3(três) recusas imotivadas, pois a recusa é um direito atribuído a cada
acusado, e não ao defensor, por força do princípio da plenitude da defesa.
Além das recusas imotivadas, é também possível a recusa motivada por arguição oral de
impedimento, suspeição ou incompatibilidade contra o jurado, logo após o sorteio. Na recusa
motivada, o juiz, antes de decidir, indagará o jurado acerca da imputação que lhe é feita. Na recusa
motivada, é preciso apontar a causa de impedimento, suspeição ou incompatibilidade.
Não há limite para o número de recusas motivadas.
Também é possível a arguição de impedimento, de suspeição ou de
incompatibilidade contra contra o juiz presidente do Tribunal do Júri, órgão do Ministério Público
ou qualquer funcionário.
Desacolhida a argüição de impedimento, de suspeição ou de incompatibilidade contra o juiz
presidente do Tribunal do Júri, órgão do Ministério Público, jurado ou qualquer funcionário, o
julgamento não será suspenso, devendo, entretanto, constar da ata o seu fundamento e a
decisão.
Estouro de urna
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Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em primeiro lugar o acusado a quem
foi atribuída a autoria do fato. O participe, por ter realizado uma conduta acessória, será julgado
depois.
Em caso de coautoria, o art. 429 prevê a seguinte ordem de preferência :
I – os acusados presos;
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
III – em igualdade de condições, os que foram pronunciados antes.
Da Instrução em Plenário
Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária, com a inquirição da
vítima, se possível.
Depois serão inquiridas às testemunhas de acusação e de defesa, nessa ordem, e, por último,
haverá o interrogatório do réu, se ele estiver presente e houver sido requerido.
O juiz presidente é o primeiro a formular perguntas, ao passo que no procedimento comum ele
é o último. Há, nesse aspecto, uma injustificável contradição do CPP.
Os jurados também poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, mas por
intermédio do juiz presidente.
O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e
diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela
acusação.
Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará as
perguntas antes do Ministério Público e do assistente.
As perguntas serão formularas diretamente à vítima e testemunhas, sem a intermediação do
juiz presidente.
A testemunha, após ser inquirida, não será dispensada, salvo com a concordância de ambas as
partes, pois a sua reinquirição ainda poderá ser pleiteada na réplica ou tréplica.
Em seguida, as partes e os jurados poderão requerer:
a) acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos;
b) a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e
às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis. Somente em relação estas peças é que poderá
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ser solicitada a leitura. Há, pois, restrição à leitura de peças. Convém lembrar que as provas
cautelares, antecipadas e não repetíveis são colhidas antes do início da ação penal.
A seguir, caso não seja solicitado nenhum outro esclarecimento, será o acusado interrogado,
se estiver presente, pelo juiz presidente e, em seguida, pelos jurados, através do juiz.
Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente, pois, em relação a eles, o
interrogatório segue o sistema presidencialista. Se eles perguntarem direto, a nulidade será relativa,
condicionada à demonstração do prejuízo.
Depois, o interrogatório será feito pelas partes , através do sistema direto e cruzado, sem a
intermediação do juiz presidente.
Com efeito, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, poderão
formular, diretamente, perguntas ao acusado, sem a intermediação do juiz.
Na ação penal privada subsidiária da pública, as perguntas do querelante serão feitas primeiro
que as do Ministério Público.
Vedação de algemas
Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no
plenário do júri, salvo se absolutamente necessário:
a) à ordem dos trabalhos;
b) à segurança das testemunhas;
c) à garantia da integridade física dos presentes.
O uso de algemas, por ter caráter excepcional, deve ser justificado ( súmula vinculante n. 11 do
STF).
O registro dos depoimentos e do interrogatório será feito pelos meios ou recursos de gravação
magnética, eletrônica, estenotipia ou técnica similar, destinada a obter maior fidelidade e celeridade
na colheita da prova.
A transcrição do registro, após feita a degravação, constará dos autos.
Dos Debates
Conceito
Ordem
O Ministério Público fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.
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O Ministério Público é um órgão imparcial e, por isso, poderá pedir a absolvição do réu,
outrossim, pleitear a desclassificação para outro delito menos grave, causas de diminuição de pena
e atenuantes.
Assim, o Ministério Público, desde que em prol do acusado, poderá desvirtuar-se dos termos
da pronúncia, mas, à exceção da arguição de agravantes genéricas da pena, jamais poderá extrapolar
à pronúncia para agravar a situação do acusado,
Ainda que o Ministério Público requeira a absolvição, o júri poderá condenar o réu.
Na hipótese de a atuação do Ministério Publico se revelar medíocre, o juiz pode considerar a
sociedade indefesa e dissolver o conselho de sentença, designando novo julgamento e comunicando
o fato ao Procurador Geral de Justiça. Exemplo:o promotor de justiça pede a absolvição ou a
condenação em um minuto, sem apresentar qualquer justificativa.
Postura da defesa
O defensor poderá apresentar teses diversas das apresentadas pelo acusado em seu
interrogatório, podendo inovar, pois não se vincula às teses anteriormente sustentadas.
O fato de o advogado do réu não pleitear a absolvição, por si só, não implica em nulidade por
deficiência de defesa, pois às vezes a absolvição se revela impossível, sendo mais conveniente
sustentar outras teses como o homicídio privilegiado, a desclassificação para homicídio simples, etc.
O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada.
Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de 1 (uma)
hora, ou seja, tanto a acusação quanto a defesa terão duras horas e meia cada.
Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor para o mesmo réu , combinarão entre
si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, de forma a não
exceder o tempo previsto. Exemplo: dois promotores de justiça. Outro exemplo: um promotor de
justiça e um assistente de acusação.
Réplica
A réplica é uma nova sustentação oral do órgão acusatório, só que mais curta.
O juiz, após a fala da defesa, deve indagar ao Ministério Público se pretende ou não fazer uso
da réplica.
Assim, após a fala da defesa, a acusação poderá replicar.
Se o Ministério Público abrir mão da réplica, mas o advogado do assistente de acusação
pretender fazê-la, o juiz, segundo o STJ, deve permitir.
A réplica é facultativa.
O tempo será de uma hora para a réplica. Havendo mais de 1 (um) acusado, será elevado ao
dobro o tempo da réplica, ou seja, será de duas horas.
Tréplica
Depois da réplica, a defesa poderá treplicar, também de forma facultativa. Há, entretanto,
posicionamento minoritário que impõe, no caso de réplica, a obrigatoriedade da tréplica, sob pena
de o réu ser considerado indefeso.
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Apartes
Durante os debates, poderá ocorrer os apartes, que é a intervenção da parte adversa para
rebater os dizeres da parte que está com a palavra.
O juiz presidente deverá regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes,
quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte
requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última (art. 497, XII).
Assim, o aparte deve ser requerido ao juiz presidente, que ao deferir poderá conceder até 3
(três) minutos para cada aparte, mas haverá a prorrogação por igual período no tempo da fala que
estava com a palavra.
Os apartes podem ocorrer tanto na sustentação oral inicial quanto na réplica e na tréplica.
Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
a) à decisão de pronúncia é às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. Veda-
se aqui o argumento de autoridade, ou seja, a invocação da figura do magistrado para validar a tese
de acusação ou de defesa. Por analogia, alguns autores sustentam que também seria proibida a
leitura da decisão que decretou a prisão preventiva ou da eventual sentença condenatória do júri
anulado anteriormente ou até mesmo da folha de antecedentes, mas nesses casos, de acordo com o
STJ, diante da falta de proibição expressa, não há falar-se em nulidade;
b) à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado;
c) ao silêncio do acusado, em seu prejuízo;
d) à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo.
Durante o julgamento , não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que
não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência
à outra parte.
Será igualmente proibida, quando não observado o tríduo acima, a leitura de jornais ou
qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros,
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croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida
à apreciação e julgamento dos jurados.
Na contagem do prazo acima, toma-se a data do julgamento e o prazo se inicia no primeiro dia
útil anterior, numa contagem retroativa, que abrange apenas os dias úteis.
A violação esse prazo, segundo o STJ, enseja nulidade absoluta do julgamento, por violação do
princípio do contraditório, mas outra corrente sustenta que se trata de nulidade relativa,
condicionada à demonstração do prejuízo.
Dentro dos três dias úteis anteriores, segundo alguns autores, deve ocorrer a juntada do
documento, mas nada obsta que a ciência da parte contrária seja depois, desde que antes da sessão
de julgamento.
Outra corrente, adotada pelo STJ, sustenta que a ciência da parte contrária também deve se
verificar com três dias úteis de antecedência.
Quanto aos documentos e objetos não relacionados com o fato criminoso, como livros
jurídicos, nada obsta a sua exibição e leitura em plenário, sem a prévia comunicação da parte
contrária.
Também poderão ser exibidos, sem prévia ciência da parte contrária,os objetos apreendidos
nos autos.
A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz
presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou
citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato
por ele alegado.
Outros esclarecimentos
Concluídos os debates, o juiz presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou
se necessitam de outros esclarecimentos.
As diligências têm a finalidade de sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o
esclarecimento da verdade.
As diligências podem ser determinar, de ofício pelo juiz presidente, ou a requerimento das
partes ou de qualquer jurado (art. 497, XI).
O juiz presidente não é obrigado a deferir as diligências nem mesmo as requeridas pelos
jurados.
Uma corrente minoritária, porém, sustenta que o juiz estaria obrigado a deferir as diligências
requeridas por algum jurado. Este ponto de vista, não procede, pois o art. 497, XI, do CPP concedeu
aos jurados a possibilidade de requerer e não de determinar a realização de diligências.
As diligências podem gerar a suspensão ou o adiamento do júri, conforme possam ou não ser
realizadas imediatamente.
O deferimento de diligências que podem ser realizadas imediatamente provocará, por ordem
do juiz presidente, a suspensão da sessão, e não o seu adiamento, pelo tempo indispensável à
realização das diligências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos
jurados.
Para sanar a dúvida sobre questão de fato, o juiz presidente prestará esclarecimentos à vista
dos autos. Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos do
crime se solicitarem ao juiz presidente.
Se, por outro lado, a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o
julgamento da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho,
ordenando a realização das diligências entendidas necessárias. Nesse caso, se a diligência
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consistir na produção de prova pericial, o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará
quesitos, facultando às partes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5
(cinco) dias.
Com o adiamento do júri, o juiz presidente dissolverá o Conselho de Sentença e, no novo júri,
haverá também um novo Conselho de Sentença, sem a participação dos jurados anteriores, sob pena
de nulidade do julgamento.
Conquanto, na hipótese de adiamento, não tenha ocorrido propriamente um julgamento
anterior por parte dos jurados, eles estarão impedidos de participar do novo julgamento, por
aplicação analógica do art. 449,I, do CPP.
Quesitos
Conceito
Os quesitos são as perguntas formuladas verbalmente aos jurados pelo juiz presidente.
Momento
Forma de respostas
Os jurados respondem depositando na urna a cédula SIM ou a cédula NÃO, sem que um veja
o voto do outro.
Assim que o juiz fórmula e explica os quesitos cada jurado recebe duas cédulas, uma contendo
o SIM e outra o NÃO.
Sistema
O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser
absolvido.
Há, pois, vários quesitos, como ocorre no modelo francês, ao passo que, no modelo inglês,
formula-se um único quesito, através do qual se indaga se o réu é culpado ou inocente.
No Brasil, há também a obrigatoriedade de se formular o quesito acerca da absolvição, além
de outros quesitos, e, por isso, alguns autores sustentam que teria sido adotado um sistema misto.
Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada
um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão.
Não se pode, em hipótese alguma, se formular quesitos em proposições negativas.
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a) a pronúncia;
b) as decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. Exemplo: acórdão que ordenou
a pronúncia na apelação interposta contra a impronúncia. Outro exemplo: decisão posterior à
pronúncia, que admitiu a acusação por homicídio consumado, em face da morte da vítima ter
ocorrido depois da pronúncia.
c) o interrogatório do réu, caso ele tenha apresentado alguma tese de defesa;
d) as alegações das partes durante os debates, sendo que a acusação, ao contrário da defesa,
não poderá apresentar teses inovadoras.
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Quesito da materialidade
O primeiro quesito, que é o da materialidade, para uma corrente, deve ser desdobrado em dois,
sendo um sobre a materialidade propriamente dita e outro sobre o nexo causal (ou letalidade).
À guisa de exemplos, podem ser formulados da seguinte maneira:
Quesito 1 : da materialidade propriamente dita
A vítima João da Silva, no dia 10 de abril deste ano, na esquina da Ipiranga com a Avenida São
João, por volta das 22 horas, na comarca de São Paulo, sofreu as lesões corporais descritas no laudo
de fls. 200 ?
Resposta:
NÃO. Se mais de 3 (três) jurados votarem não ao quesito 1, o réu estará automaticamente
absolvido e não se vota mais nenhum outro quesito.
SIM. Se, ao revés, mais de 3 (três) jurados votarem sim ao quesito 1 a votação prossegue.
Quesito 2: nexo causal (ou letalidade)
Estas lesões causaram a morte da vítima João da Silva ?
Respostas:
SIM. Se mais de 3 (três) jurados votarem “sim” ao quesito 2, a votação prossegue.
NÃO. Se mais de 3 (três) jurados votarem “não” ao quesito 2, a votação ainda assim prosseguirá,
pois se o júri, no quesito seguinte, reconhecer a autoria das lesões, poderá ocorrer a
desclassificação para tentativa de homicídio, se o júri se negar a absolver o réu.
Por isso, a segunda corrente, que unifica estes dois quesitos num só se revela inadequada.
De acordo com esta segunda corrente o quesito número 1 seria formulado da seguinte
maneira:
A vítima João da Silva, no dia 10 de abril deste ano, na esquina da Ipiranga com a Avenida São
João, por volta das 22 horas, na comarca de São Paulo, sofreu as lesões corporais descritas no laudo
de fls. 200, que lhe causaram a morte?
Resposta :
SIM: a votação prossegue.
NÃO: o réu estará automaticamente absolvido e não se vota mais nenhum outro quesito.
A primeira corrente, que desdobra o quesito em dois, se revela mais técnica, pois, na unificação,
não se sabe se a absolvição foi por falta de materialidade ou por ausência de nexo causal. Ademais,
na ausência de nexo causal, a hipótese poderá ser de absolvição ou desclassificação e, por isso, a
votação deverá prosseguir para solucionar a questão.
Por fim, nos delitos que não deixam vestígios materiais, como é o caso de uma tentativa branca
de homicídio, onde o agente, por exemplo, atira contra a vítima, mas erra o alvo, não haverá a
formulação dos quesitos acima.
Quesito da autoria
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O réu Pedro da Lua , no dia 10 de abril deste ano, na esquina da Ipiranga com a Avenida São
João, por volta das 22 horas, na comarca de São Paulo, desfechou os tiros de revólver contra a vítima
João da Silva, que causaram as lesões corporais descritas no laudo de fls. 200 ?
Resposta
NÃO. Se o júri, por de 3(três) votos, negar a autoria, o réu será automaticamente absolvido por
negativa de autoria e, por consequência, não se vota mais nenhum outro quesito, encerrando-se a
votação.
SIM. A votação prossegue.
Quesito da absolvição.
Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos à
materialidade, letalidade e autoria será formulado o próximo quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
Resposta:
SIM. Se mais de 3 (três) jurados votarem pela absolvição, a votação se encerra e não se pode
votar mais nenhum outro quesito, nem mesmo os atinentes ao excesso na legítima defesa. Se,
entretanto, a defesa houver sustentado a absolvição por inimputabilidade, o juiz presidente deverá
formular, em seguida, o quesito específico da inimputabilidade.
NÃO. A votação prossegue, mas, segundo o STJ, não se põe em votação o quesito da
inimputabilidade sustentada em plenário.
Este quesito da absolvição genérica, sob pena de nulidade absoluta do julgamento, deve ser
obrigatoriamente formulado, posto que a lei não lhe faz qualquer distinção, ainda que as únicas teses
de absolvição sustentadas em plenário sejam a inexistência do fato ou a negativa de autoria, que já
haviam sido rejeitadas pelos quesitos anteriores.
Afinal, no júri, vigora o princípio da plenitude da defesa, de modo que a absolvição pode se
verificar por qualquer razão, ainda que por piedade, pois a decisão não é fundamentada.
Mesmo que a defesa não tenha pleiteado a absolvição, o juiz presidente terá que formular
este quesito.
Note-se que não se pode indagar a causa da absolvição, pois o objetivo da lei foi o de simplificar
a votação. Não se faz, por exemplo, qualquer menção específica à legítima defesa, estado de
necessidade, insuficiência de provas ou de qualquer outra tese absolutória formulada pela defesa
durante os debates.
Dessa forma, se a defesa houver sustentado mais de uma tese de absolvição não será possível
se aferir o real motivo da absolvição.
Alguns autores sustentam que, nesse caso, para se resolver a questão da coisa julgada no cível,
o juiz presidente deveria formular os quesitos que tratam de todas as teses defensivas sustentadas
pelo réu e seu defensor, mas este ponto de vista, por falta de previsão legal, não prevalece.
Diante da impossibilidade de se saber o real motivo da absolvição, força convir que esta
sentença penal de absolvição não fará coisa julgada no cível para se excluir o dever de indenizar.
Assim, em eventual ação de indenização, movida pela vítima ou, no caso de sua morte, por seus
herdeiros, o réu deverá comprovar a legítima defesa real, o estado de necessidade defensivo ou outra
tese que exclua o dever de indenizar.
Na hipótese, porém, de a defesa sustentar a inimputabilidade do art. 26, “caput”, do
CP juntamente com outra tese defensiva, por exemplo, legítima defesa, será essencial a ciência do
motivo da absolvição, pois se o fundamento for a legítima defesa ou outra causa de exclusão da
ilicitude ou da culpabilidadel, não se imporá medida de segurança; ao revés, se o fundamento houver
sido a inimputabilidade, a absolvição será imprópria, com imposição de medida de segurança.
Nesse caso, segundo uma corrente defendida por Renato Brasileiro, o juiz presidente deverá
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explicar que o quesito da absolvição não se refere à inimputabilidade, mas, sim, às outras teses de
defesa.
Por consequência, segundo o ilustre processualista, se o júri afirmar a absolvição, com base
neste quesito, não se imporá medida de segurança. Se o júri negar a absolvição, o juiz presidente
formularia o quesito específico atinente à inimputabilidade, ao tempo do crime, por doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
No STJ, porém, ao revés, prevalece que o quesito da inimputabilidade só será posto em votação
se o júri votar “sim” ao quesito da absolvição genérica. Negado o quesito da absolvição genérica, o
réu será condenado e não se votará o quesito da inimputabilidade.
Podem ocorrer as seguintes situações:
a) o júri vota “sim” ao quesito da absolvição genérica e vota “não”ao quesito da absolvição por
inimputabilidade. Nesse caso, o réu será absolvido sem medida de segurança.
b) o júri vota “sim” ao quesito da absolvição genérica e vota também “sim”ao quesito da
absolvição por inimputabilidade. Nesse caso, o réu será absolvido com medida de segurança.
c) o júri vota “não”ao quesito da absolvição genérica. O réu será condenado. Não se vota o
quesito da absolvição por inimputabilidade.
De acordo com Renato Brasileiro, porém, somente nessa hipótese em que o júri vota “não” ao
quesito da absolvição genérica é que se coloca em votação o quesito da absolvição por
inimputabilidade.
E, segundo o ilustre processualista, quando o júri vota “sim” ao quesito da absolvição genérica,
o réu estará absolvido sem medida de segurança e nem se colocará em votação o quesito da
absolvição por inimputabilidade.
Este ponto de vista, entretanto, não prevalece e a sua adoção poderá levar à nulidade do
julgamento.
De fato, o quesito da inimputabilidade, segundo o STJ, só será formulado se o júri afirmar o
quesito genérico da absolvição.
Veja o exemplo:
O jurado absolve o acusado?
Resposta:
NÃO. O juiz não colocará em votação o quesito da absolvição por inimputabilidade.
SIM. Será posto em votação o quesito da absolvição por inimputabilidade, que pode ser
formulado nos seguintes termos:
“O réu, ao tempo do fato, em razão de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era inteiramente incapaz de compreender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se conforme este entendimento ?”
Resposta:
SIM. O réu será absolvido, mas com imposição de medida de segurança. Trata-se da absolvição
imprópria.
NÃO. O réu será absolvido sem medida de segurança.
É claro que a inimputabilidade, para ser reconhecida, depende da instauração do incidente de
insanidade mental.
Se neste incidente houver sido reconhecida a inimputabilidade, mas os jurados se negarem a
absolver o réu, não há falar-se em decisão manifestamente contrária à prova dos autos, pois o art.
182 do CPP permite que o juiz discorde do laudo pericial, devendo esta norma ser também aplicada
aos jurados, pois eles são juízes de fato.
Nesse caso, diante da negativa do quesito da absolvição genérica, o réu será condenado, mas
se na fase de execução da pena se constatar a doença mental, o juiz da execução penal deverá
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Outros quesitos
Agravantes e atenuantes
Desde a reforma processual de 2008, não se fórmula mais quesitos sobre agravantes e
atenuantes genéricas.
O juiz presidente, de ofício, deverá reconhecer as pertinentes, por força do art. 385 do CPP,
ainda que não alegadas na pronúncia nem em plenário do júri.
Convém salientar que o art. 492, I, do CPP, quando autoriza o reconhecimento de agravantes
e atenuantes alegadas pelas partes durante os debates, deve ser interpretado no sentido de se impor
ao magistrado a obrigatoriedade de se analisar as agravantes e atenuantes arguidas em plenário,
mas as não sustentadas em plenário também devem ser reconhecidas de ofício, nos termos do art.
385 do CPP.
Quanto à agravante que figura como qualificadora do homicídio, mas que não constou da
pronúncia, não poderá ser levada em conta como agravante, pois, em relação a este delito, reveste-
se da natureza de qualificadora.
Se, porém, houver mais de uma qualificadora na pronúncia e o júri as reconhecer, o juiz
presidente utilizará apenas uma como qualificadora, empregando a outra como agravante genérica,
na segunda fase da aplicação da pena.
Concurso de crimes
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hipótese.
De acordo com o STJ, portanto, desde que a absolvição tenha sido pleiteada em plenário, ela
será votada antes do quesito da desclassificação que, nesse caso, quando também pleiteada, se
revela como sendo uma tese subsidiária.
Esta última orientação é a correta e referendada pelo STJ.
Superada discussão acima, cumpre salientar que o quesito da desclassificação para delito de
competência do juiz singular pode ser formulado da seguinte forma:
“ O réu quis a morte da vítima ou assumiu o risco de matá-la?
Resposta:
SIM. A votação prossegue para o quesito seguinte, pois o júri não acolheu a tese da
desclassificação.
NÃO. É o acolhimento da desclassificação. O júri reconhece que não se trata de crime doloso
contra a vida, afastando-se, por consequência, a sua competência, ficando prejudicado os demais
quesitos, encerrando-se a votação. Neste caso, o julgamento do fato principal e dos crimes conexos
será feito exclusivamente pelo juiz presidente, e não mais pelo júri.
O juiz presidente, no caso de desclassificação própria, poderá absolver ou condenar o réu, mas
na desclassificação impropria terá que condená-lo, conforme será visto adiante.
Há, diante da desclassificação, duas situações:
a) a desclassificação é para delito que não é de menor potencial ofensivo. Nesse caso, o juiz
presidente deverá julgar imediatamente o processo.
b) a desclassificação é para infração penal de menor potencial ofensivo ou para delito que
admite a suspensão condicional do processo. Nesse caso, o juiz presidente deverá se abster de
sentenciar.
Nessa ultima hipótese, o juiz presidente deverá prolatar um despacho de encerramento do
julgamento e, após o trânsito em julgado da decisão do Conselho de Sentença, será aberta vista ao
Ministério Público para ofertar a transação ou a suspensão condicional do processo ou apresentar os
motivos de sua negativa.
Não será possível que o Ministério Público, em plenário do júri, faça a proposta de transação
ou de suspensão condicional do processo, pois esta atitude implicaria em renúncia tácita ao direito
de recorrer, o que é proibido.
Na desclassificação, ainda que para infração penal de menor potencial ofensivo, o CPP fixa a
competência do juiz presidente, excluindo-se o fato da apreciação do júri e do JECRIM.
A propósito, dispõe o art. 491, §1o :
“Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao
presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito
resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial
ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995”.
O § 2o do art. 491 acrescenta que:
“Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado
pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1odeste
artigo”.
Assim, nas infrações penais de menor potencial ofensivo, embora não seja possível o
julgamento imediato, tendo em vista a possibilidade de transação, o juiz presidente, após o trânsito
em julgado da decisão de desclassificação, se manterá à frente do processo e conferirá a
oportunidade para a aplicação dos institutos benefícios do JECRIM.
Outra corrente, porém, sustenta que, na desclassificação para infração penal de menor
potencial ofensivo, o juiz presidente, após o trânsito em julgado da decisão de desclassificação,
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deverá remeter os autos ao juiz do JECRIM, cuja competência, para julgar as infrações penais de
menor potencial ofensivo, emana do art. 97, I, da CF e, por isso, não pode ser afastada por lei
ordinária, sendo, pois, inconstitucional o 491, § 1o, no tópico em que defere a competência ao juiz
presidente do júri.
A meu ver, não há inconstitucionalidade, pois a competência do JECRIM para julgar as infrações
de menor potencial ofensivo é também afastada em outras hipóteses. Exemplo: conexão com crime
que não seja de menor potencial ofensivo. Outro exemplo: causas complexas. Mais um exemplo:
necessidade de citação por edital. Portanto, trata-se de uma competência relativa, passível de ser
excepcionada por lei.
Ademais, o citado 491, § 1o , ordena que o juiz presidente aplique os benefícios da Lei
9.099/95. Por consequência, não haverá qualquer prejuízo ao réu. Noutras palavras, a própria lei
investe o juiz presidente nas funções de juiz do JECRIM.
A desclassificação, para delito que não seja doloso contra a vida, pode ser própria e imprópria.
Na desclassificação própria, o júri não identifica o delito para o qual se opera a desclassificação.
Nesse caso, o juiz presidente do júri tem ampla liberdade para conferir ao fato a qualificação jurídica
que julgar adequada, podendo absolver ou condenar o réu.
Na desclassificação imprópria, o júri identifica o delito para o qual se opera a desclassificação.
Exemplo: desclassificação do homicídio doloso para homicídio culposo ou para lesão corporal seguida
de morte.
Neste caso, para a corrente dominante, o juiz presidente estará vinculado à definição jurídica
conferida pelo Conselho de Sentença, limitando-se a aplicar a pena.
Outra corrente minoritária , ao revés, sustenta que não haveria esta vinculação, podendo o juiz
presidente absolver o réu ou condená-lo por delito diverso do proposto pelo Conselho de Sentença.
Prevalece que, na desclassificação imprópria, o juiz presidente se limita a aplicar a pena, pois a
condenação já fora imposta pelo Conselho de Sentença.
Na desclassificação própria, o juiz presidente tem liberdade para absolver ou condenar o réu.
Na desclassificação imprópria, o júri já o condenou, daí o nome de “impropria”, pois é uma
desclassificação com condenação, restando ao juiz presidente apenas a função de aplicar a pena.
Na desclassificação própria, cessa também a competência do júri para julgar os crimes
conexos.
Na desclassificação imprópria, o júri também deverá julgar os crimes conexos, posto que esta
desclassificação é uma decisão de mérito.
Na sistemática atual do CPP, não há, em regra, a desclassificação imprópria, pois no quesito da
desclassificação não se deve fazer menção ao delito para o qual se opera a desclassificação, devendo
o júri se limitar a reconhecer que o delito não é doloso contra a vida, sem definir o delito
desclassificado, sob pena de decidir sobre algo que não lhe compete.
Em algumas situações, porém, haverá a desclassificação imprópria. São elas:
a) desclassificação do homicídio para latrocínio. Nesse caso, o juiz deverá formular o seguinte
quesito: “O réu agiu com o fim de subtrair bens da vítima?”. É salutar que se especifique o bem
subtraído ou que se visou subtrair. Ao afirmar este quesito, o júri estará condenando o réu pelo crime
de latrocínio.
b) desclassificação com base na tese de participação dolosamente distinta, em delito menos
grave, nos termos do § 2º do art. 29 do CP, que dispõe o seguinte: “Se algum dos concorrentes quis
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participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até
metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave”. Nesse caso, a defesa deverá em
plenário indicar o delito que o réu quis ou assumiu o risco de praticar. O quesito poderá ser formulado
assim: “O réu quis participar apenas do crime de lesão corporal?”. Se o júri votar “sim” a este quesito,
o juiz deverá colocar em votação a causa de aumento de pena do citado § 2º do art. 29 do CP, nos
seguintes termos: “A morte, resultado mais grave, era previsível ao réu”?.
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Excesso doloso
Falso testemunho
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Após formular os quesitos, o juiz presidente os lerá e indagará das partes se têm requerimento
ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.
Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jurados o significado de cada quesito.
Após esta explicação em plenário, se as partes não impugnar o quesito ou a forma como se deu
a sua explicação, haverá preclusão.
A parte poderá exigir que a sua impugnação desacolhida conste da ata, caso contrário não terá
como comprová-la em eventual recurso.
Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o
assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala
especial a fim de ser procedida a votação.
Esta sala especial, antes da reforma de 2008, tinha o nome de sala secreta.
Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire, permanecendo
somente as pessoas mencionadas acima.
O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção que possa
perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar
inconvenientemente.
Antes de proceder-se à votação de cada quesito, o juiz presidente mandará distribuir aos
jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a
palavra sim, 7 (sete) a palavra não.
Para assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça recolherá em urnas separadas as cédulas
correspondentes aos votos e as não utilizadas ele as recolhe na urna de descarte.
Após a resposta, verificados os votos e as cédulas não utilizadas, o presidente determinará que
o escrivão registre no termo a votação de cada quesito, bem como o resultado do julgamento.
Do termo também constará a conferência das cédulas não utilizadas.
As decisões do Tribunal do Júri serão tomadas por maioria, que corresponde a 4
(quatro) votos.
Votação contraditória
Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra ou outras já dadas, o
presidente, explicando aos jurados em que consiste a contradição, submeterá novamente à votação
todos os quesitos a que se referirem tais respostas e que se mostraram antagônicos.
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Logo, vota-se novamente todos os quesitos cuja votação se revelou contraditória e não apenas
o último que entrou em contradição.
Quesitos prejudicados
Termo de votação
Encerrada a votação, o juiz presidente determinará que o escrivão registre no termo a votação
de cada quesito e o resultado do julgamento.
Este termo será assinado pelo juiz presidente, pelos jurados e pelas partes.
Da sentença
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De cada sessão de julgamento o escrivão lavrará ata, assinada pelo presidente e pelas
partes. A ata descreverá fielmente todas as ocorrências, mencionando obrigatoriamente:
I – a data e a hora da instalação dos trabalhos;
II – o magistrado que presidiu a sessão e os jurados presentes;
III – os jurados que deixaram de comparecer, com escusa ou sem ela, e as sanções
aplicadas;
IV – o ofício ou requerimento de isenção ou dispensa;
V – o sorteio dos jurados suplentes;
VI – o adiamento da sessão, se houver ocorrido, com a indicação do motivo;
VII – a abertura da sessão e a presença do Ministério Público, do querelante e do assistente, se
houver, e a do defensor do acusado;
VIII – o pregão e a sanção imposta, no caso de não comparecimento;
IX – as testemunhas dispensadas de depor;
X – o recolhimento das testemunhas a lugar de onde umas não pudessem ouvir o depoimento
das outras;
XI – a verificação das cédulas pelo juiz presidente;
XII – a formação do Conselho de Sentença, com o registro dos nomes dos jurados sorteados e
recusas;
XIII – o compromisso e o interrogatório, com simples referência ao termo;
XIV – os debates e as alegações das partes com os respectivos fundamentos;
XV – os incidentes;
XVI – o julgamento da causa;
XVII – a publicidade dos atos da instrução plenária, das diligências e da sentença.
A falta da ata sujeitará o responsável a sanções administrativa e penal (art. 496).
São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente referidas
neste Código:
I – regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;
II – requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva autoridade;
III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de linguagem ou mediante
requerimento de uma das partes;
IV – resolver as questões incidentes que não dependam de pronunciamento do júri;
V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver
o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo
defensor;
VI – mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do julgamento, o qual
prosseguirá sem a sua presença;
VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligências requeridas ou
entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados;
VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e para repouso ou
refeição dos jurados;
IX – decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou a requerimento de qualquer
destes, a argüição de extinção de punibilidade;
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A Lei 13.964/2019 instituiu uma nova modalidade de prisão cautelar restrita ao júri nas
hipóteses de condenação a pena privativa de liberdade igual ou superior a 15 (quinze) anos de
reclusão.
Neste caso, o juiz presidente, na própria sentença condenatória, deverá ordenar a expedição
do mandado de prisão, ainda que não estejam presentes os requisitos da prisão preventiva.
Trata-se, pois, de uma prisão cautelar obrigatória.
A propósito, dispõe o art. 492, I, “e”, do CPP, introduzido pela Lei 13.964/2019, que o juiz
presidente proferirá sentença que:
“Mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes
os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15
(quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado
de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos”.
Assim, a eventual apelação interposta contra sentença condenatória do Tribunal do Júri a uma
pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo (art. 492, §4º, do
CPP). Noutras palavras, o recurso de apelação não impede a execução provisória da sentença,
devendo ser expedido e cumprido o mandado de prisão.
Sobre a constitucionalidade desta prisão, há duas correntes.
Primeira, é inconstitucional, pois viola o princípio da presunção da inocência.
Segunda, é constitucional, por força do princípio da soberania do júri, que impede a absolvição
do réu no recurso de apelação.
O presidente do júri poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das
penas de que trata a alínea e do inciso I do caput deste artigo, se houver questão substancial cuja
resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da
condenação (art. 492, § 3º, do CPP).
O dispositivo em anexo permite que o tribunal, em grau de recurso, reveja a condenação do
júri. Noutras palavras, poderá absolver o réu, à semelhança do que já ocorre na revisão criminal.
O juiz presidente do júri, ao visualizar que a apelação do réu versa sob questão substancial,
poderá conferir efeito suspensivo ao recurso, obstando a expedição do mandado de prisão.
O § 5º do art. 492 do CPP ainda esclarece que excepcionalmente poderá o tribunal atribuir
efeito suspensivo à referida apelação quando verificado cumulativamente que o recurso:
I - não tem propósito meramente protelatório; e
II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo
julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.
Os requisitos dos incisos I e II são cumulativos.
O tribunal poderá conceder efeito suspensivo à apelação quando houver argumentos
relevantes capazes de gerar uma das seguintes situações:
a) absolvição;
b) anulação da sentença;
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c) novo julgamento;
d) redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.
A grande novidade é a possibilidade de absolvição pelo tribunal nas condenações iguais ou
superiores a 15 (quinze) anos de reclusão. Não há falar-se em violação ao princípio da soberania do
júri, pois se trata de uma medida instituída para beneficiar o réu. Outra corrente, entretanto, reputa
inconstitucional, por violação do princípio da soberania do júri, esta possibilidade de absolvição pelo
tribunal.
O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito incidentemente na apelação ou
por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença
condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das demais
peças necessárias à compreensão da controvérsia (§ 6º do art. 492 do CPP).
Cumpre observar que não é possível, por falta de interesse de agir, a impetração de mandado
de segurança ou “habeas corpus” para se obter o efeito suspensivo.
Assim, o pedido de efeito suspensivo poderá ser feito de duas formas:
a) incidentalmente, ou seja, no bojo do recurso de apelação;
b) por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da
sentença condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e
das demais peças necessárias à compreensão da controvérsia
A análise da concessão ou não do efeito suspensivo deverá ser feita pelo relator, em decisão
monocrática, impugnável através de agravo regimental.
Nada obsta, porém, que o relator ou o tribunal conceda habeas corpus de ofício para se atribuir
efeito suspensivo à aludida apelação, quando visualizar os pressupostos previstos no art. 492, §5º,
do CPP.
RECURSOS
CONCEITO
Recurso é o meio voluntário de impugnação de decisão judicial, ainda não preclusa, previsto
em lei, disponível às partes e ao Ministério Público , que se desenvolve dentro do mesmo processo
em que se prolatou a decisão recorrida, cujo objetivo é reformá-la, anulá-la ou aclará-la.
O recurso é um dos instrumentos que provocam a jurisdição revisiva, que é regida pelo
princípio da taxatividade, pois só é possível os recursos previstos em lei.
Natureza jurídica
Além dos recursos, há ainda as ações de impugnações, que também se prestam à impugnação
de decisões judiciais. Exemplos: “habeas corpus”, mandado de segurança e revisão criminal.
O recurso desenvolve-se dentro do mesmo processo onde foi prolatada a decisão impugnada,
ao passo que as ações de impugnação de decisões judiciais inauguram uma nova relação processual.
No recurso, a parte contrária não é citada, mas intimada para apresentar as contrarrazões.
Nas ações de impugnação, por se tratar de um novo processo, a parte contrária será citada.
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CARACTERÍSTICAS DO RECURSO
PRINCÍPIOS RECURSAIS
Princípios recursais são os postulados fundamentais que inspiram a elaboração das normas
sobre recursos.
Referidos princípios são os seguintes:
a) Princípio do duplo grau de jurisdição;
b) Princípio da colegialidade;
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c) Princípio da taxatividade;
d) Princípio da unirrecorribilidade;
e) Princípio da dialeticidade;
f) Princípio da proibição da “reformatio in pejus”;
g) Princípio da fungibilidade;
h) Princípio da Convolação;
i) Princípio da “reformatio in mellius”;
j) Princípio da complementariedade;
k) Princípio da consumação.
O princípio do duplo grau de jurisdição é o que possibilita o reexame da decisão judicial por
órgão jurisdicional hierarquicamente superior.
Sobre as vantagens deste princípio, destacam-se o controle das decisões e a correção de
eventuais erros.
Estes dois benefícios compensam o retardamento do pronunciamento jurisdicional.
Saliente-se, contudo, que o princípio do duplo grau não está previsto expressamente na
Constituição Federal.
O referido princípio, porém, é previsto expressamente na Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, também conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, segundo o qual toda pessoa
acusada de delito tem o direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior ( art. 8º, n. 2,
“h”).
Os tratados de direitos humanos não aprovados com quórum de emenda constitucional, como
é o caso do Pacto de São José da Costa Rica, têm caráter supralegal, estando abaixo da Constituição
e acima das leis.
Mas, para outra parcela da doutrina, o duplo grau é um princípio constitucional implícito, que
decorre da estrutura do Poder Judiciário.
Com efeito, os tribunais são previstos na Constituição Federal, de modo que implicitamente
assegura-se a necessidade dos recursos, que efetivam o princípio do duplo grau.
Ademais, o art. 93, IX, da CF exige que as decisões judiciais sejam fundamentadas.
A razão da motivação é estabelecer a ampla recorribilidade para se concretizar o princípio do
duplo grau.
O STF, porém, trata o duplo grau como um princípio supralegal, estando abaixo da Constituição
e acima das leis.
As inúmeras leis que exigem, para a interposição de apelação ou de outro recurso, a
necessidade de se recolher à prisão violam o Pacto de São José da Costa Rica e, para os que sustentam
que o duplo grau tem origem constitucional implícita, afrontam a própria Constituição Federal.
É, pois, pacífico que o acusado poderá recorrer sem recolher-se à prisão.
A propósito, dispõe a súmula 347 do STJ:
“O conhecimento do recurso de apelação do réu independe de sua prisão”.
Da mesma forma, se, durante a apelação, o réu, que estava preso preventivamente, se evadir,
o recurso prosseguirá, ou seja, não será julgado deserto.
Esta orientação é adotada tanto pelo STF quanto pelo STF.
A súmula 09 do STJ, que reputava válida a exigência de recolhimento à prisão para poder apelar,
encontra-se cancelada.
As inúmeras leis, que exigem o recolhimento à prisão como requisito do recurso de apelação,
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não são mais aplicadas. Elas violam não só o princípio do duplo grau como também os princípios da
ampla defesa, da proporcionalidade, da isonomia e do devido processo legal.
É, entretanto, possível que a prisão preventiva seja decretada na própria sentença
condenatória ou na decisão de pronúncia, mas, nesse caso, o réu poderá recorrer ainda que se
encontre foragido.
Não há necessidade, porém, do triplo grau jurisdição, basta o duplo, ou seja, a possibilidade de
se impugnar a decisão judicial pelo menos uma vez.
Na área penal, o princípio do duplo grau de jurisdição deve possibilitar a revisão do julgado por
órgão jurisdicional superior.
Nas ações penais de competência originária do Supremo Tribunal Federal, porém, será cabível
o recurso de embargos infringentes ao Plenário do STF, nos termos do art. 333, I e parágrafo único
do RISTF, contra decisão não unânime do Plenário ou da Turma que julgar procedente a ação
penal. O cabimento dos embargos, em decisão do Plenário do STF, depende da existência, no
mínimo, de quatro votos divergentes.
Trata-se de uma hipótese em que o princípio do duplo grau é exercido pelo próprio tribunal
que prolatou a decisão recorrida.
Por analogia, nos demais casos de foro por prerrogativa de função da competência de outros
tribunais, também caberá , em caso de divergência na votação, o recurso de embargos infringentes
ao próprio tribunal, pois, nos recursos especial e extraordinário, o que se discute não são os fatos,
mas, sim, as questões jurídicas, de modo que eles não se prestam ao atendimento do duplo grau.
Outro recurso que é julgado pelo próprio órgão que prolatou a decisão recorrida, é os embargos
de declaração.
Finalmente, nas hipóteses de reexame necessário, concretiza-se o duplo grau sem que
haja recurso.
PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE
Em regra, os recursos são julgados por órgãos colegiados, compostos por 3 (três) ou mais
desembargadores ou ministros, viabilizando-se, destarte, o diálogo no processo entre os
magistrados.
Abre-se, no entanto, exceção às hipóteses previstas no art. 932, III, IV e V do CPC, que prevê as
situações de julgamento monocrático, aplicáveis no processo penal apenas aos recursos especial e
extraordinário, pois estes dois recursos são disciplinados pelo CPC.
A propósito, dispõe o art. 932, III, IV e V do CPC:
“Incumbe ao relator:
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida;
IV - negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência;
V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
decisão recorrida for contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
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PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE
De acordo com esse princípio, para cada decisão judicial é cabível apenas um tipo de recurso.
Não se admite recursos simultâneos contra a mesma decisão. Exemplo: se na sentença, o juiz
condena o réu por um crime e extingue a punibilidade em relação ao outro delito, só será cabível o
recurso de apelação, e não o recurso em sentido estrito, ainda que o recurso verse somente sobre a
extinção da punibilidade.
Assim, as decisões proferidas na sentença são passíveis apenas de apelação, que é o recurso
adequado para impugná-las.
Finalmente, cumpre apontar três exceções ao princípio da unirrecorribilidade.
A primeira ocorre no acórdão que tem fundamento legal e constitucional, sendo cabível a
interposição simultânea do recurso especial, para impugnar o tópico que afronta a lei, e do recurso
extraordinário, contra o tópico que afronta a Constituição Federal.
A segunda é em relação aos acórdãos não unânimes dos Tribunais de Justiça ou Tribunais
Regionais Federais, nos julgamentos das apelações, recurso em sentido estrito e agravo em
execução, onde serão cabíveis simultaneamente os recursos de embargos infringentes e de nulidade,
contra a parte não unânime, e os recursos especial e/ou extraordinário contra a parte unânime.
A terceira é a possibilidade de interposição de embargos de declaração e outro recurso, quando
a decisão, a sentença ou acórdão forem omissos, obscuros, contraditórios ou contiverem erros
materiais. Nesse caso, primeiro se ingressa com os embargos de declaração, mas se estes forem
rejeitados, outro recurso poderá interposto contra a mesma decisão.
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE
O princípio em análise é o que obriga a fundamentação, ainda que concisa, de todo e qualquer
recurso.
Não é recomendável, mas aceita-se a fundamentação remissiva, que se reporta aos
fundamentos de outra peça processual.
A fundamentação, que é a causa de pedir do recurso, pode referir-se ao “error in procedendo”
ou ao “error in judicando”.
A fundamentação tem dupla função. A primeira é limitar a atuação do tribunal à matéria
recorrida.
A segunda é permitir a ampla defesa, através das contrarrazões.
Os arts. 589 e 601 do CPP, porém, que cuidam dos recursos em sentido estrito e da apelação,
permitem que os referidos recursos da acusação ou da defesa sejam julgados sem as razões e
contrarrazões recursais, desde que a parte tenha sido devidamente intimada para apresentá-las.
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Segundo este princípio, também conhecido como efeito prodrômico da sentença, o réu, em
seu recurso, não pode ter a situação agravada.
Este princípio é consagrado expressamente à apelação, no art. 617 do CPP, mas é aplicável pela
jurisprudência a todos os recursos da defesa.
Aliás, no recurso da acusação, o tribunal também não poderá conhecer de ofício matéria não
impugnada, que seja prejudicial à defesa.
Nem mesmo uma nulidade absoluta contra o réu, não arguida no recurso da acusação, poderá
ser conhecida de ofício pelo tribunal (súmula 160 do STF).
O princípio da “non reformatio in pejus” veda em recurso exclusivo da defesa, dentre outras,
as seguintes situações:
a) a instauração do incidente de insanidade mental para fins de imposição de medida de
segurança não pleiteada pelo réu (súmula 525 do STF).
b) a imposição de efeito específico da condenação, previsto no art. 92 do CPP. Conquanto o
art. 617 do CPP vede apenas o agravamento da pena em recurso exclusivo da defesa, a doutrina
estende também a vedação aos efeitos específicos da condenação.
c) aumento da pena base, ainda que a quantidade da pena final seja a mesma fixada na
sentença.
d) inserir, no lugar da qualificadora afastada, alguma causa de aumento de pena.
Há ainda a proibição da “reformatio in pejus indireta”, que consiste na vedação de o novo
julgamento agravar a situação do réu, quando o primeiro houver sido anulado em recurso exclusivo
da defesa ou através de “habeas corpus”.
Ainda que a anulação da sentença, em razão de recurso exclusivo da defesa, houver sido por
incompetência absoluta, a nova sentença não poderá ultrapassar o teto máximo da pena imposta na
condenação anterior.
Uma posição minoritária, porém, sustenta que, neste caso, tendo em vista a violação do
princípio do juiz natural, a nova sentença não teria que observar o teto da pena anterior.
No tocante à anulação da sentença do júri por recurso exclusivo da defesa, o réu, no novo júri,
poderá até ser condenado por fato mais grave, por exemplo, homicídio qualificado, mas o juiz
presidente, ao aplicar a pena, não poderá ultrapassar a pena do julgamento anterior. É a posição
da 2ª Turma do STF.
O STJ, porém, assevera que, no júri, por força da soberania dos veredictos, não vigora o
princípio da proibição da “reformatio in pejus indireta”, podendo o novo julgamento agravar a pena.
Este último ponto de vista destoa da lógica, pois se o réu não tivesse recorrido a pena seria
menor, de modo operou-se, em relação ao teto máximo da pena, diante da ausência de recurso da
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PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE
Princípio da convolação
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apelação da defesa, agrave a situação do réu. Se tivesse a intenção de proibir o tribunal de beneficiar
o réu tê-lo-ia também dito expressamente.
O art. 654, § 2o, do CPP, permite que o tribunal conceda “habeas corpus” de ofício e, por
consequência, o autoriza implicitamente a conceder outros benefícios menores ao réu.
No tocante às sentenças do júri, porém, o tribunal, no julgamento do recurso, não poderá
conhecer de questões não pleiteadas nas razões recursais, salvo quanto às nulidades absolutas
favoráveis ao réu.
Vê-se assim que, no júri, o efeito devolutivo da apelação é restrito, ao passo que, nas sentenças
do juiz singular, o efeito devolutivo do apelo será amplo.
A propósito, dispõe a súmula 713 do STF:
“O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua
interposição”.
PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE
PRINCÍPIO DA CONSUMAÇÃO
De acordo com este princípio, não se admite que o recurso já interposto seja substituído por
outro, ainda que dentro do prazo recursal.
Assim, se houver a interposição de dois recursos distintos contra a mesma decisão, prevalecerá
o recurso protocolado em primeiro lugar.
Trata-se, mais uma vez, de aplicação da preclusão consumativa.
Em oposição ao princípio da consumação, há o princípio da variabilidade, que permite ao
recorrente substituir o recurso interposto por outro, desde que o faça dentro do prazo.
Não há, no processo penal, nenhuma hipótese de aplicação do princípio da variabilidade, pois
ele atenta contra o instituto da preclusão consumativa.
Antes da reforma processual de 2008, o réu que era condenado pelo júri a uma pena superior
a 20 (vinte) anos podia substituir a apelação pelo recurso do protesto por novo júri.
O protesto por novo júri, entretanto, foi revogado pela aludida reforma processual, de modo
que não há qualquer outra previsão legal de aplicação do princípio da variabilidade.
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O recurso é interposto, em regra, perante o juízo ou tribunal “a quo”, que é aquele que proferiu
a decisão recorrida e julgado pelo órgão “ad quem”, que é o tribunal para o qual se recorre.
Assim, por exemplo, a apelação deve ser interposta perante o juízo prolator da sentença,
devendo este encaminhá-la ao tribunal, órgão “ad quem”.
Não se pode interpor a apelação diretamente ao tribunal.
Excepcionalmente, porém, interpõe-se o recurso diretamente no tribunal, e não no órgão “a
quo”, como ocorre com a correição parcial e com o agravo interposto contra a decisão que negou
seguimento aos recursos especial ou extraordinário.
Há ainda alguns recursos interpostos e julgados perante o próprio órgão “a quo”. São eles:
a) embargos de declaração;
b) embargos infringentes contra acórdãos não unânimes do plenário do STF, nos casos de sua
competência originária, pois o julgamento será feito pelo próprio plenário do STF.
Juízo de prelibação
PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
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recurso, que sequer será conhecido, ou seja, não será julgado no mérito.
CABIMENTO DO RECURSO
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LEGITIMIDADE
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a) o terceiro que prestou fiança pode recorrer em sentido estrito contra a decisão que decretou
a perda ou quebramento da fiança (581, VII, do CPP). Trata-se de uma rara previsão de recurso
interposto por terceiro juridicamente interessado. De fato, o terceiro juridicamente interessado, que,
no processo civil, pode interpor recurso, na seara processual penal não poderá recorrer, salvo na
hipótese em que prestou fiança e houver a perda ou quebramento da aludida garantia. Outra
hipótese é o recurso interposto pelo terceiro de boa-fé contra a decisão que ordenou o sequestro de
seus bens. Entende-se por terceiro a pessoa que não participou do processo, mas cuja relação jurídica
pode ser afetada pela decisão judicial. O terceiro prejudicado não é intimado da decisão, de modo
que seu prazo recursal é contado da intimação das partes. Noutras palavras, o terceiro tem o mesmo
prazo que as partes têm para recorrer, sujeitando-se também aos demais pressupostos recursais.
b) qualquer do povo, inclusive, o próprio jurado, pode recorrer em sentido estrito da decisão
judicial sobre a lista geral de jurados (art. 581, XIV, do CPP).
c) além do sentenciado, seu cônjuge (ou companheiro), parente ou descendente podem
interpor o recurso de agravo em execução contra as decisões do juiz da execução penal (art. 195 da
LEP). Trata-se de uma rara previsão de recurso interposto por terceiro moralmente interessado.
d) o juiz tem também legitimidade para recorrer nos incidentes processuais em que for parte,
que são os incidentes de suspeição e impedimento. Nesses casos, não precisará de advogado, pois
dispõe de conhecimento técnico.
e) o ofendido, esteja ou não habilitado como assistente de acusação.
Acerca do ofendido, habilitado ou não como assistente de acusação, uma primeira corrente
sustenta que a sua legitimidade é restrita, pois a lei só o autoriza a recorrer da impronúncia, da
extinção da punibilidade e da sentença absolutória (art. 584, § 1o e 598 do CPP).
O fundamento desta corrente é que o interesse do assistente se limita à garantia do seu direito
de indenização e, por consequência, não poderia recorrer da sentença condenatória, pois esta,
independentemente da quantidade da pena, lhe assegura o direito de indenização na esfera cível,
onde funciona como título executivo judicial.
Ele pode interpor então apenas o recurso em sentido estrito contra a decisão que julgar extinta
a punibilidade e apelação contra impronúncia e sentença absolutória. No tocante à sentença de
absolvição sumária do procedimento do júri, prevalece o entendimento que será também possível o
recurso do assistente de acusação, pois esta sentença tem natureza absolutória. Nestas hipóteses,
para fazer valer o recurso interposto, o assistente de acusação pode interpor inclusive recurso
extraordinário, conforme súmula 210 do STF, recurso especial e carta testemunhável.
Assim, por exemplo, não recebida a apelação do assistente de acusação, ele poderá interpor o
recurso em sentido estrito e se este também não for admitido, será possível a carta testemunhável.
Outra corrente, porém, lhe confere ampla liberdade para interpor qualquer recurso, inclusive,
quando a sentença for condenatória, com o fim de se pleitear o aumento da pena. Outrossim, da
decisão de pronúncia.
O fundamento desta doutrina é que o assistente de acusação pode requerer provas, prisão
preventiva e outras medidas cautelares pessoais, tendo, pois, interesse na busca da verdade real e
não apenas no seu direito à indenização.
A súmula 208 do STF reza que “o assistente de acusação não pode recorrer
extraordinariamente de decisão concessiva de “habeas corpus”.
Inúmeros processualistas, porém, sustentam o cancelamento desta súmula, posto que a Lei
12.403/11, que lhe é posterior, legitimou o assistente a requerer prisão preventiva e outras medidas
cautelares pessoais e, por consequência, passa a ter interesse em interpor recurso extraordinário
contra a decisão concessiva de “habeas corpus”.
A polêmica persiste e ainda não foi apaziguada.
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INTERESSE RECURSAL
O interesse recursal surge quando houver a necessidade de recorrer para se obter alguma
vantagem.
De fato, não se admitirá, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação
da decisão (art. 577, parágrafo único, do CPP).
A necessidade do recurso advém da sucumbência.
É, pois, a sucumbência que gera o interesse de recorrer.
Sucumbência é o prejuízo potencial ou efetivo causado pelo ato judicial do qual se pretende
recorrer. É, pois, o não atendimento de uma pretensão.
A sucumbência apresenta as seguintes modalidades:
a) sucumbência formal: ocorre quando a decisão recorrida violar normas processuais. É, pois,
o prejuízo processual. Com efeito, diante do prejuízo processual causado pelo risco de anulação desse
ato judicial, surge o interesse de recorrer.
b) sucumbência material: é a que decorre do não atendimento de uma expectativa, justa ou
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injusta. Assim, como esclarece Vicente Greco Filho, é sucumbente aquele que teve ganho parcial na
causa.
c) sucumbência única: é a que atinge apenas uma das partes. Ocorre quando se acolhe na
íntegra pedido de uma das partes.
d) sucumbência múltipla: é a que lesa os interesses de mais de uma parte. É o gênero que tem
como espécies a sucumbência recíproca e a sucumbência paralela.
e) sucumbência recíproca ou bilateral ou múltipla recíproca: é a que lesa simultaneamente os
interesses da acusação e da defesa. Exemplo: ação penal julgada parcialmente procedente;
f) sucumbência paralela ou múltipla paralela: é a que lesa os interesses de partes que se
encontram no mesmo polo da relação processual. Exemplo: sentença que condena dois ou mais
réus.
g) sucumbência direta: é a que atinge as partes processuais;
h) sucumbência reflexa: é a que também atinge pessoas que não figuram como partes no
processo, mas que, por força de lei, poderão recorrer. Exemplo: diante da decisão que decreta a
perda da fiança, o terceiro que havia prestado a fiança poderá interpor o recurso em sentido estrito.
Outro exemplo: a vítima não habilitada como assistente de acusação poderá apelar da sentença
absolutória. Em regra, porém, o terceiro juridicamente interessado não poderá interpor recursos na
área processual penal.
i) sucumbência total: quando a ação é julgada totalmente procedente ou improcedente.
j) sucumbência parcial: quando a ação é julgada parcialmente procedente. A sucumbência
parcial é também recíproca ou bilateral, pois acaba atingindo ambas as partes, habilitando-as à
interposição dos recursos.
A sucumbência, em regra, dever ser analisada em face da parte decisória propriamente dita, e
não da fundamentação.
Desde que o pedido tenha sido integralmente acolhido, ainda que a fundamentação do
magistrado divirja dos argumentos da parte vencedora, não há falar-se em sucumbência, portanto,
não se admite recurso com o propósito exclusivo de se alterar a fundamentação de uma decisão
favorável ao recorrente, pois em tal situação o objeto da decisão não será modificado.
Abrem-se, entretanto, duas exceções.
A primeira é a fundamentação que contém algum vício processual ou material, pois, diante do
risco da decretação da nulidade, a parte vencedora poderá recorrer, com base na sucumbência
processual.
A segunda é a sentença absolutória, em que o recurso da defesa visa alterar o fundamento para
outro que faça coisa julgada na esfera cível, a fim de se excluir o dever de indenizar. Assim, o réu
pode recorrer da sentença absolutória para alterar o fundamento da absolvição, com o fim de se
liberar do dever de indenizar no cível. É, pois, necessário que se demonstre o benefício visado.
Exemplo: o réu absolvido por insuficiência de provas pode apelar para pleitear a legítima defesa, que
exclui o dever de indenizar. Se, porém, o delito não houver causado qualquer dano, não será possível,
por falta de interesse, o recurso para se alterar os fundamentos da absolvição.
O interesse recursal, nesses casos, é a segurança jurídica.
Sobre o interesse de recorrer, cumpre esclarecer as seguintes situações:
a) extinta a punibilidade, o réu não pode recorrer para pleitear a absolvição, pois, diante da
extinção da punibilidade, o Estado perde a pretensão punitiva, estando, pois, impossibilitado de se
pronunciar sobre o mérito da acusação.
b) o Ministério Público tem interesse em recorrer da sentença condenatória prolatada em ação
penal pública, com o intuito de buscar a absolvição, a redução da pena ou outros benefícios. Aliás,
lhe é lícito impetrar até “habeas corpus” em favor do acusado (art. 654 do CPP). É claro que, se por
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ocasião das alegações orais ou memoriais, o membro do “parquet” requereu a absolvição ou outro
benefício, a sucumbência se revela evidente, franqueando-lhe, em caso de condenação, sem
qualquer polêmica, as vias recursais. Se, ao revés, havia pedido a condenação, creio que também
nada obsta que, após analisar melhor a situação, que recorra, na qualidade de fiscal do ordenamento
jurídico, para pedir a absolvição, pois não teria cabimento permitir que se perpetuasse uma eventual
injustiça ou ilegalidade, Acrescente-se ainda que a condenação injusta gera sucumbência não só para
o réu, mas para toda a sociedade, circunstância que justifica o recurso ministerial.
c) o Ministério Público que requer, em alegações orais ou memoriais, a absolvição poderá
apelar para pedir a condenação, pois a sucumbência do membro do “parquet” decorre da violação
das normas jurídicas ou da equivocada análise das provas pelo magistrado, porquanto no processo
penal ele acumula as funções de órgão acusatório e fiscal da lei. Ademais, a sucumbência deriva do
não atendimento do pedido estampado na peça acusatória, de modo que o pedido de absolvição não
elimina a sucumbência.
Outra corrente, entretanto, lhe nega a pretensão recursal, invocando a falta de interesse na
reforma ou modificação da decisão.
d) nas ações penais exclusivamente privadas, o Ministério Público não pode recorrer das
sentenças absolutórias, sob pena de violação do princípio da disponibilidade, que vigora na referida
ação.
e) nas ações penais exclusivamente privadas, o Ministério Público pode recorrer da sentença
condenatória para pleitear o aumento da pena ou outro gravame ou ainda a absolvição, a redução
da pena ou outro benefício.
Por fim, discute-se se o Estado pode recorrer da sentença absolutória que o condena ao
pagamento das custas processuais. Uns dizem que sim, pois houve sucumbência reflexa. A meu ver,
não há interesse em recorrer, pois o Estado não é parte no processo criminal e, dessa forma, este
trecho da sentença se revela inócuo, não podendo atingi-lo, sob pena de violação dos limites
subjetivos da coisa julgada.
TEMPESTIVIDADE
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O recurso protocolado dentro do prazo em setor errado do juízo ou tribunal também será
tempestivo, pois, segundo já decidiu o STF, o setor, ao aceitar o protocolo, também contribuiu para
o erro do advogado.
Quanto ao recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data
de postagem (§4o do art. 1003 do CPC).
Portanto, encontra-se cancelada a súmula 216 do STJ, segundo a qual o recurso interposto pelo
correio que não chegasse no protocolo dentro do prazo seria intempestivo.
O recurso pode também ser interposto por fax, mas nesse caso a petição original deverá ser
entregue em juízo até 5 (cinco) dias da data do término do prazo (art. 2º da Lei 9.800/99).
Quem fizer uso deste sistema de transmissão torna-se responsável pela qualidade e fidelidade
do material transmitido, e por sua entrega ao órgão judiciário (art. 4o da referida lei). Se o recurso
chegar ilegível, não será conhecido.
Não é possível, por falta de previsão legal, a interposição de recurso ou “habeas corpus”,
através de e-mail.
Nos processos físicos, o recurso deve ser protocolado até o último dia do prazo e dentro do
horário do expediente de protocolo.
Assim, nos processos físicos, a petição recursal será protocolada em cartório ou conforme as
normas de organização judiciária, até antes do encerramento do expediente de protocolo. Não se
admite o protocolo de recurso, após o fim do expediente, no plantão judiciário.
Nos processos eletrônicos, o recurso será tempestivo se chegar até as 24 horas do último dia
do prazo.
Quanto ao recurso prematuro, que é o interposto antes da intimação da decisão recorrida, ou
seja, antes do termo inicial do prazo, de acordo com o §4o do art. 218 do CPC, será considerado
tempestivo.
No CPC anterior este recurso era tido como intempestivo. Ora, com a interposição do recurso,
a parte se dá por intimada e por isso o recurso não deveria ser considerado intempestivo. O CPC 2015
solucionou o problema para considerá-lo tempestivo.
Esta norma, por analogia, deve ser também aplicada ao processo penal.
No processo penal, em alguns recursos, como a apelação e o recurso em sentido estrito, as
razões podem ser apresentadas depois da petição de interposição. Se a interposição houver sido
tempestiva e as razões intempestivas, o recurso será considerado tempestivo, pois a apresentação
das razões fora do prazo, nesses dois recursos, é uma mera irregularidade.
Os prazos recursais são ainda contínuos e peremptórios, pois não se suspendem, não se
interrompem e são insuscetíveis de dilação convencional pelas partes.
Abrem-se algumas exceções.
Com efeito, dispõe o § 4o do art. 798 do CPP:
“Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo judicial
oposto pela parte contrária”.
Este dispositivo legal prevê três hipóteses de impedimento ou suspensão de prazos:
a) impedimento do juiz;
b) força maior;
c) obstáculo judicial oposto pela parte contrária.
Outra exceção é o recesso forense, período em que há a suspensão do expediente
forense, entre os dias 20 de dezembro a 6 de janeiro, operando-se a suspensão dos prazos
processuais (art. 62, I, da Lei 5.010/66 e Resolução n. 8 do CNJ).
O art. 93, XII, da CF proíbe as férias forenses ao dispor que “a atividade jurisdicional será
ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos
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dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente”.
Há, entretanto, o recesso forense, com sistema de plantão judiciário, que se assemelha às férias
coletivas. Nesse período de recesso, todos os prazos processuais permanecem suspensos.
As hipóteses acima são de impedimento e suspensão dos prazos, que não se confundem com
a interrupção.
O impedimento obsta o início do prazo, ao passo que a suspensão é uma paralisação do prazo
que já estava em curso.
Assim, na suspensão, o prazo sofre uma parada temporária, mas, após cessar a causa de
suspensão, recomeça de onde havia parado, computando-se o período anterior à suspensão.
A interrupção, ao revés, torna sem efeito todo o período transcorrido, sendo que, cessada a
causa de interrupção, devolve-se por inteiro o prazo. Assim, cessado o obstáculo, o prazo inicia-se
novamente, desprezando-se o período anteriormente transcorrido.
Os prazos recursais são também:
a) legais: estipulados exclusivamente pela lei. O juiz e as partes não podem fixar prazos
recursais.
b) comuns: iguais para ambas as partes. Apenas a Defensoria Pública tem prazo em dobro.
Sobre a contagem do prazo, inicia-se no primeiro dia útil seguinte à intimação (art. 798 do CPP).
Exclui-se, portanto, o dia do começo. Os prazos são contados da intimação, e não da juntada aos
autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem (Súmula 710 do STF).
No CPC, na contagem dos prazos, só se computam os dias úteis (art. 219 do CPC). Assim, os
prazos não fluem nos sábados, domingos e feriados.
No CPP, adota-se o sistema dos dias corridos, computando-se os sábados, domingos e feriados,
salvo em relação ao primeiro e último dia do prazo, que necessariamente devem cair em dias úteis.
O § 5o do art. 798 do CPP dispõe que:
“Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho”.
O recurso deve ser protocolado até o último dia do prazo. Se o último dia cair em sábado,
domingo ou feriado, o prazo será prorrogado para o primeiro dia útil seguinte.
Sobre o assunto, reza a súmula 310 do STF:
“Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for
feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente,
caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”.
Nos processos eletrônicos, quando a intimação for através de meio eletrônico, a publicação
será considerada feita no primeiro dia útil seguinte à disponibilização da informação no Diário Oficial
Eletrônico (art. 4o, §§3º e 4º, da lei 11.419/2006). Se, por exemplo, a disponibilização da intimação
do advogado no Diário Oficial Eletrônico ocorrer na sexta feira, a intimação só se aperfeiçoará na
data da publicação, que será na segunda-feira, iniciando-se o prazo na terça feira.
Convém destacar que, no processo penal, é vedada a citação por meios eletrônicos, outrossim,
também há a vedação da citação eletrônica nos processos por atos infracionais de adolescentes
(art. 6º da Lei 11.419/2006), mas nada obsta o processo e intimações eletrônicas
Por outro lado, a intimação da sentença condenatória deve recair tanto sobre o réu, preso ou
solto, quanto sobre o seu advogado ou defensor público, pois ambos podem recorrer
autonomamente.
Não há necessidade de se intimar primeiro o réu e depois o seu defensor, o que é necessária
é a intimação de ambos, pouco importa a ordem. Intimados o réu e seu advogado ou defensor, o
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d) recurso em sentido estrito: 5 (cinco) dias (art. 586 do CPP). Abre-se exceção ao interposto
contra a lista de jurados, cujo prazo é de 20 (vinte) dias (art. 586, parágrafo único, do CPP).
e) recurso ordinário para o STJ ou STF: 5 (cinco) dias contra decisão denegatória de “habeas
corpus” e 15 (quinze) dias contra decisão denegatória de mandado de segurança (arts. 30 e 33 da Lei
8.038/90).
f) agravo em execução: 5 (cinco) dias (art. 197 da LEP e súmula 700 do STF).
g) correição parcial: 5 (cinco) dias (Lei 5.010/66).
h) embargos infringentes e de nulidade: 10 (dez) dias (art. 609).
i) recursos especial e extraordinário: 15(quinze) dias (art. 1003, § 5o, do CPC).
j) agravo contra decisão denegatória dos recursos especial ou extraordinário: 15 (quinze) dias
(art. 1003, §5o do CPC). Quanto à súmula 699 do STF, que previa o prazo de 5 (cinco) dias, com o
advento do CPC/2015, ficou superada, pois este diploma revogou expressamente o art. 28 da Lei
8038/90, no qual se baseava a aludida súmula.
k) agravo regimental, no âmbito dos Tribunais Superiores, da decisão do Presidente do
Tribunal, de Seção, de Turma ou de Relator que causar gravame à parte: 5 (cinco) dias (art. 39 da Lei
8038/90).
Convém recordar que o prazo para recorrer será em dobro para a Defensoria Pública da União,
dos Estados e do Distrito Federal (Lei Complementar 80/94). No JECRIM federal, porém, não há prazo
em dobro (art. 9o da Lei 10.259/01).
Quanto ao defensor dativo e Ministério Público, não têm prazo em dobro.
PREPARO
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jurisprudencial, pois somente nos últimos anos de sua vigência é que se firmou o entendimento
contrário à sua aplicação.
Atualmente, para recorrer, não há necessidade de se recolher à prisão, ainda que haja prisão
preventiva decretada, sendo certo que a fuga também não impede o processamento do recurso.
A regularidade procedimental consiste nas formalidades mínimas exigidas para todo recurso.
São as seguintes:
a) forma de interposição dos recursos contra os atos judiciais de primeiro grau: em regra,
petição escrita ou termo nos autos, sendo que as razões podem ser apresentadas depois. É o caso
do recurso em sentido estrito, apelação, carta testemunhável e agravo em execução.
Abre-se exceção à apelação do JECRIM e aos embargos de declaração, pois eles só podem ser
interpostos por petição escrita e as razões devem ser apresentadas no mesmo ato. Não se admite,
destarte, que sejam interpostos por termo nos autos.
Convém ainda lembrar que os embargos de declaração no JECRIM podem ser interpostos por
escrito ou oralmente, acompanhado das respectivas razões.
Em regra, porém, os recursos contra as decisões de primeiro grau podem ser interpostos por
petição ou termo nos autos.
A expressão “termo nos autos” abrange qualquer manifestação inequívoca dirigida e certificada
aos órgãos do Poder Judiciário. Exemplo: o réu, ao ser intimado da sentença condenatória, comunica
ao oficial de justiça o seu desejo de recorrer. Outro exemplo: o advogado do réu comparece ao
cartório e comunica ao escrivão a sua intenção de recorrer e pede que seja lavrado o respectivo
termo.
O STJ já admitiu a interposição oral da apelação pelo Ministério Público, na sessão de
julgamento do júri, pois o registro em ata desta intenção de recorrer equivale ao termo nos
autos. Outrossim, a apelação interposta por meio de cota nos autos, pois equivale a uma petição,
posto que no processo penal não se exige fórmula sacramental.
Entende a doutrina majoritária que, apesar de a lei exigir que a interposição se dê por petição
ou por termo nos autos, se a parte, de outra forma, demonstrar inequivocamente o seu
inconformismo com a decisão, nada obsta que o recurso seja recebido, em atenção ao princípio da
ampla defesa.
Convém também frisar que , em regra, os recursos interpostos contra atos judiciais de
primeiro grau, à exceção da apelação do JECRIM e dos embargos de declaração, serão julgados ainda
que destituídos das respectivas razões recursais, conforme preceitua o art. 601 do CPP, desde que o
Ministério Público ou o defensor, conforme se trate de recurso da acusação ou da defesa, sejam
intimados para apresentá-las, quedando-se inerte. É a posição do STF.
No STJ, porém, prevalece que o tribunal deve baixar os autos para que as razões sejam
oferecidas pelo Ministério Público ou pelo defensor do acusado, conforme a hipótese. Caso não
sejam apresentadas, se oficiará ao Procurador Geral do Ministério Público para ofertá-las e, no caso
de a omissão emanar do advogado do réu, será nomeado um defensor “ad hoc” para apresentá-las.
b) forma de interposição dos recursos contra os atos judiciais de segundo grau: petição escrita.
acompanhada das respectivas razões.
Estes recursos são os seguintes: embargos infringentes e de nulidade, embargos de
declaração, recurso ordinário constitucional, recurso extraordinário, recurso especial e agravo de
recurso especial ou extraordinário l.
Nestes casos, as razões do recurso devem, necessariamente, acompanhar a petição de
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dativo exerce um “munus público” e o defensor público tem, por força de lei, o dever de recorrer
quando visualizar alguma situação favorável ao réu.
Ora, desde que o réu seja intimado para anuir ou não à renúncia ou desistência, não vejo
qualquer problema nessa renúncia ou desistência.
Quanto ao advogado do querelante ou do assistente de acusação, só poderão desistir ou
renunciar ao recurso quando a procuração contiver poderes expressos para a desistência ou
renúncia.
A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido
reconhecida e daquele objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos
(parágrafo único do art.998 do CPC).
Efeito obstativo
Este efeito significa que somente através do recurso é que o tribunal pode reexaminar as
decisões prolatadas pelo órgão jurisdicional inferior.
O tribunal não pode, de ofício, avocar processos.
Efeito devolutivo
O efeito devolutivo é o que atribui ao órgão “ad quem “o reexame da decisão judicial
impugnada.
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Todo recurso, sem exceção, é dotado de efeito devolutivo, que tem dois aspectos:
a) efeito devolutivo horizontal ou na extensão;
b) efeito devolutivo vertical ou na profundidade.
O efeito devolutivo vertical ou na profundidade é o que autoriza o tribunal “ad quem” a analisar
não apenas os fundamentos que constam nas razões e contrarrazões recursais, mas também outros
argumentos relevantes suscitados e discutidos no processo, relacionados ao pedido recursal, mas
que não foram abordados no recurso.
Noutras palavras, o recurso, por força do efeito devolutivo horizontal, é limitado pela matéria
impugnada, pois só este pedido será apreciado pelo tribunal, além das questões favoráveis ao réu.
Todavia, para poder decidir o objeto do recurso, o tribunal, de ofício, pode, por força do efeito
devolutivo vertical, apreciar as questões suscitadas e discutidas no curso do processo, ainda que não
reiteradas no recurso, sendo-lhe ainda facultado converter o julgamento em diligência
para inquirição de testemunhas, novo interrogatório e produção de outras provas (art. 616 do CPP).
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Assim, ao julgar o recurso, o tribunal, antes de acolher o pedido do recorrente, pode analisar
todos os outros fundamentos relevantes suscitados, durante o processo, pela acusação e defesa,
ainda que não abordados nas razões e contrarrazões, para só então proferir o julgamento final.
O recurso é, entretanto, regido pelo princípio da dialeticidade, que atribui ao recorrente,
através das razões, o ônus de demonstrar o seu inconformismo com a decisão recorrida, de modo
que o tribunal, ao julgar o recurso, não tem o dever, mas mera faculdade, de analisar as teses
suscitadas durante o processo, que não foram reiteradas no recurso, podendo se limitar à análise do
que consta nas razões e contrarrazões recursais.
Efeito translativo
Efeito regressivo
Efeito suspensivo
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A apelação contra sentença condenatória, por exemplo, tem efeito suspensivo, por força do
princípio da presunção da inocência, de modo que antes mesmo da sua interposição a eficácia da
sentença já estará suspensa (art. 597 do CPP).
No processo penal alguns recursos têm efeito suspensivo e outros não.
A apelação de sentença absolutória, por exemplo, não tem efeito suspensivo, conforme art.
596 do CPP, de modo que o réu, caso se encontre preso preventivamente, deverá ser posto
imediatamente em liberdade.
Na esfera processual penal, porém, por força do princípio da presunção da inocência, todo
recurso interposto contra sentença condenatória é dotado de efeito suspensivo próprio, pois ele
obsta o início do cumprimento da pena.
Quanto aos recursos interpostos contra decisões interlocutórias, em regra, não têm efeito
suspensivo, salvo nos casos expressos em lei. No silêncio da lei, as decisões interlocutórias deverão
ser cumpridas imediatamente.
Este assunto será abordado na análise de cada recurso.
O efeito suspensivo classifica-se em:
a) próprio ou”ex lege”: é o que decorre automaticamente da lei e, portanto, independe de
decisão judicial. É o caso da apelação interposta contra sentença condenatória (art. 597 do
CPP).
b) impróprio ou “ope judicis”: é o determinado por decisão judicial, nos casos em que a lei não
prevê o efeito suspensivo próprio. Nesse caso, o efeito suspensivo poderá ser obtido
através de mandado de segurança ou habeas corpus, mediante demonstração de dois
requisitos: ilegalidade manifesta da decisão recorrida e risco de dano irreparável.
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Efeito substitutivo
Efeito anulatório
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material. Nesse caso, o provimento do recurso gerará substituição da decisão recorrida pela proferida
pelo órgão “ad quem”.
Efeito integrativo
O efeito integrativo é o que visa aclarar ou aperfeiçoar a decisão recorrida e não propriamente
substituí-la ou anulá-la.
Os embargos de declaração é o único recurso dotado de efeito integrativo.
Efeito dilatório-procedimental
De acordo com o art. 116, III, do CP, não corre prescrição na pendência de embargos de
declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis.
Não se trata de um efeito geral, mas específico de recursos interpostos aos Tribunais
Superiores, quando inadmissíveis.
A hipótese comporta duas interpretações, pois a redação do art. 116, III, do CP é dúbia.
Primeira, os embargos de declaração, que suspendem a prescrição, são somente os interpostos
nos Tribunais Superiores.
Segunda, quaisquer embargos de declaração suspendem a prescrição, ainda que interpostos
contra decisão, sentença ou acórdão.
Gramaticalmente, as duas interpretações são possíveis.
A meu ver, a primeira exegese é a mais correta, pois os embargos de declaração também são
recursos. Ademais, não há razão plausível para que a prescrição se suspenda pela interposição de
embargos de declaração em outros juízos e tribunais e não se suspenda com os demais recursos
declarados inadmissíveis. O que o texto legal quis expressar foi o seguinte: “não corre prescrição na
pendência de embargos de declaração ou de quaisquer outros recursos aos Tribunais Superiores,
quando inadmissíveis. Convém ainda salientar que a lei fez expressa menção aos embargos de
declaração para se precaver da corrente doutrinária que não os considera recurso.
De qualquer maneira, trata-se de uma dúvida gramaticalmente insolúvel, razão pela qual deve
ser aplicado excepcionalmente, em matéria de hermenêutica, o princípio “in dubio pro reo”, de modo
que a prescrição só não correrá em relação aos embargos de declaração declarados inadmissíveis,
que foram dirigidos aos Tribunais Superiores, pois a suspensão da prescrição é prejudicial ao réu, mas
o assunto certamente ensejará polêmica.
A prescrição permanecerá suspensa no período entre a interposição dos embargos de
declaração e a publicação da decisão de inadmissibilidade.
Conquanto a lei não faça distinção entre os embargos de declaração interpostos pela acusação
ou pela defesa, o seu objetivo foi evitar a interposição de recursos meramente protelatórios,
inerentes à defesa, e, por isso, a meu ver, a prescrição não se suspenderá nos embargos de
declaração oriundos do órgão acusatório, mas este tema ensejará polêmica, pois é também possível
argumentar que onde a lei não distingue ao intérprete não é lícito distinguir.
É, porém, necessário, para que se obste a fluência da prescrição, que os embargos de
declaração não sejam admitidos.
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Cumpre não confundir a inadmissibilidade com o não provimento dos embargos de declaração.
A não admissibilidade é o não preenchimento dos pressupostos de admissibilidade do recurso.
Exemplo: os embargos de declaração não descrevem os vícios da decisão embargada.
O não provimento é a sua rejeição, no mérito, após o recurso ter sido admitido. Exemplo: os
embargos de declaração descrevem o vício da omissão e, por isso, são conhecidos, mas o órgão
julgador, ao analisar o mérito, conclui que não houve a omissão alegada e, diante disso, nega
provimento ao recurso.
A prescrição não corre quando os embargos de declaração não são admitidos, mas, uma vez
admitidos, ainda que não providos, a prescrição fluirá. De fato, a suspensão da prescrição é
prejudicial ao acusado, sendo vedada a analogia “in malam partem”.
Igualmente, não corre a prescrição na pendência de recursos aos Tribunais Superiores, quando
inadmissíveis.
Há, pois, duas situações:
a) o recurso não é admitido, pois não preenche os requisitos admissibilidade. Neste caso, a
prescrição permanecerá suspensa entre a data do protocolo do recurso e a publicação da decisão
monocrática ou acórdão que o julgou inadmissível.
b) o recurso é admitido, mas, no mérito, o Tribunal Superior lhe nega provimento. Neste caso,
a prescrição não será tida como suspensa, fluindo normalmente.
Os Tribunais Superiores são: STJ, STM, TSE e TST. Este último, porém, não tem competência
penal.
Convém ressaltar que o STF não é tratado pela Constituição Federal como sendo um Tribunal
Superior, mas, sim, como um Tribunal Supremo, que está acima de todos os demais.
Diante disso, força convir que, na pendência de recurso extraordinário ao STF a prescrição fluirá
normalmente, pois é vedada a analogia “in malam partem”. Outra exegese, porém, também deverá
considerar o STF como sendo um Tribunal Superior, com base na interpretação extensiva.
Por fim, quanto aos recursos interpostos perante os Tribunais de Justiça, Tribunais Regionais
Federais e Tribunais Regionais Eleitorais, ainda que não conhecidos, não suspenderão o curso da
prescrição.
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interpostos pela forma adesiva, são eles: recurso especial e recurso extraordinário.
III) Quanto à fundamentação ou causa de pedir recursal:
a) recurso de fundamentação vinculada ou tematicamente afetada: ocorre quando a
Constituição Federal ou a lei prevê o rol das matérias passíveis de impugnação. São eles:
embargos de declaração, recurso extraordinário, recurso especial e apelação interposta
contra sentença do júri. Estes recursos são regidos pelo princípio da asserção ou afirmação,
pois o recorrente, sob pena de o recurso não ser conhecido, deve demonstrar os
fundamentos constitucionais ou legais que justificam a sua impugnação.
b) recurso de fundamentação livre: ocorre quando a lei não limita as matérias do recurso,
podendo basear-se em qualquer fundamento fático e jurídico que seja útil ao recorrente.
São todos os demais recursos. Na verdade, todo recurso sofre duas limitações: proibição de
se alegar matérias preclusas e matérias que não interessam à demanda.
Quanto aos embargos de declaração, podem assumir o perfil de recurso excepcional ou recurso
ordinário, pois têm a mesma função do recurso a que estão ligados. Exemplo: embargos de
declaração de recurso especial é um recurso excepcional, mas os embargos de declaração do acórdão
da apelação é um recurso ordinário.
V- Quanto à obrigatoriedade:
a) recurso voluntário: é o interposto pelo sucumbente.
b) recurso de ofício: é o interposto pela lei nas hipóteses de remessa necessária ou duplo grau
obrigatório. A rigor, não se trata de recurso, mas de uma condição de eficácia da decisão
judicial.
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Conceito
O recurso em sentido estrito é o meio de impugnação das decisões prolatadas por juiz de
primeira instância, previstas no art. 581 do CPP e em hipóteses especificadas na legislação
extravagante.
Convém desde já esclarecer que inúmeros incisos do art. 581 foram revogados pela Lei
7.210/84 (Lei de Execução Penal), que passou a prever, para as decisões prolatadas após o trânsito
em julgado da condenação ou da absolvição imprópria, o recurso de agravo em execução.
Algumas hipóteses de não cabimento do recurso em sentido estrito
O recurso em sentido estrito não é cabível nas seguintes hipóteses:
a) contra despachos. Os despachos são irrecorríveis, salvo se tumultuarem o andamento do
processo, quando, então, poderão ser impugnados através da correição parcial.
b) contra sentenças condenatórias ou absolutórias. Nesse caso, o recurso cabível é a apelação.
c) contra decisões de segunda instância, prolatadas pelo relator ou por órgão colegiado do
tribunal. Se prolatada pelo relator, o recurso cabível será o agravo regimental ou interno. Quando
prolatada pelo órgão colegiado do tribunal, os recursos possíveis serão: embargos infringentes,
recurso especial e recurso extraordinário, conforme a hipótese.
c) contra decisões de primeira instância não mencionadas no rol do art. 581 do CPP.
d) contra as decisões mencionadas no art. 581 do CPP, que tenham sido prolatadas na sentença,
pois, nesse caso, será cabível o recurso de apelação, por força do princípio da consunção ou absorção.
A propósito, dispõe o art. 593, § 4o, do CPP: “Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o
recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra”.
Rol taxativo
Uma primeira corrente sustenta que o rol do art. 581 do CPP é taxativo e, por isso, não
comporta a analogia nem a interpretação extensiva.
Uma segunda, assevera que o rol é taxativo, mas admite o emprego da interpretação
extensiva, vedando-se a analogia. É a posição dominante.
Uma terceira admite tanto a analogia, nos casos de omissão involuntária do legislador, quanto
da interpretação extensiva. Se, porém, a omissão houver sido voluntária, por exemplo, decisão que
decreta a prisão preventiva, não será possível o recurso em sentido estrito.
É pacífico a incidência da interpretação extensiva, pois, nesse caso, o fato encontra-se previsto
implicitamente na lei. É, por exemplo, cabível o recurso em sentido estrito contra a decisão que
rejeita o aditamento da denúncia, pois o aditamento equivale a uma nova denúncia, sendo aplicável
o art. 581, I, do CPP.
Quanto ao emprego da analogia, malgrado a polêmica, prevalece a vedação.
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O recurso em sentido estrito, além de previsto para as situações do art. 581 do CPP, também é
cabível nas seguintes hipóteses:
a) decisão judicial que decretar, como medida cautelar, a suspensão da permissão ou
habilitação para dirigir veículos ou a proibição de sua obtenção, outrossim, contra a decisão judicial
que indeferir o requerimento do Ministério Público para que estas medidas sejam aplicadas
(art. 294, parágrafo único, do Código de Trânsito Brasileiro).
b) decisão judicial que arquivar o inquérito policial pelas contravenções de jogo do bicho ou
corrida de cavalo fora do hipódromo (art. 6º, parágrafo único, da Lei 1.508/51).
c) decisão concessiva ou denegatória de prisão preventiva ou que determinar o afastamento
do cargo, nos crimes funcionais, praticados por vereadores (art. 2º, III, do Decreto-lei 201/67). Este
recurso tem efeito suspensivo e o prazo para a sua interposição também é de 5 (cinco) dias.
Estas hipóteses não são mais aplicáveis ao prefeito, pois, nesse caso, o processo tramita no tribunal,
sendo a eventual decisão monocrática do relator impugnável através do recurso de agravo
regimental. Cessado o mandato, porém, o processo retorna à primeira instância, podendo então o
referido procedimento ser aplicado ao ex-prefeito.
De acordo com o art. 581 do CPP caberá o recurso em sentido estrito contra as seguintes
decisões:
I - que não receber a denúncia ou a queixa.
Em primeiro lugar, é preciso saber se existe diferença entre o não recebimento e a rejeição da
denúncia ou queixa.
Uma primeira corrente sustenta que as expressões são sinônimas.
Uma segunda preconiza que o não recebimento da peça acusatória equivale ao seu
indeferimento por vícios formais: inépcia, falta de pressupostos processuais, falta de condições da
ação ou falta de justa causa (art. 395 do CPP), ao passo que a rejeição seria o indeferimento baseado
na análise do mérito.
Dentre os que aceitam esta distinção, há igualmente duas correntes.
Primeira, em ambas as hipóteses, ou seja, não recebimento ou rejeição, será cabível o recurso
em sentido estrito (súmula 60 do TRF da 5ª Região).
Segunda, contra o não recebimento será cabível o recurso em sentido estrito e contra a rejeição
a apelação (TRF do Rio Grande do Sul).
É, porém, pacífico nos demais tribunais que não há distinção entre o não recebimento e a
rejeição da peça acusatória, expressões que se equivalem.
Conforme já dito anteriormente, será também cabível o recurso contra a rejeição do
aditamento da denúncia ou queixa.
Outrossim, quando houver o recebimento da denúncia ou queixa, mas com alteração da
capitulação jurídica original, pois equivale à sua rejeição. Esta assertiva, entretanto, é polêmica. A
propósito, ensinam Fábio Roque Araújo e Klaus Negri Costa: “É interessante o caso em que o julgador
recebe a denúncia ou queixa por infração diversa daquela mencionada na inicial acusatória. Duas
situações podem ocorrer: a) se o juiz recebe a denúncia por crime diverso, afastando parte da
acusação, será cabível o RESE em relação a esta parte excluída. Ex.: se a denúncia traz um roubo
circunstanciado, mas o juiz recebe a inicial apenas por roubo simples, será cabível RESE em relação à
causa de aumento afastada; b) se o juiz recebe a acusação, apenas realizando capitulação diversa,
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não haverá razão para se interpor RESE. Ex.: se a denúncia narra um furto, mas o juiz a recebe como
apropriação indébita, não haverá cabimento de recurso. No caso, entende-se que houve o pleno e
total exercício da acusação, sendo que eventual discussão quanto à capitulação do crime deve se dar
no desenrolar do processo (...)” (Processo Penal Didático. JusPODIVM. 2019. P. 1254).
O acusado deverá ser intimado para constituir advogado para apresentar as contrarrazões e,
somente se não o fizer, é que o juiz lhe nomeará um defensor dativo.
Sobre o assunto, reza a súmula 707 do STF:
“Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-razões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”.
Provido o recurso, a denúncia ou queixa será recebida no próprio acórdão, salvo quando a
decisão de primeiro grau contiver alguma nulidade, pois, nesse caso, o provimento será para que o
juiz de primeiro grau decida novamente pela rejeição ou recebimento da peça acusatória.
De fato, reza a súmula 709 do STF:
“Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição
da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela”.
No JECRIM, o recurso cabível contra a rejeição da peça acusatória será a apelação (art. 82 da
Lei 9.099/95).
Nos processos de competência originária dos tribunais, se houver a rejeição da denúncia ou
queixa, por decisão monocrática, o recurso cabível será o agravo regimental ou interno (art. 39 da
Lei 8.038/90).
Por fim, na hipótese de recebimento da denúncia ou queixa não é cabível nenhum recurso,
mas, em havendo uma manifesta ilegalidade, por exemplo, fato atípico, será possível a impetração
do “habeas corpus” , mas, quando o fato for apenado somente com multa, não será possível o habeas
corpus, mas, sim, o mandado de segurança.
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de suspeição do magistrado.
Se, porém, forem julgadas improcedentes pelo juízo de primeiro grau, não caberá recurso, mas
nada obsta a impetração de “habeas corpus “ou que a matéria seja ventilada posteriormente, após
a sentença, em preliminar de eventual apelação.
Quanto à exceção de suspeição, quando acolhida pelo próprio magistrado suspeito, é
irrecorrível, pois não há sequer interesse em recorrer. Se o magistrado não se considerar suspeito,
o julgamento será feito pelo tribunal e, caso seja procedente ou improcedente, caberá recurso
especial ou recurso extraordinário.
No concernente à suspeição do membro do Ministério Público de primeiro grau, será julgada
pelo juiz de primeiro grau (art. 104 do CPP). Em caso de procedência, não caberá o recurso em sentido
estrito, pois é vedada a analogia, mas será possível a impetração de mandado de segurança.
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de
prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante.
O inciso V prevê o recurso em sentido estrito contra as decisões judiciais que:
a) conceder fiança. Quanto à fiança concedida pela autoridade policial, é irrecorrível, mas o
Ministério Público, quando incabível a fiança, poderá pedir a sua cassação ao juiz;
b) negar fiança. Trata-se do indeferimento do pedido de liberdade provisória com fiança;
c) arbitrar fiança. O arbitramento é a fixação do valor da fiança, que deverá seguir os
parâmetros legais;
d) cassar fiança. A cassação é o cancelamento da fiança, em face do seu não cabimento.
e) julgar inidônea a fiança. Fiança inidônea é a aquela cujo valor não houver sido reforçada pelo
afiançado;
f) indeferir requerimento de prisão preventiva. Por interpretação extensiva, também é cabível
o recurso em sentido estrito contra a decisão que indeferir requerimento de prisão temporária ou
medida cautelar pessoal diversa da prisão. Outrossim, contra a decisão judicial que indeferir a
representação da autoridade policial para que estas medidas sejam decretadas. Em relação à decisão
que decreta a prisão preventiva ou medida cautelar pessoal ou que indefere o pedido de revogação
ou substituição de medida cautelar pessoal, não é cabível recurso, mas, sim, “habeas corpus”. Se,
porém, esta decisão ocorrer na pronúncia, será cabível o recurso em sentido estrito, e, na sentença
condenatória, o recurso de apelação;
g) revogar prisão preventiva. Por interpretação extensiva, também é cabível o recurso em
sentido estrito contra a decisão que revogar prisão temporária ou então revogar ou substituir medida
cautelar pessoal.
h) conceder liberdade provisória. Se negar a liberdade provisória, não cabe recurso, mas sim
habeas corpus.
i) relaxar a prisão em flagrante. Se for indeferido o pedido de relaxamento da prisão em
flagrante, não caberá recurso em sentido estrito, mas habeas corpus.
Com o intuito de facilitar a memorização, cumpre salientar que caberá o recurso em sentido
estrito contra as decisões que indeferirem os pedidos de prisão ou que ordenarem a soltura do réu e
“habeas corpus” contra as decisões judiciais que decretarem ou mantiverem a prisão preventiva ou
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temporária.
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presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva (art. 426, § 1o).
A alteração se dá mediante inclusão ou exclusão de jurados.
Contra a decisão que altera a lista de jurados, o art. 581, XIV, prevê o recurso em sentido
estrito, no prazo de 20 (vinte) dias, a contar da publicação da lista definitiva de jurados.
Trata-se de uma hipótese de recurso em sentido estrito interposto contra decisão
administrativa do juiz. De fato, a inclusão ou exclusão de jurados não se verifica num processo
judicial, mas, sim, num procedimento administrativo presidido pelo juiz presidente do tribunal do
júri.
Este recurso, que será julgado monocraticamente pelo presidente do tribunal de justiça ou do
tribunal regional federal, poderá ser interposto pelo Ministério Público, por advogados, pelo jurado
excluído ou incluído e por qualquer do povo, representado por advogado.
Outra corrente, entretanto, sustenta que não é mais cabível o recurso em sentido estrito, posto
que o art. 426, § 1o, do CPP, introduzido pela Lei 11.689/08, prevê a reclamação de qualquer do
povo, operando-se a revogação tácita do art. 581, XIV.
A meu ver, não houve revogação, pois a reclamação é cabível para impugnar a lista provisória
de jurados, que é publicada até o dia 10 de outubro de cada ano, ao passo que o recurso em sentido
estrito é o meio de impugnação da lista definitiva, que é publicada até o dia 10 de novembro de cada
ano.
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta.
Denegar a apelação significa não recebê-la, em razão da falta de pressupostos de
admissibilidade. Exemplo: intempestividade.
Assim, contra a decisão do juiz de primeiro grau que não admitir a apelação será cabível o
recurso em sentido estrito.
O inciso em análise também acrescenta que será cabível o recurso em sentido estrito quando
a apelação for julgada deserta.
Deserção é o não conhecimento do recurso por falta da realização do preparo, ou seja,
pagamento das custas recursais.
Na seara processual penal, os recursos não exigem preparo, salvo a apelação interposta pelo
querelante na ação penal exclusivamente privada. Nas demais situações, os recursos são gratuitos.
Outra hipótese de deserção era prevista no art. 595 do CPP, revogado pela lei 12.403/2011,
que julgava a apelação deserta quando o réu, reincidente ou portador de maus antecedentes, não se
recolhia à prisão ou empreendia fuga durante o recurso.
VI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial.
A hipótese versa sobre a questão prejudicial heterogênea, ou seja, que é objeto de outro
processo.
Nesse caso, quer a questão prejudicial verse ou não sobre o estado civil da pessoa, caberá o
recurso em sentido estrito contra a decisão que ordenar a suspensão do processo.
Em contrapartida, é irrecorrível a decisão que rejeitar o pedido de suspensão do processo, mas
será possível a impetração de “habeas corpus” ou mandado de segurança, conforme a pena prevista
seja ou não privativa de liberdade, sem prejuízo de o pedido ser reiterado, após a sentença, em
preliminar de apelação.
Acrescente-se ainda que o STJ tem admitido o recurso em sentido estrito, por interpretação
extensiva, contra a decisão que suspende o processo pelo fato de o réu, citado por edital, não
comparecer nem constituir defensor (art. 366 do CPP). Nesse caso, suspenso o processo, se houver
o indeferimento da produção de provas urgentes, será também cabível o recurso em sentido estrito
(Informativo 640 do STJ). Argumenta-se que como é cabível o manejo de recurso em sentido estrito
contra decisão que ordenar a suspensão do processo, as providências de natureza cautelar advindas
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de tal decisão devem, como ela, ser impugnáveis pelo mesmo recurso. A meu ver, a melhor medida
para o indeferimento da produção antecipada de provas seria o mandado de segurança.
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a
revogação.
Este inciso foi tacitamente revogado pela Lei de Execução Penal, que prevê contra a decisão
que indefere o pedido de revogação da medida de segurança o recurso de agravo em execução.
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XXV - que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A
desta Lei. O acordo de não persecução penal é o instituto pelo qual o Ministério Público se abstém de
oferecer a denúncia na hipótese de o autor da infração penal confessar a autoria e ainda aceitar
determinadas condições não privativas da liberdade. Este acordo, que deve ser homologado pelo juiz,
só é possível nas infrações penais cometidas sem violência ou grave ameaça à pessoa, cuja pena
mínima seja inferior a 4 (quatro) anos, desde ainda que não seja cabível a transação penal da lei
9.099/95. O reincidente não pode usufruir deste benefício.
O recurso em sentido estrito deve ser interposto no prazo de 5 (cinco) dias (art. 586 do CPP).
Abre-se exceção ao art. 581, XIV, que cuida da decisão que inclui ou exclui jurado da lista
geral, cujo prazo será de vinte dias, contado da data da publicação definitiva da lista de jurados
(parágrafo único do art. 586 do CPP).
Outra exceção, conforme já visto anteriormente, é o recurso em sentido estrito interposto pela
vítima não habilitada previamente como assistente de acusação, que é cabível contra a decisão que
extinguir a punibilidade, cujo prazo é de 15 (quinze) dias, a contar do trânsito em julgado para o
Ministério Público.
Convém também recordar que a Defensoria Pública, apenas ela, em todos os recursos, tem
prazo em dobro.
Forma de interposição
O recurso em sentido estrito pode ser interposto por petição ou termo nos autos.
Juízo de admissibilidade
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Razões e contrarrazões
Formado o instrumento pelo escrivão, será aberta vista ao recorrente para apresentar as
razões.
O prazo para as razões é de dois dias, contado da intimação específica do recorrente para a
apresentação dessa peça processual.
O art. 588 do CPP, que prevê a oferta das razões, a contar da interposição do
recurso, independentemente de intimação, não é aplicado pela jurisprudência, pois, após a
interposição, haverá a admissibilidade ou não do recurso, sendo certo que somente após
admissibilidade do recurso e a formação do instrumento é que o recorrente será intimado para
apresentar as razões recursais.
Quanto ao prazo para as contrarrazões, também é de dois dias, contado da intimação específica
para este ato. Se o recorrido for o réu, será intimado para apresentar as contrarrazões na pessoa do
seu defensor.
Nas contrarrazões, o recorrido também poderá indicar as peças que comporão o instrumento.
As razões e contrarrazões devem ser apresentados em primeiro grau, pois o juiz ainda poderá
se retratar. Na apelação, ao revés, elas podem ser apresentadas diretamente no tribunal.
Juízo de retratação
Com as contrarrazões do recorrido ou sem elas, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de
2 (dois) dias, reformará ou sustentará a sua decisão, mandando instruir o recurso com os traslados
das peças que Ihe parecerem necessários, além das peças já indicadas pelas partes.
É facultado ao juiz exercer o juízo de retratação. Trata-se do efeito regressivo ou diferido.
Em não havendo retratação, o recurso subirá para ser julgado pelas câmaras dos Tribunais de
Justiça ou turmas dos Tribunais Regionais Federais.
Se, porém, o juiz reformar a decisão recorrida, a parte contrária, por simples petição, poderá
pedir a remessa do recurso ao tribunal, se couber recurso em sentido estrito, não sendo mais lícito
ao juiz modificá-la, sendo que as contrarrazões servirão como razões e estas como contrarrazões.
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Neste caso, independentemente de novas razões recursais, subirá o recurso nos próprios autos
ou em traslado (art. 589, parágrafo único, do CPP).
Assim, em caso de retratação, a parte contrária, poderá, por simples petição, desde que
também caiba da nova decisão o recurso em sentido estrito, pedir a remessa do próprio recurso ao
tribunal, em vez de intentar novo recurso, mas não se admitirá um novo juízo de retratação nem
novas razões e contrarrazões.
Em suma, em havendo retratação, não será necessário um novo recurso, mas uma simples
petição solicitando o envio do próprio recurso ao tribunal.
Se, porém, contra a decisão de retratação, não couber recurso em sentido estrito, é preciso
averiguar se seria cabível algum outro recurso. Não sendo também cabível, será possível a
impetração de habeas corpus ou então alegar a matéria em preliminar de uma futura apelação.
Efeito suspensivo
Em regra, o recurso em sentido estrito não tem efeito suspensivo, salvo quando interposto
contra as seguintes decisões:
a) que julgar quebrada a fiança. O recurso suspenderá unicamente o efeito de perda da metade
do seu valor. Se a decisão houver decretado prisão preventiva ou medidas cautelares pessoais, o
recurso não suspenderá esses atos.
b) que denegar a apelação ou julgá-la deserta. A apelação de sentença condenatória ou
absolutória imprópria, por força do princípio da presunção da inocência, tem efeito suspensivo. Por
consequência, o recurso em sentido estrito também é dotado de efeito suspensivo, quando
interposto contra a decisão que denegar seguimento à referida apelação ou julgá-la deserta,
obstando-se, destarte, o cumprimento da sentença.
c) que pronunciar o réu. Aqui, o recurso tem efeito suspensivo para impedir o início da fase de
preparação do júri, pois esta somente se inicia após a preclusão da pronúncia. O § 2o do art. 584 do
CPP, que prevê que o recurso da pronúncia suspenderá tão-somente o julgamento pelo júri,
encontra-se tacitamente revogado pela reforma de 2008, que instituiu a fase de preparação do
julgamento após preclusa a pronúncia (art. 421 do CPP). O recurso em sentido estrito, porém, não
impedirá o cumprimento do eventual mandado de prisão preventiva ordenado pela pronúncia.
Quanto ao art. 585 do CPP, que estatui que o réu não poderá recorrer da pronúncia senão depois de
preso, foi também revogado tacitamente pela reforma processual de 2008.
Competência
O CPP atribui a competência aos tribunais de apelação, mas esta terminologia não é mais
utilizada.
Assim, a competência para o julgamento do recurso em sentido estrito é das Câmaras do
Tribunal de Justiça ou das Turmas dos Tribunais Regionais Federais.
Abre-se exceção ao interposto contra a decisão que inclui ou exclui jurado da lista geral, pois,
nesse caso, o julgamento será feito monocraticamente pelo presidente do respectivo tribunal.
Apelação
Conceito
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Hipóteses de cabimento
Fundamentação
A apelação contra a sentença do juiz singular é de forma livre, pois o apelante, para defender
o seu ponto de vista, poderá alegar qualquer matéria de fato ou de direito. Não há, pois, limitação
de matéria.
Por juiz singular entende-se todo e qualquer magistrado de primeiro grau, exceto os que atuam
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no júri.
Em contrapartida, a apelação das sentenças do júri é de forma vinculada, conforme será visto
logo em seguida.
Em relação à sentença do júri, a apelação, nos termos do art. 593, III, do CPP, é cabível quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança; d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos
autos.
Vê-se assim que, no júri, a apelação é um recurso de forma vinculada, pois o apelante deve
especificar a alínea do art. 593, III, do CPP, em que se fundamenta, sendo vedado ao tribunal apreciar
outro fundamento não invocado pelo recorrente.
A propósito, dispõe a súmula 713 do STF:
“O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos de sua
interposição”.
Por consequência, se apelação versar apenas sobre a alínea “a”, o tribunal não poderá analisar
as demais alíneas e vice-versa.
Numa apelação, por exemplo, com base na alínea “d”, o tribunal, de acordo a súmula acima,
não poderá de ofício corrigir a erronia ou injustiça da aplicação da pena, que é objeto da alínea “c”.
Não obsta, porém, que o apelante invoque mais de uma alínea ou até todas elas.
A alínea do art. 593, III, do CPP deve ser especificada na interposição de recurso, sendo que,
por ocasião do oferecimento das razões, não poderá o recorrente, diante da preclusão consumativa,
invocar alínea diversa.
Se, no entanto, a petição de interposição houver sido omissa acerca da alínea do art. 593, III,
do CPP, não haverá nulidade, mas mera irregularidade, defendo a vinculação, mediante indicação da
alínea, segundo o STJ, ser feita por ocasião da apresentação das razões.
Feitas estas considerações, passo à análise das alíneas do art. 593, III, do CPP.
Apelação com fundamento em nulidade posterior à pronúncia (art. 593, III, “a”, do CPP)
A apelação, que visa anular a sentença do tribunal do júri, pode invocar as nulidades:
a) absolutas ou relativas posteriores à pronúncia, desde que estas últimas não estejam
preclusão. Assim, no que tange às nulidades relativas ocorridas em plenário do júri, devem ser
arguidas imediatamente, sob pena de preclusão; arguidas e rejeitadas pelo juiz presidente, poderão
ser reiteradas em eventual recurso de apelação.
b) absolutas anteriores à pronúncia. Quanto às nulidades relativas anteriores à pronúncia, que
não foram arguidas em recurso em sentido estrito, sujeitam-se à preclusão. No concernente às
nulidades absolutas, ainda que anteriores à pronúncia ou constantes na própria pronúncia, não
precluem e, por isso, podem ser alegadas em apelação à sentença do júri, salvo quando já haviam
sido rechaçadas em eventual recurso em sentido estrito interposto contra a decisão de pronúncia,
pois, nesse caso, impõe-se o respeito à coisa julgada.
Provida a apelação, com fundamento na alínea “a” do inciso III do art. 593 do CPP a sentença
será anulada e outro júri designado, com novos jurados, mas nada obsta que o juiz presidente seja o
mesmo.
Cumpre destacar que não há limite ao número de vezes em que se pode anular o júri, com
fundamento na nulidade.
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Apelação pelo fato de a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou à decisão
dos jurados (art. 593, III, “b”)
A apelação, com fundamento no art. 593, III, “b”, pode versar sobre duas situações:
a) a sentença do juiz-presidente contrária a lei. Exemplo: imposição de regime fechado no
crime de infanticídio, cuja pena é de detenção. Outro exemplo: fixação da pena abaixo do mínimo
legal em função de atenuantes genéricas. Mais um exemplo: imposição de medida de segurança sem
fixar o prazo mínimo de sua duração.
b) a sentença do juiz-presidente contraria a decisão dos jurados. Exemplo: afasta qualificadora
reconhecida pelo júri.
Nas duas hipóteses acima, o tribunal, ao julgar a apelação, deverá retificar o equívoco, em vez
de anular o julgamento.
A propósito, dispõe o §1o do art. 593 do CPP:
“Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos
jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação”.
Apelação quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança (art. 593, III, “c”)
Esta alínea “c” cuida de duas situações:
a) erronia na aplicação da pena ou medida de segurança. Trata-se da decisão do juiz presidente,
que se equivoca no tocante à aplicação da pena ou medida de segurança. Exemplo: o juiz faz o cálculo
matemático errado da pena.
b) injustiça na aplicação da pena ou medida de segurança. Aqui é a falta de bom senso em
relação à aplicação da pena ou medida de segurança. Exemplo: o juiz presidente aumenta
exageradamente a pena em dois terços pelo fato de o réu ser reincidente. Outro exemplo: fixação da
pena em quantidade excessiva ou muito branda.
Em ambas as situações, o tribunal, ao dar provimento ao recurso, não anulará o julgamento,
mas, sim, fará a correção do erro ou injustiça, sem que seja ofendida a soberania do júri, porquanto
a questão da aplicação da pena ou medida de segurança é atribuição do juiz presidente.
Note-se que na alínea “b”, a questão é de ilegalidade, ao passo que na alínea “c”, em análise, é
de erronia ou injustiça.
Cumpre lembrar, porém, que a a inclusão ou exclusão de causas de diminuição de pena,
qualificadoras e causas de aumento de pena é assunto que deverá ser decidido pelos jurados,
delegando-se ao juiz presidente apenas a dosagem do aumento ou diminuição da pena, por
consequência, o tribunal, ao julgar o recurso, não poderá mandar incluir ou excluir estas
circunstâncias, sob pena de ofensa ao princípio da soberania do júri.
O tribunal, no julgamento da apelação, de acordo com Renato Brasileiro, poderá, de
ofício, tomar as seguintes providências:
a) incluir atenuantes genéricas e circunstâncias judiciais do art. 59 do CP favoráveis ao réu;
b) excluir agravantes genéricas e circunstâncias judiciais do art. 59 do CP desfavoráveis ao réu;
c) reduzir o aumento aplicado pelo juiz presidente pela causa de aumento ou qualificadora,
outrossim, ampliar a redução da pena imposta pelo juiz presidente em razão da causa de diminuição
de pena.
Este ponto de vista, entretanto, viola a súmula 713 do STF, que veda ao tribunal a apreciação
de ofício de fundamentos não arguidos no recurso.
Quanto às nulidades absolutas favoráveis ao réu, penso que o tribunal deve de ofício
reconhecê-las no julgamento da apelação. Imagine, por exemplo, um júri composto por apenas seis
jurados.
O caminho para corrigir de ofício as ilegalidades ocorridas na aplicação da pena e a decretação
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das nulidades absolutas favoráveis ao réu é a concessão do habeas corpus de ofício, pois, nesse caso,
não haverá ofensa à súmula 713, pois esta proíbe apenas que se aprecie fundamentos diversos no
recurso de apelação.
Apelação quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos (art.
593, III,”d”)
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Ademais, não há qualquer ofensa à soberania do júri, pois a sentença será anulada e outro júri
designado, de modo que a decisão da causa permanecerá afeta ao tribunal do júri.
A parte final deste §3o do art. 593, com vistas a garantir a segurança jurídica, estabelece que,
com base nesta alínea “d”, o júri só poderá ser anulado uma vez.
Por consequência, se, no segundo júri, a decisão for de novo manifestamente contrária à prova
dos autos, não há falar-se em nulidade, pouco importa quem havia recorrido por ocasião do primeiro
julgamento.
Se, por exemplo, no primeiro júri, o réu houver sido absolvido e o Ministério Publico apelado,
com base na alínea “d”, provocando a nulidade do julgamento, no segundo júri, quer o réu seja
absolvido ou condenado, não será admitido o recurso da acusação ou da defesa, com base na referida
alínea “d”. Nada obsta, porém, que se ajuíze revisão criminal, após o trânsito em julgado da
condenação.
A expressão “pelo mesmo motivo”, constante no §3o, em análise, refere-se exclusivamente à
alínea “d” do art. 593. III, mas nada obsta que o segundo júri ou até mesmo um terceiro, quarto, etc.,
seja anulado por motivo de nulidade, com base no art. 593, III, “a”, do CPP.
É dominante a corrente que, com base na alínea “d”, o júri só pode ser anulado uma vez, quer
a anulação seja oriunda de recurso da acusação ou da defesa. Outra corrente minoritária, ao revés,
assevera que pode ser anulado uma vez em função do recurso da acusação e uma vez em razão do
recurso da defesa.
Acrescente-se ainda que, anulado o júri, o réu não poderá apresentar novo rol de testemunhas,
pois o momento para a apresentação deste rol é na fase de preparação do julgamento, anterior ao
júri, que encontra-se acobertada pela preclusão.
Vê-se assim que o conjunto probatório do novo júri, a menos que o réu ou as testemunhas
inquiridas anteriormente alterem suas versões, será exatamente o mesmo.
Classificação da apelação
A apelação classifica-se em:
a) apelação principal: é a interposta pelo Ministério Público.
b) apelação subsidiária ou supletiva: é a interposta pela vítima, habilitada ou não como
assistente de acusação. Esta apelação só é possível quando o Ministério Público não houver apelado
(art. 598 do CPP). A apelação também recebe o nome de subsidiária ou supletiva quando interposta
contra decisões definitivas ou com força de definitivas, pois, nessas hipóteses, só será cabível a
apelação se não houver a previsão do recurso em sentido estrito.
c) apelação adesiva ou incidental: é a interposta pela parte que não havia recorrido, dentro do
prazo das contrarrazões da apelação interposta pela outra parte. Não existe na área processual penal.
É possível apenas no processo civil, nos casos de sucumbência recíproca.
d) apelação sumária: é a prevista para os crimes de detenção, cujo procedimento, no âmbito
do tribunal, é mais célere. Com efeito, os autos, quando chegam ao tribunal, irão imediatamente
com vista ao Ministério Público de segundo grau, pelo prazo de cinco dias, e, em seguida, passarão,
por igual prazo, ao relator, que pedirá designação de dia para o julgamento, sendo que o tempo de
debates será de dez minutos (art. 610 do CPP).
De acordo com Renato Brasileiro, por uma questão de coerência, com a reforma processual de
2008, o procedimento da apelação sumária seria aplicada aos crimes que observam o procedimento
comum sumário (crimes cuja pena máxima seja superior a dois e inferior a quatro anos de reclusão
ou detenção).
e) apelação ordinária: é a prevista para os crimes de reclusão, cujo procedimento, no âmbito
do tribunal, é mais lento. Com efeito, os autos, quando chegam ao tribunal, irão imediatamente com
vista ao Ministério Público de segundo grau, pelo prazo de dez dias, e, em seguida, passarão, por
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igual prazo, ao relator. O relator, após preparar o voto, encaminhará os autos ao revisor, que terá
igual prazo para o exame do processo e pedirá designação de dia para o julgamento, sendo que o
tempo de debates será de quinze minutos (art. 613 do CPP).
De acordo com Renato Brasileiro, por uma questão de coerência, com a reforma processual de
2008, o procedimento da apelação ordinária seria aplicada aos crimes que observam o procedimento
comum ordinário (crimes cuja pena máxima seja superior a quatro anos de reclusão ou detenção).
Prazo
Forma
A apelação é interposta por petição ou termos nos autos, dirigida ao juízo de primeiro grau,
acompanhada ou não das razões.
No JECRIM, só pode ser interposta por petição, pois deve vir acompanhada das razões.
A apelação subirá nos autos originais.
Nos processos físicos, salvo no Distrito Federal e nas comarcas que forem sede de Tribunal,
ficará em cartório traslado dos termos essenciais do processo (art. 603 do CPP).
Na apelação, ao contrário do recurso em sentido estrito, não se forma instrumento, pois ela
sobe nos próprios autos originais. Não há, pois, apelação por instrumento.
Se, entretanto, houver mais de um réu, e não houverem todos sido julgados, ou não tiverem
todos apelado, caberá ao apelante promover extração do traslado dos autos, o qual deverá ser
remetido à instância superior no prazo de trinta dias, contado da data da entrega das últimas razões
de apelação, ou do vencimento do prazo para a apresentação das do apelado ( § 1odo art. 601 do
CPP). Não se trata da formação do instrumento, mas de traslado integral do processo.
Procedimento
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apresentadas junto com a petição de interposição da apelação (art. 82, p. 1, da Lei 9.099/95).
Quanto ao prazo para as razões e contrarrazões do assistente de acusação, é de três dias, após
as razões ou contrarrazões do Ministério Público.
Se a ação penal for movida pela parte ofendida, o Ministério Público terá vista dos autos, no
prazo de três dias.
O § 3o do art. 600 dispõe que;
“Quando forem dois ou mais os apelantes ou apelados, os prazos serão comuns”.
O prazo comum aos defensores dos réus para apresentarem as razões e contrarrazões impede
a retirada dos autos do processo, devendo a consulta ser feita em cartório, violando o princípio da
ampla defesa. Em razão disso, nos processos físicos, o prazo deve ser sucessivo para cada um dos
réus.
Nos processos digitais, porém, não há qualquer problema quanto ao prazo comum.
Nada obsta, posto que não há proibição, que se junte documentos na fase recursal, mas se a
juntada ocorrer nas contrarrazões será necessária a abertura de vista ao apelante, sob pena de
violação do princípio do contraditório.
Por outro lado, o §4o do art. 600 do CPP reza que:
“Se o apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar
na superior instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde será aberta vista às partes,
observados os prazos legais, notificadas as partes pela publicação oficial”.
Este dispositivo permite que o apelante, na petição ou termo de recurso, declare a intenção de
apresentar as razões no tribunal. Nesse caso, o juiz, ao receber o recurso, já fará a sua remessa ao
tribunal que, por sua vez, abrirá vista ao recorrente para apresentar as razões.
Em seguida, os autos retornarão à primeira instância para o apelado apresentar as
contrarrazões e, depois, os autos retornarão novamente ao tribunal.
Em relação à apelação do promotor de justiça, as razões devem ser sempre apresentadas em
primeiro grau, pois o representante do Ministério Público de primeiro grau não pode praticar atos
em segundo grau.
Por isso, a melhor doutrina sustenta que a faculdade de protestar pela apresentação das razões
em segunda instância só se aplicaria à defesa.
Após a apresentação das contrarrazões ou decorrido o prazo para apresentá-las, o Ministério
Público de segundo grau dará o seu parecer com imparcialidade, podendo opinar pela absolvição
ainda que, no recurso interposto pelo Ministério Público de primeiro grau, se vise a condenação.
Por fim, quanto à competência para o julgamento da apelação, no âmbito estadual, é do
tribunal de justiça e, na seara federal, dos tribunais regionais federais.
Efeitos
Na apelação, o efeito devolutivo será amplo ou pleno para o fim de melhorar a situação do
réu, pois, nesse aspecto, se transfere ao tribunal o reexame integral do processo e não apenas o
tópico que é objeto de impugnação recursal.
A este efeito devolutivo amplo em benefício do réu abrem-se duas exceções:
a) as nulidades relativas, já atingidas pela preclusão, não podem ser conhecidas de ofício pelo
tribunal.
b) na apelação do júri, o tribunal só poderá apreciar a matéria impugnada no recurso, além das
nulidades absolutas favoráveis ao réu.
Em contrapartida, no tocante ao agravamento da situação do réu, o efeito devolutivo será
limitado ao pedido recursal, pois é vedada a “reformatio in pejus”.
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A apelação ainda tem efeito suspensivo em relação à sentença condenatória, pois ela obsta o
início do cumprimento da pena.
Aludido efeito suspensivo, cuja base é o princípio da presunção da inocência, encontra-se
consagrado na súmula 347 do STJ, que dispõe o seguinte:
“O conhecimento do recurso de apelação do réu independe de sua prisão”.
O art. 594 do CPP que exigia, para apelar, o prévio recolhimento à prisão, quando o réu fosse
reincidente ou portador de maus antecedentes, foi expressamente revogado pela reforma
processual de 2008 e, por consequência, operou-se também o cancelamento da súmula 9 do STJ, que
dispunha o seguinte: “A exigência de prisão provisória para apelar, não ofende a garantia
constitucional da presunção da inocência”.
O art. 597 do CPP, por sua vez, prevê que a apelação da sentença condenatória não terá efeito
suspensivo para impedir a aplicação provisória de interdições de direitos e de suspensão condicional
de pena.
Este preceito foi, porém, revogado pela Lei 7.210/84, que é a Lei de Execução Penal, que
extinguiu a aplicação provisória de interdições de direitos, estipulando ainda que suspensão
condicional de pena só tem início após o trânsito em julgado da condenação.
Força, portanto, convir que a apelação interposta contra a sentença penal condenatória
sempre tem efeito suspensivo, obstando o início do cumprimento da pena ou medida de segurança,
outrossim, dos efeitos secundários da condenação.
Igualmente, a apelação interposta contra a sentença absolutória imprópria, que impõe medida
de segurança ao inimputável do art. 26, “caput”, do CP, é revestida de efeito suspensivo, pois a
execução da medida de segurança só se inicia após o trânsito em julgado da sentença.
O art. 597 do CPP, por sua vez, prevê que a apelação da sentença não terá efeito suspensivo
para impedir a aplicação provisória de medida de segurança.
Este preceito foi, porém, revogado pela Lei 7.210/84, que é a Lei de Execução Penal, que
extinguiu a aplicação provisória de medida de segurança.
O recurso de apelação, no caso de sentença penal condenatória ou absolutória imprópria, não
tem o condão de suspender a execução da prisão preventiva ou internação provisória decretada,
como medida cautelar, antes ou na própria sentença.
No tocante à apelação interposta contra sentença penal absolutória própria, não tem efeito
suspensivo, de modo que a interposição do referido recurso não impede que o réu seja posto
imediatamente em liberdade.
Assim, a apelação do ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não
se tenha habilitado como assistente, não poderá ter efeito suspensivo.
Por fim, há uma hipótese de apelação de sentença condenatória, que não tem efeito
suspensivo. Trata-se da apelação interposta contra sentença condenatória do Tribunal do Júri a uma
pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão (art. 492, §4º, do CPP, incluído pela lei
13.964/2019). Nesse caso, o recurso de apelação não impede a execução provisória da sentença,
devendo ser expedido e cumprido o mandado de prisão. O efeito suspensivo, quando solicitado,
poderá, entretanto, ser concedido pelo juiz presidente ou pelo relator, quando o recurso versar sobre
questão substancial cujo deslinde possa favorecer o réu (§§ 2º e 3º do art. 492 do CPP, incluído pela
lei 13.964/2019).
Sobre a constitucionalidade desta prisão, há duas correntes.
Primeira, é inconstitucional, pois viola o princípio da presunção da inocência.
Segunda, é constitucional, por força do princípio da soberania do júri, que impede a absolvição
do réu no recurso de apelação.
Há ainda uma corrente que preconiza que, por força do princípio da soberania dos veredictos,
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Agravo em execução
Conceito
Agravo em execução é o recurso cabível para impugnar as decisões do juiz da execução penal.
Cabimento
Legitimidade
O agravo em execução pode ser interposto pelo condenado ou por quem o represente, seu
cônjuge (ou companheiro), parente ou descendente, pois todas essas pessoas também podem
formular pedidos na execução em favor do condenado.
O Conselho Penitenciário e autoridades administrativas não podem recorrer, pois não podem
formular pedidos, mas apenas requerer ao juiz a instauração da execução.
Por fim, o Ministério Público também pode interpor agravo em execução.
Prazo e procedimento
O art. 197 da LEP, que prevê o agravo em execução, não prevê o prazo nem o procedimento do
aludido recurso, mas, por analogia, a jurisprudência manda aplicar as normas do recurso em sentido
estrito.
Por consequência, o prazo é de 5 (cinco) dias para a interposição e de dois dias para as razões
(arts. 586 e 588 do CPP).
A propósito, dispõe a súmula 700 do STF:
“É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal”.
O agravo em execução sobe em instrumento para o tribunal.
Assim, o agravante deverá, no ato da interposição, indicar as peças processuais que deverão
compor o referido instrumento.
Efeitos
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Conceito
Requisitos
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cabível novos embargos infringentes e de nulidade contra o acórdão não unânime que julgou os
embargos infringentes e de nulidade.
b) que o acórdão seja de tribunal de segundo grau, ou seja, Tribunais de Justiça e Tribunais
Regionais Federais. Nos casos competência originária dos referidos tribunais, não serão cabíveis os
embargos infringentes e de nulidade, pois os tribunais funcionam como primeiro grau de jurisdição.
Também não serão admitidos contra acórdãos das turmas ou colégios recursais do JECRIM, pois eles
não são tribunais, mas, sim, órgãos de primeira instância.
c) que o acórdão seja não unânime, ou seja, quando houver pelo menos um voto vencido. Em
havendo voto vencido, isto é, divergente, será necessária a declaração do respectivo voto vencido.
Na hipótese de acórdão unânime, não há falar-se em embargos infringentes e de nulidade.
d) que o acórdão seja desfavorável ao réu. Assim, os embargos infringentes e de nulidade,
salvo na justiça militar, não podem ser interpostos contra acórdãos não unânimes favoráveis ao
acusado.
e) que o voto ou votos divergentes sejam favoráveis ao réu. Trata-se, pois, de recurso exclusivo
da defesa. A divergência deve ser na conclusão do acórdão e não na fundamentação. A divergência
na fundamentação, em regra, não autoriza o referido recurso, salvo quando influir no aspecto da
indenização civil, por exemplo, o voto vencido é no sentido da absolvição por legítima defesa, mas a
maioria decidiu pela absolvição por insuficiência de provas. Nesse caso, será possível embargos
infringentes, embora o acórdão tenha sido favorável ao réu. Trata-se da única hipótese em que o
aludido recurso pode ser interposto contra acórdão absolutório próprio.
Legitimidade ativa
Objeto
O objeto dos embargos infringentes e de nulidade é fazer com que prevaleça o ponto de vista
do desembargador ou desembargadores que foram votos vencidos no acórdão recorrido.
É, pois, o voto vencido que delimita o âmbito do recurso em análise.
Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência. Se, por
exemplo, o desembargador vencido, no crime de furto, discordou apenas da incidência da majorante
do repouso noturno, os embargos infringentes só poderão versar sobre este tópico.
Quanto ao pedido de absolvição nos embargos infringentes, só será possível quando o voto
vencido houver também pugnado pela solução absolutória.
Voto médio
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desembargador pela desclassificação para crime menos grave, este último, segundo Gustavo Badaró,
será o voto médio, mas caberá embargos infringentes, com base no voto que pugnou pela
absolvição.
Prazo
Os embargos infringentes e de nulidade poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar
da publicação do acórdão, dispensando-se a intimação pessoal do acusado.
Forma de interposição
Os embargos infringentes e de nulidade devem ser interpostos por petição, acompanhada das
respectivas razões recursais.
Não se admite a interposição através de termo nos autos, porquanto as razões devem
acompanhar a petição recursal.
A petição de interposição é endereçada ao Desembargador- Relator do acórdão impugnado, ao
passo que as razões recursais são dirigidas ao órgão colegiado julgador.
Haverá, porém, após a interposição e o parecer do Procurador de Justiça ou Procurador
Regional Federal, a distribuição para um novo relator.
Procedimento
Juízo admissibilidade
Competência
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Efeitos
Os embargos infringentes e de nulidade são recursos ordinários, pois podem versar tanto sobre
a matéria fática quanto jurídica.
Dessa forma, o efeito devolutivo é idêntico ao da apelação, pois o órgão “ad quem” poderá
conhecer de ofício matérias que não integram o recurso, desde que favoráveis à defesa.
São dotados também de efeito suspensivo, pois, por força do princípio da presunção da
inocência, eles obstam a execução provisória do acórdão condenatório ou absolutório impróprio.
Assim, na pendência dos embargos infringentes e de nulidade não haverá a iniciação do
cumprimento da pena ou medida de segurança,
Aliás, ainda que não se pleiteie a absolvição nos embargos infringentes, haverá o efeito
suspensivo, obstando-se o início do cumprimento da pena ou medida de segurança.
Alguns autores sustentam que os embargos infringentes e de nulidade têm efeito regressivo,
pois os próprios desembargadores, que haviam participado do julgamento do acórdão recorrido,
poderão se retratar para modificarem seus votos.
A rigor, esta possibilidade não é efeito regressivo, pois o juízo de retratação ocorre durante o
julgamento do novo acórdão, ao passo que o juízo de retratação inerente ao efeito regressivo tem o
condão de impedir o julgamento pelo juízo “ad quem”.
Por fim, é também possível o efeito extensivo quando se tratar de matéria comum a todos os
réus, por exemplo, fato atípico (art. 580 do CPP).
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O art. 333 do Regimento Interno do STF admite os embargos infringentes contra acórdão não
unânime do Plenário ou da Turma:
i – que julgar procedente a ação penal;
ii – que julgar improcedente a revisão criminal;
III – que julgar a ação rescisória;
iv – que julgar a representação de inconstitucionalidade;
v – que, em recurso criminal ordinário, for desfavorável ao acusado.
O parágrafo único do aludido art. 333 preceitua que o cabimento dos embargos, em decisão do
Plenário, depende da existência, no mínimo, de quatro votos divergentes.
O prazo para interposição do referido recurso no STF é de 15 (quinze) dias.
O julgamento será feito pelo Plenário.
Caso o relator não admita os embargos infringentes e de nulidade junto ao STF, caberá o
recurso de agravo interno ou regimental para o Plenário (art. 335, 2o ,do RISTF).
É salutar a previsão destes embargos infringentes e de nulidade para que cumpra o princípio
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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
CONCEITO
NATUREZA JURÍDICA
Uma primeira corrente sustenta que não são se trata de recurso, mas, sim, de um mero pedido
de melhoria formal da decisão.
O argumento é que o recurso visa modificar ou anular a decisão, ao passo que os embargos de
declaração têm a finalidade de sanar os vícios da decisão para aprimorá-la, aclará-la, complementá-
la, mas sem anulá-la ou alterá-la na substância.
Ademais, a parte vencedora também pode interpor embargos de declaração, o que dispensaria
a sucumbência, sendo certo que o provimento acaba beneficiando ambas as partes à medida que
aperfeiçoa a decisão.
Por fim, no recurso instaura-se o contraditório, o que, em regra, não é observado nos embargos
de declaração.
Uma segunda corrente assevera que são recursos, pois encontram-se disciplinados no
respectivo capítulo e, além disso, se submetem aos pressupostos recursais de admissibilidade,
obstando a preclusão do ato judicial embargado.
O fato de até a parte vencedora poder interpô-los ou de ser julgado pelo próprio juiz da decisão
embargada não os descaracterizam como recurso, porque o vencedor também tem interesse de
recorrer para o aprimoramento da decisão, prevenindo-se de futuras arguições de nulidades e de
incertezas.
Uma terceira corrente, de natureza híbrida, esclarece que os embargos de declaração podem
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Funções
A não interposição de embargos de declaração gerará a nulidade do ato judicial, caso seja
interposto outro recurso, salvo quando se puder sanar a omissão, obscuridade, ambiguidade ou
contradição.
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Dúvida
PRAZO
Forma de interposição
Os embargos de declaração devem ser opostos por petição devidamente fundamentada, sendo
vedada a sua interposição por termo nos autos.
As razões são expostas no próprio corpo da petição de interposição, ao passo que nos demais
recursos elas se desenvolvem numa peça separada.
No JECRIM, os embargos de declaração podem ser interpostos por petição ou oralmente (art.
83, § 1º, da Lei 9.099/95).
Nos embargos de declaração contra sentença, a petição é endereçada ao magistrado de
primeira instância que prolatou a decisão embargada e, nos embargos de declaração contra acórdão,
ao desembargador relator do processo.
LEGITIMIDADE
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PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
ANÁLISE DO MÉRITO
Recursos
A decisão que julga o mérito dos embargos de declaração é irrecorrível, mas ela passa a
incorporar o julgado anterior, contra o qual caberá recurso.
É, entretanto, possível a interposição de embargos de declaração contra a decisão que julgou
os embargos de declaração anterior, quando ela contiver erro material, omissão, contradição,
ambiguidade, obscuridade ou erro material.
Não serão admitidos, entretanto, novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores
houverem sido considerados protelatórios (§ 4o do art. 1.026 do CPC). Esta norma, por analogia, deve
ser aplicada ao processo penal.
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Em duas hipóteses, o prazo não será interrompido, mas apenas suspenso. São elas:
a) embargos de declaração contra acórdãos do STJ (art. 265 do Regimento Interno do STJ).
b) embargos de declaração contra acórdãos do STF (art. 339, §1º, do Regimento Interno do
STF).
Nas duas hipóteses acima, o prazo para a interposição de outro recurso é suspenso na data de
interposição dos embargos de declaração, e o prazo remanescente recomeça a correr do primeiro
dia útil seguinte à publicação da decisão proferida nos mesmos embargos.
No âmbito do STF, os embargos de declaração meramente protelatórios, assim declarados
expressamente, não suspendem o prazo recursal, sendo certo que o embargante ainda será
condenado a pagar ao embargado uma multa não excedente de um por cento sobre o valor da causa
(art. 339, §2º, do RISTF).
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Dispensa de ratificação
Contraditório
ESPÉCIES
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ou obscuridade.
Efeito infringente
Os embargos de declaração, em regra, não visam alterar a decisão judicial, mas apenas aclará-
la.
Excepcionalmente, porém, tem o condão de alterá-la. Diz-se estão que nessa situação eles têm
caráter infringente, que significa alterar algo, impor uma nova decisão.
Assim, os embargos de declaração têm caráter infringente em três situações:
a) quando o vício da contradição for capaz de alterar a essência do julgado. Exemplo: a
fundamentação da sentença demonstrou a negativa de autoria, mas, no dispositivo, houve a
condenação do réu, nesse caso, provido os embargos de declaração, haverá a absolvição, impondo-
se a modificação do julgado.
b) quando o vício da omissão for capaz de alterar a essência do julgado. Exemplo: os embargos
de declaração para se pleitear a nulidade do processo, caso sejam acolhidos, gerará a nulidade da
sentença condenatória ou absolutória.
c) embargos de declaração que visa alterar o julgado manifestamente ilegal, embora não
haja omissão, obscuridade, ambiguidade, contradição ou erro material. Portanto, os requisitos de
admissibilidade desses embargos não são o erro material, a omissão, a contradição, a ambiguidade,
o erro material e a obscuridade, mas, sim, a manifesta ilegalidade da decisão. Exemplo: se, em delito
punido com detenção, o juiz impõe o regime fechado ao réu, provido os embargos de declaração, a
sentença será modificada para se impor o regime semiaberto ou aberto.
Outro exemplo: o tribunal, ao julgar a apelação, anula a sentença pelo fato de o juiz ter aceito
uma prova ilícita, mas, na verdade, ele havia rejeitado a referida prova, nesse caso, provido os
embargos de declaração o acórdão anterior será anulado e o mérito da apelação será apreciado. É
certo, pois, que as decisões ilegais podem ser impugnadas através de outros recursos ou “habeas
corpus”, mas a jurisprudência ao admitir também a interposição dos embargos de declaração pensou
na celeridade proporcionada por este recurso.
EFEITO DEVOLUTIVO
Quanto ao efeito devolutivo, é negado por Barbosa Moreira, mas aceito por
outros processualistas.
A polêmica gira em torno do que se deve entender por efeito devolutivo. Prevalece o
entendimento que esse efeito também ocorre quando o órgão do Poder Judiciário para o qual se
devolve a matéria é o mesmo que prolatou a decisão impugnada, não havendo necessidade do
reexame ser feito por órgão superior.
Força convir, portanto, que os embargos de declaração têm efeito devolutivo.
EFEITO SUSPENSIVO
De acordo com o art. 1.026 do CPC os embargos de declaração não têm efeito suspensivo.
Entretanto, a questão não é bem assim.
De fato, os embargos de declaração podem ou não ter efeito suspensivo, conforme o recurso
cabível contra o ato judicial embargado tenha ou não efeito suspensivo.
A apelação de sentença penal condenatória, por exemplo, tem efeito suspensivo, em função
do princípio da presunção da inocência, por consequência, os embargos de declaração contra a
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EFEITO TRANSLATIVO
Os embargos de declaração têm efeito translativo, pois as matérias de ordem pública devem
ser conhecidas de ofício pelo magistrado, ainda que não tenham sido arguidas.
Efeito extensivo
A decisão que, no mérito, acolhe os embargos de declaração tem efeito extensivo, estendendo-
se aos demais réus, nos termos do art. 580 do CPP, desde que se trate de matéria benéfica e comum
a todos eles. Exemplo: acolhe-se os embargos de declaração para se anular o processo por
ilegitimidade “ad causam” do Ministério Público.
Os embargos de declaração não têm efeito regressivo, pois não possibilita o juízo de retratação,
mas, sim, um novo julgamento.
Carta testemunhável
Conceito
A carta testemunhável é o recurso cabível contra a decisão que não admitir recurso ou que,
após admiti-lo, obstar o seu seguimento para o juízo ad quem.
A carta testemunhável será cabível ainda que o recurso não tenha sido admitido por
intempestividade, ilegitimidade ou qualquer outro requisito de admissibilidade.
Trata-se do único recurso cujo processamento não poderá ser indeferido ou obstado, qualquer
que seja o pretexto, pelo órgão “a quo” (art. 646 do CPP). Aliás, neste recurso, o juízo de
admissibilidade é feito exclusivamente pelo órgão “ad quem”.
Hipóteses de cabimento
Características
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Legitimidade
A carta testemunhável pode ser interposta pelos mesmos legitimados do recurso denegado.
Exemplo: o réu pode apelar da sentença condenatória, sem que esteja representado por seu
advogado ou defensor, e, se o juiz não admitir o apelo, ele poderá interpor o recurso em sentido
estrito; caso o juiz também denegue este último recurso, o próprio réu poderá interpor a carta
testemunhável.
Em suma, se o recurso denegado puder ser interposto sem advogado, a carta testemunhável
também terá este mesmo tratamento, mas se o recurso denegado só puder ser interposto através
de advogado a carta testemunhável também terá que ser subscrita por advogado.
Prazo
O prazo para a interposição da carta testemunhável é nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes
à intimação da decisão que denegar o recurso (art. 640 do CPP). É o único recurso, cujo prazo para
interposição é fixado em horas.
É, pois, necessário se precisar a hora e minuto da intimação, posto que o prazo é de
48 (quarenta e oito) horas, mas, em caso de omissão acerca da hora e minuto, o prazo será de 2 (dois)
dias.
Testemunhante e testemunhado
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Forma de interposição
A carta testemunhável é interposta por petição escrita, sendo vedada a sua interposição
através de termo nos autos (art. 641 do CPP).
A petição de interposição não é endereçada ao juiz que prolatou a decisão recorrida, mas, sim,
ao escrivão, no âmbito estadual, ou ao diretor de secretaria, no âmbito da justiça federal e, caso a
decisão recorrida emane de desembargador, ao secretário da presidência do tribunal.
Instrumento
Procedimento
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Efeito devolutivo
Efeito regressivo
Efeito suspensivo
Em regra, a carta testemunhável não tem efeito suspensivo, pois o processo prosseguirá
normalmente durante a sua tramitação (art. 646 do CPP).
Abre-se exceção, por força do princípio da presunção da inocência, à carta testemunhável
interposta contra a decisão que negou seguimento ao recurso em sentido estrito oposto contra a
decisão que negou seguimento à apelação de sentença penal condenatória ou absolutória imprópria.
Nesse caso, a carta testemunhável gozará de efeito suspensivo, pois ela impedirá a execução
provisória da sanção penal.
Julgamento
CORREIÇÃO PARCIAL
Introdução
A correição parcial, no sentido legal, tem o perfil de medida administrativa, tanto é que, como
tal, na esfera federal, seu julgamento será feito pelo Conselho da Justiça Federal, que é um órgão
administrativo.
Entretanto, com base na analogia e nos costumes judiciários, é também utilizada como recurso
em algumas situações, sendo julgada pelos respectivos Tribunais, que são órgãos jurisdicionais.
Há, pois, duas espécies de correição parcial:
a) a impetrada como instrumento de punição disciplinar dos juízes;
b) a impetrada como instrumento de reexame das decisões judiciais.
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Fundamento
É prevista no art. 6o, I, da lei 5.010/1966, que regula a organização judiciária da justiça federal,
sendo julgada, quando intentada para fins de punição disciplinar, pelo Conselho Federal de Justiça.
É ainda prevista no Código Judiciário do Estado de São Paulo com o objetivo de punir o juiz.
Em outros Estados, costuma ser também prevista em leis estaduais ou nos regimentos internos
dos respectivos Tribunais Estaduais.
Conceito
A correição parcial, tal como disciplinada nas leis de organização judiciária e nos Regimentos
dos Tribunais, é uma medida administrativa de natureza disciplinar que visa punir o juiz que tumultua
o andamento do processo ou que age com abuso de poder.
No sentido acima, não se trata de recurso, mas, sim, de uma medida administrativa com vistas
à aplicação de uma sanção disciplinar.
Nos processos civil, penal e trabalhista, porém, a correição parcial é usada, de forma distorcida,
como recurso, sendo admitida, por analogia e pelos costumes forenses, nas seguintes hipóteses:
a) contra despacho de mero expediente que tumultua a marcha processual;
b) quando o juiz se omite e não prolata decisão alguma;
c) contra as decisões interlocutórias caracterizadas pelo error “in procedendo” ou abuso de
poder, que tumultuam o andamento do processo, nos casos em que a lei não prevê nenhum recurso
para a situação.
Em regra, as decisões interlocutórias são irrecorríveis e por isso a correição parcial é utilizada
para se tentar o reexame da decisão, como se fosse um recurso, desvirtuando-se da sua verdadeira
função, que é a de punir administrativamente o juiz. Exemplos: decisão do juiz que arquiva de ofício
o inquérito policial; que indefere o pedido de diligências do Ministério Público nos autos do inquérito
policial; que, a despeito do pedido de arquivamento do inquérito policial pelo Ministério Público,
determina novas diligências à autoridade policial ; que ordena o prosseguimento do processo na
hipótese de o réu citado por edital não comparecer nem constituir advogado, em flagrante violação
ao art. 366 do CPP.
Assim, no sentido acima, a correição parcial é o instrumento de impugnação de despachos ou
decisões judiciais prolatadas com “error in procedendo”, quando não houver nenhum outro recurso
específico.
Natureza jurídica
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Prazo
Na justiça federal, o prazo para interpor a correição parcial é de 5 (cinco) dias, a contar da
intimação do ato judicial que se visa impugnar.
No âmbito estadual, é preciso consultar a legislação local.
Efeitos
Legitimidade
Procedimento
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Conceito
Requisitos
Legitimidade ativa
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Objeto
O objeto dos embargos infringentes e de nulidade é fazer com que prevaleça o ponto de vista
do desembargador ou desembargadores que foram votos vencidos no acórdão recorrido.
É, pois, o voto vencido que delimita o âmbito do recurso em análise.
Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência. Se, por
exemplo, o desembargador vencido, no crime de furto, discordou apenas da incidência da majorante
do repouso noturno, os embargos infringentes só poderão versar sobre este tópico.
Quanto ao pedido de absolvição nos embargos infringentes, só será possível quando o voto
vencido houver também pugnado pela solução absolutória.
Voto médio
Prazo
Os embargos infringentes e de nulidade poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar
da publicação do acórdão, dispensando-se a intimação pessoal do acusado.
Forma de interposição
Os embargos infringentes e de nulidade devem ser interpostos por petição, acompanhada das
respectivas razões recursais.
Não se admite a interposição através de termo nos autos, porquanto as razões devem
acompanhar a petição recursal.
A petição de interposição é endereçada ao Desembargador- Relator do acórdão impugnado, ao
passo que as razões recursais são dirigidas ao órgão colegiado julgador.
Haverá, porém, após a interposição e o parecer do Procurador de Justiça ou Procurador
Regional Federal, a distribuição para um novo relator.
Procedimento
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Juízo admissibilidade
Competência
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Efeitos
Os embargos infringentes e de nulidade são recursos ordinários, pois podem versar tanto sobre
a matéria fática quanto jurídica.
Dessa forma, o efeito devolutivo é idêntico ao da apelação, pois o órgão “ad quem” poderá
conhecer de ofício matérias que não integram o recurso, desde que favoráveis à defesa.
São dotados também de efeito suspensivo, pois, por força do princípio da presunção da
inocência, eles obstam a execução provisória do acórdão condenatório ou absolutório impróprio.
Assim, na pendência dos embargos infringentes e de nulidade não haverá a iniciação do
cumprimento da pena ou medida de segurança,
Aliás, ainda que não se pleiteie a absolvição nos embargos infringentes, haverá o efeito
suspensivo, obstando-se o início do cumprimento da pena ou medida de segurança.
Alguns autores sustentam que os embargos infringentes e de nulidade têm efeito regressivo,
pois os próprios desembargadores, que haviam participado do julgamento do acórdão recorrido,
poderão se retratar para modificarem seus votos.
A rigor, esta possibilidade não é efeito regressivo, pois o juízo de retratação ocorre durante o
julgamento do novo acórdão, ao passo que o juízo de retratação inerente ao efeito regressivo tem o
condão de impedir o julgamento pelo juízo “ad quem”.
Por fim, é também possível o efeito extensivo quando se tratar de matéria comum a todos os
réus, por exemplo, fato atípico (art. 580 do CPP).
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Convém destacar a existência de outra corrente, segundo a qual, o prazo para se interpor os
recursos especial ou extraordinário contra a parte unânime só se inicia após a intimação do acórdão
que julgou os embargos infringentes e de nulidade. Esta orientação, que se baseava na analogia aos
embargos infringentes do CPC anterior, perdeu o seu sustentáculo, pois o CPC de 2015 não prevê
mais o recurso de embargos infringentes.
Por derradeiro, após a prolação do acórdão dos embargos infringentes e de nulidade sobre a
parte não unânime, poderão ser interpostos um segundo recurso extraordinário e/ou especial, sem
prejuízo do anterior.
O art. 333 do Regimento Interno do STF admite os embargos infringentes contra acórdão não
unânime do Plenário ou da Turma:
i – que julgar procedente a ação penal;
ii – que julgar improcedente a revisão criminal;
III – que julgar a ação rescisória;
iv – que julgar a representação de inconstitucionalidade;
v – que, em recurso criminal ordinário, for desfavorável ao acusado.
O parágrafo único do aludido art. 333 preceitua que o cabimento dos embargos, em decisão do
Plenário, depende da existência, no mínimo, de quatro votos divergentes.
O prazo para interposição do referido recurso no STF é de 15 (quinze) dias.
O julgamento será feito pelo Plenário.
Caso o relator não admita os embargos infringentes e de nulidade junto ao STF, caberá o
recurso de agravo interno ou regimental para o Plenário (art. 335, 2o ,do RISTF).
É salutar a previsão destes embargos infringentes e de nulidade para que cumpra o princípio
do duplo grau de jurisdição.
O regimento interno do STF foi recepcionado como lei ordinária pela Constituição Federal,
porquanto foi elaborado numa época em que a Excelsa Corte podia disciplinar sobre recursos de sua
competência. A partir da Constituição Federal de 1988, o STF deve se sujeitar às leis processuais
editadas pelo Congresso Nacional, ressalvando-se, entretanto, as normas regimentais recepcionadas.
HABEAS CORPUS
Conceito
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“Writ”
Fundamento constitucional
O “habeas corpus” é previsto no art. 5º, inciso LXVIII, da CF, nos seguintes termos:
“Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.
A liberdade de ir e vir pode ser afetada mediante privação ou restrição.
A privação da liberdade de locomoção se verifica quando houver prisão ou outra medida que
mantém o agente encarcerado. Exemplo: empregador tranca o empregado num quarto.
A restrição da liberdade, por sua vez, limita o direito de ir e vir, mas sem realizar o
encarceramento. Exemplo: juiz impõe as medidas cautelares pessoais do art. 318 do CPP. Outro
exemplo: imposição de pena restritiva de direitos. ou de suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei 9.099/95). Mais um exemplo: o síndico do condomínio impede o condômino de adentrar em
seu apartamento, em função da existência de débitos condominiais.
Em todos os exemplos acima, o habeas corpus será possível, pois ele é cabível quando o agente
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer privação ou restrição à liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder.
Natureza jurídica
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Requisitos
A ilegalidade é a violação da lei. O abuso de poder é o fato de o agente exceder os limites legais,
de modo que, a rigor, também se trata de uma ilegalidade.
Se, ao revés, a violência ou coação à liberdade de locomoção estiver amparada pelo
ordenamento jurídico não há falar-se em “habeas corpus”. Ele não é, por exemplo, cabível para se
impedir prisão legal, baseada em sentença condenatória transitada em julgado.
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ameaça futura à liberdade de ir e vir, pois não se exige, para a sua impetração, que se trate de uma
ameaça iminente.
Dessa forma, é cabível o “habeas corpus” nas seguintes hipóteses:
a) para se trancar inquérito policial;
b) para se impedir o indiciamento;
c) para se impugnar o recebimento da denúncia ou queixa;
d) para se anular a decisão de pronúncia;
e) para se anular sentença penal condenatória;
f) para se anular a decisão judicial que ordenou a produção de uma prova ilícita.
g) para impugnar a fixação de regime de pena mais rigoroso que o autorizado pela lei, pois,
conquanto a troca de regime não elimine a prisão, haverá uma menor restrição à liberdade de
locomoção pela imposição de um regime mais brando.
h) para impugnar a dosimetria da pena, desde que a ilegalidade seja flagrante e não demande
a análise do conjunto probatório.
Por outro lado, o “habeas corpus” é inadequado para tutelar direitos que não atingem, nem
mesmo de forma reflexa, a liberdade de locomoção.
Dessa forma, ele não é cabível nas seguintes situações:
a) para obtenção de passaporte;
b) contra decisão condenatória a pena de multa ou para trancar processo por infração penal
em que a pena pecuniária seja a única cominada (súmula 693 do STF). De fato, como a pena de multa
não pode mais ser convertida em prisão, não há qualquer risco à liberdade de locomoção. Nessas
hipóteses, a ação penal poderá ser trancada através de mandado de segurança. Tratando-se, porém,
de penas restritivas de direito e medidas cautelares alternativas pessoais, o remédio heróico será
cabível, posto que elas são conversíveis em prisão e, além disso, algumas delas ainda representam
uma restrição à liberdade de locomoção.
c) quando estiver extinta a pena privativa de liberdade (súmula 695 do STF). Igualmente, após
a extinção da punibilidade.
d) para se impugnar o tópico da sentença penal condenatória que ordenou a perda do cargo.
e) para se discutir o direito de visitar o preso.
f) para se impugnar as custas processuais (súmula 395 do STF).
g) para se questionar a suspensão do direito de dirigir veículo automotor.
h) para se impugnar o valor da indenização arbitrada à vítima na sentença penal condenatória;
i) para se trancar processo administrativo.
j) contra imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública
(súmula 694 do STF).
K) para exame aprofundado de provas.
Ainda que a liberdade de locomoção seja lesada ou ameaçada, não caberá o “habeas corpus”
para discutir punições disciplinares militares (§ 2º do art. 142 da CF).
Outrossim, durante a vigência do estado de sítio, poderá o decreto presidencial suspender as
garantias constitucionais, inclusive, o “habeas corpus” (art. 138 da CF). Se, entretanto, o decreto
presidencial não suspender a garantia do “habeas corpus”, a sua interposição será possível durante
o estado de sítio.
Nestas duas situações acima, porém, a vedação ao “habeas corpus” é apenas para se discutir o
mérito da prisão e não a sua legalidade extrínseca. Se, por exemplo, a prisão disciplinar militar
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houver sido decretada por autoridade militar destituída desta atribuição será possível o habeas
corpus.
Prisão administrativa
O art. 650, §2o, do CPP também proíbe o habeas corpus contra a prisão administrativa, atual
ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à Fazenda Pública, salvo se o pedido
for acompanhado de prova de quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a prisão exceder
o prazo legal.
Este dispositivo, entretanto, não foi recepcionado pela Constituição de 1.988, pois ela proíbe a
prisão administrativa.
Por consequência, caso seja decretada a prisão administrativa, será cabível o “habeas corpus”.
Paciente
Legitimidade ativa
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Assim, o delegado de polícia e o juiz de direito, no exercício de suas funções públicas, não
podem impetrar “habeas corpus”, mas nada obsta que, fora de suas funções, os impetrem na
condição de pessoas comuns, em benefício das pessoas que não se vinculam à investigação ou ao
processo.
Cumpre salientar desde já que o juiz de direito, no exercício de sua função, embora não possa
impetrar “habeas corpus”, poderá concedê-lo de ofício nos procedimentos sujeitos à sua
competência.
Por fim, a impetração de “habeas corpus” dispensa a constituição de advogado. Igualmente,
para se interpor os recursos na ação de “habeas corpus”, segundo já decidiu o STF, não há
necessidade de advogado.
Legitimidade passiva
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Hipóteses de cabimento
O art. 648 do CPP prevê que a coação considerar-se-á ilegal e, portanto, ensejará a impetração
de “habeas corpus” nas seguintes hipóteses:
I - quando não houver justa causa;
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;
VI - quando o processo for manifestamente nulo;
VII - quando extinta a punibilidade.
Trata-se de um rol meramente exemplificativo, pois qualquer situação que atinja ilegalmente
a liberdade de locomoção poderá ser combatida através do remédio heróico.
Passeamos então à análise de cada um destes incisos do art. 648 do CPP.
O inciso I cuida da falta de justa causa, que é a ausência inequívoca de lastro probatório ou de
lastro jurídico. Este inciso I é uma norma geral, que engloba qualquer outra situação de ilegalidade
à liberdade de locomoção. Exemplos: prisão em flagrante sem situação de flagrante; decretação de
prisão civil por dívida fora da hipótese de alimentos; decretação de prisão preventiva sem motivos;
instauração de inquérito policial ou de processo por fato atípico; propositura de ação penal sem a
prova da existência do crime ou de indícios de autoria. Vale ressaltar que o inquérito policial não
pode ser trancado por falta de provas da existência do crime ou de indícios de autoria, pois a sua
função é justamente apurar esses elementos. No “habeas corpus”, o conceito de justa causa é mais
amplo, pois abrange também o lastro jurídico, ao passo que, no tema da ação penal, a justa causa
consiste apenas no lastro probatório mínimo para se justificar a persecução penal. No habeas corpus
não há a fase instrutória e, por isso, a análise do lastro probatório mínimo é feito com base nas provas
já colhidas.
O inciso II prevê o cabimento do habeas corpus quando alguém estiver preso por mais tempo
do que determina a lei. Exemplo: o condenado é mantido preso após ter cumprido integralmente a
pena. Outro exemplo: prisão temporária que excede o prazo máximo legal.
O inciso III admite o remédio heróico quando quem ordenar a coação não tiver competência
para fazê-lo. Trata-se da prisão ou de medida cautelar pessoal ordenada por juiz incompetente. Em
se tratando de prisão preventiva ou temporária decretada por autoridade policial, o fundamento do
habeas corpus será o inciso I, pois a ilegalidade é oriunda da falta de atribuição, e não propriamente
da falta de competência, posto que o termo “competência” é uma exclusividade dos magistrados.
O inciso IV prevê o habeas corpus quando houver cessado o motivo que autorizou a coação.
Aqui, a coação, que inicialmente era justa, tornou-se ilegal pela cessação dos motivos anteriores.
Exemplo: manter preso o devedor de alimentos, após ele já ter pago o débito. Outro exemplo: não
soltar o réu que pagou a fiança. Mais um exemplo: manter a prisão preventiva decretada por coação
a determinada testemunha, após esta já ter sido inquirida.
O inciso V prevê o habeas corpus quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos
em que a lei a autoriza. Nos crimes cuja pena máxima não exceda a 4 (quatro) anos, a própria
autoridade policial, que presidir o auto de prisão em flagrante, deverá conceder a fiança (art. 332 do
CPP). Nos demais casos, a fiança só poderá ser concedida pelo juiz. Se a ilegalidade decorrer do fato
de não ter sido o paciente admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser
prestada perante ele, remetendo, neste caso, à autoridade os respectivos autos, para serem
anexados aos do inquérito policial ou aos do processo judicial do art. 660, § 3o, do CPP.
O inciso VI prevê o habeas corpus quando o processo for manifestamente nulo. Exemplo:
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denúncia ofertada em crime de ação penal privada. Outro exemplo: queixa-crime em delito de ação
penal pública sem que houvesse a inércia do Ministério Público. Mais um exemplo: processo
presidido por juiz absolutamente incompetente. Último exemplo: interceptação telefônica obtida
sem ordem judicial. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade do processo, este será
renovado (art. 652 do CPP). O habeas corpus, com base neste inciso VI, pode ser impetrado antes ou
depois do trânsito em julgado da condenação ou da absolvição imprópria, com a ressalva de que as
nulidades relativas, quando não arguidas oportunamente, se sujeitam à preclusão. Cumpre,
entretanto, ressalvar que, após o trânsito em julgado, o meio adequado de impugnação é a revisão
criminal, reservando-se o habeas corpus às situações excepcionais, onde se pode constatar de plano
a ilegalidade. Assim, anulada a sentença em habeas corpus, o processo retorna ao juízo de origem
para que outra seja prolatada.
Por fim, o inciso VII prevê o habeas corpus quando estiver extinta a punibilidade. Exemplos:
prescrição, anistia, expiração do prazo do sursis ou livramento condicional, sem que tenha ocorrido
a sua revogação. Se já houver, porém, uma decisão judicial de extinção da punibilidade, não haverá
interesse de agir para a impetração do habeas corpus. Diante da presença de uma causa de extinção
da punibilidade que surge antes da sentença, o interessado deverá primeiramente requerer ao juiz
de primeira instância a declaração judicial da extinção da punibilidade e, caso surja na fase de
execução da pena, deverá ser pleiteada ao juiz da execução penal. Não se pode, em regra, através de
habeas corpus, se obter a declaração de extinção da punibilidade, sob pena de supressão de
instância, tendo em vista que esse ponto específico da questão ainda não havia sido submetido às
instâncias ordinárias. Se o juiz indeferir o pedido de extinção da punibilidade, caberá o recurso em
sentido estrito, quando ainda não houver sentença, e o agravo de execução, quando esta decisão for
prolatada na fase de execução penal, ou seja, após o trânsito em julgado da condenação (arts. 581,
VIII e IX, do CPP e 197 da LEP). A impetração de habeas corpus para se obter a extinção da
punibilidade, no lugar do recurso, é uma medida excepcional, que somente será cabível em casos
graves de manifesto constrangimento ou ameaça de constrangimento à liberdade de locomoção.
Competência
A competência do habeas corpus deverá levar em conta o eventual foro por prerrogativa de
função da autoridade coatora ou do paciente.
O habeas corpus impetrado pelo Presidente da República, por exemplo, será da competência
originária do STF.
O órgão incumbido de julgar, na esfera penal, a autoridade coatora e o paciente também será
competente para o julgamento do respectivo habeas corpus.
Se tanto o paciente quanto a autoridade coatora tiverem foro por prerrogativa de função,
prevalecerá a competência do órgão jurisdicional mais graduado. Se, por exemplo, um juiz federal
ordenar a instauração de inquérito policial contra o Presidente da República, o habeas corpus deverá
ser impetrado diretamente no STF e não no Tribunal Regional Federal, embora este último seja o
órgão jurisdicional incumbido de julgar os delitos cometidos por juízes federais.
Abre-se exceção ao habeas corpus impetrado contra ato de juiz do JECRIM, cuja competência
será da respectiva Turma Recursal e não do Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, embora
estes últimos órgãos sejam os competentes para julgar criminalmente os magistrados do JECRIM
Estadual ou Federal, conforme a hipótese.
Este assunto já foi abordado no estudo da competência, mas convém relembrar os seguintes
pontos:
a) habeas corpus impetrado contra ato de delegado de polícia estadual: competência do juiz
estadual de primeiro grau;
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b) habeas corpus impetrado contra ato de delegado de polícia federal: competência do juiz
federal de primeiro grau;
c) habeas corpus impetrado contra ato de promotor de justiça: competência do Tribunal de
Justiça;
d) habeas corpus impetrado contra ato de Procurador da República: competência do Tribunal
Regional Federal;
e) habeas corpus impetrado contra ato de Procurador Regional da República: competência do
STJ;
f) habeas corpus impetrado contra ato do Procurador Geral da República: competência do STF;
g) habeas corpus impetrado contra ato de Procurador de Justiça: competência do Tribunal de
Justiça.
h) habeas corpus impetrado contra ato de promotor de justiça militar: competência do Tribunal
Regional Federal, pois o Ministério Público Militar integra o Ministério Público da União e, por isso, a
competência não é do Superior Tribunal Militar.
i) habeas corpus impetrado contra ato de promotor de justiça do Distrito Federal: a
competência será do Tribunal Regional Federal, pois o Ministério Público do Distrito Federal integra
o Ministério Público da União e, por isso, se afasta a competência do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal.
j) habeas corpus impetrado contra ato de juiz de primeira instância: competência do Tribunal
de Justiça ou Tribunal Regional Federal, conforme se trate de juiz estadual ou federal.
k) habeas corpus impetrado contra ato de juiz do trabalho: competência do Tribunal Regional
Federal;
l) habeas corpus impetrado contra ato de desembargador do Tribunal de Justiça, do Tribunal
Regional Federal ou Eleitoral ou do Trabalho: competência do STJ;
m) habeas corpus impetrado contra ato de ministro do STF ou de Tribunal Superior:
competência do STF.
n) habeas corpus impetrado contra ato dos magistrados da Turma Recursal do JECRIM:
competência do Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, conforme se trate de JECRIM
Estadual ou Federal. Quanto à súmula 690, que atribuía esta competência ao STF, encontra-se
cancelada. A razão do cancelamento é que o órgão competente para julgar criminalmente os
referidos magistrados é o Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal.
Cessação da competência
Procedimento
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Petição inicial
A petição inicial, conforme já dito, pode ser subscrita pelo próprio impetrante, pois em habeas
corpus não se exige advogado.
Tem sido admitido a impetração através de telegrama ou “fac simile”.
A petição inicial deve preencher os seguintes requisitos:
a) qualificação do impetrante e do paciente. Não se admite, destarte, o habeas corpus
anônimo. Também é vedado o habeas corpus em favor de pessoa indeterminada ou não identificada.
Normalmente, o habeas corpus é impetrado pelo próprio paciente e, nesse caso, é essencial que na
peça conste o seu nome, mas se for impetrado por terceiro nada obsta que a qualificação do paciente
seja feita através de sua identificação física quando o seu nome for desconhecido.
b) qualificação do coator. Se o coator for autoridade pública, basta fazer menção ao seu cargo,
sendo desnecessária a menção ao seu nome, mas se for particular a qualificação será pelo nome.
c) descrição do fato concreto que atenta ilegalmente contra a liberdade de locomoção.
d) assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder
escrever, e a designação das respectivas residências. Sem a assinatura do impetrante ou de alguém
a seu rogo, o habeas corpus não será sequer conhecido, pois será considerado apócrifo. Vê-se assim
que o analfabeto que não sabe escrever poderá impetrar habeas corpus, mas um terceiro deverá
assinar a rogo por ele, igualmente, quando, por qualquer razão, a pessoa não puder escrever. É claro
que se o impetrante estiver representado por advogado, com procuração, bastará a assinatura do
causídico.
e) redação na língua portuguesa. O estrangeiro pode impetrar habeas corpus, mas terá que
fazê-lo no idioma português.
No habeas corpus, a petição inicial deve vir instruída com a prova documental da coação ou
ameaça de coação ilegal. Exige-se, portanto, a pré-constituída.
Toda a prova deve ser produzida com a apresentação da inicial, pois no procedimento de
habeas corpus não há dilação probatória, ou seja, não há oportunidade para a produção de prova
testemunhal ou pericial, mas nada obsta que o paciente seja interrogado pelo magistrado.
Em casos muito excepcionais, entretanto, uma corrente sugere a oitiva de testemunhas. Outra,
ao revés, nega esta possibilidade, pois ela é incompatível com a celeridade do procedimento.
Medida liminar
O CPP é omisso acerca da liminar em habeas corpus, mas, por analogia, à lei de mandado de
segurança, o juiz deve analisar se concede ou não a liminar pleiteada.
Se a liminar não for requerida, ainda assim o magistrado deve concedê-la quando ela revelar-
se necessária.
No habeas corpus impetrado no tribunal, a decisão sobre a liminar competirá ao relator, mas o
julgamento definitivo será feito pelo órgão colegiado (câmara ou turma).
Contra a decisão que denega a liminar em habeas corpus, não é cabível outro habeas corpus,
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No habeas corpus impetrado em primeiro grau, o CPP não prevê as informações da autoridade
coatora, mas, sim, que ela lhe apresente o paciente que estiver preso, se assim houver ordenado o
juiz.
Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará a sua apresentação, salvo:
I - grave enfermidade do paciente;
Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a detenção;
III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz ou pelo tribunal.
O juiz poderá ir ao local em que o paciente se encontrar, se este não puder ser apresentado
por motivo de doença (art. 657, parágrafo único, do CPP).
Cumpre acrescentar, entretanto, que a apresentação do preso é uma mera faculdade do juiz
ou tribunal.
Na prática, porém, o juiz costuma requisitar informações à autoridade coatora e dispensa a
apresentação do preso.
No procedimento de habeas corpus junto ao tribunal, o CPP prevê que as informações, quando
necessárias, serão requisitadas à autoridade coatora.
Estas informações devem ser apresentadas por escrito e podem virem instruídas com
documentos.
Na prática, conforme já dito, no habeas corpus de primeiro grau o magistrado também costuma
requisitar estas informações.
As informações não serão exigidas em duas situações:
a) quando a hipótese for de carência de ação, pois, nesse caso, a petição inicial será indeferida.
Antes de indeferi-la, porém, se o vício for sanável, deverá ser dada oportunidade para o
preenchimento dos requisitos faltantes e, em caso de não atendimento, a inicial será indeferida.
b) quando a ilegalidade do constrangimento for evidente.
A recusa ou o atraso em prestar as informações enseja uma muita à autoridade coatora (art.
655 do CPP).
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A lei não prevê a intervenção do Ministério Público nos procedimentos de habeas corpus em
primeiro grau, mas será necessário intimá-lo da decisão final, quer se trate de concessão ou
denegação da ordem, para que ele possa exercer o direito de recorrer.
Na doutrina, valiosas opiniões sustentam que, por analogia ao procedimento do tribunal e
também para que se preserve o princípio do contraditório, o Ministério Público também deveria ser
ouvido antes de o juiz prolatar a decisão final.
A verdade, porém, é que, no habeas corpus de primeiro grau, possibilitar a intervenção do
Ministério Público será uma mera faculdade do juiz.
Por outro lado, o parecer do Ministério Público é previsto no procedimento do habeas corpus
impetrado no tribunal.
O assunto não é disciplinado no CPP, mas pelo Decreto-lei 552/69.
A vista ao Ministério Público será concedida após a prestação das informações pela autoridade
coatora salvo se o relator entender desnecessário solicitá-las, ou se solicitadas, não tiverem sido
prestadas.
Com efeito, ao Ministério Público será sempre concedida, nos Tribunais Federais ou Estaduais,
vista dos autos relativos a processos de " habeas corpus " originários ou em grau de recurso pelo
prazo de 2 (dois) dias.
Findo esse prazo de dois dias, os autos, com ou sem parecer serão conclusos ao relator para
julgamento, independentemente de pauta.
Decisão
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Sustentação oral
Recursos
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Assistente de acusação
É pacífico que o assistente de acusação não poderá intervir em habeas corpus, pois o art. 271
do CPP não lhe contempla essa possibilidade.
Aliás, em primeiro grau, a lei não prevê nem a intervenção do Ministério Público.
Quanto à legitimidade do assistente de acusação, para recorrer da decisão concessiva de
habeas corpus, é negada pelo STF.
A propósito, dispõe a sua súmula 208:
“O assistente do Ministério Público não pode recorrer, extraordinariamente, de decisão
concessiva de habeas corpus”.
O raciocínio é válido para todos os recursos, pois é baseado na falta de interesse de agir.
Entretanto, com o advento da Lei 12.403/11, que conferiu nova redação ao art. 311 do CPP, o
assistente de acusação passou a ter legitimidade para requerer a prisão preventiva e, por
consequência, inúmeros processualistas proclamam acertadamente a revogação da súmula 208 do
STF para lhe deferir também, por razões lógicas, o direito de recorrer da decisão concessiva de
habeas corpus.
Efeito extensivo
A decisão concessiva de habeas corpus, por aplicação analógica do art. 580 do CPP, poderá ter
efeito extensivo para beneficiar corréus que se encontrem na mesma situação que o paciente, desde
que a ordem não tenha sido concedida por razões exclusivamente pessoais.
Coisa julgada
A decisão que concede habeas corpus não faz coisa julgada material, pois nada obsta que,
diante de novas provas, seja novamente decretada a prisão.
Se, entretanto, o habeas corpus for concedido para se trancar o inquérito policial ou a ação
penal por fato atípico ou extinção da punibilidade haverá, após o esgotamento das vias recursais, a
coisa julgada material.
Quanto à decisão denegatória de habeas corpus, também não faz coisa julgada material, pois,
diante de novas provas, outro habeas corpus poderá ser impetrado.
O novo pedido, entretanto, não poderá se basear nas mesmas provas do anterior, sob pena de
indeferimento da inicial.
A denegação do habeas corpus pelo tribunal não obsta que o magistrado de primeiro grau
acolha a pretensão do réu, pois, conforme já dito, o que se decide em habeas corpus não faz coisa
julgada material, tendo em vista que o procedimento do remédio heróico é caracterizado pela
limitação probatória.
Se, por exemplo, o tribunal rejeita o habeas corpus, onde se pleiteava a extinção da
punibilidade ou a atipicidade do fato, nada obsta que o juiz de primeiro grau venha a acolher estas
pretensões.
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Conceito
Fundamento
O habeas corpus coletivo não é previsto na lei nem na Constituição Federal e, por isso, o assunto
é polêmico.
Uma primeira corrente nega-lhe a possibilidade, por falta de previsão legal, outrossim, pelo
fato de art. 654, §1o do CPP exigir a identificação do paciente na petição inicial do remédio heróico.
Outra corrente, entretanto, o admite, com base nos seguintes argumentos:
a) interpretação lógica da Constituição Federal, que admite a tutela coletiva em direitos
patrimoniais e, por consequência, não seria razoável negá-la para o direito de ir e vir. De fato, a
Constituição admite expressamente o mandado de segurança coletivo e a ação civil pública, que
tutelam o direito coletivo em sentido amplo, que abrange o direito difuso, o direito coletivo em
sentido estrito e os direitos individuais homogêneos. A Lei 13.300/2016 também disciplina o
mandado de injunção coletivo. Antes de ser regulamentado por lei, a jurisprudência já admitia, por
analogia ao mandado de segurança, o mandado de injunção coletivo e, por isso, não há razão para
se negar o recurso analógico em relação ao habeas corpus coletivo.
b) a Lei de Ação Civil Pública admite a tutela de qualquer direito difuso e coletivo e, por
consequência, não faz sentido excluir dessa tutela o direito à liberdade de locomoção (art. 1º, IV, da
Lei 7.347/85).
c) princípio constitucional da máxima efetividade das normas constitucionais, cuja
interpretação deve ser a mais ampla possível.
d) princípio constitucional da duração razoável do processo, pois no habeas corpus coletivo,
através de uma decisão, se beneficia um grande número de pessoas.
e) princípio da máxima efetividade da prestação jurisdicional;
f) diálogo das fontes com as normas que disciplinam a tutela coletiva no mandado de
segurança, mandado de injunção e ação civil pública.
O STF já se pronunciou contra e a favor do habeas corpus coletivo.
Há uma tendência em proibi-lo em situações normais e admiti-lo contra as decisões ditas
teratológicas, ou seja, manifestamente ilegais.
O ideal seria admiti-lo sempre, pois o argumento imposto pelos seus detratores, de que a
petição inicial deve conter a qualificação do paciente, não é razoável, pois esta identificação pode ser
feita a posteriori.
Ademais, o art. 259 do CPP permite a representação, a denúncia e a decretação da prisão
preventiva, quando houver a impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro
nome ou outros qualificativos, desde que certa a sua identidade física.
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Legitimidade ativa
O habeas corpus 143.641 foi impetrado pela Defensoria Pública da União junto ao STF em favor
de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, com o
objetivo de substituir a prisão preventiva comum pela prisão preventiva domiciliar.
Com efeito, dispõe o art. 318-A do CPP:
“A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente”.
Figuraram como autoridades coatoras todos os juízes e tribunais criminais, inclusive, o STJ, pois
o benefício da prisão preventiva domiciliar vinha sendo negado por imposição de exigências não
previstas em lei.
Neste habeas corpus, inúmeras Defensorias Públicas estaduais ingressaram como “amucus
curiae”. Estas Defensorias, entretanto, devido à abrangência nacional desta medida, não puderam
impetrar este remédio heróico.
O STF concedeu a ordem, determinando a substituição da prisão preventiva comum pela prisão
preventiva domiciliar, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, ordenando aos juízes que agissem de
ofício para cumprimento da ordem, com exclusão das presas que:
a) cometeram crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
b) cometeram o crime contra seu filho ou dependente;
c) em situações excepcionalíssimas, devidamente fundamentada pelo juiz.
O STF ainda ordenou que o benefício fosse aplicado às presas reincidentes, mas ressalvou a não
aplicação às presas com condenação transitada em julgado.
Estranhamente, o STF ainda ressalvou que o descumprimento da ordem pelos juízes não
poderá ensejar reclamação constitucional, mas apenas o recurso cabível contra a denegação de
habeas corpus que, em primeira instância, é o recurso em sentido estrito.
Revisão criminal
Conceito
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Revisão criminal é a ação proposta, com fundamento no erro judiciário, para desconstituição
da coisa julgada material em relação às sentenças penais condenatórias e absolutórias impróprias.
Não há possibilidade de revisão criminal das sentenças absolutórias próprias, pois, no Brasil, é
vedada a revisão criminal “pro societate”, isto é, prejudicial ao réu.
De fato, a aplicação do princípio do “favor rei” veda a revisão criminal pro societate.
Esta vedação consta expressamente no art. 8.4 do Pacto de São José da Costa Rica ao dispor
que:
“O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo
processo pelos mesmos fatos”.
Fundamento constitucional
A revisão criminal é prevista implicitamente no art.5º, LXXV, da CF, que prevê a indenização por
erro judiciário.
Outrossim, nos arts. 102, I, “j”, e 105, I, “e” da CF, que cuidam da revisão criminal de
competência do STF e STJ.
A coisa julgada é protegida pelo art.5º, XXXVI, da CF e, por isso, a sua desconstituição também
é prevista na Constituição. Do contrário, seria inconstitucional a disciplina da revisão criminal apenas
no CPP.
Fundamento legal
A revisão criminal está prevista nos arts. 621 a 631, todos do Código de Processo Penal.
Natureza jurídica
Objetivos
A revisão criminal não se confunde com recurso, embora ambos estejam disciplinados no
mesmo capítulo do CPP e se prestam à impugnação de decisões judiciais.
Com efeito, o recurso é interposto antes do trânsito em julgado, ao passo que a revisão criminal
só pode ser movida depois.
O recurso só será conhecido quando tempestivo; a revisão criminal não se sujeita a prazo,
podendo ser proposta até depois do cumprimento da pena ou da morte do condenado.
O recurso pode ser impetrado tanto em favor da acusação quanto em favor do réu; a revisão
criminal só é possível para beneficiar o réu.
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A revisão criminal também se distingue da ação rescisória, que é disciplinada pelo CPC, embora
ambas só possam ser ajuizadas após o trânsito em julgado.
Com efeito, a ação rescisória só pode ser proposta dentro do prazo de dois anos, a contar do
trânsito em julgado; a revisão criminal pode ser ajuizada a qualquer tempo.
A ação rescisória pode ser movida para beneficiar qualquer das partes sucumbentes; a revisão
criminal é só para beneficiar o réu.
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Na revisão criminal, por analogia à norma que permite conceder habeas corpus de ofício, o
tribunal poderá julgar fora e além do pedido. Se, por exemplo, o pedido for de diminuição da pena,
o tribunal poderá absolver o réu, ä vista das provas de sua inocência.
Coisa julgada
O acórdão que julga improcedente a revisão criminal, após o trânsito em julgado, faz coisa
julgada material, pois não poderá ser desconstituído por outra revisão criminal idêntica à anterior.
Caso surjam novos elementos probatórios, será admitida uma nova revisão criminal, com base
no mesmo fundamento, que não se confunde com a anterior, à medida que a causa de pedir se revela
diferente.
Igualmente, mesmo sem provas novas, será possível uma outra revisão criminal baseada em
fundamento diverso, que, diante da alternância da causa de pedir, não se confunde com a anterior.
No tocante à revisão criminal que é julgada procedente, a coisa julgada se revela ainda mais
evidente, pois não poderá ser desconstituída nem à vista de novos elementos probatórios.
Legitimidade ativa
De acordo com o art. 623 do CPP, a revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por
procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.
O condenado foragido também poderá interpor revisão criminal.
A propósito, dispõe a súmula 393 do STF:
“Para requerer revisão criminal, o condenado não é obrigado a recolher-se à prisão”.
Quanto ao companheiro da união estável ou homoafetiva, malgrado o silêncio da lei, também
desfruta de legitimidade, em caso de morte do réu, pois a situação, por força do princípio da
isonomia, se equipara ao casamento.
A lei não prevê a legitimidade do Ministério Público e, por isso, uma corrente dominante lhe
nega essa possibilidade. Outra admite, pois não teria sentido quedar-se inerte diante de uma
condenação injusta ou ilegal, pois uma de suas funções é a defesa dos direitos individuais
indisponíveis.
Desnecessidade de advogado
As pessoas legitimadas podem propor a revisão criminal sem advogado (art. 623 do CPP).
O STF já decidiu pela recepção do citado art. 623 pela Constituição Federal de 1988, pois o art.
133 da CF não tem caráter absoluto.
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Assim, o réu possui capacidade postulatória para propor revisão criminal, nos termos do art.
623 do CPP, que foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 e não foi revogado pela Lei n.
8.906/94 – Estatuto da Advocacia (STJ).
Entretanto, para que se preserve o princípio da necessidade da defesa técnica, o relator deverá
nomear advogado dativo ao autor da ação.
O advogado que mover a revisão criminal deverá apresentar o instrumento de procuração, sem
a necessidade de poderes especiais. Basta, destarte, a procuração com a cláusula “ad judicia”.
Quando, no curso da revisão, falecer a pessoa, cuja condenação tiver de ser revista, o
presidente do tribunal nomeará curador para a defesa (art. 631 do CPP)
Não há, pois, em razão da morte, a suspensão do processo, que prosseguirá com o curador no
polo ativo até que um dos sucessores, por iniciativa própria, se habilite no processo.
Legitimidade passiva
Em não havendo pedido de indenização, o réu da revisão criminal será o Estado, representado
pelo Ministério Público, mas nada obsta que ele opine pela absolvição.
No tocante, porém, ao pedido de indenização, há duas correntes.
Uma primeira sustenta que a legitimidade passiva é da União ou dos Estados-membros, através
dos seus procuradores, conforme a Justiça de onde emanou a condenação.
Outra preconiza que o réu da revisão criminal será também Ministério Público, que atuará
como substituto processual da União ou dos Estados-membros.
Este ponto de vista não se sustenta, pois o Ministério Público não pode representar
judicialmente as entidades pública (art. 129, IX, da CF).
Assistente de acusação
Embora a eventual absolvição possa influir no direito à indenização, não há previsão legal para
a vítima ingressar na revisão criminal como assistente de acusação.
Outra corrente minoritária admite, porém, a sua intervenção.
Interesse de agir
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Na revisão criminal, para que o pedido seja juridicamente possível, é necessário que haja uma
sentença condenatória ou absolutória imprópria, transitada em julgado.
Conquanto o art. 621 do CPP se refira apenas à sentença condenatória, é pacífico o cabimento
da revisão criminal em relação à sentença absolutória imprópria, que impõe medida de segurança,
pois, em sentido amplo, também contém uma condenação.
A sentença condenatória ou absolutória imprópria do JECRIM também comporta a revisão
criminal, pois a lei 9.099/95 limitou-se a proibir a ação rescisória.
Em contrapartida, a sentença homologatória de transação penal não comporta revisão
criminal, pois ela apenas ratifica a vontade das partes, sem analisar a culpabilidade.
No tocante às decisões do juiz da execução penal, a corrente dominante é que, diante da
taxatividade do rol do art. 621 do CPP, não é cabível a revisão criminal, mas o STJ chegou a admiti-la
numa hipótese de indeferimento do pedido de unificação das penas (HC 134.321/RS).
Quanto à sentença absolutória própria, não admite a revisão criminal, nem mesmo para se
alterar o fundamento da absolvição.
Da mesma forma, não é cabível revisão criminal contra a decisão de pronúncia.
Igualmente, a sentença inexistente, por exemplo, proferida por juiz impedido, não necessita de
revisão criminal, pois será simplesmente ignorada e desentranhada do processo, devendo outra ser
proferida em seu lugar.
Convém recordar que a decisão que, com base em atestado de óbito falso extinguiu a
punibilidade, é tida como inexistente, devendo o processo prosseguir.
Outra corrente minoritária , entretanto, sustenta que não há o que se fazer, ainda que o réu
apareça vivo, diante da vedação da revisão criminal “pro societate”.
Referentemente à sentença condenatória ou absolutória imprópria, cuja extinção da
punibilidade tenha ocorrido somente após o trânsito em julgado, também poderá ser objeto de
revisão criminal, salvo quando houver “abolitio criminis”, mas se a extinção da punibilidade houver
ocorrido antes do trânsito em julgado será vedada a revisão criminal, pois, nesse caso, a condenação
não chegou a transitar em julgado.
No tocante à sentença concessiva do perdão judicial, não poderá ser objeto de revisão criminal,
pois não é condenatória, mas meramente declaratória (súmula 18 do STJ). Os autores que a
consideram condenatória admitem a revisão criminal para desconstituí-la, mas este ponto de vista
está superado pela jurisprudência.
De acordo com o art. 621 do CPP, a revisão dos processos findos será admitida quando a
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sentença:
I) for contrária ao texto expresso da lei penal;
II) for contrária à evidência dos autos;
III) se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos;
IV) houver, após a sentença, a descoberta de novas provas de inocência do condenado ou de
circunstância que determine ou autorize a diminuição da pena.
O art. 626 do CPP também autoriza a revisão criminal nos casos de nulidade absoluta do
processo anterior.
Estas hipóteses são taxativas, pois fora delas a presunção de verdade estabelecida pela coisa
julgada não admitirá prova em contrário.
Assim, as exceções à imutabilidade da coisa julgada não comportam a aplicação analógica.
Passo agora à análise destas hipóteses.
Aqui, nesta segunda hipótese, a jurisprudência é rigorosa, pois só aceita a revisão criminal com
base neste fundamento quando a sentença não se fundamentar em nenhuma prova.
Caso tenha se baseado numa única prova, ainda que frágil, não será admitida a revisão criminal,
pois através dela não se pode pleitear a absolvição por insuficiência de provas, sob pena de
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Esta terceira hipótese de cabimento da revisão criminal ocorre quando a condenação se fundar
em prova falsa, ou seja, em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos. Não
basta a descoberta da falsidade da prova, pois é preciso que a aludida prova tenha sido o único ou o
principal fundamento da condenação, do agravamento da pena ou do afastamento do benefício
previsto para o réu.
Se, a despeito de sua influência, havia outras provas que, por si sós, também justificavam a
condenação, a revisão criminal será julgada improcedente.
A falsidade da prova, segundo a corrente dominante, deve ser feita noutro processo, que pode
ser uma ação cautelar de justificação, uma ação penal por falso testemunho ou uma ação declaratória
de falsidade documental.
É, pois, minoritária a corrente que permite que a falsidade seja demostrada no bojo do
processo de revisão criminal.
Assim, a petição inicial da revisão criminal deve vir acompanhada da prova da falsidade, sob
pena de indeferimento liminar.
Quando, após a sentença, houver a descoberta de novas provas de inocência do condenado ou
de circunstância que determine ou autorize a diminuição da pena (art. 621, IV, do CPP)
Esta quarta hipótese de revisão criminal se verifica quando, após a sentença, se descobrirem
novas provas da inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize
diminuição da pena.
A prova nova não precisa ser posterior à condenação, mas ela deve ser decisiva para se alterar
o resultado do julgamento anterior. Se ela gerar apenas a dúvida acerca da inocência do réu, a revisão
criminal será julgada improcedente.
Assim, a prova nova, que justifica o ajuizamento da revisão criminal, deve atender os seguintes
requisitos:
a) ter potencial para absolvição ou redução da pena. Exemplo: retratação feita pela vítima ou
por alguma testemunha importante.
b) não ter sido produzida oportunamente no processo anterior. Pouco importa os motivos de
não ter sido juntada anteriormente. Ainda que a o réu ou seu defensor conhecessem a prova, mas
não a produziram por negligência ou alguma dificuldade, ela servirá de base para a revisão criminal.
Caso a prova tenha sido juntada somente após a sentença, não sendo apreciada pelo tribunal no
recurso de apelação, ela também poderá embasar uma revisão criminal.
c) produção prévia da prova nova antes de se ajuizar a revisão criminal. A revisão criminal exige
prova pré-constituída e, por isso, a prova nova deve ser produzida previamente em procedimento
de justificação, que segue o rito da produção antecipada de provas, previsto nos arts. 381 a 385 do
CPC, aplicável de forma subsidiária ao CPP.
Quanto à prova que foi examinada pela sentença, não poderá fundamentar uma revisão
criminal, salvo se, em razão da evolução da ciência, se detectar a erronia na sua produção anterior,
como no caso do surgimento do exame DNA para comprovar paternidades, que antigamente eram
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