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Ensinamentos de Meishu-Sama

Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

INTRODUÇÃO

O QUE É A IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL


A Igreja Messiânica Mundial tem por finalidade construir o Paraíso
Terrestre, criando e difundindo uma civilização religiosa que se desenvolva
lado a lado com o progresso material.
Não há dúvida de que "Paraíso Terrestre" é uma expressão que se refere
ao mundo ideal, onde não existe doença, pobreza nem conflito. O "Mundo de
Miroku", anunciado por Buda, a chegada do "Reino dos Céus", profetizada por
Cristo, a "Agricultura Justa", proclamada por Nitiren, e o "Pavilhão da Doçura",
idealizado pela Igreja Tenrikyo, têm o mesmo significado. A diferença é que
não se fez indicação de tempo. Mas eu cheguei à conclusão de que o momento
se aproxima. E o que significa isto? É a hora da "Destruição da Lei", prevista
por Buda, e do "Fim do Mundo" ou "Juízo Final", profetizado por Cristo.
Seria uma felicidade se o Paraíso Terrestre pudesse ser estabelecido sem
que isso afetasse o homem. Antes, porém, é indispensável destruir o velho
mundo a que pertencemos. Para a construção do novo edifício, faz-se
necessária a demolição do prédio velho e a limpeza do terreno. Deus poupará
o que for aproveitável - e a seleção será feita por Ele. Eis a razão pela qual é
importante que o homem se torne útil para o mundo vindouro.
Ultrapassar a grande fase de transição significa ser aprovado no exame
divino, e a Fé é o único caminho para obtermos aprovação. As qualificações
para ultrapassar essa fase são as seguintes:
a) tornar-se um homem verdadeiramente sadio, e não apenas na
aparência;
b) um homem que se libertou da pobreza;
c) um homem de paz, que odeia o conflito.
Deus resguardará aqueles que tiverem essas três grandes qualificações
e deles se utilizará, como entes preciosos, no mundo que vai surgir.
Certamente não há discordância entre os desígnios de Deus e os ideais do ser
humano. Portanto, haverá um caminho que permita estabelecer as condições
requeridas. Mas como poderemos obtê-las?
Nossa Igreja tem por objetivo orientar as pessoas e transmitir-lhes a
Graça Divina, possibilitando-lhes criar tais condições.
25 de janeiro de 1949

DOUTRINA DA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL


Nós, messiânicos, cremos em Deus, Criador do Universo. Cremos que,
desde o início da Criação, Deus objetivou estabelecer o Céu na Terra e tem
atuado continuamente para a concretização desse objetivo. Com tal propósito,
fez do ser humano o Seu instrumento para servir ao bem-estar da
humanidade, condicionando a ele todas as demais criaturas e coisas. Cremos,
portanto, que a história humana do passado constitui estágios preparatórios,
degraus para se alcançar o Céu na Terra. Para cada época, Deus envia o Seu
mensageiro e as religiões necessárias, cada qual com sua missão.
Cremos que, no presente, quando o mundo vagueia em tão caótica
situação, Deus enviou o Mestre Meishu-Sama, fundador da Igreja Messiânica
Mundial, com a suprema missão de realizar o Seu sagrado objetivo de salvar
toda a humanidade. Por conseguinte, visando à concretização do Mundo Ideal,
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de eterna paz, perfeitamente consubstanciado na Verdade-Bem-Belo,


empenhamo-nos em fazer sempre o melhor, erradicando a doença, a pobreza
e o conflito, as três grandes desgraças que assolam este mundo.
11 de março de 1950

FORMAÇÃO DO MUNDO NOVO


Conforme venho esclarecendo, a nossa Igreja é uma religião que abarca
todos os campos da atividade humana e que poderia ser denominada Empresa
Construtora do Novo Mundo. Entretanto, como isso pareceria fachada de
alguma construtora civil, o jeito é chamá-la, por enquanto, Igreja Messiânica
Mundial. O objetivo dessa organização religiosa é o progresso e
desenvolvimento da civilização conciliando a ciência material e a ciência
espiritual.
Sabemos que o conhecimento científico caminha velozmente, ao passo
que o espiritual, baseado na Religião, caminha desesperadamente lento. A
religião conservou seu estado inato, sem alcançar muito progresso, desde o
início da civilização, há milhares de anos. Isso explica a grande distância entre
ela e a Ciência. Esta última veio a destacar-se, e a parte espiritual distanciou-
se a ponto de desaparecer da nossa vida. Por fim, o homem tornou-se
indiferente ao espírito, chegando a confundir Ciência com Civilização. Ele se
ajoelha diante do trono da Ciência e se satisfaz na sua condição de escravo.
Este é o aspecto do mundo moderno. Por acaso o homem não prova isso
entregando nas mãos da Ciência o que ele tem de mais precioso, que é a vida?
Embora ela não consiga garantir a vida humana, os homens modernos não o
percebem e continuam depositando-lhe cega confiança.
Deus compadeceu-se dessa cegueira e está procurando orientar o
homem através de nossa Igreja. Por meio da realidade, o Todo-Poderoso revela
que a vida não pertence à matéria, que apenas ela é invisível aos olhos
humanos, mas possui existência absoluta sob Sua direção. A melhor prova
consiste no fato de que pessoas desenganadas pela medicina são salvas
freqüentemente pelo Poder Divino.
Surge, então, a seguinte pergunta: "Por que uma questão de vital
importância, como a vida, permaneceu na obscuridade?" Efetivamente, isso
ocorreu pela necessidade de impulsionar a cultura científica até certo ponto.
Tal acontecimento faz parte da Providência Divina; é um fenômeno passageiro,
proveniente da época e, na sua fase transitória, levado ao exagero. Mas Deus
corrigirá tal exagero. Como Ele esclarece, nitidamente, o limite entre a ciência
material e a ciência espiritual, esta acertará os passos com a primeira,
progredindo e desenvolvendo-se até constituir-se um mundo realmente
civilizado. Em resumo, o mundo presente termina aqui para dar origem a um
novo mundo.
30 de julho de 1952

O PRIMEIRO MUNDO
Ao analisarmos a civilização atual, percebemos que a base de sua
estrutura é a ciência da matéria. Escreverei sobre isso a seguir, mas, em
primeiro lugar, explicarei a constituição do Universo. Serão dispensados os
detalhes que não se relacionam diretamente com o homem, abordando-se
apenas os pontos mais importantes.
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O Universo é constituído de três elementos fundamentais: Sol, Lua e


Terra. Esses elementos são formados respectivamente pela essência do fogo,
da água e da terra, que constituem o Mundo Espiritual, o Mundo Atmosférico e
o Mundo Material, os quais se fundem e se harmonizam perfeitamente. Até
agora, no entanto, só eram conhecidos o Mundo Atmosférico e o Mundo
Material; desconhecia-se a existência de mais um mundo, isto é, o Espiritual,
que a ciência da matéria não conseguiu detectar. A cultura atual formou-se
com o progresso obtido naqueles dois mundos, razão pela qual ela abrange
apenas dois terços. Na realidade, porém, o Mundo Espiritual, justamente o
terço considerado inexistente, é mais importante que os outros dois juntos,
constituindo a fonte da força fundamental. Ignorando-se a sua existência,
jamais surgirá a civilização perfeita. O fato do homem, apesar do considerável
avanço da cultura baseada no Mundo Material e no Mundo Atmosférico, não
conseguir realizar o seu maior desejo - a felicidade - comprova muito bem o
que estou afirmando.
Examinando-se atentamente a origem dessa contradição, descobrimos
que há uma profunda razão para ela. Se a humanidade, desde o começo,
conhecesse a existência do Primeiro Mundo, ou seja, o Mundo Espiritual, a
civilização material não teria alcançado o maravilhoso progresso que vemos
hoje. Isso porque do desconhecimento do Mundo Espiritual é que nasceu o
pensamento ateísta, que deu origem ao mal. Atormentada pelo sofrimento
decorrente da luta entre o mal e o bem, a humanidade só teve um recurso:
desenvolver a cultura material. Portanto, pensando bem, que representa isso
senão o profundo Plano de Deus? Há um perigo, contudo: ocorrer um colapso
da cultura material se ela progredir além de certo limite. A invenção da bomba
atômica é uma das facetas desse progresso, mas, atingido esse nível, é
chegado o tempo determinado pelos Céus de haver uma grande mudança no
desenvolvimento da cultura. Como primeiro passo, está sendo revelada a toda
a humanidade a existência do Primeiro Mundo, do qual não se tinha
conhecimento; tratando-se, porém, de uma existência invisível, logicamente
não se poderá comprová-la pelos métodos científicos. Daí a manifestação de
uma grandiosa força jamais experimentada pela humanidade, isto é, o Poder
de Deus. Como o homem contemporâneo há longo tempo está obstinado na
concepção materialista, é muito difícil convencê-lo. Entretanto, em nossa
Igreja existe o único método para se conseguir isso: o milagre do JOHREI. Por
mais ateísta que seja, o indivíduo não poderá deixar de aceitar e se submeter.
Assim, à medida que o JOHREI se tornar conhecido por toda a humanidade,
haverá inevitavelmente uma mudança de cento e oitenta graus no rumo da
cultura, surgindo, então, a Verdadeira Civilização, comum ao mundo todo.
Resta, no entanto, um problema: como a cultura atual foi erigida ao
longo de milhares de anos, não se sabe quanto mal foi praticado até agora.
Por "mal" refiro-me obviamente ao pecado e, conseqüentemente, às máculas
espirituais, cujo grande acúmulo constituirá um obstáculo para a construção
do mundo novo, É como se durante a construção de uma casa houvesse
sujeira espalhada por todo lado, como pedaços de madeira, tijolos quebrados,
etc., tornando-se indispensável uma ação de limpeza. Deve ser isto o Juízo
Final profetizado por Cristo.

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Os maravilhosos e incontáveis milagres manifestados pela nossa Igreja


não poderão ser senão o plano de Deus para mostrar a existência do Primeiro
Mundo. E Deus me encarregou desta grandiosa missão.
4 de julho de 1951

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CARACTERÍSTICAS DA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL

O QUE É A VERDADEIRA SALVAÇÃO


Hoje em dia, a crítica mais freqüente em relação à nossa Igreja é que,
tratando-se de uma entidade religiosa, não deveria empenhar-se na cura de
doenças. Entretanto, se pensarmos bem, concluiremos que não há nada tão
sem sentido como essa observação. Ela provém do pensamento limitado dos
críticos, segundo os quais a Religião deve ocupar-se apenas da salvação do
espírito, não lhe cabendo a salvação da matéria. Para eles, a cura de doenças
é uma questão material, e por isso acham que ela não compete à Religião.
Excluem das atribuições religiosas a salvação material, limitando a essência
da Religião à parte espiritual. Logicamente, de acordo com o seu conceito, a
salvação espiritual, em síntese, consiste na renúncia. Não tendo o Poder da
Salvação para eliminar materialmente o sofrimento e não encontrando outro
recurso, as religiões, pelo menos, tentam diminuí-lo espiritualmente, através
da renúncia. Essa é a maneira como muitas pessoas têm encarado a Religião
até agora.
Não obstante, se a Religião excluir a matéria e preocupar-se unicamente
com a salvação do espírito, ela não estará promovendo a verdadeira salvação,
pois a crença na possibilidade da solução dos problemas materiais é que nos
permitirá obter a verdadeira tranqüilidade espiritual. Quando sentimos fome,
por exemplo, só podemos ficar tranqüilos se tivermos certeza de que alguém
nos trará comida; se soubermos que ninguém o fará, é natural que fiquemos
desesperados, temendo morrer de inanição. O mesmo acontece em relação à
doença, dificuldades financeiras e outros problemas. Só pelo reconhecimento
de que tudo será solucionado através da Fé teremos tranqüilidade absoluta.
Dessa forma, a salvação das duas partes - a material e a espiritual - é que nos
fará sentir-nos salvos, alcançando o estado de verdadeira paz e segurança.
A base da salvação material e espiritual - aquela que é a mais perfeita -
consiste, portanto, unicamente, em eliminar a doença, tornando as pessoas
sadias. Por maior que seja a nossa fortuna ou a quantidade e variedade dos
mais saborosos alimentos, provenientes do mar e da terra, em nossas
refeições, por maiores honrarias e por mais elevada posição social que
tenhamos, isso de nada adiantará, se estivermos sofrendo com doenças. A
primeira condição para salvação da humanidade é, antes de mais nada,
alcançar a saúde. Por esse motivo, a meta de nossa religião é formar
indivíduos e sociedades saudáveis.
24 de dezembro de 1949

CARACTERÍSTICAS DA SALVAÇÃO PELA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL


A missão da nossa Igreja é tirar as pessoas das torturas do Inferno e
conduzi-las ao Céu, transformando a sociedade num paraíso.
Para que o homem seja conduzido ao Céu, é necessário que ele próprio
se eleve, tornando-se um ente celestial, a fim de que, por sua vez, possa
salvar o seu semelhante. Isso significa pendurar a escada do Céu até o Inferno
e estender as mãos para puxar o homem, degrau por degrau. É nesse ponto
que nossa religião difere das demais, sendo antes o seu oposto.
Todos sabem que os antigos religiosos contentavam-se com o mínimo
necessário à sua subsistência. Eles se entregavam a penitências e procuravam
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salvar o próximo colocando-se numa situação miserável. Isso significa que


estavam usando a escada em sentido contrário. O salvador empurrava os
necessitados de baixo para cima, ao invés de puxá-los lá do alto; é fácil
calcular o duplo esforço exigido. Mas não havia alternativa, visto que, nessa
época, ainda não existia a noção do plano do Paraíso.
Naturalmente não havia chegado o tempo, pois a noite cobria o Mundo
Espiritual. Entretanto, a partir de 1931, o Mundo Espiritual vem gradualmente
se transformando em dia, facilitando a construção do Paraíso na Terra. Sendo
Deus o construtor, a obra progride à mercê do tempo, bastando ao homem
agir de acordo com a Vontade Divina. Deus traçou o plano, fiscalizando e
utilizando livremente um número considerável de criaturas.
A idéia exata que se pode ter da minha função, é a de mestre-de-obras
local. Os nossos fiéis sabem perfeitamente que estou construindo o protótipo
do Paraíso Terrestre, como parte dessa função. Aparecem-me, então,
vendedores que me oferecem terrenos em momentos e locais inesperados.
Assim que percebo a Vontade Divina de adquirir determinado terreno, surge a
quantia requerida, sem que eu empregue o mínimo esforço. Logo a seguir
consigo, infalivelmente e à vontade, não só os mais adequados projetistas,
engenheiros e construtores, como também o material necessário. Até mesmo
uma árvore aparece oportunamente, já existindo lugar apropriado para ela. Às
vezes eu me sinto perplexo ao receber árvores às dezenas, de uma só vez.
Planto-as estudando o espaço, interpretando a Vontade Divina, e verifico que
elas se encaixam maravilhosamente no jardim, sem falhas nem excesso.
Sempre que isso acontece, não posso deixar de sentir, claramente, a Vontade
de Deus em tudo. Se desejo colocar uma pedra ou uma planta em
determinado lugar, recebo-as dentro de um ou dois dias no máximo. O que
vêm a ser todas essas ocorrências senão milagres? Caso eu começasse a
enumerá-los, não acabaria mais. E o que estou dizendo não passa de uma
pequena parte do que pretendo expor com o tempo.
Escrevi este capítulo com o objetivo de ajudar os leitores a
compreenderem que o homem nada empreende, que ele apenas age sob a
Orientação Divina. Pelos fatos relatados, fica bem claro que Deus pretende
formar o protótipo do Paraíso como início do advento do Paraíso Terrestre. Mas
isso não é o bastante. Compete a cada homem tornar-se um ente celestial, e é
chegado esse momento. Naturalmente, seu lar será paradisíaco e todos os
componentes da família virão a ter uma vida celestial. Somente assim poderão
ser salvas as pessoas que sofrem no "inferno".
Daí a razão por que aconselho os fiéis a criarem uma vida sem
sofrimentos, que é a Vontade do Altíssimo. Enquanto o homem não conseguir
eliminar as três desgraças - doença, pobreza e conflito - não poderá ser salvo.
Isso era impossível na Era das Trevas, mas hoje é possível. Terminou a época
de sofrimento a que se referiu Sakyamuni. Se os leitores compreenderem o
sentido desta verdade, sentir-se-ão dominados por uma alegria infinita, ainda
desconhecida na experiência da humanidade.
5 de outubro de 1949

IGREJA ABRANGENTE
Poderão compreender melhor a nossa Igreja, se a compararmos com
uma loja de departamentos. A comparação talvez não seja muito apropriada,
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mas considero-a a mais adequada e de mais fácil compreensão. Eis os


motivos:
Sempre tenho afirmado que a Igreja Messiânica Mundial abrange o
cristianismo, o xintoísmo, o budismo, o confucionismo, a Filosofia, a Ciência, a
Arte, enfim, todas as expressões da cultura. Entre elas, dedicamos especial
atenção aos problemas concernentes à doença, à saúde e à agricultura, no
campo da Ciência, e também às artes.
Logicamente, como o seu nome está mostrando, a nossa Igreja tem por
objetivo empreender a grandiosa obra de Salvação do Mundo. É natural,
portanto, que apontemos as falhas existentes em todos os setores
relacionados com a vida do homem, dispensando a este a mais elevada
orientação.
Não obstante o maravilhoso progresso da cultura contemporânea, as
falhas apresentadas por ela são tão numerosas que causam espanto. As falhas
superficiais não são muito graves, porque a própria sociedade as percebe e
pode corrigi-las; as falhas interiores, no entanto, por não serem divisadas a
olho nu, só podem ser corrigidas por um meio: desvelando-as através da Luz
de Deus. Por essa razão, estamos dissecando todos os setores da cultura
atual, a fim de que, trazendo à tona a verdadeira natureza de cada um deles,
possamos planejar a concretização de um mundo melhor. Somente dessa
forma poderemos alimentar esperanças quanto ao advento da era da
Civilização Celestial.
Eis, em breves palavras, o sentido da expressão "Igreja Abrangente."
28 de março de 1951

ULTRA-RELIGIÃO
Qualquer pessoa tomará por um sonho descabido o objetivo da nossa
Igreja - construir um mundo sem doenças, pobreza e conflitos, ou seja, o
Paraíso Terrestre, que corresponde ao "Advento do Reino dos Céus", pregado
por Cristo, ou à "Vinda do Messias", da religião judaica. Sakyamuni disse que,
depois de sua morte, surgiria um mundo perfeito. Não afirmou, entretanto,
que esse mundo estivesse iminente; ao contrário, disse estar infinitamente
longe: 5.670.000.000 de anos.
Todas essas profecias foram de grande utilidade. Se não houve
referência a um plano de execução, devemos interpretar que ainda não era
chegado o tempo, mas sabemos que a aceitação e a prática dos ensinamentos
pregados pelas religiões antigas tornaram-se o alicerce das religiões atuais.
Naturalmente, cada religião criou e divulgou os seus protótipos, formas e
métodos, adaptáveis aos diferentes povos e países. Evidentemente, as
religiões foram criadas sob o desígnio de Deus, para serem condicionadas a
determinadas épocas, localidades, povos, tradições, costumes, etc. Graças a
essa força, a cultura alcançou o deslumbrante progresso que hoje apresenta.
Não fossem as religiões, o mundo estaria à mercê de Satanás, ou talvez,
destruído.
Ao refletirmos sobre esses assuntos, não podemos deixar de levar em
consideração os grandes méritos dos fundadores de religiões. Todavia, embora
estas últimas hajam evitado a destruição do mundo, é duvidoso que o seu
poder seja eficiente para o mundo atual ou para o futuro. Isto porque a
humanidade padece de um sofrimento infernal, o que comprova a deficiência
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das Igrejas, as quais não conseguem conduzir os sofredores ao estado


celestial. Só um número restrito de povos participa dos benefícios da
civilização moderna. Presentemente, a humanidade carece muito do espírito
de paz.
Uma observação sobre o mundo atual faz com que as pessoas prudentes
sintam a necessidade do aparecimento de uma grande luz que dissipe as
trevas, isto é, o poder salvador de uma Ultra-Religião. Nesse sentido,
consciente da responsabilidade que lhe cabe como sendo esta Ultra-Religião,
nossa Igreja vem apresentando resultados surpreendentes.
20 de julho de 1949

RELIGIÃO ATIVA
Os leitores poderão estranhar quando eu disser que há religiões ativas e
religiões inativas. É justamente o que pretendo explicar agora.
Religião ativa é aquela que está relacionada com a vida prática, e a
inativa ou morta, exatamente o oposto. Infelizmente, é raro encontrar uma
religião, dentre as muitas existentes, que esteja perfeitamente entrosada com
a vida prática.
As doutrinas são elaboradas com perfeição, mas não podemos esperar
muito do seu poder doutrinário. No período da fundação de muitas religiões,
há centenas ou milhares de anos, talvez suas doutrinas estivessem de acordo
com a situação social da época, exercendo sobre ela grande influência.
Sabemos, no entanto, que esse poder foi enfraquecendo com o passar do
tempo, até atingir o estado em que hoje se encontra. Lamentavelmente, esta
é a ordem natural das coisas; tudo sofre essa mudança, que acabou ocorrendo
também no âmbito da Religião. O surto de novas religiões adaptadas à época
no decorrer destes anos, é um fato inegável, observado em todos os países.
Mas essas religiões acabam sempre desaparecendo, por faltar-lhes poder
suficiente para superar as anteriores.
Exemplifiquei as mudanças ocorridas nas religiões; agora desejo falar
sobre as características das religiões modernas.
É do conhecimento geral que o desenvolvimento da Ciência, a partir do
século XVIII, vem constituindo uma verdadeira ameaça para as religiões, e não
se pode negar que ele tenha contribuído para a sua decadência. A Ciência
dominou a tal ponto a mente humana, que o homem só aceita aquilo que tem
explicação científica. O fato ainda seria desculpável, se não tivesse dado
origem ao pensamento ateísta e à corrupção moral sem fim, criando confusão
social e transformando este mundo num verdadeiro caos. Ainda há religiões
antigas que se esforçam para doutrinar o povo com ensinamentos, os quais
foram sendo aperfeiçoados após sua elaboração, centenas de anos atrás. Mas
falta poder doutrinário a essas religiões, distantes da atualidade, e a carência
de realismo torna sua existência equivalente à das antigüidades. Na época em
que surgiram, elas foram úteis, mas hoje seu valor não vai além de uma
preciosidade histórica e cultural. Dentre as novas religiões, há algumas que se
aproveitam dessas preciosidades históricas adornando-as ricamente, para
atrair as pessoas; mas, com certeza, terão seus dias contados.
Diante de tudo isso, é admissível que a Religião tenha ficado
abandonada por muito tempo, sendo superada pelo maravilhoso progresso da
cultura. Exemplificando, é como se quiséssemos usar carro de bois numa
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época em que nos servimos de aviões, automóveis e telégrafo. A nossa Igreja


respeita a História, mas não se prende a ela, progredindo de acordo com a
Vontade Divina e através dos seus próprios métodos.
As atividades relativas à obra que estamos realizando, abrangem a
reforma da agricultura e da medicina, apontam as falhas de todas as culturas
e adotam, como princípio orientador, o ideal de uma nova civilização. Uma de
suas principais realizações vem a ser a construção do protótipo do Paraíso
Terrestre e do Museu de Arte. Além de servir-se dessas construções como
recintos sagrados, onde os espíritos maculados e exaustos possam se sentir
reconfortados, a Igreja pretende, visando o enobrecimento do caráter do
homem, torná-las um baluarte contra os divertimentos fúteis e pecaminosos
de hoje em dia.
De acordo com o exposto acima, a atividade da Igreja Messiânica
Mundial, no plano individual, consiste em salvar o homem da pobreza e
contribuir para sua saúde física e mental; no plano social, sua finalidade é
construir uma sociedade sadia e pacífica. Sentimo-nos imensamente felizes ao
saber que, ultimamente, o nosso trabalho está sendo reconhecido pelos
eruditos e tornando-se alvo de suas atenções. Embora, no momento, seja uma
obra insignificante, no dia em que ela for ampliada e difundida no mundo
inteiro, surgirá em todos os países a idéia de um mundo ideal, repleto de paz e
felicidade. Afianço que isso não é um sonho.
Que vem a ser, portanto, uma religião ativa, viva, senão a nossa, com
todos esses exemplos? Infelizmente, a sociedade atual olha as novas religiões
com indiferença e desprezo, e isso se acentua principalmente na classe
dos intelectuais, que assumem uma atitude cautelosa perante o povo, mesmo
quando se referem à nossa Igreja. Entretanto, eu compreendo perfeitamente a
razão dessa atitude. As religiões antigas geralmente contam com espantoso
número de adeptos, mas estes, na maioria, são pessoas de pouca cultura.
Entre as religiões novas, há algumas que não despertam nenhum interesse,
devido às suas palavras e práticas excêntricas; outras, possuem elementos
supersticiosos em grande proporção, que o bom senso nos leva a repelir. Creio
que isso não durará por muito tempo, mas desejo que os responsáveis por
essas religiões usem de reflexão.
Há, também, teólogos que, para adaptá-las à época, reproduzem e
vestem de uma nova roupagem as doutrinas dos antigos santos, sábios e
mestres. Isso confere a elas uma aparência progressista e de fácil aceitação
pela classe intelectual, mas resta dúvida quanto à sua validade em relação à
vida prática.
O assunto me faz recordar o pragmatismo de William James, o famoso
filósofo americano. Essa doutrina filosófica preconiza a "filosofia em ação", e
eu pretendo estendê-la também à Religião, isto é, a Religião deve ser prática e
ativa.
4 de novembro de 1953

RELIGIÃO CRIADORA DE PESSOAS FELIZES


A Religião não é nada mais do que a cristalização do amor de Deus para
guiar os infelizes ao caminho da felicidade. Ninguém ignora que muitos lutam
em vão para conseguir a felicidade almejada; raras são as pessoas que a
conseguem, depois de uma vida inteira de lutas.
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É de pouca utilidade colocar em prática a teoria que nos foi legada


através da instrução e de biografias e leituras referentes aos exemplos de
grandes personagens. A teoria bem formada merece admiração, mas todos
sabem, por experiência própria, que é difícil pô-la em prática.
Tem-se como crédulo ou simplório aquele que age com honestidade;
entretanto, se a pessoa procede diferente, cai no descrédito social e nas
malhas da Lei. Por fim, o indivíduo não sabe como agir. O que os homens
consideram bem-viver e se apressam por adotar, é a vida desonesta sob a
capa da honestidade. Os melhores adeptos dessa filosofia tornam-se os
campeões dos bem-sucedidos, razão por que as pessoas tendem a seguir tais
exemplos e o mal social não diminui.
Dizem que os honestos levam desvantagem, e tudo nos faz chegar a tal
conclusão, a julgar pelo aspecto do mundo, de modo que quanto mais honesto
for o indivíduo, tanto mais ele se arrisca a cair no conceito de "antiquado".
Observa-se com freqüência que os homens que proclamam a justiça são
repelidos e fracassam na sociedade.
É enorme o meu esforço para manter constantemente o conceito de
justiça diante de semelhante mundo. O homem comum escarnece das minhas
palavras, que ele considera crendices. Julga-me caprichoso e covarde, porque
não sou interesseiro. Sente-se importunado por enfrentarmos o mal e
destemidamente escrevermos a respeito, e também pelo nosso rápido
progresso. Ultimamente, porém, em vista da firmeza de atitude com que nos
temos mantido, apesar de todas as pressões - atitude que visa unicamente o
bem - está despertando certa consideração por nós no espírito das pessoas.
Alegra-nos, acima de tudo, que a situação tenha abrandado, facilitando o
nosso trabalho. Isso se deve à resistência que oferecemos a todas as
perseguições, tendo Deus por nosso apoio, e ao fato de a Igreja Messiânica
Mundial possuir o Johrei, inexistente nas demais religiões.
Felizmente, alcançamos a liberdade religiosa com o advento da
democracia. O ambiente ficou favorável, em comparação com o do Japão
anterior à Guerra, tornando possível, através da justiça, eliminar o mal e
caminhar ao encontro do bem.
A seguir, tratarei do problema concernente à felicidade do homem.
Naturalmente, o bem constitui a base da felicidade, sendo óbvio insistir
sobre a necessidade de ele ter força suficiente para vencer o mal. Até agora,
entretanto, na sua maioria, as religiões careciam dessa força; por conseguinte,
não proporcionavam a felicidade desejada. Sendo assim, tiveram de pregar a
Iluminação para satisfazer o povo, no seu desejo de atingir, pelo menos, a paz
espiritual, uma vez que não conseguiam obtê-la na sua totalidade, isto é,
espiritual e materialmente. Ou então pregaram a resignação, através do
espírito de expiação e do princípio de não resistência contra o mal. Criaram,
portanto, a teoria da negação da graça na vida presente, o que explica ser
classificada de superior a religião que visa a salvação do espírito, e de inferior
aquela que consegue obter, também, os benefícios do mundo. Mas essa teoria
não passou de um recurso para determinada época. Darei exemplos.
Há pessoas que, embora torturadas por uma doença prolongada, dizem-
se alegres, alegando estarem salvas quando na realidade estão apenas
resignadas, sufocando seus verdadeiros sentimentos. Isso é uma espécie de

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auto-traição. Por natureza, a verdadeira satisfação nasce com o


restabelecimento da saúde, se for esse o caso.
Em todos os tempos houve famílias que, não obstante o ardor de sua fé,
não foram agraciadas materialmente, permanecendo vítimas de desgraças.
Dessa forma, acabaram por se iludir, julgando que a essência da Religião só
objetiva a salvação espiritual.
A Igreja Messiânica Mundial salva tanto o espírito como a matéria.
Podemos afirmar que vai além disso. As obras de construção dos protótipos do
Paraíso Terrestre em diversas localidades, assim como a construção de museus
de arte que estamos realizando dependem inteiramente dos donativos dos
fiéis. A Igreja abomina a exploração, contando apenas com recebimento do
donativo espontâneo. Apesar disso, é realmente milagroso o fato de se
conseguir a quantia necessária para o empreendimento de uma obra de tal
envergadura. Isso prova a prosperidade dos fiéis. O donativo, longe de ser
temporário, tende a aumentar, razão por que nunca me preocupei com
dinheiro.
Na época em que apareceram as religiões antigas, os ensinamentos
podiam ser de caráter limitado, de Fé "Shojo", mas hoje a realidade é outra.
Tudo adquiriu caráter universal, de modo que é preciso uma organização
grandiosa, para salvar a humanidade. Quanto maior a organização, maior o
número de pessoas salvas. Por isso, ao tomar conhecimento dos seus
objetivos, ninguém deixará de reconhecer a importância da nossa Igreja.
10 de junho de 1953

RELIGIÃO QUE REVELA DEUS


Quando incentivamos as pessoas descrentes a crerem em Deus, a
maioria reage, pede que provemos com clareza a Sua existência, e assume
uma atitude intelectual, dizendo não poder perder tempo com superstições.
Essa tendência é notadamente acentuada entre as pessoas cultas. Mas
não podemos criticá-las, porque elas têm suas razões. Sua atitude explica-se
pelo fato de que a maior parte das religiões é anticientífica, sendo raras as
que não estão afetadas por superstições. Muitas não conseguem dar provas
claras da existência de Deus e criam hesitação entre a Sua existência ou
inexistência. Portanto, não é de se estranhar que haja tantas pessoas
indiferentes à Fé.
A Igreja Messiânica Mundial mostra claramente a existência de Deus.
Todos aqueles que entram em contato com ela, sentem-se maravilhados ante
a constatação dessa verdade. A melhor prova está nos inúmeros milagres e
graças alcançados, através da Igreja, pelos seus fiéis. Infelizmente, são
pouquíssimas as pessoas que crêem por meio da simples leitura ou
explanação oral das experiências de fé dos fiéis. A maioria acha-se impedida
de aceitar os fatos como realmente são, por professarem uma fé de baixo
nível. Em parte, isso se entende, mas não deixa de ser deplorável. Costumo
sempre afirmar que a nossa Igreja não é uma religião, e sim uma Ultra-
Religião, uma grandiosa obra salvadora.
Os novos fiéis costumam dizer que, no início, quando leram as nossas
publicações pela primeira vez, não conseguiram crer integralmente no que
elas expunham, achando a doutrina messiânica muito diferente não só das
doutrinas professadas por outras Igrejas, como também das teorias científicas.
11
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Considerando que nenhuma experiência é perdida, eles começaram a receber


Johrei cheios de desconfiança. Assombrados com o fato de ele consistir apenas
no levantar das mãos, pensaram em desistir, julgando impossível a cura por
meio de um ato tão simples. Entretanto, sentindo-se mais dispostos no dia
seguinte, continuaram a recebê-lo e melhoraram rapidamente. Esse é o
testemunho unânime dos que relatam sua experiência.
É justamente porque a nossa Igreja evidencia graças imediatas, pouco
comuns, que os intelectuais cometem um engano, chamando a isso de
superstição. Esse modo de interpretar e pensar não deixa de ser um grande
obstáculo; contudo, dentre os que se têm na conta de eruditos, há muitas
pessoas de mente sã que se tornam felizes por ingressarem na Fé, aceitando
plenamente a realidade evidenciada. Tanto os mais obstinados, como os
devotos da Ciência, acabam se dando por vencidos diante das provas da
existência de Deus apresentadas pela Igreja Messiânica Mundial através de
milagres sem conta, nunca manifestados antes.
9 de janeiro de 1952

ELIMINAÇÃO DA TRAGÉDIA
Entre todas as coisas do mundo, o que o homem mais detesta é a
tragédia. Eliminá-la totalmente é impossível, mas, de certo modo, não será tão
difícil diminuí-la. Passemos a estudar sua natureza.
A realidade evidencia que a maioria das tragédias é causada pela
doença. Entretanto, elas também são geradas por problemas sentimentais e
pela desonestidade proveniente de interesses materiais. Através de uma
pesquisa acurada, no entanto, descobri que todas as tragédias têm
sua raiz na enfermidade espiritual. Dizem que um espírito são habita um
corpo são, e isso é uma grande verdade. Verifiquei, após longos anos de
pesquisa, que a imoralidade, a injustiça, a impaciência, o alcoolismo, a
preguiça e a corrupção de jovens existem quase sempre em físicos doentes.
Infelizmente, ainda não se descobriram métodos positivos para
solucionar o problema da doença e restabelecer a saúde física e espiritual,
nem mesmo apelando para a medicina ou para outros meios. Ainda que se
tivesse encontrado a causa das doenças, não existiria uma forma para
resolver o problema verdadeiramente. Há quem se orgulhe de ter descoberto
a origem delas e o processo de cura; a maioria dos processos, contudo, não
passa de paliativos. É realmente desolador. Todavia, dentre os casos
milagrosos relatados em nossas publicações, encontramos muitos exemplos
da cura de doenças gravíssimas, e a alegria e gratidão dos agraciados nos
comovem até as lágrimas.
A verdadeira solução das doenças e de outras desgraças depende de
uma força invisível, e só aos que a experimentaram é dado reconhecer o
incomensurável Poder Divino. Os homens modernos não se convencem senão
através da realidade ou de provas; portanto, sem a apresentação de
resultados concretos, é inútil pregar princípios elevados e divulgá-los. Para
esses homens, a salvação da humanidade e a obra em prol da sociedade não
passam de um sonho.
A essência da verdadeira Fé consiste em mover o que é visível por ação
de um poder invisível. Esse poder maravilhoso está sendo manifestado pela

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

nossa Igreja e, por essa razão, creio eu, poderíamos dizer que ela é a Religião
do Poder.
Como a maioria das religiões hoje existentes se limita a pregar
doutrinas, suas forças agem do exterior para a alma. Mas o ato purificador
empregado pela Igreja Messiânica Mundial - o Johrei - projeta a Luz Espiritual
diretamente na alma, despertando-a instantaneamente. Isto é, a Igreja
converte a pessoa sem a intervenção humana, deixando os sermões para
segundo plano. Os que nela ingressam, alcançam rapidamente uma percepção
superficial, e, em seguida, uma percepção mais profunda. Além de superarem
as suas próprias tragédias, tornam-se aptos, também, a eliminar as tragédias
alheias.
11 de junho de 1949

A LUZ DE DEUS E A DOUTRINA


Não é a doutrina mas sim a Luz de Deus que transforma o homem. As
pessoas que consideram a Igreja Messiânica Mundial uma religião comum,
muitas vezes se perguntam por que ela não possui uma doutrina. Não penso
que ela seja importante. A doutrina é um conjunto de regras e preceitos; não
pode salvar o homem. Desde os tempos antigos quase todas as religiões
tiveram algumas de suas doutrinas bem elaboradas e consideradas.
Conseguiram elas aperfeiçoar o mundo?
Numa novela que li recentemente, o autor faz um dos seus personagens
contar o seguinte: “Quando eu era jovem assistia a aulas de religião e, um dia,
comentamos os milagres narrados na Bíblia. Alguns acreditaram neles,
enquanto que outros não. Os comentários transformaram-se em inflamado
debate. Já que eu próprio não acreditava em milagres, ao voltar para casa,
procurei arrancar as páginas da Bíblia que a eles se referiam. Mas, quando
voltei a ler, já sem essas passagens, constatei que a Bíblia era apenas um livro
de Moral”.
Isto é bastante interessante. E é verdade. Se a religião consistisse
apenas em doutrina, não ofereceria mais do que padrões morais. Eles não
bastam. Fundamentando os princípios de moral, a religião deveria dar a
consciência do grandioso poder místico e operador de milagres em ação no
Universo, e que não pode ser explicado pela lógica. A força da religião está na
apresentação deste poder místico. Quanto maiores milagres uma religião
evidenciar, tanto mais valiosa poderá ser considerada.
Vou explicar. Os mandamentos são como leis decretadas para evitar os
crimes. As leis são feitas para manter a ordem estabelecida pela sociedade e
impor penalidades nos casos de violação. Muitas religiões são fundamentadas
em mandamentos. Os mais antigos, dos conhecidos, são os Dez Mandamentos
dados a Moisés os quais, durante a Era das Trevas foram fundamentais. Mas:
“Você deve fazer isto...” ou “Você não pode fazer aquilo...” implicam
penalidades — penalidades espirituais e não físicas.
As ameaças e os castigos não são os melhores meios para evitar que o
homem pratique maldades. Um alcoólatra provavelmente não deixará de
beber apenas porque lhe dizem que o álcool lhe faz mal. Um meio muito
melhor é dissolver as máculas do seu corpo espiritual, elevando-o a um nível
onde a sua Divina natureza possa ser despertada, o que o levará a sentir uma
natural repugnância pelo álcool, ou pela maldade, conforme o caso.
13
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

É a tendência para fazer o mal ou agir desonestamente que deve ser


eliminada, pois a pessoa inclinada à prática de ações corruptas, por elas têm
preferência. Por exemplo, a essas pessoas parece, por vezes, que ganhar
dinheiro por meios desonestos é mais fascinante do que adquiri-lo
honestamente. Em tais casos, a natureza Divina ou primária encontra-se num
estado enfraquecido, enquanto que a natureza animal ou secundária está
fortalecida, o que significa que a alma está num nível baixo. Quando a alma
está em plano mais elevado, a pessoa é incapaz de tais ações.
Até que a sociedade supere esse baixo nível de consciência, é perigoso
ficar sem regulamentos legais e instituições penais. A despeito da forte ação
coercitiva das leis reguladoras, existirão muitas pessoas inclinadas a
transgredi-las. Entre elas podem ser incluídos homens que ocupam altas
funções e que têm responsabilidade social, homens que são vistos como
grandes personagens. Posição social e cargos políticos não indicam
necessariamente desenvolvimento espiritual.
Abster-se de fazer o mal, apenas pela ameaça das penalidades ou da
crítica, não é o bastante. Somente quando o homem atinge um nível onde não
sente mais o desejo de fazer o mal, onde não são as leis e regulamentos que o
impedem, quando realmente encontrou a alegria de fazer o bem, é que ele
desperta para a sua verdadeira natureza.
O homem pode não atingir subitamente os níveis mais altos, mas
alcançá-lo degrau por degrau. Os dogmas são necessários de certo modo, mas
o supremo objetivo é muitíssimo mais elevado. A Igreja Messiânica Mundial
empenha-se em elevar o indivíduo ao mais iluminado estado de consciência.
A invisível Luz de Deus, canalizada através do Johrei, alcança as
profundezas do espírito e o ilumina, mesmo quando o Johrei é recebido com
atitude cética. O Johrei desperta a natureza Divina do homem, colocando-o em
contato com a sua alma. Por isso a nossa religião não é uma religião comum.
Do ponto de vista material, esta compreensão pode ser difícil. Mas
quando se experimenta o efeito do Johrei, intui-se a Luz de Deus. Mesmo
aqueles que dão excessiva importância ao intelecto serão despertados para o
poder do Espírito sobre a Matéria, e curvarão a cabeça reverentemente.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

VERDADE

CONCRETIZAÇÃO DA VERDADE
O verdadeiro objetivo da Religião é a concretização da Verdade.
Mas que é a Verdade?
A Verdade é o próprio estado natural das coisas. O Sol desponta no
nascente e desaparece no poente; o homem inevitavelmente caminha para a
morte (essa morte a que o budismo se refere com as expressões "tudo que
nasce está sujeito a desaparecer" e "todo encontro está condenado à
separação"). O homem manter-se vivo através da respiração e da alimentação
também é Verdade. A mente humana anda tão confusa, que preciso insistir
sobre assunto tão óbvio.
Observando os revoltantes acontecimentos deste mundo, o caos
reinante na sociedade, os conflitos, a desordem, o pecado, é impossível negar
que tudo contribui mais para a infelicidade do que para a felicidade do
homem. Precisamos, pois, conhecer a razão de tais coisas. Tudo se baseia no
fato de estarmos longe da Verdade - isso é evidente. O problema é que não
temos consciência disso.
Vou explicar meu ponto de vista.
Vejo que o homem moderno perdeu a noção da Verdade. Parece que a
vida se mostra tão difícil para ele, que lhe falta tempo para refletir sobre o
assunto. A Religião, também, até hoje não tinha condições para esclarecer o
que é a Verdade, e transmitia noções falsas acreditando serem verdadeiras. Se
a Verdade pudesse ter sido revelada tal qual é, a situação humana seria muito
melhor. Talvez até tivéssemos construído algo semelhante ao Paraíso Terrestre.
Mas é chegado o tempo de revelar a Vontade de Deus e pregar a
Verdade, para que esta possa se concretizar. E a Vontade de Deus é que ela
seja transmitida claramente. Se aqueles que lerem minhas palavras tiverem a
mente livre de preconceitos, certamente hão de obter a correta visão da
Verdade.
Gostaria de dar uma explicação que todos compreendessem.
O homem adoece porque se distancia da Verdade e por motivo idêntico
não consegue curar-se. Política errônea, má ideologia, aumento de crimes,
crise financeira, inflação e deflação, tudo isso se deve, também, ao fato de o
homem desviar-se da Verdade.
Tudo que desejamos logo se realizaria se estivéssemos de acordo com a
Verdade; foi com esse propósito que Deus criou a sociedade humana. Eis por
que não é difícil a formação de uma sociedade ideal, nem é impossível ser
feliz. Nisto reside a possibilidade do advento do Paraíso Terrestre.
Alguns, talvez, achem estranhos os meus pontos de vista, mas não há
razão para isso. Tudo que estou dizendo tem muita lógica. Minhas idéias só
parecerão estranhas a quem não estiver voltado para a Verdade. Quanto mais
absurdas elas parecerem, mais evidente se tornará a distância do mundo em
relação à Verdade.
Deus concedeu ao homem a liberdade infinita. Eis a Verdade. As outras
criaturas, como os animais e os vegetais, gozam de liberdade limitada. Aqui se
percebe a superioridade do homem. Falar da sua liberdade, é dizer que ele
ocupa o ponto médio entre os dois extremos - o animal e o Divino.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Quando ele se eleva, torna-se Divino; quando se corrompe, equipara-se


ao animal. Se desenvolvermos esse princípio, veremos que basta o homem
querer para que o mundo se converta em paraíso. Caso contrário, ele faz do
mundo um inferno. Esta é a Verdade. Não há dúvidas quanto à escolha: a não
ser uma pessoa de espírito satânico, ninguém desejará ocupar a extremidade
animal.
De acordo com o que acabamos de expor, a formação do Paraíso
Terrestre vem a ser o objetivo final do ser humano, e o único recurso para
atingi-lo é a concretização da Verdade. Sendo esta a missão básica da Religião,
eu prego a Verdade e me esforço e trabalho incessantemente para concretizá-
la.
16 de julho de 1949

VERDADE, BEM E BELO


Conforme tenho dito, o Paraíso Terrestre que idealizamos é um mundo
de perfeita Verdade, Bem e Belo. Mas gostaria de escrever a respeito com
maiores detalhes.
Para seguir a ordem, começarei explicando o que entendemos por
VERDADE. Evidentemente, referimo-nos à manifestação concreta da Verdade,
isto é, a própria realidade, autêntica, expressa corretamente, sem o mínimo
erro, impureza ou obscuridade. A cultura desenvolvida até o presente vinha
confundindo e considerando como verdade muita coisa que não o era, e por
isso muitos conceitos falsos eram tidos como verdadeiros. Entretanto,
ninguém percebeu isso, porque, obviamente, a cultura era de baixo nível.
Basta observarmos a sociedade atual para percebermos que a maioria
dos homens são forçados a trabalhar desde a manhã até a noite para ganhar o
pão de cada dia, fazendo-o sem nenhuma parcela de ânimo, alegria e
esperança, mas apenas para se manterem vivos. Embora estejam se afogando
num lamaçal de preocupações, motivadas pela doença, pelas dificuldades
financeiras e pelo medo da guerra, eles insistem em dizer que este mundo em
que vivemos é avançado, civilizado. Não obstante, observando com rigorosa
imparcialidade, percebemos que quase todos os homens lutam entre si,
odeiam-se e entram em choque, tal como os animais, agonizando num
redemoinho de insegurança e ansiedade; é como se estivéssemos olhando o
próprio Inferno. E este é justamente o resultado da cultura da pseudoverdade,
à qual me referi há pouco. Os próprios intelectuais não percebem isso e,
acreditando tratar-se de um mundo civilizado, continuam a enaltecê-lo.
Coitados, são dignos de nossa compaixão...
O mesmo acontece com a doença, por exemplo. Justamente porque a
Medicina está em desacordo com a Verdade, todos os lugares estão repletos
de pessoas doentes. É tuberculose, é disenteria infecciosa, é meningite, é
derrame cerebral, é paralisia infantil, enfim são inúmeras espécies de
doenças. E eis a justificativa que dão para isso: "Antigamente também
existiam várias enfermidades, só que a Medicina não estava desenvolvida a
ponto de descobri-las; hoje, porém, ela adquiriu essa capacidade". Insistindo
sobre o assunto, o que nós desejamos é que o número de doentes diminua e o
número de homens realmente saudáveis aumente. Apenas isso. Vejamos.
Os homens contemporâneos temem exageradamente a doença. Por essa
razão, as autoridades e os especialistas preocupam-se com a higiene e
16
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

empenham-se na prevenção das doenças. O mais engraçado nisso é a vacina


preventiva: ela mesmo é que não cura; não passa de simples paliativo. Dessa
forma, a Medicina nem ao menos sabe distinguir a cura temporária da cura
verdadeira e radical. E, mesmo que soubesse, não adiantaria nada, pois
desconhece o método para erradicar a doença. Além do mais, como ignora
completamente que ela é uma Providência de Deus para aumentar a saúde,
empenha-se tão simplesmente em deter sua marcha, pensando que isso é
progresso. Outrossim, por total desconhecimento de que esse método se torna
origem da doença - como mostra a realidade - quanto mais a Ciência progride,
mais se multiplicam as enfermidades e o número de doentes, diminuindo cada
vez mais a resistência física. Por isso, os homens sofrem de cansaço e insônia,
não têm persistência, não podem fazer qualquer excesso; caso pratiquem um
exercício um pouco pesado, acabam sentindo-se "quebrados". Por quê? Isso
não é incompreensível? A realidade mostra-nos, porém, que, seguindo-se o
princípio da doença ensinado pela nossa Igreja e recebendo-se Johrei, as
doenças desaparecem e as pessoas tornam-se verdadeiramente saudáveis.
A seguir, escreverei a respeito do BEM, que, evidentemente, é o
contrário do MAL. Mas o que é o MAL? Ele é causado pelo ateísmo nascido do
pensamento materialista, e o Bem é o seu oposto: nasceu do teísmo. Esta é a
Verdade. Entretanto, como a razão da Ciência consiste na negação do teísmo,
que é a Verdade, quanto mais ela progride, mais aumenta o Mal; sendo assim,
o progresso da cultura não passa de superficial. Dessa forma, reconhecemos
os méritos da Ciência, mas não podemos deixar de levar em conta o Mal que
ela produz. Sem perceber isso, os homens enaltecem apenas os seus pontos
positivos e, elaborando habilidosas teorias para ocultar-lhe os pontos
negativos, subjugam as classes dirigentes e levam-nas a concluir que, sem a
Ciência, nada terá solução. Assim, acabaram por afastar-se da felicidade
espiritual.
Em seguida, analisemos o BELO, que também constitui um problema.
De fato, acompanhando o desenvolvimento da cultura, os elementos
representativos do Belo multiplicaram-se e, individualmente, estão em nível
satisfatório, mas o povo não consegue usufruir deles. Somente uma parte - a
classe privilegiada - desfruta de boas roupas, boa alimentação e boas
moradias, enquanto a classe popular mal consegue alimentar-se, não tendo
condições para pensar no Belo. Talvez isso ocorra apenas no Japão, mas essas
pessoas dispõem de alimento simplesmente para matar a fome; de casa, para
dormir; de ruas, para passagem e condução, e onde têm de enfrentar os
empurra-empurras. Da mesma forma, a sociedade não consegue gozar das
belezas naturais, que são dádivas de Deus, tal como as montanhas, as águas,
as plantas e as flores, nem das belezas artísticas criadas pelo homem. Assim,
não obstante o grande desenvolvimento da civilização, uma vez que toda a
humanidade não pode usufruir de tais dádivas, o mundo contemporâneo é
realmente o paraíso dos ricos e o inferno dos pobres. A causa disso é a
existência de uma grande falha em algum lugar da civilização; quando essa
falha for corrigida e a felicidade desfrutada eqüitativamente, o mundo será de
fato civilizado. Essa é a missão da Igreja Messiânica Mundial.
Por tudo que aqui foi exposto, creio que puderam entender o verdadeiro
significado da Verdade, do Bem e do Belo, mas o mais importante é o poder de
concretizá-los. De nada adiantarão as palavras se elas constituírem apenas um
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

lema pintado num quadro. Todavia, devemos alegrar-nos, pois este sonho tão
almejado está para se tornar uma realidade em nosso planeta.
25 de setembro de 1953

VERDADE E PSEUDO VERDADE


Desde tempos remotos fala-se a respeito da Verdade, mas parece que
sobre a Pseudoverdade, ou melhor, sobre a verdade aparente, ninguém fala.
Entretanto, para analisarmos qualquer problema, é necessário saber
diferenciá-las, pois essa distinção exerce enorme influência no resultado da
análise. Muitas vezes a Pseudoverdade passa por Verdade e as pessoas
comuns não o percebem.
A Verdade e a Pseudoverdade existem na Religião, na Filosofia, na Arte e
até na Educação. A Pseudoverdade desmorona com o passar dos anos, porém
a Verdade é eterna. Quando surge uma nova teoria ou se faz alguma
descoberta, as pessoas acreditam tratar-se da maior de todas as verdades;
todavia, com o aparecimento de novas teses e descobertas, é comum que
aquelas venham a ser superadas. Da mesma forma, por mais notável que seja
uma religião, quem pode garantir que ela não se extinguirá após centenas ou
milhares de anos? Não seria uma extinção total, e sim a extinção de sua parte
falsa; é óbvio que se preservaria a parte verdadeira. Contudo, mesmo que não
houvesse algo a preservar, essa religião não seria alvo de críticas, pois
cumpriu sua missão para o progresso da cultura. Quanto mais próxima da
Verdade estiver a Pseudoverdade, mais longa será sua vida; quanto mais
distante, vida mais curta. Isso é inegável.
Apesar da distinção entre a Verdade e a Pseudoverdade caber aos
intelectuais e aos dirigentes de cada época, raros são aqueles que têm esse
poder de discernimento. Às vezes, a Pseudoverdade pode ser mantida por
longo tempo. O absolutismo e o feudalismo usaram-na como Verdade. O
mesmo se pode dizer em relação ao fascismo de Mussolini, ao nazismo de
Hitler e ao "hakkoiti-u" ("fazer do mundo uma só casa") de Tojo, que tiveram
pouca duração. É interessante que, na época, o fato passou despercebido, e
momentaneamente os povos acreditaram tratar-se da Verdade. Por causa
dessa crença, até se sacrificaram vidas humanas levianamente, e não
podemos esquecer quantas pessoas foram vítimas de tais enganos. Diante
disso, percebemos como é terrível a Pseudoverdade.
A respeito da Verdade e da Pseudoverdade, não podemos deixar de
observar que elas, como já dissemos, também existem na Religião. Quantas
religiões já surgiram e já desapareceram! Apesar de terem sido gloriosas no
início, tiveram vida curta, não deixando qualquer vestígio. Isso ocorreu por
serem religiões falsas. Entretanto, se for uma religião com valor idêntico ao da
Verdade, mesmo que por algum tempo sofra uma forte perseguição, um dia,
sem dúvida alguma, conseguirá expandir-se e tornar-se uma grande religião.
Podemos fazer essa afirmativa observando as grandes religiões da atualidade.
30 de janeiro de 1950

EU ESCREVO A VERDADE
Comecei a escrever há mais de dez anos; naturalmente, apenas sobre
assuntos relacionados à Fé. Ao contrário de outros fundadores de religiões,

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

procurei eliminar formalidades e palavras difíceis, utilizando uma linguagem


que todos pudessem compreender facilmente.
De modo geral, as religiões são boas. Entretanto, se por um lado elas
possuem o que poderíamos chamar de característica peculiar a toda religião,
por outro lado têm um certo mistério que ora julgamos entender, ora nos
parece incompreensível, e talvez seja por isso mesmo que elas exercem
atração. Sendo difícil compreendê-las, as religiões podem ser interpretadas de
várias maneiras, dependendo da pessoa, o que facilita a formação de seitas.
Além disso, quanto mais adeptos tiver uma religião, mais probabilidade ela
terá de subdividir-se. A História nos mostra a luta que travaram entre si essas
facções. Assim, não conseguindo captar a essência da Fé, os fiéis sentem
freqüentes dúvidas, tornando-se difícil alcançarem a verdadeira paz e
iluminação espiritual.
Através dos métodos utilizados até agora, não conseguiremos obter a
unificação harmoniosa nem mesmo de uma só religião. Conseqüentemente, a
unificação de todas elas torna-se uma utopia. Esse deve ser, também, o
motivo do aparecimento de novas religiões a cada ano que passa. Observando
somente o Japão, notamos que a tendência atual é aumentar o número de
religiões proporcionalmente ao aumento da população.
Jeová, Deus, Logos, Tentei, Mukyoku, Amaterassu-Okami, Kunitokotati no
Mikoto, Cristo, Shaka, Amida e Kannon constituem o alvo da adoração de
diversas religiões. Além destes, que são os principais, poderíamos citar Mikoto,
Nyorai, Daishi e inúmeros outros. Sem dúvida alguma, não levando em conta
Inari, Tengu, Ryujin e mais alguns, que pertencem a crenças inferiores, todos
eles são divindades de alto nível.
Remontando às origens, é óbvio que só existe um deus verdadeiro, isto
é, DEUS. Até hoje, contudo, cada religião se considera mais elevada que as
demais, havendo, também, certa dose de discriminação entre elas. Dessa
forma, é impossível promover-se a união de todas. Apesar disso, o objetivo
final de todas as religiões é o mesmo; não há uma sequer que não deseje o
Céu ou o Paraíso neste mundo, ou melhor, a concretização do Mundo Ideal, um
mundo onde todas as criaturas sejam felizes.
Mas o que é preciso para que esse mundo se concretize?
É preciso que surja uma religião universal, que englobe o mundo inteiro.
Deverá ter as características de uma Ultra-Religião, ser tão grandiosa que toda
a humanidade possa crer nela incondicionalmente. Não quero dizer que essa
religião seja a Igreja Messiânica Mundial, mas a missão de nossa Igreja é
ensinar o meio que possibilitará a realização do Mundo Ideal, ou seja, mostrar
como elaborar o plano, o projeto para a construção desse mundo. Na medida
em que aumentar, em cada país, o número de intelectos conscientes disso,
estaremos marchando passo a passo para atingir nosso objetivo.
Em síntese, será a concretização da Verdade. Através dela, todos os
erros se tornarão claros e serão corrigidos, surgindo o Mundo de Luz, claro e
límpido. Naturalmente, a humanidade se libertará do Mal; o Bem, que estava
subjugado por ele, triunfará, e o homem alcançará a felicidade. Portanto, em
primeiro lugar, é fundamental que a Verdade seja conhecida pelas pessoas do
mundo inteiro. O empreendimento que agora estou realizando - um grande
esforço para revelar a Verdade através de explanações escritas - constitui uma
fase importantíssima para a concretização desse mundo.
19
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

25 de setembro de 1951

A DIALÉTICA DA HARMONIA

Harmonia é um velho termo que impressiona bem e sugere um princípio


da Verdade. Contudo, não deve ser aceito cegamente, pois, embora essa
interpretação não esteja errada, é muito superficial. Sendo assim, precisamos
aprofundá-la.
Tudo que há no Universo acha-se em perfeita harmonia. Só há
desarmonia para quem vê as coisas superficialmente - é um erro de ponto de
vista. A desarmonia que se apresenta aos olhos do homem, é apenas
aparente. Isso porque ela é criada pelos homens, e a sua causa é a ação
antinatural. Ou seja, do ponto de vista da Grande Natureza, a
desarmonia decorrente da ação antinatural é a verdadeira harmonia.
Essa é a Verdade Absoluta.
Neste sentido, basta que o homem obedeça às Leis do Universo, para
que todas as coisas se harmonizem e progridam normalmente. Assim, quando
se provoca desarmonia, surge a desarmonia; caso contrário, surge a harmonia.
Nisto consiste a Grandiosa Harmonia da Natureza. Para ser feliz, o homem
precisa aprofundar seu conhecimento sobre este assunto. Temos tido
freqüentes provas de que, com o tempo, a desarmonia momentânea se
transforma em harmonia, e vice-versa. Essa é a realidade da vida, e reclama
profunda reflexão.
Sintetizando: a desarmonia é produto da visão estreita ("Shojo"); a
harmonia, produto da visão ampla ("Daijo").
1º de outubro de 1952

20
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

CRIAÇÃO DA CULTURA

PALESTRA AO PÚBLICO EM TÓQUIO


Creio que minha palestra é bastante original. Pretendo tratar de
assuntos que nunca foram tratados antes.
Em primeiro lugar eu gostaria de dizer que muita gente, confundindo
cultura com civilização, diz que a cultura da atualidade é avançada, ou que
estamos na Era da Cultura. Na verdade, porém, cultura e civilização são coisas
diferentes. Civilização é um mundo ideal, sem nenhuma selvageria; a isso nós
chamamos de mundo civilizado. Já a cultura é o estágio intermediário entre a
selvageria e a civilização. Portanto, o que se chama BUN-NO-KE, ou seja,
BUNKA (Cultura), é uma sombra, é um fantasma.
Observando o estado atual da humanidade, notamos que os homens
estão apaixonados por essa sombra, achando que ela é o que há de melhor e
que, com o seu progresso, o mundo se tornará aprazível. Mas o mundo
civilizado a que eu me refiro é diferente daquilo que as pessoas têm em
mente.
O que é a verdadeira civilização? Em palavras simples, é sinônimo de
vida. Deve ser a época em que a humanidade possa viver com segurança.
Mas, como o Sr. Suzuki disse há pouco, hoje há coisas realmente temíveis,
como a bomba atômica, a bomba bacteriológica, o Juízo Final, etc. São
temíveis porque põem em risco a segurança da vida. Isso não é um mundo
civilizado. É a cultura; a Era da Cultura. Isto é, estamos na fase de transição
entre a selvageria e a civilização. O que vou falar agora não é sobre a cultura,
e sim sobre a civilização.
As doenças e as guerras são o que mais põe em risco a vida. Se não
tivéssemos guerras nem doenças, teríamos garantia de vida, e este seria o
verdadeiro mundo civilizado. Já chegamos à época em que precisamos ir até
aí. Daí a razão de ser do lema da Igreja Messiânica Mundial: o mundo
absolutamente isento de doença, pobreza e conflito. Como a guerra é um
conflito em maior escala, propomos a construção do mundo sem doença,
pobreza e guerra.
Todos os infortúnios são decorrentes da doença. Costuma-se entender
como doença aquilo que provoca dores, coceira ou outras reações; interpreta-
se sempre no sentido físico. Mas não é bem assim. Há dois tipos de doenças:
doenças físicas e doenças do espírito. Dizem que este ano a tuberculose e
outras doenças contagiosas, a disenteria, etc. aumentaram bastante e por isso
as pessoas estão receosas. Entretanto, se hoje não se conseguir encontrar
solução para esse problema, jamais se formará um mundo civilizado, nem
mesmo daqui a centenas ou milhares de anos.
Quanto à pobreza, sua origem é a doença do corpo. Basta escolher uma
pessoa pobre e procurar saber a causa da sua pobreza. É invariavelmente a
doença. São casos como a perda de emprego devido à enfermidade, ou a
impossibilidade de trabalhar pelo mesmo motivo. A doença, acrescida do fato
de não se receber salário, constitui uma dose dupla de sofrimento. Isso se
reflete negativamente não só no próprio doente como em seus parentes e
amigos.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

A causa das guerras também é a doença. Trata-se da doença mental. É


comum utilizar-se a expressão "fabricantes de guerras", para aqueles que as
causam. Observando-se a História, encontramos inúmeros exemplos. E eles
recebem o nome de heróis. Esses indivíduos importantes têm força e
inteligência, mas no fundo sofrem de uma espécie de doença nervosa. Por isso
torna-se necessário erradicar não só a doença do corpo como também a do
espírito. Quanto à do corpo, as pessoas acreditam que é possível curá-la
através da Medicina e se esforçam nesse sentido, mas não há nada que
resolva a doença espiritual. Para isso, só existe um meio: a Religião.
Na teoria pode ser assim, mas surge a dúvida: conseguir-se-á, na
prática, erradicar ambos os tipos de doenças? Aí é que entra o JOHREI, ao qual
se referiu há pouco o Sr. Suzuki: ele irá erradicar a doença da mente e a do
corpo. Dessa forma, surgirá o mundo civilizado.
Observando o estado em que se encontra a humanidade e a cultura,
concluo que de maneira alguma isto é civilização. Pelo contrário, é até um
estado extremamente bárbaro. As guerras de hoje são mais terríveis que as da
época selvagem. Sendo assim, podemos afirmar que a cultura ou civilização
da atualidade não passa de aparência; a humanidade está iludida com essa
aparência, e as pessoas se sentem gratas. Analisando seu conteúdo, veremos
que ele é selvagem; ou melhor, meio civilizado e meio selvagem. A cultura
contemporânea assemelha-se a uma bela mulher, vestida com um bonito
quimono, com a qual todos ficassem impressionados, mas que, quando tirasse
a roupa, se mostrasse corroída pela sífilis, toda coberta de pus.
Acredito, por conseguinte, que a nossa Igreja Messiânica Mundial não é
uma religião. Se fosse possível resolver os problemas do homem com a
Religião, eles já teriam sido resolvidos, pois até o presente apareceram
importantes líderes e fundadores de religiões, filósofos, moralistas, etc. É
verdade que selvagens nus e de rosto pintado restam poucos. Conseguiu-se,
também, que tudo assumisse um aspecto bonito, culto. Mas ainda não foi
possível garantir a vida humana, porque as religiões que surgiram até hoje
não tinham força suficiente. Tiveram força para tornar cultos os selvagens,
mas não para ir além, ou seja, para tornar os homens civilizados.
Há, ainda, inúmeros inventos que não são utilizados no bom sentido:
muito pelo contrário. Dizem que a bomba atômica pode matar vinte milhões
de pessoas de uma só vez; entretanto, se essa energia for aplicada para o
bem, com uma pequena porção do tamanho da ponta de um dedo, poder-se-á
fazer rodar trens ou automóveis por muitos dias. O avião, sendo utilizado
como meio de transporte, não existe nada mais rápido e útil; utilizado para
lançar bombas, não há máquina mais temível.
Esta é a cultura científica de hoje. Chegamos até aqui com o progresso
da cultura científica, mas falta algo - algo muito importante. Devido a essa
falta tende-se a fazer mau emprego das coisas. Eis o motivo da aflição da
humanidade. Para utilizar as coisas em sentido positivo, torna-se necessário ir
às raízes, isto é, ao Espírito. Mudando o Espírito das criaturas do mal para o
bem, elas saberão utilizar tudo no bom sentido e assim se conseguirá um
mundo maravilhoso. Cristo referiu-se a isso com a expressão "É chegado o
Reino dos Céus". Sakyamuni, por sua vez, disse: "Após a extinção do Budismo,
aparecerá Miroku Bossatsu, e surgirá o Mundo de Miroku". Só que Sakyamuni
falou que seria após 5,67 bilhões de anos. Acredito, entretanto, que ele quis
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

apenas se referir aos números 5 6,7. Se realmente estivesse profetizando algo


para daí a 5,67 bilhões de anos, Sakyamuni não estaria bom da cabeça, pois
não há nenhum sentido em profetizar algo para um futuro tão distante. Nessa
época, a humanidade e a Terra já teriam passado por uma mudança tão
grande que nem se poderia imaginar.
Os messiânicos conhecem bem o significado dos números 5,6,7. Caso eu
fosse explicá-lo, isso me tomaria bastante tempo e aí eu não poderia falar de
coisas importantes. Com relação à profecia de Cristo, ao invés de dizer "É
chegado o Reino dos Céus", ele poderia ter dito "Vou construir o Reino dos
Céus". Mas naquela época o mundo ainda não havia alcançado o estágio
necessário para isso, ou seja, o progresso da cultura ainda era insuficiente
para a construção do verdadeiro mundo civilizado.
No entanto, a cultura material progrediu, chegando ao estágio em que
se encontra atualmente; o progresso foi tal, que se estendeu ao mundo todo.
O que eu estou dizendo pode ser ouvido, através dos modernos meios de
comunicação, nos quatro cantos do mundo. Os meios de transporte se
desenvolveram tanto, que é possível ir de avião até os Estados Unidos num
dia. Dessa forma, o progresso da cultura material já atingiu o ponto em que
estão preenchidas quase todas as condições necessárias ao mundo civilizado.
O primordial dessa questão é que a alma humana ainda não se evoluiu o
suficiente para utilização do progresso no bom sentido. Sobre essa alma, é
imperativo empenhar-nos para que as pessoas a utilizem positivamente e, ao
mesmo tempo, para que a humanidade tome conhecimento disso. Em várias
oportunidades falei sobre o assunto, e os fiéis já têm alguma noção a respeito.
A propósito, comecei a escrever, há cerca de seis meses, um livro
intitulado "A Criação da Civilização". Meu objetivo é esclarecer que a
civilização atual não é a verdadeira civilização e que, nesta, a Medicina, a
Política, a Educação, a Arte, etc. serão bem diferentes. A parte que se refere à
Medicina já está quase pronta, mas tenciono escrever, ainda este ano, a parte
referente às outras áreas. Quando o livro estiver concluído, pretendo traduzi-lo
para o inglês e tomar providências para que ele seja lido por professores
universitários, cientistas, enfim, por intelectuais do mundo inteiro. Vou enviá-
lo, também, à Comissão Examinadora do Prêmio Nobel, mas acredito que, no
início, não o receberão bem, pois a Comissão é integrada por eminentes
personalidades da cultura material. Todavia, como se trata de um livro que
aborda justamente aquilo que as pessoas eminentes estão buscando, acredito
que os integrantes da Comissão não deixarão de entendê-lo e exclamar: "É
isto!" Assim, poderiam conceder-me dez ou vinte Prêmios Nobel. Quando esse
livro for publicado, eu gostaria que todos os povos o lessem.
Dessa forma, ao mesmo tempo que mostramos como estará constituída
a verdadeira civilização, damos a conhecer o JOHREI. Com o JOHREI as
doenças saram milagrosamente, mas ele não se destina a curar doenças. Em
resumo, o JOHREI cura o espírito, ou seja, o mal que existe nele. Em
termos mais claros, o mal é o caráter selvagem, e este não pode ser
removido, pois não se pode viver sem espírito. O que se pode fazer é
mudar a maneira de pensar das pessoas, ou seja, diminuir-lhes as
partes más, fazendo com que as partes boas aumentem. Assim, todos
farão apenas coisas boas, isto é, acharão que devem fazer o bem.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Costumo dizer aos fiéis que os homens da atualidade estão sempre


pensando em praticar o mal. Mesmo que não queiram fazê-lo, acham que é
bobagem praticar o bem, que isso só traz prejuízos, que se deve fazer as
coisas de maneira mais "fácil". Entretanto, essa forma de pensar é o oposto da
verdade. Faço tal afirmativa porque já houve época em que eu também
pensava assim. Gradativamente, porém, comecei a ter melhor compreensão
sobre Deus, através da Fé, e vi que estava totalmente do "avesso". Aí passei a
querer praticar o bem e sempre buscava um meio para isso. Estava sempre
procurando fazer algo em benefício das outras pessoas, algo que as deixasse
felizes, satisfeitas. Com essa atitude, minha sorte melhorou. Mesmo antes de
me dedicar inteiramente à Fé, aconteciam-me coisas boas quando eu ficava
nesse estado de espírito. Assim, pensei como seria bom se as pessoas
soubessem os benefícios que nos advêm quando procuramos fazer a felicidade
do próximo.
À medida que eu ia acumulando tais experiências da vida real, comecei
a ter plena compreensão de que realmente Deus e o demônio existiam. A
partir daí passei por uma fase de aprimoramento espiritual. Com a ocorrência
de vários milagres, pude compreender a grande missão que me era destinada.
Foi assim que instituí a Igreja Messiânica Mundial e estou desenvolvendo
minhas atividades.
Outro ponto que eu gostaria de abordar é o "Juízo Final", do cristianismo,
e o "Fim do Budismo", profetizado por Sakyamuni. Apesar de muitos líderes e
fundadores de religiões terem feito profecias semelhantes, vou tratar, aqui,
apenas destas duas.
Que vem a ser o Juízo Final? Os homens estão imaginando que virá um
deus para fazer o julgamento neste mundo, mas isso não corresponde à
verdade. É um ponto de difícil entendimento para os não-fiéis, mas o Mundo
Espiritual é uma realidade. O mundo em que vemos e sentimos a matéria é o
Mundo Material; além deste, há o Mundo Espiritual e, no meio dos dois, o
Mundo Atmosférico. Este último já é conhecido, mas ainda não se conhece o
Mundo Espiritual. É como a ordem em que se dispõem a era do barbarismo, a
era da cultura e a era da civilização. Da mesma forma, o Universo obedece a
uma constituição tripla: Mundo Material, Mundo Atmosférico e Mundo
Espiritual.
Há, ainda, os ciclos do mundo: assim como existe transição entre o claro
e o escuro, entre o dia e a noite no espaço de um dia, há a mesma transição
no espaço de um ano. O claro e o escuro em um ano podem ser comparados
ao verão e ao inverno, respectivamente. Os raios solares são mais fortes no
verão e mais fracos no inverno, ocasionando o contraste entre o claro e o
escuro. E existem períodos idênticos no espaço de dez e de cem anos. A
História registra épocas de paz e de guerra, que correspondem ao claro e ao
escuro. Refiro-me, portanto, a esse ritmo.
Igual período existe também no espaço de mil e de dez mil anos.
Estávamos até agora na escuridão, no período das trevas; vamos passar
para o período da claridade. Passando-se para o período da claridade, tudo
que existia no período das trevas sofrerá uma seleção. Esses ciclos do mundo,
nós os designamos com as expressões Mundo da Noite, Mundo do Dia, Cultura
da Noite, Cultura do Dia. Assim, desaparecerá uma série de coisas que não
serão mais necessárias. Durante o dia, por exemplo, não é preciso lâmpadas.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Tudo aquilo que pertence à Era da Noite e se tornar desnecessário será


eliminado.
O Juízo Final representa a separação do que é do Dia e do que é da
Noite. O que for inútil ficará inativo ou será destruído. A partir de agora, as
coisas do Dia irão sendo construídas gradativamente.
O que acontecerá quando o Mundo Espiritual se tornar claro? Vejamos o
homem. Nele, entre a matéria e o espírito existe a água, que corresponde ao
ar. Ela existe em grande quantidade no corpo humano. Assim, o homem
apresenta uma constituição tripla; dela, faz parte o espírito, a que também se
poderia chamar alma. O espírito está subordinado ao Mundo Espiritual.
Tornando-se claro esse mundo, aqueles cujo espírito não corresponder a essa
claridade terão de ter as suas máculas removidas. Não significa que elas serão
arrancadas, mas ocorrerá naturalmente a purificação, para limpar o que está
sujo. À medida que o Mundo Espiritual vai clareando, as pessoas possuidoras
de máculas no espírito passam por uma limpeza, que é o sofrimento. O
princípio da doença obedece a essa explicação. Através dela pode-se
compreender perfeitamente o que e a doença.
Até agora não se conhecia o espírito. Desprezava-se a sua existência.
Como o Sr. Tokugawa disse há pouco, é uma questão de alma. A ação da alma
é muito grande.
Ontem fui visitado por uma pessoa que eu não via há cerca de um ano.
Anteontem eu tinha pensado: "Como estará ele passando?" No dia seguinte
ele apareceu. Aí eu disse para mim mesmo: "Ah, o espírito dele veio aqui
antes! Digamos, por exemplo, que o Sr. Tokugawa pense: "O Sr. Matsunami
está escrevendo com afinco." Então este pensamento vai até o Sr. Matsunami,
penetra no seu corpo e se aloja na sua cabeça. Aí, ele se lembra do Sr.
Tokugawa. É como se a pessoa chegasse, após ter avisado. Nessas ocasiões,
as criaturas se comunicam através dos elos espirituais. O trabalho desses elos,
no caso do relacionamento amoroso, é muito interessante. Mas o meu
objetivo, no momento, não é o problema do amor. O assunto se tornará claro,
para os senhores, quando abraçarem a Fé. O amor é muito bom, mas quase
sempre acaba em tragédia. Para entender melhor esse fim trágico, é
necessário conhecer o lado espiritual, a existência dos elos espirituais. Isso
não pode ser menosprezado. Em vários problemas da vida há mulheres; dizem
mesmo que por trás dos crimes existe sempre uma mulher, ou melhor, o amor.
Com a compreensão das causas, é possível eliminar as tragédias e os males
sociais. Mas vamos deixar este assunto por aqui.
Como eu estava falando há pouco, as máculas do espírito irão sendo
eliminadas para ele corresponder à claridade do Mundo Espiritual. Se isso
terminar numa simples doença, está tudo bem, mas pode acontecer que a
pessoa fique gravemente enferma e acabe falecendo. A doença chega aos
poucos, e por isso é que se chama doença. Se vier de uma vez, a pessoa
morre. Juízo Final é isso. Com o clarear do Mundo Espiritual, a transformação
pode ocorrer repentinamente e aí as criaturas não resistiriam. Haveria mortes
em massa. Deus quer evitá-las e por isso manda avisos. É vontade de Deus
que a humanidade seja avisada, para que ela se salve. E Ele me incumbiu
dessa tarefa. Estou, portanto, avisando.
Tanto Sakyamuni como Cristo profetizaram o advento do Paraíso, a
chegada do Novo Mundo. Eles foram os profetas, e eu sou o concretizador.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Deus me ordenou que concretizasse essas profecias, ou seja, que eu


construísse o Paraíso Terrestre, livre de doença, pobreza e conflito. Entretanto,
eu não me canso, pois não sou eu quem planeja. Tudo é planejado por Deus.
Apenas dou forma às coisas. Isso realmente é fácil, mas de enorme
responsabilidade. Provavelmente não houve ninguém com responsabilidade
maior que a minha em toda a história da humanidade. Dessa maneira, as
profecias de Cristo e Sakyamuni começam a ter sentido: se elas não tivessem
possibilidade de ser concretizadas, seriam falsas profecias. Falsas profecias
significam mentiras. Mas não seria possível pessoas tão importantes terem
mentido. Por conseguinte, era preciso haver alguém que tornasse realidade
tais profecias, e o escolhido fui eu. Na verdade, me é penoso afirmar um
empreendimento de tamanha grandeza. Não falei nisso até agora justamente
por ser uma missão demasiado grande. Mas o tempo se aproxima, já é
chegada a Era do Dia. Para salvar a humanidade, preciso avisar rapidamente o
maior número de pessoas, e é por isso que estou hoje falando aos senhores.
O Sr. Suzuki falou há pouco sobre o Dilúvio e a Arca de Noé, mas isso é
algo semelhante ao Juízo Final. Há duas versões a respeito: uma diz que
choveu quarenta dias seguidos, outra diz que foram cem dias. Fossem
quarenta ou cem, o que interessa é que choveu durante muitos dias
consecutivos. A água foi subindo cada vez mais e se tornou um dilúvio,
salvando-se apenas os que estavam na arca. Aqueles que estavam em barcos
comuns ou que subiram às montanhas acabaram perecendo; estes últimos,
devorados por animais que também haviam subido. Apenas oito pessoas se
salvaram, e dizem que os representantes da raça branca são seus
descendentes. Acredito que, em linhas gerais, essa história não está errada.
No Japão, conta-se a história de Izanagui-no-Mikoto e de Izanami-no-
Mikoto. Estes dois deuses, de cima da ponte flutuante dos Céus, empunhando
uma espada, mexeram algo semelhante a espuma, e daí surgiram as ilhas e os
continentes. Essa deve ter sido a causa do Dilúvio. De acordo com a tese
xintoísta, houve ação da maré alta e da maré baixa. A maré baixa é o recuo
das águas, e Izanagui-no-Mikoto encarregou-se disso. O nascimento das ilhas e
das nações significa que se jogou fora a água do Dilúvio, fazendo emergir
aquilo que estava submerso. Penso que essa ocorrência corresponde à época
do Dilúvio.
Com relação ao cristianismo, dizem que João fez o batismo pela água e
Cristo fará o batismo pelo fogo. Agora está para vir o batismo pelo fogo, o
extraordinário acontecimento que promoverá a eliminação do Mal. Isso tem
muitos outros sentidos, mas, como já está se esgotando o tempo, vou parar
por aqui.
Palestra de Meishu-Sama no "Hibiya Public Hall" - Tóquio
22 de maio de 1951

DAIJO, SHOJO, IZUNOME


“Daijo” ilustra o aspecto horizontal da vida; “Shojo”, o vertical. A
atividade de “Daijo” é semelhante à da água, que se estende perpetuamente
em nível horizontal. “Shojo” é a atividade do fogo. Restrito, queima em
profundidade e dirige suas chamas para o alto; une o homem a Deus. “Daijo”
une irmão com irmão.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

O princípio de “Shojo” é estrito e intransigente. A vida das pessoas com


temperamento “Shojo” é regida por padrões freqüentemente rígidos e
restritos. O indivíduo “Shojo” tende a ser mais crítico do que os outros e a
classificar as coisas como “boas” ou “más”.
Os indivíduos de temperamento “Daijo” são geralmente liberais e estão
sempre dispostos a mudar. Por outro lado, podem tender a um liberalismo
excessivo, faltando-lhes uma orientação espiritualmente profunda.
Izunomê simboliza a cruz equilibrada, indicando a perfeita harmonia
entre os princípios horizontal e vertical.
Até agora, o Leste se manteve no nível vertical e o Oeste no nível
horizontal. Durante a Era da Noite, foi assim que a Providência Divina
estabeleceu o plano espiritual.
Os povos orientais mostram-se mais inclinados a reverenciar o culto aos
ancestrais, a virtude da lealdade e a piedade filial. Por isso, mantêm um
estrito sistema hierárquico.
No Oeste, enfatiza-se a afeição entre marido e mulher, expandindo o
amor ao próximo e a toda a humanidade.
O Cristianismo é “Daijo” e, assim, difundiu-se pelo mundo inteiro. Nele se
acentua a importância do amor fraterno, atividade em nível horizontal.
O Budismo é “Shojo”; sua essência fica restrita a grupos específicos.
Acentua-se a importância da meditação, com o fim de alcançar a sabedoria e a
auto-realização. Essa atividade é vertical — profunda e dirigida para o alto — e
induz seus discípulos a viverem retirados do mundo.
Como o Leste representa o nível vertical e o Oeste o nível horizontal, há
muito pouca compreensão entre ambos, o que freqüentemente tem dado
margem a conflitos.
É chegado, contudo, o momento de os princípios vertical e horizontal se
harmonizarem para formar a cruz equilibrada —Izunomê. O resultado será
uma feliz união das civilizações oriental e ocidental. Só então a humanidade
poderá viver o Paraíso na Terra. A Igreja Messiânica Mundial nos dá a
consciência de que esse Paraíso pode tornar-se uma realidade através da Luz
de Deus.
Devemos ser flexíveis e agir de acordo com as situações, ora aderindo
ao princípio de “Shojo”, ora aplicando o método “Daijo”, mas sempre voltando
ao ponto central, Izunomê. “Daijo” é abrangente incluindo tudo, inclui também
“Shojo”. De modo geral, é bom agir conforme as circunstâncias, mas nunca
esquecendo o princípio sobre o qual baseamos a nossa ação. Mesmo tendo
“Shojo” como princípio orientador, convém agir à maneira “Daijo”.
Não obstante, seria perigoso empregarmos somente “Daijo”. Os jovens,
especialmente, poderiam tender a uma demasiada auto-indulgência. “Shojo”
estabelece o princípio vertical, no qual tudo deve ser baseado, antes de adotar
o princípio “Daijo”, de expansão horizontal. Assim, pode-se atingir o perfeito
equilíbrio entre ambos, ou seja a cruz equilibrada Izunomê.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

O BEM E O MAL SÃO RELATIVOS


Há leis naturais no Universo que regem todos os processos e mutações.
Essas leis também governam a Religião, a Filosofia, a Ciência, a Política, a
Educação, a Economia, as Artes, a paz e a guerra, o bem e o mal.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Quando nos adaptamos a essas leis naturais e reguladoras, o nosso


caminho se torna mais suave. Quando fazemos resistência a elas, surgem as
dificuldades.
As criaturas de pensamento “Daijo” falam menos no bem e no mal ou
nos erros alheios do que as criaturas de pensamento “Shojo”. Como o bem e o
mal são termos relativos de uma determinada situação, verdadeiramente não
podemos julgar os atos alheios. Deveríamos, portanto, aplicar a tolerância do
pensamento “Daijo” em todos os nossos relacionamentos.
Quando pensamos e agimos de acordo com as imutáveis Leis Divinas,
que regem toda a criação e todas as ações, os resultados são benéficos. A
despeito da opinião dos homens, o que importa é o resultado final.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

CRIAÇÃO DA CULTURA
A nossa religião é denominada Igreja Messiânica Mundial. Naturalmente,
tendo ela surgido para promover a última salvação do mundo, não há
disparidade entre seu nome e sua missão, mas também poderíamos chamá-la
de Igreja Criadora. Explicarei por quê.
Durante dezenas de séculos, a humanidade veio empregando todas as
suas forças para o progresso e desenvolvimento cultural, e, como podemos
constatar, atingimos uma cultura notável e exuberante, que chega a deixar-
nos maravilhados. Não haveria palavras suficientes para enaltecer esse
mérito. O ideal da humanidade, obviamente, era promover a felicidade do
homem; entretanto, graças à descoberta da desintegração do átomo, a
realidade foi bem diferente daquilo que se esperava. O adjetivo "pavoroso"
ainda seria fraco para qualificar tal descoberta, pois ela é capaz de ceifar
milhares de vidas num instante.
Indubitavelmente, o sonho de felicidade foi traído, mais do que se possa
imaginar. Quem poderia prever tão grande desgraça? Haverá existido maior
desencontro que esse em toda História? A humanidade - ou pelo menos os
homens cultos - precisa descobrir a verdadeira causa do problema, pois,
enquanto ela não for descoberta e solucionada, o progresso da cultura obtido
de agora em diante não terá nenhum sentido. A própria energia atômica, no
entanto, torna-se demoníaca porque é utilizada como arma de guerra; se não
o for, logicamente torna-se um maravilhoso anjo da paz. De acordo com esse
princípio, não há motivo para fazermos alarde contra a bomba atômica, pois o
problema está na guerra em si; conseqüentemente, não existe problema mais
importante que o da sua extinção. Há milhares de anos, com efeito, a
humanidade vem empregando todos os seus esforços para fugir desse horror;
é um fato que todos estão fartos de conhecer. Não obstante, ao invés de ele
estacionar, a realidade mostra o seu incremento, a cada guerra que é travada.
Talvez isso também seja motivado pelo crescimento demográfico, mas a causa
principal é o aperfeiçoamento das armas, que culminou com a invenção da
bomba atômica. O que mais poderia estar indicando esse acontecimento
senão a aproximação da hora de colocar-se um ponto final nas guerras?
Acredito que este é o "Fim do Mundo" profetizado por Cristo.
Pensando dessa forma, podemos considerar que a civilização atual seja
um sucesso, mas também não podemos deixar de admitir a existência de uma
falha tão grande que anula esse sucesso. Analisando desse ângulo, o certo
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

seria despertar das falhas da cultura, as quais descrevi acima, e partir para a
criação de uma cultura nova e inédita. Em outras palavras, seria o reinício da
cultura.
E como se criaria essa nova cultura? Eis o grande desafio que a
humanidade vive atualmente. Acredito que a Igreja Messiânica Mundial foi
criada para corresponder a esse propósito. Portanto, com tão importante
missão, ela visa a desenvolver, de acordo com a Ordem de Deus, a grandiosa
obra de construção do Paraíso Terrestre. Como condição básica para atingir
esse objetivo, propomo-nos, antes de tudo, a eliminar a doença da
humanidade. Julgo desnecessário falar muito a esse respeito, dados os
maravilhosos resultados que vimos obtendo. Obviamente, a verdadeira causa
da guerra é a doença; não somente a doença física, mas também a espiritual -
a dos doentes do espírito que ainda não são considerados loucos ou insanos.
Fazer deles pessoas verdadeiramente saudáveis, deverá ser a base para
solucionar o problema da guerra. Acredito que as demais soluções apontadas
não passam de palavras vazias.
13 de setembro de 1950

A TRANSIÇÃO DA VELHA CULTURA PARA A NOVA CULTURA


A cultura atual, comparada à cultura primitiva, de milhares de anos
atrás, alcançou um progresso assombroso e está se expandindo cada vez
mais. Todavia, o homem muito sofreu e lutou para chegar a esse ponto,
enfrentando catástrofes naturais, guerras, doenças e outros males. A história
da humanidade mostra-nos as terríveis batalhas que viemos travando contra
esses sofrimentos.
É desnecessário dizer que, por trás dos objetivos do progresso, havia um
plano no sentido de proporcionar a todos os homens um mundo mais feliz, de
eterna paz. Para a concretização desse ideal, no entanto, os homens
promoveram apenas o progresso da cultura material e consideraram a Ciência
como única verdade, não dando atenção a nada mais. Toda vez que havia uma
descoberta ou invenção, a humanidade as aplaudia, achando-as maravilhosas,
crente de que, através delas, a felicidade aumentaria e, passo a passo, aquele
ideal estaria mais próximo. Foi assim que os homens viveram correndo atrás
do sonho de alcançar a felicidade.
Entretanto, o progresso da Ciência atingiu o ponto de se descobrir a
desintegração do átomo. Essa grande descoberta deveria ser digna de
comemoração, mas, ao contrário do que se esperava, foi uma descoberta
aterradora. O caminho que percorríamos pensando ser o caminho para o Céu,
na verdade era o caminho indesejável para o Inferno. Inventou-se um material
que, num segundo, pode acabar com milhares de vidas. Talvez a História ainda
não tenha registrado nenhum acontecimento tão contrário à previsão dos
homens.
A humanidade ou, mais especificamente, os povos civilizados que
inventaram esse terrível material, acabaram criando, também, o problema de
precisarmos fugir, a todo custo, da ameaça que paira sobre as nossas cabeças.
É realmente paradoxal. Contudo, pensando bem, trata-se de uma invenção
que, em si mesma, nada tem de temível; pelo contrário, é uma maravilha que
vem contribuir para a felicidade do homem. Ela é temida porque pode ser
empregada como instrumento de guerra, mas, se for utilizada para a paz, será
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

realmente uma grande aquisição para a humanidade. No primeiro caso, seu


emprego está baseado no mal; no segundo caso, está baseado no bem. Logo,
tanto pode se tornar um instrumento benéfico como maléfico. Nesse sentido,
se a pessoa que o manipula estiver do lado do bem, não haverá nenhum
problema.
Mas o caso não é tão simples assim. Em termos concretos, é preciso
transformar o mal em bem. Torna-se desnecessário dizer que esta é a sagrada
missão da Religião. Até agora, a Religião, a Moral, a Educação e a Lei
contribuíram para isso de certa forma, conseguindo alguns bons resultados,
porém, ainda hoje, ao contrário do que se esperava, o bem está sendo
subjugado pelo mal. A preocupação existente de que o material atômico venha
a ser utilizado por este último, é uma prova do que dizemos. Entretanto,
precisamos aprofundar outro aspecto da questão. Se o ato diabólico e
destruidor representado pelo lançamento da bomba atômica for permitido,
obviamente advirá o fim da humanidade. Sendo assim, é inadmissível que o
Criador do Céu e da Terra e de tudo que neles existe, e também arquiteto do
progresso atingido pela civilização, consinta passivamente essa catástrofe.
Interpretando desse modo, que mais poderia ser isso senão o "Fim do
Mundo" profetizado por Cristo? Caso não houvesse nenhuma outra profecia, a
humanidade nada mais teria a fazer do que aguardar seu fim, mas Cristo
também disse: "É chegado o Reino dos Céus". Torna-se evidente, portanto, que
essas duas grandes profecias estão indicando o futuro do mundo, ou seja, que
virá o Fim do Mundo e se estabelecerá o Céu na Terra.
Foi previsto, ainda, o Retorno de Cristo e a Vinda do Messias. A
propósito, também devemos pensar que, para ficarmos absolutamente livres
da destruição atômica, é necessário transformar o mal em bem, conforme já
explanei. E quem poderia ter força ou poder para isso senão o próprio
Messias? Não obstante, mesmo ocorrendo essa grande transformação, haverá
muitos que não se converterão ao bem. A estes, para os quais não é possível
esperar mais nada, só poderá acontecer o pior dos piores. Cristo referiu-se a
esse acontecimento com a expressão "Juízo Final".
Com base no que acabo de expor, os homens devem conscientizar-se de
que estamos na fase imediatamente anterior à efetiva transição do Mal para o
Bem, da Destruição para a Construção, da Velha para Nova Cultura. O plano
para a Nova Cultura já está muito bem preparado. Não foi elaborado pela
inteligência nem pela força humana; há milhares de anos Deus o vem
preparando com toda a meticulosidade. Estou vendo tudo isso de forma muito
clara, e não apenas espiritualmente, mas inclusive através de fenômenos de
ordem material. Vejo realmente com tanta clareza que, sem vacilação, posso
afirmar que não há, em absoluto, nenhuma parcela de erro no que estou
dizendo.
6 de setembro de 1950

A CONSTRUÇÃO DO PARAÍSO E A ELIMINAÇÃO DO MAL


Para que este mundo se transforme em Paraíso - objetivo de Deus -
existe uma condição fundamental: eliminar a maldade que a maioria dos
homens traz no mais profundo recanto de suas almas. Pelo senso comum, as
criaturas desaprovam o mal e temem o contato com ele. A Moral, a Ética e a
Educação procuram reprimi-lo. A Religião, também, tem por ensinamento
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

básico recomendar a prática do bem e combater o mal. Observando a


sociedade, vemos que os pais repreendem os filhos; os maridos, as esposas;
as esposas, os maridos; os patrões, os empregados. A tudo isso, acrescentam-
se as leis, que, por meio de sanções, tentam impedir o mal. Entretanto, apesar
de todo esse esforço, a quantidade de pessoas más é incalculavelmente maior
que a de pessoas boas; para termos uma idéia mais precisa, entre dez,
pessoas, talvez nove sejam más.
Falando em homens maus, devemos lembrar-nos de que existem vários
níveis de mal: os grandes, os médios e os pequenos. Citemos alguns
exemplos: o mal premeditado, praticado conscientemente; o mal que
cometemos inconscientemente, sem perceber que o estamos cometendo; o
mal que praticamos por não haver outro recurso; o mal que fazemos
acreditando ser um bem. O primeiro não necessita de maiores
esclarecimentos; o segundo é o que mais se vê; o terceiro, em termos de
povos, é praticado pelos selvagens, e, em termos individuais, pelos loucos e
pelos retardados, conseqüentemente não é tão grave; já o quarto, isto é, o
mal que se faz pensando ser um bem, é o mais prejudicial, pelo empenho com
que as pessoas o praticam, sem o esconder.
Deixarei os detalhes para o fim; agora quero mostrar a forma como
geralmente se encara o mal, do ponto de vista do bem.
Observando o mundo contemporâneo, constatamos que o predomínio do
mal é tão grande, que podemos perfeitamente dizer que ele é o mundo do
mal. A História nos dá inúmeros exemplos de homens bons que foram
atormentados pelos perversos; da situação inversa eu nunca ouvi falar. Como
o mal possui mais adeptos que o bem, enquanto os malvados vivem burlando
as leis e agindo como bem entendem, os bons ficam subjugados, vivendo
constantemente sob terror. Esta é a situação do mundo atual. Por serem mais
fracos, os bons são sempre atormentados e maltratados pelos maus.
A democracia surgiu em contraposição a esse absurdo estado de coisas
e por isso tem uma origem natural. O Japão, que viveu sob o domínio do
pensamento feudal, insistiu em manter uma sociedade onde os fracos são
vítimas dos fortes, mas, felizmente, com a ajuda do exterior, conseguiu
implantar o regime democrático. Por esse motivo, ao invés de dizermos que,
no Japão, a democracia teve uma origem natural, devemos dizer que ela foi
um resultado natural. Eis um raro exemplo da vitória do bem sobre o mal.
Contudo, a democracia japonesa ainda não está muito firme; em vários
setores há resquícios de feudalismo. E talvez eu não seja a única pessoa a
perceber isso.
Vejamos, também, a relação entre o mal e a cultura.
O aparecimento daquilo a que se costuma chamar cultura pode ser
explicado da seguinte maneira:
Na era subdesenvolvida e selvagem, os fortes pressionavam os fracos
tolhendo-lhes a liberdade, impondo-lhes a força, cometendo assassinatos e
agindo como bem entendiam. Como resultado, os fracos inventaram vários
meios de defesa: fabricaram armas, construíram muralhas, facilitaram os
transportes, etc. Em grupos ou mesmo sozinhos, eles se esforçavam de todas
as maneiras possíveis. Isso, naturalmente, serviu para desenvolver a mente
humana. Com o correr do tempo, para garantir a segurança dos fracos,
fizeram-se contratos entre grupos, os quais, possivelmente, deram origem aos
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

acordos internacionais de hoje. Socialmente, foi criado algo semelhante às


leis, com o objetivo de limitar o mal; transcrito em forma de códigos, isso deu
origem às modernas legislações.
Entretanto, com métodos tão superficiais, não foi possível eliminar o mal
que há no ser humano. Conforme podemos ver, da era primitiva até hoje os
homens vêm lutando contra o mal, em defesa do bem. E quanto a
humanidade tem sofrido com isso! Quantas pessoas boas foram sacrificadas!
Para aliviar tão grande sofrimento, apareceram vários religiosos de grande
porte. Como os fracos eram sempre atormentados pelos fortes e não tinham
forças suficientes para se defender, esses religiosos pelo menos tentaram
amenizar espiritualmente suas aflições e dar-lhes esperança. Ao mesmo
tempo, para combater o mal, pregaram a Lei da Causa e Efeito, na tentativa
de obter o arrependimento e a conversão dos perversos. É inegável que
obtiveram alguns resultados positivos, mas não conseguiram mudar a maioria.
Por outro lado, materialmente, instituíram-se os estudos,
desenvolvendo-se a cultura material como uma tentativa para combater,
através do seu progresso, a infelicidade acarretada pelo mal. O progresso
dessa cultura foi muito além do que se podia imaginar; entretanto, não só ela
foi inútil no sentido de evitar o mal - seu primeiro objetivo - mas acabou sendo
usada para fins maléficos, gerando atos de crueldade cada vez maiores. Essa
foi a razão pela qual as guerras passaram a ser realizadas em grande escala,
até que acabou se inventando a monstruosa e terrível bomba atômica.
Atingindo esse ponto, podemos dizer que chegamos a uma época em que se
tornou impossível fazer a guerra. Falando sem reservas, é realmente uma
ironia a cultura material ter progredido com a ação do mal e, através deste,
ter se chegado a um tempo em que a guerra é impraticável. Naturalmente, no
fundo de tudo isso está o milenar e profundo Plano de Deus.
Tanto os espiritualistas como os materialistas desejam um mundo de paz
e felicidade, mas isso não passa de um ideal, porque a realidade que nos cerca
é bem diferente. Assim, os intelectuais vivem cercados por um mar de
dúvidas, batendo a cabeça contra as paredes. Entre eles, existem os que
procuram a Religião, a Filosofia e outros meios para decifrar esse enigma; a
maioria, no entanto, acredita que o progresso científico resolverá todos os
problemas. O fato é que a humanidade continua sofrendo, sem perspectivas
de uma situação melhor.
A seguir, descreverei como será o futuro do mundo.
Se o mal é a causa fundamental da infelicidade humana, conforme
dissemos, levanta-se a seguinte questão: por que Deus o criou? Esta é a
pergunta que mais tem atormentado o homem até os dias de hoje. Eis, porém,
que finalmente Deus esclareceu a Verdade, que eu passo agora a anunciar.
O mal foi necessário até o momento porque, através do conflito entre ele
e o bem, a cultura material pôde progredir até chegar ao ponto em que se
encontra. É surpreendente! Embora nem em sonho pudéssemos imaginar que
o motivo fosse realmente esse, é a pura verdade. A propósito, falarei
primeiramente sobre a guerra.
A guerra ceifou milhares de vidas e, por ser tão trágica, os homens a
temem mais do que tudo. Para fugir a essa catástrofe, usaram todos os
recursos da inteligência humana, e nem precisamos falar o quanto isso
contribuiu para o progresso da cultura. Entre outras coisas, a História nos
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

mostra claramente que, após as guerras, tanto os países vencedores como os


vencidos progrediram enormemente. Todavia, se elas chegassem ao extremo
ou se prolongassem demasiadamente, os países seriam totalmente
aniquilados, o que representaria a destruição da cultura. Sendo assim, Deus as
detém num certo ponto, fazendo com que retorne a paz. Através dos relatos
históricos, vemos que sempre houve alternância de períodos de guerra e
períodos de paz.
Na sociedade, a situação é idêntica. Os criminosos e as autoridades
vivem fazendo competição de inteligência. Os desajustes de relacionamento
entre as pessoas também são decorrentes da luta entre o bem e o mal.
Podemos entender, no entanto, que essas divergências contribuem para o
desenvolvimento da inteligência humana.
Ora, se até hoje a cultura progrediu graças aos atritos entre o bem e o
mal, é lícito afirmar que este foi imprescindível. Contudo, precisamos saber
que não é uma necessidade eterna, ou seja, há um limite para ela. A esse
respeito, devo dizer que, atrás de tudo isso, está o objetivo de Deus, que
comanda o Universo. Em termos filosóficos, a expressão seria Ser Absoluto, ou
Vontade Universal.
A começar por Cristo, todos os fundadores de religiões fizeram profecias
sobre o "Fim do Mundo", mas essa expressão, em verdade, significa o fim do
mundo do mal e o advento de um mundo ideal - o Paraíso Terrestre, isento de
doença, pobreza e conflito, o Mundo de Verdade, Bem e Belo, o Mundo de
Miroku, o Reino dos Céus, etc. Os nomes diferem, mas o significado é um só.
A construção de um mundo tão maravilhoso requer um preparo à altura;
um preparo completo, que preencha todas as condições, tanto do ponto de
vista espiritual como do ponto de vista material. Deus determinou que
primeiro se efetuasse o progresso material, pois o progresso espiritual não
está preso ao tempo, podendo ser efetuado de uma só vez, ao contrário
daquele, que necessita de muitos e muitos anos. Para preencher a primeira
condição, fez com que, inicialmente, os homens ignorassem Sua existência,
concentrando-se apenas nas coisas materiais. Foi assim que surgiu o ateísmo,
condição básica para a criação do mal. Assim fortificado, o mal impingiu
maiores sofrimentos ao bem e, prosseguindo na luta, atirou o homem ao
abismo do sofrimento. Mas o homem sempre se debateu, na ânsia de sair
desse abismo, o que desencadeou a força geradora de um grande impulso no
progresso da cultura. Foi trágico, porém inevitável.
Com tudo que dissemos, creio que puderam ter uma noção básica sobre
o bem e o mal. Tendo finalmente chegado o tempo em que o mal não será
mais necessário, ou seja, o tempo presente, a questão é seriíssima. Não se
trata de previsão nem sonho; é a pura realidade. Acreditando ou não, o fato já
está saltando aos nossos olhos, através do extraordinário progresso da ciência
nuclear. Por conseguinte, se estourasse uma nova guerra, não seria uma
simples guerra e sim a destruição total, a extinção da humanidade. Não
obstante, esse progresso é uma forma de extinguir o mal e, por isso, torna-se
motivo de alegria. Como resultado, a cultura, que até hoje foi aproveitada pelo
mal, sofrerá uma reviravolta, ficando à inteira disposição do bem. Daí surgirá o
tão almejado Paraíso Terrestre.
13 de agosto de 1952

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

O BEM E O MAL
O mundo apresenta um aspecto multiforme, com a mescla do bem e do
mal. Tragédia e comédia, desgraça e felicidade, guerra e paz, tudo é
impulsionado pelo bem ou pelo mal. Há homens bons e homens maus.
Precisamos, portanto, ser esclarecidos sobre a existência de uma causa básica,
determinante desses dois elementos. No momento, parece-me indispensável
conhecê-la, e por isso desejo explicá-la.
Por uma inclinação normal, o homem odeia o mal e procura o bem. Com
raras exceções, tanto os governos, como a sociedade ou a família, amam o
bem, porque sabem que o mal não gera paz ou felicidade.
Há dois pontos a salientar na definição do bem e do mal. "Homem bom é
aquele que crê no invisível; mau é o que não crê." O primeiro crê em Deus: é
espiritualista; o segundo, pelo fato de não O ver, não crê: é materialista.
A boa ação parte do amor, da compaixão ou da justiça social, isto é, do
amor à humanidade. Há pessoas que praticam o bem por saberem que a boa
ação produz bom fruto, e a má ação, mau fruto. Outras socorrem o próximo
impelidas pela compaixão. Os quatro princípios do budismo - evitar o
desperdício, ser moderado, fazer economia e tudo poupar - são práticas do
bem. O desejo de ser simpático, gentil, fiel à profissão, almejar o benefício e a
felicidade do próximo, render graças, manifestar gratidão e esforçar-se no
sentido de agradar a Deus, também são práticas do bem. Ainda existem várias
outras práticas, mas creio que essas sejam as mais comuns.
A má ação, produto do pensamento destrutivo fechado à existência
Divina, justifica o delito, contanto que se consiga ludibriar os outros. Então, a
fraude é praticada como ação perfeitamente normal; torturam-se inocentes,
não importando se isso desgraça os homens e a sociedade, e chega-se até ao
cúmulo da prática do homicídio.
A guerra é um homicídio coletivo. Desde a antigüidade, os homens
considerados heróis provocaram guerras para conseguir poderes e satisfazer
desatinadas ambições. Diz um provérbio: "O vitorioso domina o mundo, mas
este o subjuga quando readquire seu equilíbrio." A História nos mostra o fim,
quase sempre trágico, desses "heróis" que brilharam apenas
temporariamente, como conseqüência natural do mal que cometeram.
Se fosse certo o conceito popular de que "não importa enganar,
contanto que não se seja descoberto", seria até mais vantajoso e inteligente
praticar toda espécie de maldades e viver luxuosamente.
O mal surge, ainda, da crença de que, após a morte, o homem
retorna ao Nada; é a negação da vida após a morte, isto é, da vida no
Mundo Espiritual.
Embora a sorte o favoreça durante algum tempo, a realidade evidente é
que o faltoso está fadado à ruína. Aquele que comete delitos vive inquieto e
atormentado pelo receio de ser preso. Sob a tortura da sua consciência
acusadora, é induzido ao arrependimento, sendo freqüente o caso de
criminosos que se entregam ou se alegram em cumprir a pena, porque assim
adquirem tranqüilidade. Isto significa que sua alma, através do elo espiritual,
está sendo censurada por Deus, seu Criador. Portanto, ao praticar o mal,
mesmo que consiga enganar os outros, a pessoa não pode enganar a
si mesma e muito menos a Deus Onisciente, ao qual todo homem está
ligado por um elo espiritual. Por essa razão, jamais o crime compensa.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Existem pessoas que deixam de praticar ações condenáveis, entre


outros motivos, por estes dois: por autodefesa, pois, apesar de pretenderem o
mal, temem o descrédito da sociedade, e por covardia, não obstante
desejarem os seus proveitos. Por outro lado, muitos praticam o bem por
conveniência, sabendo que as boas ações conquistam simpatia e são
compensadoras; ou melhor, praticam o bem na esperança de retribuição. Isso
não passa de uma transação, pois essas pessoas vendem favores para
comprar gratidão. Tais ações não oprimem o próximo nem afetam a sociedade,
sendo melhores que as más, porém, não são verdadeiramente benéficas.
Portanto, perante Deus, cujo olhar penetra no íntimo do homem, nelas não há
honestidade. A dúvida quanto a isso é decorrente da superficialidade do ponto
de vista humano. Essas atitudes são perigosas, próprias dos que não crêem no
Ser Invisível; os que as praticam são levados, no momento oportuno, a
cometer algum mal que possa passar desapercebido na sociedade.
Ao contrário, quem realmente crê em Deus, não se deixa ludibriar por
"brilhantes perspectivas". Ainda que seja considerado um homem de bem, do
ponto de vista terreno e objetivo, se o indivíduo não crê em Deus, situa-se na
esfera do mal, visto estar propenso a transformar-se num mau elemento a
qualquer instante. Por isso eu insisto: ter fé, crer naquele Ser Invisível, é o
atributo essencial do autêntico homem de bem. Estou convencido de que
nada, além da Fé, nos poderá salvar dos conceitos excessivamente
desmoralizadores que caracterizam a época atual.
Embora o homem continue criando leis, polícia, tribunais e prisões para
impedir a ocorrência de crimes, tudo isso é como ele construir jaulas de ferro
para animais ferozes, a fim de proteger-se do perigo. Dessa forma, os
criminosos não estão recebendo tratamento apropriado a seres humanos. E
haverá maior infelicidade para alguém do que terminar a vida descendo às
condições de animal, quando foi criado como um ser superior a todos os
demais?
"O homem se tranforma em animal quando se corrompe, e em
ser Divino, quando se eleva." Esta é uma verdade secular. O homem é
realmente um ser intermediário entre Deus e a besta. De acordo com esta
verdade, o verdadeiro civilizado é aquele que se libertou do instinto animal.
Creio que se pode conceituar o progresso da civilização como a evolução do
homem animal para o homem Divino. E o lugar onde se reúnem homens
Divinos poderá ser outro que não o PARAÍSO TERRESTRE?
25 de janeiro de 1949

A ÉPOCA SEMICIVILIZADA E SEMI-SELVAGEM


Talvez todos pensem que a época mais próspera da civilização mundial
seja a época contemporânea. Entretanto, quando analisamos bem seu
conteúdo, observamos que ela apresenta muitas falhas, como podemos
constatar todos os dias através dos jornais, que estão repletos de artigos
sobre criminosos e criaturas desventuradas. Analisando com justiça,
verificamos que as coisas ruins são muito mais numerosas do que as coisas
boas. Há pouco tempo, por exemplo, tivemos um caso de corrupção que se
tornou um problema muito sério. Quando as autoridades começaram a
investigar, o caso se diversificou tanto que nem podemos imaginar até onde
se multiplicará. Portanto, ele também não seria uma pequena parte de um
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

"iceberg"? Aliás, se investigarmos as coisas profundamente, quantas pessoas


íntegras encontraremos no mundo político e econômico? Poderíamos arriscar-
nos a dizer que nenhuma.
Pensando bem sobre o assunto, existe algo difícil de se entender. Se as
pessoas relacionadas ao caso em questão fossem camponeses de instrução
primária, ainda seria compreensível. Mas todas elas são pessoas civilizadas,
que receberam educação esmerada. Em geral, acredita-se que, quando as
pessoas recebem educação apurada, sua mente se desenvolve e elas se
tornam criaturas civilizadas, de modo que, assim, os crimes tendem a diminuir.
Entretanto, vendo fatos como o que ora se nos apresenta, ficamos
desapontados, só podendo dizer que tudo isso é realmente incompreensível.
Portanto, como eu disse no título deste artigo, a época em que vivemos é
semicivilizada e semi-selvagem, e acho que, analisando a realidade que temos
diante dos nossos olhos, ninguém conseguiria fazer o contrário.
Que devemos fazer então? A solução do problema não é absolutamente
difícil; pelo contrário, é muito fácil. Como sempre tenho explicado, basta
despertar as pessoas da educação materialista que receberam para a
educação espiritualista. Em termos mais claros, destruir o pensamento
errôneo de que se deve acreditar somente nas coisas que possuem forma e
desacreditar daquelas que não a possuem. A única maneira de se conseguir
isso é fazer com que seja reconhecida a existência de Deus através do poder
da Religião.
Estendendo-se esse entendimento das classes dirigentes a todas as
pessoas, corrigir-se-á o conceito errado de que se pode cometer crimes,
contanto que eles não cheguem ao conhecimento de terceiros. Assim, não
haverá mais criminosos e, conseqüentemente, formar-se-á um mundo onde
impere o bem e a alegria. Parece, no entanto, que ninguém entende um
princípio tão simples e claro como este, visto que só se procura controlar o mal
por meio de fortes redes e prisões chamadas leis. Isso, porém, é tratar os
homens como se fossem animais, não sendo à toa que o método não surte
resultados positivos.
Ora, se não se consegue manter a disciplina da sociedade nem mesmo
com as malhas da lei, torna-se necessário descobrir onde está a causa do
problema. Mas ninguém a percebe. A sociedade continua sendo uma
coletividade constituída de seres que são meio-homens e meio-animais. Por
esse motivo, está demasiado claro que já não é possível eliminar o caráter
animalesco do homem através da educação materialista. O ensino ministrado
até hoje, como se pode ver pelos seus resultados, não passa de uma técnica
para encobrir esse caráter. Dessa maneira, não podemos sequer imaginar
quando se edificará uma sociedade verdadeiramente civilizada. Portanto, para
solucionar o problema, é fundamental eliminar as características animalescas
da alma do homem. Não há método mais eficiente.
Eis a missão da Religião. Mas é estranho que, quanto mais elevada é a
educação que se recebe, mais se despreza a Religião. Por quê? Talvez seja esta
a grande falha da civilização. A causa está no caráter animalesco existente no
interior dos homens, o qual recusa a Religião. Ou seja, é porque o mal não
gosta do bem. Daí podermos dizer que a educação da atualidade forma as
"inteligências" do mal. Entretanto, chegou a hora em que tal coisa não mais
será permitida, porque surgiu a Igreja Messiânica Mundial, que prova a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

existência de Deus e consegue fazer com que as pessoas O alcancem. Talvez


achem impossível algo tão maravilhoso, mas, na realidade, pode-se conseguir
isso sem nenhuma dificuldade. Pelo simples contato com a nossa Igreja, a
pessoa obtém a certeza da existência de Deus, através do milagre. A melhor
prova do que dizemos são as inúmeras bênçãos maravilhosas manifestadas
por ela. Creio que isso representa a manifestação da Grandiosa Providência de
Deus, que finalmente corrigirá essa civilização falha, semicivilizada e semi-
selvagem, fazendo com que Espírito e Matéria caminhem lado a lado, para a
construção do verdadeiro mundo civilizado.
14 de abril de 1954

ERA SEMICIVILIZADA
É consenso geral que estamos vivendo um momento em que a
civilização atingiu um nível nunca antes alcançado. Se compararmos a época
atual com a selvageria e o subdesenvolvimento da era primitiva, veremos que
houve de fato um grande progresso. Entretanto, foi um progresso apenas no
sentido material, pois espiritualmente permanecemos no estado de semi-
selvageria.
Desde tempos remotos, continuamente os povos vêm desperdiçando a
maior parte de suas energias com a guerra, a maior de todas as violências.
Eles em nada diferem dos animais ferozes, que lutam mostrando suas presas e
garras. É verdade, também, que existem os pacifistas, os quais não medem
esforços para evitar a guerra. Podemos dizer que os primeiros são seres
animalescos, e os pacifistas são seres humanos realmente. Cada uma dessas
duas espécies contrastantes de homens procura satisfazer seus próprios
desejos. É um dualismo que a História veio registrando através dos tempos e
perdura em nossos dias. Logicamente, existe essa dualidade de pensamento
também a nível individual, mas a violência está sendo evitada pela Lei, e vem
sendo mantida, ainda que precariamente. Os bons e justos, no entanto, são
sempre pressionados pelos maus, dos quais se tornam vítimas constantes.
Vejamos outro aspecto da questão.
Atualmente, graças ao progresso da Ciência, são feitas grandiosas
invenções e descobertas, as quais, dependendo da vontade das pessoas que
as manipulam, podem ter resultados funestos ou, ao contrário, contribuir para
o aumento do bem-estar da humanidade. O atrito entre esses dois
pensamentos opostos - o selvagem e o civilizado - podem tornar-se causa da
guerra, na qual essas invenções e descobertas também poderiam ser
empregadas para fins maléficos.
Analisando o assunto sob outro prisma, constatamos que os povos
belicosos não são religiosos, ao contrário dos povos pacifistas; daí a
necessidade da Religião. Portanto, não seria demais dizer que, apesar de
apregoarem que estamos numa era de elevado nível cultural, na verdade
estamos vivendo um período de semi-selvageria, ou semicivilização, de modo
que precisamos elevar seu nível, transformando a semicivilização em
civilização total, com perfeita unidade espírito-matéria. Assim, a missão dos
religiosos, daqui por diante, é realmente importantíssima.
25 de junho de 1949

MATERIALISMO E ESPIRITUALISMO
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

A maioria dos comentários que fazem sobre a nossa Igreja é que se trata
de uma religião supersticiosa. Mas qual a razão dessa afirmativa? A verdade é
que o ponto de vista daqueles que tecem tais comentários difere do nosso.
Eles analisam as questões espirituais tomando por base a matéria. Material,
como o próprio nome está indicando, é aquilo que podemos perceber
claramente através da visão ou dos demais sentidos, e por isso qualquer
pessoa consegue compreender. O espírito, todavia, não é visível,
conseqüentemente torna-se fácil negar a sua existência. Assim, se fizermos
uma simples comparação, teremos de concordar que o espiritualismo
encontra-se em situação desvantajosa em relação ao materialismo.
A visão materialista está limitada pelos cinco sentidos; tem, portanto,
uma existência pequena, ao passo que a visão espiritualista não tem limites. É
como se fosse o tamanho da Terra comparado com o tamanho do Universo,
que é um espaço sem fim. Daqui onde estou só consigo ver até o Monte Fuji, e
olhe lá... Não passam de algumas dezenas de quilômetros. O pensamento,
entretanto, que não podemos ver, num instante pode estender-se até o
infinito. Diante dele, a imensidão da Terra é insignificante. É como se a visão
espiritualista fosse o oceano, e a visão materialista fosse o navio que nele
flutua. Baseados nisso, podemos comparar o materialismo com o macaco
Songoku, o qual, tentando fugir dos domínios espirituais de Buda, percorreu
milhares de milhas, mas, quando percebeu, ainda estava na palma da mão de
Buda, e se arrependeu do que fizera. Entre outros conceitos espiritualistas
sobre o materialismo, podemos citar: "Tudo é nada", "Tudo que nasce está
condenado à extinção" e "Todo encontro está fadado à separação", de
Sakyamuni, ou, segundo o zen-budismo: "As coisas que possuem forma
infalivelmente desaparecerão".
Pela exposição acima, acredito que entenderam como está errado
analisar as coisas espirituais do ponto de vista da matéria, pois esta é finita,
enquanto aquelas têm vida eterna e são infinitas. É a mesma coisa que querer
colocar um elefante dentro de um pote ou ver todo o céu através de um
orifício, ou seja, é ter uma visão limitada das coisas.
Materialistas! Depois de conhecerem esta verdade, ainda têm algo a
dizer? Pensem no que farão!
20 de dezembro de 1949

O MATERIALISMO CRIA O HOMEM MAU


Talvez estas palavras pareçam demasiado fortes, mas não posso evitá-
las, pois correspondem à pura verdade. Segundo nosso ponto de vista, o
materialismo, ou seja, o ateísmo, pode ser considerado o pensamento mais
perigoso que existe. Vejamos. Se Deus não existisse, eu também ganharia
dinheiro enganando o próximo habilmente, de modo que não fosse
descoberto; faria o que bem entendesse e, além de viver uma vida de luxo,
estaria ocupando uma posição de maior destaque na sociedade. Entretanto,
consciente da existência de Deus, de forma alguma sou capaz de proceder
assim. Tenho de percorrer o caminho mais correto possível e tornar-me um
homem que deseja a felicidade das outras pessoas. Caso contrário, jamais
poderia ser feliz e levar uma vida que vale a pena ser vivida.
O que eu estou dizendo não é mera teoria ou algo parecido. Como
podemos ver através de inúmeros exemplos que a História nos mostra desde
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

os tempos antigos, por mais que a pessoa prospere por meio do mal, essa
prosperidade não dura muito, acabando por desmoronar. É um fato que
deveria ser percebido facilmente, mas parece que isso não acontece. A
sociedade continua assolada pelos crimes. Crimes horripilantes, como
assaltos, fraudes e assassinatos; casos de corrupção de pessoas que ocupam
posições elevadas, os quais se tornam objeto de comentários sociais;
incontável número de crimes de pequeno e médio porte, etc. Tudo isso é uma
conseqüência do pensamento ateísta; por conseguinte, podemos dizer que
esta é a verdadeira causa dos crimes. Está, pois, mais do que claro que só há
um meio de eliminar os crimes deste mundo: destruir o ateísmo. Atualmente,
porém, os intelectuais, as autoridades e os pedagogos estão confundindo
pensamento teísta com superstição e tentando obter bons resultados com
apoio nos regulamentos da lei, no ensino, nos sermões, etc. Dessa forma, por
mais que eles se esforcem, é natural que nada consigam. As notícias
publicadas diariamente nos jornais mostram-no claramente.
Assim, para criar uma sociedade limpa e pura, é preciso estimular
intensamente o pensamento teísta. Por infelicidade, o Japão encontra-se em
tal situação que, quanto mais instruída é a classe, maior o número de pessoas
ateístas. Além disso, é comum acreditar-se que esta é uma qualificação dos
intelectuais e dos jornalistas, de modo que, quanto mais a pessoa enfatiza o
ateísmo, mais progressista ela é considerada. Por esse motivo, se não houver
uma mudança radical, no sentido de que os ateístas sejam vistos como
ultrapassados, e os teístas, como vanguarda intelectual da época, a sociedade
não se tornará alegre e feliz.
7 de maio de 1952

A CIÊNCIA CRIA AS SUPERSTIÇÕES


De uns tempos para cá, alguns jornalistas do Japão vêm tachando as
religiões novas de supersticiosas e trapaceiras. Dizem eles que, após a
Segunda Guerra Mundial, o povo japonês passou a viver uma situação muito
confusa, e que, aproveitando-se disso, começaram a aparecer religiões
trapaceiras e supersticiosas, confundindo ainda mais as pessoas. Assim eles se
expressam a respeito, mas não tentam descobrir as causas do fato. Acham
que as religiões novas são todas iguais e formulam definições baseadas
apenas no seu entendimento pessoal e nos boatos.
Não podemos deixar de nos sentir decepcionados com a superficialidade
do julgamento desses jornalistas, e achamos que é responsabilidade nossa
orientá-los e ensiná-los a pensar de modo correto. Entretanto, não queremos
negar totalmente sua atitude, pois, como a base de seu raciocínio é
materialista, é natural que eles definam como superstição tudo aquilo que não
vêem. Se estivéssemos em seu lugar, obviamente agiríamos da mesma forma.
Negando-se, porém, a existência do invisível, como ficaria o mundo? Talvez o
materialismo o levasse a uma situação calamitosa. As relações de amizade e
amor entre as pessoas, inclusive o relacionamento entre pais e filhos ou entre
irmãos, passariam a ser meros cálculos de vantagens e desvantagens. A
sociedade seria fria como um cárcere de pedra, e nem mesmo os materialistas
poderiam suportá-la. Vemos, pois, que o modo de pensar dos jornalistas a que
nos referimos encontra-se entre duas posições, sem definição precisa.
Analisemos, a seguir, a situação real do mundo em que vivemos.
39
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

É considerável o número de pessoas supersticiosas entre os intelectuais.


Há tempos, li uma estatística dos diferentes tipos de superstições que existem
em cada país; a Alemanha, considerada uma das nações mais avançadas no
ensino das ciências, acusava o maior número. Desse modo, notamos que as
superstições crescem proporcionalmente ao progresso científico. Eis como
interpretamos o fato:
Durante longo tempo, recebemos, nas escolas, um ensino materialista
cuja base é a lógica; entretanto, quando terminamos os estudos e nos
integramos na sociedade, encontramos uma realidade diferente, que está em
desacordo com a lógica. Em conseqüência, a maioria das pessoas começa a
ter dúvidas, porque, quanto mais age em conformidade com ela, piores são os
resultados. Os mais inteligentes pensam, então, em estudar uma nova
sociologia que esteja de acordo com a realidade social em que vivem. Como
não existe esse tipo de curso, começam a estudar sozinhos. Se forem rápidos,
conseguirão atingir seu objetivo em pouco tempo; alguns, todavia, levam
muitos anos. Trata-se, em verdade, de um segundo aprendizado,
completamente diferente do primeiro, que custou tanto sacrifício. Contudo, é
um aprendizado real, seguro, e pode ser aplicado no dia-a-dia. Os mais bem
dotados, tendo enfrentado as amarguras e doçuras da vida, adquirem larga
experiência, tornando-se "doutores" nessa sociologia. A maioria deles, quando
se acham a um passo disso, já estão velhos, sendo que muitos acabam a vida
como pessoas comuns. Existem, no entanto, aqueles que sobressaem, como
por exemplo o Sr. Yoshida, primeiro-ministro do Japão, o qual se destacou pela
sua superioridade e habilidade política.
Com essa explicação, penso que entenderam a causa das superstições.
Em resumo, se falhamos quando tentamos aplicar os conhecimentos
adquiridos na escola - nos quais acreditávamos piamente - é fatal cairmos na
dúvida. Nesse momento, torna-se muito fácil as pessoas ingressarem em
religiões supersticiosas e trapaceiras. Podemos dizer, entretanto, que
nenhuma das religiões existentes realmente esclarece dúvidas. Assim,
compreendemos que a culpa de tudo cabe ao ensino ministrado nas escolas, o
qual está muito distanciado da realidade, e concluímos que, em parte, as
superstições são criadas por certo aspecto da Educação contemporânea.
Para finalizar, quero dizer que reconhecemos serem numerosas,
atualmente, as religiões supersticiosas e trapaceiras, como dizem os
jornalistas, mas achamos errado generalizar, porque, sem dúvida, existem
algumas às quais não cabem tais designações. Ora, chamar de superstição
aquilo que não o é, também constitui uma espécie de superstição. Nesse
sentido, queremos prevenir aos jornalistas que escrevam sobre as religiões
supersticiosas e trapaceiras, mas que não definam com esses termos qualquer
religião, pois esse procedimento representa um obstáculo para o progresso da
cultura.
30 de janeiro de 1950

INADEQUAÇÃO DO ESTUDO
Costumamos referir-nos ao estudo como se só houvesse uma
modalidade. Entretanto, existe o estudo vivo e o estudo morto. Parece
estranho, mas vou esclarecer o que isso significa. Aprender por aprender é
estudo morto, enquanto aprender algo para ser utilizado na sociedade é
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

estudo vivo. O estudo para pesquisar a Verdade é diferente, e muito


importante. Mas, vejamos, em primeiro lugar, o que é estudo.
Atualmente, nas escolas primárias, secundárias e superiores, utilizam-se
os livros didáticos, ou melhor, a teoria, como linha vertical; o que é ensinado
pelo professor, constitui a linha horizontal. Esse método de ensino foi
elaborado após grandes esforços e inúmeras experiências feitas por didatas.
Logicamente, novas descobertas e novas teorias surgiram e desapareceram;
algumas surgiram e foram ultrapassadas por outras mais recentes, as quais
aproveitaram daquelas apenas o que tinha validade para ser incorporado.
Aquilo que em outra época era considerado verdade e respeitado como regra
de ouro, foi desaparecendo sem deixar nenhum vestígio, na medida em que
aparecia algo que o superava. Existem, contudo, algumas teorias descobertas
que se mantêm vivas até hoje, concorrendo para tornar a sociedade mais feliz.
É o tempo que determina o valor de todas as coisas. Por esse motivo,
embora tenhamos plena certeza de que uma teoria seja absolutamente
verdadeira, inalterável e eterna, não podemos saber quando aparecerá outra
que a destrua, nem quem o fará. Vários exemplos podem ser citados, desde
tempos antigos. Quando aparecem novas descobertas, é natural que elas não
se encaixem nos moldes das tradicionais; quanto menos se encaixam, maiores
são os seus valores. Resumindo, é uma ruptura das formas enraizadas; na
medida em que for mais intensa, maior a sua validade. Desse modo, é
evidente que as velhas teorias são afastadas devido ao aparecimento de
teorias novas, superiores a elas. Se a verdade em que acreditávamos é
ultrapassada, é porque surgiu outra de maior Luz. É assim que se processa o
desenvolvimento cultural.
Analisemos mais profundamente. O ensino tradicional foi sedimentando-
se através dos anos, mas o progresso cultural faz com que ele se dissocie
dessa forma estática numa rapidez incrível. Um dia destes, ouvi do presidente
de uma empresa o seguinte comentário: "Embora seja muito inteligente, uma
pessoa que saiu da universidade há mais de dez anos não consegue situar-se,
em face dos problemas reais do presente. Isso acontece por não haver
correspondência entre o que ela aprendeu naquela época e o tempo atual,
especialmente no que se refere aos técnicos." Essas palavras vêm ao encontro
daquilo que eu explanava, porque, pela sua própria natureza, os conteúdos
das matérias estudadas devem se referir à época do estudo, mas, se eles não
acompanharem o progresso cultural, fatalmente o estudo perderá sua
validade. Exemplifiquemos.
Dizem que os políticos contemporâneos tornaram-se muito "pequenos",
o que significa dizer que é difícil encontrar políticos de grande envergadura.
Os ministros de hoje não são nada hábeis; o máximo que eles conseguem é
resolver problemas do momento. Isso ocorre porque, na atualidade, os
estadistas de nível ministerial são formados pelas Universidades Federais e
deixam-se levar facilmente pelas velhas teorias aprendidas. Racionais em
tudo, eles não sabem que existe algo além da lógica. É a mesma coisa que
utilizar o cavalo como meio de transporte numa rodovia, ou aprender a dirigir
charrete ao invés de carro.
O estudo destina-se ao desenvolvimento do cérebro humano. É para
edificar uma base, como se fosse o alicerce de uma casa. Sobre essa base,
precisamos fazer uma nova construção, ou seja, utilizar o estudo, desenvolvê-
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

lo e com ele criar coisas novas. Isso significa ajustar os passos ao contínuo
progresso cultural. E não é só isso. O verdadeiro estudo vivo é aquele que
avança ainda mais, desempenhando a função de orientar a cultura.
Recentemente, o presidente Truman, dos Estados Unidos, declarou que, por
volta de 1921, ele era um simples comerciante de variedades. Não se pode
imaginar o quanto lhe foi benéfica essa experiência na realidade social.
Há mais de dez anos, proclamei uma nova teoria relacionada com a
Medicina; tão logo, porém, eu a publiquei em livro, este foi apreendido. Como
isso aconteceu três vezes, sem que eu pudesse fazer nada, desisti. O motivo
da apreensão é que a minha tese é contrária aos princípios da Medicina atual.
Em relação à porcentagem de curas alcançadas por meio desta, os efetivos
resultados obtidos através do meu método comprovam que ele é dez vezes
mais eficaz. Além disso, não se trata de cura temporária, mas definitiva. O que
estou dizendo constitui a pura verdade, sem o mínimo alarde. No prefácio do
livro, eu até escrevi: "Estou pronto para comprová-lo a qualquer hora."
Entretanto, como as autoridades e os especialistas não deram a mínima
atenção, nada mais pude fazer.
O objetivo da Medicina é curar os doentes, preservar a saúde do homem
e prolongar-lhe a vida. Que objetivo poderia ter além deste? Por mais que se
preguem teorias, que se aperfeiçoem instalações e que haja aparelhagens
supersofisticadas, tudo isso será inútil se não corresponder ao referido
objetivo. Baseadas apenas na diferença entre a minha teoria e as da medicina
tradicional, as autoridades e os especialistas ignoraram-na sem ao menos
tentar discuti-la, revelando-se, portanto, verdadeiros traidores do progresso da
cultura. Como os governantes são crédulos e não levantam nenhuma dúvida,
só posso dizer que os homens de hoje não passam de ovelhas indefesas.
Mas qual será a finalidade da minha arrojada teoria? Eu não sou nenhum
louco. Se não tivesse absoluta certeza da sua veracidade, não faria tanto
empenho em divulgá-la.
Na Medicina, tão orgulhosa do progresso que alcançou, eu descobri uma
grande falha. Entre as grandes descobertas efetuadas até o presente,
nenhuma se compara à descoberta que eu fiz, porque ela é de importância
radical para a solução de todos os problemas relacionados à vida humana.
Enquanto os homens não despertarem para essa grande falha, as doenças
jamais serão eliminadas. Prevejo, entretanto, que, num futuro próximo,
quando a Medicina alcançar um progresso maior, minha teoria será
confirmada.
Voltando nossa atenção para a sociedade, todos nós poderemos ver
como é elevado o número de criaturas que estão sofrendo, acometidas de
doenças graves ocasionadas pela medicina errada. Diante disso, não podemos
ficar tranqüilos. No momento, porém, nada nos resta fazer senão orar: "Ó
Deus, Todo-Poderoso! Fazei, por favor, com que a Medicina abra os olhos, o
quanto antes, para as suas falhas e, assim, torne saudáveis todos os homens!"
25 de junho de 1949

A RESPEITO DO ATEÍSMO
Parece regra geral desenvolver o raciocínio do ponto de vista religioso,
quando se escreve sobre ateísmo, mas eu pretendo discorrer sobre esse tema
sem tocar em Religião, colocando-me a mim próprio na posição de ateu.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Quando uma criança nasce, o seio materno lhe fornece o leite para sua
nutrição. A criança cresce normalmente e os pais ministram-lhe alimentação
adequada à primeira dentição. Assim, ela vai vencendo várias fases de seu
desenvolvimento, até atingir a adolescência. A alimentação, portanto, é a base
do crescimento. O homem se nutre suficientemente de calorias ao ingerir
alimentos com prazer, graças ao paladar. Creio ser esse o maior de todos os
prazeres humanos.
O físico e também a inteligência vão se desenvolvendo gradualmente
através da instrução e, na mocidade, o ser humano está apto a exercer as
funções normais de um adulto. Surgem-lhe, então, diversas ambições, como a
ânsia de poder, o espírito de competição e de progresso e, no plano físico, em
forma de diversões, folguedos e namoros.
Dessa maneira, o homem está pronto para participar da vida social,
característica de um ser superior, com os sofrimentos e alegrias que nascem
da razão e do sentimento.
Consideremos, agora, a Natureza.
No Universo, não só os fenômenos visíveis, como o sol, a lua, as estrelas,
a via-láctea, a temperatura, o vento, a chuva, os animais, os vegetais e os
minerais, que estão diretamente relacionados com o ser humano, mas
também os fenômenos invisíveis, tudo está sob a ação e controle do poder da
Natureza. Esta é a própria figura do mundo. Observando-a calmamente e sem
idéias preconcebidas, qualquer pessoa - a menos que seja insensível - fica
embevecida com seu encanto misterioso.
A Natureza é dotada de mistério profundo e insondável. Grandioso é o
Céu que contemplamos e ilimitada é a sua extensão. Como se apresenta o
centro da Terra? Qual o número certo de estrelas, o peso exato do globo
terrestre, a quantidade das águas marítimas? Se começarmos a enumerar
coisas e fatos, não acabaremos nunca.
A especulação nos deixa abismados com o movimento metódico dos
astros, a formação da noite e do dia, o fenômeno das estações, o sentido
esotérico dos 365 dias do ano, a evolução de todas as coisas, o progresso
ilimitado da civilização, etc. Quando surgiu este mundo? Qual a sua extensão?
Ele é finito ou infinito? Qual o limite da população mundial? E o futuro da
Terra?
Tudo permanece envolvido em mistério. Tudo caminha silenciosamente,
sem a mínima falha ou atraso, obedecendo a uma ordem determinada.
Ainda nos deparamos com os seguintes problemas: Por que viemos a
este mundo e que papel devemos desempenhar? Até quando poderemos
viver? Voltaremos ao Nada, após a morte, ou existe o desconhecido Mundo
Espiritual onde iremos habitar em paz? As reflexões sobre o assunto nos
deixam ainda mais confusos, permanecendo tudo na obscuridade. Não há
outro qualificativo a não ser o que dizem os bonzos: "A Realidade é um Nada,
e o Nada é uma Realidade."
Vasta, ilimitada e infinita é a existência do mundo. O ser humano, com a
pretensão de desvendar este mundo misterioso, vem empregando todos os
meios, principalmente a pesquisa; apesar de seus esforços, só consegue
conhecer uma pequena parcela dos fenômenos infinitos. Daí atinarmos com a
insignificância da inteligência humana em relação à Natureza. É significativa a
expressão "sombrio vazio", também citada pelos bonzos. Entretanto, a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

vaidade humana, em sua tola presunção, excede-se a ponto de querer


subjugar essa mesma Natureza. Sábio é o homem que, antes de mais nada,
procura conhecer a si mesmo, submete-se a ela e participa das suas graças.
Analisando a Natureza sob o aspecto da vida humana e do ambiente que
a rodeia, subsiste um enigma que sobrepuja todos os outros: "Quem construiu
este mundo maravilhoso e o governa à sua vontade?" Ninguém poderá deixar
de refletir sobre o seu Criador, nem sobre o propósito com o qual foi
construído um mundo tão esplendoroso. Procuremos imaginar esse Criador.
Um lar é governado pelo chefe da família; um país, pelo rei ou
presidente. Logicamente, este mundo deve ser dirigido por alguém. E quem
poderia ser senão o Ente conhecido como Deus? Não encontro outra
conclusão. Por conseguinte, negar Deus significa negar o mundo em si mesmo.
Tal lógica não permite dúvidas; se alguma pessoa duvidar, coloca-se num
plano de obstinado preconceito. Nesse caso, assemelha-se aos irracionais: é
desprovida de inteligência.
Nossa missão é extirpar do homem essa irracionalidade, transformando-
o em verdadeiro ser pensante, numa verdadeira obra de reforma humana. Até
mesmo o ateu deve convir que a grandiosidade do Universo e a perfeição
cósmica só podem partir de um princípio perfeito: DEUS.
6 de janeiro de 1954

A CULTURA DE "SU"
Para falar desse tema, começarei por explicar o significado da forma
("su"). Como se pode ver, é uma circunferência  com um ponto “●” bem no
centro. Se fosse apenas isso, não teria um significado muito importante;
entretanto, nada é tão significativo.
A circunferência expressa a forma de todas as coisas no Universo. A
Terra, o Sol, a Lua e até mesmo os espíritos desencarnados e as divindades
tomam esse formato para se moverem de um lugar para outro. Isso está bem
comprovado pela conhecida expressão "Bola de Fogo". A "Bola de Fogo" das
divindades é uma esfera de luz; a dos espíritos humanos desencarnados não
possui luz, é apenas algo embaçado ou desfocado, de cor amarela ou branca.
Tratando-se de espírito masculino, é amarela, e de espírito feminino, branca,
correspondendo respectivamente ao Sol e à Lua.
Mas vamos ao mais importante. Naturalmente, este mundo também tem
o formato circular; mas não passa de um círculo, pois o seu interior está vazio.
No caso do ser humano, significa não ter alma; assim, colocar-lhe um ponto no
centro, ou seja, colocar-lhe alma, é torná-lo um ser vivente. Só dessa maneira
ele pode desempenhar atividades. Por conseguinte, a circunferência com um
ponto no centro simboliza uma forma vazia na qual se pôs alma. Isso equivale
à expressão "colocar espírito", usada pelos pintores antigos. Com base no que
acabamos de dizer, podemos afirmar que até agora o mundo era vazio, não
possuía alma. Eis, portanto, o que significa "Cultura Superficial", sobre a qual
já escrevi em outra oportunidade.
A prova do princípio exposto acima evidencia-se em todos os setores da
cultura. O tratamento alopático das doenças, como sempre digo, também é
uma manifestação desse princípio. As dores e a coceira são adormecidas por
meio da aplicação de injeções ou de remédios passados no local; a febre,
baixa-se com gelo; corta-se, também, a purificação tomando-se remédios.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Dessa forma, o doente livra-se dos sofrimentos durante algum tempo, mas,
como não se atingiu a raiz da doença, a cura completa é impossível; com o
tempo, a doença retorna. Em verdade, o que acontece é apenas o seu
adiantamento. Sendo assim, também a causa das enfermidades está na alma,
porém até agora não se compreendeu isso.
O mesmo se verifica em relação a outros males, como os crimes, por
exemplos. Atualmente, eles são evitados de uma só maneira: fazendo-se o
criminoso cumprir uma pena dolorosa. Trata-se de um processo idêntico ao
tratamento alopático empregado pela Medicina. Por isso é que, quando
alguém comete um crime, geralmente vem a cometer outros. Existe quem
pratique dezenas deles, e até mesmo quem os cometa a vida inteira,
passando mais tempo preso do que em liberdade. A causa disto está na falta
do ponto, ou seja, da alma.
Sobre a guerra pode-se dizer a mesma coisa. Aumentando-se o poderio
militar, o inimigo sentirá que não tem condições de vencer e desistirá da luta
por algum tempo. Mas isso não passa de um meio de adiar a guerra; a História
tem demonstrado que um dia, inevitavelmente, ela recomeçará. Assim,
podemos entender que a cultura existente até agora era apenas uma
circunferência sem um ponto no centro.
Eu sempre falo sobre a teoria dos noventa e nove por cento e do um por
cento. Se numa circunferência entrar um ponto, significa que por meio de um
por cento modificam-se noventa e nove por cento. Em outras palavras,
representa destruir noventa e nove por cento do mal com a força de um por
cento do bem. Seria o mesmo que tornar branca uma circunferência preta
unicamente com a força desse um por cento. Relacionando isso ao mundo,
significa colocar conteúdo, ou melhor, colocar alma numa civilização vazia.
Assim, estamos vivificando a civilização que até agora só apresentava forma,
como se fosse um objeto inerte. É o nascimento de um novo mundo.
10 de setembro de 1952

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Extraído do livro “Os Novos Tempos”

O JUÍZO FINAL
Os cristãos e todas as pessoas em geral devem estar muito interessados
em saber quando e como virá o Juízo Final, profetizado por Cristo. Visto que
está se aproximando a hora, vou esclarecer a questão parcialmente. Não se
trata de interpretação minha, e sim de um conhecimento que me veio
totalmente por intuição espiritual. Por isso, quero que tomem minhas palavras
apenas como mais uma referência ou teoria.
Em primeiro lugar, é necessário definir se realmente haverá um Juízo
Final. Ora, um ser Divino como Cristo, que hoje é alvo da fé de milhares de
seguidores no mundo inteiro, entre os quais se contam povos de nações
superdesenvolvidas, não profetizaria algo que não acontecerá. Caso sua
profecia não se concretize, ele não passará de um simples mentiroso. Portanto,
embora não sejamos cristãos, acreditamos nela piamente. As palavras do
fundador da Religião Oomotokyo: "O que Deus diz não tem qualquer margem
de erro, nem sequer da largura de um fio de cabelo", sem dúvida alguma
podem ser aplicadas à profecia sobre o Juízo Final.
Sobre o bem e o mal também existem as seguintes profecias: "Destruirei
o mal pela raiz e construirei o Mundo do Bem"; "O Mundo do Mal já acabou";
"O Mundo do Mal atingirá o seu ápice aos noventa e nove por cento, e, com a
ação de um por cento, será transformado no Mundo do Bem"; "Finalmente
está chegando a hora da transição do mundo". Todas elas, creio eu, não
podem dizer respeito a outra coisa senão ao Juízo Final. É aquilo a que
estamos nos referindo constantemente como sendo a Transição da Noite para
o Dia. Há uma frase também relacionada a essa transição: "O momento crítico
deste mundo está prestes a chegar; por isso, nosso espírito precisa estar
polido". Tais palavras significam que é impossível o ser humano transpor esse
período estando cheio de máculas.
Tomando a Bíblia como base e analisando o sentido das profecias
citadas, podemos afirmar que nos encontramos na iminência de um grande
perigo; para ultrapassá-lo, precisaremos estar com o espírito purificado. Isso
quer dizer que o homem mau será eliminado para sempre. Se assim for, torna-
se imprescindível purificarmos nosso espírito através de uma fé correta, a fim
de que possamos transpor essa fase com segurança.
Os materialistas podem não acreditar, podem dizer que é um absurdo,
que Deus é apenas fruto da imaginação do homem; entretanto, quando
chegar o momento decisivo e, aflitos, eles quiserem voltar-se para Deus, já
será tarde demais. Isso é mais claro que a luz do dia. Naturalmente, o amor de
Deus é infinito e Seu desejo é salvar o maior número possível de criaturas.
Nós, que seguimos Sua Vontade, estamos repetidamente advertindo os
homens, através da palavra oral e escrita.
Sobre o mesmo assunto existe outra advertência: "Deus está querendo
salvar os homens, mas, se eles não tomarem cuidado e não derem
importância a tantos avisos, encarando-os simplesmente como o canto do galo
que estão acostumados a ouvir, chegará a hora em que, prostrados, terão de
pedir perdão a Deus. No entanto, quando chegar essa hora, Deus não poderá
ficar se ocupando dos homens. Assim, eles terão de resignar-se ante a

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

situação criada pelas suas próprias mãos." Acho que essas palavras têm
exatamente o mesmo sentido daquilo que eu acabei de explicar.
A propósito, falarei resumidamente sobre o Dilúvio e a Arca de Noé.
O fato deve ter acontecido há milhares de anos, num antigo país
europeu, onde viviam dois irmãos de nome Noé. No estado que hoje
chamamos de "transe", o mais velho foi avisado sobre a iminência de um
dilúvio e por isso deveria alertar seu povo. Muito apreensivos, eles anunciaram
aos homens o perigo iminente, mas ninguém acreditou em suas palavras.
Passados alguns anos, finalmente eles conseguiram convencer seis pessoas.
Então Deus lhes ordenou que construíssem uma arca, e os oito entraram nela.
Pouco tempo depois, começou a chover ininterruptamente. Uns dizem
que choveu durante quarenta dias; outros dizem que cem. O certo é que foi
um longo período de fortes chuvas. As águas subiam cada vez mais,
inundando as casas; apenas o cume das montanhas ficava de fora. Os homens
tentavam entrar na arca ou refugiar-se nas montanhas, mas os animais
ferozes e as cobras venenosas, querendo salvar-se, faziam o mesmo. Como a
arca possuía tampa, ninguém conseguiu entrar. Famintos, os animais
devoravam todos os homens; salvaram-se apenas as oito pessoas que
estavam na arca. Elas são consideradas antepassados da raça branca.
No Novo Testamento, existe uma passagem na qual se diz que João faria
o batismo pela água e Cristo faria o batismo pelo fogo. Se o Dilúvio
representou o início do batismo pela água, o batismo pelo fogo, atribuído a
Cristo, só poderá ser o Juízo Final que está prestes a chegar. Acontece que a
água é material, e o fogo é espiritual. Por isso, aquilo que estamos realizando
atualmente-a purificação do espírito através do espírito-nada mais é que o
batismo pelo fogo. Como o espírito se reflete na matéria, a influência que esse
batismo exercerá sobre ela deverá produzir uma mudança extraordinária. Mas
precisamos saber que existe perigo apenas para o mal, e não para o bem.
Este artigo, eu o ofereço às pessoas descrentes.
20 de janeiro de 1950

CICLOS CÓSMICOS
O homem vive num ilimitado e misterioso mas ordenado Universo, que
evolui e reevolui em ciclos. Um ciclo é um período de tempo durante o qual
certos aspectos ou movimentos de corpos celestes se realizam e ao fim do
qual irão ser repetidos em novo ciclo — um período de anos ou idades — no
qual certos fenômenos ocorrem, os quais, por sua vez, se inter-relacionam com
toda a vida. Há ciclos de órbitas nos céus, ciclos das estações na Terra, ciclos
do dia e da noite. Existem também, os ciclos das idades.
As mudanças ocorrem em pequena, média e ampla escala. Ciclos
menores ou maiores podem ocorrer cada dez, mil, três mil, dez mil anos e
assim por diante, repetindo-se continuamente dentro da eterna marcha do
tempo. Na verdade, o Universo é infinitamente misterioso — tão misterioso,
que o entendimento do homem atual ainda não pode compreendê-lo.
Após uma Era de aproximadamente três mil anos de relativa
obscuridade, encontramo-nos agora no alvorecer de uma nova Era de Luz. A
mutação é tão sem precedentes, que se torna difícil a compreensão de sua
integral importância. É mudança que nenhum dos nossos antepassados teve o
privilégio de experimentar. Como somos afortunados, nós que vivemos neste
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

período de tempo, por podermos entender ainda que parcialmente, o


verdadeiro significado desta mutação, adquirir os meios — através do Johrei —
a fim de tornar esta transição mais fácil para cada um, e servir a Deus à
Humanidade.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

A GRANDE TRANSIÇÃO DO MUNDO


Vou explicar detalhadamente como nasceu o JOHREI criado por mim e a
razão pela qual ainda não se descobriu a causa das doenças e os erros de
quase todos os tratamentos.
No Grande Universo, a começar do espaço, que se estende
infinitamente, até as mais minúsculas existências, impossíveis de serem
detectadas mesmo com uso de microscópios, todas as matérias, sejam elas
grandes, médias ou pequenas, cada qual obedecendo à Lei da Concordância,
nascem, crescem, unem-se e separam-se, aglomeram-se e espalham-se,
destroem-se e constroem-se, numa seqüência infinita na cadeia da evolução.
Além disso, existe o positivo e o negativo em tudo, a diferença entre o frio e o
calor durante o ano, entre o dia e a noite no espaço de um dia e num período
de dez, cem, mil, dez mil anos, e assim por diante. Por essa razão, em vários
milhares ou milhões de anos também há, naturalmente, períodos de transição
da noite para o dia. Atualmente está se aproximando esse tempo.
Encontramo-nos no momento correspondente ao alvorecer. É provável que,
fixados na idéia da existência do dia e da noite no espaço de um só dia,
muitos leitores estranhem o que estou dizendo. Dessa forma, a explicação
torna-se muito difícil, mas creio que ela poderá ser compreendida por qualquer
pessoa.
O mundo em que vivemos, como já expliquei minuciosamente, é
constituído de três planos: o Mundo Espiritual, o Mundo Atmosférico e o Mundo
Material. Poderíamos também separá-lo em dois planos, pois o elemento água,
do ar, e o elemento terra, do globo terrestre, são materiais, ao passo que o
espírito, ou seja, o elemento fogo, é totalmente imaterial. Se distinguirmos o
espírito da matéria, teremos o Mundo Espiritual e o Mundo Material.
Para mostrar a relação entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material, é
importante entenderem que todo acontecimento ocorre primeiramente
no Mundo Espiritual e depois se reflete no Mundo Material. Fazendo
uma comparação, é como se aquele fosse o filme, e este, a tela de projeção.
Essa é a absoluta Lei do Céu e da Terra. Quando o homem movimenta os
braços ou as pernas, por exemplo, a vontade, invisível aos olhos, é que age
primeiro e, pelo seu comando, os membros se movimentam. Analogamente, o
Mundo Espiritual representa a vontade, e o Mundo Material, os membros.
A transição da noite para o dia, que, segundo dissemos, advém em
vários milhares ou milhões de anos, é um fenômeno ocorrido no Mundo
Espiritual. Assim, o mundo até hoje encontrava-se num longo período noturno,
mas agora está iminente a transição para o Mundo do Dia. Isso está
simbolizado na abertura da Porta da Rocha do Céu, que consta no "Kojiki"
(coletânea de histórias antigas do Japão). O aparecimento do deus Amaterassu
Omikami também constitui uma grande profecia do advento desse mundo.
Acredito que a expressão "Luz do Oriente", usada no Ocidente desde a
antigüidade, refere-se à mesma profecia.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

23 de outubro de 1943

CONCRETIZAÇÃO DA PROFECIA DO REINO DOS CÉUS - O PARAÍSO


TERRESTRE
Creio que, para o momento atual, os pontos mais importantes da Bíblia
estão resumidos nestes três: "Juízo Final", "Advento do Reino dos Céus" e
"Segunda Vinda de Cristo". Um estudo sério sobre tais fatos leva-nos a crer
que o Juízo Final é obra de Deus, que a Segunda Vinda de Cristo ocorrerá no
seu devido tempo, dispensando, portanto, qualquer explicação, e que somente
o Reino dos Céus será construído com a força do homem. Nesse caso, é
indispensável que alguém se torne o arquiteto e execute a construção. Quanto
ao tempo, segundo o nosso conceito, trata-se do presente; quanto ao
construtor, a nossa Igreja. A obra já foi iniciada por nós. Referi-me diversas
vezes, neste livro, ao protótipo do Paraíso, que está sendo construído
atualmente.
A profecia de Cristo se realizará com a construção do Paraíso Terrestre,
efetuada pela nossa Igreja. Mas não pretendo que, desse fato, advenha
orgulho, pois a concretização da profecia bíblica se deve ao Amor Universal de
Deus, que utiliza Seus escolhidos para a construção do Mundo Ideal, segundo
a necessidade da época. Portanto, como a obra que estamos efetuando foi
profetizada há dois mil anos por Cristo, considero cada um de nossos fiéis
como participante da missão de concretizar tal profecia.
20 de março de 1950

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

JOHREI

TRANSIÇÃO DA NOITE PARA O DIA


Conforme dissemos no capítulo anterior, explicando a relação entre o
Mundo Espiritual e o Mundo Material, tudo o que acontece no Mundo Material é
reflexo do Mundo Espiritual. Neste último, está ocorrendo atualmente uma
grande transição; conhecendo esse fato, tudo se torna claro aos nossos olhos.
Todas as coisas existentes no Universo nascem e crescem, são criadas e
destruídas, numa evolução infinita, pela ação dos dois mundos. Se
observarmos com visão ampla, veremos que o Universo, ao mesmo tempo que
é macroinfinito, também é o Mundo Material, um corpo constituído de
microinfinitos. Por sua contínua transformação, há uma ininterrupta evolução
da cultura. Meditando sobre isso, não podemos deixar de sentir a "vontade" do
Universo, isto é, o objetivo e os planos de Deus. Em tudo há positivo e
negativo, claro e escuro; assim, também, há diferença entre noite e dia.
Quando observamos a mudança das quatro estações do ano, o progresso e
declínio de todas as coisas, notamos que isso se encaixa perfeitamente à vida
humana. Existe diferença entre o grande, o médio e o pequeno em tudo. Com
relação ao tempo, temos o contraste entre o dia e a noite não só no espaço de
um dia, mas também em intervalos de um, dez, cem, mil, milhares ou milhões
de.anos. É um fenômeno que ocorre no Mundo Espiritual; no Mundo Material,
entretanto, só notamos essa diferença no espaço de vinte e quatro horas.
No Mundo Espiritual, é chegada a hora da transição que se processa em
intervalos de milhares ou milhões de anos. Trata-se de um fato extremamente
importante, cujo conhecimento, além de nos permitir entender o princípio do
JOHREI, torna possível a previsão do futuro do mundo e nos dá paz e
tranqüilidade. Explicarei, a seguir, como essa mudança está se refletindo no
Mundo Material.
Até agora era noite no Mundo Espiritual. Nele, da mesma forma que no
Mundo Material, a noite é escura, e só periodicamente há luar. Como
conseqüência, predomina o elemento água. Quando a lua se esconde, resta
apenas a luz das estrelas; se estas forem encobertas pelas nuvens, a
escuridão será completa. Observando-se os fatos do Mundo Material, que são
a projeção do que ocorre no Mundo Espiritual, isso se torna muito claro. Pelas
marcas deixadas até os nossos dias, os períodos de guerra e paz, de ascensão
e queda das nações, podem ser comparados às fases crescentes ou
minguantes da lua. É chegada, portanto, a hora de se iniciar mais um ciclo, ou
seja, encontramo-nos na iminência da mudança para o dia. Estamos
justamente na fase do seu alvorecer.
A transição da noite para o dia no Mundo Espiritual ocasionará uma
experiência inédita para a humanidade. Uma grande, espantosa, temível e ao
mesmo tempo feliz mudança está para ocorrer, e seus sinais já estão
aparecendo. Vejamos.
O dia, no Mundo Espiritual, é como no Mundo Material: primeiro
aparecem pinceladas de luz do sol no horizonte, a leste. Atentem, por
exemplo, para a grande transformação ocorrida no Japão, o País do Sol
Nascente. Nele já se iniciou o colapso da cultura da noite, ou seja, da cultura já
formada. Observem, também, o desmoronamento das grandes metrópoles da
cultura, a situação calamitosa da economia industrial, a queda dos
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

superpoderes, das classes privilegiadas, etc. Tudo isso é conseqüência da


mudança a que nos referimos. Logo virá a construção da Cultura do Dia, que
também já está raiando, representada, no Japão, pelo desarmamento total,
seguido da ascensão da democracia. Esses dois fatos, absolutamente
imprevisíveis desde a instituição do país como Nação, há dois mil e seiscentos
anos, será o primeiro passo para o estabelecimento da eterna paz mundial.
O Mundo da Noite é um mundo de trevas, caracterizado pelas lutas, pela
fome, pelas doenças. Em contraposição, o Mundo do Dia é um mundo de luz,
caracterizado pela paz, pela abundância e pela saúde. O Japão atual expressa
bem a fase de transição entre esses dois mundos. O sol que desponta no leste
deverá atingir o zênite. E o que significa isso? Significa o colapso total da
Cultura da Noite; ao mesmo tempo, ouvir-se-á o brado do nascimento da
Cultura do Dia. Pode-se mais ou menos ter uma idéia disso pelos fatos
ocorridos no Japão, os quais, em pequena escala, já mostram um modelo da
nova cultura. Assim, aproxima-se o momento decisivo para toda a
humanidade, e ninguém poderá escapar. Resta ao homem apenas esforçar-se
para tornar os efeitos dessa ocorrência o mais brandos possível. Para isso, ele
só tem um meio: conhecer o princípio do JOHREI e unir-se ao trabalho de
construção da cultura do dia.
Há um trecho da Bíblia que diz que seria pregado o Evangelho do Paraíso
ao mundo inteiro e depois viria o fim. Que quer dizer isso? Acredito
firmemente que essa missão será cumprida pelos meus Ensinamentos.
Para explicar o princípio do JOHREI, eu tive de avançar até o destino do
mundo. Todavia, era sumamente importante que o fizesse, pois tanto a
descoberta dos erros da Medicina como o princípio do JOHREI apóiam-se
fundamentalmente neste ponto: a Transição da Noite para o Dia.
Se a causa das doenças, como já expliquei, são as máculas do espírito, e
se a única maneira de acabá-las é a eliminação dessas máculas, resta uma
grande dúvida: por que não se descobriu isso antes da descoberta do JOHREI?
O princípio do JOHREI está baseado na misteriosa luz invisível emanada
do corpo humano. E qual é a natureza dessa luz? Ela é uma espécie de energia
espiritual, peculiar ao corpo humano, e seu componente principal é o
elemento fogo. Portanto, na ministração do JOHREI, necessita-se de grande
quantidade desse elemento; à medida, porém, que se aproxima o Mundo do
Dia, ele aumenta gradativamente, pois sua fonte de irradiação é o Sol. Assim,
além de ser eficiente na eliminação das doenças, o elemento fogo possui mais
um fator de importância decisiva: seu incremento no Mundo Espiritual acelera
o processo de purificação do corpo material, porque a transformação ocorrida
naquele mundo causa influência direta no corpo espiritual. O aumento do
elemento fogo tem a função de auxiliar a intensificação da energia
purificadora das máculas espirituais. Por isso, ao mesmo tempo que se torna
mais fácil surgirem doenças, o tratamento solidificador empregado pela
Medicina atual terá efeitos cada vez menores, acabando por se tornar
impraticável. No Mundo da Noite, era preciso que transcorressem vários anos
para haver uma nova liquefação das toxinas anteriormente solidificadas, mas
esse período irá diminuindo para um ano, meio ano, três meses, um mês, até
ser impossível a solidificação.
Pelo exposto, os leitores poderão entender que pouco a pouco está se
processando a Transição da Noite para o Dia. No Mundo da Noite, para o
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

tratamento das doenças era mais vantajoso solidificar as toxinas que derretê-
las, pois não havia quantidade suficiente do elemento fogo para promover sua
liquefação. Assim, era inevitável adotar-se provisoriamente o método de
solidificação. Eis, portanto, o grave erro que se tornou a causa dos sofrimentos
da humanidade, como as guerras, a fome, as doenças, a abreviação da vida,
etc.
5 de fevereiro de 1947

SOU UM CIENTISTA EM RELIGIÃO


Se eu, um religioso, disser que sou também cientista, todos estranharão,
mas estou certo de que, ao término desta leitura, hão de concordar comigo.
Sempre digo que a Ciência atual ainda está num nível muito baixo, nem
podendo ser considerada como Ciência. Sua importância reside, sem dúvida,
na descoberta e no estudo de corpos microscópicos. É claro que isso se deve
ao aperfeiçoamento do microscópio, graças ao qual o avanço nesse estudo é
impressionante. Conseguem-se distinguir corpúsculos extremamente
pequenos, frações da ordem de um milésimo, milionésimo ou bilionésimo.
Trata-se de um avanço contínuo, chegando-se ao extremo do microscópico;
atualmente se está quase prestes a entrar no mundo do infinito. A palavra
espírito, muito empregada ultimamente, deve estar indicando esse mundo.
É evidente que o conhecimento do mundo do infinito não se deve a
experiências de natureza científica; entretanto, ao aprofundar-se nos estudos
científicos, o homem levantou uma tese hipotética sobre ele, baseada na
dedução. Se não fosse assim, acabar-se-ia num beco-sem-saída. Ora, o mundo
a que nos referimos é justamente o Mundo Espiritual, o que significa que a
Ciência, finalmente, está chegando ao lugar certo. Dessa maneira, deixando
de lado os subterfúgios, ela, que por tanto tempo insistiu em negar a
existência do espírito, acabou derrotada. Caso venha a apreendê-la com
precisão, elevar-se-á a um nível mais alto e terá dado mais um passo em
busca da Verdade. Sendo assim, tomará como objeto de seus estudos o
espírito e não mais a matéria, de modo que a ciência que até agora
raciocinava com base na matéria será considerada como ciência da primeira
fase, e a ciência baseada no espírito, como ciência da segunda fase. Com isso
haverá uma mudança de cento e oitenta graus no rumo da Ciência. Em termos
mais claros, será traçada uma linha demarcatória no mundo científico: a
ciência da matéria ficará situada abaixo, e a ciência do espírito acima. Esta é
uma visão no sentido vertical; no sentido horizontal, a primeira seria a parte
externa, e a segunda, a interna ou conteúdo. Em outras palavras, significa que
haverá uma evolução da ciência do concreto para a ciência do abstrato, o que
é realmente motivo de alegria.
Mas aqui se apresenta um problema: não adianta apenas conhecer a
existência do Mundo Espiritual; é necessário apreender sua natureza e colocá-
lo a serviço da humanidade. A ciência da matéria não tem meios para isso,
pois, para o espírito, o meio deve ser o espírito; todavia, é possível superar
esta dificuldade. Aliás, ela já foi superada: tenho obtido resultados admiráveis
na resolução de problemas espirituais através do espírito. Refiro-me
justamente à questão das doenças. Explicando de forma sucinta, a causa de
todas as doenças são as impurezas acumuladas no espírito, tornando-se
evidente que, se eliminarmos tais impurezas, as doenças serão erradicadas,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

de acordo com a Lei do Espírito Precede a Matéria. Meu método consiste na


irradiação de um espírito específico que pode ser considerado como a bomba
atômica espiritual para queimar as impurezas. Esse método, denominado
JOHREI, constitui uma fórmula científica de alto nível. Não se limitando apenas
ao campo da Medicina, ele consegue resolver problemas que nenhuma religião
ou ciência conseguiu. Se isso não é uma superciência, o que será?
A ciência que trata da matéria ainda se encontra em baixo nível,
evidenciando-se que, através dela, é impossível resolver problemas vitais de
um ser de tão elevado nível como o homem. Isso se torna claro ao
observarmos que doenças graves, consideradas incuráveis pela Medicina,
estão sendo vencidas facilmente, por meio do JOHREI. Dessa forma, a ciência
do espírito pode ser considerada como o suporte da ciência da matéria.
A natureza do Mundo Espiritual é constituída pela essência do Sol, da
Lua e da Terra, que, na Ciência, correspondem, respectivamente, ao oxigênio,
ao hidrogênio e ao nitrogênio. O Mundo Espiritual, segundo a doutrina
messiânica, é a junção do elemento fogo, do elemento água e do elemento
terra. A Terra é a natureza da matéria; o Sol é a natureza do espírito, e a Lua é
a natureza do ar. O elemento fogo e o elemento água controlam a atmosfera
que preenche o espaço terrestre. Embora o elemento fogo seja o mais forte,
por ser extremamente rarefeito, não foi possível detectar, através da ciência
da matéria, a não ser suas propriedades de luz e calor, razão pela qual sua
natureza como espírito ainda não é conhecida. Assim, a Ciência tomou como
objeto de estudo apenas os elementos água e terra, e por isso a cultura está
baseada nesses dois elementos, o que constitui a maior falha da civilização
atual.
Agora devo falar sobre um acontecimento extraordinário. Como já
explicamos, os fenômenos do Mundo Material são produzidos pela união dos
elementos Sol, Lua e Terra. A distinção entre o dia e a noite é decorrente da
alternância do Sol e da Lua. Acontece que no Mundo Espiritual também existe
dia e noite. Evidentemente, a ciência da matéria não consegue compreender
isso, mas a ciência espiritual o consegue. O acontecimento extraordinário a
que me refiro é a grande mudança que está para ter início no mundo. Um
acontecimento surpreendente, jamais imaginado pela humanidade, isto é, um
fenômeno histórico: a Transição da Noite para o Dia. Para entendê-lo, torna-se
necessário um estudo do ponto de vista Tempo.
No Mundo Espiritual há transição da noite para o dia em períodos de
dez, cem, mil ou milhões de anos. Portanto, assim como a Terra é formada
pelos três elementos fundamentais - o fogo, a água e a terra - o número três é
a base de todo o Universo. Isso constitui uma lei imutável. Mesmo o dia e a
noite são formados de três, trinta, trezentos, três mil anos e assim por diante.
É claro que, dependendo do caráter das coisas e da sua grandeza - maior,
média ou menor - elas se refletem do espírito para a matéria com maior ou
menor rapidez, mas o essencial move-se com precisão. Agora está justamente
ocorrendo a transição de um período de três mil anos; estamos no alvorecer
de um novo período. Já me referi a isso antes, e até a data acha-se bem
definida. Foi a 15 de junho de 1931 que o Mundo Espiritual começou a se
transformar em dia. A mudança se processará até certo tempo e
gradualmente se refletirá no Mundo Material. Gostaria de dar uma explicação
mais profunda, mas vou abreviá-la, porque teria que entrar no campo da
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Religião. Entretanto, é preciso acreditar no que estou dizendo, pois se trata da


verdade absoluta.
O fato de o Mundo Espiritual estar se tornando dia significa que ha uma
intensificação do elemento fogo. Apesar de ser uma mudança gradativa, já
está se projetando no Mundo Material. Assim, o mundo em que a água
predominava sobre o fogo, tornar-se-á o mundo em que o fogo predominará
sobre a água. Através da ciência da matéria não se pode perceber tal
fenômeno, mas as pessoas dotadas de alta espiritualidade conseguem
percebê-lo plenamente. Com essa mudança, todos os problemas para os quais
não se encontrava solução, serão resolvidos de maneira clara e precisa. Com
base no que acabo de expor, vou criar a Verdadeira Civilização elevando o
nível da Ciência atual.
7 de abril de 1954

O ESPÍRITO PRECEDE A MATÉRIA


Vou tecer considerações sobre a relação entre o Mundo Espiritual e a
doença.
O homem é constituído pela união do corpo e do espírito. O corpo é uma
matéria visível, e por isso todos podem compreendê-lo; o espírito é invisível,
mas existe, sendo uma espécie de éter. Assim como o corpo é uma existência
do Mundo Atmosférico, o espírito é uma existência do Mundo Espiritual. O
Mundo Espiritual, conforme já expliquei, é transparente, mais rarefeito que o
ar, comparando-se ao nada. Na realidade, porém, ele é a fonte geradora da
força infinita e absoluta, que por ora chamaremos de força cósmica. É um
mundo fantástico, impossível de ser imaginado, cuja natureza está formada
pela fusão das essências do Sol, da Lua e da Terra. Com a força cósmica tudo
nasce, tudo se transforma e cresce, mas ao mesmo tempo acumulam-se
impurezas, que são submetidas à purificação. É como o acúmulo de sujeira no
corpo humano, que necessita de banho. Portanto, quando se juntam
impurezas na atmosfera, elas são concentradas num determinado ponto e aí
surge uma ação purificadora denominada "baixa pressão", que executa a
limpeza. Os raios e os incêndios causados pelo homem têm a mesma
explicação. Se houver aglomeração de impurezas, surgirá a ação purificadora,
que tem início no espírito.
As sujeiras, ou seja, as máculas acumuladas no espírito humano, que é
transparente, são opacidades surgidas em alguns pontos. Há dois tipos de
máculas: as que se originam no próprio espírito e as que são reflexo do corpo.
Vejamos o primeiro tipo.
O interior do espírito está constituído de três camadas dispostas de
forma centrípeta. Analisando-o a partir do centro, seu núcleo é a alma, a
partícula do homem que se instala no ventre da mulher e que resultará no
nascimento de outro ser. A alma está envolta pela consciência, e esta, pelo
espírito. O que acontece na alma se reflete na consciência e, daí, no espírito, e
vice-versa. Assim, a alma, a consciência e o espírito estão inter-relacionados,
constituindo uma trilogia. Naturalmente, todas as pessoas, assim como
praticam o bem, também praticam o mal durante sua vida. Se o mal é maior
que o bem, a diferença entre eles constituirá o pecado, que, refletindo-se na
alma diminui-se o brilho; por esse motivo, a consciência ficará maculada e, em
seguida, o espírito. Através da ação purificadora, é realizada a eliminação das
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

máculas. Durante o processo, o volume delas diminui provisoriamente; com


isso, elas se tornam mais densas, concentrando-se em determinadas parte do
corpo. O interessante é que, dependendo do pecado, o local da concentração é
diferente. Por exemplo: os pecados da vista, nos olhos; os pecados da cabeça,
na cabeça; os pecados do tórax, no tórax, e assim por diante, tudo
enquadrado na concordância.
Passemos, agora, ao segundo tipo de máculas, isto é, as que se refletem
do corpo para o espírito. Neste caso, primeiro o sangue se suja e, como
conseqüência, o espírito fica maculado. Originariamente, o sangue é a
materialização do espírito e, reciprocamente, o espírito é a espiritualização do
sangue. Isso mostra a identidade do espírito e da matéria. Assim, quando as
máculas se tornam densas e se refletem no corpo, transformam-se em sangue
sujo, e este, concentrando-se mais, transforma-se em toxinas solidificadas.
Estas, depois de dissolvidas e liquefeitas, são eliminadas por diversos pontos
do corpo. O sofrimento decorrente desse processo constitui aquilo a que se dá
o nome de doença.
Mas por que o sangue se suja? A causa é bastante surpreendente: são os
remédios, que paradoxalmente ocupam a posição de maior destaque nos
tratamentos médicos. Como todo remédio é veneno, só de ingeri-lo o sangue
já se suja e os fatos são a maior prova do que estamos dizendo. Portanto, não
há nada de estranho em que, estando a pessoa sob tratamento médico, a
doença se prolongue ou piore, ou que até surjam outras doenças.
Se o sangue sujo existente no corpo se reflete no espírito em forma de
máculas e estas se tornam a causa das doenças, o próprio processo de cura
das doenças acaba se tornando o meio de provocá-las. Não se obterá a
erradicação completa se primeiramente não forem removidas as máculas do
espírito, de acordo com a Lei Universal do Espírito Precede a Matéria. Como o
JOHREI é a aplicação dessa lei, purificando-se o espírito as doenças saram pela
raiz. É por isso que ele tem esse nome JOHREI - que significa "purificação do
espírito". Desconhecendo tal princípio, a Medicina despreza o espírito e tenta
curar apenas o corpo. Assim, por mais que ela progrida, as curas serão sempre
efêmeras.
15 de agosto de 1951

MEDICINA ESPIRITUAL
Mostrei, sob diversos ângulos, que a Era do Dia é o mundo em que o
espírito precede a matéria. Aplicando isso ao corpo humano, as toxinas - causa
de todas as doenças - são matérias estranhas acumuladas no corpo. Mas,
nesse caso, como se encontra o espírito da pessoa? Nos locais do corpo
espiritual correspondentes aos pontos onde se encontram as toxinas, estão as
máculas. Quando se procura anular as toxinas promovendo apenas a sua
eliminação do corpo, isso terá um efeito temporário; com o passar do tempo,
elas surgirão novamente, de acordo com a Lei do Espírito Precede a Matéria.
Assim, para eliminá-las radicalmente, devemos eliminar as máculas do corpo
espiritual.
Como todos os métodos utilizados até agora basearam-se unicamente
na eliminação das toxinas ou então na sua solidificação, tomando apenas o
corpo como objeto do tratamento, é óbvio que eles propiciassem uma cura
passageira, mas jamais a cura radical, o que está bem caracterizado pelo uso
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

da palavra recaída. Conforme já explanei, os métodos empregados pela


Medicina são dois: a solidificação e a remoção cirúrgica. Entre as formas
populares de tratamento existe a solidificação por meio de banhos de luz ou
eletricidade e a queima através da moxa, método este que consiste em
queimar determinados pontos para concentrar neles o pus e eliminá-lo. O
nosso JOHREI, todavia, fundamenta-se na eliminação das máculas do corpo
espiritual. O método consiste em irradiar, pela palma da mão, uma espécie de
ondas espirituais, que têm como agente principal o elemento fogo. Por ora,
vou chamar essas ondas de raios misteriosos. Todas a pessoas os possuem em
determinada quantidade, ou melhor, esses raios existem em número ilimitado
no espaço aéreo acima do Planeta, isto é, no Mundo Espiritual. Mas por que
será que ninguém descobriu antes esse método que consiste na eliminação
das máculas através das ondas espirituais? Foi porque, conforme já dissemos,
era noite no mundo, ou seja, o mundo estava às escuras. Como luz, existia
apenas uma claridade semelhante à da Lua, e por isso era impossível obter-se
a força para curar as doenças, ou seja, raios misteriosos em quantidade
suficiente para apagar as máculas. Não é que eles fossem totalmente nulos,
tanto assim que alguns religiosos e ascetas procediam ao tratamento das
doenças e até certo ponto tinham êxito. Como é do conhecimento de todos, os
fundadores de algumas religiões ganharam considerável fama. Acontece,
porém, que o principal componente da luz da Lua é o elemento água, e por
essa razão a força para curar as doenças limitava-se a algumas espécies ou a
efeitos temporários. Com base no elemento água, essa luz é de natureza fria,
e por isso sua aplicação torna-se um tratamento solidificador. No JOHREI,
entretanto, o principal agente é o elemento fogo, capaz de queimar qualquer
mácula; por conseguinte, ele apresenta efeitos extraordinários. O principal
motivo que me levou a descobri-lo foi o conhecimento sobre a Transição da
Era da Noite para a Era do Dia e o conseqüente aumento de partículas do
elemento fogo, que, concentrando-os no corpo produz-se uma poderosa luz
purificadora. Irradiando-a, então, no local afetado, há um efeito extraordinário.
23 de outubro de 1943

PRINCÍPIO DO JOHREI
PRIMEIRA PARTE
O princípio do JOHREI é um assunto por demais difícil para a
compreensão das pessoas da atualidade, dado o seu nível de instrução. Isso é
inevitável, já que a educação está totalmente baseada no materialismo. Por
outro lado, através de documentos escritos e da tradição oral, constatamos
que invariavelmente os fundadores de diversas religiões realizaram milagres.
O fato é mais evidente nas grandes religiões. No entanto, pelo nível cultural
daquela época, era possível convencer o povo apenas pela concessão de
benefícios e pela realização de milagres, pois ele não buscava esclarecimentos
sobre a teoria ou o conteúdo das religiões. O lamentável é que, se não tivesse
havido a redenção, Cristo, quem mais milagres realizou, talvez conseguisse,
durante a sua vida, salvar uma grande parte da humanidade e ampliar muito
mais a sua doutrina. Seu período de atuação foi bastante curto, sem dúvida
por causa da força de Satanás, que, na época, era inegavelmente mais forte,
em virtude da prematuridade do tempo no Mundo Espiritual. Entretanto,
finalmente o tempo amadureceu e adveio a grande transição naquele mundo.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Através da nossa percepção espiritual, podemos ver claramente que a força de


Satanás está enfraquecendo dia a dia.
Por Revelação Divina foi-me esclarecida a causa de vários fatos até hoje
considerados mistérios do mundo. Assim, me é possível distinguir ojusto e o
satânico, determinar a raiz do bem e do mal, corrigir o erro de todas as coisas.
Em face do desequilíbrio do mundo contemporâneo, decorrente do progresso
unilateral da cultura, ou seja, o progresso apenas da cultura material, vou
incrementar extraordinariamente a cultura espiritual e, com o
desenvolvimento paralelo de ambas, fazer surgir o mundo perfeito: o Paraíso
Terrestre.
Como eu disse anteriormente, diferindo dos homens primitivos e dos
homens de épocas de baixo nível cultural, o homem da atualidade não
consegue confiar apenas em milagres, mesmo que estes sejam manifestados
concretamente. Ele não se convence sem uma explicação teórica dos fatos.
Uma das causas da decadência das religiões tradicionais é justamente elas
negarem a cultura material e não conseguirem proporcionar benefícios
concretos aos fiéis.
Vou explicar agora o princípio do JOHREI, um dos métodos pelos quais os
fiéis da nossa Igreja vêm obtendo magníficos resultados, expressos sob a
forma de surpreendentes milagres. Quando se estende a mão em direção à
pessoa enferma, as doenças mais difíceis e os enfermos mais graves começam
a melhorar. Mesmo as dores mais fortes são aliviadas ou extintas em curto
espaço de tempo. Portanto, só podemos dizer que se trata de "milagre".
A Medicina atual é o resultado de milhares de anos de estudo e prática
constante realizada por renomados estudiosos de vários países, e suas
terapias minuciosas e refinadas são dignas de elogio. Entretanto, um indivíduo
comum obtém resultados notáveis ministrando JOHREI em doentes que não
conseguiram se restabelecer com o trabalho das autoridades médicas,
formadas à custa de elevadas despesas com estudos e pesquisas durante
dezenas de anos. É realmente um fato que está além da razão. Não seria, pois,
exagero definir o JOHREI como a maravilha do século. Todavia, pelo simples
conhecimento dos seus resultados reais através de notícias, as pessoas não o
aceitam facilmente. Mais do que isso: vêem-no pela ótica da superstição ou da
anormalidade psíquica, o que talvez seja uma reação natural.
O aparecimento do JOHREI é um grande acontecimento, inédito na
História. A afirmação, feita por nossa Igreja, de que irá construir um "mundo
livre de doença, pobreza e conflito" não seria possível se ela não estivesse
absolutamente convicta do que está dizendo. Se não tivesse competência para
isso, ela estaria enganando o mundo e cometendo um delito imperdoável.
Para nós, no entanto, como eu disse anteriormente, milagres como os que
citamos, não são milagres. Eles possuem uma base totalmente fundamentada
na explicação científica e ocorrem porque devem ocorrer. Vou, a seguir,
explicá-los mais profundamente.

SEGUNDA PARTE
Para explicar o princípio do JOHREI, torna-se indispensável o
conhecimento de um fato: todas as coisas existentes no Universo são
constituídas não apenas da parte material, mas também de uma parte
espiritual, invisível aos nossos olhos. O homem, logicamente, também está
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

constituído de matéria e espírito. Numa classificação sumária, o espírito é a


essência do Sol; o corpo físico, a essência da Lua e da Terra. Em termos mais
compreensíveis, o espírito é fogo, positivo, masculino, frente, vertical e dia; o
corpo, por sua vez, é água, negativo, feminino, verso, horizontal e noite.
Entretanto, a Ciência não admite a existência do espírito, objetivando somente
a matéria. Ora, se o homem fosse desprovido de espírito, não passaria de um
simples objeto. Seria uma matéria como o pau e a pedra, sem vida e sem
atividade mental. Não compreender essa teoria tão simples constitui o erro
fundamental da Ciência até hoje. Para os cientistas, no espaço só existe o ar,
nada mais. Mas a verdade é que, além do ar, existe um número incalculável
de elementos invisíveis; lamentavelmente a Ciência ainda não progrediu a
ponto de detectá-los. Por felicidade eu descobri a natureza desses elementos,
tendo dado aos conhecimentos obtidos o nome de Ciência Espiritual. Com essa
descoberta, evidentemente, chegou-se à época em que terá início a
eliminação das doenças, o maior sofrimento da humanidade.
A seguir, vou mostrar a causa do aparecimento das doenças. Conforme
eu já disse, o homem é constituído de duas partes - a material e a espiritual. O
fato dele estar vivo e se movimentar acha-se relacionado à estreita união
entre o espírito e a matéria, ou seja, esta é movida pelo espírito. O espírito
possui a mesma forma do corpo físico, e dentro dele localiza-se a consciência,
no centro do qual, por sua vez, está a alma. A atividade dessa trilogia
manifesta-se como vontade-pensamento, a qual é invisível. Essa vontade-
pensamento é que governa o corpo; portanto, o espírito é o principal, e a
matéria, o secundário, isto é, o espírito precede a matéria. Quando uma
pessoa movimenta os braços e as pernas, eles não se movem livremente, por
si próprios, mas sim obedecendo à vontade da pessoa. Todas as partes do
corpo, sem exceção, inclusive a boca, o nariz, os olhos, etc., movimentam-se
dessa forma. Até a doença obedece ao mesmo princípio. Para que possam
entender bem, vou exemplificar com o furúnculo, do qual todo mundo tem
experiência.
O furúnculo surge como uma pequena protuberância e vai inchando
gradualmente e tomando uma cor avermelhada. Normalmente vem
acompanhado de febre, e a pessoa começa a sentir dores e coceiras no local.
Esse fenômeno constitui uma atividade de eliminação das toxinas do corpo
físico, por ação fisiológica natural. As toxinas acumuladas em determinada
parte do corpo são dissolvidas pela febre e liquefeitas, para que sua
eliminação seja mais fácil. É a atuação da força de recuperação natural. Para
formar um orifício de saída, a pele fica muito fina e flácida. Portanto, a
coloração avermelhada é o sangue impuro, visível através da pele, que se
tornou fina e transparente. Depois, abrindo-se um pequeno orifício, o sangue
purulento começa a sair imediatamente; com essa eliminação de pus, termina
a purificação.
A explicação acima diz respeito ao corpo. Mas em que condições se
encontra o espírito nessa ocasião? Ele apresenta uma espécie de nebulosidade
igual ao furúnculo; em outras palavras, máculas. Quanto mais grave a doença,
mais densas são as máculas. E por que motivo elas ficam concentradas numa
parte do espírito? E pela ação purificadora constante. Depois que as máculas
espalhadas por todo o espírito se reúnem em determinado local, surge a ação

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

eliminatória. Isso constitui a doença. Existe, pois, uma relação inseparável


entre o espírito e o corpo.
Falei há pouco sobre o princípio do Espírito Precede a Matéria, mas ele
não se aplica apenas ao ser humano; todas as coisas do Universo, sem
exceção, obedecem a esse princípio.
Por conseguinte, o objetivo do JOHREI é eliminar as máculas espirituais.
Através dele, as máculas ficam no estado de morte. Em outras palavras,
o JOHREI tira-lhes a vida. Mortas, obviamente elas perdem toda a sua força e
deixam de pressionar os nervos. Esta é a razão do desaparecimento das dores.

TERCEIRA PARTE
O método do JOHREI que tenho empregado atualmente, consiste em
outorgar às pessoas um papel onde está escrita a palavra HI KARI, ou seja,
LUZ. Os efeitos se manifestam quando esse papel é usado no peito, pendurado
ao pescoço. Isso acontece porque da palavra HI KARI se irradiam poderosas
ondas de Luz, as quais são transmitidas através do corpo, do braço e da palma
da mão do fiel que ministra o JOHREI.
E por que motivo se irradiam ondas de Luz da palavra HIKARI? Essas
ondas são emitidas do meu corpo e, pelo elo espiritual, transmitem-se
instantaneamente à palavra em questão. É muito semelhante às ondas de
rádio. Todavia, se as ondas de Luz são emitidas do meu corpo e transmitidas
através do elo espiritual, surge a seguinte pergunta: que segredo existe no
meu espírito? Quando compreenderem isto, a dúvida desaparecerá. No meu
ventre há uma bola de Luz que normalmente mede uns 6 cm de diâmetro; ela
já foi vista por algumas pessoas. Dela, as ondas de Luz irradiam-se
infinitamente. A fonte dessa bola está no "Nyoi-no-Tama" de Kanzeon
Bossatsu, no Mundo Espiritual; daí me é fornecida uma Luz infinita. Esse é o
PODER KANNON, também conhecido como Poder Incognoscível ou Poder da
Inteligência Superior. A bola que Nyoirin Kannon traz consigo é igual à de
Kanzeon Bossatsu.

QUARTA PARTE
Convém falar aqui a respeito de Kanzeon Bossatsu. Dentre muitos
budas, Ele era considerado o mais oculto. Há nisso um profundo mistério, mas
não posso divulgá-lo totalmente, pois ainda não chegou o tempo certo.
Pretendo fazê-lo tão logo Deus me permita. Sendo assim, escreverei apenas
sobre o mistério relacionado com o JOHREI.
A atuação de Kanzeon Bossatsu vem desde o advento do budismo, mas
daquela época até pouco tempo atrás Ele promovia tão somente a salvação do
espírito. Evidentemente, através da oração conseguiam-se graças, mas estas
eram extremamente limitadas. A razão disso está no fato de que a Luz era
formada pela união do elemento fogo e do elemento água, mas faltava o
elemento terra. Como havia apenas dois elementos, a força era insuficiente.
Entretanto, chegou a hora de uma grande mudança no Mundo Espiritual: é o
Final dos Tempos, o Juízo Final citado na Bíblia. Tornou-se necessária, portanto,
uma força poderosa e absoluta que salvasse toda a humanidade. Essa.força é
constituída pela união do fogo, da água e da terra; a força da terra é o
elemento da matéria e corresponde ao corpo humano. Ao passar pelo corpo, a
Luz é acrescida do elemento terra e daí nasce a força da trilogia, ou seja, o
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

PODER KANNON. Explicando de maneira mais acessível, a Luz emitida pelo


"Nyoi-no-Tama" de Kanzeon Bossatsu, passando pelo meu corpo, manifesta-se
como PODER KANNON, o qual, através do corpo do messiânico, torna-se a
força purificadora.
Exemplificarei o que acabo de dizer. É sabido, desde a antigüidade, que
orar diante da imagem de Kanzeon Bossatsu traz como benefício a solução das
doenças e dos infortúnios, mas os fiéis da nossa Igreja têm obtido resultados
várias vezes mais poderosos com o JOHREI. Isso porque as ondas de Luz
emitidas pelas imagens ou estátuas de Kanzeon Bossatsu são constituídas
apenas pela força dos elementos fogo e água; nelas não está incluída a
importante força do corpo. Outra razão é a grande transição a que eu já tenho
me referido várias vezes, ocorrida no Mundo Espiritual. Ela teve início em
meados de junho de 1931. Até essa data havia muito elemento água e pouco
elemento fogo no Mundo Espiritual, mas a partir daí a quantidade deste último
começou a aumentar gradativamente. É verdade que a grande transição já
havia se iniciado dezenas de anos antes dessa data, mas o elemento fogo
ainda estava bastante rarefeito. Se a Luz é forte, significa que há maior
quantidade de elemento fogo. Da mesma forma, no caso das lâmpadas
elétricas, quanto mais intensa é a luz, maior é a quantidade de calor emitido.
Outro exemplo é a existência de uma massa de elemento fogo em meu
ventre. As pessoas falam que minha temperatura é bem mais alta que a das
pessoas comuns. Praticamente todas as noites fazem-me massagens nos
ombros, e todos dizem que de mim emana muito calor. No inverno, sempre
acabo tirando um ou dois agasalhos. Se permaneço num cômodo durante
algum tempo, as pessoas acham que ele ficou aquecido, e muitas vezes brinco
dizendo que substituo o aquecedor. Mesmo em dias de frio costumo ficar uma
ou duas horas de pijama, após o banho. Além disso, gosto especialmente de
banhos mornos. Isso obedece ao princípio do aumento de calor quando se joga
água no fogo, e do frio mais intenso nos dias ensolarados de inverno.
30 de maio de 1949

A FORÇA ABSOLUTA
Seria desnecessário dizer que a fonte de todas as atividades e de todos
os fenômenos do Universo é a Força de Deus. Todos os nascimentos e
transformações são a manifestação da Força, e a ela se deve o movimento ou
a inércia de todas as coisas. Começando pelo homem, todos os animais e
mesmo as bactérias nascem e morrem graças à Força. Em suma, ela é o
Senhor Absoluto e Infinito. Vou deter-me aqui, pois o assunto é inesgotável,
mas, resumindo, o Universo em si é a própria Força. Assim, tecerei
considerações a respeito sob diversos ângulos.
Analisemos o espírito da palavra TIKARA (força): TI significa sangue,
espírito; KARA significa vazio, corpo, matéria. A formação do termo mostra-
nos, portanto, que a força nasce da união do espírito e da matéria. Analisando
agora a palavra HITO (pessoa), HI é espírito e TO é parar; por conseguinte,
HITO é "espírito parado no corpo".
Para se escrever o ideograma correspondente à palavra força (TIKARA),
faz-se um traço vertical e, em seguida, um traço horizontal, formando uma
cruz; a partir do fim do traço horizontal puxa-se um traço um pouco inclinado,
com a ponta virada para cima e para dentro ( *TIF* ). Isso quer dizer que logo
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

que se verifica o cruzamento do horizontal e do vertical ocorre a atividade e


começa a rotação da esquerda para a direita, isto é, a ação da força. Assim,
pode-se perceber que tanto o espírito das palavras como as letras foram
criadas por Deus.
Vamos agora analisar na prática. Em sentido amplo, isso está
representado pelas duas grandes correntes ideológicas: o pensamento teísta e
o pensamento ateísta, ou seja, o espiritualismo e o materialismo, a cultura
espiritual e a cultura material.
Vejamos do aspecto religioso, pois assim é mais fácil compreender.
O budismo e o cristianismo, as duas grandes religiões do mundo, são a
manifestação desses dois pensamentos. O budismo é oriental e, como sempre
digo, constitui o aspecto vertical, espiritual, enquanto o cristianismo é
ocidental e representa o aspecto horizontal, material. Até agora o vertical e o
horizontal estavam separados e por isso não conseguiam produzir a
verdadeira força. A prova é que, como não foi possível realizar a unificação
universal, a humanidade não foi salva.
O objetivo das principais religiões era, sem dúvida, a concretização de
um mundo ideal, mas, como podem ver, a situação do mundo se apresenta
caótica, cheia de conflitos e problemas sem fim, havendo uma grande
distância entre o sonho e a realidade. Assim, aquele objetivo está
demasiadamente fora do nosso alcance. É inegável que a causa dessa
situação seja a falta de força, que, por sua vez, se deve à falta de cruzamento
do vertical e do horizontal. Mas isso também era uma questão de tempo e, do
ponto de vista do Plano Divino, não havia outra alternativa.
Explicando minha missão, creio que entenderão melhor o que acabei de
expor. A atividade que agora estou realizando, está centralizada no JOHREI.
Meus discípulos sabem muito bem que basta colocar no peito o OHIKARI (Luz
Divina), que contém um papel escrito por mim, para ser-lhes concedida uma
força capaz de gerar milagres, até mesmo no caso de doentes desenganados
pelos médicos. Já outorguei milhares de OHIKARI, mas mesmo que seu número
aumente infinitamente, não haverá nenhuma alteração nessa força. E os
milagres do JOHREI não se limitam à doença; há uma reforma do espírito
humano, a personalidade se eleva, e a pessoa é salva de perigos iminentes.
Dessa forma, graças aos inúmeros milagres ocorridos a cada dia, aumenta
significativamente o número de pessoas felizes. E tudo isso se deve à força
emanada do OHIKARI. Não tenho a pretensão de vangloriar-me de tais feitos,
mas, como se trata da pura verdade, creio que não há problema em divulgá-la.
É desnecessário dizer que até agora a História não registrou o aparecimento
de uma pessoa com força tão poderosa quanto a minha. Os inúmeros milagres
a que nos referimos são registrados como experiências de fé; logo, não há do
que duvidar. Essa é a força gerada pelo cruzamento do horizontal com o
vertical. Em termos budistas, é o PODER KANNON ou Poder da Inteligência
Superior; em termos cristãos, é o Poder do Messias.
Atualmente, a força manifesta-se mais no sentido espiritual, mas um dia
atuará no sentido material. Nessa ocasião, será alcançado o objetivo de Deus,
nascendo a verdadeira cultura, resultante do cruzamento da cultura espiritual
do Oriente e a cultura material do Ocidente. Essa é a Vontade Divina. Será,
portanto, executada a maior obra de salvação da humanidade desde a criação
do mundo.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

16 de janeiro de 1952

SERMÃO, JOHREI E FELICIDADE


Desde os tempos antigos, as religiões sempre se basearam em dogmas,
transmitindo-os através de sermões. Em nossa Igreja - os messiânicos o sabem
- quase não se utiliza esse recurso. Vou explicar por quê, levando em conta
que alguns fiéis ficam embaraçados quando estranhos lhes fazem perguntas
sobre o assunto.
A finalidade da Religião é eliminar erros e incentivar a prática das
virtudes. Contudo, essa prática só é realmente possível quando as máculas
espirituais são eliminadas. Uma vez que o espírito esteja purificado, cessarão
os atos condenáveis e a pessoa se tornará honrada, útil ao seu meio social e a
toda a humanidade.
Os sermões são processos purificadores que agem através do sentido da
audição. Os livros sagrados, como a Bíblia, a sutra budista, e os ensinamentos
de várias religiões, agem mediante o sentido da visão e o espírito das
palavras. A Igreja Messiânica Mundial também se utiliza desses meios, mas
possui ainda o processo purificador denominado Johrei.
O Johrei não visa curar doenças; é, antes, um método de criar felicidade.
Ele não pode ter como objetivo a cura das doenças, porque estas são formas
de purificação; sua finalidade é eliminar as máculas do espírito. O resultado da
erradicação dessas máculas é a extinção dos sofrimentos humanos.
Costumo ensinar que a doença, a pobreza e o conflito são processos
purificadores. A doença é o principal, porque afeta a própria base da vida.
Quando conseguirmos vencê-la, também solucionaremos o problema da
pobreza e do conflito. Portanto, a base da felicidade é a eliminação das
máculas espirituais. O Johrei é o método mais simples e infalível para erradicá-
las. É, pois, evidente que ele não visa a própria doença, e sim as suas causas.
Como já escrevi em outras oportunidades, o corpo material do homem
vive no Mundo Material, e o espírito, no Mundo Espiritual. Sendo assim, a
situação do Mundo Espiritual influi sobre o espírito e se reflete sobre o corpo,
de modo que o destino do homem se origina no Mundo Espiritual.
O Mundo Espiritual está dividido em três planos: Superior, Intermediário
e Inferior. Cada plano é constituído de três níveis, e cada nível se subdivide em
vinte camadas. Ao todo, são cento e oitenta camadas, mais uma - acima de
todas - ocupada por Deus. Temos, pois, cento e oitenta e uma camadas.
Qualquer entidade, por mais elevada que seja, acha-se numa das cento e
oitenta camadas.
Essa explicação tem por base o sentido vertical. Horizontalmente, a
extensão de cada plano varia no sentido do Inferno até o Céu.
Suponhamos que um espírito se encontre no nível inferior do Plano
Inferior; isto significa que ele se acha no fundo do Inferno. Como nesse local o
sofrimento do espírito é muito intenso, há terrível reflexo sobre o corpo físico,
que passa a ser espantosamente atormentado. No nível médio do Plano
Inferior, o reflexo é menos danoso. Então o sofrimento se torna mais suave,
mais tolerável. E assim por diante. Os padecimentos variam de acordo com a
posição do espírito nas várias camadas do Mundo Espiritual.
Ultrapassando-se as sessenta camadas do Plano Inferior, atinge-se o
Plano Intermediário, que corresponde à vida na Terra. Acima do Plano
62
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Intermediário está o Plano Superior, o Reino dos Céus, onde se acham os anjos
e onde se pode desfrutar uma vida de felicidade.
Como se vê, a posição em que se acha o espírito de uma pessoa reflete-
se no seu destino. Por isso, devemos esforçar-nos para elevar o nosso nível
espiritual, o que significa reduzir os nossos sofrimentos e, proporcionalmente,
aumentar a nossa felicidade. Assim, não mais serão necessários os
sofrimentos purificadores. É inútil apelar para a inteligência e envidar esforços
enquanto o espírito estiver no Plano Inferior, porque esta é a Lei de Deus. E a
Lei do Espírito Precede a Matéria também é inviolável.
Concluímos, portanto que, para ser feliz, é necessário crer em Deus
Absoluto, adorá-Lo, compreender e praticar a Sua Vontade, somar méritos e
purificar o espírito de modo que o seu habitat espiritual se eleve ao Céu. Não
há outro processo para alcançarmos a felicidade, e nisso reside o profundo
significado do Johrei.
25 de março de 1952

O JOHREI É TRATAMENTO CIENTÍFICO


(...) Desde os tempos antigos está determinado que a doença deve ser
curada pelos médicos e pelos remédios. Como o homem da atualidade, que
confia somente na Ciência e tornou-se fiel ao princípio da Ciência Superior,
sofre para entender, é lógico que ele tenha vontade de fazer perguntas. A
propósito disso, é de suma importância, antes de tudo, conhecer a relação
entre a Medicina e a Ciência.
Realmente, todas as coisas podem ser solucionadas através da Ciência,
com exceção da Medicina, que está por demais fora do alvo. Isto porque o
homem e todas as coisas além do homem são fundamentalmente diferentes.
Antes de mais nada, o homem é um ser de nível superior entre todas as
criaturas. Realmente é um grande mistério, absolutamente incompreensível
por meio da inteligência humana. Entretanto, como a Ciência desconhece
totalmente a profundidade desse ponto, considera o homem um animal. Ela
veio objetivando apenas o corpo físico, que é a matéria; portanto, entende que
a doença é prejudicial ao corpo físico. Sua maneira de pensar é extremamente
simples, pois tenta curar a doença por meio de medicamentos e de máquinas.
Mas a realidade não é tão simples assim. No homem existe, espiritualmente,
um corpo sólido muito mais importante que o corpo físico, denominado força
de vida. Esta, encontra-se numa relação muito íntima com o corpo físico, por
isso o homem consegue viver e trabalhar. Todavia, como o espírito equivale
quase ao nada, a Ciência material não conseguiu detectá-lo. Dessa forma, ao
observar, por exemplo, a dissecação de um cadáver, podemos compreender
muito bem que a Ciência veio se dedicando somente à pesquisa do corpo
físico. Embora se diga que ela progrediu, como se trata de progresso
unilateral, ele é coxo, de modo que todos os esforços serão em vão.
Como dissemos, o homem está constituído de espírito e matéria. O
espírito é primordial, e a matéria secundária. Essa é a lei universal. Quanto à
doença, as toxinas existentes no corpo físico refletem-se no corpo espiritual e
transformam-se em máculas. Aí surge a purificação natural, e as máculas são
eliminadas. Ao mesmo tempo, elas se refletem novamente no corpo físico.
Conseqüentemente, as toxinas são dissolvidas e eliminadas. A isso se
denomina doença. A primeira é ação horizontal, baseada na Lei de Identidade
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Espírito-Matéria, e a segunda, ação vertical, baseada na Lei do Espírito


Precede a Matéria. É importante que se compreenda bem essa teoria.
Mas qual é a verdadeira essência da mácula? Denomina-se mácula uma
opacidade surgida no espírito, a qual é incolor e transparente. Ela é a
verdadeira causa da doença; por isso, eliminando-se a mácula, evidentemente
a doença será curada. Esse método é o Johrei. De acordo com os ideogramas
que compõem a palavra, é um método de purificar as máculas do espírito. E
esta é a verdadeira Medicina. Portanto, devem compreender que, além do
Johrei, todos os outros tratamentos são uma antimedicina.
O que acabamos de expor é o princípio fundamental da origem da
doença e o seu tratamento. Em suma, a doença é o sintoma que se manifesta
na parte externa, e a causa da doença está nas máculas localizadas na parte
interna. A eliminação das máculas vem a ser o verdadeiro método de
tratamento da doença. No entanto, por desconhecer esse princípio, a Medicina
considera que basta eliminar o sintoma que se manifesta. Mesmo que haja um
efeito, é temporário, e disso, os médicos têm tido experiência constante. (...)
13 de Janeiro de 1954

O JOHREI É TRATAMENTO CIENTÍFICO


Nem é preciso dizer que a energia do Sol, da qual já falei, é,
naturalmente, o espírito do Sol. Entretanto, por que até agora ele não se
manifestou na Terra? Existe um motivo profundamente misterioso, que eu vou
explicar minuciosamente.
Como eu já disse, o homem está constituído de espírito e matéria. Da
mesma forma, a Terra está constituída pelos Mundos Espiritual e Material. O
Mundo Espiritual, por sua vez, está constituído por dois elementos. O primeiro
é o Mundo da Essência Espiritual, e o segundo, o Mundo da Essência
Atmosférica. A característica do primeiro é “o fogo precede a água”, e a do
segundo, “a água precede o fogo”, ou seja, o positivo e o negativo.
De acordo com esse princípio, todas as coisas são criadas pelas energias
do Sol e da Lua, que, juntas, as envolvem. É como se fosse o pai e a mãe, os
quais, pela colaboração mútua, educam os filhos. Dessa maneira, a força da
natureza surge por meio da trilogia Sol, Lua e Terra e, através dela, todas as
coisas nascem e se desenvolvem; esta é a situação real do Universo.
O homem é o senhor, é o centro de tudo; depois de Deus, ele é a
existência máxima. Por esse motivo, todas as outras coisas existem em função
do homem, para sua sobrevivência.
Tudo que eu falei, representa a relação entre o homem e o Universo, mas
agora se aproxima uma grande e surpreendente mudança. Trata-se de um fato
sem precedentes na História. Até o presente, o mundo era noturno, mas está
prestes a se tornar um mundo diurno. A aurora deste mundo é a época atual;
portanto, as pessoas certamente estão perdidas, sem saber o que está
ocorrendo. Talvez elas riam, dizendo: “O dia e a noite só existem no espaço de
um dia. Ligar isso às épocas é absurdo demais”. E eu lhes dou toda a razão. O
mesmo poderia ocorrer comigo; se eu não tivesse conhecimento dessa
realidade, evidentemente pensaria assim. Todavia, desde que eu a conheci
através da Revelação Divina, não posso deixar de acreditar. Trata-se de uma
verdade; portanto, se lerem atentamente o presente artigo, com certeza hão
de compreender.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Assim, a Terra está envolvida pelo Mundo Atmosférico, constituído pelo


Mundo da Essência Espiritual, cuja característica é “o fogo precede a água”, e
pelo Mundo Essência Atmosférica, cuja característica é “a água precede o
fogo”. O dia e a noite perceptíveis pelos nossos cinco sentidos correspondem
ao dia e à noite materiais, mas precisamos conhecer o dia e a noite espirituais,
que transcendem o tempo. Isso tem um significado sumamente importante e
constitui um grande mistério do Universo. É como se fosse a ampliação infinita
do dia e da noite, assemelhando-se ao vazio, por isso não pode ser percebido
pelo homem. Mas o fato é que está ocorrendo uma constante mudança, de
forma bem ordenada. Essa mudança ocorre a cada dez, mil, dez mil anos, em
escala pequena, média e ampla. Cada período está subdividido em 3, 6 e 9,
cuja soma é 18; esta é a situação real do mundo. O ensinamento de Buda diz
que o Mundo de Miroku viria dali a 5.670.000.000 de anos, mas, se
interpretarmos literalmente, é distante demais e na realidade não tem sentido.
Trata-se apenas de uma alusão aos números citados.
Voltando ao que dissemos no início, o mundo noturno era presidido pela
Lua, e, como esta é água e matéria, houve o progresso da cultura material. Ao
contrário, o mundo diurno será presidido pelo Sol. O Sol vem a ser o fogo, que
por sua vez é espírito. Se classificarmos em Bem e Mal, o espírito é o Bem, e a
matéria é o Mal. Esta é a Verdade. No mundo de até agora o Mal precedia o
Bem. Daqui para frente, ele se transformará no mundo civilizado em que o
Bem precederá o Mal. Devido ao predomínio do Mal sobre o Bem, surgiu o
mundo que vemos atualmente, semelhante ao Inferno. Se isso continuar por
muito tempo, evidentemente chegará a época em que a humanidade será
extinta. A descoberta da bomba atômica também não passa de um dos
indícios dessa ocorrência. Por conseguinte, a parte profunda do Plano de Deus,
não pode, em absoluto, ser entendida pela inteligência humana.
Com o que acabamos de dizer, creio que puderam entender, de modo
geral, a mudança que ocorrerá no mundo daqui para frente. O “Fim do Mundo”
e o “Advento do Reino dos Céus”, profetizado por Cristo, referem-se a essa
mudança. A extinção da doença, da pobreza e do conflito, proclamada por
mim, também é uma condição básica para isso. E a extinção da doença, por
sua vez, é a condição fundamental. Como Deus me concedeu a chave, tenho
por objetivo principal, atualmente, a solução do problema da doença.
Analisando o que expusemos acima, vemos que este grandioso Plano é
uma obra sem precedentes. Em conseqüência, a civilização será revolucionada
e, logicamente, surgirá a Segunda Era. Por se tratar de uma teoria por demais
maravilhosa, acho que a simples leitura deste artigo deixará as pessoas
atônitas, com dificuldade para compreender. Mas a verdade é sempre verdade,
e, como essa época está bem próxima, desejo que se conscientizem disso o
quanto antes.
Existe, no entanto, um ponto muito importante. Como eu já tive
oportunidade de falar, trata-se da sedimentação dos pecados cometidos no
longo período de predomínio do Mal sobre o Bem, durante o transcurso do
desenvolvimento da cultura material. Relacionando isso ao homem,
materialmente, são as toxinas medicinais; espiritualmente, são as máculas
geradas pelo Mal. Com o aumento do elemento fogo no Mundo Espiritual, a
purificação se intensificará e no final haverá um decisivo acerto de contas. Se
isso for o “Juízo Final” profetizado por Cristo, então o ser humano precisa
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

ultrapassar essa barreira. Se fracassar, seja ele quem for, será extinto para
sempre. Isso não foi afirmado agora por mim, mas vem sendo profetizado por
vários profetas e sábios há milhares de anos. Crer ou não crer, fica a critério
das pessoas. Atualmente, como prova para as pessoas crerem, estou
manifestando milagres que não dão margem a qualquer dúvida.
10 de Fevereiro de 1954

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Volume 1
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O FUNDADOR MEISHU-SAMA

SUA PERSONALIDADE

DEUS EXISTE?
Pude intuir esta maravilha que é o Johrei graças ao conhecimento que
tive sobre a existência do espírito e ao princípio fundamental de que, com a
purificação do espírito, o corpo volta à normalidade.
Esse princípio deve ser considerado como um prenúncio da cultura do
futuro. Realmente ele representa uma grande revolução para a Ciência, e, se o
aplicarmos em todos os setores da vida, o bem-estar da humanidade
aumentará incalculavelmente. E não é só isso. Aprofundando-se a pesquisa
desse princípio fundamental, pode-se prever que ele influenciará até a
essência da própria Religião.
A controvérsia sobre a existência de Deus é uma questão que tem
desafiado os tempos e continua sempre presente. E isso se justifica porque,
apenas do ângulo de visão materialista, obviamente as pessoas nada podem
compreender a respeito de Deus, que é Espírito, o qual, para elas, equivale ao
Nada. Mas, pela Ciência Espiritual que estou propondo, é possível reconhecer a
existência de Deus e, ao mesmo tempo, responder a indagações sobre
problemas como a vida após a morte, a reencarnação, a verdade sobre o
Mundo Espiritual, os fenômenos de encosto e incorporação e outras questões
relativas ao Mundo Desconhecido, que chamo também de Mundo Intemporal.
Primeiramente devo explicar como se processou a evolução do meu
pensamento. Quando jovem, eu era extremamente materialista. Até mais ou
menos quarenta anos nunca entrei em templo algum. Achava tolice adorar ou
rezar para uma pedra, um espelho ou um papel escrito, que constituem a
imagem de Deus nos templos xintoístas e são colocados num recipiente com
formato de caixa, feito por carpinteiros, com tábuas de cânfora, e chamado
"Omiya". Nos templos budistas também se adora um Buda desenhado em
papel, ou as estátuas de Kannon, Amida e Buda talhadas em madeira, pedra
ou metal. Eu costumava afirmar que Kannon e Amida só existiam na
imaginação do homem; por conseguinte, achava que era uma adoração ainda
mais sem sentido, não passando de idolatria.
Naquele tempo, li a tese do famoso filósofo alemão Rudolf Eucken (1846-
1926), o qual diz que o homem possui o instinto inato de adorar qualquer
coisa e, assim, criou e adora os seus próprios ídolos, caindo na auto-satisfação.
Como prova disso, acrescenta ele, todas as oferendas depositadas no altar
estão voltadas para o lado dos homens e não para o lado de Deus.
Senti-me perfeitamente identificado com a tese e até considerava que a
existência de templos era prejudicial ao progresso da Pátria, porque as nações
que possuíam muitos templos estavam em declínio e aquelas que quase não
os tinham achavam-se em franco desenvolvimento. Apesar disso,
mensalmente eu contribuía com uma modesta quantia para o Exército da
Salvação, e por esse motivo era visitado por um sacerdote que sempre insistia
em que eu me convertesse ao cristianismo. Ele me dizia: "As pessoas que
contribuem para o Exército da Salvação geralmente são cristãs. Por que o
senhor contribui, se não é cristão?" Então expliquei: "O Exército da Salvação
trabalha para a recuperação de ex-presidiários, transformando-os em pessoas
67
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

de bem. Se não existisse, talvez um deles tivesse entrado em minha casa para
me roubar. Portanto, se o Exército da Salvação está impedindo que isso
aconteça, é natural que eu seja agradecido e colabore nas suas obras".
Houve muitos casos semelhantes, porém, na época, apesar de fazer o
bem, eu não acreditava em Deus nem em Buda. Sendo assim, poderão
compreender quão forte era a minha tendência a jamais acreditar naquilo que
não se pode ver.
Naquele tempo, as minhas atividades comerciais iam muito bem, e eu
estava no auge da autoconfiança, mas um de meus empregados me fez
perder tudo. A sorte adversa, manifestada através do falecimento de minha
primeira esposa, dos embargos judiciais sofridos da falência e de outras
desgraças, arrastaram-me para o fundo do abismo. Como resultado, acabei
recorrendo àquilo a que todos recorrem nessas ocasiões: a Religião. Também
eu fui à procura da salvação no xintoísmo e no budismo, como era de praxe, e
assim tive conhecimento da existência de Deus, do Mundo Espiritual, da vida
após a morte, etc. Refletindo sobre o meu passado, arrependi-me da vida inútil
que levara até então.
Após esse despertar, meu conceito sobre a vida deu uma volta de cento
e oitenta graus. Compreendi que o homem é protegido por Deus e que, se ele
não reconhecer a existência do espírito, não passa de um ser vazio. Também
entendi que, mesmo na pregação moral, se não fizermos com que as pessoas
reconheçam a existência do espírito, ela não terá nenhum valor. Por isso, caros
leitores, faço votos de que "abram os olhos" para os esclarecimentos que darei
sobre os fenômenos espirituais.
5 de fevereiro de 1947

O VALOR DO HOMEM RESIDE NO SEU ESPÍRITO DE JUSTIÇA


O meio mais eficiente para a avaliação de uma pessoa, é o
conhecimento do grau do seu espírito de justiça. O processo mais correto é
determinar o padrão de honestidade, o senso de responsabilidade e a
confiança que ela inspira. Realmente, creio que o espírito de justiça é a
essência do homem. Quem não o possui, assemelha-se à medusa,
vulgarmente conhecida como água-viva, a qual é destituída de ossos, de modo
que não merece confiança alguma.
Devemos distinguir, em primeiro lugar, o certo e o errado das coisas. Se
a pessoa que de nós discorda estiver desorientada, é nosso dever ajudá-la
com espírito de justiça, sem nos intimidarmos. Essa atitude poderá causar
momentos amargos, em nossa vida, mas promete a realização dos nossos
desejos, não havendo motivos para preocupação.
Atualmente, o mundo está repleto de pessoas más. Basta a menor
distração para cairmos nas malhas de seus enganos e explorações. Isso
provém da falta de um espírito de justiça inabalável. Minha longa experiência
é a melhor prova do que estou dizendo, e por essa razão vou tomá-la como
exemplo.
Na época em que eu era comerciante (antes de me tornar religioso),
muitas vezes fui vítima de embustes e experiências pavorosas. Por felicidade,
possuo inquebrantável espírito de justiça. Lutei contra todos os obstáculos,
indiferente às conseqüências monetárias. O esforço empreendido na
preservação da justiça acarretou-me muitas desvantagens, que felizmente
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

foram passageiras. Com o tempo, a situação melhorou e acabei por vencer,


não só recuperando como ganhando muito mais do que tinha perdido.
Involuntariamente tive três ou quatro casos judiciais, e um deles vem se
prolongando até hoje.
No tempo em que eu vivia na pobreza, uma associação perseguiu-me,
aproveitando-se do seu dinheiro e posição. Com o decorrer do tempo, fui
favorecido pelas circunstâncias e essa associação teve de desistir. Foi o
seguinte:
Eu possuía uma fábrica de objetos de fantasia e obtive, em dez países a
patente de um artigo que teve extraordinária aceitação, propiciando-me um
contrato especial com certa firma. Como o artigo tivesse entrado em moda,
recebi uma proposta sumamente egoísta de uma associação de lojas varejistas
de objetos de fantasia, sediada em Tóquio, a qual me pedia que lhe vendesse
uma das duas exclusividades reservadas àquela firma. Vendo-se rejeitada pela
minha honestidade, tentou boicotar-me com a colaboração de todas as lojas
do gênero, a fim de obrigar-me a ceder. Dois anos de resistência me
acarretaram considerável prejuízo, mas a associação deu-se por vencida e
entramos em acordo.
Outro caso interessante foi quando, em protesto contra uma injustiça
comercial, tentei suspender determinada transação. O encarregado, surpreso,
disse-me ter sido eu a primeira pessoa que rompera a tradicional obediência
às imposições feitas aos comerciantes. Reconhecendo que eu estava com a
razão, a firma desculpou-se, e o caso foi resolvido.
Após tornar-me religioso, por diversas vezes passei momentos
agitadíssimos, de sério perigo. Nessa época, bastava a religião ser nova para
sofrer pressão e perseguição. Não havia meios para reagir, e eu padeci
bastante. Mas, afinal, a pressão e a perseguição cessaram, o que prova a
vitória da justiça.
Por essas experiências, vemos que, embora o bem se renda
temporariamente ao mal, a perseverança assegurará a sua vitória definitiva.
Daí a conclusão de que o homem deve abraçar a justiça e marchar
destemidamente, tornando-se, assim, sustentáculo da comunidade, baluarte
contra o mal social e construtor de uma sociedade sadia, porque Deus não
deixará de ajudar os justos, como jamais deixou.
10 de outubro de 1951

ESTÁ ERRADO DIZER QUE OS HONESTOS SAEM PERDENDO


Há muito tempo ouve-se dizer que as pessoas honestas saem perdendo.
Entretanto, refletindo profundamente, pergunto a mim mesmo se essas
palavras não soam mal para a sociedade e para os indivíduos. Sendo assim,
ainda que pouco adiante afirmar o contrário, pois os fatos parecem comprovar
a veracidade daquela afirmação, minha experiência me faz garantir que não
existe nada tão falso. Vejamos.
Quando observamos minuciosamente a sociedade, notamos que existem
duas maneiras de ver as coisas: a curto prazo e a longo prazo. Em geral, os
homens tendem a julgar o bem ou o mal através de resultados momentâneos.
Ao verem, por exemplo, o sucesso obtido por pessoas desonestas que
enganam o próximo ou vendem gato por lebre, ficam deslumbradas e definem
que os honestos sempre saem perdendo. Mas é preciso que tais coisas sejam
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

vistas a prazo mais longo, pois, inevitavelmente, a farsa virá à tona e aquelas
pessoas passarão por grandes vexames, podendo-se até afirmar que acabarão
arruinadas. Em contrapartida, ainda que por um momento os honestos sejam
mal interpretados, prejudicados ou colocados em posição desvantajosa, com o
passar do tempo, infalivelmente, a verdade será esclarecida. Vou contar minha
experiência a esse respeito.
É constrangedor eu falar de mim mesmo, mas desde jovem eu era muito
honesto. Não conseguia mentir de maneira alguma. Por isso, sempre me
diziam: "Um rapaz honesto como você nunca vai alcançar sucesso. Se você
não mudar seu pensamento e não for hábil no mentir, dificilmente será bem-
sucedido na vida". Achando que essas palavras eram sensatas, menti bastante
durante algum tempo, mas não estava bem comigo mesmo. Sentia uma
angústia insuportável, minha vida se tornava sombria, meus dias eram só de
tristeza. Não havia, pois, condição para eu obter bons resultados nos meus
empreendimentos.
Naquela época, eu era comerciante, de modo que as "técnicas" de
negociar deveriam ser muito mais vantajosas para mim. Mas eu não conseguia
me sair bem e acabei decidindo voltar à honestidade, traço próprio de meu
caráter. O engraçado é que, depois disso, os resultados começaram a ser
melhores do que eu esperava. Em primeiro lugar, adquiri maior crédito no
mundo dos negócios, as coisas passaram a se processar num ritmo excelente
e em pouco tempo consegui um grande capital. Com isso, deixei-me levar pela
corrente. Quando já tinha estendido demais a mão, deparei com a crise do
mundo econômico e decaí a ponto de não conseguir mais recuperar-me. Foi
isso que me fez abraçar a vida religiosa.
Entretanto, até hoje continuei seguindo os princípios da honestidade, da
qual determinei jamais me apartar. Obviamente, os resultados são ótimos.
Durante um período relativamente longo, houve ocasiões em que fui mal
interpretado, criticado, pressionado, enfrentando caminhos espinhosos, cheios
de dificuldades, mas nunca perdi a confiança das pessoas, o que ainda hoje
atribuo, com toda convicção, à minha honestidade.
Parece que os homens contemporâneos têm uma visão a curto prazo e
se deixam encantar por resultados momentâneos. É, pois, necessário que,
diante de qualquer situação, eles observem os fatos com os olhos voltados
para a eternidade. Isso é válido para todas as circunstâncias.
Exemplifiquemos. Um político que força a situação para conseguir o poder, não
o reterá nas mãos por muito tempo. É o mesmo que colher um caqui ainda
verde, não esperando que ele amadureça e caia, e ficar frustrado com a sua
cica. Existe um ditado que diz: "Os grandes políticos pensam em termos de
cem anos; os políticos de nível médio, em termos de dez anos; os de nível
inferior, em termos de um ano". É exatamente assim. Entretanto, hoje em dia,
por infelicidade, parece que o número de políticos de nível inferior é bem
maior.
O mesmo princípio se aplica à Agricultura Natural, por mim preconizada.
Vemos que a agricultura praticada até hoje conseguiu bons resultados com o
uso de adubos, mas, como os adubos corroem a terra, esta se torna cada vez
mais pobre. Sem perceber isso, as pessoas mostram-se deslumbradas com os
resultados momentâneos. Por fim, tanto a terra como o homem ficam
intoxicados.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

O princípio também é válido para a medicina atual. Durante algum


tempo, os medicamentos e os tratamentos através de aparelhos surtem
efeito; pouco a pouco, no entanto, surgem efeitos contrários e a pessoa piora.
Sempre deslumbrada com os resultados momentâneos, ela volta a utilizar o
mesmo método e vai piorando cada vez mais.
Meu objetivo, com esses exemplos, é chamar atenção para as
conseqüências da visão a curto e a longo prazo, a que me referi inicialmente.
20 de abril de 1949

MINHA NATUREZA
Já escrevi um artigo intitulado "Como eu me vejo". Agora, ao invés de
me colocar na posição de terceiros, tentarei analisar-me de forma subjetiva,
dando uma visão mais profunda de mim mesmo.
Creio que, atualmente, não existe uma pessoa tão feliz quanto eu, e por
isso minha gratidão a Deus é constante e profunda. Mas qual será a causa da
minha felicidade? De fato, eu não sou uma pessoa comum, sobretudo porque
Deus me atribuiu uma grandiosa missão. Esforço-me dia e noite para cumpri-
la, e todos os messiânicos sabem que, através dela, um incontável número de
pessoas está sendo salvo. Entretanto, a felicidade tem um segredo fácil de ser
praticado mesmo pelas pessoas comuns, ou melhor, por aqueles que não têm
uma missão especial como eu.
Primeiramente, desejo abrir meu coração, mostrando aquilo que é uma
tônica em meu íntimo.
Desde jovem gosto de dar alegria ao próximo, a ponto de isso se tornar
quase um "hobby" para mim. Sempre estou pensando no que devo fazer para
que todos fiquem felizes. Quando acordo pela manhã, por exemplo, minha
primeira preocupação é saber o estado de ânimo dos meus familiares. Se
houver uma só pessoa mal-humorada, já não me sinto bem. Na sociedade
acontece justamente o contrário: os subordinados é que se preocupam com o
estado de ânimo dos seus superiores. Como sou diferente, acho isso estranho
e até fico um pouco desapontado. Por esse motivo, algo que me deixa muito
triste é escutar gritos de raiva, lamentações inúteis e reclamações. Também
me é difícil ouvir repetidas vezes um mesmo assunto. Minha natureza é
sempre pacífica e alegre.
O resultado do que acabo de expor é um dos fatores determinantes da
minha felicidade. Por isso eu sempre afirmo: "Se não fizermos a felicidade do
próximo, não poderemos ser felizes." Acredito que meu maior objetivo - o
Paraíso Terrestre - estará concretizado quando meu estado de espírito
encontrar ressonância e expansão no coração de todos os homens.
Este artigo parece um auto-elogio, mas se, depois de sua leitura, ele
puder levar algum benefício às pessoas, ficarei satisfeito.
30 de agosto de 1949

OSTENTAÇÃO RELIGIOSA
Todos que vêm a mim pela primeira vez, dizem a mesma coisa: "Antes
de conhecê-lo, eu pensava que o senhor fosse uma criatura pouco acessível,
que sempre estivesse rodeado de pessoas. Imaginava que, para dirigir-me ao
senhor, deveria fazê-lo com o maior protocolo. Foi com muito medo que resolvi

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

visitá-lo, mas, ao contrário do que esperava, tudo foi tão simples e fácil que
fiquei surpreso."
Realmente, quando se trata de um fundador de religião ou de um chefe,
a tendência geral é pensar que eles vivem cercados de aparato. Em tempos
passados, vários de meus subordinados quiseram que eu procedesse dessa
forma. Entretanto, eu não sentia vontade alguma de agir assim e continuei a
ser a pessoa simples que sempre fui.
Muita gente deve estar curiosa, perguntando a si mesma por que eu não
assumo uma atitude ostentosa, comportando-me como se fosse um deus. Vou
explicar a razão.
Talvez pelo fato de ter nascido em Tóquio, jamais gostei de
exibicionismo. Como detesto a falsidade, acho que aparentar aquilo que não
sou e criar diversos aparatos é uma forma de mentir; além do mais, à vista
dos outros, pode ser até uma atitude desagradável. Afinal de contas, o melhor
é a pessoa se mostrar como realmente é.
Na posição em que me encontro, talvez fosse melhor eu ficar no fundo
da nave, junto ao altar, como um deus, e ali dar audiências, porque assim eu
me valorizaria muito mais. Não gosto disso, porém. Àqueles que não aprovam
meu procedimento, eu sempre digo que não precisam permanecer comigo.
Todavia, com o passar do tempo, como a realidade mostra a constante
expansão da nossa Igreja, constato que o número de pessoas que aceitam
minha maneira de agir é cada vez maior, e isso me deixa muito satisfeito.
Devo acrescentar que considero minha natureza muito diferente da de
outras pessoas. Detesto imitar o que os outros fazem. Esse é um dos motivos
pelos quais não me porto com ostentação. Quero ter sempre a aparência de
pessoa comum. Agindo assim, também estou quebrando a tradição geral, mas
esta característica contribuiu muito para que eu pudesse descobrir a forma
revolucionária de curar todos os males: o Johrei. Como os fiéis sabem,
manifesto o poder de curar doenças através do Ohikari, que confecciono
escrevendo uma letra numa folha de papel, não diferencio Deus de Buda,
estou construindo o protótipo do Paraíso Terrestre, empenho-me na promoção
da Arte, evito a ostentação religiosa, etc. Se eu quisesse, poderia enumerar
uma infinidade de realizações minhas que realmente quebram a tradição. A
propósito, dias atrás, fui visitado por uma jornalista do Fujim Koron, que me
disse ter ficado surpreendida ao chegar à entrada da Sede Provisória e não ver
nenhum aparato que lembrasse uma Igreja. Ela achou muito estranho. Daqui
por diante pretendo realizar uma intensa atividade religiosa em todos os
campos da sociedade, mas de forma absolutamente inédita.
13 de maio de 1950

MINHA MANEIRA DE PENSAR


Tenho o costume de pensar profundamente sobre todas as coisas.
Suponhamos que eu faça um projeto qualquer. A maioria das pessoas, quando
elaboram um projeto, ficam ansiosas, querendo logo pô-lo em prática, e, mais
do que isso, com a esperança de poderem contar com a ajuda da sorte e
obterem resultados positivos. As coisas, porém, não ocorrem como elas
esperavam e geralmente redundam em fracasso. Tais pessoas só pensam no
sucesso, não levando em conta a possibilidade de fracasso, o que é muito
perigoso. Eu, no entanto, faço o contrário. Desde o começo imagino o
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

insucesso. Elaboro, também, um plano à parte, para quando isso acontecer.


Assim, se o projeto falhar, o fato não me atinge muito; eu aguardo um pouco
mais. Agindo dessa maneira, é fácil eu me recuperar, em caso de fracasso.
Em relação ao dinheiro, procedo do mesmo modo. Divido-o em três
partes: se a primeira não der, começo a usar a segunda; caso esta ainda seja
insuficiente, recorro à terceira. Seguindo esse método, a probabilidade de falta
de recursos é mínima.
À primeira vista, parecerá perda de tempo fazer um planejamento muito
detalhado, tomando todas as precauções para as eventualidades que possam
surgir; contudo, se procedermos dessa forma, tudo correrá mais rapidamente,
pois não haverá falhas. Fazendo como eu faço, não há desperdício de dinheiro,
nem de tempo, nem de trabalho. Somando tudo isso, representa um
inesperado e considerável lucro. Todos sabem que tenho planejado grandes
empreendimentos, uns após outros, e os tenho executado sem qualquer
preocupação; tudo sempre corre muito bem. Ainda que eu haja elaborado um
plano detalhadamente e todos os preparativos estejam em ordem, não o
ponho logo em prática; aguardo o tempo certo. Quando aparece uma boa
oportunidade, começo a executá-lo com todo o empenho. Depois, é só
esperar, sem pressa ou afobação. O homem nunca deve precipitar-se. Se o
fizer, estará forçando a situação e, procedendo assim, nada dará certo.
Pensando naqueles que fracassaram, vemos que, por sua pressa, todos eles,
sem exceção, forçaram situações.
A propósito, lembro-me sempre da Segunda Guerra Mundial. No início, as
coisas corriam bem, e por esse motivo os japoneses ficaram orgulhosos,
vaidosos; mesmo quando tudo mudou, eles pensaram que não era nada e
forçaram a situação. Como se mantiveram nessa atitude, o resultado foi
aquele triste fim. Naquela época, senti que, com tanta afobação, as
autoridades fatalmente nos levariam a perder tudo, mas silenciei, pois não
podia comentar esse meu pensamento com ninguém. Se, desde o começo,
tivessem considerado a hipótese da derrota, o resultado não teria sido tão
desastroso, por isso foi grande a minha decepção. Obviamente, o fato ocorreu
devido à falta de planejamento por parte das autoridades competentes.
Quando as pessoas me observam, às vezes me acham apressado; outras
vezes, calmo e despreocupado. À primeira vista, é natural que elas fiquem
confusas. Tudo se deve, logicamente, à grande proteção de Deus, mas todos
se espantam pela maneira rápida com que as minhas obras são executadas.
Poderão compreendê-lo melhor atentando para a incrível rapidez com que se
processa a expansão da nossa Igreja.
Desejo, agora, chamar atenção para a necessidade de uma mudança na
mentalidade do homem. Existem pessoas que se concentram num único
trabalho, sem descanso; muitas vezes, entretanto, não conseguem ser
eficientes. Isso acontece porque elas acabam entediadas, saturadas, mas
ficam agüentando e insistindo no trabalho. Esse procedimento não é certo.
Nessas ocasiões, o melhor é parar um pouco e até mesmo procurar uma
recreação, a fim de espairecer a mente. Muitos pintores dizem que, quando
não se sentem inspirados ou quando estão sem vontade, não pegam de modo
algum no pincel. Na minha opinião, é uma atitude bastante sensata. Até certo
ponto, a liberdade pode gerar muito mais eficiência. Nesse sentido, não gosto
de ficar preso a uma só tarefa; estou sempre mudando de uma para outra.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Agindo dessa forma, sinto-me mais disposto, trabalho com satisfação e minha
cabeça funciona melhor. Pode acontecer, no entanto, de acordo com a
situação de cada um, que essa recomendação seja impraticável. Por isso,
conhecendo bem o princípio que acabo de expor e procedendo de acordo com
as possibilidades e circunstâncias do momento, a pessoa terá um grande
proveito. É isso que estou tentando ensinar.
25 de junho de 1952

SUA FORÇA DE SALVAÇÃO

EU E A IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL


A Igreja Messiânica Mundial é completamente diferente das outras
religiões, e quem nela ingressar entenderá por quê. Mas em que aspecto ela
difere das demais? No momento ainda não posso entrar em detalhes, mas
falarei em linhas gerais.
Em primeiro lugar, observando bem as religiões existentes, parece-nos
que elas se classificam em dois tipos. A umas nem cabe o nome religião, tal a
sua simplicidade; trata-se, em poucas palavras, de fé passiva. É aquela que
consiste em ir ao templo rezar de vez em quando, receber talismãs e
amuletos, queimar incenso, ver a sorte e, se a pessoa tem posses, mandar
executar músicas sacras, fazer doações e oferendas e voltar para casa
agradecida, sentindo-se bem. É uma fé popular, que se costuma chamar de
devoção. Entretanto, esse tipo de fé pode ser considerado religião, pois, no
fundo, possui normalmente uma estrutura religiosa. O outro tipo poderia ser
chamado de fé pura. Nela se faz o registro de todos os fiéis, havendo
dirigentes, funcionários, ministros e até encarregados de difusão, que se
dedicam profissionalmente às atividades religiosas. Constitui, portanto,
genuinamente, uma religião. Ao contrário da fé passiva, seus fiéis agem com
seriedade e, quando se aprofundam, dedicam-se fervorosamente, de corpo e
alma, às suas tarefas. Entre essas religiões, existem as recentes e as antigas.
As antigas, em sua maioria, são pouco atuantes, devido, talvez, à mudança
dos tempos; algumas, segundo dizem, só a muito custo conseguem manter-se
na atual posição. As recentes foram fundadas aproximadamente do fim do
xogunato ao início da Era Meiji, (1867), e são as que apresentam maior
atividade e progresso. Entre elas, destaca-se o xintoísmo. No campo do
budismo, só uma seita - a Nitiren - apresenta algum fôlego; as demais são
praticamente inativas.
Num rápido exame das religiões, observamos que elas apresentam
várias formalidades, mas em geral têm como alicerce os ensinamentos de seu
fundador ou o espírito que norteou sua fundação, os quais são divulgados e
transmitidos aos fiéis. Estes, por sua vez, oferecem-lhes sua devoção, em
agradecimento pela proteção recebida de Deus. Obviamente não se pode
generalizar, pois até mesmo na fé existem altos e baixos.
Concordamos plenamente que todas as religiões têm como objetivo a
concretização de um mundo melhor e por isso tentam satisfazer o conceito de
felicidade do homem. A maioria, entretanto, toma como principal fator o
aspecto espiritual, demonstrando pouco interesse pelos benefícios materiais.

A VERDADEIRA SALVAÇÃO
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Na Igreja Messiânica Mundial, não negligenciamos de maneira alguma a


salvação do espírito, mas julgamos que, salvando o homem apenas
espiritualmente, sua salvação não é perfeita, ou seja, ele não está realmente
salvo. Temos de salvar-lhe também a parte material, e neste ponto é que
reside a grande diferença entre a nossa religião e as demais. Ainda que como
ser humano seu espírito esteja salvo, essa idéia não basta para ele ser
verdadeiramente feliz. Numa sociedade complexa como esta em que vivemos,
não se sabe quando tal felicidade será destruída, e isso está claramente
provado pela realidade que nos cerca.
Exemplificando, há pessoas que adoecem, que são roubadas, que têm
prejuízos, que são enganadas por indivíduos inescrupulosos, que sofrem
devido a elevadas taxações de impostos, etc. No caso dos impostos elevados,
podemos apontar, entre outras causas, a existência de malfeitores, que
justifica a necessidade de polícia e tribunais; o surto de muitas doenças, cujo
combate requer a aplicação de dinheiro; uma pessoa errada que provoca uma
grande guerra, acarretando despesas decorrentes de indenizações, e assim
por diante. Devido a tais fatores, atingir um estado de segurança e de paz
espiritual torna se utopia. Portanto, num mundo como este, se não houver
salvação espiritual e material, não se poderá obter a verdadeira felicidade. A
nossa Igreja promove a salvação em ambos aspectos. Individualmente, isso se
expressa através de benefícios materiais; socialmente, através do progresso
da cultura. Entretanto, segundo a Revelação Divina, há um grande erro na
cultura moderna, apesar de, até agora, ninguém o ter percebido. É um erro tão
surpreendente, que o que se faz pensando ser bom, na verdade é o contrário,
e por causa disso a humanidade tem sofrido sérios danos. Em poucas
palavras, o que se julgava contribuir para o aumento da felicidade acabava
por resultar em aumento da infelicidade. Os fatos, melhor do que qualquer
outra coisa, comprovam o que estamos dizendo.
Houve um grande progresso da cultura, mas a felicidade deixou de
acompanhar esse ritmo; aliás, o sofrimento do homem é cada vez maior. Se a
cultura moderna foi edificada graças ao esforço conjunto de sábios, santos e
outros grandes personagens que vêm se sucedendo há milênios, poder-se-á
dizer que se trata de uma cultura do mais elevado nível. É difícil, portanto,
imaginar que em seu conteúdo possa existir um erro marcante. Como eu já
disse, conhecendo o grande erro da cultura moderna, desejo, o mais breve
possível, não só fazer com que o maior número de pessoas o compreendam,
mas também compartilhar com elas dessa felicidade e, ao mesmo tempo,
mostrar-lhes as diretrizes para a formação do Novo Mundo, caracterizado por
uma cultura nova, ideal. Essa é a Vontade de Deus.
Agora vou falar sobre mim. Pelo que já passei em minha vida, sou uma
pessoa comum, igual a tantas outras. Tenho, porém, uma vida tão mística, que
não encontra paralelo na história de toda a humanidade. Digo isso porque me
fizeram nascer com a grande missão de salvar o mundo, completamente
diferente da missão de famosos religiosos como Sakyamuni. Cristo e Maomé.
Ou seja, fui investido do poder de executar aquilo que esses grandes
personagens não puderam realizar. Isso é absoluta verdade, como todos os
fiéis estão cientes.
Por exemplo, qualquer coisa que eu desejar saber, eu fico sabendo.
Tomo conhecimento de tudo que for importante, a começar dos três mundos -
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Divino, Espiritual e Material - assim como também do passado, do presente e


do futuro. É claro que isso está limitado ao que concerne à salvação da
humanidade e à construção do Paraíso Terrestre. Antevejo como será o mundo
daqui a um ano ou a vários anos, e também o meu próprio destino. É até
engraçado. E note-se, pela experiência que tenho tido até agora, que
geralmente os fatos previstos por mim acabam acontecendo, isto é, as visões
tornam-se realidade. Tenho elaborado e executado vários planos, e tudo tem
corrido conforme os meus desejos.
Com relação à literatura, se penso em escrever um artigo, as palavras
me fluem naturalmente, o quanto eu desejar. Como todos sabem, dedico-me
também à composição de poemas e não encontro nenhuma dificuldade nisso;
componho cerca de cinqüenta em uma hora. Gostaria, inclusive, de escrever
haicais, poemas satíricos, obras de ficção, dramas, etc. mas não o tenho feito
por falta de tempo. Além desses gêneros, escrevo sátiras e comédias; como
elas têm sido publicadas, os leitores devem conhecê-las. As orações entoadas
pelos fiéis também são de minha autoria, e parece-me que, apesar de eu não
ter tido, anteriormente, qualquer experiência nesse sentido, elas ficaram
muito boas.
Por outro lado, já é do conhecimento de todos que estou construindo um
protótipo do Paraíso Terrestre de grande porte; nessa obra, as pedras, as
árvores, as flores, enfim, tudo sou eu quem escolho e planejo. Naturalmente, o
projeto do jardim e dos prédios e até a ornamentação também são trabalhos
meus. O Templo Messiânico, que se erguerá no Solo Sagrado de Atami, mas
que ainda está em fase de projeto, seguirá um estilo mais moderno que o do
arquiteto suíço Le Corbusier, estilo esse que nos últimos anos se tornou moda
arquitetônica no mundo inteiro. Portanto, quando o templo for inaugurado,
deverá ser alvo da atenção mundial. Só de estar no local e olhar o terreno, os
prédios e os jardins se projetam aos meus olhos, não havendo necessidade de
pensar. Na verdade nunca estudei esses assuntos, nem ninguém me ensinou
nada a respeito; entretanto, se quero fazer algo, imediatamente brotam,
dentro de mim, excelentes idéias. Além disso, faço vivificações florais, escrita
a pincel e pinto quadros. Dessas atividades, a única que estudei um pouco foi
pintura, mas nas outras sou totalmente leigo. Com relação à Política,
Educação, Economia, Filosofia e Medicina, sei das coisas que irão acontecer
até daqui a um século. Sei principalmente o erro em que está baseada a
cultura atual e fico impaciente quando penso que, se ele fosse logo corrigido,
a humanidade seria salva e a felicidade reinaria no mundo. Nada, porém, pode
ser feito enquanto não chegar o tempo certo. Atualmente, seguindo a ordem
Divina, estou apenas apontando o problema da doença e os erros da
agricultura, questões fundamentais para a construção do Paraíso Terrestre.

UTILIZAÇÃO DO ESPÍRITO
O que eu acho mais misterioso em mim é que, utilizando o espírito,
estou fazendo com que os fiéis erradiquem as doenças. Os resultados são
realmente excelentes. Cristo e muitos santos e profetas também praticaram
milagres em relação às enfermidades; entretanto, na maioria das vezes eram
curas de uma pessoa para outra. Ora, uma só pessoa não poderia salvar
milhões; para salvar toda a humanidade é preciso que seja concedida a cada
indivíduo uma força ilimitada, capaz de eliminar as doenças. É o que estou
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

fazendo atualmente, com resultados admiráveis. A expansão da nossa Igreja é


a melhor prova do que digo. Como já falei, é uma obra que nem Cristo nem
Buda puderam realizar.
Não pretendo dizer que a minha força seja superior à dos grandes
santos, mas expresso a realidade tal como ela se apresenta, e isso porque;
chegado o tempo, Deus me faz falar sobre o assunto. Quando penso que uma
força tão grandiosa foi concedida à minha pessoa, sinto a enorme importância
da minha missão. Naturalmente Deus não cria nada além do que é preciso.
Tudo é criado e eliminado de acordo com as necessidades. Sendo essa a
Verdade, que eu sempre afirmo, fica bem clara a minha missão, determinada
pelos Céus. A mim é dado conhecer todos os mistérios, sendo-me atribuído, de
maneira ilimitada, o poder da Inteligência Superior. Sob a Orientação Divina,
estou trabalhando para levar esse fato ao conhecimento de toda a
humanidade e edificar a nova cultura, a cultura ideal. Todavia, como o homem
da atualidade possui uma inteligência muito desenvolvida, ele não iria aceitar
que lhe dessem uma explicação de maneira simples como nos tempos antigos.
Segundo a Vontade de Deus, é necessário mostrar-lhe milagres
comprobatórios e, ao mesmo tempo, transmitir-lhe as teorias de forma que
elas possam ser aceitas. É por essa razão que Ele faz ocorrer milagres em
grande quantidade. Nesse sentido, por um lado apontam-se os erros; por
outro, dão-se provas através de milagres. Sinto-me, portanto, extremamente
grato e sensibilizado pela grandeza da Providência de Deus.
Observando-se a Divina tarefa que no momento estou executando, não
haverá qualquer margem para dúvidas sobre a veracidade de minhas
palavras. Provavelmente a humanidade jamais sonhou com uma obra de tão
grande porte e de absoluta salvação. Por conseguinte, se uma pessoa,
tomando conhecimento dela, não consegue despertar, é porque é cega de
alma e não tem possibilidade de ser salva pela eternidade. Além disso, se
forem submetidos, no futuro próximo, ao supremo perigo representado pelo
"Fim do Mundo", aqueles que não estiverem preparados serão tomados de
pânico e irão se arrepender, mas aí já será demasiado tarde.
25 de novembro de 1950

ESTADO DE UNIÃO COM DEUS


Desde os tempos antigos, muito se tem falado sobre pessoas que vivem
em estado de perfeita união com Deus, mas eu creio que jamais existiu
alguém que realmente tivesse vivido nesse estado. De fato, os três grandes
religiosos – Sakyamuni, Jesus Cristo e Maomé – pareciam unos com Deus, mas,
em verdade, eram apenas mensageiros da Vontade Divina; em termos mais
claros, eram mensageiros de Deus. Dessa forma, não se sabia fazer diferença
entre uma pessoa em estado de união com Deus e um mensageiro de Deus.
Os mensageiros de Deus atuam através de encostos ou seguindo as
determinações Divinas. Por esse motivo, sempre rezam a Deus e pedem Sua
proteção. Eu, porém, não faço nada disso. Como os fiéis sabem, não oro a
Deus nem lhe peço orientação. Basta-me agir de acordo com a minha própria
vontade, o que é muito fácil. Visto que poderão estranhar o que estou dizendo,
por ser algo inédito, explanarei apenas os pontos que não acarretam nenhum
problema.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Como sempre digo, há uma Bola de Luz em meu ventre. Essa Bola é o
Espírito de Deus, de modo que Ele mesmo maneja livremente meus atos,
minhas palavras, tudo. Ou seja: em mim não há distinção entre Deus e o
homem. Este é o verdadeiro Estado de União com Deus. Como o Espírito
Divino que habita o meu ser é o mais elevado, não existindo nenhum deus
superior a este, não faz sentido reverenciar outros deuses. A melhor prova são
os milagres manifestados diariamente pelos fiéis. Ora, se até os meus
discípulos evidenciam milagres que não são inferiores aos manifestados por
Cristo, poder-se-á, através desse único fato, imaginar a minha hierarquia
divina.
Acrescente-se, ainda, que todos os religiosos existentes até agora
previram a concretização de um mundo paradisíaco, mas não disseram que
seriam eles os construtores desse mundo. Isto porque seu nível divino era
inferior, e seu poder, insuficiente. Mas eu afirmo que o Paraíso Terrestre,
mundo sem doença, pobreza e conflito, será construído por mim. Daqui para a
frente evidenciarei inúmeras realizações surpreendentes, nunca vistas até
agora, e por isso gostaria de que as observassem com muita atenção. Surgirão
inúmeras ocorrências inconcebíveis em termos de realização humana.
07 de Maio de 1952

MINHA LUZ
Escrevi, sobre o budismo, muitas coisas que ninguém até hoje havia
explicado. Os leitores talvez se surpreendam, mas todo o meu conhecimento
eu o obtive através da Revelação Divina. São revelações que não tinham sido
feitas até agora devido ao fator Tempo. Ainda não se havia chegado ao grande
marco de épocas que é a Transição da Noite para o Dia, ou seja, o
desaparecimento do prolongado mundo das trevas para dar lugar a um mundo
esplendoroso de luz solar. Entretanto, embora fosse um mundo de trevas,
podia-se enxergar alguma coisa, pois existia a luz da Lua, e o homem se
contentava com esse pouco. Essa luz eram os ensinamentos da aparente
verdade da Lua, isto é, o budismo.
As coisas não podiam ser enxergadas nitidamente porque a intensidade
da luz da Lua é cerca de 1 /60 da luz solar. Durante a noite, é óbvio que nada
se enxergava direito, inclusive as religiões; por isso os homens estavam
desorientados e não obtinham a verdadeira tranqüilidade. Com a chegada do
dia, sob a luz solar, tudo sobre a face da Terra ficará visível e não existirá mais
dúvida alguma. Assim, cabendo a mim a missão de criar a Civilização do Dia, é
lógico que eu tenha conhecimento de tudo.
Vou aprofundar a relação que existe entre minha pessoa e o Mundo do
Dia.
Meu corpo abriga a bola de Luz Divina conhecida desde a antigüidade
pela expressão CINTAMANI (palavra sânscrita que serve para designar a
fabulosa bola com poder de atender a todos os pedidos do homem). Já me
referi a isso antes, mas vou explicar mais detalhadamente.
Falando-se em Luz, os leitores poderão pensar na luz solar, mas não é
bem assim. Na verdade, trata-se da união do Sol e da Lua. Como a natureza
da Luz que se abriga em meu corpo é constituída pelos dois elementos
extremos, forma-se a trilogia fogo-água-terra, já que o corpo é constitu ído
pelo elemento terra. Mas sérá que as pessoas comuns são formadas apenas
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

por esse elemento? Absolutamente. Elas também possuem luz, embora pouca
e fraca. Minha Luz, no entanto, é extraordinariamente forte: é milhões de
vezes superior à de uma pessoa comum, ultrapassando os limites da
imaginação; chega praticamente ao infinito.
Tomemos como exemplo o OHIKARI, que pode ser de três tipos: HIKARI
(Luz), KOMYO (Luz Divina) e DAIKOMYO (Grande Luz Divina). Colocando-o junto
ao corpo, manifesta-se imediatamente a força capaz de conseguir a
erradicação das doenças. Isso se deve à força da Luz irradiada da palavra
escrita por mim no OHIKARI. Entretanto, nunca precisei rezar ou fazer qualquer
coisa especial para escrevê-la. Simplesmente escrevo rapidamente, palavra
por palavra. Levo em média sete segundos em cada uma e escrevo facilmente
cerca de quinhentas por hora. Com apenas essa folha depapel, milhares de
doentes podem ser beneficiados; doravante, mesmo que eu conceda milhares
ou milhões de OHIKARI, o efeito de cada um será o mesmo. Creio que com isso
poderão compreender o quanto é poderosa a força da minha Luz.
Possuindo tal força, não há nada que eu desconheça. Como os fiéis
sabem, nunca tenho dificuldade em responder a qualquer pergunta que me é
dirigida. Às vezes recebo telegramas solicitando-me auxílio para pessoas
distantes e muitas obtêm a graça apenas com esse pedido. Isso ocorre porque,
no momento em que tomo conhecimento do problema, minha Luz se subdivide
e liga-se a essa pessoa. Assim, através do elo espiritual, ela recebe a graça.
Dessa forma, é uma Luz muito prática e eficiente, pois pode aumentar milhões
de vezes e alcançar qualquer local, por mais distante que ele seja. Para melhor
compreensão, a Luz irradiada de mim é como se fossem "balas" de luz. A
diferença entre ela e uma bala de fuzil, por exemplo, é que esta mata, mas eu
dou vida às pessoas; aquela é limitada, ao passo que eu sou infinito.
A explicação acima corresponde apenas a uma pequena parte da minha
força. Não é fácil explicá-la totalmente. O ideal seria que os leitores
acompanhassem atentamente o trabalho que vou realizar daqui para frente.
Se forem ágeis de inteligência, poderão entender até certo limite. Do ponto de
vista da fé, as pessoas compreendem de acordo com o seu nível espiritual, e
por isso o melhor a fazer é polir a alma e deixá-la sem máculas, pois aí terão
sabedoria para compreender a virtude do meu poder.
25 de maio de 1952

QUEM É O SALVADOR?
Acho o título acima bem inusitado, e sem dúvida os leitores pensarão da
mesma forma. A propósito dele, pretendo fazer uma análise psicológica da
minha pessoa. Gostaria, porém, de deixar claro que se trata de uma análise
objetiva do meu interior e que não há nada inventado ou fictício. Portanto,
espero que leiam com esse espírito.
A palavra Messias, ou seja, Salvador, é muito usada no mundo inteiro,
sem distinção de tempo e de lugar, tanto no Ocidente como no Oriente. Com
exceção de uma parcela de pessoas religiosas, a grande maioria considera que
a vinda ou o nascimento do Salvador tão esperado, possuidor de poder sobre-
humano, não passa de um grande sonho, ou uma grande esperança utópica. É
verdade que já apareceram pessoas que se autoproclamavam Messias, mas,
com o passar do tempo, acabaram desaparecendo, donde se conclui que ainda
não surgiu o verdadeiro Salvador.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

Devo confessar que não gosto de afirmar que sou o Salvador, mas por
outro lado também não posso dizer que não o seja. Sendo algo tão sério,
inédito em toda a história da humanidade, a vinda do Salvador é um assunto
que não pode ser discutido de maneira leviana. Contudo, não se pode também
afirmar que se trate apenas de um sonho, nem deixar de acreditar na sua
viabilidade, pois a Segunda Vinda do Cristo, a Vinda do Messias e o
Nascimento de Miroku foram previstos por grandes profetas e santos.
Há muito tempo venho pensando na condição número um que deve ser
preenchida pelo Salvador. Antes de tudo, ele deve ter força para livrar as
pessoas das doenças. Por conseguinte, além de conceder-lhes o método
absoluto para obterem plena saúde e completarem o tempo de vida que lhes
foi predestinado, ele deve possuir força para a concretização desse objetivo.
Essa é a qualificação fundamental do Salvador.
É óbvio que a saúde do corpo deve acompanhar a saúde do espírito.
Cristo disse que de nada adianta o homem ganhar o mundo se vier a perder a
vida. Parece-nos que essa afirmativa evidencia a verdade acima. Assim, as
religiões e os líderes religiosos que não possuem força para eliminar as
doenças da humanidade, têm valor limitado. Eu sempre abracei essa tese, e
certo dia, mais de dez anos após entrar na vida da fé, obtive conhecimento
sobre o princípio fundamental das doenças e a sua solução. Ah, ninguém
poderá imaginar o espanto e a alegria que senti naquela hora, pois nunca
ninguém fizera uma descoberta tão importante! Se a compararmos com as
grandes descobertas ou as grandes invenções, estas não chegariam aseus
pés.
Realmente eu sou uma pessoa que nasceu com um destino misterioso.
20 de outubro de 1948

O HERÓI DA PAZ
Atualmente, só de ouvir a palavra "herói" algumas pessoas sentem uma
espécie de admiração. Por outro lado, existem outras, como eu, que sentem
uma certa rejeição, porque essa palavra lhes inspira um pouco de tristeza.
Como podemos ver através da História, por trás das magníficas realizações
dos heróis, estão ocultos os crimes que eles cometeram, fazendo do povo de
sua época uma vítima de seus desejos egoístas e causando-lhe,
conseqüentemente, grandes prejuízos. São fatos que não podemos ignorar e
tampouco apagar da nossa memória. Não obstante, devemos agradecer-lhes
os temas que proporcionaram à literatura, ao teatro, ao cinema, etc., e que
tanto têm contribuído para o nosso deleite.
Não levando em conta o aspecto artístico, parece que o mundo confunde
herói com grande personagem. Cristo, Sakyamuni e Maomé, por exemplo, são
realmente grandes religiosos, mas não são heróis. Se pensarmos um pouco,
poderemos entender que a diferença está em suas realizações. É
desnecessário dizer que esses três grandes religiosos tentaram, a qualquer
preço, salvar a humanidade, mas salvar no sentido espiritual. Assim,
comparando suas realizações às da Ciência, torna-se evidente que o mérito da
construção da magnífica civilização atual pertence a esta última.
Isso é apenas o aspecto que veio à tona e se tornou perceptível, mas
não podemos deixar passar despercebidas as atividades dos religiosos no
outro aspecto da questão. O que acontece é que, não sendo visíveis, elas não
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

atraíram muita atenção. Muito pelo contrário: vieram sendo interpretadas


erroneamente, como se fossem coisas separadas, e não se pode imaginar
quanta infelicidade isso causou aos seres humanos. Na realidade, é
justamente com a força dos dois lados - matéria e espírito, frente e verso, luz e
sombra - que a civilização pôde alcançar o nível atual. Naturalmente, isto foi
obra da Providência de Deus. Em termos humanos, o progresso da parte
material pode ser considerado como contribuição dos heróis e cientistas, e o
da parte espiritual, fruto da realização dos grandes religiosos.
Todavia, embora a civilização tenha alcançado tão grande progresso, não
podemos esperar que ela vá além disso. Significa que a civilização chegou a
um beco sem saída. Realmente, como podemos constatar, a infelicidade e a
intranqüilidade dos homens aumentam a cada dia; se continuar assim, nem
poderemos ter idéia de quando virá o mundo de Paz e Felicidade, que é o ideal
de todos os seres humanos. Conseqüentemente, faz-se necessária a
construção de uma civilização ainda mais elevada, através de um grande salto
da civilização atual. Por grande felicidade, este momento chegou. Deus
mostrou-me claramente os fundamentos desse Mundo Ideal e atribuiu-me um
grande poder, de modo que já comecei a executar a sua construção. Talvez as
pessoas se espantem com as minhas palavras e cheguem a pensar que se
trata de auto-elogio, mas não tenho outra alternativa, porque o que estou
dizendo é a pura verdade. Observando a transformação que se processará no
mundo daqui para frente e o desenvolvimento paralelo de meus trabalhos,
poderão entender que não estou mentindo.
Retrocedendo ao que dizia antes, falarei mais um pouco sobre a Ciência
e a Religião.
Até hoje, os fundamentos das religiões eram de caráter "Shojo", isto é,
as pregações dos fundadores não eram muito profundas. Poderão certificar-se
disso observando que sempre houve muita hesitação e que a verdadeira Paz e
Iluminação não foram alcançadas. Isso era inevitável, devido ao Tempo. Mas
Deus revelou-me até os fundamentos absolutos e infinitos, só que não me é
permitido expô-los agora, razão pela qual escrevo apenas até certo ponto.
A esse respeito, como podemos ver pelas religiões tradicionais,
geralmente as religiões se utilizam de dois meios de salvação: os
Ensinamentos Sagrados, através das escrituras, e os sermões, através das
palavras.
Além das religiões, restam-nos, como herança principal de nossos
antepassados, o desbravamento de matas e terras, construções, objetos
artísticos, etc. Entretanto, quando faço uma análise mais profunda, vejo que é
imperioso o aparecimento de uma força com capacidade para liderar o mundo
daqui para frente.
Agora, torna-se necessário que eu fale a meu respeito. Como todos
sabem, escolhi três locais para Solo Sagrado - Hakone, Atami e Kyoto, no Japão
- lugares extremamente aprazíveis, onde estou construindo, atualmente, um
pequeno protótipo do Paraíso Terrestre. Meu objetivo é criar um ambiente
paradisíaco cujas características internas e externas estejam harmonizadas:
enormes jardins com a beleza das montanhas e das águas, um palácio das
belas-artes, construções inéditas entre as religiões, etc. Dedico-me, também,
ao desenvolvimento revolucionário da medicina e da agricultura; além disso,
através de infinitos e fabulosos milagres, empenho-me em fazer com que o
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 1
Meishu-Sama e o Johrei

homem se conscientize da existência de Deus. Enfim, faço difusão religiosa


por métodos ainda não explorados, ainda não utilizados por nenhum homem.
Estas atividades constituem o importantíssimo alicerce do mundo de perfeita
Verdade, Bem e Belo.
Gostaria de acrescentar que todas as atividades de construção a serem
realizadas de agora em diante, da primeira à última, já estão elaboradas na
minha mente, só restando esperar pelo tempo certo. Com o passar do tempo,
tudo irá se concretizando. Trata-se de um plano por demais grandioso; pode-se
dizer que é a criação da nova civilização mundial.
Como se pode ver, a Igreja Messiânica Mundial não é propriamente uma
religião, e não estamos conseguindo sequer dar-lhe um nome adequado. Além
do mais, tudo veio se concretizando conforme o Plano de Deus; chega mesmo
a assustar-me a exatidão com que isso vem se processando. Iniciada como
religião em agosto de 1947, nossa Igreja conseguiu, em apenas seis anos, a
magnífica expansão que vemos atualmente. Se observarmos que ela
conseguiu tamanho progresso enfrentando a pressão das autoridades, a
incompreensão dos jornalistas e os mais variados obstáculos durante esse
período, teremos de admitir que isso não seja obra do homem. Naturalmente,
daqui por diante, continuaremos caminhando de acordo com o programa
definido por Deus e, dessa forma, um dia se descortinará o grande Drama
Divino que tem o mundo como palco. A esse simples pensamento, sentimo-nos
tomados de grande interesse e curiosidade. Além disso, doravante se
evidenciarão, uns após outros, milagres surpreendentes e cenas de eufórica
alegria. Portanto, desejo que aguardem com muita atenção.
Em suma, eu me considero o Herói da Paz.
11 de maio de 1953

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

RELIGIÃO

A RESPEITO DA RELIGIÃO

COMO ENCARAR A RELIGIÃO


Tenho observado que, quando as pessoas analisam a Religião, não
compreendem o ponto mais importante: sua posição.
A Religião está acima de qualquer outro valor. A Filosofia, a Moral e a
Ciência ocupam uma posição inferior. Entretanto, por ignorância dessa
verdade, usam-se expressões como "Religião Filosófica" e outras parecidas,
baseadas na interpretação filosófica da Religião, o que é absolutamente
errado. Explicar a Religião sob o ponto de vista da Filosofia, é tentar explicar
algo que não possui forma através de algo que a possui. A Religião foi criada
por Deus, e a Filosofia, pelos homens. A Moral também difere da Religião. Tal
como a Filosofia, ela foi criada pelo homem, mas há uma diferença entre
ambas: a Filosofia é de caráter ocidental e científico, ao passo que a Moral é
de caráter oriental e psicológico. Comparada com a Filosofia e a Moral, a
Ciência é muito mais materialista, sendo patente a distância que há entre ela
e a Religião. Por todas essas razões, podemos perceber como está errado o
conceito que os intelectuais da atualidade têm sobre esta última.
Todavia, se analisarmos mais profundamente, veremos que a Filosofia é
o conjunto das teorias criadas pelo homem até hoje, e por isso, quando a
comparamos com a Religião, a importância desta revela-se por si mesma. Se
tentamos descobrir, através da Filosofia, o ponto mais profundo de uma
questão, encontramos barreira e nada conseguimos. Uma prova disso é que,
quanto mais pesquisamos através dela, mais confusos ficamos. Uma dúvida
puxa outra, e na maioria das vezes não recebemos resposta para as nossas
perguntas. A conseqüência é nos cansarmos facilmente da vida, havendo
pessoas que chegam ao extremo de pensar que a única solução para tal
angústia é o suicídio. Esse é um fato que ninguém desconhece.
Quanto à Moral, não se pode negar que tem contribuído muito para o
bem da sociedade. Entretanto, embora ela tenha surgido com o objetivo de
melhorar a conduta do homem por meio de códigos, não conseguiu dominar-
lhe totalmente o espírito, pois também nasceu do cérebro dos intelectuais. No
antigo Japão, talvez fosse possível aceitá-la, mas hoje em dia, tendo a Moral
caráter oriental e estando tudo dominado pela cultura ocidental, ela já não
consegue convencer as pessoas e, obviamente, tende a desaparecer.
A respeito da ciência materialista, que nós sempre criticamos, não há
necessidade de maiores comentários. Atualmente, falar em cultura é o mesmo
que falar em Ciência; interpreta-se progresso cultural como progresso
científico. É duvidoso, porém, que o homem tenha se tornado mais feliz com o
progresso da Ciência. Ao contrário, somos levados a pensar que a infelicidade
cresceu proporcionalmente a ele. Ante a terrível ameaça de guerra nuclear
que paira sobre a humanidade, não é preciso dizer mais nada.
Evidentemente, o desejo dos homens, excetuando-se uma parte, é
alcançar a felicidade. A expansão e o progresso da Ciência também têm esse
objetivo. Mas é muito triste constatar que na realidade acontece justamente o
oposto. Urge, portanto, averiguar a causa disso.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Se a Filosofia, a Moral e a Ciência, como acabei de expor, não têm força


suficiente para resolver o problema, o que é que poderá resolvê-lo a não ser a
Religião? Certamente, os intelectuais têm consciência do fato, mas na
verdade, enquanto o consenso geral tomar como padrão as religiões
tradicionais, acho que o problema continuará sem solução. Dessa forma, não é
possível prever quando se concretizará a felicidade do ser humano. Vemos,
pois, que são muito sombrias as condições da sociedade atual.
Todavia, neste mundo resignado, apareceu a nossa Ultra-Religião, com
enorme poder salvador. Talvez seja difícil aceitá-la, pois ninguém poderia
imaginar uma religião semelhante, mas o fato é que não se pode negar aquilo
que é evidente. Uma vez conhecendo a sua verdadeira essência, como os
cegos que experimentam a alegria de ver a luz, todos despertarão. A prova do
que dizemos está nos relatos cheios de alegria que enchem as nossas
publicações. Por isso, aqueles que desejam a verdadeira felicidade, façam uma
experiência, entrem em contacto com a nossa Igreja! Por mais saborosa que
seja uma comida, é impossível avaliarmos seu sabor apenas ouvindo
explicações sobre ela ou olhando-a; antes de mais nada, é preciso prová-la.
Tenho a certeza de que todos ficarão satisfeitos com o sabor jamais
experimentado até então.
29 de abril de 1950

RELIGIÃO E MANDAMENTOS
Assim como a Política, as religiões também podem ter características
liberais ou despóticas. A maioria das religiões tradicionais é do segundo tipo.
Os inúmeros mandamentos que possuem, preconizando o que deve ser feito,
comprovam-no. Elas são de caráter "Shojo", ao contrário da Igreja Messiânica
Mundial, que é de caráter "Daijo", liberal, quase não tendo mandamentos.
Os mandamentos religiosos assemelham-se às leis da sociedade. É falso
que os homens só conseguem conter o mal pela força da Lei. Se um homem
for realmente íntegro, esteja ele onde estiver, mesmo num local onde não haja
leis moderadoras, jamais praticará o mal, porque é um homem verdadeiro. Os
mandamentos constituem as leis das religiões.
Caso só se consiga um comportamento bom e correto por meio deles, é
porque a Fé professada não é verdadeira. Apesar dessa observação, sabemos
que no tempo dos homens primitivos e selvagens, sendo bem precária a
inteligência humana, não havia condições de se compreender realmente a
Religião. Por isso foi necessário prevenir o mal através dos mandamentos.
Está claro, pois, que a religião de uma época altamente civilizada, na
qual os homens conseguirão evoluir a ponto de compreenderem
profundamente a Vontade Divina, prescindirá dos castigos estabelecidos pelos
mandamentos. Ela será de fato uma religião capaz de construir o Paraíso
Terrestre, mundo de autêntica e eterna paz.
17 de dezembro de 1949

A LÓGICA EM RELIGIÃO
O critério para distinguirmos se uma religião é ou não é boa e correta, o
método mais simples e que apresenta menos margem de erros, consiste em
averiguar se ela é de natureza lógica ou ilógica. Nesse ponto, as religiões
mediúnicas são perigosas; entretanto, não estou dizendo que todas elas
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

devam ser evitadas. Na verdade, entre os fundadores de religiões que hoje são
consideradas grandes, muitos eram médiuns. Mesmo se tratando de religiões
mediúnicas, cada uma é boa ou má de acordo com a sua própria natureza.
Sendo assim, para distinguir as religiões, o melhor é começar a analisá-las
pelo senso comum.
23 de julho de 1949

MISSÃO DA RELIGIÃO

EXCLUSÃO DO TEMOR
Conforme venho repetindo, o objetivo de nossa Igreja é a salvação
da humanidade. Em poucas palavras, significa eliminar toda espécie de
temor da sociedade humana.
Evidentemente, os maiores temores do homem vêm a ser o da doença, o
da pobreza e o dos conflitos. Dentre os três, o pior, indiscutivelmente, é o
temor da doença; nada tão ameaçador para o ser humano. Certamente,
durante sua vida, ninguém consegue livrar-se dessa ameaça. Com o progresso
da civilização, ao invés de diminuir, ela tende até a aumentar. O segundo
temor é a pobreza, geralmente motivada pela própria doença.
Atualmente, julga-se que quase todas as doenças são causadas por
vírus. A doença nunca foi tão temida como nos dias atuais, motivo pelo qual
estão se tomando as medidas consideradas adequadas, tais como atestados
de saúde, vacinação e radiografias, entre outras. Todas as organizações
criadas para evitar as doenças, ou seja, centros de saúde, hospitais públicos e
particulares, etc., dispõem de muitos recursos, e é realmente grande o
sacrifício do povo para sustentar as incalculáveis despesas e o trabalho
dispendido.
A vultosa quantia empregada no tratamento de uma doença e o prejuízo
sofrido com a impossibilidade de trabalhar, principalmente quando o enfermo
é o chefe da casa, acarretam as maiores dificuldades econômicas para os seus
familiares. Isso constitui uma das principais causas do surpreendente aumento
de crimes que vêm sendo cometidos após a guerra. Naturalmente esse fato
não deixa de ser conseqüência da guerra, cujos danos são passageiros; a
doença, no entanto, assume maior gravidade, por ser permanente.
A agitação por que a humanidade passa, atualmente, revela a
intensidade do seu temor à guerra. Isto porque as relações entre os países
tendem a se agravar. Até hoje, o homem viveu num mundo de sofrimentos
ininterruptos. Entretanto, como a existência de Deus é uma realidade, Seu
incomensurável amor não permitirá que a humanidade permaneça por longo
tempo nessa condição. Indubitavelmente, esta época de agonia terá um fim,
para dar lugar ao magnífico Paraíso Terrestre. Estamos absolutamente
convictos disso e, imbuídos de tal convicção, prosseguimos com fé inabalável.
Que outro sentido poderia ter a profecia de Jesus sobre o advento do Reino dos
Céus a não ser a predição desse acontecimento? Por essa razão, estou
convencido de que a verdadeira missão da Religião é eliminar os três grandes
temores aqui citados.
7 de janeiro de 1950

PAZ E SEGURANÇA
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

As pessoas acham que as expressões "paz" e "segurança" limitam-se


apenas ao espírito, mas esse modo de pensar constitui um grande erro, uma
vez que, para obtermos a verdadeira paz e segurança, não podemos excluir a
matéria. Pensem bem: se houver uma que seja das três grandes desgraças -
doença, pobreza e conflito - onde estará a paz? Quando as pessoas estiverem
certas de que, durante toda a sua vida, não terão preocupações com doenças,
não ficarão pobres, nem haverá possibilidade de se envolverem em conflitos,
aí sim, elas terão a verdadeira paz e segurança. Entretanto, no mundo
contemporâneo, possuir essas três condições ao mesmo tempo não passa de
utopia. Diríamos que provavelmente não existe uma pessoa sequer, no mundo
inteiro, que possa afirmar possuí-las.
Observando este mundo, logo percebemos que nada ocorre conforme
desejamos; as coisas más acontecem incessantemente, e as boas, só de vez
em quando. O mundo em que vivemos é a própria imagem do inferno.
No que se refere à saúde, por exemplo, não sabemos quando vamos
ficar doentes. Um simples resfriado pode acabar logo, como também perdurar
e gerar uma doença terrível. Portanto, não podemos estar despreocupados,
pensando que um resfriado não é nada. Como diz a Medicina, os vírus estão
em toda parte, e por isso é impossível saber quando vamos contrair uma
doença contagiosa ou a que hora um bacilo vai nos atacar.
Conseqüentemente, as autoridades são muito exigentes em matéria de
higiene, aconselhando-nos a conservar a limpeza, não comer nem beber em
demasia, fazer gargarejo ao voltar da rua, lavar as mãos antes das refeições,
tomar cuidado com os alimentos e outras medidas semelhantes. São tantas as
advertências, que até ficamos saturados. Levar tudo isso em consideração é o
mesmo que viver sob a constante ameaça de todos os tipos de perigos.
Quanto à pobreza e aos conflitos, na maior parte dos casos provêm de
problemas financeiros, que se originam do desequilíbrio entre o espírito e a
matéria. Assim, é óbvio que, se não conservarmos o espírito e o corpo sadios,
jamais conseguiremos a tranqüilidade absoluta. Talvez as pessoas achem
impossível consegui-la; contudo, se pudermos realmente obtê-la, não será
uma maravilhosa Graça do Céu? Eu afirmo, sem qualquer sombra de dúvida,
que é possível alcançar essa Graça.
10 de dezembro de 1952

RELIGIÃO PROGRESSISTA
Observando atentamente a sociedade atual, constato que tudo progride
rapidamente; não há nada que não esteja acompanhando esse progresso.
Entretanto, por incrível que pareça, a Religião, entidade que tem a mais
profunda relação com a humanidade, continua da mesma forma, não
apresentando nenhum progresso. Pelo contrário. Como prova, as religiões
tradicionais nos ensinam a voltar ao início, ao ponto de partida dos seus
fundadores. Ora, se devemos voltar à origem, é porque saímos do caminho
certo; caso o fato se repita várias vezes, não progrediremos nada, ficando em
total desacordo com a cultura. Tais religiões nos mostram isso claramente na
medida em que perdem o poder de atrair pessoas e teimam em permanecer
na situação em que se encontram.
De fato, todas as religiões que existem, sofreram perseguições e
pressões na época de sua fundação. Podemos mesmo dizer que esse é o
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

destino de toda religião nova. Apesar disso, com fôlego renovado, expandiram-
se vigorosamente, passando por épocas maravilhosas. A verdade, porém, é
que, com o tempo, a maioria das religiões tende a estacionar. Vamos analisar
por que isso acontece.
Sem dúvida alguma, as religiões entram em decadência por não
acompanharem a marcha do tempo. Quando cumprem rigorosamente os
ensinamentos do seu fundador, considerando-os como as mais sublimes e
importantes determinações, mas não dão atenção a outros fatores, tornam-se
anacrônicas. Como a brecha vai ficando cada vez maior, passam a ser
acusadas de incapazes, conforme está ocorrendo atualmente.
Se todas as coisas estão sujeitas à Lei de Causa e Efeito, faz-se
absolutamente imprescindível que as religiões tradicionais reflitam muito
sobre o assunto, pois não há motivos para elas continuarem eternamente
transcendentais. Um dos princípios básicos de nossa religião é que tudo deve
progredir e acompanhar o tempo. Essa é a razão pela qual não damos atenção
às formalidades das religiões tradicionais, dispensando o tempo e os gastos
que elas requerem. Na realidade, as formalidades não trazem benefício algum.
Assim, não há motivo para as divindades ficarem contentes com elas.
Em face do que dissemos, a missão da verdadeira religião é dar
orientações no sentido de melhorar, cada vez mais, a vida do homem atual.
Resumindo, só uma religião progressista poderá realmente salvar a
humanidade.
5 de novembro de 1950

A RELIGIÃO E O UNIVERSALISMO

A VERDADEIRA RELIGIÃO
A verdadeira religião deve fundamentar-se no universalismo. Não será
verdadeira se for limitada a um país, povo ou classe, porque tal limitação
provoca disputa de poderes, o que contraria a própria essência das religiões,
cuja missão é eliminar conflitos e promover a paz. Qualquer hostilidade
significa afastar-se do objetivo da Religião. Por isso, é estranho que a História
registre tantas lutas religiosas.
Chamamos "Shojo" a religião limitada, e "Daijo", a de objetivos
universais. Logo se vê que só esta última pode ser considerada verdadeira.
5 de novembro de 1949

RELIGIÃO À LUZ DA VERDADE (RELIGIÃO "DAIJO")


Embora se saiba que existe a classificação "Daijo" e "Shojo" referente às
religiões - classificação usada principalmente no budismo - até nossos dias
ainda não foi divulgada uma explicação radical sobre o assunto. Procurarei
expor o meu ponto de vista.
Resumindo, "Daijo" significa Natureza e refere-se às atividades de
criação e desenvolvimento de todas as coisas existentes no Universo.
Portanto, "Daijo" abrange tudo, nada lhe escapa. De acordo com este sentido,
falarei não sobre o "Daijo" búdico, mas sobre o "Daijo" universal. Isto é, não
somente Religião, Filosofia, Ciência, Política, Educação, Economia e Arte, mas
também a guerra e a paz, o bem e o mal.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Podemos observar uma ordem natural nas atividades de todo o


Universo. Considera-se realmente homem o indivíduo que reconhece a
obediência à ordem como fator natural do progresso. Por essa razão, o desvio
da ordem acarreta, infalivelmente, obstáculos, estacionamento ou destruição.
A obediência ou a desobediência à ordem constrói ou destrói, e a realidade
mostra que no mundo sempre tem ocorrido construção e destruição. As
religiões podem servir como exemplo. Embora os homens as condenem,
tachando-as de supersticiosas ou heréticas, elas progredirão se forem
necessárias à humanidade; caso contrário, submeter-se-ão à seleção natural.
Devemos confiar até certo ponto na ação da Natureza. Se as religiões tiverem
realmente vida e valor, a perseguição humana contribuirá para o seu
progresso. Temos um exemplo vivo no cristianismo. Quem objetará contra a
sua predominância atualmente, apesar da crucificação do seu fundador?
O homem moderno possui uma visão demasiadamente estreita e curta,
cujo erro, creio eu, deve ser analisado seriamente.
25 de outubro de 1949

A VERDADEIRA RELIGIÃO "DAIJO"


É do conhecimento de todos que há religiões de caráter universal e
outras de caráter restrito. As opiniões dos religiosos e filósofos a esse respeito
são extremamente ambíguas e quase se acham desviadas da Verdade.
Portanto, exponho o assunto, aqui, de maneira mais clara.
Primeiramente, precisamos conhecer a natureza de todas as religiões
existentes no mundo. Elas diferem entre si, possuindo suas próprias formas e
meios doutrinários, baseados nos princípios dos respectivos fundadores. Basta
uma simples reflexão para sentirmos o absurdo da existência de seitas, com
características próprias, dentro de religiões consideradas universais, como o
budismo, o cristianismo e, no Japão, o xintoísmo.
Pensemos no que vem a ser a Religião. Se ela tem por princípio, como
sabemos, o amor fraternal e o espírito de conciliação e paz, todas as religiões
devem possuir um único objetivo. Não seria sensato, portanto, estabelecer
unidade nos sistemas doutrinários? A separação influi na ideologia da
humanidade, tornando-se uma das causas da confusão social. Como a força
dos que estão ao lado da Religião, ou seja, do bem, é dispersada, os homens
perdem, também, a resistência contra o poder do mal.
A realidade mostra freqüentemente a vitória do mal. No fim, Deus
vencerá, por ser onipotente, mas imaginemos a luta que terá de ser travada
pelo bem. Como o mal é prepotente e controla quase tudo, fica à espreita,
aproveitando a menor oportunidade para influenciar-nos. Parece que as
conhecidas relações entre Cristo e Satanás, e entre Buda e Daiba (Devadatta),
não sofreram nenhuma modificação até a presente data.
Vemos, portanto, que a Religião precisa ter maior poder que o mal; do
contrário, não conseguirá transformar este mundo num mundo feliz, onde
triunfe o bem. Somente assim haverá unidade religiosa, dando lugar a um
mundo de felicidade, isento de inquietações.
Será uma obra difícil, mas não impossível. Isso, porque está próximo o
advento do Paraíso Terrestre, que é o objetivo de Deus. A condição básica para
a sua concretização é substituir o espírito restrito pelo universal, ou melhor,
desenvolver uma superatividade cultural que abranja todos os setores:
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Religião, Ciência, Política, Economia, Arte, etc. É também necessário que, para
desempenhar a função de liderança, apareça um gigante com poder e
sabedoria sobre-humanos.
6 de janeiro de 1954

A RELIGIÃO PRECISA SER UNIVERSAL


Não adianta uma religião ter todas as condições; se não tiver base
universal, não será uma religião verdadeira. Caso ela se restrinja a uma nação
ou povo, ocorrerá aquilo que vemos no mundo atual: surgirão motivos para
conflitos. Cada qual se orgulhará da superioridade da sua religião e rebaixará
as outras, acabando por haver atritos. Pode acontecer, também, que as
religiões sejam utilizadas na política governamental. A exploração exagerada
do xintoísmo pelo exército japonês, durante a Segunda Guerra Mundial, e as
Cruzadas da Europa exemplificam o que estamos dizendo.
Os exemplos não são poucos, e a causa está no fato de que as religiões
se restringiam a determinados povos. Mas não havia outro recurso, pois,
naquela época em que a civilização ainda estava engatinhando, não existiam
os rápidos meios de transporte que existem atualmente, e as relações
internacionais estavam limitadas a pequenas áreas. Hoje, tudo se tornou
mundial e internacional, e as religiões também deveriam seguir esse caminho.
É por isso que passamos a chamar nossa Igreja de Igreja Messiânica Mundial, e
não mais de Igreja Japonesa, como antes.
11 de fevereiro de 1950

TIPOS DE RELIGIÃO

PRÁTICAS ASCÉTICAS
Desde a antigüidade, a fé e as práticas ascéticas são vistas pelo povo
como se tivessem íntima relação entre si.
As práticas ascéticas tiveram origem no bramanismo, que predominava
na metade da antiga Índia, antes do nascimento de Sakyamuni (Buda). A
pintura e a escultura "Arhat" revelam a crueldade dessas práticas. Por
exemplo: os praticantes suspendiam algo só com um braço, sentavam-se
entre a bifurcação de dois galhos, ou chegavam ao cúmulo de praticar o
"Zazen" (meditação profunda, com as pernas cruzadas) sentados numa tábua
cheia de pregos. Houve religiosos que se mantiveram anos seguidos na
mesma posição. Eles acreditavam que, perseverando em tais sofrimentos,
conseguiriam atingir a Iluminação, ou melhor, sentir-se-iam iluminados.
É muito famoso o martírio de Dharma, o qual abraçou a Verdade no
momento em que se sentiu profundamente iluminado pelo luar, que ele estava
contemplando numa noite de prática ascética. Segundo a tradição, Dharma
não tem pernas porque elas ficaram atrofiadas, deixando de funcionar durante
os nove anos que ele passou sentado diante de uma parede, em estado de
meditação.
Dizem que ainda há muitos ascetas brâmanes na Índia, os quais chegam
a operar milagres. A meditação do falecido Rabindranath Tagore, nas
profundezas de uma floresta, e o jejum praticado diversas vezes por Mahatma
Gandhi devem ser práticas ascéticas brâmanes.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

A ascese era amplamente praticada na época em que surgiu Sakyamuni.


Não contendo sua compaixão por aqueles que se entregavam ao martírio da
autotortura, ele pregou a possibilidade de qualquer pessoa tornar-se mais
iluminada através da leitura das escrituras búdicas. Emocionado com a
eminente virtude de Sakyamuni, o povo hindu fez dele objeto de adoração.
Assim, pela lógica, os budistas que praticam a ascese estão contrariando as
boas-novas de Sakyamuni.
Não posso concordar com os religiosos japoneses que ainda persistem
nas práticas ascéticas brâmanes. Isto porque os fiéis da nossa Igreja abraçam
a Verdade, seguem o Caminho e conseguem cumprir sua missão sem fazer
prática ascética de espécie alguma.
25 de janeiro de 1949

RELIGIÃO ANTIGA E RELIGIÃO MODERNA


Embora simples, os princípios religiosos utilizados por mim na obra
salvadora que venho empreendendo, diferem grandemente dos princípios
religiosos existentes até hoje.
Os antigos fundadores ou pregadores de religiões adotavam a
frugalidade na alimentação, vestiam-se sumariamente e levavam uma vida
simples. Para se aperfeiçoarem, faziam penitências, permanecendo isolados
em montanhas quase inacessíveis, debaixo de cascatas (ato considerado
purificador), lendo os livros sagrados dia após dia.
Dessa maneira, entre Verdade, Bem e Belo, este último era
negligenciado. Poucos religiosos se interessavam pelas artes. O milagre era
vagamente conhecido; entretanto, eles tinham especial consideração pelos
princípios dos livros búdicos, apreciavam as formalidades e as celebrações
religiosas e procuravam salvar a humanidade unicamente com a pregação.
Essa análise limita-se ao budismo. Tomei-o como exemplo porque o
xintoísmo e o cristianismo são religiões modernas. Deixo de fazer referência ao
antigo xintoísmo, anterior à introdução do budismo, porque quase não consta
da História nem da tradição.
O trabalho que estou realizando, é bem diferente do que era feito pelos
antigos. Em primeiro lugar porque, objetivando o mundo isento de doença,
pobreza e conflito, proclamei, audaciosamente, a construção do Paraíso
Terrestre, o que já é suficiente para evidenciar a grande diferença entre a
Igreja Messiânica Mundial e as demais religiões.
Como primeira meta para atingir o nosso objetivo, estamos libertando o
homem do seu maior inimigo - a doença - e os resultados são cada vez mais
evidentes e indiscutíveis. A condição fundamental para a concretização do
Paraíso Terrestre, é ser saudável de corpo e alma, o que, por sua vez, elimina a
pobreza e o conflito. Os fiéis da nossa Igreja estão trabalhando dia e noite,
unidos por esse princípio. Assim, a construção do Paraíso Terrestre, longe de
ser um mero ideal, é uma realidade que está apresentando surpreendentes
resultados.
Projetamos o protótipo do Paraíso Terrestre escolhendo locais
maravilhosos, em Atami e Hakone, onde estão sendo edificados magníficos
edifícios e jardins. Com a conclusão dessas obras, pretendo mostrar ao mundo
a sublimidade e formosura do Supremo Céu. O Paraíso Terrestre pode ser

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

considerado, essencialmente, o Mundo da Arte, razão por que a nossa Igreja


confere às manifestações artísticas uma atenção toda especial.
Paralelamente à marcha do Plano Divino, pretendo publicar projetos
mais recentes, elaborados sob a Orientação de Deus, os quais abrangem
Política, Economia, Educação, etc. Através deles, os leitores poderão
reconhecer a magnitude dos objetivos da Igreja Messiânica Mundial.
9 de julho de 1949

O QUE É UMA RELIGIÃO NOVA


Atualmente, em vários setores sociais, fala-se sobre o tema Religião
Nova, sendo ele também abordado, com muita seriedade, em jornais e
revistas. Isso é bastante animador. Observamos, entretanto, que esses órgãos
de comunicação consideram nova uma religião apenas porque ela surgiu
recentemente, sem se interessar pelo seu conteúdo. E é muito triste constatar
que até mesmo as pessoas que fazem parte de tais religiões pensem assim.
A propósito, devo dizer que não tem sentido uma religião apresentar-se
com o nome de nova e seu conteúdo não corresponder a essa designação. Se
a religião apenas mudar ou acrescentar, de acordo com o entendimento do
seu fundador, algumas interpretações ou sentidos às palavras que há muito
tempo vêm sendo ditas em livros ou ensinamentos muito conhecidos,
revelados pelo fundador de uma religião antiga, não se poderá dizer que ela é
uma religião nova. Aliás, conservando as mesmas formas e construções e
chegando ao ponto de aconselhar a volta aos ensinamentos desse fundador,
ela se distancia cada vez mais da época atual. É impressionante haver quem
não ache estranho esse procedimento. Se tivermos de lidar com pessoas
inteligentes, de nível cultural elevado, principalmente entre a camada jovem,
certamente elas não aceitarão uma doutrina cheirando a mofo. Assim,
podemos dizer que, atualmente, a maioria dos seguidores das religiões
tradicionais são arrastados apenas pelas tradições e costumes.
Quanto às religiões novas, seus adeptos ingressam nelas à procura de
algo novo; parece, todavia, que os crentes verdadeiramente firmes são muito
poucos. Por conseguinte, para fazermos com que o homem da atualidade creia
sinceramente, é preciso oferecer-lhe uma teoria baseada na razão e
acompanhada de insofismáveis Graças Divinas; caso contrário, de nada
adiantará tentar convencê-lo. Diante de tudo isso, é muito natural ser efêmera
a fé daqueles que seguem uma religião apenas como seguem a moda.
Não quero dizer que o homem contemporâneo seja destituído de
sentimentos religiosos, mas, observando a realidade que nos cerca,
constatamos que não existem muitas religiões nas quais possamos crer. Se
houvesse alguma, quase todos, indubitavelmente, a procurariam; não a
encontrando, as pessoas tornam-se descrentes, por não terem outra
alternativa. Uma vez que a Ciência é mais compreensível, pelo fato de ser
concreta e satisfazer os desejos humanos, essas pessoas apóiam-se nela
naturalmente. Por isso eu acho que não podemos censurar os descrentes.
Analisemos a questão:
Como, inúmeras vezes, nem a Ciência, na qual têm tanta confiança, nem
a própria Religião conseguem resolver-lhes os problemas, as criaturas ficam
num dilema. Entre os intelectuais, alguns, não podendo prever os
acontecimentos futuros, passam a duvidar; outros, sentindo-se fartos da vida,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

perdem o gosto de viver ou vivem apenas para o momento presente; outros,


ainda, em melhores condições financeiras, procuram mais divertimentos. Além
disso, a crença de que não mais aparecerá um líder na história religiosa
também contribui para o desespero das pessoas. Algumas estão quase
desistindo, quase desligadas da realidade, pesquisando doutrinas
ultrapassadas. Essa é a realidade da época em que vivemos.
O pensamento do mundo atual está totalmente confuso, não se
encontrando uma saída. Contudo, em meio desta confusão, repentinamente
surgiu a Igreja Messiânica Mundial, que, com muita coragem, pretende alertar
todos os setores da cultura tradicional, apontar um por um de seus erros e
mostrar como deve ser a verdadeira civilização. Como essa grande força de
atuação já está sendo manifestada continuamente, podemos afirmar, sem
nenhuma parcialidade, que ela é o assombro do século XX. Tal afirmação
fundamenta-se naquilo que sempre digo: o mundo, até agora, estava na Era
da Noite, iluminado unicamente pela fraca luz da Lua, mas surgiu a luz do Sol,
e todas as coisas desnecessárias e prejudiciais que estavam encobertas
começaram a aparecer abertamente. Eis o significado da expressão "Luz do
Oriente", usada pelos antigos. Atualmente, estamos atravessando a fase da
aurora; com o passar do tempo, o Sol se levantará até o centro do Céu e
iluminará o mundo inteiro. Por esse motivo, as teorias que venho divulgando,
desconhecidas por todos até o momento, causam espanto e até muitos mal-
entendidos.
Como o mundo esteve durante longo tempo na Era da Noite, não é de se
admirar que os olhos tenham se acostumado à escuridão e fiquem ofuscados
ante a repentina revelação da Cultura do Dia. Existe, no entanto, um
problema: uma vez chegado o Mundo do Dia, Deus aproveitará da Cultura da
Noite apenas as coisas úteis, não havendo outro recurso senão eliminar as
inúteis. Além do mais, sendo a luz do Sol sessenta vezes mais clara do que o
luar, até as doenças não identificadas ou consideradas incuráveis serão
facilmente solucionadas. Os fatos reais evidenciados diariamente através do
Johrei de nossa Igreja mostram isso muito nitidamente. Falando com mais
clareza, assim como a Lua perde seu brilho ante o esplendor do Sol, também a
civilização sofrerá uma grande transformação.
Com o que acabo de dizer, creio que poderão entender a grandiosidade
dos empreendimentos da Igreja Messiânica Mundial.
8 de abril de 1953

RELIGIÕES NOVAS E RELIGIÕES TRADICIONAIS


Quando analiso o comércio da atualidade, observo que existem dois
tipos de lojas - as novas e as tradicionais. As primeiras são dinâmicas,
objetivando expandir-se amplamente, mas ainda não ganharam plena
confiança do povo, pois este desconhece a qualidade das suas mercadorias,
não sabendo se os preços são razoáveis. Preocupadas, as pessoas compram
nelas apenas a título de experiência, ou para atender às suas próprias
necessidades. Entretanto, se a loja é tradicional, merece absoluta confiança
dos fregueses. Para eles, sendo artigos dessa loja, por certo são bons. Ao invés
de comprar na incerteza, em outros locais, preferem ir a um lugar de
confiança, ainda que seja mais distante. No caso de uma compra de certo
vulto, é certo dirigirem-se às lojas tradicionais, pelo nome que elas possuem,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

conseguido através de um longo tempo de vendas. Em face disso, as lojas


novas empenham-se arduamente para atrair pelo menos algumas pessoas
acostumadas a comprar nas casas tradicionais. Trata-se de uma situação que
todos conhecem, e por isso dispensa maiores comentários.
Interessante é que no campo religioso ocorre o mesmo. O aparecimento
de uma nova religião ainda é cercado de dificuldades maiores que o das
pequenas lojas comerciais. De imediato, ela é tachada de supersticiosa e
maléfica, ou até mesmo de trapaceira. É realmente cruel. Existem, sem
dúvida, muitas religiões novas às quais se possam atribuir esses adjetivos,
mas, de vez em quando, aparecem religiões verdadeiras. Também não
podemos esquecer que todas as religiões respeitadas atualmente já foram
novas; com o passar do tempo é que elas ganharam tradição. A loja nova,
esforçando-se para oferecer preços e mercadorias equivalentes aos das lojas
tradicionais, acaba tornando-se uma delas. Sendo assim, é errado tachar de
trapaceiras e maléficas todas as religiões que surgem.
Pelos motivos expostos, creio que o primeiro dever das pessoas que
criticam as religiões novas é analisá-las bastante, para poderem classificá-las
de "boas" ou "más". Só depois é que devem escrever a seu respeito.
30 de março de 1949

RELIGIÃO E SEITAS
As religiões estão subdivididas em seitas. O cristianismo, por exemplo,
entre outras seitas, subdivide-se em catolicismo e protestantismo, que se
destacam sobre as demais. Quanto ao budismo, só no Japão existe o Shingon,
Jodo, Shinshu, Zen, Nitiren e outras, as quais, por sua vez, também estão
subdivididas; atualmente, há cinqüenta e oito subseitas. No xintoísmo,
excetuado o Shinto de Templo, há treze seitas principais: Taisha, Mitake, Fusso,
Missogui, Tenri, Konko, etc.
A subdivisão das religiões parece ilógica, mas vejo o caso da seguinte
maneira: será que a causa não está nos cânones? Isto porque tanto a Bíblia
como os preceitos búdicos contêm muitos pontos incompreensíveis, cuja
interpretação varia de pessoa para pessoa, contribuindo forçosamente para a
criação de várias seitas. Quanto ao xintoísmo, não possui um fundador como o
cristianismo e o budismo. Formou-se baseado nos livros clássicos, entre os
quais o "Kojiki" e o "Nihon Shoki", ou através de ensinamentos transmitidos
por médiuns.
Embora as religiões citadas sejam religiões por natureza, sua subdivisão
em seitas tende a ocasionar conflitos, prejudiciais à obra educacional de
fraternidade, que é a missão principal da Religião. A causa da subdivisão, sem
dúvida alguma, está na dificuldade de interpretação dos ensinamentos.
Entretanto, se a finalidade das religiões é salvar toda a humanidade, creio que
tudo deveria ser claro para todos.
Para evitar tais dificuldades, pregarei a doutrina por um novo método,
de modo que ela possa ser facilmente assimilada pelas pessoas. Pretendo,
ainda, do ponto de vista da Religião, publicar, gradativamente, interpretações
novas sobre Política, Economia, Educação, Arte, etc.
25 de janeiro de 1949

RELIGIÃO CELESTIAL E RELIGIÃO INFERNAL


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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Como as principais religiões que existem sofreram perseguições na


época da sua fundação, tornou-se comum associar Religião e perseguição. Os
exemplos de que foram vítimas os adeptos, contam-se em grande quantidade
na história das religiões. Entre eles, figuram casos aterradores, como a
perseguição dos fariseus e a crucificação de Cristo, fundador do cristianismo,
religião que predomina no mundo inteiro. No Japão, embora diferisse o grau de
sofrimento, todos os religiosos também tiveram de atravessar um período
espinhoso. As únicas exceções foram Sakyamuni e Shotoku, que não sofreram
perseguições pelo fato de serem príncipes.
Os fundadores de religião superam os outros homens em honestidade,
sendo dotados de um extraordinário sentimento de amor e caridade. São
homens santos, modelados pela essência do bem, por arriscarem a própria
vida na salvação dos sofredores. Entretanto, ao invés de reconhecerem
devidamente o seu esforço e, agradecidos, acolherem-nos com honrarias, o
governo e o povo os têm odiado como se eles fossem enviados do demônio,
perseguindo-os a ponto de lhes tirarem a vida. A injustiça está mais do que
evidente. Semelhante fato, à luz do raciocínio, leva-nos a considerar como
demoníacos os homens que odeiam, torturam e tentam eliminar esses
grandes benfeitores.
O homem, por natureza, pertence ao bem ou ao mal; não existe estado
intermediário. Em outras palavras, ele está associado a Deus ou a Satanás.
Assim, quem alimenta idéias ateístas e mostra-se contrário às boas ações,
abomina Deus, tornando-se, evidentemente, sem o saber, um servo do
demônio.
Até os fundadores de religiões hoje consideradas importantes,
inicialmente foram tratados como demônios e tenazmente perseguidos. Mas,
como a própria História mostra, o mal foi derrotado pelo bem. As santas
palavras de Cristo, "Venci o Mundo", encerram o mesmo sentido e são dignas
de reflexão. Assim, longos anos após a morte dos seus fundadores, a maioria
das religiões foram reconhecidas e tiveram suas divindades reverenciadas.
Isso aconteceu devido à alegria que eles proporcionaram ao povo, com seus
ensinamentos, e à notável contribuição que trouxeram ao aumento do bem-
estar social.
Nenhuma religião foi devidamente reconhecida durante a existência do
seu fundador, e as perseguições tornaram-se fatos comuns. Os crentes até
adquiriram o hábito de se comprazer com uma vida atribulada. A leitura da
história trágica dos missionários cristãos que, seguindo o exemplo do ato
redentor de Cristo, enfrentaram a morte em territórios selvagens, é realmente
comovedora. Nenhuma outra religião encontra-se, hoje, tão solidamente
enraizada em todos os recantos do mundo como o cristianismo.
A perseguição religiosa ocorrida no Japão e conhecida como "Conflito de
Amakussa", pode dar uma idéia da realidade mencionada acima. Foram
sofrimentos inevitáveis, causados por terceiros, mas existem religiões que até
procuram o martírio. O maometismo, o taoísmo, o lamaísmo e o bramanismo
da Índia caracterizam-se pela prática de penitências e do ascetismo,
considerando-os como essência da fé. Embora com alguma diferença, ocorrem
fatos semelhantes entre diversas religiões tradicionais do Japão, onde
continuam a existir algumas seitas que levam ao extremo o cumprimento dos
mandamentos, fazem penitências e vivem à procura de aperfeiçoamentos.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Como vemos, essas religiões são infernais, pois consideram o martírio um


meio fundamental para polir a alma. Assim, o homem torna-se uma espécie de
ser anormal, que transforma o sofrimento em prazer. Em verdade, isso
acontece devido à necessidade que ele tem de suprir, com as próprias forças,
a insuficiência do poder da Religião.
A Igreja Messiânica Mundial surgiu por uma necessidade imperativa,
neste momento em que o mundo está repleto de religiões de fé infernal. No
que diz respeito às pregações e às atividades, a nossa Igreja difere
radicalmente das outras, vindo a ser até mesmo o seu oposto. Ela repudia
principalmente a penitência, considerando a vida celestial como a verdadeira
forma de professar a Fé. Além disso, caracteriza-se pelo seu amplo conteúdo,
abrangendo Religião, Filosofia, Ciência, Arte e demais setores do
conhecimento humano, sobretudo os referentes à saúde e à agricultura, que
são pontos fundamentais da salvação. Tudo isso, pode-se dizer, constitui a
condição fundamental para transformar o Inferno em Paraíso. E o que seria
senão o próprio Amor Divino? Por conseguinte, as penitências constituem
heresias, e a verdadeira salvação implica numa situação de vida celestial,
transbordante de alegria. Quando esta situação abranger o mundo inteiro,
surgirá o autêntico Paraíso Terrestre.
Nesses termos, o Paraíso Terrestre, que vem a ser a meta da nossa
Igreja, inicia-se no lar. O aumento gradativo de lares celestiais chegará a
transformar o mundo num paraíso. Se essa verdade fosse compreendida,
ninguém deixaria de louvar a Igreja Messiânica Mundial e nela ingressar. Como
os homens têm a mente afetada por conceitos materialistas e ateístas, ou por
religiões de caráter limitado, perdem a oportunidade de conhecer essa alegria,
por desconfianças e equívocos. Entretanto, a verdade sobre a nossa Igreja não
deixará de vir à luz; estou à espera desse dia, lutando incessantemente, sob
Orientação Divina.
25 de março de 1953

FÉ E RELIGIÃO
É comum as pessoas pensarem que Religião e fé significam a mesma
coisa, mas, na verdade, há muitos aspectos em que uma e outra se
diferenciam. O provérbio popular "Não importa qual seja a crença, contanto
que se creia", é próprio da fé, e não da Religião. O mesmo se pode dizer em
relação ao ato de adorar monstruosas esculturas de pedra ou de madeira
feitas por selvagens. Por esse motivo, não é de admirar que, atualmente, as
pessoas civilizadas não dêem atenção ao tipo de fé em que se adoram ídolos,
considerando-o como de baixo nível. Entretanto, não quero dizer que uma
religião seja boa pelo simples fato de ser religião. Isso porque há religiões de
nível superior, médio e inferior. A que pode realmente salvar a humanidade é
a de nível superior.
Parecerá estranho ouvir-se afirmar que entre as religiões existem níveis;
o fato é que em todas as coisas há uma hierarquia, e as religiões não fogem à
regra. Logicamente, quem dirige a religião de nível mais alto é o Supremo
Deus; sendo assim, sua autoridade e virtude são muito elevadas e poderosas.
É mais do que óbvio, portanto, que essa religião possua força de salvação
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

própria daquele nível. A melhor prova disso consiste na evidência de inúmeros


milagres. Eis por que ocorrem tantos milagres em nossa Igreja. Verifica-se a
cura de doenças consideradas incuráveis pela Medicina, evita-se o perigo de
desastres, incêndios e outras ocorrências desagradáveis que poderiam ter
acontecido às pessoas, etc. Por conseguinte, quanto mais benefícios materiais
se manifestam, mais devemos nos conscientizar de que, no centro da Igreja
Messiânica Mundial, está presente o Supremo Deus.
20 de abril de 1950

INSENSIBILIDADE EM RELAÇÃO À FÉ
De acordo com o senso comum, não há dúvidas de que servir em prol do
bem-estar social e fazer feliz o próximo são boas ações. Por conseguinte,
deveria ser próprio da natureza humana apoiá-las e ter vontade de Servir;
entretanto, por incrível que pareça, freqüentemente vejo pessoas que agem
friamente com referência a essa questão. Parece que não se interessam por
aquilo que não lhes diz respeito, nem pelo bem da sociedade. Para elas, estas
coisas só as fazem perder tempo; em tudo, o que importa mesmo são elas
próprias; se tiverem lucros, está ótimo. Acham que agir assim é que é ser
inteligente, pois, de outro modo, é impossível ganhar dinheiro ou subir na
vida. De fato, o mundo é engraçado, porque pessoas desse tipo é que são
tidas como espertas.
Criaturas assim pensam de forma calculada e materialista quando
deparam com qualquer sofrimento. No caso de ficarem doentes, por exemplo,
basta-lhes consultar um médico; em assuntos complicados, basta-lhes pedir
ajuda à Lei; a quem não lhes obedece, bastam carões ou castigos. Dessa
forma, simplesmente acomodam os problemas. Como acham que, se
estiverem bem, não importa como estejam os outros, procuram comodidade
apenas para si. Ora, por não pensarem também no próximo, não são
merecedores de estima nem de consideração. Os que se juntam à sua volta
são interesseiros, e por isso, quando a situação começa a piorar, todos se
afastam. É natural que, justamente para tais pessoas, problemas e
sofrimentos sejam uma constante. Quando tudo principia a correr mal e
fracassar, elas se afobam, tentando recuperar-se com suas próprias forças;
forçam a situação que já estava forçada e, assim, acabam num estado
calamitoso, nunca mais voltando ao que eram antes.
Exemplos como esses são muito freqüentes na sociedade. Obviamente,
pessoas desse tipo não querem nem ouvir falar em Fé. Acham que Deus não
existe, que tudo não passa de superstição, ou que Deus existe dentro de cada
um. Além de se jactarem de também serem deuses, dizem que gastar tempo e
dinheiro com semelhantes coisas é a maior tolice que existe. Acham que a Fé
não passa de consolo mental para covardes ou passatempo de quem não tem
nada a fazer.
Consideramos tais pessoas insensíveis em relação à Fé.
8 de abril de 1950

FÉ "SHOJO"
Falando sobre Religião, ouço muitas críticas a respeito dos líderes
religiosos. Dizem que eles deveriam viver com mais sobriedade, comer, beber

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

e morar pobremente, assim como andar de trem, de ônibus ou até mesmo a


pé.
É fato que, antigamente, para fazerem suas pregações, os fundadores de
religiões calçavam sandálias de palha e usavam panos enrolados nas pernas,
como se fossem polainas, a fim de facilitar-lhes as longas caminhadas. Às
vezes, retiravam-se para as montanhas, faziam jejuns, tomavam banhos de
cascata, experimentavam todos os tipos de sofrimentos e sacrifícios; outras
vezes, eram jogados na prisão, ou exilados em ilhas longínquas. Ainda hoje
sentimos tristeza ao pensar nos sofrimentos que eles tiveram que passar.
Entretanto, apesar de tantos sacrifícios, só conseguiram estender suas
doutrinas a um território restrito; para que elas se expandissem mais
amplamente, foram necessárias dezenas de gerações. Comparadas aos dias
atuais, as condições precárias a que esses pregadores tiveram de se sujeitar a
vida inteira vão muito além de nossa imaginação.
A lembrança das práticas religiosas a que nos referimos permanece
gravada na mente das pessoas, e por isso é natural que elas tenham uma
visão errada sobre as religiões novas. As religiões caracterizadas por tais
práticas particularizam-se pela fé "Shojo", que é anterior ao nascimento de
Sakyamuni e tem sua origem no bramanismo da Índia. Seus ensinamentos
valorizam, principalmente, a Iluminação através da ascese. Segundo dizem,
ainda hoje existe, naquele país, um pequeno número de bramanistas que
conseguem fazer milagres graças a um enorme esforço espiritual. O jejum
praticado pelo famoso Mahatma Gandhi talvez fosse uma decorrência do fato
de ele ter professado o bramanismo quando jovem.
Há uma história interessante sobre a origem dos oitenta e quatro mil
sutras budistas divulgados por Sakyamuni.
Naquele tempo, o bramanismo estava em grande expansão na Índia, e
acreditava-se que a Iluminação só podia ser alcançada por meio da ascese,
considerada o verdadeiro caminho da Fé. Vendo a expressão das esculturas e
pinturas representativas de ascetas brâmanes existentes em diversos locais
do Japão, podemos imaginar a situação deles naquela época. Não suportando
semelhante estado de coisas, Sakyamuni, com sua grande misericórdia,
descobriu uma forma para as pessoas obterem a Iluminação sem precisar
recorrer às práticas ascéticas: os sutras budistas. Segundo ele, a simples
leitura desses textos seria bastante. Obviamente o povo se alegrou com isso e
passou a considerá-lo o mais respeitável e benéfico de todos os santos. Foi
assim que o budismo se espalhou por toda a Índia. Podemos mesmo dizer que
essa foi a maior realização de Sakyamuni entre as suas atividades de salvação.
Diante do exposto, é fácil entender quão erradas estão as práticas
ascéticas da fé "Shojo", que contrariam a vontade e a grande misericórdia de
Sakyamuni, aproximando-se do bramanismo, o qual foi alvo de sua atividade
salvadora. Creio que, do Paraíso, ele estará lamentando essa situação. Assim,
podemos concluir que a fé "Shojo", além de errada, é inadequada ao nosso
tempo.
Por outro lado, no que se refere à difusão religiosa, observamos que
aquilo que antigamente se levava dez anos para conseguir, hoje pode ser feito
apenas em um dia, graças ao progresso tecnológico da imprensa e dos meios
de transporte. O correto, por conseguinte, é nos adequarmos à época em que
vivemos, utilizando-nos de todos os recursos que a civilização moderna nos
97
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

oferece. Se a religião se basear unicamente nos métodos antigos, obviamente


não conseguirá atingir seus verdadeiros objetivos. Isso se evidencia na
tendência que as religiões tradicionais têm de se afastar da época atual.
Quando as pessoas de fé "Shojo" vêem as atividades religiosas que
estamos realizando, limitam-se a ficar admiradas e não tentam sequer
compreender aquilo que verdadeiramente objetivamos. Se elas se
restringissem a isso, não haveria nada de mau; algumas, porém, começam a
espalhar boatos contra nós, dizendo que levamos vida de nababos. Entretanto,
nós dependemos apenas das contribuições dos fiéis; não temos necessidade
de dinheiro. Se dermos atenção aos comentários, deixaremos que essas
contribuições em gêneros alimentícios, feitas com tanto sacrifício, apodreçam,
obrigando-nos a jogá-las fora. Por outro lado, não podemos vendê-las nem
devolvê-las. Da mesma forma, não poderíamos deixar de utilizar as casas que
nos são oferecidas de boa vontade pelos fiéis. Ao invés de dar ouvidos a
comentários, devemos atentar para o grande trabalho que essas doações nos
estão possibilitando realizar: a salvação da humanidade. Diante disso, poder-
se-á entender o quanto é errado o pensamento "Shojo".
Como o ideal de nossa Igreja é construir um mundo sem doença,
pobreza e conflito, as pessoas que nela ingressam adquirem uma vida alegre e
saudável, cheia de harmonia e prosperidade. Todavia, para os que vivem no
lamentável inferno da sociedade atual, isso é algo inconcebível. Além de
negarem a concretização desse ideal, eles pensam, naturalmente, que tudo
não passa de uma boa isca para iludir o povo. Pode ser também que, para
essas pessoas, o protótipo do Paraíso Terrestre que estamos construindo sejam
meros palacetes luxuosos. O nosso objetivo, no entanto, é cultivar os nobres
sentimentos dos homens, possibilitando-lhes oportunidade para se
distanciarem, de vez em quando, da sociedade infernal de hoje em dia e
visitarem terras paradisíacas, que os envolvam nos ares celestiais de Verdade,
Bem e Belo, fazendo-os sentir-se no estado de suprema alegria. Assim,
evidencia-se a grande necessidade da construção do protótipo do Paraíso
Terrestre para o homem contemporâneo.
Se a sociedade continuar como está, crescerá cada vez mais o número
de pessoas de baixo nível, de jovens degradados, e não haverá um lugar
sequer que não seja um viveiro para a maldade social. Por isso podemos
afirmar que o único "oásis" do mundo hodierno é este protótipo do Paraíso
Terrestre. Se as pessoas compreenderem realmente a grandiosidade do nosso
sublime projeto, ao invés de nos censurarem, o que elas deverão fazer é
manifestar-se seu inteiro apoio.
Ainda tenho algo importante a dizer. Os japoneses, por causa das
invasões bélicas que empreenderam há algum tempo, foram tão mal
interpretados que perderam a confiança do mundo. Sentimos que é preciso
recuperar, o mais breve possível, essa confiança. Justamente por esse motivo
é que o protótipo do Paraíso Terrestre constitui um patrimônio
importantíssimo, para mostrar não só a beleza natural do nosso país, como
também o indiscutível pendor artístico dos japoneses. Doravante, surge uma
grande oportunidade para que os turistas nos visitem cada vez mais e
compreendam o nosso alto nível cultural, ao mesmo tempo que desfrutam o
prazer da viagem. Fico na expectativa da grande admiração que o protótipo do
Paraíso Terrestre despertará, quando ficar concluído.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Como o que se diz acima, fica explicado o que é fé "Shojo" e fé "Daijo".


11 de março de 1950

RELIGIÃO E MILAGRE

BENEFÍCIOS MATERIAIS
Modéstia à parte, em nossa Igreja ocorrem maravilhosas Graças Divinas.
Na antigüidade surgiram religiões magníficas, e até hoje isso vem
acontecendo. Entre elas, as três mais importantes - o cristianismo, o islamismo
e o budismo - e mais algumas já conquistaram suas respectivas posições. A
maioria, porém, desde o início, sempre se ocupou unicamente da salvação
espiritual.
A Igreja Messiânica Mundial ainda tem pouco tempo de vida, e,
comparada com outras, é uma religião pequena. Apesar disso, a rapidez de
seu progresso pode ser considerada inédita e está sendo alvo de muita
atenção, o que, às vezes, até se torna um problema. Mas isso é um fenômeno
transitório, uma das inevitáveis experiências pelas quais temos de passar. É
uma questão de tempo; naturalmente, virá o dia em que, por opinião
imparcial, será reconhecido seu verdadeiro valor.
Como todas as religiões, nossa Igreja tem seus ideais, seus princípios
religiosos, e vem se esforçando para progredir. Vou mostrar os pontos em que
ela difere das religiões tradicionais, pois, se não os conhecerem, não
conseguirão compreendê-la verdadeiramente.
A grande diferença é que nela ocorrem muitos benefícios materiais.
Entretanto, as pessoas que se dizem entendidas no assunto acham que esse
tipo de religião é de baixo nível e por isso não lhe dão atenção. Se pensarmos
bem, encontraremos uma explicação para essa atitude.
Atualmente, analisando as inúmeras religiões do Japão, constatamos que
existem dois tipos: as que são populares e as que não o são. No primeiro caso,
por exemplo, a fé está voltada para este ou aquele ídolo ou deus, e seus
adeptos - as pessoas de baixo nível cultural, que nada entendem de teorias
religiosas ou de Filosofia - têm um único objetivo: receber benefícios materiais.
Ora, do ponto de vista dos intelectuais, isso é tolice e não merece a mínima
atenção. Assim, eles concluem que a busca desses benefícios é própria da Fé
de nível inferior. Por outro lado, valorizam as religiões que, não se importando
com os benefícios materiais, colocam os princípios religiosos em termos
didáticos, dotando-os de inteligentes razões. Se tais religiões tiverem uma
longa tradição e durante esse tempo nela tiverem surgido grandes líderes ou
sacerdotes de alta virtude, eles as valorizam ainda mais, considerando-as de
alto nível. Em síntese, para os intelectuais o que vale é a força do nome e a
tradição. A propósito disso, desejo expor minha sincera crítica.
Dos dois tipos de Fé mencionados, o primeiro pode ser de baixo nível,
mas a verdade é que ele está atingindo a massa popular mais do que
podemos supor. Como as pessoas que o professam têm pouca cultura, não
lhes interessam princípios nem teorias; elas vão de vez em quando à Igreja,
fazem pedidos de graça, dão uma esmola e se satisfazem com isso. Trata-se
de uma fé muito simples, mas é indiscutível que impressiona bem e contribui
para mudar o sentimento de outras pessoas. Se essas religiões acreditam no
invisível, é porque têm uma visão espiritualista; portanto, elas contribuem de
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

alguma forma para o bem social, mais do que aquelas que estão baseadas
num sólido materialismo. Seus seguidores cultivam o bom sentimento de pedir
ajuda a Deus, por isso não haverá motivos para que cometam,
inescrupulosamente, os crimes horríveis a que ficam sujeitos os materialistas.
Quanto ao segundo tipo de fé, diferentemente do primeiro, é seguido
por pessoas que, acreditando somente no que vêem, desprezam aqueles que
crêem no invisível, considerando-os supersticiosos. Parece que, atualmente, a
maioria pertence à classe dos intelectuais. Naturalmente, uma vez que são
materialistas, eles acham que devem lidar com as religiões didaticamente;
quando discutem sobre o assunto, não ficam satisfeitos se não o colocarem
em termos lógicos e filosóficos. Por isso, a nosso ver, suas teses são
superficiais, e as críticas que fazem à nossa Igreja não passam de comentários
malévolos.
Para fazer a verdadeira análise de uma religião, é preciso penetrar nela
profundamente, procurando averiguar seu conteúdo com os olhos bem
abertos. Deve-se analisá-la livre de conceitos pessoais. Originariamente, a
natureza de uma religião não está na sua forma, mas no seu conteúdo.
Portanto, é necessário que os intelectuais mudem bastante suas atitudes
críticas.
De acordo com o exposto acima, criticar nossa Igreja vendo apenas as
aparências externas e classificá-la como religião vulgar por estar centralizada
no recebimento de benefícios materiais, é uma grande leviandade ou
descortesia. Enquanto se persistir nessa atitude, as críticas não terão nenhum
sentido. Se fizerem uma profunda análise da Igreja Messiânica Mundial,
compreenderão que ela não só é de caráter popular como teórico. Podemos
dizer mesmo que é uma Ultra-Religião, inédita para a humanidade. E não é só
isso. O que defendemos não se restringe apenas à Religião. Nosso objetivo é
dar a mais alta diretriz ao campo da Medicina, da Agricultura, da Arte, da
Educação, da Economia, da Política, enfim, a tudo quanto diz respeito ao
homem. Em suma: queremos colocar a teoria em prática, de maneira que a Fé
seja vivida no nosso dia-a-dia.
8 de novembro de 1950

MILAGRE E RELIGIÃO
Seria desnecessário dizer que milagre é o acontecimento de algo
considerado impossível, algo que, não coincidindo com a lógica e não se
podendo medir com o senso comum, só podemos afirmar que é um mistério.
Mas desde quando existe esse mistério chamado milagre? Temos
registrados os milagres de Cristo, os quais são muito conhecidos e dispensam
comentários; no Japão, evidenciaram-se, entre outros, o milagre acontecido a
Nitiren e os realizados pelos fundadores das Igrejas Tenrikyo, Oomotokyo,
Konkokyo e Hito-no-Miti (atualmente Igreja P.L.). Sabe-se que em vários outros
lugares ocorreram pequenos milagres, mas o interessante é que nas mais
antigas e abalizadas religiões eles quase não ocorrem. Enquanto seus
fundadores estavam vivos, é possível que muitos milagres tenham sido
realizados, porém, com o passar do tempo, eles se extinguiram por completo.
Por esse motivo, em certas religiões tradicionais, as pessoas de posição
elevada precisaram encontrar algo de valor que substituísse os milagres, pela
necessidade de fazê-las sobreviver. Como resultado, apareceram as religiões
100
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

filosóficas, as ciências religiosas, a Teologia e outras formas de estudos


sistematizados. Obviamente, elas consideram que o ponto mais importante da
Religião é a salvação do espírito, razão pela qual desprezam as graças
materiais. Além disso, acrescentam as formalidades tradicionais de cada uma.
Assim, vieram mantendo sua existência como organização religiosa. As
pessoas conscientes e os povos civilizados não as aceitam, e, não encontrando
uma Fé cujo teor os satisfaça, muitos se tornam incrédulos, como vemos
atualmente. Torna-se claro, portanto, que a Fé ardentemente desejada pelas
pessoas é, antes de mais nada, uma nova Fé, que se tenha despojado das
velhas roupagens e cujos princípios sejam racionais e comprovados por provas
autênticas.
Existem, no momento, algumas religiões que estão se expandindo
muito, como a Narita-no-Fudosson, Toyokawa, Fushimi-Inari, Kompira Gonguem
e certas seitas da Religião Nitiren, as quais, indubitavelmente, de certa forma
estão sendo úteis à sociedade. Entretanto, elas visam apenas os benefícios
materiais, e seus níveis são tão baixos, que não exercem nenhuma atração
sobre as pessoas de cultura elevada nem sobre a camada jovem. Em verdade,
satisfazem apenas um número limitado de pessoas.
De acordo com o que acabo de expor, podemos dizer que, atualmente,
só há duas espécies de Fé no Japão: as religiões teóricas e as religiões
práticas, ou seja, as que visam unicamente as graças. Essa é a situação
inexpressiva do campo religioso japonês. Portanto, pensando naquilo que as
circunstâncias atuais estão exigindo, concluímos que é necessário o
aparecimento de uma religião nova e ideal.
A peculiaridade da nossa Igreja é que, através de princípios religiosos,
ela formula conceitos inéditos sobre a Teologia, a Ciência e a Filosofia, dando-
lhes novas interpretações. Além disso, aponta os defeitos da cultura
contemporânea, ensina como deve ser a nova cultura e indica o caminho para
a criação da nova civilização mundial. Por conseguinte, podemos dizer que ela
está acima da conceituação de uma simples religião.
Uma vez ingressando na Fé Messiânica e analisando-a minuciosamente,
a pessoa se surpreenderá com a veracidade do que acabamos de dizer.
Tornando-se fiel, compreenderá, também, que uma das grandes características
da nossa religião é a ocorrência de muitos milagres. Certamente a História das
Religiões não registra nenhuma outra em que eles sejam tão numerosos.
Milagre, como já dissemos, é benefício material, por isso não há dúvida de que
conseguiremos atingir o nosso objetivo: construir um mundo absolutamente
isento de doença, pobreza e conflito. Mas não basta lerem o que escrevi; antes
de mais nada, é necessário conhecerem a Igreja Messiânica Mundial.
5 de março de 1952

RELIGIÃO É MILAGRE
Várias heranças literárias provam que Religião e milagre são coisas
inseparáveis. Religião sem milagre deixa de ser Religião. Isto porque o homem
é totalmente incapaz de operar qualquer milagre, o qual é obra de Deus.
Sendo assim, uma religião que não apresente milagres é como uma existência
nula. Falta-lhe a essência, embora ostente aparência religiosa.
A magnitude de uma religião é proporcional à ocorrência de milagres.
Milagre, em outras palavras, significa o aparecimento de benefícios
101
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

inesperados. Isso estimula e dá origem a um profundo sentimento religioso,


que conduz o homem à Fé e salva-o da desgraça.
Que religião podemos chamar de verdadeira a não ser essa? É
desnecessário dizer que uma única prova vale por mil argumentos. Embora a
situação que vivemos atualmente seja uma conseqüência da Segunda Grande
Guerra, o aumento do mal social, principalmente os pensamentos insanos que
infestam os jovens - verdadeiros sustentáculos do futuro - e o estado confuso
em que estes se encontram, não deixam de representar uma realidade
apavorante. A causa de tudo isso é a educação recebida pelos jovens, a qual
os levou a aceitar o materialismo como norma de ouro. Enquanto os homens
não despertarem desse engano, não haverá solução para o problema.
Naturalmente, para combater os conceitos materialistas, é preciso
despertar o homem para a Religião, começando por convencê-lo da existência
de Deus. Nossa Igreja vem insistindo neste ponto, e o milagre é o único
recurso para ela atingir seu propósito.
Milagre é tornar possível aquilo que se considera impossível realizar pela
ação do homem. Como ele mostra, na realidade, o que não se pode interpretar
teoricamente, quaisquer dúvidas a respeito serão, logicamente, dissipadas de
imediato. Assim, mesmo na exclusão do mal social ou na criação de países
pacíficos, não se poderão obter resultados satisfatórios a não ser que se dê a
exata consciência de Deus através do milagre, cultivando, dessa forma, a
espiritualidade.
Na história da humanidade, não se conhece nenhuma religião que tenha
apresentado tantos milagres como a nossa. Neste sentido e nesta fase de
grande transição que estamos atravessando, o objetivo da Igreja Messiânica
Mundial é sacudir a alma do mundo, que está adormecida, despertando-a com
o poderoso sopro do milagre.
Deus, Todo-Poderoso, veio à Terra como Kanzeon-Bossatsu (encarnação
da Misericórdia), conhecido também como Komyo-Nyorai (encarnação da Luz)
e, após transformar-se em Oshim-Miroku (encarnação da Ação Livre e
Desimpedida), está manifestando, pelas Divinas Mãos do Messias, os mais
variados e incontáveis milagres, utilizando livremente a sagrada energia vital.
Dessa forma, através da Igreja Messiânica Mundial, Deus está realizando a
grandiosa obra da salvação do mundo.
11 de junho de 1949

RELIGIÃO É MILAGRE
Desde tempos remotos costuma-se dizer que os milagres são inerentes à
Religião, o que realmente é verdade. Modéstia à parte, nunca houve religião
que evidenciasse tantos milagres como a Igreja Messiânica Mundial. Em
poucas palavras, direi que isso ocorre porque ela é dirigida pelo Supremo
Deus.
Pensando que todas as divindades são iguais, as pessoas geralmente
tendem a cultuá-las da mesma forma. Entretanto, precisamos saber que até
entre as divindades existe hierarquia: superior, média e inferior. Em ordem
decrescente, essa hierarquia, iniciando pelo Altíssimo, vai até Ubussunagami,
Tengu, Ryujin, Inari e outros.
Gostaria de falar detalhadamente sobre todas essas classes, mas assim
eu estaria desvelando divindades de outras religiões. Portanto, por uma
102
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

questão de respeito, não o farei. Desejo apenas mostrar, através de um fato,


quão elevado é o deus que dirige a Igreja Messiânica Mundial. Nem preciso
falar sobre a maravilha que é o Johrei, pois, com o passar do tempo, na
medida que vai se tornando conhecido, ele está constituindo o elemento mais
eficiente para a expansão da nossa Igreja. Aliás, sobre a solução de doenças
através do Johrei, devo esclarecer que, mesmo a pessoa duvidando e
recebendo-o apenas a título de experiência, ou achando impossível obter a
cura por meio de "uma tolice dessas", a graça será alcançada da mesma
forma, e rapidamente, o que muitos acham um mistério. Até o presente
acreditava-se imprescindível a pessoa ter fé para ficar curada de uma doença.
Era corrente este pensamento: "Acredite; você não pode duvidar." Assim, é
natural que, condicionadas a essa idéia fixa, as pessoas estranhem o que
acabo de dizer. Vou explicar a razão.
Primeiramente, crer na validade de algo sem ter nada que a comprove é
enganar a si próprio, pois ninguém pode acreditar numa coisa antes de ter
provas. Assim, é óbvio que aquele pensamento está errado. Empregar todos
os esforços para crer porque nos foi dito para crer, produz algum efeito, pois
isso é melhor do que duvidar. Tal efeito, porém, não provém de Deus, como
muitos pensam, mas da própria força de cada um. Mas por que motivo um
pensamento tão errado vinha sendo aceito como a coisa mais natural? É que,
até agora, ignorando que a divindade à qual se dirigiam não tinha poder
suficiente, as pessoas tentavam suprir essa deficiência com a força humana.
Nesse sentido, em nossa Igreja, as pessoas melhoram mesmo que duvidem.
Isso acontece por conta da grande força de Deus não sendo necessário,
portanto, acrescentar a força humana. Logo, se uma divindade não tem poder
para curar uma doença, é porque seu nível é inferior.
Muitas vezes, quando as graças não ocorrem do modo desejado, o
ministro ou o orientador dão desculpa de que a pessoa tem pouca fé. Parece-
me que eles acham que a graça é conseguida com o esforço do homem, ao
invés de ser concedida por Deus. Na verdade, Deus é infinitamente piedoso;
por isso, mesmo que façamos apenas um pedido, infalivelmente Ele nos
atenderá. Quando o homem emprega demasiado esforço para alcançar uma
graça e ultrapassa os limites, Deus não fica satisfeito, se é que se trata do
Verdadeiro Deus. Principalmente fazer penitências, jejuns e abstenções são
atitudes que estão em desacordo com a Vontade de Deus, pois Seu grande
amor vê com tristeza o sofrimento humano. Pensemos bem. Nós, seres
humanos, somos filhos de Deus. Como nosso pai, não há razão para Ele se
alegrar com o nosso sofrimento. Ainda que a pessoa tenha conseguido receber
uma graça através de penitência, quem a concedeu não foi Deus, mas algum
espírito pertencente à falange dos demônios. Graças desse tipo são efêmeras,
não duram muito tempo. As graças concedidas por Deus são diferentes. À
medida que nos dedicamos à Fé, nossos infortúnios irão diminuindo
gradativamente, atingiremos um estado espiritual de paz e segurança e
seremos felizes.
Em síntese: trata-se de religião de baixo nível aquela em que a pessoa,
embora não creia, esforça-se para crer, com o objetivo de alcançar graças;
trata-se de religião de nível superior aquela em que Deus concede a graça
mesmo que a pessoa duvide ou não acredite.
11 de abril de 1951
103
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

ANÁLISE DO MILAGRE
Em poucas palavras, chama-se milagre a realização daquilo que
achamos impossível, mas, na verdade, nada acontece por acaso. Quem pensa
de forma diferente, está redondamente enganado. Parece um tanto
complicado, contudo vou mostrar por que estou fazendo essa afirmativa.
A idéia preconcebida de que determinada coisa nunca poderá acontecer,
já constitui um erro, pois leva em consideração apenas aquilo que se
manifesta exteriormente, isto é, as aparências. Como até agora o pensamento
da maioria dos homens baseava-se em conceitos materialistas, se às vezes
sucede algo diferente, eles pensam que se trata de milagre. Por exemplo: uma
criança cair de um penhasco e não sofrer nada; um carro bater numa bicicleta
e não haver ferimentos nem prejuízos; uma pessoa se salvar por ter se
atrasado e perdido um trem que depois descarrilhou, virou ou colidiu com
outro; um ladrão que estava entrando numa casa fugir, pela ministração do
Johrei; uma pessoa recuperar o que lhe foi roubado; um incêndio que havia se
alastrado até à casa do vizinho ser desviado, devido à repentina mudança de
direção do vento, por efeito do Johrei.
Com os fiéis da nossa Igreja ocorrem constantemente grandes e
pequenos milagres, isto é, fatos fora do comum. E por que motivo eles
ocorrem? Onde está a causa? Creio que todos querem sabê-lo.
É claro que a verdadeira razão do milagre está no Mundo Espiritual.
Entretanto, há milagres decorrentes da força pessoal de cada um e outros
decorrentes da força de terceiros. Inicialmente falarei sobre o primeiro tipo.
O homem possui aquilo a que chamamos aura, que é como se fosse a
vestimenta do espírito. Ela tem o formato do corpo, que parece coberto por
uma espécie de névoa branca, e não é visível às pessoas de sensibilidade
comum. Sua largura é variável, e isso se deve ao grau de pureza do espírito;
quanto mais puro ele for, mais larga é a aura. Nas pessoas comuns, ela varia
de três a seis centímetros; a dos virtuosos tem de sessenta a noventa
centímetros; nos salvadores da humanidade, ela é infinita. Ao contrário, se o
corpo e o espírito são impuros, a aura é estreita e tênue. Em caso de desastre,
por exemplo, na hora exata em que um carro - que também possui espírito -
vai bater numa pessoa, não conseguirá atingi-la se for alguém de aura larga.
Ela se salva, porque é afastada para o lado. Pessoas assim, quando caem de
um local alto, mesmo indo de encontro ao espírito da terra ou de uma pedra,
não se machucam, apenas batem de leve.
As casas também possuem espírito, de modo que, se o dono for
virtuoso, a aura da casa será larga; no caso de incêndio, o espírito do fogo não
a atinge, pois é barrado pela aura. Por isso, na ocasião do grande incêndio de
Atami, a sede provisória da nossa Igreja foi milagrosamente poupada. Se
ocorre o contrário - o que é difícil - é porque há necessidade de queimar
impurezas; por conseguinte, o fato obedece ao Plano de Deus.
Vejamos, a seguir, os milagres decorrentes da força de terceiros.
O homem tem três espíritos: o Primordial, o Guardião e o Secundário.
Vou me abster de maiores explicações sobre a relação existente entre eles,
pois já falei sobre isso em outras oportunidades.
O Espírito Guardião é escolhido entre os ancestrais; ele salva seu
protegido no caso de um perigo, ou lhe faz avisos importantes através de
104
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

sonhos. Quando se trata de pessoa que tem missões especiais, há casos em


que uma divindade vem em seu socorro (em geral, o padroeiro do local onde a
pessoa nasceu). Por exemplo, se um trem está prestes a colidir com outro,
como essa divindade tem conhecimento do fato, pode fazer parar o espírito do
trem instantaneamente. Mesmo que o fato esteja ocorrendo a milhares de
quilômetros, ela chega ao local numa rapidez extraordinária.
Como vemos, o milagre não ocorre absolutamente por coincidência ou
por acaso; há sempre uma razão. Se compreenderem isso, verão que ele não
tem nada de sobrenatural. Para mim, o natural é haver milagres; se não
houver é que eu acho estranho.
Às vezes, quando me encontro diante de um problema difícil, cuja
solução está demorando, começo a esperar que repentinamente aconteça um
milagre, e geralmente ele acontece, solucionando o problema. Isso é muito
freqüente. Creio que aqueles que têm fé profunda e acumularam virtudes, já
passaram por muitas experiências nesse sentido. Portanto, se o homem
pensar e praticar o bem, acumular virtudes e fizer esforços para tornar mais
larga sua aura, jamais lhe acontecerão desgraças inesperadas.
Em nosso contacto com as pessoas, quanto mais espessa for sua aura,
mais calor sentiremos, surgindo, daí, grandes afeições. Tais pessoas sempre
cativam outras, que se reúnem à sua volta em grande número, e assim elas
terão êxito e progresso no trabalho.
5 de junho de 1951

105
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

O MUNDO ESPIRITUAL

PREFÁCIO

PREFÁCIO DO LIVRO "O MUNDO ESPIRITUAL"


Neste volume estão coligidos os Ensinamentos que escrevi sobre os
fenômenos do Mundo Espiritual, como resultado de estudos e pesquisas
efetuados durante mais de vinte anos. Não há fantasia nem exagero em
minhas palavras.
Dizem que a cultura humana progrediu muito, mas o que houve foi
apenas progresso da parte material; a parte espiritual, lamentavelmente,
progrediu muito pouco. E o que é progresso da cultura? Em verdade, progresso
da cultura significa o desenvolvimento paralelo do concreto e do abstrato.
Apesar do propalado avanço cultural, o homem até hoje não conseguiu
alcançar a felicidade, e a razão principal é que o progresso se efetuou num
único sentido. Em outras palavras, porque a cultura material se desenvolveu
muito, mas a cultura espiritual não acompanhou esse desenvolvimento.
Diante disso, eu desejo despertar a humanidade imprimindo um
extraordinário progresso à cultura espiritual. Visto que os fenômenos
espirituais, em decorrência de sua própria natureza, não podem ser percebidos
pelos cinco sentidos do homem, torna-se muito difícil apreendê-los. Mesmo
assim, como não vou evidenciar o que não existe, e sim mostrar o que de fato
existe, tenho absoluta certeza de que esse objetivo será alcançado.
Crendo nos fenômenos espirituais, torna-se claro que poderemos
apreender a causa fundamental da verdadeira felicidade. Em outras palavras,
para se obter a perfeita paz de espírito, é necessário profundo conhecimento
de tais fenômenos, seja qual for a Fé que se professe.
O homem não pode evitar a morte, mas conhece muito pouco sobre a
vida após a morte. Meditemos. Embora possa viver muito tempo, geralmente
o homem não passa dos setenta ou oitenta anos. Se isso representa o fim de
tudo, a vida não é realmente vã? Caso ele pense assim, é porque desconhece
totalmente que, após a morte, existe a vida no Mundo Espiritual. Suponhamos,
entretanto, que o homem chegue a adquirir profundo conhecimento a esse
respeito: viveria uma vida feliz neste mundo e também depois de morrer.
Existe, portanto, a possibilidade de ele se tornar eternamente venturoso.
É pelos motivos acima expostos que escrevi o presente volume.
25 de agosto de 1949

A NATUREZA E O MUNDO ESPIRITUAL

O PODER DA NATUREZA
Segundo meus estudos, a Grande Natureza, isto é, o mundo em que
respiramos e vivemos, está constituída de três elementos - o Fogo, a Água e o
Solo - conforme já explanei em outra oportunidade. Atualmente, a Ciência e o
homem, pelos seus cincos sentidos, têm conhecimento do eletromagnetismo,
do ar, da matéria, dos elementos, etc., mas o meu propósito é falar sobre a
energia espiritual, que a Ciência e os cinco sentidos do homem ignoram.
A expressão "energia espiritual" ou "espírito" tem sido usada até hoje
circunscrita à Religião ou à Metafísica. Por isso, na maioria das vezes, é
106
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

associada à superstição. A tendência é considerar intelectual aquele que nega


a existência do espírito, mas como estão enganados os que pensam assim...
A essência daquilo a que dou o nome de espírito é a fonte do grandioso
poder que dirige tudo que existe neste Universo e do qual dependem o
nascimento, o crescimento, o movimento e a transformação de todas as
coisas. Chamo-o de Poder Invisível. Sendo assim, daqui por diante chamarei o
mundo conhecido simplesmente de Mundo Material, e o desconhecido, de
Mundo Espiritual.
Como lei fundamental de tudo que existe, todos os fenômenos ocorridos
no Mundo Material são projeções daquilo que já foi gerado e acionado no
Mundo Espiritual. Isso pode ser exemplificado pelos movimentos das mãos ou
das pernas, os quais são precedidos pela nossa vontade. Até agora, contudo,
os estudiosos têm procurado soluções analisando apenas os fenômenos do
Mundo Material, e é por essa razão que embora se diga que houve progresso
na cultura, ele não trouxe bem-estar à humanidade. Portanto, para resolver
qualquer problema, é necessário solucioná-lo primeiro no Mundo Espiritual;
inclusive as doenças, cujo verdadeiro método de tratamento consiste em
tratar o espírito por processos espirituais.
Mesmo nos seres vivos, o corpo espiritual está subordinado ao Mundo
Espiritual, e o corpo físico, logicamente, ao Mundo Material. A doença, como já
tenho explicado, é a eliminação de toxinas acumuladas, ou melhor, o processo
de dissolução das toxinas solidificadas. Relacionando matéria e espírito, a
acumulação de toxinas numa determinada região representa a existência de
máculas na correspondente região do corpo espiritual, e o processo de
dissolução significa a eliminação das máculas. Por conseguinte, todo e
qualquer tratamento que se proponha a curar apenas o corpo físico é método
contrário, não levando à verdadeira solução da doença.
Se o método fundamental para a erradicação das doenças é a
eliminação das máculas do corpo espiritual, qual é o poder que dissipará essas
máculas? É a Luz emanada de Deus e irradiada através do corpo humano. A
profunda compreensão desse princípio só se tornará possível através da
prática do Johrei por vários anos. No momento, creio que os leitores poderão
obter apenas uma noção geral; por isso, peço-lhes que leiam com esse
espírito.
Antes de explicar o que é o corpo espiritual do homem, torna-se
necessário explicar o que é a morte. Quando o corpo material fica imprestável,
por velhice, doença, ferimento, perda de sangue, etc., o corpo espiritual e o
corpo material se separam. A esta separação é que chamamos morte. Ela
ocorre quando o corpo espiritual se liberta do corpo material. O primeiro
regressa ao Mundo Espiritual e, passado algum tempo, reencarna; o segundo,
como todos sabem, apodrece e retorna à terra. Pelo exposto, compreende-se
que o corpo espiritual tem vida infinita, e o corpo material, vida finita,
existência secundária. Conseqüentemente, quando se trata de questões
relativas ao homem, o verdadeiro alvo é o corpo espiritual.
Na ciência contemporânea, está se tornando conhecida a existência de
uma espécie de radioatividade em todos os seres, inclusive nos minerais e nos
vegetais. Meus estudos revelaram que a radioatividade do corpo humano é de
qualidade superior. É como se falava nos velhos tempos: "Espiritualmente, o
homem é superior a todos os outros seres."
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Quanto mais elevado o espírito, maior é o seu grau de rarefação


(pureza), e, quanto mais aumenta o grau de rarefação, mais difícil se torna
detectá-lo através de instrumentos. Portanto, opondo-se aos conceitos
materialistas, é muito mais fácil captar a presença de espíritos de níveis
inferiores, assim como acontece com o rádio, entre os minerais, e a
fosforescência, em alguns vegetais. Todavia, é importante compreendermos
este princípio: quanto mais rarefeito (puro) é o espírito, maior é o seu poder
de atuação.
A irradiação do corpo humano é a mais poderosa, mas a grande
diferença que há de umas para outras pessoas, está além da imaginação.
Quanto mais poderosa for essa irradiação, maior será a atuação do Johrei.
Assim, para irradiá-la com maior potência, concentrei-a numa parte do corpo,
alcançando, com isso, pleno sucesso na eliminação das máculas. Consegui,
também, aumentar ainda mais a força da irradiação que cada um possui,
através de um método todo peculiar. Aplicando esses dois métodos,
conhecendo o seu princípio e somando experiências, consegue-se manifestar
um poder extraordinário.
5 de fevereiro de 1947

OS ELEMENTOS FOGO, ÁGUA E SOLO


Tudo que existe, é composto de três elementos básicos. O nascimento e
o desenvolvimento de todas as coisas dependem da energia destes três
elementos: o Sol, a Lua e a Terra. O Sol é a origem do elemento Fogo; a Lua, a
origem do elemento Água; a Terra, a origem do elemento Solo.
As energias do Fogo, da Água e do Solo movem-se, cruzam-se e fundem-
se em sentido vertical e horizontal. Verticalmente, significa que do Céu à Terra
há três níveis: o Sol, a Lua e a Terra. Isso pode ser claramente observado por
ocasião de um eclipse solar. O Céu é o Mundo do Fogo, centralizado no Sol; o
espaço intermediário é o Mundo da Água, centralizado na Lua; a Terra é o
Mundo do Solo, centralizado no Globo Terrestre. Horizontalmente, significa a
própria realidade em que nós, seres humanos, estamos vivendo na face da
Terra, ou melhor, o Mundo Material, constituído do espaço e da matéria. A
existência da matéria é perceptível por meio dos cinco sentidos do homem,
mas por algum tempo o espaço foi considerado vazio. Com a evolução da
cultura, nele se descobriu a existência do meio-matéria (digo provisoriamente
meio-matéria) conhecido como ar. Entretanto, nesse espaço em que até há
pouco se pensava existir apenas o ar, identifiquei a existência de mais um
elemento - denominei-o de "espírito".
Algumas religiões falam sobre o Mundo Espiritual, sobre espírito dos
vivos, sobre espírito dos mortos, sobre encostos, etc. Ascetas e médiuns
também falam a respeito dos espíritos. Com a evolução da Ciência Espiritual
nos Estados Unidos e na Europa, as pesquisas sobre o assunto estão em
franco desenvolvimento, e até certo ponto podemos crer nas explanações de
obras como "Raymond", da autoria de Sir Oliver Joseph Lodge (1851-1940), e
"Exploration in the Spiritual World", do Dr. Ward. Mas o objetivo do meu estudo
situa-se num campo completamente diverso.
Por princípio, o elemento da matéria é o Solo. Qualquer pessoa sabe que
toda matéria surge do Solo e retorna ao Solo. O elemento Água, que é meio-
matéria, procede da Lua e está contido no ar. O espírito, entretanto, não é
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

matéria nem meio-matéria; irradiado do Sol, é imaterial, e por esse motivo sua
existência até hoje não foi comprovada. Resumindo: o Solo é matéria; a Água
é meio-matéria; o Fogo é imaterial. Da união desses três elementos surge a
energia. Cientificamente, quer dizer que os três, como partículas atômicas
infinitesimais, tão pequeninas que estão além da imaginação, fundem-se e
agem conjuntamente. Eis a realidade do Universo. Portanto, a existência da
umidade e a temperatura adequada para a sobrevivência das criaturas no
espaço em que respiramos, são decorrentes da fusão e harmonização do
elemento Fogo e do elemento Água. Se o elemento Fogo se reduzir a zero,
restando apenas o elemento Água, o Universo ficará congelado
instantaneamente. Ao contrário, se restar apenas o elemento Fogo, e o
elemento Água se reduzir a zero, haverá uma explosão e tudo se anulará. Os
elementos Fogo e Água unem-se com o elemento Solo, e dessa união produz-
se a energia que dá existência a todas as coisas. Por essa razão, o fogo, pela
sua natureza, arde em sentido vertical, e a água corre em sentido horizontal; o
fogo arde pela ação da água e a água se move pela ação do fogo.
Desde a antigüidade o homem é considerado um pequeno universo,
porque o princípio acima se aplica ao corpo humano. Isto é, o Fogo, a Água e o
Solo correspondem, respectivamente, ao coração, ao pulmão e ao estômago.
O estômago digere o que é produzido pelo Solo; o pulmão absorve o elemento
Água; o coração, o elemento Fogo. Sendo assim, podemos compreender por
que esses órgãos desempenham papel tão importante na constituição do
corpo humano. Entretanto, até hoje o coração é visto apenas como órgão
bombeador do sangue, o qual, cheio de impurezas, é levado ao pulmão para
ser purificado pelo oxigênio. Assim, ele é tido unicamente como órgão do
sistema circulatório, pois se desconhece por completo a existência do
elemento Fogo.
Como dissemos, o estômago digere o alimento, ou melhor, o elemento
Solo ingerido pela boca; o pulmão aspira o elemento Água pela respiração; e o
coração absorve o elemento Fogo pelas contrações cardíacas. Portanto, a
febre que sobrevém quando se adoece, tem por finalidade dissolver as toxinas
solidificadas na parte enferma, e o calor necessário ao corpo, isto é, o
elemento Fogo, é absorvido do Mundo Espiritual pelo coração. Isso quer dizer
que as contrações cardíacas são movimentos bombeadores por meio dos quais
esse elemento é retirado do Mundo Espiritual. O aumento das contrações
cardíacas, ou melhor, da pulsação, antes de surgir a febre, deve-se à
aceleração da aspiração do elemento Fogo. Os calafrios que se têm na ocasião
são motivados pelo desvio de calor necessário ao processo de purificação, e
assim, provisoriamente, diminui-se a quantidade de calor que mantinha a
temperatura do corpo. A diminuição da febre significa o fim do processo de
dissolução das toxinas. Sendo assim, a temperatura do corpo é resultante da
aspiração incessante do elemento Fogo do Mundo Espiritual, por meio do
coração.
Também o pulmão absorve incessantemente, através da respiração, o
elemento Água do mundo atmosférico, e por essa razão, além do volume de
líquido ingerido pela boca, a água existente no corpo humano também é
absorvida, em grande parte, por intermédio dos pulmões. É graças a esse
processo que, tão logo a pessoa falece, imediatamente sua temperatura cai, o
corpo fica gelado e perde a umidade, o sangue coagula e o cadáver começa a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

secar. Explicando melhor, com a morte o espírito separa-se do corpo carnal e


entra no Mundo Espiritual. Como desaparece o espírito, que é o elemento
Fogo, a parte líquida solidifica-se. Em outras palavras, o espírito retorna ao
Mundo Espiritual; a parte líquida, ao mundo atmosférico, e o corpo carnal, ao
solo.
5 de outubro de 1943

MUNDO ESPIRITUAL

O MUNDO DESCONHECIDO
Vivemos e respiramos no Mundo Material, o Mundo Temporal, mas, com
a morte, tornamo-nos habitantes do Mundo Espiritual, o Mundo Desconhecido,
isto é, o Mundo Intemporal.
O Mundo Espiritual é invisível, impalpável. Não sendo perceptível pelos
sentidos, torna-se difícil crer na sua existência apenas por meio de palavras,
através de uma simples explicação. Entretanto, visto que se trata de uma
realidade e não de um vazio, seria impossível ele não se manifestar por algum
fenômeno, sob qualquer forma.
Com efeito, os fenômenos espirituais - grandes, médios ou pequenos -
apresentam-se em todos os aspectos da vida humana, nos seus mínimos
detalhes e em todos os locais do mundo. Só que o homem não os percebe.
Essa falta de percepção é causada pelo desinteresse da educação da cultura
tradicional em relação ao espírito, em decorrência da fase noturna que o
mundo atravessava. No escuro da noite, com a luz da Lua, só se consegue
enxergar escassamente, mas de dia, com a luz do Sol, é possível distinguir
claramente todas as coisas, de forma global e instantânea. Num futuro bem
próximo, o Mundo Conhecido, que era regido pela Lua, será o mundo regido
pelo Sol, isto é, o mundo sob a Grande Luz. Como resultado dessa mudança de
regência, serão revelados todos os segredos, falsidades e erros.
5 de fevereiro de 1947

A EXISTÊNCIA DO MUNDO ESPIRITUAL


Em primeiro lugar, é preciso entender a finalidade do nascimento do
homem.
Deus criou o homem para construir o Mundo Ideal, que é o objetivo do
Seu governo na Terra, concedendo-lhe missões específicas e utilizando-o
conforme Sua vontade. A evolução da era primitiva para a brilhante era
cultural de hoje e também o desenvolvimento da inteligência humana até
chegar ao estágio atual, foram dirigidos exclusivamente para esse fim.
Não só o homem - criatura de nível mais elevado - mas todas as outras
criaturas, inclusive os vegetais e minerais, enfim tudo aquilo que tem forma,
está constituído de dois elementos fundamentais: espírito e corpo. Havendo
separação desses elementos, o ser deixa de existir, seja ele qual for. Mas
pretendo falar apenas sobre o homem.
Quando o corpo carnal se torna inútil, por velhice, doença, perda de
sangue, etc., o espírito o abandona e dirige-se ao Mundo Espiritual, onde
passa a viver. Esse fenômeno é idêntico no mundo inteiro, seja qual for a raça.
Há muitas obras de autores famosos tratando do assunto, entre elas a que se
intitula "Raymond", da autoria de Sir Oliver Lodge (1851-1940), editada na
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Inglaterra logo após a Primeira Guerra Mundial. Ele registra as mensagens que
lhe foram enviadas do Mundo Espiritual por um filho seu que falecera na
Bélgica, durante uma batalha daquela guerra. Na época, o livro foi lido por
muitas pessoas de diversos países, surgindo daí inusitado movimento de
pesquisa do Mundo Espiritual e também grandes médiuns.
Também o famoso autor de "O Pássaro Azul", o belga Maurice
Maeterlinck (1862-1949), tornou-se um estudioso dos fenômenos
sobrenaturais após reconhecer a existência do espírito. Com a publicação, logo
a seguir, do livro "Exploration in the Spiritual World", do Dr. Ward, as pesquisas
tomaram um impulso ainda mais extraordinário. Nesta obra ele descreve
minuciosamente o Mundo Espiritual. Conta que, uma vez por semana, entra
em estado de transe, sentado numa cadeira, e se transporta para lá. Nessas
ocasiões, o espírito de um tio seu acompanha-o para mostrar-lhe todos os
aspectos daquele mundo, orientando-o sobre a sua verdadeira natureza.
Também os espíritos de seus amigos e conhecidos desempenham papel de
instrutores, enriquecendo sobremaneira os conhecimentos que lhe são
ministrados. Trata-se de uma obra muito interessante, que pode ser de grande
validade para o conhecimento da vida no Mundo Espiritual, razão pela qual
espero que os leitores a leiam.
Inegavelmente há alguns aspectos diferentes entre o Mundo Espiritual
do Ocidente e o do Japão. Pretendo posteriormente, através de diversos
exemplos, explicar os fenômenos de um e de outro.
Notícias procedentes da Inglaterra há mais de dez anos, dizem que
surgiram naquele país centenas de sociedades de pesquisas psíquicas
desenvolvendo intensas atividades, e que até foi fundada uma universidade
para esse fim, mas eu gostaria de saber a situação presente, porque, com a
eclosão da Segunda Guerra Mundial, não tive mais notícias a respeito.
25 de agosto de 1949

A SITUAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO E O MUNDO ESPIRITUAL


A situação do mundo contemporâneo apresenta-se realmente
periclitante, talvez como jamais se tenha visto na História. O temor pela
Terceira Guerra Mundial domina quase toda a humanidade. É um problema
seriíssimo, pois o conflito envolveria todos os países, e não apenas os
litigantes; seria inédita, portanto, a extensão da sua influência.
Essa é a imagem do mundo atual, que se projeta à vista de qualquer
um; todavia, se não conhecermos a verdade sobre o Mundo Espiritual, onde
está a origem de tudo que acontece neste mundo, não poderemos descobrir a
causa do problema. Só depois disso conseguiremos prever o futuro e ter
tranqüilidade de espírito. É sobre esse tema que vou escrever agora.
O Plano de Deus é construir o Paraíso Terrestre, e para isso era
necessário que a cultura material progredisse até certo ponto. Com esse
objetivo, Ele criou o bem e o mal, e foi pelo atrito entre ambos que
alcançamos o extraordinário progresso material da atualidade e estamos
agora a um passo do advento do Paraíso. Já expliquei isso muitas vezes, mas
vou tornar a fazê-lo, caso contrário, as pessoas que nunca ouviram falar sobre
o assunto teriam dificuldade de compreender aquilo que hoje pretendo expor.
A luta entre os homens iniciou-se no Mundo Espiritual a partir do
momento em que o ser humano foi criado. Os mais fortes queriam apoderar-se
111
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

de todas as regiões conhecidas àquela época, governando-as conforme sua


vontade. Para isso, recorriam à violência, sem distinguir o bem e o mal, tal
como vemos presentemente. Assim, pouco a pouco, a inteligência do homem
foi se desenvolvendo, e, paralelamente ao aumento da população, ampliou-se
a escala da luta, tendo-se chegado, enfim, à situação atual.
O plano de conquista da supremacia mundial foi elaborado há cerca de
três mil anos, e seu chefe era um dragão possuidor de grande poder no Mundo
Espiritual. Esse dragão incorporou numa divindade e, através dela, quis
apoderar-se do mundo, tendo utilizado os métodos mais atrozes. Durante
algum tempo a divindade se saiu bem, recorrendo a tudo para atingir seu
objetivo, mas, quando já estava prestes a atingi-lo, falhou e recebeu severa
punição de Deus. Arrependendo-se, voltou ao seu estado natural. A partir daí,
o dragão passou a incorporar nas grandes personalidades de cada época,
procurando despertar nelas a ambição de dominar o mundo. Fracassou
sempre, mas não aprendeu, e até hoje está lutando tenazmente, com toda a
força. Muitos homens considerados importantes estão nesse caso. A História
nos mostra que, embora eles tivessem grandes poderes na época, acabaram
tendo um triste fim. César, Napoleão, Guilherme II, Hitler e outros podem
servir de exemplo.
Creio que agora já podem ter mais ou menos uma idéia da origem da
situação atual.
Referindo-me a personagens como os que mencionamos acima, eu
sempre digo que são chefes dos demolidores do mundo, pois até agora este
não era verdadeiramente civilizado, ainda restando ao homem cerca de
cinqüenta por cento de características selvagens. Espiritualmente falando,
significa que o homem pecou muito e acumulou máculas; portanto, surge de
vez em quando a necessidade de uma ação purificadora. Como para isso é
preciso haver demolidores e também limpadores, compreendemos que o
aparecimento deles sob forma de grandes personagens é apenas uma
manifestação do Plano de Deus. De nada adianta nos aborrecermos ou nos
desesperarmos.
25 de fevereiro de 1951

CONSTITUIÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL

MUNDO ESPIRITUAL E MUNDO MATERIAL


Se alguém se interessa por Religião e deseja compreendê-la a fundo, é-
lhe indispensável, antes de mais nada, conhecer a relação entre o Mundo
Espiritual e o Mundo Material. Isso porque o alvo da Fé é Deus, e Deus é
Espírito, invisível aos olhos humanos; querer apreender a Sua essência apenas
teoricamente é tão inútil como procurar peixe numa árvore.
Deus existe; é impossível negá-lo. No entanto, assim como é difícil fazer
com que aborígines reconheçam a existência do ar, também é difícil fazer com
que a maioria dos homens da era contemporânea reconheça a existência do
espírito.
Em primeiro lugar, tentarei explicar a estrutura do Mundo Espiritual, a
vida de seus habitantes e outros aspectos desse mundo.
O homem é formado por dois elementos: o corpo carnal e o corpo
espiritual. Com a morte, os dois se separam e o espírito imediatamente entra
112
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

no Mundo Espiritual, onde começa a viver. No momento da separação, o


espírito das pessoas muito bondosas sai pela testa; o espírito dos perversos,
pela ponta dos dedos do pé, e o das pessoas de nível mediano, pela região
umbilical.
Os budistas referem-se à morte com a expressão "vir para nascer".
Analisando do Mundo Espiritual, é realmente "vir para nascer". Eles também
dizem "antes de nascer", ao invés de "antes de morrer". Pelas mesmas razões
os xintoístas usam as expressões "voltar para o Mundo Espiritual" ou
"transmutação para voltar".
Ao passar para o Mundo Espiritual, o espírito primeiramente atravessa
um rio e, a seguir, dirige-se para o Fórum. É um fato incontestável, pois
coincide com o que ouvi de muitos espíritos. Quando o espírito acaba de
atravessar o rio, a cor de suas vestes se altera. As vestes dos que têm menos
máculas tornam-se brancas; as dos outros tomam cores diferentes, de acordo
com o peso das máculas: amarelo, vermelho, azul ou preto. Entre as
divindades, elas tomam a cor violeta.
O Fórum do Mundo Espiritual é semelhante ao do Mundo Material. Nele,
o juiz e seus auxiliares procedem ao julgamento do espírito, decidindo o
prêmio e o castigo de cada um. Nessa ocasião, os muito bondosos são
conduzidos ao Plano Superior; os perversos caem no Plano Inferior; os que se
situam entre uns e outros, ficam no Plano Intermediário, que no xintoísmo
chamam de "encruzilhada de oito direções" e no budismo "esquina de seis
caminhos". A grande maioria vai para este plano e aí faz um curso de
aprimoramento, cuja parte principal consta de ensinamentos transmitidos
pelos sacerdotes da respectiva religião. Esse aprimoramento dura mais ou
menos trinta anos. Decorrido esse tempo, é determinado o local a que o
espírito será destinado. Aqueles que conseguem arrepender-se vão para o
Plano Superior; os demais, para o Plano Inferior.
O Mundo Espiritual é constituído de três planos, cada um dos quais
também está subdividido em três níveis, formando, ao todo, nove níveis. O
Plano Superior é o Céu; o do meio é o Plano Intermediário; o Inferior é o
Inferno. Como o Plano Intermediário corresponde ao Mundo Material, no
budismo ele é designado com a expressão "esquina de seis caminhos", pois se
liga aos três níveis do Plano Superior e também aos três níveis do Plano
Inferior. No xintoísmo, além desses, acrescentam, acima do Plano Superior, o
"Céu Superior", e, abaixo do Plano Inferior, o "Fundo do Abismo". Daí
designarem o Plano Intermediário como "encruzilhada de oito direções".
A seguir descreverei sucintamente o Céu e o Inferno.
Quanto mais próximo do ponto mais alto do Céu, mais intensa é a luz e o
calor, e a maioria dos espíritos vivem quase nus. Por isso, na maior parte das
pinturas e esculturas budistas, as divindades são representadas sem vestes.
Ao contrário, quanto mais próximo do ponto mais baixo do Inferno, mais fraca
é a luz e o calor; o ponto extremo é completamente escuro e gélido. Portanto,
ao deparar com esses sofrimentos, mesmo os espíritos mais perversos são
levados ao arrependimento.
Talvez as pessoas da atualidade achem que essa descrição, feita em
termos genéricos, seja produto da minha imaginação, mas em verdade trata-
se de pontos coincidentes entre levantamentos e estudos que fiz durante mais
de vinte anos com inúmeros espíritos, através de médiuns e de todos os meios
113
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

possíveis. Por isso podem estar certos da veracidade do que lhes estou
transmitindo. O Céu e o Inferno pregados por Buda, e o Paraíso, Purgatório e
Inferno da "Divina Comédia" de Dante Alighieri (1265-1321), tenho certeza,
não são fantasias.
Pode-se mais ou menos deduzir para que plano vai o espírito
observando-se a face do morto. Os que não apresentam expressão de
sofrimento e cuja pele permanece corada e fresca, como se ainda estivessem
vivos, vão para o Plano Superior; aqueles cuja expressão é triste e sombria, e
cuja pele se apresenta pálida, sem sangue, ou azul-amarelada, como ocorre
com a maioria, vão para o Plano Intermediário; os que ficam com uma
expressão de profunda agonia e com a pele escura ou preto-azulada, vão,
logicamente, para o Plano Inferior.
Estas explanações têm por objetivo dar-lhes conhecimentos básicos
sobre o Mundo Espiritual, mas em outras oportunidades voltarei a falar sobre
diversos fenômenos espirituais constatados através de minha própria
experiência.
25 de agosto de 1949

CONSTITUIÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL


Como explanei em outras oportunidades, o Mundo Espiritual está
constituído dos planos Superior, Intermediário e Inferior, cada um formado de
três níveis, perfazendo um total de nove. A diferença entre eles é determinada
por dois fatores: a luz e o calor.
No nível mais alto do Plano Superior, a luz e o calor são extremamente
intensos; o nível mais baixo do Plano Inferior caracteriza-se pela ausência
desses elementos; o Plano Intermediário situa-se entre os dois,
correspondendo ao Mundo Material. Neste mundo existem pessoas felizes e
pessoas infelizes; isso equivale a estarem respectivamente nos Planos
Superior e Inferior.
Como no nível mais alto do Plano Superior a luz e o calor são muito
fortes, seus habitantes vivem quase nus. Poderão ter uma idéia disso
lembrando que, nas estatuetas búdicas, Nyorai e Bossatsu são representados
no estado de seminudez. À medida que se desce para o Segundo Céu, Terceiro
Céu, etc., a luz e o calor diminuem. Se um espírito fosse repentinamente
elevado do Plano Inferior para o Superior, seria ofuscado pela luz intensa e
não suportaria o calor; preferiria, então, retornar ao Plano Inferior. Isso é
idêntico ao que acontece no Mundo Material: uma pessoa de baixa categoria
elevada a uma posição alta sem ter merecimento, tem mais sofrimentos do
que satisfação.
No Plano Superior, a divindade mais alta e mais sagrada é Deus. Toda
organização religiosa tem uma divindade padroeira e também um fundador.
Exemplifiquemos com o xintoísmo: na seita "Taisha-Kyo", o padroeiro é
Okuninushi no Mikoto; na seita "Ontake-Kyo", é Kunitokotati no Mikoto; na seita
"Tenri-Kyo", é Tohashira no Kami. O budismo também serve como e-xemplo: na
seita "Shinshu" é Amida Nyorai; na seita "Zen-Shu" é Daruma Daishi; na seita
"Tendai" é Kanzeon Bossatsu; etc. Os fundadores de seitas, como Kobo,
Shinram, Nitiren, Honen e outros, situam-se na classe de líderes de cada
comunidade. Assim, ao entrarem no Mundo Espiritual, os espíritos das pessoas
que tinham religião durante a vida terrena ligam-se à organização a que elas
114
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

pertenciam, e não se pode calcular o quanto são mais felizes que os espíritos
dos descrentes. Estes, não tendo uma organização à qual filiar-se, ficam
perdidos, extremamente confusos, vagando pelo Mundo Espiritual.
Desde épocas remotas fala-se sobre "espíritos errantes", porque tais
espíritos ficam perambulando pelo Plano Intermediário. Uma vez passando
para o Mundo Espiritual, aqueles que não reconhecem a sua existência e não
crêem na vida após a morte, não podem se fixar em nenhum lugar, ficando
privados de inteligência e juízo durante certo tempo. Como exemplo, citarei
um caso ocorrido há alguns anos.
Numa reunião de pessoas que pesquisavam fenômenos espirituais, o
espírito de um homem muito famoso manifestou-se, através de um médium.
Chamaram, então, a esposa do falecido, a qual, pela maneira como o espírito
falava e agia, confirmou que realmente se tratava do marido. Fizeram-lhe
muitas perguntas, mas as respostas não eram corretas nem lúcidas, apesar do
seu nível de cultura no Mundo Material. Isso acontecia porque aqui neste
mundo ele não acreditava na existência do Mundo Espiritual. Vemos, pois, que
é necessário o homem crer na existência do Mundo Espiritual e, assim,
preparar-se para a vida após a morte.
Mas será que existe realmente aquilo que chamo Plano Superior, mais
conhecido como Céu ou Paraíso? A maioria das pessoas pensa que não passa
de fantasia dos homens de eras passadas, porém eu estou absolutamente
convicto de que ele é uma realidade.
Há uma estória nesse sentido. Faz muito tempo, um sacerdote budista
de alta categoria e um catedrático discutiam sobre a existência do Inferno e
do Paraíso após a morte. Ao final da discussão, o sacerdote concluiu que eles
existem, e o catedrático, que não existem. Enfim, alegando que para ter
certeza não havia outro meio senão morrer, o religioso sugeriu que ambos se
matassem, e em vista disso o catedrático se rendeu.
O assunto não é para brincadeira, mas, embora o sacerdote budista
estivesse com a verdade, se pudermos conhecer o Mundo Espiritual sem
recorrer a esse extremo, será muito melhor, não é mesmo?
Citarei alguns fenômenos que pude comprovar através das minhas
próprias experiências.
Uma senhora de trinta anos, esposa do diretor de uma empresa,
solicitou a minha ajuda por estar gravemente enferma. Como já tinha sido
desenganada pelo médico, seus familiares me suplicaram que a salvasse.
Ela residia a cerca de quarenta quilômetros de distância, razão pela qual
não me era possível visitá-la com a freqüência que o caso requeria. Por isso,
trouxemo-la imediatamente para a minha casa. Pensando na possibilidade de
acontecer o pior durante a viagem, o marido também veio com ela no carro.
Eu, ao mesmo tempo em que a segurava com uma das mãos, ministrava-lhe
Johrei com a outra.
Chegamos sem que houvesse acontecido nada daquilo que nos estava
preocupando, mas, pela madrugada, fui tirado da cama pelo acompanhante da
doente. Fui vê-la imediatamente. Segurando minha mão com força, ela me
disse: "Sinto que algo vai sair de mim e estou com muito medo. Deixe-me
segurar sua mão. Tenho o pressentimento de que vou morrer hoje. Chame
meus familiares com urgência".

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Telefonei-lhes incontinenti, e, quando eles chegaram, acompanhados do


médico da firma onde o marido da senhora trabalhava, já tinha decorrido uma
ou duas horas. A essa altura, ela estava em coma e com o pulso bastante
fraco. O médico examinou-a e disse que era questão de horas.
À noite, rodeada pelos familiares, a enferma continuava em estado de
coma. De repente, mais ou menos às vinte horas, abriu os olhos e começou a
olhar à sua volta, como se não estivesse entendendo nada. Por fim explicou:
"Fui para um local muito bonito, tão maravilhoso que nem sei como descrevê-
lo. Era um jardim todo florido, onde estavam muitas pessoas de rara beleza, e
lá no fundo divisei um senhor de ares nobres, semelhante à figura de Kanzeon
Bossatsu que se vê em pinturas sacras. Ele olhou na minha direção e sorriu.
Fiquei tão grata, que me prostrei no chão, mas logo recobrei os sentidos.
Agora estou me sentindo muito bem, como não acontecia desde que adoeci".
No dia seguinte, ela não tinha mais nenhum sofrimento; estava salva,
embora continuasse fraca. Após um mês mais ou menos, recuperou
completamente a saúde. Esse exemplo nos mostra que o espírito daquela
senhora se separou do corpo por alguns instantes e foi para o Céu, sendo
purificado dos seus pecados por Kanzeon Bossatsu.
Outro exemplo.
Uma jovem de aproximadamente vinte anos foi curada de tuberculose
pulmonar em estado gravíssimo, mas, depois de aproximadamente um ano,
teve uma recaída e faleceu. Essa jovem tinha um irmão mais velho, vadio e
viciado em bebida. Um dia, dois ou três meses depois que ela morreu, estando
sentado no seu quarto, ele notou uma espécie de fumaça ou neblina roxa a
uns dois metros à sua frente, no alto. Essa nuvem começou a descer
devagarinho, e acima dela, de pé, ele viu sua falecida irmã. Olhando bem,
notou que ela estava muito mais bonita do que quando era viva; vestia-se
elegantemente e irradiava uma nobreza divinal. Ela, então, lhe disse
carinhosamente: "Vim para aconselhá-lo a abandonar a bebida. Pense no bem
da nossa família e no seu próprio e deixe o álcool". Dizendo isso, subiu
novamente na nuvem e começou a elevar-se até desaparecer.
Decorridos alguns dias, aconteceu a mesma coisa, e o fato tornou a se
repetir pouco tempo depois. Na terceira vez, surgiu diante do rapaz uma bela
ponte curva, toda pintada de vermelho, e a irmã, descendo da nuvem,
atravessou essa ponte e lhe disse: "É a terceira vez que venho. A partir de
hoje não terei mais permissão para vir. Esta é a última vez". Depois disso, o
fato não se repetiu. Através desse caso, vemos que é possível ter "visões"
temporariamente.
Mais um exemplo.
Um rapaz de vinte e poucos anos sofria de uma doença que poderíamos
classificar de psíquica. Nessa época, ele estava loucamente apaixonado por
uma mulher que trabalhava num bar noturno, e os dois iam suicidar-se juntos.
Entretanto, a um passo da tragédia, tive a grata felicidade de salvá-los, pois
encontrei, no bolso do rapaz, o veneno que ambos iam tomar.
Levando o casal para minha casa, examinei-os espiritualmente. Segundo
constatei pelas palavras do próprio rapaz, um espírito de raposa encostara
nele para levá-lo ao suicídio. Nuns vinte minutos terminei o exame, não sem
antes ter advertido aquele espírito. O jovem, no entanto, continuava na
postura anterior, de olhos cerrados e com as palmas das mãos unidas à altura
116
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

do peito. Virando-se para a esquerda, inclinou a cabeça como se não


compreendesse algo. Passados uns três ou quatro minutos, abriu os olhos, mas
continuou de cabeça inclinada. Disse então: "Vi uma coisa bastante estranha.
Alguém ao meu lado estava tocando "koto" 1, e o som desse instrumento era
extraordinariamente belo e nobre. Embevecido, eu olhava à minha volta e
notei que estava num lugar que me pareceu o interior de um santuário muito
espaçoso. No fundo havia uma escada que levava a uma sala toda acortinada.
Aí, o senhor, vestido com trajes litúrgicos, subiu a escada suavemente e
entrou na sala".
Ouvindo isso, eu comentei: "Se você viu a pessoa de costas, não podia
ter reconhecido quem era". Mas ele confirmou: "Tenho a certeza de que era o
senhor". E descreveu a indumentária que, segundo disse, era constituída de
chapéu, blusa azul e calça vermelha. Ele pôde "ver" isso porque,
momentaneamente, teve a faculdade de visão espiritual. Esse rapaz era
empregado de uma loja e não professava nenhuma Fé, não tinha nenhum
conhecimento sobre assuntos espirituais; portanto, creio que o seu relato
merece ainda mais confiança. Ressalta-se que à esquerda do lugar onde ele
estava sentado ficava o Altar.
Os três exemplos citados poderão servir de ilustração para o
conhecimento do interior e do exterior da morada celeste, e também para
comprovação da descida de seus habitantes.
Em seguida, escreverei sobre as condições do Paraíso Búdico.
Uma moça virgem, de dezoito anos, serviu de médium, incorporando o
espírito de um de seus ancestrais, um samurai que falecera numa batalha
travada há mais de duzentos anos. Fora ardoroso adepto do budismo e pouco
depois de falecido entrou na seita fundada por Kobo Daishi. Em resposta às
minhas perguntas, ele disse:
"Quando eu cheguei aqui, havia uns quinhentos ou seiscentos espíritos,
mas, ano após ano, reencarnavam mais espíritos do que entravam, de modo
que agora só existem mais ou menos cem.
Moramos numa casa grande, mas não há serviço propriamente dito, e
passamos as horas divertindo-nos: tocamos "koto", "shamissen" 2, flauta,
tambor e outros instrumentos musicais; pintamos, esculpimos, lemos,
escrevemos, jogamos xadrez, cartas, etc., ou divertimo-nos de outras
maneiras que também existem no Mundo Material. De vez em quando há
palestras feitas pelo próprio Kobo Daishi e por outros espíritos, e isso constitui
a maior das alegrias para nós. Às vezes Kobo Daishi encontra-se com Buda,
mas este, segundo ele diz, está num nível acima do Paraíso, onde a luz é
muito intensa; quase não se pode olhar para cima, de tão ofuscante que ela é.
Fora da casa, há um grande lago em cuja superfície bóiam inúmeras
"hassu no ha" (folhas semelhantes à vitória-régia do Rio Amazonas), tão
grandes que nelas cabem duas pessoas. A maioria é ocupada por casais, que
nem precisam remar para se dirigir ao local aonde desejam ir. Não há noite; é
sempre dia, e a claridade é um pouco inferior à do dia claro. O sol é
semelhante ao do Mundo Material, e seus raios luminosos, purpurinos e
suaves, provocam uma sensação agradável".

1
"Koto": instrumento musical de corda, tipicamente japonês
2
"Shamissen": instrumento musical com três cordas, parecido com o banjo
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Em muitas oportunidades ouvi os espíritos que habitam o Paraíso Búdico


dizer que se sentem entediados quando já se encontram ali há muito tempo.
Como estão sempre se divertindo, acabam perdendo o interesse e por isso
manifestam o desejo de serem transferidos do Mundo Búdico para o Mundo
Divino. Não foram poucos os espíritos que transferi para este último,
atendendo a seus pedidos. Tal desejo é motivado pelo fato de saberem que o
Mundo Divino entrou recentemente numa fase de grande atividade e que
todas as divindades e espíritos estão extremamente atarefados. Não preciso
dizer que isso se deve à aproximação da Era do Dia, que é regida por Deus, ao
passo que a da Noite era regida por Buda.
Passemos, agora, ao Plano Inferior.
O mais baixo dos três níveis que constituem o Plano Inferior é chamado
pelos xintoístas "Nezoko no Kuni" (Reino do Fundo da Raiz); os budistas o
chamam de "Gokukan Jigoku" (Inferno de Frio Extremo),e no Ocidente dão-lhe
o nome de Inferno. Mas, seja qual for a designação, é um local completamente
escuro e gelado. O espírito que cair aí, fica sem enxergar nada durante
dezenas ou centenas de anos; petrificado pelo frio intenso, não pode se mover
nem um centímetro. Sua situação é tão lastimável, que não encontro adjetivos
para descrevê-la. O que eu ouvi de um espírito salvo desse local fez-me
arrepiar os cabelos. O gélido Inferno retratado por Dante Alighieri na "Divina
Comédia" não é absolutamente nenhuma fantasia.
O nível médio do Plano Inferior é o local onde existe carnificina, desejo
carnal animalesco, fome, monte de agulhas, lagoa de sangue, poço de
serpentes, sala das abelhas e das formigas e outras coisas de que se costuma
falar. Os demônios encarregados da vigilância assemelham-se àqueles que
vemos nos desenhos, pintados de verde ou vermelho.
Um dos castigos do Inferno consiste em açoitar os espíritos com barras
de ferros cheias de espinhos. Segundo eles relatam, a dor é muito maior do
que se fosse no corpo carnal, porque, sem a proteção deste, a parte espiritual
correspondente aos nervos é atingida diretamente.
Darei mais alguns exemplos de sofrimentos infernais.
Monte de agulhas, a própria expressão já está dizendo o que é: os
espíritos são obrigados a andar descalços em cima de agulhas, e a dor que
sentem é algo indescritível.
A lagoa de sangue é o lugar para onde vão obrigatoriamente os espíritos
das pessoas cuja morte foi motivada por gravidez ou parto. Pelo que ouvi de
muitos espíritos, eles ficam submersos até o pescoço nessa lagoa, o ar está
impregnado do cheiro de sangue, e continuamente uma infinidade de insetos
e vermes sobem até o seu rosto, provocando uma sensação tão horrível que
eles se vêem incessantemente obrigados a tirá-los com a mão. Esse
sofrimento geralmente dura mais ou menos trinta anos.
Quanto à sala de abelhas, foi descrita pelo espírito de uma gueixa que
incorporou no empregado de um salão de beleza. Os espíritos são colocados
dentro de uma caixa onde mal cabe uma pessoa, e inúmeras abelhas picam
todo o seu corpo, causando-lhes um sofrimento espantoso.
O castigo do fogo é infligido àqueles que morreram queimados ou se
atiraram na cratera de um vulcão ativo. Vou relatar um caso sobre esse
castigo.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Um homem de meia-idade sofria de epilepsia causada por fogo. Ele


conta que, à noite, deitava-se na cama e adormecia, mas à meia-noite
despertava. Então, a uns dez metros de distância, enxergava labaredas que
cada vez se tornavam mais próximas. Quando chegavam bem perto, ele tinha
um espasmo e ficava com uma febre altíssima. Sentia todo o corpo queimar e
entrava em transe. Isso havia começado no ano seguinte ao Grande
Terremoto, razão pela qual se pode concluir que, em outra vida, ele morrera
carbonizado por ocasião de um terremoto.
Relações carnais impuras entre homem e mulher fazem com que os
espíritos caiam no Inferno, mas a situação varia de acordo com a gravidade do
caso. Por exemplo: quando eles se suicidam por amor, os espíritos de ambos
ficam ligados e não podem se separar. Isso é causado pelo desejo que tiveram
de permanecer sempre juntos. Os que se suicidam abraçados ficam grudados,
sentindo uma vergonha tão grande, que se arrependem seriamente. Às vezes
lemos nos jornais a notícia do nascimento de gêmeos ligados por uma parte
do corpo; geralmente se trata da reencarnação de um casal que se suicidou
por amor. Em casos de amor abomináveis - por exemplo, entre pais e filhos,
entre irmãos, entre alunos e professores, etc. - os espíritos também ficam
grudados, mas, enquanto um permanece de pé, o outro fica de cabeça para
baixo. O incômodo e a vergonha a que os espíritos se expõem levam-nos a um
profundo arrependimento.
Diante de tudo isso, poderão entender o equívoco daqueles que, por
causa de um amor impossível, recorrem ao suicídio acreditando poderem
alcançar a felicidade no Céu. Pode-se, também, compreender claramente a
justiça reinante no Mundo Espiritual.
É preciso saber ainda o que acontece com os que são avarentos no
Mundo Material, apesar de possuírem muito dinheiro. Trata-se de pessoas
materialmente ricas, mas espiritualmente pobres. Passando para o Mundo
Espiritual, ficam numa situação de penúria e reconhecem seu erro. Outros,
porém, no Mundo Material, têm um nível de vida inferior ao da classe média,
mas se contentam com o que têm, vivendo a vida cotidiana cheios de gratidão
e empregando suas economias em obras que visam à salvação da
humanidade. Ao entrarem no Mundo Espiritual, tornam-se ricos e vivem muito
felizes.
Mas existe outra causa para o empobrecimento dos milionários. Há
pessoas que não desembolsam o dinheiro que deveriam desembolsar ou não
pagam o que deveriam pagar, e isso constitui uma espécie de roubo;
espiritualmente, estão acumulando dinheiro furtado, a que se acrescentam
juros. O resultado é que os bens vão se esgotando, e, pela Lei do Espírito
Precede a Matéria, um dia essas pessoas acabam perdendo tudo o que têm.
Muitas vezes vemos o herdeiro de um novo-rico esbanjar toda a fortuna da
família por incapacidade ou imoralidade, mas, conhecendo o princípio acima
referido, poderão compreender por que isso acontece.
Falemos agora sobre o nível mais alto do Plano Inferior.
É o local para onde vão os espíritos que estão prestes a alcançar o Plano
Intermediário, após terem sofrido os castigos infernais. Por conseguinte, os
trabalhos a que estão submetidos são de natureza leve, como, por exemplo,
servir os alimentos oferecidos nas Moradas dos Ancestrais, consagrados nas
casas dos seus descendentes, levar mensagens, dar assistência a outros
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

espíritos, etc. A propósito, convém saber algo a respeito dos alimentos


ofertados aos espíritos.
Embora desencarnado, o espírito sente fome se não se alimentar. Mas
em que consiste esse alimento? O espírito serve-se do espírito dos alimentos;
entretanto, ao contrário do que acontece no Mundo Material, ele se satisfaz
com pouca quantidade de comida. Sua alimentação diária consta de uns três
grãos de arroz. Portanto, a comida comumente ofertada nos lares dá para um
grande número de espíritos e ainda sobra muito. As sobras são dadas àqueles
que se encontram na camada dos famintos. Graças a isso, os espíritos ligados
a essa família elevam-se mais rapidamente.
Sempre que possível devemos oferecer alimentos aos antepassados,
pois, levados pela fome, eles podem se ver forçados a roubar para comer, e,
conseqüentemente, cair no Inferno ou encostar em animais, como cão ou
gato. Quando o branco se mistura com o vermelho, fica vermelho, e o mesmo
acontece quando o espírito humano encosta em animais: vai se degradando
progressivamente até que se animaliza. Quando ocorre a reencarnação de um
espírito híbrido de homem e animal, o corpo toma a forma desse animal.
Existem cavalos, cães, gatos, raposas, texugos e serpentes que entendem o
que os homens dizem: trata-se da reencarnação de espíritos híbridos. Sob
forma animal, eles são obrigados a um certo grau de aprimoramento,
terminado o qual, voltam a nascer sob forma humana.
Há ocasiões em que, após matarem cobras, gatos, etc., as pessoas são
perseguidas por grandes sofrimentos. Muitos os atribuem àquele ato, e na
maioria das vezes têm razão. Tratando-se de espírito humano sob forma de
animal, ele se vinga; se não for o caso, isso não acontece. Na casa de famílias
tradicionais, às vezes existe uma cobra de cor verde chamada comumente de
"Aodaisho". Nela está reencarnado o espírito híbrido de um ancestral e de uma
cobra, o qual está protegendo seus descendentes. Se estes a matarem, ela se
zangará e fará sérias advertências. Caso não se dê atenção a essas
advertências, poderá ocorrer a morte de um dos descendentes ou chegar-se
ao extremo de ver extinta a família, razão pela qual se deve tomar muito
cuidado. O mesmo pode acontecer quando se destrói o "Inari" 3 ou quando se
deixa de realizar cerimônias que nele vêm sendo realizadas há muito tempo.
Citei vários exemplos, e entre os leitores provavelmente há alguém que
conhece ou ouviu falar de casos que se enquadram dentro daquilo que acabo
de explicar.
Vou contar uma das experiências que tive.
Uma vez fui ministrar Johrei numa casa onde havia um cão de grande
porte. O dono da casa esclareceu: "Esse cão não é normal. Nunca sai para a
rua, vive a maior parte do tempo dentro de casa e só se senta em almofada de
seda. Se uma pessoa da família o chama, ele atende, mas o mesmo não
acontece se for um empregado. Em relação à comida também é cheio de luxo,
e jamais come coisas vulgares. Entende perfeitamente o que lhe falam e não
gosta de ficar na cozinha nem nas salas e cômodos inferiores; em tudo, enfim,
é idêntico a um ser humano". Então eu dei a seguinte explicação: "Esse cão é
um ancestral seu que se degradou ao nível de vida dos irracionais,

3
"Inari": Numa crença popular japonesa, capelinha onde se cultua o espírito de
raposa.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

reencarnando em forma de cão. Pela afinidade espiritual, foi parar na sua


casa. Por isso ele faz questão de que lhe dispensem o tratamento devido a um
ancestral". O dono da casa entendeu a explicação e ficou satisfeito.
O caso seguinte, também verídico, foi vivido por um dos meus
discípulos. Eis o que ele contou:
"Há uns vinte e cinco anos, tendo tomado conhecimento de que uma
senhora de meia-idade, residente em Yokohama (principal porto do Japão),
estava sofrendo uma tortura incomum, fiquei muito curioso e fui visitá-la. Ela
usava um pano branco em volta do pescoço, e qual não foi a minha surpresa
quando ela o tirou: havia uma cobra enroscada em seu pescoço! Essa cobra
entendia o que lhe falávamos, e na hora das refeições a referida senhora
pedia permissão para se alimentar, dizendo que limitaria a comida a uma ou
duas tigelas. Nesse caso, a cobra afrouxava a pressão, mas, quando o limite
prometido era ultrapassado, pressionava novamente e não a deixava comer
de forma alguma. Foi a própria senhora que me contou por que aquilo
acontecia.
Pouco depois do seu casamento, a sogra adoeceu, e ela não lhe dava
comida, para que morresse logo. De fato a sogra acabou falecendo, mais por
falta de alimento do que pela própria doença. Por esse motivo, seu espírito foi
tomado de grande ódio e, para vingar-se, reencarnara sob forma de cobra e
torturava a nora daquela maneira. Assim, esta queria alertar as pessoas o
mais possível sobre a temeridade daquele pecado, a fim de redimir-se um
pouco que fosse".
A respeito do trabalho dos animais, há um pensamento errado. O erro
consiste em colocá-los no mesmo nível do ser humano. Os trabalhos que deles
são exigidos, podem parecer muito cruéis do ponto de vista humano, mas não
tanto como se está pensando. Bois e cavalos, por exemplo, até desejam ser
maltratados, por isso caminham devagar, propositalmente, desejando ser
chicoteados. Não correm por causa da dor, mas para saborear o prazer do
açoite. Entre os homens, existe uma anomalia sexual conhecida como
sadismo, em que as pessoas atingem o orgasmo maltratando o corpo do
outro. Isso é motivado pelo encosto do espírito de animais como bois e
cavalos. Sendo assim, é muito bom defender os animais, mas antes
deveríamos pensar em defender os homens que são tratados
desumanamente.
Para finalizar, acrescento uma explicação sobre a Moradia dos Ancestrais
do Lar, do tipo budista. Seu interior representa o Paraíso, e para ali são
convidados os ancestrais. No Paraíso, a comida e a bebida são fartas, há todos
os tipos de flor, cujo perfume impregna o ar, e soam as músicas mais belas e
suaves, de modo que se deve copiar tudo isso, oferecendo aos ancestrais
alimentos, flores e incenso. Mesmo nos templos, o bater do bloco de madeira
ou de pratos de metal, o toque de flautas, etc., têm efeito de música. O bater
do sino na ocasião em que se oferece a comida, serve de chamada para os
espíritos.
5 de fevereiro de 1947

ATUAÇÃO DO MAL

ATUAÇÃO DOS DEMÔNIOS


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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

O Universo inteiro movimenta-se pela Lei do Espírito Precede a Matéria.


Todos os fenômenos surgem primeiramente no Mundo Espiritual e depois são
projetados no Mundo Material em maior ou menor tempo, dependendo da
grandeza do fenômeno. A projeção pode ocorrer em alguns dias ou após
alguns anos. Entretanto, esse tempo será abreviado à medida que for se
aproximando a Era do Dia, o que de fato está acontecendo. Isso, contudo, não
é nada em comparação ao Mundo Espiritual, que, atualmente, acha-se numa
situação confusa como nunca esteve. A rapidez com que ocorrem as
transformações, por sua vez, também evidenciam claramente o Final dos
Tempos.

Intensificação das atividades dos demônios


Hoje em dia, o que mais se pode observar é a atuação desesperada dos
demônios. Eles exerceram grande influência durante milhares de anos, e à
medida que se aproximam seus derradeiros momentos estão se debatendo
desesperadamente.
Entre os espíritos satânicos existem chefes; quem está atuando mais,
agora, é o dragão vermelho e o dragão preto, e sua família chega a somar
quase um bilhão de componentes. Entre eles também há classes - superior,
média e inferior - e as tarefas são determinadas de acordo com elas. Os
demônios se esforçam bastante para executar fielmente os trabalhos que lhes
são ordenados, pois se sentem estimulados ante a possibilidade de subir de
classe e receber prêmios, conforme seu mérito.
De sua sede, o chefe emite ordens que são transmitidas ao Espírito
Secundário do homem, através dos elos espirituais. Nesse caso, atuam os
demônios que correspondem à posição ou classe das pessoas aqui neste
mundo, e sua missão é encaminhar o homem cada vez mais para o mal,
utilizando-se de todos os meios.
É lamentável, mas isso se manifesta claramente na sociedade. Os
métodos são de fato extremamente hábeis e cruéis. Por exemplo: os demônios
fazem os homens de nível baixo cometer crimes perversos, como
assassinatos, assaltos ou violências; se a pessoa está num nível mais elevado,
induzem-na à fraude, à falsificação de dinheiro, de títulos, de obras de arte,
etc. Fazem, também, com que o homem se divirta ludibriando mulheres e
mocinhas por meio de palavras hábeis, praticando adultério e outras ações
condenáveis. Quando a pessoa está acima desse nível, vê-se induzida à
prática de crimes astuciosos, embora aparente ser pessoa de bem: usurpar a
fortuna alheia, ganhar dinheiro enganando o próximo, subornar, sonegar,
esconder produtos, negociar no mercado negro e outros atos escusos. Também
é hábito desses demônios levar os homens a embriagar mulheres a fim de
abusar delas.
Todos esses casos representam infração da lei; se as pessoas forem
descobertas, serão consideradas criminosas. Contudo, há ocasiões em que
elas são induzidas a praticar ações que parecem boas, mas que em verdade
não o são. Isso ocorre mais freqüentemente entre as pessoas de nível médio
para cima, e, como nesses níveis existe um grande número de intelectuais, é
preciso muito cuidado. Para inspirar confiança, eles sempre defendem teses
orais ou escritas que à vista de qualquer um parecem corretas, mas
secretamente fazem o contrário do que pregam. Tratando-se de indivíduos
122
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

demasiadamente hábeis, todos confiam neles, e por essa razão torna-se difícil
avaliar a justeza do que dizem. Isso acontece muito entre os políticos, entre os
homens renomados, que gostam de polêmicas, e também entre aqueles que
têm certa posição social, de modo que é necessário estar sempre prevenido.

O bem, do ponto de vista de Deus


Não há nada pior do que alguém se dedicar devotadamente a uma
causa que acredita ser justa e os resultados mostrarem exatamente o
contrário. As pessoas envolvidas nos incidentes de 15-05-32 e 26-02-36
incluem-se nesse caso, assim como aquelas que, por ocasião da Segunda
Guerra Mundial, cometeram atos pelos quais foram julgadas criminosas de
guerra e executadas há pouco tempo.
Eis um crime que geralmente passa despercebido: uma pessoa devotar-
se à prática de uma teoria, julgando-a maravilhosa, e, na realidade, estar
causando desgraça aos seus semelhantes. Tais criaturas são dignas de pena,
porque, com o cérebro bitolado pela Ciência, não têm possibilidade de
compreender que são manipuladas pelo demônio.
Entretanto, existem pessoas de nível superior, como fundadores de
religiões, grandes cientistas que descobriram novas teorias, pensadores
renomados, etc., que estão acima da natureza humana e por isso,
freqüentemente, tornam-se ídolos, sendo venerados e respeitados durante
muitos séculos após sua morte. Evidentemente, não têm nenhuma parcela de
maus pensamentos, nenhuma partícula de egoísmo, e entregam sua vida a
uma causa; são dignos de admiração. Todavia, mesmo nessas realizações há
pontos que beneficiaram a humanidade e pontos que lhe causaram danos. Por
isso mesmo não são poucos os casos em que é impossível determinar méritos
e deméritos. Torna-se desnecessário dizer que tais pessoas não têm nenhuma
relação com o demônio, mas pode acontecer que suas obras sejam úteis até
certa época e depois venham a ser prejudiciais. Entre os cientistas e os
religiosos isso ocorre com freqüência. É comum chegar ao nosso conhecimento
o caso de religiões que eram magníficas na época de sua fundação, mas que,
com o tempo, acabaram relaxando, nelas surgindo conflitos e corrupção, de
modo que se tornaram nocivas. Idêntico é o que acontece com certas teorias e
teses: algo que na ocasião de sua descoberta era de grande importância para
o mundo, muitas vezes, com o passar dos anos, pode vir a ser prejudicial.
Em suma, tudo faz parte do Plano de Deus, e para o progresso da cultura
lutam o bem e o mal, intercalam-se o claro e o escuro, o belo e o feio. Assim,
aproximamo-nos passo a passo do Ideal, que é o profundo Propósito Divino,
insondável pela inteligência humana.
25 de dezembro de 1950

DERROTA DO DEMÔNIO
Assim como Cristo foi tentado por Satanás e Buda foi atormentado por
seu primo Daiba, no caso da nossa Igreja, Satanás e Daiba também nos
espreitam insistentemente. O interessante é que, com o passar do tempo, os
demônios estão cada vez mais desesperados; atualmente, eles agem com
vigor e força leonina. Todos poderão comprovar a veracidade das minhas
palavras através dos fatos que nos últimos tempos estão sendo
freqüentemente publicados pelos jornais. Por isso pode-se imaginar que a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

derrota do demônio está iminente, o que significa que estamos atravessando a


véspera do "Fim do Mundo" profetizado por Cristo.
Falando-se em demônio, tem-se a impressão de que seja um só. Na
verdade, existem vários, de grande, médio e pequeno poder. Quanto mais
máculas o ser humano tiver, mais livremente será manipulado por eles,
através de elos espirituais maléficos. Dessa forma, inconscientemente, o
homem tomará atitudes que se opõem a Deus. Como os demônios vêm agindo
à vontade há milhares de anos, continuam com sua maldade e pensam que
nada mudou, porque desconhecem a transição do Mundo Espiritual.
Entretanto, como essa transição está se processando, é com razão que eles
estão confusos e ainda não despertaram.
À medida que o Mundo Espiritual vai clareando, a luz vai se tornando
mais intensa. Quer dizer que está chegando a época de terror para o demônio,
pois Luz é o que ele mais teme; diante dela, ele se encolhe e perde a força de
ação. É por isso que até nas experiências mediúnicas, se não apagarem a luz,
esses espíritos não podem atuar. Só ocorre o contrário quando se trata de um
espírito muito elevado. Por esse motivo, como os espíritos satânicos temem a
Luz que emana do Poder de Deus, fazem tudo para interromper-lhe o fluxo,
procurando criar obstáculos para nossa Igreja.
20 de novembro de 1949

RELIGIÃO E OBSTÁCULO
Desde a antigüidade, costuma-se dizer que os obstáculos são inerentes
à Religião. O maior deles, talvez, tenha sido aquele que foi imposto a Cristo.
Os obstáculos impostos a Buda por Daiba também são famosos. No Japão,
registram-se os de Honen, Shinran, Nitiren e outros, os quais são do
conhecimento de todos. Mais próximo de nossos dias, podemos citar as
pressões feitas às Igrejas Tenrikyo, Oomotokyo, Hito-no-Miti, etc. Nossa Igreja
também não constitui exceção; já foi pressionada inúmeras vezes, enchendo
as páginas dos jornais, onde ocupou o desagradável lugar de honra entre as
religiões novas. O interessante é que, quanto mais brilhante se anunciar o
futuro de uma religião e quanto mais alto for o seu valor, maiores serão os
obstáculos enfrentados por ela. Vou explicar por quê.
Pela Lei do Espírito Precede a Matéria, as divindades do Mundo
Espiritual, cumprindo as determinações de Deus, procedem à salvação da
humanidade através das religiões, de acordo com o tempo, o lugar e o povo. O
cristianismo, o budismo e o islamismo são os exemplos mais importantes.
Naturalmente, toda religião ensina o bem e tem como objetivo transformar o
mundo em paraíso. Isso é ótimo para os homens, mas, para os demônios, é
justamente o contrário, pois seu objetivo é criar homens maus, a fim de
construir uma sociedade infernal, repleta de angústias e sofrimentos. Para
atingir esse propósito, eles lutam incessantemente com as divindades. Essa é
a realidade do Mundo Espiritual, que se reflete no Mundo Material, e por isso
este é um mundo diabólico, como podemos constatar.
Para um pequeno bem, surge uma ação contrária praticada por um
demônio de pouca força; para um grande bem, surge a ação de um demônio
muito poderoso. Assim, a Igreja Messiânica Mundial vem enfrentando
contínuos obstáculos provocados pelos chefes do mundo satânico. Sendo ela a
mais elevada de todas as religiões que já existiram desde o começo da
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

História, aquele mundo está em pânico. Para mim, o fato não requer maiores
explicações, mas os messiânicos de todos os lugares podem comprová-lo, em
parte, através de encostos espirituais ou fenômenos semelhantes.
Atualmente, os demônios que atuam com mais força são o chefe dos dragões
vermelhos e o chefe dos dragões pretos; utilizando-se de seus seqüazes, eles
estão criando obstáculos em conjunto. Essa luta é travada de uma forma que
vai além da imaginação. Gostaria de escrever tudo a respeito, porém, como
não tenho a permissão de Deus, deixarei para uma próxima oportunidade,
quando tiver chegado o tempo certo. Entretanto, por mais que os chefes dos
demônios tentem nos atrapalhar, nós temos ao nosso lado o Supremo Deus, o
qual manifesta um poder absoluto; mesmo que estejamos perdendo a batalha
por uns instantes, ao final sairemos vencedores, não havendo, portanto,
motivo para preocupação. O sofrimento até lá será intenso, mas percebe-se
claramente que estamos crescendo de forma considerável, apesar dos
contínuos obstáculos.
Convém conhecer a característica dos demônios. Eles possuem uma
persistência assustadora e , ainda que falhem inúmeras vezes, não se
arrependem nem desistem de seus objetivos de maneira nenhuma. Tentam
atingi-los por estes e aqueles meios, insistentemente, utilizando-se de
artifícios que nem podemos imaginar. Não há adjetivos para definir sua
impiedade, barbárie e crueldade. No entanto, sendo esta a própria natureza
dos demônios, o que fazer? Os mais poderosos escolhem e encostam nas
pessoas que ocupam posições de destaque na sociedade, nos intelectuais e
nos jornalistas. Todo mundo ficaria aterrorizado se conhecesse a extensão
desta verdade.
Embora a luta entre Deus e esses terríveis demônios seja travada
incessantemente, não tomamos conhecimento dela, por se tratar de um fato
ocorrido no invisível Mundo Espiritual. É por esse motivo que o homem - o Rei
da Criação - é manejado como se fosse um boneco. Estando diretamente
relacionado com o assunto, entendo perfeitamente essa luta, mas creio que é
difícil alguém compreender o meu estado espiritual em relação a ela, pois à
vezes sinto medo, e às vezes acho graça e até me divirto.
A luta entre o bem e o mal, na Obra Divina, nunca foi tão intensa e
variada como atualmente. Ela constitui uma grande peça teatral formada de
verdades e falsidades, a qual só pode ser qualificada de misteriosa. Há,
porém, um fato muito importante a considerar: a grande transformação do
mundo. Na luta travada até hoje entre Deus e o demônio, quando Deus cedia
algum terreno, porque se estava na Era das Trevas, era necessário bastante
tempo para Ele reconquistar o que perdera; agora, como todos os fiéis sabem,
esse tempo está se encurtando consideravelmente. Encontramo-nos na
transição para o Mundo do Dia, e a força dos demônios está enfraquecendo
cada vez mais. Por essa razão, a rapidez com que vem se efetuando a
reconquista, em algumas ocasiões até nos traz vantagens, e a realidade nos
mostra isso.
Em maio do ano retrasado, recebemos um golpe que, por um momento,
parecia fatal à nossa organização. Pensamos até que jamais conseguiríamos
nos recuperar. Hoje, porém, passados apenas dois anos, o progresso da
construção dos protótipos do Paraíso Terrestre, em Hakone e Atami, e a
expansão da Fé são tão grandes como ninguém poderia imaginar. Essa é uma
125
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

prova de que o poder de Deus está sendo manifestado com maior intensidade
e de que estamos a um passo do advento do Mundo do Dia. Logo virá o tempo
em que a Igreja Messiânica Mundial será procurada pelo mundo inteiro.
Portanto, uma vez que ela desenvolve uma obra tão grandiosa para a salvação
da humanidade, acho até natural que enfrente obstáculos de grandes
dimensões.
3 de setembro de 1952

MANIFESTAÇÃO ESPIRITUAL

INCORPORAÇÃO
Desde épocas remotas são muito numerosos os casos de incorporação,
cujos tipos também variam bastante. Atualmente, as pessoas consideradas
intelectuais julgam que se trata de superstição; além de não darem atenção
ao fato, dão à palavra um sentido pejorativo. Entretanto, segundo meus
estudos, a incorporação não é absolutamente superstição, podendo ser de
espírito do bem ou de espírito do mal. O importante é distinguir exatamente
quando se trata de um caso ou de outro.
Há três tipos de incorporação: de divindades de nível elevado, médio ou
baixo; de espíritos de animais, que fingem ser divindades, e de espíritos de
seres humanos. No primeiro tipo, inclui-se, por exemplo, o espírito dos
fundadores de religiões, como a Sra. Miki Nakayama, da religião Tenri-Kyo, a
Sra. Naoko Deguti, da religião Omoto-Kyo, os fundadores das seitas Reimyo-
Kyo, Konko-Kyo, Kurozumi-Kyo e Hito no Miti, e, ainda, os iniciados Kobo,
Nitiren, Honen e En-no Gyodja, dos velhos tempos. No segundo tipo, situam-se
as incorporações observadas em muitas crenças vulgares, existentes em
grande número na sociedade, tais como "Inari Kudashi no Gyodja", "Iizuna-
Tsukai" e outras. O terceiro tipo, isto é, a incorporação de espíritos de seres
humanos, refere-se principalmente aos espíritos dos ancestrais e de parentes
mais próximos e recém-falecidos.
Se desenvolvêssemos a capacidade de discernir os tipos de incorporação
e soubéssemos dispensar-lhe as devidas cautelas e orientações, a
incorporação seria muito útil à sociedade humana. Mas deixo claro que, além
desse discernimento ser quase impossível, se o conhecimento sobre o assunto
for apenas superficial, as conseqüências poderão ser desastrosas.
Na Europa e na América, estão realizando ativas pesquisas de
Parapsicologia. Na Inglaterra e em vários outros países, já existe até Faculdade
de Estudos Parapsicológicos, e também estão se desenvolvendo pessoas de
alto potencial mediúnico. Como transmissoras de mensagens emitidas do
Mundo Espiritual, são dignas de nota as obras do americano Woodrow Wilson
(1856-1924) e de Sir Northcliffe (1868-1940), ex-editor do "The London Times".
Entretanto, em todos os lugares a situação é idêntica, e na verdade, mesmo
na Europa ou nos Estados Unidos, aqueles que se dedicam a esse tipo de
pesquisas estão sempre lutando contra o ceticismo das pessoas obstinadas,
intituladas intelectuais, e contra a descrença dos cientistas bitolados no
materialismo. Mas a vantagem é que, como naqueles países as leis não são
medievais, a pesquisa é livre. Se fizermos uma comparação, concluiremos que,
pela opressão do governo e pela descrença dos cientistas, até hoje,

126
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

lamentavelmente, ainda não foram realizadas pesquisas consideráveis no


Japão.
5 de fevereiro de 1947

INCORPORAÇÃO E ENCOSTO DE ESPÍRITO ENCARNADO


Falei a um universitário sobre espírito e fenômenos espirituais, mas ele
não se convencia. Como que me desafiando, disse: "Então veja se há algum
espírito incorporado em mim". Imediatamente procedi ao exame espiritual e,
não demorou muito, o rapaz entrou em transe e começou a falar com jeito de
mulher jovem. Havia incorporado o espírito de uma pessoa viva: o da
empregada de um bar noturno que dele se enamorara e com quem de vez em
quando ia passear. O espírito fez este pedido: "Faz tempo que ele não vem me
ver. Gostaria que lhe dissesse para vir, pois estou com muita saudade". Apesar
de o pedido ter sido feito por espírito de gente viva, fiquei constrangido ao ser
solicitado para transmitir o recado.
O universitário voltou a si sem compreender o que estava se passando,
e eu então lhe perguntei: "Como foi?" Ao que ele respondeu: "Não sei se entrei
em transe, não entendi nada". Quando lhe contei o que acontecera, espantou-
se e, envergonhado, coçando a cabeça embaraçado, teve de admitir a
existência do espírito.
Também fiz exame espiritual numa jovem gueixa que incorporou o
espírito do amante. Depois de lhe fazer várias perguntas, compreendi que se
tratava do espírito do proprietário de uma casa que vendia açúcar por
atacado. Ele disse o seguinte: "Combinei encontrar-me com esta gueixa hoje à
noite, mas, como surgiu um compromisso, peço-lhe o favor de dizer-lhe que só
posso encontrar-me com ela amanhã". Suas palavras e gestos eram de um
homem de quarenta a cinqüenta anos, não havia dúvida. Quando transmiti o
recado à jovem, ela se espantou. Disse que entrara em transe e não sabia
absolutamente o que falara, mas que realmente havia combinado aquele
encontro.
Certa vez, fui procurado por uma moça de mais ou menos vinte anos, a
qual me disse que lhe parecia ter sido acometida de hipocondria, e que estava
achando o mundo muito sem graça. Então eu lhe fiz várias perguntas,
dizendo, entre outras coisas, que não havia razão para uma pessoa de
aparência tão sadia estar assim, além do mais sendo tão bonita. Acrescentei
que devia haver um motivo especial. Finalmente, compreendi que a causa de
tudo era um rapaz da vizinhança, o qual se apaixonara por ela. "Ele tenta me
conquistar através de cartas e vários outros meios - disse a moça - mas eu não
gosto dele e já lhe disse não várias vezes; entretanto, ele fica sempre postado
perto da minha casa e, de medo, eu quase não saio". Então eu expliquei à
jovem que o espírito daquele rapaz estava encostado nela. Sabendo disso, ela
ficou tranqüila, pois compreendeu que não estava doente. A partir daí, foi
melhorando pouco a pouco e acabou por se recuperar completamente.
Se é difícil fazer uma pessoa compreender a existência de espírito
desencarnado, muito mais difícil ainda é fazê-la compreender encosto de
espírito encarnado. Todavia, trata-se de uma verdade indubitável, e eu
gostaria de que lessem conscientizados disso.
Ainda poderia citar vários exemplos, mas acho que esses três são
suficientes. Acrescento, porém, que o fato geralmente ocorre nas relações
127
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

amorosas entre homem e mulher. Quanto à hipocondria daquela moça, era


motivada pelo pessimismo do rapaz, gerado pelo amor não correspondido.
Esse estado refletia-se nela, através do elo espiritual. Como se pode concluir,
encosto de espírito encarnado significa o reflexo do pensamento de outra
pessoa. Quando, ao contrário do caso que citei, os dois se amam, os elos
espirituais de ambos se interrelacionam, produzindo uma sensação
extremamente agradável. Se a ligação se torna inseparável, é, em grande
parte, devido a essa sensação.
Encosto de espírito desencarnado provoca uma sensação de frio;
encosto de espírito encarnado, sensação de calor.
Tratando-se de espíritos encarnados como os dos casos citados, não há
grande problema, mas existem os que são terríveis. É o que ocorre, por
exemplo, no triângulo amoroso. Quando duas mulheres disputam um homem,
os ciúmes de ambas se materializam e lutam entre si. Em geral a esposa sai
vencedora, porque é natural o justo vencer; sua obstinação fará com que a
amante acabe se afastando, acometida por doença, falecendo ou arranjando
outro amante.
Se o espírito encarnado for de gente, a incorporação não é tão grave;
pior é quando se trata do espírito de "kudaguitsune". Desde a antigüidade,
quem pratica esse tipo de incorporação são ascetas aos quais se dá o nome de
"iizuna-tsukai". Eles aceitam todos os trabalhos que lhes pedem, como, por
exemplo, fazer vinganças. O "kudaguitsune" é um tipo de raposa pouco menor
que um melão e tem um pêlo branco e macio; seu espírito é muito obediente
ao homem e faz qualquer maldade que lhe ordenem. Desde tempos remotos
há muitos "iizuna-tsukai" na região sul, e aí se aconselha que ninguém se case
com eles, porque, se lhes desagradarem na menor coisa que seja, eles se
vingarão. Há, também, a incorporação do espírito encarnado de outros tipos
de raposa. Seu corpo permanece no "Inari" 4 ou nas matas, e só o seu espírito
atua.
25 de agosto de 1949

DOENÇA E ESPÍRITO

AS DIVERSAS EXPRESSÕES FACIAIS APÓS A MORTE


A morte pode ocorrer de muitas formas. Uns morrem de repente, por
hemorragia cerebral, apoplexia, ataque cardíaco, desastre, etc., e quem nada
conhece sobre o assunto diz que essas pessoas é que são felizes, porque não
passam pelas angústias nem pelas dores da doença. Entretanto, nada mais
errado; ninguém é mais infeliz do que elas. Como não estavam preparadas
para morrer, mesmo habitando o Mundo Espiritual não têm noção de que
faleceram e continuam pensando que estão vivas. Além do mais, como os elos
espirituais se mantêm após a morte, o espírito, através desses elos, tenta
encostar num parente consangüíneo. Geralmente encosta em criança ou em
pessoas fisicamente enfraquecidas, como senhoras anêmicas em
conseqüência de parto, visto que nelas o encosto se torna mais fácil.

4
"Inari": Numa crença popular japonesa, capelinha onde se cultua o espírito de
raposa.
128
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Essa é a causa da paralisia infantil autêntica, e também pode ser a


causa da epilepsia. É por isso que a paralisia infantil freqüentemente
apresenta sintomas semelhantes aos da hemorragia cerebral. A epilepsia
manifesta os sintomas dos instantes da morte. Por exemplo: quando a pessoa
espuma, é porque se trata da incorporação do espírito de alguém que morreu
afogado; se tem ataque ao ver fogo, trata-se da incorporação do espírito de
uma pessoa que morreu queimada. Há diversos outros casos em que se
manifestam condições relacionadas com morte antinatural. O sonambulismo
também tem a mesma causa, assim como muitas doenças de origem
espiritual.
Sobre mortes antinaturais, há um aspecto que convém conhecer.
Os espíritos daqueles que morreram assassinados, que se suicidaram,
etc., durante algum tempo não podem sair do local em que ocorreu a morte, e
são chamados de "espíritos presos à terra". Geralmente eles ficam
circunscritos a um espaço mais ou menos exíguo (de dez a cem metros) e, não
suportando a solidão, tentam atrair companheiros. Por essa razão, tornam-se
freqüentes as mortes nos locais onde aconteceram desastres, como estradas
de rodagem e de ferro, nos locais onde houve afogamentos, como lagos e rios,
ou onde alguém se enforcou.
Os "espíritos presos à terra" não podem desligar-se desses locais
durante cerca de trinta anos, mas, de acordo com a atenção e o carinho que
seus familiares lhes dispensam, oferecendo-lhes cultos para sua elevação,
esse tempo pode ser muito abreviado. Por isso, devem dispensar uma atenção
toda especial aos espíritos daqueles que não tiveram morte natural.
Todos os mortos, especialmente os suicidas, continuam no Mundo
Espiritual com as dores e as angústias do momento em que morreram. Os
suicidas se arrependem seriamente, porque o Mundo Espiritual é a
continuação do Mundo Material. Por essa razão, se a morte ocorre em meio a
sofrimentos, o espírito vai para o Plano Intermediário ou para o Plano Inferior,
mesmo que se trate de uma pessoa bondosa. Quem era solitário antes de
morrer, continua solitário no Mundo Espiritual; os que não tinham sorte,
continuam sem sorte.
Contudo, há casos particulares em que a situação no Mundo Espiritual
torna-se o oposto do que era no Mundo Material. É o que acontece, por
exemplo, com aqueles que enriqueceram à custa do sofrimento alheio. É,
também, o caso dos avarentos. Indo para o Mundo Espiritual, eles ficam
paupérrimos e se arrependem enormemente. Ao contrário, pessoas que no
Mundo Material gastaram grandes somas para o bem da humanidade,
acumulando méritos pelo altruísmo praticado, no Mundo Espiritual tornam-se
ricas e afortunadas. Criaturas que aparentavam uma dignidade que não
tinham, poucos meses ou um ano depois da passagem para o Mundo Espiritual
tomam uma aparência de acordo com seu verdadeiro caráter. Isso se justifica
porque o Mundo Espiritual é o mundo do pensamento, e aquilo que esconde o
pensamento, ou seja, o corpo carnal, já não existe. Os pensamentos malévolos
e indignos fazem com que o espírito tome um aspecto feio ou até horrível; já o
espírito daqueles que acumularam méritos pelo seu altruísmo, toma uma
aparência bondosa e agradável. Podem, pois, compreender a diferença entre o
Mundo Espiritual e o Mundo Material. Realmente, no Mundo Espiritual não há
parcialidade de forma alguma.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Anos atrás, havia entre meus subordinados um jovem chamado Yamada.


Um dia, ele me disse: "Peço licença para ir a Ossaka tratar de um assunto".
Sua expressão e seu comportamento não eram normais. Perguntei-lhe que
assunto ele tinha a tratar naquela cidade, mas suas respostas foram evasivas
e confusas. Decidi, então, examiná-lo espiritualmente. Nessa ocasião, eu
estava pesquisando os fenômenos espirituais com grande interesse.
Fiz com que o rapaz se sentasse e cerrasse as pálpebras. Quando iniciei
o exame espiritual, ele começou a se contorcer de dor. Manifestou-se, então,
um espírito que se identificou como sendo o de um amigo seu.
"Quando eu era empregado de uma firma de Ossaka - disse ele - fui
despedido por um dos diretores, que acreditou nas calúnias de certo indivíduo.
Fiquei num tal estado de inconformismo e desespero, que me matei, tomando
veneno. Pensava que, suicidando-me, estaria pondo fim na minha existência,
que voltaria ao nada, mas, ao invés disso, os sofrimentos dos instantes da
morte continuavam indefinidamente. Fiquei deveras surpreso e me arrependi
seriamente do que havia feito. Ao mesmo tempo, pensei em vingar-me do
diretor da firma, que fora o causador de tudo, e por isso encostei em Yamada,
para levá-lo a Ossaka, e, por suas mãos, assassinar aquele homem".
O espírito parecia estar padecendo intensamente e me suplicou que lhe
aliviasse o sofrimento. Então eu lhe fiz ver seus erros e lhe ministrei Johrei.
Imediatamente ele se sentiu aliviado e me agradeceu muitas e muitas vezes.
Prometendo desistir do seu intento, retirou-se.
Durante o tempo em que o espírito esteve incorporado em Yamada, este
ficou completamente inconsciente; depois, não se lembrava de nada do que
tinha falado. Quando retornou a si, contei-lhe o que se passara. Ele ficou
surpreso e, ao mesmo tempo, muito contente por se ver salvo de um grande
perigo.
Pelo exposto, devem compreender que, embora esteja enfrentando o
maior dos sofrimentos, o homem jamais deve cometer suicídio. Os casais que
se suicidam por amor estão completamente afastados da realidade. Muitos
pensam que, morrendo, vão para o Céu, onde deslizarão por um lago
tranqüilo, sentados numa folha de lótus, e viverão na maior felicidade. Isso é
um grande engano. Vou explicar com mais detalhes.
Quando um homem e uma mulher se suicidam abraçados, os espíritos
de ambos, ao entrarem no Mundo Espiritual, ficam grudados um ao outro sem
poder separar-se, sujeitos a grandes incômodos. Como essa situação
vergonhosa é vista pelos demais espíritos, não é pequeno o seu
arrependimento. Casais que se matam por amor, geralmente ficam colados
costa com costa, ou barriga com costa, etc., conforme o pensamento e a
atitude do momento da morte, e perdem toda a liberdade, o que torna tudo
mais difícil. Os espíritos daqueles que tiveram relações sexuais imorais e
abomináveis, como por exemplo o incesto, além de ficarem grudados, se um
fica de pé, o outro fica com a cabeça para baixo, de modo que a sua dor e
desconforto estão além da imaginação. Quando se trata de relações imorais
de eclesiásticos, professores e outras pessoas que devem dar exemplo às
demais, evidentemente a pena é mais pesada.
25 de agosto de 1949

DOENÇA E ESPÍRITO
130
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Conforme já expliquei pormenorizadamente, a doença é o aparecimento


e o transcurso do processo de purificação, mas convém saber que existem
muitas doenças de origem espiritual. Muito se tem falado sobre isso desde
tempos remotos, havendo mesmo certas religiões que afirmam que quase
todas as doenças têm origem espiritual. Através de pesquisas, entretanto, eu
soube que a doença pode ser decorrente de ação espiritual ou processo
purificador. Também descobri que entre os dois tipos há uma relação íntima e
inseparável, pois o encosto de espírito enfermo limita-se ao local maculado do
corpo espiritual. Portanto, se este, pela dissolução das máculas, ficar
purificado até certo grau, não só desaparecerá a doença do corpo material,
mas também será impossível o encosto do espírito enfermo, e a pessoa se
tornará saudável, física e espiritualmente.
5 de fevereiro de 1947

OS JAPONESES E AS DOENÇAS PSÍQUICAS


Atualmente, as pessoas vivem falando sobre degradação moral,
aumento de crimes, política deficiente, etc. Vou mostrar que tudo isso tem
profunda relação com a doença psíquica. Em primeiro lugar, explicarei a
verdadeira causa desse tipo de doença. Todos vão se surpreender, mas, como
se trata da própria Verdade, estou certo de que compreenderão, a menos que
se trate de um doente mental.
A verdadeira causa da doença psíquica é física e, ao mesmo tempo,
fenômeno de encosto. Para os homens da atualidade, que receberam uma
educação materialista, talvez seja um pouco difícil entender isso, o que é
plenamente justificável, pois lhes incutiram na mente que não se deve
acreditar naquilo que não se vê. Porém, a Verdade é a Verdade, mesmo que a
neguem. Se disserem que o espírito não existe, por ser invisível, terão de
concluir que também não existe o ar nem os sentimentos.
O espírito existe porque existe; o fenômeno de encosto também existe
porque existe. Se não partirmos desse princípio, não poderei explanar a minha
tese. Assim, é melhor que aqueles que negam firmemente a existência do
espírito não a leiam. Há pessoas que nos julgam supersticiosos, mas para nós
elas é que o são; portanto, consideramo-las dignas de pena.
Mostrarei, a seguir, por que eu afirmo que a doença psíquica é um
fenômeno de encosto.
Muita gente se queixa de ter o pescoço e os ombros enrijecidos. Creio
mesmo que quase todos os japoneses se queixam disso. Aliás, pela minha
longa experiência, posso afirmar que todas as pessoas apresentam esses
sintomas. É raro alguém dizer o contrário, mas, em tais casos, o que acontece
é que o pescoço e os ombros da pessoa se encontram tão rijos, que se tornam
insensíveis à dor. Esse enrijecimento constitui a verdadeira causa da doença
psíquica. Posso imaginar o espanto e a surpresa dos leitores, mas creio que,
com o desenrolar da explicação, vão acabar compreendendo.
Com o enrijecimento do pescoço e dos ombros, as veias que levam o
sangue ao cérebro ficam comprimidas, causando anemia na parte frontal da
cabeça. Aí está o problema, pois a anemia cerebral não se resume numa
simples anemia. Como o sangue é espírito materializado, ela não é senão a
falta de células espirituais que alimentam o cérebro, provocando o
enfraquecimento espiritual, causa imediata da doença psíquica. Os espíritos
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

aguardam essa oportunidade para encostar. A maioria é de animais como


raposa, texugo e, mais raramente, cães e gatos, e sempre é um espírito
desencarnado. Pode haver, também, encosto simultâneo de espírito humano e
animal.
Analisando o pensamento humano, diremos que ele é constituído de
razão, sentimento e vontade, os quais levam o homem à ação. A função da
parte frontal do cérebro é comandar a razão, e a da parte posterior é
comandar os sentimentos. Como prova disso, o amplo desenvolvimento da
parte frontal da cabeça, nas pessoas de raça branca, indica a riqueza da
razão; ao contrário, as de raça amarela possuem a parte frontal estreita e a
parte posterior desenvolvida, indicando a riqueza dos sentimentos. Todos
sabem que a raça branca é a mais racional, e a raça amarela a mais emotiva.
A razão e o sentimento estão sempre em luta dentro do homem. Se a razão
vencer, não há falhas, mas a pessoa torna-se fria; se o vencedor for o
sentimento, os instintos ficam em liberdade, o que é perigoso. O ideal é os
dois se harmonizarem e a pessoa não pender para um só lado, mas
geralmente isso não acontece. Para o sentimento ou a razão se expressarem
em ação, seja grande ou pequena, necessita-se da vontade, a qual provém de
uma função situada em determinado ponto da zona umbilical. Essa é a origem
de todas as ações, e a união dos três elementos - razão, sentimento e vontade
- constitui a trilogia do pensamento.
O enfraquecimento espiritual na parte frontal da cabeça provoca insônia.
Esta, na maioria das vezes, é causada por pontos solidificados na zona
occipital direita, que comprimem as veias. Como a insônia acelera o
enfraquecimento espiritual, os espíritos aproveitam a oportunidade para
encostar. A parte frontal da cabeça é a sede de comando do corpo, e o
espírito, ocupando essa parte, consegue dirigir livremente o indivíduo. Ele tem
interesse em utilizá-lo à sua vontade, pois com isso se torna influente entre os
companheiros. O ser humano nem pode imaginar como é grande esse
interesse. Brevemente, baseando-me nas minhas observações, pretendo
escrever sobre os espíritos de raposa.
Conforme eu vinha explicando, a razão controla constantemente o
sentimento - que é o instinto do ser humano - cuidando para este não cometer
erros. Por isso o homem pode, mesmo precariamente, levar uma vida normal,
pois o instinto está sendo dominado pela razão que, funcionando como lei,
mantém a ordem na vida. Portanto, se o homem perde a força dessa lei, o
sentimento se desvia, livre e desenfreado. Eis o que é a doença psíquica.
Sabedor de que a lei está brilhando dentro da parte frontal da cabeça do
homem, o espírito desejoso de dominá-lo encosta num certo ponto,
objetivando aquela região. É claro que, se a pessoa estiver com a plenitude de
sua energia espiritual, não há possibilidade de encosto.
A força de atuação do espírito é variável. Se na parte frontal da cabeça a
energia espiritual da pessoa for de 100%, o encosto é impossível; se for 90%,
o espírito encostará 10%; no caso de se tornar 80, 70, 60 , 50 ou 40%, o
espírito encostado conseguirá manifestar uma força de 20, 30, 40, 50 ou 60%.
Quando a força da razão é 40%, torna-se impossível controlar a força do
sentimento, que é 60%; assim, o espírito encostado pode governar livremente
o homem. Como explanei no início, o enrijecimento do pescoço e dos ombros

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

comprime as veias e causa o enfraquecimento espiritual, propiciando ao


espírito encostado atuar na mesma proporção desse enfraquecimento.
Atualmente, todo mundo está nessas condições. Pode-se dizer, portanto,
que não há ninguém com energia espiritual total; até aqueles que são
respeitados na sociedade pela sua integridade moral, têm deficiência de mais
ou menos 20 a 30%. Às vezes acontecem coisas que nos levam a perguntar:
Por que uma pessoa tão maravilhosa cometeu tal erro? Será que não entendeu
aquilo? Por que será que falhou? E outras perguntas semelhantes. A razão de
tais atitudes está nos 20 ou 30% de deficiência da energia espiritual da
pessoa. Entretanto, essa porcentagem não é fixa; está constantemente
oscilando. Mesmo quando tomam atitudes louváveis, os homens têm cerca de
20% de deficiência; quando têm maus pensamentos e por algum motivo
cometem um crime, estão com aproximadamente 40% de deficiência. Isso é o
que vemos acontecer com freqüência. Quando retorna aos 20%, em geral a
pessoa se arrepende do que fez. Segundo um dito popular, ela foi tentada pelo
demônio.
O normal é ter-se de 30 a 40% de enfraquecimento da energia espiritual,
mas, conforme o motivo, a qualquer momento essa porcentagem pode
ultrapassar os 50%. Nesse caso, as pessoas cometem crimes inesperados. Um
exemplo disso é a histeria, cuja causa, quase sempre, é o encosto de um
espírito de raposa, o qual domina a razão e, levado pelo ciúme ou pela ira,
atua com uma força que excede o limite dos 50%. Assim, as pessoas fazem
escândalos ou falam coisas incoerentes, nas quais nem estavam pensando.
Mas isso não continua por muito tempo, porque aquele limite de 50%
novamente se reduz. Sendo assim, o homem deve fazer o possível para
manter o limite de no máximo 30% de enfraquecimento da sua energia
espiritual; se chegar a 40%, já é perigoso.
Creio que, tomando conhecimento do que acabamos de explicar,
poderão compreender perfeitamente por que há tantos criminosos hoje em
dia. Como o espírito encostado é de animal, se a sua força de atuação
ultrapassar o limite dos 50%, temporariamente o espírito da pessoa ficará nas
mesmas condições daquele, embora a aparência seja de ser humano. A
diferença mais notável entre o homem e o animal é que o primeiro tem
capacidade de reflexão, mas o segundo não tem. A vontade do animal é
apenas matar a fome, mas, como a ganância do homem é ilimitada, uma vez
que ele manifesta características animais, revela uma crueldade inimaginável.
Como eu falei, já que não existe ninguém cujo espírito seja 100% forte,
todas as pessoas - umas mais, outras menos - são influenciadas pelo encosto
de um espírito; assim, proporcionalmente à força de atuação desse espírito,
todas sofrem de doença psíquica. Falando sem reserva, não é exagero afirmar
que todos os japoneses, sem exceção, são doentes mentais, mesmo que em
pequena proporção.
Vou relatar minha experiência sobre isso.
Diariamente encontro dezenas de pessoas e converso com elas sobre
vários assuntos, mas posso dizer que todas cometem falhas, que todas fazem
coisas esquisitas; até mesmo as que merecem consideração social, embora
nestas, normalmente, as falhas não sejam percebidas. Sendo assim, creio que
podemos dizer que a doença psíquica em menor grau está generalizada.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

E não é só o que as pessoas dizem, mas também o que fazem. Pelas


atitudes do dia-a-dia percebe-se claramente que quase ninguém tem bom
senso. As criaturas não mostram o mínimo interesse pela etiqueta e pelas
boas maneiras. Em geral, quando entram na sala e me cumprimentam, olham
para lugares como a parede, o jardim, etc. Há algumas que são cheias de
mesuras, e outras, ao contrário, secas demais, pelo que se pode concluir que
todo mundo é doente psíquico em pequeno grau.
25 de setembro de 1949

ELO ESPIRITUAL

ELO ESPIRITUAL
Até agora pouco se tem falado sobre elo espiritual, porque ainda se
desconhece a sua importância. Entretanto, embora os elos espirituais sejam
invisíveis e mais rarefeitos que a atmosfera, através deles todos os seres são
influenciados consideravelmente. No homem, eles tornam-se o veículo
transmissor da causa da felicidade e da infelicidade. Em sentido amplo,
exercem influência até sobre a História. Portanto, o homem deve conhecer o
seu significado.
Primeiramente desejo advertir que isso é Ciência, é Religião e também
preparação para o futuro. O princípio da relatividade, os raios cósmicos e os
problemas referentes à sociedade ou ao indivíduo, tudo se relaciona com os
elos espirituais. Vejamos a relação existente entre eles e o homem.
Tomemos como exemplo um homem qualquer: pode ser o próprio leitor.
Ele não sabe quantos elos espirituais estão ligados a ele; podem ser poucos,
dezenas, centenas ou milhares. Há elos espirituais grossos e finos, compridos
e curtos, bons e maus, e constantemente causam influência e transformação
no homem. Portanto, não é absurdo dizer que este se mantém vivo graças aos
elos espirituais. Entre estes, o mais forte é o que existe entre um casal; a
seguir, o que existe entre pais e filhos, entre irmãos, entre tios e sobrinhos,
entre primos, amigos, conhecidos, etc. Creio que as expressões "laços de
afinidade" e "ter afinidade com alguém", usadas desde a antigüidade,
referem-se aos elos espirituais.
Os elos espirituais sempre se modificam, tornando-se grossos ou finos.
Quando há harmonia entre o casal, ele é grosso e brilhante; quando os
cônjuges estão em conflito, ele torna-se mais fino e perde o brilho. Entre pais e
filhos, entre irmãos, etc., dá-se a mesma coisa.
Também podem ser formados novos elos, quando uma pessoa trava
conhecimento com outra, quando inicia uma amizade e, principalmente, um
namoro. Chegando o namoro ao clímax, o elo torna-se infinitamente grosso e
transmite intensas vibrações de um para o outro. São trocadas não só
sensações agradáveis e sutis, mas também de tristeza e solidão. Por esse
motivo, o elo espiritual torna-se extremamente forte e é impossível a
separação. Nesse caso, mesmo que uma terceira pessoa tente interferir no
romance, não só não obterá nenhum resultado mas, ao contrário, fará
aumentar ainda mais o grau da paixão. Quando duas pessoas se amam, é
como o pólo positivo e o pólo negativo em eletricidade, que se tocam e geram
a energia elétrica; nesse caso, o elo espiritual trabalha como fio elétrico.
Tempos atrás, extinguindo espiritualmente o pólo positivo, salvei duas
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

estudantes que, envolvidas num amor lésbico, estavam a um passo de duplo


suicídio. Consegui que a moça que representava o pólo positivo voltasse à
normalidade em cerca de uma semana. Esfriado o ardor da paixão, foi rompido
o elo espiritual, e a outra, automaticamente, também voltou à normalidade.
O elo espiritual entre pessoas que não têm laços de consangüinidade
pode ser rompido, mas é impossível romper o que existe entre parentes
consangüíneos. No caso de pais e filhos, deve-se dar atenção a um ponto:
como eles sempre estão pensando uns nos outros, o caráter dos filhos sofre a
influência do caráter dos pais, através do elo espiritual. Portanto, se os pais
desejam melhorar os filhos, em primeiro lugar devem melhorar a si mesmos.
Freqüentemente eles fazem coisas erradas e vivem advertindo os filhos,
porém isso não dá muito resultado, e o motivo é o que acabamos de expor.
Muitas vezes, entretanto, admiramo-nos por ver pais maravilhosos com um
filho transviado. A verdade é que esses pais são boas pessoas por interesse e
apenas na aparência, mas seu espírito está maculado, e isso se reflete no
filho. Pode também acontecer que, entre dois irmãos, um seja bom e outro
seja corrupto. A causa está na vida anterior e nas máculas dos pais. Para que
possam compreendê-lo, falarei sobre o princípio da reencarnação.
Após a morte, o espírito vai para o Mundo Espiritual, isto é, nasce nesse
mundo. Referindo-se à morte, os budistas usam a expressão "Odyo", que
significa "vir para nascer". Analisando do ponto de vista do Mundo Espiritual, é
realmente o que acontece. Ali se efetua a purificação das máculas acumuladas
no Mundo Material, e os espíritos que atingiram certo grau de purificação
voltam a nascer neste mundo, ou melhor, reencarnam. Todavia, há pessoas
perversas que se arrependem ao morrer, seja por medo do castigo, seja por
outros motivos. Tendo compreendido que o homem nunca deve praticar o mal,
fazem o firme propósito de se tornarem virtuosas na próxima vida e, quando
reencarnam, praticam realmente o bem. Vemos, pois, que, embora alguém
seja muito bom nesta vida, na encarnação anterior pode ter sido um grande
perverso.
Muitos homens, enquanto estão vivos, não acreditam na vida após a
morte e, depois que morrem, não conseguem se integrar no Mundo Espiritual.
Pelo apego à vida, reencarnam antes de estarem suficientemente purificados e
sofrem várias purificações no Mundo Material, pelas máculas que ainda restam
em seu espírito. Como o sofrimento é uma ação purificadora, um homem pode
ser infeliz apesar de ter sido bom desde que nasceu. Os defeituosos de
nascença, como por exemplo cegos, mudos e aleijados, são pessoas que
tiveram morte violenta na encarnação anterior e reencarnaram antes de
concluída a purificação.
Um caso interessante e freqüente de reencarnação é o de crianças que
nascem com feições de velho. Isso acontece porque essas pessoas morreram
idosas na vida anterior, e reencarnaram precocemente; só dois ou três meses
após o nascimento é que tomam feições de bebê.
Ocorre, ainda, o caso do reflexo das más características dos pais sobre
um dos filhos, o qual se torna perverso, ao passo que num outro se reflete a
consciência, ou melhor, o lado bom dos pais, e por isso este filho se torna
bondoso. Acontece também com freqüência que, tendo os pais enriquecido
ilicitamente, um filho se torne esbanjador, gastando dinheiro como água, até
acabar com a fortuna da família. Como se trata de riqueza ilícita, os ancestrais
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

escolhem um descendente que, dilapidando essa riqueza, na verdade está


trabalhando para salvar a família. Desconhecendo essa verdade, as pessoas
acham que tal filho é desprezível; por isso, ele é digno de pena.
Estamos ligados por elos espirituais não só aos parentes e amigos vivos,
mas também àqueles que se encontram no Mundo Espiritual. Existe, ainda, o
elo espiritual que nos liga a Deus e também o que nos liga a Satanás. Deus
nos estimula para o bem, e Satanás para o mal. O homem é manejado
constantemente por uma força ou por outra. Assim, o espírito que foi
purificado até certo ponto no Mundo Espiritual, é escolhido como Espírito
Guardião, o qual protege a pessoa confiada à sua guarda, através do elo
espiritual que os une. Quando ela está sujeita a um perigo iminente, o Espírito
Guardião transmite-lhe um aviso e tenta salvá-la. Como exemplo disso,
podemos citar o caso de uma pessoa que vai pegar um trem mas que, por ter
se atrasado ou por algum outro problema, não o pega, tomando o trem
seguinte. Aí, acontece um desastre com o trem que ela não pegou, e muitos
morrem ou ficam feridos. A pessoa foi salva graças ao trabalho do Espírito
Guardião, que conhece antecipadamente o destino de quem lhe foi confiado
no Mundo Material.
A quantidade de elos espirituais varia de acordo com a posição que o
homem ocupa. Numa família, quem os possui em maior número é o chefe,
ligando-o com os familiares, com os empregados, com os amigos, etc.
Tratando-se do presidente de uma firma, possui elos com todos os
funcionários; se for homem público, como prefeito de uma cidade, governador
de estado, primeiro-ministro, presidente, imperador, etc., tem elos espirituais
com todos aqueles que estão sob sua administração ou governo. Quanto mais
elevada a posição do homem, maior se torna o número de seus elos
espirituais. Sendo assim, a personalidade de um líder tem que ser nobre,
porque, se no seu espírito houver impurezas, isso se refletirá nocivamente
sobre grande número de pessoas, atuando sobre o pensamento delas. O
primeiro-ministro de um país, por exemplo, deve ser um homem de grande
personalidade; além de muita sabedoria, deve ter muita sinceridade. Caso
contrário, o pensamento do povo se deteriora, a moral relaxa, e o número de
criminosos torna-se cada vez maior. Principalmente os educadores, se
soubessem que seu caráter se reflete sobre os alunos através dos elos
espirituais, deveriam tornar-se pessoas dignas de exercerem essa profissão,
procurando constantemente aperfeiçoar o próprio espírito.
Os religiosos - especialmente os fundadores, presidentes ou ministros de
uma religião - sendo venerados por grande número de fiéis como deuses
vivos, devem ter muito cuidado, pois exercem uma influência notável. Se
praticarem atos condenáveis, aproveitando-se de sua posição, isso se refletirá
no conjunto dos fiéis, e essa religião acabará por se desmoronar, pois aqueles
atos serão do conhecimento de todos.
Mas não é só o homem que tem elos espirituais. Também Deus tem elos
que O ligam aos homens. A diferença é que os de Deus possuem uma luz
intensa, e os do homem, mesmo dos mais elevados, possuem luz tênue; em
geral são como linhas branco-acinzentadas. Quanto mais perversa for a
pessoa, mais escuros serão os seus elos espirituais. Comumente, ao
escolhermos amigos, desejamos que sejam pessoas boas, pois, misturando-se

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

com o bem, o homem torna-se bom, e misturando-se com o mal, torna-se


mau, graças às influências transmitidas pelos elos espirituais.
Mesmo entre as entidades há os justos e os satânicos. Se o homem
sempre venerar as divindades, seu espírito será purificado, porque elas têm
elos espirituais intensamente luminosos. Se venerar as entidades satânicas,
ao invés de luz, receberá fluidos maléficos que afetarão seu pensamento, e
por isso se tornará infeliz. Portanto, para seguir uma Fé, é essencial o homem
discernir o bem e o mal. A intensidade da luz varia conforme o nível da
divindade. Quanto mais elevada ela for, maior número de milagres promoverá,
porque a luz dos seus elos espirituais é muito mais forte.
Existe atividade dos elos espirituais não só no homem, mas em todas as
coisas. Por exemplo: a casa onde residimos, os objetos que sempre usamos,
entre os quais roupas e jóias, e principalmente as coisas de que mais
gostamos, possuem conosco um elo espiritual mais grosso. Numa antiga
revista espiritualista dos Estados Unidos, foi publicada uma reportagem sobre
uma senhora que tinha um poder misterioso: pelos objetos, ela identificava a
fisionomia, a idade e as atividades recentes do seu dono. Quando contemplava
atentamente um objeto, tinha a impressão de estar diante da fotografia da
pessoa. Isso ocorria por causa do elo espiritual existente entre a pessoa e o
objeto. Através desse exemplo podemos perceber como é sutil e profunda a
atuação dos elos espirituais.
Recentemente, começaram a fazer pesquisas científicas sobre os
chamados raios cósmicos, os quais, a meu ver, são os elos espirituais que
unem a Terra aos outros astros. Desde que foi criada, a Terra mantém o
equilíbrio no espaço graças aos elos espirituais dos astros ao seu redor, que a
atraem. Esses elos, cujo número é incalculável - milhões ou bilhões - penetram
até o centro da Terra. Aproveitando a oportunidade, vou explicar rapidamente
a relação entre a Terra e o Céu (espaço sideral).
Eles são como dois espelhos, um em frente ao outro. No espaço sideral
há dois tipos de astros: os luminosos e os opacos. Por não ter luz, o astro
opaco não se torna visível aos olhos humanos, mas, com o passar do tempo,
vai se transformando em astro luminoso, pelo endurecimento de matérias
cósmicas; ao atingir o máximo de endurecimento, começa a brilhar. É por esse
motivo que o mineral mais duro existente na Terra - o diamante - é o que mais
brilha.
Na época da criação do nosso planeta, o número de astros visíveis era
tão pequeno como o das estrelas durante a madrugada. Esse número cresceu
proporcionalmente ao aumento da população; portanto, assim como é
impossível calcular o aumento da população humana no futuro, é impossível
calcular o aumento do número de astros. Freqüentemente os astrônomos
descobrem novos astros, mas o que realmente acontece é a transformação de
um astro opaco em astro luminoso, o qual passa a ser percebido pelos olhos
humanos. Quanto às estrelas cadentes, representam a ação de desintegração
das estrelas, e o meteoro é um fragmento delas.
Todos os astros exercem influência sobre a humanidade: não só os
grandes planetas, como Júpiter, Marte, Saturno, Vênus, Mercúrio e outros, mas
também as inumeráveis estrelas - grandes, médias e pequenas. Assim como
se destacam os cinco grandes planetas citados, em cada época existem cinco
personalidades mundiais. Também acho interessante compararem o homem às
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

estrelas, e, referindo-se a personalidades renomadas, falarem em "passagem


de uma grande estrela", ou "queda de uma estrela".
A História registra que inclusive no Ocidente houve uma época em que
se dava muita importância à Astrologia, e os mestres religiosos consultavam
os astros para ver a sorte ou o infortúnio, a felicidade ou a infelicidade do
homem, para analisar as doenças, etc. A Astrologia teve, pois, uma
importância mundial. Na China, a ciência da adivinhação também tomava por
base os nove planetas. Para mim, não é sem cabimento o interesse que os
antigos tinham pelo estudo dos astros.
25 de outubro de 1949

A RESPEITO DOS SONHOS


Constantemente me fazem perguntas a respeito dos sonhos, por isso
vou falar sobre esse tema.
Talvez não haja uma só pessoa que não sonhe, ao dormir. Os sonhos
podem ser de vários tipos: mensagens das divindades, avisos do Espírito
Guardião, sonhos com pessoas nas quais nem pensamos, sonhos que vêm a se
concretizar de forma idêntica ou contrária ao que se sonhou, etc.
A palavra "yume" (sonho) é resultante da condensação de "yumei",
palavra com que se designa o nebuloso mundo após a morte. Isso quer dizer
que o espírito se liberta do corpo enquanto dormimos e vai para esse mundo
nebuloso. Nessa ocasião, aquilo que temos no nosso subconsciente e os
nossos desejos constantes aparecem nas formas mais variadas, sem sentido
algum. Quando o espírito se evade para o Mundo Espiritual, fica ligado ao
corpo pelo elo espiritual; quando a pessoa acorda, ele volta instantaneamente.
A mensagem das divindades através de sonhos restringe-se às pessoas
que têm fé. O espírito Divino que é alvo de sua fé dá-lhes avisos sempre que
houver alguma necessidade. Os avisos do Espírito Guardião aparecem
geralmente sob forma de alegoria, precisando ser interpretados. Como já disse
muitas vezes, o Mundo Material é um reflexo do Mundo Espiritual, onde tudo
acontece primeiro. Por isso, nosso Guardião, que está neste último, utiliza-se
dos sonhos para nos alertar. Os pressentimentos que temos comumente são
avisos seus.
Há alguns pontos que devemos esclarecer. Dizem que não sonhamos
quando dormimos profundamente, mas é um engano. Naturalmente, quando
estamos muito cansados, não sonhamos; no caso de sono não muito profundo,
podemos sonhar. Contudo, não devemos nos preocupar com isso, pois, se
sonharmos mesmo nessa circunstância, é porque estamos realmente
dormindo. Às vezes eu até chego a sonhar durante um ou dois minutos
quando converso com as pessoas, e também quando estou dormindo em pé,
no ônibus, porém isso não quer dizer nada.
As pessoas que sonham ficam preocupadas, achando que não são
inteligentes, mas isso não é verdade. Eu, por exemplo, quando era jovem,
quase não sonhava, e acho que naquela época era menos inteligente do que
hoje.
25 de janeiro de 1949

ORIGEM DAS CALAMIDADES

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

AS TRÊS GRANDES CALAMIDADES E AS TRÊS PEQUENAS CALAMIDADES


Vou explicar o significado fundamental das Três Grandes Calamidades -
vento, chuva e fogo - e das Três Pequenas Calamidades - fome, doença e
guerra - comentadas desde eras remotas.
O vento e a chuva são ações purificadoras do espaço entre o Céu
e a Terra, causadas pelas máculas acumuladas no Mundo Espiritual,
isto é, impurezas invisíveis. Dispersá-las com a força do vento e lavá-
las com a chuva, é a finalidade da tempestade. Mas que máculas são
essas e de que forma se acumulam?
São máculas formadas pelos pensamentos e palavras do homem.
Pensamentos que pertencem ao mal, como ódio, insatisfação, inveja, cólera,
mentira, desejo de vingança, apego, etc., maculam o Mundo Espiritual.
Palavras de lamúria, inclusive em relação à Natureza, como, por exemplo,
comentários desairosos sobre o tempo, o clima e a safra, censuras e agressões
às pessoas, gritos, intrigas, cochichos, enganos, repreensões, críticas e outras
coisas desse gênero também partem do mal e maculam o Reino Espiritual das
Palavras, que, em relação ao Mundo Material, situa-se antes do Reino do
Pensamento. Quando a quantidade de máculas acumuladas ultrapassa certo
limite, surge uma espécie de toxinas que causarão distúrbios na vida humana,
e então ocorre a purificação natural. Essa é a Lei do Universo.
Como expliquei, as máculas do Mundo Espiritual, ao mesmo tempo que
influenciam a saúde do homem, afetam as ervas, as árvores e principalmente
as plantações, tornando-se a causa da má colheita e do alarmante
aparecimento de insetos nocivos. É esse o motivo pelo qual, atualmente, estão
surgindo pragas que secam pinheiros e cedros em todas as regiões do Japão.
Portanto, se os japoneses não se elevarem muito, será difícil evitar que isso
aconteça. Em outras palavras: os erros dos próprios japoneses estão secando
os pinheiros e os cedros do seu país, de modo que eles precisam moderar
bastante o seu pensamento e as suas palavras.
Tal como nas calamidades naturais, nas calamidades humanas também
há algo de aterrorizador, principalmente na guerra - aquela que maiores danos
causa ao homem. Sobre as causas da guerra, apresentarei uma tese nova, que
poderá surpreender, por ser algo fora de qualquer expectativa. Gostaria de
que os leitores lessem com toda a atenção.
A guerra é a luta de grupos, e até hoje a humanidade tem demonstrado
mais propensão a ela que à paz. E não é só internacionalmente. Observando
cada região de um país, veremos que quase não há lugares sem conflito. Nas
repartições, nas firmas, nas associações, enfim, em qualquer grupo, sempre
há lutas nos bastidores, ininterruptamente, e as pessoas vivem se criticando e
se rejeitando. Observamos, ainda, conflitos entre profissionais, conflitos no lar,
entre casais, entre irmãos, entre pais e filhos, conflitos entre amigos, etc. O
homem realmente aprecia muito os conflitos. Notamos que freqüentemente
eles ocorrem até no interior de transportes, ou na rua, com os transeuntes.
Creio ser desnecessário continuar enumerando todos os conflitos que existem
entre os homens. Vou explicar a causa dessa tendência humana.
Todas as pessoas possuem toxinas de diversas espécies, inatas ou
adquiridas após o nascimento. Essas toxinas se acumulam no local em que os
nervos são mais instados pelo homem, isto é, do pescoço para cima. Mesmo
que as mãos e os pés estejam descansando, órgãos como o cérebro, os olhos,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

o nariz, a boca, os ouvidos e outros estão em constante ação enquanto o


homem se encontra acordado. É natural, portanto, que as toxinas se reúnam
nas proximidades desses órgãos. Essa é também a causa do enrijecimento da
região do pescoço e dos ombros, de que muitos se queixam. À medida que
as toxinas se acumulam, vão se solidificando, e, quando a solidificação
atinge certo estágio, surge a ação contrária, isto é, a dissolução e
eliminação, a que nós chamamos processo purificador. Ele é sempre
acompanhado de febre, que surge para dissolver as toxinas
solidificadas e, assim, facilitar a sua eliminação. Essa purificação natural
é o resfriado; excreções como escarro, coriza, suor, etc., representam
eliminação das toxinas.
A grande maioria das pessoas estão constantemente em processo de
purificação, com resfriado ameno, mas, sendo ele quase imperceptível, elas se
julgam sadias, o que não corresponde absolutamente à verdade. Caso se
submetam a um exame minucioso, será constatado, infalivelmente, que elas
têm um pouco de febre da cabeça aos ombros, apresentando, entre outros
sintomas, peso e dor de cabeça, secreção ocular, coriza, zumbido no ouvido,
piorréia e enrijecimento do pescoço e dos ombros. Por isso, sempre há uma
certa indisposição. Essa indisposição é a origem da ira, que se concretiza em
forma de conflito, cujo aumento, por sua vez, acaba em guerra. Assim, para
extinguir o espírito belicoso, só há um método: eliminar aquela indisposição.
Eis por que, quando a pessoa se sente bem, não se incomoda ao ouvir alguma
coisa desagradável, mas, se ela está indisposta, não consegue evitar a ira.
Creio que quase todos já tiveram essa experiência.
É muito comum vermos bebês que choram muito. Geralmente se diz que
eles são nervosos, mas, se forem examinados, sempre se constatará um
pouco de febre em sua cabeça e na região dos ombros. Embora se trate de
bebês, muitos têm os ombros endurecidos. Em tais casos, com a ministração
de Johrei, as toxinas diminuirão, cessará a febre e eles deixarão de chorar
constantemente. Com as crianças que facilmente se irritam acontece o
mesmo, mas por meio do Johrei o problema se resolve, e elas se tornam
obedientes; além disso, seu nível de aproveitamento escolar também
melhorará. O conflito entre casais tem a mesma origem; recebendo Johrei, eles
conseguirão se harmonizar.
Como a causa fundamental do conflito é a febre decorrente da
dissolução das toxinas da cabeça e da região do pescoço e dos
ombros, o único meio de solucioná-lo é eliminar completamente a
febre. Então não será exagero afirmar que o Johrei da nossa Igreja,
apesar de o mundo ser tão grande, é o único, inigualável, absoluto e
radical meio de eliminação do conflito. O mesmo podemos dizer em
relação a todos os problemas que hoje constituem motivo de sofrimento.
Ideologias destrutivas ou que fomentam lutas de classes, também têm
origem na insatisfação e nas queixas provenientes da indisposição das
pessoas. Muitos, para fugirem dela, inconscientemente procuram sensações
fortes, e isso, evidentemente, resulta em crimes, alcoolismo, devassidão,
ociosidade, brigas, etc.
Fazendo mau uso da razão, os materialistas ambiciosos de cada
época geram o aumento da insatisfação e das queixas, instigam a
guerra e provocam a revolução social de caráter nocivo.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

Conseqüentemente, para se construir a paz eterna sobre a Terra, em


primeiro lugar se deve erradicar a indisposição de cada homem e
aumentar-lhe o bem-estar. Não há dúvida de que, assim, o ser humano
abominará o conflito e amará a paz.
13 de agosto de 1949

A TEMPESTADE É UMA CALAMIDADE HUMANA

Desde tempos remotos os tufões e as inundações são considerados


calamidades naturais. Todo mundo os aceita como fenômenos inevitáveis. No
meu ponto de vista, entretanto, são calamidades humanas. Vou explicar
por quê.
Atualmente, os cientistas objetivam a diminuição de tais ocorrências
através da pesquisa e do progresso da meteorologia. No Japão, são aplicadas
anualmente enormes quantias em instalações adequadas a esse fim. Vem se
desenvolvendo um esforço constante, e de fato se têm obtido alguns
resultados, mas parece que dificilmente se atingirá o objetivo final. Somente
no Japão, os prejuízos anuais causados por tufões e inundações elevam-se a
uma soma realmente alta. No recente tufão perderam-se 6.500.000 sacos de
arroz, 4.229 casas ficaram danificadas ou foram carregadas pela água, 144
pessoas desapareceram ou morreram, e o número de feridos atingiu vários
milhares. Além disso, os prejuízos com plantações e com estragos nas
rodovias, construções e instalações, segundo declaração do órgão
competente, atingiram mais de duzentos e cinqüenta milhões de dólares.
Vemos, pois, a enormidade dos prejuízos. Somando-se, também, os danos
materiais e morais causados por grandes e pequenos tufões, várias vezes ao
ano, creio que o resultado será gigantesco, difícil de calcular.
Em face de tal situação, mesmo que não haja possibilidade de
exterminar essas calamidades, é necessário fazer todo esforço para que os
danos sejam os menores possíveis. O Governo e o povo estão empregando
todos os métodos praticáveis, mas há falta de verbas e a aparelhagem não
chega nem de longe ao montante previsto. Se as deficiências persistirem, é
claro que não se encontrará solução para o problema.
Nas condições atuais, em que se depende apenas da pesquisa
meteorológica, é impossível prestar auxílio em casos de urgência. Dizemos
impossível porque as pesquisas científicas estão baseadas no materialismo,
isto é, pesquisa-se somente a parte superficial das coisas, sem se procurar
descobrir o seu interior. Para solucionar o problema, só há um recurso:
apreender a essência desse interior e providenciar a prevenção das
calamidades. Mas aí surge a pergunta: É possível conhecer as causas
fundamentais do problema? Eu gostaria de provar que sim.
Inicialmente direi que a tempestade é a ação purificadora do
espaço acima da Terra, isto é, daquilo que chamamos de Mundo
Espiritual, pois até nele há uma constante acumulação de impurezas.
Materialmente falando, é como acumular poeira numa cidade ou numa
casa. Só que, como o Mundo Espiritual é invisível, o homem não
percebe o acúmulo de impurezas. Se até hoje essa percepção não foi
possível, é porque a educação está voltada apenas para a matéria,
negligenciando os estudos espirituais. Sempre falamos que essa é a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

maior falha da humanidade. Se ela não reconhecer a existência do Mundo


Espiritual e não fizer pesquisas baseadas nesse conhecimento, não lhe será
fácil compreender o princípio da tempestade. Sendo assim, a missão original
da Religião é fazer reconhecer a existência do Mundo Espiritual,
ignorado e negado por quase todos. Entretanto, parece-me que as antigas
religiões sempre se mostraram desinteressadas em relação ao assunto, o que
eu acho muito estranho. Mas deixemos isso de lado.
Como já expliquei em outras oportunidades, quando se acumulam
impurezas no Mundo Espiritual, surge naturalmente uma ação purificadora. O
vento dispersa as impurezas e a água as lava: eis o que é a tempestade.
Realmente, não há nenhuma diferença entre ela e a limpeza que se faz
diariamente no Mundo Material. Portanto, identificar a causa dessas impurezas
é a única chave para solucionar o problema.
A impureza é a mácula criada pelo pensamento, pela palavra e pela
ação do homem. Isto é, os maus pensamentos, más palavras e más ações do
ser humano influenciam o Mundo Espiritual, gerando máculas. Por essa razão,
em face da freqüente ocorrência de grandes tufões, podemos compreender
como os pensamentos se tornaram maus, quantas más palavras são
pronunciadas e quantas más ações são praticadas. Direi, entretanto, que há
uma maneira extremamente fácil de eliminar as máculas: basta que a situação
se inverta, ou melhor, que os pensamentos, as palavras e as ações do homem
se tornem bons. Em outros termos: através do bem, purificar o Mundo
Espiritual maculado pelo mal. Nesse caso, o bem transforma-se em luz para
eliminar as máculas. Os hinos cristãos, os sutras budistas e as orações
xintoístas são preces de Amor e Louvor e por isso contribuem para a limpeza
do Mundo Espiritual. Se elas não existissem, os tufões seriam ainda mais
violentos.
Diante do exposto, podemos afirmar que quem gera o tufão é o homem,
e ele próprio sofre com isso. Realmente, a natureza é perfeita. A tempestade é
um fenômeno semelhante ao processo de purificação conhecido como doença,
o qual surge no corpo humano quando nele se acumulam impurezas. Portanto,
como método para prevenir a tempestade, basta que compreendam
esse princípio e deixem de praticar o mal, passando a praticar o bem.
É preciso reconhecer que, além deste, não há outro método que
apresente soluções radicais.
24 de setembro de 1949

CONSIDERAÇÕES ESPIRITUAIS SOBRE OS INCÊNDIOS

Todos sabem como surgem os incêndios. Os jornais estão sempre


publicando notícias de incêndios causados por fósforo, cigarro, aquecedor
elétrico, etc. Geralmente eles acontecem por descuido do homem, não vamos
negar que isso seja verdade. Mas creio que, na posição de religiosos, devemos
procurar descobrir a causa espiritual dos incêndios.
A doença, como sempre explicamos, é a ação purificadora do corpo
humano. Quando as toxinas que nele se acumulam atingem certa quantidade,
causam distúrbios à saúde, surgindo, então, a ação para eliminá-las, isto é, a
ação de limpeza. Sem ela, não é possível o homem manter a saúde; é uma Lei
Universal e, realmente, uma grande dádiva de Deus. Como a Ciência ainda
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

não conseguiu descobrir esse princípio, interpreta a doença de forma


completamente errada. Apesar de todo o progresso, o fato é que a
humanidade continua sofrendo, pois a Ciência mostra-se impotente ante o
elevado número de pessoas enfermas.
Talvez achem incoerência falar de doença para explicar as causas do
incêndio, mas, na verdade, a causa de ambos é a mesma, visto que o incêndio
também é uma ação purificadora. O mesmo podemos dizer em relação à
tempestade. Nesse caso, há um acúmulo de impurezas no Mundo Espiritual,
isto é, máculas motivadas pelos maus pensamentos, más palavras e más
ações do homem, e a tempestade sobrevém como ação purificadora dessas
máculas. Quer dizer, as impurezas dispersas pelo vento, são lavadas e
carregadas pela água e secas pelos raios solares. Assim se processa a
purificação.
Como esclareci, a doença é a ação purificadora do corpo humano, e a
tempestade é a purificação do espaço acima da terra. Mas as casas, os
edifícios e outros tipos de construções, quando as máculas neles acumuladas
atingem certo ponto, também sofrem uma ação purificadora: o incêndio. A
origem de tais máculas é o dinheiro impuro que se empregou nessas
construções ou o acúmulo de más ações praticadas por aqueles que as
utilizam.
Sobre isso, outrora ouvi um caso interessante, relatado por uma senhora
vidente. Alguns anos antes do grande terremoto que atingiu a Região Leste,
andando pelas ruas da cidade de Tóquio, ela viu rústicos barracões
enfileirados, em lugar dos altos prédios. Achou esquisito, mas, quando ocorreu
o terremoto, entendeu o significado do que vira. Como sempre falamos, tudo
acontece primeiro no Mundo Espiritual, isto é, pela Lei do Espírito Precede a
Matéria a purificação ocorre primeiro no Mundo Espiritual e depois se reflete
no Mundo Material.
Por ocasião do último incêndio de Atami, o edifício onde funcionava a
sede provisória da nossa Igreja foi salvo, apesar de ter sido envolvido pelas
chamas. Isso aconteceu, naturalmente, porque nele não havia impurezas.
Assim, se materialmente fizermos construções à prova de fogo e nos
esforçarmos espiritualmente para não maculá-las, elas não se incendiarão,
deixando de oferecer qualquer perigo.
A esse respeito, talvez surja uma dúvida: que não há razão para cidades
à prova de fogo, como as do Ocidente, virem a incendiar-se, mesmo havendo
impurezas. Entretanto, não existe outra explicação para o fato de muitas
cidades terem sido destruídas por bombardeios durante a Segunda Guerra
Mundial, a não ser o princípio que acabamos de expor. É preciso saber que
realmente as Leis do Universo são absolutamente invioláveis.
20 de maio de 1950

INCÊNDIO E JOHREI

São freqüentes as experiências de fé relatadas por pessoas que, por


ocasião de um incêndio, conseguiram fazer mudar a direção do vento
ministrando Johrei, quando as chamas já haviam atingido a casa do vizinho.
Isso acontece porque o incêndio é a ação purificadora através do fogo. Quando
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 2
Religião, milagre e o Mundo Espiritual

se acumulam impurezas na matéria, o espírito também está impuro;


conseqüentemente, o fogo alastra-se com facilidade. Ao se ministrar Johrei,
essas máculas desaparecem; deixando de existir aquilo que deveria ser
queimado, o fogo muda de direção. Realmente a Natureza é perfeita. Portanto,
para acabar com os incêndios, é preciso, antes de tudo, evitar que o espírito
da matéria se macule; não há outro processo para exterminá-los radicalmente.
Assim, em primeiro lugar, devemos entronizar a Imagem da Luz Divina em
nosso lar, para purificar o mundo espiritual da família.
Nos últimos tempos tem havido incêndios em várias regiões. São muitas
as casas destruídas pelo fogo, numa época em que já há grande falta de
residências, de modo que, embora se esteja construindo muito, o problema
continua sem solução. E o incêndio não causa apenas danos materiais, mas
também grandes danos morais. Além disso, sabemos que não é pequena a
mão-de-obra necessária para reconstruir aquilo que foi destruído, nem são
poucos os prejuízos com a suspensão do trabalho, no caso de uma empresa.
Diante de tal situação, as autoridades competentes estão fazendo um esforço
desesperado para solucionar o problema, mas inutilmente, porque não
compreendem as bases espirituais acima explicadas.
Para terminar definitivamente com os incêndios no Japão, é preciso que
a grande maioria de seus habitantes se tornem fiéis da nossa Igreja. Todavia,
como creio que isso é impossível atualmente, não há outro recurso senão
utilizar métodos materiais contra os incêndios e esperar, dando tempo ao
tempo, pois acredito que, futuramente, Deus solucionará o problema.
20 de fevereiro de 1952

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

A RESPEITO DO HOMEM E SUA MISSÃO

A MISSÃO DO HOMEM
O homem veio à Terra com a missão de auxiliar na concretização das
condições ideais do planeta, de acordo com o Plano Cósmico. Quando ele vive
em conformidade com esse Plano. é naturalmente abençoado com a saúde, a
felicidade e a paz, a que tem direito inalienável.
Infelizmente, face ao desvio da Verdade, ninguém está livre das máculas
espirituais transmitidas de geração a geração, bem como das máculas
geradas pelos próprios pensamentos e atos errôneos. Além disso, há as
substâncias artificiais, consciente ou inconscientemente introduzidas no corpo,
que aumentam as máculas e, conseqüentemente, o sofrimento. Enquanto o
homem não se libertar, purificando-se através da compreensão e do
discernimento, continuará sofrendo.
Contudo, aqueles que dedicam os seus pensamento e atos ao servir, não
necessitam afligir-se durante o período de transição da Noite para o Dia,
porque são necessários ao Plano Cósmico evolutivo.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

CONHEÇA A VONTADE DIVINA


Volto a ventilar o assunto de que o homem foi criado para construir o
Mundo Ideal planejado por Deus. E ele só trabalhará com saúde, sem
desgraças, em ambiente satisfatório, se conseguir identificar-se com este
objetivo Divino. Eis a Verdade Eterna.
O ser humano carrega não só as suas próprias máculas, como as de sua
raiz familiar. Além disso, mesmo sem saber, ele absorve substâncias tóxicas,
aumentando, inevitavelmente, o número de suas enfermidades. Ora, a
existência de pessoas doentes e, conseqüentemente, inúteis para a Obra
Divina, constitui um prejuízo para Deus. Por isso, é lógico que Ele deseje curá-
las; nem precisaríamos preocupar-nos com o assunto. No entanto, os que
ignoram esse aspecto, julgam que os remédios sejam o único recurso contra
as doenças, e nada mais fazem que reprimi-las. Assim, desconhecendo a Lei
de Identidade Espírito-Matéria, jamais poderão obter a cura integral.
Os males que decorrem da ignorância humana, não se restringem às
questões de saúde. Todas as desgraças têm o mesmo caráter e destinam-se à
purificação do homem. O processo purificador, no entanto, muda seu tipo de
ação de acordo com a causa do mal.
Os pecados de furto, peculato, prejuízo ao próximo, luxo excessivo e
outros, são redimidos com perda de dinheiro e de bens materiais. O farrista
que esbanja a herança familiar está redimindo as máculas de seus pais e de
seus antepassados. O espírito de um antepassado escolheu um descendente
para que, por seu intermédio, se processe a purificação e a preservação do
sangue da família, a fim de que ela venha a progredir no futuro. Nessas
circunstâncias, não há conselho que surta efeito. Pode ocorrer o caso de dois
irmãos com índoles diferentes: um é incorrigível e malvado; o outro é leal e
honesto. Aparentemente, o primeiro é mau e desonra o nome da família. Mas,
à luz da Verdade, purificando a família e eliminando as máculas dos
antepassados, sua missão assume maior importância que a do outro. Por essa
razão, é dificílimo definir o bem e o mal usando critérios humanos.
145
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Incêndios, roubos, falsidade, perdas na Bolsa, falências comerciais,


apostas inúteis, gastos com doenças, etc., são formas materiais de redenção
de máculas também adquiridas materialmente. Portanto, embora possa fugir
às sanções das leis humanas, ninguém escapa das leis eternas.
O pecado de enganar ou ludibriar os olhos humanos será redimido,
conseqüentemente, pelos males da vista; aquele que se comete através da
palavra, provocará doença dos ouvidos ou da língua; torturar a mente do
próximo causará dores de cabeça; o uso dos braços apenas para benefício
próprio, será fonte de padecimento nos braços. A purificação ocorre de acordo
com o princípio da concordância.
Também o ingresso na Fé produz sofrimento, e este será tanto mais
profundo, quanto maior for a dedicação. O motivo é que Deus quer beneficiar
a pessoa como recompensa pela sua dedicação, e para isso é necessário
eliminar suas máculas espirituais, a fim de que ela possa receber Suas Graças.
Suportando as purificações sem vacilar, a pessoa receberá benefícios
inesperados. Entretanto, quem não possui firmeza de fé, vacila nesses
momentos decisivos.
Vou lhes falar de minha experiência sobre o assunto.
Durante vinte anos sofri em virtude de dívidas aparentemente
insolúveis. Finalmente consegui saldá-las em 1941. Foi um alívio! No ano
seguinte, começaram a chegar-me riquezas inesperadas, e assim me
surpreendi com a profundidade da Vontade Divina.
É habitual ouvirmos comentários como este: "Fulano ficou rico após o
incêndio". Isso nada mais é que uma conseqüência da purificação. Podemos
dizer o mesmo em relação ao incêndio de Atami. Se compararmos a atual
cidade com o que ela era antes da catástrofe, veremos que a diferença é
surpreendente.
Concluímos que, se os bons acontecimentos são apreciáveis, os maus
também nos trazem benefícios, pois são purificadores, e que haverá
verdadeira paz sempre que soubermos agradecer, tanto na saúde como na
enfermidade. Mas isto se limita aos que têm fé. Com os descrentes ocorre o
contrário: o sofrimento gera o sofrimento, a ansiedade piora a situação, e tudo
caminha para o abismo.
O segredo da felicidade humana consiste em aceitar esta verdade.
2 de dezembro de 1953

CAMADAS DO MUNDO ESPIRITUAL


Já expliquei que o Mundo Espiritual está constituído dos planos Superior,
Intermediário e Inferior, mas explicarei agora a estreita relação entre eles e o
destino do homem.
Cada um desses planos se subdivide em sessenta camadas, de modo
que, no total, são cento e oitenta camadas. Eu as chamo de Camadas do
Mundo Espiritual.
O homem nasce no Mundo Material por desígnio de Deus. Creio que,
nesse sentido, o elemento "mei" (desígnio), que aparece em "seimei" (vida),
tem a mesma significação que o "mei" de "meirei" (ordem).
Eis uma pergunta que todos fazem: por que razão o homem nasce?
Enquanto não compreender isso, o homem não poderá ter comportamento

146
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

correto nem verdadeira tranqüilidade, estando sujeito a levar uma vida vazia e
ociosa.
O objetivo de Deus é fazer da Terra um mundo ideal, ou melhor,
construir o Paraíso Terrestre. No desenvolvimento do Seu plano, há uma
grandiosidade que não pode ser expressa com palavras, pois o progresso da
cultura não tem limite. Assim, todos os acontecimentos da História Mundial,
até hoje, não passaram de operações básicas para concretizar o objetivo de
Deus. Este, concedendo diferentes missões e características a cada pessoa e
alternando a vida e a morte, está fazendo evoluir Seu plano em direção ao
objetivo estabelecido. Portanto, concluímos que o bem e o mal, a guerra e a
paz, a destruição e a construção são processos necessários à evolução.
Como já expliquei minuciosamente, estamos atravessando a fase de
transição da Noite para o Dia. O mundo, atualmente, está prestes a dar um
grande salto para a Nova Era, e a humanidade, libertando-se da selvageria,
está procurando alcançar o mais alto nível da cultura. Aí, a guerra, a doença e
a pobreza terão fim. É claro que o aparecimento do Johrei é o prenúncio disso
e constitui mesmo um fator essencial.
Para o cumprimento de Seu plano, Deus emite ordens ao homem
constantemente, através de algo que é como a semente de cada indivíduo
numa das camadas do Mundo Espiritual. Dei-lhe o nome de YUKON. A ordem é
primeiramente baixada ao YUKON, e este, através do elo espiritual, a
transmite à alma, núcleo do corpo espiritual do homem. Entretanto, é
dificílimo o homem comum conseguir perceber a ordem Divina; somente
aqueles cujo corpo espiritual foi purificado até certo ponto é que o conseguem.
Essa percepção é dificultada não só pela grande quantidade de máculas, mas
também pela ação de Satanás, que se aproveita dessas máculas. Uma prova
disso é que, às vezes, as coisas não correm como o homem deseja, e o seu
destino toma um rumo que ele jamais imaginaria. Existem, também, pessoas
que se sentem sempre governadas por uma força estranha e não conseguem
mudar seu destino. É que, de acordo com a posição do YUKON no Mundo
Espiritual, há diferença na missão e também no destino. Isto é, quanto mais
alta for a camada em que estiver o YUKON de uma pessoa, melhor ela
perceberá as ordens Divinas e mais feliz será. Ao contrário, quanto mais baixo
ele estiver, mais infeliz a pessoa. As camadas superiores correspondem ao
Céu: mundo de alegria, saúde, paz e riqueza material; em contraposição, as
camadas mais baixas correspondem ao Inferno: mundo de sofrimento, doença,
conflito e pobreza. Assim, para ser verdadeiramente feliz, o homem deve,
antes de mais nada, elevar a posição do seu YUKON.
E como é que ele pode conseguir isso? Purificando seu corpo espiritual.
Este está sempre se elevando ou baixando, dependendo da quantidade de
máculas; o espírito purificado se eleva, por ser leve, e o espírito maculado
desce, pelo peso das máculas. Portanto, para purificar seu espírito, o homem
deve praticar boas ações e acumular virtudes.
5 de fevereiro de 1947

OS TRÊS ESPÍRITOS DO HOMEM


Todo homem tem, no Mundo Espiritual, um Espírito Guardião que
constantemente o protege. É comum ouvirmos dizer que o homem é filho ou
templo de Deus: isso significa que ele possui a partícula Divina que lhe foi
147
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

outorgada pelo Criador e que constitui seu Espírito Primordial. O espírito


animal agregado após o nascimento, é o Espírito Secundário; pode ser de
raposa, texugo, cão, gato, cavalo, boi, macaco, doninha, dragão, "tengu" 5,
aves, etc. Em geral, há uma espécie para cada pessoa, mas em casos menos
freqüentes há mais de uma. Dificilmente os homens da atualidade acreditam
nisso; creio mesmo que chegam a escarnecer. Contudo, através de inúmeras
experiências, eu compreendi que se trata de uma realidade incontestável.
O Espírito Primordial é o bem, é a consciência; o Espírito Secundário é o
mal, são os pensamentos vis. No budismo, dá-se à consciência o nome de
Bodaishim (espírito do bem) ou Bushim (sentimento de misericórdia búdica), e
os maus pensamentos são chamados de Bonno (desejos mundanos).
Além desses dois espíritos - Primordial e Secundário - existe o Espírito
Guardião. É o espírito de um ancestral. Quando uma pessoa nasce, é escolhido
entre seus ancestrais um espírito que recebe a missão de guardá-la. Via de
regra, é espírito humano, mas também podem ser espíritos híbridos de
homem com dragão, raposa, "tengu" etc. Meu Espírito Secundário, por
exemplo, é "Karassu-tengu"6, e meu Espírito Guardião é dragão.
É muito freqüente, diante de um perigo, o homem se salvar
miraculosamente, sendo avisado em sonho ou tendo um pressentimento. Isso
é trabalho do Espírito Guardião. O mesmo se pode dizer em relação à
inspiração recebida por artistas e inventores, no momento em que,
compenetrados, estão criando alguma obra. No caso de querer satisfazer os
desejos corretos do homem ou fazê-lo receber graças através da Fé, Deus atua
por intermédio do Espírito Guardião. Os antigos provérbios "A verdadeira
sinceridade se transmite ao Céu", ou "A sinceridade se transmite a Deus",
significam a concessão das graças Divinas através do Espírito Guardião.
5 de fevereiro de 1947

VENÇA SEU PRÓPRIO MAL


Já escrevi a respeito da necessidade de vencer o mal, dando à expressão
o sentido de não ser vencido pelo homem perverso. Agora falarei da vitória
sobre o mal que existe em nosso íntimo.
Dentro de cada ser humano há uma batalha constante entre o bem e o
mal. É a luta para subjugar as paixões do mundo, conforme a interpretação
budista.
A ambição humana é ilimitada. Embora o homem viva tentando refrear-
se em relação ao dinheiro, ao sexo, ao poder, à fama e ao egoísmo, vê-se
constantemente tentado por eles. A consciência lhe adverte que seja
prudente, que evite isto e aquilo que será castigado se for a determinado
lugar, etc. O campo de batalha desta luta sem trégua encontra-se no interior
de cada indivíduo.
A vitória do mal resulta em pecado e infelicidade; a vitória do bem cria
felicidade. É tudo tão simples e nítido quando examinamos a questão, que

5
"Tengu": ser misterioso que, segundo a crença popular, habita as montanhas.
Tem forma humana, asas, rosto vermelho e nariz comprido, sendo possuidor
de poderes extraordinários. Porta sempre um grande leque. É orgulhoso e
amante de discussão e jogo
6
"Karassu-tengu": variedade de "tengu" com cabeça de corvo.
148
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

parece fácil de praticar. Entretanto, mesmo com uma clara noção do assunto,
os homens não são capazes de triunfar na luta contra o mal, principalmente
quando não têm fé. Eis por que os fiéis mais esclarecidos pecam menos que os
outros. Mas, para isso, é necessário que eles façam um grande esforço.
Naturalmente, a força que nos arrasta à prática do mal pertence ao
Espírito Secundário, e a que nos conduz pelo caminho do bem, ao Espírito
Guardião. Como, além destes, temos o Espírito Primordial, que determina o
Absoluto Bem, precisamos fazer algo para aumentar-lhe o poder de atuação,
porque essa é a força que domina o mal pela raiz. Sendo assim, o único
recurso é adorar a Deus e solidificar a fé. Não existe outro meio para se obter
a felicidade.
20 de junho de 1951

149
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

ELEVAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE

ELEVAÇÃO ESPIRITUAL

ESPÍRITO E CORPO
Se tudo que ocorre no Universo está fundamentado na precedência do
espírito sobre a matéria, não há nada de estranho nos inúmeros milagres que
acontecem. Para entender esses milagres, precisamos conhecer a relação
entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material.
Tal como o homem possui roupas para o corpo, o espírito também possui
uma veste, que é a aura. Esta é uma espécie de éter; é a luz emanada do
espírito. Não obstante ser algo vago, há quem consiga enxergá-la. Ela pode
ser comparada ao tempo: ora está clara, ora está nublada. Se pensamos o
bem e o praticamos, a aura fica clara; se pensamos e praticamos o mal, ela
fica maculada. Assim, se cremos numa divindade verdadeira, recebemos sua
Luz, que dissipa as máculas; se cremos numa divindade falsa, as máculas
aumentam. Geralmente por falta de conhecimento espiritual, as pessoas
pensam que toda divindade é correta e verdadeira, mas aí está um gravíssimo
erro, pois, na realidade, os falsos deuses são em maior número. A prova é que
muitas famílias, embora sejam devotas há várias gerações, não param de ser
atormentadas pela infelicidade. Isso ocorre porque estão adorando um deus
falso, ou de fraco poder. O homem deve, portanto, converter-se ao verdadeiro
Deus e salvar o próximo; quanto mais méritos e virtudes ele somar, mais
luminosa e maior se tornará a sua aura.
A aura de uma pessoa comum tem aproximadamente três centímetros,
mas no caso de um virtuoso varia entre quinze e trinta centímetros. Os
virtuosos que alcançaram nível de divindade possuem aura de alguns metros
ou mesmo quilômetros. Entre os grandes religiosos há aqueles cuja aura
alcança diversos países ou povos. Cristo e Sakyamuni, por exemplo. A aura do
Salvador do Mundo, no entanto, possui a força máxima, ou seja, uma força que
envolve em Luz toda a humanidade; mas a História mostra que até agora
ainda não apareceu o Salvador do Mundo.
Como dissemos, a aura aumenta ou diminui de acordo com a boa
vontade e o esforço de cada um. Os homens precisam crer nisso e praticar o
bem. Exemplificando,no caso de alguém sofrer um acidente automobilístico ou
ferroviário, se a sua aura for espessa, o espírito do veículo esbarrará nela e
não atingirá a pessoa, salvando-a; todavia, se a aura for fina ou quase
inexistente, ocorrerão ferimentos graves ou mesmo morte. É por esse motivo
que os nossos fiéis conseguem escapar dos acidentes.
A sorte ou azar da pessoa obedece ao mesmo princípio. O corpo
pertence ao Mundo Material, e o espírito ao Mundo Espiritual; esta é a
organização dos dois mundos. O Mundo Espiritual está dividido em três planos:
Superior, Médio e Inferior. Cada plano subdivide-se em sessenta camadas,
distribuídas, por sua vez, em três níveis de vinte camadas cada um,
totalizando cento e oitenta camadas. É claro que o plano mais baixo
corresponde ao Inferno; em seguida vem o mundo intermediário, equivalente
ao nível do Mundo Material; o mais alto é o Céu. A maior parte das pessoas se
situa no plano intermediário, mas, dependendo da prática do bem ou do mal,
elas podem descer ou subir de plano. Assim, se praticam o bem, sobem ao
150
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Céu; se praticam o mal, caem no Inferno. Além do mais, no Mundo Espiritual


existe absoluta justiça e não há privilégios, o que é desagradável para os
malfeitores. Aqueles que acreditarem nisso, poderão alcançar a verdadeira
felicidade.
É evidente que no Inferno reina a inveja, o ódio, a cobiça, o ciúme, a
pobreza, etc., e quanto mais se desce, mais intensos se tornam, sendo que o
nível mais baixo é chamado de Reino do Fundo da Raiz ou Inferno de Trevas e
Frio Absolutos. Entretanto, não só após a morte, mas desde que o corpo está
no Mundo Material, o espírito se reflete nele no estado em que se encontra. É
por isso que vemos até casos de suicídio de uma família inteira, após um
sofrimento extremo. São ocorrências que sempre figuram nos jornais,
mostrando que a sorte ou o azar dependem da posição (nível) da pessoa no
Mundo Espiritual. Obviamente trata-se de uma conseqüência da lei de causa e
efeito entre o bem e o mal, de modo que não há ninguém mais tolo que o
malfeitor. Mesmo que consiga progredir na vida valendo-se do mal, esse êxito
é passageiro; um dia ele acabará arruinado,já que no Mundo Espiritual sua
posição é no Inferno. Em contrapartida, por mais azarada que uma pessoa
seja, se ela praticar o bem, sua posição no Mundo Espiritual irá se elevando e
algum dia ela se tornará feliz. É uma Lei Divina que jamais poderá ser
infringida. Todavia, embora a pregação deste ensinamento seja a missão
original das religiões, isso não ocorreu de maneira efetiva, pois, considerando
os ensinamentos e os sermões como sendo o mais importante, elas não os
faziam acompanhar da força que tem o real poder, ou seja, os milagres.
Entretanto, é chegado o tempo, e Deus está manifestando o Poder
Absoluto, fazendo surgir surpreendentes milagres através da nossa Igreja,
para despertar a humanidade da ilusão em que ela se encontra; por isso, por
mais incrédulo que alguém seja, não poderá deixar de crer.
10 de setembro de 1953

SEJAM SEMPRE HOMENS DO PRESENTE


O homem deve progredir e elevar-se continuamente, sobretudo
aqueles que possuem fé. Entretanto, quando tocamos em assuntos
religiosos, as pessoas costumam julgar-nos antiquados e conservadores. Não
podemos negar que essa é uma tendência dos fiéis em geral; porém, com os
messiânicos, dá-se justamente o contrário, ou melhor, eles devem esforçar-se
para ser o contrário.
Observemos a Natureza. Ela procura renovar-se e progredir
constantemente, sem um minuto de interrupção. O número de seres
humanos aumenta de ano para ano. As terras vão sendo exploradas todos os
anos. Vemos maiores e melhores vias de transportes - obras cuja construção
demonstra crescente arrojo arquitetônico - e maquinarias cada vez mais
perfeitas. As ervas e as árvores crescem em direção ao Céu. Tudo isso mostra
que nada regride.
Ora, se tudo continua evoluindo, é natural que os homens
também devam evoluir continuamente, seguindo o exemplo da
Natureza. Nesse sentido, eu mesmo faço esforço para elevar-me e
progredir cada vez mais; este mês, mais do que no mês anterior; este
ano, mais do que no ano passado.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Mas progredir somente na parte material, isto é, nos negócios,


na profissão e na posição social, não passa de algo sem base, algo
demasiado superficial, como uma planta sem raiz. É indispensável o
progresso do espírito, isto é, a elevação da individualidade. Portanto,
devemos prosseguir passo a passo, pacientemente, visando à
perfeição, principalmente no que se refere à espiritualidade. Com a
elevação gradual do espírito, a personalidade também florescerá e,
sem dúvida alguma, essa atitude de contínuo progresso conquistará a
confiança do próximo, facilitará os empreendimentos e tornará a
pessoa feliz.
Os jovens da atualidade talvez encarem estas palavras como moral
antiquada e já superada; entretanto, é pondo em ação tais palavras que as
criaturas poderão, verdadeiramente, ficar atualizadas. Os homens que não
pensam e não agem assim, desejando evoluir apenas materialmente, ficam
estacionados. Não progridem nem são progressistas. Parecem-me
antiquadíssimos, observados deste ponto de vista. Seus pensamentos e
assuntos são sempre os mesmos, não apresentam nada de especial. Palestrar
com essas pessoas não me desperta nenhum interesse, pois elas se limitam a
assuntos triviais, não falando de Religião, de Política, de Filosofia e muito
menos de Arte.
O ideal seria que todos os fiéis da nossa Igreja se interessassem
em progredir e elevar-se cada vez mais. Como visamos a corrigir a
civilização errônea e construir um mundo ideal, os messiânicos devem
procurar, nesta época de transição do mundo, ser sempre homens atualizados,
vivendo em sintonia com o século XXI, que se aproxima.
Eis o sentido do meu costumeiro conselho: sejam homens do presente.
11 de outubro de 1950

SER AMADO POR DEUS


A essência da fé, em poucas palavras, é “Ser amado por Deus” ou “Estar
no agrado de Deus”. Deste modo, devemos saber que tipo de pessoa é amada
por Deus. Mas deixemos isso para depois; devemos, primeiramente, conhecer
a missão da nossa Igreja. Ela está relacionada ao Juízo Final, de Cristo e à
extinção do budismo, de Sakyamuni, fatos esses que estão prestes a
acontecer.
Deus e as entidades búdicas estão manifestando seu grande amor
misericordioso, fazendo com que um maior número de pessoas ultrapasse a
grande transição do mundo. E como Deus atuará? Naturalmente, Ele utilizará
os homens, e acredito que fui escolhido para assumir esta grande missão.
Como é uma grande missão, jamais vista ou ouvida, acabo até achando-
a difícil demais de ser realizada; porém, como é o grandioso Deus Supremo
que me outorgou esta missão, não tenho alternativa.
Inicialmente, duvidei e até resisti, mas não havia meio de recusá-la, pois
estava acima das minhas forças. Deus me utiliza livremente. Não são poucas
as vezes em que Ele me fez sentir alegrias extremas e aquelas em que me
obrigou a enfrentar situações infernais. Porém, cada vez que isso ocorria,
percebia Sua mão invisível, Seu indescritível poder de atração e
experimentava o gratificante sabor da vida. Talvez seja uma sensação

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

impossível de ser expressa em palavras que, provavelmente, somente eu


tenha vivido na face da Terra.
O mais importante é procurar saber o que devemos fazer para sermos
do agrado de Deus. Qualquer pessoa de bom senso sabe que o que desagrada
a Deus é agir fora do caminho, mentir, fazer os outros sofrer, causar incômodo
à sociedade. Contudo, atualmente existem muitas pessoas que não se
importam com ninguém, achando que basta o próprio bem-estar e manifestam
esse egoísmo na prática. Por se tratar de uma atitude das mais condenáveis,
não há com estar no agrado de Deus. Assim, cada um precisa saber se está
sendo amado por Deus ou não. É algo extremamente simples:
“Para mim, nada vai a contento. Sofro de necessidades materiais; meu
trabalho não progride; meu crédito é fraco; não consigo me rodear de pessoas;
minha saúde também é insatisfatória; do jeito que trabalho, não entendo por
que não dá certo”. As pessoas que fazem esse tipo de comentário não estão
sendo do agrado de Deus. Basta estar no agrado d’Ele e o nosso trabalho se
desenvolve satisfatoriamente; as pessoas juntam-se ao nosso redor a ponto de
nos incomodar; os recursos materiais nos chegam em tão grande quantidade,
que mal podemos utilizá-los em sua totalidade. O mundo, então, se torna um
lugar agradável de se viver.
A fé só tem realmente valor quando somos felizes. Se a praticarmos mas
não alcançamos a felicidade, é porque o motivo, infalivelmente, se encontra
em nosso próprio espírito.
25 de maio de 1949

O SEGREDO DA BOA SORTE


Já escrevi a respeito em outras oportunidades, mas insisto sobre o
assunto porque, quanto mais observo o mundo atual, mais vejo pessoas
infelizes.
É desnecessário dizer que, desde a antigüidade, a boa ou má sorte do
homem constitui a questão mais difícil que existe. Talvez o ser humano esteja
fadado, desde o momento em que nasce até o momento em que morre, a
nunca se libertar do desejo de obter a boa sorte. Isso porque geralmente não
conseguimos compreender aquilo que mais desejamos. Seria maravilhoso se o
conseguíssemos, mesmo que fosse um pouco. Felizmente, eu adquiri clara
compreensão dos fundamentos para se alcançar a boa sorte. Além disso, pelas
minhas próprias experiências, verifiquei que eles não contêm o mínimo erro,
de modo que os exponho com toda a convicção.
Conforme todos podem observar, não existe nada mais vago, abstrato e
difícil de ser obtido que a boa sorte, algo tão simples. Não estando ela ao
nosso alcance, a única alternativa que temos, naturalmente, é esperar por ela.
Daí, talvez, o nome sorte. Concordo com as palavras: "A vida é uma grande
aposta", pois até as pessoas consideradas sábias continuam a perseguir a boa
sorte, embora pareçam ter perdido as esperanças de alcançá-la. Talvez esta
seja a predestinação dos homens.
É unicamente pela vontade de alcançar a boa sorte que conseguimos
fazer diversas coisas, seja qual for o sacrifício. Por esse motivo, também, é que
"fazemos das tripas coração" e chegamos ao fim da vida sacrificando-nos para
realizar nossos desejos. Assim, talvez, seja a vida. Não existe nada mais
irônico que a sorte: quanto mais tentamos agarrá-la, mais ela foge. No
153
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Ocidente, existe um ditado que diz: "A oportunidade de obter a boa sorte só
aparece uma vez na vida. Se a perdermos, não encontraremos outra". É
exatamente assim.
Pela minha longa experiência, sinto que sou constantemente ludibriado
pela sorte. Às vezes parece que vou consegui-la facilmente, mas tal não
acontece. Quando a vejo bem diante de meus olhos e estendo as mãos para
alcançá-la, ela acaba escapando. Quanto mais a perseguimos, mais rápido ela
foge. É realmente difícil lidar com ela. Mas eu consegui agarrar de fato aquilo
que se chama sorte. Entretanto, o que complica sua explicação é a existência
de pontos desconhecidos que as pessoas dificilmente compreendem, salvo as
que têm fé. Isto porque elas olham somente o lado superficial das coisas e não
o seu interior; ou melhor, não o enxergam. E no caso da sorte, sua causa está
justamente no interior; sem compreender isso, é impossível alcançá-la.
Quando o homem movimenta o corpo, não é o corpo em si que se move;
quem o faz mover-se é o espírito, que está dentro dele. Da mesma forma, o
fator essencial da sorte está no interior do homem. Vou explicar melhor.
Em primeiro lugar, ampliemos a teoria acima. A parte superficial do
mundo corresponde ao Mundo Material, e a parte interior, ao Mundo Espiritual,
ou seja, o espaço invisível aos nossos olhos. Esta é a estrutura do mundo;
assim o fez o Criador. Por isso, da mesma forma que o espírito move o corpo, o
Mundo Espiritual move o Mundo Material. Em tudo, o Mundo Espiritual é
soberano, e o Mundo Material, súdito. Portanto, o mesmo acontece com a
sorte; basta que ela advenha ao nosso espírito, que se encontra no Mundo
Espiritual, para que, refletindo igualmente na matéria, nos tornemos pessoas
afortunadas.
Darei explicações mais detalhadas sobre o Mundo Espiritual.
Ele possui uma hierarquia muito mais justa e rigorosa que a do Mundo
Material. É constituído de cento e oitenta camadas, distribuídas em três planos
- Superior, Intermediário e Inferior - cada um composto de sessenta camadas.
Naturalmente, o Plano Superior é o Céu; o Inferior é o Inferno; o Intermediário
corresponde ao Mundo Material. Talvez o homem contemporâneo não acredite
nisso de imediato; entretanto, como Deus me mostrou minuciosamente a
relação entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material, e, através de minha
longa experiência, adquiri o mais profundo conhecimento sobre o assunto, não
há o menor erro no que estou afirmando. Como prova disso, existem inúmeras
pessoas que, acreditando nesse princípio e colocando-o em prática,
conseguiram alcançar a boa sorte. Eu me incluo entre elas. Para se
certificarem do que estou dizendo, basta que me analisem imparcialmente:
constatarão o estado de felicidade em que eu me encontro.
Ampliando um pouco mais o assunto, falarei sobre as camadas
espirituais mencionadas acima.
Se, conforme expus, o corpo físico do homem está no Mundo Material, e
o espírito, no Mundo Espiritual, este deve situar-se numa das cento e oitenta
camadas, a qual seria uma espécie de "residência" do espírito. Esta
"residência" não é fixa; flutua constantemente para cima ou para baixo. Uma
vez que o destino acompanha essa flutuação, o homem deve esforçar-se ao
máximo para elevar-se às camadas superiores.
Naturalmente, o Plano Inferior é o Inferno; um mundo de trevas, repleto
de doença, pobreza, conflito e figuras horrendas, assombrosas, monstruosas,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

com todos os tipos de sofrimentos possíveis. Em contraposição, quanto mais


alta for a camada, melhor a sua condição. O Plano Superior é o Céu, local puro,
de paz, luz, saúde e riqueza. O Plano Intermediário é mais ou menos a média
entre os dois extremos. Conseqüentemente, se a "residência" do Mundo
Espiritual reflete-se na matéria e transforma-se em destino, é claro que o
princípio fundamental da boa sorte está na elevação do nível espiritual.
Como nos mostra a realidade, existem muitas pessoas que, tornando-se
importantes e invejadas por terceiros, ficam orgulhosas e pensam que
continuarão assim eternamente. Um dia, porém, de forma inesperada, vêem-
se decaídas, arruinadas, regredindo ao estado anterior. Isto acontece porque,
desconhecendo o fundamento da boa sorte, elas se baseiam quase que
somente na força humana. Além disso, maltratam os outros e forçam
situações. Assim, mesmo que, aparentemente, obtenham êxito, seu espírito
está decaído no Inferno. Em conseqüência, pela Lei do Espírito Precede a
Matéria, essas pessoas passam a ter o mesmo destino. Da mesma forma que a
matéria, o espírito tem peso, de modo que, se ele for pesado, cai no Inferno, e
se for leve, sobe ao Céu. A conhecida expressão "peso na consciência" refere-
se exatamente a isso.
Ao contrário das más ações, que maculam o espírito e o tornam pesado,
as boas ações o tornam leve, fazendo-o elevar-se. Por conseguinte, o segredo
da boa sorte é evitarmos o mal, não cometermos pecados e praticarmos o
bem o máximo possível, tornando leve o nosso espírito. Por se tratar da
Verdade, afirmo que não há outra maneira para alcançarmos a boa sorte.
Explicada dessa forma, a teoria é realmente fácil de ser compreendida;
entretanto, quando vamos colocá-la em prática, torna-se muito difícil. Existe,
porém, um método facílimo para conseguirmos isso. Esse método não é outro
senão a Fé. Portanto, as pessoas que realmente desejam obter a boa sorte,
antes de tudo e mais do que tudo, devem se converter.
3 de fevereiro de 1954

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

INTELIGÊNCIA DA PERCEPÇÃO VERDADEIRA

LUZ DA INTELIGÊNCIA
Todos se referem à inteligência como se fosse uma coisa única. Mas ela
pode ser de vários tipos, apresentando diferentes níveis de profundidade.
Dentre as inteligências, as mais elevadas são: a Divina, a sagrada e a
superior. Precisamos aprofundar a nossa própria fé, a fim de cultivá-las. Elas
surgem quando possuímos espírito correto, que admite a existência de Deus.
Quando há esforço baseado na virtude, esses aspectos superiores da
inteligência se desenvolvem, e a recompensa será a verdadeira felicidade.
Em nível mais baixo, estão as inteligências calculista, ardilosa, satânica
e outras, que nascem do mal. Todos os criminosos servem como exemplo. Os
delinqüentes intelectuais, especialistas em fraudes, possuem-nas em alto
grau. Os conhecidos "heróis" de sucesso passageiro nada mais são do que
portadores, em ampla escala, dessas inteligências nocivas.
É interessante notar que quanto maior for a inteligência do bem, mais
profunda ela é; quanto maior a inteligência do mal, mais superficial. Basta
analisar a vida dos criminosos, desde épocas remotas, para verificar o que
estamos dizendo. Eles fazem planos aparentemente perfeitos, mas que, na
prática, apresentam alguma falha. É essa falha que torna público e notório o
seu fracasso. Por conseguinte, se o homem deseja crescente prosperidade,
deve fazer esforços para aprofundar sua inteligência.
A profundidade da inteligência depende da força da sinceridade. Assim,
conclui-se que o homem cuja fé não é correta, nada conseguirá. Tão logo seja
aceita essa teoria, desaparecerão os males da sociedade.
O homem de hoje é superficial. Isto pode ser facilmente observado por
quem examina os vários campos da atividade humana. Os políticos, por
exemplo, só se ocupam de assuntos imediatos; qualquer outro é negligenciado
até que tome vulto. Suas providências assemelham-se aos remédios alopatas:
combatem os efeitos e não as causas. Ora, todo problema surge porque existe
uma causa; nada acontece sem motivo.
A inteligência superficial não consegue prever o futuro, ficando
impossibilitada de estabelecer uma verdadeira política. No jogo de xadrez, o
mestre ganha a partida porque "enxerga" os lances subseqüentes; o novato é
derrotado porque não os prevê.
Neste sentido, o homem deve conscientizar-se de que precisa cultivar as
inteligências de nível superior, pois, sem elas, não obterá o verdadeiro êxito. E
devemos compreender que a Fé é o único meio para adquiri-las.
25 de maio de 1949

O SABER DAS COISAS


Creio que, em japonês, não há expressão de sentido mais profundo e
sutil do que "mono o shiru" (o saber das coisas). Considero-a de difícil
interpretação, por isso vou tentar esclarecê-la o melhor possível.
Analisando essa expressão, vemos que ela significa experimentar
ilimitadamente tudo que existe no mundo, penetrar, captar a essência das
coisas e exprimi-la de alguma forma. Ou melhor, descobrir o segredo de medir
a ação e as conseqüências de determinado problema. Ao contrário, se alguém
exibir teorias infantis, agir levianamente ou praticar ações sem perceber a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

censura e o desprezo dos outros, significa que não tem visão nem saber das
coisas. Pertence ao grupo daqueles que se costuma chamar de imaturos,
infantis ou grosseiros.
Esclarecido é quem possui vasto saber. Por aí vemos quão grande é o
número de homens imaturos que não possuem esse saber das coisas, inclusive
entre os homens públicos. Eles procuram exagerar e fazer alarde de questões
insignificantes, sem se dar conta de que estão atraindo o desprezo dos
esclarecidos. Seu comportamento nada mais é que a demonstração de sua
própria inferioridade. Tais indivíduos são, infalivelmente, umas nulidades,
homens de conceitos restritos ("Shojo").
A eficiência e o crédito são sempre prejudicados pela ação dessas
criaturas medíocres, empenhadas somente em elevar sua própria fama.
Certamente é por causa de tantos elementos sem maturidade que não se
consegue chegar a conclusões e resoluções mais rápidas nos debates políticos
de hoje. Se a maioria fosse esclarecida, seria fácil um acordo. O problema é
que os esclarecidos se retraem no silêncio, por detestarem discutir com gente
teimosa. Os imaturos aproveitam essa oportunidade para se exibir, desejando
tornar-se famosos, e a fama aumenta sua probabilidade de serem eleitos, por
ocasião das eleições. Sendo assim, os menos esclarecidos representam a
maioria, e os esclarecidos, a minoria. Uma prova disso é o fato e a
necessidade de se passar longo tempo discutindo um problema - às vezes de
somenos importância - para se encontrar uma solução.
Mas a verdade é que, apesar de os homens mais esclarecidos
aparecerem menos, por serem modestos, suas opiniões acabam sempre
triunfando. E isso não se limita ao mundo político. É natural, em todos os
setores da sociedade, que aqueles que são conhecidos pela sua competência
sejam homens relativamente esclarecidos.
Até aqui me referi à parte moral. Passarei, em seguida, para o campo da
Arte, que eu considero o melhor meio para explicar o presente assunto, já que
a maioria dos homens esclarecidos são, ao mesmo tempo, dotados de senso
estético muito elevado.
Exemplifiquemos, primeiramente, com o príncipe Shotoku, cujo vasto
conhecimento sobre a cultura budista, principalmente na parte artística,
ninguém poderá deixar de reconhecer. Temos a prova disso no Templo Horyuji
e em outras construções, que ainda conservam o esplendor da sua
magnificência. A sua famosa "Constituição dos 17 Artigos" pode ser
considerada a base da lei japonesa.
Também podemos citar Yoshimassa Ashikaga, que, embora tenha sido
muito criticado em outros setores, na parte artística deixou-nos uma obra
notável. Além de construir o Templo Guinkakuji (Pavilhão de Prata), foi
apreciador da arte chinesa, tendo colecionado objetos artísticos das eras Sung
e Ming. Incentivou grandemente a arte japonesa, e as obras raras e valiosas
criadas por sua iniciativa, conhecidas como "Obras preciosas de Higashi-
yama", ainda hoje deleitam o nosso senso artístico. Seu trabalho é realmente
digno de louvor.
A maior honra, no entanto, desejamos conferir a Hideyoshi Toyotomi
(unificador dos feudos, no ano de 1573). Ao lado de sua exuberante criação
artística, intitulada "Momoyama", devemos salientar o brilhante impulso dado
por ele à arte da Cerimônia do Chá - cuja existência, até então, era obscura -
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

protegendo Rikyu Senno, mestre da referida arte, naquele século. Graças a


ele, houve um rápido desenvolvimento da cultura artística, e gênios e grandes
mestres surgiram uns após outros. Não fazem exceção Enshu Kobori e Chojiro,
o gênio da cerâmica. Este, como Ashikaga, além de obras japonesas e
chinesas, colecionou famosos objetos artísticos da Coréia, dando um novo
impulso à cerâmica no Japão. Devemos lembrar, aqui, a existência de Koetsu
Honnami. Ele foi pintor e calígrafo notável, tendo criado uma nova modalidade
de "makiê" (arte que utiliza laca e madrepérola); na fabricação de cerâmicas,
foi inimitável, graças à sua originalidade e versatilidade. Sua maior
contribuição, que ele próprio não previra, foi ter influenciado, cem anos após
seu falecimento, o famoso mestre Korin Ogata, expoente máximo do Japão no
setor artístico, o qual foi admirador de Koetsu e o superou, conquistando
grandiosa fama. Também não podemos omitir os oleiros Ninsei e Kenzan.
Desta corrente surgiu Hoitsu, que se fez notar, também, pela sua habilidade
artística.
A grandeza de Hideyoshi Toyotomi reside no fato de ter compreendido a
Arte ainda na mocidade e colecionado obras-primas, o que não deixa de ser
algo surpreendente, dado que ele era filho de lavrador. Geralmente, além de
crescer sob condições favoráveis, ou melhor, na classe acima da média, é
necessário um grande esforço para se atingir o nível do "saber das coisas".
Hideyoshi, portanto, é de fato um homem extraordinário, pois atingiu esse
nível apesar de sua origem humilde e de ter vivido continuamente em campos
de batalha.
Lancemos, agora, uma vista sobre a arte literária.
Na poesia, sobressaem, indiscutivelmente, Saigyo e Basho. As obras
destes dois expoentes revelam ter sido realizadas por quem realmente possui
o "saber das coisas". Nunca deixo de admirar estes poemas, suas obras
principais:

"A solidão envolve


Até um coração indiferente,
Quando as narcejas levantam vôo do pântano,
Nos crepúsculos do outono."
Saigyo (Waka)

"O canto das cigarras


Penetra no silêncio
E nas rochas."
Basho (Haiku)

Uma pessoa que também merece ser lembrada é o aristocrata Unshu


Matsudaira, conhecido pelo nome de Fumai. Ele colecionou inúmeras obras de
arte, classificou-as, protegeu-as da dispersão e deu impulso à Cerimônia do
Chá. É digno de toda a nossa consideração.
Entre os esclarecidos da época moderna, citaremos o falecido ator
Danjuro Itikawa.
Vimos, em linhas gerais, alguns dos principais representantes da arte
japonesa considerados esclarecidos. São homens civilizados no mais alto grau,
e é escusado dizer o quanto colaboraram para alimentar a alma do povo,
158
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

enriquecendo-lhe o gosto estético e elevando-lhe os sentimentos.


Naturalmente, todos sabem que as invenções, as descobertas e o progresso
do ensino contribuíram para a cultura da humanidade, mas convém recordar a
grande contribuição que, em silêncio, as obras dos esclarecidos trouxeram à
civilização.
15 de agosto de 1950

AS CINCO INTELIGÊNCIAS
Há vários tipos de inteligência. Formam uma escada de cinco degraus,
na seguinte ordem: Divina, sagrada, superior, ardilosa e calculista.
A inteligência Divina é a mais elevada, e Deus a concede a certas
pessoas para que cumpram missões importantes. Bem afirma o ditado: "Diz-se
que a inteligência é humana, quando o conhecimento é aprendido; é Divina,
quando não depende de aprendizado."
A inteligência Divina pode ser considerada como de caráter masculino
em relação à inteligência sagrada, que, por sua vez, pode ser considerada
como de caráter feminino.
A inteligência superior é aquela manifestada pelas pessoas sábias. No
budismo, denomina-se "Tie Shokaku" (inteligência da percepção verdadeira)
ou simplesmente "Tie" (inteligência).
A ação dos espíritos malignos é que obscurece o discernimento humano.
Os políticos e os intelectuais da atualidade dão-nos exemplo disto: gastam
horas e horas discutindo problemas quase sempre de muito pouca
importância. Quando se trata de assunto de grande monta, dezenas de
pessoas passam a debatê-lo por várias horas, durante dias e dias, muitas
vezes sem chegar à conclusão desejada. Isso prova a lentidão mental do
homem contemporâneo, pois todo problema só apresenta uma solução. Jamais
houve um problema com muitas respostas. E dizer que tantos cérebros levam
vários dias só para encontrar a solução de um problema!
É desolador...
A causa dessa lentidão mental é a escassez de inteligência superior, pois
as mentes se acham obscurecidas. E se elas estão obscurecidas é porque
cultivam idéias satânicas, decorrentes da devoção ao materialismo. Essa
devoção provém do não-reconhecimento da existência de Deus. Ora, se as
pessoas não reconhecem a existência de Deus, é porque falta uma religião
com o poder de inspirar-lhes essa crença. A verdadeira religião deve ser capaz
de mostrar claramente que Deus existe. A própria necessidade de insistir
neste assunto é decorrente da fraqueza mental do homem moderno.
De acordo com a teoria que expomos, quem possui inteligência superior,
consegue resolver qualquer problema em poucos minutos. Eu, pessoalmente,
limito a trinta minutos os debates de meus subalternos, seja qual for o
problema discutido. Quando a questão se prolonga por mais de uma hora,
aconselho que interrompam a reunião, deixando-a para outro dia, ou que me
consultem sobre o assunto.
É claro que não atendo à modéstia quando digo que quase sempre
consigo resolver qualquer problema em poucos minutos, por mais difícil que
ele seja. Excepcionalmente, se aparece uma questão que não resolvo logo,
protelo-a sem me esforçar. Momentos depois, infalivelmente, vem-me a
inspiração para solucionar o caso.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Analisemos, a seguir, a inteligência calculista.


Todos a consideram uma inteligência superficial; seu sucesso é
passageiro, resultando sempre em derrota, e os que dela se utilizam perdem a
confiança dos outros.
A inteligência ardilosa pode ser considerada como perversidade - é a
inteligência do mal. Milhares de pessoas a empregam, quase sempre
pertencentes às classes dirigentes e intelectuais. Assim, é impossível a
sociedade melhorar. Tão logo essa espécie de inteligência seja erradicada do
Universo, surgirá uma sociedade sadia e países magníficos. Mas haverá meios
de erradicá-la? Certamente que sim. Basta destruirmos sua raiz. Essa tarefa
cabe a uma religião poderosa, capaz de despertar a fé em Deus.
20 de agosto de 1949

FELICIDADE

FELICIDADE
Em todos os tempos, o ser humano aspirou à felicidade, primeiro e
último objetivo do homem e meta de todo preparo, esforço e aperfeiçoamento.
Mas quando poderão as criaturas consegui-la de fato? A maioria, não obstante
ansiar pela felicidade, permanece vítima das desgraças e deixa este mundo
antes de desfrutar a alegria de vê-la concretizada.
Será, então, a felicidade algo tão difícil de se conseguir? Devo dizer que
não. A felicidade baseia-se na eliminação de três fatores principais: doença,
pobreza e conflito. Como essa eliminação não é fácil, a maior parte das
pessoas submete-se a uma forçada resignação.
Tudo se enquadra dentro da Lei de Causa e Efeito, e a felicidade não
foge a essa lei. Descobrir sua causa será, pois, descobrir a chave do problema.
A solução da incógnita está na compreensão do amor altruísta. Lutar pelo
bem-estar do próximo é a condição essencial para nos tornarmos felizes. O
mundo, entretanto, está repleto de pessoas que buscam a felicidade apenas
para si, indiferentes à desgraça alheia.
É uma tolice almejar a felicidade semeando a infelicidade. É como a
água de um recipiente: se a empurramos, ela volta; se a puxamos, ela se
afasta. A necessidade da Religião reside nesse ponto. O amor pregado pelo
cristianismo e a caridade búdica têm por propósito infundir a fraternidade no
coração humano. Contudo, essa verdade tão simples é difícil de ser
reconhecida pelo homem.
Deus, por meio de Seus representantes, criou as religiões, que por sua
vez estabeleceram doutrinas, através das quais são indicadas as bases do
viver. São as religiões que nos ensinam a existência de um Ser Invisível, para,
com a mais pura intenção, conduzir-nos ao caminho da Fé. Não é pequeno o
empenho requerido para salvar uma pessoa. A vida, realmente, não tem
sentido para a maioria, que, não sendo ensinada a crer no invisível, parte para
o Além indiferente aos ensinamentos, ludibriada e perdida nas trevas. Todavia,
para os que souberem desfrutar da alegria de viver, extasiar-se com as
verdades, conseguir vida longa e o meio de serem verdadeiramente felizes, o
mundo será, sem dúvida, um paraíso digno de ser vivido.
Nós afirmamos que, para nos tornarmos felizes, há um caminho cujo
rumo está indicado neste livro, apresentado com tal propósito.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

1º de dezembro de 1948

SEGREDO DA FELICIDADE
Quando falo em "segredo da felicidade", parece que me refiro a algo
mágico e misterioso. Nada disso, porém. O "segredo da felicidade" é muito
simples. Tão simples, que poucos conseguem descobri-lo.
Quantas pessoas felizes conhecemos? Talvez nenhuma. Isso mostra que
o mundo está cheio de sofrimento. Todos vivem sob o risco de fracasso,
dúvida, desespero, desemprego, doença, pobreza e conflito, acorrentados
pelas dificuldades, como se estivessem numa prisão.
Creio que todo ser humano, algum dia, perguntou a si mesmo: "Se Deus
criou o homem, por que o faz sofrer tanto, ao invés de determinar que no
mundo reine a felicidade?" Como essa interrogação permanece sem uma
resposta, vamos tecer considerações a respeito.
Muitos já me perguntaram: "Se Deus é Amor e Piedade, como deixou
que o homem errasse, para depois levá-lo ao Juízo Final?" E mais: "Se, desde o
início, Ele não criasse o homem como um ser malvado, não haveria
necessidade de castigo ou Juízo Final..." Parecem-me observações bem lógicas.
Falando a verdade, eu também penso assim. Se estivesse no lugar de Deus,
poderia explicar tudo a respeito do problema. Como sou apenas uma
existência criada, não consigo dar a resposta que Ele daria. Entretanto,
esforço-me para compreender e imagino que a resposta da questão é a que
vai a seguir.
O bem e o mal se digladiam desde as eras mais remotas; jamais um
predominou definitivamente sobre o outro. Refletindo bem, foi em
conseqüência do atrito entre ambos que a civilização atingiu tão grande
desenvolvimento.
Mas, como obter a felicidade neste mundo em que se empreende tal
batalha? Deixando de lado todas as suposições com que temos tentado
compreender a vontade de Deus, procuremos descobrir o meio de sermos
felizes.
Como venho afirmando há muito tempo, nossa felicidade depende de
fazermos os outros felizes. Esse é o meio mais seguro para alcançá-la, e eu o
venho aplicando há muitos anos com resultados maravilhosos. Foi por isso que
escrevi este ensinamento. Simplificando o conselho, pratiquemos o maior
número possível de boas ações, pensemos em dar alegria às outras pessoas.
Que a esposa estimule o marido a trabalhar para o bem-estar da
sociedade e que o marido lhe dê alegria, mostrando-se gentil com ela e
inspirando-lhe confiança.
É natural que os pais amem os filhos. Mas devem fazer mais do que isso:
devem cuidar do seu futuro com a máxima inteligência e eliminar atitudes
autoritárias no trato com eles.
Que na vida cotidiana suscitemos esperança no coração das pessoas
com quem lidamos, tendo por lema proceder com amor e gentileza em relação
a chefes e subalternos, bem como seguir as normas da honestidade.
Aos políticos, cabe esquecerem a si próprios, pondo a felicidade do povo
acima de tudo e erigindo-se como exemplos de boa conduta. O povo também
deve praticar boas ações e esforçar-se constantemente para desenvolver sua
inteligência.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Sabemos que serão mais felizes aqueles que praticarem maior número
de ações louváveis. Já imaginaram que povo e que nação surgiriam, se todas
as pessoas se unissem para praticar o bem? Um país assim seria alvo de
respeito universal. Poderia ser considerado como uma parcela do Paraíso
Terrestre, pois, com o tempo, desapareceriam todos os problemas de ordem
moral, toda doença, toda pobreza e todo conflito. Seria como "bater com o
martelo no chão" - a pancada não poderia falhar.
Por toda parte existem homens praticando o mal, mentindo, enganando,
buscando atender às exigências de seu próprio egoísmo. É uma sociedade de
seres maldosos. Assim, a felicidade mantém-se muito distante. E o pior é que
há quem julgue ser natural um mundo tão perverso, achando inútil tentar
reformá-lo. Temos até encontrado quem procure impedir nossas tentativas de
transformar em paraíso este inferno terrestre. Essas pessoas, pelo mal que
intentam, cavam sua própria desgraça, criando para si próprias o pior de todos
os infernos. São merecedoras de piedade e oramos constantemente para que
sejam salvas.
Tenho certeza de que, meditando sobre este ensinamento, todos
perceberão que não é difícil ser feliz.
1º de outubro de 1949

DESTINO E LIBERALISMO
Como sempre me fazem perguntas sobre predestinação e destino,
explicarei a diferença entre ambos.
A predestinação é algo atribuído a uma pessoa em caráter definitivo, e
de maneira alguma pode ser mudada. Já o destino é livre, dentro dos limites
da predestinação, e, dependendo do esforço de cada um, pode-se atingir o
nível mais alto ou, ao contrário, decair ao nível mais baixo.
O liberalismo, que hoje se tornou alvo da atenção de tantas pessoas, é
muito semelhante ao destino. O verdadeiro liberalismo está restrito a certos
limites. É impossível existir a liberdade infinita; a verdadeira liberdade é
aquela que tem limites. Assim, quando ultrapassamos esses limites, não só
invadimos e prejudicamos a liberdade dos outros, como também nos tornamos
traidores da cultura. Pela mesma razão, quando ultrapassamos os limites do
destino, invariavelmente fracassamos.
25 de janeiro de 1949

NÓS É QUE TRAÇAMOS O NOSSO DESTINO


Ao falar em destino, devo esclarecer primeiramente que as pessoas
confundem predestinação com destino. A diferença, no entanto, é radical.
Devemos entender por predestinação certas condições a que estamos sujeitos
antes mesmo do nascimento, ao passo que o destino depende inteiramente do
homem.
A não-realização de diversos desejos deve-se à predestinação, da qual
estamos impossibilitados de nos livrar. O importante é conhecer o seu limite, o
que é difícil, ou seja, quase impossível. O desconhecimento desse limite faz o
homem traçar planos superiores à sua capacidade e ter esperanças
descabidas, que o levam ao fracasso. Se, consciente do seu erro, ele voltasse
imediatamente ao ponto de partida, certamente sofreria menos, mas a
ignorância da predestinação o impele a prosseguir, aumentando sua desgraça.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Isto decorre também do fato de subestimar-se o rigor do mundo. Como


resultado, a maioria das pessoas só toma consciência da realidade após
amargas experiências, falhando nas tentativas de recuperação ou vendo-se
impedidas de recomeçar suas atividades, por causa das pedras lançadas em
seu caminho. Felizes os que reconhecem o erro em tempo, ao tomarem
conhecimento da realidade.
Referi-me ao destino dos descrentes. Com os crentes é diferente.
Devo abordar a questão pelo aspecto espiritual e dizer, numa palavra,
que todos os sofrimentos são ações purificadoras. Ser vítima de chantagem,
incêndio, acidente, roubo, desgraça familiar, prejuízo, fracasso comercial,
necessidade monetária, conflito conjugal, desavença entre pais e filhos ou
entre irmãos, contenda com parentes e amigos, tudo isso faz parte da ação
purificadora. Nessas circunstâncias, só há um recurso: eliminar as máculas
espirituais por meio do sofrimento. Enquanto houver máculas no espírito, a
ação purificadora persistirá; diminuí-las, é condição essencial para melhorar o
destino. O ato purificador é dispensado quando atingimos certo grau de
purificação; então a desgraça se transforma em felicidade. Sendo esta a
verdade, a boa sorte não se espera de braços cruzados, mas purificando.
Se a Fé é o meio para purificarmos sem sofrimentos, é natural que não
haja felicidade para os descrentes. Existem diversas espécies de crenças, mas
para se obter a verdadeira felicidade é preciso seguir uma fé verdadeira e de
poder elevado. Daí a necessidade de se reconhecer a Igreja Messiânica
Mundial como uma religião que corresponde a essa condição.
25 de outubro de 1952

BOM SENSO
Para que a Fé seja autêntica, ela deve ser professada sem ferir o bom
senso. Palavras e atos excêntricos devem ser vistos com desconfiança;
entretanto, as pessoas geralmente dão muito crédito a tais coisas.
É preciso muita cautela. Religiões egocêntricas, fechadas, que não
mantêm relações com outras e que se isolam socialmente, também não são
dignas de confiança. A Fé é verdadeira quando não prejudica a lucidez e, ao
mesmo tempo, desenvolve a consciência de que sua missão é salvar a
humanidade. Jamais pode ser egoística ou fechada em si mesma. O Japão é
exemplo típico do que aqui se condena: sofreu amarga derrota na Segunda
Guerra Mundial porque visava apenas o seu próprio bem, ficando indiferente à
sorte dos países vizinhos.
A formação de homens perfeitos é um dos propósitos da Fé.
Evidentemente, não se pode exigir a perfeição do mundo, mas o esforço para
consegui-la passo a passo deve ser a verdadeira atitude religiosa.
A consolidação da Fé faz com que a pessoa assuma uma aparência
comum. Isto significa que ela se identificou plenamente com a Fé. Chega a tal
ponto, que seus atos ou palavras jamais ferem o bom senso. Sempre inspira
simpatia, sem dar indícios da religião a que pertence. No seu contato com os
outros, assemelha-se à suave brisa da primavera. Suas maneiras são afáveis,
modestas e gentis. Deseja crescente bem ao próximo e trabalha em favor do
bem-estar da comunidade.
Sempre afirmei e continuo afirmando: quem deseja ser feliz, deve
primeiramente tornar feliz seus semelhantes, pois a Divina recompensa que
163
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

disto provém, será a Verdadeira Felicidade. Buscar a própria felicidade com o


sacrifício alheio, é criar infelicidade para si mesmo.
25 de janeiro de 1949

FÉ UNIVERSAL

POSSUA FÉ UNIVERSAL
Conforme venho insistindo, o mal de "Daijo" (fé universal) corresponde
ao bem de "Shojo" (fé restrita), e vice-versa. Peço profunda reflexão aos fiéis
de nossa Igreja, os quais estão esquecidos deste ponto capital.
Em poucas palavras, a maneira "Daijo" de encarar as coisas é observar
tudo com visão global. Vou explicar melhor.
Há fiéis que são muito dedicados, pensando estarem praticando o bem;
muitas vezes, contudo, as conseqüências de seus atos atrapalham a
propagação da religião. Além disso, como todos sabem por experiência
própria, tais pessoas são do tipo auto-suficiente, confiam demais na força
humana e, inconscientemente, tendem a esquecer-se do santo poder de Deus.
Ouço ainda, com freqüência, o seguinte comentário: "Por que fulano,
apesar de tanta dedicação, não faz muito progresso?" A razão é que essa
pessoa tem fé "Shojo" e, como tal, é austera, cria um ambiente constrangedor
à sua volta, não atraindo as demais, e por esse motivo não prospera. O pior de
tudo é que leva as coisas ao extremo e, fugindo ao senso comum, diz e faz
excentricidades. Vendo isso, as criaturas sensatas são tomadas de desprezo,
achando que a nossa Igreja é uma religião supersticiosa e de baixo nível. É
justamente nesse ponto que devemos tomar o máximo de cuidado.
Existem pessoas, no entanto, que fazem progresso sem que a gente
espere, apesar de não darem mostras de grande dedicação. Essas sim,
realmente compreendem e agem conforme a fé "Daijo".
Desejo acrescentar que justamente as pessoas de fé "Shojo" é que
procuram julgar o bem e o mal do próximo. Trata-se de um erro gravíssimo,
pois só Deus sabe fazer justiça. É demasiada insolência do homem querer
julgar o seu semelhante, e não há maior ofensa a Deus do que ignorarmos a
profundidade dessa profanação. Tais pessoas geralmente se julgam perfeitas,
são orgulhosas e, como lhes falta caráter, ao invés de progredirem, costumam
criar casos detestáveis.
Tomemos como exemplo o Japão antes do término da guerra. Naquela
época, julgava-se que o arrojado patriotismo do povo era uma ação justa e
ditada pelo bem. Era, no entanto, um bem de caráter restrito, pois tinha-se em
vista somente a felicidade do próprio país; assim, a derrota não foi nada mais
que uma conseqüência desse conceito egoísta. Aliás, eu publiquei o
ensinamento "Precisamos ser universais" para comprovar a veracidade dessa
tese, ou seja, para demonstrar que o bem autêntico deve ser o bem de
"Daijo", isto é, o bem universal. Se partíssemos deste princípio, não teríamos
sido invadidos e estaríamos livres daquele massacre e vexame.
Continuaríamos gozando de paz e mereceríamos o respeito do mundo inteiro.
Em outras palavras, o amor também se divide em amor de Deus e amor
do homem. Como o amor de Deus é amor "Daijo", Ele ama a humanidade com
um amor ilimitado; o amor do homem é amor "Shojo", pois ele se limita a
amar a si próprio, a seus partidários e a seu povo. Portanto, vem a ser um mal.
164
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Os fiéis que compreenderem claramente o sentido das minhas palavras,


devem manter sempre uma atitude "Daijo", isto é, tomar consciência do amor
de Deus e transmiti-lo ao próximo, o que não deixará de produzir bons frutos.
Viver de acordo com a Vontade de Deus e possuir amor fraternal, tornará
a pessoa agradável a todos aqueles que a rodeiam, propiciando-lhe um
sucesso garantido.
25 de novembro de 1951

DEUS É JUSTIÇA
Não deixa de ser estranho falar, agora, que Deus é Justiça. Mas insisto
nesse ponto porque não só o povo, mas também os fiéis e os ministros
geralmente tendem a esquecê-lo.
Embora a nossa Igreja se dedique especialmente à prática da justiça e
do bem, há alguns fiéis que se desviam do caminho certo e vagueiam sem
rumo. Nessas ocasiões - torno a insistir - se eles desprezarem o sinal de
advertência enviado por Deus, poderão sofrer terríveis conseqüências.
No início, sensíveis e agradecidas às graças e milagres recebidos, as
pessoas se mostram devotadas, fervorosas na fé. Desde que esta seja sincera,
as graças se fazem evidentes, o que torna essas pessoas respeitadas por
todos. Como também são beneficiadas materialmente, na verdade elas
deveriam sentir-se ainda mais gratas e dedicadas; entretanto, longe de
pensarem na retribuição, muitas se acostumam com as graças, tornando-se
orgulhosas e vaidosas. Os espíritos do mal, que estão sempre vigilantes,
aproveitam essa oportunidade para conquistá-las, e começam a controlá-las a
seu bel-prazer. Isso é realmente alarmante.
Satanás espreita principalmente as pessoas ambiciosas e fúteis. Sendo
ele impotente contra a verdadeira fé, não há perigo para quem a possui. Isso
se evidencia pela presença ou ausência de egoísmo. O homem que vive
somente para Deus e a humanidade, sem pensar nos seus próprios interesses,
não é atingido por Satanás. No entanto, quando as coisas começam a correr
bem, ele pode tornar-se pretensioso, julgando ser um grande homem. Aí é que
está o perigo, pois surge a ambição, e quanto mais ambicioso se torna o
homem, mais ele procura engrandecer-se e mais poderes deseja conquistar. O
fato é alarmante. Quando isso acontece, Satanás penetra no espírito da
pessoa e acaba por dominá-la. É um poder passageiro; entretanto, como
ocorre a cura de doenças e outros milagres, a vaidade é mais instigada ainda,
chegando o vaidoso a se julgar a encarnação de alguma divindade.
Trata-se de uma tendência que pode ser claramente distinguida
observando-se com atenção as atividades das religiões fundadas por esses
pseudodeuses. Algumas se caracterizam pelo escasso amor e pela fé "Shojo",
regida por preceitos extremamente rigorosos. Os que não obedecem a eles,
vêem-se ameaçados de castigo, destruição ou morte, caso abandonem o
grupo ou a Fé. São religiões ameaçadoras, que procuram impedir o
desmembramento de sua organização. Se uma religião apresentar esses
indícios, pode ser julgada como de caráter diabólico.
Torno a dizer que a fé verdadeira é "Daijo", liberal; portanto, nada
impede que seja seguida ou abandonada. Além disso, ela é celestial, alegre e
ativa, revelando vida. A religião que exige uma fé rigorosa e dogmática, age
com heresia, é infernal. Devem acautelar-se principalmente quando houver o
165
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

mínimo de segredo que seja. Se uma religião disser, por exemplo: "Isso não
pode ser dito aos outros, mas...", podem ter certeza de que ela é herética. A
religião correta e autêntica é a própria imagem da clareza, sem nenhum
indício de sigilo ou mistério.
18 de março de 1950

A NOSSA RELIGIÃO E O UNIVERSALISMO


Observando o mundo atual, constatamos a existência de pessoas que,
dizendo-se esquerdistas, direitistas ou neutras, vivem criando conflitos. É fácil
o aparecimento de choques, entre esses grupos, em virtude de cada um se
firmar em sua ideologia e tentar impô-la aos demais. Existem alguns cujo
propósito é justamente provocar tais choques, mas isso não vem ao caso no
momento.
Após a Segunda Guerra Mundial, o objetivo do povo japonês é a
democracia, que, obviamente, visa o máximo de felicidade para o maior
número de pessoas. Entretanto, se cada um insistir em suas ideologias e
"ismos", isso resultará em conflitos e, ao invés de se proporcionar felicidade às
pessoas, se estará acarretando o máximo de desgraças. Quem o diz não sou
eu apenas. Dentro do quadro social da atualidade, é uma tendência que
realmente aparece clara em todos os setores. Vejamos, por exemplo, os
partidos políticos. Num mesmo partido, existem alas, ocorrem choques entre
seus componentes, devido à diferença de pontos de vista, e há sempre o
perigo de desagregação. Qualquer coisa que fuja a esses pontos de vista é
considerada como inimiga, por isso não é fácil manter-se a coesão do partido.
Planeja-se derrubar gabinetes que acabaram de ser compostos e até se insiste
para que um gabinete formado apenas há dois ou três meses concretize as
medidas políticas propostas por ocasião das eleições.
Raciocinemos. Por melhor que seja um político, é impossível ele cumprir
suas promessas no prazo de seis meses ou mesmo um ano. É por esse motivo
que o Gabinete Japonês muda tão rapidamente que nem dá tempo para
esquentar as cadeiras. Nesse aspecto, assemelha-se ao da França. Na
Inglaterra, o gabinete trabalhista saiu-se muito mal no primeiro ano de posse;
se fosse no Japão, seria fortemente criticado, mas a tolerância dos ingleses é
de fato extraordinária. Chegou a impressionar-nos a confiança que eles
depositaram em Sir Attlee e a paciência com que ficaram aguardando os
resultados. Passado o referido período, as coisas começaram a melhorar. Hoje
em dia, parece que a situação da Inglaterra é muito boa, inclusive
economicamente.
Nos Estados Unidos acontece o mesmo. Como o mandato presidencial é
de quatro anos, é possível fazer uma política arrojada. Vencedores da Segunda
Guerra Mundial, os americanos demonstraram grande tranqüilidade
econômica, logo após o término do conflito, quando deram aquele magnífico
exemplo que foi o Plano de Salvação da Europa e do Leste Asiático. Isso se
deveu também às quatro eleições consecutivas do Presidente Roosevelt, o
qual, governando durante dezesseis anos, pôde tomar medidas ousadas,
tendo obtido bons resultados.
Como expus anteriormente, a realidade atual do Japão é que ele não
consegue deixar de comportar-se como país bitolado. Portanto, neste

166
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

momento, todos os japoneses devem empenhar-se, antes de mais nada, em


cultivar o espírito de tolerância. É aquilo de que mais necessitamos.
Se o objetivo da nossa Igreja é a construção de uma sociedade sem
conflitos, primeiramente precisamos livrar-nos do estreito sentimento de
orgulho que nos faz menosprezar os outros. Torna-se necessário caminharmos
sem levar em conta se os ideais são da esquerda, da direita ou do meio, mas
fundindo-os num ideal grande e nobre, que abranja tudo e ao qual se possa
realmente chamar de mundial. Batizamo-lo de Universalismo.
8 de abril de 1949

VIDA EM HARMONIA

FÉ MESSIÂNICA
Tudo, na vida humana, principalmente a nossa fé, tem de ser versátil
("enten-katsudatsu"), livre e desimpedido ("jiyu-mugue"). "Enten" significa "a
roda gira". Se a roda possui arestas, não pode girar. Com muita razão se diz:
"Aquela pessoa perdeu as arestas porque sofreu muito."
Entretanto, mais do que possuir arestas, existem pessoas que se
assemelham ao "konpeito" (doce cheio de ângulos). Ao invés de rodarem,
vivem se enroscando em toda parte. Há outras que sofrem dentro do próprio
molde por elas criado, o que é desculpável, quando se limita a elas próprias;
mas há quem considere boa ação atormentar o próximo, encurralando-o
dentro desse molde.
Os exemplos que citamos são característicos da fé "Shojo" e não se
limitam à Religião. A vida dessas pessoas cheira a mofo e causa náuseas.
"Jiyu-mugue" significa "não criar formas, normas e mandamentos" e, por
extensão, "ser completamente livre de todas as limitações". Devo lembrar-lhes
que não se trata de anarquia, e sim, da liberdade que respeita a liberdade
alheia.
Sendo "Daijo", a Fé Messiânica difere muito da fé "Shojo", cujos preceitos
são tão rigorosos que ela própria não consegue cumpri-los. Eles são cumpridos
apenas superficialmente, não na sua essência. Essa duplicidade de ação gera
fracasso e, ao mesmo tempo, constitui um mal, porque dá origem à hipocrisia.
Assim sendo, as pessoas de fé "Shojo" são aparentemente boas, mas
interiormente ruins. Ao contrário, as de fé "Daijo" sentem-se mais livres,
alegres, sem necessidade de camuflagem, porque sabem respeitar a liberdade
humana; nelas, a hipocrisia não tem lugar. Esta é a verdadeira e grata Fé
Messiânica.
Em outras palavras, as pessoas de fé "Shojo" sofrem de mania de
grandeza, tornam-se megalomaníacas, porque caem, sem querer, na
hipocrisia. Isso as torna insuportáveis e antipáticas. Além disso, elas
diminuem-se, ao invés de engrandecer-se. Chamamos de "homem limitado" a
esse tipo de pessoa.
Na ocasião de levantar alguma construção, por exemplo, divirjo sempre
do operário que se preocupa somente com a beleza exterior. Como isso, de
certo modo, causa má impressão, faço-o corrigir as suas falhas. O mesmo se
aplica aos homens. Os que procuram ser modestos, são sempre mais
respeitados, porque parecem mais nobres. Portanto, os que professam a nossa
Fé, devem tornar-se alvo de um respeito sincero.
167
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

20 de abril de 1949

SOL E LUA
Gostaria de explicar o significado do Sol e da Lua do ponto de vista
religioso. Isso constitui um grande mistério, razão pela qual talvez pensem que
eu esteja dando uma interpretação forçada ao assunto. O que eu vou dizer, no
entanto, é a pura verdade, e todos devem dar-lhe a máxima atenção.
O Japão possui três objetos tradicionalmente sagrados: uma pedra
("tama"), uma espada ("tsurugui") e um espelho ("kagami").
A pedra representa o Sol; a espada, a Lua; o espelho, a Terra. A pedra
tem a forma do Sol; a espada assemelha-se à Lua Crescente, e o espelho tem
o formato de um polígono de oito lados. Estes lados representam os oito
sentidos, ou seja, os pontos cardeais e colaterais: norte, sul, este, oeste,
nordeste, noroeste, sudeste e sudoeste.
Das três representações, a Terra dispensa comentários, mas o Sol e a
Lua têm um significado profundo.
Valho-me da interpretação dada pela Igreja Tenrikyo. Ela confere à Lua o
significado de empurrar, afastar, aguilhoar ("tsuki"), e ao Sol, o de puxar,
atrair ("hiku"). Considero interessantíssima esta interpretação.
Na Era da Noite, tudo se fazia por repulsão. Os países chocavam-se uns
com outros, e o maior exemplo disso eram as guerras constantes. Ora, os
choques são empurrões recíprocos. Antigamente a luta se fazia com espadas e
a isto se dava o nome de "tsukiau" (golpear-se mutuamente). O mesmo termo
também se aplica ao ato de cultivar amizade. Embora os sinais gráficos
japoneses que representam os dois significados sejam diferentes, o som é
idêntico.
O termo "tsukissussumu" significa "vitória", mas sua tradução literal é
"avançar empurrando". É essa realmente a ação de "tsuki" (Lua), que
caracteriza a Era da Noite.
Ao contrário, temos "hiki" e "hiku", que significam "recuar". Também
significam "atrair", "desistir da luta", "ser derrotado", "resignar-se", "abnegar-
se" e "ser modesto". Assim, todas essas ações se opõem à ação da Lua.
De acordo com esse princípio, na Era do Dia tudo se baseia em "hiki"
(atração). Aplicado ao homem, "hiki" é a humildade, pois esta não dá ensejo a
desavenças. Eis por que sempre dizemos que é melhor perder. Com base no
mesmo princípio, será possível a eliminação do conflito, a qual se inclui no
objetivo final da nossa Igreja: a construção de um mundo sem doença,
pobreza e conflito. Pela mesma razão dizemos ser muito bom ficar resfriado
("kase o hiku").
Como a ação da Igreja Messiânica Mundial está baseada no Sol, isto é,
na atividade do elemento Fogo, devemos conscientizar-nos de que as nossas
ações devem fundamentar-se na atração, e não na repulsão. Assim, muitas
pessoas serão atraídas. Além disso, como o Sol é uma esfera, é natural que
precisemos ser pacíficos, puros, alegres, corteses e flexíveis.
25 de outubro de 1949

O QUE É LIMITE
Tempos atrás, em determinado lugar, fiquei admirado ao ver um quadro
do professor Yamaoka Teshu. Em cima, estava escrita, com letra bem grande,
168
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

a palavra LIMITE. Abaixo, em letras pequenas, lia-se: "Em tudo os homens


dependem dessa única palavra." Isso ficou gravado de forma tão profunda em
minha mente, que até hoje não consegui esquecer. Durante dezenas de anos,
em diversas ocasiões, lembrei-me daquele quadro, e a lembrança me foi de
grande utilidade.
Muitas palavras sábias vêm sendo ditas desde os tempos antigos, mas
talvez nenhuma tenha me impressionado tanto quanto aquela. É constituída
de uma letra apenas, mas que força maravilhosa! Quando observamos as
diversas situações do mundo tomando-a como ponto de referência,
constatamos que ela se encaixa perfeitamente em todas. Ajusta-se, por
exemplo, à passividade, aos exageros, aos pensamentos extremados voltados
para a esquerda ou para a direita, à ostentação proveniente da riqueza e à
inibição motivada pela pobreza. Não sei por que as pessoas sempre se
colocam nos extremos. Talvez seja por isso que, na maioria das vezes, elas
fracassam. A famosa admoestação de Confúcio no sentido de se obter o meio-
termo surgiu para evitar esses fracassos. As expressões antigas "é bom não
exceder o limite", "o limite é bom", "guardar o limite" significam, em síntese,
que cada um deve proceder de acordo com a sua própria posição social.
Do ponto de vista espiritual, segundo a doutrina da nossa Igreja, se
cruzarmos o vertical e o horizontal, isto é, "Shojo" e "Daijo", efetuar-se-á, no
centro, a ação de "Izunomê". Isso resumido, significa também "limite". Por
conseguinte, antes de mais nada, o homem deve respeitar os limites. Se o
fizer, tudo lhe irá às mil maravilhas.
8 de agosto de 1951

ESPÍRITO DE "IZUNOMÊ"
Já expliquei, inúmeras vezes, o que significa espírito de "Izunomê". Vejo,
porém, que é difícil praticá-lo, pelas poucas pessoas que o conseguem
realmente. Na verdade não é tão difícil. Se conhecermos e assimilarmos o seu
fundamento, não haverá dificuldades. A idéia preconcebida de que é difícil é
que tolhe a ação. Ao mesmo tempo, como me parece que ainda não deram
muita importância ao assunto, sou levado a escrever repetidas vezes sobre
ele.
Em síntese, "Izunomê" significa "princípio imparcial", isto é, manter-se
sempre no centro. Não é "Shojo" nem "Daijo": é Shojo e Daijo
simultaneamente, ou seja, significa não tender aos extremos, nem decidir-se
de maneira impensada.
Naturalmente não podemos fugir à decisão de determinadas questões,
mas a dificuldade está no julgamento. O espírito de "Izunomê" assemelha-se à
arte culinária: o alimento deve ser temperado na justa medida - nem doce,
nem salgado. Assemelha-se também ao clima - nem quente, nem frio. É o
clima agradável da primavera e do outono. Se os homens adotassem esse
espírito e agissem de acordo com ele, seriam estimados por todos e tudo lhes
correria bem. Entretanto, os homens de hoje mostram acentuada tendência ao
radicalismo. Temos o melhor exemplo na Política. Os políticos professam
princípios radicais, denominando-os de partido direitista ou esquerdista. Como
esses pensamentos estão associados à obstinação, eles vivem em conflitos. E
tudo isso prejudica grandemente o país e o povo.

169
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

O método "Izunomê" deveria ser adotado na Política; contudo, há pouca


probabilidade de aparecerem políticos ou partidos que tenham consciência
disso. A guerra origina-se, também, do choque gerado pela imposição de
princípios extremistas.
Verificamos, através de pesquisas, que os conflitos religiosos também
surgem de "Shojo" e "Daijo", isto é, da diferença entre o sentimento e a razão.
Nesse caso, deve-se estabelecer a união encurtando a linha perpendicular e a
horizontal pela metade, o que significa uma solução pacífica. Assim, não é
difícil entrar-se em entendimento.
A propósito desse assunto, podemos observar que sempre há
conservadores e renovadores em todos os setores, mesmo no religioso. O
primeiro grupo compreende os velhos crentes, aferrados à tradição, os quais
detestam as novidades; o segundo compreende os progressistas, que,
tendendo ao extremismo, desprezam tudo que é antigo. Daí surge a discussão,
a causa do conflito, que poderia ser facilmente resolvida pelo método
"Izunomê".
A Religião, também, exige um profundo conhecimento da época.
Todavia, os religiosos são indiferentes a esse ponto, demonstrando forte
inclinação para considerar a tradição milenar como um código de ouro. Sendo
a Fé algo espiritual - a Verdade absoluta e eterna - não é possível modificá-la.
Mas o mesmo não se aplica ao setor administrativo. Este corresponde à parte
material da Religião e deve acompanhar as mudanças da época.
O que acabamos de dizer implica numa perfeita ação espírito-matéria,
ou seja, devemos agir sempre de acordo com o método "Izunomê". Assim, é
escusado repetir que não se conquista a alma do homem moderno praticando
fielmente métodos antiquados. O essencial é compreender que a ação de
"Izunomê" é a verdade fundamental de todas as coisas. Desejo que os fiéis
tenham profunda consciência dessa ver-dade, e por isso estou sempre
pregando o espírito de "Izunomê".
25 de abril de 1952

170
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

VIDA E MORTE

VIDA E MORTE
Para a vida humana, talvez não haja problema tão premente quanto o da
morte. Não será, pois, uma grande felicidade se o homem tiver
esclarecimentos comprobatórios, e não fantásticos, a respeito dessa questão?
Desejo esclarecer as dúvidas existentes transmitindo a todas as pessoas o
resultado dos meus estudos sobre os fenômenos espirituais. Com relação ao
problema da vida após a morte, existem no Ocidente muitas obras famosas,
tais como as de Sir Oliver Joseph Lodge (1851-1940) e do Dr. Ward, que são
autoridades no assunto. No Japão temos Wazaburo Assano, um profundo
pesquisador com quem eu tive certo relacionamento e que deixou vários
trabalhos. Infelizmente, ele faleceu há alguns anos. Falando sobre os
fenômenos espirituais, no entanto, quero deixar bem claro que, na medida do
possível, me basearei apenas na minha própria experiência. Agirei assim para
garantir a exatidão do que digo, pois, como esses fenômenos são invisíveis, é
difícil apresentá-los de forma concreta, sem cair em dogmas.
Desprendido do corpo, que se tornou inútil, o espírito retorna ao Mundo
Espiritual, onde passa a habitar, começando uma nova vida. Descreverei,
inicialmente, como se processa o instante da morte, observado do Mundo
Espiritual.
Geralmente o espírito se desprende do corpo pela testa, pela região
umbilical ou pela ponta dos dedos do pé. O espírito puro sai pela testa; o que
tem muitas máculas, pela ponta dos dedos do pé; o mediano, pela região
umbilical. Isso se explica porque o espírito puro praticou o bem enquanto vivia,
somou méritos e foi purificado; o que tem muitas máculas somou muitos
pecados, e o mediano situou-se entre os tipos mencionados. Tudo está
fundamentado na Lei da Concordância.
O exemplo que se segue é a experiência de uma enfermeira que "viu" a
morte de um doente; sua descrição é tão perfeita, que serve de ilustração. É
um exemplo ocidental, porém, tanto no Ocidente como no Japão, existem
pessoas que têm a faculdade de ver espíritos. Não guardei os pormenores da
descrição, mas vou reproduzir as partes mais importantes.
"Certa vez - disse ela - fitando um doente prestes a morrer, notei que de
sua testa subia algo branco, uma espécie de névoa que, espalhando-se
lentamente pelo espaço, tornou-se uma massa disforme, semelhante a uma
nuvem. Pouco a pouco, entretanto, começou a tomar a forma humana;
minutos depois, apresentou-se exatamente com as mesmas características
físicas da pessoa. De pé, no espaço, olhava atentamente seu corpo inerte,
junto do qual os familiares choravam. Parecia que desejava mostrar-lhes sua
presença, mas desistiu, por saber que estava em dimensão diferente; mudou,
então, de posição, dirigiu-se para a janela e saiu suavemente".
Realmente, a descrição acima retrata muito bem os instantes da morte,
que os budistas designam pela expressão "vir para nascer". De fato, se
analisarmos do Mundo Material, é "ir para morrer", mas, se o fizermos do
Mundo Espiritual, é "vir para nascer". Da mesma forma, ao invés de dizerem
"antes de morrer", eles dizem "antes de nascer". Assim, o espírito vive no
Mundo Espiritual durante determinado tempo, às vezes dezenas, centenas ou
milhares de anos, para nascer novamente. Desse modo, o homem nasce e
171
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

morre muitas vezes. Para se referirem a esse nascer e renascer, os budistas


usam a expressão "Rin-ne Tensho".
Qual a relação entre o Mundo Espiritual e o homem?
O homem vem ao Mundo Material para cumprir a missão que lhe foi
determinada por Deus, tenha ou não tenha consciência disso. No cumprimento
dessa missão, acumula máculas no seu corpo espiritual. Chega, porém, um
momento em que, por doença, velhice ou outros motivos, torna-se-lhe difícil
continuar a cumpri-la. Quando isso ocorre, o espírito abandona o corpo e
retorna ao Mundo Espiritual. Nesse sentido, desde tempos remotos chama-se
"Nakigara" (invólucro vazio) ao corpo sem espírito, e "Karada" (invólucro) ao
corpo carnal de uma pessoa viva.
Na ocasião em que o espírito entra no Mundo Espiritual, inicia-se, na
maioria deles, o processo purificador das máculas. Dependendo do peso e da
quantidade destas, logicamente ele vai ocupar um nível mais elevado ou mais
baixo. O período de purificação é variável. Os períodos mais curtos duram
poucos anos, às vezes dezenas, e os mais prolongados, centenas ou milhares
de anos. Os espíritos que foram purificados até certo ponto, reencarnam, por
determinação de Deus.
Essa é a ordem normal, porém, de acordo com a pessoa, há situações
em que não se obedece a ela. Isso acontece com aqueles que, na ocasião da
morte, têm forte apego à vida. Eles reencarnam antes de terem sido
suficientemente purificados no Mundo Espiritual. Geralmente têm destino
infeliz, porque lhes restam consideráveis máculas da vida anterior, que
precisam ser eliminadas. Por essa razão é que muitos praticam o bem mas
vivem perseguidos pelos infortúnios. São pessoas que na vida anterior
cometeram muitos pecados e, quando morreram, arrependeram-se
seriamente, tomando a firme decisão de não persistir no erro. Esse propósito
ficou impregnado em seu espírito, mas, como reencarnaram sem terem sido
suficientemente purificadas, vivem sempre cercadas de sofrimento, apesar de
detestarem o mal e praticarem o bem. Entretanto, não são poucos os
exemplos de pessoas que, passando um período de infelicidade e tendo
redimido os seus pecados, tornam-se subitamente felizes.
Há homens que se orgulham de não conhecerem outra mulher além de
sua esposa, e outros que não desejam casar-se, terminando a vida solteiros.
São indivíduos a quem as mulheres causaram muita infelicidade na vida
anterior, e por esse motivo morreram com uma espécie de temor ao sexo
feminino, sentimento que deixou marcas em seu espírito.
Algumas pessoas têm especial aversão ou receio de aves, insetos ou
outros bichos. Isso tem origem na morte que tiveram, causada por um desses
animais. O mesmo pode ser dito em relação àqueles que temem a água, o
fogo ou os lugares altos. Outros têm medo de lugares onde se aglomera muita
gente. Quando alguém sente isso, é porque em outra vida morreu pisoteado
pela multidão. É interessante o pavor que certas criaturas têm de ficar
sozinhas. Ministrei Johrei numa pessoa assim. Ela não podia ficar sozinha
dentro de casa. Nessas ocasiões, saía para a rua e ficava esperando alguém
chegar. Provavelmente, na vida anterior, tais pessoas faleceram de um mal
súbito, quando estavam sozinhas.

172
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Pelos diversos exemplos mencionados, concluímos que, no dia-a-dia da


sua vida, o homem deve se esforçar para morrer em paz, sem apegos,
temores e outras preocupações.
Quando uma pessoa nasce deformada ou aleijada, geralmente é porque
reencarnou antes de estar suficientemente purificada no Mundo Espiritual. Por
exemplo: antes de ser curada de fratura nas mãos ou nas pernas, provocada
pela queda de um lugar alto.
Além do apego do próprio falecido, há outro motivo para a reencarnação
prematura: a influência do apego dos familiares. É comum o caso de mulheres
que engravidam logo após o falecimento de um filho querido. Esse novo filho é
aquele que morreu e reencarnou prematuramente, em virtude do apego da
mãe. Geralmente essas crianças não são muito felizes.
Existem pessoas sábias e pessoas ignorantes. Por quê? Pela diferença de
idade entre suas almas: as primeiras têm alma velha; as segundas têm alma
nova. A alma velha, por ter reencarnado muitas vezes, possui uma larga
experiência do mundo, ao passo que a nova, por ter sido criada recentemente
no Mundo Espiritual, tem pouca experiência, motivo pelo qual é mais
ignorante. Como vemos, também há um processo de procriação no Mundo
Espiritual.
Ainda podemos citar algumas experiências pelas quais muitos já
passaram.
Certas pessoas, ao encontrarem alguém que nunca viram, têm a
impressão de tratar-se de pessoa já conhecida. Sentem uma grande emoção,
como se fossem pai e filho, ou irmãos; podem até experimentar um
sentimento mais profundo. A razão é que na vida anterior eram parentes bem
próximos ou tinham laços de estreita amizade; a isso se convencionou chamar
de INNEN (afinidade espiritual).
Também, por ocasião de uma viagem, encontramos lugares pelos quais
sentimos especial simpatia ou atração e onde desejaríamos residir. É porque
em outra vida residimos ou passamos muito tempo nesse locais.
No relacionamento entre homem e mulher, há casos em que ambos
ficam em idílio ardente, que progride até se tornar um amor cego. A
explicação é que na vida anterior, apesar de enamorados, eles não
conseguiram unir-se. Entretanto, na vida atual, apresentando-se essa
oportunidade, cria-se entre os dois um amor apaixonado.
Ao lermos ou ouvirmos falar de determinados personagens ou
acontecimentos históricos, podemos sentir simpatia ou até ódio. Isso acontece
porque já vivemos na época em que aqueles fatos ocorreram, ou porque
tivemos algum relacionamento com aqueles personagens.
5 de fevereiro de 1947

O QUE É A MORTE
Entre as questões relacionadas à vida humana, nenhuma é tão séria
quanto o problema da morte. Todos o reconhecem; apesar disso, é a questão
mais difícil de ser compreendida. Eu cheguei a uma conclusão a respeito da
morte depois de prolongados estudos e pesquisas em todos os campos
incluindo diversas religiões, experiências espirituais realizadas no Ocidente,
etc. Começarei minha explanação falando sobre a constituição do homem.

173
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

O homem não é formado apenas pela matéria, ou seja, pelo corpo físico,
como afirmam os cientistas. É constituído por duas partes essenciais: espírito
(elemento fogo) e matéria. Esta, por sua vez, compõe-se dos elementos água
e terra. Entretanto, apenas com estes dois últimos elementos o homem não
atua como ser vivo. Juntando-se a eles o espírito, sem forma definida, é que se
inicia a atividade vital. O espírito assume, então, a forma do próprio corpo da
pessoa. No momento em que ele se separa do corpo, ocorre aquilo que
chamamos morte.
E por que ocorre a separação? É porque o corpo se torna inútil, seja por
velhice, por doença, por ferimento ou por hemorragia intensa; no instante em
que isso ultrapassa certo parâmetro, entra em vigor a lei que obriga a
separação. Com a morte, imediatamente o corpo esfria, e o sangue se coagula
em determinado local. O esfriamento é decorrente da anulação do elemento
espírito, isto é, do elemento fogo.
O que acontece, então, com o espírito? Ele vai para o Mundo Espiritual
com a forma exata do corpo. A esse respeito li, há algum tempo, o relato de
uma experiência realizada no Ocidente; corno se trata de um exemplo bem
ilustrativo, vou reproduzi-lo a seguir.
Certa vez, fitando um doente prestes a morrer, uma enfermeira
observou que de sua testa começou a subir uma fumaça esbranquiçada, como
se fosse vapor d'água, o qual se tornava cada vez mais denso. A princípio essa
fumaça tomou o formato de uma elipse no espaço, mas gradualmente foi
adquirindo a forma de um corpo humano; por fim, assumiu as mesmas
características físicas da pessoa. O espírito permanecia a uma distância de
aproximadamente um metro acima do morto e parecia querer dizer alguma
coisa aos familiares que choravam à sua volta; logo, porém, flutuando, saiu do
quarto silenciosamente.
Em geral o espírito se desprende do corpo pela testa, pela região
abdominal ou pelos pés. No caso de morte por explosão, instantaneamente ele
se espalha em todas as direções, na forma de inúmeros corpúsculos, mas
torna a se reunir de maneira centrípeta, reassumindo o formato humano;
assim, não difere nem um pouco da morte por doença.
Quando os espíritos se deslocam, por vontade própria, para determinado
local, tomam a forma esférica. É com esse formato que muitas pessoas
afirmam tê-los visto. Com relação à visão da enfermeira de quem falamos,
trata-se de uma capacidade excepcional; aliás, existem criaturas que já
nasceram com essa capacidade, e outras que a adquiriram através de
treinamento. No Japão, desde a antigüidade registram-se casos verídicos
desse tipo, e eu mesmo já tive inúmeras oportunidades de contatar com
médiuns. Conheci uma senhora possuidora de percepção espiritual fora do
comum, a qual me foi de grande valia nas experiências que realizei.
1939

EXISTEM FANTASMAS?
Desde épocas remotas há controvérsias sobre a existência de
fantasmas, mas eu afirmo que eles existem. Trata-se de uma realidade que
ninguém pode negar. Creio que a tese do Inferno e do Paraíso, pregada por
Buda, assim como a do Inferno, Purgatório e Céu, da "Divina Comédia" de

174
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Dante Alighieri (1265-1321), não são teses sem fundamento, absurdas ou


ilusórias.
Que é o Mundo Espiritual? Em síntese, o Mundo Espiritual é o mundo da
vontade e do pensamento. Sem o empecilho da matéria, há uma liberdade
que não existe no Mundo Material.
O espírito pode ir aonde quiser, e mais rapidamente do que uma
aeronave. No xintoísmo, as palavras "Tome assento nesse templo, vencendo o
tempo e o espaço", proferidas nas cerimônias litúrgicas, significam que um
espírito pode cobrir a distância de mil léguas em alguns minutos ou até
segundos. Entretanto, a rapidez com que ele se move depende da sua
hierarquia. Os espíritos elevados, isto é, aqueles que conseguiram atingir os
níveis de hierarquia Divina, são mais velozes. O espírito do nível mais alto da
hierarquia Divina pode chegar ao local mais distante num espaço de tempo
menor do que a milionésima parte de um segundo, mas o espírito de nível
inferior leva algumas dezenas de minutos para cobrir mil léguas. Isso porque,
quanto mais baixo o nível do espírito, mais pesado ele é, devido às suas
impurezas.
Além disso, por sua própria vontade, o espírito pode aumentar ou
diminuir de tamanho. Numa Morada dos Ancestrais com mais ou menos trinta
e cinco centímetros de largura, podem tomar assento várias centenas de
espíritos. Nessa oportunidade, é rigorosamente observada a ordem, isto é,
cada um ocupa a posição adequada ao seu nível, dentro da maior disciplina e
com a indumentária apropriada. No budismo, eles assentam no seu nome
intemporal, escrito numa placa de madeira ou de qualquer outro material; no
xintoísmo, assentam num espelho, numa pedra, numa letra ou no "Himorogui"
(cruz feita de fibras de linho).
Logicamente, os espíritos ficam muito satisfeitos pelos cultos que lhes
são oferecidos de coração, mas o mesmo não acontece se são atos apenas
formais. Assim, nas ocasiões de culto, as pessoas devem colocar o máximo de
sentimento e realizá-lo de forma ideal, de acordo com as condições materiais
do momento.
Desde épocas remotas fala-se em pessoas que ocasionalmente vêem
fantasmas, mas na maioria dos casos trata-se de espíritos com poucos dias de
desencarnados. O grau de densidade das células espirituais dos recém-
falecidos é elevado, razão pela qual esses espíritos podem ser vistos por
algumas pessoas. Nada há de estranho, portanto, no fato de muitos terem
visto a Ressurreição e Ascensão de Cristo. Porém, como o espírito de Cristo era
elevado, Divino, ascendeu ao Céu. Com o passar do tempo, o espírito é
purificado, ficando menos denso, e, assim, mais difícil de ser visto.
Um fantasma pode entrar e sair livremente por um orifício do tamanho
do buraco de uma agulha, pois não tem corpo carnal que lhe estorve a
passagem. Em vista disso, muitos podem pensar que o Mundo Espiritual seja o
lugar ideal para quem ama a liberdade, mas não é bem assim. Nele existem
leis que são aplicadas rigorosamente, e a liberdade é limitada.
Agora falarei rapidamente sobre a expressão facial dos espíritos.
Os fantasmas geralmente são retratados com a expressão facial dos
instantes da morte. Entretanto, com o decorrer do tempo a expressão do
espírito vai mudando lentamente, amoldando-se à índole da pessoa. Por
exemplo, os tímidos, os pessimistas e os solitários tomam um aspecto lúgubre,
175
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

raquítico; os possuidores de natureza diabólica e animalesca, tomam a


aparência do próprio demônio; os de pensamento vil ficam com a face
disforme, e os que têm bom coração adquirem uma expressão bondosa e bela.
Neste mundo, é possível encobrir o pensamento, pela configuração chamada
corpo carnal, mas no Mundo Espiritual tudo é revelado, aparecendo
exatamente como é. Essa imagem verdadeira aparece mais ou menos um ano
após a morte.
Num livro da autoria de um grande religioso, há mais ou menos esta
referência: "Quando o homem falece, seu espírito se extingue. O espírito não é
eterno, nem tampouco existe Mundo Espiritual; se existisse, já estaria repleto,
pois o número de pessoas que faleceram atinge vários bilhões". Esse autor,
apesar de ser um expoente do budismo, desconhece o poder de elasticidade
do espírito.
5 de fevereiro de 1947

JULGAMENTO NO MUNDO ESPIRITUAL


Enquanto vive no Mundo Material, o homem deve se esforçar para
cumprir plenamente a missão que lhe foi concedida por Deus, contribuindo
para o bem da sociedade. A maioria das pessoas, no entanto, fica atenta
apenas aos aspectos exteriores das coisas e, inconscientemente, pratica ações
subordinadas ao mal. Em conseqüência, no seu corpo espiritual vão se
acumulando máculas. Passando para o Mundo Espiritual, nele se efetua uma
rigorosa eliminação dessas máculas.
Realizei minuciosos estudos e pesquisas procurando ouvir o maior
número possível de espíritos desencarnados, através de médiuns. De tudo que
esses espíritos disseram, eliminei aquilo que pode não ser verdade,
transcrevendo apenas os pontos coincidentes entre os muitos depoimentos
que ouvi. Por isso, tenho certeza de que não há erros em minhas explanações.
Ao entrar no Mundo Espiritual, a maioria dos espíritos é conduzida para o
local a que dou o nome de Plano Intermediário. No xintoísmo, chamam-no de
"Yatimata" (encruzilhada de oito direções); no Budismo, "Rokudo no Tsuji"
(esquina de seis caminhos), e no cristianismo, Purgatório. Entretanto, desejo
chamar a atenção para um fato: o Mundo Espiritual do Oriente é mais
verticalizado que o do Ocidente, e o Mundo Espiritual do Japão é o que se
apresenta mais vertical. Por isso é que a sociedade japonesa é particularmente
constituída de muitos níveis hierárquicos, e a sociedade ocidental, menos
hierarquizada, mais propensa à igualdade. O objeto de minhas pesquisas foi o
Mundo Espiritual do Japão; espero que não esqueçam esse fator, ao lerem
minhas palavras.
Fundamentalmente, o Mundo Espiritual é constituído de nove níveis, pois
tanto o Plano Superior, quanto o Intermediário e o Inferior são formados de
três níveis. Após a morte, o espírito das pessoas comuns vai para o Plano
Intermediário, mas o espírito daqueles que foram muito bons sobe
imediatamente ao Plano Superior, e o dos perversos desce incontinenti ao
Plano Inferior. Podemos ter mais ou menos uma idéia disso observando a
forma como ocorre a morte.
Aqueles cujo espírito vai para o Plano Superior, sabem a data
aproximada em que vão morrer e, nessa ocasião, não sentem nenhum
sofrimento; chamam os mais chegados, expressam seus últimos desejos e
176
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

morrem em paz, como se a morte fosse a coisa mais natural. Ao contrário,


aqueles cujo espírito vai para o Plano Inferior têm morte muito dolorosa,
agonizando em meio a sofrimentos extremos. Os que vão para o Plano
Intermediário estão sujeitos a sofrimentos menos dolorosos. A maioria dos
espíritos vai para este plano, e podemos deduzir isso observando a face do
cadáver. Se o espírito foi para o Plano Superior, não há nenhuma expressão de
sofrimento; pelo contrário, a pessoa fica como se estivesse viva. Se foi para o
Plano Inferior, a face do cadáver se apresenta escurecida ou preto-esverdeada,
com uma expressão de agonia. A face daqueles cujo espírito foi para o Plano
Intermediário, em geral mostra-se amarela, como é o caso da maioria dos
cadáveres.
Falarei primeiramente sobre os espíritos que se destinam ao Plano
Intermediário. Para chegarem lá, eles têm de atravessar um rio. Nessa
ocasião, um funcionário examina-lhes a roupa; se esta é branca, o espírito
passa, mas se é de cor, ele é obrigado a trocá-la por uma de cor branca. Há
duas versões: segundo uns, o espírito passa por uma ponte; segundo outros,
não há ponte, e ele atravessa o próprio rio. Estes últimos falam, ainda, que o
rio não tem água e que as ondas que se tem impressão de ver nada mais são
que as ondulações dos corpos de inúmeros dragões se movimentando.
Quando o espírito acaba de atravessar o rio, a veste branca apresenta-
se tingida; a cor varia de acordo com a quantidade de máculas. A dos espíritos
mais maculados tinge-se de preto. A seguir, por ordem decrescente de
máculas, a veste pode tornar-se azul, vermelha, amarela, etc., sendo que a
dos mais puros permanece branca.
Em seguida, de acordo com a tese budista, o espírito vai para o Fórum,
onde é julgado. O julgamento é bem diferente do que ocorre no Mundo
Material: caracteriza-se pela imparcialidade, não havendo o mínimo de
favoritismo nem de equívocos. Na hora do julgamento, os espíritos vêem de
forma diferente a face de Enma Daio, o juiz. Para os perversos, ele se
apresenta com os olhos brilhando assustadoramente, abre a boca até às
orelhas, e, quando fala, cospe fogo; só de vê-lo o espírito já fica atemorizado.
Entretanto, os bons vêem-no com uma expressão afável, branda e afetuosa,
mas sóbria; o espírito, naturalmente, sente simpatia e respeito por ele.
Um por um, os pecados são refletidos num espelho de cristal puro e, em
seguida, julgados. O julgamento é precedido de uma investigação,
procedendo-se, em seguida, à comparação das condições presentes do
espírito com os outros registros seus existentes no Fórum. Quem exerce a
função de juiz no fórum do Mundo Material, também a exerce no Mundo
Espiritual. Segundo o xintoísmo, o fiscal dos promotores é "Haraido no Kami"
(deus da purificação), e o Enma Daio é a divindade chamada "Kunitokotati no
Mikoto".
Após receber a sentença, o espírito dirige-se para um dos três níveis do
Plano Superior ou do Plano Inferior. Portanto, a "esquina de seis caminhos" a
que aludimos, como o próprio nome indica, é a encruzilhada para ele ir a um
daqueles níveis. Todavia, embora tenha ficado decidido que o espírito vai para
o Plano Inferior, concede-se a ele mais uma oportunidade: fazer
aprimoramento no Plano Intermediário, para a sua elevação. Aqueles que se
arrependem e se convertem, ao invés de irem para o Plano Inferior como
estava determinado, vão para o Plano Superior.
177
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

O trabalho de orientação é realizado pelos eclesiásticos das respectivas


religiões, como faziam no Mundo Material. Tais eclesiásticos, após seu
falecimento, recebem ordem para cumprir essa missão. No Plano
Intermediário, o período de aprimoramento vai de alguns dias até trinta anos,
e aqueles que não conseguem arrepender-se, descem ao Plano Inferior. Há um
outro fator ainda. Se os parentes, amigos e conhecidos lhe oferecem cultos
após a morte - cultos feitos de coração, com toda a sinceridade - ou somam
méritos e virtudes praticando o bem, fazendo feliz o próximo, a purificação do
espírito desencarnado será acelerada. Por essa razão, a dedicação aos pais, a
fidelidade ao cônjuge, etc., aqui no Mundo Material, revestem-se de grande
significado mesmo após a sua morte, e eles ficam muito contentes com os
cultos feitos em sua memória.
5 de fevereiro de 1947

A REENCARNAÇÃO
O tempo que o homem leva para reencarnar é bastante variável,
podendo a reencarnação ocorrer cedo ou tarde. A rapidez ou atraso são
determinados pela própria vontade da pessoa. Quando alguém morre e tem
muito apego a este mundo, reencarna mais cedo. Mas isso não traz bons
resultados, porque no Mundo Espiritual a purificação é mais rigorosa e, quanto
mais tempo o espírito lá permanecer, mais será purificado. Quanto mais
purificado estiver, mais feliz será ao reencarnar. No caso de reencarnação
prematura, a purificação não foi completa, restando impurezas que deverão
ser purificadas neste mundo. Ora, a purificação no Mundo Material traduz-se
em sofrimentos como doenças, pobreza, acidentes, etc.; obviamente, a pessoa
terá um destino infeliz.
O fato de uma pessoa ser feliz ou infeliz desde o seu nascimento, na
maioria das vezes deve-se ao que acabamos de expor. Perceberão, portanto,
que a felicidade ou a infelicidade não são mero acaso, existindo razões para
ambas. Contudo, existe outra explicação. Quando a família do falecido lhe
presta homenagens póstumas e ofícios religiosos, ou quando seus
descendentes praticam o amor ao próximo e trabalham em benefício da
sociedade e da nação, somando o bem e a virtude, isso ajuda a acelerar a
purificação dos espíritos dos antepassados. Por esse motivo, o amor e a
devoção filial devem ser praticados não só quando os pais ainda estão neste
mundo, mas muito mais através de ofícios religiosos e do altruísmo, quando
eles já se encontram no Mundo Espiritual. Costuma-se dizer: "Os filhos querem
colocar em prática a devoção filial quando seus paisjá não existem." Quem diz
tais palavras, desconhece como é aquele mundo.
Há pessoas quejá nascem com anomalias físicas. Isso significa que
houve reencarnação antes de ser completada a purificação no Mundo
Espiritual. Exemplificando, no caso de uma pessoa cair de um lugar alto e
fraturar os braços ou as pernas, se ela morrer e reencarnar antes da cura
completa, poderá apresentar anomalia nesses membros.
Entretanto, a reencarnação prematura explica-se não só pelo apego da
própria pessoa, como também pelo apego dos seus familiares. Por exemplo:
quando uma mãe perde um filho muito querido, pode acontecer que ela
engravide logo em seguida, provocando-lhe a rápida reencarnação devido ao

178
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

seu forte apego. Em tais casos, normalmente esse filho não terá uma vida
muito feliz.
23 de outubro de 1943

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

SAÚDE

VERDADEIRA SAÚDE

A VERDADE SOBRE A SAÚDE


Para explanar sobre o assunto, devo dizer inicialmente que a verdade,
em matéria de saúde, está na adaptação e no respeito à Natureza. Essa é a
condição fundamental.
Antes de mais nada, deve-se pensar: com que objetivo Deus criou o
homem? Segundo nossa interpretação, foi para construir um mundo perfeito,
de Verdade, Bem e Belo. É de se esperar, entretanto, que uma teoria como
essa não seja aceita com muita facilidade. Evidentemente, não se sabe se
levará dezenas, centenas, milhares ou até milhões de anos para se concretizar
o mundo ideal. Todavia, observando os fatos do passado, vemos claramente
que o mundo vem caminhando passo a passo neste sentido; ninguém poderá
negá-lo. Deus é o espírito, e o homem é a matéria; ambos, o espírito e a
matéria, em trabalho conjunto, estão em infinita evolução, tornando-se
desnecessário dizer que o homem existe como instrumento de Deus para a
construção do Mundo Perfeito. Conseqüentemente, sua responsabilidade é
enorme.
A condição fundamental para a execução dessa obra grandiosa é a
saúde. Deus atribuiu uma missão a cada pessoa, concedendo-lhe,
logicamente, a saúde necessária para cumpri-la. Com efeito, se o homem
estiver doente, significa que o sagrado objetivo de Deus não será alcançado.
Tomando este princípio por base, concluiremos que a saúde é inerente ao
homem, devendo ser o seu estado normal. O estranho é as pessoas serem
acometidas de doenças com tanta facilidade, ou seja, ficarem em estado
anormal. Sendo assim, apreender claramente os princípios da saúde e fazer o
homem retornar ao estado normal está coerente com o objetivo de Deus.
Mas o que descobrimos ao examinar o corpo humano em estado
anormal? Em primeiro lugar ressalta que ele está em desacordo com a
Natureza; perceber a real situação desse estado antinatural, corrigi-lo, fazendo
voltar a normalidade, é a verdadeira Medicina. E mais: tornar possível esse
retorno é a forma existencial da correta Medicina. Passarei, portanto, a explicar
o que vem a ser o estado antinatural.
Quando nasce, o homem alimenta-se com o leite materno ou com leite
animal, pois ainda não tem dentes, e seu aparelho digestivo, recém-formado,
é muito frágil. Gradualmente, porém, nascem-lhe os dentes, e, à medida que
suas funções orgânicas se desenvolvem, ele começa a ingerir alimentação
adequada. Existe uma variedade de alimentos, cada um com sabor
característico, sendo que o homem é dotado de paladar para comê-los com
prazer. Além disso, o ar, o fogo e a água existem em proporções adequadas à
saúde, de modo que tudo está ordenado de maneira realmente perfeita.
Quanto ao corpo humano, vejamos: do cérebro nascem a razão, a memória e o
sentimento; os objetos são criados com as mãos; a locomoção é feita
livremente, por meio dos pés, e o corpo está provido de partes muito
necessárias, como cabelos, pele, unhas, olhos, nariz, boca, ouvidos, etc.
Acrescente-se a isso que o corpo todo, a começar pela face, está recoberto de

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

pele, que ressalta sua beleza. Um rápido exame já evidencia que o ser
humano é uma obra maravilhosa; analisando-o mais profundamente,
concluiremos que ele é um milagre da Criação, difícil de se expressar com
palavras.
As flores, as folhas, a beleza dos rios e das montanhas, os pássaros, os
insetos, os peixes e outros animais não podem deixar de ser admirados como
obras extraordinárias da Arte Divina, mas o homem é, inegavelmente, a obra-
prima do Criador. Principalmente no que se refere ao processo de procriação,
como preservação da espécie, a Providência é tão hábil, que não encontramos
palavras para exprimir sua perfeição. Ora, sendo o homem a obra máxima de
Deus, devemos pensar, séria e profundamente, que erros, que ações
antinaturais estamos cometendo para a ocorrência das anormalidades
chamadas doenças, as quais impedem suas atividades. Homens, eis um ponto
importantíssimo, sobre o qual devem fazer uma profunda reflexão.
20 de abril de 1950

O HOMEM É UM POÇO DE SAÚDE


Costuma-se dizer, desde a antigüidade, que o homem é um poço de
doenças, mas a expressão está completamente errada. Corrigindo-a, diremos
que ele é um poço de saúde. Como já expliquei anteriormente, o homem é
saudável por natureza. Acontece, porém, que, na atualidade, a doença é sua
companheira, sendo isso considerado problema insolúvel, o que levou muitos
a se conformarem, aceitando o fato como predestinação. Com efeito, uma vez
a pessoa acometida pela doença, sua cura torna-se difícil. Às vezes se adoece
por um longo período, ou então com freqüência: há mesmo quem passe mais
tempo doente do que com saúde. Justifica-se, pois, dizer que o homem é um
poço de doenças; aliás a expressão deve ter surgido devido ao prolongamento
de tal situação. Isso aconteceu porque ainda não se conhecia a natureza da
doença, tornando-se compreensível que tanto esta como a morte fossem
inevitáveis. Foi por essa razão que Sakyamuni afirmou: "O homem tem de se
resignar com o sofrimento do nascimento, da doença, da velhice e da morte."
Falarei, agora, sobre a antinatureza, que é a fonte da doença.
Quando adoece, o homem utiliza os medicamentos como se fossem o
único recurso, e aí já está o erro. Na medicina chinesa, os remédios são
extraídos das raízes das plantas ou das cascas das árvores; quanto à medicina
ocidental, busca seus produtos nos minerais, nas plantas ou em outras fontes.
Tudo isso é fundamentalmente antinatural. Pensem bem: as substâncias assim
obtidas possuem sabor amargo, odor desagradável, acidez, etc., que
invariavelmente provocam aversão. A conhecida expressão "tirar da boca o
gosto de remédio" ilustra bem o fato. Mas por que é tão desagradável tomar
remédios? A resposta é a seguinte: Deus está mostrando que não se deve
tomá-los, porque eles são tóxicos. Quanto aos alimentos, todos são produzidos
de maneira que agradem ao paladar do homem; ingeri-los, portanto, é uma
ação natural.
Costuma-se dizer que determinados alimentos são nutritivos e que
outros não o são, mas isso também é um erro. Apesar de existir alguma
diferença, dependendo do clima e das características da região, todos os
alimentos são produzidos de maneira adequada às pessoas aí nascidas. Os
indivíduos de raça amarela alimentam-se de arroz, e os de raça branca, de
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

trigo; da mesma forma, como o Japão é um arquipélago, significa que seu


povo deve comer bastante peixe, não havendo, também, nenhuma
inconveniência em que as pessoas do continente comam carne. Pelo mesmo
raciocínio, as refeições dos agricultores, à base de vegetais, estão de acordo
com a Natureza. O fato deles suportarem o trabalho braçal contínuo mostra a
adequação da alimentação vegetariana. Desconhecendo esse princípio, a
dietética está se empenhando, atualmente, para que os agricultores comam
peixe; entretanto, se eles assim fizerem, resultará na diminuição da sua
capacidade produtiva. Por outro lado, devido às refeições à base de peixe, os
pescadores não suportam trabalho contínuo e por isso trabalham de maneira
intermitente. Além disso, esse tipo de alimentação ajuda a aguçar a
sensibilidade; portanto, é apropriado à atividade da pesca, donde se conclui
que a Natureza é realmente perfeita.
20 de abril de I950

A VERDADEIRA SAÚDE E A SAÚDE APARENTE


Podemos afirmar que a humanidade, ou, pelo menos, a maioria dos
povos civilizados são doentes. A diferença está apenas em doença manifesta e
não-manifesta. Pessoas doentes são aquelas em quem a doença já se
manifestou; pessoas consideradas sadias, aquelas em quem a doença está
para se manifestar. Torna-se desnecessária qualquer explicação sobre as
primeiras; limitar-me-ei, portanto, a estas últimas.
Como já expliquei, as pessoas que estão por adoecer são aquelas em
quem ainda não foi iniciada a ação purificadora dos nódulos formados pelas
toxinas. Assim, a verdadeira saúde é a dos portadores de corpos físicos
totalmente livres de toxinas; neles, conseqüentemente, não ocorre purificação.
Há pessoas, entretanto, que, embora tenham toxinas acumuladas ainda
conseguem manter a saúde e desempenhar suas atividades diárias,
agüentando trabalhos físicos; aos olhos de qualquer um, parecem saudáveis.
Visto que, através dos exames feitos pela medicina atual, é difícil descobrir a
presença das toxinas, tais pessoas são consideradas sadias. A elas eu
denomino "pessoas de saúde aparente". Fico, pois, apreensivo ao pensar no
grande número de portadores de "bombas que estão dançando no palco da
vida.
Fala-se, desde os tempos antigos, que o homem é um poço de doenças,
mas essa expressão refere-se exatamente à saúde aparente.
5 de fevereiro de 1947

MORTE NATURAL E MORTE ANTINATURAL


O que vem a ser a morte? Obviamente, é a extinção da vida. Isso
significa que o corpo material não consegue mais viver. É como uma árvore
que seca e morre.
A morte tem várias causas, mas podemos dividi-la em dois grupos:
morte natural e antinatural. A primeira é causada pelo esgotamento natural
da vida; a segunda, por doença, assassinato, acidente ou suicídio. O certo é
que ocorra morte natural, podendo-se dizer que a morte antinatural constitui
uma anomalia.
Um fato realmente incompreensível é que, apesar do avanço da cultura,
venha diminuindo cada vez mais a morte natural e aumentando a incidência
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

de morte antinatural, principalmente a motivada por doença. E por que razão,


embora se registre um grande progresso em todos os campos culturais, só na
questão referente à vida humana ocorre exatamente o inverso? Deve existir aí
uma enorme falha.. Entretanto, ao invés de levantar dúvidas, o homem, que
mostra um interesse ilimitado por outros assuntos, permanece totalmente
apático, conformado, acreditando, talvez, que na questão da morte não
existem alternativas. Tal atitude se explica pelo fato de, até agora, como todos
sabem, nenhuma religião ou ciência ter conseguido resolver o problema.
Portanto, é de se imaginar que o homem pensa em deixá-lo à mercê da
natureza, como única solução.
Mas, pensemos: Deus Todo-Poderoso criou o homem como animal do
mais elevado nível, e não há nada mais conflitante com a Vontade Divina que
o reduzido número de mortes naturais em relação às mortes antinaturais,
número esse que está diminuindo progressivamente. Ora, se Deus é Todo-
Poderoso, cedo ou tarde Ele deverá trazer o homem de volta à sua hierarquia
espiritual de origem. Evidentemente, Deus não fechará os olhos, por muito
tempo, à anomalia ocorrida com a vida humana. Refletindo sobre tudo isso,
não será motivo de espanto que Izunome-no-Okami, isto é, Kanzeon Bossatsu,
o deus que recebeu do supremo Deus a incumbência de salvar o homem,
esteja prolongando a vida humana, isto é, erradicando a morte antinatural.
Pelas razões expostas, o homem deve conscientizar-se de que está
próxima a chegada do Mundo da Divina Luz, ou seja, o mundo isento de
doenças pelo qual a humanidade vem ansiando há milênios.
19 de junho de 1936

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

TOXINAS

ANÁLISE DAS TOXINAS


O que é toxina? Em última análise, é o mesmo que sangue sujo e mácula
espiritual. As máculas se originam do pecado, e este, naturalmente, tem
origem no mal. Todos sabem que essa visão do pecado é quase que um
monopólio das religiões desde a antigüidade; entretanto, agir simplesmente
como se tem agido até agora, dizendo que não se deve fazer isso ou aquilo
porque é pecado, já não convence as pessoas da atualidade, pois a maioria é
muito inteligente e raciocina em termos científicos. Deve-se, portanto, basear
a teoria em fatos e argumentos sólidos.
Este mundo em que vivemos é formado pelo Mundo Espiritual e pelo
Mundo Material. Da mesma maneira, o homem é formado de espírito e corpo,
e ambos, numa relação íntima e inseparável, têm por princípio a identidade
espírito-matéria. Sendo assim, quando as máculas do espírito se refletem no
corpo, o sangue se suja; reciprocamente, quando isso se reflete no espírito,
torna-se mácula. Como este ponto é de importância fundamental, pediria que
o levassem em consideração no decorrer da leitura.
Explicando do ponto de vista espiritual, se o homem pratica más ações,
esse pecado gera máculas no espírito; quando o acúmulo das máculas atinge
determinado nível, sobrevem a ação purificadora, na forma de doenças,
acidentes ou penalidades legais. A parte que não foi atingida pela lei dos
homens é punida espiritualmente, pela Lei de Deus. Entretanto, como Deus é
absoluto, se a pessoa escapar habilmente a essas penalidades, o castigo se
refletirá na matéria através de sofrimentos maiores. Evidentemente, as
doenças sobrevindas nesses casos são malignas e, na sua maioria, colocam
em risco a vida da pessoa. Quanto mais cedo ocorrerem as penalidades, mais
brandas serão, podendo-se compará-las a empréstimos ou dívidas, que,
quanto mais se demora a saldá-los, mais aumentam, devido aos juros. De fato,
se um malfeitor conseguir escapar em vida aos julgamentos de Deus e do
homem, quando morrer e o seu espírito passar para o Mundo Espiritual, irá
cair no chão do Inferno, devido ao peso dos pecados. É exatamente o "Inferno
Avíci" (reino de ilimitado sofrimento), citado no budismo, e o "Reino do Fundo
do Inferno", mencionado no xintoísmo. Trata-se de um mundo absolutamente
sem luz e calor, onde o espírito nada enxerga, permanecendo congelado por
centenas de anos; por isso, não há malfeitor, por pior que seja, que não venha
a se arrepender. Para as pessoas da atualidade, talvez seja difícil acreditar em
situações como estas, mas gostaria que me dessem crédito, pois são fatos que
me foram transmitidos diretamente pelos espíritos, nas pesquisas por mim
realizadas, e posso garantir que não existe nenhum equívoco.
Voltando à minha explanação, em conseqüência dos pecados começa-se
a sentir peso na consciência, e esse sofrimento já é uma leve purificação.
Seria bom que nesse momento as pessoas se arrependessem, mas isso é
difícil. Assim, na maioria das vezes, os pecados tendem a se acumular. É claro
que a quantidade das máculas é proporcional à maior ou menor gravidade dos
pecados, mas há também outra maneira de criá-las. Quando se faz alguém
sofrer, a pessoa atingida se enfurece, sente ódio por aquele que lhe causou o
sofrimento, e esse ódio é transmitido, através do elo espiritual, como ondas de
rádio, ao espírito do malfeitor, gerando-lhe máculas. Ao contrário, quando se
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

pratica uma boa ação, as pessoas se alegram e sua gratidão se transmite, na


forma de Luz, ao espírito do benfeitor, o que fará diminuir as máculas que o
cobrem. Entretanto, mesmo quando se trata de boas ações, quanto mais elas
forem praticadas sem que os beneficiados saibam, maiores serão as bênçãos
de Deus; essa é a inviolável Lei dos Céus.
O que acabamos de expor é o mecanismo do Mundo Espiritual. Como
representa uma verdade absoluta, a única alternativa é crer e obedecer.
Portanto,já que as doenças e outros infortúnios são decorrentes da ação
purificadora das máculas, o homem, se quiser alcançar a felicidade, deve
deixar o mal, praticar o bem e esforçar-se para não macular seu espírito.
Passarei, agora, a falar do ponto de vista material.
A origem da doença é o sangue sujo, que, obviamente, tem como causa
os tóxicos dos medicamentos. Todos os medicamentos, por natureza, são
tóxicos, mas durante muito tempo, por desconhecimento dos princípios da
ação purificadora, vieram sendo erroneamente interpretados como remédios.
Baseado na minha experiência, posso afirmar que há casos de
reincidência da doença depois de algum tempo, mesmo em pessoas quejá
obtiveram melhora através do JOHREI. Chamo a isso de repurificação. O que
acontece é que o JOHREI promove a eliminação das toxinas em processo de
dissolução, e com isso o doente tem uma melhora temporária; entretanto,
logo que ele retoma suas atividades, já com vigor razoável, surge uma ação
purificadora mais intensa. Resumindo, com a purificação a pessoa ganha
saúde, e com a saúde surge a purificação. Pela repetição desse processo é que
se obtém o completo restabelecimento da saúde.
A repurificação manifesta-se relativamente intensa, através de febre
alta, tosse forte e eliminação de antigas e solidificadas toxinas em forma de
catarro, sendo isso perceptível pela densidade deste e pelo cheiro de remédio.
Obviamente alguns casos são acrescidos da perda de apetite e do
enfraquecimento do corpo, podendo, às vezes, o doente partir para o Mundo
Espiritual.
Deus fez do homem o senhor da Terra e por isso criou alimentos
suficientes para a sua subsistência, atribuindo sabor a cada um deles e, ao
homem, o paladar. Portanto, comer com satisfação aquilo que desejar é
suficiente para o ser humano manter a saúde, sem precisar preocupar-se com
assuntos complexos como nutrição. Assemelha-se ao desejo sexual, cujo
objetivo não é fazer outro homem; todavia, apesar do objetivo ser outro,
inconscientemente ocorre a procriação. Sendo assim, o homem não deve
ingerir nada que não esteja determinado como alimento, ou seja, deve excluir
tudo que é insípido ou que tem sabor desagradável, pois essas características
já definem aquilo que não é comestível. Por desconhecimento desse princípio,
costuma-se dizer, desde a antigüidade, que "o bom remédio é sempre
amargo", o que constitui um flagrante equívoco.
1° de dezembro de 1952

OS TRÊS TIPOS DE TOXINAS


A origem de todas as doenças são as toxinas, que podem ser
hereditárias, urinárias e medicinais.

185
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Que são toxinas hereditárias? São heranças dos tóxicos contidos nos
medicamentos; esses tóxicos, após passarem por várias gerações,
transformam-se numa espécie de toxina.
As toxinas urinárias são decorrentes da urina que não é eliminada, em
conseqüência do atrofiamento da atividade renal.
Não entrarei em detalhes sobre as toxinas medicinais, pois o assunto já
foi abordado, mas vou explicar como elas se manifestam. Seus principais
sintomas são febre, dores, coceira, diarréia, vômitos, dormência, mal-estar,
etc. A febre é proporcional à quantidade de toxinas e pode-se até dizer que
não se observa a ocorrência deste sintoma entre pessoas que nunca tomaram
remédios. Quanto às dores, as produzidas pelos medicamentos ocidentais são
mais agudas, podendo ser, porexemplo, picantes (como picada de agulha),
perfurantes e rápidas. Já os medicamentos chineses, quase todos, produzem
dores brandas.
5 de fevereiro de 1947

TOXINAS URINÁRIAS
Já me referi várias vezes à facilidade com que as toxinas tendem a se
acumular em locais de alta concentração nervosa. Quando faz esforço físico, o
homem força a região dos quadris, ó que provoca a acumulação de toxinas à
altura dos rins. Uma prova disso é a alta incidência de problemas renais entre
os praticantes de golfe. As toxinas acumuladas pressionam os rins, atrofiando-
os. Se os rins normais conseguem eliminar, por exemplo, dez unidades de
urina, os atrofiados eliminam nove, sendo que uma unidade permanece no
organismo sem ser eliminada. Essa unidade de urina retida constitui a toxina
urinária, a qual tende a se acumular, da mesma forma que as outras toxinas,
em locais de alta concentração nervosa, como na região dos rins e da barriga,
nos gânglios linfáticos da região das virilhas, no peritônio, nos ombros, no
pescoço, etc. O maior acúmulo de toxinas no lado esquerdo ou direito depende
do maior atrofiamento de um dos rins em relação ao outro.
A quantidade de resíduos das toxinas hereditárias é limitada, e a das
toxinas medicinais também se restringe ao uso dos medicamentos. As toxinas
urinárias, porém, são produzidas, dia e noite, ininterruptamente; portanto, são
as que causam maiores problemas. Essas três toxinas são responsáveis por
todas as doenças.
1939

A CAUSA DOS ACIDENTES


Tem crescido, ultimamente, o número de acidentes, a começar pelos de
trânsito, e esse número tende a aumentar a cada ano, apesar dos esforços das
autoridades competentes. O que se deve fazer, então? No momento, como a
verdadeira causa dos acidentes é totalmente desconhecida, só nos recta
prestar redobrada atenção para evitá-los.
Segundo interpretamos, os acidentes são motivados por problemas de
sistema nervoso do homem moderno. Em outras palavras, eles ocorrem
quando o sistema nervoso de quem dirige não trabalha de forma adequada. O
menor atraso no procedimento a ser tomado num instante de perigo - seja ele
o espaço da décima parte do segundo - pode tornar-se causa direta de um
acidente, e não há outro recurso senão remediá-lo.
186
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Neste aspecto, eu fico impressionado com a falta de agilidade dos jovens


atuais. Muitos são mais lentos do que eu, que estou completando setenta
anos. Várias atividades minhas realizadas em tempo normal eies dizem que
são executadas rapidamente. Qual é, portanto, a causa da lentidão de reflexos
do homem moderno? É que ele recorre aos remédios por qualquer coisa, e,
além do mais, as bebidas que ele bebe contêm vários ingredientes químicos,
como os conservantes; até mesmo os produtos agrícolas, devido à utilização
de adubos e inseticidas, estão carregados de venenos, os quais, com o
decorrer do tempo, vão se acumulando e gerando toxinas no organismo das
pessoas.
Assim, poderíamos dizer que o homem atual está praticamente
mergulhado em remédios; acrescente-se que, como a vida se torna cada vez
mais agitada e complexa, ele sobrecarrega o seu cérebro, onde as toxinas se
concentram e se solidificam. Em contrapartida, ocorre uma ação purificadora,
fraca mas ininterrupta; por isso, normalmente as pessoas sentem-se como que
atordoadas, a cabeça pesada, quente e doendo constantemente. Justifica-se,
portanto, dizer que hoje em dia não há quem tenha a cabeça leve. Essa é a
causa não só de desastres mas também de homicídios, tão noticiados nos
jornais da atualidade.
16 de julho de 1952

PROCESSO DE PURIFICAÇÃO

O TRATAMENTO NATURAL
O homem é a obra-prima da criação de Deus, não havendo nada que se
lhe possa comparar. Segundo a Bíblia, ele foi feito à imagem de Deus, o que é
uma verdade inegável. Sua estrutura mística é um mistério que jamais será
desvendado pela Ciência. Quando muito, esta o conhece superficialmente ou
em pequena parte; assim, é impossível afirmar se levará milhares de anos
para desvendá-lo ou se nunca irá conseguir isso. Pensemos com calma. O
funcionamento de vários órgãos do corpo, a sutileza da vontade-pensamento,
a expressão dos estados de satisfação, ira, tristeza ou prazer, a extrema
sensibilidade do tato a ponto de a pessoa sentir coceira quando é picada por
uma pulga, a capacidade de exprimir todas as idéias através do código
lingüístico e de distinguir o sabor dos alimentos, a misteriosa diferença na
expressão fisionômica dos l,8 bilhões de habitantes do globo terrestre, cujos
rostos, que não medem mais que um palmo, nunca são iguais, todos estes
mistérios e maravilhas fazem-nos louvar o poder do Criador. Não há palavras
principalmente para expressar a capacidade da procriação, da qual é dotado o
homem, e o mistério que envolve o processo da formação de um ser humano.
É óbvio, portanto, que a Ciência nunca poderá desvendar o mistério da vida,
pois o homem não é criação sua, como os robôs.
Quando a pessoa adoece, logo se inicia, nela própria, uma grande
atividade destinada a eliminar a doença. Dentro de seu organismo começa a
ser fabricado o seu próprio remédio. É como se houvesse, no corpo humano,
um grande laboratório farmacêutico e um professor em Medicina. Se o corpo é
invadido pela impureza chamada doença, o médico que há no seu interior faz
imediatamente o diagnóstico e ordena que o farmacêutico prepare o
medicamento, iniciando logo o tratamento. Aparelhos e medicamentos, todos
187
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

eles são ultra-eficazes, e a cura é maravilhosa. Se comemos algo nocivo, a


farmácia existente dentro do corpo imediatamente produz um laxante para
provocar a diarréia e eliminá-lo. Se entram no organismo bactérias nocivas, o
tratamento asséptico baseado na febre entra em ação. Se ocorre uma
intoxicação alimentar, produz-se uma reação na pele e, através de calor e
coceira, procura-se neutralizá-la, a fim de que ela não atinja os órgãos
internos. Dependendo da intoxicação, os rins entram em grande atividade,
processando uma lavagem com líquido, o qual é eliminado na forma de urina.
Quando se inspira uma grande quantidade de poeira, ela é eliminada na forma
de escarros. E assim por diante. Realmente, o corpo humano é de uma
infabilidade extraordinária.
Em geral, as doenças se curam naturalmente, à mercê da Natureza;
entretanto, por desconhecimento deste princípio, as pessoas recorrem aos
medicamentos e aos tratamentos através da Ciência, fazendo com que a
doença se prolongue, pois são impostos sérios obstáculos ao processo de cura
natural.
Mas será que com o tratamento natural a Medicina não perderá sua
utilidade? Não é bem assim. Entre seus ramos, existem alguns que são muito
úteis, como a bacteriologia, uma parte da higiene, a cirurgia no tempo de
guerra, a odontologia, as clínicas de fraturas, etc.
1935

O QUE É A DOENÇA
Todos os homens, sem exceção, possuem toxinas hereditárias e
adquiridas. Toxinas hereditárias são as que se herdam dos pais, e toxinas
adquiridas são as dos medicamentos tomados após o nascimento. Talvez
achem estranha tal afirmação, pois normalmente se acredita que os
medicamentos existem para curar as doenças e restabelecer a saúde.
É crença geral que com a obtenção de melhores remédios se conseguirá
resolver o problema da doença, sendo este o principal objetivo dos
tratamentos médicos. Todos sabem que especialmente os Estados Unidos têm
voltado sua atenção para esse aspecto, concentrando grandes esforços na
descoberta de novos medicamentos. Ora, se os remédios possibilitassem a
cura das doenças, estas deveriam diminuir gradualmente; por que, então,
ocorre justamente o inverso? Não há contradição maior.
Por natureza, na Terra não existe nada que se possa chamar de remédio.
O que há são produtos tóxicos que, justamente por isso, fazem efeito. Com a
ação do veneno chamado remédio verifica-se uma diminuição dos sintomas da
doença, dando a impressão de que houve cura; não se trata, porém, de cura
verdadeira.
Mas por que os remédios são venenos?
Quando criou o homem, Deus criou também os alimentos, para
manutenção da sua vida. A eles, atribuiu sabor, e ao homem, o sentido do
paladar. Portanto, basta a pessoa comer com satisfação aquilo que desejar,
para estar nutrida. Só de atentarmos para esse aspecto, perceberemos a
perfeição do Criador. Assim, a expressão correta é "o homem vive pela
alimentação", e não "o homem se alimenta para viver." E o mesmo que
acontece com a procriação: apesar do homem e da mulher se unirem por

188
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

motivos que não são especificamente esse, dessa união resultam filhos, o que
constitui um grande mistério.
Em conseqüência do que acabamos de dizer, as funções orgânicas do
homem não estão habilitadas a eliminar de maneira completa as substâncias
que não são determinadas como alimentos. Encontram-se neste caso os
tóxicos dos medicamentos. O mais agravante, no entanto, é que esses tóxicos
se concentram em vários pontos do organismo e, com o passar do tempo,
acabam se solidificando. Isso se restringe às regiões de atividade nervosa, tal
como a parte superior do corpo, principalmente do pescoço para cima. Mais
especificamente, o cérebro, seguido pelos olhos, ouvidos, nariz, boca, etc.
Antes, porém, as toxinas se solidificam nas proximidades do pescoço, razão
pela qual as pessoas sentem nódulos nesse local e nos ombros. Quando elas
atingem certo nível, ocorre o processo natural de elimïnação, ou seja, a ação
purificadora. Nesse caso, as toxinas se dissolvem devido à ação da febre,
sendo eliminadas através de tosse, catarro, escarro, suor, urina e outros
meios. A isso denominamos gripe; logo, esta é um processo de eliminação de
toxinas. Embora seja um pouco penoso, basta a pessoa suportar e deixar a
Natureza agir. Com a eliminação das toxinas, o corpo ficará limpo e obter-se-á
a cura. A gripe, portanto, é a mais simples ação fisiológica criada pela Divina
Providência, e por ela devemos ter gratidão. Ignorando isso, o homem
interpreta mal os sofrimentos e as dores da purificação e, para cortá-los,
inventou os tratamentos médicos.
Quanto maior a vitalidade da pessoa, mais facilmente ocorrerá a ação
purificadora. Para impedi-la, basta enfraquecer essa vitalidade. Daí a utilização
do veneno denominado remédio. Desde a antigüidade, ele é extraído de ervas,
raízes, cascas de árvores, minerais, v ísceras de animais e outras fontes,
sendo aplicado sob diversas formas, como chás, pós, medicamentos líquidos,
comprimidos, ungüentos, injeções, etc. Aplica-se o veneno em pequenas
doses, várias vezes ao dia; se as doses forem grandes, coloca-se em risco a
vida da pessoa. É considerado bom remédio aquele cujo veneno é
razoavelmente forte, mas não a ponto de causar intoxicação.
Através de medicamentos venenosos, o homem veio solidificando
toxinas que estavam para ser eliminadas, podendo-se imaginar a grande
quantidade de toxinas que o homem moderno possui em seu corpo. Dessa
forma, ele se torna uma presa fácil das doenças, fato evidenciado pelo
aparecimento da medicina preventiva e pelo temor da gripe. Por outro lado, as
pessoas estão contentes porque a vida média do ser humano alcançou a casa
dos sessenta anos. Grande erro, pois, se conseguir libertar-se das doenças, o
homem poderá viver tranqüilamente por mais de cem anos. A morte antes
dessa idade é antinatural; uma vez livre das doenças, ele morrerá de morte
natural e, obviamente, sua vida irá se prolongar.
Os tratamentos médicos, por conseguinte, não curam as doenças;
simplesmente minoram durante algum tempo seus sintomas. Todos os
tratamentos recomendados - repouso absoluto, aplicação de compressas,
ungüentos, bolsas de gelo, eletricidade, banhos de luz e outros - são métodos
para solidificar as toxinas. Entre eles, diferem um pouco os tratamentos por
meio de calor e a moxa, mas estes apenas conduzem as toxinas para
determinado ponto. Através do estímulo do calor consegue-se alívio, mas, com
o passar do tempo, elas voltam à sua posição original. Portanto, o único
189
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

método que promove a verdadeira cura das doenças é aquele que dissolve e
elimina as toxinas.
1° de janeiro de 1953

A VERDADEIRA CAUSA DAS DOENÇAS


Já me referi, anteriormente, à existência de vários tipos de toxinas no
corpo do homem desde o seu nascimento. Devido a essas toxinas é que ele
não consegue manter plena saúde, e por isso seu corpo é feito de maneira que
lhe possibilite eliminá-las fisiologicamente. A tal fenômeno denominamos
processo natural de purificação. Quando ele ocorre, sobrevêm sofrimentos de
certo nível, e essa fase de dor e mal-estar constitui aquilo que se chama de
doença. Para explicar tal fenômeno, vamos tomar como exemplo a doença
mais comum, ou seja, a gripe, pois não há uma única pessoa que não a tenha
contraido. A Medicina ainda desconhece suas causas, mas, segundo descobri,
ela é uma das mais simples formas da ação purificadora, vindo acompanhada
de sofrimentos como febre, dor de cabeça, tosse, escarro, catarro, perda de
apetite, suor, indisposição, etc.
Antes de mais nada, o que vem a ser o processo de purificação? A
grosso modo, ele compreende duas etapas. A primeira consiste na
concentração e solidificação das diversas toxinas contidas no sangue em
diferentes pontos do corpo, especialmente os locais de grande atividade
nervosa e as partes que ficam em posição inferior quando o corpo se encontra
em repouso. Com o passar do tempo, as toxinas concentradas vão
endurecendo, o que vem a ser causa de enrijecimento dos músculos. Às vezes
não há sofrimento algum: quando muito, rigidez nos ombros. A segunda etapa
da purificação começa quando a solidificação ultrapassa determinado nível,
sobrevindo aí o processo natural de eliminação. Para facilitá-lo, surge uma
ação destinada a dissolver as toxinas, isto é, a febre.
O grau da febre depende não só da natureza, quantidade e rigidez das
toxinas, mas também da própria natureza do doente. Muitas vezes, a febre
aparece como resultado do cansaço, após a prática de exercícios físicos, pois
estes aceleram o processo de purificação. As toxinas liquefeitas são eliminadas
na forma de suor, catarro, secreção nasal, etc. A tosse e o espirro são como
ações de bombeamento: a primeira, para eliminação de catarro; o segundo,
para eliminação de secreção nasal. Isso se tornará bastante claro se
observarmos que realmente eliminamos catarro quando tossimos, e secreção
nasal quando espirramos. Por outro lado, a perda de apetite é causada pela
febre, pela tosse e pelos medicamentos. As dores de cabeça e nas juntas são
decorrentes da dissolução das toxinas existentes nesses pontos, as quais
excitam os nervos no momento de sua eliminação em estado líquido. A dor de
garganta ocorre porque as toxinas contidas no catarro irritam a mucosa que a
reveste, ocasionando sua inflamação; a rouquidão baseia-se no mesmo
princípio, sendo causada pela inflamação das cordas vocais.
Eis, portanto, o que é a gripe. Não há necessidade de tratamento algum;
basta a pessoa deixar seu organismo em paz, sem tomar medicamentos, que
em poucos dias, terminado o processo de purificação, estará curada. Desde
que a cura seja natural, com a redução de toxinas, a saúde aumentará.
Apesar da gripe ser altamente recomendável, por constituir o mais
simples processo de purificação, as pessoas a temem, e a Medicina chega a
190
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

dizer que preveni-la é a condição número um para não contraí-la. Os leitores


precisam compreender que isso é um grande erro. Desde a antigüidade
acredita-se que a gripe é a origem de mil doenças, mas na verdade ela é a
única maneira de se escapar a essas mil doenças. Desconhecendo-lhe a causa,
a Medicina toma várias medidas quando a pessoa fica gripada, todas elas no
sentido de deter o processo purificador. Tais medidas começam com a
tentativa de baixar a febre através de medicamentos antitérmicos, bolsas de
gelo, compressas e outros meios. Isso faz com que o processo de purificação
retroceda ao primeiro estágio, ou seja, que as toxinas que começaram a ser
dissolvidas voltem a se solidificar. Com a solidificação, a pcssoa sente-se
aliviada dos sofrimentos causados pela febre, escarro, secreção nasal, etc., e
tanto ela como o médico têm a ilusão de que a gripe está melhorando.
Quando ocorre a solidificação completa, pensam que a cura está selada. Na
realidade, porém, voltou-se à situação anterior; logo, é natural que haja uma
recaída.
Chamo atenção para o fato de que os tratamentos baseados em
antitérmicos, bolsas de gelo, compressas e outros semelhantes, detendo o
processo purificador, constituem a causa de sintomas mais intensos nas
próximas doenças que o indivíduo contrair. Pode-se compreender, portanto,
que as doenças graves são causadas pela repetida interrupção dos processos
purificadores de menor intensidade, através da utilização sucessiva de
remédios, o que aumenta o acúmulo de toxinas, tornando necessária a
ocorrência de um processo purificador muito intenso.
5 de fevereiro de 1947

O QUE É A DOENÇA? – A GRIPE


A própria Medicina reconhece que o homem tem, "a priori", várías
toxinas. Elas são eliminadas por um processo fisiológico natural, que nós
chamamos processo de purificação. Primeiramente as toxinas se concentram
em vários locais, notadamente naqueles onde há mais atividade nervosa. No
homem, isso ocorre na metade superior do corpo. Quanto mais próximo do
cérebro, maior a concentração, porque, enquanto se está acordado, o cérebro,
os olhos, os ouvidos, o nariz, a boca, etc., trabalham ininterruptamente,
mesmo que os braços e as pernas estejam em repouso. Portanto, as toxinas
tendem a se concentrar nos ombros, no pescoço, nos gânglios linfáticos, no
encéfalo, na parótida e em outros pontos. Com o passar do tempo, elas vão se
solidificando gradualmente. Quando o acúmulo ultrapassa determinado limite,
começa o processo de purificação. Aí podemos ver o benefício que a Natureza
nos proporciona. A solidificação das toxinas provoca má circulação sangüínea,
rigidez dos ombros e do pescoço, dor de cabeça acompanhada de sensação de
peso, diminuição da capacidade visual, auditiva e olfativa, entupimento do
nariz, inflamação dos alvéolos, enfraquecimento dos dentes, falta de fôlego,
flacidez dos músculos dos braços e das pernas, dor nos quadris, inchação, etc.
Tais fátores determinam uma acentuada diminuição da atividade, de modo
que o homem fica impossibilitado de cumprir sua missão. Foi justamente por
isso que Deus criou o excelente processo de purificação denominado doença.
Conforme dissemos, se a doença é o sofrimento decorrente da
eliminação de toxinas, ela é processo de purificação do sangue, indispensável
à manutenção da saúde. Portanto, podemos considerá-la a maior bênção que
191
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Deus nos concedeu. Se a eliminarmos, o homem irá enfraquecendo


gradativamente e, por fim, estará até ameaçado de extinção. Os leitores
poderão achar que se trata de uma incoerência, pois eu sempre afirmo que
construirei um mundo sem doenças. Entretanto, não há nenhuma incoerência
em minhas palavras, visto que, se o homem se livrar das toxinas, não haverá
mais necessidade de processo purificador; conseqüentemente, as doenças
desaparecerão. Vou expor minha teoria de maneira mais aprofundada e de
modo a facilitar ao máximo sua compreensão.
Logo que uma pessoa contrai gripe, sobrevém-lhe a febre. Para facilitar a
eliminação das toxinas, a Natureza faz com que elas se dissolvam através do
calor. Na forma líquida, as toxinas infiltram-se rapidamente nos pulmões.
Trata-se de um processo realmente misterioso. Do mesmo modo, quando as
dissolvemos através do Johrei, elas penetram imediatamente nos pulmões,
atravessando os músculos e até os ossos. Se as toxinas se encontram
solidificadas em um ou dois pontos, as doenças são leves, mas estas se
agravam na medida em que é maior o número de pontos. É por isso que uma
gripe que a princípio parecia fraca, vai se agravando cada vez mais.
No caso de serem pouco densas, as toxinas liquefeitas são eliminadas
imediatamente, na forma de catarro; ao contrário, quando sua densidade é
maior, ficam temporariamente nos pulmões, aguardando a ação de
bombeamento denominada tosse, e aí são eliminadas pelas vias respiratórias.
Isso se evidencia pelo fato de a tosse ser sempre seguida de catarro.
Obedecendo ao mesmo princípio, o espirro vem sempre seguido de secreção
nasal. Assim, as dores de cabeça e de garganta, a inflamação dos ouvidos, dos
gânglios linfáticos, das articulações dos pés, das mãos e da região inguinal
decorrem da dissolução das toxinas e do seu deslocamento em busca de saída
do corpo. Esse movimento pressiona os nervos, provocando a dor.
As toxinas líquidas estão divididas em concentradas e diluídas. As
concentradas são eliminadas na forma de catarro, secreção nasal, diarréia,
etc., e as diluídas, na forma de suor e urina. A ação purificadora se processa
de modo tão natural, que não podemos deixar de louvar a Providência do
Criador. Foi Deus que criou o homem, e por isso não haveria razão para lhe
proporcionar sofrimentos e atrapalhar sua atividade através da doença. O ser
humano precisa estar sempre saudável, mas ele próprio cria toxinas e, com
base em teorias errôneas, faz com que elas se acumulem, surgindo então a
necessidade de eliminá-las. Eis, portanto, o que é a doença. No caso da gripe,
se a deixarmos desenvolver-se sem nenhuma interferência, por conta da
Natureza, a purificação decorrerá normalmente e a cura será completa,
aumentando, assim, a saúde da pessoa.
Por incrível que pareça, e não se sabe desde quando, o homem
interpretou de maneira inversa o referido processo de purificação. Dessa
forma, quando a doença se declara, ele emprega todos os recursos para
estancá-la. Confundindo-se no tocante às dores do processo, acha que elas
são decorrentes do agravamento da doença. Baseado nisso, trata de fazer
baixar a febre. Com a diminuição desta, interrompe-se a dissolução das
toxinas e diminuem os sintomas, como a tosse, o catarro e outros. Parece,
então, que está ocorrendo a cura. Em outras palavras, faz-se retornar ao
estado sólido as toxinas que tinham começado a se dissolver. Essa
solidificação é promovida pelos tratamentos médicos, entre os quais se inclui a
192
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

aplicação de compressas, bolsas de gelo, remédios, etc. Quando ocorre a


completa solidificação das toxinas e desaparecem os sintomas, as pessoas
ficam contentes, julgando-se curadas. Mal sabem elas que estão prendendo a
mão que executaria a limpeza de seu corpo. E os fatos o comprovam. Fala-se
muitas vezes em recaída, mas esta nada mais é que o resultado do choque
entre duas ações: a do corpo, que procura executar a purificação, e a do
tratamento, que tenta impedi-la, provocando, assim, o prolongamento da
doença. Isso pode ser constatado pela reincidência da gripe que se pensava
ter sido curada. Posso afirmar, portanto, que o tratamento médico é apenas
uma forma de adiar a doença e não de curá-la. O verdadeiro processo de cura
consiste em eliminar as toxinas do corpo, purificando-o, ou seja, acabando
com a causa da doença.
A verdadeira Medicina é aquela que, ocorrendo o processo purificador,
acelera a dissolução das toxinas e faz com que elas sejam eliminadas na maior
quantidade possível. Não há outro tratamento além deste.
15 de agosto de 1951

A TRILOGIA DOS ÓRGÃOS INTERNOS E O JOHREI


Os órgãos internos mais importantes para a vida do homem são
certamente o coração, os pulmões e o estômago. Como sempre venho
expondo, isso decorre da ação de três elementos fundamentais: o fogo, a água
e a terra. Em síntese, o coração, os pulmões e o estômago correspondem,
respectivamente, a esses três elementos, pois o coração tem a função de
absorver o elemento fogo; os pulmões, a função de absorver o elemento água;
o estômago, a função de absorver o elemento terra. Mas a explicação dada
pela Medicina, até agora, sobre os órgãos em questão, era bastante
superficial. No que se refere à purificação do sangue sujo, dizem que ela é
decorrente do oxigênio absorvido pelos pulmões, mas é óbvio que apenas isso
não atinge o cerne do fenômeno. Vou dar uma explicação baseada na
revelação de Deus e para isso devo partir da verdade relativa ao Mundo
Espiritual. A existência desse mundo está fora do alcance dos sentidos do
homem e corresponde praticamente ao nada, mas na realidade ele é a fonte
onde tudo se origina. Sem conhecer isso, é impossível apreender a Verdade.
Já me referi ao princípio do fogo arder pela água e da água se mover
pelo fogo. Esse princípio constitui justamente a chave para a solução de tudo.
Para explicar o Mundo Espiritual, que é invisível, começarei falando do Mundo
Atmosférico. O que a Ciência chama de oxigênio é a essência do fogo; o
hidrogênio é a essência da água, e o nitrogênio é a essência da terra. Essas
três essências formam uma trilogia, constituindo a natureza de tudo que existe
no Universo. Se tanto ó calor intenso, como o frio exagerado e a temperatura
amena estão apropriados à manutenção da vida, deve-se à força vital desses
três elementos extremamente misteriosos. Se, por acaso, conseguíssemos
eliminar o elemento água da Terra, ocorreria uma explosão imediata; se
eliminássemos o elemento fogo, tudo se congelaria num instante; se
eliminássemos o elemento terra, tudo desmoronaria e se tornaria zero. Essa é
a Verdade.
Raciocinando nesses termos, poderão compreender o sentido básico do
coração, dos pulmões e do estômago. O coração absorve o elemento fogo do
Mundo Espiritual através da pulsação. Da mesma forma, os pulmões absorvem
193
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

o elemento água através da respiração. O estômago absorve o elemento terra


pela digestão dos alimentos. Mas vamos aprofundar ainda mais esse princípio.
Para dissolver as toxinas solidificadas, que são a origem de todas as
doenças, necessita-se de calor. Esta é a primeira atividade do processo de
purificação. Se esse processo constitui os sintomas das doenças, a febre alta,
em tal oportunidade, é necessária, para dissolução das toxinas. Ao mesmo
tempo, a pulsação torna-se acelerada, para absorver o calor. Quanto ao frio
que se sente, é causado pela concentração do calor no local enfermo e pela
diminuição temporária da temperatura em ouhas partes. Da mesma maneira,
a respiração se acelera para estimular a atividade do coração, e, para evitar o
ressecamento, os pulmões absorvem o elemento água em grande quantidade.
A origem do elemento fogo é a energia emitida pelo Sol; a do elemento
água é a energia emitida pela Lua; a do elemento terra,a energia emitida pela
Terra. É claro que dos três órgãos que citamos o mais importante é o coração,
pois ele movimenta os pulmões, que, por sua vez, movimentam o estômago.
De acordo com este raciocínio, não há perigo imediato de vida mesmo que
falte alimento ao estômago; entretanto, os pulmões só mantêm a vida por
poucos minutos, e para o coração é impossível mantê-la durante mais de
alguns segundos. Isso se evidencia por ocasião da morte, que a Medicina
atribui, invariavelmente, à parada cardíaca, nada falando sobre pulmões ou
estômago. Nesse momento, caracterizado primeiramente pela cessação da
atividade do coração, o espírito, isto é, o elemento fogo, que ocupava todo o
corpo, abandona-o, e o corpo fica sem calor. Logicamente, isso ocorre porque
o espírito retorna ao Mundo Espiritual. Com a parada dos pulmões, o elemento
água existente no interior do corpo retorna ao Mundo Atmosférico e o corpo
começa a secar. Com a parada do estômago, a ingestão de alimentos torna-se
impossível, e começa o processo de endurecimento do corpo. Todos esses
fenômenos constituem evidências que atestam a veracidade do que foi
exposto.
Portanto, como o corpo humano é formado pela trilogia fogo-água-terra,
o método lógico para a erradicação das doenças deve basear-se nessa trilogia.
Isso constitui o princípio do JOHREI da nossa Igreja, o qual está baseado no
PODER KANNON. Esse poder é a Luz transmitida por Kanzeon Bossatsu, uma
luz espiritual, invisível aos olhos humanos. A luz visível, como a do Sol, a das
lâmpadas, a do fogo, etc., é o "corpo" da luz. A natureza da luz é resultante da
união do fogo e da água, ou seja, é formada pelos elementos fogo e água. E
será mais forte quanto maior for a quantidade do elemento fogo. Acontece
que a força proveniente da luz constituída apenas por esses elementos ainda é
insuficiente, tornando-se necessária a essência da terra. A manifestação da
força perfeita da trilogia fogo-água-terra torna-se uma extraordinária força de
purificação. As ondas dessa Luz atravessam o corpo, extinguindo as máculas
do espírito, o que se reflete no físico, como erradicação da doença.
O meio concreto para se obter o que foi exposto é uma folha de papel
dobrada, com a palavra HIKARI, ou seja, LUZ, escrita em letra grande, a qual
se usa no peito, pendurada ao pescoço. Nessa palavra está impregnada, de
forma concentrada, a energia das ondas de Luz transmitidas através do meu
braço para o pincel, e deste para as letras. Assim, a palavra HIKARI está unida,
por elos espirituais, à fonte da Luz, situada dentro do meu corpo, a qual lhe
transmite ondas incessantemente. É claro que a atividade do elo espiritual que
194
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

me liga a Kanzeon Bossatsu ocorre de maneira idêntica, e d'Ele me são


transmitidas, ilimitadamente, as ondas de Luz para a salvação da
humanidade.
Sendo o corpo formado pela trilogia fogo-água-terra, conforme
expusemos, poder-se-á dizer que o método purificador das máculas baseado
na força dessa trilogia constitui a própria Verdade. É evidente, portanto, que
se consegue obter uma força de purificação jamais vista. Apesar da explicação
deste princípio ser extremamente difícil, acredito que os leitores tenham
conseguido entender até certo ponto como isso se processa.
6 de agosto de 1949

A VERDADEIRA CAUSA DA DOENÇA ESTÁ NO "ESPÍRITO"


Tudo que existe no mundo é composto de matéria e espirito,
sendo que a deterioração e decomposição da matéria é causada
pelo abandono do espírito. Mesmo em relação às pedras, existe um
tipo, chamado pedra morta, que se esfarela com facilidade, e isso
também se deve à ausência de espírito. A ferrugem que se forma no
ferro tem a mesma causa, podendo-se dizer que ela é o cadáver do
ferro. A existência de pouca ferrugem em espadas bastante polidas
ou espelhos antigos, explica-se pelo fato de estar impregnado neles
o espírito do artesão.
O homem é constituído pela união inseparável do espírito com
o corpo físico; a partida do espírito para o Mundo Espiritual constitui
aquilo a que chamamos morte. Todos os animais possuem, no
centro do espírito, a consciência e, no centro deste, a alma. O
tamanho da consciência é 1% do espírito, e o da alma é 1% da
consciência. Assim, primeiramente há ação da alma e da
consciência; com a ação desta última, verifica-se a ação do espírito
e, com esta, a ação do corpo físico. Dessa forma, todas as ações do
homem e fenômenos do corpo físico têm origem na alma.
Relacionando com o bem e o mal, o corpo físico representa o mal; a
consciência, o bem. Da mesma forma, a consciência representa o
mal, e a alma, o bem. O repetido atrito entre o bem e o mal gera a
harmonia, manifestando-se como força e capacidade de viver.
De acordo com o princípio exposto, o aparecimento da própria
doença ocorre numa parte do espírito, que move o corpo material.
Apesar de pequena, a alma é auto-elástico: quando o homem está
acordado e em atividade, ele toma a forma humana; quando o
homem está dormindo, toma a forma esférica. A bola de fogo que se
observa muitas vezes por ocasião da morte, é a alma, que, nesse
momento, assume o formato esférico, acontecendo o mesmo com a
consciência e com o espírito. Essa bola de fogo é ocasionalmente
visível porque tem luz. O aparecimento da doença numa parte da
195
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

alma significa que nessa parte a luz ficou escassa. Isso se reflete na
consciência, no espírito e, por fim, no corpo, em forma de doença.
Portanto, se não surgirem máculas em seu espírito, a pessoa jamais
ficará doente.
Mas por que razão se formam máculas no espírito? Por causa
do pecado. Para explicar isso, eu teria de entrar no campo da
Religião, de modo que vou parar por aqui e falar apenas sobre a
manifestação da doença no corpo físico.
Como eu já disse, se surgem máculas numa parte do espírito
(a parte correspondente à região pulmonar, por exemplo), o sangue
dessa área fica sujo. E isso não se restringe às doenças pulmonares;
praticamente todas as doenças têm essa origem. O princípio da
cura deve basear-se na eliminação das máculas do espírito.
Entretanto, desconhecendo esse princípio, a Medicina empenha-se
em tratar apenas os sintomas que aparecem no corpo, porque só
tem conhecimento do efeito, e não da causa do problema. Desse
modo, mesmo que se consiga uma pequena melhora, não se obtém
a cura completa da doença.
Com o JOHREI, eliminam-se as máculas do espírito através da
Luz de KANNON; ao mesmo tempo, ocorre a eliminação das toxinas,
e a doença melhora ou desaparece. Por conseguinte, a purificação
do espírito reflete-se no corpo, ocasionando a cura da doença. Ainda
assim, não podemos afirmar que o mal foi cortado pela raiz. Isso
porque, se a alma não foi elevada é impossível estar-se
verdadeiramente tranqüilo e seguro. A elevação da alma só poderá
ser obtida se a pessoa apreender a correta fé e praticá-la. Esse
aprimoramento constitui a prática messiânica. Chegando a esse
ponto, a pessoa não cometerá mais pecados; pelo contrário,
começará a acumular virtudes. Assim, além de ficar isenta de
doenças e desgraças, poderá viver repleta de alegria e obter a
graça de uma vida longa e virtuosa. Dessa forma, haverá progresso
de toda a sua linha familiar.
Falarei, agora, sobre outro aspecto relacionado ao espírito. Há
pessoas que ficam aflitas por qualquer coisa, e outras que estão
sempre inseguras e inquietas. Isso acontece porque a sua alma está
fraca e a sua resistência aos choques externos é pequena. Os
neuróticos, cujo número tem aumentado muito ultimamente,
enquadram-se nesse tipo. A causa da neurose são as máculas
existentes no espírito; por isso os portadores desse mal são fracos. A
maioria possui toxinas solidificadas no pescoço; dissolvendo-se
essas toxinas, eles ficarão curados. Quando o mal se agrava,

196
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

produz-se a insônia. Mesmo após obter a cura, o melhor meio de


evitar uma recaída é a pessoa ingressar na Igreja Messiânica
Mundial, a fim de que seu espírito seja iluminado pela Luz Divina e
não volte a criar máculas.
1935

A CAUSA DAS DOENÇAS E O PECADO


A causa das doenças são os nódulos constituídos pela mistura de sangue
sujo e pus, os quais se formam como reflexos das máculas do espírito. Mas de
onde surgiram e como vieram essas máculas? Elas se originam dos pecados.
Há dois tipos de pecados: os gerados nesta vida e os hereditários. Estes
últimos são o acúmulo global dos pecados cometidos por muitos
antepassados; os primeiros representam a soma dos atos pecaminosos
praticados pela própria pessoa.
Nós que vivemos atualmente, não somos seres surgidos do nada, sem
relação com nada. Na verdade, representamos a síntese de centenas ou
milhares de antepassados e existimos na extremidade desse elo. Somos,
portanto, seres intermediários de uma seqüência infinita, formando uma
existência individualizada no tempo. Em sentido amplo, somos um elo da
corrente que une os antepassados com as gerações futuras; em sentido
restrito, somos uma peça como a cunha, destinada a firmar a ligação entre
nossos pais e nossos filhos.
Para explicar as doenças causadas pelos pecados dos antepassados,
preciso falar sobre a vida após a morte, isto é, sobre a constituição do Mundo
Espiritual.
Ao deixar este mundo e passar pelo portão da morte, o homem tem de
despir a roupa denominada corpo. Este pertence ao Mundo Material, e o
espírito, ao Mundo Espiritual. Quando o corpo, devido à doença ou à idade
avançada, torna-se imprestável, o espírito abandona-o e vai para o Mundo
Espiritual. Aí ele deve se preparar para renascer no Mundo Material, ou seja,
reencarnar. Este preparo constitui o processo da purificação do espírito.
A maior parte das pessoas carrega uma quantidade considerável de
máculas, originadas dos pecados. Assim, quando são submetidas ao
julgamento do Mundo Espiritual, feito com absoluta imparcialidade, a maioria
acaba caindo no Inferno. Devido ao sofrimento da pena imposta, o espírito vai
pouco a pouco se elevando, mas os resíduos da purificação dos pecados fluem
contínua e incessantemente para os seus descendentes que vivem no Mundo
Material. Isso é como uma lei redentora, baseada na causa e efeito, em que o
descendente - resultado da soma global dos seus antepassados - arca com
uma parte dos pecados cometidos por eles. Trata-se de uma Lei Divina
inerente à criação; por conseguinte, o homem não tem outro recurso senão
obedecer a ela. Esses resíduos espirituais fluem sem cessar para o cérebro e a
coluna vertebral do descendente, e, penetrando em seu espírito,
imediatamente se materializam na forma de pus, que é a origem de todas as
doenças.
Agora vou falar sobre o segundo tipo de pecados, isto é, os pecados
individuais, que todos entendem com facilidade.

197
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Ninguém consegue viver sem cometer pecados. Estes podem ser graves,
médios e leves, admitindo cada um desses tipos uma infinidade de
classificações. Exemplificando, há pecados contra a lei, contra a moral ou
contra a sociedade; pecados de natureza carnal, que se evidenciam nas ações
do indivíduo, e também pecados psicológicos, cometidos apenas na mente da
pessoa. Conforme disse Cristo, só o fato de desejar a mulher do próximo já
constitui crime de adultério. É uma afirmação correta, apesar de bastante
rigorosa. Portanto, embora não se esteja violando nenhuma lei, pecados leves
cometidos no dia-a-dia, os quais ninguém considera pecados, como ter raiva
do próximo, querer que alguém sofra ou desejar adultério, se forem
acumulados por longo tempo, acabarão assumindo proporções consideráveis.
Vencer uma competição ou alcançar sucesso na vida, condutas que envolvem
disputa e acabam provocando a inveja e o conseqüente ódio do perdedor,
também constitui uma espécie de pecado, pois envolve o ódio. Matar animais,
ser preguiçoso e desperdiçado, agredir as pessoas, não cumprir os
compromissos, mentir, dormir demais pela manhã, etc., tudo isso são pecados
que as pessoas acumulam sem saber. Essa infinidade de pecados leves,
acumulando-se ao longo do tempo, refletem-se no espírito em forma de
mácula. É comum pensar que os recém nascidos não possuem pecado algum,
mas não é bem assim. Todos os homens, até se tornarem independentes,
vivem sob a tutela dos pais e por isso devem dividir com eles a carga dos
pecados. Poderão entender melhor este raciocínio fazendo uma analogia com
as árvores: os pais constituem o tronco, enquanto os filhos são os galhos, e os
netos, os galhos menores. Assim, é impossível as máculas dos pais não
exercerem influência sobre os filhos.
Os pecados gerados nesta vida tornam-se bem claros através de
exemplos. Vou expor alguns deles.
Conheci duas pessoas que, após enganarem a terceiros, ficaram cegas.
Uma delas era um especialista em confecção de painéis chamado Kyoguin, o
qual residia em Senzoku-cho, Assakussa, Tóquio. Ele produzia quadros falsos
com uma técnica aprimorada e fazia painéis novos parecerem antigos,
vendendoos como autênticos. Em poucos anos acumulou consideravel fortuna,
mas foi acometido de cegueira incurável, vindo, mais tarde, a falecer. Lembro-
me de que quando eu era criança ia brincar em sua casa e ouvia as histórias
diretamente dele. O outro caso ocorreu em Hanakawa-do, também em
Assakussa, onde havia uma casa de móveis e utensílios chamada Hanagame.
Certa vez, o bonzo responsável por um templo de Shizuoka expôs em Tóquio a
imagem principal do templo. Acontece que a exposição foi um completo
fracasso e, ficando sem meios para voltar, ele tomou dinheiro emprestado na
Casa Hanagame, deixando a imagem como garantia do pagamento da dívida.
Após conseguir o dinheiro, foi devolvê-lo, mas Hanagame, o dono da loja, que
vendera a imagem, por altíssimo preço, a um interessado, cinicamente alegou
que nunca a tivera sob sua guarda. No auge do desespero, o bonzo acabou se
enforcando no teto da referida loja. O proprietário investiu a vultosa quantia
obtida com a venda da imagem na ampliação dos seus negócios, que foram de
vento em popa. Em pouco tempo ele estava milionário. Entretanto, na velhice,
ficou cego e seu herdeiro acabou esbanjando toda a fortuna com bebidas e
mulheres. Por fim, em estado lastimável de profunda decadência, Hanagame
perambulava pela cidade conduzido por sua mulher, também já idosa.
198
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Lembro-me de tê-los visto algumas vezes e de ter tomado conhecimento de


sua história por intermédio de meu pai. O que ocorreu, só pode ter sido
causado pelo profundo ódio do bonzo.
O exemplo que se segue diz respeito ao reflexo dos pecados dos pais
sobre os filhos. Refere-se a uma empregada que eu tive, moça de dezessete
ou dezoito anos aproximadamente, a qual era cega de um olho. Perguntando-
lhe eu a causa desse problema, ela me disse que o filho de um casal para
quem trabalhara havia disparado acidentalmente uma espingarda de pressão,
atingindo seu olho. Indagando maiores detalhes, eu soube que o pai dela
havia enriquecido vendendo coral falso. No início da Era Meiji, por volta de
1867, utilizando látex, ele fabricara gemas falsas de coral. Levando-as para o
interior, conseguira vendê-las a preços altos, como se fossem verdadeiras.
Acredito que o ódio das pessoas enganadas se refletiu em sua filha, que
acabou perdendo uma vista. Pareceu-me realmente uma pena, pois ela era
muito bonita e, se não tivesse esse defeito, teria progredido bastante na vida.
Outro caso é referente a um ancião que veio me procurar por causa de
uma dor que sentia no pulso. Ministrei-lhe JOHREI por mais de dez dias, mas
ele não apresentava melhora. Intrigado, indaguei-o a respeito de sua fé, e ele
me disse que venerava certa divindade há mais de vinte anos. Vendo que
estava aí a causa do problema, convenci-o a parar com as orações. A partir
desse dia, o ancião começou a melhorar gradativamente; após uma semana,
já estava totalmente curado. Portanto, professar uma fé errada ou venerar
falsas divindades provoca paralisia ou dores nas mãos, impossibilidade de
dobrar os joelhos, etc. Casos desse tipo ocorrem com certa freqüência.
Através dos exemplos citados, podemos ver que não se devem
menosprezar nem mesmo os pecados cometidos sem querer. As pessoasque
sofrem constantes acidentes ou são acometidas de doenças precisam refletir
sobre seus pecados e, encontrando-lhes a causa, regenerar-se imediatamente.
1936

O QUE É O ESTADO LIGEIRAMENTE FEBRIL


Provavelmente não há ninguém que não apresente um pouco de febre,
mas muitas pessoas nem têm consciência disso. Esse estado ligeiramente
febril exerce uma forte influência sobre o homem. Vejamos.
O indivíduo sente dor e peso na cabeça, sua capacidade de
concentração diminui, torna-se disperso, sua memória enfraquece, não faz
nada com afinco, tudo lhe parece difícil, sente o corpo pesado e por qualquer
coisa vai para a cama. Além disso, quase não tem apetite, mostra muitas
preferências e restrições em matéria de comida, toma muito líquido e irnta-se
com facilidade. Como nada lhe vai bem, passa a encarar as coisas com
pessimismo. A histeria também é motivada pela febre branda. Essas pessoas
são passivas em tudo, preferem o tempo chuvoso ao tempo bom, contraem
gripe com freqüência, ficam com o nariz entupido, ouvem zumbidos, suas
amígdalas inflamam facilmente, perdem o fôlego ao subir ladeiras ou quando
andam rápido, e suas pernas ficam pesadas. Em rápida análise, esse é o
quadro que se apresenta, e que não é nada desprezível.
Com tudo o que dissemos, é fácil deduzir que tais indivíduos não se dão
bem com os amigos. Aliás, não se dão bem com, ninguém, nem com os
próprios familiares. No lar, isso se reflete no mau relacionamento entre o casal
199
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

e entre pais e filhos. Eles tentam impor seus pontos de vista, agem de
maneira egoísta e ainda procuram apresentar razões para a sua conduta.
Ajustificativa mais alegada é o liberalismo. Como acham desagrádavel a vida
no lar, facilmente abandonam a família. Ultimamente muitos rapazes e moças
têm fugido de casa, e a explicação deve ser a que estamos expondo. Os casos
mais trágicos acabam em suicídio coletivo da família.
E não fica por aí. No tocante ao convívio social, muitas pessoas
procuram justificativas egoístas para suas condutas e dessa forma criam
desarmonia ao seu redor, discutem por motivos insignificantes e brigam sem
nenhuma necessidade. Tudo isso é causado pelo excesso de egocentrismo.
Parece que tais ocorrências são freqüentes entre os políticos. Mesmo nas
associações, em caso de discussão de determinado assunto, há muito
falatório, levando-se um tempo enorme para chegar-se a um acordo. Parece
que as pessoas não conseguem perceber a causa desses fatos e também não
têm interesse nisso.
Numa sociedade complicada como a que acabamos de mencionar, as
criaturas estão crivadas de problemas e, logicamente, procuram fugir dos
aborrecimentos. Aí vem a bebida. Deve ser por essa razão que, por mais que
esta suba de preço, seu consumo não diminui. Além disso, na ânsia de fugir
dos problemas, as pessoas acabam procurando diversões que lhes
proporcionem fortes estímulos. Osjovens procuram cabarés, discotecas,
fliperamas, etc. Os indivíduos de mais idade, desde que tenham algumas
posses, procuram refúgio em concubinas ou em relacionamentos de caráter
leviano. Assim é que, no mundo atual, proliferam diversões insanas.
Se a origem de um quadro tão sombrio, conforme dissemos, é o estado
ligeiramente febril que as pessoas normalmente apresentam, não há nada
mais temível que esse estado. Mas qual é a causa da febre? São as toxinas
medicinais, as quais se encontram solidificadas em vários pontos do corpo,
determinando um processo brando de purificação. Para eliminá-la de verdade,
não há absolutamente nada a não ser o JOHREI. À medida que aumentam os
fiéis de nossa Igreja, tende a desaparecer o quadro sombrio que descrevemos,
não havendo, portanto, a menor dúvida de que surgirá uma sociedade
extremamente agradável. Esta é justamente a imagem do Paraíso Terrestre.
5 de setembro de 1951

SOBRE A PURIFICAÇÃO PROPORCIONAL


Existe um ponto que preciso esclarecer. Refere-se à ocorrência da
purificação proporcional.
Suponhamos que a pessoa esteja sentindo dor no braço direito. Quando
a dor melhora, pela ministração do JOHREI, o braço esquerdo começa a doer.
Parece, então, que a dor se deslocou, mas isso é que se chama purificação
proporcional. Eliminadas as toxinas do braço direito e havendo toxinas no
esquerdo, ocorre aí o processo de purificação natural, para estabelecer o
equilíbrio. Evidentemente isso não se limita ao braço. Seja no ventre ou nas
costas, não existe deslocamento da dor. Trata-se tão somente de purificação
proporcional.
22 de abril de 1950

A DOENÇA E O CARÁTER DO HOMEM


200
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

Através da minha larga experiência, constatei que a doença e o caráter


do homem se encaixam perfeitamente. Isso se torna bem visível por ocasião
do tratamento das doenças. As pessoas de caráter dócil curam-se sem
tropeços; nas pessoas simples, a doença também apresenta sintomas simples.
Ao contrário, nas criaturas de gênio forte, ela tende a se prolongar. Assim,
naquelas que são obstinadas, a doença também o é. Em pessoas cujo
comportamento é fácil de mudar, a doença muda facilmente; em pessoas
irônicas, ela também toma aspectos irônicos.
Pela razão acima, quando uma pessoa adoece, se fizermos com que ela
mude os aspectos negativos do seu caráter, isso influenciará positivamente
sobre a cura da doença. O melhor a fazer é as pessoas se tornarem dóceis.
1936

A ADVERTÊNCIA DOS ANTEPASSADOS


Os antepassados desejam a felicidade de seus descendentes e a
prosperidade de sua linha familiar. Por conseguinte, não negligenciam sua
guarda um instante sequer, impedindo-os de cometerem erros e pecados, ou
seja, evitando que trilhem o mau caminho. Se um descendente, induzido pelo
demônio, comete uma má ação, aplicam-lhe castigos na forma de acidentes
ou doenças não só como advertência mas também para a limpeza dos
pecados cometidos anteriormente. No caso do enriquecimento ilícito por parte
do descendente, fazem com que este tenha prejuízos, ocasionando, por
exemplo, um incêndio ou outras formas de perda, que lhe esgotam a fortuna.
Conforme o pecado, aplica-se também a doença como processo de purificação.
Suponhamos que uma criança contraia gripe. Uma gripe comum seria
facilmente solucionada através do JOHREI; nesse caso, entretanto, não se
verificam bons resultados. A criança tem vômitos freqüentes, perda de apetite,
acentuado enfraquecimento em poucos dias e acaba morrendo. É uma
situação estranha, que se enquadra justamente no que falamos acima:
advertência dos antepassados. As causas pode ser varias, entre elas o
relacionamento amoroso do pai com outra mulher. Se ele não perceber na
primeira advertência, poderão ocorrer-lhe sucessivas perdas de filhos. Estes
são sacrificados por um prazer passageiro; trata-se, portanto, de uma conduta
bastante reprovável. Os antepassados evitam sacrificar o chefe da família por
ser ele o seu sustentáculo, de modo que os filhos tomam o seu lugar.
Vejamos outro exemplo. O chefe de uma família, homem de
aproximadamente quarenta anos, nunca havia rezado perante o oratório de
antepassados que havia em sua casa. Sua filha, preocupada, conversou com
um tio, irmão do pai, e transferiu o oratório para a casa dele. Pensando no
futuro, o tio foi à casa do irmão e pediu-lhe que reconhecesse, por escrito, a
transferência do oratório, que havia sido transmitido por várias gerações e que
estava agora sob a sua guarda. O irmão concordou, mas, quando pegou a
caneta, sua mão começou a tremer em espasmos, sua língua contraiu-se e ele
não conseguiu mais falar nem escrever. Tentaram vários tratamentos sem
nenhum resultado, e por fim vieram a um discípulo meu em busca de cura.
Lembro-me de ter ouvido dele a história que a filha desse homem lhe contara.
No caso em questão, os antepassados não admitiram que o oratório fosse
retirado definitivamente da casa do primogênito, que, por tradição, deveria

201
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

guardá-lo. Se isso acontecesse, a linhagem da família ficaria alterada,


podendo, então, ocorrer a sua extinção.
5 de fevereiro de 1947

NUTRIÇÃO

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
Gostaria de alertar aos especialistas que não há nada tão errado quanto
a alimentação e a nutrição da atualidade. Eles transformaram-nas em teorias
acadêmicas, demasiado distantes da realidade. Durante mais de dez anos fiz
pesquisas profundas sobre o assunto e, surpreendentemente, os resultados
obtidos foram exatamente o oposto do que a Dietética recomenda. Vou
explicá-los partindo da minha própria experiência.
Até cerca de quinze ou dezesseis anos atrás, eu era um grande
apreciador de carne, e o meujantar consistia quase sempre de comida
ocidental à base desse alimento, ou, eventualmente, de comida chinesa. Esse
tipo de alimentação, segundo os nutricionistas, é o mais próximo do ideal, mas
naquele tempo eu era magro e ficava doente com a maior facilidade. Vivia
sempre gripado, com problemas de estômago, e não havia um só mês em que
não fosse ao médico. Na tentativa de melhorar meu estado de saúde,
experimentei todos os tratamentos que estavam em moda, na época, e mais
outras práticas, como respiração profunda, banhos de água fria, meditação,
etc. Eles fizeram algum efeito, mas não a ponto de melhorar minha
constituição f ísica.
Quando eu soube que a carne não fazia bem, voltei a alimentar-me de
comida japonesa, que consiste em verduras e peixes. Então meu peso
aumentou de 56 para 60 quilos em dois ou três anos; ao mesmo tempo,
tornei-me resistente às gripes. Acabei até esquecendo que sofria do estômago
e dos intestinos e pude sentir pela primeira vez a alegria de gozar boa saúde.
De lá para cá, e isso já faz mais de dez anos, tenho trabalhado sempre com
bastante disposição.
Resolvi, então, experimentar o método em mais de dez pessoas da
minha família, inclusive meus seis filhos, e obtive bons resultados,
conseguindo banir do meu lar o fantasma da doença. O mais interessante foi
que experimentei ministrar-lhes uma dieta pobre em elementos protéicos.
Assim, mandei que minha mulher e minha empregada dessem refeições
pobres às crianças. Foi utilizado arroz 70% refinado, bastante verdura e, de
vez em quando, peixe, mas apenas salmão salgado, sardinha seca e peixes
comuns. Além disso, "ochazuke" (arroz embebido em chá) ou "shiomussubi"
(bolinho de arroz com sal) acompanhados de piclesjaponês, ou, ainda
"norimaki" (bolinho de arroz envolto em alga marinha) feito em casa, etc. Do
ponto de vista da Dietética, uma alimentação carente de valor protéico.
O resultado foi surpreendente: durante os cursos primário e secundário
meus filhos tiveram porte físico dos melhores. A nutrição foi boa porque,
começando pelo mais velho, de dezesseis anos, até o mais novo, de quatro
anos, nenhum teve doença grave. Todos os anos eles monopolizavam o prêmio
de assiduidade, por não terem faltado um dia sequer às aulas.
Aproveitando a valiosa experiência obtida através dessa prática, tentei o
mesmo método em centenas de pessoas que me procuraram desde que
202
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

comecei a tratar de doentes, há oito anos. Os resultados foram excelentes,


sem exceção. A alimentação à base de verduras tem sido muito eficaz
principalmente no caso de pessoas portadoras de problemas pulmonares e
pleurite. Gostaria, portanto, que os médicos pesquisassem como essa
alimentação é benéfica para tais casos.
Pelos fatos que expus, poderão ver que a Dietética, cujo progresso é
vertiginoso em nossos dias, apresenta um erro fundamental. Não me acanho
de apontá-lo, pois constitui um sério problema do ponto de vista da saúde. E
estou alertando firmemente não só os estudiosos do assunto como também as
pessoas em geral. Se esta nova alimentação que tenho defendido se tornar
uma prática comum, será uma grande boa nova, até mesmo do ponto de vista
da economia nacional. Os agricultores do nosso país possuem resistência física
ao trabalho porque têm uma alimentação pobre; caso eles passassem a se
alimentar de carne, cujo valor protéico é muito alto, garanto que não
suportariam o trabalho da lavoura.
Junho de 1935

A DIETÉTICA
O erro fundamental da dietética moderna é basear suas pesquisas em
apenas um dos dois aspectos da nutrição. Ela toma o alimento como objeto
principal dessas pesquisas, negligenciando a parte que se refere às funções
orgânicas.
As funções orgânicas do homem são tão perfeitas que, ao nível da
Ciência atual, não se consegue entendê-las. A partir dos alimentos, elas
transformam e produzem livremente os nutrientes necessários. Vejam: esse
verdadeiro cientista chamado aparelho digestivo transforma os alimentos
ingeridos, como arroz, pão, verduras, batatas, feijão, etc., em sangue,
músculos e ossos. Por mais que se analisem os componentes desses
alimentos, não se conseguirá descobrir um glóbulo sangüíneo sequer, nem um
milímetro de células musculares. Por outro lado, por mais que se dissequem os
alimentos, não será possível localizar uma só molécula dos componentes das
fezes ou da urina, nem tampouco traços da amônia. Assim, se fornecermos
vitaminas ou plasma sangüíneo ao corpo, considerando-os nutrientes, qual
será o resultado? Acentuar-se-á o enfraquecimento do corpo.
Suponhamos que haja uma fábrica destinada a determinada produção.
Dispondo-se de matéria-prima como ferro e carvão e do trabalho dos
operários, da ação das máquinas, da queima do carvão e de vários outros
processos, conseguir-se-á um produto acabado. Portanto, esse processo
constitui a própria vida de uma fábrica. Se, desde o início, transportássemos
para lá produtos já acabados, não haveria mais necessidade do carvão, nem
do trabalho dos operários e das máquinas, e a fábrica deixaria até de soltar
fumaça pelas chaminés. Não havendo atividade, dispensar-se-iam os
operários, e as máquinas acabariam enferrujando. Analogamente, se
ingerimos alimentosjá processados, a fábrica produtora de nutrientes fica sem
atividade e o corpo enfraquece. Assim, é necessário estarmos cientes de que a
vitalidade do homem provém da atividade de transformação dos alimentos
inacabados em acabados. É claro que todos os nutrientes industrializados,
como as vitaminas, são produtos acabados, sintéticos.

203
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

A dietética atual também menospreza o valor nutritivo dos cereais,


acreditando que os nutrientes estão contidos, em sua maior parte, nos pratos
complementares, e não no prato principal. Isso também constitui um erro. Na
verdade, o valor nutritivo dos cereais é o mais importante; o dos pratos
complementares é secundário. Pode-se dizer que eles servem para tornar mais
apetitosos os cereais.
O organismo do homem foi criado de modo a se adaptar ao meio
ambiente. Se comemos pratos pobres continuamente, nosso paladar se
modifica e começamos a achá-los saborosos. Entretanto, parece que pouca
gente tem conhecimento disso. Caso a pessoa se acostume com belos pratos,
passará a não mais se satisfazer, exigindo iguarias cada vez melhores. Isso se
observa em pessoas extravagantes.
A seguir explicarei o significado dos alimentos. Eles foram concedidos
não apenas ao homem, mas a todos os seres, para que estes possam se
manter vivos. Foram feitos de forma adequada a cada espécie. O Criador
destinou o alimento certo ao homem, aos animais quadrúpedes e às aves.
Quais são, então, os alimentos atribuídos ao homem? É fácil reconhecê-los,
porque eles têm sabor e as pessoas têm paladar. Portanto, saboreando os
alimentos e ficando satisfeitos, elas absorvem os nutrientes naturalmente, o
que irá constituir a base da saúde. Deverão, pois, saber que tomar cápsulas de
vitaminas, por exemplo, que não precisam ser mastigadas nem exigem o
trabalho da função digestiva, não só representa um grave erro como até faz
mal. Dessa maneira, como as condições ambientais, profissionais e orgânicas
são diferentes, basta a pessoa comer aquilo que estiver desejando comer,
porque é isso que ela está necessitando. Ou seja, cada um deve se alimentar
de modo natural, sem se apegar às teorias da Dietética.
As verduras contêm grande quantidade de nutrientes. Assim, do ponto
de vista da nutrição, elas e os cereaisjá proporcionam alimentação suficiente.
Os fatos comprovam minhas palavras: os agricultores e os monges budistas,
que se alimentam principalmente de verduras, gozam de saúde e longevidade,
enquanto as pessoas da cidade, que se alimentam continuamente de carnes,
peixes e aves, contraem doenças com facilidade e têm vida curta.
5 de fevereiro de 1947

A COMÉDIA DA NUTRIÇÃO
Os leitores provavelmente estranharão o título deste artigo. Eu também
não gostaria de utilizá-lo, mas não encontro outra expressão adequada. Assim,
pedirei a compreensão de todos.
Atualmente temos nutrientes com formas e aplicações diversas, como
vitaminas, aminoácidos, glicose, carboidratos, gorduras, proteínas, etc. Todos
estão a par do aumento que ocorre, a cada ano, na variedade de vitaminas.
Todavia, a ingestão ou injeção dessas substâncias não produz efeitos
permanentes, e sim temporários. No fim das contas, o que se observa é o
efeito oposto: quanto mais se tomam vitaminas, mais o corpo enfraquece.
Não seria preciso explicar, a essas alturas, que o alimento serve para
manter a vida; na interpretação desse aspecto, porém, há uma grande
diferença entre a teoria atual e a realidade. Quando o homem ingere um
alimento; em primeiro lugar ele o mastiga; passando pelas vias digestivas, o
bolo alimentar vai para o estômago e, daí, para o intestino. As partes
204
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

necessárias são absorvidas, enquanto que o resto é eliminado. Até chegar a


esse processo, entram em ação diversos órgãos, como o fígado, a vesícula
biliar, os rins, o pâncreas e outros, que extraem, produzem e distribuem os
nutrientes necessários ao sangue, músculos, ossos, pele, cabelos, dentes,
unhas, etc. Assim, é realizada incessantemente a atividade de manutenção da
vida. Trata-se de uma misteriosa obra da Criação, impossível de ser expressa
por meio de palavras. É esse o estado normal da Natureza.
Conforme dissemos, os nutrientes indispensáveis à manutenção da vida
humana estão presentes em todos os alimentos. Se há uma grande variedade
de alimentos, é porque todós eles são necessários. A quantidade e a
preferência variam conforme a pessoa e a hora; a variedade do que se quer
comer também depende danecessidade do organismo. Porexemplo, a pessoa
come quando tem fome; bebe água quando está com sede; se deseja comer
algo doce, é porque tem falta de açúcar em seu organismo; se lhe apetece
algo salgado, é porque tem falta de sal, e assim por diante. Por conseguinte,
as necessidades naturais do homem evidenciam o princípio exposto. A melhor
prova é que quando a pessoa está desejando algo, esse algo lhe é saboroso.
Por isso podemos compreender o quanto está errado ingerir contra a vontade
coisas que não são saborosas, como os remédios, por exemplo. A frase "Todo
bom medicamento é amargo" também encerra um grande erro. O sabor
amargo já é indicação do Criador de que aquilo é veneno e não deve ser
ingerido. Assim, quanto mais saboroso o alimento, mais nutritivo ele é, porque
a sua energia espiritual é mais densa e contém uma grande quantidade de
nutrientes. Pela mesma razão, quanto mais frescos forem os peixes e as
verduras, mais saborosos eles são; com o passar do tempo, a energia
espiritual vai aos poucos abandonando-os, razão pela qual seu sabor vai
diminuindo.
Vou dar uma explicação sobre os compostos vitamínicos. O organismo
produz todos os nutrientes indispensáveis - sejam eles vitaminas ou não - a
partir de quaisquer alimentos, e na quantidade exata que for preciso. Em
outras palavras, a misteriosa função nutritiva do organismo consegue produzir
vitaminas, na quantídade necessária, até mesmo a partir de alimentos que
não as contêm. Assim, a atividade de produção de nutrientes constitui a
própria força vital do homem, ou seja, a transformação do alimento inacabado
em alimento acabado não é senão o próprio viver. Por essa razão, quando se
ingerem compostos vitamínicos, que são produtos sintéticos, os órgãos
encarregados da produção de vitaminas tornam-se inúteis e acabam se
atrofiando naturalmente. Com isso, os outros órgãos relacionados também se
atrofiam.oque vai enfraquecendo gradativamente o corpo. Vou citar alguns
cxen:plos.
Houve uma época, nos Estados Unidos, em que esteve em moda um
regime alimentar chamado Fletcher's. Esse método consistia em mastigar ao
máximo os alimentos, considerando que quanto mais pastosos eles
estivessem ao serem engolidos, melhor seria a digestão. Segui o método à
risca durante um mês. Acontece que fui ficando fraco, não podendo fazer força
como desejava. Desapontado, acabei abandonando o método, e assim as
minhas energias voltaram ao normal. Foi aí que descobri que é um grande erro
mastigar excessivamente os alimentos, pois, como os dentes os trituram bem,
torna-se desnecessária a atividade do estômago e isso o enfraquece. Portanto,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 3
O Homem, a Saúde e a Felicidade

o melhor é mastigar os alimentos pela metade. Desde os tempos antigos,


dizem que as pessoas que comem depressa e na hora de defecar também o
fazem rapidamente são pessoas sadias. Nesse aspecto, o homem daquela
época estava mais avançado que o homem moderno.
Por outro lado, se ingerimos medicamentos destinados a facilitar a
digestão, a atividade estomacal se reduz, o que acaba enfraquecendo o
estômago. Aí a pessoa toma remédio de novo, e esse órgão enfraquece mais
ainda. Assim, a causa das doenças estomacais está realmente na utilização de
remédios para o estômago. É comum ouvirmos pessoas que sofriam de
problemas estômaco-intestinais crônicos dizerem que, não conseguindo curar-
se com uma alimentação baseada em alimentos de fácil digestão, optaram por
alimentos de digestão mais difícil, como o "ochazuke" e o picles japonês, e
com isso conseguiram ficar curadas.
Comparemos essa força vital baseada na transformação dos alimentos
inacabados em alimentos acabados com a atividade de uma fábrica de
máquinas. Em primeiro lugar, adquirimos o material necessário. A fábrica
queima o carvão, movimenta as máquinas e, pelo trabalho dos operários,
produzem-se novas máquinas. Essa é a razão da existência da fábrica.
Suponhamos, agora, que compremos máquinas prontas. Não haverá mais
necessidade da queima do combustível, do movimento das máquinas nem do
trabalho dos operários, e por isso não há outra alternativa senão fechar a
fábrica.
20 de abril de 1950

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

A FÉ NO COTIDIANO

PRAGMATISMO
Na mocidade, apreciei muito a Filosofia. Entre as inúmeras teorias
filosóficas, a que mais me atraiu foi o pragmatismo, do famoso norte-
americano William James (1842-1910).
James achava que a exposição meramente teórica da filosofia constitui
apenas uma espécie de distração; para ele, a filosofia só era válida se fosse
colocada em ação. Acho interessante a sua teoria, cujo realismo autêntico é
característico dos filósofos americanos. Aderi, portanto, às suas idéias e me
esforcei por adotá-las em meu trabalho e na vida cotidiana.
O benefício que o pragmatismo me proporcionou naquela época, não foi
pequeno. Mais tarde, quando iniciei meus trabalhos religiosos, julguei
necessário aplicá-lo à Religião. Isto significa ampliar o campo religioso de
modo que abranja a vida em geral. Então, o político não cometeria injustiças,
porque, visando à felicidade do povo, promoveria uma boa administração,
granjeando, assim, a confiança de todos. O industrial obteria a admiração da
coletividade, pois exerceria a profissão honestamente; seus negócios
progrediriam com segurança, porque ele mereceria a estima de seus
empregados, que seriam fiéis no trabalho. O educador seria respeitado e teria
notável influência sobre seus discípulos, educando-os com bases sólidas. Os
funcionários e os assalariados em geral subiriam de posição, porque a Fé
produz bom trabalho. A alma do artista irradiaria de suas obras, com grande
elevação e força espiritual, exercendo influência benéfica sobre o povo. O ator,
no palco, manifestaria nobreza, porque suas representações seriam baseadas
na Fé, e os espectadores receberiam o reflexo de seus sentimentos elevados.
Entretanto, isso não significa que as coisas se processassem com rigidez
didática: tudo deveria ser agradável e atraente.
É fácil imaginar como melhoraria o destino dos indivíduos e como eles se
tornariam úteis à sociedade, se seus atos fossem iluminados pela Fé, qualquer
que fosse sua profissão ou situação.
Haveria, certamente, um cuidado especial: o pragmatismo religioso não
deveria transformar-se em fanatismo, pois todo exagero é desagradável. A
ostentação religiosa é uma das piores coisas que há. Existem muitas criaturas
que exibem atitudes de religiosidade. Isso aborrece os outros. O ideal é ser
natural, ser uma pessoa simples, pondo apenas mais gentileza e nobreza nos
atos. Em uma frase: ser polido, eliminando a fé grosseira. Alguns devotos têm
atitudes que lembram as dos psicopatas. São extremamente subjetivos, fazem
do lar um ambiente triste, importunam os vizinhos e suscitam desconfiança
sobre a religião que seguem. A culpa, no entanto, é de quem os orienta; por
isso, o ato de orientar requer muita prudência.
25 de janeiro de 1949

RELIGIÃO PRAGMÁTICA
O pragmatismo, doutrina sustentada inicialmente por Charles Sanders
Peirce, famoso filósofo americano (1839-1914), chegou a ser uma filosofia de
âmbito mundial, propagada por William James, que hoje é considerado seu
criador. Dizem que pragmatismo significa utilidade prática; creio, entretanto,
ser mais adequado aplicar o termo "ativismo".
207
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Acho desnecessário falar muito a respeito, porque se trata de uma teoria


conhecida por todos aqueles que se interessam pela Filosofia. O que desejo
falar agora, é sobre o pragmatismo religioso. Já me referi uma vez a esse
tema, mas torno a abordá-lo, para melhor compreensão.
Quando falamos em ativismo religioso, temos a impressão de que todas
as religiões estejam praticando ações de Fé. Todos conhecem propagandas por
escrito, sermões verbais, orações, cultos, rituais religiosos, ascetismo e
mortificações; infelizmente, porém, as religiões ainda não atingiram a vida
prática. Em verdade, não passam de cultura mental.
O pragmatismo filosófico introduz a Filosofia na vida prática,
acentuando, neste ponto, o caráter americano. Pretendo fazer o mesmo, com
uma diferença: fundir a Religião e a vida prática, tornando-as íntimas e
inseparáveis. Deixemos, pois, de ostentar virtudes, de isolar-nos, de ser
teóricos como foram até hoje os religiosos, e sejamos iguais às pessoas
comuns. Para tanto, é preciso que eliminemos toda afetação religiosa e
procedamos sempre de acordo com o senso comum, a ponto de tornar a Fé
imperceptível aos outros. Isso vem a ser a apropriação completa da Fé.
Com essa explicação, creio que puderam entender o que vem a ser
ativismo religioso.
30 de maio de 1951

FÉ É CONFIANÇA
Existem muitas pessoas que seguem uma religião, mas o homem de
verdadeira fé é raro. O fato de alguém se considerar um verdadeiro religioso,
nada significa, porque o julgamento está baseado num critério subjetivo. Só é
de fato um verdadeiro religioso aquele que assim for reconhecido
objetivamente.
É necessário distinguir claramente como age um autêntico homem de fé.
Teoricamente é simples: que inspire confiança nos que convivem com ele; que
todos confiem nas suas palavras; que, no contato com as pessoas, elas sintam
que só lhes advirá o bem, porque ele é uma pessoa excelente.
Obter tal confiança não é difícil. O essencial é não mentir e favorecer
primeiramente o próximo, deixando os interesses pessoais relegados a
segundo plano. As pessoas devem comentar a respeito desse homem: "É
alguém que me ajudou, que me salvou... É pessoa muito bondosa... Seria um
grande prazer tê-lo como amigo. É uma criatura muito agradável..." Tal
indivíduo certamente terá o respeito e a estima de todos, o que é muito
compreensível. Nós mesmos, se encontrássemos uma pessoa assim,
desejaríamos cultivar sua amizade, confiar-lhe nossos problemas e nos
sentiríamos ligados a ela. Essa dedicação, entretanto, não pode ter caráter
passageiro. Exemplifiquemos com o arroz: quem se habitua com ele, a cada
dia o acha mais saboroso. O homem de verdadeira fé pode ser comparado ao
arroz.
No mundo, predominam pessoas que contrariam tudo o que acabamos
de dizer: suas ações comprometedoras levam-nas a perder a confiança do
próximo, sem que isto as preocupe. Mentem de tal forma, que podem ser
desmascaradas a qualquer momento. Embora possuam boas qualidades,
suscitam desconfiança e se desvalorizam aos olhos dos outros.

208
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Mentir é uma grande tolice; basta uma pequena mentira para se ficar
desacreditado. Se investigarmos por que certas pessoas não melhoram de
situação, embora sejam esforçadas e assíduas no trabalho, veremos que elas
não merecem crédito, devido às suas mentiras.
A confiança é realmente um tesouro. Quem a merece jamais passará por
dificuldades monetárias, pois todos sentirão prazer em lhe fazer empréstimos.
Estou me referindo à confiança entre os homens; mas obter a confiança de
Deus é algo de valor inestimável. Se a conseguirmos, tudo correrá bem e
teremos uma vida repleta de alegrias.
18 de junho de 1949

FÉ É JUSTIÇA
Que é Religião?
Religião, evidentemente, não é uma interpretação complicada de
doutrinas e filosofias religiosas. Seu objetivo é a formação de homens
perfeitos. Estas palavras tão simples resumem a resposta, mas na prática isso
é difícil de realizar. É exatamente como disse Confúcio (552-479): "Falar é fácil;
fazer é que é difícil."
Vou explicar qual é a dificuldade.
A maioria das pessoas pensa que ninguém consegue fama ou riqueza
apenas com honestidade, julgando inevitável a utilização de alguns meios
ilícitos. Além disso, quase todos preferem os maus divertimentos aos bons.
Esse falso critério prevaleceu durante milhares de anos e acabou se
transformando em senso comum. Embora houvesse muitas tentativas por
parte da lei e da educação moral visando a melhorar a sociedade, os
resultados foram insignificantes.
A Religião é o último recurso que possuímos; entretanto, devemos
considerar que a diferença de força, no campo religioso, influi enormemente.
Uma religião de pouco poder não consegue vencer o mal. Eis por que seus
seguidores também não conseguem deixar de agir erradamente. Torna-se,
pois, necessário o aparecimento de uma poderosa religião capaz de vencer o
mal. Só assim teremos um mundo harmonioso e uma boa sociedade. Isso é o
que chamamos de Justiça aliada à Fé.
3 de junho de 1950

VERDADEIRA FÉ
Chu-tzu, sábio chinês (1130-1200), afirma que a dúvida é o princípio da
crença. É a pura verdade.
No mundo atual, existe um grande número de religiões, a maioria das
quais baseada em falsidades. Muitas adoram ídolos e até animais, sem o
saberem. Pouquíssimas dirigem sua adoração diretamente a Deus, o Criador
do Universo.
Digo sempre que a crença deve ser precedida do máximo de dúvida. Há
caminhos religiosos que, embora não possam ser considerados falsos, são
crenças de tipo inferior, pois não têm Deus como objetivo da fé.
Quando estudamos seriamente as religiões, vemos que muitas
apresentam falhas. Portanto, antes de seguirmos uma crença, devemos
questioná-la bastante, desprender-nos de velhas ideologias e conceitos não
comprovados e examinar tudo minuciosamente, de modo que possamos
209
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

ingressar numa Fé que não apresente falhas. Assim, teremos certeza de que
aquele é o nosso caminho.
Existem seitas que pregam a necessidade de primeiramente crer para
depois alcançar graças. Ora, crer antes de ter certeza, é o mesmo que
enganar a si próprio. A meu ver, o procedimento correto é, antes de mais
nada, experimentar ou limitar-se à observação e análise dos princípios e
ensinamentos: verificar se eles são corretos e se há milagres (o que prova a
atuação da Força Divina), para sentir se o novo caminho é digno de ser
seguido como Verdadeira Religião.
Sabemos de seitas que tentam impedir que seus seguidores conheçam
outros cultos. Na minha opinião, isso revela temor de que suas falhas e a
fragilidade de seus princípios se tornem patentes. Se fossem religiões de nível
muito elevado, nada temeriam. O adepto que, ao examinar uma nova crença,
se convence da excelência da que já adotou, mais solidifica sua fé.
É bom, contudo, estar ciente de que também os espíritos malignos
podem promover milagres, a fim de iludir os menos esclarecidos,
aprisionando-os com dogmas e superstições. Em tais casos, no entanto, os
resultados logo se manifestam: sofrimentos sem solução, que muitos
interpretam, erroneamente, como provações necessárias a que estão sendo
submetidos. Estes sofrimentos persistem, apesar de todos os sacrifícios e
orações fervorosas. As promessas, os jejuns, as privações, as penitências, etc.,
revelam-se totalmente inúteis. Diante de tal situação, inúmeras pessoas
julgam-se abandonadas por Deus e afastam-se da Fé, caminhando para uma
infelicidade maior.
Na religião que cultua somente a Deus, Criador do Universo, os fiéis
podem, inicialmente, ser atingidos por doenças e infortúnio; entretanto,
vencida essa fase de purificação das máculas, a situação será sempre melhor
do que a anterior. Deus recompensa aquele que obtém resultados ao trabalhar
no sentido de beneficiar a humanidade.
Aproveito o ensejo para prevenir o leitor contra o velho conceito: "Não
importa qual seja a crença, contanto que se creia". Isso é completamente
errado. O objetivo da Fé deve ser única e exclusivamente Deus. De Sua
adoração provém a Luz que dissipa as máculas do ser humano. Se, mediante
vantagens iniciais, o homem crê em qualquer coisa, há influências malignas
que o pervertem e degeneram. Nessa questão fundamental, a maioria não
distingue o certo do errado. Por isso, quase sempre as graças são passageiras
e acarretam mais desgraças do que felicidade.
Tratei deste assunto para que aprendam a distinguir a Verdade, não se
deixando iludir por falsas crenças.
25 de janeiro de 1949

LIBERDADE NA FÉ
No Japão, a liberdade religiosa só foi alcançada após a promulgação da
nova Constituição. Não é disso, porém, que vou tratar; pretendo discorrer
sobre a liberdade na própria Fé.
Há inúmeras religiões - grandes, médias e pequenas - no mundo inteiro.
Entretanto, todos pensam que sua religião é a melhor e, logicamente,
considerando as demais de nível inferior, advertem insistentemente os
adeptos para não terem nenhum contacto com elas. Dizem que as outras
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

religiões provêm do demônio, que se deve temer o castigo de Deus e, ainda,


que não se obterá a salvação seguindo a dois senhores.
Essas atitudes dependem de cada religião. Existem as que são muito
rigorosas e cujos missionários procuram impedir o relacionamento dos adeptos
com outros credos. Algumas até intimidam as pessoas dizendo-lhes coisas
atemorizantes, como, por exemplo, que, se mudarem de fé, lhes advirão
grandes desgraças, sofrerão doenças graves, perda da própria vida ou da
família inteira, etc. É a costumeira tática utilizada pelas falsas religiões. Se nos
basearmos no senso comum, perceberemos que tudo não passa de tolice, mas
geralmente as pessoas se deixam influenciar, ficando indecisas. E isso não
ocorre apenas com as religiões novas; mesmo nas religiões antigas e dignas
de respeito acontecem fatos semelhantes, o que é incompreensível.
Analisando bem, podemos concluir que o pensamento liberal não se restringe
às áreas políticas e sociais. Parece-nos que os grilhões do pensamento
despótico persistem também nas religiões.
Sendo como discorri acima, devo dizer, a respeito da liberdade em
Religião, que promover vantagens para a Igreja em detrimento dos fiéis,
cerceando sua vontade, é um abuso que atinge as raias do absurdo. Além do
mais, empregar para isso a ameaça verbal, é algo que, a essas alturas, pode
ser considerado uma imperdoável chantagem religiosa. Como ilustração,
citarei o que tive ensejo de ouvir de uma pessoa: "Há muito tempo sou adepto
fervoroso de determinada religião, mas vivo constantemente enfermo e não
consigo livrar-me do sofrimento causado pela pobreza. Por esse motivo, fui
perdendo a fé e resolvi abandoná-la. Entretanto, quando participei ao ministro
a decisão que tomara, ele me disse coisas aterrorizantes. Sem saber como
agir, venho pedir conselhos ao senhor." Eu expliquei a essa pessoa que aquela
religião, sem sombra de dúvida, era demoníaca e que o melhor seria deixá-la o
quanto antes.
Exemplos como esses existem aos montes. O principal motivo que leva
as religiões a tomarem tais atitudes é o medo que elas têm de ver diminuir o
número de seus fiéis. Por outro lado, há uma razão que já se registra desde
eras remotas. Quando a religião se torna atuante e conhecida, observa-se uma
tendência para o aparecimento de imitações. Até mesmo com a nossa Igreja
ocorre esse fato. Nessas oportunidades, eu explico que as religiões se
assemelham aos cosméticos: quando são bem aceitos, surgem imitações. Ora,
se isto acontece, é uma prova de que o produto foi bem aceito pelo povo.
Portanto, ao invés de condenar o fato, devemos alegrar-nos com ele.
No cristianismo, parece que existe a mesma tendência, mas em outro
sentido. Referimo-nos à advertência sobre a vinda do Anticristo ou falso
salvador. Trata-se de uma advertência que apresenta não só pontos positivos
como também negativos, pois, caso apareça o verdadeiro Salvador, será fácil
confundi-lo com o falso, e muitas pessoas deixarão de ser salvas.
O mais grave, entretanto, é que muitos adeptos oferecem sua ardorosa
fé acreditando que a religião que professam é a melhor de todas. Como são
realmente sinceros, espiritualmente já estão salvos, e pessoalmente se
sentem satisfeitos. Mas isso não é o certo. A verdadeira felicidade consiste em
viver-se uma vida paradisíaca, em que a matéria esteja salva juntamente com
o espírito. Embora sejam crentes fervorosos, muitos desconhecem esse

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

particular; assim, é grande o número de pessoas que não conseguem se livrar


da infelicidade.
A propósito, quero fazer mais uma advertência. O motivo pelo qual uma
religião proíbe seus fiéis de terem contato com outras, talvez seja o receio de
que eles possam encontrar uma religião superior. Isso significa que existe um
ponto fraco nessa religião; portanto, os fiéis devem acautelar-se. Nesse ponto,
nossa Igreja é realmente liberal. Todos os messiânicos sabem que até achamos
muito útil o contato com outras religiões, porque, através das pesquisas,
estamos ampliando nosso campo de conhecimentos. Por conseguinte, se
acharem uma religião melhor que a Igreja Messiânica Mundial, podem
converter-se a ela a qualquer momento. Isso jamais constituirá um pecado.
Para o Verdadeiro Deus, o importante é a pessoa ser salva e tornar-se feliz.
8 de outubro de 1952

INCORPORAÇÃO E ENCOSTO
Embora eu esteja sempre alertando sobre o perigo da incorporação,
muita gente continua praticando-a. Vou explicar detalhadamente por que isso
não é recomendável.
Oitenta ou noventa por cento dos casos de incorporação são de espíritos
de raposa, e noventa e nove por cento deles são maus. Enganam as pessoas
instintivamente, fazendo-as praticar o mal, e divertem-se muito com isso.
Entre eles, há os de nível superior, que, quando incorporam em alguém, dizem
ser Nyorai, Bossatsu, Dragão, etc. Tais espíritos, ao mesmo tempo que fazem a
pessoa crer, empenham-se, através dela, em que outras também creiam. Essa
pessoa passa, então, a ser endeusada e a viver cercada de luxo.
Freqüentemente vemos desses casos.
Entre os espíritos de raposa, os mais velhos possuem considerável
poder. Ao visarem um homem, como conhecem tudo que ele pensa, traçam
planos baseados nesses pensamentos. Se é pessoa que gostaria de ser
venerada como se fosse uma divindade, dela se apossam sorrateiramente e
começam a trabalhar nesse sentido. Tais pessoas dizem ser uma nova
manifestação de determinada divindade muito conhecida. Não há quem não
conheça casos semelhantes.
De maneira extremamente ardilosa, os referidos espíritos procuram
formar um elo espiritual com a criatura visada e, como também manifestam
alguns milagres, os ingênuos se deixam enganar. Isso acontece muito na
sociedade. "Deuses da moda", que surgem em vários lugares, são desse tipo;
evidentemente, trata-se de espíritos extraordinariamente hábeis.
Tendo conhecimento de que uma pessoa deseja ser rica a todo custo,
eles incorporam nela e trabalham com inteligência ardilosa, fazendo-a ganhar
muito dinheiro. Porém não escolhem os meios, e em geral induzem-na a
cometer crimes. Durante algum tempo as coisas vão bem com a pessoa, mas
depois tudo começa a dar errado, havendo muitos que até vão presos.
Se um homem deseja conquistar uma mulher, esses espíritos,
habilmente, fazem que ele se aproxime dela e, para despertar-lhe o interesse,
utilizam métodos e palavras galantes; às vezes até o levam a recorrer à
violência. São, portanto, muito perigosos. Tratando-se de espíritos de animal,
para eles não existe mal nem bem. Eles ficam contentes fazendo o homem
dançar a seu gosto, como se fosse um boneco. Assim, o ser que é considerado
212
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

superior a todos os outros encontra-se numa situação lastimável. Se pudesse


entender isso, o homem não teria razão para se orgulhar.
Além dos espíritos de raposa, também os espíritos de texugo, de dragão,
de "tengu", etc. podem incorporar no ser humano e enganá-lo. Entre eles, o
mais temível é o de dragão. Por sua grande inteligência e poder, lhe é muito
fácil utilizar o homem à sua vontade e, conforme a situação, feri-lo ou até
tirar-lhe a vida. Por ocasião daquele incidente ocorrido no ano passado,
atuaram muitos desses espíritos perversos, que agiram com extrema
crueldade. Como são muito inteligentes, também dominam o homem
ideologicamente. Essa é a causa da maioria dos crimes hediondos, cometidos
a sangue frio, em nome desta ou daquela ideologia, com influências maléficas
sobre a sociedade.
Comparados aos espíritos de dragão, os de texugo e de "tengu" não têm
grande poder. Entretanto, como a maioria destes últimos possui muita força e
cultura, apoderam-se dos ambiciosos, manejam-nos, fazem-nos subir na vida e
tornar-se renomados na sociedade. Além disso, eles gostam de se gabar.
Desde a antigüidade, são muito comuns os casos de incorporação desses
espíritos entre os sacerdotes Zen e entre cientistas e fundadores de religiões,
mas raros são aqueles cujo poder tem longa duração.
Abordei vários aspectos concernentes à incorporação, mas é preciso
saber que os demônios não realizam seus trabalhos maléficos como bem
querem. Há um chefe que os dirige, e este é o mais temível. Perante sua força,
a maior parte das divindades ficam sem ação. Clara ou ocultamente, ele
estorva as atividades da nossa Igreja. Como ela representa uma grande
ameaça para o mal, quem a combate é o chefe dos chefes. Essa luta é uma
manifestação da grande guerra entre o bem e o mal.
Entretanto, existe algo importante do qual se devem precaver: ficar
desprevenidos e tranqüilos, julgando que, como os messiânicos têm muita
proteção, não há perigo de os espíritos de animal encostarem ou incorporarem
tão facilmente. Se o fiel pensa dessa maneira eles aproveitam a oportunidade.
Além disso, caso a pessoa pratique a Fé Shojo, quanto mais ardorosa ela for,
mais fácil será a incorporação, razão pela qual estou sempre alertando sobre o
perigo desse tipo de Fé. Quando tais espíritos se apoderam de um indivíduo,
este procura mostrar que a Fé Shojo é um bem, apresentando razões
persuasivas e exaltando suas qualidades. Eles enganam as criaturas com
muita astúcia, e em geral elas acreditam piamente que a Fé Shojo é realmente
um bem, passando a trabalhar com entusiasmo. No entanto, como a base está
errada, quanto mais elas trabalham, mais negativos são os resultados. Então
as pessoas vão ficando cada vez mais nervosas. Chegando a esse ponto, os
conselhos dos outros nem entram em seus ouvidos, e elas vão se confundindo
mais e mais. Não podendo avançar nem recuar, acabam fracassando.
Existem muitas criaturas assim, mas não há problema se elas
despertarem logo; caso contrário, ficam completamente perturbadas e perdem
a proteção de Deus. Creio, portanto, que entenderam como é temerário
professar a Fé Shojo e por que eu sempre falo que o bem de Shojo é o mal de
Daijo.
O que melhor distingue a pessoa de Fé Shojo é que ela sempre foge ao
que é aceito por todos, e esse ponto fraco é visado pelos demônios. Seja lá o
que for, nunca erramos quando julgamos de acordo com o senso comum.
213
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Como este é o ponto fraco dos demônios, eu sempre aconselho as pessoas a


valorizá-lo.
Encontramos muitos exemplos na sociedade. Crenças que dão valor às
atitudes excêntricas, teorias e ideologias também excêntricas, crenças
mediúnicas, tudo isso gera problemas, e freqüentemente vemos e ouvimos
falar de ocorrências que tumultuam a ordem social. Do ponto de vista
espiritual, podemos compreender muito bem o porquê de tais ocorrências. Se
o homem venera espíritos de baixa categoria, de animais como raposa,
texugo, etc., é porque sua posição está sob a terra, abaixo, portanto, da
condição dos quadrúpedes, cujo lugar é sobre ela. Isso significa que, no Mundo
Espiritual, ele se encontra na "Esfera dos Animais". Como todas as coisas do
Mundo Espiritual se refletem no Mundo Material, essa pessoa está no Inferno.
Entretanto, nem todos os espíritos de raposa são maus. Embora raros,
alguns são corretos e pertencem ao Mundo Divino, do qual são mensageiros.
São espíritos de raposa branca e estão se esforçando no trabalho daquele
mundo, sendo muito úteis. Há, por conseguinte, dois tipos de espíritos de
raposa: os maus e os bons. Estes últimos também possuem muita força e
fazem bons trabalhos.
5 de dezembro de 1951

A BEBIDA E A RELIGIÃO
Há um estreito relacionamento entre bebida e Religião, mas parece que
pouca gente tem conhecimento disso. Passarei, em seguida, a tecer
considerações sobre o assunto.
A bebida ingerida em quantidade normal dispensa comentários, mas o
hábito de beber em demasia é causado por um fator de ordem espiritual. Os
espíritos de "tengu" (Ser misterioso que, segundo a crença popular, habita as
montanhas. Tem forma humana, asas rosto vermelho e nariz comprido, sendo
possuidor de poderes extraordinários. Porta sempre um grande leque. É
orgulhoso e amante de discussão e jogo.), texugo e, mais raramente, o
espírito de dragão, que apreciam muito a bebida, instalam-se no ventre dos
beberrões e, como absorvem a energia da bebida, a quantidade desta reduz-
se a uma fração da que foi ingerida. É comum dizer-se que ninguém consegue
beber um garrafão (1,8 litro) de água, mas há quem consiga tomar a mesma
medida de saquê, como se houvesse esponjas em seu ventre.
Quando um indivíduo se embebeda e põe-se a esbanjar argumentos e
críticas, tornando-se arrogante, está dominado por espírito de "tengu".
Quando fica alegre, dando gargalhadas, e, em seguida, mostra-se sonolento, é
por influência do espírito de texugo. O espírito de dragão, por sua vez,
costuma fazer com que a pessoa fique de olhar alterado e comece a
importunar insistentemente os que estão à sua volta. De maneira geral,
observando-se a fisionomia dos bêbados, poder-se-á notar que apresentam
jeito de "tengu" ou rosto de texugo; tratando-se do encosto de espírito de
dragão, animal cuja imagem conhecemos através de desenhos e esculturas,
os indivíduos são magros, de olhos fundos, ossos da face salientes e testa
angular. Há, ainda, o caso de pessoas que, quando bebem, perdem a razão e
tomam atitudes violentas, típicas de certos portadores de anormalidade
mental. Geralmente, são pessoas que, em outra vida, tiveram suas células
cerebrais danificadas pelo excesso de bebida. Devido a isso, elas são
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

possuídas por espírito de animais; os tipos perversos tornam-se violentos e


causam transtornos àqueles que os rodeiam.
Assim, o hábito de beber demais deve ser corrigido, pois, como todos
sabem, a pessoa não só prejudica a si própria, mas também é motivo de
constante sofrimento para os seus familiares, destruindo a harmonia do lar e
causando transtornos à sociedade; seu fim geralmente é muito triste. Por
outro lado, por mais que o indivíduo tente corrigir-se, não o consegue, porque
a causa do problema está no hóspede invisível que habita o seu ventre. Torna-
se, então, evidente que, para corrigir o vício da bebida, deve-se utilizar o
método espiritual, pois só através da Religião é possível alcançar tal objetivo.
Entretanto, parece que pouquíssimas religiões têm esse poder; aliás, o método
empregado por elas - abstinência pelo rígido autocontrole - torna-se muito
penoso, de modo que não é o mais aconselhável.
Talvez achem que se trata de auto-elogio, mas a Igreja Messiânica
Mundial não recomenda absolutamente abstinência nem redução da bebida.
Se a pessoa quiser beber, pode fazê-lo à vontade. A princípio, os que têm esse
vício ficam contentes, mas, com o tempo, costumam dizer que pouco a pouco
passaram a achar um gosto ruim nas bebidas, embriagando-se mesmo com
doses pequenas; por fim não conseguem beber mais do que a quantidade
normal.
Há inúmeros exemplos semelhantes em nossa Igreja. A explicação é que
o espírito do animal alojado no ventre da pessoa se enfraquece ao receber a
Luz de Deus e, conseqüentemente, ela começa a beber menos. Assim, seja
qual for a religião, se ela possui o esplendor da Luz Divina, conseguirá eliminar
os beberrões do seu quadro de fiéis.
5 de setembro de 1948

TIPOS DE FÉ
Em Religião, existem muitos tipos de Fé. Em linhas gerais, temos:
1º - Fé que visa à graça;
2º - Fé oportunista;
3º - Fé passiva;
4º - Fé interesseira;
5º - Fé mediúnica;
6º - Fé egoísta;
7º - Fé ostensiva;
8º - Fé ocasional;
9º - Fé volúvel;
10º - Fé superficial e caprichosa;
11º - Fé comodista;
12º - Fé farisaica.
Analisemos cada um desses tipos.
1º - Fé que visa à graça
O interesse concentra-se apenas nas graças que se deseja alcançar.
Deus e o mundo ficam em segundo plano. As pessoas visam somente ao
próprio bem. Sabem aproveitar-se da Fé, mas não sabem agradecer e retribuir
os favores Divinos. Aproveitar-se da Fé significa colocar Deus em segundo
plano, abaixo do homem. As graças se alcançam adorando a Deus. A fé que
visa somente à graça, sobrevive por pouco tempo, acabando por perder-se.
215
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

2º - Fé oportunista
É a dos que se mostram indiferentes enquanto a religião que professam
for desconhecida na sociedade, mas procuram participar das suas atividades
quando ela se torna famosa e se expande.
3º - Fé passiva
É a daquele que vive agradecendo, dando a impressão de ter grande fé,
mas não chega a pensar na salvação da humanidade, que é o objetivo de
Deus. Como não há ação, por ser uma fé estritamente "Shojo", sua existência
é apenas figurativa.
4º - Fé interesseira
É a das pessoas sumamente astutas, que procuram aproveitar-se da
religião para fazer um negócio, ou acalentam alguma outra ambição. Quem
cultiva esse tipo de fé, abandona a religião assim que verificar a
impossibilidade de tirar tais proveitos.
5º - Fé mediúnica
É a dos que se baseiam na incorporação de espíritos no homem e,
aceitando-a, procuram conhecer o Mundo Espiritual. Isso não é condenável,
mas eles acreditam facilmente nas palavras de espíritos de baixa categoria e
alegram-se com falsas predições e com mistificações. Não deixa de ser uma
heresia.
6º - Fé egoísta
É a das criaturas extremamente egoístas, que fazem oferendas e
romarias a entidades muito conhecidas, tendo por única finalidade receber
graças exclusivamente para si. São tipos vulgares, que nunca se interessam
pelas desgraças sociais e humanas.
7º - Fé ostensiva
É a daqueles que gostam de se mostrar, de receber elogios, de ser
apreciados e bem falados. Trata-se de fé superficial, que não consegue
desligar-se do egoísmo. Também é de baixa categoria.
8º - Fé ocasional
É a das pessoas que comparecem à Igreja quando ninguém se lembra
mais delas. Tais pessoas, afastando-se, dão a impressão de abandono da Fé,
mas não é propriamente isso. Elas vêm à Igreja de vez em quando, como
sonâmbulas, sem ao menos saber por quê. É preferível que abandonem a Fé.
9º - Fé volúvel
Seus adeptos não conseguem manter-se numa religião. Gostam de
conhecer outras e vivem sempre mudando de crença. Portanto, jamais
alcançam graças verdadeiras. Não passam sem Religião, mas vivem confusos.
Aceitam opiniões com a maior facilidade. Não deixam de ser infelizes.
10º - Fé superficial e caprichosa
É a fé manifestada por pessoas essencialmente caprichosas, que não
conseguem concentrar-se numa religião, como no caso dos possuidores de fé
volúvel. Os adeptos vivem mudando de uma para outra crença. São peregrinos
da Religião.
11º - Fé comodista
Os adeptos aproveitam-se de Deus e da Fé para satisfazerem seus
interesses. Assemelha-se à fé egoísta e encontra-se na maioria das
organizações religiosas, entre líderes e orientadores.
12º - Fé farisaica (impregnada de falsidade)
216
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

É quando o adepto aparenta fé, mas no fundo não reconhece a


existência de Deus. É o tipo que engana facilmente os outros com sua lábia.
Como Deus não permite tal abuso por muito tempo, a pessoa acaba sempre
por se revelar e desaparecer.
Diremos que a fé é verdadeira quando não corresponde a nenhum dos
tipos que foram citados.
30 de agosto de 1949

O PECADO E A DOENÇA
No setor da Religião, muito se tem falado sobre a relação entre o pecado
e a doença. Essa relação é um fato, mas vou falar sobre o assunto do ponto de
vista da Ciência Espiritual.
Como explanei anteriormente, na medida em que a pessoa tem maus
pensamentos e persiste na prática do mal, suas máculas vão aumentando.
Quando atingem certa densidade, surge o processo purificador natural, para a
sua eliminação. É uma lei do Mundo Espiritual e, por conseguinte, a ela
ninguém consegue escapar. Essa purificação, na maioria das vezes, manifesta-
se em forma de doença, mas há ocasiões em que toma outra forma. Existem,
pois, diferentes aspectos de desgraças. Na matéria, as máculas correspondem
à acumulação de toxinas. Entretanto, a enfermidade de origem espiritual,
ocasionada pelo pecado, é difícil de se curar e exige muito tempo. Doenças
como a tuberculose, a osteoporose, o câncer etc., que apresentam sintomas
persistentes e obstinados, contam-se entre esses casos.
Há dois meios para se redimir o pecado: sofrer ou praticar o bem.
Escolhendo este último, tudo será muito mais fácil. Como exemplo, vou contar
uma estória ocorrida na época em que eu estava pesquisando a religião Tenri-
Kyo.
Um rapaz que sofria de tuberculose pulmonar e fora desenganado,
ingressou na referida religião. Pensando na prática de uma boa ação, decidiu
fazer a limpeza do escarro expectorado por outras pessoas nos passeios da
cidade. Decorridos três anos, durante os quais fez isso todos os dias, o rapaz
estava completamente recuperado; a doença tinha desaparecido sem deixar o
menor vestígio.
A estória que se segue é famosa.
O Sr. Yamamoto Tyogoro, mais conhecido pela alcunha de Shimizu no
Jirotyo, encontrou-se com um sacerdote budista de alta categoria, o qual lhe
disse: "Sua face está marcada pelo estigma da morte. Será difícil o senhor
viver mais de um ano". Conformado, Jirotyo doou todos os seus bens para
obras filantrópicas, entrou num templo budista e ficou aguardando.
Passaram-se dois anos, mas nada de extraordinário aconteceu. Ele
estava muito zangado e, tendo casualmente encontrado o mesmo sacerdote,
pensou em repreendê-lo severamente. Entretanto, foi o religioso quem falou
em primeiro lugar: "Que coisa estranha... O estigma da morte que havia em
sua face quando eu o encontrei naquele dia, desapareceu completamente.
Deve haver alguma razão profunda para isso". Então Jirotyo contou o que
fizera, ao que o sacerdote budista disse: "O ato de caridade que o senhor
praticou transformou sua morte em vida".
Aplicando esse princípio à nossa realidade atual, compreende-se que o
sofrimento da maioria do povo japonês, em conseqüência da derrota do Japão
217
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

na Segunda Guerra Mundial, não é senão o processo de purificação decorrente


da invasão a outros países durante longo tempo, e da exploração e matança
de outros povos.
5 de fevereiro de 1947

JOHREI ATRAVÉS DAS LETRAS


Lendo o título acima, talvez os leitores nem façam idéia do que se trata.
Com o que escreverei a seguir, entretanto, compreenderão perfeitamente o
que pretendo dizer: ler os meus Ensinamentos é receber Johrei através dos
olhos. Eis a explicação:
Todos os textos refletem o pensamento da pessoa que os escreveu;
precisamos ter plena ciência disso. Espiritualmente falando, significa que as
vibrações espirituais do escritor são transmitidas, através das letras, para o
espírito do leitor. Como os meus Ensinamentos representam a própria Vontade
Divina, o espírito de quem os lê se purifica.
A leitura pode exercer influência positiva ou negativa sobre a alma do
leitor. É grande, portanto, a influência exercida pela personalidade do escritor.
Quer se trate de artigo de jornal ou de obra literária, aconselho aqueles que os
escrevem a pensarem muito, mas isto não quer dizer que eu lhes esteja
recomendando escreverem sermões.
Naturalmente, se a obra não for interessante, as pessoas não a lerão
com prazer, e por isso ela será inútil. É importante que o assunto atraia,
fazendo os leitores se sentirem presos a ele. Todavia, analisando a literatura
da atualidade, a grande maioria das obras nos faz pensar que os escritores se
interessam apenas em vendê-las ou vê-las adaptadas ao cinema, e, com isso,
ganhar fama. Os textos não passam de um amontoado de palavras; terminada
a leitura, sentimos que deles nada se aproveita. Em verdade, seus autores não
passam de pretensos escritores. Tais obras poderiam ser comparadas a
pessoas vazias de conteúdo: podem ser famosos por algum tempo, mas um
dia cairão no esquecimento.
Quando observamos minuciosamente a sociedade atual, até nos
assustamos com as numerosas falhas que ela apresenta. Se quisermos tomá-
la por tema, não nos faltarão assuntos. Gosto muito de cinema, do qual sou
freqüentador assíduo. Às vezes, quando vejo filmes que apontam as falhas da
sociedade, fico muito interessado e contente, por saber que, de alguma forma,
alguém pensa como eu; tenho até vontade de reverenciar seus autores e
produtores. Obras desse tipo nunca deixam de ser reconhecidas pelo público,
dando lucros vantajosos às livrarias e empresas cinematográficas. É como
matar dois coelhos de uma só cajadada.
26 de novembro de 1952

LEIA O MAIS POSSÍVEL OS MEUS ENSINAMENTOS


Para divulgar a nossa Religião, utilizamos até agora o Johrei e as
publicações. Daqui em diante, também vamos difundi-la por meio de mesas-
redondas e palestras em auditórios, nas mais diversas localidades. À difusão
através da visão e da cura de doenças será acrescentado o método que
alcança as pessoas pela audição. Utilizando esses três meios, poderemos
operar grandiosos resultados.

218
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

O novo método consiste em transmitir explicações orais sobre a Igreja,


procurando mostrar que se trata de uma religião realmente fora do comum.
Entretanto, para que nos compreendam, é necessário nós próprios termos
profundo conhecimento sobre a Fé que professamos. Só assim faremos com
que os nossos ouvintes, conscientes de que a Igreja Messiânica Mundial é de
fato uma grande religião, tenham vontade de ingressar nela.
Em tais ocasiões, muitos dizem que não sabem falar bem, ou coisas
semelhantes, mas esse é um pensamento errado, pois não é com belas
palavras que atingimos o coração do próximo. Como sempre digo, o que move
as pessoas é a nossa sinceridade. É com ela que atingimos o seu espírito, que
despertamos a sua alma; falar bem ou mal é um problema secundário.
Todavia, para mover as pessoas com o nosso ardor e sinceridade, precisamos
ter muita compreensão, e para isso devemos ler o mais possível os
Ensinamentos, a fim de polir nossa inteligência.
Haverá muitas oportunidades em que nos farão perguntas às quais
teremos de responder com bastante clareza, pois, do contrário, as pessoas não
ficarão satisfeitas. Por mais difícil que seja a pergunta, precisamos dar uma
resposta que elas aceitem. Devemos ter o máximo cuidado para não lhes
responder de forma evasiva, por falta de conhecimento. Quando as pessoas
vão se aprofundando muito, às vezes nós nos esquivamos, dando uma
resposta qualquer, o que não deve acontecer de maneira nenhuma. Como
seguidores de Deus que somos, não podemos usar do expediente de mentir.
Se não soubermos responder, devemos dizê-lo francamente. No entanto, pelo
receio de que, agindo assim, as pessoas nos menosprezem, costumamos fingir
que sabemos. Isso é péssimo. Nesse caso, os resultados são desastrosos. Se
confessarmos o nosso desconhecimento, as pessoas confiarão em nós,
achando que somos honestos e sinceros. Por mais inteligente que alguém seja,
é impossível saber tudo; portanto, não é nenhuma vergonha desconhecer
alguma coisa.
Às vezes as pessoas me fazem perguntas sobre assuntos que estão bem
claros nos meus Ensinamentos. Isso acontece porque elas estão faltando com
o dever diário de os ler. Os Ensinamentos devem ser lidos tanto quanto
possível; quanto mais o lerem, mais os fiéis aprofundarão sua fé e elevarão
seu espírito. Aqueles que negligenciam sua leitura, vão perdendo a força
gradativamente. Quanto mais sólida for sua fé, mais a pessoa terá vontade de
ler, e é bom que o faça repetidas vezes, até que os Ensinamentos se fixem
bem em sua mente. Na medida em que se lê, vai se compreendendo mais
claramente a Vontade Divina.
Aproveito a oportunidade para acrescentar algo com relação ao Johrei.
Alguns ministrantes, embora desconheçam a causa da doença, fazem de conta
que o sabem. Isso não deve ocorrer de maneira alguma. Tais pessoas, quando
o doente não consegue melhorar como elas desejam, dizem que o problema é
de origem espiritual, para fugirem da responsabilidade. Em verdade, é difícil
determinar se a causa de uma doença é espiritual ou material. Por princípio, o
homem é uma unidade espírito-matéria, portanto, no caso do Johrei, não
existe essa distinção. Se o espírito melhora, a matéria também melhora, e
vice-versa. Por outro lado, quando o doente melhora rapidamente, alguns
acham que se trata de uma purificação comum; se acontece o contrário,
pensam que a causa é espiritual. Isso constitui um grande erro. É o mesmo
219
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

que um médico diagnosticar tuberculose quando não está conseguindo curar a


doença.
29 de novembro de 1950

TENTE AGRADECER A DEUS POR TUDO O QUE FAZ


A essência da fé, em poucas palavras, é “Ser amado por Deus” ou “Estar
no agrado de Deus”. Deste modo, devemos saber que tipo de pessoa é amada
por Deus. Mas deixemos isso para depois; devemos, primeiramente, conhecer
a missão da nossa Igreja. Ela está relacionada ao Juízo Final, de Cristo e à
extinção do budismo, de Sakyamuni, fatos esses que estão prestes a
acontecer.
Deus e as entidades búdicas estão manifestando seu grande amor
misericordioso, fazendo com que um maior número de pessoas ultrapasse a
grande transição do mundo. E como Deus atuará? Naturalmente, Ele utilizará
os homens, e acredito que fui escolhido para assumir esta grande missão.
Como é uma grande missão, jamais vista ou ouvida, acabo até achando-
a difícil demais de ser realizada; porém, como é o grandioso Deus Supremo
que me outorgou esta missão, não tenho alternativa.
Inicialmente, duvidei e até resisti, mas não havia meio de recusá-la, pois
estava acima das minhas forças. Deus me utiliza livremente. Não são poucas
as vezes em que Ele me fez sentir alegrias extremas e aquelas em que me
obrigou a enfrentar situações infernais. Porém, cada vez que isso ocorria,
percebia Sua mão invisível, Seu indescritível poder de atração e
experimentava o gratificante sabor da vida. Talvez seja uma sensação
impossível de ser expressa em palavras que, provavelmente, somente eu
tenha vivido na face da Terra.
O mais importante é procurar saber o que devemos fazer para sermos
do agrado de Deus. Qualquer pessoa de bom senso sabe que o que desagrada
a Deus é agir fora do caminho, mentir, fazer os outros sofrer, causar incômodo
à sociedade. Contudo, atualmente existem muitas pessoas que não se
importam com ninguém, achando que basta o próprio bem-estar e manifestam
esse egoísmo na prática. Por se tratar de uma atitude das mais condenáveis,
não há com estar no agrado de Deus. Assim, cada um precisa saber se está
sendo amado por Deus ou não. É algo extremamente simples:
“Para mim, nada vai a contento. Sofro de necessidades materiais; meu
trabalho não progride; meu crédito é fraco; não consigo me rodear de pessoas;
minha saúde também é insatisfatória; do jeito que trabalho, não entendo por
que não dá certo”. As pessoas que fazem esse tipo de comentário não estão
sendo do agrado de Deus. Basta estar no agrado d’Ele e o nosso trabalho se
desenvolve satisfatoriamente; as pessoas juntam-se ao nosso redor a ponto de
nos incomodar; os recursos materiais nos chegam em tão grande quantidade,
que mal podemos utilizá-los em sua totalidade. O mundo, enão, se torna um
lugar agradável de se viver.
A fé só tem realmente valor quando somos felizes. Se a praticarmos mas
não alcançamos a felicidade, é porque o motivo, infalivelmente, se encontra
em nosso próprio espírito.
25 de maio de 1949

A ATITUDE “DAIJO” VERSUS A ATITUDE “SHOJO” NAS DOAÇÕES


220
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Um outro fato é que ouvimos diversas coisas de outras pessoas. Mas


acreditar cegamente nelas também é perigoso. Por isso, mesmo que ouçamos
algo e achemos que é bom, devemos analisar, primeiramente, se está em
conformidade com os propósitos de Deus. No caso de encontrar pontos que
acha que não estão de acordo, devem consultar os Ensinamentos; devem lê-
los. A maioria dos assuntos estão escritos em alguma, parte; portanto, devem
discernir baseados neles. Isso porque e comum cometer erros com tais coisas.
Recentemente, aconteceu o seguinte: um membro disse que; como a
Igreja Messiânica Mundial irá construir o Paraíso, e preciso fazer do lar um
paraíso também. E sendo assim, o dinheiro deve ser doado quando sobrar.
Mesmo que faça doação, deve oferecer apenas a quantia que não prejudique
financeiramente, pois assim fazendo, não haverá dificuldades e esse e o
procedimento correto. O fato de doar dinheiro com dificuldade significa criar
um certo tipo de sofrimento e isso não está de acordo com a Vontade de Deus.
É como diz o antigo ditado: "A fé é a sobra da virtude." Ao ouvir isso, certo
membro ficou admirado. Isso foi se espalhando e começaram a dizer: "Pelo
fato de doar dinheiro com dificuldade é que o lar não se torna um paraíso."
Então, um outro membro começou a dizer que, no momento, Deus está
precisando muito de dinheiro, portanto, mesmo passando por um pouco de
aperto, o homem precisa fazer-lhe doações. E essas duas teorias se
confrontavam. Mas não sei por que motivo, a segunda sempre perdia e a
primeira ganhava. Como estava uma confusão, chamei as partes e expliquei-
lhes bem. O que disse foi o seguinte:
A primeira tese de fazer com que o lar não passe por dificuldades está
certa. De fato, é isso mesmo. E a tese de que, como Deus precisa de muito
dinheiro, é preciso doá-lo por maior que seja o sofrimento, ofertando a todo
custo pois é necessário construir logo o Paraíso Terrestre e salvar pessoas,
também está certa. Ambas estão corretas. A diferença está entre Daijo e
Shojo. A primeira é um pensamento Shojo; a segunda, um pensamento Daijo.
Então, será que as pessoas da segunda tese sofrerão dando dinheiro? Não,
jamais sofrerão. Se é um Deus que faz sofrer tanto assim a quem Lhe doa
dinheiro, é melhor deixar de adorá-Lo. Por isso, experimente doar. Ofereça de
forma que irá passar por dificuldades. Retornará dez vezes mais. Ao invés de
passar por aperto, receberá dinheiro em abundância. Disse-lhes assim e
ambas as partes entenderam. A parte Shojo compreendeu perfeitamente e,
outro dia, veio pedir-me desculpas. Essas coisas aconteceram. Por este motivo,
referi-me a esse assunto porque achei que deveriam saber isso também.
7 de Junho De 1952

PENSAMENTO E SENTIMENTO

PRAGMATISMO
O HOMEM DEPENDE DE SEU PENSAMENTO
É realmente verdade que gratidão gera gratidão e lamúria gera lamúria.
Isto acontece porque o coração agradecido comunica-se com Deus, e o
queixoso relaciona-se com Satanás. Assim, quem vive agradecendo, torna-se
feliz; quem vive se lamuriando, caminha para a infelicidade.

221
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

A frase "Alegrem-se que virão coisas alegres", expressa uma grande


verdade.
3 de setembro de 1949

MISTÉRIO DO MUNDO ESPIRITUAL


O Mundo Espiritual é algo realmente extraordinário e misterioso, e pelo
senso comum do homem da atualidade é difícil compreendê-lo. Vejamos como
o pensamento do homem se reflete nele.
O Mundo Espiritual é o mundo do pensamento; ali, as existências surgem
do nada e voltam ao nada. Tudo é extremamente mutável. Imaginemos, por
exemplo, que dois escultores façam imagens da mesma divindade. De acordo
com a personalidade de cada um, haverá diferenças entre as divindades que
assentam nessas imagens. Se a personalidade de um deles for elevada,
descerá um espírito Divino de alto nível, coerente com o autor. Entretanto,
mesmo que o formato da outra imagem seja igual, se a personalidade do
escultor for baixa, virá um espírito representante daquela divindade, ou uma
partícula sua.
Outro exemplo: a divindade diante de cuja imagem as pessoas oram
com sinceridade, manifesta seu poder, isto é, sua luz, com força total; ao
contrário, se o pensamento das pessoas for apenas formal, faltando a elas
respeito e convicção dos sentimentos, o poder do espírito Divino será reduzido
proporcionalmente. Além disso, quanto mais gente estiver orando, mais
aumentará esse poder, mais intensa se tornará a luz. Há um antigo provérbio
que diz: "Se houver espírito de fé, até cabeça de sardinha fará milagres".
Expliquemos o sentido dessas palavras.
Suponhamos que uma pessoa vulgar, que não possui nenhuma
qualificação, faça a imagem de uma divindade e comece a promovê-la
utilizando-se de hábeis métodos de propaganda. Se durante algum tempo
muitas pessoas a adorarem, por esse ato de fé criar-se-á uma imagem dessa
divindade no Mundo Espiritual, manifestando-se, então, considerável poder,
através da concessão de muitas bênçãos. É realmente espantoso, mas as
coisas só irão bem durante algum tempo, pois não se trata de poder
verdadeiro, e sim de produto da força do pensamento humano; é um poder
temporário, que um dia acabará. O fato acontece freqüentemente, todos o
sabem. Assim é que surgem os chamados "deuses da moda".
Eu me referi aos espíritos Divinos, agora falarei sobre os espíritos
satânicos.
O que mais existe no mundo são pessoas corruptas que, por ambição
desmedida, aborrecem, fazem sofrer e levam os outros à desgraça. Isso é
produto das idéias materialistas, que negam o invisível, mas, analisando do
ponto de vista espiritual, é algo realmente terrível. Como tais pessoas fazem
os outros sofrer, os que são atingidos ficam cheios de rancor, de ódio por elas
e procuram retribuir-lhes o mal que receberam. Esses pensamentos são
transmitidos à pessoa visada através do elo espiritual. A imagem espiritual do
ódio e do rancor é tão pavorosa, que, se pudesse enxergá-la, qualquer
perverso morreria instantaneamente. Entretanto, se as pessoas atingidas não
são apenas uma ou duas, mas milhares ou milhões, forma-se um monstro
ainda mais horripilante, que circunda esse perverso de diversas maneiras e
tenta destruí-lo. A situação dele, portanto, é insuportável. Mesmo sendo um
222
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

bravo ou um grande herói, terá um fim miserável. Relembrando os grandes


personagens da História, desde a antigüidade, vemos que todos eles, sem
exceção, tiveram esse destino. Observando, também, o drama dos políticos
perversos, a ruína dos que se tornaram ricos repentinamente e, ainda, o fim
dos que seduziram e enganaram muitas mulheres, poderemos compreender
muito bem por que tiveram tal destino.
Ao contrário, se a pessoa praticar um grande número de boas ações e
despertar em muita gente gratidão e alegria, estes sentimentos a envolverão
em forma de luz, e ela, então, se tornará cada vez mais virtuosa. Como
Satanás e os maus espíritos, amedrontados por essa luz, também não poderão
se aproximar, a pessoa será muito feliz. A auréola que se vê nas imagens das
divindades simboliza essa luz.
Com o que acabo de dizer, poderão compreender quanta importância o
homem deve atribuir ao pensamento.
25 de outubro de 1949

SINCERIDADE
Só a sinceridade é capaz de resolver os problemas dos indivíduos, do
país e do mundo. A deficiência política resulta da falta de sinceridade. A
pobreza material e a corrupção moral também têm a mesma origem. Enfim,
todos os problemas são gerados pela falta de sinceridade. Religião, Educação
e Arte que não se alicerçam na sinceridade, passam a representar meras
formas sem conteúdo.
Homens, a chave de todos os problemas está na sinceridade.
25 de janeiro de 1949

NÓS É QUE TRAÇAMOS O DESTINO


O homem costuma resignar-se a tudo, atribuindo ao destino o desenrolar
dos acontecimentos.
É comum definir-se destino como "algo que não pode ser mudado". Mas
eu desejo ensinar que todos podem mudá-lo de acordo com sua própria
vontade, ou melhor, cada um pode traçar o seu destino. A consciência desse
fato permite transformar o pessimismo em otimismo.
A não ser um louco, ninguém deseja um destino infeliz. Todo mundo
almeja a boa sorte, mas são poucos os que a conseguem, não obstante o
enorme esforço que fazem para consegui-la. Entre cem pessoas, talvez não se
encontre uma que seja feliz. Triste realidade!
Buda afirmou: "Todas as coisas são efêmeras". Mas há criaturas
inconformadas, que, atraídas pela presença de um homem afortunado entre
milhares que não têm sorte, continuam perseguindo tenazmente o sucesso.
Por outro lado, existe gente conformada, que aceita tudo na vida.
Seria maravilhoso que o homem encontrasse realmente um meio de
alcançar a boa sorte. Não o conhecendo, ele se confunde ao traçar seu
destino, tornando-se infeliz. Sofre dentro do cárcere criado por ele próprio. O
mundo acha-se repleto dessas pessoas ignorantes e dignas de compaixão.
Assim, está mais do que evidente que, para ser afortunado, o homem
precisa semear o bem. É costume dizer-se que o bem produz bons frutos, e o
mal faz o contrário. A semente do mal tem origem no egoísmo, que leva as
pessoas a quererem tudo para si, não se importando com o sofrimento e o
223
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

prejuízo que possam causar ao próximo. A semente do bem origina-se no


sentimento fraterno de querer alegrar ou favorecer os semelhantes. Parece
simples, mas é difícil de praticar.
A vida é bem complicada. Para viver, é preciso criar um espírito capaz de
aceitar e aplicar o princípio acima. Todavia, isso depende unicamente da Fé
que se pratica, a qual deve ser selecionada entre as muitas que existem.
Modéstia à parte, a Fé Messiânica é a que está mais concorde com essas
condições. Por isso aconselho aqueles que estão sofrendo a ingressarem o
mais breve possível na nossa Igreja.
27 de fevereiro de 1952

TREINO DE HUMILDADE
Na vida, o treino de humildade é importante, constituindo uma prática
tradicional entre os religiosos. Observamos, entretanto, que falta humildade a
muitos pregadores. Os velhos axiomas "O falcão inteligente oculta as garras" e
"Quanto mais carregada de grãos, mais se curva a espiga de arroz" referem-se
à humildade.
Orgulho, mania de grandeza, pedantismo e vaidade produzem efeitos
negativos. O ponto fraco do ser humano é gostar de se exibir, tão logo comece
a se elevar socialmente. Por exemplo, quando um homem que exerce uma
profissão comum passa a ser respeitado dentro da vida religiosa, recebendo
uma função de destaque, sendo chamado de "professor", "ministro", etc.,
poderá indagar a si próprio: "Será que sou tão importante?" De início, ele se
sentirá emocionado, feliz, agradecido. Com o tempo, no entanto, terá ânsia de
ver reconhecida sua importância. Até então tudo ia bem, mas, com esse novo
pensamento, a pessoa começará a se tornar impertinente e desagradável,
embora não tome consciência do que lhe ocorre.
Deus desaprova a presunção. Empurrar as pessoas nas conduções, no
meio da multidão, enfim, em qualquer lugar, para obter situação privilegiada,
é falta de humildade, é uma atitude desprezível, que revela feio egoísmo.
Formar uma sociedade harmoniosa e agradável foi, em todas as épocas,
ideal da verdadeira Democracia.
25 de janeiro de 1949

SATISFAÇÃO E INSATISFAÇÃO
Todos almejam viver satisfeitos, mas é difícil consegui-lo. Assim é a vida.
Entretanto, dependendo da maneira de encarar este fato, veremos, nele, algo
de interessante.
Pensando bem, a causa do progresso social é a insatisfação humana. Por
conseguinte, o mundo não é tão fácil de ser compreendido. O
desenvolvimento, as reformas e as descobertas são decorrentes da
insatisfação. Em contrapartida, quando esta é exagerada, surgem conflitos,
desarmonia nos lares, desavença entre amigos e conhecidos, discussões,
desespero, casos de polícia, etc. A insatisfação dá origem a grupos sociais
extremistas que praticam atos de violência e destruição, como a provocação
de incêndios e o arremesso de bombas improvisadas e outros objetos. Às
vezes, chega-se até à guerra civil.
Como vemos, a insatisfação exige cautela.

224
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Por outro lado, as pessoas bondosas ou simplórias, que pouco se


queixam, parecem satisfeitas, mas, na verdade, são criaturas incapazes e
improdutivas.
Ora, se tanto a satisfação como a insatisfação apresentam aspectos
condenáveis, que fazer? A resposta é simples: devemos evitar os extremos; o
certo é manter o equilíbrio entre as duas posições. Sei que falar é fácil e fazer
é difícil, mas a vida é assim mesmo. O essencial é ser flexível, tendo por base
a sinceridade. A pessoa que assim proceder, tornar-se-á útil à sociedade e,
dessa forma, será bem sucedida e feliz.
18 de março de 1953

DOMINE O "GA"
Na vida cotidiana do homem, não há coisa mais temível do que o "ga"
(eu, ego). Isso pode ser bem compreendido se atentarmos para o fato de que,
no Mundo Espiritual, a eliminação do "ga" é considerada o aprimoramento
fundamental.
Quando eu era da Igreja Omoto, (Religião nova, fundada por Nao
Deguti), encontrei, no "Ofudesaki" (Ensinamentos escritos pela fundadora), as
seguintes frases: "Não há coisa mais temível do que o `ga'; até divindades
cometeram erros por causa dele." E também: "Devem ter `ga' e não devem
ter `ga'; é bom que o tenham, mas não o manifestem." Fiquei profundamente
impressionado, pela perfeita explicação da verdadeira natureza do "ga" em
frases tão simples. É escusado dizer que elas me induziram a uma profunda
reflexão.
Havia, ainda, esta frase: "Em primeiro lugar, a docilidade." Achei-a
extraordinária. Isto porque, até hoje, para aqueles que seguiram docilmente os
meus conselhos, tudo correu bem, sem fracassos. Há pessoas que não são
bem sucedidas por terem um "ga" muito forte. É realmente penoso ver os
constantes fracassos decorrentes do "ga".
Como foi exposto, o princípio da Fé é não manifestar o "ga", ser dócil e
não mentir.
18 de fevereiro de 1950

EGOÍSMO E APEGO
Notamos que todas as pessoas manifestam em seu caráter dois traços
irmãos - egoísmo e apego - e que nos problemas complicados há sempre
interferência desses sentimentos.
Temos casos de políticos que acabaram na miséria porque o apego às
posições os fez perder a melhor oportunidade de se afastarem da vida pública.
Eis um bom exemplo da inconveniência do egoísmo e do apego.
Há industriais que, devido ao apego que têm ao dinheiro e ao lucro,
irritam seus fornecedores, prejudicando as transações comerciais.
Momentaneamente, o negócio se lhes afigura vantajoso, mas, com o tempo,
mostra-se contraproducente.
Na vida sentimental, quem muito se apega geralmente é desprezado;
muitas vezes os problemas nesse terreno surgem do excesso de egoísmo.
O passado nos revela como os egoístas provocam conflitos e se
atormentam, pelos sofrimentos causados ao próximo.

225
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Já dissemos que o principal objetivo da Fé é erradicar o egoísmo e o


apego. Tão logo me conscientizei disto, empenhei-me em exterminá-los. Como
resultado, meus sofrimentos se amenizaram e tudo corre normalmente em
minha vida. Há um ensinamento que diz: "Não sofra antecipadamente pelo
que ainda não ocorreu, nem pelo que já passou". São palavras de grande
sabedoria.
A finalidade do aperfeiçoamento no Mundo Espiritual é a extinção do
apego. A posição do nosso espírito se eleva à medida que o apego se reduz.
No Mundo Espiritual, é raro que marido e mulher permaneçam juntos. A
razão do fato está na diferença da posição que o espírito de cada um
alcançou. O convívio dos dois só lhes será possível quando estiverem
nivelados, como habitantes do Reino do Céu. Entretanto, aqueles que
alcançarem certo grau de aperfeiçoamento, terão licença de se encontrar,
embora estejam em camadas espirituais inferiores. Mas o encontro durará
apenas um instante, e a licença lhes será concedida pelas divindades que
superintendem os níveis em que eles estão situados. Não haverá permissão
para que, levados pela saudade, os cônjuges se abracem; à mínima intenção
de teor mundano, seus corpos ficarão rijos e perderão o movimento. Isso
demonstra como o apego é condenável.
A posição do espírito vai se elevando de acordo com a redução do
apego, mediante o aprimoramento no Mundo Espiritual. Sendo assim, o
encontro de marido e mulher irá sendo facilitado conforme eles forem subindo
de nível.
Creio que, com o que acabamos de dizer, demos ao leitor uma clara
noção da diferença entre o Mundo Material e o Mundo Espiritual.
Outro aspecto negativo do apego refere-se às pessoas que se mostram
insistentes quando convidam outras a participarem de sua crença, dando a
impressão de serem muito dedicadas. Isso não dá bom resultado. Impingir a Fé
é um sacrilégio aos olhos de Deus. Quem prega uma religião, só deve insistir
se observar que o outro está interessado. Se a pessoa não demonstra
interesse, é melhor desistir e esperar o tempo oportuno.
25 de janeiro de 1949

ENTREGUE-SE A DEUS
Freqüentemente aconselho às pessoas: "Entreguem-se a Deus".
Entregar-se inteiramente a Deus é jamais se preocupar com o que possa
acontecer. Isso parece fácil, mas na realidade não o é. Eu mesmo faço um
grande esforço para agir assim; entretanto, as preocupações surgem-me
involuntariamente. Neste mundo cheio de perversidade, é quase impossível
viver sem preocupações. Mas o homem de fé torna-se diferente dos demais:
tão logo lhe surge um problema, lembra-se de entregá-lo a Deus. Sente-se,
pois, aliviado.
Gostaria de salientar um ponto que a maioria das pessoas desconhece.
Se interpretarmos espiritualmente o ato de preocupar-se, verificaremos que
ele representa uma forma de apego. É o apego à preocupação. Isso constitui
um grave problema, porque influi maleficamente sobre todas as coisas.
O apego apresenta-se como desejo de fama, dinheiro e satisfação de
todas as vontades. Entretanto, ainda há outros apegos de caráter maligno. Por
exemplo, referir-se a alguém dizendo: "Fulano não merece perdão, é um
226
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

insolente. Eu o detesto, vou dar-lhe uma lição". Esse pensamento expressa o


desejo obstinado de que aconteça algo mau à pessoa.
Mas não me prenderei a essas conhecidas formas de apego; pretendo
analisar aquelas que nem todos percebem, tal como a preocupação em
relação ao futuro e o sofrimento pelo que já passou. Quando se trata de um
religioso, embora Deus queira protegê-lo, o apego forma espiritualmente um
obstáculo. Quanto mais forte o apego, mais fraca é a proteção Divina; daí nem
sempre as coisas correrem como gostaríamos. Vejamos.
É difícil conseguir de imediato aquilo que se deseja intensamente, mas
todos sabemos, por experiência própria, que é comum esse desejo se
concretizar a partir do momento em que, considerando-o inviável, a pessoa se
resigna.
Às vezes, querendo obter algo, tudo nos parece fácil, mas nada
conseguimos. E, mais uma vez, o desejo se concretiza repentinamente,
quando já o tivermos esquecido.
Na prática do Johrei acontece o mesmo. Se houver intensa vontade de
curar alguém "de qualquer maneira", a recuperação torna-se mais difícil.
Entretanto, quando o ministramos com desprendimento, ou quando a pessoa o
recebe com certa desconfiança, inesperadamente sobrevêm bons resultados.
Freqüentemente, apesar do esforço de toda a família, o doente em estado
grave acaba morrendo. Observa-se que é relativamente mais fácil a cura de
um enfermo, quando este e sua família se preocupam menos, ficando um
tanto indiferentes ante a idéia da morte.
Temos, ainda, o caso de o doente e seus familiares, ansiosos pela cura,
verem a doença ir se agravando sempre, até chegar ao ponto em que, ante a
perspectiva do inevitável desenlace, todos se resignam. É então que sobrevêm
melhoras rápidas, e firma-se a cura. Aquele que reage, confiando somente no
poder de sua força de vontade, certo de que vai se curar, quase sempre
morre. É um fato curioso. A causa principal está no apego à vida.
Esses exemplos mostram a perigosa influência do apego.
Ao nos depararmos com um doente desenganado, é bom insinuar-lhe,
bem como à sua família, que, diante da improbabilidade da cura, vamos pedir
a Deus pela sua infalível salvação no Mundo Espiritual. A partir daí, com a
ministração do Johrei, muitas vezes a doença começa a ceder.
O mesmo se aplica no relacionamento entre pessoas de sexos opostos. O
demasiado interesse de uma afasta a outra. Pode parecer irônico, mas é o
apego que esfria o coração. Aliás, a maioria dos acontecimentos tem,
realmente, caráter irônico. Por isso, são complicados e curiosos.
Considerando que quase sempre o apego é a causa do insucesso, tenho
por hábito aconselhar às pessoas que provoquem o efeito contrário. É a ironia
das ironias, mas é a pura verdade.
28 de novembro de 1951

SABOR DA FÉ
Cada coisa tem seu sabor. A matéria, o homem, a vida cotidiana com
suas múltiplas facetas, tudo, enfim, tem um sabor peculiar. Se excluirmos da
vida o sabor, ela perderá sua atração e o homem não terá mais vontade de
viver.

227
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

No campo religioso também existem religiões que têm sabor e as que


não o têm. Pode parecer estranho, mas há religiões que despertam verdadeiro
pavor. Nelas os adeptos vivem sob o constante temor das divindades,
aprisionados pelos dogmas, não gozam da menor liberdade. A esse tipo de Fé,
eu denomino "Fé Infernal".
O objetivo da Fé é alegrar a vida, dar-lhe tranqüilidade e permitir que se
desfrute do sabor de viver. Então as coisas da natureza se transfiguram: as
flores, o vento, a lua, o cântico dos pássaros, a beleza das águas e das
montanhas passam a ser vistos como dádivas de Deus para alegria das
criaturas. E passamos a agradecer os alimentos, o vestuário e a casa em que
vivemos, considerando-os como bênçãos, e a simpatizar com todos os seres,
mesmo os irracionais e os inanimados. Sentimos que até o pequenino verme
da terra se acha próximo de nós... É o estado de êxtase.
A Religião deve levar o homem à despreocupação, que é o estado ideal.
Se ele enfrenta um problema, que aprenda a deixá-lo nas mãos de Deus, tão
logo sejam aplicados os recursos humanos para a sua solução. Eu procedo
assim: aquilo que me parece difícil e incompreensível, remeto aos cuidados do
Absoluto - e dou tempo ao tempo. Numerosas experiências minhas
demonstraram que tal prática dá resultados além dos esperados. Mais ainda:
eles ultrapassam todos os desejos formulados. Por isso, quando surge algo
desagradável, confiando em Deus, eu logo admito que é prenúncio de bons
acontecimentos. Acho interessante quando compreendo, depois, que o mal
aparente determinou a vinda do bem. Então as preocupações se tornam
ridículas, sinto-me grato e percebo que minha vida é um contínuo milagre...
Eis o que chamo de maravilhoso Sabor da Fé.
25 de janeiro de 1949

ATITUDE MENTAL
Existe um único ponto de vital importância: é a forte vontade de crescer
e expandir custe o que custar. Esta atitude é fundamental.
O pior pensamento a seu próprio respeito é pensar “não tenho
capacidade”. Pense assim: “eu também sou um ser humano. Se aquela pessoa
está fazendo, eu também serei capaz de fazer.”
Aquele que nunca desiste, com uma forte determinação para realizar o
seu trabalho – mesmo cometendo falhas ou sendo ridicularizado pelos outros –
certamente crescerá bastante. Eu próprio trabalho com essa atitude.
Entretanto, aqueles que desistem após o primeiro fracasso não servem, de
fato, para o trabalho.
Há um provérbio que diz: “a resignação é importante.” Em algumas
circunstâncias isso é verdadeiro mas, neste caso, a “não resignação” é
fundamental. Em resumo, devemos desistir quando a causa não for boa e,
pelo contrário, ter força de vontade para as boas causas.
1950

A RESPEITO DO ESPÍRITO DA PALAVRA


Na Bíblia está escrito: “No princípio era o Verbo. Todas as coisas foram
feitas por ele”. Isso se refere à ação do espírito da palavra. Começarei
explicando o significado fundamental dessa expressão.

228
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

A palavra, naturalmente, é constituída e emitida pela ação da voz, da


língua, dos lábios e do maxilar inferior, mas a origem dessa emissão, não resta
dúvida, é o pensamento, que se manifesta em forma de palavras. O
pensamento é a manifestação da vontade. Suponhamos que surja no homem
alguma vontade. Para manifestá-la através de palavras, o pensamento entra
em ação. Naturalmente, na ação do pensamento ocorre o discernimento do
correto e do incorreto, do bem e do mal, do sucesso e do insucesso, etc. O
conjunto disso é a inteligência, e sua manifestação é o espírito da palavra; a
materialização do espírito da palavra é a ação. Baseados nesse princípio, não
estaremos equivocados se dissermos que existem três níveis: pensamento,
espírito da palavra e ação. Assim, o pensamento está ligado ao Mundo
Espiritual; o espírito da palavra, ao Mundo do Espírito da Palavra; a ação, ao
Mundo Material. Isto é, o espírito da palavra fica entre o oculto e o manifesto.
Pode-se dizer que ele é mediador entre o pensamento e a ação. Através disso,
poderão compreender quão importante é o seu papel.
O espírito da palavra é semelhante a uma marionete: a manifestação da
alma ou do espírito fica à sua mercê. Irritar as pessoas ou fazê-las rir,
preocupá-las ou tranqüilizá-las, entristecê-las ou alegrá-las, provocar conflitos
ou paz, obter sucesso ou insucesso, tudo depende do espírito da palavra. Usá-
lo de forma leviana é muito perigoso.
Por outro lado, apenas manejar habilmente o espírito da palavra, não
passaria de uma simples técnica. A pessoa se assemelharia a um humorista,
comediante ou comentarista. Se na base do espírito da palavra não houver
força para a manifestação de um grande poder, não há qualquer sentido. Mas,
tratando-se de força, existe a benigna e a maligna. Ou seja, o espírito das
palavras malignas constitui pecado, e o espírito das palavras benignas
constitui virtude. Assim, o homem deve se esforçar para usar o espírito das
palavras benignas. Nestas, evidentemente, o fundamental é o “makoto”, que
se origina de Deus. Portanto, não há outro recurso senão reconhecer a
existência de Deus. Se a pessoa não for religiosa, não conseguirá manifestar o
verdadeiro makoto, e por isso não se manifestará a força benigna no espírito
da palavra.
1950

AÇÃO

FILOSOFIA DA INTUIÇÃO
Quando jovem, fui simpatizante da teoria de Henri Bergson, o eminente
filósofo francês (1859-1941). Ainda me lembro dessa teoria e vou expô-la,
nesta oportunidade, por considerá-la de grande proveito do ponto de vista
religioso.
Segundo minha interpretação, a filosofia de Bergson baseia-se nestes
três princípios: "Todas as coisas se movem", "Teoria da Intuição" e "O eu do
momento". Dentre eles, o que mais me impressionou foi a "Teoria da Intuição",
a qual diz o seguinte: "É algo dificílimo ver as coisas exatamente como elas
são, captar o seu verdadeiro sentido, sem cometer o mínimo engano."
Estudemos o porquê dessa afirmativa.

229
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Os conceitos formados pela instrução que recebemos, pela tradição,


pelos costumes, etc., ocupam o subconsciente humano formando como se
fosse uma barreira, e dificilmente o percebemos. Tal "barreira" constitui um
obstáculo quando observamos as coisas. Quando dizemos, por exemplo, que
todas as religiões novas são supersticiosas, heréticas ou falsas, devemos esse
julgamento à "barreira", que está servindo de estorvo.
Os homens de hoje, através dos jornais, das revistas, do rádio e dos
comentários públicos, constantemente tomam conhecimento de idéias e
opiniões que concorrem para aumentar e solidificar essa "barreira". Devido ao
conceito de que as doenças só podem ser curadas pela medicina, a realidade é
deturpada quando ocorre um milagre: dizem ser ação do tempo ou buscam mil
explicações. Presenciamos tal fato com freqüência.
A "Teoria da Intuição" encarrega-se de corrigir tais erros, comuns entre
os homens. Libertando-os, completamente, de preconceitos, ela os ensina a
fazerem uma fiel observação dos fatos. Para isso é necessário ser "o eu do
momento", isto é, fazer com que a impressão instantânea, captada pela
intuição, corresponda à verdadeira substância do objeto de observação. Caso
presenciamos uma cura realmente milagrosa, devemos crer, pois essa é a
verdadeira observação. Se, ao contrário, julgamos impossível que uma doença
seja curada sem o auxílio de aparelhos ou remédios, significa que estamos
sendo bloqueados pela tal "barreira" de preconceitos. Na hipótese de alguém
acrescentar: "Isto é superstição, não pode ser verdade", é porque a "barreira"
do próximo está contribuindo para aumentar o obstáculo, e devemos ficar de
guarda contra isso.
O outro princípio - "Todas as coisas se movem" - significa que tudo está
em eterno movimento. Por exemplo: nós não somos os mesmos de ontem,
nem mesmo o que fomos há cinco minutos atrás; o mundo de ontem não é o
mesmo de hoje. Isso abrange também a sociedade, a civilização e as relações
internacionais. Precisamos, portanto, fazer uma observação fiel, isto é, uma
observação clara, do homem e de suas transformações.
Ao invés de modificarem seus pontos de vista e pensamentos, para
acompanharem o constante movimento evolutivo, as religiões antigas criticam
as religiões novas, servindo-se de conceitos religiosos milenares. Eis por que
não conseguem ter uma idéia exata a respeito delas.
Esta é a teoria de Bergson aplicada ao campo religioso.
30 de janeiro de 1950

NOVAMENTE A RESPEITO DE BERGSON


Sinto-me dominado pelo desejo de escrever novamente sobre Henri
Bergson, o famoso filósofo moderno da França, a quem já me referi
anteriormente. Muitas pessoas me dirigem perguntas por não entenderem o
sentido de minhas palavras, que me parecem bem simples, mas que elas
acham de difícil assimilação. Embora se trate de pessoas cultas, sou obrigado
a dar-lhes uma explicação minuciosa, servindo-me de exemplos, para que elas
possam compreender. Nesta oportunidade, lembro-me da própria filosofia de
Bergson.
A razão pela qual as pessoas não entendem coisas tão fáceis é que elas
não ficam no estado do "eu do momento", talvez por não terem conhecimento,
ou melhor, consciência disso. Segundo a teoria de Bergson, mal o homem
230
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

começa a ter noção do mundo à sua volta é cercado de comentários,


imposições de lendas e instruções, que lhe criam uma espécie de "barreira
mental", antes de atingir a maioridade. Essa "barreira" o impede de assimilar
novas teorias. Uma mente desimpedida as compreenderá com facilidade, pois
tem livre arbítrio; por isso aconselhamos que a mente seja aberta como uma
página em branco. Entretanto, são raros os que percebem a "barreira".
Quem já leu o princípio de Bergson, comece a ser, agora, o "eu do
momento". Este "eu do momento" refere-se à impressão instantânea, captada
no momento em que se observa ou se ouve alguma coisa. É agir como uma
criança, sem dar tempo para a intromissão de "barreiras". Muitas vezes admiro
certas palavras usadas pelas crianças para se certificarem de algo que um
adulto lhes disse. Bergson chamou a isso de "Teoria da Intuição". Através
desta, ele também queria nos mostrar que uma observação fiel consiste em
ver a coisa tal qual ela é, sem torcê-la, relacionando-a ao "eu do momento".
Dentro de sua filosofia, Bergson emite um conceito muito interessante:
"Todas as coisas se movem." Isso significa que tudo está em contínuo
movimento. Este ano, por exemplo, difere do ano passado em tudo. O mesmo
podemos dizer a respeito do mundo, da sociedade e dos nossos próprios
pensamentos e circunstâncias. Somos diferentes até mesmo do que fomos
ontem, ou há cinco minutos atrás. Aqui, podemos aplicar o velho ditado:
"Trevas a um palmo do nariz." Assim, se aplicarmos a teoria bergsoniana ao
homem, em todas as circunstâncias, notaremos o seguinte: diante de um fato,
as nossas observações e pensamentos de hoje devem ser diferentes das
observações e pensamentos do ano anterior.
Em sentido mais amplo, observemos a radical diferença entre o período
anterior e o período posterior à guerra. É surpreendente a mudança que
ocorreu em tão breve espaço de tempo. Mas a maioria dos indivíduos não
conseguem captar, com exatidão, a realidade atual, bloqueados pelos
métodos e conceitos antigos, que eles herdaram de seus antecessores e que
constituem um verdadeiro obstáculo. Classifico esses indivíduos de
conservadores e antiquados, porque mantêm a mente estagnada, enquanto
tudo obedece à lei do movimento perpétuo. Eles sofrem o abandono do mundo
e vão ao encontro de um trágico destino.
Basta uma reflexão sobre a teoria de Bergson, para compreendermos o
insucesso das religiões.
A ação de Kannon consiste em ceder às transformações constantes,
acompanhando o movimento das coisas sem cometer o mínimo desvio. Essa
divindade é conhecida, também, como "Oshim-Miroku", encarnação da ação
livre e desimpedida. Em outras palavras, ação livre em relação às coisas do
mundo exterior. O nome "Mugue-ko-nyorai" tem o mesmo significado.
Em resumo, devemos escolher assuntos adequados para falar com as
pessoas idosas, ser delicados com as senhoras, teóricos com os intelectuais e
simples com o povo em geral. Devemos proceder de modo que todas as
pessoas com quem conversamos possam compreender-nos e interessar-nos
pelo que dizemos, ouvindo-nos com prazer. Se professarem a Fé dessa
maneira, poderão obter ótimos resultados.
18 de julho de 1951

SINCERIDADE
231
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Para sabermos se uma pessoa age com sinceridade ou não, temos um


meio muito simples: ver se ela respeita seus compromissos. Deixar de cumprir
os compromissos, parece - à primeira vista e em certos casos - coisa de pouca
importância. Mas, na verdade, significa enganar, e isso constitui uma espécie
de pecado. Portanto, é assunto que merece a máxima atenção.
Um dos compromissos mais sujeitos a ser desrespeitado é o que se
refere ao horário.
Pensemos no que ocorre quando somos impontuais. A pessoa que nos
espera sujeita-se a todo tipo de aborrecimento e preocupações. Há um ditado
que afirma: "É melhor ser esperado do que esperar", mas pense de modo
contrário. Devemos considerar o estado de ânimo daquele que nos aguarda.
Quem não o leva em conta, não é sincero, e isso anula qualquer outra
qualidade.
Como instrumentos de Deus, os messiânicos devem cumprir
rigorosamente seus compromissos e respeitar pontualmente os horários. Não
serão aprovados na Fé os que assim não procederem. Gravem isto na mente e
jamais se esqueçam desta advertência.
28 de janeiro de 1950

AURA
Já falei a respeito do Johrei como transmissão da Luz Divina, mas darei
agora uma explicação mais profunda.
O corpo espiritual do homem possui a mesma forma do corpo carnal; a
única diferença é que no corpo espiritual existe aquilo que denominamos
"aura".
O corpo espiritual irradia incessantemente uma espécie de ondas de luz.
É como se fosse a veste do corpo espiritual, daí a denominação "aura". Sua
cor é geralmente branca, porém, conforme a pessoa, poderá ser amarelada ou
roxa. Também há diferença de largura: normalmente tem cerca de três
centímetros, mas no enfermo é fina; à medida que a enfermidade se agrava, a
aura vai afinando cada vez mais, e na hora da morte desaparece. A expressão
popular "Fulano está com a sombra da morte na face" justifica-se pela
percepção de que a aura de pessoas nesse estado é quase inexistente. Nas
pessoas saudáveis, ao contrário, ela é larga. Essa largura torna-se ainda maior
nos virtuosos, cujas ondas de luz também são mais fortes; nos heróis, a aura é
mais larga do que nas pessoas comuns; nas personalidades ilustres do mundo,
é ainda mais, sendo extraordinariamente larga nos homens santos.
Entretanto, a largura da aura não é fixa; varia constantemente, de
acordo com os pensamentos e atos da pessoa. Quando esta pratica ações
virtuosas, baseada na justiça, sua aura é larga; em caso contrário, é fina. As
pessoas de sensibilidade comum em geral não conseguem enxergar a aura,
mas existe quem o consiga. Mesmo aquelas, se observarem atentamente,
poderão vislumbrá-la.
A largura da aura tem relação direta com o destino do homem. Quanto
mais larga ela for, mais feliz ele será. Os que têm aura larga são mais
calorosos, causam uma boa impressão e atraem muitas pessoas, porque as
envolvem com sua aura. Ao contrário, aqueles cuja aura é fina, causam uma
impressão de frieza, desagrado e tristeza, e temos pouca vontade de
permanecer em sua companhia.
232
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Em face do que dissemos, o esforço para aumentar a largura da aura é a


fonte da felicidade. Mas de que forma devemos agir? Antes de responder a
essa pergunta, darei uma explicação sobre a natureza da aura.
Já sabemos que todos os pensamentos e atos humanos se subordinam
ao bem ou ao mal. A largura da aura também é proporcional à soma do bem
ou do mal. Isto significa que, na ocasião em que a pessoa pensa ou pratica o
bem, surge-lhe o sentimento de satisfação na consciência, o qual se
transforma em luz e soma-se ao seu corpo espiritual, aumentando-lhe, assim,
a luminosidade; ao contrário, o mal transforma-se em máculas, que também
se acrescentam às já existentes no corpo espiritual da pessoa. Ao mesmo
tempo, quando se faz o bem, a gratidão do beneficiado torna-se luz, e esta,
através do elo espiritual, é transmitida para o praticante do bem,
aumentando-lhe, conseqüentemente, a luz; em contraposição, pensamentos
de vingança, ódio, inveja, etc., transformam-se em máculas, que são
transmitidas à outra pessoa pelo elo espiritual, somando-se às que ela já
possui. Sendo assim, é importante que o homem pratique o bem, alegre o
próximo e dele jamais receba pensamentos como os que mencionamos.
O fracasso e a ruína daqueles que rapidamente conseguiram fortuna ou
posições elevadas têm origem no que acabo de expor. Atribuindo a causa do
sucesso à sua capacidade, inteligência e esforço, a pessoa cai na presunção e
na vaidade, torna-se egoísta e arrogante, vive uma vida de luxo, passando a
ser alvo de sentimentos geradores de máculas. Em conseqüência disso, a sua
aura vai perdendo luz e afinando, e acaba sobrevindo a ruína. Esse é o fim de
muitas famílias nobres e de muitos milionários. Socialmente, ocupam posição
superior e recebem da sociedade e do País os favores correspondentes a essa
posição, razão pela qual deveriam retribuí-los adequadamente, isto é, fazendo
o bem em abundância. Dessa forma, suas máculas estariam sendo eliminadas
constantemente. A maioria das pessoas, entretanto, só pensa em proveito
próprio; em decorrência disso, avolumam-se-lhes as máculas e o seu espírito
desce a um nível muito baixo, apesar de conservarem as aparências. Por fim,
pela Lei do Espírito Precede a Matéria, essas pessoas acabam arruinadas.
Um pouco antes do grande terremoto ocorrido em 1923 na Região Leste,
o qual arrasou Tóquio, um vidente me disse que, ao invés da cidade de prédios
grandes e magníficos, vira uma cidade cheia de casebres. E qual não foi a
minha surpresa, ao constatar que realmente a cidade ficara como ele havia
visto!
Ainda podemos citar outro exemplo. Refere-se ao industrial americano
John D. Rockfeller (1839-1937) e ocorreu quando ele era jovem e ainda não
havia acumulado sua fabulosa fortuna. Rockfeller tinha começado a trabalhar
numa loja e, baseado no conceito de que o homem deve fazer o bem,
começou a dar donativos para uma igreja. Inicialmente dava cinco centavos
por semana, mas, conforme o aumento de sua renda, foi aumentando o
donativo, até que acabou instituindo o famoso Rockfeller Research Center. Ele
registrava as quantias doadas no verso de uma caderneta que, segundo
dizem, é considerada tesouro familiar.
Falam, também, que Andrew Carnegie (1835-1919), fundador da
Bethlehem Steel Corp., a maior firma do gênero na América do Norte, fez
prevalecer, quando morreu, a tese que sempre defendera, destinando a obras
de assistência social quase toda a sua fortuna, avaliada em bilhões de dólares.
233
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Para o seu herdeiro deixou apenas um milhão de dólares e educação


universitária garantida. A propósito, o grande psicólogo alemão Hugo
Munsterberg (1863-1916) elogia os milionários que não deixam heranças.
Só em 1903, segundo dizem, as doações de milionários americanos a
universidades, bibliotecas e institutos de pesquisas somaram mais de dez
milhões de dólares, sendo que as doações anônimas teriam superado várias
vezes essa quantia. Logo após a Primeira Guerra Mundial, Andrew Carnegie
doou uma quantia muito elevada à International Peace Foundation, e com uma
parte dessa importância a Ciência e a Educação na Alemanha foram
grandemente beneficiadas. A edição de volumosa obra de pesquisa - a
primeira do mundo - sobre guerra e crime, realizada por uma equipe de
mestres liderada pelo professor Lipmann (1857-1940), foi possível graças a
essa ajuda, e dizem ser inestimável a contribuição que ela trouxe para a
felicidade mundial. Ao pensar em tais fatos, posso compreender por que os
Estados Unidos prosperaram tanto. Os grandes grupos econômicos do Japão,
entretanto, foram excessivamente egoístas, e julgo que a isso se deva sua
queda, e nunca a uma coincidência.
Quanto mais fina é a aura, mais sujeita está a pessoa a infelicidade e
desastres. A razão é que, em virtude das máculas, o intelecto fica entorpecido,
o raciocínio falha, a força de decisão diminui, e não se pode ter uma previsão
correta das coisas; por conseguinte, a pessoa se impacienta, pois deseja o
sucesso rápido. Tais criaturas podem conseguir sucesso passageiro, mas nunca
duradouro. Nesse sentido, se a política de uma nação é ruim, é porque a aura
de seus governantes é fina, assim como também a do povo, que sofre as
conseqüências dessa má política.
Aqueles que têm grande quantidade de máculas geralmente passam por
muitas purificações; facilmente são vítimas de doenças ou acidentes. Quem
sofre acidente de trânsito é porque tem aura fina; quem tem aura espessa, em
qualquer situação livra-se do perigo. Por exemplo, na iminência de alguém ser
apanhado por um veículo, o espírito deste se chocará com a pessoa se ela
tiver aura fina, mas não ocorrerá o choque se a sua aura for espessa. Nesse
caso a pessoa é arremessada para longe e nada sofre, graças à elasticidade da
sua aura.
Refletindo sobre o princípio aqui exposto, podemos concluir que o único
meio para nos tornarmos felizes é aumentarmos a espessura da nossa aura
praticando o bem. Existem criaturas que se resignam diante da má sorte; elas
me causam pena, pois não conhecem esse princípio. Também, quanto mais
espessa for a aura dos ministros desta Igreja, mais pessoas eles salvarão, e,
quanto mais pessoas salvarem, mais agradecimentos receberão, o que fará
aumentar a espessura de sua aura. Simultaneamente, melhores serão os
resultados do seu trabalho de difusão. Tenho muitos discípulos assim.
5 de fevereiro de 1947

BONDADE E CORTESIA
Bondade e cortesia são as qualidades que mais faltam ao homem da
atualidade.
Há um método que nos permite avaliar o nosso progresso na Fé e o
nosso aprimoramento espiritual. Primeiro, devemos evitar as desavenças;
depois, desenvolver a bondade; por fim, nos tornarmos mais corteses. Se
234
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

conhecermos alguém com tais atributos, veremos logo que é pessoa polida,
que se aprimorou e que possui o intrínseco valor da Fé. Essa pessoa será
estimada e respeitada por todos; suas atitudes valerão como uma silenciosa
divulgação de Fé; servirá como exemplo de Fé concretizada em atos.
Mas o mundo atual mostra-nos, a todo instante, como é carente dessa
bondade e cortesia. Por toda parte, o ser humano vive a esmiuçar os defeitos
alheios, odiando e recriminando a toda gente, salientando sempre os seus
aspectos desagradáveis. Podemos afirmar que quase não existe cortesia no
homem moderno. Há, nele, um requinte de egoísmo, grosseria, espírito
calculista e constante desculpa para todos os erros que comete. Não lhe
importa ser desagradável aos outros.
Tal procedimento jamais foi liberdade democrática; é um exagero nocivo,
um abuso de egoísmo. Em tudo isso, o mais desprezível é que o homem se
transforma em delator e perseguidor de seu próprio irmão, porque escasseia o
sentido de amor humano. O aumento desse tipo de gente obscurece a
sociedade, esfria o relacionamento entre os homens e engrossa a fileira dos
desiludidos. Por isso é que os suicídios aumentam cada vez mais.
A verdadeira civilização resultará do crescente número de pessoas que
agem conforme o cavalheirismo inglês ou a filantropia americana. Ser fiel às
regras morais permite a formação de uma sociedade agradável, onde reina o
conforto. Se tal sociedade puder ser criada, o Paraíso será uma realidade para
o homem.
No Japão, há um assunto que tem interessado a muitos: a necessidade
econômica de desenvolver o turismo. As instalações materiais são
importantes; mais importante, no entanto, é a boa impressão que possam ter
aqueles que nos visitam. Bondade, higiene e cortesia não custam dinheiro e
são elementos essenciais, que atraem os turistas.
A formação desse homem bondoso e cortês depende unicamente da Fé
e constitui a diretriz de nossa Igreja, que, nesse sentido, vem se
desenvolvendo cada vez mais.
25 de outubro de 1950

PESSOA SIMPÁTICA
Talvez não exista nenhuma palavra que soe tão agradavelmente quanto
"simpatia". Pensando bem, a simpatia é muito mais importante do que
imaginamos, pois tem muita relação não só com o destino do indivíduo, mas
também com a sociedade. Se alguém se tornasse simpático graças ao
relacionamento com uma pessoa simpática e isso fosse se propagando
continuamente, é óbvio que a sociedade se tornaria bastante agradável. Por
conseguinte, diminuiriam os problemas, principalmente o conflito e o crime;
espiritualmente, criar-se-ia o Paraíso. Não existe meio melhor do que esse,
pois não requer dinheiro, não é trabalhoso e pode ser posto em prática
imediatamente.
Falando, parece muito simples, mas todos sabem que, na realidade, não
é tão fácil assim, pois não basta que a simpatia seja apenas aparente. A
verdadeira simpatia aflora do interior; é indispensável, portanto, que a pessoa
seja sincera de coração, o que depende de cada um. Em suma, a base da
simpatia é o espírito de Amor ao Próximo.
Vou contar um pouco de minha experiência a esse respeito.
235
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

É engraçado eu mesmo falar destas coisas, mas desde pequeno, onde


quer que eu fosse, quase nunca era malquisto ou antipatizado. Pelo contrário,
era respeitado e amado na maioria das vezes. Então, pensando bem, concluí
que tenho uma característica que me parece ser o motivo disso: sempre deixo
meus próprios interesses e minha própria satisfação em segundo plano;
procuro fazer, em primeiro lugar, aquilo que satisfaz aos outros, aquilo que os
deixa felizes. Ajo assim não por razões morais ou religiosas, mas
naturalmente. Talvez seja da minha própria natureza. Em outras palavras, é
até uma espécie de "hobby" para mim. Por essa razão, muitos dizem que
tenho uma natureza privilegiada, e é possível que tenha mesmo.
Depois que me tornei religioso, esse sentimento aumentou ainda mais.
Quando vejo uma pessoa sofrendo por doença, não consigo ficar tranqüilo;
tenho vontade de curá-la a qualquer custo. Então, ministro-lhe Johrei, e ela fica
curada e feliz. Ao ver sua alegria, esta se reflete em mim e eu me sinto feliz
também. Por esse motivo, criei inúmeros problemas no passado e sofri muito.
Mesmo quando achava que nada poderia fazer por uma pessoa e que deveria
parar de dar-lhe assistência, a pedido insistente e até súplicas da própria
pessoa e de sua família, eu cedia e continuava indo visitá-la, ainda que fosse
longe. Gastava tempo e dinheiro, e, no final, o resultado era ruim,
desapontando os familiares do doente. Muitas vezes, cheguei até a ser odiado.
Toda vez que isso acontecia, eu me censurava, achando que deveria tornar-me
mais frio.
Como essa minha característica também foi de muita ajuda para a
construção do protótipo do Paraíso Terrestre e do Museu de Belas-Artes, creio
que ela me tenha sido atribuída por Deus. Quando vejo uma magnífica obra de
arte ou uma paisagem maravilhosa, não sinto vontade de apreciá-las sozinho
e até fico melindrado; nasce em mim o desejo de mostrá-las a um grande
número de pessoas, para alegrá-las. Dessa forma, minha maior satisfação é
alegrar o próximo, o que me faz ficar alegre também.
21 de abril de 1954

TEORIA SOBRE OS EFEITOS CONTRÁRIOS


Os homens que não obtêm resultados satisfatórios naquilo que
executam com esforço, ou no que julgam ser uma boa ação, desconhecem a
teoria dos efeitos contrários, ou melhor, falta-lhes discernimento a respeito de
sua razão transcendental. Vou explicar essa teoria dando alguns exemplos.
Quem a entender, não deixará de lucrar com isso.
Dentre os líderes dos fiéis, há os que procuram mostrar-se mais
elevados, mais importantes do que realmente são. Tais líderes acabam
recebendo o que merecem e, conseqüentemente, são menosprezados.
Aqueles que sempre mantêm uma atitude discreta e moderada, atraem maior
consideração.
Existem, também, os que gostam de contar seus sucessos, o que não é
agradável para os ouvintes. A exibição é condenável. Quem expõe os fatos tal
qual eles se apresentam, granjeia maior simpatia, e sua palavra discreta o
enobrece perante o ouvinte. Ao prestar um auxílio, evitem falar como
estivessem vendendo favores, pois isso só serve para diminuir o sentimento
de gratidão das pessoas.

236
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Como vemos pelos exemplos acima, em tudo há efeitos contrários. Se


procederem levando esse ponto em consideração, obterão bons resultados.
Certa vez cedi à insistência de um visitante a quem vinha evitando, e
concedi-lhe uma entrevista. Ele perguntou-me: "Quem é o deus da Igreja
Messiânica Mundial?" "Ignoro-o completamente", respondi. O visitante tornou a
interrogar-me: "O senhor prevê todos os acontecimentos futuros, não é?"
Retruquei: "Eu nada sei, porque não sou Deus." Parece-me que ele se
decepcionou, pois não voltou mais.
Antigamente, apareciam muitas pessoas que queriam me enganar,
levando-me dinheiro. Nessas ocasiões, antes que tocassem no assunto, eu
lhes indagava se não conheciam alguém que pudesse emprestar-me
determinada quantia, porque eu estava muito necessitado. Então elas
acabavam se despedindo sem falar nada a respeito do seu intento.
Também há ocasiões em que, quando acho que uma pessoa tem
qualidades e futuramente pode ter um grande desempenho na Obra Divina,
intencionalmente eu a trato sem consideração. Aí, ao invés de se mostrar
desinteressada e negligente, ela dedica ainda mais e realiza ótimos trabalhos.
Procuro utilizar tais pessoas em tarefas importantes, como elementos capazes
e dignos de confiança.
Muitos outros exemplos poderiam ser citados, mas é de grande
importância ter em mente a teoria dos efeitos contrários.
3 de outubro de 1951

RELACIONAMENTO

NÃO SE IRRITE
Diz um velho ditado: "Tolerar o que é fácil está ao alcance de todos, mas
a verdadeira tolerância significa tolerar o que é intolerável". Outro ditado
aconselha: "Carrega sempre contigo o saco da paciência e costura-o toda vez
que ele se romper". Encontro boas razões nesses conselhos.
As pessoas me perguntam: "Que práticas ascéticas o senhor realizou?
Subiu alguma montanha para banhar-se numa cachoeira, jejuou ou fez outras
penitências?" Então esclareço que jamais pratiquei tais coisas. Todas as
minhas "penitências" consistiram em tolerar a tortura das dívidas e reprimir a
ira. Quem ouve, fica espantado, mas é a pura verdade. Creio que Deus
determinou aperfeiçoar-me mediante purificações desse tipo, pois
continuamente têm aparecido fortes motivos para eu ficar irritado. Por
natureza, detesto irritar-me, mas há sempre alguma coisa que me afeta nesse
sentido.
Certa vez, passei por tanta vergonha devido a um desentendimento, que
mal conseguia encarar as pessoas. Minha indignação atingia o auge e eu não
conseguia reprimi-la. Foi quando me fizeram um convite para comparecer a
uma festa. Nas circunstâncias, o convite era irrecusável. Lá, entretanto,
permaneci desligado, sem poder concentrar meu espírito. Tomei até uma dose
de saquê, para me descontrair. Isso demonstra como eu estava perturbado.
Somente após alguns dias consegui recobrar a tranqüilidade.

237
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Mais tarde, vim a saber que a minha ida àquela festa salvou-me de uma
grande desgraça. Se não fosse a indignação daquele momento, eu não teria
comparecido a ela, e teria recebido um golpe fatal. Realmente fui salvo pela
ira e não pude conter minha gratidão.
Quem tem missão importante, é submetido por Deus a muitos
aprimoramentos. Creio que ter de reprimir a raiva, é uma das maiores provas.
Aqueles que têm muitas razões para irritar-se, devem compreender que sua
missão é grandiosa. Se conseguirem resistir a todo tipo de provocação,
mantendo calma absoluta, terão concluído uma etapa do seu aprimoramento.
Há um episódio interessante que eu gostaria de relatar.
Na Era Meiji, houve um homem famoso pela sua paciência, o Sr. Buei
Nakano, presidente do Conselho Privado de Comércio. Uma vez lhe
perguntaram qual era o segredo de seu espírito de tolerância. Ele respondeu:
"Por natureza, eu era irascível. Mas, certo dia, ao visitar o grande industrial
Eiichi Shibuzawa, ouvi-o discutindo com a esposa no cômodo contíguo àquele
em que eu estava. Informado de minha presença, ele abriu a porta corrediça e
veio sentar-se junto a mim. Trazia a fisionomia serena de sempre; nem parecia
vir de uma discussão. Admirei-me e, ao mesmo tempo, tive a revelação de
algo importante: o poder de controlar a ira. Compreendi que aquele era o
segredo de seu prestígio no mundo industrial, e que eu devia seguir seu
exemplo e esforçar-me para reprimir a cólera com facilidade. Desde então
passei a disciplinar-me nesse sentido, e tudo começou a correr normalmente
em minha vida, até eu atingir a condição atual."
Lembrem-se, pois, de que Deus treina e disciplina aqueles que têm uma
grande missão a cumprir.
Gostaria de voltar ao assunto das dívidas.
Baseado na minha própria experiência, concluí que as dívidas são
motivadas pela precipitação, que nos faz forçar situações.
Jamais devemos forçar uma situação. Se o fizermos, talvez obtenhamos
um êxito passageiro; entretanto, mais cedo ou mais tarde, seremos colhidos
pelas conseqüências, enfrentando obstáculos inesperados. É possível que,
após um rápido sucesso, nos vejamos forçados a voltar ao ponto de partida.
Examinando as causas da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial,
veremos que houve quem forçasse muito a situação.
Impor soluções e precipitar providências, provoca desequilíbrio mental e
impede as boas inspirações. Pior ainda é agir à força, de qualquer maneira, na
falta de idéias. Só devemos tomar resoluções depois que surge a idéia
apropriada, isto é, quando houver certeza de que o plano concebido não vai
falhar. Em outras palavras, é preciso aplicar o método: "Pense duas vezes
antes de agir".
Quase sempre é muito difícil o pagamento das dívidas. Se elas se
prolongarem, os juros aumentarão, causando grande sofrimento moral.
Existem dívidas ativas e dívidas passivas. As ativas, fazemo-las para
investir em negócio rendoso; as passivas, para cobrir prejuízos. Embora muitas
vezes estas últimas sejam inevitáveis, não devemos contraí-las. Se formos
vítimas de prejuízos, devemos abandonar toda ostentação e falsa aparência,
reduzir os nossos gastos e esperar que surjam novas oportunidades.
Também desejo chamar a atenção para um ponto importante: a
ganância. Consideremos o velho ditado: "Quem tudo quer, tudo perde". Os
238
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

prejuízos geralmente são causados pela ambição de ganhar demais. Não


existe, neste mundo, o pretenso "negócio-da-china" que tantos vivem a
propor. Desconfiemos desse tipo de negócio. O empreendimento que não
parece grande, oferece melhores perspectivas. Exemplificarei com minha
própria experiência.
Certa ocasião, eu precisava de dinheiro para saldar dívidas e impulsionar
a obra religiosa. Não foi fácil consegui-lo; enquanto eu o desejava muito, não
entrava dinheiro algum. Por fim, resignei-me, deixando o problema nas mãos
de Deus. Quando eu já estava esquecido de tudo, comecei a receber
inesperadamente grandes somas. Percebi, então, que o mundo não pode ser
explicado em termos de raciocínio comum.
25 de janeiro de 1949

VENCER A IRA
Não faz muito tempo que Deus me ensinou a vencer a ira. Agora
pretendo transmitir-lhes esta boa-nova, pois não há nada que nos cause tanto
sofrimento.
Existem indivíduos que nunca ficam irados, dando a impressão de que
sempre estão felizes. Eles pertencem a um tipo excepcional de pessoas; entre
as criaturas comuns, podemos afirmar que não há uma sequer que não seja
atingida pela ira. Os antigos já ensinavam várias maneiras de controlar esse
sentimento, mas, em geral, elas não produzem o efeito verdadeiro, porque
apenas servem para contê-lo e não para eliminá-lo. Contendo a ira, podemos
fugir ao sofrimento causado por ela; no entanto, isso traz em si um novo
sofrimento. Portanto, não é a solução. Quanto maior a ira, maior o sofrimento
para controlá-la. Fica isso por aquilo. Só a forma ensinada por Deus pode
eliminá-la com facilidade. Mostrarei como é maravilhosa.
A parte superior do estômago, situada no centro do corpo humano, é
uma região muito importante, tradicionalmente chamada de plexo solar.
Dizem que o centro do corpo é o umbigo, mas este é o centro da região
abdominal, onde está a sede da vontade, tal como a coragem e a decisão.
Conforme digo sempre, a parte frontal da cabeça governa a razão, ou seja, a
inteligência, a memória, etc; a parte posterior comanda os sentimentos: a
alegria, a ira, a dor, o prazer e outros.
Como a região abdominal é o que foi explicado, o fruto global da trilogia
vontade - razão - sentimento constitui o plexo solar; assim, por ocasião da ira,
o pensamento concentra-se nessa região. Quando alguém fica irado, sente
como se fosse uma massa ou um nó na parte superior do estômago; todos já
experimentaram essa sensação e sabem disso. Se, nesse momento, a pessoa
recebe Johrei no plexo solar, aquela massa ou nó se dissolve e, em alguns
minutos, ela tem a impressão de que um laço está se desatando e de que seu
peito está se abrindo. É, então, invadida por uma sensação muito agradável.
Aos poucos, sentir-se-á aliviada e até com vergonha de ter se zangado. Daí a
expressão: "A raiva se derreteu". E acontece isso mesmo. Além do mais, como
o Johrei possibilita não só a cura de outras pessoas, mas também do próprio
ministrante, não há nada melhor do que essa prática. Ora, torna-se
desnecessário dizer que a ira é a causa dos conflitos pessoais e familiares e,
numa escala maior, dos conflitos sociais e da quebra da paz entre os países.

239
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Sendo assim, podemos afirmar que é realmente uma grande salvação essa
forma maravilhosa de eliminá-la.
30 de maio de 1951

NÃO JULGUEIS
Há muitos religiosos que interpretam erradamente esta sentença.
Lembro-me de já haver tratado do assunto, mas estou insistindo em virtude de
encontrar pessoas que ainda não o entenderam.
Costuma-se definir uma pessoa como boa ou má, e um dos piores
comentários é dizer: "Fulano está com o diabo no corpo". Gravíssimo engano.
Quem se acha sob má influência é aquele que faz tal comentário.
O homem não deve emitir opinião sobre o próximo, pois não tem
capacidade para julgar o bem ou o mal, a sinceridade ou a falsidade. Isso
compete a Deus. Quem se arroga o poder de julgamento está infringindo os
direitos Divinos, porque é apenas um ser humano. É excesso de presunção, é
uma atitude altamente condenável. Esse tipo de pessoa acha-se sob a ação do
demônio; deve, portanto, acautelar-se. Obviamente não possui verdadeira fé.
Geralmente assume ares de grande seriedade, condena as crenças alheias e
preconiza reformas na Igreja. Ora, se de fato houver maus elementos entre os
fiéis, eles devem ser deixados aos cuidados de Deus, para que sejam
convenientemente julgados. A preocupação humana é perfeitamente
dispensável. Confiar no poder humano mais que no Divino, é o cúmulo da
pretensão, pois cabe ao Supremo Deus o governo de tudo. Aquele que erra,
recebe primeiramente avisos Divinos; depois, se não se corrige, pode ser
chamado de volta ao Mundo Espiritual.
Os antigos fiéis de nossa Igreja conhecem bem certos casos que
confirmam o que estou dizendo. Portanto, todos devem procurar seguir esta
norma: "Não julgue o próximo, mas julgue constantemente a si próprio". Quem
age assim, compreende Deus.
21 de maio de 1952

PRESUNÇÃO
Existem adeptos fervorosos que criticam os métodos dos dirigentes da
Igreja a que pertencem, impacientando-se quando estes não ouvem seus
conselhos relativos às reformas que lhes parecem necessárias. Como o
número desses adeptos é muito grande, escreverei sobre o assunto.
Não condeno os fiéis que agem assim, pois sua atitude é ditada pela
sinceridade; mas o fato exige muita reflexão, porque o pensamento deles está
baseado na fé "Shojo". A nossa Igreja caracteriza-se pela fé "Daijo" e por isso
difere muito do pensamento comum da sociedade em geral.
Julgar o próximo é uma presunção. Se não reconhecermos esse ponto,
não poderemos agradar a Deus. Somente Ele conhece a bondade e a maldade
dos homens. Já escrevi a respeito uma vez e aconselho muita prudência. Caso
o fiel estiver errado ou for má pessoa, Deus se encarregará de julgá-lo, sendo
desnecessário qualquer preocupação de nossa parte. A preocupação não
significa falta de confiança no poder de Deus? Isso é comprovado por
inúmeras experiências de antigos fiéis que foram julgados por Deus, muitos
deles perdendo até a vida por causa de uma fé errada. Portanto, devem
conhecer a si próprios muito bem, antes de pretenderem julgar o próximo.
240
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Não há fiéis com más intenções, já que ingressaram em nossa Igreja. Sei
perfeitamente que todos são sinceros; entretanto, como há vários níveis de
sinceridade, é preciso muita atenção. Isso nada mais é do que a minha
costumeira frase: o bem de "shojo" vem a ser o mal de "daijo". Qualquer bem
ou sinceridade de caráter restrito resulta em mal.
Desde a criação deste mundo, nunca houve religião que tivesse um
objetivo tão elevado quanto o nosso, isto é, salvar toda a humanidade. Por
conseguinte, os problemas internos da Igreja devem ser confiados a Deus. Os
fiéis precisam ter sempre em mente a sociedade, o mundo, ou melhor, dirigir a
vista para fora, e não para dentro.
Desejo acrescentar que a Providência de Deus é demasiado profunda
para ser compreendida pela inteligência humana. Nos ensinamentos da Igreja
Omoto consta a seguinte passagem: "Aquele que considera o Mundo Divino
inatingível pela sabedoria humana, é um esclarecido." E também esta:
"Pergunto se seria possível fazer a reconstrução dos três mil mundos
(Expressão budista referente a todos os mundos contidos no Universo) com
uma Providência facilmente compreendida pelos seres humanos." Estas
palavras são realmente simples e bem claras.
12 de setembro de 1951

NÃO JULGUE
O fato de ainda haver, entre os fiéis, uma maioria que comenta: "Fulano
é bom, beltrano é mau", "isto é um obstáculo, aquilo não", significa que os
Ensinamentos não foram assimilados completamente.
Já repeti várias vezes que julgar o próximo é o mesmo que profanar a
posição de Deus. É um erro gravíssimo, para o qual peço muita atenção. O
homem é incapaz de discernir o bem do mal. Se ele julga ter conseguido esse
discernimento, é porque atingiu, inconscientemente, o auge da presunção.
Isso prova que ele nem ultrapassou o portão da Fé.
Devem também levar em consideração que a Providência Divina não é
fácil de ser compreendida pelo raciocínio humano. Querer compreendê-la com
a fé "Shojo", é o mesmo que espreitar o céu através de um orifício. Já me
cansei de repetir que não permaneçam nesse tipo de fé, porque só se
consegue conhecer a Vontade de Deus com a fé "Daijo". Mas isso parece ser
difícil, pois, infelizmente, há pessoas que persistem no erro.
Observando a sociedade em que vivemos, notamos que ela apresenta
um aspecto limitado em todos os setores. De vez em quando, os jornais
anunciam escândalos pela disputa de poderes entre facções criadas dentro
das organizações religiosas. Não constituem exceção os partidos políticos, as
empresas e outras associações, sendo escusado falar sobre os prejuízos
causados à eficiência e progresso dos empreendimentos.
Deus quer reconstruir este mundo justamente por causa de tais erros.
Um estudo aprofundado mostra-nos que todos eles resultam dos princípios
"Shojo". Ora, se não partirmos dos princípios "Daijo", jamais surgirá uma
sociedade sadia e altruísta. Assim, espero que, se os nossos fiéis ainda
possuem resquícios de pensamentos estreitos e vulgares, tomem consciência
disso o quanto antes e procurem reformar sua mente, para se tornarem
verdadeiros messiânicos. Com a intensificação gradual da purificação, o Juízo

241
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Divino se tornará mais severo, e, se não o fizerem agora, será tarde demais
para arrependimentos.
São realmente verdadeiras estas palavras que aparecem
insistentemente nos ensinamentos da Igreja Omoto: "A presunção e o engano
são causas de grandes desgraças." Têm o mesmo sentido as palavras de Jesus:
"Não julgueis." O importante é a pessoa julgar a si própria, não se
intrometendo nos atos alheios.
Os nossos adeptos já sabem que ninguém deixa de ter toxinas no corpo.
O mesmo acontece no terreno espiritual: ninguém deixa de apresentar
máculas, razão pela qual Deus procura salvar-nos através da purificação. Eu
sei tudo que se passa dentro das pessoas. Como não me manifesto, elas se
preocupam, achando que não sei de nada. No entanto, eu permaneço calado,
entregando tudo nas mãos de Deus.
13 de maio de 1953

O CONFLITO ENTRE O BEM E O MAL


O domínio de Deus é demasiadamente profundo para a compreensão do
homem comum. Sendo especialmente difícil determinar o que é bom e aquilo
que ele sente como mau, o homem vive num conflito sem fim.
Além do mais, o bem e o mal são relativos e não podemos tirar
conclusões precipitadas a respeito do bom ou mau uso das coisas. As forças
malignas, por mais devastadoras que sejam, servem freqüentemente como
meio para disciplinar o espírito, desenvolver a força criativa e a capacidade
das pessoas construtivas. Nesse sentido, essas forças constituem uma espécie
de esmeril e servem a um fim benéfico.
O bem está destinado à vitória final caso contrário, a vida na Terra seria
totalmente dominada pelo mal e tanto a humanidade como o planeta
pereceriam.
Durante a Era da Noite, as forças destrutivas freqüentemente venciam
as forças construtivas. Isso se refletiu no mundo físico sob forma de
infortúnios, catástrofes e misérias de todos os tipos, prejudicando o bem-estar
de pessoas aparentemente boas. Agora, entretanto, com o alvorecer da Nova
Era, a natureza do mal será gradualmente evidenciada e perderá o seu poder.
As forças Divinas conquistarão a supremacia e estabelecerão novas e
benéficas condições sociais.
Uma das características das forças malignas é a sua persistência.
Vencendo ou perdendo, jamais desistem. É justamente o que produz o
contínuo aprimoramento e fortalecimento da parte construtiva. Na Nova Era,
continuarão existindo forças negativas, mas estas terão pouco poder.
No que se refere à luta contra o mal, permitam-me insistir em dois
pontos. Primeiro: não temam as forças das trevas. Segundo: não critiquem os
outros como sendo instrumentos das forças malignas. Não podemos ter
certeza de que o sejam e, ao tentar julgá-los, invadimos o domínio de Deus.
Devemos usar a sabedoria e proceder de acordo com cada situação particular.
Quando necessário, devemos retroceder e não avançar no caminho. Mesmo
que o mal pareça triunfar durante algum tempo, acabará sendo derrotado.
Na Nova Era, quando as forças construtivas assumirem o controle total e
tiverem desalojado as forças destrutivas, será concretizado o Paraíso na Terra.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”
242
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

CEDA PARA CONQUISTAR


“Seja flexível para conquistar” é uma regra de ouro. Pode ser difícil
praticá-la, mas devemos treinar a nossa índole e educar a nossa mente nesse
sentido. Em alguns casos, é preferível aparentar ignorância ou mesmo perder
uma discussão. Qualquer possível humilhação ficará gravada apenas na mente
e por um período temporário. Com o passar do tempo, a outra pessoa pode
começar a compreender a verdadeira situação e mudar de atitude. Pode
pensar: “Eis uma pessoa sincera”, começar a acreditar em você e até mesmo
a admirá-lo. Tendo aparentemente vencido uma discussão, o seu adversário se
torna inseguro por não fazer idéia do que você tem em mente. Assim, o
derrotado se torna vencedor e é por isso que, às vezes, é preferível deixar que
os outros persistam em suas idéias.
Tentar impor as nossas opiniões é uma psicologia inábil. Ainda que
estejamos certos, não devemos desnecessariamente insistir em argumentos a
nosso favor. Aprendendo a ceder em determinadas circunstâncias, acabaremos
vencendo, porque nos ativemos ao que é justo e verdadeiro.
Algumas vezes, quando as pessoas se dedicam a algo importante,
pensam que isso requer esforço, resistência e concentração. No entanto,
quando opomos resistência, o nosso poder interno se restringe, ao passo que,
quando assumimos uma postura descontraída, ele circula livremente. O
mesmo princípio se aplica ao Johrei. Quanto mais relaxada mantivermos a
mente e as mãos, mais sintonizados estaremos e mais eficiente será o Johrei.
Os grandes generais sabem como e quando retirar-se de uma batalha.
Permanecer correndo risco desnecessário é uma tática errônea e não constitui
verdadeira coragem. O que importa é o resultado final.
Muitas pessoas obtêm resultados contrários à sua expectativa, porque o
caminho do mundo é geralmente muito diferente do caminho da verdade.
Quando iniciei a Igreja Messiânica Mundial, costumava dizer aos
membros que trabalhassem tão discreta e silenciosamente quanto possível.
Alguns sugeriram que se fizesse propaganda na imprensa, mas nunca fiz
muitas pessoas tendem a atingir os seus objetivos empregando os efêmeros
sistemas materiais, assim como procuram nos remédios, alívio temporário
para as enfermidades. Num trabalho verdadeiramente espiritual, devemos
aspirar ao verdadeiro e eterno, e não ao falso e transitório.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

SEJA UM BOM OUVINTE


"Não subestime as pessoas, quando lhe falam”, disse um antigo filósofo
chinês. Ele queria dizer que devemos ouvir com a mente aberta e não
subestimar as idéias de uma pessoa antes de sabermos o que ela tem a dizer;
que não devemos julgar pelas aparências. Às vezes, podemos aprender algo
valioso com um operário analfabeto ou com um simples camponês.
Freqüentemente, ouvimos uma criancinha proferir uma verdade
maravilhosa ou exprimir uma idéia original. Bergson, em seu livro “Intuição”,
diz que as crianças são altamente intuitivas e que, muitas vezes, vão
diretamente ao âmago da questão. Nas discussões entre mãe e filho, a
verdade freqüentemente está do lado da criança.

243
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Constitui para mim um dever ouvir as pessoas que trabalham sob minha
direção e permitir, tanto quanto possível, que sigam os seus impulsos. Mesmo
quando insistem num projeto absurdo, procuro aceitá-lo até certo ponto.
Somente quando sinto que atitudes errôneas estão prejudicando a situação, é
que me mostro inexorável. Há pessoas que receiam perder sua dignidade ou
seu prestígio ouvindo os seus subordinados. Isso é um erro.
Mesmo quando alguém diz algo que pensamos ser inverídico, não
convém rejeitá-lo imediatamente e insistir no nosso próprio ponto de vista, ou
censurá-lo. Embora sabendo que a pessoa está mentindo, aparente não se
perturbar. Isso é permitido, desde que sejamos sinceros e verdadeiros em
nosso coração.
Às vezes, surge um vendedor de objetos de arte com uma imitação,
esperando induzir-me a comprá-la. Ouvindo-o, logo encontro algo de útil e
relevante em meio a suas obras falsificadas.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

SENTIMENTO E REPUTAÇÃO
É do conhecimento de todos que o fato de se ter boa ou má reputação
está relacionado ao destino do homem. Talvez nem possam imaginar o quanto
influi no destino de uma pessoa o fato de confiarem nela, por ter boa fama, ou
se acautelarem contra ela, por ter má reputação. Naturalmente, não há nada
melhor do que se ter boa fama. E como isso tem grande importância também
no âmbito da fé, falarei a respeito.
Satanás vale-se muito dessa situação, e a nossa Igreja vem sendo seu
alvo até o momento. Seu método consiste em utilizar-se dos meios de
comunicação, espalhando boatos para destruir a boa reputação de nossa
Igreja. Ela sofre bastante com isso, no que se refere à sua expansão, motivo
pelo qual não podemos nos descuidar. Principalmente em casos individuais, é
preciso grande precaução.
Mais do que tudo, o homem é movido pelos sentimentos; portanto,
mesmo que seja por algo mínimo, atingir seu sentimento é muito mais
desvantajoso do que se pensa. Para que isso não aconteça, não devemos
impor o nosso eu, isto é, precisamos ser tolerantes em relação às outras
pessoas, entrando no ritmo de sua conversa, mesmo que elas estejam falando
o que nos parece errado. Seja qual for a situação, nunca se deve pensar em
ganhar, e sim em perder. O ditado "perder para ganhar" é muito significativo.
Eu sempre me utilizo desse método, e os resultados são sempre os melhores.
Entretanto, embora digamos que é preciso perder, existem ocasiões em que
não se deve perder. Mas isso não vem ao caso, pois é muito raro. Se, em dez
casos, a pessoa perder oito ou nove, sairá ganhando. Quando Cristo, prestes a
ser pregado na cruz, disse: "Venci o Mundo", creio que estava ensinando essa
verdade. Exemplificando com a minha longa experiência, foi perdendo muitas
vezes que eu consegui chegar ao que sou hoje. Todavia, os homens se
esforçam ao máximo para ganhar, pensando sempre: "Não vou perder, jamais
serei vencido". Esse é um ponto em que eles precisam se corrigir.
28 de outubro de 1953

NÃO SEJA ODIADO

244
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Já lhes falei que não devem odiar ninguém. Digo-lhes, também, que não
devem ser odiados. Isso porque os maus pensamentos, o ódio, o ciúme, o
desejo de vingança e outros sentimentos negativos chegam até nós através
dos elos espirituais e nos atrapalham completamente. Ficamos mal
humorados, perturbados e não podemos desempenhar corretamente nossas
tarefas; nessas condições, o sucesso é impossível. Tomem, pois, o máximo
cuidado.
Neste mundo, há muitas pessoas que não se incomodam de torturar o
próximo e torná-lo infeliz. Apesar disso, são elogiadas pelo êxito que alcançam
em suas profissões. Aqueles que procuram imitá-las, julgando ser esse o
método certo para o sucesso, possuem vistas curtas.
Se o número dessas criaturas perversas aumentar, será difícil que o
mundo melhore. O tempo nos revela, porém, que toda semente ruim produz
mau fruto; os perversos serão infalivelmente destruídos.
Assim, para vivermos bem humorados, para os nossos trabalhos
progredirem normalmente e para evitarmos grandes aborrecimentos, é preciso
alegrar os nossos semelhantes, tornando-os felizes. Esse é um dos
fundamentos da Religião. Quem age assim, merece ser qualificado de
"inteligente". Por isso costumo afirmar que os perversos são ignorantes. Esta é
uma verdade eterna.
18 de julho de 1951

A AMPLA TOLERÂNCIA
A constatação de que o que é bom do ponto de vista “Shojo” é mau do ponto
de vista “Daijo” e vice-versa, requer reflexão.
Objetivamente, a criatura de tipo “Shojo” pode chegar aos extremos limites da
reflexão e do bom senso. Freqüentemente, é excêntrica e dogmática. Apressa-
se em criticar os outros e classificar as coisas como boas ou más, enquanto as
de tipo “Daijo” encaram as coisas de um ponto de vista bem mais amplo.
Sem o princípio horizontalmente equilibrado de “Daijo”, as pessoas de tipo
“Shojo” podem confiar excessivamente em seu próprio discernimento e
capacidade, e empenhar-se em seus empreendimentos, com grande
entusiasmo e parcialidade. Podem mesmo esquecer que dependem do Poder
de Deus e de Seu auxílio, o que as impedirá de serem realmente bem-
sucedidas.
O mundo foi um exemplo de pensamento “Shojo” por ocasião das guerras
mundiais. Todas as nações combateram desarrazoadamente, arriscando a vida
de seus povos. O bem que os comandantes buscavam para as suas pátrias
baseava-se na ambição e no amor-próprio. Eles se interessavam apenas por
sua própria prosperidade, sem atentarem para os dos outros países.
Se as nações tivessem agido de acordo com o sensato ponto de vista “Daijo”,
não se teriam envolvido numa guerra agressiva e teriam conquistado o amor e
o respeito mundiais. Poderiam então gozar de paz e prosperidade. Somente o
bem de amplitude mundial é duradouro.
Em contraste com o Amor Universal Divino, o amor do homem é limitado e,
por vezes, decididamente nocivo.
Como as pessoas “Daijo” tendem a relacionar-se mais com os seus
semelhantes, são freqüentemente vitoriosas, sem que para isso tenham de
despender grandes esforços.
245
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Compreendendo a diferença de pontos de vista entre o horizontal “Daijo” e o


vertical “Shojo”, devemos conduzir ambos ao seu ponto central de equilíbrio,
ou Izunomê.
Quando nos livramos do espírito crítico, e mostramos uma boa vontade
envolvente, as pessoas se sentirão naturalmente atraídas por nós e desejarão
cooperar conosco.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

RESPEITE A ORDEM
O conhecido adágio "Deus é Ordem" deve ser lembrado como algo que
exerce vital importância sobre tudo que existe.
Em primeiro lugar, observando o movimento de todas as coisas do
Universo, verificamos que tudo se desenvolve dentro de perfeita harmonia.
Tomemos como exemplo as estações do ano. Elas se repetem infalivelmente
todos os anos, seguindo a mesma ordem: primavera, verão, outono e inverno.
As flores desabrocham nesta seqüência: ameixeiras, cerejeiras, glicínias, íris...
Assim, a Natureza nos ensina a ordem. Se o homem a desconhecer ou for
indiferente a ela, nada lhe correrá bem. Os obstáculos serão freqüentes,
resultando em confusão. Até hoje, no entanto, a maioria dos homens não têm
respeitado a ordem, o que se pode desculpar pelo fato de não ter havido quem
lhes ensinasse as más conseqüências desse desrespeito.
Vou expor, resumidamente, o que todos devem saber sobre o tema em
questão.
Todos os fenômenos do Mundo Material são reflexos do Mundo Espiritual;
ao mesmo tempo, os fenômenos do Mundo Material também se refletem no
Mundo Espiritual. A ordem é o caminho e também a Lei. Perturbar a ordem,
significa desviar-se do caminho; violar a Lei, é faltar à civilidade.
Na vida cotidiana, existem ordens que o homem deve respeitar. Entre os
membros de uma família há diferenças de comportamento. Para nos
sentarmos numa sala, por exemplo, devemos considerar como lugar de honra
a parte mais elevada, onde se colocam objetos de adorno; faltando essa parte,
o lugar de honra é o local mais afastado da entrada. Quando os membros de
uma família ocupam os devidos lugares, sentando-se o pai próximo ao lugar
de honra, depois a mãe, o primogênito, a primogênita, o segundo filho, a
segunda filha, etc., cria-se um ambiente harmonioso. O desrespeito à Lei não
trará boas conseqüências, mesmo num regime democrático.
Suponhamos uma ponte sobre um rio, a qual só dá passagem para uma
pessoa de cada vez. Se várias pessoas tentarem atravessá-la ao mesmo
tempo, haverá confusão e todos se precipitarão no rio. É absolutamente
necessário que as pessoas atravessem uma de cada vez, ou seja, é preciso
que haja ordem.
Outro exemplo: quando recebemos visitas, as poltronas e os lugares
variam de acordo com o grau de amizade e posição, o mesmo acontecendo
com os cumprimentos. Se isso for observado, tudo correrá em perfeita
harmonia e não se causarão impressões desagradáveis. Também há diferença
de atitudes e diálogos entre moços, velhos e crianças. O essencial é causar
sempre boa impressão ao próximo.
Em algumas famílias, os pais dormem no térreo, reservando o andar de
cima para os filhos e empregados. Isso é um erro: nessas famílias, os filhos e
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

os empregados tornar-se-ão desobedientes. Também a esposa deixará de ser


dócil e submissa, quando dormir mais próximo ao lugar de honra do que o
marido.
Falemos agora sobre as imagens religiosas.
Quem entroniza Deus ou Buda no térreo e dorme no andar superior, está
colocando-os abaixo do homem. É preferível deixar de entronizá-los, porque,
além de impedir as graças, isso constitui uma ofensa.
O mesmo se aplica ao Altar dos antepassados. Será uma grave ofensa
colocar os descendentes acima dos antepassados, pois os fenômenos
terrestres se refletem no Mundo Espiritual, destruindo a harmonia que deve
ser mantida entre os dois mundos.
Este princípio também se aplica ao país e à sociedade. O maior
problema é o conflito existente no setor industrial, entre patrões e operários. A
administração da produção efetuada por estes últimos é o que há de mais
reprovável, porque se afasta completamente da ordem.
Exemplifiquemos com uma indústria. Para administrá-la e desenvolvê-la,
é preciso manter a ordem em tudo. O presidente deve assumir a direção geral;
os membros da diretoria devem participar dos planos de maior importância; os
técnicos se ocuparão com sua especialidade; os operários se esforçarão dentro
do seu setor de trabalho. Se todos se unirem assim, em forma de pirâmide, a
empresa não deixará de prosperar. Todavia, se a administração for efetuada
pelos operários, a pirâmide virará de cabeça para baixo, provocando,
infalivelmente, a sua queda. Desse modo, o conflito entre patrões e operários
ocasiona a destruição de ambas as classes, o que representa uma grande
tolice. É necessário, portanto, que a administração seja feita pacificamente,
através do entendimento entre as duas classes, e respeitando-se a ordem. Não
há outro meio para estabelecer a felicidade de ambas.
Creio que o primeiro passo para a prosperidade consiste em eliminar do
mundo industrial a desagradável palavra "conflito". O comunismo surgiu
devido à administração excessivamente egoísta dos capitalistas, que vinham
explorando a classe operária. Hoje, entretanto, ele caiu no extremismo, em
conseqüência das reações que causou no mundo industrial, motivando o
declínio das indústrias e da produção. Espero que tomem consciência disso o
quanto antes, que despertem para o espírito de auxílio mútuo e se esforcem
para a construção de um novo mundo. Eis o sentido das minhas palavras:
"Respeite a ordem."
A realização de atividades foi sempre conhecida pelo termo "keirin"
(administrar, gerir), o que, em última análise, significa "girar a roda." Os
líderes correspondem ao eixo de uma roda. Quanto mais centralizado ele está,
melhor ela gira. A percepção do seu girar é pequena perto do eixo e vai
aumentando no sentido da periferia. Quanto mais afastado do centro está o
eixo, mais difícil é o girar da roda.
De acordo com o exposto, isso significa o seguinte: o centro é ocupado
por poucas pessoas; o número destas aumenta à medida que a distância em
relação ao centro vai se tornando maior. O trabalho mais pesado, num
automóvel, cabe aos pneus, que constituem a parte externa e têm contato
direto com o chão. Por aí, devem perceber o que vem a ser a ordem. Portanto,
para que a empresa progrida, basta que os líderes permaneçam no interior,
trabalhando apenas com a inteligência e distribuindo as ordens.
247
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

25 de janeiro de 1949

ORDEM
Diz um antigo ditado: "Deus é ordem". Há, também, um provérbio chinês
que afirma: "Entre marido e mulher existem diferenças, e há ordem
hierárquica entre velhos e jovens". Concordo plenamente com ambos.
É surpreendente a desordem que reina ultimamente na sociedade.
Quando as coisas não correm normalmente, a causa é a falta de ordem,
principalmente tratando-se de problemas humanos.
Ordem e educação estão estreitamente relacionadas e isso exige
especial atenção. Observemos a Grande Natureza. Nela tudo segue uma
ordem predeterminada: o ano está dividido em quatro estações - primavera,
verão, outono e inverno; os dias alternam-se com as noites; as plantas se
desenvolvem obedecendo uma ordem: as flores da cerejeira jamais
desabrocham antes das flores da ameixeira.
Podemos citar vários exemplos.
Não adianta fazer romaria às divindades depois de tratar de qualquer
assunto, pois, nesse caso, a divindade foi posta em segundo plano. O mesmo
se deve dizer em relação à ministração ou recebimento de Johrei. Quando se
obedece à Lei da Ordem, o resultado é notável.
Tenho observado freqüentemente pessoas que constroem casas
assobradadas e reservam para seus filhos os aposentos do primeiro andar,
ficando com os do térreo. Com esse procedimento, os filhos tendem a
desobedecer aos pais, pois ocupam uma posição superior. O mesmo se dá no
caso de patrão e empregado. É preciso muito cuidado nesses assuntos.
Pode parecer insignificante, mas a disposição das pessoas à mesa tem
grande influência. Em ordem de importância, o chefe da família deve ocupar o
lugar de honra; a esposa, o segundo; depois virão sucessivamente o
primogênito, o segundo filho, a primeira filha, etc. O ambiente se faz
harmonioso quando os lugares são determinados de acordo com a ordem. Do
contrário, surgem fatos desagradáveis. Muitas vezes participei de reuniões
cujo ambiente carregado podia ser logo percebido por quem chegasse.
Verifiquei que geralmente isso acontecia quando a disposição dos lugares não
obedecia à ordem.
Para se estabelecerem os lugares, devem ser considerados de ordem
inferior aqueles que ficam próximos à entrada, e de honra, os que estão mais
afastados. Sabemos que o lugar de maior honra é o que fica em frente ao
"toko-no-ma"7. Portanto, quando se tratar de ordem nas reuniões, é preciso
levar em consideração o "toko-no-ma" e a entrada. Tudo o mais deve ser
decidido com bom senso.
Relacionando o lado direito e o lado esquerdo, vemos que este é o mais
importante, pois representa a parte espiritual; o lado direito a ele se
subordina, pois representa a parte material (note-se que o braço direito é o
mais utilizado).
30 de agosto de 1949
7
Toko-no-ma - Nas casas japonesas, é o local considerado nobre de um cômodo, com uma
reentrância, que fica mais elevada que o assoalho e geralmente toma toda uma parede. No
toko-no-ma penduram-se quadros ou panôs e ornamenta-se com vivificações florais.
Costumeiramente recebem-se as visitas na sala onde existe toko-no-ma.
248
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

AMOR CORRETO E AMOR INCORRETO


Dizem que a fé é amor, mas existem vários tipos de amor: amor correto,
amor incorreto, amor amplo, amor limitado, etc. É por isso que os que
possuem fé não podem deixar de ter um entendimento correto sobre o amor.
Em primeiro lugar, darei exemplos de amor correto. Nele se inclui o amor
no lar - entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos, etc. - e o amor
relativo às demais pessoas, tais como amigos, parentes ou conhecidos. Por
mais que esse tipo de amor aumente, não há nenhuma censura a fazer. O
problema é o amor incorreto.
Obviamente, o amor incorreto é o oposto do anterior: quebra a hamonia
entre marido e mulher, esfria as relações entre pais, filhos e irmãos, causa
desentendimentos entre amigos e parentes, distancia as relações, etc. Isso é
muito freqüente na sociedade, sendo causado pelo amor incorreto, ou pelo
amor escasso.
Essa é uma classificação genérica do amor correto e do amor incorreto.
Entretanto, entre esses tipos de amor, o que talvez precisa ser mais analisado
é o amor-paixão. Como já tive oportunidade de explicar, mesmo nesse tipo de
amor existe o correto e o incorreto. Naturalmente, o amor de jovens puros,
que objetivam o casamento, é um amor-paixão correto. Mas o amor-paixão
muito freqüente na sociedade, motivado por um impulso momentâneo, fútil,
isto é, amor intempestivo como uma febre tropical, é amor incorreto. Em
suma, o amor-paixão não embasado na Inteligência Superior 8 é amor
incorreto. Se ele progride demais, invariavelmente gera situações trágicas.
Isto porque, apesar de a pessoa ter esposo ou esposa, o amor-paixão é
dirigido para terceiros. Existem pessoas que acabam caindo num destino
catastrófico para o resto de seus dias e até perdem a vida por causa de um
prazer de pouca duração. É por isso que devem acautelar-se ao máximo, pois
não há nada que cause tão grandes prejuízos como esse tipo de amor-paixão.
Fiz uma crítica bem simples a respeito do bem e do mal no amor-paixão.
Agora desejo explanar sobre a amplitude do amor. Como eu disse
anteriormente, o amor entre familiares e o amor pelas coisas que nos rodeiam
é amor de caráter "Shojo" (restrito), que pertence ao grupo do amor-próprio,
sendo mais freqüente nas pessoas comuns. É inerente ao tipo comum das
pessoas boas, existindo, também, nos agnósticos; quanto a estes, não tenho
nada de especial a comentar, mas, em se tratando de verdadeiras pessoas de
fé, é totalmente diferente. O amor dos que têm fé é "Daijo", ou seja, altruísta.
Este amor "Daijo" ampliado ao máximo é o amor à humanidade, é o amor ao
mundo.
Devemos atentar para o fato de que os japoneses, até o fim da Segunda
Guerra Mundial, não conheciam o verdadeiro amor "Daijo". Para eles, a mais
ampla e elevada forma de amor era o amor à pátria. Como todos sabem, seu
maior objetivo consistia em dar a vida por ela, mas, como se tratava de amor
"Shojo", resultante da crença de que isso era o que havia de mais importante,
causou a lamentável situação em que o Japão se encontra atualmente.
Portanto, como o amor limitado a um povo ou a uma classe não é verdadeiro,
mesmo que se prospere por um momento, inevitavelmente acaba-se

8
Vide página 36 "Luz da Inteligência" e página 37 "As cinco Inteligências".
249
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

fracassando. Conseqüentemente, como eu disse antes, por mais que as


pessoas se esforcem com um objetivo limitado, afirmando pertencer a esta ou
àquela ideologia, não há possibilidade de grande sucesso. Tratando-se de
ideologia, só o cosmopolitismo é verdadeiro. Nesse sentido, para que a religião
seja aceita como a verdadeira salvação, ela também deve ser de caráter
universal. É por esse motivo que a nossa Igreja teve seu nome completado
com a palavra Mundial.
18 de outubro de 1950

PESSOAS MEDROSAS
Observando os trabalhos que estou realizando atualmente, as pessoas
sempre se mostram espantadas, dizendo que me acham com muita coragem e
classificando de grandioso tudo que faço. Concordo plenamente com elas.
Como meu objetivo é salvar toda a humanidade e transformar este mundo em
paraíso, construindo um mundo sem doença, pobreza e conflito, talvez, para
as pessoas comuns, isso não passe de exagero e fantasia de minha parte. De
fato, eu também me espanto por ver que estou planejando coisas tão
grandiosas e, mais ainda, pela convicção que tenho de poder concretizá-las.
Entretanto, quando eu era jovem, nunca cheguei a pensar em tais
coisas. Dos quinze aos vinte anos mais ou menos, era mais tímido que
qualquer outra pessoa. Sem nenhum motivo, tinha receio de me encontrar
com desconhecidos; principalmente quando achava que a pessoa era um
pouco mais importante, nem conseguia falar direito com ela. Diante de moças,
eu enrubescia, meus olhos ficavam perdidos e eu nem ao menos conseguia
olhar para o rosto delas ou falar-lhes. Como fiquei pessimista por causa disso!
Conseqüentemente, muito duvidei se conseguiria integrar-me na sociedade
como cidadão adulto. Naquela época, quando me via frente a qualquer
pessoa, sempre tinha a impressão de que ela era mais inteligente e
importante que eu. Todavia, comparando o que eu era com que sou
atualmente, eu mesmo estranho a enorme diferença.
Escrevi tudo isso levado pelo desejo de que, lendo minhas palavras, os
jovens tímidos, tão freqüentes na sociedade, ganhem novo alento e passem a
enfrentar a vida com maior otimismo e esperança.
30 de agosto de 1949

A IRRESPONSABILIDADE DOS SUICIDAS


Todos sabem que sempre existiram suicidas, mas parece que,
ultimamente, o número deles é maior. Sendo assim, podemos perceber que
não há relação entre suicídio e progresso da cultura.
Creio que os suicídios ocorridos no Japão têm motivos bem diferentes
dos suicídios ocorridos em outros países. A nosso ver, o que leva os
estrangeiros a esse ato extremo é o sofrimento espiritual, mas no Japão
parece não ser assim.
Na época do feudalismo, havia motivos espirituais muito nobres para o
suicídio. Muitos sacrificavam a vida como expressão de desculpas, como forma
de advertência ao senhor feudal ou como prova de inocência. Por essa razão,
chegava-se a ter certo respeito pelos suicidas, às vezes levando-se isso ao
exagero, como aconteceu no caso do General Nogui (1849-1912), que foi
consagrado como ser Divino.
250
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Ultimamente, entretanto, podemos dizer que quase não existem motivos


como esses. O estudante e agiota Yamazaki, por exemplo, que se suicidou não
faz muito tempo, por um momento fez todo mundo vibrar com o sucesso
econômico que obteve através da agiotagem, mas acabou num beco sem
saída e, talvez para fugir do sofrimento ou então para se desculpar, não viu
outro recurso a não ser o suicídio. Analisando bem, foi um ato de extrema
irresponsabilidade. Depois de ter causado grande prejuízo ao próximo, ele
fugiu para o Mundo Espiritual sem ao menos pagar um pouco pelo mal que
fez. É o cúmulo. Pode-se até dizer que foi um ato condenável. Na verdade,
Yamazaki deveria ter feito tudo para viver o mais possível e pagar, ainda que
em pequena parte, o prejuízo que causou. Se não o fez, pode até ser chamado
de covarde. No caso tão comentado, atualmente, do suicídio de um literato,
também não há como fugir da acusação de irresponsabilidade. Talvez ele
tenha praticado aquele ato para acabar com o sofrimento causado pela sua
própria imoralidade; mas o caso é que sua morte causou muita infelicidade,
muitos problemas aos seus familiares e às pessoas de suas relações.
Numa parte da sociedade, existem pessoas que até elogiam esse tipo de
suicidas, mas podemos afirmar que elas estão criando um mal, uma espécie
de pecado. Como prova, citamos o exemplo do Sr. Hidemitsu Tanaka, que se
suicidou há pouco tempo em frente ao túmulo do Sr. Dazai. Talvez ele tenha
feito isso pela admiração que este último lhe inspirava. Mas não foi apenas
ele. Mais tarde, do mesmo local de onde o Sr. Dazai se jogou - no alto do Rio
Tamagawa - dezenas de pessoas se atiraram também, o que nos deixa
pasmados. Também podemos citar o caso de Missao Fujimura, que há vários
anos se atirou da cascata de Kegon. Ainda hoje muitas pessoas seguem o seu
exemplo, o que é uma prova evidente daquilo que estamos dizendo.
A seguir, falarei sobre a intoxicação por meio de drogas como a heroína
e a cocaína, uma das principais causas dos suicídios da atualidade. O caso
requer uma grande reflexão. É preciso fazer as pessoas entenderem
perfeitamente que, embora elas comecem tomando pequenas doses, os
narcóticos vão lhes custar a vida, no futuro. Atualmente, as autoridades estão
percebendo a gravidade do problema e começaram a fazer proibições,
infelizmente tardias.
Aconselho especialmente aos jornalistas que não façam o menor elogio
ao suicídio; pelo contrário, frisem categoricamente que ele é um ato da maior
irresponsabilidade e covardia. Na verdade, do ponto de vista religioso, não se
deve criticar os mortos; mas, como eu estou advertindo sobre o mal
representado pelo suicídio com o objetivo de evitar novos suicídios, creio que
os espíritos daqueles que praticaram esse gesto também ficarão satisfeitos.
14 de janeiro de 1950

TEMPO

AGUARDAR O TEMPO CERTO


A minuciosa observação dos vários setores sociais mostra como é
grande o número dos fracassados.

251
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Se o fracasso representasse sofrimento apenas para o próprio indivíduo,


este poderia resignar-se, atribuindo a culpa à sua inexperiência e má sorte.
Mas não é assim; a família também é atingida, há prejuízo para parentes e
amigos, e o fato isolado acaba constituindo uma espécie de mal social.
Logicamente, a pessoa não tinha intenção de prejudicar ninguém; no entanto,
em decorrência de seu fracasso, muitas outras foram prejudicadas.
O problema não deve ser menosprezado. É preciso examiná-lo
profundamente, pois, quase sempre, sua causa reside em fatores que
passaram despercebidos.
De início, a pessoa concebe um plano, prepara-o cuidadosamente (pelo
menos imagina que está agindo assim), mas, quando se entrega à execução
da obra, as coisas não correm como pensava. Começam a surgir dificuldades e
obstáculos, que lhe impedem o discernimento e descontrolam suas
perspectivas de futuro. Essa é a trajetória habitual dos que fracassam.
Vejamos a causa de sua derrota.
Podemos resumi-la numa frase: eles não levaram em consideração o
tempo. Este, de modo geral, é um fator absoluto. Flores, frutos, produtos
agrícolas, tudo tem seu tempo certo. Mesmo que as condições sejam
favoráveis, se não forem levadas em conta as exigências da estação, isto é, do
tempo, não haverá bons resultados.
As flores silvestres desabrocham na primavera, porque seus bulbos são
plantados no outono; as flores dos jardins nos encantam do verão ao outono,
porque seus bulhos e sementes são plantados na primavera.
Os frutos também têm sua época de amadurecimento. Não podemos
sentir o seu sabor enquanto estão verdes; quando bem maduros, são
deliciosos. Mesmo os produtos agrícolas, têm seu tempo de amanho,
semeadura e transplantação. E devem estar de acordo com a terra e o clima.
Como vemos, a Grande Natureza ensina ao homem a importância do
tempo. Em seu estado original, ela é a própria Verdade, e por isso serve de
modelo a todos os projetos do homem. Eis a condição vital para o sucesso.
O Johrei, a Agricultura Natural e outros princípios preconizados por mim,
praticamente não fracassam; eles alcançam os objetivos almejados porque se
baseiam na Lei da Natureza.
Nunca me afobo quando planejo algo. Encaro o assunto com
objetividade, examinando-o sob todos os ângulos possíveis, e ponho-me a
refletir calmamente. Só me entrego aos preparativos indispensáveis, após me
convencer de que o plano é correto e útil à humanidade em todos os aspectos
e possui sentido duradouro.
Acontece que a maioria das pessoas não têm paciência para esperar.
Lançam-se à obra prematuramente, provocando desequilíbrio entre o projeto e
o tempo. Por se afobarem, aumentam esse desequilíbrio, e daí sobrevém o
fracasso. Portanto, em todos os empreendimentos, o essencial é ter paciência
para aguardar a chegada do tempo exato. As coisas possuem, infalivelmente,
uma ocasião propícia. Com toda razão dizem os velhos provérbios: "Se
esperarmos, teremos bom tempo para navegar", "A sorte se espera deitado" e
"Mire cuidadosamente para acertar o alvo".
Muita gente se impacientou com meu sistema. Houve quem me
apresentasse idéias e planos que, às vezes, eu prometia realizar. Como

252
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

tardasse a executá-los, as pessoas reclamavam ou estranhavam. Quanto a


mim, estava à espera do tempo adequado.
Os conhecidos aforismos "Agarre a oportunidade" e "Não perca a
ocasião", confirmam o que estou dizendo.
Sentimos que estamos diante da ocasião propícia, quando, preenchidas
todas as condições, passamos a sentir um forte impulso para executar o plano
imediatamente. Tudo se processará, então, com facilidade, devido ao
amadurecimento do tempo. Aguardando o tempo certo, estaremos poupando
esforços e todas as coisas correrão bem. Em resumo, devemos refletir bem
antes de agir. Por exemplo: se algo impede que uma pedra role morro abaixo,
mas tentarmos empurrá-la, despenderemos muita força. Entretanto, se
soubermos esperar pacientemente, o obstáculo irá sendo vencido pelo peso
da pedra. Com o tempo, até o empurrão de um dedo a fará precipitar-se. É o
que acontece com a oportunidade.
"Se o rouxinol não canta, esperarei até que ele cante". Esta frase foi dita
satiricamente por Ieyassu Tokugawa, o fundador da dinastia Tokugawa, a qual
governou o Japão durante trezentos anos porque ele soube dar tempo ao
tempo.
Creio que o que dissemos é suficiente para compreenderem a
importância do tempo. Nao Deguti escreveu: "Com o tempo nem Deus pode".
Isso resume admiravelmente a verdade da questão.
25 de junho de 1949

TEMPO É DEUS
Tudo que existe, inclusive o que se relaciona ao homem, é regido pelo
Tempo. A delimitação do apogeu e da decadência subseqüente, das mudanças
históricas, das definições do bem e do mal, da justiça e da injustiça, tudo está
subordinado a ele. Por esse motivo, o que agora é um bem daqui a alguns
anos poderá ser um mal, e aquilo que hoje é considerado verdade poderá ser
desprezado amanhã, por tornar-se falso. O passado nos mostra que as coisas
que atualmente estão no apogeu um dia infalivelmente entrarão em
decadência. Assim, pode-se dizer que não existe verdade nem mentira
absolutas, havendo mesmo um antigo provérbio que afirma que a justiça e a
injustiça são como se fosse uma coisa só. Ambos conceitos, sem qualquer
sombra de dúvida, são verdades.
Antes do término da Segunda Guerra Mundial, acreditava-se que não
havia nada superior ao amor e à lealdade à Nação e ao Imperador. Mas como
vivem, presentemente, aqueles japoneses que fizeram da vida um brinquedo?
O resultado foi completamente contrário ao que se esperava: eles vivem
agonizando sob trágico destino, de modo que o povo deve ter compreendido o
quanto eles estavam errados.
É claro que a reviravolta ocorrida no fim da guerra foi obra do Tempo. A
História não muito remota nos mostra outros exemplos. Com o advento das
inovações trazidas pela Era Meiji, todos os senhores feudais, assim como seus
lugares-tenentes e outros elementos da Era Tokugawa perderam suas
posições. Até o cargo de ministro de Estado foi assumido por um homem do
povo, quase desconhecido, o que lembra muito a situação atual. Mas como
deverá ser encarada a decadência das classes privilegiadas, como as famílias
imperiais, os nobres e os milionários? Naturalmente, como obra do Tempo.
253
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Segundo os ensinamentos da fundadora da Igreja Oomotokyo, "nem Deus


pode vencer o Tempo". Esta frase encerra uma profunda sabedoria e diz tudo.
Por isso pensamos não haver nenhuma inconveniência em afirmar que o
Tempo rege tudo o que existe sobre a Terra.
Pelas razões aqui expostas, não posso deixar de pensar que os homens
precisam ter muito mais interesse por essa categoria absoluta denominada
TEMPO.
25 de junho de 1949

A ALEGRIA, O TEMPO E A ORDEM


Todo trabalho realizado com espírito de alegria é feito com facilidade e
correção. Quando empreendemos alguma tarefa sem disposição, não só mal
percebemos o que estamos fazendo como também pouco progresso
alcançamos. Faço o meu trabalho com espírito de recreação com alegria e
sempre com disposição. Espero que os membros da nossa Igreja adotem esse
mesmo espírito em seus empreendimentos. Ele é bastante conveniente.
Muitas são as pessoas que nada vêem de errado ao expenderem
grandes esforços naquilo que fazem. Elas acham natural e chegam mesmo a
se envaidecer. Cada vez que trabalhei sem estar integrado completamente na
tarefa, disse a mim mesmo, ao notar que as coisas começavam a parecer
erradas: “É porque tenho tentado trabalhar arduamente”. Então, parava, e
fazia qualquer outra coisa. O exagerado esforço raramente dá bons resultados.
Quanto mais suave e facilmente procedermos, maior virá a ser a nossa
eficiência. O mesmo acontece na ministração do Johrei. Quando o Johrei for
ministrado com espírito de alegria, os seus resultados serão bons. E quanto
melhores forem os seus resultados, mais felizes nos sentiremos.
Outro fator importante a considerar é o tempo. Nenhum projeto deve ser
empreendido prematuramente. Se nos parecer que o tempo adequado ainda
não chegou, devemos saber esperar, pois a despeito de sua possível
importância, o projeto não poderá funcionar facilmente.
Ainda um outro aspecto que muito afeta o resultado de nossos
empreendimentos é a ordem. Podemos iniciar um plano supondo que tudo já
foi bem considerado e que a sua realização não terá impedimento. Mas, no
entanto, contrariando a nossa expectativa, poderemos encontrar obstáculos.
Procurando refletir sobre o caso, verificaremos não termos procedido na
devida ordem. Desde que a Lei da Ordem seja obedecida, tudo marchará
suavemente.
A Inteligência da Percepção Verdadeira (Tie Shokaku) é da maior
importância, pois ela afeta grandemente o resultado de todo empreendimento.
Aqueles que alcançaram tal percepção vão rapidamente ao ponto vital das
coisas.
Consideremos o Johrei. Quando os seus resultados não são
encorajadores, o motivo deve repousar na postura com a qual ele foi
ministrado ou recebido. Talvez o espírito de prece esteja faltando naquele que
o ministrou. Talvez esteja sendo ministrado a uma pessoa cuja família se opõe
ao recebimento do Johrei. Então, a atuação da Luz será mais fraca, pois a
atitude de recusa, mesmo se apenas uma pessoa, pode modificar os seus
resultados. Os elos espirituais que ligam os membros de uma família sempre
são fortes e exercem poderosa influência.
254
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Depois que o correto discernimento é atingido, os verdadeiros motivos


das coisas que acontecem são projetados na mente da pessoa, como um
espelho claro e límpido.
O Johrei e os Ensinamentos constituem o melhor caminho para a limpeza
e clareza do espelho da mente. Muitas vezes, a pessoa, para a sua surpresa,
na leitura destes Ensinamentos, vem a encontrar uma profunda sabedoria e a
receber uma nova inspiração. Isto é devido ao fato que, inicialmente, o
espelho de sua mente estava enevoado, mas à medida que o seu corpo
espiritual for sendo purificado, o significado mais profundo dos Ensinamentos
emerge.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”

APRIMORAMENTO

A PARÁBOLA DA ESPADA
Antigamente, para se fazer uma boa espada, era necessário esquentar o
aço até a incandescência, batê-lo com martelo, sobre uma bigorna, e, a seguir,
colocá-lo na água. Repetia-se várias vezes essa operação, isto é, caldeava-se e
batia-se o aço em brasa, mergulhando-o, depois, na água.
O interessante é que esse princípio também se aplica à vida humana. A
divulgação da nossa Igreja, com o decorrer do tempo, encontrou várias críticas
e obstáculos, isto é, contratempos e ataques, para, em seguida, receber
elogios e louvores. Experimentamos, portanto, do fogo escaldante ao
mergulho na água fria.
Muitas vezes me perguntam: "Por que ocorrem fatos tão contrastantes?"
Para essas perguntas eu dou como resposta o exemplo do caldeamento da
espada, e as pessoas compreendem bem.
Desde os tempos mais remotos, quem executa uma obra fora do comum
não só recebe louvores, mas também perseguições, oriundas do despeito. É
nessa luta, porém, que reside o mérito de alcançarmos fortalecimento. É como
a espada, que só adquire todas as qualidades graças à alternância do
caldeamento e esfriamento e às fortes marteladas sobre a bigorna. Analisando
sob o aspecto religioso, significa que Deus impõe maior sofrimento a quem
tem maior missão, o que não deixa de ser motivo de alegria.
1949

BECO SEM SAÍDA


Tanto os descrentes como os religiosos vivem a falar em crise. Isso
demonstra que eles desconhecem a realidade das coisas.
Se é a crise que abre caminho para o progresso, ela deixa de ser crise.
Podemos compará-la à pausa para tomar fôlego, na corrida, ou aos nós do
bambu. As varas do bambu se mantêm firmes devido à formação de nós no
curso de seu desenvolvimento; se lhes faltassem nós, não apresentariam sua
conhecida resistência. Quanto mais nós tem o bambu, mais forte ele é.
A natureza é sempre um bom exemplo. Observá-la minuciosamente
facilita a compreensão da maioria das coisas.

255
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Falávamos em crises que surgem naturalmente. Entretanto, existem


muitas pessoas que entram em crise por falta de sabedoria e de capacidade
para prever o futuro. Elas criam para si mesmas crises artificiais; ficam
desnorteadas quando entram num beco sem saída. Aconselho que todos
atentem bem para este assunto, porque terão nele boas inspirações nos
momentos críticos. Basta descobrir a falha que motivou a crise.
O homem precisa polir constantemente a sua inteligência. É por isso que
os Ensinamentos devem ser lidos tantas vezes quanto possível.
29 de outubro de 1952

DÚVIDA
A palavra "dúvida" não soa muito bem aos nossos ouvidos. Entretanto,
representa o que há de mais importante. Com efeito, a dúvida pode ser
considerada a mãe da civilização, pois foi ela que deu origem às novas
filosofias, às novas doutrinas, assim como também à Ciência. O chinês Chu-tzu
disse: "A dúvida é o princípio da crença." De fato, entre as muitas palavras
que, desde tempos antigos foram ditas a esse respeito, estas são bem
significativas.
Eis alguns exemplos de dúvida: Por que razão a Igreja Messiânica
Mundial, uma religião nova, expandiu-se tanto em tão pouco tempo? Por que
será que acontecem os maravilhosos milagres que são relatados nas
Experiências de Fé? Como se explica que a construção do protótipo do Paraíso
Terrestre, cujo grandioso plano é absolutamente inédito, esteja conseguindo
dar passos cada vez mais firmes?
É natural que surjam semelhantes dúvidas; contudo, duvidar apenas não
significa nada. Se as pessoas se dispõem a encontrar a chave desses
mistérios, aí sim, a dúvida se torna realmente válida, pois, com tal
procedimento, elas entenderão a Verdade e aumentarão seu discernimento.
Aqueles que sempre têm dúvidas são pessoas progressistas, e seu futuro é
brilhante. Existem, porém, alguns que não têm sorte e que, embora sintam
dúvidas, não encontram o lugar onde lhes possa ser mostrada a Verdade. Por
essa razão, ficam perdidos a vida inteira, acumulando dúvidas em cima de
dúvidas. Podemos dizer que isso acontece com a maioria das pessoas, e entre
elas deve haver algumas que fazem pouco caso das verdades pregadas pela
nossa Igreja, deixando-as passar despercebidas. São criaturas infelizes.
Ao pensar em todos aqueles que, cheios de dúvidas, chegaram à Igreja
Messiânica Mundial e estão sendo salvos, vivendo atualmente banhados de
alegria, concluímos que nada é mais construtivo que a dúvida. Assim, creio
que puderam entender que, se o homem não tiver capacidade de duvidar, ele
é um ser imprestável. Portanto, é necessário ter a coragem de esclarecer as
dúvidas.
21 de março de 1951

LIBERTAÇÃO
Fala-se em libertação, mas não é fácil defini-la como algo bom ou mau.
De acordo com a idéia geral, libertar-se significa sair de um estado de
confusão e obter Iluminação, desapegar-se, ou ter desprendimento. Expressão
muito usada no budismo, soa como fuga ou isolamento, e é um conceito
característico dos orientais.
256
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Em termos de prática cotidiana, há uma redução da atividade material à


medida que aumenta a Iluminação. Isto é, perde-se o espírito de competição e
os países entram em decadência. Exemplo disso é a Índia.
Geralmente, o homem tem entusiasmo pela vida graças à ilusão, mas o
excesso de ilusões é perigoso. A resignação enfraquece o ritmo das atividades,
mas a falta de resignação também gera tragédias, principalmente quando se
trata do relacionamento amoroso. Portanto, a renúncia total é pouco
aconselhável, porque elimina o sabor da vida. A pessoa se torna solitária, vive
como se fosse um corpo sem alma.
Refletindo sobre o que acabamos de expor, logo percebemos que todo
exagero é prejudicial. É bom ter noção de limites. Este mundo é realmente
difícil e interessante; doloroso e agradável. Mal podemos distinguir as
fronteiras da alegria e do sofrimento.
Creio que o homem deve se desapegar no momento adequado, e insistir
quando o caso merece ser levado adiante. Quando procura forçar a situação, a
pessoa fica indecisa, e esta indecisão mostra que ainda não é o momento
propício e que é preciso esperar o tempo certo, de acordo com o tempo,
circunstância e nível. O fundamental é saber ceder às circunstâncias,
descobrindo os meios mais convenientes de agir. Isso exige Inteligência
Superior. Ela é que gera a capacidade de correto discernimento, a qual
aumenta na medida em que diminuem as máculas do espírito.
O essencial, portanto, é eliminar as máculas espirituais, o que requer
sinceridade. E a sinceridade nasce da fé. Aquele que aceitar e praticar este
princípio, será considerado homem íntegro.
25 de janeiro de 1951

INSTINTO E ABSTINÊNCIA
Segundo a tese do famoso filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o ser
humano possui, desde o nascimento, vários instintos que lhe é quase
impossível dominar, parecendo uma predestinação à qual ele está sujeito. À
primeira vista, a teoria nos satisfaz; entretanto, explicada apenas nesses
termos, ela seria uma forma de admitir a imoralidade, o que é um pensamento
um tanto perigoso. Os intelectuais poderão admiti-la como tese digna de
estudos, mas nós, religiosos, de forma alguma poderemos aceitá-la.
Existem teorias completamente contrárias à de Nietzsche, as quais vêm
sendo praticadas desde épocas antigas. Algumas religiões, por exemplo, têm
uma visão pecaminosa sobre os instintos. Por esse motivo, seus seguidores
fazem abstinências extremamente rigorosas, achando que esse sofrimento é
uma prática sagrada e até um meio de aprimoramento pessoal. Quanto a nós,
não só discordamos de tal prática, como também achamos que as religiões
que a adotam não se integram na sociedade, permanecendo isoladas. Entre os
mais expressivos exemplos desse tipo de Fé, podemos citar o islamismo, o
bramanismo da Índia e o puritanismo cristão. No Japão ainda existem algumas
religiões com essas características, mas poucas.
Comparando a tese de Nietzsche com a das religiões citadas - teses que
se opõem entre si - não podemos optar por nenhuma, pois elas tendem para o
extremismo. Parece-nos muito fácil perceber esse erro, mas a maioria das
pessoas não consegue percebê-lo, ou não o leva em consideração. Em relação
a isso, Deus nos indica um rígido padrão. É a "Teoria do Caminho do Meio", de
257
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Confúcio. Como tenho feito muitas explanações sobre o assunto, enfocando-o


sob as mais variadas formas, creio que os fiéis já devem conhecê-lo. Todavia,
como disse aquele filósofo, "falar é fácil, fazer é difícil". A "Teoria do Caminho
do Meio", em verdade, é uma das bases que constituem o verdadeiro caminho
da Fé. A Iluminação pregada por Sakyamuni também está ligada a ela. Vou
procurar explicá-la da maneira mais simples possível.
Em primeiro lugar, darei um exemplo que pode ser facilmente
compreendido, tomando por termo de comparação as estações do ano.
Ninguém gosta do rigoroso frio do inverno nem do calor excessivo do verão,
mas todos acham extremamente agradável a temperatura moderada da
primavera e do outono. É natural, portanto, que, nessas estações, as pessoas
sintam alegria. Como ilustração, direi apenas que, desde seus primórdios, o
budismo realiza uma atividade muito importante nessa época do ano - o
"Higan-E"-porque a temperatura está mostrando o estado real de "Gokuraku
Jodo", o mundo puro e paradisíaco dos budistas. Mas deixemos isso de lado. O
que eu estou querendo falar é sobre o mundo em que vivemos. Nele também
é imprescindível evitar os extremos e os excessos. A verdade, porém, é que o
homem tem propensão a optar por um lado ou pelo outro, o que é um
comportamento errado. A causa dos fracassos geralmente reside nisso. Há
coisas, no entanto, que precisam ser decididas, mas sua escolha e dosagem
são pontos realmente difíceis. Falando com mais profundidade, quando a
pessoa pensa em não decidir, na verdade já está tomando uma posição. Por
conseguinte, não podemos fazer definições nem deixar de fazê-las, mas nem
por isso devemos abster-nos de ficar no meio-termo. É uma situação bastante
ambígua, entretanto é a rigorosa Lei Divina; é ela que torna o mundo
interessante. Com isso, quero dizer que as pessoas precisam alcançar o estado
espiritual de "livre adaptação à situação do momento", isto é, elas não devem
prender-se a nada, por motivo nenhum.
Com a política e as idéias contemporâneas ocorre o mesmo. Os erros
nascem das posições definidas - esquerda ou direita, capitalismo ou
comunismo. Com essa definição, está se estabelecendo um limite e,
decorrência disso, os choques serão inevitáveis. Algo que hoje parece
insignificante, um dia poderá dar origem a desentendimentos. É esta,
portanto, a razão da existência de conflitos em toda parte. Mesmo nas
relações internacionais, os desentendimentos não têm fim. Esses choques
foram inevitáveis até hoje porque graças a eles é que a cultura material
progrediu. Contudo, uma vez que daqui em diante a situação será
diametralmente oposta, é necessário haver uma mudança de pensamento.
A era da verdadeira civilização está se aproximando; assim, é preciso
caminharmos tomando como padrão a temperatura do "Higan-E", a festa
budista. Esta é uma das características básicas da Igreja Messiânica Mundial.
24 de dezembro de 1952

ABSTINÊNCIA
A Natureza e tudo que nela existe, foram feitos para o homem: as flores
da primavera, os bordos do outono, o cantar dos pássaros e dos insetos, a
beleza das montanhas e dos lagos, as noites de luar, as fontes de águas
termais... Pensemos no porquê de tudo isso.

258
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Que poderá ser senão a Providência Divina, proporcionando alegria aos


homens? Belíssimos cantos, bailados, obras literárias e artísticas em geral,
enchem de alegria seus realizadores, como também seus ouvintes ou
apreciadores. Alimentos deliciosos, primorosas construções arquitetônicas,
jardins, vestimentas, além de suprirem as necessidades da vida humana,
contêm elementos para realmente nos comprazer. O corpo se nutre e a vida é
preservada com os alimentos que saboreamos. Se as nossas roupas e
residências servissem unicamente para o indispensável, nunca iriam além de
um aspecto vulgar. Na geração dos filhos, também, visa-se algo mais que uma
simples necessidade.
Desde que o Altíssimo concedeu ao homem o instinto para alegrar-se
com a Natureza e com tudo o que ela lhe possa proporcionar, devemos aceitar
esse prazer. A abstinência que nega tal alegria e contenta-se com o mínimo
necessário para a subsistência, vai contra as graças de Deus.
Por outro lado, a pobreza do amor ao próximo entre os homens
privilegiados leva-os a julgar que os prazeres se destinam unicamente a eles e
aos seus familiares. A indiferença que eles têm pelos seus semelhantes e a
falta do desejo de compartilhar da alegria de todos, revelam como esses
homens são destituídos do espírito de fraternidade. Isso significa querer
monopolizar as graças de Deus. Creio que os milionários, franqueando seus
jardins ao povo, expondo seus objetos de arte e participando da alegria geral,
praticariam um ato que corresponde à Vontade Divina.
Paraíso Terrestre, portanto, é um mundo onde há progresso na vida de
toda a humanidade e grande desenvolvimento das artes e demais prazeres de
caráter elevado. Como a Verdade, o Bem e o Belo significam respectivamente,
o que não é falso, o que é justo e o que é bonito, numa vida de abstinência há
o Bem, mas não há Verdade nem Belo. Além disso, a abstinência poderá até
ser obstáculo ao progresso da cultura. A decadência de certos países que
outrora possuíram uma alta civilização, pode ser atribuída ao fato de seu povo
ter levado a vida espiritual ao extremo.
25 de janeiro de 1949

APRECIAÇÃO DAS VIRTUDES


Se atentarmos para a preferência que as pessoas demonstram pelos
maus divertimentos, veremos que a palavra "divertimento", para muitos, é
quase sinônimo de "mal".
Quando alcançam estabilidade financeira, a maioria dos chefes de
família passam a freqüentar lugares suspeitos e a sustentar amantes. As
despesas que isso acarreta são pagas, geralmente, com dinheiro ganho de
forma ilícita. Obviamente, essas práticas se enquadram no mal. Tais
indivíduos, a par dos riscos que correm nos ambientes freqüentados, perdem a
tranqüilidade no lar, causam preocupação aos familiares e não vivem felizes.
Julgam que êxito e divertimento são o objetivo da vida na Terra e aos poucos
se afundam num inferno. Quase sempre pertencem à classe acima da média e
são considerados pelos mais humildes como protótipos de vida ideal; são
invejados pelos que se iludem com as aparências. Isto gera uma legião de
imitadores, e assim a sociedade se afunda cada vez mais.
Fazem-se comentários sobre o lucro ilícito dos funcionários venais, a
ganância excessiva dos assalariados desonestos e a renda fraudulenta dos
259
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

políticos. Contam-se pelos dedos os que não têm de que se envergonhar


perante a Terra e o Céu. Os fatos mostram que os bons vivem humildemente,
enquanto que os perversos, se são audaciosos, triunfam e ostentam padrões
luxuosos de vida. Esta é a origem do conhecido ditado: "O homem honesto
sempre sai perdendo".
Meu propósito é orientar o homem da atualidade sobre a apreciação das
virtudes. Concretamente, virtude significa não freqüentar locais suspeitos,
investir fundos em prol da comunidade, ajudar os pobres, servir às boas
causas e professar a Fé. Também significa divertir-se na companhia dos
familiares, assistindo a sadios espetáculos cinematográficos e teatrais e
participando de excursões e viagens. Tal modo de vida une os membros da
família: a esposa respeita o marido e lhe agradece os cuidados; os filhos são
resguardados do mau caminho; a preocupação financeira diminui; preserva-se
a higiene e estimula-se a saúde. São estas coisas que asseguram vida longa,
dias alegres e boa disposição de espírito.
O famoso milionário Kihatiro Okura, da Era Meiji, afirmou: "Se quiserem
ter vida longa, não façam dívidas". É algo que eu também recomendo, pois,
durante vinte anos, as dívidas foram motivo de grande sofrimento para mim.
Há homens que ferem a lei, realizam negócios obscuros, ocultam
atividades que eventualmente podem indispô-los com suas esposas, devem a
agiotas e por isso vivem num angustioso clima de incertezas. Como fuga,
buscam alívio na bebida. Eis por que é enorme o consumo de bebidas
alcoólicas, não obstante seu alto preço. Ora, tudo isso afeta a saúde e encurta
a vida, que se torna uma escravidão sob o jogo dos vícios, do qual é difícil a
pessoa se libertar. A única saída é seguir uma verdadeira Religião.
Dei, acima, vários exemplos do bem e do mal. Quem aprecia o vício?
Meus leitores, entre o vício e a virtude, qual escolher? Peço que reflitam.
25 de janeiro de 1949

SUBJETIVISMO E OBJETIVISMO
É tendência do ser humano prender-se aos seus próprios pontos de vista;
isso acontece com mais freqüência entre as mulheres. Trata-se de uma
tendência altamente perigosa, porque aquele que sustenta inflexivelmente as
próprias opiniões, considerando-as verdadeiras, julga o próximo baseando-se
nelas, de modo que as coisas não acontecem como se esperava. Geralmente
essas pessoas torturam a si mesmas e aos seus semelhantes.
É necessário que o homem aprenda a se analisar objetivamente, isto é,
crie em si uma "segunda pessoa" que o veja e critique. Tal prática lhe evitará
muitos problemas.
O Sr. Ruiko Kuroiwa, ex-diretor do antigo jornal Yorosutyoho e famoso
tradutor de romances, também cultivava a Filosofia. Fui ouvinte assíduo de
suas palestras. Citarei um trecho que ouvi e muito me impressionou: "Todo
homem nasce mesquinho. Para aperfeiçoar-se, deve cultivar uma segunda
personalidade, ou seja, nascer pela segunda vez." Estas palavras ficaram
gravadas na minha mente e me esforcei no sentido de colocá-las em prática
na minha vida, o que me trouxe muitos benefícios.
18 de março de 1950

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

HONESTIDADE E MENTIRA

HONESTIDADE E MENTIRA
É melhor ser franco ou não ser franco? É claro que a franqueza é o
melhor caminho. Entretanto, as coisas não são tão simples assim. Há ocasiões
em que precisamos ser francos e outras em que não devemos sê-lo. As
pessoas que conseguem distinguir tais situações são consideradas
inteligentes, ou sábias. Quando temos de escolher entre uma situação e outra,
devemos, tanto quanto possível, ter como norma a franqueza. Todavia, se esta
for totalmente impraticável, como, por exemplo, quando visitarmos um doente
desenganado, somos forçados a omitir a verdade. Ainda que estejamos
contrariando a nossa vontade, esse é o melhor procedimento. Na sociedade,
existem muitas pessoas de larga vivência que não gostam de usar de
franqueza. Observando o mundo, constato que essa é a causa de inúmeros
fracassos. Todavia, é difícil falharmos quando agimos de modo contrário.
30 de agosto de 1949

O HÁBITO DA MENTIRA
Entre as várias espécies de hábitos, existe um, pouco percebido, que é o
da mentira. O homem moderno mente demais, baseando-se na idéia errônea
de que será bem sucedido. A maioria, acostumada a esse mau hábito, nem
sequer toma consciência de que está mentindo. Quando isso ocorre com os
meus subalternos, costumo chamar-lhes a atenção, mas muitos deles parecem
ter perdido a noção da diferença entre a verdade e a mentira. Só percebem
haver mentido e pedem desculpas depois de eu lhes ministrar uma lição bem
clara a respeito. O hábito faz com que o povo moderno se perca, incapaz de
distinguir os limites entre a mentira e a verdade.
Deixarei de lado as mentiras inconseqüentes, que não merecem análise
especial, para cuidar das maiores, mais graves, por serem conscientes e
premeditadas. Entre elas, começaremos por analisar as mentiras proferidas
pelos políticos. Estes, muitas vezes, são censurados por deixarem de cumprir
as promessas de uma boa política e planejamento, feitas durante pomposas
propagandas eleitorais. Há, também, muitos parlamentares que desprezam os
compromissos assumidos com os seus eleitores, julgando essa atitude
perfeitamente normal. Existem educadores cujos atos contradizem a grandeza
de suas palavras, e é comum os jornais publicarem artigos de caráter
duvidoso. As propagandas exageradas não constituem exceção.
Os impostos representam o maior problema. É uma competição de
mentiras, entre fiscais e contribuintes, de caráter sumamente complicado e
desagradável. Há médicos que mentem, dando esperanças a pacientes
incuráveis. Também desaprovo os bonzos que fazem uso freqüente das
"mentiras de ocasião". As conhecidas táticas empregadas pelos comerciantes
são mentiras aceitas pelo público. Com estas variedades, embora resumidas,
podemos afirmar que o mundo é um complexo de mentiras.
Talvez achem incrível o fato de um promotor mentir, mas isso acontece
de vez em quando. A prova se evidencia no notável esforço que o Ministério
Público vem empregando, baseado em suposições, para criar criminosos,
desde a ocorrência de um caso até o julgamento final. Sempre que isso se
repete, penso insistentemente no motivo de tanto interesse em culpar
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

cidadãos inocentes. É realmente um enigma, para o qual não existe


explicação. A profissão de promotor exige a condenação de um criminoso, mas
a condenação de um inocente foge ao nosso raciocínio. É difícil saber
prontamente se um suspeito é ou não responsável por um crime, mas creio ser
possível distinguir o branco do preto, após uma breve investigação.
O desejo de mentir pe do pensamento otimista segundo o qual é
impossível a mentira vir à luz. A teoria da inexistência de Deus favorece o
argumento de que a mentira perfeita é sinal de inteligência - o que constitui
um erro gravíssimo, a existência de Deus é uma realidade, e a mentira,
mesmo bem pregada, é passageira, estando sempre sujeita a ser descoberta.
Isso acarreta um grande prejuízo a quem mente, porque, contrariando seu
objetivo primordial, a pessoa se expõe à vergonha de ter o seu crédito
destruído e ser-lhe imposto um castigo. O mentiroso pensa que Deus não
existe, simplesmente porque Ele é invisível. Neste ponto, iguala-se aos
selvagens, que não acreditam na existência do ar porque não o vêem. Pobre
homem civilizado, completamente mergulhado no hábito da mentira!
5 de setembro de 1951

GANANCIOSOS SEM GANÂNCIA


Quando observo a sociedade atual, constato que existe um grande
número de gananciosos. Entretanto, embora possa parecer estranho, não são
pessoas verdadeiramente gananciosas, porque buscam apenas o sucesso
momentâneo, não percebendo que mais tarde só terão prejuízos. Dizem
mentiras bem arquitetadas, mas, como a mentira é sempre desmascarada,
acabam perdendo totalmente a confiança dos outros. Quanto mais hábil for o
mentiroso, mais tempo levará para ser descoberto. Por isso, durante algum
tempo, ele pode pensar que teve vantagens; no entanto, a verdade sempre
vem à tona. Criaturas assim enganam-se ao julgar que nunca serão
desmascaradas e por esse motivo não se corrigem, continuando a enganar o
próximo. Obviamente, são materialistas, não acreditam na existência de Deus.
Quando são descobertas, é o seu fim: toda a confiança que nelas se
depositava cairá por terra. Com isso terão perdas incalculáveis, pois ninguém
mais lhes dará atenção.
Em tais ocasiões, fico com pena dessas pessoas e ponho-me a pensar
que, se elas tivessem agido honesta e corretamente desde o início, agora
seriam merecedoras de crédito e estariam obtendo grandes lucros, ao invés
das vantagens efêmeras que tiveram. Com esse procedimento, elas mostram
não ser gananciosas de fato. A maioria dos indivíduos que estão em apuros
por causa de dinheiro ou cujos empreendimentos não vão bem, são pessoas
gananciosas, mas do tipo sem ganância.
Quaisquer que sejam as circunstâncias, o homem deve conquistar, em
primeiro lugar, a confiança de todos. Não há riqueza maior. Da riqueza
chamada confiança surgem "juros" sem limites, e mesmo que, socialmente,
lhes faltem recursos, os "ricos" desta ordem nunca ficarão em má situação. Por
esse motivo, enquanto as pessoas não crerem na existência de Deus, nada há
de dar certo com elas. Para isso, só há um caminho: a fé. Aqueles que a têm,
são possuidores de um tesouro sem limites e, além de verdadeiramente
felizes, são criaturas da ganância mais autêntica.
11 de fevereiro de 1950
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

COMO IDENTIFICAR O HOMEM MAU


Durante longo tempo, tive contato com vários tipos de pessoas. Desse
contato, concluí que, para viver, o mais importante é saber diferenciar o
homem bom do homem mau, principalmente por existirem muitos
chantagistas ultimamente, cada qual possuidor de características particulares.
Vejamos.
Em primeiro lugar, os homens maus são incrivelmente "hábeis" no falar.
Muitas vezes fico deslumbrado com essa habilidade, mas me acautelo contra
ela. Nesse ponto, é difícil encontrarmos exceções. Em segundo lugar, eles
falam muito alto e são persistentes. Outra coisa contra a qual nos devemos
acautelar é que alguns nos pressionam, e outros, ao contrário, agem com
gentileza, o que é muito curioso.
Em geral, imaginamos que as pessoas perversas têm aspecto horrendo,
mas, na maioria das vezes, acontece o contrário, ou seja, elas se mostram
bastante gentis e afáveis. De fato, pensando bem, veremos que, se os
chantagistas tiverem "face de bandido", as pessoas se acautelarão e por isso a
possibilidade que eles têm de sucesso será pequena; entretanto,
apresentando uma face delicada, será mais fácil ludibriar os incautos.
Agora falarei sobre o homem bom. Pela minha longa experiência,
observei que, ao contrário dos homens maus, a maioria dos homens bons não
é "hábil" no falar, mas seus trabalhos apresentam bons resultados. Isso é
muito natural, pois uma pessoa que consegue enganar os outros por saber
falar com habilidade, começa, instintivamente, a viver enganando o próximo,
ao passo que quem não tem essa habilidade, não consegue enganar ninguém
e por isso tenta obter bons resultados através do próprio esforço.
9 de julho de 1949

A RESPEITO DAS DÍVIDAS

A CAUSA DA POBREZA
O objetivo da nossa Igreja é construir um mundo isento de doença,
pobreza e conflito. Quanto às questões relacionadas à doença, tenho a
impressão de já tê-las examinado e explicado detalhadamente, sob todos os
ângulos; não obstante, pretendo continuar dando esclarecimentos a respeito,
pois se trata da medicina indicada por Deus. Agora, porém, falarei sobre o
problema da pobreza.
A pobreza é decorrente da perda da saúde. Contudo, existem outras
causas importantes. Além de não poder trabalhar, por causa da doença, a
pessoa tem de gastar muito dinheiro com tratamentos médicos. Se for pouco
tempo, ainda é suportável, mas, quando a doença se prolonga por um longo
período, acarreta desemprego. Assim, o sofrimento causado pela doença é
acrescido das dificuldades financeiras, de modo que a pessoa, com seu
sofrimento duplicado, fica envolvida pelas escuras nuvens da intranqüilidade
em relação ao futuro, não conseguindo ir nem para frente nem para trás.
Podemos dizer que esse sofrimento é um verdadeiro inferno.
Por toda parte existem inúmeras criaturas em tal situação. Esses
infelizes, ao conhecerem a nossa Igreja, logo conseguem vislumbrar a luz da

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

esperança em relação ao futuro e sair do inferno em que vivem, começando a


ter uma vida alegre. São exemplos concretos, que podem ser vistos em
quantidade nas Experiências de Fé.
A maior parte dos casos de pobreza podem ser solucionados dessa
forma. Mas, aprofundando um pouco mais, abordarei outro aspecto
importante. Para tanto, relatarei minha experiência sobre o assunto, com a
qual desejo ensinar o segredo da solução definitiva do problema.
Quando eu era jovem, apesar de ser ateu, sempre tive o desejo de
melhorar a sociedade. Achando que, para isso, não havia meio mais eficaz do
que uma empresa jornalística, fiz várias pesquisas e fiquei sabendo que,
naquela época, precisaria de mais ou menos um milhão de ienes. Ora, eu sou
de família pobre e só pude me casar e ter um lar graças à pequena soma em
dinheiro que me foi presenteada por meus pais. Abri, então, uma lojinha de
miudezas a varejo, a qual tinha uma largura de 2,70 m. Como os resultados
foram bons, em pouco mais de um ano comecei no comércio por atacado e,
aproximadamente dez anos depois, era considerado um bem-sucedido na
vida; meus bens somavam o equivalente a cento e cinqüenta mil ienes
daquela época (1919). Precipitando-me em conseguir logo a quantia
necessária para a abertura da empresa jornalística, estendi demais a mão, de
modo que acabei falindo, com dívidas até o pescoço. Conseqüentemente, tive
de desistir da idéia de abrir a empresa.
Desesperado, recorri à Religião. Durante mais ou menos vinte anos,
passei por inúmeros percalços e dificuldades, tendo sofrido muito por causa de
vultosas dívidas. Agora, entretanto, vejo que tudo isso constituiu a minha
prática ascética. Em geral, os religiosos se isolam nas montanhas, banham-se
em cascatas e fazem jejum, mas acho que a minha prática foi muito mais
difícil e sofrida. E não foi apenas uma ou duas vezes que me vi afundando em
problemas financeiros. Vou revelar a "filosofia da pobreza", que adquiri nessa
época, através do estado de Iluminação.
Além da doença, a causa da pobreza são as dívidas. Cheguei à conclusão
de que, se não as contrairmos, jamais ficaremos pobres. Ora, quando se toma
dinheiro emprestado, inevitavelmente chega o dia em que se tem de pagar a
dívida. Entretanto, ainda que se disponha do dinheiro suficiente, geralmente a
data determinada para o pagamento é adiada. Aí está o desencontro. Quando
se faz uma dívida, correm juros todos os dias, sem falhar um só, até que ela
seja liquidada completamente. Por conseguinte, ainda que a pessoa tenha
calculado um lucro considerável, subtraindo-se os juros, quase não haverá
lucro. Além do mais, a dívida provoca uma constante intranqüilidade espiritual,
e, nesse estado, a inteligência se atrofia, sendo impossível surgirem boas
idéias.
As dívidas são a causa da maioria dos fracassos ocorridos na sociedade,
e da maioria dos casos de pobreza. Eu, que despertei para essa realidade,
sempre digo às pessoas: "Se você tiver cem mil ienes, empregue num negócio
apenas um terço dessa quantia, isto é, trinta mil ienes". Esse
empreendimento, à primeira vista, parece pequeno, mas, com o passar do
tempo, tornar-se-á grande. Caso haja um fracasso, a pessoa poderá começar
tudo novamente, com outros trinta mil ienes e um novo método, pois já tem
experiência do fracasso. É assim que a maioria começa a percorrer o caminho
do sucesso. Ocorrendo outro fracasso, ainda restarão à pessoa os últimos
264
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

trinta mil ienes; se ela fizer nova tentativa, é certo que desta vez será bem
sucedida.
A maior parte das pessoas, no entanto, se tiverem cem mil ienes,
começam empregando essa quantia toda; às vezes até fazem empréstimo de
mais cinqüenta mil. Assim, começam com cento e cinqüenta mil, o que é
realmente uma aventura. Se o empreendimento falhar, é natural que elas
recebam um golpe fatal, do qual nunca mais conseguirão se recuperar.
Todavia, se as pessoas agirem como eu faço, haverá um superávit monetário.
Por isso, quando aparecem negócios pouco dispendiosos ou de lucro certo,
deve-se entrar logo em ação. Ao contrário, quando a pessoa está com todos os
seus recursos empatados, muitas vezes pode surgir um imprevisto na hora do
pagamento, obrigando-a a deixar passar o prazo determinado. Com isso, a
confiança que depositaram nela diminui. Se há uma reserva de dinheiro, ela
sempre pode cumprir com a palavra no prazo do pagamento e, assim, ganhar
maior crédito. É dessa forma que se obtêm grandes lucros.
Darei maiores exemplos sobre o assunto.
O principal motivo da derrota do Japão na última guerra foi a política de
empréstimos. Parece que quase ninguém percebe esse fato, mas é preciso que
se atente bastante para ele.
Até o início da guerra, o Japão veio aumentando suas importações a
cada ano. Como as dívidas se avolumavam, foi necessário fazer novos
empréstimos para pagá-las. Com esses empréstimos, o país aumentou seu
poderio militar, expandiu seu território e cada vez estendeu mais suas mãos
para invadir outros países. Naturalmente, além de empréstimos externos,
também se fizeram empréstimos internos, de modo que o Japão acabou
expandindo a política das dívidas públicas até o fim dos limites. Os prejuízos
que a Ferrovia Nacional está sofrendo, atualmente, também são herança dessa
política. Caso não a tivessem adotado, talvez não surgissem pessoas
ambiciosas, ávidas de invasões. E mais: a cada ano o comércio aumentaria as
exportações, e, sem dúvida alguma, o Japão estaria numa ótima situação. Em
conseqüência, a cultura de cunho pacífico expandir-se-ia amplamente, a moral
do povo se elevaria e seríamos uma nação feliz, invejada pelo mundo inteiro.
Além disso, o país poderia importar com facilidade tudo quanto precisasse em
matéria de alimentos, dando aos demais países uma sensação de paz e
tranqüilidade em relação ao seu povo. Como resultado, as nações possuidoras
de grandes territórios receberiam com muito prazer os imigrantes japoneses, e
tornar-se-ia desnecessário o controle da natalidade.
Se a política de empréstimos de uma nação tem essas conseqüências,
nos casos particulares acontece o mesmo. Acredito que, através de minhas
palavras, compreenderam o método que deve ser empregado para solucionar
o problema da pobreza.
30 de junho de 1949

A RESPEITO DAS DÍVIDAS


Como tenho dito várias vezes, durante longo tempo sofri por causa das
dívidas, e posso dizer que não há nada mais horrível. Talvez todos passem por
essa experiência, pois, quando se contrai uma dívida, é muito difícil saldá-la.
Ao fazer um empréstimo, a pessoa pensa em pagar o mais rápido
possível, mas, ainda que consiga o dinheiro suficiente, é próprio do ser
265
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

humano não fazê-lo tão facilmente. Pensando em empregar esse dinheiro, ela
deixa o tempo correr, acreditando que poderá pagá-lo depois de lucrar mais
um pouco. Assim, arranja pretextos que lhe convêm. Se, por felicidade, a
pessoa consegue pagar a dívida assim que obtém a quantia suficiente, ganha
a confiança daquele que lhe emprestou o dinheiro, o qual se mostra disposto a
conceder-lhe novo empréstimo. Então, ela pede mais dinheiro, elevando a
quantia.
O dinheiro nunca entra de acordo com o previsto, mas sempre sai de
acordo com o estabelecido, e é por isso que não se consegue devolvê-lo no
prazo estipulado. Uma vez aprisionada pelas dívidas, não é fácil a pessoa
desvencilhar-se delas; por fim, torna-se um hábito pedir dinheiro emprestado.
Existe até quem se sente mal quando não tem dívidas. Talvez, em dez
pessoas, não haja uma só que, tendo feito uma dívida, consiga livrar-se desse
hábito para sempre.
Atualmente, a maior parte dos problemas sociais tem origem nas dívidas
contraídas. Dizem que a maioria, senão todos os casos judiciais, são causados
por elas. Por conseguinte, a primeira condição para eliminar os conflitos que
existem no mundo, é fazer todo o possível para não contrair dívidas. Quando
elas forem inevitáveis, devemos saldá-las o quanto antes. Se todos agissem
assim, formar-se-ia uma sociedade feliz e diminuiriam os problemas das
pessoas.
Outro fato que eu gostaria de frisar é que as dívidas encurtam a vida. O
falecido Sr. Kihatiro Okura sempre dizia isso, e realmente é a pura verdade.
Nada obscurece tanto o espírito do homem como as dívidas. Tomando como
exemplo a minha própria experiência, após libertar-me delas, senti-me como
se tivesse saído de um longo período na prisão.
25 de fevereiro de 1950

DEVEMOS OU NÃO DEVEMOS FAZER DÍVIDAS?


Durante mais de vinte anos, provei sofrimentos causados pelas dívidas.
Para que possam fazer uma idéia, recebi várias intimações judiciais e sofri
uma falência. A "filosofia da dívida", da qual falarei a seguir, baseia-se nas
conclusões que tirei de todas estas experiências.
Farei uma análise da pessoa que está para fazer um empréstimo.
Existem empréstimos ativos e passivos. O empréstimo ativo é aquele
que se faz quando se vai começar um empreendimento, já calculando que
uma quantia X vai dar um lucro Y; isto é, faz-se o cálculo de modo que sobre
algum dinheiro mesmo depois de subtraídos os juros. Esse tipo de empréstimo,
todos o conhecem. Entretanto, no caso dos empréstimos passivos, sai mais
dinheiro do que entra, por isso ele está sempre faltando.
É comum a pessoa fazer dívidas por não haver outra alternativa. Quando
as coisas começam a apertar, ela não consegue pensar no futuro. Diante de
uma situação difícil, tenta livrar-se dos compromissos imediatos, sem levar em
consideração se os juros são altos ou baixos; o importante, para ela, é
conseguir o empréstimo. Muitos anúncios publicados atualmente nos jornais,
sobre a concessão de empréstimos, são desse tipo. Podemos dizer que, a essa
altura, entre dez dessas pessoas, oito ou nove estão a um passo do abismo.
Esta classificação dos empréstimos é uma classificação feita a grosso
modo. Agora vamos analisar o caso de não se fazer o empréstimo.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Começa-se o empreendimento com o capital que se possui no momento.


Mesmo que seja um negócio de pequeno porte, não há outro recurso.
Suponhamos, por exemplo, que se tenha cem mil ienes. Inicialmente,
emprega-se a metade ou um terço desse capital. Como o restante fica
guardado, poder-se-á pensar que o negócio progredirá muito lentamente.
Além disso, esses cem mil ienes devem ser obtidos com o esforço próprio, sem
a ajuda de ninguém, pois assim estarão impregnados de suor e terão força.
Depois, inicia-se o empreendimento, que deve ser do menor porte possível.
Exemplifiquemos.
Comecei o método de terapia pela Fé no mês de maio de 1934,
alugando uma casa de cinco cômodos por setenta e sete ienes. Estava situada
na rua Hiraga-tyo, no bairro de Koji Mati (Tóquio). Achei que era uma casa boa
demais; entretanto, como as condições eram ótimas, decidi alugá-la. Na
época, eu ainda tinha muitas dívidas, mas fiz esse empreendimento pensando
em praticar a filosofia para a qual despertara através delas. As idéias sobre
esse princípio filosófico me foram fornecidas pela Grande Natureza. Podemos
entendê-lo observando os seres humanos. A criança recém-nascida, com o
passar dos meses e dos anos, vai crescendo cada vez mais, e a sua força e
inteligência tornam-se adultas. O mesmo acontece com as plantas. Plantando-
se uma pequena semente, ela germina, formando um broto; a seguir saem
duas folhinhas e, depois das folhas propriamente ditas, o caule se desenvolve,
os galhos se expandem, até que a planta se torna uma enorme árvore. Esta é
a verdade. Portanto, os seres humanos precisam seguir esse exemplo. Eu tive
a revelação de que, praticando fielmente o princípio acima, não deixaria de
obter grande sucesso. Decidi, pois, em qualquer empreendimento, partir da
menor forma possível.
A maior parte das pessoas, no entanto, tenta fazer coisas grandes e
aparatosas desde o começo. Observando bem, vemos que a maioria acaba
fracassando. Quase todos os empreendimentos da sociedade são assim. As
pessoas começam por negócios de grande porte e só depois de fracassarem é
que, forçadas pelas circunstâncias, seguem a ordem, ou seja, começam tudo
de novo, fazendo pequenos empreendimentos. Só então é que conseguem
sucesso.
A propósito, os negócios nunca se processam de acordo com a lógica ou
com os cálculos. Existem vários motivos para isso, mas o mais importante é a
influência da mente. Como o dia do vencimento da dívida nunca deixa de
chegar, aconteça o que acontecer, essa preocupação está continuamente
martelando a cabeça da pessoa. Naturalmente, a realidade nunca acompanha
os planos. Com essa preocupação constante na mente, não surgem boas
idéias. Esse é o ponto mais desvantajoso. Ora, com os bolsos sempre vazios,
as pessoas não têm vitalidade. Mesmo que se enfeitem exteriormente, são
pobres material e espiritualmente. Por isso, mostram-se inibidas em todos os
seus empreendimentos, não têm força para crescer, estão sempre
descontentes. Os comerciantes, por exemplo, não conseguem fazer compras
mesmo que as mercadorias estejam baratas; conseqüentemente, deixam de
lucrar. Como a maioria prorroga o prazo do pagamento da dívida, a confiança
dos outros diminui. Se o prazo se prolonga por muito tempo, começam a correr
juros em cima de juros. A essa altura, a pessoa começa a se afobar e força a
situação. Quando isso acontece, é o seu fim. Eu sempre faço advertências
267
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

sobre a afobação e as situações forçadas, mas a maioria das pessoas não


percebe isso. Mesmo que momentaneamente os resultados sejam bons, eles
nunca duram muito tempo.
Os famosos senhores feudais Nobunaga e Hideyoshi, por exemplo,
fracassaram porque se afobaram e forçaram situações. Em contrapartida, o
domínio da dinastia Tokugawa durou trezentos longos anos porque, nos
métodos empregados por Ieyassu, seu fundador, não houve afobação ou
situação forçada nem mesmo para ele assumir o poder. Ieyassu utilizava-se da
famosa tática de "ceder para vencer", quando achava que a situação estava
um pouco difícil: esperava a oportunidade propícia, isto é, aguardava que o
tempo ficasse a seu favor. Assim, fez com que o poder rolasse naturalmente
para as suas mãos.
Eis o conselho de Ieyassu: "A vida do homem é como uma longa
caminhada carregando um pesado fardo. Não se deve ter pressa". Essas
palavras expressam muito bem o seu caráter. A derrota do Japão, nesta última
guerra, teve várias causas, mas não há dúvida de que a afobação e as
situações forçadas foram fatores decisivos, embora, desde o início, o
procedimento dos japoneses tenha sido errado.
Não se deve fazer empréstimos para pagar dívidas, mas foi o que
aconteceu no período final da guerra, e pelo mesmo motivo foi emitido
dinheiro de maneira bem desordenada. Essa foi, em grande parte, a causa da
inflação.
A Inglaterra, logo após a formação do gabinete trabalhista, tomou dos
Estados Unidos um empréstimo de três bilhões e setecentos milhões de
dólares. Acho que seria uma boa iniciativa se, futuramente, não se tornasse
motivo de problemas financeiros; mas, depois disso, foi preciso tomar
empréstimos em cima de empréstimos. A desvalorização da libra também é
uma conseqüência desse fato. Na época em que o Império Britânico era
próspero, sua receita anual elevava-se a três bilhões de libras, provenientes de
suas colônias e de outras fontes. Que diferença entre a situação atual e a
situação antiga! O equilíbrio financeiro da Inglaterra, que até então era um
dos seus motivos de orgulho, acabou em tal estado após o país passar por
duas guerras. Foi um destino inevitável.
Pelo que foi exposto, fica evidenciada esta verdade: não se deve contrair
dívidas, e, em todas as iniciativas, é preciso começar de forma pequena.
Gostaria que fizessem disso um lema a ser seguido. Contudo, quando se tem
absoluta certeza de poder saldar a dívida em curto prazo, é admissível contraí-
la.
Esta é a minha filosofia da dívida, que eu recomendo a todos.
12 de novembro de 1949

DINHEIRO MAL GANHO, DINHEIRO MAL GASTO


Há um antigo ditado que encerra uma grande verdade: "Dinheiro mal
ganho, dinheiro mal gasto". Vou interpretá-lo espiritualmente.
Existem vários tipos de investimentos, como a Bolsa de Valores, o
aumento ou a diminuição do preço das mercadorias, as apostas em corridas de
cavalos, etc. De todos eles, o mais representativo é a Bolsa de Valores, e por
isso vou me deter em sua análise.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

Na época em que eu era agnóstico, lancei mão desse investimento.


Durante alguns anos vendi e comprei ações, mas acabei tendo um grande
prejuízo. Naturalmente, esse também foi um dos motivos que me levaram a
entrar para a vida religiosa. Além disso, os conhecimentos que adquiri sobre o
lado espiritual da questão, mostraram-me que jamais se deve fazer tal tipo de
investimento. Gostaria, portanto, que as pessoas interessadas na Bolsa de
Valores não deixassem de ler este artigo.
É costume dizer-se que, na Bolsa de Valores, cem pessoas perdem para
uma lucrar, e é exatamente assim. Não existe, entretanto, uma só pessoa que,
tendo-se tornado multimilionária da noite para o dia, consiga conservar essa
fortuna por muito tempo. Além disso, quem tem grandes ganhos é quem mais
perde; quanto mais a pessoa lucra, é como se em seu caminho existisse um
precipício a esperá-la. Espiritualmente, a explicação é a seguinte:
A grande maioria das pessoas que perdem na Bolsa de Valores sente-se
decepcionada, inconformada, querendo de qualquer jeito recuperar o dinheiro
perdido. Conseqüentemente, esse ressentimento converge para a pessoa que
lhes sugou o dinheiro, mas, como não sabem quem é, nem onde reside, acaba
convergindo, naturalmente, para a Bolsa de Valores e se acumula nas notas de
dinheiro. Analisando espiritualmente, no dinheiro que circula na Bolsa de
Valores imprime-se, nesse momento, a imagem do ódio, do rancor, do
ressentimento de milhares de pessoas. Como essas imagens e as próprias
pessoas prejudicadas estão ligadas por um elo espiritual, o desejo que elas
têm de recuperar o dinheiro perdido continuamente está puxando esse
dinheiro. Por isso, ele nunca permanece muito tempo nos cofres da pessoa que
o ganhou. Um dia, ele é puxado, e a pessoa sofre um grande prejuízo, ficando
sem um vintém.
Isso não ocorre apenas nos investimentos, mas em tudo que se relacione
com dinheiro. Por exemplo: quando as riquezas são obtidas de forma ilícita;
quando não se dá a alguém, intencionalmente, o dinheiro que se deveria ter
dado, quando não se paga uma dívida e em outras situações. Em tais
oportunidades, a pessoa lesada fica furiosa, e, como no caso da Bolsa de
Valores, aquele que a lesou fatalmente perderá dinheiro.
Outro fato que se precisa saber é que, desde os tempos antigos, muitos
prédios religiosos ficaram reduzidos a cinzas em conseqüência de incêndios.
Parece impossível que templos, relicários, santuários e outras construções
realizadas com recursos puros sejam destruídos dessa forma. Mas existe um
motivo. É que, por ocasião de se angariarem fundos para construí-los, forçou-
se a situação. Às vezes, determina-se uma quantia para os membros ou igrejas
filiais, que são forçados a colaborar. Mas é uma atitude errada. Tratando-se de
ofertas em dinheiro para a Obra Divina, o correto é que a quantia seja
determinada pela livre e espontânea vontade da pessoa. Só quando se faz
uma oferta com alegria e satisfação é que o dinheiro se torna realmente puro.
Outro fator importante é que as construções religiosas devem ser utilizadas de
acordo com a Vontade de Deus; não se deve fazer coisas erradas, que as
impregnem de máculas, caso contrário elas receberão o batismo do fogo.
Voltando ao caso da Bolsa de Valores, quando o objetivo não for o de
lucrar com as cotações, trata-se de um bom investimento. Está muito certo
comprar ações visando os juros, isto é, os dividendos; não representa

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

"comprar" nenhuma espécie de rancor. Pelo contrário, é um investimento


muito útil ao desenvolvimento da indústria e deve ser bastante incentivado.
25 de junho de 1949

O DINHEIRO DEVE SER USADO DE MANEIRA CORRETA


É perigoso achar que os membros podem ser negligentes. Mesmo os
não-membros que tiverem sentimento e atitude corretas, serão salvos. A
questão é que como os membros aprendem o método para salvar os outros,
seus pecados diminuem através da salvação às pessoas. É exatamente como
o dinheiro. De nada adianta ganhar dinheiro e deixar guardado ou gastar em
futilidades. Neste caso, ao contrário, o dinheiro acaba se transformando em
algo prejudicial. É preciso usá-lo de maneira correta. Os messiânicos aprendem
como fazê-lo. Utilizá-lo em prol do Paraíso Terrestre é o meio mais eficiente.
Portanto, aqueles que aprendem sobre a fé messiânica, devem colocá-la em
prática. Caso contrário, de nada valerá.
Janeiro de 1950

MORADIA

FISIOGNOMONIA DAS CASAS E SUA POSIÇÃO EM RELAÇÃO AOS


PONTOS CARDEAIS
Muitos me perguntam qual deve ser a direção e a posição das casas, por
isso resolvi escrever este artigo.
Assim como existe fisiognomonia dos homens, também existe a das
casas: ambas têm muita influência sobre o bom ou o mau destino. Mas a
fisiognomonia das casas que vou divulgar, é muito diferente daquelas que
foram feitas pelos que se dizem entendidos no assunto. Não aprendi com
ninguém; quero deixar bem claro que se trata do resultado das minhas
experiências e intuições espirituais.
Tal como a maioria dos fisiognomonistas, eu também enfatizo a
importância do nordeste; só que a minha interpretação é diferente. Por
definição, esse ponto cardeal está situado entre o norte e o leste. É uma
direção muito importante, pois dela vem uma emanação espiritual puríssima.
Daí os antigos dizerem que não se deve macular o nordeste. Por exemplo, se
construírmos desse lado o banheiro, a cozinha, a entrada ou a saída da casa, a
emanação espiritual impura proveniente desses locais contamina a que vem
de lá e, como conseqüência, facilita a atuação de demônios e maus espíritos,
que são os causadores de doenças e desgraças. Por isso, devemos conservar o
mais pura possível a emanação espiritual que vem do nordeste. Nesse sentido,
se possível, é bom fazer um jardim nessa direção; o ideal seria plantar um
pinheiro macho e outro fêmea.
Ao nordeste opõe-se o sudoeste, o qual, como o nome indica, fica entre
o sul e o oeste. Daí provém uma emanação que traz muita riqueza material, o
que é importante para se alcançar fortuna e destaque social. Para isso, é
recomendável fazer disposições com água e pedra; um lago, por exemplo,
ainda que pequeno, ornamentado com pedras.
Quanto à entrada principal da casa, convém que fique no sudeste, isto é,
entre o sul e o leste. É bom que, à medida que ultrapassamos o portão e nos
dirigimos para a entrada, o terreno vá se elevando. No que concerne à
270
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

localização, se a casa está numa ladeira, deve ficar do meio para cima:
também não é aconselhável que esteja abaixo do nível da rua. Não se deve
morar por muito tempo em casas que tiverem essa localização. Entretanto,
quando falamos em lugares altos, referimo-nos à situação da casa em relação
às proximidades, não sendo muito importante a existência de montanhas ou
elevações por perto. A entrada deve estar em posição tal que, transpondo o
portão, não tenhamos de recuar para atingi-la. Convém que a porta principal
fique à direita ou à esquerda do portão e que em frente a ela não haja
nenhuma saída; caso contrário, a sorte entra, mas não fica, vai embora. É
muito bom que os aposentos do chefe da casa estejam dois ou três degraus
acima do nível dos outros compartimentos.
Para determinarmos a posição da casa em relação aos pontos cardeais,
devemos colocar a bússola no local correto. A maioria dos zodíacos toma como
ponto de referência o centro da casa e marca as direções a partir daí, o que é
muito errado. O homem não foi criado para a casa; esta é que foi criada para o
homem. Ele é o senhor, ela é o súdito, pois sua construção ou destruição
depende da vontade dele. Por conseguinte, como a pessoa mais importante da
casa é o chefe da família, o lugar de seu descanso, isto é, seu quarto de
dormir, deve ser considerado o centro, a partir do qual se tomam as direções.
No que se refere ao formato da casa, devem ser evitadas as
reentrâncias, mas é bom que haja algumas proeminências. Também é muito
boa a casa que, da entrada, estende-se para os dois lados, como uma ave
abrindo as asas.
Com relação ao número de "tatami" (Esteira de 1,80 x 0,90 m feita de pé
de arroz), é aconselhável, para quarto do chefe da casa, o cômodo com dez
"tatami", pois, espiritualmente, esse número representa a junção da água e do
fogo. Também é apropriado o aposento com oito "tatami", porque o número
oito representa o fogo, o qual é superior aos demais elementos. Os números
seis e três representam a água, sendo adequados para os aposentos da
esposa. Todos os números pares são bons para a quantidade de "tatami",
sendo que quatro e meio, sete, nove e outros números não são
recomendáveis. Nesses casos, deve-se completá-los com tábuas, para que se
tornem pares.
O "toko-no-ma" (Ver explicações no Ensinamento “Ordem” neste volume)
deve ficar à direita, e o "tigaidana" (Prateleira própria para "toko-no-ma". É
formada de duas tábuas, uma do lado esquerdo e outra do lado direito, em
níveis diferentes uma da outra e ligadas nas pontas por outra tábua) à
esquerda; entretanto, dependendo da entrada, não tem importância que seja
o inverso. Se não houver "toko-no-ma", o lugar mais nobre é o que fica mais
distante da entrada. Não é bom que o "toko-no-ma" esteja próximo desta, ou
que, entrando no compartimento, a pessoa tenha de retroceder para chegar
em frente a ele.
É desaconselhável que a sala de estilo ocidental fique situada no
segundo andar (no caso de sobrado). Isto porque as pessoas entram aí com
sapatos e, assim, ela se iguala à rua. Dessa forma, há uma inversão de
posições, isto é, a rua fica em nível mais alto que a casa.
No tocante à localização da casa, não há muita relação entre os pontos
cardeais e a idade das pessoas. Costumam dizer que a mudança em direção
ao nordeste não é recomendável, mas acontece justamente o contrário, pois,
271
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

como expus anteriormente, dali vem uma emanação espiritual puríssima. Mas
aí surge um problema: quando alguém se muda para uma casa com essa
localização, seus atos e sua profissão devem ser corretos. Isso porque aquela
emanação tem uma grande força purificadora, e, quando os pensamentos são
negativos e os atos não são corretos, os sofrimentos sobrevêm mais
rapidamente, por causa da purificação. Até hoje, muitas pessoas temiam ou
desprezavam o nordeste por terem procedimento e profissões incorretos.
25 de janeiro de 1949

A HIGIÊNICA E AGRADÁVEL AGRICULTURA NATURAL NAS HORTAS


CASEIRAS
No primeiro número da revista "Tijo Tengoku", publiquei um minucioso
artigo sobre a Agricultura Natural, dirigido aos agricultores profissionais; desta
vez, enfocarei as hortas caseiras.
Como tenho publicado, na referida revista e no nosso jornal, os
excelentes resultados obtidos através desse novo método agrícola, acredito
que os leitores tenham entendido, em parte, as suas vantagens. Posso afirmar
que, no caso das hortas caseiras, feitas por amadores, a boa-nova da
Agricultura Natural é como a luz que surge nas trevas. Nelas, utilizava-se
principalmente o estrume, cujo manuseio é insuportável sob vários aspectos,
inclusive olfativo. Adotando-se o cultivo sem adubos, esse sofrimento
desaparece, e o trabalho, por ser higiênico, torna-se agradável. Além disso, os
resultados são bem melhores e o trabalho é menor, matando-se dois coelhos
numa só cajadada. Vou enumerar as vantagens do método:
1 - Sendo utilizados apenas compostos naturais, não há o mal-estar
causado pelo uso do estrume, e o trabalho é menor.
2 - As verduras obtidas são da melhor qualidade, e o seu sabor nem se
compara ao das verduras tratadas com adubos.
3 - O volume e a quantidade dos produtos são maiores.
4 - O aparecimento de pragas reduz-se a uma pequena fração
do que acontece no caso do emprego de adubos; portanto, não há
necessidade de defensivos.
5 - Não existe problema de transmissão de larvas e pragas. Muitas
outras vantagens poderiam ser citadas: relacionei apenas as principais.
Como nas hortas caseiras normalmente não se planta arroz nem trigo,
mas quase sempre verduras e legumes, vou explicar a experiência que tive
com estes.
As batatas são brancas, consistentes, têm um forte aroma, e até dão
água na boca. O tamanho reduzido e a pequena quantidade apontados pelos
amadores são conseqüência dos adubos; sem estes, as batatas são maiores e
em maior quantidade. Principalmente as batatas-doces são enormes; se
demorarmos a arrancá-las, atingem proporções nunca vistas. Os pés de milho
possuem caule grosso, folhas bem verdes, e logo à primeira vista se percebe
que são maiores que o normal. Suas espigas são mais grossas e compridas,
com os grãos bem juntos e enfileirados, macios e doces; todos ficam
admirados com o seu paladar. Os nabos são brancos, consistentes, de textura
fina e ótimo sabor, apresentando comprimento e grossura maiores que os
nabos cultivados com adubos. A aspereza e a acidez de muitos nabos são
causadas pelos adubos. A acelga, o espinafre e o repolho têm excelente
272
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

aroma, são volumosos, macios e apetitosos. No final do ano passado, um


amador trouxe-me três acelgas que pesavam 5,6 kg cada uma. Eu nunca tinha
visto acelga daquele tamanho. Quanto à soja, é baixa, com folhas menores,
mas colhe-se o dobro. As berinjelas apresentam boa coloração, casca macia e
forte aroma; não só pela estética como pelo paladar, ninguém que já as tenha
provado consegue comer as que são tratadas com adubos. A cebola, a
cebolinha, o tomate, a abóbora e o pepino são de ótima qualidade; a abóbora
é muito consistente e tem sabor adocicado.
Quanto às árvores frutíferas., também produzem frutos muito saborosos,
principalmente as frutas cítricas, o caqui, o pêssego, etc.
Explicarei agora o princípio e a utilização dos compostos naturais.
A Agricultura Natural utiliza compostos naturais de dois tipos: o de
capim e o de folhas de árvores. O primeiro é próprio para ser misturado à
terra, e o segundo é indicado para fazer um leito abaixo do solo.
A diferença entre a agricultura tradicional e a nossa, é que esta
considera o solo como uma matéria profundamente misteriosa criada por Deus
para o desenvolvimento de alimentos vegetais. Por conseguinte, ativar ao
máximo a força do solo significa alcançar o objetivo original com que ele foi
criado. Desconhecendo este princípio, os antigos passaram, não se sabe
quando e baseados numa interpretação errônea, a usar adubos, prática cujo
resultado é a diminuição da produtividade e a morte do solo. Na tentativa de
cobrir esse enfraquecimento, utilizam-se adubos em quantidade cada vez
maior, o que leva à intoxicação das plantas. Dizem que o solo japonês
empobreceu, e isso pode ser atribuído aos adubos; os adubos químicos
modernos, principalmente, aceleram o processo de empobrecimento do solo.
Uma boa prova disso é que há uma melhora temporária quando se lhe
acrescentam terras virgens de outros lugares, em virtude da queda da
produção. Os agricultores interpretam que esta caiu porque os cultivos
efetuados por longos anos esgotaram os nutrientes da terra. Acham, portanto,
que as terras virgens conseguirão suprir os nutrientes. Isso é um grave erro,
pois na verdade o solo perdeu sua força devido à utilização de adubos. Com o
acréscimo de terra isenta de tóxicos, ele em parte se recupera.
Por outro lado, os compostos naturais têm por finalidade impedir o
endurecimento do solo e também aquecê-lo. O fundamental, para ativar o
crescimento das plantas, é promover o desenvolvimento da raiz, sendo que o
primeiro passo nesse sentido consiste em não deixar o solo endurecer; daí a
necessidade de se misturar bem, a ele, o composto natural. Para incentivar o
crescimento dos "cabelos" da raiz, deve-se utilizar o composto natural à base
de capim, pois as fibras deste são macias e não atrapalham o crescimento. As
fibras das folhas de árvores, no entanto, são mais duras, e por isso não
convém misturá-las ao solo. O melhor é utilizá-las para fazer um leito abaixo
do solo, a fim de aquecê-lo. O ideal seria uma camada de uns 30 cm de terra
misturada com composto à base de capim e, abaixo dela, um leito da mesma
espessura, à base de folhas de árvores.
No caso de verduras, soja, etc., o processo descrito é conveniente mas
tratando-se de nabos, cenouras e similares, devem-se dimensionar as
camadas de maneira adequada, fazer montes de terra e plantá-los aí, para
que suas raízes recebam bastante sol, pois assim o crescimento será
excelente. Se a batata-doce, por exemplo, for plantada em montes de mais ou
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 4
O Homem no cotidiano

menos 60 cm, dispondo-se as mudas numa distância de 30cm uma da outra,


colher-se-ão batatas gigantes. Ouve-se dizer freqüentemente que o melhor é
dispor os montes de terra em sentido norte-sul ou leste-oeste, de modo que as
plantas recebam bastante energia solar. Para isso, entretanto, basta dispô-las
segundo as condições locais, e levando em consideração a direção do vento.
Quando este é muito forte, os caules se quebram; assim, é necessário plantar
árvores em volta ou fazer cercas, a fim de diminuir a ação do vento.
Quanto mais limpo for mantido o solo, maior será a sua vitalidade.
Portanto, a utilização de impurezas como o estrume traz resultados adversos.
Devido ao desconhecimento desse fato, o trabalho não só tem sido infrutífero
como contraproducente.
Os americanos não comem verduras produzidas no Japão, pois temem a
presença de parasitas. No caso da Agricultura Natural, essa preocupação
desaparece. Trata-se realmente de uma fabulosa revolução da agricultura,
constituindo uma grande boa-nova dirigida aos nossos irmãos.
30 de março de 1949

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

AGRICULTURA NATURAL

INTRODUÇÃO À AGRICULTURA NATURAL


Em geral as pessoas não conseguem aceitar minha tese sobre a
Agricultura Natural. Ficam pasmadas com ela, pois acham que é uma visão
completamente diferente em relação à agricultura. Mas a verdade é que não
só os produtos agrícolas, mas o próprio homem se encontra intoxicado pelos
adubos.
Muitos depositam confiança na tese por ser minha. Apesar disso,
colocam-na em prática meio temerosos, experiência confessada em todos os
relatórios. Antes, porém, da colheita, ocorre uma surpreendente mudança na
plantação e conseguem-se excelentes resultados, superando todas as
expectativas.
É desnecessário afirmar que "mais vale um fato que cem teorias". Creio
que, em conseqüência dessa importante descoberta, não apenas ocorrerá uma
grande revolução na agricultura japonesa, como também poderá haver, um
dia, uma revolução na agricultura em escala mundial. Sendo assim, esta
grande salvação da humanidade será uma boa-nova sem precedentes; para a
nossa Igreja, entretanto, cujo objetivo é a construção do Paraíso Terrestre, não
passará de algo mais do que óbvio.
Para explicar o que é a Agricultura Natural, vou partir do seu princípio
básico. Em primeiro lugar, o que vem a ser o solo? Sem dúvida, é uma obra do
Criador e serve para a cultura de cereais e verduras, importantíssimos para a
manutenção da vida humana. Por conseguinte, sua natureza é misteriosa,
impossível de ser decifrada pela ciência da matéria.
A agricultura atual, sem saber, acabou tomando o caminho errado e,
como conseqüência, menosprezou a força do solo, chegando à errônea
conclusão de que, para se obterem melhores resultados, deveria haver
interferência humana. Com base nesse raciocínio, passou a utilizar estercos,
adubos químicos, etc. Dessa maneira, a natureza do solo foi pouco a pouco se
degradando, sofrendo transformações, e a sua força original acabou
diminuindo. Contudo, o homem não percebe isso e acredita que a causa das
más colheitas é a falta de adubos. Assim, utiliza-os em maior quantidade, o
que reduz ainda mais a força do solo. Atualmente o solo japonês está tão
pobre, que todos os agricultores lamentam o fato.
Vou mostrar como são temíveis os adubos artificiais:
1 - O maior problema, talvez, é o aparecimento de pragas. Sem
pesquisar as causas dessa ocorrência, concentra-se todo o empenho no
sentido de combatê-las. Mas é provavelmente por desconhecerem a causa das
pragas que os agricultores se empenham na sua eliminação. Na verdade, elas
surgem dos adubos, e o aumento das espécies de pragas é decorrente do
aumento dos tipos de adubos. Os agricultores desconhecem, também, que os
pesticidas, ainda que consigam eliminá-las, infiltram-se no solo, causando-he
prejuízos e tornando-se a causa do aparecimento de novas pragas.
2 - Absorvendo os adubos, as plantas enfraquecem bastante e tornam-se
facilmente quebradiças ante a ação dos ventos e das águas. Comq ocorre a

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

queda das flores, os frutos são em menor quantidade. Além disso, pelo fato de
as plantas alcançarem maior altura e suas folhas serem maiores, os frutos
acabam ficando na sombra, o que, no caso do arroz, do trigo, da soja, etc., faz
com que a casca seja mais grossa e os grãos sejam menores.
3 - A amônia contida no estrume e o sulfato de amônia e outros adubos
químicos são venenos violentos que, absorvidos pelas plantas, acabam sendo
absorvidos também pelo homem; mesmo que seja em quantidades ínfimas,
não se pode dizer que eles não façam mal à saúde. A própria Medicina tem
afirmado que, se suspendessem por dois ou três anos a utilização de esterco
como adubo, o problema de lombrigas e outros parasitas deixaria de existir.
Também nesse aspecto verificamos o fabuloso resultado da Agricultura
Natural.
4 - Ultimamente, o preço dos adubos tem aumentado muito, de modo
que a despesa que se tem com eles quase empata com a receita oriunda da
venda da colheita, o que acaba forçando a sua venda no mercado negro.
5 - O trabalho que se tem com a compra e a aplicação de adubos e
inseticidas é excessivo.
6 - Os produtos obtidos através da Agricultura Natural são mais
saborosos e apresentam melhor crescimento, sendo maiores que os produtos
obtidos com adubos. Sua quantidade também é maior.
Com o que acabamos de expor, creio que os leitores puderam
compreender como são temíveis os tóxicos dos adubos e como é melhor o
cultivo que não os utiliza. Não seria exagero afirmar que se trata de uma
revolução jamais vista na agricultura japonesa.
Vou, agora, mostrar em que consiste o método e os resultados que
obtive através da minha própria experiência e dos relatos feitos por pessoas
quejá experimentaram esse tipo de cultivo. Antes, porém, gostaríamos de
perguntar: quantas pessoas conhecem realmente o sabor das verduras?
Diríamos que pouquíssimas. Isso porque não há verduras em que não tenham
sido utilizados adubos químico e esterco. Absorvendo esses elementos, os
produtos acabam perdendo o sabor atribuído pelos Céus. Se, ao invés disso,
fizermos com que absorvam os nutrientes da própria terra, eles terão seu
sabor natural e, portanto, serão muito mais saborosos. Como aumentou o meu
estado de felicidade após conhecer o sabor das verduras cultivadas sem
adubos! Além do dinheiro e da mão-de-obra que se poupa, fica-se livre do mau
cheiro e da transmissão de parasitas, as pragas diminuem e o sabor e a
quantidade dos produtos aumentam. Enfim, matam-se sete coelhos numa só
cajadada.
Não posso me calar diante de problema tão grave. Gostaria de
comunicar esta boa-nova a todos e compartilhar dos seus benefícios.
Qual é a propriedade do solo? Ele é constituído pela união de três
elementos - terra, água e fogo - os quais formam uma força trinitária.
Evidentemente, a força básica responsável pelo crescimento das plantas é o
elemento terra: o elemento água e o elemento fogo são forças auxiliares. A
qualidade do solo é um fator importantíssimo, pois representa a força
primordial para o bom ou mau resultado da colheita. Portanto, a condição
principal para obtermos boas colheitas é a melhoria da qualidade do solo.
Quanto melhor for o elemento terra, melhores serão os resultados.

276
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

O método para fertilizar o solo consiste em fnrtalecer sua energia. Para


isso, é necessário, primeiramente, torná-lo puro e limpo, pois, quanto mais
puro o solo, maior é a sua força para o desenvolvimento das plantas.
Acontece, porém, que até hoje a agricultura considera bom encharcar o solo
com substâncias impuras, contrariando frontalmente o que foi exposto acima,
donde se pode concluir o quanto ela está errada. Para explicar esse erro usarei
a antítese, o que, penso eu, ajudará a compreensão dos leitores.
Desde a antigüidade os adubos são considerados como elementos
indispensáveis ao plantio, mas a verdade é que quanto mais os agricultores os
aplicam, mais eles vão matando o solo. Com a adubagem, conseguem-se bons
resultados temporariamerte; pouco a pouco, no entanto, o solo vai fícando
intoxicado, tornando necessário o uso de mais adubos, para a obtenção de
boas colheitas. Assim, quanto maior for a quantidade de adubos, mais
contrários são os resultados.
Quando a colheita do arroz começa a declinar, os rizicultores
acrescentam-lhe terra tirada de locais onde não foram utilizados adubos. Com
isso, a colheita melhora durante algum tempo. Nessas ocasiões, eles se
baseiam num raciocínio errado, interpretando que, cumo cultivam ano após
ano, a plantação absorve os nutrientes do solo, causando o empobrecimento
deste. Esquecem, entreianto, que isso ocorréu devido à utilização de adubos.
Como nas novas terras a força vital é mais intensa, podem-se obter bons
resultados. Deixando de lado as teorias, vou explicar, na prática, as vantagens
da Agricultura Natural.
Em primeiro lugar, uma das características desse tipo de cultivo é a
menor estatura das plantas. No cultivo com adubos, elas crescem mais e têm
folhas maiores; tratando-se de plantas leguminosas, como dissemos antes,
isso faz com que os frutos fiquem à sombra e não tenham bom crescimento.
Ocorre, também, a queda das flores, trazendo como conseqüência a menor
quantidade de frutos. No caso da soja, quandó não se utilizam adubos
consegue-se o dobro da colheita, e nenhum grão se apresenta bichado; além
disso, seu sabor é incomparável. Evidentemente, em outras espécies como
ervilhas e favas obtém-se o mesmo resultado, e a casca é bastante macia.
Outro aspecto digno de observação é a não-ocorrência de nenhum
fracasso. Muitas vezes um leigo resolve plantar batatas e colhe-as em
pequena quantidade e tamanho reduzido. Nesses casos, é costume a pessoa
se lamentar, dizendo que a colheita foi péssima, mas ela não percebe que isso
resultou do uso excessivo de adubos. Interpretando os resultados de maneira
errada, ou seja, atribuindo o fracasso à pouca utilização de adubos, passa a
usá-los em maior quantidade, o que faz piorar ainda mais a situação. Quando
indagados a respeito, os especialistas e os orientadores, que não percebem a
verdadeira causa do problema, respondem de maneiras totalmente
desconcertantes, como por exemplo: "A causa está nas sementes, que, ou não
eram boas ou foram semeadas fora da época apropriada". Ou então:
"O problema foi causado pela acidez do solo".
As batatas plantadas sem adubos, no entanto, são muito brancas e
cremosas, possuem bastante aroma e agradam logo ao primeiro contato com
o paladar. São tão saborosas que, a princípio, pensa-se que são de alguma
espécie diferente. O mesmo acontece com o inhame e a batata-doce. Esta
última deve ser plantada em canteiros altos e em fileiras, entre as quais deve
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

haver uma boa distância, de modo que a planta receba bastante sol. Assim,
conseguir-se-ão batatas enormes e deliciosas, capazes de impressionar
qualquer pessoa. Aliás, parece que os próprios agricultores não costumam
adicionar muitos adubos ao solo quando se trata de batata-doce.
Agora tecerei considerações a respeito do milho. Seu cultivo sem adubos
tem apresentado ótimos resultados. Gostaria, portanto, de dar-lhe um
destaque especial. No início, por um ou dois anos, a colheita pode não
satisfazer as expectativas, visto que as sementes ainda contêm as toxinas dos
adubos, mas no terceiro ano os resultados já começam a aparecer. Sem
toxinas no solo nem nas sementes, o milho cresce com o caule bastante forte,
e suas folhas apresentam um verde vivo. Caso cresça num local onde não falta
água nem sol, apresenta espigas longas, com os grãos tão bem dispostos que
não há espaços vazios entre eles; logo na primeira mordida se percebe que
são macios e doces, apresentando um sabor inesquecível.
Quanto aos nabos, são branquinhos, grossos, consistentes e doces, o
que os torna muito saborosos. A aspereza e a acidez dos nabos são
decorrentes das toxinas dos adubos. Aliás, as verduras produzidas sem adubos
apresentam boa coloração, maciez e um aroma que abre o apetite, sendo
livres de pragas. Evidentemente, são maishigiênicas, pela não-utilização de
esterco.
O que eu também gostaria de recomendar são as berinjelas. Elas
apresentam excelente coloração e aroma, casca macia e realmente dão água
na boca. Em minha casa ninguém consegue mais comer berinjelas produzidas
com adubos.
Tratando-se do plantio de arroz, mistura-se palha cortada ao solo
alagado, que, assim, se aquece, pois a palha absorve o calor. Há, ainda, outro
detalhe, já bastante conhecido: a água fria das montanhas faz mal à
plantação. Por isso, devem-se fazer as valetas o mais rasas e longas possível,
a fim de aquecer a água. Não se devem, também, fazer lagos no trecho
intermediário, pois nestes, devido à profundidade, a água não esquenta de
forma adequada.
No caso do pepino, melancia, abóbora, etc., obtêm-se resultados como
jamais haviam sido conseguidos. Quanto ao arroz e ao trigo, têm estatura
baixa e apresentam excelente quantidade e qualidade. O arroz, sobretudo,
tem brilho e consistência especiais, além de excelente paladar, sendo sempre
classificado como arroz de especial categoria.
Eis, portanto, as vantrgens da Agricultura Natural. Não poderia haver
melhor boa-nova, principalmente para quem tem horta caseira. O manuseio
de esterco não só é insuportável para os amadores, como também traz o
inconveniente de indesejáveis larvas de parasitas acabarem se hospedando na
pessoa. Até agora, por desconhecimento desses fatos, trabalhava-se muito e
no fim se obtinham maus resultados. No meu caso, por exemplo, apenas
semeio as verduras e não tenho maiores trabalhos a não ser, de vez em
quando, remover o mato que começa a crescer. Assim, obtenho excelentes
verduras, e não há nada tão gratificante.
Como eu já disse, não há necessidade de adubos qu ímicos nem de
estrume, mas é preciso usar compostos naturais em larga escala. O mais
importante, em qualquer cultivo, é ter cuidado para que as pontas dos pêlos
absorventes cresçam livremente; para isso, deve-se evitar o endurecimento do
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

solo. O composto natural deve estar meio decomposto apenas, pois, se o


estiver totalmente, acaba endurecendo. Aquele que é feito somente com
capim decompõe-se rapidamente, mas o de folhas de árvores demora muito
mais, devido às fibras e nervuras, que são duras; portanto, deve-se deixá-lo
decompondo por longo tempo, até sua suficiente decomposição. A razão disso
é que as pontas dos pêlos absorventes têm o seu crescimento prejudicado
pelas fibras das folhas utilizadas como compostos orgânicos. Ultimamente
dizem que é bom arejar a raiz das plantas, mas isso não tem sentido, pois se é
um solo que até deixa passar o ar, nele se processa o bom desenvolvimento
das raízes. Na verdade, o ar nada tem a ver com isso.
Outro ponto importante é o aquecimento do solo. No caso das radicelas
e dos pêlos absorventes das verduras comuns, basta fazer uma camada de
composto natural com mais ou menos 30 centímetros, numa profundidade
aproximadamente igual. Tratando-se de nabo, cenoura, bardana ou outros
vegetais em que se visam as raízes, a profundidade deve ser compatível com
o comprimento da raiz de cada planta. O composto à base de capim deve ser
bem misturado com a terra, utilizando-se o composto à base de folhas de
árvores para formar o leito abaixo do solo, como já foi explicado. Esse é o
ideal.
Ultimamente fala-se muito em solo ácido, mas a causa da acidez está
nos adubos. Portanto, o problema desaparece quando se deixa de usá-los.
É muito comum evitar-se o uso do mesmo solo para culturas repetitivas.
Entretanto, eu tenho obtido ótimos resultados através delas ( 9). E os
resultados têm melhorado a cada ano. Pode parecer milagre, mas há uma boa
razão para isso. Como tenho afirmado, para vivificar o solo e ativar sua força,
é necessário fazer culturas repetitivas, pois, com elas, o solo vai se adaptando
naturalmente à cultura em questão.
Quanto às pragas, com a eliminação dos adubos seu número poderá não
chegar a zero, mas reduz-se a uma fração do atual. Os próprios agricultores
afirmam que o excesso de adubos aumenta as pragas.
Com relação ao fumo para charuto, sabe-se que o melhor é o produzido
em Manila e Havana. Não apresenta folhas bichadas e tem excelente aroma;
certa vez eu ouvi um especialista no assunto dizer que na sua produção não se
utilizam adubos. A inexistência de insetos em folhas do mato e o excelente
aroma que algumas delas possuem são decorrentes da ausência de adubos.
Há um aspecto que deve ser observado: quando se introduz a
Agricultura Natural num local já tratado com adubos, não se obtêm bons
resultados durante um ou dois anos, porque a terra está intoxicada. É como
um beberrão que deixa de beber abruptamente e por algum tempo fica meio
atordoado. O mesmo problema acontece com os fumantes inveterados
quando, de repente, suspendem o fumo, ou quando os viciados em morfina ou
cocaína ficam sem estes entorpecentes. Deve-se, portanto, ter paciênciapor
dois ou três anos; nesse espaço de tempo e com a diminuição gradativa das
toxinas de adubos no solo e nas sementes, o solo começará a manifestar sua
força.
Com as considerações que acabamos de tecer sobre a Agricultura
Natural, os leitores deverão ter compreendido o quanto a agricultura
9
Além do solo, vários fatores influenciam os resultados das culturas repetitivas; por isso, para
a sua prática, torna-se necessário um bom planejamento.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

tradicional está errada. Evidentemente, o novo método não tem nenhuma


ligação com a fé, bastando apenas utilizar-se os compostos naturais para se
obterem resultados revolucionários. Devem, contudo, reconhecer que,
somando-se a esse procedimento a purificação do solo através da Luz de
Deus, conseguem-se melhores resultados ainda.
1° de julho de 1949

A FORÇA DO SOLO
O princípio básico da Agricultura Natural consiste em fazer manifestar a
força do solo. Até agora o homem desconhecia a verdadeira natureza do solo,
ou melhor, não lhe era dado conhecê-la. Tal desconhecimento levou-o a adotar
o uso de adubos e acabou por colocá-lo numa situação de total dependência
em relação a eles, tornando essa prática uma espécie de superstição.
No começo, por melhor que eu explicasse o processo da Agricultura
Natural, as pessoas não me davam ouvidos e acabavam em gargalhadas.
Pouco a pouco, porém, minhas explicações foram sendo aceitas e,
ultimamente, de ano para ano, aumenta o contingente de praticantes do novo
método, mesmo porque as colheitas, em toda parte, vêm dando prodigiosos
resultados. Ainda que a maioria pertença à esfera dos fiéis de nossa Igreja, em
várias regiõesjá está aparecendo, fora dessa esfera, um número considerável
de simpatizantes e praticantes da Agricultura Natural, número este que tende
a aumentar rapidamente. Já se pode imaginar que não está longe o dia em
que a veremos praticada em todo o territóriojaponês. Falando abertamente, a
divulgação do nosso método de agricultura poderá ser definida como "mov
imento para destruir a superstição dos adubos".
Não usando absolutamente nada daquilo a que se dá o nome de adubo,
seja de origem animal ou química, pois é um cultivo que utiliza apenas
compostos naturais, o método é, realmente, o que seu nome diz: Agricultura
Natural. As folhas e capins secos formam-se naturalmente, ao passo que os
adubos químicos e mesmo o estrume de cavalo ou galinha, assim como os
resíduos de peixe, carvão de madeira, etc., não caem do céu, nem brotam da
terra: são transportados pelo homem. Portanto, não é preciso dizer que são
antinaturais.
Nada poderia existir no Universo sem os benefícios da Grande Natureza,
ou seja, nada nasceria nem se desenvolveria sem os três elementos básicos: o
fogo, a água e a terra. Em termos científicos, esses elementos correspondem,
respectivamente, ao oxigênio, ao hidrogênio e ao nitrogênio. Todos os produtos
agrícolas existentes são gerados por eles. Dessa forma, Deus fez com que
possam ser produzidas todas as espécies de cereais e verduras que
constituem a alimentação do homem. Seguindo a lógica, tudo será
perfeitamente compreendido. Não seria absurdo se Deus criasse o homem e
não providenciasse os alimentos que lhe possibilitariam a vida? Logo, se
determinado país não consegue produzir os alimentos necessários à sua
população é porque, em algum ponto, ele não está de acordo com as leis da
Natureza criada por Deus. Enquanto não se atentar para isso, não se poderá
sequer imaginar uma solução para o problema da escassez de alimentos.
A Agricultura Natural proposta por mim tem como base o princípio
citado. O empobrecimento e as dificuldades dos agricultores serão
solucionados satisfatoriamente com a adoção desse método. Deus deseja
280
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

corrigir a penosa situação em que eles se encontram, e por isso está se


dignando, com Sua benevolência e compaixão, a revelar e fazer propagar o
princípio da Agricultura Natural, através de mim, para todo o mundo. Urge,
portanto, que os agricultores despertem o mais rápido poss ível e adotem esse
novo método agrícola. Só assim eles serão verdadeiramente salvos.
Conforme dissemos, se os três elementos básicos - fogo, água e terra -
são forças motrizes para desenvolver os produtos agrícolas, bastará que estes
sejam plantados numa terra pura, expostos ao sol e suficientemente
abastecidos com água, para se obter um grande êxito, jamais visto até hoje.
Não se sabe desde quando, mas o homem cometeu um enorme equívoco ao
usar adubos, pois ignorou, completamente, a natureza do solo.

EFEITOS CONTRÁRIOS DOS ADUBOS


No início, a utilização de adubos traz bons resultados, mas, se essa
prática continuar por muito tempo, gradativamente começarão a surgir efeitos
contrários. Entre outras conseqüências, as plantas vão perdendo sua função
inerente de absorver os nutrientes do solo e mudam suas características,
passando a absorver os adubos como nutrientes. Se fizermos uma
comparação com os toxicômanos, poderão compreender isso muito bem.
Quando alguém começa a fazer uso de tóxicos, sente uma sensação muito
agradável e durante certo período seu cérebro se torna mais lúcido. Por não
conseguir esquecer esse prazer, a pessoa cai, pouco a pouco, num vício
profundo, do qual é difícil se livrar. Entretanto, quando o efeito do tóxico
acaba, ela fica em estado de letargia ou sente dores violentas. Como a
situação é intolerável, ingere tóxico novamente, embora saiba o mal que isso
lhe faz. E chega até ao roubo, para obter os recursos com que comprá-lo.
Histórias com este seguimento são constantemente noticiadas nos jornais.
Aplicando tal esquema à agricultura, podemos dizer que, hoje, todos os solos
cultiváveis do Japão estão sob os efeitos de tóxicos e, por isso, gravemente
enfermos. Todavia, tendo-se tornado cegos adeptos dos adubos, os
agricultores não conseguem libertar-se deles. Ao ouvirem minhas explicações,
esperançosos, resolvem suspendêlos, iniciando o cultivo natural. No entanto,
como nos primeiros meses os resultados são insatisfatórios, eles concluem,
precipitadamente, que o mais certo é desistir da mudança e voltar à prática
habitual.
O nosso método de cultivo está baseado na fé, e por isso muitos o
praticam sem duvidar do que eu digo. Assim fazendo, chegam à total
compreensão do verdadeiro valor da Agricultura Natural.
Descreverei agora a seqüência dos fatos que ocorrem com a mudança
da agricultura tradicional para a natural. No caso do arroz, ao transplantar-se a
muda para o arrozal alagado, durante algum tempo a coloração das folhas não
é boa, e os talos são finos; geralmente o visual é bem inferior ao de outros
arrozais. Isso dá ensejo à zombaria por parte dos agricultores das
proximidades, o que leva o plantador a vacilar, questionando se está no
caminho certo. Cheio de preocupação e intranqüilidade, ele começa a fazer
promessas a Deus. Entretanto, passados dois ou três meses, os pés de arroz
começam a apresentar-se com mais vigor, melhorando tanto na época do
florescimento, que o agricultor se sente aliviado. Finalmente, por ocasião da
colheita, estão com o crescimento normal, ou acima dele. Ao se proceder à
281
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

colheita, a quantidade do arroz sempre ultrapassa as previsões; além disso ele


é de boa qualidade, tendo brilho, aderência e sabor agradável. Geralmente é
um produto de primeira ou segunda classe, podendo-se dizer que não
aparecem tipos abaixo desse nível de classificação. E mais ainda: seu peso
varia de 5 a 10% acima do peso do arroz cultivado com adubos, e, o que é
especialmente interessante, devido à sua consistência é um arroz que não se
reduz com o cozimento, antes duplica ou triplica seu volume. Sustenta tanto
que, mesmo comendo 30% menos, a pessoa se sente plenamente satisfeita.
Logo, há uma grande vantagem do ponto de vista econômico.
Se todos osjaponeses comessem arroz cultivado pelo método da
Agricultura Natural, teríamos um resultado igual ao que se obtería se a
produção fosse aumentada em 30%, tornando-se desnecessária a importação
de arroz. E como isso seria esplêndido para a economia nacional!

A SUPERSTIÇÃO DOS ADUBOS


Esclareçamos melhor o assunto tratado anteriormente. O fato de a
plantação, durante dois ou três meses, apresentar um aspecto inferior, pode
ser explicado pela presença de tóxicos no solo e nas sementes, mesmo que
sejam só resíduos. Com o passar dos dias, esses tóxicos vão sendo eliminados
e o solo e a plantação tendem a melhorar, restaurando-se a sua capacidade
natural. Isso me parece perfeitamente compreensível por parte dos
agricultores, pois eles sabem que, após uma troca de água ou uma chuva
muito forte, mesmo os arrozais alagados de pior qualidade melhoram um
pouco. Em verdade, isso ocorre porque os tóxicos dos adubos foram lavados e
diminuíram. Quando o crescimento dos produtos agrícolas não é bom,
costuma-se acrescentar terra ao solo. Se eles melhoram, os agricultores crêem
ver confirmada sua suposição de que o solo estava pobre devido a contínuas
plantações que absorveram seus nutrientes. Isso também é errado, pois o
enfraquecimento do solo é causado pelos tóxicos de adubos utilizados ano
após ano. Assim, percebe-se facilmente que os agricultores se deixaram
dominar pela superstição dos adubos.

OS EFEITOS DO USO DE COMPOSTOS NATURAIS


Vejamos, agora, de que maneira a Natureza colabora com a Agricultura
Natural. Quando se trata do cultivo de arroz em terreno alagado, procede-se
ao corte da palha em pedaços bem pequenos, os quais serão misturados ao
solo, para aquecêlo. No caso do cultivo em terra firme, misturar-se-ão folhas e
capins secos, apodrecidos até que suas nervuras fiquem macias. A razão disso
é que, quando o solo está endurecido, o desenvolvimento das raízes fica
dificultado, porque as pontas encontram resistência. Atualmente, dizem ser
bom que o ar vá até as raízes, mas não é verdade, pois não há nenhuma razão
para isso. Apenas, se ele chega até elas, é porque o solo não está endurecido.
No caso de produtos cujas raízes não se aprofundam muito no solo, o ideal
seria misturar, a este, compostos de folhas e capins; para os produtos de
raízes profundas, deve-se preparar um leito composto de folhas de árvores a
mais ou menos 35 cm de profundidade. Isso servirá para aquecer a terra.
Variando a profundidade das raízes, o leito será formado na proporção
adequada.

282
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Geralmente as pessoas pensam que nos compostos naturais existem


elementos fertilizantes, mas isso não corresponde à realidade. O papel
desempenhado por eles é o de aquecer o solo, não o deixando endurecer. No
caso de ressecamento do solojunto às raízes, devem-se colocar os compostos
naturais numa espessura apropriada, pois isso conserva a umidade do solo.
São esses os três benefícios dos compostos naturais.
Como se poderá perceber pelo que foi dito acima, o mais importante na
Agricultura Natural é vivificar o solo. Vivificar o solo significa conservá-lo
sempre puro, não utilizando matérias impuras como os adubos. Dessa forma,
já que não existem obstáculos, ele pode manifestar suficientemente a sua
capacidade original. É engraçado que os agricultores falem em "deixar o solo
descansar". Trata-se, também, de um grande erro. Quanto mais cultivado,
melhor será o solo. Em termos humanos, quanto mais se trabalha, mais saúde
se tem; quanto mais se descansa, mais fraco se fica. Os agricultores, ao
contrário, acreditam que, quanto mais se cultiva o solo, mais fraco ele vai
ficando, devido ao consumo dos seus nutrientes por parte dos produtos
agrícolas. Assim, procuram beneficiá-lo dando-lhe repouso, ou seja,
suspendem as culturas repetitivas, mudando sempre a área de plantio. Isto é
uma idiotice.

CULTURA REPETITIVA, COLHEITA FARTA


De acordo com o nosso método, a cultura repetitiva é uma prática muito
recomendável. Uma prova disso é que estou cultivando milho, pelo sétimo ano
consecutivo, em Gora-Hakone, numa terra em que há mistura de pequenas
pedras. Apesar da má qualidade da terra, as espigas são mais longas que o
normal, e os grãos, juntinhos e enfileirados, são adocicados, macios e
saborosos.
Parajustificar a cultura repetitiva, basta lembrar a capacidade inerente
ao solo de se adaptar ao produto que é plantado. Compreenderemos isso
muito bem se fizermos uma comparação com o ser humano. As pessoas que
executam trabalhos braçais têm seus músculos desenvolvidos; quando se
trata de atividade intelectual, é o cérebro que se desenvolve. Por essa mesma
razão, quem muda constantemente de profissão ou de residência não obtém
sucesso, o que nos leva a concluir o quanto estiveram errados os agricultores
até hoje.

AS BOAS-NOVAS PARA A SERICULTURA


Finalizando gostaria de dizer que, se cultivarmos o bicho-da-seda com
folhas de amoreira tratada sem adubos, ele não adoecerá, seus fios serão de
muito boa qualidade, resistentes, brilhantes, e a produção aumentará. Tal
prática ocasionaria uma grande evolução no mundo da sericultura e traria
incalculáveis benefícios à economia do país.
5 de maio de 1953

PRINCÍPIO DA AGRICULTURA NATURAL


Para que todos entendam realmente o princípio da Agricultura Natural,
proponho-me explicá-lo através da ciênciado espírito - da qual tomei
conhecimento por meio da Revelação Divina - pois é impossível fazê-lo através
do pensamento que norteia a ciência da matéria. No início, talvez seja muito
283
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

difícil compreender esse princípio; todavia, à medida que o lerem várias vezes
e o saborearem bem, fatalmente a dificuldade irá diminuindo. Caso isso não
aconteça, é porque a pessoa está muito presa às superstições da Ciência.
O que eu exponho é a Verdade Absolúta. Os próprios fatos o comprovam.
Como todos sabem, o método agrícola utilizado atualmente consiste na fusão
do método primitivo com o método científico. Julga-se que houve um grande
progresso, porém os resultados mostram exatamente o contrário, conforme
podemos constatar pela grande diminuição da produção no ano passado. Os
pés de arroz não tinham força suficiente para vencer as diversas calamidades
que ocorreram, e essa foi a causa direta daquela diminuição. Mas qual a causa
do enfraquecimento dos pés de arroz? Se eu disser que o fenõmeno foi
causado pelo tóxico chamado adubo, todos se surpreenderão, pois os
agricultores, até agora, vieram acreditando cegamente que o adubo é algo
imprescindível no cultivo agrícola. Devido a essa crença, ao pouco
conhecimento dos agricultores e à cegueira da Ciência, não foi possível
descobrir os malefícios dos adubos.
É inegável o valor da Ciência em relação a muitos aspectos; entretanto
no que se refere à agricultura, ela não tem nenhuma força, ou melhor, está
muito equivocada, pois considera bom o método criado pelo homem,
negligenciando o Poder da Natureza. Isso acontece porque ainda se
desconhece a natureza do solo e dos adubos. Há longos anos, o governo, os
grandes agricultores e os cientistas vêm desenvolvendo um grande esforço
conjunto, mas não se vê nenhum progresso ou melhoria. Diante de uma fraca
produção como a do ano passado, podemos dizer que a Ciência não consegue
fazer nada, sendo vencida pela Natureza sem oferecer nenhuma resistência.
Não há mais nenhum método a ser empregado. A agriculturajaponesa está
realmente num beco-sem-saída. Mas devemos alegrar-nos, pois Deus ensinou-
me o meio de sair dele - a Agricultura Natural. Afirmo que, além dessa, não
existe outra maneira de salvar o Japão.
A base do problema é a falta de conhecimento em relação ao solo. A
agricultura, até agora, tem negligenciado esse fator, que é o principal, dando
maior importância ao adubo, algo acessório. Pensem bem. Sem a terra, o que
podem fazer as plantas, sejam elas quais forem? Um bom exemplo é o
daquele soldado americano que, após a guerra, praticou o cultivo na água,
despertando grande interesse. Creio que ainda devem estar lembrados disso.
No início, os resultados foram excelentes, mas ultimamente, pelo que tenho
ouvido falar, eles foram decaindo, e o método acabou sendo abandonado.
Até hoje os agricultores fizeram pouco caso do solo, chegando a
acreditar que os adubos eram o alimento das plantações. Com essa atitude,
cometeram um espantoso engano. O resultado é que o solo se tornou ácido,
perdendo seu vigor original. Isso está muito bem comprovado pela grande
diminuição da safra no ano passado. Não percebendo seu erro, os agricultores
gastam inutilmente elevadas somas em adubos, dispendendo árduo esforço. É
uma grande tolice, pois se está produzindo a própria causa dos danos.
Empregarei agora o bisturi da ciência espiritual para explicar a natureza
do solo. Antes, porém, é preciso conhecer seu significado original.
Deus, Criador do Universo, assim que criou o homem criou o solo, a fim
de que este produzisse os alimentos para nutri-lo. Basta semear a terra que a
semente germinará, e o caule, as folhas, as flores e os frutos se
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

desenvolverão, proporcionando-nos fartas colheitas no outono. Assim, o solo,


que produz alimentos, é um maravilhoso técnico ao qual deveríamos dar
grande preferência. Obviamente, como se trata do Poder da Natureza, a
Ciência deveria pesquisá-lo. Entretanto, ela cometeu um grande erro: confiou
mais no poder humano.
Mas o que é o Poder da Natureza? É a incógnita surgida da fusão do Sol,
da Lua e da Terra, ou seja, dos elementos fogo, água e solo. O centro da Terra,
como todos sabem, é uma massa de fogo, a qual é a fonte geradora do calor
do solo. A essência desse calor, infiltrando-se pela crosta terrestre, preenche o
espaço até a estratosfera. Nessa essência também existem duas partes: a
espiritual e a material. A parte material é conhecida pela Ciência com o nome
de nitrogênio, mas a parte espiritual ainda não foi descoberta por ela.
Paralelamente, a essência emanada do Sol é o elemento fogo, que também
possui uma parte espiritual e uma parte material; esta última é a luz e o calor,
mas aquela também ainda não foi detectada pela Ciência. A essência
emanada da Lua é o eletnento água, e a sua parte material é constituída por
todas as formas em que a água se apresenta; quánto à parte espiritual,
também ainda não foi descoberta. O produto da união desses três elementos
espirituais ainda não detectados constitui a incógnita X através da qual todas
as coisas existentes no Universo nascem e crescem. Essa incógnita X é
semelhante ao nada, mas é a origem da força vital de todas as coisas.
Conseqüentemente, o desenvolvimento dos produtos agrícolas também se
deve a esse poder. Por isso, podemos dizer que ele é o fertilizante infinito.
Reconhecendo-se essa verdade, amando-se e respeitando-se o solo, a
capacidade deste se fortalece espantosamente. A Agricultura Natural é, pois, o
verdadeiro método agrícola. Não existe outro. Através de sua prática, o
problema da agricultura será solucionado pelas raízes.
Sem dúvida as pessoas ficarão boquiabertas, mas existe outro fator
importante. O homem, até agora, pensava que a vontade-pensamento, assim
como a razão e o sentimento, limitava-se aos seres animados. Entretanto,eles
existem também nos corpos inorgânicos. Obviamente, como o solo e as
plantações estão nesse caso, respeitando-se e amando-se o solo sua
capacidade natural se manifestará ao máximo. Para tanto, o mais importante
é não sujá-lo, mas torná-lo ainda mais puro. Com isso, ele ficará alegre e,
logicamente, se tornará mais ativo. A única diferença é que a vontade-
pensamento, nos seres animados, é mais livre e móvel, ao passo que, ô solo e
as plantas não têm liberdade nem movimento. Assim, se pedirmos uma farta
colheita com sentimento de gratidão, nosso sentimento se transmitirá ao solo,
que não deixará de corresponder-nos. Por desconhecimento desse princípio, a
Ciência comete uma grande falha, considerando que tudo aquilo que é
invisível e impalpável não existe.
27 de janeiro de 1954

A GRANDE REVOLUÇÃO DA AGRICULTURA

PARTE I
Há mais de dez anos descobri e venho propondo o método agrícola que,
dispensando o uso dos adubos químicos e do estrume de origem animal e
humana, possibilita a obtenção de grandes colheitas. Naquela época,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

conquanto eu me esforçasse bastante, tentando convencer os agricultores,


ninguém queria me ouvir. Entretanto, é minha convicção, desde o princípio,
que o método natural de cultivo representa a Verdade Absoluta, e estou certo
de que todos chegarão à mesma conclusão, compreendendo também que, se
não se apoiarem nisso, não só os agricultores nunca poderão ser salvos, mas o
próprio destino da nação ficará comprometido. É por esse motivo que venho
insistindo no assunto até hoje.
Como a situação foi se tornando séria, exatamente como eu temia que
acontecesse - não sei se feliz ou infelizmentesinto uma necessidade cada vez
maior de fazer os agricultores japoneses e todos os povos entenderem a
Agricultura Natural. Comecei, também, a enxergar luz no futuro da nossa
agricultura, motivo que me leva a anunciá-la aqui, de maneira ampla, certo de
que afinal chegou a hora.
O fato de eu ser um religioso favoreceu a implantação da Agricultura
Natural. Com efeito, não foram poucos os fiéis que, embora não
compreendessem bem as minhas explicações, passaram a praticar esse
método de cultivo, podendo constatar seus resultados positivos num espaço
de tempo relativamente curto. Pouco a pouco foi crescendo o número de
simpatizantes, inclusive entre agricultores fora da esfera da Igreja.
Explicarei agora, minuciosamente, o princípio básico da Agricultura
Natural, método que permite a obtenção de grandes colheitas utilizando
apenas compostos naturais. Abordarei,em primeiro lugar, as vantagens do
método: não serão necessários gastos com adubos, o dano causado pelos
insetos nocivos diminuirá de forma considerável, ficarão reduzidos a menos da
metade os prejuízos causados pelos ventos e pelas chuvas. Logo, é um
método assombroso. Tudo isso refere-se ao arroz, mas aplica-se a qualquer
tipo de produção agrícola. Resumindo, todos os produtos cultivados pela
Agricultura Natural apresentarão maravilhosos resultados. No caso da batata-
doce, por exemplo, obter-se-ão batatas enormes, de causar espanto; nas
leguminosas os grãos serão grandes, e a quantidade maior; o nabo terá uma
bela cor branca, textura fina, consistente e macia, e um excelente sabor; as
verduras, não carcomidas pelos insetos, terão boa coloração, serão macias e
de sabor esplêndido. Além dessas espécies, o milho, a melancia, a abóbora,
enfim, todos os cereais, legumes, verduras ou frutas, serão de ótima
qualidade.
Merece especial destaque o maravilhoso sabor dos produtos da
Agricultura Natural; quem experimentar seu arroz, trigo e verduras, é provável
que nunca mais tenha vontade de comer os que são produzidos através do
cultivo com adubos. Atualmente eu me alimento apenas com produtos
naturais e, como felizmente os praticantes do método vêm aumentando cada
vez mais, ganho-os em grande quantidade, a ponto de não poder consumir
tudo.
Quanto às frutas, são de qualidade muito boa, tendo tido sua safra
aumentada após a suspensão do uso de adubos; como a receita decorrente de
sua venda também aumentou, todos os interessados estão agradecidos. Do
mesmo modo, as flores são maiores, de coloração mais bonita e viva; usadas
em vivificações florais, por exemplo, duram mais tempo, contcntando mais e
melhor a muitas pessoas.

286
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Logo em seguida à adoção da Agricultura Natural, ocorre uma acentuada


diminuição de insetos nocivos. Estes surgem dos adubos artificiais e por isso é
óbvio que, se os agricultores deixarem de usar tais adubos, eles não se criarão
mais. Hoje em dia, entretanto, na tentativa de exterminá-los, utilizam-se
intensamente os defensivos agrícolas que, penetrando no solo, tornam-se a
causa da proliferação dos insetos nocivos. De tal forma isso revela ignorância,
que nos causa compaixão.
Nos últimos tempos, os produtos agrícolas mostram-se mais vulneráveis
aos danos causados pelos ventos e pelas chuvas que ocorrem todos os anos;
na Agricultura Natural, tais prejuízos diminuirão muito, porque, deixando de
absorver adubos artificiais, que os enfraquecem demasiadamente, os produtos
resistirão melhor às intempéries.
Descobri que tanto os adubos de origem animal como os adubos
químicos, ao serem absorvidos pelas plantas, tornam-se venenos e que esses
venenos vêm a constituir alimento para os insetos nocivos, os quais passam a
se multiplicar ferozmente. Conforme o tipo de adubo, a partir dele próprio
proliferam microorganismos que começam a carcomer as plantas. Se surgirem
na raiz, carcomerão os pêlos absorventes e acabarão por enfraquecer o
vegetal. Aí está a causa das folhas secas, caules quebrados, queda das flores,
frutos imaturos e atrofiamento das batatas. Inúmeros outros tipos de
microorganismos podem proliferar nas diversas partes da planta, mas, se esta
for saudável, terá força para eliminá-los. Entretanto devido ao
enfraquecimento causado pela aplicação de adubos, as plantas acabam sendo
vencidas por eles.
A planta sem adubos é mais resistente aos ventos e às chuvas, não se
prostrando com facilidade; ainda que caia, logo se reerguerá, ao passo que a
cultivada com adubos permanecerá caída, ocasionando um prejuízo enorme.
Poderão compreendê-lo bem se observarem a ponta das raízes. Nas plantas
cultivadas sem adubos, os pêlos absorventes são muito mais numerosos e
compridos, e a ramificação é bem maior; portanto, o enraizamento é mais
forte. Quer se trate de arroz, quer se trate de verduras, qualquer agricultor
sabe que quanto menor é a estatura da planta e quanto mais curtas são as
suas folhas, mais frutos ela dará. Em contrapartida, as plantas cultivadas com
adubos são mais altas, têm folhas grandes, mas, embora à primeira vista
sejam magníficas, sua frutificação não é tão boa.
Correlatamente, no caso do bicho-da-seda, se o cultivarmos com
amoreira tratada sem adubos, ele será saudável, seu casulo terá mais
resistência e brilho, e a produção será maior. Isso também se deve à não-
proliferação de doenças no bicho-da-seda.
Conforme vemos, todos os produtos cultivados pela Agricultura Natural
são incomparavelmente vantajosos em relação aos que são cultivados com
adubos.
O que se deve conhecer em primeiro lugar, é a capacidade específica do
solo. Antes de mais nada, ele foi criado por Deus, Criador do Universo, a fim
de produzir alimento suficiente para prover o homem e os animais. Por essa
razão, a terrajá está em si mesma abundantemente adubada - podemos até
dizer que toda ela éuma massa de adubos. Desconhecendo isso até hoje, os
homens se enganaram ao pensar que os alimentos das plantas são os adubos.
Baseados nessa crença, vieram aplicando adubos artificiais e,
287
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

conseqüentemente, foram enfraquecendo, de forma desastrosa, a energia


original do solo. Não é um equívoco espantoso?
Para que a produção agrícola aumente, deve-se fortalecer ao máximo a
própria energia do solo. E como se poderá fazer isso? Não lhe misturando nada
a não ser os compostos naturais, fazendo-o permanecer puro e preservando-o
o mais que se puder. Assim se obterão ótimos resultados, mas, com a
mentalidade que tem vigorado até agora, jamais se conseguirá acreditar nisso.
Com base nas razões citadas, vemos que o princípio fundamental da
Agricultura Natural é o absoluto respeito à Natureza, que é uma grande
mestra. Quando observamos o desenvolvimento e o crescimento de tudo que
existe, compreendemos que não há nada que não dependa da força da Grande
Natureza, isto é, do Sol, da Lua e da Terra, ou, em outras palavras, do fogo, da
água e da terra. Sem dúvida isso ocorre também com as plantações, pois, se a
terra for mantida pura e elas forem expostas ao sol e abundantemente
abastecidas de água, produzir-se-á mais do que o necessário para o sustento
do ser humano. Dirijam seu olhar para a superfície do solo das matas e
atentem para a abundância de capins secos e folhas caídas, cuja provisão é
renovada em cada outono. Eles representam o trabalho da Natureza para
enriquecer o solo, e ela nos ensina que devemos utilizá-los. Os agricultores
acreditam haver elementos fertilizantes nesses capins secos e folhas caídas,
que eles consideram adubos naturais, mas isso não é verdade. A eficácia do
"adubo natural" consiste em aquecer a terra e não deixar que ela resseque e
endureça; em síntese, fazer que a terra absorva água e calor e não fique dura.
Assim, para darmos "adubo natural" ao arroz, basta cortar a palha em
pedaços pequeninos e misturá-los bem à terra. Esse é o processo natural. A
palha é do próprio arroz e é eficaz para o aquecimento das raízes. A existência
de bosques perto das hortas é bem significativa: devemos usar as folhas e
capins secos para o cultivo de nossas verduras. O centro do globo terrestre é
uma enorme massa de fogo da qual se irradia constantemente o calor, isto é,
o espírito do solo. Aí está o nitrogênio - adubo que nos foi concedido por Deus
- o qual atravessa as camadas do planeta, eleva-se a uma certa altitude e aí
permanece, até que, com a chuva, desça para sua superfície e penetre no
solo. Esse nitrogênio caído do céu é adubo natural e, sem dúvida, sua
quantidade é a ideal, sem excesso nem falta.
Mas por que razão começaram a empregar adubos de nitrogênio? Por
ocasião da Primeira Grande Guerra, devido à falta de alimentos e à
necessidade de aumentar rapidamente sua produção, a Alemanha descobriu o
meio de obter nitrogênio da atmosfera. Ao empregá-lo, conseguiu que a
produção tivesse um aumento enorme. Apartir de então, tal resultado foi
difundido mundialmente, mas a verdade é que se trata de algo passageiro,
que não se prolongará por muito tempo. Fatalmente o excesso de nitrogênio
provocará o enfraquecimento do solo e acabará fazendo a produção diminuir.
Entretanto, ainda não se compreendeu esse mecanismo. Em outras palavras,
basta pensarmos que tudo isso é semelhante ao que ocorre com os
toxicômanos.
Há um fato para o qual devo chamar atenção: embora se adote a
Agricultura Natural, a quantidade de tóxicos existentes no solo e nas sementes
em conseqüência do cultivo tradicional, exercerá uma grande influência. Por
exemplo: em alguns arrozais, a partir do primeiro ano haverá um aumento de
288
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

10% na produçáo; em outros, no primeiro e no segundo ano haverá uma


redução de l0a 20%; finalmente, a partir do terceiro ano, haverá um aumento
de 10 a 20%, e daí em diante os resultados gradativamente alcançarão os
índices esperados. Contudo, enquanto os resultados se apresentarem
demasiado ruins, é porque ainda restam tóxicos de adubos artificiais em
grande quantidade; para amenizar a ação destes últimos é bom acrescentar
ao solo, provisoriamente, terras isentas de adubos.
Existe outro fato muito importante: uma vez que o arroz absorve adubos
químicos como o sulfato de amônia, esse violento tóxico é ingerido pelo
homem diariamente e, mesmo em doses mínimas, de forma imperceptível, é
óbvio que irá causar-lhe danos. Pode-se dizer que talvez seja essa uma das
causas do aumento percentual das pessoas hoje acometidas por doenças.
A seguir, enumero, de forma rápida, as vantagens econômicas do cultivo
natural:
1 - Os gastos com adubos serão dispensados.
2 - Os trabalhos diminuirão pela metade.
3 - A safra aumentará enormemente.
4 - Os produtos aumentarão de peso específico, não diminuirão de
volume ao serem cozidos e terão um delicioso sabor.
5 - O prejuízo causado pelos insetos nocivos diminuirá muito.
6 - Problemas que preocupam o homem como o das larvas e parasitas
intestinais desaparecerão.
Através das vantagens acima, poderão compreender a enorme bênção
que é o nosso método de cultivo. Com a Agricultura Natural, o problema
alimentar do Japão ficará solucionado, o que, além de tudo, irá motivar ou
exercer boa influência sobre outros problemas - principalmente o que concerne
à saúde do homem. Se essa técnica for difundida pelo nosso país, incrementar-
se-á sua reconstrução, e não há a menor dúvida de que, um dia, ele chegará a
ser visto, por todos os outros países, como uma nação de cultura elevada.
Trabalhando nesse sentido, desejo fazer que o maior número possível
dejaponeses leia esta publicação especial.
Por último, quero frisar que não tenho o mínimo propósito de divulgar
nossa Igreja através do presente artigo, mesmo porque as pessoas alheias a
ela poderão praticar a Agricultura Natural e alcançar bons resultados,
conforme dissemos anteriormente.

PARTE II

Examinando os relatórios provindos de várias regiões sobre os


resultados da Agricultura Natural no ano passado, constatei que alguns
agricultores, infelizmente, por ser ainda muito cedo, não puderam efetuar
colheitas. Entretanto, como tenho dados suficientes, passo a relatar minhas
impressões.
Visto que a Agricultura Natural, antes de tudo, dispensa os adubos, até
agora considerados como a vida dos produtos agrícolas, todos os tipos de
censura lhe foram feitos pelos próprios familiares dos agricultores e por
pessoas de suas aldeias, terminando por torná-la alvo de gozação e risos. Mas
os praticantes do método suportaram tudo isso em silêncio e persistiram. Ao
ler esses relatos, lágrimas de emoção me sobem aos olhos; sinto, também, um
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Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

aperto no coração quando penso que, não fosse pela sua fé, eles nada teriam
conseguido. Entretanto, partindo de pessoas que descendem de longas
gerações totalmente dominadas pela superstição dos adubos, essa descrença
de muitos é natural. Tudo isso me faz lembrar certos descobridores e
inventores que a História registrou, cujas obras ainda hoje prestam serviços à
humanidade, e que, mesmo sofrendo por mal-entendidos e opressões,
continuaram lutando para ver reconhecidos os frutos de sua inteligência e
trabalho. Esse difícil procedimento não poderia deixar de nos comover.
Com base nisso, eu estava certo de que a Agricultura Natural
encontraria, por algum tempo, oposição e dificuldades, mas também
acreditava que ela não tardaria a mostrar resultados surpreendentes,
bastando ter paciência durante certo período. Como eu esperava, posso notar,
através dos relatórios chegados às minhas mãos, que finalmente o cultivo sem
adubos está despertando interesse em vários setores. No início, as
circunstâncias eram muito desfavoráveis e` como os próprios agricultores não
tinham muita confiança no novo método, foram poucos os que abertamente
começaram a praticá-lo; a grande maioria começou a experimentá-lo naquele
estado de "confiar, tesconfiando". Além do mais, como a terra e as sementes
ainda estavam muito impregnadas de tóxicos, no primeiro ano as plantas
apresentavam folhas amarelas e talos muito finos, de modo que os
plantadores chegavam a achar que elas secariam. Segundo suas próprias
informações, isso os deixava tão inseguros e impacientes, que só lhes restava
orar a Deus por um milagre; entretanto, diante dos bons resultados na época
das colheitas, eles ficaram mais tranqüilos, embora só viessem a receber a
coroa da vitória depois de ultrapassada essa fase difícil.
5 de maio de 1953

DANOS CAUSADOS PELAS PRAGAS


São três as preocupações dos agricultores: o elevado preço dos adubos,
os preju ízos causados pelas pragas e os danos decorrentes dos ventos e das
chuvas. Comojá expliquei, em capítulos anteriores, os malefícios dos adubos,
passarei a falar agora sobre os danos causados pelas pragas.
É importante saber, de forma conclusiva, que as pragas se originam dos
adubos. Aplicados ao solo, eles acabam tornando-o impuro, modificam suas
características, fazem regredir sua capacidade e, ao mesmo tempo, deixam
sujeiras como resíduos. É óbvio que todas as matérias sujas apodrecem. Aí
aparecem larvas ou ovos, juntamente com bactérias. Se essa é a lei da
matéria, nela se enquadram as plantas. O aparecimento de vermes nas fossas
comprova o que dizemos. As várias espécies de pragas originam-se dos
diversos tipos de adubos. Dizem que ultimamente surgiram novas espécies,
mas isso nada mais é que uma conseqüência do aparecimento de novos
adubos. O fato é evidenciado pela afirmação dos agricultores de que existem
muitos insetos nocivos em locais próximos às fossas.
Outro ponto importante é que, quando aparecem pragas, utilizam-se
defensivos agrícolas para combatê-las, o que é extremamente prejudicial. Os
inseticidas são venenos e matam os insetos, mas, quando se infiltram no solo,
acabam contaminando-o e enfraquecendo-o ainda mais. Assim, o que nele for
cultivado sofrerá os danos causados por mais um veneno, além dos tóxicos
dos adubos. O solo, da mesma forma que o homem, perde a resistência, e as
290
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

pragas se multiplicam. É realmente um círculo vicioso. Nesse aspecto,


inclusive, pode-se notar o quanto a agricultura tradicional está errada. Além
do mais, ingerindo alimentos que absorveram substâncias venenosas como o
sulfato de amônia contido nos fertilizantes, o corpo humano sofre os seus
efeitos; e é óbvio que isso faça mal à saúde, pois suja o sangue. No caso do
arroz, por exemplo, que se come diariamente, mesmo que a quantidade de
veneno ingerido em cada refeição seja ínfima, ela vai se acumulando ao longo
do tempo e torna-se a causa de doenças.
15 de janeiro de 1951

DANOS CAUSADOS PELAS CHUVAS E VENTOS


Os danos causados pelas chuvas e ventos tendem a aumentar de ano
para ano, e tanto o governo como o povo estão bastante preocupados em
evitá-los. As obras preventivas são de altíssimo custo, de modo que, no
momento, adotam-se apenas soluções improvisadas; todavia, alguma coisa
deverá ser feita, já que os prejuízos se repetem a cada ano. Atualmente, não
há outra alternativa a não ser procurar diminuí-los.
Com a nossa Agricultura Natural, entretanto, as raízes dasplantas se
tornam mais resistentes, a incidência de quebra dos caules é mínima, e não
ocorré queda das flores nem apodrecimento dos eaules após a irrigação.
Mesmo quando as outras áreas de plantio são afetadasconsideravelmente, as
da Agricultura Natural sofrem danos irrisórios, o que as pessoas acham muito
estranho. Observando as extremidades das raízes, vemos que elas
apresentam formações capilares mais longas e em maior quantidade que as
das plantações convencionais, circunstância que lhes proporciona enorme
resistência nessas ocasiões.
Estabelecendo analogia com o homem, está comprovado que as pessoas
que comem apenas alimentos frescos e sem tóxicos são sadias. O mesmo
acontece com as plantas, e isso não se limita ao trigo ou arroz. Segundo os
agricultores, as plantas de baixa estatura e folhas pequenas são as que
oferecem as melhores safras, as que dão mais frutos. É justamente o que
ocorre na Agricultura Natural; pode-se ver, portanto, como ela é ideal. Além do
mais, seus produtos apresentam excelente qualidade e sabor, reconhecidos
por todos aqueles que já a experimentaram. A razão disso é que, quando se
utilizam adubos, os nutrientes são absorvidos na maior parte pelas folhas, o
que as faz crescer demasiadamente, afetando a frutificação. Acrescente-se
que a quantidade de arroz obtida através da Agricultura Natural é bem
maior;já se conseguiram até cento e cinqüenta brotos com uma só semente,
resultando em cerca de quinze mil grãos - recorde admirável. Outra
característica do arroz produzido por esse método é que a sua palha se
apresenta bastante forte e fácil de ser trabalhada.
15 de janeiro de 1951

O GLOBO TERRESTRE RESPIRA


Todos sabem que os seres vivos respiram. Na verdade, a respiração é
uma propriedade de todos os seres até mesmo dos vegetais e dos minerais.
Se eu disser que o globo terrestre também respira, muitos poderão achar
estranho; todavia, com a explanação que farei a seguir, tenho certeza de que
ninguém irá discordar.
291
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

O globo terrestre respira uma vez por ano. A expiração inicia-se na


primavera e chega ao ponto culminante no verão. O ar que ele expira é
quente, como no caso da respiração do homem, e isso se deve à dispersão do
seu próprio calor. Na primavera essa dispersão é mais intensa, e tudo começa
a crescer; as folhas começam a brotar e até o homem se sente mais leve. Com
a chegada do verão, as folhas tornam-se mais vigorosas e, atingido o clímax
da expiração, o globo terrestre recomeça a inspirar; daí as folhas principiarem
a cair. Tudo toma, então, um sentido decrescente, e o próprio homem fica mais
austero. O outro ponto culminante é o inverno. Essa é a imagem da Natureza.
O ar expirado pelo globo terrestre é a energia espiritual do solo, que a
Ciência denomina nitrogênio; graças a ele as plantas se desenvolvem. O
nitrogênio sobe às camadas mais altas da atmosferajunto com a corrente de
ar ascendente e lá se acumula, retornando ao solo com as chuvas. Esse é o
adubo da Natureza, à base de nitrogênio. Por essa razão, é um erro retirar o
nitrogênio do ar e utilizá-lo como adubo. É certo que com a aplicação de adubo
químico à base de nitrogênio consegue-se o aumento da produção, mas seu
uso prolongado acarreta intoxicação e envelhecimento do solo, pois a força
deste diminui. Como é do conhecimento geral, o adubo à base de nitrogênio
foi elaborado pela primeira vez na Alemanha, durante a Primeira Guerra
Mundial. No caso de ser necessário aumentar a produção de alimentos devido
à guerra, ele satisfaz o objetivo; entretanto, com o fim da guerra e o
conseqüente retorno à normalidade, seu uso deve ser suspenso.
Outro aspecto importante é o que diz respeito às manchas solares, que
desde a antigüidade têm servido de assunto para muitos debates. A verdade é
que essas manchas representam a respiração do Sol. Dizem que elas
aumentam de número de onze em onze anos, mas isso acontece porque a
expiração chegou ao ponto culminante. Com relação ao luar, considera-se que
ele é o reflexo da luz do Sol, mas convém saber que o Sol arde graças ao
elemento água, proveniente da Lua. Esta possui um ciclo de vinte e oito dias,
e isso também constitui o seu movimento de respiração.
5 de setembro de 1948

ARTE

PARAÍSO TERRESTRE
"Paraíso Terrestre" é uma expressão que soa maravilhosamente. Não há
nenhuma outra que inspire mais Luz e Esperança. A maioria das pessoas, no
entanto, considera o Paraíso Terrestre uma utopia, algo sem qualquer
possibilidade de realização. Quanto a mim, creio na sua chegada e sinto-a bem
próxima.
Meditemos na grande advertência bíblica: "Arrependei-vos, porque é
chegado o Reino dos Céus". Parece-nos impossível que o grande fundador do
poderoso cristianismo, que influenciou metade do mundo, tenha proferido
palavras sem fundamento.
É natural que todos queiram saber o que seja o Paraíso Terrestre. Vou
descrevê-lo apelando para a imaginação.

292
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

O Paraíso Terrestre pode ser compreendido como o Mundo dos Felizes.


Será um mundo de alta civilização, isento de doença, pobreza e conflito. Cabe
a nós, entretanto, encontrar a forma de minorar o sofrimento humano e
transformar em paraíso este mundo repleto de males.
Inicialmente, precisamos descobrir como eliminar a doença, pois, entre
as três grandes desgraças que citamos, ela é a principal. Em seguida, temos
de vencer a pobreza, cuja causa primária é a doença; os pensamentos
errados, as falhas políticas e a deficiente organização social são causas
secundárias. Quanto à inclinação para o conflito é motivada pelo estado
selvagem de que a humanidade ainda não conseguiu se libertar. Portanto, é
essencial eliminar as três grandes desgraças.
Como adquiri confiança na solução desses problemas, vou esclarecer a
realidade da forma mais simples possível.
Todos aqueles que ingressam em nossa Igreja e seguem seus
ensinamentos, para sua própria surpresa, vão sendo purificados espiritual e
fisicamente, libertam-se pouco a pouco da pobreza e tomam aversão aos
conflitos. Há inúmeras experiências de fé provando que a maioria dos fiéis,
com o correr dos anos, goza de crescente felicidade.
É condenável salientar os defeitos alheios, mas, neste momento, devo
fazer referência às pessoas que, embora possuam fé, tombam nas garras de
doenças fatais ou continuam vivendo de forma miserável, porém satisfeitas e
contentes. Comparando-as com os descrentes, pode ser que estejam salvas
espiritualmente, mas não fisicamente. A salvação foi feita pela metade. A
Verdadeira Salvação abrange o espírito e o corpo. Numa família, todos devem
tornar-se saudáveis, libertar-se da pobreza e usufruir de alegria plena. Até
hoje, porém, visava-se apenas à salvação do espírito, não havendo
preocupação com o corpo físico; todos se resignavam, considerando que a Fé
limita-se à salvação da alma.
Muitos religiosos afirmam que a Fé que busca obter graças imediatas é
de nível inferior. Trata-se de uma concepção ilógica, pois não há quem não
aspire a graças imediatas. Se alguém se queixa de dores físicas, é estranho
retrucar que o homem deve superar a vida e a morte. Ora, ninguém é capaz
de tal superação. Pensar que se conseguiu tal coisa é enganar a si próprio.
Um episódio relacionado à história do mestre Takuan é bem ilustrativo.
Quando ele estava às portas da morte, cercado de pessoas, alguém lhe
solicitou que escrevesse uma frase. Takuan, tomando da pena, escreveu: "Não
quero morrer." Imaginando algum engano, pois julgavam que um mestre tão
notável não escreveria tal coisa, entregaram-lhe novamente a pena e o papel.
E o mestre escreveu: "Não quero morrer de maneira alguma."
Admiro essa atitude. Em igual circunstância, a tendência vaidosa seria
escrever: "Acaso temerei a morte?" O mestre, porém, abandonou todo falso
orgulho e revelou francamente seus sentimentos. Isso merece consideração,
porque um simples bonzo não conseguiria agir assim.
Muitas pessoas que pretendem salvar o próximo, fazem
autopropaganda, apesar de ainda não viverem livres das desgraças. A
intenção pode ser boa, mas os meios são incorretos. Só devemos pensar em
conduzir aqueles que são vítimas de sofrimentos e misérias, quando já
tivermos conseguido a nossa própria salvação e felicidade; então, poderemos
trazê-los ao nível em que estamos. Nossos semelhantes sentir-se-ão atraídos
293
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

ao presenciar nosso estado feliz. É quando a propaganda surte cem por cento
de efeito. Eu mesmo não ousei difundir meus ensinamentos antes de me
encontrar em boas condições. Só o fiz quando me senti abençoado pelas
Graças Divinas.
Se considerarmos que o Paraíso Terrestre é o Mundo dos Felizes,
concluiremos que, no lugar onde as pessoas se reúnem e se tornam felizes,
está estabelecido o Paraíso Terrestre.
25 de janeiro de 1949

A RESPEITO DO PARAÍSO TERRESTRE


Diariamente, através do rádio e dos jornais, tomamos conhecimento de
que a sociedade está repleta de males. Numa visão a grosso modo, e
excluindo a guerra, podemos enumerar a corrupção dos funcionários públicos,
assassinatos, roubos, fraudes, suicídios, tuberculose e outras doenças
contagiosas, falta de alimentos, crises habitacionais, dificuldades financeiras,
opressão de impostos, etc. As coisas boas são tão poucas quanto as estrelas
do amanhecer... Então surge a dúvida: por que a sociedade chegou até esse
ponto?
Realmente, pode ser que existam muitas causas, mas, em poucas
palavras, diríamos que a situação é decorrente da decadência moral e
também da acentuada decadência do nível do homem. É por isso que,
ultimamente, os entendidos no assunto e os educadores começaram a
interessar-se por essa questão. Outra causa que pode ser levantada é que,
após a Segunda Grande Guerra, o pensamento liberal passou dos limites.
Parece que se discute a reforma e o incremento da educação, da moral e da
educação cívica por não haver outra alternativa. Mas é interessante observar
que, em tais ocasiões, o Japão nunca recorre à Religião, o que talvez possa ser
explicado. As religiões antigas são fracas demais, e as novas, em sua maioria,
são supersticiosas e falsas. É por isso que, como todos vêem, ainda não se
conseguiu achar um caminho que levasse à solução radical do problema. Eu,
porém, elaborei um plano concreto, objetivando solucioná-lo de forma
diferente.
Para começar, baseei-me nas diversões populares. Naturalmente, em
qualquer época, a grande massa popular necessita de diversões. Na sociedade
atual, entretanto, as que existem são de baixíssima categoria. De fato, teatro,
cinema, esporte, xadrez, dominó, etc., são diversões aceitáveis, mas acho que
se fazem necessárias recreações de nível ainda mais elevado. É com esse
objetivo que a nossa Igreja está construindo o protótipo do Paraíso Terrestre,
nas terras de Hakone e Atami. Como já escrevi várias vezes, aí será construído
o paraíso ideal, onde se acham perfeitamente harmonizadas a beleza natural
e a beleza criada pelo homem. Um projeto grandioso como esse, não creio que
já tenha sido elaborado por alguém. Encantada com a atmosfera tão diferente
do mundo a que está acostumada, qualquer pessoa, nesses locais, esquece-se
de tudo e até pensa estar em cima das nuvens. Visto que isso acontece antes
mesmo de termos concluído metade da obra, todos ficam maravilhados.
O protótipo de Hakone já está próximo de sua conclusão, mas, como é
uma obra de pequena escala, falarei a respeito do protótipo de Atami, em
plena construção, atualmente.

294
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

No jardim de cem mil metros quadrados, com altos e baixos, estão sendo
plantados arbustos e árvores que dão flores, como ameixeiras, cerejeiras,
azaléias, etc., mescladas com árvores que estão sempre verdes. Também está
em fase de preparação a construção de um jardim com as mais diversas
variedades de flores. Pela sua beleza encantadora na primavera e pela
paisagem da Baía de Sagami, que se pode avistar ao longe, não seria exagero
dizer que o protótipo de Atami é um enorme e ideal "Jardim do Éden".
Como localização, este protótipo do Paraíso Terrestre está situado no
melhor local de Atami. Além do mais, para acrescentarmos maior beleza ao
lugar, construiremos um magnífico museu de belas-artes, cuja conclusão
certamente fará com que o protótipo do Paraíso Terrestre de Atami se torne
alvo da admiração não só de japoneses como de estrangeiros. Por
conseguinte, qualquer pessoa que visite esse local purificará seu espírito
maculado pelas condições do mundo, e sua alma, completamente árida, será
regada na própria fonte. Assim revigorada, seu trabalho renderá mais e,
naturalmente, seu caráter também se elevará. Por isso, a contribuição do
protótipo do Paraíso Terrestre para o espírito das pessoas da sociedade será
inestimável.
1º de janeiro de 1952

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PARAÍSO TERRESTRE


O Paraíso Terrestre a que costumamos nos referir, é, em termos mais
claros, o Mundo do Belo. Em relação ao homem, é a beleza dos sentimentos, o
belo espiritual. Naturalmente, as palavras e atitudes do homem devem ser
belas. Da expansão do belo individual nasceria o belo social, isto é, as relações
pessoais se tornariam belas, assim como também as casas, as ruas, os meios
de transporte e as praças públicas. Em grande escala, como é natural que a
limpeza acompanhe o Belo, a política, a educação e as relações econômicas
também se tornariam belas e limpas, da mesma forma que as relações
diplomáticas entre os países.
Pensando desse modo, podemos perceber o quanto a sociedade
contemporânea está cheia de fealdade e maldade. Nas classes baixas,
principalmente, o Belo é escasso demais, em virtude das péssimas condições
financeiras, que causam a decadência do ensino e a precariedade dos
estabelecimentos e instalações de atendimento ao público. Daí,
conseqüentemente, nasce a intranqüilidade social.
Agora, gostaria de falar em especial sobre a parte relativa às diversões.
Nesse campo, o Belo precisa ser muito enriquecido, pois a consciência do Belo
é o que de melhor existe para a elevação dos sentimentos humanos. Esse é
um dos motivos pelos quais sempre incentivamos a Arte. Nem é preciso
mencionar o quanto o baixo nível das artes, na época atual, está degradando
a espiritualidade das pessoas.
Como se vê, o fator essencial para a criação do Mundo do Belo é o poder
econômico. Enquanto o povo for pobre, não poderemos sequer sonhar em
concretizar esse mundo. Mas como fortalecer o poder econômico? Se todos os
indivíduos trabalharem com total empenho visando a elevar o poder de
produção, estarão fortalecendo-o. A condição básica para tanto é a saúde de
cada indivíduo. E a saúde é o principal objetivo de nossa Igreja, o que se torna
evidente pelo grande número de pessoas perfeitamente saudáveis que
295
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

estamos conseguindo criar unicamente com o poder de purificação por nós


manifestado.
Portanto, devemos dizer que a Igreja Messiânica Mundial é a primeira
religião à qual Deus atribuiu a qualificação para o estabelecimento do Mundo
do Belo. Concretizá-lo, é questão de tempo. Para se certificarem dessa
verdade, basta observarem atentamente a atuação de nossa Igreja daqui em
diante.
3 de junho de 1950

A ARTE DE DEUS
Como seres contemporâneos, é chegada a hora de nos conscientizarmos
da época em que estamos vivendo. Vou explicar o que isso significa.
A cultura material progrediu tanto que, através da invenção do rádio, da
televisão e de outros meios de comunicação, podemos tomar ciência dos
acontecimentos mundiais em poucos instantes. Se não compreendermos a
importância desse fato, não poderemos falar sobre a civilização atual.
Nos Estados Unidos, começou-se a falar, há alguns anos, sobre a Nação
Universal e Governo Universal. Tais expressões não estarão prenunciando,
para um futuro próximo, o advento de um mundo ideal? Será, com efeito, um
grande acontecimento. Quando raiar esse dia, naturalmente se escolherá um
Presidente Mundial, e qualquer nação poderá apresentar seus candidatos.
Entretanto, para o nascimento desse Novo Mundo, será necessário haver uma
enorme revolução em todos os setores, especialmente no pensamento
humano. Obviamente, todos os "ismos" serão varridos, e, ao mesmo tempo,
haverá unificação dos pensamentos.
Para melhor compreensão, darei um exemplo. Suponhamos que um
exímio pintor pinte um grande quadro representando o mundo. Ele o
expressaria com a máxima beleza, através de linhas e cores variadas, sem
nenhum defeito, com Técnica Divina. Como não é difícil imaginar, os
preparativos para a pintura desse quadro levariam vários milênios. As
primeiras linhas seriam o mais importante, pois representariam as fronteiras
dos países, e levariam muito tempo para serem traçadas. Em seguida, viria a
escolha das cores: vermelho, azul, amarelo, branco, violeta, enfim, uma
variedade delas.
A título de experiência, tentemos aplicar isso aos diferentes povos e
países. Quero, porém, alertar-lhes que se trata apenas de uma suposição.
Cada país desempenharia uma função de acordo com a peculiaridade de sua
cor. Desenhadas as linhas e usadas habilmente as cores, estaria pronto o
quadro do mundo. E que mais poderia ser este quadro senão a Grande Arte de
Deus Todo-Poderoso? Até hoje, entretanto, considerando a cor de seu país a
melhor de todas, os homens quiseram pintar o quadro somente com essa cor,
razão pela qual não foi possível obterem êxito. Naturalmente, outro fator que
eles não levaram em conta foi o tempo. A derrota sofrida pelo Japão e pela
Alemanha na última guerra ilustra muito bem o que estamos dizendo. Por
analogia, os "ismos" ou ideologias podem ser comparados às tintas fabricadas
por cada país. Conseqüentemente, uma nação não pode tentar pintar além da
sua linha limite, porque isso provoca atritos com as outras, cujos objetivos são
os mesmos. Como esses atritos constituem um estorvo para o quadro do

296
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

mundo, elaborado por Deus com base no amor à humanidade, obtém-se


apenas um sucesso temporário. Vejamos.
A maioria dos heróis que apareceram desde os tempos antigos,
acabaram sendo derrotados por terem cometido o erro de criar obstáculos
para a Arte de Deus. Baseadas nesse fato, as potências mundiais, ao invés de
tentarem pintar os outros países com a sua cor, devem se esforçar para tornar
mais viva e mais bela a cor de cada país. Se adotarem essa política, estarão
concordes com a Vontade Divina, e assim se concretizará o Mundo Ideal.
Estes são os motivos pelos quais é necessário pensar na Religião.
Entretanto, na forma como vêm sendo praticadas até hoje, cada uma
querendo pintar a outra com a sua cor, as religiões deixam de acompanhar a
marcha do tempo, ficando em desacordo com o Plano de Deus. Por isso,
precisamos entender a Vontade Divina que está por trás do progresso da
civilização e, dando-nos as mãos, fazer de todas as religiões uma só força,
para a construção do mundo Ideal que está prestes a surgir.
20 de dezembro de 1949

RELIGIÃO E ARTE
Sempre dizemos que o objetivo de Deus é construir o Paraíso Terrestre.
Ora, se o Paraíso Terrestre é um mundo sem conflitos, um mundo de eterna
paz e absoluta Verdade, Bem e Belo, a Arte terá um desenvolvimento
extraordinário.
Segundo diz um antigo ditado, a Religião é a mãe da Arte; é óbvio,
portanto, que ambas estão profundamente relacionadas. Todavia, é
interessante notar que, entre os fundadores das inúmeras religiões que
surgiram até hoje, foram poucos os que demonstraram interesse artístico. Dos
religiosos que se destacaram nesse campo, podemos citar: no Ocidente, o
pintor Leonardo da Vinci e os compositores Bach e Hendel; no Japão, a arte
budista do príncipe Shotoku, Gyoki, as esculturas de Kukai, etc.; na China,
durante a Era So-Guem, e no Japão, durante a Era Tempyo, as pinturas de
alguns bonzos.
Vou explicar a causa do desinteresse dos religiosos pela Arte.
Como o mundo se achasse completamente mergulhado na Era da Noite
e a Era da Luz estivesse longe demais, não havia necessidade de preparativos
para a concretização do Paraíso Terrestre. Em outras palavras, estava-se na
época infernal. Encontrando-se em condição infernal e não em situação
celestial, os fundadores de religiões, para difundir seus ensinamentos, tiveram
de percorrer caminhos espinhosos e passar por enormes sofrimentos. Sendo
assim, não havia motivo para se falar em Paraíso ou Arte, e até podemos dizer
que nenhum deles afirmou que iria construir o Paraíso Terrestre. Contudo,
houve profecias sobre o advento de um mundo ideal, embora não se
esclarecesse quando. Entre elas, podemos citar o "Mundo de Miroku",
anunciado por Buda; o "Reino dos Céus", profetizado por Cristo; a "Agricultura
Justa", de Nitiren; o "Pavilhão da Doçura", do fundador da Igreja Tenrikyo, e o
"Mundo dos Pinheiros", do fundador da Igreja Oomotokyo. Foi-nos revelado,
porém, que finalmente o tempo é chegado. Como o Paraíso está prestes a
nascer, queremos anunciar o seu advento para toda a humanidade.
Naturalmente, seria impossível imaginar que um projeto tão grandioso -
que poderíamos considerar um sonho - pudesse ser concretizado com a força
297
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

humana; entretanto, como se trata do Plano de Deus, Todo-Poderoso, não


resta a menor dúvida que ele se tornará realidade. Atualmente, Deus está
manifestando inúmeros milagres para demonstrar Sua Força e, dessa maneira,
infundir-nos uma sólida fé. Poderão compreender isso ao ver que todos os
messiânicos, experimentando tais milagres, vão adquirindo uma fé inabalável.
Visando à concretização do Plano Divino, a Igreja Messiânica Mundial não
mede esforços para promover a Arte. E é para iniciar essa promoção que
estamos construindo os protótipos do Paraíso Terrestre de Hakone e Atami, em
locais de magnífica paisagem. Se as pessoas não estiverem conscientes
desses pontos, não conseguirão entender o verdadeiro significado do
nascimento de nossa Igreja. Em resumo, as religiões existentes até hoje
tiveram a missão de preparar os alicerces para a construção do Paraíso
Terrestre, e a missão da Igreja Messiânica Mundial é concretizá-la.
6 de maio de 1950

RELIGIÃO E ARTE
O conceito atual de que Religião está desligada da Arte parece-me um
grande equívoco. Enobrecer os sentimentos do homem e enriquecer-lhe a
vida, proporcionando-lhe alegria e sentido, é a missão da Arte. Os entendidos
no assunto sentem indizível prazer em apreciar as flores, na primavera, e as
paisagens campestres ou marítimas. Não é exagero dizer que o Paraíso
Terrestre, que temos por ideal, é o Mundo da Arte, o qual não é outro senão o
mundo da Verdade, do Bem e do Belo, a que costumo me referir.
A Arte é a representação do Belo. Mas por que será que ela foi
negligenciada até os nossos dias?
Monges antigos e famosos demonstraram notável genialidade no campo
artístico, esculpindo e construindo templos. Entre esses artistas religiosos,
sobressaiu o príncipe Shotoku. Dificilmente se pode crer, dizem todos, que a
magnificência arquitetônica do Templo Horyuji, de Nara - obra-prima do
príncipe - e as pinturas e esculturas que adornam o seu interior, tenham sido
criadas há mais de mil e trezentos anos.
Por outro lado, como houve muitos monges que divulgaram doutrinas
adotando a simplicidade e o ascetismo, certamente nasceu o conceito de que
não há nenhuma relação entre a Arte e a Religião. Aqui impera a Verdade e o
Bem, mas falta o Belo.
Pelas razões expostas, pretendo fazer uma grande divulgação da Arte.
25 de janeiro de 1949

RELIGIÃO ARTÍSTICA
Sempre se pensou que não há muita relação entre Arte e Religião.
Entretanto, no Japão, as manifestações artísticas tiveram início com a arte
budista, não obstante se limitassem a simples quadros, estátuas, tecelagem,
etc. No que se refere à música, existiam instrumentos tais como "sho" 10,
"hitiriki"11, "mokugyo"12 e "dora"13 e os sons emitidos na leitura dos sutras
budistas. Por isso, podemos dizer que se tratava de uma arte primitiva.
10
Instrumento musical de cano. É constituído de dezessete canos de bambu, longos e curtos,
dispostos verticalmente. Dois deles não emitem som; os quinze restantes possuem orifícios na
parte anterior e na parte posterior.
11
Instrumento musical de cano, semelhante à flauta.
298
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Mais tarde, estimulada pela introdução das artes chinesa e coreana no


país, a arte japonesa passou por um período de imitações, até que conseguiu
criar um estilo próprio. Atualmente, com a importação da cultura ocidental,
também foi introduzida a arte do Ocidente. Principalmente após a Era Meiji
(1868-1912), afluíram, com grande intensidade, as artes dos Estados Unidos e
da Europa. Em conseqüência, no panorama artístico japonês da época atual,
encontram-se as melhores obras de todo o mundo, as quais estão sendo
absorvidas e assimiladas, de modo que, aos poucos, vai se criando uma arte l.
Por isso, talvez possamos afirmar que o Japão é um centro cultural.
Não existe, ou melhor, nunca existiu uma religião que desse tanta
importância à Arte quanto a Igreja Messiânica Mundial. Isto porque o Paraíso
Terrestre - nosso objetivo último - é o Mundo da Arte. Obviamente, se ele é um
mundo isento de doença, pobreza e conflito, isto é, o mundo de perfeita
Verdade, Bem e Belo, o homem seguirá a Verdade, amará o Bem e odiará o
Mal; assim, todas as coisas se tornarão belas. Nesse sentido, a Arte não será
apenas um deleite indispensável; ela constituirá a própria vida e se
desenvolverá intensamente. Ou seja, o Paraíso Terrestre será o Mundo da Arte.
Eis o motivo pelo qual tenho grande interesse por ela e pretendo incentivá-la
bastante, no futuro. Como primeiro passo, estou construindo o protótipo do
Paraíso Terrestre, em Atami; quando ele estiver concluído, atrairá ainda mais a
atenção da sociedade, recebendo muitos elogios. Infalivelmente, merecerá
consideração a nível mundial. Portanto, estamos dando prosseguimento aos
planos sob essa diretriz.
6 de junho de 1951

CIÊNCIA E ARTE
O mundo contemporâneo pensa que tudo pode ser resolvido pela
Ciência. Entretanto, embora quase ninguém chegue a perceber, existem
diversas coisas importantes que a Ciência não consegue resolver. Analisemos
a Arte, por exemplo.
A pintura e as mais diversas expressões artísticas, como a literatura, a
música, o cinema e até o teatro, possuem algum teor científico, mas não é
preciso dizer que estão quase totalmente fundamentadas no conjunto da
genialidade, inteligência, consciência e esforço do homem. Todos sabem o
quanto a Arte é necessária para a sociedade humana. Se ela não existisse, a
vida seria seca e sem sabor, como se estivéssemos dentro de uma cela de
pedra.
Exemplifiquemos: sempre que caminho pela cidade, sinto que, se não
houvesse lojas, residências e prédios ao redor, e eu não pudesse ver o verde
das árvores da rua ou dos jardins das casas, mas apenas uma parede
semelhante à de um presídio de uma só cor sombria, prolongada em linha
reta, talvez eu não suportaria andar sequer alguns quarteirões. Assim, a bela
visão proporcionada pelo rico colorido das casas, pelas diferentes feições e
expressões das pessoas, com sua maneira característica de se vestir e de
andar - a exuberância dos jovens exibindo a moda; as pessoas de idade, os
12
Instrumento que se bate na hora de ler os sutras. É feito de madeira oca, arredondado,
esculpido em formato de cabeça de peixe. Para se produzir o som utiliza-se um pequeno
bastão coberto por um pedaço de pano ou couro.
13
Instrumento musical semelhante ao gongo.
299
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

recém-chegados do interior - enfim, os infinitos aspectos que encontramos,


cada um com algo de interessante, é que nos permitem andar pela rua sem
entediar-nos. Quando nos distanciamos da cidade, dentro de um ônibus ou de
um trem, não ficamos cansados porque a paisagem variada - montanhas, rios,
plantas, árvores e plantações - nos faz passar o tempo. Além do mais, as
diversas transformações ocasionadas pelo clima das estações enriquecem o
nosso sentimento. O mundo é realmente uma arte criada pela Natureza e pela
mão do homem. É por isso que vale a pena viver.
Pensando dessa forma, poderão concluir que até a Ciência é uma parte
da Arte e entender, portanto, que ela tem uma função auxiliar. Assim, é por
demais evidente que há uma ligação inseparável da Arte com a vida do
homem. Ante essa evidência, a Igreja Messiânica Mundial interessa-se pela
Arte e estimula-a como nenhuma religião o fez até agora.
Entretanto, até mesmo na Arte existem níveis. Se ela é de nível inferior,
corre o perigo de abaixar o nível das pessoas, levando-as à degradação,
motivo pelo qual é preciso muita cautela. Por isso, a Arte deve ser de nível
elevado - uma arte que, deleitando a pessoa, eleve o seu sentimento.
A teoria é fácil, mas existirão organizações que se encarreguem disso?
Quanto ao exterior, nada posso afirmar; porém, todos sabem que, nesse
ponto, a situação do Japão é muito precária. Para corrigir essa falha, nossa
Igreja está efetuando a construção do protótipo do Paraíso Terrestre, do qual
faz parte o Museu de Belas-Artes. Há um sábio e antigo ditado que diz: "A
Religião é a mãe da Arte". Ele exprime muito bem a atividade de construção
que estamos desenvolvendo.
30 de abril de 1952

A MISSÃO DA ARTE
Cada coisa existente no Universo possui uma utilidade específica para a
sociedade humana, ou seja, uma missão atribuída pelos Céus. Naturalmente, a
Arte não constitui exceção. Portanto, uma vez que o artista é um membro da
organização social, ele deve conscientizar-se de sua missão e exercê-la
plenamente, pois essa é a Verdadeira Arte e também a responsabilidade que
lhe cabe.
Entretanto, quando observo os artistas da atualidade, não posso deixar
de ficar decepcionado com as atitudes inconseqüentes da maioria. É claro que
existem artistas excelentes, mas a maior parte se esquece da sua
responsabilidade, ou melhor, não tem nenhuma consciência dela. Além do
mais, eles constituem um problema, pois, tendo-se como criaturas superiores,
fazem o que bem entendem sem a menor vergonha. Acham que, agindo de
acordo com sua própria vontade, estão manifestando sua personalidade e seu
caráter de gênio. A sociedade, por sua vez, os superestima, considerando-os
pessoas especiais, e aprova quase tudo que eles fazem. Por isso, sua mania de
grandeza torna-se ainda maior.
É preciso, todavia, que o caráter dos artistas seja muito mais elevado
que o das pessoas comuns. Explicarei isto com base na Religião.
Inegavelmente, nos primórdios da sua história, a humanidade possuía
muitas características animais, mas não há dúvida de que, após a era
selvagem, ela veio progredindo gradativamente, construindo-se, pouco a
pouco, a civilização ideal. Neste sentido, o progresso da civilização consiste na
300
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

eliminação do caráter animal do homem. Alcançar esse nível é alcançar a


Verdadeira Civilização. Ainda hoje, porém, a maioria das pessoas está sujeita
ao terror da guerra, prova de que persiste no homem uma grande parcela de
características animais. Assim, cabe ao artista uma grande missão: ele é um
dos encarregados da eliminação de tais características.
Torna-se necessário, portanto, elevar o caráter do homem por meio da
Arte. Naturalmente, esse objetivo será alcançado através da literatura, da
pintura, da música, do teatro, do cinema e de outras artes. O espírito dos
artistas, comunicando-se por esses veículos, influenciará o espírito do povo.
Falando mais claro, as vibrações espirituais emitidas pela alma do artista
tocarão a sensibilidade das pessoas através das obras literárias, da pintura,
dos instrumentos musicais, dos cantos, das danças, etc. Em outras palavras:
haverá uma sólida ligação entre o espírito do artista e o espírito de quem
apreciar suas obras. Se o caráter daquele for baixo, o das pessoas também se
degradará; obviamente, se for um caráter elevado, terá o efeito contrário.
Eis a importância da Arte. O artista deve funcionar como orientador
espiritual do povo. Neste sentido, não seria exagero afirmar que uma parte da
responsabilidade do aumento do mal social cabe aos artistas.
Vejamos: erotismo cada vez mais vulgar, literatura cada vez mais
grotesca, quadros cada vez mais monstruosos; as opiniões dos artistas, assim
como também a música, o teatro e o cinema, cada vez piores. Se analisarem
minuciosamente tais fatos, certamente compreenderão que a minha tese não
é errada.
15 de outubro de 1949

PARAÍSO – MUNDO DA ARTE


Costumo dizer que o Paraíso é o Mundo da Arte, mas isso não deixa de
ser um conceito bastante resumido. Naturalmente, o aperfeiçoamento da Arte
é desejável, seja a pintura, a escultura, a música, as artes cênicas, a dança, a
literatura, a arquitetura, etc., entretanto, para se poder falar em Paraíso, é
preciso que todas as artes estejam reunidas, ou melhor, que tudo seja
artístico.
Segundo o meu princípio, a solução dos sofrimentos pela Graça Divina
não é outra coisa senão a magnífica Arte da Vida, isto porque a Arte, na sua
essência, deve satisfazer as condições da Verdade, do Bem e do Belo.
Em primeiro lugar, no sofredor não há, fundamentalmente, Verdade. O
homem deve ser sadio por natureza. Quando ele perde a saúde espiritual ou
material, significa que deixou de ser o que era: Verdade. Tomemos por
exemplo uma jarra: se ela apresentar um defeito, perderá sua utilidade. Como
objeto, nela não há Verdade se deixar vazar água, se cair quando a
colocarmos em pé, ou quebrar-se quando tentarmos usá-la. Para que a jarra
possa ser utilizada, é preciso consertá-la. O mesmo acontece com os homens.
Se uma pessoa, por motivo de doença não puder cumprir as missões para as
quais foi criada, tornar-se-á inútil para a sociedade. Deverá, pois, submeter-se
à reforma que vem a ser o Johrei da nossa Igreja, prece a Deus em favor de
quem sofre.
A seguir, consideremos o Bem. Se não houver, no homem, nenhuma
parcela de Bem e ele praticar somente o mal, também deixará de ser um
homem verdadeiro: será um animal. Tal espécie de homem prejudicaria a
301
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

coletividade em que vive, e precisaríamos, ao invés de condená-lo, evitar sua


existência. Mas isso compete a Deus, que possui o direito sobre a vida e a
morte.
Inúmeras pessoas tornam-se vítimas do fracasso, da doença e da
pobreza; algumas chegam até a perder a vida. Elas estão sendo julgadas por
Deus. Entretanto, embora se fale no mal de forma genérica, existe aquele que
é praticado conscientemente e aquele que é praticado inconscientemente. O
sofrimento varia de acordo com essa diferença. A justiça é perfeita.
Dispenso maiores explanações sobre o Belo, por ser assunto do domínio
de todos; mas, como temos dito, a condição fundamental para transformar
este mundo em paraíso está na concretização da Verdade, do Bem e do Belo.
Assim, tanto a eliminação das máculas causadoras das doenças, como a
reformulação dos métodos agrícolas, são, logicamente, artes. A primeira é a
Arte da Vida, e a segunda, a Arte da Agricultura. Acrescentemos, ainda, a
construção do protótipo do Paraíso Terrestre, que é a Arte do Belo. Com a
junção das três, construiremos o Mundo da Luz, consubstanciado na trindade
Verdade-Bem-Belo. É o Paraíso Terrestre, ou a concretização do Mundo de
Miroku.
4 de outubro de 1950

O PARAÍSO É O MUNDO DO BELO


Os fiéis da nossa Igreja estão bem cientes de que o objetivo de Deus é a
construção do mundo ideal, de perfeita Verdade, Bem e Belo. Sendo assim, o
objetivo de Satanás, Seu antagonista, é obviamente a Falsidade, o Mal e a
Fealdade. Falsidade e Mal não necessitam de explicações; portanto, falarei a
respeito da Fealdade.
Neste mundo, existem coisas erradas. Há casos, por exemplo, em que a
Fealdade se associa à Verdade e ao Bem. Ao ver tais fatos, muitas vezes as
pessoas fazem deles alvo de admiração e respeito. Em termos mais claros,
desde tempos remotos, não são poucas as pessoas que, comendo e vestindo-
se precariamente, morando em cabanas, enfim, vivendo uma vida miserável,
realizam práticas virtuosas para o bem do próximo e da sociedade. Realmente,
se suas condições de vida fossem desfavoráveis, isso seria inevitável para elas
poderem sobreviver, mas algumas, mesmo tendo condições para viverem de
modo diferente, escolhem espontaneamente tal forma de vida, o que acredito
não ser desejável. Entre elas, encontram-se muitos religiosos que escolhem
uma vida de abstinência como meio de aprimoramento, achando ser um meio
excelente. Quem vê isso, considera-os pessoas sublimes. Mas, para falar a
verdade, esse pensamento não é correto, pois se negligencia um fator
importantíssimo, que é o Belo; ou seja, temos Verdade, Bem e Fealdade. Neste
sentido, desde que não ultrapassem as condições adequadas a cada indivíduo,
as vestes, a alimentação e a moradia do homem devem ser utilizadas da
maneira mais bela possível, porque isso está de acordo com a Vontade Divina.
Além do mais, o Belo não é simplesmente uma satisfação individual, mas
também o que causa uma sensação agradável aos outros; assim, podemos
dizer que é uma espécie de boa ação. Na verdade, quanto mais alto grau de
civilização a sociedade alcançar, tudo deverá se tornar mais belo. Pensem
bem. Na vida dos selvagens não existe quase nenhuma beleza. Por isso,

302
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

também podemos dizer que o progresso da civilização é, em parte, o


progresso do Belo.
Naturalmente a nível individual, os homens também devem procurar
manter uma beleza adequada, para causar boa impressão às demais pessoas;
sobretudo as mulheres, devem procurar mostrar-se ainda mais belas. Talvez
não seja da minha conta falar-lhes semelhantes coisas, mas é a pura verdade:
dentro de casa, deve-se sempre ter o cuidado de não deixar teias de aranha
no teto, de conservar o assoalho tão limpo que não haja nem um cisco, de
arrumar logo os objetos desagradáveis à vista e deixar os utensílios bem
organizados. Assim, tanto os moradores da casa como as visitas sentir-se-ão
bem, o sentimento de respeito nascerá naturalmente, e o conceito do chefe da
casa também se elevará. Devemos, ainda, cuidar do aspecto externo das
residências. Mas não é preciso gastar dinheiro para isso; se procurarmos
conservar nossa casa sempre limpa e em bom estado exteriormente, não só
causaremos uma boa impressão às pessoas que passam pela sua frente, como
também contribuiremos para influenciar positivamente o plano de turismo
nacional. A esse respeito, existe um comentário sobre a Suíça, o qual, em
parte, talvez se justifique pelo tamanho do país. De qualquer forma, dizem
que, lá, tanto as ruas como as praças públicas são sempre conservadas limpas
e por isso a sensação que se tem é realmente a melhor possível. Este é um
dos motivos pelos quais o país recebe tantos turistas; portanto, poderíamos
tê-lo como exemplo a ser imitado.
As razões expostas mostram que nós, japoneses, também precisamos
cultivar o senso do Belo. Através disso, exerceremos boa influência sobre os
indivíduos e, em grande escala, muito mais do que pensamos, sobre a
sociedade e a nação. E mais ainda; através desse ambiente belo, os
sentimentos dos cidadãos também se tornarão belos, e os crimes e os
acontecimentos desagradáveis diminuirão, o que, conseqüentemente, se
tornará um dos fatores determinantes do Paraíso Terrestre.
Finalizando, escreverei a meu respeito. Desde jovem eu gostava de tudo
que dissesse respeito ao Belo. Embora fosse muito pobre, cultivava flores em
espaços vazios e, quando dispunha de tempo, pintava quadros. Sempre que
me era possível, visitava museus e exposições. Na primavera, apreciava as
flores, e no outono, o bordo. Agora, pela graça de Deus, minha vida se tornou
mais afortunada, e, além de apreciar o Belo como desejo, isso constitui uma
ajuda para a realização das atividades da Obra Divina. Entretanto, para
terceiros, que desconhecem esse fato, minha vida parece exageradamente
luxuosa, o que é inevitável. Desde tempos antigos, como sempre digo, os
fundadores de religiões faziam a divulgação das doutrinas levando uma vida
paupérrima e realizando penitências. Comparando-me com eles, talvez todos
achem minhas atitudes um tanto estranhas, pela grande diferença observada.
Na verdade, aqueles religiosos estavam na Era da Noite, e até mesmo a
Religião era divulgada por meios infernais. Chegou, porém, a Época de
Transição e, atualmente, quando o mundo está para se tornar Dia, a salvação
é efetuada num estado paradisíaco, de modo que é necessário refletir
profundamente sobre esse ponto.
11 de julho de 1951

CARACTERÍSTICAS PARTICULARES DA CIVILIZAÇÃO JAPONESA


303
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Tenho muito a dizer sobre as características peculiares do Japão e do seu


povo. Se os japoneses tivessem profunda compreensão a esse respeito, jamais
precisariam ter experimentado o amargo destino de povo vencido na guerra,
nem ter visto seu país em ruínas. Existe uma expressão que nos aconselha a
conhecermos bem a nós mesmos, mas é necessário estender esse
pensamento aos limites do conhecimento de nossa pátria. Na época do
isolacionismo (séc. XVII-séc. XIX), ainda seria admissível os japoneses
desconhecerem seu próprio país; atualmente, porém, quando tudo se processa
em âmbito mundial e internacional, é de vital importância conhecermos
profundamente o país em que nascemos. Em termos de Japão, esse
conhecimento consiste em estarmos perfeitamente cientes da missão que ele
deve cumprir.
É evidente que, se não compreendermos o motivo da existência do
Japão, não poderão ser consolidadas as grandiosas metas nacionais. Para
melhor entendimento, basta lembrar a situação do país até o fim da Segunda
Guerra Mundial. Havia uma classe militar dominante, chamada "Gumbatsu",
que era detentora de poderes absolutos. Escolhida por um pequeno número
de pessoas, governava o país como bem entendia. Por isso, no que se
relacionava aos governantes, o povo não tinha direito ao uso da palavra,
acomodando-se à condição de serviçais. Esta situação ainda está bem gravada
em nossas mentes. A partir da Era Meiji (1868-1911), instituiu-se a
Constituição e foi criado o Sistema Representativo. Com isso, embora desse a
impressão de que se estavam respeitando as idéias do povo, na verdade a
política encontrava-se nas mãos de uma minoria, que acabou por fazer aquela
terrível guerra. Foi a mesma coisa que vender gato por lebre.
Vamos refletir sobre a história do Japão. Desde a remota época do
imperador Jinmu, este país não teve um período sequer de paz, sendo
contínuas as guerras internas. A política sempre esteve totalmente dominada
pelo regime de força. Disfarçados sob o belo nome "Código de Ética do
Samurai", bárbaros assassinos recebiam condecorações heróicas. O vencedor
das guerras assumia a hegemonia desse tempo.
Até o fim da Segunda Guerra Mundial o Japão veio sendo arrastado sob
esse regime de brutalidade, só interrompido após o grande choque da derrota.
Se os japoneses não se conscientizarem profundamente do significado de tudo
isso, será impossível surgir uma verdadeira política nacional, digna de uma
nação pacífica. Para tanto, o mais importante é uma nova conscientização do
país. Em verdade, o Japão deveria ser o oposto da nação violenta e despótica
a que costumamos nos referir; assim, é preciso que ele se torne uma nação
pacífica e artística. Esta é a missão que Deus lhe concedeu.
Fala-se muito sobre a reconstrução do país, mas isso por si só não tem
grande significação. Se analisarmos com imparcialidade, veremos que não
passamos de uma nação democrática sem preparo bélico, o que,
naturalmente, constitui motivo de alegria. Entretanto, o Japão precisa
compreender sua missão peculiar em relação ao mundo e empenhar-se pelo
bem-estar de todos os povos: eis o verdadeiro papel do Novo Japão. Vou
enumerar algumas das razões que me levam a fazer essa afirmativa.
Em primeiro lugar, as maravilhosas paisagens da terra japonesa. No
mundo, talvez não haja outras que se lhe comparem; estamos sempre ouvindo
elogios por parte daqueles que nos visitam.
304
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

No que se refere ao tempo, as estações do ano são bem definidas, o que


é muito significativo. Há uma contínua renovação dos aspectos da Natureza:
as montanhas, os rios, a grama, as árvores, etc. Isso está bem claro nas
palavras do famoso poeta Kyoshi Takahama, que, após ter viajado pelo mundo
inteiro, disse o seguinte: "Não existe país onde as estações sejam tão bem
definidas como no Japão. O haicai 14 canta as estações do ano, de modo que,
em outros países, não é possível compor um haicai autêntico". Além disso,
ouve-se dizer que a nossa riqueza em variedade de grama, árvores, flores,
folhas, frutos e produtos do mar é realmente incomparável.
Outra característica marcante do povo japonês é a habilidade manual, o
que justifica o seu pendor artístico. A prova disso é o número elevado de
magníficas obras de arte criadas no Japão, não obstante o seu passado de
constantes guerras internas. Ainda hoje nos surpreendemos com essa técnica
e dom admiráveis.
Com tudo que foi explicado, creio que se pode entender a missão do
Japão e do seu povo. Em resumo, é preciso transformar todo o território
japonês no Jardim do Mundo e empreender contínuos esforços no sentido de
promover a Arte, até que ela atinja o seu mais elevado nível. Ou melhor, deve-
se estabelecer uma política nacional baseada no turismo, na Arte e no
artesanato, empregando todo o empenho na sua concretização. Como
resultado, é natural que isso contribuirá para a elevação do pensamento de
toda a humanidade, proporcionando, também, um nível mais alto de recreação
e distração. Em poucas palavras, é importante fazer do Japão um país de
elevadíssimo nível artístico e cultural.
Podemos afirmar que nunca se temeu tanto a guerra e se desejou tão
ardentemente a paz como na época atual. A causa da guerra, como sempre
dizemos, é substituir nos homens uma forte disposição para a luta.
Logicamente, essa disposição tem origem no pensamento selvagem, o que
significa dizer que, embora os homens se considerem civilizados, na realidade
ainda lhes falta muito para se despojarem da selvageria. O meio para
solucionar o problema é fazer com que a humanidade mude o objetivo pelo
qual está vivendo. A meta dessa mudança deve ser a Arte, isto é, deve-se
transformar o mundo infernal, repleto de lutas, num mundo paradisíaco,
repleto de Arte. Através da ameaça armada, podemos obter uma paz
momentânea, mas a paz duradoura só poderá ser conseguida pela renovação
do pensamento. Essa renovação, eu afirmo, só se efetivará por meio da
Religião e da Arte.
Não falemos, portanto, em reconstrução do Japão, e sim na construção
de um Novo Japão. Para que isso possa se tornar realidade, só há um meio:
transformá-lo numa nação artística.
1º de janeiro de 1950

A RESPEITO DO JARDIM DA TERRA DIVINA


O Jardim Sagrado que estou construindo há cinco anos, em Gora, na
cidade de Hakone, só está cerca de oitenta por cento pronto. Mesmo assim,
comparado aos famosos jardins existentes em todo o Japão, desde os tempos
antigos, não deixa nada a desejar. Talvez soe como auto-elogio, mas há uma

14
Poema típico japonês.
305
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

grande diferença de nível entre este jardim e os demais. É claro que existem
muitos jardins maravilhosos, cada um com suas características; porém, seja
ele qual for, não possui aspectos tão relevantes quanto o de Hakone.
A Terra Divina, como podemos ver, é totalmente diferente de outros
locais. Possui tal abundância de pedras e rochas naturais, que chega a
espantar. Estou dispondo-as conforme a Orientação Divina, não me
submetendo às tradicionais formalidades relativas a jardins. Não me baseio
em modelos; estou construindo este jardim num estilo totalmente novo. Até no
que diz respeito às árvores, juntei várias espécies, combinando-as bem, para
que possam estar em harmonia com as pedras e rochas. As cascatas e
correntes d'água foram aproveitadas para expressarem, ao máximo, o sabor
da natureza. Assim, somando a beleza das montanhas e das águas com a
beleza dos jardins, tentei expressar o que há de melhor e mais elevado na arte
natural. Meu objetivo é fazer aflorar, através dos olhos da pessoa que vê esse
quadro, o sentimento do belo latente nos seres humanos, elevar seu caráter e
eliminar as impurezas de seu espírito. Por esse motivo, tanto as pedras como
as árvores e plantas foram selecionadas e combinadas cuidadosamente,
colocando-se amor em cada uma delas. É como se fôssemos pintar um quadro
utilizando materiais "in natura". Gostaria, portanto, que o admirassem com
esse espírito.
Construí esse jardim de modo que, visto de perto ou de longe,
parcialmente ou em conjunto, ou de qualquer ângulo, sobressaia cada uma de
suas características. Além disso, com o passar dos meses e dos anos, vão
nascendo vários musgos típicos de Hakone, plantinhas de nome desconhecido,
minúsculas flores graciosas e brotos de árvores que crescem nas reentrâncias
das pedras como "bonsai" 15, as quais, por si mesmas, parecem querer atrair a
atenção das pessoas. No ano passado, o jardim todo ficou mais "maduro",
assumindo um aspecto mais tranqüilo: melhorou tanto que nem o
reconhecíamos. Eu mesmo cheguei a percorrê-lo diversas vezes, sem ter
coragem de afastar-me.
Após a chuva, quando a água é abundante, temos a impressão de estar
vendo, de lugar bem alto, uma correnteza no meio da mata. O som da água
escorrendo pelas pedras, a corrente quebrando-se, lançando gotas para todos
os lados, mais adiante descrevendo graciosas curvas e terminando em duas
cascatas... Visão panorâmica deslumbrante! A cascata do lado direito,
chamada "Ryuzu no Taki" (Cachoeira Cabeça de Dragão), é maravilhosa, e a
do lado esquerdo divide-se em vários fios d'água, para mais abaixo quebrar-se
e espirrar para todos os lados. Vejo de relance até uma andorinha voando
rápido, bem rente às cascatas. Realmente, a harmonia da beleza natural com
a beleza artificial está expressa muito melhor do que eu esperava. Fico
satisfeitíssimo. Ao contemplar essas cascatas, sinto-me como se estivesse nas
profundezas de montanhas e vales ou diante de um quadro magnífico.
Geralmente, as cascatas artificiais têm certo sabor mundano que as prejudica,
mas isso não acontece com as deste jardim, plenamente identificadas com as
cascatas naturais. O vermelho e o amarelo dos bordos, que nelas se refletem
esplendorosamente, as cores de cada árvore e a forma tridimensional de
plantio fazem com que eu me sinta no meio de densas matas.

15
Técnica de cultivo pela qual se fazem plantas em miniatura.
306
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Mas deixemos aqui as explanações a respeito do que já foi concluído.


Também no terreno baldio, bem espaçoso e próximo à parte posterior do
jardim, estou pensando em construir outro jardim muito diferente, e já dei
início à sua construção. Também para este tenho um plano bem diferente,
inaudito; quando ele estiver terminado, talvez cause assombro a todas as
pessoas.
Vim escrevendo à proporção que as idéias me afloravam à mente, e
talvez me achem orgulhoso demais por estar elogiando o que eu mesmo fiz.
Sem dúvida, na opinião das pessoas comuns, isso está errado. Mas este jardim
da Terra Divina foi construído por Deus; eu sou apenas o Seu Instrumento.
Portanto, como ele foi construído pela técnica, ou melhor, pela Arte Divina,
não seria nada de mais elogiá-lo. É o mesmo que louvar a Deus; por
conseguinte, um ato muito justo. Há algum tempo, o Sr. William W. Shudler,
professor de Geografia de um colégio dos Estados Unidos, veio apreciá-lo e,
com visão de profissional, assim exprimiu sua admiração: "Já vi jardins do
mundo inteiro, mas nenhum tão raro e artístico como este. Talvez possamos
afirmar que ele seja único em todo o mundo".
A seguir, falarei sobre o Museu de Belas-Artes, que será construído por
último.
A construção está planejada até o verão do ano que vem e, quando ela
estiver concluída, o Jardim Sagrado da Terra Divina ficará ainda mais
magnífico. Quanto às obras artísticas a serem expostas, já tenho algumas e já
andei pesquisando as que são avaliadas como Tesouro Nacional, existentes em
museus históricos e de belas-artes de várias regiões, em coleções particulares,
em templos, etc., com os quais, pouco a pouco, estou fortalecendo meu
relacionamento. Assim, tenho certeza de que o Museu de Belas-Artes de
Hakone nada ficará devendo a outros do gênero. Minha intenção é expor
poucas obras históricas e arqueológicas, tendo como critério meu senso
estético, independente de ser arte oriental ou ocidental, antiga ou moderna.
Pretendo selecionar somente as obras-primas de artistas famosos de cada
época. Isso porque o significado do Museu de BelasArtes deixará de ser
alcançado se todas as pessoas, entendidas ou não em Arte, não se sentirem
tocadas e extasiadas com a beleza das obras expostas.
Naturalmente, este museu, a começar pela sua arquitetura, instalações
internas, decoração e tudo o mais, será construído de acordo com a orientação
de Deus; por isso, quando ele estiver concluído, apresentará resultados
absolutamente especiais. Com a sua conclusão, praticamente estará
terminada a construção do protótipo do Paraíso da Terra Divina. No momento
em que isso se concretizar, a Obra Divina entrará em sua verdadeira fase de
expansão. Mas não pararemos aí. A construção do protótipo do Paraíso de
Atami também terá rápido progresso. Deus faz com que tudo se processe de
acordo com a Ordem, esta é a Verdade.
19 de setembro de 1951

SIGNIFICADO DA CONSTRUÇÃO DO MUSEU DE BELAS-ARTES 16


Sou Mokiti Okada, Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial.

Este artigo é a saudação proferida por Meishu-Sama na inauguração do Museu de Belas-


16

Artes de Hakone.
307
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Meus sinceros agradecimentos aos senhores pela sua presença no dia de


hoje, apesar de estarem tão atarefados. Convidei-os especialmente, antes da
inauguração deste museu, para ouvir suas impressões de abalizados "experts"
das belas-artes, e, também, para expor, em rápidas palavras, os meus
propósitos.
O objetivo primordial da Religião é a criação do mundo da Verdade, do
Bem e do Belo. A Verdade e o Bem são coisas espirituais, mas o Belo expressa-
se por meio de formas, elevando o espírito do homem pela sua contemplação.
Como é do conhecimento geral, no Ocidente, desde a antigüidade greco-
romana até aproximadamente a Idade Média, e também no Japão, desde a
época Shotoku (574-622) até a Era Kamakura (1192-1333), a arte sacra era
muito próspera. É incontestável que a Religião foi o corpo materno de todas as
artes, seja da pintura, da escultura, da música, etc. Na era contemporânea,
todavia, esse elo entre Religião e Arte foi enfraquecendo pouco a pouco, de tal
modo que elas acabaram se dissociando por completo. Por influência da
Ciência, fala-se muito, hoje em dia, em estagnação da Religião. Entretanto,
pelo motivo exposto acima, acho que a Religião e a Arte têm de caminhar tal
como as rodas de um carro.
Desejo falar agora sobre as características do Japão.
Tal como os indivíduos, cada país possui uma ideologia cultural
particular. A do Japão consiste em contribuir para a elevação da cultura,
deleitando a humanidade através do Belo. Poderemos compreender isso
observando a magnificência da paisagem desse país; a abundância e
variedade de suas flores, plantas e árvores, a sensibilidade aguçada de seu
povo em relação ao Belo, a excelência de seu artesanato, etc. Todavia, por
desconhecimento da natureza de sua missão e por sua ambição demasiado
imprudente, o Japão acabou sofrendo aquela amarga derrota na Segunda
Guerra Mundial. Nem seria preciso dizer que o fato de ter sido despojado até
de armamentos para não provocar novas guerras, foi Obra de Deus a fim de
despertar os japoneses para a sua verdadeira missão. Ultimamente, tem-se
falado muito sobre rearmamento, mas trata-se apenas de uma medida de
defesa, sendo evidente que não contém outro significado.
Está claro, portanto, o caminho que o Japão deve seguir daqui para a
frente. Tendo isso como objetivo, infalivelmente lhe advirá eterna paz e
prosperidade. Consciente dessa verdade, venho me esforçando para
concretizá-la, embora, no contexto geral, talvez seja insignificante o meu
esforço. Como método concreto, primeiramente construí um pequeno Paraíso
do Belo, com a intenção de mostrá-lo ao mundo. Os locais que preenchem este
requisito, sem dúvida alguma, são Hakone e Atami, pelas facilidades de
acesso, pela beleza das paisagens, pelas fontes termais, pela excelência do
clima e do ar. São lugares plenamente satisfatórios. Escolhendo um local
particularmente belo, nessas duas cidades, e unindo a beleza natural à beleza
criada pelo homem, para formar um ambiente artístico ideal, consegui,
finalmente, concluir o protótipo do Paraíso Terrestre de Hakone e este Museu
de Belas-Artes.
Como é do conhecimento de todos, até hoje não existia, no Japão,
nenhum museu de belas-artes tipicamente japonês. Existe museu de belas-
artes chinesas, de belas-artes ocidentais, o de arte sacra, nas dependências
do Museu Histórico, e outros museus, mas nenhum de arte japonesa. Sendo
308
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

assim, nem mesmo os próprios japoneses podiam admirar as belas-artes de


seu país. Se, por acaso, um estrangeiro nos visitasse e desejasse apreciar
obras de arte tipicamente japonesas, era impossível satisfazer sua vontade.
Isso não constituiria uma grande falha do Japão, o país das belas-artes?
Portanto, se este museu for capaz de suprir pelo menos uma parte dessa
falha, será para mim uma grande e inesperada felicidade.
Também gostaria de que os senhores tomassem conhecimento de outro
fato.
Desde tempos remotos, o Japão possui um grande número de
verdadeiras obras-primas da Arte, das quais poderia vangloriar-se perante o
mundo inteiro. Entretanto, até o término da Segunda Guerra Mundial, elas
eram propriedades intocáveis, guardadas com todo o zelo pelas famílias
milionárias e nobres e raramente expostas ao público. Creio que isso foi
motivado pela ideologia monopolista e feudalista. Hoje, porém, tendo-se
tornado o Japão uma nação democrática, o fato ficou apenas como imagem do
passado. Pela sua própria natureza, as obras-primas da Arte existem para
serem mostradas o mais possível ao povo, a fim de deleitá-lo e fazê-lo,
inconscientemente, elevar sua espiritualidade. Assim sendo, é preciso, antes
de mais nada, erradicar a ideologia monopolista e liberar as belas-artes.
Felizmente, por ocasião da grande mudança ocorrida em nível nacional,
após a guerra, muitos tesouros culturais que estavam escondidos foram
lançados no mercado, sendo evidente o quanto isso foi útil para a constituição
do nosso Museu de Belas-Artes. É um museu pequeno; entretanto, tenciono
fazer dele um modelo, pois acredito que, doravante, surgirão, seguidamente,
vários museus, tanto no Japão como no exterior. Por isso, o seu conjunto e até
os mínimos detalhes foram objeto de minha especial atenção; naturalmente,
os jardins - cada árvore e cada planta - também são projetos meus. Como é
obra de amador, esse museu pode ter muitos defeitos, mas, se puder ter
alguma utilidade, sentir-me-ei muito satisfeito. Além disso, pensando em
possíveis bombardeios aéreos, incêndios, roubos, etc., tomei precauções
suficientes tanto no que concerne ao ambiente como às instalações. Creio,
portanto, que ele também preencha condições para a conservação de
Tesouros Nacionais.
Acredito que os senhores tenham compreendido meus propósitos; mas,
repetindo, não tenho outro objetivo senão o de fazer aflorar a natureza
intrínseca do Japão, ou seja, a de País do Belo e Paraíso do Mundo. Também
tenho planos de, num futuro próximo, construir protótipos do Paraíso Terrestre,
e seu indispensável museu de belas-artes, em Atami e Kyoto. Aproveito o
ensejo para expressar meu desejo de poder contar com o apoio de todos os
senhores.
9 de julho de 1952

OBRAS-PRIMAS DA ARTE AO ALCANCE DO POVO


Vou explicar o significado fundamental da construção do Museu de
Belas-Artes de Hakone.
Como sempre digo, o objetivo da nossa Igreja é construir um mundo de
perfeita Verdade, Bem e Belo. Para expressar este último, construí uma obra
de arte inédita, unindo a beleza natural à beleza criada pelo homem. Que
pretendo atingir com isso?
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Embora o Japão, desde um passado bem remoto, sempre tivesse


possuído grande número de magníficas obras de arte, que nunca deixaram
nada a desejar em relação às de qualquer outro país, até hoje elas estavam
nas mãos da classe dominante, bem guardadas nos seus palácios. Só de vez
em quando essas obras eram expostas e, assim mesmo, a um limitado número
de pessoas. Portanto, em termos mais claros, vigorava, até algum tempo
atrás, o monopólio das belas-artes, produto do pensamento feudalista dos
japoneses.
Já há muito tempo eu vinha me rebelando contra esse mau costume.
Pensava modificá-lo de alguma forma, colocando as belas-artes ao alcance de
todos. Enfim, queria libertá-las e, com elas, deleitar o povo. Acreditava que,
dessa maneira, também daria um novo sopro à vida da Arte. Como sou líder
religioso e, conseqüentemente, pude contar com a dedicação dos fiéis, o
Museu de Belas-Artes foi concluído em curto espaço de tempo. Vendo
concretizada uma aspiração de longos anos, estou imensamente feliz.
Atualmente, existem museus de Arte particulares, mas o objetivo destes
é muito diferente do meu. São museus organizados por milionários, com os
inúmeros objetos que eles colecionaram para preservação e segurança de seu
futuro. Esses milionários dispendem grande soma de dinheiro para satisfazer
seus próprios "hobbies", proteger sua fortuna, receber honrarias, etc.
Entretanto, como existe uma lei regulamentando que, num determinado
número de dias do ano, as peças dos museus particulares devem ser expostas
ao público, esses museus abrem suas portas durante um curto período, na
primavera e no outono, apenas para cumprirem a exigência da lei. Por isso,
devemos dizer que seu significado social ainda é muito limitado.
Em contraposição, o nosso Museu de Belas-Artes fecha somente durante
os três meses de inverno - dezembro, janeiro e fevereiro - devido ao clima
impróprio de Hakone. No restante do ano, ele está aberto, podendo ser
visitado quando se desejar. Assim, também nesse aspecto podemos dizer que
ele é um museu ideal. Além disso, os objetos nele expostos são tão famosos e
raros, que as pessoas interessadas em Arte desejam admirá-los pelo menos
uma vez. Imagino, pois, quão grande seja sua satisfação. Acrescente-se que o
preço do ingresso é bem acessível; dessa forma, estamos contribuindo
grandemente para o bem da sociedade.
Outro aspecto positivo é que, quando os artistas da atualidade queriam
ver um objeto de arte como ponto de referência para os seus estudos, não
encontravam um museu de arte japonesa no verdadeiro sentido da palavra.
Como todos sabem, os museus históricos possuem grande número de objetos
históricos e arqueológicos, mas trata-se, principalmente, de arte budista, ao
passo que outros, como os particulares, por exemplo, expõem sobretudo arte
chinesa e ocidental. Assim, poderemos contribuir para a preservação dos
valiosos patrimônios culturais que tendem a se dispersar facilmente.
Outro dia, em visita ao museu, o Sr. Assano, diretor do Museu Nacional
do Japão, e o Sr. Fujikawa, chefe do Departamento do Conselho de
Desenvolvimento do Patrimônio Histórico e Artístico Japonês, disseram que
esse tipo de museu preenche as condições de que a nação mais necessita
atualmente, razão pela qual eles nos manifestavam seu irrestrito apoio e o
desejo de que alcançássemos um êxito cada vez maior. Isso veio firmar mais
ainda a minha convicção.
310
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Por fim, quero dizer em especial que, no futuro, virão turistas ao Japão,
uns após outros e, como não existem turistas que não passem por Hakone,
sem dúvida eles visitarão o nosso Museu de Belas-Artes. Também nesse
aspecto ele será de grande utilidade, contribuindo para que os visitantes se
conscientizem do elevado nível da cultura japonesa. A propósito, estrangeiros
de grande influência tal como o Professor Langdon Warner (1881-1955) nos
solicitaram permissão para visitar o museu, de modo que, um dia, ele também
será conhecido no exterior; creio mesmo não estar muito longe o tempo em
que se tornará uma das atrações do Japão. No desejo de corresponder a essa
expectativa, estou me esforçando ao máximo para o aperfeiçoamento de
todos os seus detalhes.
6 de agosto de 1952

POR QUE AS OBRAS-PRIMAS CHEGARAM ÀS MINHAS MÃOS


Como as pessoas que já visitaram o Museu de Belas-Artes de Hakone
devem saber, temos inúmeras peças que não se conseguem facilmente. Por
isso não há quem não se espante. Vou contar, desde o início, como ocorreram
os fatos.
Comecei a comprar objetos de arte logo após o término da guerra.
Naquela época, o Japão estava passando por uma transformação até então
nunca vista. Os nobres, os milionários, os senhores feudais, os grandes grupos
econômicos, enfim, todos aqueles que ocupavam posições privilegiadas foram
despojados delas de uma só vez. Premidos pelas dificuldades financeiras, eles
viram-se obrigados a desfazer-se das caligrafias, quadros e antigüidades de
valor artístico que eram tesouros de família desde a época de seus ancestrais.
Por conseguinte, surgiram no mercado muitas peças famosas e raras, e a
preços baixos. Fiquei com muita pena, pois essas pessoas precisavam vendê-
las mesmo a contragosto, para poderem pagar os altíssimos impostos
lançados sobre seus bens. Assim, ao comprar os objetos, eu também fui
levado por uma grande vontade de ajudá-las, de modo que não pedi desconto,
tendo comprado a maioria pelo preço ofertado. É óbvio, porém, que fiz um
balanço dos ganhos exorbitantes de vendedores ambiciosos. Dessa forma, as
peças foram sendo colecionadas pouco a pouco.
Como tenho dito várias vezes, desde jovem eu gostava muito das belas-
artes. Entretanto, minha capacidade de avaliação ainda era de amador; além
disso, eu não tinha experiência em compras desse tipo, nem entendia de
preços do mercado. Conseqüentemente, só comprei as obras de que gostava.
E parece que esse método não falhou; posso até dizer que não comprei
nenhuma peça falsa.
Os especialistas no assunto que visitaram o Museu de Belas-Artes de
Hakone, teceram-lhe elogios sinceros e não apenas para serem gentis: "Em
todos os museus de belas-artes que visitei até hoje, as peças expostas são de
valor duvidoso, mas as deste museu não. É um conjunto de objetos de
primeira classe!" O Sr. Alan Priest, Curador do Setor de Belas-Artes Orientais
do Museu Metropolitano de Nova Iorque, também elogiou especialmente esse
ponto.
Enquanto fazia isto e aquilo, fui colecionando muitos objetos, e minha
capacidade de avaliação tornava-se cada vez mais aguçada. Comecei, então, a
pensar que, um dia, deveria construir um museu de belas-artes. Isso ocorreu
311
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

há mais ou menos três anos. A partir daí, misteriosamente, superando todas


as expectativas, começaram a aparecer peças que vinham ao encontro desse
objetivo, e eu então compreendi claramente que, por fim, Deus começara a
executar a construção do Museu de Belas-Artes. Os milagres ocorridos nesse
sentido foram muitos, e, como não conseguiria enumerar todos, citarei apenas
os mais relevantes.
Foi logo no começo. Certo vendedor, especialista em "makiê",
misteriosamente me trazia, uma após outra, obras de alto nível. E não era só
eu que me espantava: o próprio vendedor dizia que, para ele, o fato também
era realmente um mistério. Além disso, a época era propícia e consegui
objetos valiosos por preços incrivelmente baixos; em termos de mercado atual,
custaram várias vezes menos. Todas as peças de "makiê" que atualmente
estão expostas no Museu de Belas-Artes são dessa época, tendo sido
colecionadas em apenas meio ano. Entre elas, destacam-se duas do
extraordinário artesão Shossai Shirayama, e ainda tenho algumas outras
guardadas, que pretendo expor um dia. Hoje, quase já não existem à venda
obras desse artista; restam muito poucas, e seus proprietários não abrem mão
delas.
Há muito tempo aprecio os objetos de estilo Rin e as cerâmicas Ninsei.
Com o passar dos anos, eles foram ficando cada vez mais caros; ultimamente,
já não existe quase nenhum à venda, e dizem que os interessados estão
desapontadíssimos. Entretanto, na confusão do período logo após a guerra, os
preços eram baixíssimos e eu pude adquirir muitas obras; podemos, pois,
entender que isso foi obra do Poder de Deus. É por esse motivo que eu nunca
deixava de conseguir as peças que gostaria de possuir ou que
necessariamente deveriam existir no Museu de Belas-Artes. Todas as vezes
que isso acontecia, o vendedor exclamava: "É um mistério! É um milagre!"
A esse respeito, ocorreu um fato interessante. Eu estava querendo
adquirir a famosa xilogravura "Tokaido Gojusantsugui", de Hiroshigue, quando
me apareceu um vendedor especializado em xilogravuras, que me ofereceu
algumas obras desse artista. Eu lhe disse que, se fosse a impressão original da
"Gojusantsugui", eu a compraria a qualquer hora. Qual não foi o meu espanto
quando, no dia seguinte, ele a trouxe para mim, dizendo: "Não há nada mais
misterioso. Ontem, assim que voltei para casa, uma pessoa me levou
exatamente o que o senhor queria. Fiquei muito surpreso, pois estava à
procura dessa obra há mais de quarenta anos, e justamente ontem apareceu
alguém para vendê-la. Não consigo entender!"
É claro que eu também exultei com o grandioso milagre. Examinando
atentamente, vi que era de fato a obra original, que estava sendo guardada
por um lorde feudal. Percebi, inclusive, que a encadernação parecia ter sido
feita por um ancestral seu; por isso, fiquei duplamente maravilhado em poder
adquiri-la. Além disso, o preço era muito baixo, o que me deixou mais contente
ainda.
A seguir, falarei sobre a cerâmica chinesa.
Anteriormente, eu não sentia nenhuma atração nem entendia nada
sobre o assunto, mas, quando pensei que essas peças seriam necessárias ao
Museu de Belas-Artes, não tardou que elas se fossem acumulando. São estas
que agora estão expostas, e as pessoas não acreditam que tenham sido
colecionadas em apenas um ano. No princípio, eu não entendia absolutamente
312
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

nada, como disse, mas fui escolhendo-as com base nas explicações dos
vendedores e no meu sexto sentido. Hoje, os especialistas dizem que ficam
impressionados em ver como se conseguiu reunir tantos objetos de valor. Por
isso não tenho palavras para exprimir a grandiosidade das graças concedidas
por Deus.
Ainda poderia contar muitos outros fatos, mas gostaria que imaginassem
o restante. Agora, explicarei por que ocorreram tais milagres.
Os espíritos dos autores dessas obras, que, obviamente, estão no Mundo
Espiritual, assim como os espíritos das pessoas que as apreciavam e os
daqueles que tinham alguma relação com elas, pensando em praticar um ato
meritório, faziam com que as peças chegassem às minhas mãos por diversos
meios. Isto porque, através desse mérito, eles se salvariam e subiriam de nível
no Mundo Espiritual. Não é preciso dizer que foi pelo mesmo motivo que
conseguimos este esplêndido Museu de Belas-Artes em tão pouco tempo.
Pensem bem. Até agora, para se conseguir um museu de belas-artes, era
necessário o empenho de uma geração inteira de milionários; se este foi
conseguido num piscar de olhos, qualquer pessoa poderá ver que não é obra
humana.
8 de outubro de 1952

CAMPANHA DE FORMAÇÃO DO PARAÍSO POR MEIO DAS FLORES


O objetivo da Igreja Messiânica Mundial é a construção do Paraíso
Terrestre. Mas o que significa isso?
Obviamente, o Paraíso Terrestre é o mundo de perfeita Verdade, Bem e
Belo. O método para obtenção da saúde - o Johrei - que é a vida de nossa
Igreja, e a Agricultura Natural, são meios de que nos utilizamos para
materializá-lo, mas o Johrei, além de promover a renovação do corpo físico,
visa também à renovação do espírito. Independentemente de tais métodos, é
de extrema urgência elevar o espírito das pessoas através do Belo. Esse é um
novo projeto da Igreja Messiânica Mundial, que agora estamos colocando em
prática. Para falar a respeito, vou expor, em primeiro lugar, a situação atual do
Japão.
Numa classificação sumária, o Belo situa-se no domínio da audição, da
visão e do paladar. No que se refere à audição, talvez nunca tenha havido
época tão próspera em música como a época atual, em virtude,
principalmente, do rádio, sendo muito significativo, também, o progresso do
toca-discos, dos discos, etc. No tocante à visão, entretanto, a situação é muito
precária, existindo apenas o teatro, o cinema e coisas do gênero. Em verdade,
queremos algo que toque nosso sentimento pela beleza, que seja mais
simples, mais próximo de nós, e que não esteja limitado pelo tempo. Ora, o
teatro e o cinema são excelentes meios para deleitar os olhos, mas, como
implicam limitação no tempo, questões financeiras e meios de transporte, não
podem ser aceitos integralmente.
O que propomos aqui, é o cultivo e distribuição das flores, excelente
forma de propagação do Belo. Consiste em ornamentar com flores não só as
residências como outros locais. Hoje em dia, as flores ornamentam,
geralmente, as residências de pessoas acima da classe média, mas isso é
insuficiente. Nosso objetivo é adornar com elas todos os lugares e classes
sociais, colocando-as à vista de qualquer pessoa. No canto do escritório, em
313
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

cima da escrivaninha, onde quer que seja, não é nem preciso dizer o quanto
uma flor nos reanima e nos faz sentir um toque de pureza. Em termos ideais,
desejamos ornamentar até mesmo prisões e locais de execução. Quão boa
influência isso exerceria sobre os detentos! Se chegarmos ao ponto de
existirem flores onde quer que haja pessoas, a força para tornar ameno este
mundo infernal será bem grande. Atualmente, porém, isso é impossível, dado
o alto preço das flores; por conseguinte, precisamos fazer com que elas
possam ser adquiridas a preços bem baixos. Para tanto, devemos intensificar o
seu cultivo, mas de modo a não prejudicar a produção de alimentos.
O Japão é considerado o primeiro país do mundo no que se refere à
variedade de flores. Quanto aos métodos de cultivo, também parece atingir o
nível mais alto, e todos sabem que a tulipa, que era produzida exclusivamente
na Holanda, começou a ser cultivada, antes da última guerra, não só no
Estado de Niigata, com exceção da Ilha de Sado, mas também no Estado de
Kanagawa. Está sendo exportada para a Inglaterra e para os Estados Unidos, e
a produção vem aumentando a cada ano.
Pela pesquisa que fizemos, constatamos, por exemplo, que os
americanos admiram muito as flores existentes no Japão, interessando-se
pelas raridade que não possuem em seu país. Assim, doravante, devemos
fazer das flores mais um recurso para a obtenção de divisas, cultivando-as em
larga escala. Até hoje essa prática veio sendo negligenciada, mas de agora em
diante deve ser estimulada ao máximo. Além do mais, como a flor é um
produto cuja exportação não sofre limitações de quantidade, torna-se objeto
de enorme expectativa.
8 de maio de 1949

AS PLANTAS TÊM VIDA


Gosto muito de cuidar das plantas do jardim e sempre corto seus galhos,
arrumando-lhes o formato. De vez em quando, porém, sem perceber, acabo
cortando demais ou deixando de cortar onde é necessário. Às vezes, quando
vou plantar uma árvore, não havendo outra alternativa, por causa do espaço,
planto-a num lugar que não é do meu agrado e deixo a parte da frente para
trás, ou meio de lado, o que me incomoda, toda vez que a observo. Mas é
engraçado, pois, com o passar do tempo, vejo que a árvore vai se
acomodando aos poucos, por si mesma, até que acaba se harmonizando
perfeitamente com o lugar. Acho isso interessantíssimo e não posso deixar de
pensar que ela está viva. Certamente, as árvores também possuem espírito.
Nesse ponto, assemelham-se ao homem que cuida de sua aparência para não
passar vergonha perante os outros.
Temos atrás, ouvi um velho jardineiro contar que, quando uma planta
não dava flores como ele queria, dizia-lhe estas palavras: "Se este ano você
não der flores, vou cortá-la." Assim, ela não deixava de florir. Ainda não
experimentei fazer isso, mas o fato parece-me verossímil. Não há erro em
lidarmos com qualquer elemento da Grande Natureza acreditando que ele
possui espírito. Num livro que li, de autor ocidental, dizia-se que uma árvore
que geralmente leva quinze anos para crescer, tendo sido cuidada com amor e
dedicação, cresceu da mesma forma na metade do tempo, isto é, em sete ou
oito anos.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

O mesmo pode ser dito em relação às vivificações florais. Eu próprio


vivifico as flores de todos os compartimentos de minha casa; entretanto, ainda
que elas não estejam do meu completo agrado, deixo-as assim mesmo. No dia
seguinte, noto que elas estão diferentes, com um aspecto agradável, como se
realmente estivessem vivas. Nunca forço o formato das flores; vivifico-as da
maneira mais natural possível. Por isso, elas ficam cheias de vida e duram
mais. Se mexermos muito, as flores perdem sua graça natural, o que não acho
bom. Assim, quando vamos vivificá-las, devemos, primeiramente, imaginar
como iremos fazê-lo, para depois cortá-las e fixá-las rapidamente. Isso porque,
tal como os seres vivos, quanto mais mexermos, mais fracas elas ficam. Esse
princípio também se aplica ao homem. Com os pais, por exemplo: quanto mais
cuidados tiverem na criação dos filhos, mais fracos eles serão.
Como vivifico as flores dessa maneira, minhas vivificações duram mais
do que o dobro do normal, e todos se admiram. Em geral não se usa bambu e
bordo - certamente porque não duram muito - mas eu gosto de vivificá-los, e
eles sempre duram de três a cinco dias; às vezes o bambu dura mais de uma
semana, e o bordo, quase duas. Além disso, qualquer que seja a flor, não
mexo em seus cortes, deixando-as ao natural.
5 de agosto de 1953

A RESPEITO DA COLETÂNEA DE POEMAS "YAMA TO MIZU" (MONTE E


ÁGUA)
Como sempre digo, o objetivo da Fé é polir a alma e purificar os
sentimentos. Existem três maneiras para conseguirmos isso: pelo sofrimento
oriundo não só de abstinência ou penitências, mas tambem de danos e
catástrofes; pela soma de méritos e virtudes e pela elevação da alma por
influência da arte de alto nível. Dentre elas, o caminho mais rápido é este
último. E não existe nada melhor, pois nossa alma vai sendo polida
imperceptível e prazerosamente.
Neste sentido, sempre que dispusermos de tempo, é bom lermos a
coletânea intitulada "Yama to Mizu" (Monte e Água), poemas escritos em estilo
"waka"17. Por intermédio deles, nossa alma se eleva sem que o percebamos.
Quando isso ocorre, a Inteligência da Percepção da Verdade é polida e, assim,
o cérebro se torna mais claro e a fé se eleva mais facilmente. Isso acontece
porque os referidos poemas são repletos de Verdade, Bem e Belo.
De acordo com o exposto, tenho como objetivo desenvolver a fé
também por meio do poder do espírito das palavras.
6 de maio de 1950

SOCIEDADE

O HOMEM E A LUTA ENTRE O BEM E O MAL

Poema composto no Japão desde os tempos antigos, semelhante ao haicai, diferenciando-se


17

deste no que diz respeito aos pés métricos, que são trinta e um. É constituído de cinco versos,
dos quais o primeiro e o terceiro são pentassílabos, e os demais, heptassílabos.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

ATEÍSMO É SUPERSTIÇÃO
O problema do suborno de funcionários públicos tem ocupado os
noticiários jornalísticos. Surge um caso após o outro e parece que a coisa não
tem fim. Isto nos mostra que o serviço público está completamente
corrompido. Assemelha-se a um sifilítico purulento em terceiro grau. Jamais vi,
até hoje, tanta corrupção. A polícia estuda novos meios para prevenir o
problema, mas não encontra solução, embora venha aplicando severamente
os recursos legais. Todas as medidas revelam-se provisórias, pois não se
conhece a raiz do mal, e por isso é impossível evitar que surjam problemas
dessa espécie.
Dentro da mesma ordem de fatos, temos os aproveitadores dos serviços
públicos, cujas atividades obscuras vêm se tornando notórias nos últimos
tempos. Tais indivíduos convidam funcionários para reuniões em restaurantes
ou casas noturnas e, após oferecer-lhes magníficas recepções, conseguem
concluir negócios altamente vantajosos para si próprios. Desse modo,
enfraquecem todas as resistências. As despesas que isso acarreta são
geralmente consideráveis, e é o povo que vai pagá-las através do aumento do
preço das mercadorias e dos impostos.
O problema em questão exige solução radical e urgente. Infelizmente,
nada poderá ser feito enquanto a polícia e os especialistas ignorarem as
causas do fato. Vou sugerir um meio infalível para solucioná-lo.
De início, parece-nos contraditório que pessoas de cultura superior ou,
pelo menos, de nível médio, cometam crimes. Entretanto, o povo se engana,
julgando que os homens mais instruídos sejam incapazes de praticá-los. Talvez
o homem culto não use métodos violentos, mas recorre às sutilezas da
inteligência. Conseqüentemente, seus delitos serão mais graves, pois ele
exerce maior influência social. E qual é o motivo que o leva à prática de crimes
revoltantes?
A causa principal é uma falha psicológica: sua visão materialista, que o
faz crer no êxito da ação culposa executada com habilidade, às ocultas, sem o
testemunho de outrem. Acontece, porém, que, quando menos se espera, o
crime é descoberto. Então, o culpado se surpreende e se põe a pensar. O que
se passa em seu íntimo deve ser mais ou menos o seguinte: "Infelizmente fui
descoberto, apesar de minha habilidade. Conhecendo a lei como conheço, não
deixei nenhuma pista. Como vieram a saber? É inútil ficar me lamentando.
Farei o possível para fugir às conseqüências e, da próxima vez, serei mais
esperto." Esta é a tendência geral. Há, também, os que caem em si e refletem:
"Eu não devia ter burlado a lei. Vou cumprir a pena e me regenerar."
Entretanto, com o decorrer do tempo, tal decisão poderá enfraquecer e o
culpado reincidir no erro. Isso acontece porque ele não crê em Deus.
O único meio de resolver estes problemas é a Fé. É através dela que
vislumbramos a existência de Deus. Creio na força da Fé para resolver tais
casos, porque a psicologia do delinqüente se baseia na convicção de que Deus
não existe. Quase todos eles acreditam que, acima da Terra, existe apenas o
ar, e mais nada. É um conceito simplista. Além disso, julgam-nos
supersticiosos, por crermos num Deus invisível. Embora crentes, não somos
nós os supersticiosos. Só há uma perigosa superstição: a do ateísmo, que se
oculta sob a obstinada negação da existência de Deus. Os ateus merecem
316
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

realmente piedade. Se destruirmos a base da psicologia do criminoso - a


descrença em Deus - teremos solucionado o problema.
Mas por que tantos homens da atualidade caíram nas garras desse
fanatismo? O fato se deve à educação materialista que desde o berço lhes
veio sendo ministrada. Nossa missão é convertê-los, isto é, reeducá-los. Não
há outro meio para formar cidadãos honestos. Se os políticos e educadores
não tomarem consciência da base do problema, tudo o mais que fizermos será
provisório. É nossa tarefa fazer os delinqüentes compreenderem que, embora
ocultem seus crimes aos olhos do mundo, jamais poderão enganar a Deus.
12 de dezembro de 1951

POR QUE O MAL SE REVELA


Como já me referi em "ATEÍSMO É SUPERSTIÇÃO" 18, a causa das
injustiças que infestam o mundo reside na própria mente humana.
O pensamento que admite a possibilidade de se manterem
despercebidos os delitos, sejam eles quais forem, acha-se enraizado entre os
que não crêem verdadeiramente em Deus. Segundo tal raciocínio, é muito
mais fácil e vantajoso ganhar dinheiro de modo ilícito.
Claro está que esse conceito é largamente seguido entre os que
praticam o mal, mas o fato é que o crime sempre é descoberto. No fundo, o
próprio culpado sabe disso, porém, como desconhece a razão dessa verdade,
não consegue abandonar a senda do mal.
Considera-se que todo cidadão é independente, apesar de ser um
membro da sociedade, e que, portanto, ele é livre para praticar quaisquer
atos. Atualmente, "viver com inteligência" significa empregar a habilidade
exclusivamente no que possa proporcionar benefícios à própria pessoa. O
homem, simulando admiração pelas palavras dos seus superiores ou
religiosos, no íntimo zomba delas, achando que são tolices. Prende-se a
formalidades, tornando-se nulo não apenas espiritualmente, mas também
quanto ao seu valor humano.
Esse é o pensamento moderno da maioria dos homens, os quais, longe
de conseguirem a almejada felicidade, acabam fracassando. E fracassam
porque, embora o mal não seja descoberto pelos outros, a própria pessoa sabe
que o cometeu. Aí é que está o problema, pois o conteúdo do consciente e do
subconsciente reflete-se num local do Mundo Espiritual que corresponde, na
Terra, ao nosso Palácio da Justiça. Pode ser chamado de Fórum do Mundo
Espiritual.
Infelizmente, é difícil para o homem, vítima do materialismo, crer na
existência do Mundo Espiritual, que ele nega sumariamente. A ignorância da
existência desse mundo é a fonte do mal. Assim, para extirpar o mal pela raiz
é necessário pregar esta verdade e convencer o homem; não há meio mais
eficiente.
Vejamos como é feita a comunicação ao Fórum do Mundo Espiritual.
Há um elo espiritual semelhante ao telégrafo sem fio que estabelece
uma ligação entre cada homem e esse Fórum, no qual as nossas ações são
registradas com assombrosa exatidão. O registrador anota tudo
minuciosamente num livro, e os delitos são julgados de acordo com o grau de

18
Ensinamento anterior a este, página 285.
317
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

perversidade. Por esse julgamento do Mundo Espiritual, o delito é revelado no


Mundo Material, de forma hábil, para a pena correspondente.
Quando o homem tomar consciência desse fato, deixará de cometer
qualquer espécie de mal. Se, ao contrário, praticar bons atos, será
recompensado também, segundo o próprio mérito. Esta é a realidade dos dois
mundos, o Espiritual e o Material. Deus construiu-os sabiamente. Sendo esta a
Verdade Absoluta, não há outra solução a não ser aceitá-la.
Atualmente, a maioria dos homens cultos é cega a essas questões
espirituais e menospreza o ato de revelá-las ao povo. Inclusive mostram-se
prevenidos contra a pregação desse princípio fundamental, considerando-o
superstição, quando, na realidade, são eles que se portam como verdadeiros
supersticiosos. A maior prova do que dizemos é que, apesar de intenso
empenho nesse sentido, os delitos não têm diminuído. A justiça terrena tenta
evitá-los punindo-os com medidas provisórias e superficiais, depois que eles
vêm à tona. Estabelece leis que podem ser transgredidas, deixando de tocar
no ponto vital, e a humanidade, imatura, chega a orgulhar-se do que
denomina "Civilização". Digamos, antes, pela evidência dos fatos, que
estamos vivendo, atualmente, a era da "cultura selvagem".
26 de dezembro de 1951

O HOMEM MAU É IGNORANTE


Sabemos que o homem mau é aquele que sacrifica o próximo para
satisfazer os seus interesses, dando a impressão, muitas vezes, de estar
agindo apenas por uma espécie de capricho.
Passarei a uma análise psicológica desse tipo de pessoas.
É costume dos homens maus expressarem o desejo de gozar a vida
enquanto podem. Ora, os delitos não ficam ocultos por muito tempo, e esses
infelizes, receosos de tal fato, preparam-se para o fim iminente do seu breve
gozo.
Os delitos não se restringem aos de banditismo, roubo ou homicídio,
como se costuma supor. Homens de elevada posição social também cometem
desonestidades sumamente lamentáveis. Os jornais de após-guerra
alardeavam repelentes delitos, como desvio de mercadorias, contrabando,
sonegação de impostos e fraudes. Surpreendia-nos a prisão de personagens
que jamais poderíamos imaginar em semelhante situação. Eles supunham que
seus crimes passariam despercebidos, por terem sido habilmente executados,
esquecendo-se de que a maldade é sempre descoberta, porque Deus tudo
observa do invisível Mundo Espiritual. A nossa constante afirmação de que o
homem descrente é perigoso, está fundamentada justamente nisso. Trata-se
de um ponto importantíssimo e difícil de ser compreendido até por pessoas
inteligentes.
Uma vez descobertas e condenadas as más ações, as pessoas caem no
conceito público, levando anos para recuperarem a confiança perdida. Muitas,
caindo em descrédito, ficam relegadas para o resto da vida. Reflitamos um
pouco. O prejuízo será muitas vezes superior aos lucros obtidos por meios
ilícitos.
Na Era Meiji (1868-1912), o famoso ladrão Sadakiti Shimizu, quando foi
preso, assim expressou seu arrependimento: "Não há coisa pior do que roubar.
Se eu dividisse o dinheiro que roubei até hoje pelo número de dias que se
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

passaram, o resultado seria de apenas 45 centavos por dia." Concordo que


não deve ter sido compensador, por mais baixos que estivessem os preços na
Era Meiji.
Praticar o mal, além de não ser compensador do ponto de vista religioso
e material, também não o é pela inquietação de que o criminoso se torna
vítima até ser descoberto. O maior ignorante é o indivíduo que comete o mal e
sacrifica o próximo para satisfazer os seus próprios interesses.
30 de abril de 1949

O HOMEM MAU É ENFERMO


O título acima suscitará dúvidas em inúmeras pessoas, pois há muitos
homens maus com aparência sã. Entretanto, eles são sadios apenas
aparentemente; na realidade espiritual, são autênticos enfermos.
Conforme venho asseverando, os homens maus são vítimas dos maus
espíritos. Estes dominam o Espírito Primordial, afastam o Espírito Guardião e
agem a seu bel-prazer, como se fossem a própria pessoa. Podem ser de
animais como raposa, texugo, dragão, etc., e praticam atos não muito
diferentes daqueles que esses animais praticariam. Nessas condições, sem
nenhum constrangimento e até com satisfação, fazem coisas impiedosas e
cruéis, que o homem jamais faria. Pode-se compreender, portanto, como esses
espíritos são desumanos, porque escapam à compreensão pelo senso comum.
Como sempre afirmo, o homem é constituído de Espírito Primordial, de
natureza Divina, e de Espírito Secundário, de natureza animal. Este último
incorpora-se ao homem por permissão de Deus, pois comanda todos os
desejos materiais indispensáveis à existência humana.
Analisando um homem mau, constatamos que ele está revelando o seu
instinto animal, inerente ao Espírito Secundário, ou manifestando o instinto de
um espírito animal "encostado". Isto acontece devido às máculas existentes no
seu corpo espiritual, sendo que o grau de encosto é proporcional à densidade
dessas máculas. O Espírito Guardião será então dominado pelo espírito animal
e agirá sob suas ordens.
As máculas espirituais são a causa do homem mau. Como elas se
refletem no sangue, de acordo com a Lei do Espírito Precede a Matéria,
infalivelmente sobrevirá, algum dia, uma intensa ação purificadora,
proporcional, em sofrimento, à densidade das máculas, causando acidentes
imprevistos, doenças e outras desgraças.
É curioso o fato observado muitas vezes entre os grandes criminosos:
são presos só depois que se arrependem e desejam aproximar-se de Deus. É a
ação da Lei da Purificação pelo sofrimento, decorrente das máculas do corpo
espiritual.
Observamos, assim, que o homem mau é um autêntico enfermo, porque
a causa da maldade reside nas máculas do espírito. Quanto maior o crime,
mais intensa a ação purificadora, que transforma o culpado em enfermo
gravíssimo, submetido a dores infernais.
As máculas surgem porque falta força, isto é, Luz ao Espírito Primordial,
de natureza Divina. Portanto, para livrar-se delas, o homem precisa contar com
o apoio da Religião, ter fé e manter sempre em vista o Todo-Poderoso. Se ele
agir dessa forma, a Luz de Deus penetrará na sua alma, através do elo
espiritual, diminuindo-lhe as máculas. O espírito mau padecerá com isso e,
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Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

intruso que é, abandonará imediatamente sua vítima, fazendo com que o


Espírito Secundário se retraia e fique sem ação para o mal.
Quem não reverencia Deus, está sujeito a transformar-se em mau
elemento, em qualquer oportunidade ou a qualquer momento. Podemos
afirmar que os indivíduos afastados de Deus, cujo número é elevadíssimo na
sociedade atual, são elementos perigosos. Assim, o mal social tende a não
diminuir. Por mais honesto que o homem seja, não será autêntico, se estiver
afastado de Deus; será apenas um homem superficial, cuja má índole, em
estado latente, não permite que nele se possa confiar.
Lamentavelmente, muitas pessoas, incapazes de compreender essa
simples verdade, negam a Religião e contam somente com o apoio da lei
humana para o extermínio do mal. O que foi exposto, no entanto, demonstra o
quanto elas estão equivocadas.
21 de novembro de 1951

COMO ACABAR COM OS CRIMES


Dentre os crimes cometidos ultimamente, os mais graves são os crimes
praticados por indivíduos que, para roubar uma pequena soma em dinheiro,
não hesitam em tirar a vida de seu semelhante. Para eles, isso é mais simples
do que matar um cão. Quando analiso esse tipo de pessoa, fico pasmado com
sua estupidez, inconcebível por meio do senso comum. Que situação
tenebrosa! Tais indivíduos não pensam no sofrimento da vítima e de seus
familiares. Além disso, não passa pela sua cabeça que, no caso de serem
presos, a pena de morte seria fatal, ou que, na melhor das hipóteses, não
escapariam à prisão perpétua. Seja como for, com uma vida pela frente, eles
não poderiam mais integrar a sociedade e estariam jogando fora a sua própria
existência. Esse é o pensamento que deveria ocorrer-lhes, mas parece que tal
não acontece, o que revela um estado psicológico realmente de se estranhar.
Os atos dessas criaturas estão à mercê dos seus instintos e não passam de
satisfações momentâneas; seu objetivo é divertir-se por curto espaço de
tempo. Uma vez que terão de pagar bem alto - um prejuízo talvez dezenas ou
centenas de vezes maior do que o lucro obtido - não podemos considerá-las
como seres humanos. São exatamente como os quadrúpedes. As "pessoas de
quatro pés", como todos sabem, não têm nenhuma percepção para ver que,
após o crime, poderão ser condenadas à morte. Por isso mesmo, é difícil lidar-
se com elas.
Com base no que acabamos de dizer, talvez se pense que não há uma
explicação para os crimes, mas na realidade eles são perfeitamente
explicáveis. Do ponto de vista espiritual, podemos compreendê-los muito bem.
Segundo os Ensinamentos de nossa Igreja, o homem possui três espíritos: o
Espírito Primordial, atribuído por Deus; o Espírito Guardião, escolhido entre os
Ancestrais, e o Espírito Secundário, responsável especialmente pelos desejos
físicos e seculares do homem. Naturalmente, o Espírito Primordial é a fonte
dos bons sentimentos, e o Espírito Guardião incentiva a pessoa para o bem.
Quando o Espírito Secundário predomina, quem está dominando é o
quadrúpede. Por isso, embora tenha aparência humana, a pessoa torna-se
semelhante a um animal. Nestas circunstâncias, não se justifica o sentimento
de pena ou compaixão; ela demonstra caráter perverso do princípio ao fim.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
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Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Esta é a causa básica dos crimes sem escrúpulos. Por isso é muito
perigoso o homem deixar que sua alma seja dominada pelos animais, pois
basta qualquer estímulo para lhe surgirem desejos maléficos e ele se tornar
um criminoso. Mas o que é que se deve fazer? Não há outro meio para
solucionar o problema a não ser a força da Religião. E por que deve ser
através da Religião? Como eu disse anteriormente, o homem é dominado pelo
espírito animal, isto é, pelo Espírito Secundário. Portanto, é preciso
enfraquecer a força de domínio deste último. Em termos mais claros,
aumentar a força do bem numa proporção muito maior que a do mal, fazendo
com que o Espírito Secundário se torne o dominado. Afirmo que não existe
método mais eficaz.
Antes de mais nada, é necessário ingressar na fé, voltar-se para Deus,
adorá-Lo e orar. Uma vez que a pessoa esteja ligada a Deus pelo elo espiritual,
através deste a Luz Divina será derramada em sua alma; à medida que a alma
for sendo iluminada, o Espírito Secundário se retrairá e a força que ele tem
para utilizar a pessoa a seu bel-prazer irá enfraquecendo. No íntimo de todo
ser humano, há uma luta constante entre o bem e o mal. Isso acontece em
virtude do princípio exposto acima. Assim, por mais minuciosas que se tornem
as leis e por mais que se fortaleça o sistema de policiamento, será o mesmo
que combater o crime com uma força estranha. Sem dúvida é melhor do que
nada, mas, enquanto não se for ao âmago do problema, os resultados serão
insignificantes, apresentando-se situações sociais nefastas, como acontece
hoje em dia.
É incompreensível que nem o governo nem os educadores percebam
algo tão óbvio. Eles se limitam a suspirar, dizendo que, atualmente, há muitos
crimes inescrupulosos e que a delinqüência juvenil aumenta dia a dia. Não
conseguem libertar-se de idéias anacrônicas, que cheiram a mofo, e só a muito
custo determinam o restabelecimento deste ou daquele princípio ético ou
moral; a reforma de métodos educacionais, etc. Achamos isso muito triste.
Pode parecer ironia, mas é o mesmo que colocar água numa peneira e,
notando que ela vaza demais, fazer uma peneira de furos menores.
25 de julho de 1951

O VERDADEIRO HOMEM FORTE


Atualmente, fala-se muito sobre os erros sociais, mas, esses erros são
causados pela existência de um grande número de criaturas corruptas. Uma
rápida visão do passado mostra-nos que sempre houve necessidade de
combater os perversos.
Se examinarmos a psicologia dos que vivem a prejudicar o próximo,
veremos que eles têm plena noção do que fazem, com exceção dos grandes
criminosos, destituídos da menor parcela de discernimento. Quase todos se
encaminham para o mal em busca de riquezas, bebidas e sexo, embora
saibam que isso é condenável. Sustentam a idéia medíocre de que é
impossível a regeneração para os que já trilharam o caminho do erro.
Naturalmente, eles temem a lei; mas, como lhes é difícil satisfazer
honestamente suas ambições, usam de todos os meios para fugir à punição e
esconder seus malfeitos. Mentem e ludibriam com crescente habilidade;
enganar os outros acaba se tornando, para eles, algo extremamente fácil.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Os ludibriados se resignam porque são honestos e não têm experiência


dos ardis utilizados pelos perversos. Isso ajuda a intensificação do crime, e os
corruptos passam a auferir grandes vantagens. Quando o mal compensa, é
muito difícil a reabilitação. Então, pouco a pouco, eles começam a se afundar
na lama do pecado. Geralmente, o tipo que obtém muito proveito de seus
delitos é um criminoso intelectual, pertencente à classe superior ou média.
Dizem os antigos que todas as pessoas têm sete manias, ainda que não
tenham consciência disso. Creio que as manias do homem malvado não o
impedem de passar por tormentos de consciência ao prejudicar os outros,
criando máculas e infelicidade para si mesmo, nem de reconhecer que o
hábito de beber, de gastar em excesso e afligir a família, é uma fonte de
padecimentos. Mas ele não consegue se dominar e continua agindo de
maneira errada. Sabe que o relacionamento extra-conjugal custa dinheiro e
que se arrisca a contrair doenças malignas, causando preocupação aos
familiares; entretanto, persiste em seu modo perigoso de viver. Entrega-se a
jogos de azar, que sempre lhe acarretam prejuízo, mas teima em arriscar a
sorte.
Acredito que quase todos nós temos conhecimento de casos
semelhantes, tão comuns hoje em dia. Eis por que me detive nesses aspectos
da questão.
Quem não consegue se dominar, apesar de compreender que deve
abandonar as práticas viciosas, é um ser destituído de força, isto é, de
verdadeira coragem, o que há de mais precioso no homem. Costumo dizer:
"Quando o homem enobrece, identifica-se com Deus". Manter vigilante esforço
contra o mal, dominá-lo e superá-lo, significa tornar-se Divino. Esta é a força
autêntica, proveniente de Deus. Portanto, para mim, o perverso não passa de
um homem fraco.
29 de outubro de 1949

O HÁBITO DE RESIGNAÇÃO DOS JAPONESES


Dizem que não há país civilizado cujo povo seja tão resignado quanto os
japoneses. E não é para menos. Como diz um antigo ditado, é impossível
ganhar de autoridades e crianças que choram. Assim, ainda hoje restam
heranças do feudalismo.
Vejamos. Mesmo que uma pessoa seja prejudicada por um artigo
difamatório de jornal ou revista, desiste de reclamar, com medo do que o
jornalista possa publicar no artigo seguinte. No caso de não ficarem satisfeitos
com resoluções tomadas pelas autoridades, os japoneses se resignam, porque
têm medo das conseqüências que lhes podem advir se expressarem sua
insatisfação. Se acham que os impostos estão sendo cobrados injustamente,
eles não se rebelam, por temor de serem visados daí em diante. Também não
denunciam pessoas que tomam empréstimos forçados nem chantagistas, pelo
medo de represálias. E todos sabem que, aproveitando-se dessa resignação,
os chefões do submundo, que ainda existem em todos os lugares, vivem
atormentando e ameaçando o povo.
Dizem que nos Estados Unidos, se os direitos humanos não são
respeitados, ou se as pessoas são tratadas de maneira inconveniente, elas
protestam e jamais recuam até que seja feita justiça. Só quando todos os
homens tiverem essa coragem é que as injustiças sociais serão eliminadas,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

respeitando-se a justiça. Com isso, realizar-se-á uma verdadeira sociedade


democrática. Por conseguinte, se o povo japonês quiser construir uma
sociedade feliz e democrática, é preciso que ele não se dobre de maneira
alguma quando vir a justiça desrespeitada. Ou seja, é preciso que o bem
vença o mal. Quando esse pensamento se estender a toda a sociedade
japonesa, o Japão começará realmente a se tornar um país democrático.
31 de maio de 1949

VENCER O MAL
Desde a antigüidade, as religiões têm se desenvolvido com base no
princípio da absoluta "não-resistência". Cristo falou: "Se alguém te bater na
face direita, oferece-lhe também a esquerda." Quando se achava na cruz, no
Gólgota, ele disse: "Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem."
Esses fatos evidenciam Cristo como a personificação do Amor.
Também Sakyamuni, interpretando como uma provação para o seu
próprio aperfeiçoamento as insistentes perseguições de seu primo Daiba, que
pretendia destruí-lo a fim de herdar seu poder e sua glória, não assumiu
nenhuma atitude de resistência.
Entretanto, ao analisarmos os resultados, embora estejamos
convencidos de que o amor cristão e a misericórdia búdica cativam a alma
humana, tornando-se a fonte da fé, não podemos concluir se esses resultados
foram ou não benéficos, pois, decorridos mais de dois mil anos da morte de
Sakyamuni e de Cristo, o mal continua a aumentar, ao invés de diminuir. O
fato de homens bons viverem molestados por maus elementos e de homens
honestos serem ludibriados, é uma realidade que tem resistido aos séculos,
dando-nos a impressão de que não tem nada a ver com o progresso da
cultura. Este, pelo contrário, serviu para esmerar a técnica na execução do
crime, em nada alterando sua natureza.
Reflitamos: por que o mal não é exterminado? Indubitavelmente, a
causa está na passividade do bem. Os indivíduos maus aproveitam a situação
e perseguem constantemente os bons, que são ridicularizados e tidos no baixo
conceito de tolos e covardes. Os bons, por sua vez, superestimam os maus,
deixando de oferecer-lhes resistência; temendo prejuízos ou inesperadas
agressões, preferem tolerá-los, como se essa resignação fosse sensata. Isso
contribui para aumentar o ânimo dos maus, que afiam suas garras na
intensificação do mal, não deixando, porém, de precaver-se, a fim de
escaparem à lei.
Infelizmente, vivemos numa sociedade onde o povo é sempre a vítima. A
esperança da realização de um mundo onde os bons possam viver tranqüilos,
ainda se perde no horizonte. Nós, religiosos, pregamos que o bem não deve,
em momento algum, sucumbir ao mal, pois sua derrota evidenciaria que não é
um bem verdadeiro, e sim, covardia. Cabe-nos provar que o mal não
conseguirá vencê-lo. Acredito ser este o modo correto de agir, numa religião
autêntica e sincera.
Os maus elementos consideram os religiosos como seres diferentes dos
indivíduos comuns, encarando-os da seguinte maneira: "Eles são seguidores
do princípio da não-resistência; não nos causarão, portanto, grande perda,
ainda que os maltratemos." Aqui reside a fraqueza dos religiosos, ou melhor, a
razão pela qual eles são julgados assim. Por conseguinte, precisamos
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

verdadeiramente, e a todo custo, erradicar o conceito satânico dos maus


elementos, lutando incansavelmente contra o mal.
Creio ser do conhecimento de todos que, por ocasião do ataque à nossa
Igreja feito por um jornal de grande circulação, lutamos sem nenhum temor de
sua maldade. Lutamos destemidamente, ainda que o nosso adversário
tentasse esmagar-nos pela força, e até que ele se arrependesse dos seus atos.
Não seria essa a verdadeira Vontade de Deus? Conseqüentemente, cabe-nos
despertar os seres humanos para a melhor solução, que é o abandono do mal
pela conversão ao bem, pois, de forma alguma, este poderá ser vencido pelo
mal. Penso ser este o procedimento correto de uma religião autêntica e
sincera.
Mantive-me, até hoje, fiel a esse princípio e creio que jamais sucumbirei
à injustiça. Uma prova disso é que venho lutando, na condição de réu, por um
caso de propriedade que, por incrível que pareça, não foi resolvido no espaço
de quatorze anos. Toda vez que ocorre a mudança ou a substituição de um
magistrado, quem vem para o seu lugar tem de recomeçar o estudo de todo o
processo, afligindo-se ante a obrigação de ler um relatório processual cada vez
mais extenso, razão pela qual me sugere um acordo. Como meu objetivo é
combater a injustiça, coloco a questão pessoal em segundo plano, evitando a
reconciliação, enquanto meu adversário não tomar consciência de seu erro.
O objetivo da Religião é incentivar o bem e combater o mal. Este jamais
deve derrotar o bem. A razão está no fato de que o mal decresce à medida
que o bem triunfa, contribuindo para o melhoramento da sociedade. Assim
surgirá o Paraíso Terrestre.
18 de abril de 1951

SEJAM FORTES OS VIRTUOSOS


O mundo atual está fortemente dominado por maus elementos. A
opressão e o sofrimento causados aos homens de bem, é fato que ninguém
ignora. Esclarecerei a causa fundamental de semelhante situação.
Em todas as épocas, os honestos foram considerados fracos, e os
perversos, fortes, conceito que facilita ainda mais o predomínio e o abuso dos
corruptos e dos corruptores. Antigamente, os homens de bem eram forçados a
resignar-se, impotentes contra a violência dos malfeitores, pela falta de leis e
órgãos de policiamento. Dentre os civis, os mais fortes e arrojados
sobrepunham-se aos demais. A História e os contos japoneses dão exemplos
de maus elementos da classe dos samurais que abusavam da espada,
impondo, assim, obediência aos civis indefesos.
Há uma diferença capital entre a sociedade antiga e a moderna. Após a
reforma Meiji, em 1868, quando o imperador Meiji restaurou o poder
monárquico que esteve nas mãos de governos militares durante trezentos
anos, deu-se início à era da civilização, aperfeiçoando-se, paulatinamente, as
leis e a sociedade em geral, até os dias de hoje. Após a guerra, aliviou-se o
ambiente social, com o desaparecimento da oligarquia e a repressão quase
total do banditismo.
Ultimamente, os maus elementos substituíram a violência por processos
ardilosos, atormentando as pessoas honestas com interesses monetários,
intimidações e ameaças que escapam sutilmente à Lei. São casos típicos de
extorsão e exploração, mas outros fatores não mencionados aqui existem
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

ainda para tormento dos homens. Sempre partem de criaturas inescrupulosas


e astutas, que vivem abusando da Lei, através de trapaças e estratagemas
engendrados para a satisfação de seus interesses. Lamentalvemente, tais
elementos pertencem, muitas vezes, às classes média e alta. Os "chefões" não
desaparecem e os escândalos burocráticos continuam, porque os inocentes
não recorrem à Justiça, temerosos de vinganças descabidas. Ninguém ignora
que uma das causas do mal social é a fraqueza dos homens honestos.
Sempre me mantive fiel ao princípio de que o honesto e virtuoso deve
vencer o malvado. Graças a esse princípio, sempre recorri à Justiça para
solucionar diversas questões. A mais longa batalha judicial que já enfrentei
vem se prolongando há mais de dez anos, pois tenho por critério que o
homem de bem, o homem justo, nunca deverá ser vencido pelo homem
perverso, e que o autêntico bem é muito mais forte do que o mal. A principal
razão de ainda não se ter conseguido exterminar o mal da sociedade humana,
reside no fato de que os virtuosos se deixam vencer pelos desonestos e
inescrupulosos, dos quais o mundo está cheio.
O indivíduo honesto, mas fraco, não é um honesto autêntico, e sim um
pusilânime. É um honesto passivo, que não se insurge contra o mal. Embora
não pratique más ações, não passa de um covarde, permitindo o alastramento
do mal para poder manter-se em segurança. Se os indivíduos perversos
chegassem a se convencer da inutilidade dos seus esforços e da conveniência
de participar do mundo dos honestos, por serem estes invencíveis, poderosos
e incontroláveis, certamente o mal social decresceria e teríamos um mundo
mais confortável e alegre.
Aceita esta teoria, ainda que os honestos, apesar da maior boa vontade,
nada possam fazer individualmente, o recurso seria formar uma entidade
denominada, por exemplo, "Associação contra o Mal". Sugiro este plano por
considerá-lo uma excelente medida para a reforma social que precisa ocorrer
urgentemente.
15 de outubro de 1949

ACABAR COM OS PERVERSOS


Talvez estranhem o título acima, mas acho que ele é o mais adequado. A
explicação é a seguinte:
Estou cercado de indivíduos desonestos, que procuram enganar-me pelo
fato de eu ser um religioso e parecer-lhes até mesmo um santo. Esses
infelizes, dotados de grande astúcia e de inteligência maléfica, preparam-me
ciladas incríveis. Alguns deles possuem posição social e são atrevidamente
insistentes. Eu os deixo agir à vontade. Mesmo assim eles tentam ludibriar-me
de várias maneiras. E não desistem, apesar de pressentirem o fracasso. Pelo
contrário, aguardam um acordo, julgando-me constrangido pelo cerco, pois
mantenho uma atitude calma e completamente indiferente ao assunto. Por
fim, colocados em má situação, pelo esgotamento de recursos e de fundos, a
afobação acaba por arruiná-los de uma vez.
Há, também, os astuciosos, que preparam ardilosamente as armadilhas
e empregam mil táticas para me enredar. Pensando que a Igreja dispõe de
muitos bens e que eu, seu fundador, talvez seja inexperiente em questões
sociais, eles acham que acabarei entregando-lhes uma quantia considerável.
Além disso, mostram-se despreocupados, na certeza de que, para evitar
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

aborrecimentos, eu não vou processá-los, embora eles me tenham causado


prejuízo. Ciente de suas intenções, deixo-os frustrados e perplexos, obrigados
a desistir.
Deus nunca deixa de auxiliar o bem, jamais apoiando o mal, por mais
insignificante que seja. É por isso que estou sempre insistindo sobre a
necessidade de vencer o mal. Esse é o procedimento do homem
verdadeiramente honesto, autêntico e sincero. Caso contrário, não se
conseguirá melhorar o mundo corrompido em que vivemos. Convicto de que
assim deve agir uma religião viva e atuante, faço questão de acabar com
todos os perversos.
20 de fevereiro de 1952

INDIGNAÇÃO AO MAL19
Mediante observação cuidadosa, constatei que o homem de nossos dias
é destituído de ódio ao mal. São poucos os que ficam indignados quando
sabem que um inocente está nas garras de um perverso.
Imagino que muitas pessoas, ao lerem o que escrevi acima, refletirão
assim: "Que adianta rebelar-me contra o mal que atinge os outros? Não fere
meus interesses! É bobagem atormentar-me com tais fatos... Bastam-me as
minhas preocupações! A vida já é tão cheia de problemas e sofrimentos, que o
melhor é disfarçar e fingir que não vejo certas coisas". Ora, quem pensa assim
geralmente é considerado hábil e dotado de experiência. A seu respeito,
costuma-se dizer: "É um sujeito vivido!" Esse tipo, pretensamente experiente,
é tido como padrão, sendo respeitado e imitado por muita gente.
Na Política, que sempre funciona muito mal, o descalabro é evidente. A
maioria dos políticos e funcionários públicos são corruptos. Ex-dirigentes de
sociedades são denunciados por escândalos de suborno e prevaricação. A
onda de crimes avoluma-se dia a dia. Segundo a opinião geral, urge dar fim à
delinqüência juvenil, evitando-se, dessa forma, um negro futuro para o Japão e
para o mundo.
Essas observações que fiz cuidadosamente, demonstram que o mal não
é odiado.
Os funcionários públicos conservam o autoritarismo feudal. Esfriam-se as
relações entre os familiares e aumenta a crise entre educadores e educandos,
por ter-se abraçado a democracia de maneira deturpada. A bela capa da
democracia oculta a exploração dos impostos e o sofrimento do povo sob a
opressão do poder burocrático.
O número de problemas desagradáveis é tal, que se torna difícil
relacioná-los.
A causa de tudo isto é uma generalizada despreocupação quanto ao
sentido de justiça, acrescida do egoísmo de muitas criaturas, erroneamente
consideradas "experientes". Todavia, examinando os fatos, vemos que a
sociedade atual não poderia possuir outras características. Chega a ser lógico.
Em todas as épocas, os jovens possuem vigoroso senso de justiça e ódio
ao mal. Ao deixarem os bancos escolares, no entanto, enfrentam uma
realidade tão inesperada, que golpeia todas as suas convicções, dissolve seus
velhos ideais e exige a reformulação de seus valores, para que eles adquiram

19
Esse título corresponde ao Ensinamento “Ódio ao mal”, contido nas antigas edições.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

a chamada "experiência da vida". Qualquer manifestação do espírito de justiça


cria mal-entendidos, suscita antipatia de superiores hierárquicos e dificulta-
lhes o sucesso na profissão. Qualquer intenção de justiça é considerada como
pedantismo ou inexperiência. A essa altura, o sentimento de justiça é posto de
lado, num canto do coração, sendo substituído pelo "senso prático".
Considera-se, então, que o jovem se aprimorou na arte de viver em sociedade.
Não digo que isto seja propriamente mau; contudo, o aumento de
pessoas acomodadas afrouxa a estrutura da sociedade e facilita o
aparecimento de corruptos e criminosos. A nossa realidade social torna
patente o que acabo de afirmar.
Para definir o valor de um homem, julgo importante verificar a sua
dosagem de ódio ao mal. Quanto maior ojeriza tiver pelo mal, mais firme é a
pessoa, mais sólido é o seu caráter. Mas não me refiro ao ódio simplista, que
geralmente traz complicações. Os jovens costumam exaltar-se facilmente,
importunar o próximo, ameaçar a ordem social e causar uma sensação de
desconforto à sua volta. Para evitar esse ódio nocivo, precisam do apoio da
Inteligência Suprema. Quem abomina profundamente o mal, deve amadurecer
seu pensamento, evitar atos impulsivos, dar bons exemplos à sociedade,
praticando tudo que é bom e justo, virtuoso e útil.
Gostaria de contar a minha experiência sobre esse assunto.
Desde menino, desenvolvi um forte sentimento de justiça. Tinha um ódio
profundo pelas desigualdades que há no mundo e muito lutei para reprimir o
furor que me dominava quando sabia de alguma injustiça ou desonestidade.
Esse autodomínio é difícil e doloroso, mas será facilitado se o
encararmos como um treinamento Divino que nos aprimora espiritualmente.
Sob esse aspecto, vemos que tal controle minora o sofrimento e lapida a alma.
Eis uma característica que conservo até hoje: continuo tendo horror pelo
mal. Porém aceito os fatos, buscando ser tolerante, tomando tudo como
provação. A boa norma de conduta determina o ódio ao mal, mas também
prudência nas ocasiões em que ele se manifeste. Melhor dizendo, temos de ter
cuidado para que esse sentimento não se mostre exagerado nem prejudique o
próximo; que ele não fira o bom senso, não falte aos preceitos do amor e da
harmonia. É um ódio útil, que nos permite caminhar com um sentimento
semelhante ao de Deus.
25 de fevereiro de 1951

A SOCIEDADE E A LUTA ENTRE O BEM E O MAL

ESPÍRITO DE JUSTIÇA
Vejo-me na obrigação de escrever sobre o tema em foco,
demasiadamente comum, porque, nos dias de hoje, o espírito de justiça está
sendo muito negligenciado. Se observarmos os diversos aspectos do mundo
ao nosso redor, notaremos que ele é quase que destituído do espírito de
justiça. Tão enormes são os interesses em jogo, de tal forma predomina a
cobiça na mente humana, que, quando alguém se refere à justiça, é
menosprezado.

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Todavia, nem sempre as coisas ocorrem como os homens desejam;


muito pelo contrário, os fracassos e desgraças são mais freqüentes que o
sucesso. Apesar disso, nada lhes causa surpresa, como se fosse um estado
normal da vida; assim, eles continuam a viver inconscientemente. Esta é a
realidade do mundo moderno. Para tal situação, no entanto, existe, a nosso
ver, uma causa evidente, que a maioria das pessoas não consegue perceber. É
justamente a carência do espírito de justiça, do qual falarei em seguida.
A maior parte dos homens vive contaminada pelos maus pensamentos,
que anuviam seu espírito. Esta cegueira espiritual os impede de descobrir a
causa a que nos referimos. Tenho certeza disso pela observação que há longo
tempo venho fazendo sobre a sorte dos homens.
A causa da falta do espírito de justiça acha-se relacionada com o Mundo
Espiritual, cuja existência é absoluta, embora ele seja invisível. Naquele
mundo, há uma lei de Deus, rigorosa e imparcial - diferente da lei humana -
que julga as ações dos homens com perfeita justiça. Infelizmente o homem
não compreende nem acredita nisso pela simples menção, e assim, com as
próprias mãos, contribui para a sua infelicidade.
A maioria das pessoas é hábil no falar, no falsificar as aparências e
simular um valor pessoal inexistente. Tudo, porém, será inútil, porque, como
eu disse anteriormente, o olhar de Deus desvenda o íntimo dos homens, cuja
sorte Ele decide, pesando o bem e o mal na mesma balança. Se uma verdade
tão patente deixa de ser compreendida até por homens ilustres, cultos, com
posição e fama, é porque eles só vêem a parte superficial do mundo,
ignorando a existência da parte principal - o Mundo Espiritual.
Conseqüentemente, forçam a inteligência para falsear a vida e lutam no
sentido de enganar o próximo. Pobres de espírito os que julgam ser isso
esperteza!
Não obstante a prova que se evidencia nas conseqüências sempre
contrárias a essa realidade, a generalização de tal conceito faz aumentar o
número de criminosos e a insegurança social. Assim, apesar dos seus
desdobrados esforços, quando os homens procuram realizar algo na sociedade
atual, são marcados pelo fracasso, resultante das pedras lançadas em seus
caminhos. Alguns caem na desdita de figurar nos periódicos como vítimas de
casos judiciais. Considero "espertos imbecis" os indivíduos desse tipo e estou
tentando convencê-los dos seus erros. O recurso é fazer com que eles
reconheçam a existência de Deus, e essa tarefa é bastante árdua. Para tanto,
é necessário criar oportunidade para mostrar-lhes o milagre. Eis por que estou
realizando surpreendentes milagres com o poder que me foi concedido por
Deus, e sinto-me jubiloso em saber que o fato está sendo reconhecido pela
sociedade.
Resumindo: a justiça é o próprio Deus; a injustiça pertence ao mal,
sendo própria de Satanás. Deus é a própria justiça, e Satanás, a própria
maldade. Por natureza, Deus promove a felicidade, e Satanás a desgraça. O
essencial é nos convencermos desta verdade: tanto a felicidade como a
desgraça dependem do comportamento humano. Para nos tornarmos felizes, é
absolutamente necessário basear-nos no espírito de justiça.
Vemos, portanto, que o mal jamais compensa. Costumo afirmar que os
homens maus são idiotas; se o sentido de minhas palavras for compreendido,
eles tornar-se-ão aptos a percorrer o caminho da felicidade. Entretanto, para
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

isso acontecer, existe uma condição. Quando se fala de justiça, três aspectos
devem ser considerados: a justiça menor, de objetivos individuais; a
intermediária, baseada no interesse da comunidade ou da nação; e ainda a
justiça ampla, que visa a humanidade. O Japão foi derrotado, na última guerra
mundial, porque se baseou numa pseudojustiça, que visava somente o seu
próprio bem. A justiça menor e a intermediária são falsas; somente a justiça
ampla, que augura benefícios para o mundo inteiro, é verdadeira, e apenas ela
perdurará eternamente. Esta é uma verdade que se aplica também à Religião.
A Igreja Messiânica Mundial tem por objetivo a construção do Paraíso na
Terra - isento de doença, pobreza e conflito. Isso beneficiará toda a
humanidade e representará a concretização da verdadeira e integral justiça.
23 de dezembro de 1953

O MUNDO DOMINADO PELO MAL


Ninguém ignora que os povos do mundo atual estão submetidos a
diversos sofrimentos, tais como guerras, doenças, insegurança, crises
políticas, econômicas, etc. Tratarei, aqui, dos itens relacionados, sem me
referir - é claro - a este ou àquele país, mas de um modo amplo e geral.
Começarei pelos aspectos que constituem problemas mundiais.
Em primeiro lugar, salientarei o problema econômico, por representar
um dos motivos de maior preocupação. A crise econômica, que atinge não só o
governo, como também o povo, deixa de ser uma novidade, embora a maioria
ignore a sua causa. Indubitavelmente, ela surge por influência do mal. Os
governos, por exemplo, são prejudicados pelo mau procedimento dos
funcionários. Que aconteceria se estes agissem conscienciosamente? Evitar-
se-ia o esbanjamento de recursos, pois os funcionários teriam consciência de
que tais recursos são provenientes dos impostos, que custaram o suor do
povo. O número de funcionários poderia ser reduzido à metade, ou até menos,
devido à eficiência do trabalho, motivada pela supressão do desperdício de
tempo durante o expediente. A fidelidade dos funcionários no cumprimento
dos deveres favoreceria o sucesso de todos os empreendimentos e cativaria a
simpatia do público, que, por sua vez, os olharia com respeito, deixando de
temê-los ou desprezá-los. Além disso, a extinção dos subornos impediria a
prevaricação dos mesmos funcionários, tornando-os dignos da confiança do
povo.
Se tudo isso acontecesse, não haveria mais necessidade de fiscalização,
nem de processos jurídicos onerosos, resultando em incalculável benefício
para a economia do país. Em relação à vida privada, o indivíduo adquiriria
mais saúde, uma vida mais confortável e um lar feliz, pelo abandono do uso
de bebidas alcoólicas e extravagâncias prejudiciais. Notaríamos, ainda, o lucro
inesperado que adviria da baixa de todos os preços, pelo desaparecimento das
negociatas, muito comuns nos empreendimentos.
Realizado o que foi exposto, o governo não necessitaria sequer da
metade do presente orçamento, e o povo exultaria de alegria pela redução dos
impostos.
O mesmo podemos dizer em relação às empresas particulares. Que
sucederia se todos os empregados conseguissem vencer a sua má índole? A
fiel execução do serviço dispensaria gastos supérfluos; a astúcia e a fraude
tornar-se-iam uma raridade. Por conseguinte, facilitar-se-iam as boas
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

transações, poupar-se-ia tempo, os negócios seriam efetuados em ambiente


agradável, haveria aumento de produção e, conseqüentemente, baixa do
custo e ampla saída dos produtos. No setor da exportação, nos tornaríamos
imbatíveis mundialmente. O resultado mais agradável seria o
desaparecimento de conflitos entre empregados e empregadores. O prazer
com que todos se dedicariam à produção, a conciliação e a disposição
saudável, dariam grande impulso ao serviço, o que, por sua vez, ocasionaria
aumento da renda, extinguindo por completo a preocupação com problemas
econômicas. As empresas prosperariam, sem dúvida, em ambiente saudável,
desaparecendo bajulações e traições entre chefes e subordinados.
No setor político, as pessoas estão conscientes do habilidoso emprego
do mal e do pequeno número de membros de partidos que têm por princípio
velar pela felicidade do Estado e do povo. Certamente os políticos não deixam
de levar em consideração o bem-estar da Nação e do povo, mas a realidade
prova que eles são dotados de conceitos egoísticos e fazem tudo em benefício
próprio e do partido a que pertencem, tendo por costume atacar as opiniões
dos partidos opostos. Esse ataque, de caráter extremamente desprezível, que
consiste no simples prazer doentio de criticar, hoje é tido como um ato
comum. Nas assembléias, as sátiras, os termos indecorosos, os tumultos, que
se convertem em vexame, assim como as agressões, dão a impressão de
encontros de bandoleiros.
Vejamos, agora, o que está acontecendo com a sociedade.
Ninguém ignora que a corrupção é geral em todos os setores. É
raríssimo encontrar um lar pacífico, pois em todas as famílias fomentam-se os
conhecidos conflitos entre casais, entre pais e filhos, etc. Vemos, também, com
freqüência, desavenças entre amigos e conhecidos. Ultimamente, os crimes
contra parentes próximos entraram em moda, ultrapassando o limite do
lamentável e causando terror. Além disso, os jornais estampam, diariamente,
invasões domiciliares, assaltos, roubos violentos, fraudes, usurpações, furtos
em lojas, ameaças e outros horrores. Em linhas gerais, esse é o aspecto da
sociedade; podemos, pois, afirmar que este mundo é um atoleiro de pecados.
É conforme disse Buda: "um mundo de sofrimentos". Portanto, não há exagero
em afirmar que a sociedade é constituída pelas vítimas do mal. Com efeito,
entre milhares de pessoas, não existe uma só que possa viver um dia livre de
preocupações. Dentre as preocupações, a maior, certamente, é a doença. O
medo de ladrões resolve-se trancando-se as portas; com saúde, conseguimos
livrar-nos da pobreza, porque podemos trabalhar; processos jurídicos são
evitados com prudência. Mas é impossível evitar doenças e guerras. Uma
análise minuciosa, entretanto, esclarece-nos sobre a possibilidade de evitá-las,
unicamente através da Religião, já que toda desgraça tem sua origem no mal.
17 de setembro de 1952

ELIMINAÇÃO DO MAL
Que é o mal?
Mal, sem dúvida, é ameaçar o próximo, causar-lhe sofrimento e
prejudicar a sociedade em busca de vantagens pessoais. Por causa dele, os
prejuízos individuais e sociais são incalculáveis. Em todo relacionamento
humano, não há ninguém que, em maior ou menor proporção, não seja vítima
do mal.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

As pessoas se vêem obrigadas a reforçar janelas, trancar portas, mantê-


las fechadas em pleno verão e deixar alguém de guarda ao se ausentar, a fim
de impedir a entrada de gatunos. Também somos levados a desconfiar de
quem nos acena com negócios vantajosos; enfim vemo-nos forçados a
desconfiar de tudo. Além disso, qualquer notícia relativa a roubos na
vizinhança perturba o sono de muitos, e sair à noite - principalmente tratando-
se de mulheres - é extremamente perigoso. Não podemos descuidar-nos dos
batedores de carteiras nos transportes coletivos, nem dos empregados infiéis,
nem da vigilância rigorosa que as casas comerciais têm de manter para evitar
fraudes. Vivemos assustados, intranqüilos, pois estamos cercados de velhacos.
Eis a realidade do mundo atual.
Mas ainda há coisas piores. Os pais se preocupam com os filhos
adolescentes expostos às tentações. As esposas vivem alarmadas com a
infidelidade dos maridos, e estes, com a infidelidade das esposas. Surgem
fracassos imprevistos nas empresas, e os gastos do Governo para manter a
polícia e as instituições de defesa social, são enormes. Casas e firmas
constroem sólidos depósitos para resguardar seus bens contra os assaltantes.
Nas fábricas, há dispendiosa vigilância contra o furto de matérias-primas.
Exigem-se providências contra a desonestidade de empregados por ocasião de
armazenagem e pagamentos. Instalam-se cofres, cria-se exagerado número
de livros de registro, guias e recibos, que devem ser carimbados um por um.
As mercadorias são de qualidade duvidosa, os profissionais negligenciam seus
serviços, as greves são mal intencionadas e os ricos buscam lucros excessivos.
Todas estas coisas têm raiz no mal.
A desonestidade dos funcionários realiza-se quase à vista do público.
Fala-se que se podem obter matrículas nas escolas por meio de gratificações,
e alvarás, nas repartições públicas, agindo-se nos bastidores. É raríssima a
imparcialidade em qualquer setor social. Ninguém acredita que seja possível
sobreviver sem alguma forma de transação ilegal.
Se quisermos calcular a proporção do bem em relação ao mal, nesta
enumeração de fatos, veremos logo que a proporção do mal é bem maior. Não
conseguiremos, sequer, avaliar os prejuízos que sofrem os indivíduos e a
sociedade, por mais que relacionemos os danos e a insegurança do mundo
atual.
O progresso da civilização e o advento de um mundo melhor só serão
possíveis pela erradicação do mal que ora nos aflige. Todas as questões,
mesmo os sucessos e os fracassos, dependem do grau de incidência do bem e
do mal. Portanto, os políticos e os educadores devem empenhar-se para
diminuir a porcentagem do mal. E eu estou certo de que o único recurso para
isto é a Fé Verdadeira.
25 de janeiro de 1949

A FONTE DA CORRUPÇÃO
Todos já devem estar fartos dos casos de corrupção, os quais, como é do
conhecimento geral, têm ocorrido uns após outros. Talvez nunca tenha havido
tantos ao mesmo tempo, como acontece no momento. Naturalmente, com o
julgamento feito pelas autoridades, um dia ficará esclarecido se a alma das
pessoas implicadas é "preta" ou "branca". Mas a importância do problema está
no fato de que ele não pode ser resolvido apenas dessa forma. Excluindo o
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

último acontecimento, no caso de tais escândalos, que se tornaram uma


espécie de atividade anual desde os tempos antigos, não teremos uma
solução definitiva se julgarmos apenas o que vem à tona. Urge erradicá-los de
uma vez, pois eles são exatamente como larvas que proliferam num monte de
lixo, e por isso é preciso fazer uma limpeza. Não há método mais eficaz e, com
certeza, é o que o povo mais deseja. A única dificuldade é que não se tem
consciência do ponto vital do problema.
Mas qual é esse ponto vital? É justamente o teísmo, aquilo que os
intelectuais mais abominam. Na realidade, o ateísmo, ou seja, o contrário do
teísmo, é a fonte da corrupção. Por isso é difícil lidar-se com esta. O ateísmo é
o pensamento subversivo de que se pode praticar ações ilícitas, agir com
esperteza, contanto que nada seja descoberto. Além disso, quanto mais se
desenvolve a inteligência humana, mais hábeis se tornam os seus métodos.
Atualmente, pensa-se que o ateísmo é a principal condição para se obter
sucesso, mas o interessante é que, quando se tenta colocá-lo em prática, nada
corre como se esperava. Ainda que, momentaneamente, tudo corra bem, cedo
ou tarde a pessoa acabará sendo desmascarada, como podemos constatar
pelo caso a que nos referimos linhas atrás. Talvez as pessoas implicadas
saibam disso até certo ponto; entretanto, uma vez que seu pensamento está
fundamentado na sólida crença de que Deus não existe, elas não chegam a
compreender de fato. Assim, é realmente duvidoso quantas pessoas
conseguirão se arrepender e se regenerar, não obstante as conseqüências
sofridas. A maioria deverá pensar: "Falhei porque o método empregado não foi
bom e porque me faltou inteligência. Da próxima vez, agirei com mais
habilidade e não serei apanhado de maneira alguma". Provavelmente seja
este o pensamento natural dos ateus. Portanto, para acabar de vez com essa
tendência ruim, é preciso cultivar o teísmo por meio da Religião. Não existe
método mais eficiente.
Além disso, enquanto os ateístas forem numerosos nas camadas
superiores, como acontece hoje, será difícil a sociedade sair do atoleiro ao
qual está presa. É o que se evidencia quando analisamos o transcorrer do caso
a que aludimos. Pelo que ficou esclarecido até agora - e talvez isto seja apenas
uma pequena parte de um "iceberg" - os prejuízos causados à nação e o
incômodo sofrido pelo povo são bem grandes. Também não podemos
menosprezar a grande influência exercida sobre o pensamento do povo.
Obviamente, se as pessoas da classe dirigente praticam más ações às ocultas
e gozam do bom e do melhor, e se o dinheiro gasto desordenadamente pelos
partidos e pelos políticos provém dos impostos pagos à custa do sangue e do
suor do povo, este não se sente motivado a trabalhar honestamente. Por
conseguinte, passa a pensar que, por mais que os dirigentes falem de coisas
brilhantes e magníficas, ele não mais se deixará enganar. O respeito que até
então as pessoas sentiam se transformará em desprezo, sua consideração
pelo país diminuirá, e a ordem social perderá sua força. São, pois, incalculáveis
os danos que isso trará ao destino da nação.
A causa da corrupção, conforme dissemos, é o ateísmo. Assim, a
erradicação do pensamento ateísta é a chave principal para solucionar o
problema. Para tanto, é preciso fazer com que as pessoas se conscientizem da
existência de Deus através das ações dos religiosos. É preciso semear nelas a
sólida crença de que, embora consigam enganar o próximo, não conseguirão
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

enganar a Deus. Dessa forma, tornar-se-á impossível acontecerem casos de


corrupção e outros semelhantes. Os personagens principais do caso
recentemente descoberto, são pessoas que receberam educação esmerada,
que ocupam considerável posição social, que são respeitadas e inteligentes.
Mas fica uma dúvida: por que elas agiram daquela forma? Exatamente por
causa do seu pensamento ateísta. Daí se conclui que a educação e os estudos
nada têm a ver com o senso de moral. Como os planos foram habilmente
arquitetados por pessoas tidas como dignas pela sociedade, julgar-se-ia
impossível que eles fossem descobertos. Mas o fato é que se acabou criando
um enorme problema, em conseqüência de uma pequenina brecha, tal como
um pequeno buraco feito por uma formiga. Diante disso, só podemos pensar
em juízo de Deus.
Existe outro fator importante. O Japão orgulha-se de ser um país regido
por leis, mas, pensando bem, isso é um grande disparate. Se um país é regido
apenas por leis, basta os criminosos serem hábeis para escaparem delas e
fugirem à condenação, de modo que os maus elementos é que saem
ganhando. Deter o mal através de jaulas chamadas leis significa tratar os
seres humanos como animais. O pobre homem - soberano das criaturas -
perde todo o seu "status". Se chamarmos a isso de nação civilizada, com
certeza a civilização chorará de tristeza.
Sempre digo que a época atual é uma era semicivilizada e semi-
selvagem, e provavelmente não há uma só pessoa que possa negá-lo.
Suponhamos, por exemplo, que uma carteira esteja caída bem na frente de
alguém. Tratando-se de uma pessoa comum, se ninguém estiver olhando,
certamente ela a embolsará; quem não a embolsa de forma alguma é porque
acredita sinceramente na existência de Deus. Formar pessoas desse tipo é a
missão da Religião. Entretanto, as autoridades e os jornalistas mantêm-se
indiferentes em relação a ela, tacham-na de supersticiosa e fazem tudo para
que o povo se afaste dela, como se achassem sua existência desnecessária.
Tal atitude é realmente incompreensível. Desse modo, eles se tornam aliados
do ateísmo e, conseqüentemente, uma das principais causas da corrupção.
Por todos esses motivos, as autoridades devem, nesta oportunidade,
abrir muito bem os olhos, numa visão espiritual, e tomar todas as providências
que a situação requer. Caso contrário, esses problemas indesejáveis nunca
serão exterminados, prejudicando enormemente o progresso da nação.
Contudo, se elas lerem minhas palavras e, como de costume, não derem
atenção ao problema, fazendo de conta que ele nem existe, provavelmente
chegará o dia em que venham a se arrepender, mas então será tarde demais.
Atualmente, a nação está imprimindo um largo incremento à Educação e
a outros setores, num esforço para desenvolver a inteligência do homem e
reformar-lhe o pensamento. Todavia, enquanto não se exterminar pelas raízes
o pensamento ateísta - que é a principal causa do problema - será como tentar
encher uma peneira com água. Obviamente, os conhecimentos obtidos com
tanto sacrifício viriam a ser mais utilizados para o mal do que para o bem.
Seria, portanto, uma idiotice tão grande, que não há palavras para expressá-
la. A melhor prova disso é o crescente aumento do número de crimes
intelectuais à medida que a cultura progride.
Talvez seja inútil, mas, com esta explanação, desejo alertar os
intelectuais do mundo inteiro.
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

3 de março de 1954

A ORIGEM DOS MALES SOCIAIS


Falarei a respeito dos males sociais, que, atualmente, constituem o
maior problema do Japão. Antes, porém, é necessário analisarmos o método
que os intelectuais e os governantes empregam para evitá-los.
Os males sociais estão sendo controlados de forma cada vez mais
rigorosa, através de leis e regulamentos, mas, como essas medidas não
atingem o ponto vital do problema, os homens maus só pensam nos meios de
livrar-se delas habilmente. Se encontram alguma brecha, logo tentam
aproveitar-se, de modo que as autoridades se esforçam por não lhes dar
oportunidades, tornando as leis e os regulamentos cada vez mais rigorosos. É
realmente uma competição entre a inteligência do Bem e a inteligência do
Mal.
Geralmente pensamos que os violadores das leis são os criminosos, os
delinqüentes, os chefes de bandos, etc. Na realidade, porém, o problema não
envolve apenas as pessoas das classes inferiores; ele vem de cima,
começando por ministros, políticos, deputados e funcionários públicos, e
atingindo até famosos empresários. Podemos dizer que poucas são as pessoas
que não cometem crimes. Acontece que os criminosos que se mostram
abertamente como tal, são apenas uma parte; costuma-se mesmo dizer que
os que foram agarrados pelas malhas da lei não tiveram sorte, o que prova a
existência de muitos crimes submersos, que não vêm à tona.
Quando analisamos profundamente os criminosos, não temos dúvida em
afirmar que eles não temem o crime. Não sabem que é uma vergonha causar
danos à nação, prejudicar a sociedade ou fazer mal às pessoas. Os criminosos
podem saber criticar os outros, mas não sabem criticar a si próprios. E não é
raro sabermos, atualmente, de funcionários que fazem festas e gastam a rodo,
enquanto o povo está sofrendo sob a pressão dos impostos.
Se o homem não tiver receio de cometer más ações, se não sentir
vergonha de praticar atos impuros nem pena de fazer os outros sofrerem, esse
homem já perdeu o valor como ser humano. Por mais que fale de teorias
excelentes e se orgulhe de ter instrução, somente isso não lhe confere valor
como ser humano. É um objeto, é um homem sem alma. Por haver muitas
pessoas desse tipo atualmente, o mal social é intenso, apresentando-se o
mundo em estado infernal. Resumindo, podemos dizer que no Japão existem
doentes em estado gravíssimo.
Qual será o motivo de ocorrências tão aflitivas? Indubitavelmente elas
são conseqüência da educação materialista de que tanto falamos. Por isso, é
muito fácil exterminar totalmente o mal social: basta destruir o pensamento
materialista. Mais nada. Mas de que maneira? Obviamente, através da
educação espiritualista, isto é, do reconhecimento da existência de Deus, do
Espírito e do Mundo Espiritual. Esta é a verdadeira e valiosa missão da
Religião. Entretanto, é impossível fazer as pessoas reconhecerem a existência
de Deus e do Espírito somente por meio de princípios religiosos, sermões e
preces. É necessário manifestar milagres, conceder benefícios materiais, ou
seja, Graças Divinas palpáveis. Não existe absolutamente outro meio, além
desse, para eliminar o pensamento materialista.
14 de maio de 1949
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

A VERDADEIRA CAUSA DA INTRANQÜILIDADE SOCIAL


Atualmente, ouve-se falar muito sobre as medidas que devem ser
tomadas em face do aumento assustador da criminalidade. Vou dar minha
opinião a esse respeito.
Falando abertamente, o homem contemporâneo não se completou como
verdadeiro ser humano, pois ainda tem muitas características animalescas.
Poder-se-ia dizer que é um ser meio-humano e meio-animal. Talvez achem que
eu esteja me expressando de uma forma demasiado agressiva, mas não tenho
outro recurso, já que essa é a pura realidade. Vou explicar por que faço tal
afirmação, e estou seguro de que as pessoas que lerem minhas palavras hão
de concordar comigo.
Existem, presentemente, várias organizações destinadas a prevenir os
crimes: polícia, tribunais, presídios e um número incontável de funcionários
que se encarregam de administrá-los, além de centenas de milhares de leis.
Assim, aparentemente, a sociedade está aparelhada a ponto de quase não
haver brechas para a ocorrência de crimes.
O método é idêntico àquele que se utiliza para defender os homens
contra os animais ferozes que constituem uma ameaça para eles: fazem-se
jaulas fortes para protegê-los do perigo. Mas, tal como animais que logo
conseguem quebrar as jaulas, por melhor que elas tenham sido preparadas, os
seres humanos vêm espremendo sua inteligência, desde os tempos antigos,
para diminuir cada vez mais habilmente os pontos fracos dos métodos
preventivos contra os crimes. Eis a situação atual desses métodos. E a cada
ano aumenta o número de leis, o que é o mesmo que tecer redes com pontos
pequenos. Torna-se necessário agir de tal forma porque os "homens-animais"
afiam suas unhas e presas para romper as jaulas.
Esta é a causa da intranqüilidade social. Com efeito, ainda que,
exteriormente, os homens tenham forma de seres humanos, interiormente são
como animais. Se fossem verdadeiros seres humanos, a sociedade não
necessitaria de jaulas. Quem jamais pratica o mal, esteja onde estiver, é que
tem a qualificação de autêntico ser humano. Se a decadência moral continua,
apesar do crescente progresso da cultura, é porque o método de quebrar
jaulas está vencendo o método de fortalecê-las. Este é o motivo pelo qual
sempre afirmamos que a cultura da atualidade é uma cultura desequilibrada,
onde só houve progresso da parte material.
O mundo dos seres humanos é um mundo sem leis nem organizações
anticriminais. O esforço que estamos empreendendo tem um único objetivo:
construir esse mundo.
3 de setembro de 1949

O MAL SOCIAL É OU NÃO É CAUSADO PELO MEIO AMBIENTE?


Desde os tempos mais remotos é costume dizer: "Se tiveres riqueza
consolidada, terás espírito correto". Isso significa que, quando o homem deixa
de passar por dificuldades materiais, suas palavras e atitudes também
melhoram. Assim, muitos intelectuais interpretam que a carência material é a
causa dos males sociais que infestam o mundo atualmente. Em parte isto é
verdade, mas não é o ponto vital do problema. Se essa fosse a verdadeira
causa dos males sociais, as pessoas abençoadas materialmente deveriam ser
335
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

corretas; todavia, a realidade nos mostra que nem todas o são. Existem muitas
pessoas ricas que praticam atos ilícitos e às vezes perturbam e prejudicam a
sociedade muito mais do que os pobres. Através do poder do dinheiro,
apoderam-se de muitas residências e deixam-nas desabitadas, numa época
em que estamos passando por séria crise habitacional; alvoroçam a moral;
tiram a liberdade dos fracos e indefesos, impedindo-os de subir na vida;
corrompem o mundo político; e tantas outras coisas, que chega a ser
impossível enumerá-las.
Por esses fatos, fica evidente que o aumento dos males sociais não é
causado unicamente pela carência material. Conclui-se, daí, que eles provêm
da falta de fé, como sempre costumamos dizer. Esta é a sua verdadeira causa.
Enquanto não solucionarmos essa questão, será impossível pensarmos na
erradicação dos males sociais. A solução básica e incontestável do problema
está no aparecimento de uma religião poderosa.
O maior erro que existe no pensamento dos homens civilizados da
atualidade é a mania de atribuir ou transferir todas as culpas para terceiros.
Creio que a influência do marxismo constitui o centro desse modo de pensar,
pois, segundo sua teoria socialista, a infelicidade do homem é causada
unicamente pelo péssimo mecanismo da organização social. De fato, torna-se
necessário melhorar cada vez mais esse mecanismo, mas é um grande
equívoco determinar que esta seja a causa única da infelicidade do homem.
Mesmo que se chegue a uma organização ideal, se o modo de pensar e agir de
cada indivíduo estiver errado, essa organização não poderá ser administrada
com eficiência, e o resultado, infalivelmente, será a bancarrota. Portanto, a
única forma de solucionar o problema é melhorar a natureza espiritual de cada
indivíduo. Ou seja, deve-se considerar que o homem é o ponto principal, e a
organização social, um ponto secundário.
É evidente que esse pensamento errado surgiu das teorias materialistas,
que não reconhecem a natureza espiritual do homem. Tenta-se solucionar
todos os problemas através dessas teorias e nisso está o grande erro. Como
resultado, os homens da época atual julgam que suas próprias palavras e
ações são corretas e procuram atribuir a culpa dos males sociais a terceiros.
Na realidade, porém, a causa de quase todos esses males está no próprio
indivíduo. Se os homens estiverem profundamente conscientizados disso, a
humildade e o espírito filantrópico surgirão por si mesmos, nascendo uma
sociedade feliz e pacífica. Jamais se conseguirá tal coisa por outro caminho
que não seja a fé.
O pensamento de que a culpa dos males sociais está em terceiros -
princípio da revolução socialista - baseado no qual se pretende destruir a
organização social, faz com que o povo se rebele, transferindo a culpa à
organização, ao invés de assumi-la. Gostaríamos, portanto, que os homens da
atualidade, plenamente conscientizados do que estamos dizendo,
reconsiderassem os erros cometidos até o presente e começassem tudo de
novo.
25 de maio de 1949

É POSSÍVEL SOLUCIONAR OS MALES SOCIAIS?


Nunca houve um número tão grande de criminosos, em nosso país,
como atualmente. Vêm ocorrendo casos assustadores, como o roubo praticado
336
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

por um grupo de mais de cem pessoas, causando prejuízo de quatrocentos


milhões de ienes, e também casos de violência coletiva e aumento gradativo
de crimes praticados por adolescentes. A situação social é tão calamitosa, que
não pode continuar como está.
Analisemos a situação das classes situadas acima da média. Aí também
é uma calamidade. Verifica-se o suborno de entidades públicas, especulações,
negociatas e muitas outras irregularidades. Se fôssemos enumerá-las, não
chegaríamos a um ponto final. Mas esses são apenas os casos que vêm à tona
eventualmente, não passando da pequena parte visível de um "iceberg". Os
males sociais do Japão atual parecem não ter fim. É como se fosse um monte
de lixo tão grande que não se tem lugar para pisar. Portanto, o grande
problema com o qual nos defrontamos é encontrar o meio de eliminar esse
lixo. Naturalmente, as autoridades e os homens conscientes estão
preocupados com o problema, e reconheço que vêm fazendo o maior esforço
para encontrar uma solução. Entretanto, por que não se conseguem
vislumbrar ao menos uma pequena luz de esperança?
Em nossa opinião, essas pessoas partem de idéias totalmente erradas,
estão completamente fora do caminho certo. Raciocinemos. Em primeiro lugar,
é preciso descobrir por que as pessoas cometem crimes. Se isso não ficar bem
esclarecido, não será possível tomar-se medidas apropriadas.
A causa fundamental do crime está na alma humana, em nenhum outro
lugar. Dependendo de ter alma "branca" ou "preta", a pessoa será boa ou má.
Por conseguinte, o ponto vital para a solução do problema dos crimes é
transformar o portador de alma "preta" em portador de alma "branca".
Acontece que as autoridades e os intelectuais da atualidade não percebem
isso. Planejam todas as variedades de métodos, tendo como ponto de
referência aspectos secundários e terciários, que aparecem externamente, e
empenham-se na tomada de medidas anticriminais. Mas isso é o mesmo que
estarem enchendo de água uma vasilha furada, motivo pelo qual jamais
conseguirão extinguir os crimes, levem quantos anos levarem. Alguém disse:
"Para exterminar o crime por completo, é preciso que haja um policial vigiando
cada pessoa". E com razão, porque, apesar do crescente aperfeiçoamento do
sistema jurídico e do esforço cada vez maior empreendido pelos tribunais e
pelos policiais, não se obtêm os resultados esperados.
Mas não existirá uma medida eficaz, uma medida que apresente
resultados positivos? Sim, existe. Vou escrever a respeito.
Como eu disse antes, só há um meio de tornar "branca" a alma dos
seres humanos: a Religião. Contudo, será que basta ser simplesmente uma
religião? Isso também requer uma análise. Como todos sabem, religiões
existem muitas. Começando pelas mais novas, as que realmente nos trazem
tranqüilidade de espírito infelizmente são tão poucas quanto as estrelas do
amanhecer. E as religiões tradicionais? Talvez todos concordem que nenhuma
tem força suficiente para transformar o "preto" em "branco". Portanto, em
primeiro lugar, é preciso analisar as religiões com muita cautela, selecionar
algumas que pareçam razoáveis e, mesmo que não se chegue a cooperar com
elas, pelo menos tratá-las com simpatia. Não existe alternativa melhor.
As autoridades têm uma grande preocupação com os males sociais;
todavia, não entendo por quê, não passa por suas cabeças a idéia de recorrer
à Religião. Elas sempre se apóiam nos métodos materialistas, dos quais não
337
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

querem se desapegar. Esta é a situação atual. Conseqüentemente, o povo é


que sofre. Portanto, torna-se imprescindível e urgente curar esta cegueira e
fazer com que as pessoas se conscientizem da verdadeira essência da
Religião. Uma vez que o pensamento dos criminosos se fundamenta no
princípio materialista de não acreditar no que é invisível, eles pensam que
basta enganar as pessoas e, concentrando nisso toda a sua inteligência,
empenham-se em fomentar o mal social. Assim, enquanto não exterminarmos
esse pensamento, será inútil valer-nos de outros métodos, pois eles não
passarão de paliativos momentâneos. É preciso tomar por base o pensamento
espiritualista e fazer os criminosos se conscientizarem da existência de Deus.
Se eles acreditarem que os seres humanos estão constantemente sendo
observados pelos olhos de Deus e entenderem a Lei de Causa e Efeito, será
facílimo eliminar o crime pela raiz.
Os intelectuais que lerem minhas palavras certamente dirão: "Não
duvido de que seja exatamente como o senhor está argumentando, mas essa
argumentação não é suficiente para fazer os criminosos reconhecerem a
existência de Deus". Ora, eles dizem isso porque seu pensamento também é
materialista. Acham que forçar as pessoas a acreditar em Deus é, sem dúvida,
coisa de religião supersticiosa. Mas sua interpretação é justificável, pois eles
têm como ponto de referência as religiões surgidas até hoje.
Agora eu gostaria de que os intelectuais refletissem profundamente
sobre a cultura científica. De fato, ela progrediu rapidamente. Surgiram
descobertas umas após outras, e aquilo que há cem anos era considerado um
sonho, hoje se tornou realidade. Entretanto, as religiões, e somente elas, não
mudaram nem um pouco em relação à época de sua fundação, há milhares de
anos. Seria impossível, portanto, não surgirem dúvidas quanto à causa dessa
contradição. Conseqüentemente, analisando as religiões, os intelectuais da
atualidade acham que elas não passam de simples relíquias. Sua visão é a
mesma que se tem em relação às antigüidades. Assim, quando nós
argumentamos que, para solução do mal social, é preciso recorrer à Religião,
eles nem dão ouvidos. Eis aí o problema.
Conforme já tive oportunidade de escrever, assim como o progresso da
civilização científica está construindo uma nova época, é preciso, também,
que, no campo da Religião, surja algo equivalente. Ou melhor, não será nada
estranho que surja uma religião de nível mais elevado que o alcançado pela
Ciência. Também não será estranho que essa religião tenha um poder capaz
de solucionar os problemas que a Ciência não consegue resolver. Se
compreenderem e aceitarem o que estou dizendo, poderão entender a
verdadeira natureza da Igreja Messiânica Mundial. Modéstia à parte, ela tem
um poder grandioso, e, uma vez ingressando nela, qualquer pessoa
reconhecerá isso facilmente. Raciocinem: por mais bela que seja uma coisa, se
não nos aproximarmos dela, não conseguiremos ver sua beleza; por mais
saborosa que seja uma comida, se não a provarmos, não saberemos seu
sabor; se houver um tesouro enterrado, mas não cavarmos a terra, não o
encontraremos. Da mesma forma, não adianta ficar do lado de fora apenas
imaginando o que é a nossa Igreja. Pensar que ela não passa de mais uma
religião supersticiosa e trapaceira, deixando-se influenciar por boatos e pelas
falsas notícias publicadas nos jornais, será rejeitar a própria felicidade. Antes
de mais nada, é preciso entrar em contato com ela. "Se não entrarmos na toca
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

da onça, não conseguiremos agarrar seus filhotes". É um sábio ditado, não


acham?
25 de janeiro de 1951

O MAU COMPORTAMENTO DOS FILHOS


Atualmente, o mau comportamento das crianças é considerado um
problema social, mas parece-me que ainda não lhe foi atribuída nenhuma
solução adequada. As variadas teorias preventivas ainda são muito
superficiais, e é extremamente lamentável que nenhuma delas toque no
âmago da questão. Vou mostrar o método que eu acredito ser a prevenção
absoluta.
Antes de mais nada, é preciso deixar bem clara a causa fundamental do
problema. Para isso, temos de pensar na relação entre pais e filhos. Em termos
mais claros, se o pai é o tronco da árvore, o filho é o ramo; por conseguinte,
tomar medidas para não deixar apodrecer o ramo, mas esquecer-se de cuidar
do tronco, assemelha-se a colocar o carro na frente dos bois. A condição básica
para solucionar o problema é ter plena consciência de que a causa do mau
comportamento dos filho está nos pais.
Em primeiro lugar, façamos uma análise espiritual.
Como sempre digo, os pais e os filhos estão ligados por um elo
espiritual. Conseqüentemente, se houver máculas no espírito dos pais, através
desse elo o espírito dos filhos também ficará maculado. Esta é a causa do seu
mau comportamento. Sendo assim, o método para evitar a delinqüência
infantil é fazer com que o espírito da criança não adquira máculas. Para isso, é
preciso, em primeiro lugar, fazer com que o espírito dos pais não fique
maculado. Ignorando esse princípio, os pais têm preconceitos errados e, sem
saber, cometem pecados que dão origem a máculas, as quais se refletem nos
filhos. Portanto, é necessário que eles pensem constantemente no bem e
tenham um comportamento correto, preocupando-se sempre em elevar o seu
próprio caráter. Este é o único método eficiente; não existe outro.
A interpretação acima baseia-se no aspecto espiritual. Agora vou
explicar materialmente.
Como todos sabem, os filhos aprendem com os pais e procuram imitá-
los. Por isso, quando os pais pensam no que não é correto ou praticam o que
não é bom, por mais habilmente que o escondam, é certo que um dia os filhos
ficarão sabendo, uma vez que moram sob o mesmo teto. Então, é óbvio que a
criança pense assim: "Se nossos pais fazem isso, que mal há em que nós
façamos também ?"
Em síntese, não é errado dizer que o mau comportamento dos filhos é
uma conseqüência do mau comportamento dos pais. Por conseguinte, não
passa de uma forma para desmascarar a corrupção destes.
Pessoas que têm filhos! Saboreiem bem esta tese e, se desejam que eles
sejam bons, tornem-se bons pais primeiro.
22 de abril de 1950

JORNAL QUE ENALTECE O BEM


Em todos os jornais da atualidade há um exagerado número de notícias
relacionadas ao mal: roubos, assaltos, assassinatos, fraudes, mercado negro,
contrabando, suicídios, adultério, etc. São tantas notícias desagradáveis, que
339
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

chega a ser quase impossível enumerá-las. Se estivéssemos no exterior e


soubéssemos de tudo isso, poderíamos pensar que não existe país tão horrível
quanto o Japão. Entretanto, por pior situação em que ele se encontre, deve
haver alguma coisa que se possa elogiar ou que seja motivo de orgulho.
Acontece que as coisas boas ficam mais escondidas e são mais difíceis de
aparecerem. Desde os tempos antigos, diz-se que as más ocorrências vão
longe; de fato, parece que as coisas más logo se tornam conhecidas e se
espalham. Também no que se refere aos noticiários dos jornais, o que está
relacionado às coisas boas não atrai os leitores. Quanto pior é o assunto,
maior é o interesse das pessoas. Principalmente os artigos que falam de fatos
macabros, fora do comum, são do interesse de cem por cento dos leitores e
por isso aparecem escritos em caracteres bem grandes. A melhor prova é que
as manchetes dos jornais dizem respeito aos artigos que relatam notícias
ruins.
De vez em quando, aparecem algumas notícias boas, como por exemplo
a que saiu estes dias, sobre o Professor Yugawa. Mas isso talvez não passe da
centésima parte, em comparação com o número de notícias más. Como
podemos ver por esses fatos, os leitores que lêem diariamente jornais tão
cheios de males, inconscientemente são influenciados por eles. Assim, a
consciência do homem sobre o mal diminui e, devido ao seu próprio caráter,
ele se acostuma até mesmo àquilo que, em estado psicológico normal, lhe
pareceria terrível.
Em princípio, o objetivo pelo qual os jornalistas mostram apenas a parte
escura das coisas é advertir a sociedade, num esforço para melhorá-la cada
vez mais. É uma ironia, no entanto, pois esse esforço surte um efeito contrário.
Talvez até a mente dos jornalistas acabe ficando entorpecida e eles comecem
a achar que é muito normal relatar ocorrências criminosas com grande
eloqüência. Como não conseguimos ficar calados diante desta sua tendência
ao estado de torpor em relação ao mal, não temos outra saída senão adotar o
método contrário ao deles. Observando a redação de nosso jornal, poderão
compreender isso muito bem. Os crimes ou aspectos negativos da sociedade
jamais são explorados de forma sensacionalista. Dessa forma, despertamos a
sociedade e reafirmamos a absoluta rejeição do mal. Talvez seja uma posição
muito natural para um jornal religioso, mas, se publicações desse tipo
contiverem simplesmente artigos semelhantes a sermões, como se estivessem
mastigando vela, não atrairão a atenção das pessoas e por isso acabarão não
sendo lidas. Como essas publicações são infrutíferas, o nosso jornal, mesmo
que se trate de um pequeno comentário, publica artigos que toquem a fundo o
coração dos leitores. Publica, também, teorias novas, que raramente são
apresentadas. É assim que ele atrai as atenções. Além disso, através do
"suntetsu" (sátira curta e incisiva), fazemos com que os leitores consigam
captar o ponto vital das coisas. Principalmente os relatos de graças recebidas,
que são artigos característicos de nosso jornal e representam fatos verídicos -
recentes milagres de valiosas vidas que foram salvas - nunca deixam de ser
lidos. Os leitores ficam maravilhados e talvez não haja um só que não se
comova.
Como podemos ver, talvez não exista atualmente um jornal igual ao
nosso, que rejeita o mal e inspira fortemente o bem. Podemos, portanto, dizer
que, mesmo em pequena escala, ele é uma existência de caráter luminoso
340
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

cujo brilho é único, destacando-se pelo seu objetivo de melhorar o sentimento


das pessoas.
18 de fevereiro de 1950

OS VIRTUOSOS BEM-SUCEDIDOS NA VIDA


Este título parece um tanto estranho, mas trata-se de uma verdade que
poucos percebem, e por isso vou escrever a respeito.
Até hoje, tanto no Ocidente como no Oriente, quando analisamos as
pessoas bem-sucedidas na vida - não só as que realizaram empreendimentos
que lhes valeram fama mundial, mas também as que obtiveram sucesso de
alcance limitado - vemos que quase todas elas são pessoas más. Na realidade,
é difícil o virtuoso ser bem-sucedido, pois ele difere muito do perverso. De
fato, a maioria das pessoas que não hesitam em incomodar os outros ou em
aumentar os males da sociedade, escapam habilmente das malhas da lei e
vencem na vida; parece que, para elas, não existe outro método para galgar o
sucesso. Assim, quando alguém vê um indivíduo bem-sucedido, logo lhe vem o
preconceito de que seja um espertalhão, o qual, sem dúvida, está fazendo
coisas desonestas às escondidas. E não está pensando errado, pois é isso
mesmo que acontece. Conseqüentemente, as criaturas ávidas de sucesso os
imitam, julgando ser um método hábil a pessoa não escolher meios para
alcançar seus objetivos. Por isso, o virtuoso é prejudicado. Esta é a causa dos
males sociais da época atual.
Esse ponto de vista está tão enraizado na cabeça dos homens da
atualidade, que eles nos olham da mesma maneira. Pelo fato de nossa Igreja
ter conseguido trezentos mil fiéis em apenas três ou quatro anos, logo de
saída ela é incluída no grupo dos bem-sucedidos. Vendo-a através do
preconceito dos "óculos escuros", esses homens pensam que, embora se trate
de uma religião, sem dúvida ela está fazendo coisas desonestas ocultamente e
por isso vem obtendo sucesso. Eles acabam concluindo que, no mundo atual,
não há motivos para se vencer na vida unicamente através do bem.
Naturalmente, não é apenas o povo que pensa dessa forma; até as
autoridades têm uma tendência, pequena ou grande, para tal pensamento. E
não somos só nós que achamos isso. Além do mais, a soma de pessoas
prejudicadas com a expansão da nossa Igreja e de materialistas que não
simpatizam com as religiões novas, assim como as queixas e denúncias feitas
em segredo por chantagistas que se deram mal conosco e os boatos
espalhados pelos jornais de má-fé, confundem o pensamento das autoridades,
muitas vezes levando-as a fiscalizar-nos, embora elas o façam mais pela
responsabilidade que têm.
Esse é o motivo das críticas da sociedade em relação à nossa Igreja. Mas
elas ocorrem justamente porque os que obtiveram sucesso através da prática
do bem são muito poucos. Tais críticas representam uma prova do que
estamos dizendo. Por conseguinte, precisamos varrer o pensamento errôneo
de que só se consegue sucesso através do mal e mostrar que saímos
vitoriosos quando caminhamos ao lado do Bem e da Justiça. É por isso,
também, que estamos nos esforçando ao máximo. Se fizermos com que a
sociedade se conscientize dessa verdade, é óbvio que isso trará uma
influência muito positiva para ela e para cada indivíduo. E acredito que este

341
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

também seja um meio para que a Religião possa cumprir a missão que lhe é
inerente.
18 de março de 1950

A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL PODE SER EVITADA


A maior ameaça que paira atualmente sobre a humanidade é, sem
dúvida alguma, a eclosão da Terceira Guerra Mundial. Como é do
conhecimento de todos, os intelectuais do mundo inteiro, cada um na sua
posição, estão procurando evitá-la, discutindo o assunto oralmente ou por
escrito e usando toda a sua inteligência. Entretanto, não sei por que razão,
apenas entre os religiosos não há ninguém opinando sobre o assunto, o que é
realmente incompreensível. Diante disso, eu gostaria que, antes de mais nada,
refletissem sobre o objetivo da Religião.
Nem seria necessário dizer, de tão óbvio, que o objetivo da Religião é
construir um mundo de paz, um mundo sem conflitos. Sendo assim, acho
muito estranho o absoluto silêncio que, talvez por não saberem o que fazer, os
religiosos mantêm atualmente, ante o perigo da Terceira Guerra Mundial.
Naturalmente, sem o apoio do Governo e por não poderem pegar em armas,
devido à idade, eles deveriam, através de métodos pacíficos, compatíveis com
a sua condição de religiosos, trabalhar para que a guerra seja evitada. Assim,
gostaria de mostrar as causas da guerra e como evitá-las, ou melhor,
apresentar o princípio que possibilita a sua erradicação. Para compreenderem
melhor, falarei sobre a doença e a saúde.
Sempre afirmo que a doença é um sofrimento que surge quando a
eliminação das máculas acumuladas no espírito do homem se reflete no corpo.
Seja qual for o tipo de sofrimento, a causa está nas máculas espirituais. No
que se refere ao corpo material, é o processo de eliminação das impurezas;
por conseguinte, se o homem quer se libertar desse sofrimento, só há uma
forma: não acumular impurezas e, ao mesmo tempo, eliminar as que já estão
acumuladas. Sofrimentos coletivos como os danos causados por vento, chuva,
incêndio, terremoto, agitações sociais, etc., também são ações purificadoras. A
guerra nada mais é que esse sofrimento em forma ampliada. Para evitá-la,
está mais do que claro, é preciso eliminar as máculas espirituais de cada
indivíduo.
Supondo-se que seja declarada a Terceira Guerra Mundial, isso
aconteceria por ter aumentado demasiadamente o número de homens com
espírito maculado, chegando-se a uma situação em que não havia outro
recurso. Creio mesmo não ser exagero afirmar que atualmente o mundo está
repleto de homens impuros. O ser humano acumulou máculas pela prática do
mal, decorrente de uma educação baseada no materialismo, o qual ignora a
existência de Deus. Sendo assim, o problema só poderia ser solucionado pela
retificação das idéias materialistas. Com o espírito extremamente maculado
por esse tipo de educação, o homem ficou cego, o que é um resultado muito
normal.
Mas é preciso saber que, pela Lei do Universo, onde se acumulam
impurezas, infalivelmente surge o processo purificador natural. O surto de
epidemias, por exemplo, embora o aparecimento do vírus seja uma causa
direta, deve-se ao fato de terem surgido homens com necessidade de purificar.
Trata-se, pois, de uma ocorrência natural, baseada na Lei da Concordância,
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

que se aplica a todas as coisas existentes sobre a face da Terra. As grandes


metrópoles, as obras arquitetônicas da atualidade e, por assim dizer, quase
todas as coisas materiais, são produtos do mal, isto é, um conglomerado de
máculas; conseqüentemente, estão fadadas à destruição.
Assim, através da guerra, o homem e todas as coisas onde se acumulem
impurezas serão purificados de uma só vez. Essa é a imutável Lei do Universo;
nada há a fazer. Portanto, para evitar a Terceira Guerra Mundial, o homem e
todas as coisas existentes sobre a Terra devem ser purificados até que não
haja mais necessidade de uma grande ação purificadora. Caso perguntem se
existe um método para promover essa purificação geral, responderei que sim.
Esta é a missão da nossa Igreja Messiânica Mundial; para isso é que ela
nasceu. Em outras palavras: como o mundo é a soma de indivíduos, basta
cada um tornar-se digno, a tal ponto que seja desnecessária a purificação.
17 de outubro de 1951

A NAÇÃO

A BÚSSOLA DA RECONSTRUÇÃO DO JAPÃO


Baseado na atual conjuntura, desejo tecer considerações a respeito da
política nacional que o Japão precisa adotar daqui para frente. Antes, porém,
tenho que falar sobre a missão da nação japonesa.
Deus, para governar o mundo, concedeu a cada país uma missão
específica. Evidentemente, o Japão não constitui exceção. Como a missão que
lhe cabe não estava esclarecida até o presente momento, foram praticados os
mais gritantes erros, decorrentes da interpretação caprichosa do homem. O
resultado foi a nação caótica que vemos atualmente.
Analisando a história do Japão, evidencia-se que, desde a antigüidade,
têm surgido grandes heróis e guerreiros, a maioria dos quais, utilizando-se da
violência chamada guerra, enfeixou o poder em suas mãos. Em quase todos os
lugares, podemos ver os males e crimes que eles cometeram, devastando
territórios e fazendo o povo viver na pior das agonias. Em poucas palavras,
pode-se afirmar que a história do Japão não passa do registro de uma disputa
de poderes entre os dominantes. É fato real, sem margem de dúvida, que a
maior e a última dessas disputas foi a Segunda Guerra Mundial. Desde que o
Japão foi instituído como nação, seu povo tem sido muito sacrificado, vítima
dessa situação conflitante. Vê-se, portanto, que não houve absolutamente
história do povo.
Todavia, durante esse longo período, também houve épocas pacíficas de
tempos em tempos. Nos períodos Assuka (592-707), Hakuho (646-723),
Tempyo (710-797), Heian (801-899), Ashikaga (1338-1573), Kamakura (1205-
1333), Momoyama (1574-1600), Guenroku (1688-1704), Kyoho (1763-l782),
Bunka (1804-1817), Bunsei (1818-1829) e Meiji (1868-1911), apesar de sua
curta duração, desenvolveu-se uma cultura pacífica, da qual foram
preservadas até hoje algumas heranças. São quadros que retratam sua época,
esculturas, objetos artesanais, etc. O fato de haverem sido criadas tantas
peças artísticas maravilhosas em tão curto período de paz - peças que ainda

343
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

hoje podemos apreciar - mostra-nos a elevada tendência dos japoneses para o


Belo.
Outro ponto a ressaltar é a natureza do Japão. Todos os turistas que o
visitam ficam admirados, dizendo que nenhum país tem paisagens tão puras e
lindas como as japonesas. É também um dos países mais ricos em espécies de
ervas, árvores e flores. Além disso, dizem que, no Japão, a variação das
estações é incomparável, evidenciando-se nas transformações das
montanhas, rios, gramas e árvores, nas flores da primavera, no verde do
verão, no bordo do outono, na queda das folhas durante o inverno e em outros
aspectos, cada qual expressando a beleza de sua estação.
É também característica a arte e a técnica dos japoneses na utilização
da beleza natural da madeira e outros materiais nas construções. As artes
plásticas e o artesanato são muito apreciados pelos estrangeiros, seja a
pureza e riqueza das pinturas, os característicos "makiê", as cerâmicas e
outros objetos.
Kyoto e Nara escaparam aos bombardeios aéreos durante a guerra
graças ao trabalho do Professor Langdon Warner (1881-1955), que se
empenhou na preservação das duas cidades pela compreensão que tinha da
arte japonesa, não obstante ser estrangeiro.
No que se refere aos produtos alimentícios, a grande quantidade de
alimentos provenientes do mar, as verduras variadas e a técnica da culinária
também evidenciam uma cultura muito característica, que vivifica o sabor
natural das coisas.
Refletindo sobre tudo isso, pode-se perceber qual é a missão inata do
Japão: por meio da beleza natural e da beleza criada pelo homem, cultivar o
espírito de nobreza do ser humano, dar-lhe tranqüilidade e fortalecer-lhe o
desejo de desfrutar da paz. Em termos mais concretos, tornar-se o jardim
público do mundo e a fonte de toda e qualquer expressão do Belo.
Entretanto, em que situação nos encontramos! Ao invés de cumprir sua
verdadeira missão, o Japão viveu por longo tempo sob a bandeira do
militarismo, sem voltar sua atenção para mais nada. Uma vez que despertem
para o significado de sua missão e reflitam profundamente, os japoneses
poderão compreender o quanto estavam errados. A situação inédita em que o
país se encontra, obrigado a dispensar os armamentos militares em
conseqüência da derrota sofrida na guerra, só pode ser determinação de Deus
para fazê-lo entender sua verdadeira missão. A propósito da inexistência de
forças armadas, talvez haja, entre os japoneses, pessoas que se preocupam
com o futuro da nação, mas acredito que seja uma preocupação
desnecessária. Isto porque, se o Japão se tornar o parque público do mundo,
incorporando o Bem e o Belo e apresentando-se como um jardim paradisíaco,
embora ocorra uma guerra, os inimigos, e muito menos os aliados, não teriam
coragem de destruí-lo.
Também em nossa Igreja, como todos sabem, estamos preparando e
executando a construção do protótipo do futuro Paraíso Terrestre, nas cidades
de Hakone e Atami, em locais escolhidos pela sua paisagem pitoresca. Nele
está expresso o máximo da beleza das construções arquitetônicas e dos
jardins. Além disso, estamos instalando o que se poderia chamar de local de
apresentação das belas-artes para o exterior. A propósito, gostaria de ressaltar
que, dentre os muitos produtos exportados pelo Japão, dificilmente a
344
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

exportação dos produtos têxteis, que são tão característicos, poderá


ultrapassar certo limite. Quanto às maquinarias, construções navais, trens,
bondes, automóveis, bicicletas, etc., restringem-se a artigos comuns,
destinados à massa popular dos países altamente desenvolvidos; para os
países cuja população é de baixo nível, são exportados produtos que apenas
satisfazem suas necessidades. Em termos de maquinaria de alto nível, de
mercadorias variadas e de material cultural, talvez ainda estejamos longe de
alcançar países desenvolvidos como os Estados Unidos. Por esse motivo, a
política nacional que o Japão deve adotar daqui para frente são os
empreendimentos turísticos e a exportação de objetos de arte, obras
artesanais e flores. Não seria exagero dizer que, além disso, quase nada tem
futuro.
Existe, no entanto, um fator da maior importância: os problemas de
saúde dos japoneses. Por mais perfeitas que sejam as instalações turísticas e
por mais que nos tornemos alvo da admiração dos visitantes, se o Japão
estiver infestado de doenças contagiosas, como a tuberculose, seria o mesmo
que convidá-los para uma bela mansão de portas fechada
Outro ponto importante é o que se refere às verduras japonesas. O fato
de, no Japão, se utilizar excremento humano como adubo, desde a
antigüidade, constituiria por si só um grande obstáculo para atrair os
estrangeiros, dado o perigo da transmissão de vermes. Assim, o ideal seria
explicar o método de Cultivo Natural preconizado pela nossa Igreja. Com isso,
todos os obstáculos mencionados anteriormente seriam eliminados.
Penso que, com estas explicações, possam ter uma compreensão geral
dos nossos objetivos. Entretanto, quando chegar o dia em que os projetos e
instalações a que nos referimos ficarem concluídos em todo o território
japonês, verão realmente concretizado o Paraíso Terrestre que nós
proclamamos, e acredito que nenhum país terá motivos para deixar de recebê-
lo com alegria e satisfação.
30 de maio de 1949

A PALAVRA "SU"
Eu sempre aconselho manter a ordem em tudo, e a transcrição da
palavra "SU" (chefe, senhor, dono) nos sugere a mesma idéia. Ela é transcrita
da seguinte forma: (###). Vamos analisá-la.
Os três traços horizontais significam: Céu, homem e Terra; ou Sol, Lua e
Terra; ou os números sagrados 5, 6 e 7; ou Deus, espírito e matéria. Esses
traços são completados por outro, vertical, que os atravessa no meio, e em
cima de todos há um sinal.
A Política, a Economia, a Educação, a Religião, ou qualquer outra
atividade humana, tudo, em suma, deve observar essa hierarquia. Se assim
não for, nada poderá correr bem. Mas, até hoje, tudo que existe geralmente
está separado, situando-se no plano vertical ou no plano horizontal. Uma das
maiores conseqüências disso nós observamos no antagonismo entre o
pensamento fundamental do Oriente e do Ocidente.
Finalmente chegou o tempo de cruzar os pensamentos e as atividades,
como os traços e planos da palavra analisada, isto é, o tempo de seguir o
exemplo da palavra "SU", cujo significado, como já vimos, é "senhor", "chefe",
"dono".
345
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Observemos que no meio da palavra forma-se uma cruz (***ju.tif***) e


relembremos que o traço de cima representa o Céu, e o de baixo, a Terra. Isso
quer dizer que o mundo dos homens está entre o Céu e a Terra; por essa razão
ele tem forma de cruz. É essa a realidade do Paraíso Terrestre, ou Reino de
Deus. A palavra que designa Deus ("Kami") tem a mesma significação. "KA"
(***hi.tif***) significa "fogo"; "MI" (***mizu.tif***) significa "água". O fogo arde
verticalmente, e a água corre horizontalmente. Unindo "KA" e "MI", obtemos
"KAMI", ou seja, Deus, cujo trabalho é unir, atar. Agora chegou o momento em
que Deus quer unir o que está separado, porque está próximo o Reino dos
Céus.
Os católicos fazem o sinal da cruz sobre o peito. A significação é idêntica
à do símbolo dos budistas (<***manji.tif***) e tem a mesma explicação. Na
cruz búdica, entretanto, as pontas estão curvadas, o que significa que, após o
cruzamento, a cruz começa a girar.
Pelo exposto, a Política também precisará estar estruturada em três
camadas, para uma boa atuação. Se assim não for, haverá distúrbios e
incompreensão, o que gerará conflitos. A cruz que se observa na palavra "SU"
liga perfeitamente a parte de cima e a de baixo; assim, a classe média, entre o
povo, tem a função de harmonizar as classes alta e baixa. Acima de todos,
temos o Presidente ou o Primeiro-Ministro para governar. Desse modo, tudo
que obedecer à forma da palavra "SU" (***su.tif***) correrá bem, sem
interrupções ou obstáculos, inclusive na administração de firmas ou de
sociedades civis.
Obedecendo-se a essa ordem hierárquica, estará concretizado o mundo
ideal, ou seja, o Mundo de Miroku - mundo da Luz.
3 de setembro de 1949
NOVO CONCEITO DE AMOR À PÁTRIA
O amor à pátria parece ser comum a todos os povos. Talvez não exista
um só país que não o adote como regra de ouro e máxima do civismo. No
Japão também, até o fim da guerra, um forte sentimento de amor à pátria
tomava conta de toda a população. Uma das causas, naturalmente, era o
regime imperialista, em que o Imperador era o símbolo do povo, adorado
como encarnação de Deus. O fato está nitidamente gravado em nossa
memória.
É óbvio que o respeito e a crença na eternidade da família imperial
criaram esse sentimento no povo e que certo grupo de ambiciosos e de
governantes exerceu enorme influência sobre o ensino e a propaganda,
fazendo com que tudo saísse a seu favor. Como resultado, construiu-se uma
nação singular, como jamais se viu outra igual. Considerando-se um país
Divino, o Japão acabou caindo na auto-satisfação, fez-se de "filhinho mimado",
sem ao menos ser tão rico assim. Habilmente, os escolásticos insuflaram esse
complexo de superioridade em termos lógicos e históricos, o que foi
desastroso. Assim, o sentimento de lealdade e patriotismo assolou o país
inteiro, e o povo acabou por achar muito normal fazer qualquer coisa em prol
da nação e do Imperador, até mesmo sacrificar a própria vida. Isto era
considerado o mais elevado ato moral.
Com a perda da guerra, o orgulho dos japoneses voou longe e, ao
contrário, até nasceu neles um sentimento de inferioridade. Nessa ocasião,
houve uma declaração do Imperador que deixou o povo perplexo: "Eu não sou
346
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Deus, sou um homem". Nasceu, então, a nova Constituição, que dizia estar o
poder político nas mãos do povo. Dessa forma, o Japão se tornou uma nação
democrática. Foi realmente um acontecimento inédito desde o começo de sua
existência histórica. Além disso, a mudança de posição do Imperador, que
antes se colocava em posição Divina, determinou que, à exceção dos
intelectuais, o futuro da grande massa popular, já sem razão de existência,
ficasse totalmente obscuro. E todos sabem que o povo acabou por perder o
rumo, situação que continua até os dias de hoje.
A propósito, houve um fato muito engraçado. Logo após o término da
guerra, todas as pessoas que se encontravam comigo diziam, com expressão
desapontada: "O `vento Divino' acabou não soprando, não é?" Então eu
respondia: "Não digam tolices. O `vento Divino' soprou, mas vocês o estavam
interpretando erradamente. Em verdade, a Vontade de Deus é ajudar o bem e
castigar o mal. Já que o Japão é que estava errado, é natural que tenha
perdido a guerra. Portanto, ao invés de nos lamentarmos, deveríamos
agradecer e até comemorar. Como não podemos fazer isso, temos de ficar
quietos, mas virá o dia em que todos compreenderão a verdade". Ouvindo
isso, as pessoas diziam: "Entendi perfeitamente", e voltavam alegres para
suas casas.
Através desse fato, podemos ver que os japoneses deixavam em
segundo plano o que é bom e o que é mau, quando se tratava de assuntos
relativos à nação. Pensando apenas no seu próprio bem, chegaram até a
estabelecer e propagar o "slogan" "Hakko iti u" (o mundo sob a égide do
Japão) e a julgar que, se o seu país estivesse bem, pouco importavam os
outros países. Isso foi considerado lealdade e patriotismo, e assim os
japoneses vieram avançando como cavalos refreados a cabresto. Desde essa
época, portanto, estava sendo plantada a semente terrível da catástrofe.
Quando pensamos em tudo isso, compreendemos que o amor à pátria
deve estar de acordo com a época. Além do mais, se não for com base no
conceito do bem e do mal, do certo e do errado, é impossível formar um plano
a longo prazo, em termos nacionais. Sendo assim, vou mostrar o sentimento
de amor à pátria que está de acordo com a era vindoura.
Em termos mais claros, o fundamental é tornar "Daijo" o pensamento do
Japão, que até então era "Shojo". Sintetizando: criar o amor internacional, o
amor humanitário, isto é, amar o mundo por amar o Japão. Atualmente, tudo
está se tornando universal e internacional, e as aspirações independentes e
transcendentais já se tornaram sonho do passado. Conseqüentemente, em
termos concretos, o amor à pátria, daqui para frente, deve consistir, antes de
mais nada, em tornar segura a vida de nossos irmãos - noventa milhões de
pessoas - e fazer do Japão uma nação justa, baseada na moral, merecedora do
respeito do mundo inteiro. A propósito, existe o problema do rearmamento,
que está em ativa discussão. As teses favoráveis e contrárias acham-se em
confronto há algum tempo e não se obtém nenhuma solução. Entretanto, acho
que não é um problema tão difícil assim. Encarando-o como um problema real,
logo compreenderemos a solução adequada, ou seja, abandonar o
rearmamento se houver garantia de que não há absolutamente nenhum país
que possa invadir o Japão; caso contrário, fazer uma defesa de acordo com a
capacidade do país.
3 de dezembro de 1952
347
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

O JAPÃO É UM PAÍS CIVILIZADO OU SELVAGEM?


Lendo o título acima, talvez duvidem da minha sanidade mental, pois,
embora tenha perdido a Segunda Grande Guerra, incontestavelmente o Japão
está situado entre os países ditos civilizados. Quando se fala em país
selvagem, pensa-se logo nos países da África e em alguns outros, mas,
refletindo bem, eles não devem ser considerados pura e simplesmente
selvagens: seria mais correto dizer que são selvagens-subdesenvolvidos.
O Japão certamente não é subdesenvolvido, mas o fato é que ele
continua selvagem como antes. O que me faz pensar assim é a observação da
conjuntura atual. Vejo serem praticados inúmeros atos de selvageria, como
violências de grupo, ameaças, brigas, roubos de armas, pessoas ferindo e
sendo feridas, e muitos outros atos que assustam o povo e intranqüilizam toda
a sociedade. Esta vive num estado de extrema aflição. Até os estudantes das
escolas superiores, que deverão ser os futuros líderes da cultura, participam
dessa agitação. É de fato desolador. Entre outras coisas, a título de roubar
pequenas quantias, sufocam-se ou espancam-se motoristas de táxi até que
eles desfaleçam, e matam-se pessoas por motivos insignificantes. Vemos,
ainda, assassinatos e mutilações entre pais e filhos, ou entre irmãos. A
sociedade é realmente selvagem, e não há um só dia em que não apareçam
nos jornais manchetes sobre assaltos, estupros, batidas de carteira, incêndios
provocados, brigas, assassinatos, etc. Se quiséssemos enumerar todos os atos
selvagens, não chegaríamos ao fim; somos, portanto, levados a duvidar de
que este mundo seja civilizado. Talvez fosse adequado dizer que ele é uma
sociedade mais próxima à dos animais. Em vista disso, o homem
contemporâneo parece ainda ignorar o que é civilização.
A civilização atual, com o desenvolvimento das máquinas, tornou-se
muito prática, e a organização e estruturação social foram hábil e
cientificamente formadas, de modo que, à primeira vista, tem-se impressão de
um progresso espantoso. Diante dessa realidade, a maioria exulta de
contentamento, achando que civilização é isso. Entretanto, ao nosso ver, não
passa de uma civilização superficial; por trás dela, somos forçados a pensar
que ainda resta muito de selvageria. Para melhor compreensão, farei um
retrospecto histórico.
Em prosseguimento às eras primitiva e selvagem-subdesenvolvida,
surgiu a civilização decorrente do progresso da Religião e da Educação.
Paralelamente, deveria ter diminuído a selvageria, porém o que se vê na
realidade é até o contrário. Pode parecer paradoxal, mas é mais apropriado
dizer que estamos numa era semicivilizada. A era da verdadeira civilização só
se efetivará no mundo que vai ser construído daqui para frente. Será o mundo
de paz e felicidade tão esperado pelos homens. Para nossa grande alegria,
esta época está diante dos nossos olhos. A Igreja Messiânica Mundial surgiu
para promover a concretização desse mundo. Todos poderão entender isso
observando as atividades que ela vem realizando; a primeira consiste em
apontar os muitos erros subjacentes na civilização atual e pregar o que é a
verdadeira civilização.
Para que as pessoas acreditem nas minhas palavras, Deus está me
permitindo realizar inúmeros milagres, através dos quais fica patenteada a
Sua existência. Sendo assim, a nossa Igreja não é uma religião comum, que se
possa aquilatar pelos critérios tradicionais. Podemos compreender que ela é a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

criadora de uma civilização inteiramente nova e, também, a encarregada de


concretizar o majestoso plano arquitetado por Deus para esta época de
grande transição na história do mundo.
4 de junho de 1952
O CARÁTER DEPENDENTE DOS JAPONESES
Nos japoneses da atualidade, nota-se uma característica muito forte: sua
dependência. Em maior escala, a nível de governo, comércio e outros setores,
eles estão na dependência dos demais países. Também existe subsídio do
governo para diversos artigos de consumo e ajuda financeira do Banco do
Japão. Médios e pequenos empresários afirmam que irão à falência se não
obtiverem empréstimos bancários; algumas pessoas dizem não lhes ser
possível viver sem pedir dinheiro emprestado a parentes e conhecidos;
crianças não conseguem estudar se não tiverem ajuda dos pais. Além disso,
existem os desempregados, viúvas, etc., que vivem na dependência da ajuda
do governo, dos serviços sociais e da assistência de instituições. Onde quer
que se observe, parece que nada é possível sem a ajuda de terceiros;
conseqüentemente, não podemos deixar de ficar espantados com o caráter
dependente dos japoneses.
Somos forçados a admitir que a causa fundamental dessa dependência é
o fato de o Japão ainda não se ter libertado dos fortes laços do feudalismo.
Naquela época, a classe predominante eram os samurais e os funcionários do
governo; o restante era a classe dos cidadãos em geral. Os mais graduados
viviam da pensão a eles concedida pelos senhores feudais; os menos
graduados - excetuando os patronais - embora recebessem uma pequena
quantia, tinham sua vida garantida durante muitos anos. Caso, por exemplo, o
empregado de uma loja iniciasse uma atividade autônoma, era costume o
patrão permitir que ele usasse o nome da sua loja e até recomendar a uma
parte da freguesia que comprasse na loja do ex-empregado. Os operários não
tinham direito de sociedade de classe, como hoje, e por isso viviam à custa
dos senhores feudais ou da ajuda dos patrões mais ricos. Entre a maioria das
pessoas, portanto, não havia independência nem igualdade. Elas dependiam
da ajuda dos mais poderosos e, logicamente, não eram donas da sua própria
vida. Uma vez que esta situação se prolongou por vários séculos, é
perfeitamente justificável a dificuldade do povo em se libertar desse
sentimento de dependência.
No que se refere às mulheres, nenhuma trabalhava fora como agora,
mesmo que atingisse certa idade, de modo que elas não tinham outra
alternativa senão depender dos pais, e, uma vez casadas, deviam prestar
fidelidade absoluta à família do marido até a morte. Além disso, desobedecer
ao marido ou à sogra era tido como trair os deveres de esposa, o que tornava
a situação muito mais difícil. As mulheres estavam, pois, numa situação
semelhante à de uma planta parasita, que não consegue sobreviver senão se
agarrar a algo bem forte.
Nos Estados Unidos, a situação é muito diferente. Entende-se isto
analisando a história de sua formação. No começo do século XVII, centenas de
puritanos da Inglaterra emigraram para a América sem levar quase nada.
Desbravaram as montanhas e os campos desabitados e, com sacrifício e
esforço, conseguiram construir, em pouco mais de duzentos anos, a nação
civilizada que vemos atualmente. Por isso, é natural que haja uma diferença
349
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

tão grande entre o pensamento dos americanos e o pensamento dos


japoneses. Os americanos não tinham em quem se apoiar, mesmo que
quisessem; não havia quem os ajudasse, além deles próprios. Por maiores que
fossem as dificuldades, só dependiam de si mesmos. O único recurso era
produzir algo a partir do nada, com a própria força. É por esse motivo que
sinto realmente uma grande admiração pelos americanos.
Se o povo japonês, pelas críticas que tem sofrido, pretende reconstruir
este país, precisa, antes de tudo, seguir o espírito desbravador do povo
americano. Estou certo de que a introdução desse pensamento é muito mais
eficaz que a introdução de capital. É o método fundamental, pois está baseado
na Verdade de que o espírito domina a matéria. Entretanto, podemos dizer
que, entre os intelectuais do Japão, quase ninguém percebe isso. Mesmo nos
órgãos de comunicação, o que se faz é incentivar o espírito de dependência.
Talvez eu esteja exagerando, mas essa característica é própria dos pedintes
acovardados, que compram a compaixão das pessoas. Além disso, quando
alguém não atende suas exigências conforme eles desejam, os japoneses
reclamam, queixam-se, revoltam-se e, por fim, com a ajuda de terceiros,
tentam até derrubar esse alguém. Parecem não perceber que, em
conseqüência disso, também estão derrubando a si próprios. Com efeito, não
há tolice igual. Pode-se até dizer que, com essa atitude, não só se torna difícil
reconstruir o Japão, mas até mesmo manter a situação atual.
Quase sempre fazem-se greves como único meio de resolver os
problemas existentes entre empregados e empregadores. Talvez seja algo
inevitável, mas, pensando bem, o que pode acontecer é o seguinte: quanto
mais se faz greve, mais a empresa regride, e o resultado é a diminuição da
receita e, logicamente, do salário dos empregados. É o mesmo que a pessoa
apertar o seu próprio pescoço. Obviamente, tanto os empregadores como os
empregados têm por objetivo a felicidade. Se é assim, não tem fundamento
que um lado esteja feliz e o outro infeliz. Uma vez que há uma relação de
reciprocidade entre ambos, se os empregados não fizerem os empregadores
lucrar, não receberão salários maiores. Não há coisa tão simples quanto essa.
Conseqüentemente, os capitalistas estão errados em desejar lucros além do
normal, e os trabalhadores também estão errados em pensar apenas em seus
próprios benefícios. Além disso, quando se analisa imparcialmente o mundo
empresarial da atualidade, vê-se que, na época anterior à guerra, os lucros
dos capitalistas eram exagerados e a economia nacional também tinha uma
disponibilidade incomparável em relação à época contemporânea. Mas qual é
a situação atual? Poderíamos afirmar que quase já não existem verdadeiros
empresários e capitalistas. Grandes grupos econômicos foram dissolvidos e a
maioria dos milionários foi à falência. Como desapareceram os capitalistas e
também os grandes proprietários de terras, que eram os inimigos dos
comunistas, é difícil, para estes, continuar arquitetando suas lutas.
Quando se leva em conta essa situação, apesar de os grandes
capitalistas serem um tanto indesejáveis na conjuntura atual, chega-se à
conclusão de que, se não surgir um grande número de médios capitalistas,
será quase impossível pensar-se no êxito dos empreendimentos. Esta é a
necessidade imediata para os dias atuais. Talvez seja por esse motivo que, no
ano passado, os Estados Unidos incentivaram o Japão a adotar a política de
capitalização dos recursos. E isto se torna ainda mais evidente quando
350
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

verificamos que, mesmo na União Soviética, devido ao exagerado empenho


inicial para derrubar os capitalistas, os empreendimentos sofreram percalços e
Stalin utilizou-se da política da abertura de meios para a formação de médios
capitalistas.
Por esses exemplos, vemos que, no momento, é preciso haver um sólido
aperto de mão entre os trabalhadores e os capitalistas japoneses, e não
simples acordos. Somente assim poderemos aspirar ao aumento da felicidade
e do bem-estar dos trabalhadores. Entretanto, é um terrível engano pensar
que nada pode ser resolvido a não ser através de lutas. Caso isto não seja
percebido, fatalmente haverá a auto-extinção não só dos empregados como
dos empregadores.
Raciocinando dessa forma, fica bem claro que o método de fazer greves
para resolver os problemas entre empregados e capitalistas não passa de
simples manifestação do espírito de dependência, pois, se os empregados
pedem aumento de salário aos capitalistas é porque dependem deles. Se
trabalhassem dando o máximo de seu espírito de independência, os resultados
do seu trabalho seriam muito melhores e certamente os capitalistas é que
ficariam na sua dependência. Por conseguinte, primeiro os empregados devem
fazer com que os capitalistas lucrem e, depois, exigir a justa distribuição dos
lucros. Como isso é o certo e o justo, logicamente os capitalistas não poderiam
recusar-se a atender às suas reivindicações. Seguindo-se essa diretriz, a
solução dos problemas entre trabalhadores e capitalistas não seria tão difícil.
Atualmente, porém, tenta-se apenas obter a elevação dos salários, sem levar
em conta as dificuldades; portanto, só podemos julgar que está se tentando
forçar a situação.
Sintetizando, nesta oportunidade eu gostaria de alertar que, para
resolver esse problema, não há meio mais eficiente do que eliminar de vez o
espírito de dependência que caracteriza o povo japonês.
25 de março de 1950
OS JAPONESES NÃO TÊM AMBIÇÃO
Sem dúvida, os leitores ficarão espantados se eu disser que não existe
um povo tão desprovido de ambição como os japoneses. Entretanto, não
posso deixar de dizê-lo, pois é a pura verdade. Acontece simplesmente que a
maioria das pessoas não percebe isso.
Dando exemplos concretos, os japoneses da atualidade quase não se
interessam em ganhar a confiança do próximo. Falam, sem a menor
perturbação, mentiras que inevitavelmente serão descobertas, ou que estão
mais do que evidentes. E o pior: mentiras que serão descobertas assim que
eles virarem as costas. Mais do que tudo, existem muitas pessoas que não
cumprem os horários combinados. Isso também constitui uma mentira, mas,
achando que é algo muito natural, qualquer pessoa faz dessa prática uma
rotina. Quando se vai fazer uma compra, o vendedor e o comprador mentem
um para o outro. Como o vendedor não lucra se for muito honesto, talvez, até
certo ponto, a mentira seja inevitável, mas em geral elas são exageradas. Em
primeiro lugar, o tempo que os dois perdem nas negociações e complicações
burocráticas é insuportável; além do mais, um perde a confiança no outro.
Como o comprador pede desconto, o vendedor aumenta o preço, e vice-versa.
Tratando-se de negócios de maior vulto, é preciso fazer-se ofertas e contra-
ofertas, durante meio dia ou um dia inteiro, havendo até os que demoram dias
351
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

ou meses. Assim, é um grande desperdício de tempo e dinheiro para ambos os


lados.
Dar exemplo de si próprio é meio constrangedor, mas, quando vou fazer
compras, sou do tipo que quase nunca pede desconto. Só quando os artigos
são espantosamente caros ou quando percebo que vou ser enganado é que
me vejo forçado a regatear, porém é muito raro. Ajo assim porque, se eu
pechinchar, não há dúvida de que o vendedor aumentará o preço na próxima
ocasião; aí eu vou pechinchar outra vez, e assim por diante. Isso dá muito
trabalho e só causa experiências desagradáveis.
Os exemplos acima relacionam-se a compra e venda, mas o mesmo
parece ocorrer com os funcionários de órgãos públicos e empresas privadas.
Querendo subir rápido na vida, eles gostam de mostrar suas realizações, de
contar seus feitos para todos e de se apresentar como benfeitores. Acham-se
espertos por agirem dessa maneira, mas, como seus chefes têm percepção
mais aguda, acabam descobrindo a verdade e pensando: "Este indivíduo
mostra-se bom diante dos superiores, mas não deve ser leal de coração".
Assim, tais pessoas não se tornam dignas de confiança. Os empresários, por
sua vez, gostam de mostrar que têm dinheiro, quando na realidade não o têm;
querem mostrar que têm apoios poderosos atrás de si e anunciar que seus
empreendimentos são muitíssimo vantajosos. Entretanto, ainda que eles
triunfem momentaneamente, estas artimanhas nunca dão bons resultados.
O que acabamos de dizer também se aplica, freqüentemente, à
propaganda feita pelos padrinhos de casamento. Quando alguém apresenta o
proponente de casamento e o elogia além do que ele merece, mesmo que o
casamento fique acertado, será um desastre, antes ou depois de realizado.
Além disso, os noivos e seus familiares serão prejudicados, e o padrinho ou a
pessoa que serviu de intermediário, daí por diante não será merecedor de
confiança. Muitas vezes, também, acontece de ser feita uma intensa
propaganda de remédios e cosméticos que, por um momento, são muito bem
vendidos, mas que acabam não tendo mais saída, por seus efeitos não
corresponderem à propaganda.
Os exemplos são tão numerosos que parecem não ter fim. Resumindo,
em todos os nossos empreendimentos a confiança deve estar em primeiro
plano. Se perdermos a confiança dos outros, será o nosso fim. Ainda que
façamos tudo com perfeição, nada dará certo. Será o mesmo que tentar
encher uma peneira com água. Todavia, parece que pouquíssimas pessoas
percebem isso. Muitas, embora julguem ter feito algo com inteligência,
visando a grandes lucros, acabam perdendo a confiança do próximo. Perdem
todo o seu trabalho, restando-lhes apenas o cansaço. Quem age dessa
maneira não possui ambição. Portanto, se agirmos honestamente, sem mentir,
nos tornaremos pessoas de quem todos dirão: "O que essa pessoa diz não tem
erro. Tratando-se dela, posso ter absoluta confiança". Assim, é lógico que
ganharemos dinheiro, subiremos na vida e seremos amados e respeitados
pelos outros. Esse tipo de pessoa é que tem verdadeira e profunda ambição.
Aliás, eu sempre costumo dizer que o homem deve ter grandes ambições, mas
a ambição de bens eternos, e não de bens momentâneos.
1º de novembro de 1950
NAÇÃO REGIDA PELO CAMINHO

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

O Japão, assim como todos os países que se dizem civilizados, é regido


por leis. Entretanto, a realidade nos mostra que essa não é a forma ideal para
se governar uma nação. Através da História, vê-se que é difícil exterminar os
crimes somente com o poder das leis. Como não se consegue eliminar todo o
mal do homem, os crimes são inevitáveis; conseqüentemente, só a Religião
poderá trazer a verdadeira solução para o problema. Contudo, casos que
exigem soluções imediatas não poderão ser resolvidos apenas por meio dela.
Por esse motivo, em primeiro lugar é preciso ensinar ao homem o Caminho.
Refiro-me ao Caminho Perfeito e à lógica.
Embora o assunto se assemelhe à antiga moral oriental, o que agora
desejo anunciar é uma moral nova e progressista. Sou levado a isso pela
evidente decadência moral da sociedade contemporânea, onde saltam aos
nossos olhos a corrupção dos jovens, o aumento do índice de criminalidade e
outros fatos. Até mesmo os intelectuais já estão percebendo a situação, tanto
assim que aconselham a volta ao ensino da Moral nas escolas e a elaboração
de algo que preencha as falhas da Educação. O assunto tem servido de tema
para várias discussões, e é muito animador constatar a existência de uma
preocupação nesse sentido.
Após a Segunda Guerra Mundial, os japoneses ficaram sem qualquer
apoio, não tendo a que recorrer. O resultado é que aumentou o número de
criaturas desorientadas. Até o fim da guerra, em todas as escolas do país, o
ensino tinha por base a Moral, as sábias palavras do Imperador e também a
lealdade e o amor aos pais, profundamente enraizados no coração do povo
japonês desde épocas antigas. É inegável, portanto, que a sociedade daquela
época era muito mais honesta e sincera que a da época atual. Mas nem por
isso devemos revitalizar essa velha moral; torna-se imprescindível criar uma
ordem moral para a Nova Era. Após a guerra, estabeleceu-se a democracia no
Japão, e assim nos libertamos do despotismo. Isso foi muito bom; pena é que
se tenha ido além dos limites e chegado à situação presente, ou seja, a uma
sociedade predisposta à anarquia. Sendo assim, urge formar uma nova idéia
moral que esteja em conformidade com a época, eliminando o que há de mau
e aproveitando o que há de bom no antigo e no novo pensamento. É
necessário construir um novo espírito japonês, semelhante ao do
cavalheirismo inglês, por exemplo. Para tanto, como expus acima, a base é o
Caminho, cuja noção deve ser intensamente apregoada, não só no ensino
como na sociedade. Se conseguirmos, com isso, diminuir uma parte que seja
do mal social, ficaremos muito satisfeitos.
Dando uma explicação mais compreensível sobre Caminho, isto é, o
Caminho Perfeito, devo dizer que se trata de algo aplicável a todas as coisas;
ou melhor, ele é a bússola orientadora da conduta humana. Seguindo o
Caminho, o homem não terá insucessos nem desgraças, tudo lhe correrá bem.
Gozará de maior confiança, será respeitado e amado pelo próximo e,
logicamente, ficará em situação de harmonia e de paz. Na medida em que
aumentar o número de indivíduos e de lares com tais características, o mal
social irá diminuindo cada vez mais, graças à influência exercida por eles.
Por esse motivo, se continuarmos apoiando-nos apenas nas leis, como
fazemos atualmente, crescerá o número de indivíduos espertos e malvados, os
quais pensam que lhes basta agir de modo a não caírem nas mãos da Justiça.
Em outras palavras, Deus, como sempre digo, é o Caminho Perfeito; adorar a
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

Deus significa seguir o Caminho. Portanto, o homem que se submete ao


Caminho Perfeito e por ele é regido, é um verdadeiro homem civilizado.
Este artigo, eu ofereço aos intelectuais do mundo inteiro.
7 de fevereiro de 1951
OBEDIÊNCIA AO CAMINHO PERFEITO
A essência da fé, em última análise, é a obediência ao "Dori" (Caminho
Perfeito). O termo "Dori" é constituído de "do" e "ri": "do" é o mesmo que
"miti", ou seja, caminho; "ri" significa lógica.
Não existe palavra tão significativa quanto "miti". Pela ciência do espírito
das palavras "mi" é água, matéria, e "ti" é sangue, espírito; "mi" também
significa negativo, e "ti", positivo. Na representação gráfica da palavra "miti"
entra a letra que, isoladamente, representa a palavra "kubi" (pescoço), e o
sinal chamado "shinnyu", que indica ligação. O pescoço é a parte mais
importante do corpo; podemos viver mesmo que nos cortem os braços ou as
pernas, mas, se nos cortarem o pescoço, morreremos. É muito expressivo
aquilo que se costuma dizer quando uma pessoa é despedida do emprego:
"Cortaram-lhe o pescoço". O acréscimo do referido sinal a uma letra tão
importante, torna extremamente significativa a palavra "miti".
Caminho é também o meio pelo qual todas as coisas se ligam. Os meios
de transporte, as ondas elétricas, os raios luminosos, o deslocamento das
pessoas de um lugar para outro, tudo depende do caminho. Até o Sol, a Lua e
as estrelas possuem uma órbita definida, isto é, um caminho. Sendo assim, o
caminho é a base de todas as coisas e, conseqüentemente, podemos concluir
como é errado desviar-nos dele.
A seguir explicarei o sentido espiritual da palavra "ri". Ela faz parte da
seqüência de "ra" (a seqüência é ra-ri-ru-re-ro), que significa espiral e cuja
expressão concreta toma a forma de redemoinho. Este possui um centro,
dependendo do qual se produzem movimentos de expansão ou de contração.
Se o movimento for da esquerda para a direita, torna-se centrípedo; se for da
direita para a esquerda, torna-se centrífugo. Exemplifiquemos:
O centro de nossa Igreja é Gora, na cidade de Hakone. "Go" significa
cinco, e também fogo; "ra" é redemoinho. Isso quer dizer que o espírito do
fogo se expande em movimentos centrífugos. O desenho chamado "tomoê"
(###Esse desenho existe desde a época antiga e aparece em alguns brasões,
sendo muito utilizado entre os budistas. Figuras de 1 (***tomoe1.tif***) 2
(***tomoe2.tif***) e 3 (***tomoe3.tif***) "tomoê" mais usadas. De acordo com
a direção, tornam-se centrípetas ou centrífugas###) encerra um significado
que é realmente um profundo mistério: todo movimento para a esquerda
transforma-se em movimento para a direita.
O sentido espiritual das sílabas da seqüência ra-ri-rure-ro caracteriza a
atividade do dragão ("ryu-jin"). O termo "ryujin", é constituído de "ryu" e "jin";
"ryu", por sua vez, é constituído de "ri" e "u". Quando o dragão está imóvel,
toma a forma de redemoinho. O engraçado é que a maioria das pessoas cujo
nome tem uma das sílabas ra-ri-ru-re-ro, apresentam características de
dragão. Observando-as, poderemos constatar isso.
Se eu continuar explicando essas coisas, não acabarei nunca, por isso
vou me deter na palavra "ri". Ela é formada pela junção de duas letras que,
sozinhas, representam palavras cujo sentido é, respectivamente, rei
(***ou.tif***) e povoado (***sato.tif***). A primeira compõe-se de três linhas
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

horizontais paralelas, sendo que da linha superior, a qual representa o Céu e o


Fogo, parte uma linha vertical; esta atravessa a linha mediana, que representa
o Interregno e a Água, e termina na linha inferior, que representa a Terra e o
Solo. A letra com que representamos a palavra que significa povoado
(***sato.tif***) é constituída, por sua vez, de duas outras que, isoladas,
representam palavras que significam, respectivamente, arrozal em campo
alagado (***ta.tif***) e solo (***tsuti.tif***). A primeira, originariamente, era
uma cruz dentro de um círculo; a segunda é expressa da mesma forma que o
número 11 em algarismos japoneses, ou seja, uma cruz sobre uma linha. O
número 11 também tem o sentido de unificação; portanto, "ri" é a ação básica
de todas as coisas e tem o sentido de PERFEIÇÃO. O nome da Igreja Tenrikyo,
onde também entra essa palavra, é um nome muito bom.
"Riho" (lei) é uma palavra bastante usada e, a propósito, vou explicar o
sentido espiritual de "ho". "Ho" é fogo, e "o" é água. De acordo, porém, com a
ciência do espírito das palavras, "o" está incluído em "ho"; isto quer dizer que
o fogo arde continuamente por ação da água. Graficamente, "ho" compõe-se
de duas palavras cujo sentido é: anular a ação da água. Como esta corre
horizontalmente, há o perigo de gerar desordem; portanto, anulada sua ação,
fica apenas o vertical, o que significa a imobilidade absoluta. Daí se conclui
que não podemos infringir o "ho", que é a Lei.
Se juntarmos tudo isso, entenderemos o profundo significado do "Dori".
Em resumo, podemos dizer que "Dori" (Caminho Perfeito) é Deus. Obedecer a
ele é obedecer a Deus. O homem, em quaisquer circunstâncias, deve sempre
respeitá-lo, obedecer-lhe e jamais desviar-se dele.
20 de novembro de 1950

PRECISAMOS SER UNIVERSAIS


Doravante, as pessoas precisam ser universais. A propósito disso, existe
uma história interessante.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, um ex-militar veio a mim muito
nervoso e, com expressão de ressentimento, falou: "Não entendo de modo
algum o motivo da rendição dos japoneses. É realmente algo inadmissível".
Impressionado por eu não ter dado importância às suas palavras, perguntou:
"O senhor é japonês?" Respondi: "Não". Ele ficou muito espantado e, trêmulo,
insistiu: "Qual é a sua nacionalidade?" Eu disse: "Sou universal". Ouvindo isso,
o ex-militar ficou confuso e pediu que eu me explicasse melhor. O que vou
escrever a seguir tem por base a explicação dada naquela oportunidade.
É errado distinguir um ser do outro identificando-os como japonês,
chinês ou de outra nacionalidade qualquer. Os japoneses daquela época agiam
assim. Tendo vencido as guerras contra a China e a Rússia, começaram a se
orgulhar, por se verem incluídos entre os países de primeiro plano. Não só
julgaram, como também fizeram os outros julgar que o Japão era um País
Divino, todo especial. Tais pensamentos acabaram por gerar a Segunda Guerra
Mundial. Por idênticos motivos, passaram a desprezar os outros povos, como
se estes fossem meros animais, pondo-se a matar pessoas com a maior
naturalidade e a invadir as outras nações como bem entendiam. No final,
entretanto, acabaram recebendo uma lição, sendo derrotados.
A verdade é que enquanto cada povo tiver o pensamento de que, se o
seu próprio país estiver bem, não interessa como estejam os demais, será
355
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

impossível conseguir-se a paz mundial. Poderemos entender isso melhor


imaginando, por exemplo, um conflito entre dois estados do Japão. Como o
problema ocorre dentro de um mesmo país, tratando-se, portanto, de conflito
entre irmãos, é lógico que será fácil resolvê-lo. Logo, basta aplicarmos esse
conceito em amplitude mundial. É como diz o famoso poema do Imperador
Meiji: "Na era em que consideramos todos os povos irmãos - inclusive os de
além-mar - por que as ondas e os ventos se enfurecem?" É exatamente isso.
Se todos pensassem assim, se a humanidade tivesse esse sentimento amplo,
amanhã mesmo estaria concretizada a paz no mundo. Todos os países
formariam uma só família, não havendo motivo para guerras.
Pensamentos egocêntricos que levam as pessoas a formar grupos que,
dizendo-se defensores de determinada ideologia ou pensamento, consideram
os demais como inimigos, não só geram erros para a Nação, como também
constituem um obstáculo para a paz mundial. Com base no que estou dizendo,
é preciso que pelo menos todos os japoneses, em comemoração à assinatura
do Tratado de Paz, tornem-se universais, libertando-se do pensamento limitado
que tiveram até agora e adquirindo um pensamento amplo, irrestrito.
Doravante, entre os pensamentos que dominam a humanidade, este deverá
estar à frente de todos, pois o mundo inteiro precisa de pessoas que pensem
assim.
O assunto muda um pouco, mas também no que se refere à Religião o
comportamento deve ser o mesmo. Já está fora de época criar alas dentro de
uma religião ou de uma seita. Modéstia à parte, a nossa Igreja não é assim. Ela
não nos proíbe contatar com as outras religiões. Ao contrário, esse contato é
até motivo de alegria para nós, visto que, pacifista, ela tem por objetivo
harmonizar toda a humanidade, fazendo dos seres humanos uma só família.
Sendo assim, consideramos todas as religiões como companheiras e queremos
dar-lhes as mãos, caminhando lado a lado com elas.
3 de outubro de 1951

RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E POLÍTICA

RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E POLÍTICA


Atualmente, a sociedade está repleta de males. Por toda parte ocorrem
fatos desagradáveis, uns após outros; a intranqüilidade das pessoas alcança o
auge. É urgente, portanto, meditar muito, para encontrar a causa dos males
sociais. De onde eles provêm? A quem responsabilizar?
Obviamente, a culpa não poderia deixar de ser da Religião, da Educação
e da Política. A chave para a solução do problema é saber em que ponto está
localizado o gravíssimo equívoco.
Em primeiro lugar tratarei da Religião.
Excetuando o cristianismo, as outras religiões tradicionais estão muito
atrasadas. Inclusive o budismo, que nasceu há mais de dois mil e seiscentos
anos, visando o povo hindu, já não condiz com a nossa época, por mais
importante que tenha sido Sakyamuni e por mais profundos que sejam os seus
ensinamentos. Naturalmente, a situação é ainda mais grave com a sociedade
japonesa atual. Os hindus daquela época faziam meditações diárias no interior
das matas e liam milhares de livros sagrados para encontrarem a Verdade.
Para os homens atuais, no entanto, que precisam trabalhar da manhã à noite a
356
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

fim de ganhar o pão de cada dia, isso é impraticável. É mesmo natural que,
apesar de todos os seus esforços para se manterem ativas, as religiões
tradicionais nada conseguiam fazer além de proteger os túmulos e lamentar a
situação em que se encontram. Se elas se valem da assistência social como
único meio para sobreviver, ninguém poderá negar que estão fora dos campos
da atuação religiosa.
Quanto à Educação, também está muito distante do verdadeiro caminho.
Seu real objetivo é formar homens íntegros, isto é, homens que façam da
justiça o seu código de Fé e se esforcem para aumentar o bem-estar social,
contribuindo para o progresso e a elevação da cultura. Na situação atual,
porém, até mesmo os que se formam nas melhores escolas superiores
praticam crimes e outras ações que prejudicam a sociedade. Urge fazer algo
para modificar essas condições.
O maior erro da Educação é ser totalmente materialista. Estamos
cansados de dizer que, se ela não evoluir juntamente com o espiritualismo,
não lhe será possível nem mesmo sonhar em atingir seu verdadeiro objetivo.
Entretanto, como esse erro vem de longa data, estamos conscientes de que
enfrentaremos muitas dificuldades se tentarmos eliminá-lo bruscamente.
O ideal espiritualista é fazer reconhecer a existência do espírito, o que
significa fazer reconhecer a existência de Deus. Sem isso, o espiritualismo não
teria fundamento. Naturalmente, a Religião encarregou-se disso até hoje, mas
não obteve resultado visível, porque não havia uma religião com força
suficiente para tanto. Nasceu, então, a nossa Igreja, dotada de força para fazer
com que todos reconheçam o espiritualismo e com que a Religião e a Ciência
caminhem lado a lado. Dessa forma, nascerá um mundo de eterna paz, onde
todos poderão viver uma vida celestial. Se o progresso da cultura, por maior
que ele seja, não promove, paralelamente, o aumento da felicidade, a culpa
cabe ao próprio homem, que ficou preso apenas à cultura material. A
humanidade precisa perceber isso o quanto antes.
No que concerne à Política, sua situação também é calamitosa. Tomarei
por base exclusivamente a política japonesa, que, mesmo sob domínio
estrangeiro, é assaz medíocre. Sendo ela materialista, seu conteúdo torna-se
mais medíocre ainda. Podemos afirmar que não existem muitos políticos de
visão ampla e que a maioria se resringe às tarefas do dia-a-dia. Isso acontece
porque seus espíritos estão maculados, de modo que, embora sejam políticos,
eles não conseguirão, de maneira alguma, manter um desempenho desejável
se não tiverem por base a Fé. Como as religiões tradicionais não têm força
suficiente para modificá-los, a única solução é o aparecimento de uma religião
nova e poderosa.
27 de agosto de 1949

RELIGIÃO E POLÍTICA
Apesar de haver uma estreita relação entre Religião e Política, é
estranho que isso não tenha despertado muito interesse. Na realidade, até o
término da Segunda Guerra Mundial, a Política, longe de apreciar a
participação da Religião, vivia oprimindo-a. Desde a antigüidade este
fenômeno se fez notar em vários lugares, registrando-se não poucos casos da
quase extinção de religiões devido à violência das perseguições. No entanto,
por mais que a Religião tente realizar o seu objetivo, que é a construção de
357
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

um Mundo Ideal, para incrementar a felicidade do homem, torna-se evidente


que ela jamais atingirá essa meta se a Política não for justa. Sendo assim, uma
Política escrupulosa requer políticos íntegros e, para preencherem essa
condição, eles devem ser dotados de religiosidade.
No Japão - desconheço a situação no estrangeiro - um erro no qual os
políticos têm inclinação para incorrer é a corrupção. Pode-se dizer que isso
acontece porque eles são escravos do materialismo, cuja origem está na falta
de religiosidade. É desejável o aparecimento de políticos dotados de espírito
religioso, pois só assim poderemos alimentar esperanças quanto ao futuro,
aguardando o bom desenrolar dos destinos da Nação. No que se refere à
construção de um novo Japão, é necessário, sobretudo, incutir espírito
religioso nos políticos, para que seja realizada uma Política arraigada no senso
religioso.
Atualmente o povo vive criticando, e com razão, a degeneração da
Política, as fraudes eleitorais, a prevaricação dos funcionários públicos, a
degradação dos educadores, etc. Os próprios políticos, os órgãos competentes
e o povo empenham-se com unhas e dentes na solução purificadora dos
problemas dessa lamacenta sociedade. Infelizmente, na prevenção do crime,
conta-se apenas com a força da Lei, mas esta não atinge o âmago da questão,
pois a causa dos crimes está no interior do homem, ou seja, na sua alma.
Purificar a alma é o método verdadeiramente eficaz. Estou convicto de que
isso só poderá ser conseguido através de uma Fé verdadeira.
25 de janeiro de 1949

AS LEIS E O CARÁTER SELVAGEM DO HOMEM


No mundo atual, quanto mais civilizado é um país, mais complexo é o
seu sistema legislativo. Como todos podem ver, os artigos das leis tendem a
aumentar a cada ano; pode-se até dizer que a época contemporânea é a
época da onipotência da legislação. Ora, a existência de muitas leis significa
que é difícil os oficiais de justiça e os advogados de uma repartição
memorizarem todas elas, mesmo utilizando a vida inteira. De fato, se eles não
conseguem dar conta daquilo que lhes diz respeito, os efeitos das leis
deveriam ser mais visíveis; entretanto, ao invés de diminuírem, os crimes
tendem a aumentar cada vez mais com o passar dos anos. Por que será? Não
é realmente incompreensível? É uma total contradição ao progresso da
cultura. Por isso, desejo analisar a causa do problema.
Seria desnecessário dizer que o principal objetivo das leis é diminuir a
criminalidade e construir um mundo sem crimes. Entretanto, o que se vê é
justamente o contrário, como dissemos há pouco. No Congresso Nacional
realizado anualmente, o assunto que mais se discute é o aumento dos artigos
das leis. No entanto, se a cultura progredisse do modo previsto, o número de
criminosos iria diminuindo cada vez mais e, com certeza, surgiriam artigos
desnecessários nas leis. Sendo assim, não deveria ser discutida também, no
Congresso Nacional, a eliminação de partes da lei? Mas o interessante é que,
embora isso não aconteça, ninguém estranha o fato, pois as pessoas
perderam as esperanças, achando que a situação não tem mais solução.
Compreendemos perfeitamente que é impossível eliminar os crimes
somente com as leis. Todavia, no momento, se elas não existissem, haveria
uma catástrofe: o mundo seria dominado pelos maus, e os bons não
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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

conseguiriam dormir tranqüilos. Por isso, as leis precisam continuar existindo,


mas seria bom unir a elas um meio eficaz. Em princípio, só podemos valer-nos
da Educação e da Religião, mas delas também não podemos esperar muito,
pois, durante dezenas de séculos, viemos nos utilizando desses recursos e o
mundo humano ainda se encontra na situação de que estamos vendo.
Já escrevi anteriormente que as leis têm quase o mesmo significado que
o aprisionamento de animais ferozes em jaulas. Se estas não existissem,
haveria perigo de que eles fizessem mal às pessoas e aos animais domésticos.
Assim, as leis não passam de um rígido controle feito com redes e grades
fortes. Como os homens tentam violá-las, se nelas houver brechas, elas vão se
tornando cada vez mais fechadas. Para impedir essa violação, a cada ano se
fazem leis mais complexas e policiamento mais rigoroso, o que, aliás, é uma
vergonha para o ser humano. Por esse motivo, se os homens de hoje estão
sendo tratados como se fossem animais, não é possível nos orgulharmos
muito de nossa condição humana. Caso refletíssemos bem sobre esses pontos,
despertaríamos o quanto antes. A antiga expressão "animal com aparência de
homem" se adapta perfeitamente aos homens da atualidade. Em suma, o
homem ainda não conseguiu se libertar do estado semicivilizado e semi-
selvagem.
Naturalmente, existem diversos níveis de pessoas, isto é, as que
merecem ser tratadas como gente e as que devem ser tratadas como animais.
Do mesmo modo que existem países belicosos, existem países pacifistas,
sendo que aqueles são selvagens, e estes, verdadeiramente civilizados.
A seguir falarei sobre a Educação. O tema já passou pelo crivo das
experiências realizadas até hoje; portanto, não há necessidade de escrever
muito a respeito.
Há muitos séculos, como todos sabem, inúmeros pedagogos vêm se
esforçando nesse campo. Podemos reconhecer-lhes certo mérito, mas sua
força não vai além disso. Não obstante, em relação à época selvagem, a
sabedoria humana se desenvolveu bastante, e tanto a política como as
organizações sociais e demais setores da sociedade conseguiram espantoso
progresso, de modo que não podemos desprezar a contribuição da Educação.
É inegável, entretanto, que faltou força na parte espiritual, ou seja, no aspecto
referente ao melhoramento do espírito, visto que até agora não foi possível
prescindir-se da jaula denominada lei.
Quanto à Religião, obviamente lhe reconhecemos certo mérito no
sentido da salvação espiritual. Mas ela também não conseguiu fazer com que
as leis se tornassem desnecessárias, apesar do aparecimento de inúmeros
santos maravilhosos e personalidades relevantes, e dos esforços e sofrimentos
de seus seguidores e até mesmo de fiéis, que chegavam a sacrificar sua vida.
Conseqüentemente, não podemos esperar muito das religiões tradicionais.
Então, surge o problema: que fazer para eliminar verdadeiramente o
caráter animal do homem e construir uma sociedade que não tenha
necessidade de jaulas? Evidentemente, é preciso que surja uma força até
agora nunca vista, que supere a cultura tradicional. Mas devemos nos alegrar,
pois essa força nos foi atribuída por Deus - Senhor do Universo - e de fato nós
a estamos manifestando. Como ela é a essência da nossa religião, podemos
dizer que esta é realmente uma Ultra-Religião. Na qualidade de precursores do
Mundo da Luz, que está para se concretizar, gostaria que considerassem
359
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

minhas palavras como o primeiro alarme para despertar a humanidade da


ilusão em que ela está vivendo.
22 de agosto de 1951

PODER REVOGANTE OU PODER CONSTITUINTE?


Estes termos referem-se ao Congresso Legislativo. De fato, a cada ano,
aprovam-se novas leis. Entretanto, isso não é motivo para orgulho, pois as leis
são instituídas porque o mal social aumenta. Caso aumentasse o número de
homens honestos, não haveria necessidade de leis; portanto, não seria
necessário instituí-las. O verdadeiro progresso da cultura só terá sido
alcançado quando a função do Congresso Legislativo consistir em revogar as
leis.
6 de agosto de 1949

A TOLICE DO CONTROLE DA NATALIDADE


Em três oportunidades escrevi a respeito do controle da natalidade, mas
volto a fazê-lo por ainda haver pontos em que não foi dito o suficiente.
Atualmente, o Japão está incentivando o controle da natalidade, devido
à insuficiência de alimentos em relação ao elevado número de seus
habitantes. Analisando bem, essa é realmente uma visão a curto prazo.
Suponhamos que uma criança nasça agora. Para ela se tornar adulta, são
necessários vinte anos; todavia, uma vez que estamos atravessando uma
situação tão instável, não podemos imaginar como será o mundo daqui a vinte
anos. Nem mesmo se pode ter idéia das grandes mudanças que poderiam
ocorrer num prazo de cinco anos. Por conseguinte, ainda que entre em vigor
neste momento o método para diminuir a população do país através do
controle da natalidade, é impossível saber se daqui a alguns anos ainda será
necessária essa preocupação. Isso não significa que devamos pensar em
expandir nosso território, cometendo os mesmos erros do passado; nem em
sonho deve-se pensar nisso. Mas quem pode dizer que não virá a época em
que o problema da população será resolvido pacificamente?
Vejamos. Caso fosse concretizada a Nação Mundial de que falam certos
intelectuais dos Estados Unidos, talvez fosse possível a política de
contrabalançar a população dos países, isto é, fazer com que parte da
população de um país superpovoado emigrasse para lugares onde a densidade
demográfica seja baixa. Acredito que haja muita possibilidade de se colocar
em prática essa política, pois o desequilíbrio populacional é um dos motivos de
intranqüilidade para um país. Sendo assim, os que são a favor do controle da
natalidade talvez precisem levar em conta esses pontos. Na minha opinião, a
Nação Mundial provavelmente se concretizará mais rápido do que se imagina.
Digo isso porque no dia em que, pacificamente ou por meio da guerra, for
resolvido o grande problema do mundo atual, isto é, a ameaça representada
pelas relações entre os Estados Unidos e a União Soviética, concretizar-se-á,
obviamente, a Era de Paz eterna, e então nascerá a Nação Mundial.
20 de agosto de 1949

NÃO MENOSPREZE OS CÁLCULOS


Na minha opinião, o que mais falta aos políticos japoneses são
conhecimentos sobre Economia. Em síntese, são os cálculos. Entretanto, isso
360
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

não acontece somente na política; em qualquer empreendimento é impossível


obter êxito quando se esquecem os cálculos. E estes não dizem respeito
apenas às coisas relacionadas a dinheiro. Seja qual for a circunstância, para
sabermos claramente as possibilidades de lucros e prejuízos, vantagens e
desvantagens, não podemos menosprezar os cálculos.
É óbvio que, segundo a teoria política da democracia, deve ser
respeitada a vontade da maioria da população, mas isso é conseguido através
do número de votos, e estes só podem ser obtidos através dos cálculos. Não
há qualquer probabilidade de sucesso ou progresso quando se negligencia
esse aspecto.
O melhor exemplo do que dizemos é a última grande guerra. Talvez haja
várias causas para a derrota do Japão, mas a principal foi o pouco caso que se
fez dos cálculos. Com base nestes, os japoneses não deveriam ter iniciado a
guerra, mas, uma vez iniciada, ainda que por um erro, deveriam ter-lhe
colocado um ponto final o mais rápido possível. Deixando-se escapar essa
oportunidade, à medida que a guerra prosseguia, mais desvantajosa ficava a
situação, o que se torna evidente, ao relembrarmos aquela época.
Não é apenas para o mundo atual que os cálculos têm importância; eles
sempre foram importantes. Um dos principais motivos pelos quais o senhor
feudal de nome Yoritomo (1147-1199) conseguiu dominar o Japão foi a grande
riqueza que ele acumulou utilizando um homem hábil em descobrir minas de
ouro, chamado Kanebori Kitiji. O mesmo aconteceu com Toyotomi Hideyoshi
(1536-1598), que se tornou poderosíssimo graças ao ouro obtido na mina de
Sado. Podemos ter idéia da quantidade de ouro e prata que ele armazenou
através de uma famosa história que contam a seu respeito. Quando Hideyoshi
construiu a mansão Jurakudai, convidou, para uma festa, todos os senhores
feudais daquela época, aos quais deu o seguinte presente: margeou com
pepitas de ouro e prata o caminho que eles teriam de percorrer, desde o
portão da casa até a entrada - um percurso nada pequeno - e deixou que eles
levassem as pepitas que pudessem. O mesmo ainda se poderia dizer de
Ieyassu Tokugawa (1542-1616), cuja dinastia conseguiu manter-se no poder
durante trezentos longos anos graças ao ouro da mina de Sado. Segundo uma
famosa história, com intenção de procurar ouro por todo o país, ele se valeu
do célebre descobridor de minas Okubo Iganokami, o qual descobriu a mina de
ouro de Izu Oohito.
Com o passar do tempo, entretanto, o ouro da mina de Sado foi
escasseando. No fim da época feudal no Japão, tendo diminuído grandemente
a exploração dessa mina, surgiu a ameaça de falência econômica;
conseqüentemente, os soldos pagos até então aos vassalos tornaram-se
inconstantes, o que os levou a passar dificuldades financeiras. É indiscutível
que essa foi a causa da queda do regime feudal.
Como sou religioso, qualquer pessoa poderia pensar que não me
interesso por Economia. Mas isso não corresponde à realidade. Talvez pelo fato
de já ter sido empresário, estou seguro de que ninguém poderia me passar
para trás em matéria de cálculos. Para falar a verdade, comendo e vestindo-
me humildemente, e morando num barraco, como os religiosos antigos, não
me seria possível salvar o homem contemporâneo. Os tempos são outros, e os
terrenos e as construções devem estar de acordo com eles. Até para construir
o modelo do Paraíso Terrestre é preciso uma enorme soma de dinheiro. Por
361
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

isso, é óbvio que os recursos financeiros constituem uma das bases para a
expansão de nossa Igreja. Nesse aspecto, a religião mais conhecida do mundo
religioso atual é a Igreja Tenri-Kyo. Seu ponto forte, todos o sabem, é a grande
importância que ela sempre deu à obtenção de capital desde os tempos
antigos.
Por essa variedade de exemplos, pode-se entender que, desde o
governo de uma nação até um empreendimento particular, nada vai bem se
desprezarmos os cálculos. A esse respeito, convém lembrar os Estados Unidos.
A maioria dos poderosos políticos americanos saiu do mundo empresarial. É
famoso, também, o caso do Presidente Trumann, que há vinte anos era
comerciante de miudezas. Fala-se, ainda, que muitos militares poderosos
foram empresários. Por isso, a principal razão de os Estados Unidos ocuparem
a posição que hoje ocupam é que a maior parte de seus governantes foram
empresários hábeis nos cálculos.
Em contrapartida, observando os dirigentes do Japão, vemos que quase
todos se tornaram funcionários do governo logo depois que saíram das
universidades, só tendo conseguido posição após longo tempo no cargo. Por
isso, além de não saberem nada sobre a sociedade, não têm o menor
interesse pelos cálculos. Assemelham-se a filhinhos de papai, ou a
principezinhos. A melhor prova são os empreendimentos governamentais. A
Ferrovia Nacional, por exemplo. Enquanto as companhias ferroviárias
particulares continuam distribuindo dividendos anualmente, embora irrisórios,
a Ferrovia Nacional tem um déficit de vários milhões de ienes. O mesmo
acontece com a venda de cigarros: eles são vendidos a um preço exorbitante,
apesar de sua má qualidade. Realmente, os governantes não passam daquilo
que o povo costuma chamar de "negociantes amadores". Por conseguinte,
seria desejável que, doravante, surgissem muitos políticos que atuem ou
tenham atuado na área empresarial. Esclareço que esta é a condição
fundamental para a reconstrução do nosso país.
10 de setembro de 1949

A INSTRUÇÃO PREMATURA É PREJUDICIAL


Talvez achem paradoxal eu falar que o homem da atualidade
desenvolveu sua inteligência, mas prejudicou sua capacidade intelectual. O
que eu quero dizer, no entanto, é que aumentaram as pessoas de inteligência
limitada, superficial, ágil, e diminuíram as pessoas gabaritadas, dotadas de
inteligência profunda.
Mas por que será que isso acontece? Segundo minhas observações, é
uma conseqüência da instrução efetuada antes do tempo apropriado. A
instrução prematura é maléfica porque se incutem conhecimentos sem que a
mente esteja suficientemente desenvolvida, isto é, há um desequilíbrio entre
as noções transmitidas e o desenvolvimento psicofísico. Em verdade, o
homem tem que utilizar o corpo e a mente de acordo com sua idade. Dar a
uma criança de sete ou oito anos um trabalho mental apropriado a um jovem
de quinze ou dezesseis é uma tarefa excessivamente pesada. Qual será o
resultado disso? Vou mostrá-lo através de um exemplo.
Quando eu estava no curso primário (entre sete e onze anos), quis
aprender judô, mas disseram-me que antes dos quinze eu não poderia fazê-lo.
Como eu perguntasse o motivo, responderam-me que, se a pessoa praticar
362
Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

judô ou qualquer outro esporte inadequadamente, poderá prejudicar seu


crescimento e desenvolvimento. Naturalmente eles param por causa do
excesso de esforço físico. Da mesma forma, no ensino atual, acha-se que é
bom uma criança de doze ou treze anos fazer o que um adulto faz. Realmente,
durante algum tempo, a capacidade intelectiva se desenvolve com grande
rapidez, e por isso a instrução pode parecer boa, mas não há um
desenvolvimento em profundidade, formando-se adultos com capacidade
intelectiva inadequada e sem uma lógica profunda.
Na realidade, no Japão também está diminuindo cada vez mais o número
de "grandes" políticos. Portanto, os que estão ligados à Educação (Educação: É
um processo de desenvolvimento integral da personalidade), (Instrução: É um
processo através do qual se eleva o desenvolvimento do conhecimento)
devem pensar bastante sobre esse problema.
2 de julho de 1949

POR QUE SURGEM CRIANÇAS-PRODÍGIO


Há algum tempo, apareceu nos jornais a notícia de uma criança de seis
anos que pintava quadros magníficos. Vou explicar por que nascem crianças
assim.
Desde os tempos antigos, de vez em quando têm surgido crianças-
prodígio. No Ocidente, segundo ouvimos dizer, existiram grandes músicos que,
aos seis ou sete anos de idade, já tocavam muito bem piano ou violino, e, com
pouco mais de dez anos, compunham esplêndidas melodias. Conta-se que o
famoso Schubert, dos dez anos aproximadamente até sua morte, ocorrida
quando ele estava com trinta e um anos, fez mais de quinhentas composições.
Por isso, não há dúvidas de que tenha sido um gênio.
Mas há uma causa especial para o nascimento desses gênios.
Naturalmente, através da ciência materialista é impossível imaginá-la, mas
precisamos conhecê-la. Nós explicamos o fato pela ciência espiritual. No caso
de um músico, por exemplo, as causas podem ser duas. Uma é a reencarnação
do espírito de um grande músico; a outra, fenômeno de encosto.
Suponhamos que um grande músico morra. Mesmo no Mundo Espiritual
ele não consegue esquecer sua tão adorada arte. Assim, em virtude desse
forte apego, ele pode reencarnar prematuramente. Esta é uma das causas.
Pode acontecer também que, não conseguindo esperar até a reencarnação,
ele procure um descendente seu, de preferência uma criança, e nela encoste.
Espera para encostar quando seus dedos começarem a ficar ágeis, por volta
dos seis ou sete anos. Como é um grande músico, manifesta uma enorme
capacidade. Entretanto, ele não consegue encostar em pessoas com as quais
não tenha nenhuma ligação, mas apenas, em pessoas de sua linhagem
espiritual, principalmente em crianças. Isto porque é mais fácil encostar em
crianças do que em adultos; é também mais fácil manejá-las à sua vontade.
Pensem bem. Uma criança de seis ou sete anos não pode ter a capacidade de
um adulto. Conhecendo, porém, essas causas, não é nada estranho o
aparecimento de crianças-prodígio. Entretanto, nem todas elas se tornarão
grandes músicos, grandes pintores, etc. Algumas o serão até certa idade,
depois se tornarão pessoas normais. É o que acontece no caso de encosto de
espírito, porque ele só tem permissão de encostar até certa época, devido à
missão dada por Deus ou ao desejo de seus ancestrais. Tratando-se de
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Ensinamentos de Meishu-Sama
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Agricultura Natural, Arte e Sociedade

reencarnação, o espírito é da própria pessoa, de modo que é impossível haver


mudança.
11 de março de 1950

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Ensinamentos de Meishu-Sama
Volume 5
Agricultura Natural, Arte e Sociedade

“Deus é Luz.
Onde há Luz, existe paz, felicidade e alegria.
Onde não há Luz e Claridade,
Existe conflito, pobreza e doença.
Vós que desejais Luz e Prosperidade,
Vinde!
Vinde e Louvai o nome de Deus;
Assim sereis salvos!”

Meishu-Sama

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