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Ensino fundamental II
I
Havia acabado de terminar o fundamental II, o tão temido nono
ano para as crianças dos sextos e sétimos anos na época, pois,
pensavam que seria uma série problemática de passar, o que é
mentira, é apenas um ano juntando os outros passados te preparando
para o ensino médio (o qual é o verdadeiro plot twist na vida de todo
adolescente).
Estavam todos escolhendo qual escola iriam estudar no ano
seguinte, porque isso de certa forma decidiria seu futuro. Haviam
quatro escolas a qual podíamos priorizar:
1. Carmela;
2. Massud;
3. Sproesser;
4. Etec.
A Etec é uma escola técnica, o qual pode fazer o ensino médio
enquanto faz um curso disponível. Caso não me engano, tinham
quatro cursos na época em que haviam aberto as vagas para ela, que
eram: administração, logística, desenvolvimento de sistemas e
informática. Era definitivamente uma oportunidade ótima para os
alunos que queriam adiantar as coisas no futuro, que não é meu caso.
Os professores conversaram conosco e disseram que teríamos
que fazer um passe escolar para utilizar o ônibus circular, pois, as
escolas ficavam no centro da cidade, um pouco longe da escola local.
Havia apenas um problema nisso tudo: quando se transferisse de
escola, o passe seria mudado para 50%. A Etec é uma escola técnica,
ou seja, só tem como entrar nela através de algo externo, não
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aceitava o que der na telha por não conseguir sentir algo, meus
sentimentos eram praticamente trancados.
Haviam decidido que eu iria para a Etec pela grande
oportunidade de ouro. Terminar o ensino médio e ainda ganhar um
diploma técnico de forma gratuita, que tipo de pai não acharia isso
incrível? Ainda mais para eles que tentaram me colocar na Oficina de
Campinas, uma escola particular difícil de entrar que só tem alunos
excelentes e com futuros prestigiados. Eu havia passado na prova da
Oficina, mas os custos de ensino eram insanos, então meus pais
deixaram isso de canto.
Não estava muito esperançoso sobre a Etec, mas, fui à ideia
dos meus pais, escolher o Carmela e em seguida me transferir à Etec.
Todos os meus amigos próximos fizeram a inscrição para a tal escola
técnica de Monte Mor, alguns sem esperança por causa de suas notas
no sétimo ano, já outros, com o ego a mil.
Os irmãos gêmeos: Vitória e Murilo, que eram meus amigos
desde o sexto ano, fizeram a inscrição só por influência de minha
mãe dizendo que iam passar de forma tranquila por serem bons
alunos.
— Duvido muito que vou passar, mas vou tentar. — disse
Vitória, com uma atmosfera de desânimo ao redor.
— Vai passar pra cozinha e lavar a louça, capivara, você é
burra, não vai conseguir nem ferrando entrar na Etec do jeito que é
minha irmã gêmea, igualzinha a mim. — disse Murilo, enquanto
debochava da cara dela rindo.
— Cala a sua boca, lagartixa de quatro olhos. Você é outro que
não pode falar nada, é mais burro que tudo. — revidou Vitória
enquanto virava o corpo com os braços cruzados e rosto fechado.
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certa forma, me sentia mal em ter que escutar isso toda vez, ainda
mais me culpando sem poder dizer nada.
Alguns dias se passaram após aquela discussão. Tudo estava
certo, meus pais não reclamavam mais, somente tocavam no assunto
uma vez ou nunca para tocar na ferida. Faltavam poucos dias para
começar as aulas no Carmela. De certa forma, eu estava ansioso,
pois, era a minha primeira vez no ensino médio e não sabia muito
bem como se comportar, ainda mais por ter muitos alunos na minha
classe na qual eu não conhecia.
Dois dias antes de começar as aulas, os gêmeos vieram falar
comigo sobre o que tinham descoberto.
— Eu passei! Eu passei! — gritou Vitória de forma muito
contente.
— Passou onde, maluca? Se acalma, explica isso aí direito. —
disse eu de forma confusa, não sabia do que ela estava falando.
— Passei na inscrição da Etec. A Livia Fernanda foi lá ver
quem passou e achou o nome meu e do Murilo! Mas, o seu não, isso
que é estranho. Como é que você não passou? — respondeu Vitória.
— Olha só, parabéns pros dois então. E é uma longa história o
porquê de eu não ter passado. — respondi a ela com um ar de ironia.
Livia era a melhor amiga de Vitória na época, ficavam o tempo
todo juntas conversando. Não foi surpresa minha eles conseguirem
entrar para a Etec, até porque grande parte do povo que conheço
entrou, ainda mais os nerds de plantão, como, por exemplo, o
Gustavo, um amigo meu alto por volta dos 1,88 m, meio gordinho
com um cabelo meio comprido e liso, tonalidade castanha escura.
Faltava apenas um dia para começar as aulas no ensino médio,
eu não sabia muito bem o que esperar.
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II
O primeiro dia de aula no ensino médio era em uma quinta-
feira, e, definitivamente, eu não iria nessa semana por preguiça.
Antigamente não tinha um apego pela escola, tanto é que faltava
direto, influenciando também a faltar as duas primeiras semanas de
aula no ensino médio.
Sempre tive uma insegurança imensa com meu corpo, ainda
mais do jeito que eu era. Corpo gordo e peludo, inicialmente com 85
kg, cabelo meio cacheado curto com penteado jogado para o lado,
com o famoso bigodinho código de barras. Meu rosto era todo
manchado por conta de espinhas e falta de cuidado. Minha
alimentação era totalmente desregulada, assim como meu sono na
época, que, um ano atrás, tinha insônia e virava noites jogando.
Dito como antes, nunca tive vontade própria de fazer, preferir
ou decidir algo, sempre deixei meus pais escolherem por mim.
Minhas roupas eram bem comuns, cheias de estampas e com um look
que definitivamente não combinava, ainda mais as cores.
Minha mãe odeia cabelo grande masculino, sempre preferiu os
curtos, cortando geralmente no degradê básico. A única coisa que eu
queria na época era um cabelo comprido, nem que seja com uma
franja um pouco grande, o qual não era possível por conta de minha
mãe. Toda vez que eu via uma esperança ao ter esperado 2 meses e
ver meu cabelo um pouquinho grande, chegava minha mãe me
forçando a cortá-lo e voltar ao estado zero.
Além disso, também havia problemas familiares entre meus
pais. Eles em breve iriam se separar decisivamente. Desde os meus
11 anos eles começaram a discutir isso tudo, o que durou até a
primeira série do ensino médio. Começou tudo quando minha mãe
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