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ITA 2024

AULA 08
Interpretação de texto II

Prof. Celina Gil


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Sumário

1- Textos não-verbais 3

2- Textos literários 7
Intertextualidade 15

3- Exercícios 22

3.1 – Lista de Exercícios 22

3.2 - Gabarito 66

3.3 – Exercícios comentados 67

4 - Considerações Finais 128

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Apresentação
Caro aluno,

Na aula de hoje vamos nos dedicar a esses pontos:

- Leitura, interpretação e análise de textos: leitura,


interpretação e análise dos significados presentes num texto
e relacionamento destes com o universo em que foi
AULA 08 – Interpretação de texto II produzido.

- Prática de interpretação de textos não verbais e textos


literários.

Vamos lá?

1- Textos não-verbais
Na hora da prova, os alunos costumam se confundir com imagens por duas razões: não saber como
interpretar um texto não verbal e não possuir repertório para interpretar. A parte de ensinar a
interpretar a imagem, eu garanto! O repertório, porém, depende de nós dois. Nessa aula, eu vou indicar
alguns assuntos e conhecimentos que podem ajudar na hora da prova, mas é muito importante que você
tenha a mente aberta para as imagens! O método mais simples que encontrei até hoje para ensinar como
interpretar imagens consiste em:

1- Identificar: 2 - Analisar: 3 - Contextualizar:


- Qual é o tipo de
- O que compõe essa - Qual foi o momento
imagem que estamos
imagem? histórico da procução
vendo? (publicidade,
- Há textos que dessa imagem?
quadro, charge etc.?)
complementam a - Com que objetivo essa
- Quais as técnicas
imagem? imagem foi criada e
empregadas nessa
- Observar quais são os onde ela foi veiculada
imagem?(fotografia,
elementos mais ou exposta?
pintura, escultura etc?)
destacados e se há - Buscar informações
- Observar cores,
detalhes menos óbvios. nas legendas!
traços, formas etc.

Signos presentes na imagem em si. Signos externos.

Tirinhas, cartuns, tiras, quadrinhos... são todos nomes para o mesmo tipo de texto. As tirinhas são
composições que misturam texto e imagem, normalmente numa sucessão de quadros. É uma linguagem
com a qual a maioria de nós está habituado, portanto, se torna mais fácil compreender e interpretar.

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Normalmente há dois tipos de questão que podem envolver tirinhas:

 Questões de gramática, a partir dos textos das tirinhas; e

 Questões de interpretação de texto, que exigem a união entre textos verbais e não verbais para
compreender a mensagem.

Veja um exemplo de questão de interpretação de texto literário:

Examine a tira do cartunista Andre Dahmer.

(Disponível em < https://twitter.com/depositodetiras/status/1304403051323719682> Acesso em 24 jul. 2020

Na tira, a ideia de signos é entendida pelo interlocutor da personagem em dúvida como


a) ilustre
b) excêntrica
c) corriqueira
d) relativa
e) relevante
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois ainda que seja uma informação relevante, não se pode
dizer que ela seja notável ou admirada.
A alternativa B está incorreta, pois se ele considerasse essa ideia excêntrica ele sequer
consideraria a possibilidade de revelar ou não para a cliente.
A alternativa C está incorreta, pois não é porque a questão importa que ela seja algo
cotidiano. Se fosse algo cotidiano seu colega não teria dúvidas sobre o assunto.
A alternativa D está incorreta, pois o que é relativo é se o outro deve ou não contar seu
signo, mas a importância do signo não é questionada.
A alternativa E está correta, pois ao questionar seu colega qual o seu signo para decidir se
deve ou não informar à cliente, o interlocutor indica que o signo tem muita relevância. Ele
importa o suficiente para se decidir se deve ser revelado ou não.
Gabarito: E

Além disso, as charges também são comuns nas provas. São ilustrações cujo objetivo é satirizar
alguém ou alguma situação. Muitas vezes, as charges apresentam caricaturas das personagens retratadas,
para tornar a situação ainda mais irônica.

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caricaturas: desenhos de pessoas


da vida real com traços exagerados.
O objetivo da caricatura é tornar
cômica a personagem retratada,
muitas vezes tornando mais
evidentes seus traços menos
elogiosos.

A charge costuma conter críticas de cunho político-social e falar sobre acontecimentos da


atualidade. Por isso, para compreender bem uma charge é preciso estar a par dos acontecimentos
recentes. É, portanto, uma narrativa efêmera: retrata acontecimentos contemporâneos, notícias.

As charges costumam contar com algumas estratégias:

 Dão mais valor ao poder das imagens do que das palavras, ou seja, as charges costumam
ter mais textos não verbais do que verbais.
 Lidam com a sátira, a exposição ao ridículo, principalmente a partir do exagero.

Tirinha Charge
Na maior parte das vezes, critica
Na maior parte das vezes, critica
situações e eventos bem situados
situações corriqueiras ou
no tempo e no espaço. É ligada a
comportamentos sociais.
atualidades.

Veja um exemplo de questão que envolve a comparação entre um texto verbal e um texto não
verbal:

TEXTO I
Não cante vitória muito cedo, não
Nem leve flores para a cova do inimigo
Que as lágrimas do jovem
São fortes como um segredo
Podem fazer renascer um mal antigo, sim, o sim

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Tudo poderia ter mudado, sim


Pelo trabalho que fizemos, tu e eu
Mas o dinheiro é cruel
E um vento forte levou os amigos
Para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos
E nossa esperança de jovens não aconteceu
E nossa esperança de jovens não aconteceu, não, não
(Não leve flores, Belchior)

TEXTO II

Disponível em <https://twitter.com/LaerteCoutinho1/status/1036946489992523776> Acesso em 11 out. 2020

Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge


a) reafirma a possibilidade expressa no texto I de que somente através da ação se promovem
mudanças.
b) indica que só se é possível promover as mudanças desejadas no texto I com investimento
em pesquisa.
c) recupera o tema da canção, personificando o dilema do texto I a partir da figura de
dinossauros.
d) evidencia uma prática cultural brasileira de apenas acreditar na possibilidade de
mudanças quando se é jovem.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o texto I indica que a mudança nem sempre é bem-
sucedida, independentemente de quanto trabalho colocamos nisso ou esforço.
A alternativa B está incorreta, pois a charge apenas compara a persistência dos hábitos e
práticas do passado personificadas na figura do dinossauro. Não aponta para possíveis
caminhos para a resolução desse dilema.

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A alternativa C está correta, pois o texto I fala sobre a possibilidade de que não seja possível
a realização de mudanças, pois o “mal antigo” sempre pode renascer. A charge mostra que
o passado e o futuro não são tão diferentes assim, indicando que aquilo que tratávamos
como acabado, extinto – como os dinossauros – pode ainda estar vivo.
A alternativa D está incorreta, pois não há nada na charge que aponte para uma maior
preocupação dos jovens em relação a mudanças.
Gabarito: C

2- Textos literários
Pode-se dizer que uma obra literária pode ser interpretada segundo dois aspectos: forma e
conteúdo. Quanto à forma, convém dividir os textos literários em prosa e poesia.

Prosa
A prosa é o texto escrito em parágrafos. É um texto escrito sem necessariamente considerar
divisões rítmicas ou sonoras. Ela pode ser dividida em dois grandes grupos: narrativa e demonstrativa.

Prosa narrativa: textos históricos ou de ficção que se proponham a narrar fatos e acontecimentos.
Leia este trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis:

“Cândido Neves, — em família, Candinho, — é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga,
cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave
esse homem, não aguentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele
chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso
algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele
disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço
entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-
o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade. Fiel
de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros
empregos foram deixados pouco depois de obtidos.
Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, porque
morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para obter emprego,
resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. Não lhe custou
apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem
complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que
trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou muito.”

Prosa demonstrativa: textos ligados à oratória (como discursos) e didáticos (ensaios, tratados,
diálogos, etc.).
Leia este trecho do discurso proferido por Machado de Assis na ocasião da inauguração da estátua
em homenagem a José de Alencar:

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“Hoje, senhores, assistimos ao início de outro monumento, este agora de vida, destinado a
dar à cidade, à pátria e ao mundo a imagem daquele que um dia acompanhamos ao cemitério.
Volveram anos; volveram coisas; mas a consciência humana diz-nos que, no meio das obras e
dos tempos fugidios, subsiste a flor da poesia, ao passo que a consciência nacional nos mostra
na pessoa do grande escritor o robusto e vivaz representante da literatura brasileira.“

Na literatura, a preocupação está na prosa narrativa, de ficção. A chamada prosa literária é uma
das mais importantes para o estudo dos vestibulares. Nela se encontram os contos, as novelas e os
romances:

Prosa literária

Romance:
Novela: História mais longa, com um
Conto: Histórias de tamanho conflito central e outros
Histórias curtas, com apenas um intermediário, com diversos secundários que ocorrem em
conflito e poucas personagens. conflitos que se seguem e muitas paralelo, complementando-se. As
personagens. personagens podem aparecer e
desaparecer.

Sobre o ritmo do texto em prosa, a principal questão a se analisar é a paragrafação. Cada tipo de
texto pede um modo de organização de parágrafos. Em textos dissertativos, por exemplo, tende-se a
dividir os parágrafos por assuntos. Na prosa literária a organização não se dá necessariamente assim. Os
autores trabalham a construção dos parágrafos de acordo com seu estilo pessoal e com o momento da
narração. Pode-se dividir os parágrafos de acordo com seu tamanho ou conteúdo:

 Tamanho:
Curtos:
Se focam apenas nas informações mais importantes, descritas de maneira sucinta. Textos infantis, por
exemplo, costumam contar com esse tipo de parágrafo.
Ex.:
“André, o bom Andrezinho, menino querido e estimado por todos que o conheciam, achava-se
desesperado, banhado em lágrimas, aflito, porque sabia que o seu extremoso pai estava nos
paroxismos finais da vida” (Histórias da Avozinha, Figueiredo Pimentel)

Médios:
Apresenta as ideias com maior profundidade, sem cair na prolixidade. São compostos, normalmente,
por mais de um período. É uma estrutura que prende mais facilmente a atenção do leitor.
Ex.:
“Isaura era filha de uma linda mulata, que fora por muito tempo a mucama favorita e a criada fiel da
esposa do comendador. Este, que como homem libidinoso e sem escrúpulos olhava as escravas como
um serralho à sua disposição, lançou olhos cobiçosos e ardentes de lascívia sobre a gentil mucama. Por
muito tempo resistiu ela às suas brutais solicitações; mas por fim teve de ceder às ameaças e violências.

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Tão torpe e bárbaro procedimento não pôde por muito tempo ficar oculto aos olhos de sua virtuosa
esposa, que com isso concebeu mortal desgosto.” (A escrava Isaura, Bernardo Guimarães).

Longos:
Alguns autores utilizam parágrafos longos para descrever minuciosamente alguma situação ou
personagem. Outros autores formam períodos muito longos, com muitos conectivos, como escolha
estética, podendo assumir diversos significados.
Neste exemplo, o parágrafo é tão extenso que chega a ser o capítulo como um todo.
Ex.:
“Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Adivinhais por quê. Era nomeado
herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez, nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro,
especificados os bens, casas na Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do Brasil
e de outras instituições, joias, dinheiro amoedado, livros, — tudo finalmente passava às mãos do
Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa, nem esmolas, nem dívidas. Uma só condição havia
no testamento, a de guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas Borba, nome que lhe
deu por motivo da grande afeição que lhe tinha. Exigia do dito Rubião que o tratasse como se fosse a
ele próprio testador, nada poupando em seu benefício, resguardando-o de moléstias, de fugas, de
roubo ou de morte que lhe quisessem dar por maldade; cuidar finalmente como se cão não fosse, mas
pessoa humana. Item, impunha-lhe a condição, quando morresse o cachorro, de lhe dar sepultura
decente em terreno próprio, que cobriria de flores e plantas cheirosas; e mais desenterraria os ossos
do dito cachorro, quando fosse tempo idôneo, e os recolheria a uma urna de madeira preciosa para
depositá-los no lugar mais honrado da casa.” (Quincas Borba, Machado de Assis)

 Conteúdo:
Descritivos: Parágrafos com muitos adjetivos, cujo objetivo é detalhar algum personagem, local ou
situação.

Ex.:
“É uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante, que realçavam o azul celeste do tapete
de riço recamado de estrelas e a bela cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis. A um lado duas
estatuetas de bronze dourado representando o amor e a castidade, sustentam uma cúpula oval de
forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento, bambolins de cassa finíssima.” (Senhora, José de
Alencar)

Dissertativos: Parágrafos que apresentam ideias e as defendem por meio de argumentos.

Ex.:
“Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a
supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a
condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o
caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As
batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a
montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em
paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse
caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos.
Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações
bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que

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o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que
nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao
vencedor, as batatas.” (Quincas Borba, Machado de Assis)

Narrativos: Parágrafos que efetivamente contam as ações das personagens e suas repercussões na
história.

Ex.:
“A coisa se deu assim. Depois do meu telegrama (lembram-se: o telegrama em que recusei duzentos
mil-réis àquele pirata), a Gazeta entrou a difamar-me. A princípio foram mofinas cheias de rodeios, com
muito vinagre, em seguida o ataque tornou-se claro e saíram dois artigos furiosos em que o nome mais
doce que o Brito me chamava era assassino. Quando li essa infâmia, armei-me de um rebenque e desci
à cidade.” (São Bernardo, Graciliano Ramos)

Poesia
Antes de entrar na estrutura da poesia em si, vamos observar os gêneros literários em que se
divide a poesia.
Gêneros
Os gêneros poéticos, também chamados de gêneros literários são divididos em três, de
acordo com suas estruturas formais e de conteúdo: lírica, épica e dramática.

Gênero lírico

• Poemas que falam sobre os sentimentos e estados de espírito, direcionados


diretamente ao leitor.
• As emoções e opiniões do eu-lírico são bastante evidentes.
• Engloba a poesia satírica, ou seja, aquela que promove sentimentos de escárnio.

Gênero épico

• Poemas em que são narrados grandes feitos heroicos, reais ou mitológicos.


• Os relatos são grandiosos e extensos, contando com muitas estrofes.
• Ilíada e Odisseia (Homero) e Os Lusíadas (Luís de Camões) são os poemas épicos
mais conhecidos.

Gênero dramático

• Na poesia dramática não há a figura de um narrador, ou seja, as personagens são


responsáveis por contar a própria história.
• Pode apresentar traços tanto épicos quanto líricos em seu conteúdo, porém sua
característica mais marcante é não ter narrador.
• É percursora do texto teatral.

A poesia é um texto tradicionalmente estruturado em versos, ou seja, em linhas encadeadas


normalmente de tamanho pequeno. A poesia se preocupa a estética, combinando sons e significados das
palavras com organizações sintáticas não necessariamente preocupadas com a norma culta. Quanto à
poesia, para interpretá-la é preciso prestar a atenção em: estrutura, métrica, composições e gêneros.

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Estrutura da poesia
Vamos partir do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa:

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Estes são os elementos básicos de um poema:

 Verso: cada uma das linhas do poema. Pode ter regularidade de tamanho ou não.

“Ó mar salgado, quanto do teu sal”

 Estrofe: conjunto de versos, que pode se estruturar de maneira regular ou não. Cada linha pulada
no poema representa uma mudança de estrofe

“Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”

 Rima: repetição fonética que ocorre em um intervalo. Identifica-se, principalmente, pelo som das
últimas palavras dos versos.

“Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

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ATENÇÃO: os esquemas de rimas costumam ser representados por letras, em que cada letra corresponde
a um som. Assim, na estrofe transcrita acima, o esquema de rimas seria AABBCC, em que A = “ena”, B =
“dor” e C = “eu”.

 Eu lírico ou voz lírica ou sujeito lírico: a pessoa que se expressa no poema. Não confunda com o
próprio poeta. Enquanto artista, um poeta pode falar sobre diversos assuntos e com diversos
pontos de vista. Veja, por exemplo, dois poemas de heterônimos* de Fernando Pessoa:

Álvaro de Campos Alberto Caeiro

“Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do “O meu olhar azul como o céu
[que as outras, É calmo como a água ao sol.
Acordar da Rua do Ouro, É assim, azul e calmo,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés, Porque não interroga nem se espanta”
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através
[da vigília e do sono.”

*heterônimos: são autores fictícios, com personalidade e estilo próprios. Um mesmo poeta pode assumir
diferentes personalidades e ter diversos heterônimos e cada um escrever de uma maneira.

Percebe-se aqui que quando assume a postura de Álvaro de Campos, o poeta escreve sobre a
cidade, a velocidade e as questões da vida urbana. Quando escreve como Alberto Caeiro, fala sobre o
campo, a natureza e a paz do campo. Apesar de ser o mesmo autor, o sujeito lírico de cada um dos poemas
é diferente.

Métrica

A métrica de um poema se dá pelo número de sílabas de um verso. Conta-se as sílabas até a última
sílaba tônica, ou seja, a sílaba forte da última palavra do verso. Isso ocorre porque o que dá ritmo a um
texto poético é o som das sílabas tônicas.

Observe o exemplo:

“Amor é fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói, e não se sente;” (Luís de Camões)

A/ mor / é / fo/ go /que ar/ de / sem / se / ver,


é / fe/ ri/ da / que / dói,/ e /não /se /sente;

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Esse trecho do poema de Camões mostra versos de dez sílabas. No segundo verso, percebe-se que
na palavra “sente”, “sen” é a sílaba tônica. Portanto, a contagem de sílabas vai até esse ponto.

Além disso, você reparou esse sinal no primeiro verso: ? Esse sinal indica a elisão. Ela ocorre
quando duas sílabas têm sons próximo e, quando lidas, acabam parecendo ser um só. Leia o primeiro
verso em voz alta. O “que arde” acaba sendo lido “quiarde”, assim mesmo, tudo junto. Por isso, “que ar”
conta como uma sílaba só.

Perceba a diferença de tamanho dos versos a partir do quadro abaixo:

PRINCIPAIS MÉTRICAS EXEMPLOS

Redondilha menor: verso de 5 “Não chores, meu filho;


sílabas poéticas Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.”
(Gonçalves Dias)

Redondilha maior: verso de 7 “Minha terra tem palmeiras,


sílabas poéticas Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”
(Gonçalves Dias)

Decassílabo: verso com 10 “Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!


sílabas poéticas
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!”
(Álvares de Azevedo)

Verso alexandrino ou “Quando, em prônubo anseio, a abelha as asas solta


dodecassílabo: verso com 12 E escala o espaço, — ardendo, exul do corcho céreo,
sílabas poéticas.
Louca, se precipita a sussurrante escolta
Dos noivos zonzos, voando ao nupcial mistério.”
(Olavo Bilac)

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Veja um verso embaixo do outro para perceber a diferença de tamanho entre eles:

5 sílabas: Não / cho/ res, / meu /filho


7 sílabas: Mi/ nha / te/ rra /tem /pal/meiras
10 sílabas: A/ deus,/ meus/ so/nhos,/ eu / pran/te/io e / morro!
12 sílabas: Quan/ do, em / prô/ nu/bo na/se/io, a/ be/ lha as / a/ sas / solta

Quando os versos não são regulares, eles podem ser entendidos de duas maneiras:
 Versos livres: versos sem métrica.

“Começo a conhecer-me. Não existo.


Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida…
Sou isso, enfim…”
(Álvaro de Campos)

 Versos brancos: versos sem rimas.

“Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...


Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...”
(Alberto Caeiro)

Composições
A composição é a organização regular de um poema de acordo com o número de versos por
estrofe. Apesar de haver inúmeras possibilidades de composição de um poema, estas são as principais
formas para o estudo dos vestibulares:
 Quadrilha ou quadra: poema formado por estrofes de quatro versos de sete sílabas cada uma.

Por quem foi que me trocaram


Por quem foi que me trocara
Quando estava a olhar pra ti?
Pousa a tua mão na minha
E, sem me olhares, sorri.

Sorri do teu pensamento


Porque eu só quero pensar
Que é de mim que ele está feito
E que o tens para mo dar.

Depois aperta-me a mão


E vira os olhos a mim...
Por quem foi que me trocaram

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Quando estás a olhar-me assim?


(Fernando Pessoa)

 Soneto: poema de 14 versos, organizados em quatro estrofes. As duas primeira estrofes são
quartetos (4 versos por estrofe) e as duas últimas estrofes são tercetos (três versos por estrofe).

Pálida à luz da lâmpada sombria,


sobre o leito de flores reclinada,
como a lua por noite embalsamada,
entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria


pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...


Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!


Por ti – as noites eu velei chorando,
por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
(Álvares de Azevedo)

 Haicai: poema de três versos em que o 1º verso possui 5 sílabas poéticas, o 2º verso possui 7
sílabas poéticas e o 3º verso possui 5 sílabas poéticas.

O Poeta
Caçador de estrelas.
Chorou: seu olhar voltou
com tantas! Vem vê-las!

(Guilherme de Almeida)

Intertextualidade
Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, entendendo qual a natureza
dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras não. Pode também aparecer
entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais.
Veja alguns exemplos para compreender melhor a ideia.

Intertextualidade explícita
Observe essa imagem:

AULA 08 – Interpretação de texto II 15


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Ela faz referência explícita à famosa capa do


álbum Abbey Road (1969), dos Beatles. Essa fotografia já
foi recriada por diversos artistas e com diversos
personagens. Aqui, colocamos alguns autores de língua
portuguesa no lugar dos integrantes da banda. Temos, da
esquerda para a direita, Clarice Lispector, Fernando
Pessoa, Machado de Assis e Carlos Drummond de
Andrade.

Intertextualidade implícita
Observe a comparação entre esses dois poemas:
Com licença poética Poema de Sete Faces
(Adélia Prado) (Carlos Drummond de Andrade)

Quando nasci um anjo esbelto, Quando nasci, um anjo torto


desses que tocam trombeta, anunciou: Desses que vivem na sombra
vai carregar bandeira. Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada. As casas espiam os homens
Aceito os subterfúgios que me cabem, Que correm atrás de mulheres
sem precisar mentir. A tarde talvez fosse azul
Não tão feia que não possa casar, Não houvesse tantos desejos
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. O bonde passa cheio de pernas
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro Pernas brancas pretas amarelas
linhagens, fundo reinos Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu
— dor não é amargura. coração
Minha tristeza não tem pedigree, Porém meus olhos
já a minha vontade de alegria, Não perguntam nada
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. (...)

Mulher é desdobrável. Eu sou.

AULA 08 – Interpretação de texto II 16


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Perceba que, nesse caso, a referência é implícita, ou seja, depende de uma interpretação mais
aprofundada para ser compreendida. Depende também de maior conhecimento por parte do leitor. Caso
não conhecesse o poema de Drummond, o leitor poderia não compreender essa referência.

Muitas vezes, o mesmo autor pode produzir textos que trabalham com a intertextualidade. Um
dos autores brasileiros que mais profundamente realiza esse diálogo entre obras de sua própria autoria é
Machado de Assis. Em nossa aula, usaremos muitos exemplos do autor.

Veja esse trecho da obra Quincas Borba (1892):

[CAPÍTULO IV]
ESTE QUINCAS BORBA, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias
Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que
ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia.
Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de
uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida, mas,
tão acanhada que os suspiros no namorado ficavam sem eco.
Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente
Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris
a levou.

Memórias póstumas de Brás Cubas foi lançado em 1881. Ele reaproveita a


personagem que dará nome ao romance de Quincas Borba, o filósofo. Isso
atesta um procedimento comum em Machado de Assis: a
intertextualidade com a própria obra. Sua intertextualidade tem muitas
vezes a função de humilhar o leitor, de mostrar a ele o quão despreparado
ele pode ser.

No trecho acima, a ironia de Machado de Assis fica evidente: ele duvida que
o leitor possa ter lido sua obra anterior e trata como se a leitura da obra anterior
fosse um favor que o leitor faz a ele.

Citação
Um dos tipos de intertextualidade possíveis é a citação. A citação é o ato de referenciar a fala de
outra pessoa. Ela pode ocorrer tanto de maneira direta quanto indireta.

Citação direta
Ocorre quando o autor coloca as palavras de outro autor em seu texto assim como elas foram
escritas e referencia a origem da citação.

AULA 08 – Interpretação de texto II 17


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Ex.:
CAPÍTULO XLVII
Talvez o Rio de Janeiro para ela fosse Botafogo, e propriamente a casa
de Natividade. O pai não apurou as causas da recusa; supô-las políticas,
e achou novas forças para resistir às tentações de D. Cláudia: "Vai-te,
Satanás; porque escrito está: Ao Senhor teu Deus adorarás, e a ele
servirás". E seguiu-se como na Escritura: "Então o deixou o Diabo; e eis
que chegaram os anjos e o serviram".
(Esaú e Jacó, Machado de Assis)

Citação indireta
Ocorre quando o autor cita as palavras de outro autor, reescrevendo o texto original ou apenas
citando as palavras sem referenciar a origem.
Ex.:
(...) Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de
regresso. Soeur Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa
nenhuma; tal qual como na lenda francesa. Nada mais do que a poeira
da estrada e o capinzal dos morros.
(O espelho, Machado de Assis)

Essa canção é popularmente conhecida na França. Ela faz referência à personagem irmã Anne, do
conto A Barba Azul, de Charles Perrault. O conto fala sobre um homem muito rico que, no entanto, por
possuir uma barba azul, era desprezado pelas moças. Ele vivia em um palácio suntuoso, com tapeçarias,
ouro, prata e espelhos diversos, capazes inclusive de distorcer a imagem de quem se vê neles.
Anne é a irmã da mulher que acaba tendo que se casar com Barba Azul. Ela é uma irmã boa –
diferente de muitas dos contos de fadas. Essa fala – que em português significa “Irmã Anne, irmã Anne,
você não vê ninguém chegar?” – é proferida pela irmã quando precisa de ajuda, pois Barba Azul está
ameaçando matá-la. Anne fica no alto de uma torre, esperando ajuda e, de quando em quando, sua irmã
a pergunta isso.
O conto “O espelho”, de Machado de Assis, fala sobre um homem que, ao se encontrar sozinho
em uma casa distanciada da sociedade, passa a questionar sua própria identidade, não sendo mais capaz
de se reconhecer. No momento em que está ansiando pela chegada de alguém na casa, a personagem faz
essa citação.

Epígrafe
Uma epígrafe é frase que vem no início de um livro, um capítulo, um conto etc.. Ela
funciona como um tema do texto, ou seja, resume o sentido ou mensagem da obra como um
todo. São citações diretas de outros autores.

AULA 08 – Interpretação de texto II 18


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Ex.:

“Eu sou pobre, pobre, pobre,


vou-me embora, vou-me embora
.................................
Eu sou rica, rica, rica, vou-me embora, daqui!...”
(Cantiga antiga)

“Sapo não pula por boniteza,


mas porém por precisão.”
(Provérbio capiau)
(A hora e a vez de Augusto Matraga, Guimarães Rosa)

No início do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, há duas epígrafes:
um trecho de uma canção antiga e um provérbio capiau*. Perceba que nenhum desses textos possui autor
conhecido. São fruto de conhecimentos populares, sem autoria definida. Isso é um traço muito comum
desse autor: o uso de referências ligadas ao popular.

*capiau: regionalismo que significa caipira ou roceiro, muitas vezes com sentido pejorativo.

O conto relata a história de Nhô Augusto, um homem que vivia


uma vida mundana, com bebida, brigas e saideiras. Ele era casado com
Dona Dionóra, mas a traía de maneira contumaz. Cansada do
tratamento que recebia, Dona Dionóra foge junto com a filha e
encontra um novo companheiro. Essa passagem possivelmente se
relaciona com a cantiga antiga utilizada como epígrafe do conto em
que uma voz poética feminina anuncia sua partida.

Já o provérbio capiau, pode ser interpretado à luz das


mudanças de comportamento de Nhô Augusto. O sapo não pula
porque é bonito, mas sim porque é necessário. Nhô Augusto, da
mesma forma, não muda seu comportamento e se torna um homem virtuoso simplesmente porque era
“bonito”, mas sim por necessidade: sua postura era uma das principais causas de suas adversidades.

Paráfrase
A paráfrase é uma reescrita do texto. Ocorre quando um autor reescreve, com suas próprias
palavras, o texto de outro, mantendo o sentido original. Veja um exemplo:

AULA 08 – Interpretação de texto II 19


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Texto Original Paráfrase

Comprar por impulso e se livrar de bens que já


não são atraentes, substituindo-os por outros Ser completo enquanto consumidor significa
mais vistosos, são nossas emoções mais ser completo na vida. As sensações que mais
estimulantes. Completude de consumidor nos estimulam vêm da compra por impulso e
significa completude na vida. de livrar-nos de coisas menos atrativas,
trocando-as por outras mais interessantes.
(Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos
nós?, 2015. Adaptado.)

Observe as possíveis estratégias utilizadas aqui para criar a paráfrase:

 Inversão da ordem das informações – inverter os períodos ou a ordem das orações ajuda a
diferenciar os textos.

 Sinônimos – trocar palavras por outras de sentido equivalente é um modo de reescrever sem
perder o sentido original. Ex.: “atraente” é substituído por “atrativas” na paráfrase. Termos
genéricos (como a palavra “interessante” que utilizamos na nossa paráfrase, por exemplo)
também funcionam.

 Troca de classes gramaticais – muitas vezes, o mesmo radical pode dar origem a palavras de
diferentes classes gramaticais. O radical “estimul-“, por exemplo, gera as palavras “estimulantes”
e “estimulam”, respectivamente, adjetivo e verbo.

Apenas mudar a ordem dos termos do texto não configura paráfrase.


Você precisa reescrever com suas próprias palavras e, se for utilizar algo do texto original, cite o autor.

Paródia
Uma paródia acontece quando se faz uma releitura de uma obra, ou seja, uma reinterpretação de
algo que já existe. Ela costuma assumir tom jocoso ou irônico e, frequentemente, parte de uma obra
muito conhecida, de modo que a referência é rapidamente reconhecida.

Veja esse poema consagrado de Gonçalves Dias. É seu poema mais conhecido de exaltação à pátria.
Como muitos escritores que se encontravam longe do Brasil, sua terra natal se mostrava um espaço
idealizado pela saudade.

AULA 08 – Interpretação de texto II 20


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Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar – sozinho – à noite –


Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras;
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho – à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que eu desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Esse poema será revisitado muitas vezes ao longo do tempo, por diversos autores. Principalmente
para os Modernistas, a primeira geração do Romantismo será fonte de inspiração. Veja trechos de
diversas obras inspiradas na Canção do Exílio:

“ “ “
Minha terra tem macieiras da Minha terra tem palmares Minha terra não tem palmeiras...
Califórnia Onde gorjeia o mar E em vez de um mero sabiá,
onde cantam gaturamos de Os passarinhos daqui Cantam aves invisíveis
Veneza.
Não cantam como os de lá Nas palmeiras que não há.

” ” ”
Murilo Mendes em Canção do Oswald de Andrade em Canto Mario Quintana em Uma canção
Exílio de Regresso à Pátria

AULA 08 – Interpretação de texto II 21


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3- Exercícios

3.1 – Lista de Exercícios


(ITA - 2018)

Texto 1

Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não
havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a
fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava
bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão,
é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é
muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige
uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções
diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às
geleiras do Ártico.

Da mesma forma que ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos que aprender a ser
adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno.
Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas
comunidades agrárias o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos
afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de
reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois
da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

AULA 08 – Interpretação de texto II 22


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A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades
ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes
e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar
que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos
antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-
se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30
anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida
não passava dos 40 anos.

A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela,
gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo
devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença
da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de
morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que
pouquíssimos conhecerão.

Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria
para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia
devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência
física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição
e continuam atentos às transformações do mundo.

Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a


juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos
15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta
própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões
afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época.

Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem “cabeça de jovem”. É considerá-lo
mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez. Ainda que
maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do
contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos
anteriormente.

VARELLA, D. A arte de envelhecer. Adaptado. Disponível em


<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/2016/01/1732457> Acesso em: mai. 2017.

Texto 2

a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer


a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer

AULA 08 – Interpretação de texto II 23


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os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer


não quero morrer pois quero ver
como será que deve ser envelhecer
eu quero é viver pra ver qual é
e dizer venha pra o que vai acontecer
eu quero que o tapete voe / no meio da sala de estar
eu quero que a panela de pressão pressione
e que a pia comece a pingar
eu quero que a sirene soe
e me faça levantar do sofá
eu quero pôr Rita Pavone*
no ringtone do meu celular
eu quero estar no meio do ciclone
pra poder aproveitar
e quando eu esquecer meu próprio nome
que me chamem de velho gagá
pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer
não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr.

(ANTUNES, A. Envelhecer. Álbum Ao vivo lá em casa. 2010.)


*cantora italiana de grande sucesso na década de 1960.

O ponto convergente entre os textos 1 e 2 é

a) o reconhecimento de aspectos positivos da velhice.

b) a condenação da discriminação social com relação ao idoso.

c) a comparação entre os diferentes estilos de vida dos idosos.

d) a superação das experiências traumáticas vividas.

e) o descompasso entre comportamento e idade biológica das pessoas.

(ITA - 2018)

“Eu quero pôr Rita Pavone no ringtone do meu celular”. O trecho selecionado indica que o autor

a) busca conciliar elementos de épocas distintas.

b) acredita que a velhice seja apenas uma construção social.

AULA 08 – Interpretação de texto II 24


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c) necessita estar acompanhado de tecnologias modernas.

d) cria diversas formas de lidar bem com a velhice.

e) atribui características humanas ao não humano.

(ITA - 2018)

O trecho que critica explicitamente aqueles que não aceitam a velhice é:

a) e quando eu esquecer meu próprio nome que me chamem de velho gagá

b) não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer

c) pois ser eternamente adolescente nada é mais démodé

d) a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer

e) os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer

Texto para as questões 4, 5 e 6

O texto abaixo é uma das liras que integram Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga

1. Em uma frondosa Estava brincando,


Roseira se abria Aos ais acudiu.
Um negro botão!
Marília adorada 4. Mal viu a rotura,
O pé lhe torcia E o sangue espargido,
Com a branca mão. Que a Deusa mostrou,
Risonho beijando
2. Nas folhas viçosas O dedo ofendido,
A abelha enraivada Assim lhe falou:
O corpo escondeu.
Tocou-lhe Marília, 5. Se tu por tão pouco
Na mão descuidada O pranto desatas,
A fera mordeu. Ah! dá-me atenção:
E como daquele,
3. Apenas lhe morde, Que feres e matas,
Marília, gritando, Não tens compaixão?
Co dedo fugiu. (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu &
Amor, que no bosque Cartas Chilenas. 10. ed. São Paulo: Ática, 2011.)

AULA 08 – Interpretação de texto II 25


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(ITA – 2018)

Neste poema,

I. há o relato de um episódio vivido por Marília: após ser ferida por uma abelha, ela é socorrida pelo
Amor.

II. o Amor é personificado em uma deidade que dirige a Marília uma pequena censura amorosa.

III. a censura que o Amor faz a Marília é um artificio por meio do qual o sujeito lírico, indiretamente,
dirige a ela uma queixa amorosa.

IV. o propósito maior do poema surge, no final, no lamento que o sujeito lírico dirige à amada, que
parece fazê-lo sofrer.

Estão corretas:

a) I, II e III apenas.

b) I, II e IV apenas.

c) I e III apenas.

d) II, III e IV apenas.

e) todas.

(ITA – 2018)

O poema abaixo dialoga com as liras de Marília de Dirceu.

Haicai tirado de uma falsa lira de Gonzaga


Quis gravar “Amor”
No tronco de um velho freixo:
“Marília” escrevi.

(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.)

Dentre as marcas mais visíveis de intertextualidade, encontram-se as seguintes, EXCETO

a) o título do poema menciona o autor de Marília de Dirceu.

b) ambos os textos pertencem à mesma forma poética.


c) no poema, Marília é, assim como em Gonzaga, o objeto amoroso.

AULA 08 – Interpretação de texto II 26


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d) tal como nos textos árcades, no de Bandeira, a natureza é o cenário do amor.

e) este poema de Bandeira possui, como os de Gonzaga, teor sentimental.

(ITA - 2018)

Haicai tirado de unia falsa lira de Gonzaga


Quis gravar “Amor”
No tronco de um velho freixo:
“Marília” escrevi.

(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.)

O poema abaixo retoma imagens presentes nas liras de Marília de Dirceu e no haicai de Manuel
Bandeira, apresentados acima.

Passeio no bosque
o canivete na mão não deixa
marcas no tronco da goiabeira

cicatrizes não se transferem


(CACASO. Beijo na boca. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.)

Algumas pessoas, ao gravarem nomes, datas etc., nos troncos das árvores, buscam externar afetos
ou sentimentos. Esse texto, contudo, registra uma experiência particular de alguém que, fazendo
isso,

a) se liberta das dores amorosas, pois as exterioriza de alguma forma.

b) percebe que provocará danos irreversíveis à integridade da árvore.

c) busca refúgio na solidão do espaço natural.

d) se dá conta de que é impossível livrar-se dos sentimentos que o afligem.

e) encontra dificuldade em gravar o tronco com um simples canivete.

AULA 08 – Interpretação de texto II 27


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(ITA - 2017)

Irene no céu O poema abaixo é de Alcides Villaça.

Irene preta Bach no céu


Para Manuel Bandeira
Irene boa
Irene sempre de bom humor. Imagino Johann Sebastian Bach entrando no
céu:
Imagino Irene entrando no céu:
– Licença, meu branco! - Com licença, São Pedro?
E São Pedro bonachão: - Faz favor, João. Só não repare a bagunça.
– Entra, Irene. Você não precisa pedir
(Em: Ondas curtas. São Paulo: Cosac Naify,
licença.
2014.)
(Em: Manuel Bandeira, Libertinagem. Rio de
Janeiro: Pongetti, 1930.)

Dada a explícita relação intertextual entre Bach no céu e Irene no céu, é correto afirmar que

a) Bach no céu, por ser um poema dedicado a um grande compositor, se opõe frontalmente ao
primeiro poema, dedicado a uma mulher simples.

b) a linguagem, no poema de Villaça, é formal porque ele retrata um grande compositor.

c) inexiste afetividade em Bach no céu, pois o sujeito lírico não conheceu Bach pessoalmente.

d) a admiração do sujeito lírico por Bach não é, na visão dele, compartilhada por São Pedro.

e) Bach no céu homenageia, ao mesmo tempo, Johann Sebastian Bach e Manuel Bandeira.

(ITA - 2017)

AULA 08 – Interpretação de texto II 28


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Analisando as duas tirinhas, NÃO se pode afirmar que

a) Calvin se revela incapaz de compreender o noticiário, diferentemente do pai de Mafalda.

b) Calvin e Mafalda, apesar de crianças, são críticos em relação ao conteúdo televisivo.

c) a reação de Calvin e a de Mafalda são diferentes diante do conteúdo televisivo.

d) ambas tratam da relação entre telespectador e mídia televisiva.

e) ambas apresentam personagens que questionam o noticiário veiculado pela TV.

(ITA - 2016)

A adivinha é um gênero da oralidade popular que formula construções como: “O que é, o que é: tem
escamas mas não é peixe, tem coroa mas não é rei? O abacaxi!. Ela consiste num jogo enigmático
de perguntas que, por conter dualidades e oposições, leva o ouvinte a pensar. Considerando essa
definição, leia o poema abaixo de Orides Fontela.

Adivinha

O que é impalpável
mas
pesa

o que é sem rosto


mas
fere

o que é invisível
mas
dói.

(Em: Teia. São Paulo: Geração Editorial, 1996.)

AULA 08 – Interpretação de texto II 29


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Considere as seguintes afirmações:

I. O poema mantém alguns traços formais da adivinha popular.

II. Como a adivinha popular, a do poema possui uma única resposta, que é um elemento concreto.

III. A adivinha do poema é uma reinvenção da adivinha popular.

Está(ão) correta(s) apenas:

a) I.

b) I e II.

c) I e III.

d) II.

e) II e III.
Comentários:
O item I está correto, pois a escrita do poema lembra o jogo de adivinha de “o que é, o que é”.
O item II está incorreto, pois não é possível afirmar que haja apenas uma resposta para as
adivinhações.
O item III está correto, pois há uma reimaginação lírica de uma adivinhação simples, normalmente
ligada a uma explicação metafórica de um item concreto, como o abacaxi.
Gabarito: C
(ITA - 2014)

Considere o poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, à luz da reprodução da pintura de


Edvard Munch a que ele se refere.

O grito (Munch)

A natureza grita, apavorante.

Doem os ouvidos, dói o quadro.

AULA 08 – Interpretação de texto II 30


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O texto de Drummond

I. traduz a estreita relação entre a forma e o conteúdo da pintura.

II. mostra como o desespero do homem retratado repercute no ambiente.

III. contém o mesmo exagero dramático e aterrorizante da pintura.

IV. interpreta poeticamente a pintura.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I e II.

b) apenas I, II e IV.

c) apenas II, III e IV.

d) apenas III e IV.


e) todas.

(ITA - 2014)

O poema abaixo é de Cecília Meireles:

Epigrama 8

Encostei-me em ti, sabendo bem que eras somente onda.


Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí.

É CORRETO afirmar que o texto

a) contém uma expressão exagerada de dor e tristeza, decorrente do fim de um envolvimento


amoroso.

b) fala sobre o rompimento de duas pessoas, que, por já ser previsto, não causou dor no sujeito
lírico.

c) registra o término de um envolvimento afetivo superficial, pois os amantes não se entregaram


totalmente.

AULA 08 – Interpretação de texto II 31


Prof. Celina Gil

d) contém ambiguidade, pois, apesar de o sujeito lírico dizer que não chorou, o poema exprime
tristeza.

e) garante que a forma mais aconselhável de lidar com as desilusões é estarmos de antemão
preparados para ela.

(ITA - 2013)

O poema abaixo traz a seguinte característica da escola literária em que se insere:

Violões que Choram...

Cruz e Sousa

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,


soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,


noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,


anseio dos momentos mais saudosos,
quando lá choram na deserta rua
as cordas vivas dos violões chorosos.

[...]

a) tendência à morbidez.

b) lirismo sentimental e intimista.

c) precisão vocabular e economia verbal.

d) depuração formal e destaque para a sensualidade feminina.

e) registro da realidade através da percepção sensorial do poeta.

AULA 08 – Interpretação de texto II 32


Prof. Celina Gil

(ITA - 2013)

O segmento do poema ao lado apresenta

Eu e o sertão

Patativa do Assaré

Sertão, arguém te cantô


Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistero
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá.
[...]

(Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1982)

a) um testemunho de quem conhece o ambiente retratado.


b) humor e ironia numa linguagem simples típica do sertanejo.

c) uma descrição detalhada do espaço.

d) a percepção do poeta de que seu canto é a melhor das interpretações.

e) perceptível distanciamento entre o poeta e o objeto do seu canto.

(ITA - 2012)

TEXTO 1

Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S. Paulo que a abertura de uma


estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil imaginar
que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com
a inexistência de transporte público de massa por ali.

AULA 08 – Interpretação de texto II 33


Prof. Celina Gil

Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se
refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em desmentir
que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana.

Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte


coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas.
Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de
metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em uma
determinada cidade.

Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta


pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa.

A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área,


não destruí-la.

Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, 2a avenida ficou menos tétrica, quase
bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus
sem dar vazão a desembarques, 3a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de
relações públicas.

Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das cidades alemãs
e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o
Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados – em formato de
livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros porque a ideia ali era tentar
convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte
público.

Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão*, o Godzilla do centro


de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos
materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. 5Se forem como os antigos bondes,
ótimo.

Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que


beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do
Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa
circular por São Paulo.

(Raul Justes Lores. Folha de S. Paulo, 07/10/2010. Adaptado.)

(*) Elevado Presidente Costa e Silva, ou Minhocão, é uma via expressa que liga o Centro à Zona
Oeste da cidade de São Paulo.

Considere as correlações entre o texto 1 e a tirinha expostas abaixo.

AULA 08 – Interpretação de texto II 34


Prof. Celina Gil

I. O personagem que fala tem uma postura semelhante à de parte de moradores de Higienópolis em
relação às pessoas que representariam a “gente diferenciada”.

II. Os personagens que se encontram fora do carro no segundo quadro corresponderiam à “gente
diferenciada” a que se refere parte dos moradores de Higienópolis.

III. No segundo quadro, o carro seria comparável aos muros e fortalezas que separam parte dos
moradores de Higienópolis do “Brasil real”.

Estão corretas:

a) I e II, apenas.

b) I e III, apenas.

c) II, apenas.

d) II e III, apenas.

e) todas.

(ITA - 2012)

Considere o poema abaixo, de Ana Cristina César (1952-1983).

Fisionomia
não é mentira
é outra
a dor que dói
em mim
é um projeto
de passeio
em círculo
um malogro

AULA 08 – Interpretação de texto II 35


Prof. Celina Gil

do objeto
em foco
a intensidade
de luz
de tarde
no jardim
é outra
a dor que dói

O título do poema está relacionado ao eu lírico por um conflito de natureza

a) amorosa.

b) social.
c) física.

d) existencial.

e) imaginária.

(ITA – 2019)

Assinale a alternativa que exprime o teor crítico da charge.

a) A pichação somente contribui para o aumento da poluição visual da cidade.

b) É necessário investir efetivamente em educação para a conscientização ambiental.

c) Há incoerência entre a proibição governamental e sua efetiva fiscalização.

AULA 08 – Interpretação de texto II 36


Prof. Celina Gil

d) A pichação é uma forma ilegítima de protesto social e educacional.

e) Os pichadores demonstram total indiferença com o meio ambiente e a lei.

(ITA - 2017)

http://2.bp.blogspot.com/_wBWh8NQAZ78/TBWEMQ8147I/AAAAAAAAACE/zmfW9c8uAKk/s1600/Tirinha_Sensacionalismo.jpg.
(Acesso em 12/05/2016)

Os dois primeiros quadros da tirinha criam no leitor uma expectativa de desfecho que não se concretiza,
gerando daí o efeito de humor. Nesse contexto, a conjunção e estabelece a relação de

a) conclusão.

b) explicação.

c) oposição.

d) consequência.

e) alternância.

(ITA – 2016)
O efeito de humor da tirinha abaixo se deve

a) à postura desobediente de Mafalda diante da mãe.

b) à resposta autoritária da mãe de Mafalda à pergunta da filha.

AULA 08 – Interpretação de texto II 37


Prof. Celina Gil

c) ao uso de palavras em negrito e cada vez maior do 2º ao 4º quadrinho.

d) ao fato de aparecer apenas a fala da mãe de Mafalda e não sua imagem.

e) aos sentidos atribuídos por Mafalda para as palavras “títulos” e “diplomamos”.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES:

FELICIDADE CLANDESTINA

Clarice Lispector

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um
busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois
bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de
histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho
barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem
do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra
bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho.
Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias,
altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de
ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados
os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.
E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte
e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava
devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim
numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado
o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar,
mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que
era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa
do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo
mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

AULA 08 – Interpretação de texto II 38


Prof. Celina Gil

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e
diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo.
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.
Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir
com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não
escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer,
às vezes adivinho. Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer
sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o
livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra
menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos
espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa,
apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de
sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras
pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até
que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro
nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada
da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida
e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se
refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E
você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo
tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não
disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que
segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até
chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.
Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei
ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-
o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a
felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como
demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

AULA 08 – Interpretação de texto II 39


Prof. Celina Gil

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase
puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

(Efomm - 2016)

Analise as afirmativas abaixo e assinale a opção INCORRETA.


a) Apesar de todos os defeitos, a menina má era agraciada com algo que a tornava privilegiada: era
filha de pai dono de livraria. E isso a tornava superior a todas as suas amigas.

b) A menina má era irônica, pois seu presente favorito para as amigas eram cartões postais da loja
do pai. Ela dava a entender que só ela tinha acesso aos livros.

c) O livro representa um fator de domínio sobre a menina boa. Ele passa a ser usado como estratégia
de poder e dominação pela menina má.

d) A introdução do conto apresenta as duas protagonistas da narrativa, salientando os aspectos


negativos de uma, que serão bem mais evidentes que os da outra.

e) A narradora, por ser menos favorecida, quebrou os paradigmas da diferença social e conseguiu o
livro em razão da sua insistência e de seu amor aos livros. Desse modo, ela conseguiu ter acesso ao
objeto desejado.

(Efomm - 2016)

A narradora sutilmente fala da inveja, alavancando o desenvolvimento do tema. É o que se percebe


na opção:

a) Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho
barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai.

b) Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a
implorar-lhe as humilhações a que ela me submetia (...)

c) Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias,
altinhas, de cabelos livres.

d) Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía ‘As reinações de Narizinho’, de Monteiro Lobato.

e) Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava
devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

AULA 08 – Interpretação de texto II 40


Prof. Celina Gil

(Efomm - 2016)

Assinale a passagem que demonstra estar a personagem à beira da exaustão.

a) Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda (...)

b) Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer (...)

c) E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

d) Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa,
apareceu sua mãe.

e) Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar.

(Efomm - 2016)

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. Quanto à relação da
menina com o livro, é INCORRETO afirmar que

a) o encontro com seu livro-amante passa a ser o próprio ato de leitura, que ganha dimensões mais
sedutoras à medida que é adiada.

b) a felicidade clandestina da menina boa era mostrar à menina má que o livro passou a ser dela.

c) ela encara o livro como uma verdadeira personificação, dando-lhe um valor especial.

d) a menina atribui ao livro sentimentos e intenções positivas.

e) a felicidade clandestina da menina era “esquecer” que estava com ele para depois ter a
“surpresa” de achá-lo.

(Efomm - 2016)

As palavras da narradora ilustram o comportamento da menina má que, como bruxa dos contos de
fadas, tripudia sobre a menina inocente. Assinale a opção em que NÃO se confirma essa afirmação.

a) Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu
não disse nada.

b) O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico.

c) Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho.

d) (...) a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta,


exausta, ao vento das ruas de Recife.
e) Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho.

AULA 08 – Interpretação de texto II 41


Prof. Celina Gil

Texto para as próximas questões:

Perdoando Deus

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem
pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção
sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui
percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem
deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-
me que me sentia satisfeita com o que via.

Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus,
que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor
senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo
isso “fosse mesmo” o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem
nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-
Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo,
e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave,
amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E
assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor
apenas livre.

E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada
pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia
o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão
encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-
se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo.
O meu medo desmesurado de ratos.

Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca
infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e
o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contiguidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo.
Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não
podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa
que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro
como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual
não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua
um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me
alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa
e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de
puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus
era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui
decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança
poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado podia me
esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia
encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu,
olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que
Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.

AULA 08 – Interpretação de texto II 42


Prof. Celina Gil

Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou
contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou
contar – não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele – mas vou
contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o
que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.

...mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta
para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático
errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões,
é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.

É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão
e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É
porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero
amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um
mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam
com brutalidade, pois sou muito teimosa.

É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria
o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que
nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que
entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o
formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido
que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque
o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a
distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a
morte de um rato.

Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive
os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem
lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo
de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha
natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada:
será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi
amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim,
estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me
submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de
mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não
me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus,
Ele não existe.

Clarice Lispector, em “Felicidade clandestina”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Pode-se identificar como principais marcas estético-discursiva do texto

AULA 08 – Interpretação de texto II 43


Prof. Celina Gil

a) linguagem linear e tempo psicológico.

b) fluxo de pensamento e digressões.

c) predominância de verbos no subjuntivo.

d) uso de palavras em diferentes idiomas.

e) afastamento da norma culta padrão.

(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Pode-se afirmar, acerca do texto:


I. Trata dos pensamentos de uma narradora de voz feminina sobre seus sentimentos em relação ao
mundo.

II. Produz questionamentos sobre a existência ou não de Deus a partir de uma sensação de amor pelo
mundo.

III. O rato é uma construção metafórica, que deve ser entendida por extensão como “adversidades” ou
“contrariedades”.

IV. A narradora finaliza o texto compreendendo que deseja um mundo de livre e de paz por não sentir-
se assim ela mesma.

Estão corretas as afirmativas

a) I, III e IV.

b) I, II e III.

c) II, III e IV.

d) I e IV.

e) todas.

(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Assinale a alternativa que apresenta o aparecimento da fala de um interlocutor imaginário no meio da


fala da narradora, como se houvesse o comentário de alguém externo sobre um pensamento dela.

AULA 08 – Interpretação de texto II 44


Prof. Celina Gil

a) “Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e
reverência.”

b) “Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo.”

c) “Deus era bruto.”

d) “não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele”

e) “Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha
natureza?”

(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Entre os parágrafos 6 e 8, a narradora faz uma grande repetição do uso da palavra “porque”. Essa opção
estética se dá com o objetivo de

a) mostrar suas dúvidas e questionamentos acerca de sua própria identidade, por não ter
mais certeza do que odeia ou não no mundo.

b) responder de diferentes maneiras e a partir de diferentes prismas os motivos que


levaram Deus a fazer a narradora encontrar com algo que lhe causava repulsa.

c) questionar os propósitos divinos ao criar um mundo feito de perfeição e carinho, quando


os homens na verdade não são merecedores disso.

d) tentar entender por que motivo ela sente tanto medo de roedores desde pequena,
fazendo um levantamento das situações que criaram esse sentimento.

e) investigar que tipo de ações Deus poderia fazer contra ela para vingar-se do fato de que
ela amava tanto o mundo de maneira tão pura.

(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Uma Galinha
Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém,
ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença,
não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

AULA 08 – Interpretação de texto II 45


Prof. Celina Gil

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três
lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um
grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um
telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada
com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção
de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde
esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa.
De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais
selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum
auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa
o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha
tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas
vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela
para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é
que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se
fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e
penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no
chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e
indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta.
Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha
mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os
olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez
aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal
porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O
que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O
pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

AULA 08 – Interpretação de texto II 46


Prof. Celina Gil

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina,
de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em
quando ainda se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele estado!” A galinha tornara-se a
rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos,
usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma
pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás
da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e
vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra
o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro
da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente.
Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso,
quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no
começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo
Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.

Assinale a opção que apresenta a afirmativa INCORRETA sobre o texto lido

a) A galinha acaba sendo tratada como a rainha da casa após as pessoas se sentirem
comovidas com o fato de que ela botou um ovo e começou a chocá-lo na frente de todos.

b) É possível afirmar, a partir do modo como o texto é escrito e das estruturas dos diálogos,
que a narradora do conto é a menina, que conta sua perspectiva do evento ocorrido.

c) A galinha é descrita ora de maneira realista, como quando ao apontados seus trejeitos,
ora de maneira humanizada, como quando se supõe seus sentimentos e desejos.

d) Há um movimento de esquecimento do afeto para com a galinha – não justificado de


maneira explícita – que norteia o desfecho da história dessa personagem.

e) Há uma construção narrativa elaborada para a fuga da galinha da morte, associando seu
comportamento a uma grande coragem, que a família entende advir da maternidade.

AULA 08 – Interpretação de texto II 47


Prof. Celina Gil

(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

Do nosso sangue

Andamos nos caminhos vendo flores morenas

Os olhares dos milênios no sangue da América

Somos o desenho riscado ao luar da esperança

Atravessamos as brisas, os dias de sol…

Batemos sempre forte por livres amanhãs

Não perdoamos os que deixaram abatidos nossos

antigos irmãos que diziam que a terra não havia de

ser vendida

Que não se renderam e deixaram a vida


Deixaram a luta para que outras mãos empunhassem a lança

A lança da revolta e da justiça

Do dia trevoso e sem deuses

Por que eles não vieram?

Se gostavam de sangue por que não vieram?

Seguimos com o nosso, nossa força

Estamos aqui!

Temos outros que são pequenos

Estes acariciamos e damos vida, para que

perpetue a paz nos passos que damos

E não seremos silêncio

Bravos seguimos.

(Odilon Machado de Lourenço. Disponível em https://poetadagarrafa.wordpress.com/1-poemas-sobre-historia/


Acesso em 16 fev. 2021)

Analisando o contexto do poema, percebe-se que

a) o perdão será demorado e construído ao final da batalha travada.

b) o abandono dos deuses simboliza a derrota iminente na luta travada.

AULA 08 – Interpretação de texto II 48


Prof. Celina Gil

c) o eu lírico, junto a seus iguais, permanecerá na luta de seus irmãos.

d) a luta é vã e, por isso, todos silenciaram, exceto o eu lírico do poema.

Texto para as próximas questões

(Disponível em <https://www.facebook.com/tirasarmandinho/posts/3234704826574801/> Acesso em 16 fev. 2021)

(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

A relação estabelecida entre a linguagem verbal e a não verbal indica que Armandinho

a) deseja cursar biologia, dada a sua relação com os animais.

b) deseja cursar medicina, dada a sua importância social.

c) deseja cursar jornalismo, dada a sua curiosidade.

d) deseja cursar história, pela construção do cartaz.

(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

No último quadrinho, o texto verbal apresenta-se como

a) ambíguo.

b) incoerente.

c) pleonástico.

d) prolixo.

AULA 08 – Interpretação de texto II 49


Prof. Celina Gil

Texto para as próximas questões:

Dois quadros

Na seca inclemente do nosso Nordeste,

O sol é mais quente e o céu mais azul

E o povo se achando sem pão e sem veste,

Viaja à procura das terras do Sul.

De nuvem no espaço, não há um farrapo,

Se acaba a esperança da gente roceira,

Na mesma lagoa da festa do sapo,

Agita-se o vento levando a poeira.

Disponível em: www.revista.agulha.com.br. Acesso em: 23 abr. 2020 (fragmento).

(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

Segundo o eu lírico, a seca

a) deixa as pessoas em condições desumanas.

b) deve ser aproveitada no verão por conta do sol.

c) obriga as pessoas a permanecerem inertes.

d) leva para longe os problemas humanos.

e) gera esperança em dias melhores no Nordeste.

(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

O uso dos verbos no presente indica que a seca

a) é passageira e momentânea.

b) ocorre somente naquele momento.

c) repete-se em um círculo eterno.

d) não ocorre com frequência.

e) está prestes a acabar.

AULA 08 – Interpretação de texto II 50


Prof. Celina Gil

Texto para as próximas questões

Como os campos

Marina Colasanti

Preparavam-se aqueles jovens estudiosos para a vida adulta, acompanhando um sábio e ouvindo
seus ensinamentos. Porém, como fizessse cada dia mais frio com o adiantar-se do outono, dele se
aproximaram e perguntaram:

– Senhor, como devemos vestir-nos?

– Vistam-se como os campos - respondeu o sábio.

Os jovens então subiram a uma colina e durante dias olharam para os campos. Depois dirigiram-se
à cidade, onde compraram tecidos de muitas cores e fios de muitas fibras. Levando cestas
carregadas, voltaram para junto do sábio. Sob o seu olhar, abriram os rolos das sedas, desdobraram
as peças de damasco e cortaram quadrados de veludo, e os emendaram com retângulos de cetim.
Aos poucos, foram criando, em longas vestes, os campos arados, o vivo verde dos campos em
primavera, o pintalgado da germinação. E entremearam fios de ouro no amarelo dos trigais, fios de
prata no alagado das chuvas, até chegarem ao branco brilhante da neve. As vestes suntuosas
estendiam-se como mantos. O sábio nada disse.

Só um jovem pequenino não havia feito sua roupa. Esperava que o algodão estivesse em flor, para
colhê-lo. E quando teve os tufos, os fiou. E quando teve os fios, os teceu. Depois vestiu sua roupa
branca e foi para o campo trabalhar.

Arou e plantou. Muitas e muitas vezes sujou-se de terra. E manchou-se do sumo das frutas e da
seiva das plantas. A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato. Plantou e colheu. A
roupa rasgou-se, o tecido puiu-se. O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, costurou
remendos onde o pano cedia. E quando a neve veio, prendeu em sua roupa mangas mais grossas
para se aquecer.

Agora a roupa do jovem pequeno era de tantos pedaços, que ninguém poderia dizer como havia
começado. E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para receber a
primavera, um pássaro o confundiu com o campo e veio pousar no seu ombro. Ciscou de leve entre
os fios, sacudiu as penas. Depois levantou a cabeça e começou a cantar.

Ao longe, o sábio, que tudo olhava, sorriu.

Colasanti, M. Mais de 100 histórias maravilhosas - 1.ed. – São Paulo: Global, 2015.

(EEAR – 2020/1)

Em qual alternativa há um trecho do texto que confirma que o jovem pequenino realmente vestiu-
se como os campos, conforme aconselhou o velho sábio?

AULA 08 – Interpretação de texto II 51


Prof. Celina Gil

a) “E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para receber a primavera, um
pássaro o confundiu com o campo e veio pousar no seu ombro”.

b) “A roupa do jovem pequenino era de tantos pedaços, que ninguém poderia dizer como havia
começado”.

c) “O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, costurou remendos onde o pano cedia”.

d) “A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato”.

(EEAR – 2020/1)

Considerando a afirmação vistam-se como os campos, proferida pelo mestre aos seus discípulos,
pode-se afirmar que

a) os jovens estudiosos seguiram com exatidão o conselho do sábio, pois se inspiraram apenas no
luxo da natureza para confeccionar suas roupas.
b) a maioria dos discípulos não interpretou corretamente o conselho do mestre recriando a
natureza com vestes luxuosas.

c) o mestre ficou feliz porque seus discípulos se inspiraram na natureza para criar suas vestes.

d) o sábio aprovou a atitude dos discípulos, pois nada disse quando viu as roupas luxuosas.

(EEAR – 2020/1)

Por que o jovem pequenino foi o último discípulo a confeccionar sua roupa?

a) Porque não deu importância ao conselho do mestre e confeccionou uma roupa simples com o
algodão que colheu no campo.

b) Porque se sentia inseguro em relação à roupa que deveria usar e criou uma veste simples com o
algodão que colheu no campo.

c) Porque estava esperando os outros jovens terminarem de costurar as suas vestes para criar uma
roupa melhor que as deles.

d) Porque entendeu o conselho do sábio e esperou o momento oportuno para colher a matéria-
prima dos campos e confeccionar sua roupa.

(EEAR – 2020/1)

Qual das afirmações abaixo resume a ideia principal do texto, a moral da história?

a) O verdadeiro sábio é humilde.

AULA 08 – Interpretação de texto II 52


Prof. Celina Gil

b) Só é possível ser criativo com poucos recursos.

c) Apenas a natureza nos proporciona tudo o que precisamos.

d) Não se devem imitar as atitudes da maioria das pessoas.

(EEAR – 2019/1)

O lema da tropa

O destemido tenente, no seu primeiro dia como comandante de uma fração de tropa, vendo que
alguns de seus combatentes apresentavam medo e angústia diante da barbárie da guerra, gritou,
com firmeza, para inspirar seus homens a enfrentarem o grupamento inimigo que se aproximava:

— Ou mato ou morro!

Ditas essas palavras, metade de seus homens fugiu para o mato e outra metade fugiu para o morro.

Considere o seguinte trecho do texto:

“[...] vendo que alguns de seus combatentes apresentavam medo e angústia diante da barbárie da
guerra [...]”

O fragmento acima, no contexto em que se apresenta, indica

a) a situação que motivou o tenente a encorajar seus combatentes.

b) a consequência das ações e das palavras do tenente mediante seus homens.

c) o medo e angústia que, de igual modo, influenciou as ações temerosas do destemido tenente.

d) a força de bravura da fração de tropa comandada por um tenente que, embora inexperiente em
guerra, era muito corajoso.

Texto para as próximas questões:


Solo de Clarineta

Às vezes, tarde da noite, homens batiam à porta da farmácia ou da nossa residência, trazendo nos
braços, ferido e sangrando, algumas vítimas da brutalidade dos capangas do chefe político local ou
alguém que fora “lastimado” numa briga na Capoeira ou no Barro Preto. Lembro-me que certa noite
– eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à
cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-
diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. Eu terminara de jantar e o que vi no
relance inicial me deixou de estômago embrulhado. A primeira coisa que me chamou atenção foi o
polegar decepado, que se mantinha pendurado à mão esquerda da vítima apenas por um tendão.

AULA 08 – Interpretação de texto II 53


Prof. Celina Gil

[...]. Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse
caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada
para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? Por incrível que pareça, o homem
sobreviveu.

Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos
que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua
lâmpada, trazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão,
propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e
do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos nosso toco de vela ou, em último
caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.

Érico Veríssimo - Solo de Clarineta (trecho) - Volume I

(EEAR – 2019/2)

O texto vale-se da metáfora da lâmpada para mostrar ao leitor que o escritor — e assim também a
literatura — tem por tarefa

a) permitir a fantasia de que, por menos que se possa fazer com palavras, há que se subjugar ladrões,
assassinos e tiranos.

b) oferecer conhecimento, denunciar, lançar luz, de todas as formas, sobre a realidade de


atrocidades e injustiças.

c) criar uma rota de fuga da escuridão, do medo, do ataque dos que investem contra a vida.

d) fazer sonhar, a despeito das atrocidades e injustiças da vida.

(EEAR – 2019/2)

Quanto à experiência vivida pelo autor do texto, quando por volta de seus catorze anos, pode-se
afirmar que

a) permitiu-lhe fazer uma boa ação, embora tenha despertado nele o ‘homem-macho’, que, com
dureza, enfrenta a escuridão, os ladrões, os assassinos e os tiranos.

b) serviu-lhe para iniciá-lo na capacidade de resistência, superação e altruísmo, valores,


infelizmente, vencidos pelo horror e pela náusea.

c) foi-lhe traumatizante; tanto assim que se remete a injustiças e atrocidades desde que, adulto,
começou a escrever romances.
d) fê-lo forte de alma, permitindo-lhe estender para a sua vida de escritor a capacidade de reação à
realidade de seu mundo.

AULA 08 – Interpretação de texto II 54


Prof. Celina Gil

(EEAR – 2019/2)

Qual das alternativas abaixo faz uma afirmação correta acerca do texto?

a) É predominantemente dissertativo, uma vez que o autor defende um ponto de vista a respeito
da violência urbana e se utiliza de uma definição metafórica para fundamentá-lo.

b) É essencialmente descritivo, pois tem como principal objetivo fazer uma rica caracterização do
estado físico e psicológico do caboclo que chegou à casa do narrador-personagem.

c) Tem a composição de uma notícia, já que contém elementos caracterizadores desse tipo de texto,
quais sejam: o quê?, quando?, onde?, com quem?, por quê?.

d) Utiliza-se da narração de um episódio da vida do narrador-personagem como pretexto para as


reflexões do autor sobre o papel social do escritor.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro

(Oswald de Andrade. Pau-brasil, 1925)

O texto apresenta, como leitura principal, a ideia de que

a) o uso da gramática do português culto é uma necessidade de todos.

b) o português oralizado não precisa, necessariamente, seguir a Norma Culta.

c) o uso errôneo da língua pode atrapalhar a compreensão da mensagem.

d) a escrita deve prescindir do uso das normas ditadas pela Gramática Normativa.

AULA 08 – Interpretação de texto II 55


Prof. Celina Gil

e) o uso do português brasileiro é inferior ao uso do português culto de Portugal.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

A UM AUSENTE
(Carlos Drummond de Andrade)

Tenho razão de sentir saudade,


tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,


de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.


Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

A leitura atenta do texto permite a compreensão de que

AULA 08 – Interpretação de texto II 56


Prof. Celina Gil

a) o eu lírico perde, como esperado, o amor do ente amado.

b) o ente amado do eu lírico se afasta, ainda que amando-o.

c) o eu lírico exige explicações do ente amado para entender o afastamento.

d) o eu lírico sente saudades de um amigo com quem sempre convivia.

e) o interlocutor do poema gerou um pacto verbal com o eu lírico.

Texto para as próximas questões

Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que
cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada, custei reconhecer o quarto da nova casa em eu que
estava morando e não conseguia me lembrar de como havia chegado até ali. E a insistente pergunta
martelando, martelando. De que cor eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação havia surgido
há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro, eu me pegava pensando de que cor seriam
os olhos de minha mãe. E o que a princípio tinha sido um mero pensamento interrogativo, naquela
noite se transformou em uma dolorosa pergunta carregada de um tom acusativo. Então eu não sabia
de que cor eram os olhos de minha mãe?

Sendo a primeira de sete filhas, desde cedo busquei dar conta de minhas próprias dificuldades,
cresci rápido, passando por uma breve adolescência. Sempre ao lado de minha mãe, aprendi a
conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também sabia reconhecer, em
seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento, entretanto, me descobria cheia
de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos. Eu achava tudo muito estranho, pois me
lembrava nitidamente de vários detalhes do corpo dela. Da unha encravada do dedo mindinho do
pé esquerdo... da verruga que se perdia no meio uma cabeleira crespa e bela... Um dia, brincando
de pentear boneca, alegria que a mãe nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o
passa-passa das roupagens alheias e se tornava uma grande boneca negra para as filhas,
descobrimos uma bolinha escondida bem no couro cabeludo dela. Pensamos que fosse carrapato.
A mãe cochilava e uma de minhas irmãs, aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer,
puxou rápido o bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto, das
lágrimas escorrerem. Mas de que cor eram os olhos dela?

Conceição Evaristo. Olhos d’água.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita – Prof. Wagner Santos)

Segundo a narradora, um dos seus momentos preferidos era


a) aquele em que a mãe ficava quietinha com as filhas na cama ou no sofá.

AULA 08 – Interpretação de texto II 57


Prof. Celina Gil

b) aquele em que podiam brincar com sua mãe, como se ela fosse uma boneca.

c) aquele em que os olhares se cruzavam e a menina sabia o que a mãe pensava.

d) aquele em que a mãe deixava transparecer os futuros momentos de alegria da família.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Assinale a afirmação correta a respeito do texto.


a) A autora se culpa por ter conhecido muito pouco a mãe.

b) A infância abastada (rica) afastou as filhas da mãe ocupada.

c) As irmãs da narradora certamente sabiam a cor dos olhos da mãe.

d) A autora teve bons momentos com a mãe, mas ainda assim se culpa.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Ainda sobre o texto, encontra-se uma passagem de humor quando


a) a irmã da narradora tenta tirar a verruga da mãe pensando ser um carrapato.

b) a narradora percebe que não sabe a cor dos olhos da mãe e se desespera.

c) a mãe da narradora dorme enquanto as meninas brincam com seu cabelo.

d) a narradora acorda e consegue compreender que está em um quarto novo.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

As perguntas no texto de Conceição devem ser entendidas como


a) retóricas.

b) argumentativas.

c) explicativas.

d) incoerentes.

Texto para as próximas questões

Mamãe era uma atriz famosa mas agitada como um vento de tempestade. Ou estava estudando
algum papel em meio de crises de angústia (era uma perfeccionista) ou estava dando entrevistas ou
experimentando roupas ou telefonando, levava o telefone para o quarto, deitava e ficava horas

AULA 08 – Interpretação de texto II 58


Prof. Celina Gil

falando com uma amiga ou algum amante. Pílulas para dormir, pílulas para acordar, a cara sempre
enlambuzada de creme. Não tomava conhecimento nem de Wanda nem de mim. Atrás de um móvel
ou pela fresta da janela eu a via entrar e sair se queixando, se queixava muito das pessoas. Do tempo
curto que a obrigava a correr e nessa corrida ia perdendo coisas, Onde está meu lenço, meu
perfume, minha chave, minha echarpe?! Leva esse menino daqui! gritou certa vez que me aproximei
mais. (...) Estreava a peça e vinham as críticas. Os telegramas. As homenagens. Então ficava macia,
o sorriso flutuante igual ao da deusa da gravura, uma roliça mulher coroada de anjos numa gôndola
puxada por dois cisnes brancos. Vem brincar com a mamãe, chamava por entre as plumas do seu
négligé. Eu ia mas nunca ficava muito à vontade, atento ao primeiro sinal de impaciência: tinha
sempre um crítico que se omitia e um outro que foi meio ambíguo — mas por que o público do
último sábado não aplaudiu de pé? A desconfiança crescia numa conspiração: apontava inimigos,
descobria tramas. Irritava-se quando o telefone tocava sem parar ou quando as pessoas a
abordavam na rua pedindo autógrafos, retratos. Mas quando chegou o tempo em que o telefone
ficou calado e as pessoas não se viravam para vê-la, caiu no mais completo desespero. Os vasos
vazios de flores. As pessoas distraídas. O tremor de excitação durava até a hora do carteiro, Hoje
não veio carta? Nem hoje nem ontem, só convites para exposições ou avisos de banco que eram
rasgados com tanto ódio que comecei a rezar para que eles não chegassem mais. Sobrava o jornal
que costumava deixar para depois, nunca entendi por que reservava para o fim o jornal. Ia
diretamente à página de arte, percorria os textos, Não fui mencionada? E quem sabe alguma
referência na página seguinte. Ou na outra, ô! que insipidez, que vazio. Dobrava o jornal com uma
crispação que eu ouvia de longe. Passava os cremes, tomava as pílulas e ia dormir.

(WN, Seminário dos Ratos, Lygia Fagundes Telles)

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Leia atentamente o texto e assinale a alternativa que apresenta apenas a(s) afirmação(ões)
correta(s)

I. O texto é narrado por uma personagem aparentemente de pouca idade e retrata o modo como
ele via sua mãe na época da infância.

II. Vê-se no texto as dificuldades pelas quais passam as crianças em situações em que os pais têm
alguma doença grave.

III. O trecho do conto tem caráter descritivo, apontando características da mãe do narrador em
diferentes situações.

a) I e II são corretas.

b) I e III são corretas.

AULA 08 – Interpretação de texto II 59


Prof. Celina Gil

c) II e III são corretas.

d) Apenas I é correta.

e) Apenas III é correta.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

De acordo com o texto, só não se pode presumir que

a) a personagem descrita é alguém de comportamento instável, que não é capaz de ligar-se


emocionalmente aos filhos em nenhuma circunstância.

b) a mãe da personagem central, uma antiga atriz de sucesso, se irrita com a possibilidade de que
ela não esteja mas no auge de sua carreira.

c) a mãe apresenta comportamento conspiratório, vendo sinais de tramas ocultas em situações que
não necessariamente apontavam para isso.

d) o menino conseguia compreender, mesmo criança, os motivos que levavam sua mãe a ser uma
pessoa tão instável emocionalmente.

e) o menino e sua irmã são frequentemente deixados de lado por sua mãe, que se preocupa mais
com seu próprio sucesso do que com eles.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Sobre o trecho “Os vasos vazios de flores. As pessoas distraídas. O tremor de excitação durava até
a hora do carteiro, Hoje não veio carta? Nem hoje nem ontem, só convites para exposições ou avisos
de banco que eram rasgados com tanto ódio que comecei a rezar para que eles não chegassem mais.
Sobrava o jornal que costumava deixar para depois, nunca entendi por que reservava para o fim o
jornal” pode-se afirmar que

a) apontam que a mãe sofria perseguições já no final de sua vida.

b) indicam que a mãe não percebia seu sucesso ao longo do tempo.

c) referem-se à falta de vontade da mãe de saber a opinião do público.

d) representam de maneira concreta, material, a decadência da mãe.

e) revelam uma falta de vontade dos filhos de ajudar sua mãe.

(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

Enterrem-se os mortos

AULA 08 – Interpretação de texto II 60


Prof. Celina Gil

e cuide-se dos vivos


ou dos feridos
que feridos e vivos
é o mesmo.

LOPES, Adília. A continuação do fim do mundo.

No poema ocorre uma construção lírica entre opostos com o acréscimo de uma terceira
possibilidade. A aproximação entre dois desses termos indica

a) que a morte é algo irremediável, condição da qual não se pode escapar, esteja a pessoa viva ou
ferida atualmente.

b) o reforço do eu lírico de que a vida deve ser valorizada independentemente se o indivíduo se


encontra saudável ou não.
c) a noção de que há gradações de vida que se pode ter, pois os feridos podem ser vistor como
próximos da morte.

d) que não é possível comparar diferentes fases da vida de alguém ou situações, pois são
experiências muito distintas.

e) equivalência entre o modo como as pessoas de modo geral lidam com o medo da morte de ferir-
se em vida.

(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

Vi as estrelas. Mas não vi a lua, embora sua luminosidade se derramasse pela estrada. Apanhei um
pedregulho e fechei-o com força na mão. Por onde andará a lua? perguntei. Fernando arrancou o
paletó no auge da impaciência e perguntou com voz esganiçada se eu pretendia ficar a noite inteira
ali de estátua, enquanto ele teria que encher o tanque naquela escuridão de merda, porque
ninguém lhe passava o raio da lanterna. Inclinei-me para dentro do carro de portas escancaradas,
outra forma que ele tinha de manifestar o mau humor era deixar gavetas e portas escancaradas.
Que eu ia fechando em silêncio, com ódio igual ou maior. Fiquei olhando o relógio embutido no
painel.

— Onde está a lanterna?

— Mas onde poderia estar uma lanterna senão no porta-luvas, a princesa esqueceu?

Através do vidro, a estrela maior (Vênus?) pulsava reflexos azuis. Gostaria de estar numa nave, mas
com o motor desligado, sem ruído, sem nada. Quieta. Ou neste carro silencioso, mas sem ele. Já
fazia algum tempo que queria estar sem ele, mesmo com o problema de ter acabado a gasolina.

AULA 08 – Interpretação de texto II 61


Prof. Celina Gil

— As coisas ficariam mais fáceis se você fosse menos grosso — eu disse, entreabrindo a mão e
experimentando a lanterna no pedregulho que achei na estrada.

— Está bem, minha princesa, se não for muito incômodo, será que podia me passar a lanterninha?

TELLES, Lygia Fagundes. Noturno Amarelo. In. O Seminário dos Ratos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

No trecho selecionado do conto Noturno amarelo, de Lygia Fagundes Telles, evidencia-se uma
tensão entre o casal. O comportamento das personagens indica esse desconforto, principalmente

a) na resposta evasiva da mulher, que não revela seu como verdadeiramente se sentiu ao ouvir o
tom da fala do homem.

b) na discussão acalorada que ocorre entre o casal quando a mulher não alcança as expectativas do
homem.

c) da distração da mulher, que não presta a atenção no que o homem disse porque estava olhando
para o céu.

d) no modo afetivo com que a personagem masculina se refere à mulher, que já não parece disposta
a ficar com ele.

e) no tom irônico das falas do homem, principalmente mudando o sentido de um apelido que
poderia ser afetuoso.

(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

― Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em
árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em
minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro! um bezerro branco, erroso, os olhos
de nem ser ― se viu ―; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que,
por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara
de cão! determinaram ― era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for.
Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe!
quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente ― depois, então,
se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja! que situado
sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do
Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem
maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze
léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho
de autoridade. o urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá ―
fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata

AULA 08 – Interpretação de texto II 62


Prof. Celina Gil

em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais
são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de
opiniães... O sertão está em toda a parte.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas.

No trecho inicial do romance Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa, o emprego de
expressões e não-conformidade com a norma culta da linguagem contribui para

a) indicar características etárias da personagem a partir das palavras utilizadas.

b) demonstrar que a personagem e seu interlocutor têm uma elação íntima.

c) enfatizar o alto grau de escolaridade da personagem, que usa termos arcaicos.

d) caracterizar a personagem a partir de suas experiências e lugares de vivência.


e) sinalizar o momento histórico em que se passa a obra pelos termos já em desuso.

(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

parece que sou uma planta


e me arrancaram da terra
com força violenta
e me apalparam e tatearam
sem consentimento

esqueceram que tenho raízes

Leão, Ryane. Tudo Nela Brilha E Queima (p. 49). Planeta. Edição do Kindle.

O poema de Ryane Leão revela um eu lírico marcado por processos de violência. Diante dessa
passagem do seu passado, o eu lírico

a) considera que as pessoas que foram violentas com ele devem ser punidas.

b) afirma sua força e sua capacidade de superação mesmo após sofrer violências.

c) compreende suas limitações em poder superar certos traumas do passado.

d) escolhe um lugar de reflexão dos traumas, transformando-os em vingança.

e) critica aqueles que não são capazes de superar questões difíceis do seu passado.

AULA 08 – Interpretação de texto II 63


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Texto para as próximas questões

Cântico negro O mais que faço não vale nada.


José Régio
Como, pois, sereis vós
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
doces Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Estendendo-me os braços, e seguros Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
De que seria bom que eu os ouvisse E vós amais o que é fácil!
Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu amo o Longe e a Miragem,
Eu olho-os com olhos lassos, Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços, Ide! Tendes estradas,
E nunca vou por ali... Tendes jardins, tendes canteiros,
A minha glória é esta: Tendes pátria, tendes tetos,
Criar desumanidades! E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Não acompanhar ninguém. Eu tenho a minha Loucura!
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Levanto-a, como um facho, a arder na noite
Com que rasguei o ventre à minha mãe escura,
Não, não vou por aí! Só vou por onde E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Me levam meus próprios passos... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Se ao que busco saber nenhum de vós responde Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Por que me repetis: "vem por aqui!"? Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos, Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, Ninguém me peça definições!
A ir por aí... Ninguém me diga: "vem por aqui"!
Se vim ao mundo, foi A minha vida é um vendaval que se soltou,
Só para desflorar florestas virgens, É uma onda que se alevantou,
E desenhar meus próprios pés na areia É um átomo a mais que se animou...
inexplorada! Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Leia atentamente o trecho destacado e assinale a alternativa que apresenta apenas a(s)
afirmação(ões) correta(s).

AULA 08 – Interpretação de texto II 64


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Como, pois, sereis vós


Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

(Texto I)

I. O trecho contrapõe dois pensamentos: um ligado ao conservadorismo e outro à idealização.

II. O autor do texto faz uso de versos brancos e livres, não se preocupando com regularidade.
III. A oração “Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,” possui sujeito oculto.

A. ( ) I e II são corretas.

B. ( ) Apenas II é correta.

C. ( ) II e III são corretas.

D. ( ) Apenas I é correta.

E. ( ) Todas as anteriores são incorretas.

AULA 08 – Interpretação de texto II 65


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3.2 - Gabarito
A C B

A C D

C B D

E A B

B B D

D A B

E D D

A A A

C B A

E C B
D D A

E A D

A A B

E C E

D A D

C B B

C D A

E A

D A

AULA 08 – Interpretação de texto II 66


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3.3 – Exercícios comentados


(ITA - 2018)

Texto 1

Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não
havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a
fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava
bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão,
é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é
muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige
uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções
diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às
geleiras do Ártico.

Da mesma forma que ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos que aprender a ser
adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno.
Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas
comunidades agrárias o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos
afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de
reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois
da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades
ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes
e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar
que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos
antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-
se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30
anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida
não passava dos 40 anos.

A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela,
gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo
devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença
da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de

AULA 08 – Interpretação de texto II 67


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morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que
pouquíssimos conhecerão.

Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria
para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia
devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência
física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição
e continuam atentos às transformações do mundo.

Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a


juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos
15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta
própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões
afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época.

Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem “cabeça de jovem”. É considerá-lo
mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez. Ainda que
maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do
contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos
anteriormente.

VARELLA, D. A arte de envelhecer. Adaptado. Disponível em


<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/2016/01/1732457> Acesso em: mai. 2017.

Texto 2

a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer


a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer
não quero morrer pois quero ver
como será que deve ser envelhecer
eu quero é viver pra ver qual é
e dizer venha pra o que vai acontecer
eu quero que o tapete voe / no meio da sala de estar
eu quero que a panela de pressão pressione
e que a pia comece a pingar
eu quero que a sirene soe
e me faça levantar do sofá
eu quero pôr Rita Pavone*
no ringtone do meu celular
eu quero estar no meio do ciclone

AULA 08 – Interpretação de texto II 68


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pra poder aproveitar


e quando eu esquecer meu próprio nome
que me chamem de velho gagá
pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer
não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr.

(ANTUNES, A. Envelhecer. Álbum Ao vivo lá em casa. 2010.)

*cantora italiana de grande sucesso na década de 1960.

O ponto convergente entre os textos 1 e 2 é


a) o reconhecimento de aspectos positivos da velhice.

b) a condenação da discriminação social com relação ao idoso.

c) a comparação entre os diferentes estilos de vida dos idosos.

d) a superação das experiências traumáticas vividas.

e) o descompasso entre comportamento e idade biológica das pessoas.


Comentários:
A alternativa A está correta, pois ambos os textos destacam que, diferentemente do que diz o
senso comum, a velhice traz maturidade e sabedoria e, portanto, não é uma época pior que a
juventude.
A alternativa B está incorreta, pois a discriminação social sofrida pelo idoso não é abordada nos
textos, então, não é feito um juízo de valor sobre isso.
A alternativa C está incorreta, pois não são discutidos estilos de vida dos idosos nos textos.
A alternativa D está incorreta, pois não são abordadas experiências traumáticas e quem chegou à
velhice após superá-las, nem experiências traumáticas da velhice.
A alternativa E está incorreta, pois não são abordados comportamentos incoerentes com a idade
de forma expressiva no texto 1.
Gabarito: A
(ITA - 2018)

“Eu quero pôr Rita Pavone no ringtone do meu celular”. O trecho selecionado indica que o autor

a) busca conciliar elementos de épocas distintas.

b) acredita que a velhice seja apenas uma construção social.

AULA 08 – Interpretação de texto II 69


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c) necessita estar acompanhado de tecnologias modernas.

d) cria diversas formas de lidar bem com a velhice.

e) atribui características humanas ao não humano.


Comentários: O autor busca unir referências do presente e do passado ao unir Rita Pavone, que
é descrita na nota de fim do poema como uma cantora de sucesso dos anos 1960, com “ringtone”
do celular, ou seja, com o toque do telefone. Assim, a alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois no trecho há uma tentativa de conciliar o passado e o presente,
constatando, portanto, a passagem do tempo.
A alternativa C está incorreta, pois o autor defende a união de passado e presente, não apenas as
tecnologias modernas.
A alternativa D está incorreta, pois há apenas uma forma expressa neste trecho: a união de
passado e presente.
A alternativa E está incorreta, pois não há personificação aqui. O autor de fato está falando sobre
o som do toque do celular apenas.
Gabarito: A
(ITA - 2018)

O trecho que critica explicitamente aqueles que não aceitam a velhice é:

a) e quando eu esquecer meu próprio nome que me chamem de velho gagá

b) não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer

c) pois ser eternamente adolescente nada é mais démodé

d) a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer


e) os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer
Comentários: A crítica em não aceitar a velhice está no trecho “pois ser eternamente adolescente
nada é mais démodé”. “démodé”, em francês, significa “fora de moda”, indicando que o autor
acha algo “fora de moda” o desejo de não envelhecer. A alternativa correta é alternativa C.
A alternativa A está incorreta, pois neste trecho ele sugere aceitar a velhice, não criticar quem
não a aceita.
A alternativa B está incorreta, pois neste trecho o autor afirma desejar o envelhecimento, não
criticar quem não a aceita.
A alternativa D está incorreta, pois neste trecho o autor pretende louvar a velhice, não criticar
quem não a aceita.
A alternativa E está incorreta, pois neste trecho o autor fala sobre o processo do envelhecimento
morte e como encaramos essas questões.
Gabarito: C

AULA 08 – Interpretação de texto II 70


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Texto para as questões 4, 5 e 6

O texto abaixo é uma das liras que integram Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga

1. Em uma frondosa 4. Mal viu a rotura,


Roseira se abria E o sangue espargido,
Um negro botão! Que a Deusa mostrou,
Marília adorada Risonho beijando
O pé lhe torcia O dedo ofendido,
Com a branca mão. Assim lhe falou:

2. Nas folhas viçosas 5. Se tu por tão pouco


A abelha enraivada O pranto desatas,
O corpo escondeu. Ah! dá-me atenção:
Tocou-lhe Marília, E como daquele,
Na mão descuidada Que feres e matas,
A fera mordeu. Não tens compaixão?

3. Apenas lhe morde, (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu &


Marília, gritando, Cartas Chilenas. 10. ed. São Paulo: Ática, 2011.)
Co dedo fugiu.
Amor, que no bosque
Estava brincando,
Aos ais acudiu.

.
(ITA – 2018)

Neste poema,

I. há o relato de um episódio vivido por Marília: após ser ferida por uma abelha, ela é socorrida pelo
Amor.

II. o Amor é personificado em uma deidade que dirige a Marília uma pequena censura amorosa.

III. a censura que o Amor faz a Marília é um artificio por meio do qual o sujeito lírico, indiretamente,
dirige a ela uma queixa amorosa.

IV. o propósito maior do poema surge, no final, no lamento que o sujeito lírico dirige à amada, que
parece fazê-lo sofrer.

Estão corretas:

a) I, II e III apenas.

AULA 08 – Interpretação de texto II 71


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b) I, II e IV apenas.

c) I e III apenas.

d) II, III e IV apenas.

e) todas.
Comentários: A afirmação do item I. se comprova pelas estrofes 2 e 3, em que o autor diz que a
abelha enraivecida mordeu a mão de Marília (estrofe 2) e o Amor, que brincava no bosque, foi
socorrê-la (estrofe 3).
A afirmação do item II. se confirma pelo fato que o Amor realiza ações no poema: ajudar Marília,
beijar seu dedo, por exemplo.
A afirmação do item III. se confirma pela pergunta na estrofe 5: Como daquele que feres e matas
não tens compaixão?”. Esse “ferir” e “matar” é metafórico: como ela não lhe dá o amor que
deseja, ela o está ferindo.
A afirmação do item IV. se confirma, pois o livro “Marília de Dirceu” trata, em diversos poemas,
do desejo de amor do poeta, que clama que Marília corresponda a seus sentimentos.
Gabarito: E
(ITA – 2018)

O poema abaixo dialoga com as liras de Marília de Dirceu.

Haicai tirado de uma falsa lira de Gonzaga


Quis gravar “Amor”
No tronco de um velho freixo:
“Marília” escrevi.

(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.)

Dentre as marcas mais visíveis de intertextualidade, encontram-se as seguintes, EXCETO

a) o título do poema menciona o autor de Marília de Dirceu.

b) ambos os textos pertencem à mesma forma poética.

c) no poema, Marília é, assim como em Gonzaga, o objeto amoroso.

d) tal como nos textos árcades, no de Bandeira, a natureza é o cenário do amor.

e) este poema de Bandeira possui, como os de Gonzaga, teor sentimental.


Comentários: A alternativa B é a única incorreta, pois o poema de Bandeira é um Haicai: estrutura
poética de três versos, e “Marília de Dirceu” é um conjunto de liras, como está dito na pergunta
do enunciado.
A alternativa A está correta, pois o autor de Marília de Dirceu é Tomás Antônio Gonzaga.

AULA 08 – Interpretação de texto II 72


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A alternativa C está correta, pois a palavra “amor” pode ser substituída por “Marília”, o que
significa que ela representa este sentimento para o poeta.
A alternativa D está correta, pois o local em que Bandeira escolhe demonstrar seu amor é o tronco
de uma árvore.
A alternativa E está correta, pois o tema do poema é o amor que sente por Marília.
Gabarito: B
(ITA - 2018)

Haicai tirado de unia falsa lira de Gonzaga


Quis gravar “Amor”
No tronco de um velho freixo:
“Marília” escrevi.

(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.)

O poema abaixo retoma imagens presentes nas liras de Marília de Dirceu e no haicai de Manuel
Bandeira, apresentados acima.

Passeio no bosque
o canivete na mão não deixa
marcas no tronco da goiabeira

cicatrizes não se transferem

(CACASO. Beijo na boca. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.)

Algumas pessoas, ao gravarem nomes, datas etc., nos troncos das árvores, buscam externar afetos
ou sentimentos. Esse texto, contudo, registra uma experiência particular de alguém que, fazendo
isso,

a) se liberta das dores amorosas, pois as exterioriza de alguma forma.

b) percebe que provocará danos irreversíveis à integridade da árvore.

c) busca refúgio na solidão do espaço natural.

d) se dá conta de que é impossível livrar-se dos sentimentos que o afligem.

e) encontra dificuldade em gravar o tronco com um simples canivete.

AULA 08 – Interpretação de texto II 73


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Comentários: Quando diz que “cicatrizes não se transferem”, o eu-lírico sugere que não é possível livrar-
se de maus sentimentos, pois eles estão marcados nele, como cicatrizes. Assim, a alternativa correta é
alternativa D.
A alternativa A está incorreta, pois quando diz que “cicatrizes não se transferem”, o autor deixa claro que
não é possível libertar-se das dores amorosas.
A alternativa B está incorreta, pois a árvore representa metaforicamente a si próprio, não sendo sobre a
integridade de uma árvore em si.
A alternativa C está incorreta, pois a ideia não é refugiar-se, mas buscar livrar-se de sentimentos que o
perturbam.
A alternativa E está incorreta, pois o canivete é empregado de maneira metafórica. Simboliza a tentativa
de livrar-se dos sentimentos que o machucam.
Gabarito: D
(ITA - 2017)

Irene no céu O poema abaixo é de Alcides Villaça.

Irene preta
Irene boa Bach no céu
Irene sempre de bom humor.
Para Manuel Bandeira

Imagino Irene entrando no céu:


– Licença, meu branco! Imagino Johann Sebastian Bach entrando no
E São Pedro bonachão: céu:
– Entra, Irene. Você não precisa pedir
licença. - Com licença, São Pedro?
- Faz favor, João. Só não repare a bagunça.
(Em: Manuel Bandeira, Libertinagem. Rio de
Janeiro: Pongetti, 1930.)
(Em: Ondas curtas. São Paulo: Cosac Naify,
2014.)

Dada a explícita relação intertextual entre Bach no céu e Irene no céu, é correto afirmar que

a) Bach no céu, por ser um poema dedicado a um grande compositor, se opõe frontalmente ao
primeiro poema, dedicado a uma mulher simples.

b) a linguagem, no poema de Villaça, é formal porque ele retrata um grande compositor.

c) inexiste afetividade em Bach no céu, pois o sujeito lírico não conheceu Bach pessoalmente.

d) a admiração do sujeito lírico por Bach não é, na visão dele, compartilhada por São Pedro.

e) Bach no céu homenageia, ao mesmo tempo, Johann Sebastian Bach e Manuel Bandeira.

AULA 08 – Interpretação de texto II 74


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Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois ambos os poemas homenageiam alguém – Irene no primeiro
poema, Bach e Manuel Bandeira no segundo. Os dois também falam sobre a chegada das pessoas
ao céu, onde elas são bem-vindas.
A alternativa B está incorreta, pois a linguagem do poema de Villaça não é formal, o que fica claro
principalmente em “Faz favor, João.”
A alternativa C está incorreta, pois o autor trata do músico com afetividade, não com distância.
A alternativa D está incorreta, pois São Pedro aceita a entrada de Bach no céu, mostrando que ele
tem algum apreço por ele.
Gabarito: E
(ITA - 2017)

Analisando as duas tirinhas, NÃO se pode afirmar que

a) Calvin se revela incapaz de compreender o noticiário, diferentemente do pai de Mafalda.

b) Calvin e Mafalda, apesar de crianças, são críticos em relação ao conteúdo televisivo.

c) a reação de Calvin e a de Mafalda são diferentes diante do conteúdo televisivo.


d) ambas tratam da relação entre telespectador e mídia televisiva.

AULA 08 – Interpretação de texto II 75


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e) ambas apresentam personagens que questionam o noticiário veiculado pela TV.


Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois Calvin compreende o noticiário, percebe que se trata de
sensacionalismo e identifica que isso o agrada.
A alternativa B está correta, pois ambos analisam criticamente o conteúdo televiso, ao invés de
apenas o aceitarem.
A alternativa C está correta, pois Calvin identifica a má qualidade da programação televisa e aceita
que isso o agrada. Mafalda, por sua vez, não aceita bem a manipulação televisiva, mostrada por
meio do jogo de palavras “domínio público” e “domínio do público”.
A alternativa D está correta, pois ambas as tirinhas mostram duas interações distintas entre a
mídia televisiva e seu público.
A alternativa E está correta, pois, como afirmado no item B, as duas crianças são críticas em
relação ao que a TV os oferece.
Gabarito: A
(ITA - 2016)

A adivinha é um gênero da oralidade popular que formula construções como: “O que é, o que é: tem
escamas mas não é peixe, tem coroa mas não é rei? O abacaxi!. Ela consiste num jogo enigmático
de perguntas que, por conter dualidades e oposições, leva o ouvinte a pensar. Considerando essa
definição, leia o poema abaixo de Orides Fontela.

Adivinha

O que é impalpável
mas
pesa

o que é sem rosto


mas
fere

o que é invisível
mas
dói.

(Em: Teia. São Paulo: Geração Editorial, 1996.)

AULA 08 – Interpretação de texto II 76


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Considere as seguintes afirmações:

I. O poema mantém alguns traços formais da adivinha popular.

II. Como a adivinha popular, a do poema possui uma única resposta, que é um elemento concreto.

III. A adivinha do poema é uma reinvenção da adivinha popular.

Está(ão) correta(s) apenas:

a) I.

b) I e II.

c) I e III.

d) II.

e) II e III.
Comentários:
O item I está correto, pois a escrita do poema lembra o jogo de adivinha de “o que é, o que é”.
O item II está incorreto, pois não é possível afirmar que haja apenas uma resposta para as
adivinhações.
O item III está correto, pois há uma reimaginação lírica de uma adivinhação simples, normalmente
ligada a uma explicação metafórica de um item concreto, como o abacaxi.
Gabarito: C
(ITA - 2014)

Considere o poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, à luz da reprodução da pintura de


Edvard Munch a que ele se refere.

O grito (Munch)

A natureza grita, apavorante.

Doem os ouvidos, dói o quadro.

AULA 08 – Interpretação de texto II 77


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O texto de Drummond

I. traduz a estreita relação entre a forma e o conteúdo da pintura.

II. mostra como o desespero do homem retratado repercute no ambiente.

III. contém o mesmo exagero dramático e aterrorizante da pintura.

IV. interpreta poeticamente a pintura.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I e II.

b) apenas I, II e IV.

c) apenas II, III e IV.

d) apenas III e IV.


e) todas.
Comentários:
A alternativa I está correta, pois o texto de Drummond analisa como a natureza ao redor (forma)
influencia no sentimento do homem retratado (conteúdo), isto é, no sofrimento e horror que ele
demonstra.
A alternativa II está correta, pois, como mencionado em I a poesia analisa a influência do ambiente
no sofrimento do homem.
A alternativa III está correta, pois o quadro, de vanguarda expressionista, exagera nos
sentimentos. Analogamente, o poema traz, em apenas 2 versos, o adjetivo apavorante e o verbo
doer duas vezes.
A alternativa IV está correta, pois o poema traz uma clara intertextualidade (expressa inclusive no
próprio título) com a obra de Munch.
Gabarito: E
(ITA - 2014)

O poema abaixo é de Cecília Meireles:

Epigrama 8

Encostei-me em ti, sabendo bem que eras somente onda.


Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí.

AULA 08 – Interpretação de texto II 78


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É CORRETO afirmar que o texto

a) contém uma expressão exagerada de dor e tristeza, decorrente do fim de um envolvimento


amoroso.

b) fala sobre o rompimento de duas pessoas, que, por já ser previsto, não causou dor no sujeito
lírico.

c) registra o término de um envolvimento afetivo superficial, pois os amantes não se entregaram


totalmente.

d) contém ambiguidade, pois, apesar de o sujeito lírico dizer que não chorou, o poema exprime
tristeza.

e) garante que a forma mais aconselhável de lidar com as desilusões é estarmos de antemão
preparados para ela.
Comentários: Há uma aparente ambiguidade em dizer que não pode chorar e sofrer ao mesmo
tempo. A consciência de que algo podia dar errado não tira o sofrimento do fracasso posterior.
Assim, a alternativa correta é a alternativa D.
A alternativa A está incorreta, pois não há exagero de dor ou tristeza no poema, mas sim a
sugestão de tristeza.
A alternativa B está incorreta, pois não “poder chorar” é um modo de dizer que ele tinha
consciência dos riscos quando se entregou ao romance, mas isso não impede que ele sinta
tristeza.
A alternativa C está incorreta, pois o sentimento não foi superficial. Isso se comprova em “depus
minha vida em ti”.
A alternativa E está incorreta, pois o poema deixa claro que não há garantias quando o assunto
são sentimentos. Mesmo achando que tudo pode dar errado, não há nada que garanta o rumo
que uma relação pode tomar.
Gabarito: D
(ITA - 2013)

O poema abaixo traz a seguinte característica da escola literária em que se insere:

Violões que Choram...

Cruz e Sousa

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,

AULA 08 – Interpretação de texto II 79


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soluços ao luar, choros ao vento...


Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,


noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,


anseio dos momentos mais saudosos,
quando lá choram na deserta rua
as cordas vivas dos violões chorosos.

[...]

a) tendência à morbidez.

b) lirismo sentimental e intimista.

c) precisão vocabular e economia verbal.

d) depuração formal e destaque para a sensualidade feminina.

e) registro da realidade através da percepção sensorial do poeta.


Comentários: O poema trata das recordações do poeta, que se lembra de noites remotas a partir
de suas próprias percepções. Isso fica claro no número de adjetivos utilizados, ligados ao modo
como ele via aquele momento (ex.: “Tristes perfis”). Assim, a alternativa correta é alternativa E.
A alternativa A está incorreta, pois não há elementos mórbidos, ou seja, ligados à ideia de morte
nesse poema.
A alternativa B está incorreta, pois não há sentimentalismo no poema, mas sim o olhar do poeta
para o exterior. Ele não está falando sobre seus próprios sentimentos.
A alternativa C está incorreta, pois a linguagem do poema é vaga, remetendo à percepção do
poeta.
A alternativa D está incorreta, pois não há o aparecimento de figuras femininas, muito menos
sensuais.
Gabarito: E
(ITA - 2013)

O segmento do poema ao lado apresenta

AULA 08 – Interpretação de texto II 80


Prof. Celina Gil

Eu e o sertão

Patativa do Assaré

Sertão, arguém te cantô


Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistero
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá.
[...]

(Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1982)

a) um testemunho de quem conhece o ambiente retratado.

b) humor e ironia numa linguagem simples típica do sertanejo.

c) uma descrição detalhada do espaço.

d) a percepção do poeta de que seu canto é a melhor das interpretações.

e) perceptível distanciamento entre o poeta e o objeto do seu canto.


Comentários: Fica claro a partir do poema que o autor é conhecedor do ambiente. Tanto na
linguagem, próxima da oralidade (“E inda fica o qui cantá.”), quanto na fala “E vejo qui os teus
mistero / Ninguém sabe decifrá” fica demonstrada a proximidade do autor com o tema. Assim, a
alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois não é possível dizer que haja ironia ou humor, apenas uma
variante linguística.
A alternativa C está incorreta, pois não há a descrição do espaço, mas da percepção do autor
sobre ele.
A alternativa D está incorreta, pois o poeta tem consciência de que mesmo conhecendo o lugar,
ele admite que ninguém sabe de fato decifrar seus mistérios.
A alternativa E está incorreta, pois o poeta é muito próximo de seu objeto de canto, parecendo
ser natural da região.
Gabarito: A

AULA 08 – Interpretação de texto II 81


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(ITA - 2012)

TEXTO 1

Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S. Paulo que a abertura de uma


estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil imaginar
que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com
a inexistência de transporte público de massa por ali.

Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se
refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em desmentir
que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana.

Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte


coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas.
Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de
metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em uma
determinada cidade.

Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta


pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa.

A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área,


não destruí-la.

Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, 2a avenida ficou menos tétrica, quase
bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus
sem dar vazão a desembarques, 3a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de
relações públicas.
Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das cidades alemãs
e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o
Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados – em formato de
livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros porque a ideia ali era tentar
convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte
público.

Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão*, o Godzilla do centro


de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos
materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. 5Se forem como os antigos bondes,
ótimo.

Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que


beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do

AULA 08 – Interpretação de texto II 82


Prof. Celina Gil

Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa
circular por São Paulo.

(Raul Justes Lores. Folha de S. Paulo, 07/10/2010. Adaptado.)

(*) Elevado Presidente Costa e Silva, ou Minhocão, é uma via expressa que liga o Centro à Zona
Oeste da cidade de São Paulo.

Considere as correlações entre o texto 1 e a tirinha expostas abaixo.

I. O personagem que fala tem uma postura semelhante à de parte de moradores de Higienópolis em
relação às pessoas que representariam a “gente diferenciada”.

II. Os personagens que se encontram fora do carro no segundo quadro corresponderiam à “gente
diferenciada” a que se refere parte dos moradores de Higienópolis.

III. No segundo quadro, o carro seria comparável aos muros e fortalezas que separam parte dos
moradores de Higienópolis do “Brasil real”.

Estão corretas:

a) I e II, apenas.

b) I e III, apenas.

c) II, apenas.

d) II e III, apenas.

e) todas.
Comentários:
A alternativa I está correta, pois a personagem manifesta que prefere se alienar da realidade
menos favorecida à sua volta, tal qual os moradores de Higienópolis, que não queria que o bairro
fosse “contaminado” por pessoas de realidades menos abastadas.

AULA 08 – Interpretação de texto II 83


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A alternativa II está correta, pois “gente diferenciada” se refere aos mais pobres.
A alternativa III está correta, pois o carro separa a realidade mais abastada da realidade menos
favorecida da maioria da população brasileira.
Gabarito: E
(ITA - 2012)

Considere o poema abaixo, de Ana Cristina César (1952-1983).

Fisionomia
não é mentira
é outra
a dor que dói
em mim
é um projeto
de passeio
em círculo
um malogro
do objeto
em foco
a intensidade
de luz
de tarde
no jardim
é outra
a dor que dói

O título do poema está relacionado ao eu lírico por um conflito de natureza

a) amorosa.

b) social.

c) física.

d) existencial.

e) imaginária.
Comentários: “fisionomia” é o conjunto de traços que compõe o rosto de alguém. Ao unir esses
traços com problemas e angústias ocorre um problema existencial: como as sensações são
capazes de moldar seu rosto.
A alternativa A está incorreta, pois não é possível presumir que a dor dela seja necessariamente
de amor, apenas sentimentos.

AULA 08 – Interpretação de texto II 84


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A alternativa B está incorreta, pois não há elementos que denotariam preocupação social, apenas
individual, existencial.
A alternativa C está incorreta, pois a dor e angustia da personagem não é física, mas espiritual.
A alternativa E está incorreta, pois não há nada de imaginário na dor. Não é porque ela não é física
que ela se torna inexistente.
Gabarito: D
(ITA – 2019)

Assinale a alternativa que exprime o teor crítico da charge.

a) A pichação somente contribui para o aumento da poluição visual da cidade.

b) É necessário investir efetivamente em educação para a conscientização ambiental.

c) Há incoerência entre a proibição governamental e sua efetiva fiscalização.

d) A pichação é uma forma ilegítima de protesto social e educacional.

e) Os pichadores demonstram total indiferença com o meio ambiente e a lei.


Comentários: Quando se lê a expressão “crime ambiental” há uma expectativa de atenção ao
meio ambiente, à natureza. No entanto, percebe-se que o policial está mais preocupado com a
pichação do que com a poluição do rio atrás de si. Assim, expõe-se a hipocrisia dos órgãos
governamentais responsáveis, que se preocupam com ações insignificantes diante daquilo que de
fato representa um dano ao meio ambiente – e que não está sendo fiscalizado com o mesmo zelo.
Por isso, a alternativa correta é alternativa C.
A alternativa A está incorreta, pois a crítica da charge não é à pichação em si, mas à fiscalização
ambiental.
A alternativa B está incorreta, pois não há nenhuma menção ou indicação à educação. A crítica se
volta aos órgãos fiscalizadores e reguladores.

AULA 08 – Interpretação de texto II 85


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A alternativa D está incorreta, pois, novamente, a crítica não é à pichação, mas às leis ambientais.
A alternativa E está incorreta, pois quem está sendo criticada é a postura do policial, não dos
pichadores.
Gabarito: C
(ITA - 2017)

http://2.bp.blogspot.com/_wBWh8NQAZ78/TBWEMQ8147I/AAAAAAAAACE/zmfW9c8uAKk/s1600/Tirinha_Sensacionalismo.jpg.
(Acesso em 12/05/2016)

Os dois primeiros quadros da tirinha criam no leitor uma expectativa de desfecho que não se concretiza,
gerando daí o efeito de humor. Nesse contexto, a conjunção e estabelece a relação de

a) conclusão.

b) explicação.

c) oposição.

d) consequência.

e) alternância.
Comentários: Neste caso, o “e” tem o mesmo valor que um “mas”, pois o período significa que
Calvin fala mal do programa, mas gosta dele, o que cria uma relação de oposição. Portanto, a
correta é a alternativa C
A alternativa A está incorreta, pois não há conclusão de nenhum dado, apenas oposição de
sentido (é ruim / eu gosto).
A alternativa B está incorreta, pois não explica nada, pelo contrário, opõe;
A alternativa D está incorreta, pois não há relação de consequência (não é porque é ruim que ele
gosta).
A alternativa E está incorreta, pois não há menção de alternância (ora gosto, ora não gosto / ora
é bom, ora é ruim)
Gabarito: C
(ITA – 2016)

O efeito de humor da tirinha abaixo se deve

AULA 08 – Interpretação de texto II 86


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a) à postura desobediente de Mafalda diante da mãe.

b) à resposta autoritária da mãe de Mafalda à pergunta da filha.

c) ao uso de palavras em negrito e cada vez maior do 2º ao 4º quadrinho.


d) ao fato de aparecer apenas a fala da mãe de Mafalda e não sua imagem.

e) aos sentidos atribuídos por Mafalda para as palavras “títulos” e “diplomamos”.


Comentários: Mafalda faz uma brincadeira com a palavra título, ao associar uma relação de
parentesco a uma noção de hierarquia: ser possuidora de um título seria garantia de maior
autoridade. Como a mãe só se torna detentora desse “título” depois do nascimento da “filha”,
então ambas foram “diplomadas” no mesmo dia: o de seu nascimento, o que torna ainda mais
complexa a noção de autoridade, pois ambas detêm o título pelo mesmo tempo. Portanto, a
alternativa correta é a E.
A alternativa A está incorreta, pois o humor não está na desobediência, mas sim no raciocínio
lógico de Mafalda.
A alternativa B está incorreta, pois é a resposta de Mafalda, não a da mãe, que garantem o tom
irônico.
A alternativa C está incorreta, pois nessa tirinha, isso é apenas uma recurso para chamar a atenção
às palavras, não lhes conferir humor.
A alternativa D está incorreta, pois independente da imagem da mãe, o humor se encontra nas
falas e não na parte imagética da tirinha.
Gabarito: E

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES:

FELICIDADE CLANDESTINA

Clarice Lispector

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um
busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois

AULA 08 – Interpretação de texto II 87


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bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de
histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho
barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem
do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra
bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho.
Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias,
altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de
ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados
os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.
E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte
e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava
devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim
numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado
o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar,
mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que
era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa
do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo
mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e
diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo.
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.
Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir
com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não
escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer,
às vezes adivinho. Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer
sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

AULA 08 – Interpretação de texto II 88


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Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o
livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra
menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos
espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa,
apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de
sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras
pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até
que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro
nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada
da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida
e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se
refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E
você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo
tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não
disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que
segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até
chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.
Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei
ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-
o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a
felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como
demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase
puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

(Efomm - 2016)

Analise as afirmativas abaixo e assinale a opção INCORRETA.


a) Apesar de todos os defeitos, a menina má era agraciada com algo que a tornava privilegiada: era
filha de pai dono de livraria. E isso a tornava superior a todas as suas amigas.

b) A menina má era irônica, pois seu presente favorito para as amigas eram cartões postais da loja
do pai. Ela dava a entender que só ela tinha acesso aos livros.

AULA 08 – Interpretação de texto II 89


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c) O livro representa um fator de domínio sobre a menina boa. Ele passa a ser usado como estratégia
de poder e dominação pela menina má.

d) A introdução do conto apresenta as duas protagonistas da narrativa, salientando os aspectos


negativos de uma, que serão bem mais evidentes que os da outra.

e) A narradora, por ser menos favorecida, quebrou os paradigmas da diferença social e conseguiu o
livro em razão da sua insistência e de seu amor aos livros. Desse modo, ela conseguiu ter acesso ao
objeto desejado.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois a afirmação pode ser confirmada no texto, a partir do
fragmento extraído do primeiro parágrafo: “Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente
crespos, meio arruivados. [...] Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter:
um pai dono de livraria”. A partir desse trecho, a narradora enumera características da antagonista
(seguindo a elencação ao longo do texto, ao justificar a razão de considerá-la má), e indica que o pai dono
de livraria a punha em posição favorável em relação às demais. Não é possível inferir do texto se todas as
amigas dessa personagem são “devoradora(s) de histórias”, o que poderia ser considerado um erro na
alternativa. Contudo, dado que a alternativa D está errada por completo, e este é um pequeno deslize da
escrita da alternativa, ela é considerada verdadeira (logo, incorreta).

A alternativa B está incorreta, pois a afirmação pode ser confirmada no texto, a partir do fragmento
extraído do segundo parágrafo: “E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um
livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai”. A ironia se revela na escolha
do presente, uma vez que dado que a menina má tinha acesso à livraria do pai e a aniversariante da vez
gostaria de receber um livro, o presente mais óbvio seria um livro. Contudo, pelo que a narradora elenca
como “sadismo”, assim como pode ser entendido por “egoísmo”, a menina má fazia questão de não dar
livros de presente, mesmo que ela própria pouco os aproveitasse.

A alternativa C está incorreta, pois a informação pode ser confirmada no texto, a partir do
fragmento extraído do terceiro parágrafo: “Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na
minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe
emprestados os livros que ela não lia”. Aqui, fica claro que o livro é o instrumento de domínio, uma vez
que a menina boa (que narra o conto) se submete a “humilhações” em busca de acessar à obra literária,
sendo manipulada pela menina má, conhecedora do anseio da narradora.

A alternativa D está correta, pois a afirmação está incorreta: o primeiro parágrafo, tido como
introdução do texto, traz apenas informações sobre a menina má, isto é, não apresenta a menina boa,
que é a narradora em 1ª pessoa do conto.

A alternativa E está incorreta, pois a informação pode ser confirmada ao longo texto, conforme a
narradora faz as comparações entre as posses materiais dela e da menina má (esta possui o pai dono de
livraria, mora em uma casa e não em um sobradinho). Assim, embora não pudesse ter acesso ao livro por
conta própria, devido às suas poucas posses, sua insistência e determinação a possibilitou conseguir o
livro, após humilhações e desgaste emocional. Com isso, é possível afirmar que houve quebra de
paradigmas sociais (a condição social não a impediu de alcançar seu objetivo).

AULA 08 – Interpretação de texto II 90


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Gabarito: D

(Efomm - 2016)

A narradora sutilmente fala da inveja, alavancando o desenvolvimento do tema. É o que se percebe


na opção:

a) Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho
barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai.

b) Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a
implorar-lhe as humilhações a que ela me submetia (...)

c) Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias,
altinhas, de cabelos livres.

d) Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía ‘As reinações de Narizinho’, de Monteiro Lobato.
e) Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava
devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o trecho da alternativa transcorre sobre a atitude irônica e,
como dito pela narradora ao longo do texto, cruel com que a menina má escolhia o presente que dava às
amigas.

A alternativa B está incorreta, pois o trecho da alternativa revela que a narradora se submetia às
constantes humilhações na esperança de ter acesso aos livros.

A alternativa C está correta, pois a narradora indica a razão do comportamento cruel da menina
má: ela odiava as demais meninas, dado que seus atributos físicos eram distintos e ela sentia inveja das
características das demais.

A alternativa D está incorreta, pois o trecho da alternativa apresenta o momento em que mais um
processo de humilhação da narradora se iniciou.

A alternativa E está incorreta, pois o trecho da alternativa mostra um momento de alegria e


esperança da narradora.

Gabarito: C

(Efomm - 2016)

Assinale a passagem que demonstra estar a personagem à beira da exaustão.


a) Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda (...)

AULA 08 – Interpretação de texto II 91


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b) Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer (...)

c) E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

d) Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa,
apareceu sua mãe.

e) Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o trecho indica o primeiro dia em que a personagem passou
pela quebra de expectativa de não receber o livro emprestado, e o trecho “em breve a esperança de novo
me tomava toda” torna claro que ele ainda não estava exausta.

A alternativa B está incorreta, pois o fragmento indica uma primeira percepção sobre o que estava
por vir, e não um sinal de exaustão.

A alternativa C está correta, pois olheiras são usadas como símbolo para cansaço: ela, que
costumava ser disposta e enérgica (“não era dada a olheiras”), sentia o cansaço em virtude das tentativas
frustradas de obter o livro (“sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados”). Fisicamente,
olheiras são marcas escuras na proximidade dos olhos, e simbolizam cansaço e exaustão.

A alternativa D está incorreta, pois a chegada da mãe na cena relatada na alternativa é uma
mudança de perspectiva, e não um símbolo de exaustão.

A alternativa E está incorreta, pois o fato evidenciado na alternativa, no contexto do texto, ocorre
devido à euforia da conquista: a personagem não deixa de pular por estar exausta, e sim por estar
incrédula com a conquista, e preocupada com a integridade do livro.

Gabarito: C

(Efomm - 2016)

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. Quanto à relação da
menina com o livro, é INCORRETO afirmar que

a) o encontro com seu livro-amante passa a ser o próprio ato de leitura, que ganha dimensões mais
sedutoras à medida que é adiada.

b) a felicidade clandestina da menina boa era mostrar à menina má que o livro passou a ser dela.

c) ela encara o livro como uma verdadeira personificação, dando-lhe um valor especial.

d) a menina atribui ao livro sentimentos e intenções positivas.

e) a felicidade clandestina da menina era “esquecer” que estava com ele para depois ter a
“surpresa” de achá-lo.

Comentários:

AULA 08 – Interpretação de texto II 92


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A alternativa A está incorreta, pois a afirmação é verdadeira: a personagem desenvolve um vínculo


praticamente amoroso com o livro, e a consumação desse vínculo se dá pela leitura, a qual é adiada
constantemente com intuito de tornar o “encontro” mais surpreendente – o adiamento é, por si, uma
dimensão de sedução da personagem pelo livro.

A alternativa B está correta, pois a afirmação é falha: o encantamento da personagem boa é pelo
livro em si, pela possibilidade de ler e ter o livro em suas mãos. Nomeia-se “felicidade clandestina” devido
às dificuldades pelas quais a narradora passa para alcançar seu desejo: ler a obra literária.

A alternativa C está incorreta, pois a afirmação é verdadeira: o livro é personificado pela


personagem, e passa a ser considerado seu amante, expressão associada a pessoas.

A alternativa D está incorreta, pois a afirmação é verdadeira: o livro passa a ser considerado seu
amante da personagem, expressão que indica, neste caso, bons sentimentos. Além disso, o livro é
responsável por produzir sensações de bem-estar na menina boa, o que ela denomina “felicidade
clandestina”.

A alternativa E está incorreta, pois a afirmação está verdadeira, assim como se comprova nos
fragmentos: “Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter” e “ Criava as mais falsas
dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina
para mim”.

Gabarito: B

(Efomm - 2016)

As palavras da narradora ilustram o comportamento da menina má que, como bruxa dos contos de
fadas, tripudia sobre a menina inocente. Assinale a opção em que NÃO se confirma essa afirmação.

a) Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu
não disse nada.

b) O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico.

c) Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho.

d) (...) a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta,


exausta, ao vento das ruas de Recife.

e) Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o fragmento do texto não corrobora o que se afirma no
enunciado: neste trecho, a narradora mostra o momento em que recebe o livro, a contragosto da menina
má, realizando seu desejo pelo qual tanto se esforçou.

A alternativa B está incorreta, pois o fragmento faz referência ao plano estabelecido pela menina
má para tripudiar e prejudicar a menina boa.

AULA 08 – Interpretação de texto II 93


Prof. Celina Gil

A alternativa C está incorreta, pois o fragmento faz referência às ações tomadas pela menina má
para tripudiar e prejudicar a menina boa.

A alternativa D está correta, pois o fragmento faz referência à cena em que a mãe da menina má
se depara com a atitude perversa da filha.

A alternativa E está incorreta, pois o fragmento faz referência às ações tomadas pela menina má
para tripudiar e prejudicar a menina boa, caracterizando aquela como uma pessoa cruel e sádica.

Gabarito: A

Texto para as próximas questões:

Perdoando Deus

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem
pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção
sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui
percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem
deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-
me que me sentia satisfeita com o que via.

Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus,
que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor
senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo
isso “fosse mesmo” o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem
nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-
Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo,
e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave,
amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E
assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor
apenas livre.

E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada
pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia
o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão
encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-
se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo.
O meu medo desmesurado de ratos.

Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca
infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e
o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contiguidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo.
Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não
podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa
que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro
como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual
não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua
um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me

AULA 08 – Interpretação de texto II 94


Prof. Celina Gil

alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa
e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de
puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus
era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui
decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança
poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado podia me
esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia
encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu,
olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que
Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.

Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou
contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou
contar – não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele – mas vou
contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o
que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.

...mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta
para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático
errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões,
é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.

É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão
e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É
porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero
amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um
mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam
com brutalidade, pois sou muito teimosa.

É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria
o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que
nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que
entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o
formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido
que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque
o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a
distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a
morte de um rato.

Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive
os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem
lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo
de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha
natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada:
será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi
amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim,
estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me
submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de

AULA 08 – Interpretação de texto II 95


Prof. Celina Gil

mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não
me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus,
Ele não existe.

Clarice Lispector, em “Felicidade clandestina”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Pode-se identificar como principais marcas estético-discursiva do texto

a) linguagem linear e tempo psicológico.

b) fluxo de pensamento e digressões.

c) predominância de verbos no subjuntivo.

d) uso de palavras em diferentes idiomas.

e) afastamento da norma culta padrão.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois a linguagem do texto não é linear, mas fragmentada.

A alternativa B está correta, pois o texto mostra as reflexões de uma personagem que se sentia
num dia feliz, amando o mundo, até que vê um rato morto no chão. Isso faz com que a narradora entre
num redemoinho de pensamentos sobre o assunto, realizando uma série de digressões.

A alternativa C está incorreta, pois a maioria dos verbos do texto estão no indicativo, não
subjuntivo.

A alternativa D está incorreta, pois há apenas o aparecimento esporádico de palavras em latim no


texto.

A alternativa E está incorreta, pois o texto é totalmente escrito na norma padrão da linguagem

Gabarito: B
(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Pode-se afirmar, acerca do texto:

I. Trata dos pensamentos de uma narradora de voz feminina sobre seus sentimentos em relação ao
mundo.

II. Produz questionamentos sobre a existência ou não de Deus a partir de uma sensação de amor pelo
mundo.

AULA 08 – Interpretação de texto II 96


Prof. Celina Gil

III. O rato é uma construção metafórica, que deve ser entendida por extensão como “adversidades” ou
“contrariedades”.

IV. A narradora finaliza o texto compreendendo que deseja um mundo de livre e de paz por não sentir-
se assim ela mesma.

Estão corretas as afirmativas

a) I, III e IV.

b) I, II e III.

c) II, III e IV.

d) I e IV.

e) todas.

Comentários:

A afirmativa I está correta, pois a autora do texto se questiona sobre o amor que sente pelo mundo
após ver um rato morto na rua.

A afirmativa II está incorreta, pois os questionamentos sobre a existência ou não de Deus estão
ligadas a o modo como ela reagiu diante de uma contrariedade.

A afirmativa III está correta, pois o rato apenas personifica tudo aquilo que temos medo ou que
nos causa algum tipo de contrariedade. É sobre o modo como lidamos com as adversidades.

A afirmativa IV está correta, pois a narradora termina o texto afirmando que “Porque eu, que de
mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava
querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu”.

Gabarito: A
(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Assinale a alternativa que apresenta o aparecimento da fala de um interlocutor imaginário no meio da


fala da narradora, como se houvesse o comentário de alguém externo sobre um pensamento dela.

a) “Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e
reverência.”

b) “Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo.”

c) “Deus era bruto.”

AULA 08 – Interpretação de texto II 97


Prof. Celina Gil

d) “não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele”

e) “Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha
natureza?”

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois ainda que não haja a marca verbal de primeira pessoa nesse
trecho, há a apresentação de um comentário da narradora acerca das situações.

A alternativa B está incorreta, pois ainda que não haja a marca verbal de primeira pessoa nesse
trecho, há a apresentação de um comentário da narradora acerca das situações.

A alternativa C está incorreta, pois ainda que não haja a marca verbal de primeira pessoa nesse
trecho, há a apresentação de um comentário da narradora acerca das situações.

A alternativa D está correta, pois nesse momento há o comentário de alguém de fora, como que
impedindo a narradora de contar os segredos de Deus. Percebe-se a mudança do discurso, pois há o uso
da terceira pessoa, não da primeira pessoa como o resto do texto.

A alternativa E está incorreta, pois há o uso da primeira pessoa aqui, indicando a manutenção da
voz narradora.

Gabarito: D
(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Entre os parágrafos 6 e 8, a narradora faz uma grande repetição do uso da palavra “porque”. Essa opção
estética se dá com o objetivo de

a) mostrar suas dúvidas e questionamentos acerca de sua própria identidade, por não ter
mais certeza do que odeia ou não no mundo.

b) responder de diferentes maneiras e a partir de diferentes prismas os motivos que


levaram Deus a fazer a narradora encontrar com algo que lhe causava repulsa.

c) questionar os propósitos divinos ao criar um mundo feito de perfeição e carinho, quando


os homens na verdade não são merecedores disso.

d) tentar entender por que motivo ela sente tanto medo de roedores desde pequena,
fazendo um levantamento das situações que criaram esse sentimento.

e) investigar que tipo de ações Deus poderia fazer contra ela para vingar-se do fato de que
ela amava tanto o mundo de maneira tão pura.

Comentários:

AULA 08 – Interpretação de texto II 98


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A alternativa A está incorreta, pois a narradora não questiona que odeia ratos, ela apenas
questiona sua própria postura e expectativas: ela achava que podia amar o mundo, mas se questiona
sobre essa capacidade ao ver algo que a causa repulsa nesse mesmo mundo.

A alternativa B está correta, pois todo esse fluxo de pensamento está ligado a responder uma única
pergunta implícita: Por que Deus colocou um rato no caminho da narradora num dia em que ela se sentia
tão bem?

A alternativa C está incorreta, pois em nenhum momento se questiona o merecimento ou não dos
homens sobre o mundo.

A alternativa D está incorreta, pois o que ela se questiona não é o motivo do medo, mas porque
ela precisava ver um rato num dia em que sentia tanto amor pelo mundo.

A alternativa E está incorreta, pois ela não investiga quais as ações que Deus faria, mas os motivos
que o teriam levado a por um rato em seu caminho.

Gabarito: A
(Estratégia Militares 2021 - Inédita - Prof. Celina Gil)

Uma Galinha

Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém,
ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença,
não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três
lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um
grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um
telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada
com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção
de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde
esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa.
De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais
selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum
auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa
o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha
tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

AULA 08 – Interpretação de texto II 99


Prof. Celina Gil

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas
vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela
para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é
que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se
fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e
penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no
chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e
indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta.
Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha
mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os
olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez
aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal
porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O
que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O
pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina,
de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em
quando ainda se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele estado!” A galinha tornara-se a
rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos,
usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma
pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás
da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e
vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra
o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro
da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente.
Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso,

AULA 08 – Interpretação de texto II 100


Prof. Celina Gil

quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no
começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo
Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.

Assinale a opção que apresenta a afirmativa INCORRETA sobre o texto lido

a) A galinha acaba sendo tratada como a rainha da casa após as pessoas se sentirem
comovidas com o fato de que ela botou um ovo e começou a chocá-lo na frente de todos.

b) É possível afirmar, a partir do modo como o texto é escrito e das estruturas dos diálogos,
que a narradora do conto é a menina, que conta sua perspectiva do evento ocorrido.

c) A galinha é descrita ora de maneira realista, como quando ao apontados seus trejeitos,
ora de maneira humanizada, como quando se supõe seus sentimentos e desejos.

d) Há um movimento de esquecimento do afeto para com a galinha – não justificado de


maneira explícita – que norteia o desfecho da história dessa personagem.

e) Há uma construção narrativa elaborada para a fuga da galinha da morte, associando seu
comportamento a uma grande coragem, que a família entende advir da maternidade.

Comentários:

A alternativa A está correta, pois ao ver que a galinha pôs um ovo, a família se sente compungida
pela “maternidade” da galinha e passa a considera-la a rainha da casa.

A alternativa B está incorreta, pois o narrador não se identifica em nenhum momento do conto.
Nenhuma das personagens mencionadas – pai, mãe, menina e cozinheira – tomam a voz narrativa para
si. Há a presença de um narrador onisciente em terceira pessoa.

A alternativa C está correta, pois a galinha é tratada dos dois jeitos: por vezes, sua descrição é
animalizada, mas por outras há traços humanos na galinha.

A alternativa D está correta, pois ainda que possamos supor algumas possibilidades do porquê o
afeto se perdeu com o tempo, não há uma explicação exata.

A alternativa E está correta, pois a família entende que a coragem da galinha para fugir veio de
estar para botar um ovo e se sentem compungidos ao pensar que quase mataram uma galinha que estava
para “tornar-se mãe”.

Gabarito: B
(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

AULA 08 – Interpretação de texto II 101


Prof. Celina Gil

Do nosso sangue

Andamos nos caminhos vendo flores morenas

Os olhares dos milênios no sangue da América

Somos o desenho riscado ao luar da esperança

Atravessamos as brisas, os dias de sol…

Batemos sempre forte por livres amanhãs

Não perdoamos os que deixaram abatidos nossos

antigos irmãos que diziam que a terra não havia de

ser vendida

Que não se renderam e deixaram a vida

Deixaram a luta para que outras mãos empunhassem a lança


A lança da revolta e da justiça

Do dia trevoso e sem deuses

Por que eles não vieram?

Se gostavam de sangue por que não vieram?

Seguimos com o nosso, nossa força

Estamos aqui!

Temos outros que são pequenos

Estes acariciamos e damos vida, para que

perpetue a paz nos passos que damos

E não seremos silêncio

Bravos seguimos.

(Odilon Machado de Lourenço. Disponível em https://poetadagarrafa.wordpress.com/1-poemas-sobre-historia/


Acesso em 16 fev. 2021)

Analisando o contexto do poema, percebe-se que

a) o perdão será demorado e construído ao final da batalha travada.

b) o abandono dos deuses simboliza a derrota iminente na luta travada.


c) o eu lírico, junto a seus iguais, permanecerá na luta de seus irmãos.

AULA 08 – Interpretação de texto II 102


Prof. Celina Gil

d) a luta é vã e, por isso, todos silenciaram, exceto o eu lírico do poema.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque o eu lírico deixa claro, no verso “Não perdoamos os que
deixaram abatidos os nossos”, que o perdão não será possível contra aqueles que atacam seus iguais.

A alternativa B está incorreta, porque, ao analisarmos o poema, percebemos que, ainda que os
deuses não se disponham a lutar ao lado dos seus, haverá luta permanente, dado que o eu lírico decide
que não será silêncio, junto com os seus.

A alternativa C está correta, porque o eu lírico, ao utilizar a primeira pessoa do plural, indica que
permanecerá na luta junto com aqueles que são seus iguais. Podemos interpretar, pelas marcas
apresentadas, que possivelmente o poema fala sobre a situação de terras indígenas. O eu lírico,
identificando-se com a luta, não será silêncio e se colocará contrário ao que não concordar.

A alternativa D está incorreta, porque o uso da primeira pessoa do plural, com a ideia de que “não
seremos silêncio”, apresenta-se como uma generalização, incluindo o eu lírico e aqueles que são seus
iguais, acossados por aqueles que querem vender suas terras.

Gabarito: C

Texto para as próximas questões

(Disponível em <https://www.facebook.com/tirasarmandinho/posts/3234704826574801/> Acesso em 16 fev. 2021)

(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

A relação estabelecida entre a linguagem verbal e a não verbal indica que Armandinho
a) deseja cursar biologia, dada a sua relação com os animais.

b) deseja cursar medicina, dada a sua importância social.

c) deseja cursar jornalismo, dada a sua curiosidade.

d) deseja cursar história, pela construção do cartaz.

Comentários:

AULA 08 – Interpretação de texto II 103


Prof. Celina Gil

É interessante notar que os textos mistos apresentam relações de sentido importantes entre as
duas linguagens utilizadas na construção. De forma clara, percebe-se que o texto de Armandinho, ainda
que valorize todas as profissões apresentadas, apresenta uma preferência pela referência à história. Essa
afirmação é possível porque temos a construção de um cartaz, na linguagem não verbal, com um coração.
Essa construção demonstra que ele prefere essa disciplina por motivos que não sabemos determinar.
Ainda que possamos pensar que pode haver confusão entre a história como componente curricular e o
curso universitário, como temos imaginar ser o curso universitário, dado que os demais são
representações de curso.

Gabarito: D
(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

No último quadrinho, o texto verbal apresenta-se como


a) ambíguo.

b) incoerente.

c) pleonástico.

d) prolixo.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque a ideia de “fazer história” pode ser uma construção de cursar
história na faculdade, mais provável para o contexto, bem como uma possibilidade de construção de
marcar seu nome na história. Ainda que tenhamos uma leitura preferida, podemos entender das duas
formas.

A alternativa B está incorreta, porque não há nenhum problema de coerência com relação ao
apresentado anteriormente. Ainda que seja uma construção que pode ser lida como ambígua, podemos
perceber que suas duas leituras são condizentes com o que é apresentado anteriormente.

A alternativa C está incorreta, porque não temos relação de repetição no quadrinho em questão.
Lembre-se de que, usualmente, o pleonasmo é usado para reforçar uma determinada ideia, nem sempre
sendo errado.

A alternativa D está incorreta, porque a prolixidade é um defeito do texto que apresenta a ideia
de uma enrolação no que se escreve. É essencialmente o uso desnecessário de informações para
transmitir uma ideia. Não temos essa relação no texto.

Gabarito: A
Texto para as próximas questões:

Dois quadros

Na seca inclemente do nosso Nordeste,

O sol é mais quente e o céu mais azul

AULA 08 – Interpretação de texto II 104


Prof. Celina Gil

E o povo se achando sem pão e sem veste,

Viaja à procura das terras do Sul.

De nuvem no espaço, não há um farrapo,

Se acaba a esperança da gente roceira,

Na mesma lagoa da festa do sapo,

Agita-se o vento levando a poeira.

Disponível em: www.revista.agulha.com.br. Acesso em: 23 abr. 2020 (fragmento).

(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

Segundo o eu lírico, a seca

a) deixa as pessoas em condições desumanas.


b) deve ser aproveitada no verão por conta do sol.

c) obriga as pessoas a permanecerem inertes.

d) leva para longe os problemas humanos.

e) gera esperança em dias melhores no Nordeste.

Comentários:

O texto aponta claramente para a indicação de que a seca é um problema, tanto que os
nordestinos são obrigados a evadir de suas casas e região em busca de um lugar melhor. Perceba que a
seca acaba com a esperança das pessoas e as leva a buscar uma relação melhor de vida no sul do país. O
texto não poderia, em momento algum, ser entendida como geradora de esperança ou momento positivo
para as pessoas que sofrem constantemente com ela.

Gabarito: A
(Estratégia Militares – Questão Inédita – Professor Wagner Santos)

O uso dos verbos no presente indica que a seca


a) é passageira e momentânea.

b) ocorre somente naquele momento.

c) repete-se em um círculo eterno.

d) não ocorre com frequência.

e) está prestes a acabar.

Comentários:

AULA 08 – Interpretação de texto II 105


Prof. Celina Gil

A alternativa A está incorreta, porque os verbos no presente indicam que está acontecendo
naquele momento, mas sem a indicação de que teremos uma relação momentânea da seca, ou que ela
ocorre somente no momento da enunciação.

A alternativa B está incorreta, porque os verbos no presente indicam que está acontecendo
naquele momento, mas sem a indicação de que teremos uma relação momentânea da seca, ou que ela
ocorre somente no momento da enunciação.

A alternativa C está correta, porque a ideia dos verbos no presente, no caso desse texto, aponta
para a ideia de que temos uma relação clara de repetição dos problemas, com a construção da seca como
um evento repetitivo e infinito.

A alternativa D está incorreta, porque os verbos no presente atualizam a ideia de que a seca se
repete em um looping sem fim, não que ela não ocorre com frequência. Lembre-se de que o presente do
indicativo é usado, muitas vezes, como indicação de ações repetitivas, como a ideia de que as coisas
sempre são daquele jeito. É justamente o oposto ao apresentado na alternativa.

A alternativa E está incorreta, porque os verbos no presente atualizam a ideia de que a seca se
repete em um looping sem fim, não que ela está prestes a acabar. Lembre-se de que o presente do
indicativo é usado, muitas vezes, como indicação de ações repetitivas, como a ideia de que as coisas
sempre são daquele jeito.

Gabarito: C

Texto para as próximas questões

Como os campos

Marina Colasanti

Preparavam-se aqueles jovens estudiosos para a vida adulta, acompanhando um sábio e ouvindo
seus ensinamentos. Porém, como fizessse cada dia mais frio com o adiantar-se do outono, dele se
aproximaram e perguntaram:

– Senhor, como devemos vestir-nos?

– Vistam-se como os campos - respondeu o sábio.

Os jovens então subiram a uma colina e durante dias olharam para os campos. Depois dirigiram-se
à cidade, onde compraram tecidos de muitas cores e fios de muitas fibras. Levando cestas
carregadas, voltaram para junto do sábio. Sob o seu olhar, abriram os rolos das sedas, desdobraram
as peças de damasco e cortaram quadrados de veludo, e os emendaram com retângulos de cetim.
Aos poucos, foram criando, em longas vestes, os campos arados, o vivo verde dos campos em
primavera, o pintalgado da germinação. E entremearam fios de ouro no amarelo dos trigais, fios de
prata no alagado das chuvas, até chegarem ao branco brilhante da neve. As vestes suntuosas
estendiam-se como mantos. O sábio nada disse.

AULA 08 – Interpretação de texto II 106


Prof. Celina Gil

Só um jovem pequenino não havia feito sua roupa. Esperava que o algodão estivesse em flor, para
colhê-lo. E quando teve os tufos, os fiou. E quando teve os fios, os teceu. Depois vestiu sua roupa
branca e foi para o campo trabalhar.

Arou e plantou. Muitas e muitas vezes sujou-se de terra. E manchou-se do sumo das frutas e da
seiva das plantas. A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato. Plantou e colheu. A
roupa rasgou-se, o tecido puiu-se. O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, costurou
remendos onde o pano cedia. E quando a neve veio, prendeu em sua roupa mangas mais grossas
para se aquecer.

Agora a roupa do jovem pequeno era de tantos pedaços, que ninguém poderia dizer como havia
começado. E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para receber a
primavera, um pássaro o confundiu com o campo e veio pousar no seu ombro. Ciscou de leve entre
os fios, sacudiu as penas. Depois levantou a cabeça e começou a cantar.

Ao longe, o sábio, que tudo olhava, sorriu.


Colasanti, M. Mais de 100 histórias maravilhosas - 1.ed. – São Paulo: Global, 2015.

(EEAR – 2020/1)

Em qual alternativa há um trecho do texto que confirma que o jovem pequenino realmente vestiu-
se como os campos, conforme aconselhou o velho sábio?

a) “E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para receber a primavera, um
pássaro o confundiu com o campo e veio pousar no seu ombro”.

b) “A roupa do jovem pequenino era de tantos pedaços, que ninguém poderia dizer como havia
começado”.

c) “O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, costurou remendos onde o pano cedia”.

d) “A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato”.

Comentários:

A alternativa A está correta, pois o menino se tornou de tal modo parte dos campos, da natureza,
que o pássaro o confundiu com o campo.

A alternativa B está incorreta, pois não há no texto nada que indique os campos sejam algo que
não se sabe indicar como começa para justificar que isso pudesse aproximar o traje do menino aos
campos.

A alternativa C está incorreta, pois aqui vemos o processo de trabalho do menino, não a
semelhança com o campo.

AULA 08 – Interpretação de texto II 107


Prof. Celina Gil

A alternativa D está incorreta, pois a cor da roupa não a aproxima nem afasta dos campos nesse
trecho.

Gabarito: A
(EEAR – 2020/1)

Considerando a afirmação vistam-se como os campos, proferida pelo mestre aos seus discípulos,
pode-se afirmar que

a) os jovens estudiosos seguiram com exatidão o conselho do sábio, pois se inspiraram apenas no
luxo da natureza para confeccionar suas roupas.

b) a maioria dos discípulos não interpretou corretamente o conselho do mestre recriando a


natureza com vestes luxuosas.

c) o mestre ficou feliz porque seus discípulos se inspiraram na natureza para criar suas vestes.

d) o sábio aprovou a atitude dos discípulos, pois nada disse quando viu as roupas luxuosas.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o luxo não aproxima as pessoas do campo no contexto.

A alternativa B está correta, pois não se pode dizer que haja luxo na natureza, uma vez que é
justamente o traje menos luxuoso aquele que mais se aproxima dos campos.

A alternativa C está incorreta, pois o mestre apenas demonstrou contentamento com a atitude do
menino que não se vestiu de maneira luxuosa.

A alternativa D está incorreta, pois o sábio não demonstrou nem aprovação nem reprovação num
primeiro momento. Apensas deixou que o tempo corresse para demonstrar sua mensagem.

Gabarito: B
(EEAR – 2020/1)

Por que o jovem pequenino foi o último discípulo a confeccionar sua roupa?
a) Porque não deu importância ao conselho do mestre e confeccionou uma roupa simples com o
algodão que colheu no campo.

b) Porque se sentia inseguro em relação à roupa que deveria usar e criou uma veste simples com o
algodão que colheu no campo.

c) Porque estava esperando os outros jovens terminarem de costurar as suas vestes para criar uma
roupa melhor que as deles.

d) Porque entendeu o conselho do sábio e esperou o momento oportuno para colher a matéria-
prima dos campos e confeccionar sua roupa.

AULA 08 – Interpretação de texto II 108


Prof. Celina Gil

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois ele compreendeu o conselho do sábio, confeccionando um traje
respeitando os processos naturais.

A alternativa B está incorreta, pois não foi uma questão de insegurança, mas de escolha.

A alternativa C está incorreta, pois não há em nenhum momento a indicação de que o menino
buscasse uma competição.

A alternativa D está correta, pois ele compreendeu que para trajar-se como o campo era preciso
respeitar o tempo da natureza.

Gabarito: D
(EEAR – 2020/1)

Qual das afirmações abaixo resume a ideia principal do texto, a moral da história?
a) O verdadeiro sábio é humilde.

b) Só é possível ser criativo com poucos recursos.

c) Apenas a natureza nos proporciona tudo o que precisamos.

d) Não se devem imitar as atitudes da maioria das pessoas.

Comentários:

A alternativa A está correta, pois a natureza tem seus próprios processos e tempos. Não se pode
encontrar o luxo ou a suntuosidade nela. Se o sábio é aquele que se espelha na natureza, então ele deve
ser alguém humilde.

A alternativa B está incorreta, pois não é uma questão de criatividade, mas de sabedoria e
resiliência.

A alternativa C está incorreta, pois não é preciso viver apenas da natureza, mas compreender que
se deve espelhar na natureza para viver bem.

A alternativa D está incorreta, pois não se estabelece uma competição entre pessoas no texto. A
moral da história é que se deve ser humilde como a natureza.

Gabarito: A
(EEAR – 2019/1)

O lema da tropa

O destemido tenente, no seu primeiro dia como comandante de uma fração de tropa, vendo que
alguns de seus combatentes apresentavam medo e angústia diante da barbárie da guerra, gritou,
com firmeza, para inspirar seus homens a enfrentarem o grupamento inimigo que se aproximava:

AULA 08 – Interpretação de texto II 109


Prof. Celina Gil

— Ou mato ou morro!

Ditas essas palavras, metade de seus homens fugiu para o mato e outra metade fugiu para o morro.

Considere o seguinte trecho do texto:

“[...] vendo que alguns de seus combatentes apresentavam medo e angústia diante da barbárie da
guerra [...]”

O fragmento acima, no contexto em que se apresenta, indica

a) a situação que motivou o tenente a encorajar seus combatentes.

b) a consequência das ações e das palavras do tenente mediante seus homens.

c) o medo e angústia que, de igual modo, influenciou as ações temerosas do destemido tenente.

d) a força de bravura da fração de tropa comandada por um tenente que, embora inexperiente em
guerra, era muito corajoso.

Comentários:

A alternativa A está correta, pois o trecho destacado indica que, diante do comportamento dos
combatentes, de medo e angústia, o comandante percebeu que deveria incentivar seus subordinados.

A alternativa B está incorreta, pois o que se apresenta aqui é uma situação anterior à fala, não
posterior. Logo, não pode ser consequência.

A alternativa C está incorreta, pois o medo e a angústia não eram do tenente, mas da tropa.

A alternativa D está incorreta, pois o trecho indica que a tropa sentia medo, não que apresentava
força e bravura.

Gabarito: A
Texto para as próximas questões:
Solo de Clarineta

Às vezes, tarde da noite, homens batiam à porta da farmácia ou da nossa residência, trazendo nos
braços, ferido e sangrando, algumas vítimas da brutalidade dos capangas do chefe político local ou
alguém que fora “lastimado” numa briga na Capoeira ou no Barro Preto. Lembro-me que certa noite
– eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à
cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-
diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. Eu terminara de jantar e o que vi no
relance inicial me deixou de estômago embrulhado. A primeira coisa que me chamou atenção foi o
polegar decepado, que se mantinha pendurado à mão esquerda da vítima apenas por um tendão.
[...]. Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse

AULA 08 – Interpretação de texto II 110


Prof. Celina Gil

caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada
para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? Por incrível que pareça, o homem
sobreviveu.

Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos
que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua
lâmpada, trazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão,
propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e
do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos nosso toco de vela ou, em último
caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.

Érico Veríssimo - Solo de Clarineta (trecho) - Volume I

(EEAR – 2019/2)

O texto vale-se da metáfora da lâmpada para mostrar ao leitor que o escritor — e assim também a
literatura — tem por tarefa

a) permitir a fantasia de que, por menos que se possa fazer com palavras, há que se subjugar ladrões,
assassinos e tiranos.

b) oferecer conhecimento, denunciar, lançar luz, de todas as formas, sobre a realidade de


atrocidades e injustiças.

c) criar uma rota de fuga da escuridão, do medo, do ataque dos que investem contra a vida.

d) fazer sonhar, a despeito das atrocidades e injustiças da vida.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois a metáfora indica que o escritor pode revelar aquilo que, em
momentos de crise, se encontra oculto.

A alternativa B está correta, pois a metáfora mostra o papel do escritor de “jogar luz” sobre
atrocidades em momentos de injustiça ou opressão.

A alternativa C está incorreta, pois o escritor não cria uma rota de fuga, mas expõe aquilo que se
queria deixar oculto, no escuro.

A alternativa D está incorreta, pois o texto não fala sobre sonhar, mas sobre denunciar o mal que
se quer deixar oculto.

Gabarito: B
(EEAR – 2019/2)

AULA 08 – Interpretação de texto II 111


Prof. Celina Gil

Quanto à experiência vivida pelo autor do texto, quando por volta de seus catorze anos, pode-se
afirmar que

a) permitiu-lhe fazer uma boa ação, embora tenha despertado nele o ‘homem-macho’, que, com
dureza, enfrenta a escuridão, os ladrões, os assassinos e os tiranos.

b) serviu-lhe para iniciá-lo na capacidade de resistência, superação e altruísmo, valores,


infelizmente, vencidos pelo horror e pela náusea.

c) foi-lhe traumatizante; tanto assim que se remete a injustiças e atrocidades desde que, adulto,
começou a escrever romances.

d) fê-lo forte de alma, permitindo-lhe estender para a sua vida de escritor a capacidade de reação à
realidade de seu mundo.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois em nenhum momento se aponta que ele teria se tornado uma
ideia estereotipada de masculinidade.

A alternativa B está incorreta, pois ele não se mostra vencido pelo horror, uma vez que opta por
expor as injustiças e opressões com sua literatura.

A alternativa C está incorreta, pois ele não se sentiu imobilizado pelo trauma, tampouco escreve
apenas sobre esses assuntos. O que o autor afirma é que a partir da literatura se podem expor situações
que se desejam muitas vezes manter ocultas.

A alternativa D está correta, pois a situação marcou a vida do escritor de tal modo que ele a
entende como uma metáfora para outras situações em sua vida e sobre qual é o seu papel no mundo.

Gabarito: D
(EEAR – 2019/2)

Qual das alternativas abaixo faz uma afirmação correta acerca do texto?
a) É predominantemente dissertativo, uma vez que o autor defende um ponto de vista a respeito
da violência urbana e se utiliza de uma definição metafórica para fundamentá-lo.

b) É essencialmente descritivo, pois tem como principal objetivo fazer uma rica caracterização do
estado físico e psicológico do caboclo que chegou à casa do narrador-personagem.

c) Tem a composição de uma notícia, já que contém elementos caracterizadores desse tipo de texto,
quais sejam: o quê?, quando?, onde?, com quem?, por quê?.

d) Utiliza-se da narração de um episódio da vida do narrador-personagem como pretexto para as


reflexões do autor sobre o papel social do escritor.

Comentários:

AULA 08 – Interpretação de texto II 112


Prof. Celina Gil

A alternativa A está incorreta, pois o texto não fala sobre violência urbana, mas sobre momentos
de opressão.

A alternativa B está incorreta, pois o autor se vale de uma narração e de uma descrição para expor
suas reflexões sobre o ofício do escritor.

A alternativa C está incorreta, pois o texto é opinativo, não pode ser visto como notícia.

A alternativa D está correta, pois o narrador parte de uma situação de sua própria vida para expor
suas opiniões sobre o ofício do escritor em momentos de crise.

Gabarito: D
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Pronominais
Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada


Me dá um cigarro

(Oswald de Andrade. Pau-brasil, 1925)

O texto apresenta, como leitura principal, a ideia de que

a) o uso da gramática do português culto é uma necessidade de todos.

b) o português oralizado não precisa, necessariamente, seguir a Norma Culta.

c) o uso errôneo da língua pode atrapalhar a compreensão da mensagem.

d) a escrita deve prescindir do uso das normas ditadas pela Gramática Normativa.

e) o uso do português brasileiro é inferior ao uso do português culto de Portugal.

Comentários

AULA 08 – Interpretação de texto II 113


Prof. Celina Gil

O texto de Oswald, autor da primeira geração do Modernismo literário brasileiro, é uma clara
crítica ao uso da Norma Culta em todos os momentos de comunicação do português. Essa crítica se
fundamenta na ideia de que deveríamos usar a sintaxe do português trazido pelos portugueses no
descobrimento do país. Ao apresentar a ideia de que os “bons brasileiros” não precisam utilizar dessas
regras em seus momentos de comunicação oral, o autor discute o excesso de formalidade da comunicação
como uma obrigatoriedade e, por que não dizer, discute a pressão social para que todos sejam letrados
conforme aquilo que é determinado pela classe dominante. Hoje, entendemos esse uso como um uso
social que deve se adequar a necessidades de comunicação do momento e do contexto de uso da
linguagem. Esse é o ponto de estudo da chamada Sociolinguística.

Gabarito: B
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

A UM AUSENTE
(Carlos Drummond de Andrade)

Tenho razão de sentir saudade,

tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste

e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência

de viver e explorar os rumos de obscuridade

sem prazo sem consulta sem provocação

até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.

Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave

do que o ato sem continuação, o ato em si,

o ato que não ousamos nem sabemos ousar

porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,

AULA 08 – Interpretação de texto II 114


Prof. Celina Gil

de nossa convivência em falas camaradas,

simples apertar de mãos, nem isso, voz

modulando sílabas conhecidas e banais

que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste

o não previsto nas leis da amizade e da natureza

nem nos deixaste sequer o direito de indagar

porque o fizeste, porque te foste.

A leitura atenta do texto permite a compreensão de que

a) o eu lírico perde, como esperado, o amor do ente amado.

b) o ente amado do eu lírico se afasta, ainda que amando-o.

c) o eu lírico exige explicações do ente amado para entender o afastamento.

d) o eu lírico sente saudades de um amigo com quem sempre convivia.

e) o interlocutor do poema gerou um pacto verbal com o eu lírico.

Comentários

Alternativa A: incorreta. O tom do poema demonstra que o eu lírico não esperava perder o amor.
A compreensão que temos é a de que tal perda se dá de forma extremamente inesperada, causando a
sensação de perda e a geração de saudade. Perceba que há uma possível confusão nesse poema, visto
que há ambiguidade na construção de significados, dado que o eu lírico parece se referir a um amigo.

Alternativa B: incorreta. O poema, como dito acima, apresenta certa ambiguidade na construção
de significados, visto que, em determinado ponto da construção, temos a possibilidade de imaginar que
o eu lírico se refere a um amor carnal. Contudo, temos um amor fraterno de um amigo que o abandona
inesperadamente e, de forma direta, gera saudades.

Alternativa C: incorreta. Apesar de haver certa indignação, o eu lírico não apresenta relação de
cobrança de explicações. O que ele deixa claro é que não teve nem a possibilidade de pedir essas
explicações.

Alternativa D: correta. O poema de Drummond, apesar de certa ambiguidade para a construção


de significados, indica que o eu lírico sente saudades de um amigo com quem conversava e tinha uma
convivência bastante boa. A ambiguidade está no fato de que parece, em determinados momentos, que
o eu lírico fala sobre um ente amado por outra forma de amor.

AULA 08 – Interpretação de texto II 115


Prof. Celina Gil

Alternativa E: incorreta. O pacto a que se refere o eu lírico não apresenta nenhuma indicação de
ter sido feito de forma explícita. O que nos parece é que o pacto rompido pelo amigo era o implícito da
amizade, de manutenção do contato e da convivência boa, da qual sente falta diuturnamente.

Gabarito: D
Texto para as próximas questões

Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que
cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada, custei reconhecer o quarto da nova casa em eu que
estava morando e não conseguia me lembrar de como havia chegado até ali. E a insistente pergunta
martelando, martelando. De que cor eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação havia surgido
há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro, eu me pegava pensando de que cor seriam
os olhos de minha mãe. E o que a princípio tinha sido um mero pensamento interrogativo, naquela
noite se transformou em uma dolorosa pergunta carregada de um tom acusativo. Então eu não sabia
de que cor eram os olhos de minha mãe?

Sendo a primeira de sete filhas, desde cedo busquei dar conta de minhas próprias dificuldades,
cresci rápido, passando por uma breve adolescência. Sempre ao lado de minha mãe, aprendi a
conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também sabia reconhecer, em
seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento, entretanto, me descobria cheia
de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos. Eu achava tudo muito estranho, pois me
lembrava nitidamente de vários detalhes do corpo dela. Da unha encravada do dedo mindinho do
pé esquerdo... da verruga que se perdia no meio uma cabeleira crespa e bela... Um dia, brincando
de pentear boneca, alegria que a mãe nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o
passa-passa das roupagens alheias e se tornava uma grande boneca negra para as filhas,
descobrimos uma bolinha escondida bem no couro cabeludo dela. Pensamos que fosse carrapato.
A mãe cochilava e uma de minhas irmãs, aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer,
puxou rápido o bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto, das
lágrimas escorrerem. Mas de que cor eram os olhos dela?

Conceição Evaristo. Olhos d’água.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita – Prof. Wagner Santos)

Segundo a narradora, um dos seus momentos preferidos era

a) aquele em que a mãe ficava quietinha com as filhas na cama ou no sofá.

b) aquele em que podiam brincar com sua mãe, como se ela fosse uma boneca.

c) aquele em que os olhares se cruzavam e a menina sabia o que a mãe pensava.


d) aquele em que a mãe deixava transparecer os futuros momentos de alegria da família.

AULA 08 – Interpretação de texto II 116


Prof. Celina Gil

Comentários

Alternativa A: incorreta. Não temos nenhuma indicação de que a mãe separava momentos para
ficar à toa com as filhas. A única referência da narradora ao relacionamento afetivo com a mãe, no sentido
maternal e de brincadeira, é o momento em que a mãe se permitia ser boneca para as filhas.

Alternativa B: correta. Essa afirmação se sustenta na ideia de que a mãe da narradora, em


momentos que tirava para a família, se colocava como uma boneca para as crianças. Num desses
momentos, percebemos que a narradora descobre a verruga, confundida com um carrapato.

Alternativa C: incorreta. Apesar desse momento ser citado como um dos que envolvia a narradora
e a mãe, sendo, inclusive, indicado como uma prova de que a menina conhecia a mãe, à exceção da cor
dos olhos, a narradora não coloca valoração sentimental nele.

Alternativa D: incorreta. A referência a esses momentos está relacionada ao fato de a narradora


conhecer a mãe. Ela se “defende” explicando que conhecia a mãe só no olhar. Esse pensamento serve
para que todos percebam que ela não tinha a mãe como uma desconhecida.

Gabarito: B

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Assinale a afirmação correta a respeito do texto.

a) A autora se culpa por ter conhecido muito pouco a mãe.

b) A infância abastada (rica) afastou as filhas da mãe ocupada.

c) As irmãs da narradora certamente sabiam a cor dos olhos da mãe.

d) A autora teve bons momentos com a mãe, mas ainda assim se culpa.

Comentários

Alternativa A: incorreta. No texto, a autora se culpa por um único não conhecimento da mãe, que
era o relacionado aos olhos dela. Inclusive, na construção de sentidos, ela afirma que conhecia bastante
a mãe e que se culpa por não conhecer esse detalhe em especial. É uma relação interessante a do texto.

Alternativa B: incorreta. Segundo a narradora, não temos as filhas tendo afastamento da mãe por
conta de uma infância rica e abastada. Na realidade, percebemos que a família tinha uma vida humilde,
dado que a mãe parece trabalhar como lavadeira e faxineira, tendo pouco tempo para as filhas, mas se
dedicando a elas no pouco que tinha.

Alternativa C: incorreta. Essa alternativa constrói-se como errada, porque não temos nenhuma
indicação de que as irmãs (outras seis filhas) eram conhecedoras da informação que a narradora não
tinha. Perceba que essa será uma extrapolação das informações do texto, caso você marque essa
alternativa.

AULA 08 – Interpretação de texto II 117


Prof. Celina Gil

Alternativa D: correta. Na realidade, é possível perceber que a menina realmente teve uma
infância próxima à mãe, principalmente nos momentos em que a mãe conseguia se dedicar às filhas.
Contudo, ela se culpa por não saber um aspecto bastante simples, relacionado aos olhos da mãe.

Gabarito: D
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Ainda sobre o texto, encontra-se uma passagem de humor quando

a) a irmã da narradora tenta tirar a verruga da mãe pensando ser um carrapato.

b) a narradora percebe que não sabe a cor dos olhos da mãe e se desespera.

c) a mãe da narradora dorme enquanto as meninas brincam com seu cabelo.

d) a narradora acorda e consegue compreender que está em um quarto novo.

Comentários

Alternativa A: correta. A confusão da irmã mais nova da narradora, que tenta tirar a verruga da
mãe de forma rápida, é um momento bem humorado do texto, visto que se percebe a inocência das filhas,
em especial, da filha mais nova.

Alternativa B: incorreta. Nesse caso, não temos construção bem humorada, visto que é um
momento de tristeza e certo desespero para a narradora. Como vimos, o momento do humor é o caso da
verruga.

Alternativa C: incorreta. É em momento seguinte a esse que temos o humor. Como vimos, na hora
que a irmã mais nova tenta salvar a mãe de carrapato, temos um momento bem humorado, dada a
inocência do momento.

Alternativa D: incorreta. Nesse caso, não temos uma relação de humor. O momento mais bem-
humorado desse texto, como vimos, é aquele em que a irmã mais nova confunde a verruga da mãe com
um carrapato e tenta tirá-lo.

Gabarito: A
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

As perguntas no texto de Conceição devem ser entendidas como

a) retóricas.

b) argumentativas.

c) explicativas.
d) incoerentes.

AULA 08 – Interpretação de texto II 118


Prof. Celina Gil

Comentários

Alternativa A: correta. A pergunta retórica é aquela para a qual não há necessidade de uma
resposta clara. São usualmente perguntas reflexivas que movimentam o texto, auxiliando na construção
de significados desse texto. Perceba que a autora, em momento algum, responde ao questionamento que
ela mesma coloca.

Alternativa B: incorreta. As perguntas do texto não podem ser entendidas como argumentativas,
porque o texto não apresenta características argumentativas, mas narrativas.

Alternativa C: incorreta. As perguntas explicativas são aquelas utilizadas para a construção de


explicação de um tema ou de uma tese. Não temos, portanto, nenhuma relação com explicações. Como
vimos, são perguntas retóricas.

Alternativa D: incorreta. Não há nenhuma incoerência no texto. A incoerência é um defeito do


texto no qual há uma negação de ideias anteriores, fazendo com que se afirme alguma coisa e, em
seguida, isso seja negado.

Gabarito: A

Texto para as próximas questões

Mamãe era uma atriz famosa mas agitada como um vento de tempestade. Ou estava estudando
algum papel em meio de crises de angústia (era uma perfeccionista) ou estava dando entrevistas ou
experimentando roupas ou telefonando, levava o telefone para o quarto, deitava e ficava horas
falando com uma amiga ou algum amante. Pílulas para dormir, pílulas para acordar, a cara sempre
enlambuzada de creme. Não tomava conhecimento nem de Wanda nem de mim. Atrás de um móvel
ou pela fresta da janela eu a via entrar e sair se queixando, se queixava muito das pessoas. Do tempo
curto que a obrigava a correr e nessa corrida ia perdendo coisas, Onde está meu lenço, meu
perfume, minha chave, minha echarpe?! Leva esse menino daqui! gritou certa vez que me aproximei
mais. (...) Estreava a peça e vinham as críticas. Os telegramas. As homenagens. Então ficava macia,
o sorriso flutuante igual ao da deusa da gravura, uma roliça mulher coroada de anjos numa gôndola
puxada por dois cisnes brancos. Vem brincar com a mamãe, chamava por entre as plumas do seu
négligé. Eu ia mas nunca ficava muito à vontade, atento ao primeiro sinal de impaciência: tinha
sempre um crítico que se omitia e um outro que foi meio ambíguo — mas por que o público do
último sábado não aplaudiu de pé? A desconfiança crescia numa conspiração: apontava inimigos,
descobria tramas. Irritava-se quando o telefone tocava sem parar ou quando as pessoas a
abordavam na rua pedindo autógrafos, retratos. Mas quando chegou o tempo em que o telefone
ficou calado e as pessoas não se viravam para vê-la, caiu no mais completo desespero. Os vasos
vazios de flores. As pessoas distraídas. O tremor de excitação durava até a hora do carteiro, Hoje
não veio carta? Nem hoje nem ontem, só convites para exposições ou avisos de banco que eram
rasgados com tanto ódio que comecei a rezar para que eles não chegassem mais. Sobrava o jornal
que costumava deixar para depois, nunca entendi por que reservava para o fim o jornal. Ia
diretamente à página de arte, percorria os textos, Não fui mencionada? E quem sabe alguma

AULA 08 – Interpretação de texto II 119


Prof. Celina Gil

referência na página seguinte. Ou na outra, ô! que insipidez, que vazio. Dobrava o jornal com uma
crispação que eu ouvia de longe. Passava os cremes, tomava as pílulas e ia dormir.

(WN, Seminário dos Ratos, Lygia Fagundes Telles)

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Leia atentamente o texto e assinale a alternativa que apresenta apenas a(s) afirmação(ões)
correta(s)

I. O texto é narrado por uma personagem aparentemente de pouca idade e retrata o modo como
ele via sua mãe na época da infância.

II. Vê-se no texto as dificuldades pelas quais passam as crianças em situações em que os pais têm
alguma doença grave.

III. O trecho do conto tem caráter descritivo, apontando características da mãe do narrador em
diferentes situações.

a) I e II são corretas.

b) I e III são corretas.

c) II e III são corretas.

d) Apenas I é correta.

e) Apenas III é correta.

Comentários:

A afirmativa I está correta, pois quando se lê expressões como “Mamãe” e “tira esse menino
daqui” fica clara a pouca idade do narrador. Além disso, o que temos no texto são falas que indicam como
o menino vê sua mãe e os modos como ela reage às situações.

A afirmativa II está incorreta, pois não se pode afirmar, apenas pelas falas do texto, que a mãe
tenha algum distúrbio psicológico.

A afirmativa III está correta, pois o texto mostra a mãe do narrador como alguém que reage de
maneiras diferentes e se comporta de diferentes modos a depender do que está acontecendo em sua vida
naquele momento.

Gabarito: B
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

De acordo com o texto, só não se pode presumir que

AULA 08 – Interpretação de texto II 120


Prof. Celina Gil

a) a personagem descrita é alguém de comportamento instável, que não é capaz de ligar-se


emocionalmente aos filhos em nenhuma circunstância.

b) a mãe da personagem central, uma antiga atriz de sucesso, se irrita com a possibilidade de que
ela não esteja mas no auge de sua carreira.

c) a mãe apresenta comportamento conspiratório, vendo sinais de tramas ocultas em situações que
não necessariamente apontavam para isso.

d) o menino conseguia compreender, mesmo criança, os motivos que levavam sua mãe a ser uma
pessoa tão instável emocionalmente.

e) o menino e sua irmã são frequentemente deixados de lado por sua mãe, que se preocupa mais
com seu próprio sucesso do que com eles.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o narrador aponta que por vezes a mãe o tratava bem. Isso,
porém, só ocorria quando ela estava sendo reconhecida por seu trabalho.

A alternativa B está correta, pois o narrador aponta a mudança de comportamento da mãe quando
“chegou o tempo em que o telefone ficou calado e as pessoas não se viravam para vê-la”.

A alternativa C está correta, pois o narrador afirma que a mãe, quando não estava sendo muito
aplaudida por seu trabalho sentia-se da seguinte maneira: “A desconfiança crescia numa conspiração:
apontava inimigos, descobria tramas”.

A alternativa D está incorreta, pois mesmo jovem, ele já compreendia a relação entre o sucesso da
mãe e seu comportamento.

A alternativa E está incorreta, pois o narrador afirma que a mãe “Não tomava conhecimento nem
de Wanda nem de mim”.

Gabarito: A
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Sobre o trecho “Os vasos vazios de flores. As pessoas distraídas. O tremor de excitação durava até
a hora do carteiro, Hoje não veio carta? Nem hoje nem ontem, só convites para exposições ou avisos
de banco que eram rasgados com tanto ódio que comecei a rezar para que eles não chegassem mais.
Sobrava o jornal que costumava deixar para depois, nunca entendi por que reservava para o fim o
jornal” pode-se afirmar que

a) apontam que a mãe sofria perseguições já no final de sua vida.

b) indicam que a mãe não percebia seu sucesso ao longo do tempo.


c) referem-se à falta de vontade da mãe de saber a opinião do público.

AULA 08 – Interpretação de texto II 121


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d) representam de maneira concreta, material, a decadência da mãe.

e) revelam uma falta de vontade dos filhos de ajudar sua mãe.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o narrador indica que a mãe tinha delírios persecutórios, ou
seja, não era real a perseguição.

A alternativa B está incorreta, pois nesse trecho a mãe já não tem mais sucesso.

A alternativa C está incorreta, pois a mãe segue buscando nos jornais indicativo

A alternativa D está correta, pois o narrador materializa o fim do auge do sucesso da mãe ao
contrapor os vasos de flores vazios e os jornais mudos ao tempo em que ela recebia muitas homenagens,
indicando que ela já não recebe mais tanta atenção assim.

A alternativa E está incorreta, pois nesse trecho não há ações dos filhos envolvidas, mas do público
e crítica.

Gabarito: D
(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

Enterrem-se os mortos
e cuide-se dos vivos

ou dos feridos

que feridos e vivos

é o mesmo.

LOPES, Adília. A continuação do fim do mundo.

No poema ocorre uma construção lírica entre opostos com o acréscimo de uma terceira
possibilidade. A aproximação entre dois desses termos indica

a) que a morte é algo irremediável, condição da qual não se pode escapar, esteja a pessoa viva ou
ferida atualmente.

b) o reforço do eu lírico de que a vida deve ser valorizada independentemente se o indivíduo se


encontra saudável ou não.

c) a noção de que há gradações de vida que se pode ter, pois os feridos podem ser vistor como
próximos da morte.
d) que não é possível comparar diferentes fases da vida de alguém ou situações, pois são
experiências muito distintas.

AULA 08 – Interpretação de texto II 122


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e) equivalência entre o modo como as pessoas de modo geral lidam com o medo da morte de ferir-
se em vida.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o texto não indica que vivos e feridos são apenas um estágio
para a morte. Reforça o cuidado com a vida, não o pensamento da morte.
A alternativa B está correta, pois ao aproximar feridos e vivos na construção "que feridos e vivos
é o mesmo", o eu lírico deixa claro que qualquer vida tem valor, esteja o indivíduo com a saúde
em perfeito estado ou não.
A alternativa C está incorreta, pois a aproximação é entre vivos e feridos, não entre feridos e
mortos.
A alternativa D está incorreta, pois o texto estabelece comparação entre vivos e feridos.
A alternativa E está incorreta, pois o medo da morte não é uma discussão colocada aqui.
Gabarito: B
(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

Vi as estrelas. Mas não vi a lua, embora sua luminosidade se derramasse pela estrada. Apanhei um
pedregulho e fechei-o com força na mão. Por onde andará a lua? perguntei. Fernando arrancou o
paletó no auge da impaciência e perguntou com voz esganiçada se eu pretendia ficar a noite inteira
ali de estátua, enquanto ele teria que encher o tanque naquela escuridão de merda, porque
ninguém lhe passava o raio da lanterna. Inclinei-me para dentro do carro de portas escancaradas,
outra forma que ele tinha de manifestar o mau humor era deixar gavetas e portas escancaradas.
Que eu ia fechando em silêncio, com ódio igual ou maior. Fiquei olhando o relógio embutido no
painel.

— Onde está a lanterna?

— Mas onde poderia estar uma lanterna senão no porta-luvas, a princesa esqueceu?

Através do vidro, a estrela maior (Vênus?) pulsava reflexos azuis. Gostaria de estar numa nave, mas
com o motor desligado, sem ruído, sem nada. Quieta. Ou neste carro silencioso, mas sem ele. Já
fazia algum tempo que queria estar sem ele, mesmo com o problema de ter acabado a gasolina.

— As coisas ficariam mais fáceis se você fosse menos grosso — eu disse, entreabrindo a mão e
experimentando a lanterna no pedregulho que achei na estrada.

— Está bem, minha princesa, se não for muito incômodo, será que podia me passar a lanterninha?

TELLES, Lygia Fagundes. Noturno Amarelo. In. O Seminário dos Ratos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

No trecho selecionado do conto Noturno amarelo, de Lygia Fagundes Telles, evidencia-se uma
tensão entre o casal. O comportamento das personagens indica esse desconforto, principalmente

AULA 08 – Interpretação de texto II 123


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a) na resposta evasiva da mulher, que não revela seu como verdadeiramente se sentiu ao ouvir o
tom da fala do homem.

b) na discussão acalorada que ocorre entre o casal quando a mulher não alcança as expectativas do
homem.

c) da distração da mulher, que não presta a atenção no que o homem disse porque estava olhando
para o céu.

d) no modo afetivo com que a personagem masculina se refere à mulher, que já não parece disposta
a ficar com ele.

e) no tom irônico das falas do homem, principalmente mudando o sentido de um apelido que
poderia ser afetuoso.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois ela fala textualmente que ele foi grosseiro em sua fala.
A alternativa B está incorreta, pois a discussão não é acalorada, mas contida e sarcástica.
A alternativa C está incorreta, pois a mulher entende o pedido do homem, porém ela não quer
ficar na presença dele e vai olhar o céu.
A alternativa D está incorreta, pois o homem está sendo irônico em sua fala.
A alternativa E está correta, pois o tom do homem é irônico, chamando a mulher de “princesa”,
algo que poderia ser carinhoso, mas se torna sarcástico.
Gabarito: E
(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

― Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em
árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em
minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro! um bezerro branco, erroso, os olhos
de nem ser ― se viu ―; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que,
por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara
de cão! determinaram ― era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for.
Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe!
quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente ― depois, então,
se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja! que situado
sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do
Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem
maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze
léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho
de autoridade. o urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá ―
fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata

AULA 08 – Interpretação de texto II 124


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em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais
são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de
opiniães... O sertão está em toda a parte.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas.

No trecho inicial do romance Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa, o emprego de
expressões e não-conformidade com a norma culta da linguagem contribui para

a) indicar características etárias da personagem a partir das palavras utilizadas.

b) demonstrar que a personagem e seu interlocutor têm uma elação íntima.

c) enfatizar o alto grau de escolaridade da personagem, que usa termos arcaicos.

d) caracterizar a personagem a partir de suas experiências e lugares de vivência.


e) sinalizar o momento histórico em que se passa a obra pelos termos já em desuso.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois as características aqui não são de idade, mas de região em que
reside.
A alternativa B está incorreta, pois não se pode afirmar a relação estabelecida entre eles a partir
de uma variação regional da linguagem.
A alternativa C está incorreta, pois a personagem usa expressões da oralidade, da linguagem
popular, não eruditas.
A alternativa D está correta, pois o texto enfatiza o tempo todo que se passa no sertão. assim, o
autor faz uso de uma variante linguística popular para caracterizar essa personagem como
pertencente àquele ambiente.
A alternativa E está incorreta, pois a variação que se vê aqui é regional, não histórica.
Gabarito: D
(Estratégia Militares – 2021 – Celina Gil)

parece que sou uma planta


e me arrancaram da terra

com força violenta

e me apalparam e tatearam

sem consentimento

esqueceram que tenho raízes

AULA 08 – Interpretação de texto II 125


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Leão, Ryane. Tudo Nela Brilha E Queima (p. 49). Planeta. Edição do Kindle.

O poema de Ryane Leão revela um eu lírico marcado por processos de violência. Diante dessa
passagem do seu passado, o eu lírico

a) considera que as pessoas que foram violentas com ele devem ser punidas.

b) afirma sua força e sua capacidade de superação mesmo após sofrer violências.

c) compreende suas limitações em poder superar certos traumas do passado.

d) escolhe um lugar de reflexão dos traumas, transformando-os em vingança.

e) critica aqueles que não são capazes de superar questões difíceis do seu passado.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois em nenhum momento se fala sobre punição, mas sobre
superação.
A alternativa B está correta, pois de maneira metafórica, o eu lírico se coloca como alguém que
tem raízes, ou seja, que voltará a florescer mesmo que tenha sido machucado.
A alternativa C está incorreta, pois o poema fala sobre a capacidade de superação, não a
incapacidade.
A alternativa D está incorreta, pois em nenhum momento se fala sobre vingança, mas sobre
superação.
A alternativa E está incorreta, pois o poema não critica outras posturas. O eu lírico fala de si
mesmo.
Gabarito: B
Texto para as próximas questões

Cântico negro Para eu derrubar os meus obstáculos?...


José Régio Corre, nas vossas veias, sangue velho dos
avós,
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os E vós amais o que é fácil!
olhos doces Eu amo o Longe e a Miragem,
Estendendo-me os braços, e seguros Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!" Ide! Tendes estradas,
Eu olho-os com olhos lassos, Tendes jardins, tendes canteiros,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) Tendes pátria, tendes tetos,
E cruzo os braços,

AULA 08 – Interpretação de texto II 126


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E nunca vou por ali... E tendes regras, e tratados, e filósofos, e


A minha glória é esta: sábios...
Criar desumanidades! Eu tenho a minha Loucura!
Não acompanhar ninguém. Levanto-a, como um facho, a arder na noite
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade escura,
Com que rasguei o ventre à minha mãe E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos
Não, não vou por aí! Só vou por onde lábios...
Me levam meus próprios passos... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Se ao que busco saber nenhum de vós Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
responde Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Por que me repetis: "vem por aqui!"? Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Redemoinhar aos ventos, Ninguém me peça definições!
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A ir por aí... A minha vida é um vendaval que se soltou,
Se vim ao mundo, foi É uma onda que se alevantou,
Só para desflorar florestas virgens, É um átomo a mais que se animou...
E desenhar meus próprios pés na areia Não sei por onde vou,
inexplorada! Não sei para onde vou
O mais que faço não vale nada. Sei que não vou por aí!

Como, pois, sereis vós


Que me dareis impulsos, ferramentas e
coragem

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Leia atentamente o trecho destacado e assinale a alternativa que apresenta apenas a(s)
afirmação(ões) correta(s).

Como, pois, sereis vós


Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

AULA 08 – Interpretação de texto II 127


Prof. Celina Gil

(Texto I)

I. O trecho contrapõe dois pensamentos: um ligado ao conservadorismo e outro à idealização.

II. O autor do texto faz uso de versos brancos e livres, não se preocupando com regularidade.

III. A oração “Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,” possui sujeito oculto.

A. ( ) I e II são corretas.

B. ( ) Apenas II é correta.

C. ( ) II e III são corretas.

D. ( ) Apenas I é correta.

E. ( ) Todas as anteriores são incorretas.

Comentários:

A afirmativa I está correta, pois enquanto de um lado o eu-lírico aponta para o “sangue doa avós”,
de outro fala sobre “o Longe e a Miragem”.

A afirmativa II está correta, pois não há métrica ou rima regulares no poema.

A afirmativa III está incorreta, pois o sujeito dessa oração, “sangue velho dos avós” está apenas
posposto. Se escrita na ordem direta, essa oração seria “O sangue velho dos avós corre nas vossas veias”.

Gabarito: A

4 - Considerações Finais
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum ou nas redes sociais.
Prof.ª Celina Gil

/professora.celina.gil Professora Celina Gil @professoracelinagil

AULA 08 – Interpretação de texto II 128

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