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Ensino fundamental II
I
Havia acabado de terminar o fundamental II, o tão temido nono
ano para as crianças dos sextos e sétimos anos na época, pois, pensa-
vam que seria uma série problemática de passar, o que é mentira, é
apenas um ano juntando os outros passados te preparando para o en-
sino médio (o qual é o verdadeiro plot twist na vida de todo adoles-
cente).
Estavam todos escolhendo qual escola iriam estudar no ano se-
guinte, porque isso de certa forma decidiria seu futuro. Haviam quatro
escolas a qual podíamos priorizar:
1. Carmela;
2. Massud;
3. Sproesser;
4. Etec.
A Etec é uma escola técnica, o qual pode fazer o ensino médio
enquanto faz um curso disponível. Caso não me engano, tinham quatro
cursos na época em que haviam aberto as vagas para ela, que eram:
administração, logística, desenvolvimento de sistemas e informática.
Era definitivamente uma oportunidade ótima para os alunos que que-
riam adiantar as coisas no futuro, que não é meu caso.
Os professores conversaram conosco e disseram que teríamos
que fazer um passe escolar para utilizar o ônibus circular, pois, as es-
colas ficavam no centro da cidade, um pouco longe da escola local.
Havia apenas um problema nisso tudo: quando se transferisse de es-
cola, o passe seria mudado para 50%. A Etec é uma escola técnica, ou
seja, só tem como entrar nela através de algo externo, não diretamente,
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II
O primeiro dia de aula no ensino médio era em uma quinta-feira,
e, definitivamente, eu não iria nessa semana por preguiça. Antiga-
mente não tinha um apego pela escola, tanto é que faltava direto, in-
fluenciando também a faltar as duas primeiras semanas de aula no en-
sino médio.
Sempre tive uma insegurança imensa com meu corpo, ainda
mais do jeito que eu era. Corpo gordo e peludo, inicialmente com 85
kg, cabelo meio cacheado curto com penteado jogado para o lado, com
o famoso bigodinho código de barras. Meu rosto era todo manchado
por conta de espinhas e falta de cuidado. Minha alimentação era total-
mente desregulada, assim como meu sono na época, que, um ano atrás,
tinha insônia e virava noites jogando.
Dito como antes, nunca tive vontade própria de fazer, preferir ou
decidir algo, sempre deixei meus pais escolherem por mim. Minhas
roupas eram bem comuns, cheias de estampas e com um look que de-
finitivamente não combinava, ainda mais as cores.
Minha mãe odeia cabelo grande masculino, sempre preferiu os
curtos, cortando geralmente no degradê básico. A única coisa que eu
queria na época era um cabelo comprido, nem que seja com uma franja
um pouco grande, o qual não era possível por conta de minha mãe.
Toda vez que eu via uma esperança ao ter esperado 2 meses e ver meu
cabelo um pouquinho grande, chegava minha mãe me forçando a
cortá-lo e voltar ao estado zero.
Além disso, também havia problemas familiares entre meus
pais. Eles em breve iriam se separar decisivamente. Desde os meus 11
anos eles começaram a discutir isso tudo, o que durou até a primeira
série do ensino médio. Começou tudo quando minha mãe estava
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Enquanto para mim iria ser o primeiro dia de aula, aos outro, era
o décimo primeiro, início da terceira semana letiva. Havia faltado duas
semanas seguidas. A aula era na parte da tarde, começaria pontual-
mente às 13:00 e terminava quase de noite, às 18:00.
Eu tinha acordado por volta das 10:04 da manhã, com o corpo
todo mole de tanto sono, ainda tentando me recuperar após uma noite
mal dormida. Os raios de sol invadiam o quarto, criando uma atmos-
fera aconchegante e preguiçosa, que contrastava com a ansiedade cres-
cente à medida que o horário da aula se aproximava. Vestir-me e tomar
café da manhã foram tarefas que pareceram exigir um esforço hercúleo
naquela manhã, e a tentação de ficar na cama era quase irresistível. A
preguiça era avassaladora, e eu confesso que não estava com a menor
vontade de ir à aula.
O meu visual para a escola consistia em uma rotina meticulosa-
mente elaborada para enfrentar cada dia (só que não). Como alguém
que tinha insegurança em relação ao seu corpo, minha escolha era sem-
pre a primeira camisa grande que eu visse no meu guarda-roupa. Eu a
vestia com uma sensação de conforto, pois ficava bem larga em mim,
apesar do calor muitas vezes implacável. Por cima, não importava o
quão quente estivesse lá fora, eu colocava uma blusa de frio, criando
uma camuflagem pessoal que me fazia sentir um pouco mais à von-
tade. O boné preto era meu aliado constante, ocultando parte do rosto
e disfarçando meu cabelo curto na época. Não poderia esquecer a boa
e velha máscara preta minha, o que era obrigatório naquela época de-
vido à pandemia de Covid-19, que não apenas protegia minha saúde,
mas também garantia uma camada adicional de anonimato.
O ônibus passava pontualmente às 12:10, havendo cerca de 15
minutos até chegar ao meu ponto mais próximo da escola, o supermer-
cado Extra, situado a 650 metros de distância. Era um percurso de 4,4
quilômetros no total até minha escola.
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