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Conhecimentos, atitudes e práticas sobre o Aleitamento Materno Exclusivo, em gestantes

atendidas na consulta pré-natal, no Centro de Saúde do José Macamo, em Maputo,


Moçambique.

Resumo:

Objectivos:
Descrever o conhecimento das gestantes sobre a importância do aleitamento materno exclusivo,
identificar práticas e atitudes e os possíveis factores ou dificuldades que podem influenciar na
práctica do aleitamento materno exclusivo.

Métodos: um estudo descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa e quantitativa, usando


um questionário semi-estruturado, envolvendo 29 mulheres com idade igual ou superior a 18
anos. A coleta de dados ocorreu nos cuidados pré-natais no Centro de Saúde José Macamo,
mediante
a aplicação de um questionário um questionário semi-estruturado.

Resultados:
Das 29 gestantes entrevistadas, 14 gestantes (48,3%) responderam menos de metade das
questões, 10 gestantes (34,5%) tiveram entre 50 a 60% de respostas certas e somente 5 (17,2%)
alcançaram um perfomance maior ou igual a 80% .A Organização Mundial da Saúde recomenda
a amamentação exclusiva até aos 6 meses e a continuidade do aleitamento materno até os 2 anos
ou mais. Este estudo avaliou os conhecimentos, atitudes e práticas em relação ao aleitamento
materno em mulheres atendidas nos cuidados pré-natais no Centro de Saúde José Macamo, na
Cidade de Maputo, Moçambique. Entre Março e Abril de 2019, foi realizado um estudo
descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa e quantitativa, usando um questionário
semi-estruturado, envolvendo 29 mulheres com idade igual ou superior a 18 anos atendidas nos
cuidados pré-natais.
O conhecimento das gestantes distribui-se pelos vários níveis de literacia, as primegestas
apresentam menor conhecimento se comparado as multíparas. A palestra na unidade sanitária e
os meios de comunicação como a rádio e televisão são os veículos de eleição para disseminação
da informação para alcançar este grupo-alvo. O colostro continua a ser encarado como algo que
prejudica o bebé (…)

Conclusões:

O conhecimento das gestantes distribui-se pelos vários niveis de literância, as primegestas


apresentam menor conhecimento se comparado as multíparas; A palestra na unidade sanitária e
os meios de comunicação (a rádio e televisão) são os veículos de eleição para disseminação da
informação para alcançar este grupo-alvo.
O HIV/SIDA e uma nova gravidez foram mencionados como principais factores que podem
influenciar na decisão de amamentar.

1
A interrupção da amamentação, pode ser influencida pela doença materna e pela presença de uma
nova gravidez, e existe a crença de que o aumento da produção do leite é influenciado pelo
consumo de alimentos específicos.

Palavras - chave: Aleitamento materno, duração do aleitamento materno, crenças e prácticas

Introdução:
Entre as inúmeras vantagens do Aleitamento Materno (AM), estudos realizados (1)(2)
demonstraram que crianças que recebem o Leite Materno (LM) por tempo prolongado
apresentam menores índices de morbidade infantil por diarreia, infecções respiratórias e otite
média, menores taxas de mortalidade por causas como a enterocolite necrotizante e a síndrome
da morte súbita na infância, maior quociente de inteligência e menos má oclusão dentária. Outras
evidências demonstraram que essa prática pode proteger contra sobrepeso e diabetes no decorrer
da vida da criança, sendo que para a mãe esse acto pode prevenir o cancro de mama e do ovário,
aumentar o intervalo interpartal e reduzir o risco de diabetes do tipo 2 (3)(4). A Organização
Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) recomendam
o Aleitamento Materno Exclusivo (AME) nos primeiros 6 meses de vida, ou seja, que o bebé
receba apenas leite materno, sem outro alimento ou bebida, e que o início da alimentação
complementar adequada e segura se dê a partir de então, mantendo a amamentação até os dois
anos de idade ou mais (5)(6). Por outro lado, para as mulheres infectadas com vírus de
imunodeficiência humana (VIH), a OMS recomenda o aleitamento materno exclusivo até aos
seis meses, aliado ao uso de medicação anti-retroviral, como uma forma segura de prevenir a
transmissão do VIH através da amamentação, e após esse período a continuação do aleitamento
materno até aos doze meses, aliado a uma alimentação complementar adequada e sem
interrupção do uso dos anti-retrovirais (7)(8). No entanto, apesar dos benefícios reconhecidos do
AM, as taxas de cobertura a nível global ainda se encontram aquém do preconizado pela OMS.
Por exemplo, em média, aproximadamente 44% das crianças com menos de 6 meses são
amamentadas exclusivamente com LM (9). Em África, a vasta maioria das crianças é
amamentada, porém as práticas de amamentação que se utilizam são imperfeitas e colocando por
vezes as crianças em risco. Estudos realizados demonstraram que em 2017, em África, apenas
37% das crianças foram amamentadas exclusivamente até aos seis meses (10). Vários estudos
quantitativos realizados em países em desenvolvimento identificaram factores associados às
práticas abaixo do ideal, relacionados com a amamentação e alimentação complementar. Estas

2
incluem características maternas, como idade, estado civil, ocupação e nível de escolaridade,
procura de cuidados de saúde pré-natal e maternidade, saúde educação, status socioeconómico e
características nas crianças incluindo peso ao nascer, o tipo de parto e ordem de nascimento (11)(12)
(13)
. Além disso, as crenças culturais, como tabus alimentares e percepções das mães, famílias e
comunidades também influenciam o comportamento de amamentação e alimentação
complementar, incluindo os tipos de alimentos que as crianças recebem (14). Em Moçambique, o
governo tem galvanizado as acções em torno da amamentação exclusiva até aos seis meses como
uma prioridade nacional. A Estratégia Nacional sobre Alimentação Infantil definiu metas para o
aleitamento materno exclusivo passando de 43% (2011) para 55% até 2023 (15). Segundo o
Inquérito Demográfico de saúde (IDS, 2011), cerca de dois terços dos recém-nascidos foram
amamentados ao peito dentro do período recomendado (na primeira hora após o nascimento) e
cerca de 90% foram amamentados no primeiro dia de vida. No entanto, apenas 37% receberam
aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida (16) . Um estudo realizado
em 2018, em Nampula (uma província do norte de Moçambique) demonstrou a existência de
barreiras ao AME tais como; problemas na técnica de amamentação (pega e posicionamento
deficientes), percepção da existência de leite materno insuficiente, ingurgitamento mamário e
falta de conhecimento, habilidades e auto-eficácia para lidar com problemas de AME, pelos
provedores de saúde. O mesmo estudo constatou também a existência de um fraco
aconselhamento fornecido a nível de comunidade e nas unidades sanitárias (17). Foi objectivo do
nosso estudo avaliar os conhecimentos, atitudes e práticas sobre o aleitamento materno, em
gestantes atendidas na consulta pré-natal no Centro de Saúde José Macamo, na Cidade de
Maputo, e identificar os possíveis factores associados.

Metódos:
Tratou-se de um estudo descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa. e quantitativa, que
avaliou os conhecimentos, atitudes e práticas das gestantes sobre o aleitamento materno
exclusivo, no Centro de Saúde José Macamo, na Cidade de Maputo, Moçambique. Os dados
foram colhidos de Março à Abril de 2019, na consulta pré-natal do Centro de Saúde, na Cidade
de Maputo, e foram abordadas todas as gestantes, sendo que aquelas que concordaram em
participar foram informadas sobre o estudo e assinaram o consentimento informado. A amostra
foi de 29 gestantes com uma amostragem não probabilística por conveniência. Para as entrevistas
foi utilizado um questionário semi-estruturado, com questões baseadas nas recomendações da
OMS e do MISAU sobre o aleitamento materno, e após 29 entrevistas alcançou-se a saturação de
participantes devido a redundância das informações sobre os temas inquiridos. Os dados
qualitativos, obtidos por meio das entrevistas, foram submetidos a análise de conteúdo temático,
seguindo-se o tratamento dos resultados e interpretação. Para análise das variáveis quantitativas
foram calculadas médias, desvio padrão e frequências absolutas. O estudo teve aprovação do
Comité Institucional de Bioética em Saúde da Faculdade de Medicina /Hospital Central de
Maputo, sob parecer referência (CIBS FM & HCM – 825881101). A fim de assegurar sigilo da
identidade dos participantes os questionários foram codificadas com a letra ‘’G’’ e numeradas
conforme a ordem da sua realização (G1, G2, G3 e assim sucessivamente).

Resultados
 Informação socio-demográfica:
Participaram no estudo 29 participantes, a idade variou entre 18 à 42 anos, destas 50% tinha no
máximo 27 anos de idade, a média foi de 28 anos e o desvio padrão foi de 7 anos (Tabela1).

3
Tabela 1. Descrição da idade das participantes

Std.
Estatísticas Error

Idade Média 28,24 1,344


95% IC para Média L. Inferior 25,49
L. Superior 30,99
Mediana 27
Desvio padrão 7,239
Idade Mínima 18
Idade Máxima 42
Amplitude 24
Intervalo Interquartil 14

No que se refere a situação conjugal, 21 (72%) das gestantes viviam em união de facto, 7 (24%)
eram solteiras e 1 (4 %) era casada. Em termos de habilitações literárias, as participantes com
nível primário do 2º grau constituem a maioria 9 (31,03%), e a minoria 3 (10,34 %) para as de
nível superior e igual percentagem para as sem nível de escolaridade (analfabetas).
Figura 1. Descrição percentual do nível de escolaridade das participantes

 Escolaridade
das entrevistadas
em relação a
percentagem
de respostas
correctas
Em relação ao número médio
de respostas consideradas
certas em cada nível de
escolaridade foi verificado
que os participantes do nível superior obtiveram uma média elevada de respostas certas de 6,67
variando de [3,8; 9,54] intervalo de confiança (IC) e a menor média de respostas certas foi de
3,13 variando de [2,08; 4,17] intervalo de confiança (IC) para os do nível primário (1º e 2º grau).

Figura 2. Descrição do valor médio de respostas certas em relação aos diferentes níveis de
escolaridade

4
 Conhecimento geral
sobre
aleitamento
materno:
Das entrevistadas 28
(97%) das
mulheres
informaram já ter ouvido
falar Quando questionadas se já ouviram falar do aleitamento materno, 28 (97%) das mulheres
informaram já ter ouvido falar e 1 (3%) referiu nunca ter ouvido falar. Das 28 mulheres que
ouviram falar, cerca de 52% referiram ter obtido esta informação através da rádio, televisão e nas
palestras na unidade sanitária.
 Conhecimento sobre a duração do aleitamento materno exclusivo (AME):
Quanto ao conhecimento sobre a duração do AME, 7(24%) referiram que este deve ser feito até
aos 6 meses, 17(59%) até aos 2 anos e (5) 17% não sabiam.
Figura 3. Duração do Aleitamento Materno Exclusivo

17%
24%

Até aos 6 meses


Até aos 2 anos
Não sabe

59%

Em relação ao conhecimento sobre o que significa AME, somente 8 (28%) mencionaram


correctamente que era dar somente leite do peito até aos 6 meses, 11 (38%) referiram que era dar
ao bebé leite de peito mais água por causa da sede e 10 (34%) das gestantes disseram não saber.
Em relação a importância do AME, somente 5 (17%) referiram correctamente (tem tudo o que a
criança precisa para crescer bem, poupa-se dinheiro, é mais seguro, está sempre pronto e protege
contra as doenças). Na sua maioria, 18 (62%) das gestantes responderam não saber a importância
do AME e 6 (21%) referiram somente proteger contra as doenças.
Tabela 2. Significado e importância do AME
O que significa fazer AME? N %
5
Não sabe 10 34
Dar ao bebé leite de peito mais água por causa da sede 11 38
Dar somente leite de peito até aos 6 meses 8 28
Total 29 100
Porque é importante o AME para a criança? N %
Protege contra as doenças 6 21
Tem tudo o que o bebé precisa para crescer bem, poupa-se dinheiro, é
5 17
mais seguro, o leite está sempre pronto, protege das doenças
Não sabe 18 62
Total 29 100

 Atitudes e práticas sobre o aleitamento materno exclusivo:


Das gestantes entrevistadas, cerca de 25 (86%), referiram que a amamentação deveria ser
iniciada após a retirada do colostro, (2)7% referiram que deveria ser iniciada após a 1ª hora de
vida do RN e (2) 7% referiram não saber. No que se refere a boa pega, as participantes
visualizaram duas figuras (Figura 4) sendo que 17 (59%) reconheceram a forma correcta (‘’boa
pega’’ ou ‘’pega correcta’’) e 12 (41%) não conseguiram identificar a forma correcta da ‘’pega’’.

Figura 4. ‘’Pega’’ correcta e incorrecta durante a amamentação (Adaptado de OMS/Unicef)

Tabela 3. Início da amamentação e pega correcta da mama


Quando deve ser iniciada a amamentação ? N %
Primeira hora após o partoPrimeira hora após o parto 00 00
Depois de tirar o primeiro liquido que sai da mama-colostroDepois de
2525 8686
tirar o primeiro liquido que sai da mama-colostro
Não sabeNão sabe 22 77

Depois da 1 hora de vida 2 7

6
Total 29 100
Identificação da pega correcta da mama N %
Boa PegaSim 1717 5959
Má Pega 12 41
Não sabeNão 012 041
Total 29 100

 Conhecimento sobre a duração da mamada


Sobre o conhecimento relacionado a duração da mamada, 55,2% das gestantes referiram que o
tempo de duração da mamada é determinado pelo bebé e termina quando o bebé larga por si
mesmo o seio, 37,9 % disseram que o tempo de mamada era de 5 minutos, 3,4 % disseram que o
tempo era até o bebé calar e 3,4 % não tinham conhecimento sobre a duração da mamada. O
choro foi referido por 76% das gestantes como o sinal de que a criança está com fome ou pronta
para ser amamentada.
Figura 5. Duração da mamada
3.4%

Até que o RN largue a mama


por si só

O tempo suficiente até o RN


37.9% calar
55.2%
5 minutos

Não sabe
3
.
4
%

 Atitudes em relação a amamentação


Quando questionadas sobre quais as razões que podem influenciar na decisão de amamentar, 20
(69%) das gestantes referiu o HIV/SIDA como a principal razão, seguida de uma nova gravidez
4 (14%).
Tabela 4. Razões para não amamentar
Razões para não amamentar N %
HIV/SIDAHIV/SIDA 2020 6969
Falta de tempoFalta de tempo 11 33
nova gravidez Nova gravidez 44 1414
HIV/SIDA ou nova gravidez 4 14
Não sabeHIV/SIDA e nova gravidez 04 014
Total 29 100

7
No que se refere Em relação a situações que podem fazer com que a mulher interrompa a
amamentação, 90% das gestantes sugerem qu estae a mulher deve parar de amamentar quando
está doente (figura 6).

Figura 6. Razões para interromper a amamentação


3%
7%

Quando está doente

Quando acha que a


criança já cresceu

Não sabe

90%

Em relação a questão sobre se uma mulher grávida por amamentar 28 (97%) das gestantes
afirmaram que não e apenas 3% referiram que pode amamentar. As razões indicadas para não
amamentar foram as seguintes: 24/28 (86%) pode transmitir doenças ao bebé, 2 (7%) referiram
que o leite fica impróprio, 2 (7%) referiram não saber e 1 (3 %) referiram que o bebé pode parar
de crescer e ficar doente.
 Alimentação da mulher lactante (que amamenta)
Quanto A em relação ao conhecimento sobre a alimentação das gestantes, a maior parte das
entrevistadas 18 (62%) disseram não existir um limite de número de refeições para as mulheres
lactantes, podendo estas alimentarem-se quantas vezes quiserem, 5 (17 %) disseram que as
mulheres lactantes devem alimentar-se 3 vezes por dia e 6 (21%) não sabiam a resposta. Sobre a
existência ou não de alimentos proibidos durante a amamentação, 59% das gestantes referiram
não existirem e 41% afirmaram serem existirem alimentos proibidos durante amamentação o
consumo tendo referido deo repolho, bebidas alcoólicas, comidas picantes, café e o tabaco.
 Produção de leite pela mulher lactante:
Sobre a produção do leite pela mulher lactante 79 % das entrevistadas disseram que a mulher
necessita de ter uma dieta especial para produzir mais leite, e apenas 7 % referiram
correctamente que a produção do leite materno está relacionada a frequência das mamadas
( quanto mais a criança mamar) ‘’Quanto mais a criança mamar’’, e 14% não sabiam.

Figura 7. Factores que influenciam na produção de leite

8
7%
14%
Quanto mais a
criança mamar
Ter uma dieta
especial
Não sabe

79%

Discussão
A maioria das gestantes inquiridas encontravam-se a viver em união de facto (72%) ou solteiras
(24%), na faixa etária e predominante a faixa etária de 26 -29 anos e 36-38 anos, com um peso
de 24% para cada faixa etária. Destas 31 % frequentou o ensino primário do segundo grau e 28%
o ensino primário do primeiro grau. Verificou-se que as participantes com nível superior
obtiveram uma média mais elevada de respostas certas (figura 2) o que está de acordo com
Faleiros et al (2006) que demonstrou que mães mais instruidasinstruídas tendem a ser mais bem
sucedidas na prática do AME talvez devido a um maior acesso às informações (18). Foi também
demonstrado que o grau de escolaridade afecta a motivação para a amamentação (19) . A maior
parte das participantes deste estudo ouviram falar de aleitamento materno na unidade sanitária, o
que está de acordo com Suarez-Cotelo et al (2019) que refere que a maior parte das mulheres
dizem que os profissionais de saúde são a sua principal fonte de informações sobre a alimentação
dos lactentes (20). Isto coloca os profissionais em um lugar privilegiado para proporcionar às
mulheres informação actualizada e baseada em evidências científicas (21). Neste estudo somente
24% das mulheres mostrou ter O conhecimento sobre a duração do AME mostro ser conhecido
apenas por 24% das mulheres o que sugere falta de informação ou possivelmente não
entendimento da informação veiculada. Segundo Passarin e Santos (2009), na comunicação é
importante que os profissionais de saúde possam fornecer informações relevantes usando
linguagem simples, acessível para quem está ouvindo e não se exagere na quantidade de
informações (22). Adquire-se facilmente a competência para se comunicar com eficiência usando a
técnica do aconselhamento em amamentação(23). Apenas 28% das mulheres deste estudo conhece
o significado de fazer AME e 62% não sabe qual a importância do AME. Mais uma vez estes
achados mostram a grande falta de informação adequada das mulheres. Um estudo de Campos et
al (2015) referiu que 30% das mulheres relataram a introdução de outros líquidos, e que a água
foi o líquido mais frequentemente oferecido pelas mães, podendo-se considerar que as mulheres
acreditam que esta deve ser oferecida para saciar a sede dos bebés (24). Neste estudo foi
identificada uma falta de conhecimento sobre quando dever ser iniciada a amamentação e
colostroe colostro continua a ser referido como algo que deve ser retirado antes de iniciar a
amamentação, o que pressupõem a falta de conhecimento sobre a importância do colostro.
Resultados similares foram encontrados num estudo realizado em 3 distritos das regiões Norte,
Centro e Sul de Moçambique, que refere o colostro não deve ser dado ao recém-nascido porque é
‘’sujidade’’ e provoca doenças, por essa razão acredita-se que o colostro deve ser deitado fora e
as mamas exprimidas até que apareça o ‘’leite bom’’ que é identificado pela sua cor branca (25).
Na Nigéria, dentre 310 gestantes que frequentaram a consulta pré-natal, cerca de 166 o
correspondente a 53,5% não deram o colostro ao bebé após o parto, referindo ser mau e não ter

9
nenhum beneficio para o bebé (26). Em relação a ‘’boa pega’’ cerca de 41 % das participantes não
conseguiu identificá-la (figura 4), o que significa que as gestantes mães precisam de ser
ensinadas, sobre esta prática, pelos profissionais de saúde. Evidências referem que os problemas
relacionados com a má pega e que muitas vezes levam a interrupção do aleitamento materno
exclusivo (27) . Em relação a duração de cada mamada, a maioria das participantes (55,2%) referiu
que está deve ser ‘’decidida’’ pelo bebé e ele deve largar a mama por si mesmo. Este resultado
esta em concordância com as referências globais não existe um tempo determinado para a
duração de cada mamada, esta deve ser guiada pelo bebê e varia em função da idade e de cada
bebê.28 Arts et al (2011), referiram que os enfermeiros entendem que o seu papel no apoio ao
aleitamento materno, é de informar bem as mães fornecendo todas as informações necessárias
para o efeito (28). O estudo demonstra que o choro do bebé é um sinal de fome no ponto de vista
das gestantes e é o alerta para o início da amamentação. Resultados similares foram reportados
por Suárez-Cotelo et al (2019) no seu estudo que refere que cerca de 89,8% das entrevistadas
referiu o choro como o principal sinal de fome. Entretanto, o choro não necessariamente é um
indicativo desta necessidade. Conhecer os sinais de fome, garante que a mãe possa alimentar o
seu bebé no momento certo e sempre que necessário essa alimentação possa ser oferecida o
número de vezes que o bebé desejar, o que permitirá satisfazer atempadamente as necessidades
do bebé, e garantir o seu crescimento adequado. 28 O HIV/SIDA foi mencionado por 69% das
gestantes como uma razão que pode influenciar na decisão de amamentar, seguida de uma nova
gravidez. Este achado contraria as orientações do Ministério de Saúde que recomenda o AME
aliado a profilaxia para prevenir a transmissão da infecção nos lactentes (15). No entanto, se a
alimentação de substituição for Aceitável, FactívelViável, Acessível, Sustentável e Segura
(AVFASS), recomenda-se que as mães seropositivas evitem a amamentação (27). Em relação a
amamentação durante a gravidez a maior parte das participantes (97%) referiram que a mulher
não pode amamentar por diferentes razões. Marques et all (2011)Um refereestudo mostrou não
ser raro que as crianças interrompam a amamentação espontaneamente quando a mãe engravida
pela alteração no gosto do leite (mais salgado, por maior conteúdo de sódio e menor
concentração de lactose) e no. No entanto ser é possível manter a amamentação em uma nova
gravidez se for o desejo da mulher e se não houver intercorrências na gravidez (29). Os resultados
do nosso estudo mostraram que as mulheres têm um conhecimento sobre a alimentação durante o
período de lactância (diversidade da dieta, número de refeições). Contudo, a maioria (79%)
referiu que aque a mulher deve ter uma dieta especial para produzir mais leite. Ao contrário das
crenças populares, praticamente todas as mães, a menos que estejam extremamente mal
alimentadas, podem produzir quantidades adequadas de leite (30).
Conclusão e Recomendação
Concluí-se a existência de várias lacunas relacionadas ao conhecimento, atitudes e praticas sobre
o AME pelas mulheres. Recomenda-se que os profissionais de saúde aproveitem a oportunidade
da consulta pré-natal para promoverem as boas praticas do AME, educar e sensibilizar as
gestantes, de forma a garantir que estas sejam capazes de alimentar com sucesso os seus bebés,
durante os primeiros 6 meses de vida e continuar com amamentação até que estes atinjam os 2
anos de vida ou mais.
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