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Brazilian Journal of Development 23276

ISSN: 2525-8761

O impacto das cesarianas desnecessárias na saúde materna e neonatal


no Brasil

The impact of unnecessary c-sections on maternal and neonatal health


in Brazil
DOI:10.34117/bjdv9n8-011

Recebimento dos originais: 03/07/2023


Aceitação para publicação: 03/08/2023

Beatriz do Nascimento Bacelar


Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: beatrizbacelar@sempreceub.com

Isabella Eduarda de Godoy Oliveira


Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: isabella.eduarda@sempreceub.com

Carolina Cotrim Guedes


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Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: carolina.cotrim@sempreceub.com

Igor Caminha Tokarski


Graduando em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: igor.caminha9@hotmail.com

Letícia Teixeira Martins


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E-mail: leticia.teixeiram@sempreceub.com

Anna Beatriz Zapalowski Galvão


Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
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Bianca Santos Arrais de Lavor


Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: bianca.lavor@sempreceub.com

Bruna Arese Camara Silva Neto


Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: bruna.arese@sempreceub.com

Sâmia Daiene de Melo Lins


Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: samia.lins@sempreceub.com

Beatriz Araújo Gonçalves Coelho


Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: biaagc@sempreceub.com

Theo Rezende Camargo


Graduando em Medicina pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Instituição: Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
Endereço: SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília - DF, CEP: 70790-075
E-mail: theo.rezende@sempreceub.com

RESUMO
O Brasil apresentou aumentos significativos nas taxas de parto cesárea. Ao todo, 57,6%
dos nascimentos registrados no país de janeiro a outubro de 2022 foram por cesariana, de
acordo com o Ministério da Saúde. O dado preliminar indica que é a maior taxa da
história, muito acima dos 15%, índice recomendado pela Organização Mundial da
Saúde.Este estudo é uma revisão bibliográfica, foi realizada uma busca dos artigos
utilizando as bases de dados eletrônicas PubMed/MEDLINE e Scielo. Além disso, foram
utilizados os DeCS (Health Sciences Descriptors) “Cesaria”, e “Desnecessárias” estes
foram associados através do operador booleano AND e por fim, foram selecionados 11
artigos. Nesse viés, por se tratar de uma cirurgia, a cesariana apresenta riscos para a mãe
como embolia pulmonar, hemorragias, infecções, trombose, risco de internação em UTI,
aderência de alças intestinais e bexiga no útero, lesões na bexiga , redução da fertilidade,
sangramento uterino anormal e dor pélvica crônica, além de maiores riscos de gravidez
em cicatriz de cesariana, rotura uterina e acretismo placentário.Além disso, entre os
possíveis dos conceptos nascidos, citam-se alterações no microbioma intestinal, maiores
taxas de disfunções imunológicas e desordens metabólicas (como obesidade e asma) e
cognitivas (como hiperatividade). Logo, faz-se necessária a promoção de medidas
governamentais que visem diminuir os índices da cesaria.

Palavras-chave: prevalência, cesáreas, complicações.

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ABSTRACT
Brazil showed significant increases in cesarean delivery rates. In all, 57.6% of births
registered in the country from January to October 2022 were by cesarean section,
according to the Ministry of Health. Preliminary data indicate that this is the highest rate
in history, well above the 15% rate recommended by the World Health Organization. This
study is a bibliographic review, a search of articles was carried out using the
PubMed/MEDLINE and Scielo electronic databases. In addition, the DeCS (Health
Sciences Descriptors) “Cesarean section” and “Unnecessary” were used, these were
associated through the Boolean operator AND and finally, 11 articles were selected. In
this regard, because it is a surgery, the cesarean section presents risks for the mother, such
as pulmonary embolism, hemorrhages, hemorrhages, thrombosis, risk of hospitalization
in the ICU, adhesion of intestinal loops and bladder in the uterus, bladder injuries, reduced
fertility, abnormal uterine bleeding and chronic pelvic pain, in addition to greater risks of
pregnancy in cesarean section healing, uterine rupture and placental accretion. metabolic
(such as obesity and asthma) and cognitive (such as hyperactivity). Therefore, it is
necessary to promote government measures aimed at reducing cesarean rates.

Keywords: prevalence, cesarean section, complications.

1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, as taxas de cesariana aumentaram substancialmente em
todas as regiões do mundo, representando 21,1% de todos os nascidos vivos. Dessa forma,
esse aumento foi motivado, principalmente, pelo aumento de cesarianas desnecessárias
em diversos países de média e alta renda. Dentre os países da América Latina, o Brasil se
destaca com a segunda maior taxa de cesariana do mundo, alcançando 56,3% de todos os
nascimentos em 2019. Além disso, é possível observar grande desigualdade na
distribuição das taxas de cesariana no país, sendo maiores em regiões mais desenvolvidas,
em mulheres com idade maior ou igual a 35 anos, de cor da pele branca e com maior nível
de escolaridade. (1)
Nesse viés, a cesariana é uma cirurgia salvadora de vidas, representando grande
avanço na prática obstétrica e na proteção integral do binômio materno -perinatal, sua
realização empoderada está associada a riscos imediatos e futuros relevantes. Entre os
riscos maternos imediatos da cesariana, podem-se citar o aumento do sangramento
intraparto e da hemorragia pós-parto, a elevação dos riscos de infecção/sepse materna,
quadros tromboembólicos e lesões de órgãos pélvicos, especialmente na cirurgia de
urgência. No que se refere aos riscos fetais imediatos, destacam-se a prematuridade
iatrogênica (por nascimento no termo precoce) e o aumento das taxas de taquipneia
transitória do recém-nascido. Deve-se ressaltar ainda que o tocotraumatismo também
pode ocorrer durante a cesariana. (2)

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Segundo o Conselho Federal de Medicina, no Brasil, o índice de morte materna


em casos não-complicados é de 20,6 a cada 1000 cesáreas. Em contrapartida, são 1,73
mortes para 1000 nascimentos de parto normal (3). Nesse sentido, com o objetivo de
reunir a melhor evidência para as práticas utilizadas durante o nascimento, a OMS
classificou em: práticas que são demonstradamente úteis e devem ser encorajadas;
práticas comprovadamente prejudiciais ou inefetivas e que devem ser eliminadas; práticas
para as quais há evidência insuficiente para suportar uma recomendação clara e que
devem ser usadas com cautela, enquanto pesquisas são desenvolvidas para esclarecer a
questão; e práticas que são frequentemente usadas de forma inapropriada. Esta mesma
classificação foi adotada pelo Ministério da Saúde e tem sido utilizada para orientar
estratégias dirigidas à atenção ao trabalho de parto e parto no Brasil . A adoção de
intervenções prejudiciais, inoportunas, inapropriadas e/ou desnecessárias pode ser
considerada um risco para a maternidade e nascimento. (4)

2 METODOLOGIA
Este estudo é uma revisão bibliográfica, a qual busca elucidar os conhecimentos
disponíveis até o momento sobre o impacto das cesarianas desnecessárias no Brasil. Para
a busca dos artigos, foram utilizadas as bases de dados eletrônicas PubMed/MEDLINE e
Scielo. Além disso, foram utilizados os DeCS (Health Sciences Descriptors) “Cesaria”, e
“Desecessárias” estes foram associados através do operador booleano AND. Ademais, os
critérios de exclusão aplicados foram: os artigos que se encontravam duplicados e sem a
temática procurada no título e no abstract. Nesse sentido, todos os artigos originais
indexados e com embasamento científico foram selecionados. Dessa forma, do material
pesquisado e encontrado, foram selecionados 11 artigos, entre os anos de 2010 a 2022, os
quais trouxeram conteúdos condizentes para o cumprimento dos objetivos buscados, da
relevância e da atualidade do presente estudo. Logo, ao aplicar a metodologia proposta, a
revisão bibliográfica foi realizada, a qual tem por objetivo esclarecer acerca do tema
apresentado.

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3 RESULTADOS
Para a produção da tabela de resultados, foi realizada uma revisão com 8 artigos,
os quais abordam a temática: O Impacto das Cesarianas Desnecessárias, levando em conta
a sua acurácia, veracidade e conclusões para que fosse viável a sua construção com
integridade.

Tabela 1: Referente aos principais achados nos artigos selecionados


Número Autores Título Ano de Revista Principais achados
publicação

1 Barbara Variações das 2022 Caderno As taxas de cesariana geral e recorrente


Almeida Soares taxas de cesariana de Saúde foram calculadas e analisadas de
Dias,Maria do e cesariana Pública acordo com a IG, região de residência
Carmo Leal,Ana recorrente no e tipo de hospital. Foram realizadas
Paula Esteves- Brasil segundo correlações de Spearman entre as taxas
Pereira,Marcos idade gestacional de cesariana e cesariana recorrente por
Nakamura- ao nascer e tipo de subgrupos de IG ao nascer (≤ 33, 34-
Pereira. hospital 36, 37-38, 39-41 e ≥ 42 semanas),
analisadas segundo o tipo de hospital.
Verificaram-se taxas de cesariana geral
e recorrente de 55,1% e 85,3%,
respectivamente. Mais de 60% dos
recém-nascidos entre 37-38 semanas
ocorreram via cesariana. Os hospitais
privados de todas as regiões
concentraram as maiores taxas de
cesariana, sobretudo os do Centro-
oeste, com mais de 80% em todas as
IG. A taxa geral de cesariana foi
altamente correlacionada com todas as
taxas de cesariana dos subgrupos de IG
(r > 0,7, p < 0,01).

2 RAPHAEL Cesariana a pedido 2016 Revista do Tem-se aventado relação entre


CÂMARA,MA materno. Colégio cesarianas e distúrbios alérgicos e asma
RCELO Brasileiro em pessoas nascidas por essa via.
BURLÁ,JOSÉ de Metanálise recente mostrou um
FERRARI,LAN Cirurgiões aumento do risco de cerca de 20% em
A . nascidos por cesariana, seja eletiva ou
LIMA,JOFFRE de emergência. O aumento dos casos
AMIM de asma pode ter como um dos fatores
JUNIOR,ANTO o aumento das taxas globais de
NIO BRAGA. cesarianas. Não só a asma, mas
diversas outras doenças autoimunes
vêm crescendo nos últimos anos,
coincidentemente com o aumento das
taxas de cesarianas. Alguns autores
sugerem que isso pode se dever a
diferentes colonizações microbianas
advindas dos partos vaginais e
cesarianas no trato intestinal estéril do
neonato logo após o nascimento

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3 Samira El Estratégias 2011 Revista Neste estudo com hospitais do setor


Maerrawi T. dirigidas aos Brasileira suplementar, dentre as indicações de
Haddad, José profissionais para de cesárea com justificativas médicas, a
Guilherme a redução das Ginecolog análise dos prontuários evidenciou que
Cecat. cesáreas ia e 91,8% delas foram inadequadas,
desnecessárias no Obstetricia principalmente pelo fato de não ter
Brasil havido prova de trabalho de parto para
aquelas sem indicação absoluta de
cesárea. Em relação ao manejo do
trabalho de parto, 64,9% foram
avaliados como inadequados,
pelaausência do uso de práticas
benéficas e o uso de práticas
consideradas prejudiciais pela OMS.

4 Sonia Lansky Nascer em Belo 2016 Repositóri A amostra foi constituída por puérperas
Horizonte: o da com idade gestacional maior que 22
cesarianas UFMG semanas. Das puérperas classificadas
desnecessárias e por Robson, 31% delas apresentaram
prematuridade parto tipo cesáreo. A ocorrência das
cesáreas desnecessárias foi
evidenciada nas instituições pública e
privada, porém com taxas distintas, de
5% e 36%, respectivamente. Em ambos
os setores as taxas foram mais elevadas
nas mulheres da raça/cor branca, com
idade superior a 32 anos, com menores
idades gestacionais, com
acompanhantes e que possuíam plano
de saúde. Em Belo Horizonte as
elevadas taxas de cesáreas observadas,
especialmente no setor privado, foram
justificadas pela ocorrência de cesáreas
desnecessárias que incrementam
também as taxas de prematuridade. A
classificação de Robson sugere que
para reduzir a ocorrência das cesáreas
desnecessárias em Belo Horizonte é
preciso diminuir o número de cesáreas
em mulheres com cesáreas anteriores e
aguardar o início do trabalho de parto
para decidir a via de nascimento.

5 Míriam Rêgo de Reflexões sobre o 2012 Ciência & Estudos observacionais realizados
Castro Leão, excesso de Saúde sobre preferência da via de parto pelas
Maria Luiza cesarianas no Coletiva mulheres, no Brasil, evidenciam que a
Gonzalez Brasil e a maioria prefere o parto normal. Um dos
Riesco, Camilla autonomia das principais motivos referidos é a
Alexsandra mulheres recuperação mais rápida após o parto.
Schneck Apesar disso, a cesariana é o tipo de
,Margareth parto da maioria das usuárias do setor
Angelo suplementar de saúde, o que põe em
risco a autonomia e a satisfação
feminina com a experiência de parir.

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6 Keila Cristina Complicações 2016 Revista de A necessidade de internação em


Mascarello, maternas e cesárea Saúde unidade de terapia intensiva (UTI)
Bernardo Lessa sem indicação: Pública como preditor de complicação grave
HortaI , revisão foi avaliada em um grande estudo da
Mariângela sistemática e Organização Mundial da Saúde (OMS)
Freitas Silveira. meta-análise unindo dados de 24 países, que
mostrou que mulheres submetidas à
cesárea tinham maior chance de
admissão em UTI, seja cesárea
intraparto (OR = 58,85; IC95% 41,46–
83,52) ou anteparto (OR = 30,75;
IC95% 18,12–52,17). As mulheres de
cesárea primária sem trabalho de parto
também apresentaram 2,25 vezes mais
chance de reinternação nos primeiros
30 dias após o parto (IC95% 1,74–
2,90) que mulheres de parto vaginal.
Mulheres com gestação de baixo risco
submetidas à cesárea apresentaram
maiores chances de histerectomia (OR
= 1,30; IC95% 1,01–1,66), choque
obstétrico (OR = 2,15; IC95% 1,14–
4,07) e complicações da anestesia (OR
= 2,18; IC95% 1,02–4,65). A cesárea
foi proteção para a ruptura uterina entre
as mulheres multíparas (OR = 0,29;
IC95% 0,15–0,58).

7 Alex Sandro Condições 2010 FEMINA Um estudo retrospectivo incluiu fetos


,Rolland Souza, frequentemente macrossômicos pesando acima de
Melania Maria associadas com 4.500 g, sendo que 61,6% das
Ramos cesariana, sem participantes entraram em trabalho de
Amorim,Ana respaldo científico parto espontâneo, 31,6% tiveram
Maria Feitosa indução do trabalho de parto e, em
Porto. 6,8% dos casos, a cesariana foi eletiva.
Entre os casos de trabalho de parto
espontâneo e induzido (n=354), o parto
vaginal ocorreu em 65,8%, o
instrumental em 17,5% e a cesariana de
urgência em 16,7%. A distocia de
ombro ocorreu em 13,6% dos neonatos
macrossômicos comparado a 0,9% dos
recém-nascidos abaixo de 4.500 g
(p<0,001). Não se encontrou
associação entre o sucesso do parto
vaginal e o peso do recém-nascido. A
cesariana de urgência e a distocia de
ombro foram significativamente mais
frequentes em neonatos pesando acima
de 5.000 g

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8 Luana Carla Incidência de 2022 Research, O risco de complicações relacionado


Gonçalves cesarianas, suas Society com a ocorrência de parto normal após
Brandão Santos indicações e a and uma cesariana, relaciona-se
Almeida,Lavínia classificação de Developm principalmente a ocorrência da rotura
Helena Rufino Robson em ent uterina. Estudos mostram que o evento
da Silva ,Maria maternidades de é raro, estima-se que o risco gire em
Elisangela alto risco de torno de 0,5 a 1,0% em mulheres com
Torres de Lima Alagoas uma cesárea anterior, 1,7 a 2% em
Sanches,Patrícia mulheres com duas cesáreas anteriores
Maria da Silva
Rodrigues,Sandr
a Taveiros de
Araújo
Fonte: Autores

4 DISCUSSÃO
O percentual de partos por cesariana hoje no Brasil é de 56% (mais de 80% desse
total são realizados na rede privada) e está relacionado a desfechos negativos para mães
e bebês, quando tais cirurgias são desnecessárias: aumento da morbimortalidade materna,
da prematuridade, de óbitos fetais e anormalidades placentárias, de problemas na
amamentação e no desenvolvimento do sistema imunológico do recém-nascido. O
percentual de 56% de cesarianas é muito alto, segundo parâmetros da Organização
Mundial da Saúde (OMS) que, desde 1985, estabeleceu que tal proporção não deveria
ultrapassar de 10 e 15% do total de nascimentos. Entretanto, há casos em que a cesárea é
indicada e apresenta desfechos favoráveis para a mãe e o bebê. (5)
Embora seja uma via amplamente utilizada no Brasil, a cesariana ainda pode
causar complicações futuras, tais como redução da fertilidade, sangramento uterino
anormal e dor pélvica crônica, além de maiores riscos de gravidez em cicatriz de
cesariana, rotura uterina e acretismo placentário. Essas complicações obstétricas são
responsáveis por quadros maternos hemorrágicos graves e potencialmente letais, e
associam-se a importante morbimortalidade materna. Entre os possíveis riscos futuros
dos conceptos nascidos por cesariana, citam-se alterações no microbioma intestinal, bem
como maiores taxas de disfunções imunológicas e desordens metabólicas (como
obesidade e asma) e cognitivas (como hiperatividade). (6)

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Nesse contexto, o Relatório da Partnership for Maternal, Newborn and Child


Health da OMS, declarou que o alto índice de cesáreas pode ser considerado uma
epidemia no Brasil e que existe uma forte relação, já reconhecida também na literatura,
entre o aumento da morbi-mortalidade materna e neonatal e o elevado número de
cesarianas. O relatório ressaltou ainda que, quando não há indicação clínica real, a
realização da cirurgia aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios
para o recém-nascido com complicações imediatas ou a longo prazo. E se o parto ocorrer
antes da 39ª semana de gestação, pode ocorrer o nascimento do bebê antes da maturação
pulmonar completa. Para a mulher, este tipo de parto triplica o risco de morte. Além disso,
a cesárea por ser um ato cirúrgico envolve todos os riscos de mortalidade derivadas de
processos cirúrgicos, podendo causar complicações significativas e até mesmo
permanentes, como sequelas e mortes, principalmente em locais sem infra-estrutura e/ou
capacidade de realizar cirurgias de forma segura. (7)
Dessa maneira, a presença de infecção pós-parto, independentemente do sítio de
infecção, não especificada nos estudos, ou infecção da ferida operatória, foi maior nas
cesáreas, bem como a necessidade de internação em UTI. Além disso, o risco de
hemorragia, histerectomia e transfusão de sangue mostrou ser maior apenas nas cesáreas
intraparto; porém, um estudo encontrou maior risco de hemorragia entre as mulheres de
parto vaginal. (8)
Ainda quanto à saúde do feto e recém-nascidos, uma revisão comparando a
cesárea a pedido sem indicação médica e o parto vaginal mostrou que o parto cesárea
aumenta o risco de complicações respiratórias no recém-nascido. O aumento nas taxas de
cesárea também foi associado a maiores taxas de mortalidade fetal e um maior número
de bebês admitidos em UTI neonatal por sete dias ou mais, mesmo após controle para
prematuridade. (9,10)
Dessa maneira, em todos os estudos analisados, foi notório que as complicações
tanto maternas quanto nos recém-nascidos tiveram taxa superior quando realizado a
cesária. Entretanto, tal tema é um dilema no país, visto que muitas pessoas tem um olhar
de medo e insegurança quanto ao parto normal.

5 CONCLUSÃO
Após a realização do estudo, conclui-se que evidências epidemiológicas
demonstram que o Brasil vive um cenário epidêmico de cesarianas desnecessárias e

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indesejadas. Tal cenário corrobora para uma série de complicações no momento do parto
e complicações tardias.
Nesse viés, o National Collaborating Centre for Women’s and Children’s Health,
do National Institute for Clinical Excellence (NICE), recomenda algumas ações na prática
obstétrica que podem ser efetivas na redução da frequência de cesarianas, como : 1.
suporte contínuo às gestantes durante o trabalho de parto ; 2. em gestações não
complicadas, a indução do trabalho de parto pode ser indicada a partir de 41 semanas ; 3.
utilização adequada do partograma; 4. consulta com o obstetra para discussão da via de
parto ; 5. monitorização eletrônica da frequência cardíaca fetal aumenta a taxa de
cesarianas e deve ser evitada na prática clínica diária . Nos casos com monitorização
contínua em que se encontra uma alteração do padrão da frequência cardíaca fetal, a
amostra do sangue fetal pode ser oferecida na tentativa de diminuir a taxa de cesariana.
(11)
Diante do exposto, faz-se necessária medidas públicas que visem diminuir o
número de cesáreas realizadas no país, em vista dos fatores riscos e benefícios
apresentados no presente trabalho.

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REFERÊNCIAS

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Brasil segundo idade gestacional ao nascer e tipo de hospital, v. 38, n. 6, 2022.

2- Antoine C, Young BK. Cesarean section one hundred years 1920- 2020: The Good,
the Bad and the Ugly. J Perinat Med. 2020;49(1):5-16. doi: 10.1515/jpm-2020-0305

3-FEBRASGO, Alta taxa de cesáreas no Brasil é tema de audiência pública,


Febrasgo.org.br, disponível <https://www.febrasgo.org.br/es/revistas/item/728-alta-taxa-
de-cesareas-no-brasil-e-tema-de-audiencia-publica>. acesso em: 29 jun. 2023.

4- RUA, Alexander ; FLEMING, Estratégias dirigidas aos profissionais para a redução


das cesáreas desnecessárias no Brasil Strategies directed to professionals for reducing
unnecessary cesarean sections in Brazil Palavras-chave Cesárea Parto Medicina
reprodutiva Keywords Cesarean section Parturition Reproductive medicine, [s.l.: s.n.,
s.d.].

5- CIÊNCIA E SAÚDE COLETIVA, Existe solução para o excesso de cesarianas no


Brasil? • SciELO em Perspectiva | Press Releases, SciELO em Perspectiva | Press
Releases • Press releases de artigos publicados pelos periódicos da Rede SciELO,
disponível em: <https://pressreleases.scielo.org/blog/2022/02/18/existe-solucao-para-o-
excesso-de-cesarianas-no-brasil/>.

6- Publicação ofi cial da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e


Obstetrícia A umento de cesáreas no Brasil - um apelo à reflexão ENTREVISTA O PAÍS
DAS CESÁREAS PRECISA Panorama atual do ensino em cirurgia ginecológica
minimamente invasiva minimamente invasiva, [s.l.: s.n., s.d.].

7- RIBEIRO, Luciana. NASCER EM BELO HORIZONTE: CESARIANAS


DESNECESSÁRIAS E PREMATURIDADE, [s.l.: s.n.], 2016.

8- MASCARELLO, Keila Cristina; HORTA, Bernardo Lessa ; SILVEIRA, Mariângela


Freitas, Maternal complications and cesarean section without indication: systematic
review and meta-analysis, Revista de Saúde Pública, v. 51, p. 105, 2017.

9-Bernardo LS, Simões R, Bernardo WM, Toledo SF, Hazzan MA, Chan HF, et al.
Mother-requested cesarean delivery compared to vaginal delivery: a systematic review.
Rev Assoc Med Bras. 2014;60(4):302-4. https://doi.org/10.1590/1806-9282.60.04.006

10– Villar J, Valladares E, Wojdyla D, Zavaleta N, Carroli G, Velazco A, et al. Caesarean


delivery rates and pregnancy outcomes: the 2005 WHO global survey on maternal and
perinatal health in Latin America. Lancet. 2006;367(9525):1819-29.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(06)68704-7

11 -SANDRO, Alex et al, [s.l.: s.n., s.d.].Condições frequentemente associadas com


cesariana, sem respaldo científico .

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