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Fillme Escolarizando o Mundo.

O documentário Escolarizando o Mundo ajuda-nos a pensarmos a


docência pós-2020, pois traz como tema principal a questão da forma escolar,
quer seja, de um currículo homogêneo no mundo capitalista globalizado. Tendo
em mente a forma escolar como foi apresentada por Rui Canário, as escolas
mostradas no longa são evidentemente colocadas como um espaço de
formalidade que faz a manutenção da mão de obra e de consumidores para um
sistema social inspirado no ocidente. Dentro desse espaço é criada uma
relação pedagógica e a socialização se torna hegemônica. Os "mais educados"
são vistos como elitizados, embora muitas vezes isso signifique ter que deixar
de lado a sua cultura, a sua aldeia e outras formas de conhecimentos que são
válidas, mas não são valorizadas dentro do capitalismo globalizado. Muitos
jovens e as suas famílias ao longo do documentário evidenciam essa falta de
pertencimento, essa inversão de valores culturais, ao mesmo tempo em que
têm um conhecimento que, dividido entre o fazer e o aprender, não são "úteis"
no seu lugar de origem.

A instituição escolar dentro do documentário é evidente inspirada nos


conventos e nos exércitos, possuindo um fluxo de tarefas e de ações
interligadas a um conjunto de regras. Como por exemplo, a cena em que os
jovens reproduzem comandos militares de forma quase síncrona, ou a
proibição de utilizar outro idioma que não seja o inglês. A partir disso pode-se
analisar alguns pontos como o rigor no horário, na cobrança do uniforme e nas
subdivisões dos grupos de alunos caracterizando, dessa forma, instituições do
tipo burocráticas. As escolas dentro do Escolarizado o Mundo não possuem
as características de um processo de ensino-aprendizagem multidimensional,
ou seja, aquele que de acordo com Candau articula as dimensões humana,
técnica e política a partir da contextualização tanto individual quanto coletiva.
Esses são pontos essenciais para trabalhar a reflexão a partir de experiências
concretas e exercitar a mente dos alunos como um instrumento crítico e
funcional no mundo em que vivem. No documentário esses pontos são
"despercebidos" uma vez em que a relação pedagógica existente ali é limitada,
não se escuta o que os alunos dizem, não se ensina a criticidade e eles não
são engajados no mundo, logo, o ensino é unidimensional.

Analisando o contexto do filme e dessas instituições até aqui, é


possível deduzir que as avaliações dadas são apenas a de conteúdo, ou seja,
não importa o processo, apenas o número, a nota obtida. O ideal seria, de
acordo com Zabala, que ocorresse a Avaliação Formativa. Como o nome já
induz, se preocupa com a formação e se constitui em uma avaliação inicial, a
partir da qual um planejamento para as aulas e para o conteúdo é feito. Mais
para frente, haveria a adequação do plano de acordo com a análise das
respostas dos alunos, depois uma avaliação final e por último uma integradora.
Se formos olhar a sala de aula no documentário perceberemos que ela mantém
uma linha tradicional, ou seja: com uma autoridade outorgada, em um espaço
que expira sentimentos como solidão, obrigação e arrogância, extremamente
conteudista e como já foi apontado, com uma socialização homogênea. Esses
pontos não colaboram para uma nova forma de avaliação e não condizem com
a multidimensionalidade do processo de ensino-aprendizagem. A proposta
conciliadora seria, de acordo com Fazenda, aquela em que a sala de aula
possui interdisciplinaridade, na qual existe o diálogo e a relação de autoridade
é conquistada. Esse espaço seria tomado por sentimentos positivos como
cooperatividade, satisfação, humildade e dessa forma o conteúdo seria
produzido em conjunto e o grupo se estabeleceria de forma heterogênea.

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