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194 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 117, p. 194-196, jan./mar. 2014
fim, nega a existência de uma “nova ques‑ mulheres e o desemprego crônico”. Mostra
tão social”, conforme postulam Castel e que esses aspectos não podem ser tratados
Rosanvallon, situando-a na atualidade como isoladamente, pois todos eles fazem parte
expressões da crise estrutural manifesta a das lutas não integráveis à lógica do capital.
partir dos anos 1970. Isto significa dizer que todas as formas de
Pimentel busca desvelar as bases ma‑ manifestação da questão social em tempos
teriais do pauperismo por intermédio dos de crise estrutural são agravadas, pois “o
apontamentos marxianos contidos na lei capital jamais resolveu ao menos a menor
geral da acumulação capitalista. A autora de suas contradições”.
argumenta que a lógica do sistema do capi‑ No quarto e último capítulo, após ter
tal consiste em acumular privadamente as desenvolvido a base teórica para a leitura do
riquezas socialmente produzidas, enquanto fenômeno do pauperismo, Pimentel volta-se
a outra fração da sociedade padece no mais para as teorias que afirmam ser possível mi‑
puro pauperismo. Por este motivo, situa “o norar as sequelas da questão social, reavendo
sistema de causalidades do pauperismo nos “a coesão e o equilíbrio da estrutura social”.
modos de expansão e acumulação do capi‑ Assim, surgiram assertivas que dão conta de
tal”, destacando o caráter inevitavelmente uma “nova questão social”, a partir do fene‑
antagônico do modo de produção capitalista. cimento do Welfare State. E a solução para
Em seu segundo capítulo, Pimentel tal problema seria, evidentemente, o retorno
remete a análise da natureza e dos limites aos velhos padrões do Estado-providência.
do sistema do capital à atualidade. Para Dando especial atenção à teoria de Robert
tanto, apoia-se na produção de Mészáros, Castel e Pierre Rosanvallon, a autora chega
compartilhando da ideia de que o capital à conclusão de que ambos almejavam “cor‑
funciona como um círculo vicioso, do qual só rigir as distorções que levam às formas mais
se pode desvencilhar a partir da compreensão desumanas da organização dessa sociedade,
dos fundamentos do sistema em sua fase mantendo sua estrutura intocada”.
plenamente desenvolvida. Vislumbra, Para a autora, Castel e Rosanvallon
assim, o alcance dos limites absolutos do defendem uma perspectiva conservadora
capital, manifestos em todos os aspectos da porque se preocupam em evitar uma “insur‑
sociedade e abarcados sob o estigma de uma reição dos trabalhadores e, assim, contribuir
crise estrutural. na manutenção e reprodução da ordem
No terceiro capítulo a autora dá se‑ sociometabólica estabelecida”. Analisam
quência à análise dos escritos de Mészáros, os fenômenos sociais de forma superficial,
destacando as características, formas de sem procurar identificar as raízes socioeco‑
articulação e desdobramentos da crise es‑ nômicas do problema. Abrem espaço para a
trutural do capital na atualidade. Aborda mística em torno das políticas públicas como
aspectos como “o antagonismo estrutural solução para as sequelas da questão social.
entre o capital transnacional em expansão E, além disso, expressam erroneamente a
e os Estados nacionais; a destruição e de‑ ideia de uma “nova questão social” quando,
vastação do meio ambiente; a liberação das “na verdade, essas mudanças são novas for‑
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mas de expressão da denominada ‘questão o desemprego em massa, a desfiliação, a
social’, ocasionadas pela crise estrutural do exclusão social, como sugerem Castel e
capital dos anos 1970”. Rosanvallon”. Eis o mérito desse belo es‑
O livro de Pimentel coloca em bases tudo, tese de doutorado de Edlene Pimentel,
claras o fato de que a emancipação do que se faz fundamental para compreender
trabalho e a supressão das mazelas que o as bases materiais da questão social e seus
atingem desde a sua gênese histórica não reflexos na atualidade.
serão possíveis sem haver, simultaneamente,
a superação do capital e do Estado. Isto
porque “o sustentáculo material do capital
é o trabalho”, bem como porque “reestru‑ Recebido em 21/10/2013
turar o Estado nos termos propostos não ■
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