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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ARTHUR SEABRA, CLAUDIO CORREIA, KAIRU SUET, MIGUEL BONELLI E


RICARDO NASCIMENTO

ANÁLISE PLANO A PLANO DO FILME HOMEM-ARANHA – NO


ARANHAVERSO (2018), DE PETER RAMSEY, BOB
PERSICHETTI E RODNEY ROTHMAN
Introdução à Linguagem e Teoria do Cinema e do Audiovisual

Niterói – Rio de Janeiro


2023
ARTHUR SEABRA, CLAUDIO CORREIA, KAIRU SUET, MIGUEL BONELLI E
RICARDO NASCIMENTO

ANÁLISE PLANO A PLANO DO FILME HOMEM-ARANHA – NO


ARANHAVERSO (2018), DE PETER RAMSEY, BOB
PERSICHETTI E RODNEY ROTHMAN
Introdução à Linguagem e Teoria do Cinema e do Audiovisual

Análise Plano a Plano, apresentada à


Universidade Federal Fluminense, como
parte das exigências para a disciplina de
Introdução à Linguagem e Teoria do
Cinema e Audiovisual, da sequência
“Salto de Fé” do longa-metragem
Homem-Aranha no Aranhaverso de
2018.
Orientador: Profº Dr. João Luiz Vieira
Monitor: Henrique Durante Esteves

Niterói – Rio de Janeiro


2023
Homem-Aranha no Aranhaverso apresenta Miles Morales, um jovem
negro do Brooklyn, em uma dimensão paralela inspirada no legado do Homem
Aranha após a morte do Peter Parker.
A animação estadunidense, produzida pela Columbia Pictures e Sony
Pictures Animation em associação com a Marvel Entertainment, em 2018,
conta com 117 minutos de duração. Seu elenco é composto por Shameik
Moore, interpretando Miles Morales, além de Lily Tomlin, Nicolas Cage, Haille
Seinfeld, Mahershala Ali e outros. Dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e
Rodney Rothman.

QR Code com acesso aos planos cortados e analisados da sequência


“Salto de Fé” - Homem-Aranha no Aranhaverso.

PLANOS - APP - ARANHAVERSO


Plano 01

Duração: 2 segundos (00:00 - 00:02)

Descrição: Prédios da cidade de Nova York com um raio se manifestando ao


fundo.

Imagem: A sequência se inicia com um grande plano geral, retratando


prédios na cidade de Nova York durante a noite. A "câmera" se encontra em
um ângulo contra-plongée e movimenta-se horizontalmente para trás, assim
caracterizando um movimento de travelling. Podemos perceber que o foco
abrange majoritariamente o meio da imagem, desfocando a seção inferior e
superior. Vale a pena ressaltar que, durante o plano, é possível perceber a
ocorrência de uma tempestade de raios, algo que afeta diretamente a imagem
mostrada pelo filme, pois, sincronizando com o som dos relâmpagos (e da
batida da música tocada ao fundo), as cores do mesmo e o traço da animação
mudam. Logo, de maneira quase diegética, quando ouve-se esse ruído, a
imagem torna-se preto e branca, mais especificamente tingindo a estrutura dos
prédios de branco e o céu e algumas outras áreas de preto. Por mais que isso
apenas pareça a aplicação de um efeito preto e branco na imagem, ao olhar
com maior atenção, percebe-se que esse não é o caso, o que é delatado
especialmente pela simplificação de todo o ambiente. O exemplo que achei
mais adequado é o prédio presente no canto superior esquerdo, que, quando
não há relâmpago, possui janelas iguais separadas equidistantemente e,
durante o relâmpago, é retratado com diversas linhas retas, representando
essas janelas vistas anteriormente. Assim, quando há ocorrência de
relâmpago, o que realmente ocorre é a retratação da mesma cena, porém com
um traço diferente, mais simplificado e característico de rascunhos. Essas
mudanças acontecem durante todo o filme, o que compõe a estética que
remete aos quadrinhos do herói titular do longa. Dito isso, essa troca de
imagens é feita como uma maneira de espelhar os flashes de luz emitidos pelo
fenômeno da natureza de maneira mais dramática, o que combina com o tom
da sequência, já que a mesma caracteriza uma mudança drástica na vida do
protagonista.

Som: Iniciamos a sequência com a música “What’s Up Danger” do Backway


featuring Black Caviar, exclusiva para a trilha sonora de Homem-Aranha no
Aranhaverso (2019), não diegética. Assim como, o som diegético simultâneo
interno dos raios nos prédios.

Montagem: Neste plano há a inserção dos prédios em um grande plano geral.

Plano 02

Duração: 3 segundos (00:02 - 00:05)

Descrição: Miles (Shameik Moore) observa algo que se encontra abaixo dele.
Imagem: Aqui vemos um plano close-up, mostrando o rosto do protagonista,
Miles Morales (Shameik Moore), de perto, observando algo abaixo de sua
posição, enquanto vê-se a cidade ao fundo. A "câmera" está em ângulo
frontal e realiza um zoom-out, terminando o plano mais longe de Miles do que
antes. O foco nesse plano é médio, já que, por mais que o cenário atrás dele
seja visível, o mesmo não chega perto de ser tão discernível quanto quem está
em primeiro plano. A origem da luz neste plano não é visível, porém, fica claro
que o rosto de Miles está sendo apenas iluminado por fontes de luz situadas
abaixo de sua posição, essas sendo aquelas vindas da cidade, algo que pode
ser inferido devido a tonalidade arroxeada da mesma, algo que não se
configura como uma “luz natural”. Como citado anteriormente, o personagem
em questão parece estar observando algo abaixo de onde ele está atualmente,
e, devido a respiração pesada vista enquanto a "câmera" se afasta, se
preparando para algo, porém isso apenas é parcialmente verdade. Isso é
evidenciado pelo próximo plano, que mostra que, durante esse momento, na
verdade, ele não só olha para baixo como também se lembra do que fez
anteriormente a sequência para chegar ali.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Inserção do personagem Miles Morales em um close up.

Plano 03

Duração: 2 segundos (00:05 - 00:07)

Descrição: Miles, com uma roupa usada anteriormente por ele, caminha até a
entrada da base de operações secreta do Homem-Aranha / Peter Parker (Chris
Pine).
Imagem: Neste plano, caracterizado como um plano médio, observamos
Miles, em um memória, andando para algo parecido com um depósito,
estabelecido anteriormente como a entrada para um elevador que leva à base
de operações do falecido Peter Parker, o Homem-Aranha anterior a Miles.
Dessa vez, a "câmera" se encontra em angulação traseira e se aproxima do
sujeito do plano, assim realizando um movimento de travelling. O foco no
plano está na pequena construção diante de Miles, assim levemente
desfocando-o, o que auxilia na sensação de movimento do plano, já que,
conjuntamente com a "câmera", o personagem se move em direção ao fundo.
A luz aqui é diegética, refletindo a luminosidade observada logo após o Sol se
pôr, assim posicionando a cena, cronologicamente, próxima ao plano anterior.
Pode-se perceber que esse plano é precedente em sentido cronológico ao
Plano 02 devido a roupa de Miles, que é uma fantasia comprada por ele
anteriormente no filme, diferindo da vestimenta que ele usa no plano citado
anteriormente, além da iluminação, que também delata que o plano se passou
mais cedo, já que há apenas "luz natural" no mesmo. A alternância entre o
presente e o passado ocorre durante toda a sequência e essa é apenas a
primeira vez que isso ocorre.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Corte em movimento do Miles no flashback em direção ao


esconderijo.

Plano 04

Duração: 1 segundo (00:07 - 00:08)

Descrição: Miles leva sua mão até a fechadura da porta, porém a mesma abre
sozinha.
Imagem: O plano em questão pode ser reconhecido como um plano detalhe,
retratando a fechadura que dá acesso a porta para o elevador se abrindo, além
de também ser possível ver a mão de Miles indo em direção ao objeto em
destaque. O ângulo é caracterizado como ¾, além de ser levemente
contra-plongée, e há o movimento óptico de zoom-in durante toda duração do
plano. O foco abrange toda a composição, assim mantendo tanto a porta, o
cadeado e a fechadura, quanto a mão, nítidas na imagem. Novamente,
percebe-se a luz diegética presente, já que, antes da abertura da porta, apenas
momentaneamente, a "luz natural" do ambiente aparece, sendo ofuscada pela
luminosidade emitida pelos símbolos de aranha vistos na cena, que refletem
nos dedos de Miles ao acenderem. Um detalhe interessante nesse plano é a
maneira que a mão de Miles consegue expressar a surpresa que ele sente em
relação a abertura da porta. Quando Miles visita a casa de Tia May (Lily Tomlin)
pela primeira vez, a personagem em questão abre a porta com uma chave, o
que implica que apenas ela consegue abri-la. Logo, assim podemos perceber a
razão do leve movimento feito por ele ao perceber que a porta havia sido
destravada: para que isso ocorresse, alguém precisou abrir a mesma de
maneira remota, o que, por consequência, quer dizer que alguém esperava por
seu retorno. Esse alguém, algo que descobrimos alguns planos depois, é a
própria Tia May.

Som: Ao aproximar-se da fechadura, som diegético simultâneo interno da


abertura digital. Assim como, a continuidade não diegética da música “Whats
Up Danger”.

Montagem: Combinação de direção, através do plano detalhe do esconderijo


que Miles se dirigia.
Plano 05

Duração: 1 segundo (00:08 - 00:09)

Descrição: Miles passa pela porta e chega no elevador que o levará até a
base.

Imagem: Primeiramente, o plano em questão é um exemplo de primeiríssimo


primeiro plano, enquadrando os pés de Miles enquanto o mesmo adentra o
elevador que descerá e, finalmente, dará acesso à base. Aqui, vê-se um
ângulo frontal e, durante o plano, percebe-se que a "câmera" age como uma
steadicam. Já em relação ao foco, o mesmo se atém ao que está em primeiro
plano, especialmente os pés e as pernas de Miles, que é o sujeito da cena, o
qual se move em direção a "câmera". Sobre a luz, é visível que há uma grande
mudança de cores em relação aos planos no exterior, que possuem uma
coloração mais azulada devido ao ambiente, que, atualmente se encontra com
essa iluminação devido ao anoitecer do dia, e esse plano, com uma forte luz
avermelhada. Essa cor não está alí por acaso, já que é uma dos principais tons
presentes no uniforme do falecido Homem-Aranha e, devido ao local ser
anteriormente seu, reflete sua posse sobre o mesmo. Outro possibilidade
interessante é a de que, quando Miles confecciona seu próprio traje a partir de
um feito por Peter, ele decide que o símbolo de aranha em seu peito, umas das
marcas registradas do herói, terá a coloração vermelha, algo que o símbolo
que aparece possa ter inspirado. Dessa maneira, Miles seria o novo
Homem-Aranha, porém, ao mesmo tempo, homenageando o antigo de alguma
forma.

Som: Som diegético simultâneo interno do fechamento das portas neste


primeiríssimo primeiro plano. Assim como, a continuidade não diegética da
música “Whats Up Danger”.
Montagem: Combinação de direção, ao entrar no ambiente que Miles
percorreu nos planos anteriores.

Plano 06

Duração: 2 segundos (00:09 - 00:11)

Descrição: Quando realmente chega na base, Miles aperta seus olhos para
enxergar algo.

Imagem: O sexto plano é um plano médio, enquadrando Miles, continuando


diretamente do último plano, apenas alguns segundos depois, mostrando o
elevador terminando sua viagem. Ao fundo, vemos os outros trajes do antigo
Homem-Aranha, e de onde, momentos depois, Miles escolherá e customizará o
seu. Após o fim da viagem do elevador, Miles aperta os olhos, tentando
descobrir quem foi a pessoa que lhe deu acesso à base, reforçando a ideia de
que ele sabia que alguém abriu a porta para ele. Novamente, tem-se um
ângulo frontal, dando uma ideia de continuidade visual do último plano. Aqui,
a câmera se mantém estática, porém há um leve zoom-in. O foco é médio,
tendo apenas Miles destacado e deixando os trajes em segundo plano, algo
que é interessante e comentarei logo sobre. Em relação à luz, fica nítido que o
cômodo é mal iluminado, e, de novo, há a presença de tons azulados, porém
por uma razão diferente dos planos passados no exterior. Como pode-se ver no
Plano 07, o que ilumina a sala são telas de computadores, que, no momento,
apenas mostram um fundo azul. Em relação ao destaque de Miles, é
perceptível que ele se encontra exatamente no centro da imagem e, logo atrás
dele, estão os antigos trajes de seu antecessor. Isso não só passa a ideia de
que agora ele é parte desse mundo, que ele também é um Homem-Aranha,
como o coloca à frente dos antigos trajes, assim o retratando não só como uma
parte, como, na verdade, à frente, um novo capítulo. Sendo assim, é nesse
momento que vemos Miles não só como a sua própria versão do herói, como
uma espécie de legado do antigo Homem-Aranha, continuando a luta de Peter,
porém do seu jeito.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Criação de Campo e Contracampo com o plano 7, ao apresentar


a direção do olhar do Miles.

Plano 07

Duração: 2 segundos (00:11 - 00:13)

Descrição: May Parker (Lily Tomlin) se encontra sentada dentro da base, como
se esperasse a chegada de Miles.

Imagem: Aqui, vê-se um plano conjunto, no qual vemos, no centro, Tia May,
sentada em uma cadeira de balanço, preparando uma xícara de chá e Miles,
do lado esquerdo da imagem, finalmente descobrindo quem foi que liberou sua
entrada no local. No segundo plano, vemos as telas azuis que comentei
rapidamente durante a análise do Plano 06, além de uma escrivaninha cheia
de pequenos detalhes, como uma caneca temática do Homem-Aranha, uma
"action figure" do personagem, frascos com líquidos coloridos, retratos,
desenhos, outros monitores e etc. Nesse plano, o ângulo é um plongée suave,
já que há apenas uma pequena inclinação de cima para baixo, e há um
zoom-in em direção a May. Já sobre o foco, percebe-se que, no plano, o que é
mais nítido é a personagem centralizada no enquadramento e os elementos
atrás dela, deixando Miles, mais próximo à câmera, desfocado. A luz agora é
um contraponto do plano passado, já que a "câmera" está oposta ao plano
anterior. Se antes víamos a iluminação no rosto de Miles, agora vemos sua
fonte e o rosto de Miles permanece escondido devido a sua posição. Porém, os
detalhes mais intrigantes são em relação às cores apresentadas e a disposição
das telas azuis. Novamente, vemos o azul e o vermelho, cores que
representam o Homem-Aranha, além das listras pretas no chão, algo que
também é visto no uniforme do personagem por meio de teias representados
no tecido mesmo (algo visto com maior claridade na fantasia comprada por
Miles na loja de fantasias), assim novamente mostrando que esse era um local
pessoal daquele herói, dessa maneira remetendo sempre a sua identidade
visual. Sobre a disposição dos monitores, é impossível deixar de comentar que
o mesmo remete e muito a uma aranha, assim, novamente brincando com
símbolos que remetem a iconografia do "Cabeça de Teia" por todo o seu
espaço de trabalho.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Criação de Campo e Contracampo com o plano 6, ao apresentar


que a Tia May esperava por Miles.

Plano 08

Duração: 2 segundos (00:13 - 00:15)

Descrição: May bebe um pouco de chá enquanto conversa com Miles.

Imagem: Este plano, um exemplo de close-up, mostra Tia May no centro,


continuando diretamente a última cena. Durante a sua duração, ela bebe uma
xícara de chá e conversa com Miles, que, neste momento, está fora do
enquadramento. Ao fundo, podemos ver as telas vistas no Plano 07,
evidenciando ainda mais o seu formato aracnídeo. Aqui, vê-se um ângulo
frontal e, mais uma vez, pode-se perceber o uso de um zoom-in brando,
apenas ligeiramente perceptível. Ao decorrer do plano, é visível que o foco se
encontra apenas em Tia May e os elementos ligados a ela no momento, como
a cadeira e a xícara que ela segura, deixando o fundo levemente desfocado,
porém ainda discernível. Em relação a luz, a mesma é usada para “revelar” o
rosto da personagem, já que, nos primeiros momentos do plano, há uma
sombra sobre o mesmo que, ao final, não está mais lá. Isso poderia
representar a visão de Miles se acostumando ao ambiente, já que o mesmo é
mais escuro do que a localização externa em que ele se encontrava
anteriormente. Por último, algo intrigante é a maneira que os monitores ao
fundo criam uma espécie de “moldura” para a personagem em foco, assim
também evidenciando que, por mais que May não seja uma heroína ao pé da
letra, ela também está inserida nesse meio e o afeta diretamente.

Som: Fala diegética simultânea interna da Tia May ao dizer “Já era hora”
enquanto há continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Combinação de movimento neste close up ao aproximar-se da


tia May enquanto leva a xícara à boca.

Plano 09

Duração: 2 segundos (00:15 - 00:17)

Descrição: Miles, no momento presente da narrativa, continua observando


algo que se encontra abaixo dele.

Imagem: Novamente, o filme dispõe de um plano close-up, dessa vez


mostrando Miles no momento atual da narrativa em meio a vários prédios,
ainda observando um ponto abaixo dele que se encontra fora do
enquadramento. Comentando sobre o ângulo da “câmera”, observa-se um
ângulo frontal e há um zoom-out, porém apenas em relação ao sujeito em
foco no plano, algo que fica evidenciado devido a maneira que a cidade,
compondo o fundo da cena, permanece estática. O plano também conta com
foco médio, deixando apenas Miles como enfoque da imagem. Já em relação
a iluminação, assim como no Plano 02, a mesma advém dos prédios da cidade
e suas luzes artificiais, algo que reflete em sua tonalidade. Esse plano é uma
continuação direta do Plano 02, assim construindo uma ideia de continuidade,
finalmente solidificando por completo que a sequência alterna entre a
atualidade, representada pelos planos de Miles acima do prédio, e um passado
recente, que conta ao espectador como Miles conseguiu seu uniforme e tudo
que ocorreu até o ponto do “salto de fé” que o protagonista deve realizar. Outro
fator curioso é a expressividade de Miles, algo observado anteriormente na
análise de imagem do Plano 04, que, apenas com suas expressões faciais,
consegue demonstrar o seu nervosismo causado pela situação em que se
encontra. Como dito anteriormente, ele está se preparando para algo, que, por
sua linguagem corporal, pode-se deduzir ser algo de certa dificuldade, porém
necessário para, finalmente, ser a sua passagem completa de Miles para
Homem-Aranha.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Salto do plano ao retornar ao plano 2, quando Miles se preparava


para o seu desafio.

Plano 10

Duração: 1 segundo (00:17 - 00:18)

Descrição: Miles, agora com uma roupa nova, espera a chegada do metrô.
Imagem: O décimo plano é caracterizado como um plano médio, retratando
Miles, já com suas roupas vistas nos planos que representam a atualidade do
filme, esperando a chegada de um metrô. Pode-se perceber que a “câmera” se
encontra em uma elevação mais baixa, o que possibilita o enquadramento de
Miles como um todo na cena. A angulação pode ser quase considerada de
perfil, já que Miles se encontra muito próximo de estar a 90° graus da
“câmera”. Dessa vez, não há movimentação nem da “lente” ou da “câmera” em
si, porém, dentro do plano, fica óbvio que o metrô realiza um movimento em
direção ao ponto de vista atual. O foco se encontra do lado direito da imagem,
majoritariamente deixando Miles em destaque, porém elementos fora dessa
área também são de fácil percepção do espectador, por mais que se encontrem
desfocados, como é o exemplo da placa do lado esquerdo, onde está escrito
“31 Street”. Mudando a atenção para a iluminação, percebe-se que a mesma é
originada de luzes artificiais que compõem a cena, como os faróis do metrô, as
luzes indicando a chegada do veículo, as lâmpadas da estação, etc. Também
em relação a iluminação, pode-se captar um detalhe interessante em Miles e
nos próprios faróis do transporte. Durante a passagem do metrô, vemos a luz
do interior do mesmo refletindo em Miles, e, ao observar atentamente,
percebe-se que, quando isso ocorre, há a presença de “Ben-Day Dots”, ou
“Pontos de Ben-Day”, sendo esse o nome dado a um processo gráfico de
colorização usado à exaustão pela indústria de quadrinhos americana durante
os anos 1950 e 1960. Por meio do uso dos mesmos, vê-se aqui uma
valorização da antiga cultura dos quadrinhos pelos idealizadores, que usando
esse pontos, estão homenageando a história das Hqs americanas,
especialmente as de cunho super-heróico. Além deste, há outro detalhe que
referencia os quadrinhos como um todo, que seria a figura humana que se
encontra dentro do metrô. Algo muito comum em diversos quadrinhos e
animações é a simplificação de formas humanas a fim de retratar sua
presença, porém sem demandar demais dos ilustradores/animadores
responsáveis, assim economizando tempo e dinheiro, algo aqui referenciado
por essa silhueta.

Som: Ao passar o metrô, o som dos freios é feito de forma diegética


simultânea interna.

Montagem: Inserção do metrô, no trânsito de Miles pela cidade à noite


enquanto reflete.

Plano 11

Duração: 1 segundo (00:18 - 00:19)

Descrição: Novamente, vê-se prédios da cidade de Nova York durante a noite.


Imagem: Esse grande plano geral retrata prédios nova-iorquinos durante a
noite, continuando, imageticamente, a função do Plano 01, sendo que ambos
são extremamente semelhantes. Vê-se aqui um ângulo contra-plongée, com
uma inclinação não muito latente. A “câmera” desloca-se para a frente, assim
caracterizando um movimento de travelling, o que ocorre até o final do plano.
Aqui, o foco tenta abranger o máximo possível de elementos presentes na
imagem, deixando apenas os prédios mais próximos levemente desfocados. Já
em relação a iluminação, vemos que a mesma é originada pela iluminação
artificial presente nas construções representadas na imagem, seja vindo de
outdoors iluminados ou de janelas. Aqui, mais uma vez, vemos o uso dos
“Pontos de Ben-Day”, presentes em três pontos específicos, esses sendo o
anúncio onde está escrito “ABA”, no letreiro luminoso indicando um “Hotel” e
em uma faixa de luz branca, vista no lado inferior esquerdo do enquadramento.
Assim como no Plano 01, a tempestade de raios continua, sendo aqui apenas
representada pelo ruído dos relâmpagos, e, como no primeiro plano da
sequência, quando o som do relâmpago é audível, a imagem se torna uma
versão preto e branca de si mesma. Continuando o padrão do plano inicial, a
imagem não simplesmente se tinge de duas cores, ela se torna mais
simplificada e difere em alguns pontos de sua contraparte colorida, como
pode-se ver aqui na mudança de fonte das letras do outdoor luminoso da
direita e na omissão de detalhes estruturais de certos prédios, algo que fica
gritante no prédio na extrema direita do plano, que, ao clarão do relâmpago,
perde grande parte de suas janelas.

Som: Dessa vez mais fortes, o som do raio é diegético simultâneo interno,
enquanto ocorre a continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Apesar do plano anterior se passar na cidade deste plano geral, há


uma mudança abrupta na localidade, e por isso pode-se dizer que este corte
simples leva a uma descontinuidade espacial. Apesar disso, os constantes
relâmpagos pela sequência dão a sensação deste plano se enquadrar na
linearidade temporal, apresentando continuidade.

Plano 12

Duração: 2 segundos (00:19 - 00:21)

Descrição: Miles sobe a escada da estação subterrânea do metrô para a


superfície, prontamente olhando para algo.

Imagem: Inicialmente, o plano se configura como um plano conjunto,


mostrando Miles subindo a escada de uma estação subterrânea do metrô,
porém, ao se aproximar da “câmera”, o mesmo se torna um close-up,
mostrando em com detalhes o rosto do personagem enquanto o mesmo fita um
ponto fora de enquadramento, que pode-se deduzir ser o prédio em que ele
está em cima durante o momento presente da narrativa. Além do seu rosto, o
fundo também é visível, mostrando pedestres caminhando, prédios, postes e
outdoors iluminados. Em relação ao ângulo, no início do plano, pode-se ver que
o ponto onde a “câmera” está é um acima de Miles, assim sendo um plongée,
algo que muda no final da cena, já que, quando Miles sobe as escadas, ele se
encontra em um ângulo próximo ao ¾. Dessa vez, a “câmera” realiza o
movimento de tilting, ascendendo conjuntamente com a movimentação do
personagem principal, que, por sua vez, se movimenta em direção a
“câmera”. O foco do plano está localizado majoritariamente em Miles,
fazendo-o se destacar em meio a multidão de pessoas caminhando durante a
noite. Já em relação a luz, vemos que a mesma advém inteiramente de fontes
“artificiais” de iluminação, algo que acontece durante a maioria dos planos da
sequência, sendo inteiramente iluminados pelas luzes da cidade. Durante o
plano, pode-se constatar novamente a presença dos “Pontos de Ben-Day”, que
estão localizados quase sempre em pontos de iluminação durante toda a cena.
Porém, não só essa técnica clássica dos quadrinhos é observada nesse plano,
como também há a presença de hachuras, sendo essa a técnica de criar
sombras e texturas usando linhas paralelas extremamente próximas. Elas são
vistas com clareza no rosto de Miles, em áreas com leve sombreamento, assim
espelhando seu uso mais comum, sendo esse o meio artístico do desenho, na
obra aqui analisada.

Som: Nesse plano há um monólogo deslocado, anterior e diegético. Esse


monólogo pertence ao personagem Jefferson Davis (Brian Tyree Henry), o pai
de Miles. Nessa fala, ele diz “É que eu vejo esse brilho em você”.

Montagem: Uma nova descontinuidade de espaço retorna o personagem ao


ambiente do metrô, mas agora saindo dele. Um corte em movimento introduz
o plano de Miles subindo as escadas. Há uma combinação com o movimento
da câmera, que apresenta um travelling para frente assim como no plano
anterior. Devido a relação com o plano 10, em que o personagem ainda estaria
esperando pelo metrô, há uma ideia de elipse de tempo.

Plano 13

Duração: 1 segundo (00:21 - 00:22)

Descrição: Vê-se um metrô em movimento e, rapidamente, o mesmo sai do


enquadramento.

Imagem: Nesse plano geral, observa-se um metrô em operação, algo


constatado pela presença de passageiros dentro do mesmo, seguindo seu
caminho por uma linha acima da superfície da terra, que se movimenta para a
direita. Como pano de fundo do plano, há alguns prédios presentes e,
eventualmente, em primeiro plano, há uma dupla de chaminés e um prédio. A
angulação aqui pode ser caracterizada como lateral, já que o sujeito em
destaque no plano, o metrô, é retratado de lado. A “câmera” se movimenta
assim como o metrô, porém em direções opostas, se dirigindo para a esquerda
em um movimento de travelling. Já o metrô, que dispara na direção
discordante da “câmera”, realiza um movimento lateral direito. O plano tem o
foco médio, já que o mesmo é mantido no metrô, por mais que ele esteja em
movimento e inicialmente pareça desfocado, algo perceptível devido à
diferença de destaque entre o metrô e outros elementos presentes na cena.
Sobre as cores, há uma tonalidade azul predominante durante o plano, sendo
apenas “quebrada” pelas luzes esverdeadas do interior do veículo e por
algumas leves iluminações nas janelas dos prédios.

Som: Há o som diegético interno do metrô, que passa rapidamente. Há


também a continuação do fragmento de monólogo deslocado, com o pai de
Miles dizendo “É incrível”.

Montagem: Nova descontinuidade espacial, sendo indefinida a relação


temporal com a sequência, podendo representar uma inserção. A transição
para esse plano é feita a partir de um corte simples.

Plano 14

Duração: 2 segundos (00:22 - 00:24)

Descrição: São retratados prédios, com a tempestade vista anteriormente ainda


perdurando ao fundo.
Imagem: Aqui vemos um grande plano geral, mostrando a maior área vista
até agora na sequência, sendo essa um grande pedaço da cidade de Nova
York. Continuando o que foi apresentado anteriormente, é possível ver os raios,
presentes pela primeira vez no Plano 01, se manifestando em meio às
construções durante o início do plano. Quando o plano chega ao fim, é
perceptível que há um prédio em evidência se comparado aos outros,
posicionado no centro da imagem. Em relação aos ângulos, inicialmente, temos
um contra-plongée, que, aos poucos, torna-se frontal, isso quando levamos
em consideração que o prédio mais alto é o sujeito em foco do plano.
Continuando, sobre a movimentação, a “câmera” parece simular o movimento
de uma grua, sendo ascendida aos poucos enquanto também se desloca para
a esquerda. Finalizando a parte técnica, o foco, assim como a angulação, se
modifica ao longo da cena, inicialmente colocando em destaque os raios do
lado esquerdo da tela e, no fim do plano, o prédio no centro e, a luz é originada
pelas estruturas da cidade e, durante sua aparição, pelos raios. Nesse plano,
há alguns possíveis apontamentos a serem feitos. Primeiro, essa cena se
difere de suas antecessoras imagéticas (Plano 01 e Plano 11), pois, por mais
que haja a presença dos raios e relâmpagos, a imagem não é trocada por uma
contraparte simplificada e bicromática da mesma, já que, aqui, o foco não é
criar uma atmosfera dramática, mas sim apresentar um elemento importante da
sequência como um todo, sendo esse o prédio, do qual Miles realizará o seu
“salto de fé”. Isso também pode ser alicerçado pela ausência da música, algo
que será comentado na seção sobre o som. O prédio aqui também é revelado
aos poucos, sendo inicialmente ocultado por outros mais próximos da “câmera”
e, devido ao movimento da mesma, é exposto para a espectadores como o real
objetivo do plano, algo que, inicialmente, pode passar despercebido devido a
velocidade do mesmo e ao voice-over tocando ao fundo, que distrai a atenção
do espectador. Aqui, partes iluminadas apresentam os “pontos”, assim como é
possível perceber hachuras pelas superfícies dos prédios. Um último detalhe
curioso são duas palavras, escritas pelo cenário, que servem como piadas
visuais realizadas pelo filme. A primeira é vista conjuntamente com os raios,
sendo essa a palavra “boom”, que, combinado com a explosão do raio, quase
se torna uma onomatopeia do plano, novamente referenciando o mundo dos
quadrinhos, que constantemente usam desse recurso gráfico para comunicar
sons altos dentro de histórias. A segunda é um grafite feito em um dos prédios,
sendo esse a palavra “look”, com uma seta apontando para cima o
acompanhando. Isso serve quase como um guia para o espectador, que é
instruído pelo próprio filme a olhar para um ponto elevado, sendo esse o prédio
posteriormente revelado.

Som: Neste plano, há o estrondoso som diegético interno do trovão,


pertencente ao raio que aparece no céu.

Montagem: O corte aqui privilegia o movimento de câmera para a esquerda,


também presente no plano anterior com mesma velocidade. Considerando que
são ambos planos gerais de aspectos semelhantes da cidade, a
descontinuidade temporal e espacial, pode ser considerada pequena ou até
inexistente.

Plano 15

Duração: 2 segundos (00:24 - 00:26)

Descrição: Miles sobe uma escada, que o leva para a cobertura de um prédio,
e abre a porta.

Imagem: Em um plano médio, vê-se Miles, subindo as escadas que levam


para o todo de um dos prédios (provavelmente, o ponto que ele estava olhando
durante o Plano 12) e, ao fim do mesmo, parece estar absorvendo a paisagem
em que está, sendo essa a cidade vista anteriormente em diversos planos.
Aqui, temos um ângulo traseiro, assim impossibilitando que o espectador veja
o rosto de Miles, algo que, por mais que oculte o mesmo, ainda pode-se
deduzir que ele se encontra com uma expressão misturada de nervosismo e
determinação, algo que precede o ato do salto durante toda a sequência. Os
movimentos nesse plano ocorrem tanto por parte do sujeito do plano quanto
pela própria “câmera”, que, devido a sua movimentação, simula uma câmera
na mão, balançando como se alguém a segurasse e subisse junto com Miles,
que se movimenta em direção oposta à câmera. Sobre o foco, o mesmo se
mantém em Miles e a iluminação permanece constante, sendo originada pelas
luzes da cidade. Novamente, há a presença de hachuras no plano, também
representando sombras suaves e até algumas mais proeminentes, como
aquela originada pelo corrimão. Finalmente, outro apontamento que pode ser
feito aqui é a maneira que Miles se posiciona ao fim do plano, algo que remete
diretamente ao uniforme do Homem-Aranha visto no próximo plano, assim
mantendo a mensagem de que ele finalmente faz parte do grupo das
Pessoas-Aranha apresentadas durante o filme.

Som: Mais uma vez um monólogo deslocado do pai de Miles: “Pode fazer
coisas ótimas com esse dom”. Ouve-se o ruído diegético interno da porta
sendo aberta.

Montagem: A partir de um corte simples, o plano inicia apresentando


descontinuidade, tanto espacial quanto temporal. A descontinuidade
temporal pode ser considerada elíptica partindo do pressuposto de que o
personagem estaria olhando para o edifício no plano 12.

Plano 16

Duração: 3 segundos (00:26 - 00:29)

Descrição: Miles observa os trajes do Homem-Aranha de seu universo.


Imagem: Aqui é apresentado um plano conjunto de Miles na base do
Homem-Aranha de seu universo observando seus trajes. Miles está
enquadrado na altura da cintura, enquanto os trajes têm seu limite inferior um
pouco acima dos joelhos. As roupas recebem uma iluminação superior difusa,
diferente de Miles, que está na sombra. É possível ver o reflexo de Miles no
vidro que protege o traje no centro. Todo o plano está em foco, e um leve
movimento de tilt para baixo revela um pouco mais dos elementos em
destaque. À esquerda, temos o traje isolante em azul e laranja, mostrado pela
primeira vez no quadrinho “O Espetacular Homem-Aranha #425” criado com o
objetivo de derrotar o clássico vilão Electro. À direita, vemos o traje preto com
detalhes vermelhos e brancos, obtido originalmente no quadrinho “Guerras
Secretas #2”, utilizado para se infiltrar no reino do Doutor Destino. Finalmente,
no centro, está o clássico uniforme vermelho e azul, que está presente desde a
primeira aparição do Homem-Aranha, na histórica revista “Amazing Fantasy
#15”.

Som: A parte instrumental da música continua, e a progressão da música


acompanha o movimento de câmera. Neste plano se inicia uma fala diegética,
deslocada, anterior e externa. Essa fala pertence a Rio Morales (Lauren
Vélez), mãe do protagonista, e foi dita em um diálogo entre os dois
personagens anteriormente no filme.

Montagem: Este plano apresenta uma quebra na continuidade


espaço-temporal para com o plano anterior, caracterizando uma elipse
reversa; mas é uma pequena elipse e descontinuidade do plano 08.
Curiosamente apresenta uma descontinuidade no movimento de câmera,
que é majoritariamente ascendente no plano anterior e apresenta um tilt para
baixo neste plano.
Plano 17

Duração: 2 segundos (00:29 - 00:31)

Descrição: Miles encara o traje original do Homem-Aranha.

Imagem: É feito um primeiro plano do traje principal do Homem-Aranha,


emoldurado pelos limites da cabine em que ele se encontra. Esse traje está
atrás de um vidro, quase completamente transparente, que o protege. Existe
uma iluminação difusa logo acima dele, permitindo observar os detalhes da
roupa. O ângulo é um leve contra-plongée, fazendo-o parecer maior e
contribuindo para representar a magnitude que o traje simboliza. É possível ver
o reflexo de Miles na frente do vidro, que inicialmente está olhando para frente.
Ele levemente levanta a sua cabeça, de modo que o seu rosto encaixe na
máscara. Durante este plano há um pequeno zoom-in.

Som: A progressão da música se acalma e o volume diminui ligeiramente. A


inserção do diálogo anterior do filme termina neste plano, com a mãe de
Miles dizendo “Our family doesn’t run from things”. Na tradução: “Nossa família
não foge das coisas”. Clara função dramática evocando a necessidade do herói
de encarar seus medos.

Montagem: Com a câmera se mantendo à frente do traje, há uma


continuidade de tempo e espaço confirmada pela posição de Miles no reflexo
apesar do enquadramento agora ser um primeiro plano.

Plano 18

Duração: 2 segundos (00:31 - 00:33)

Descrição: Miles sacode uma lata de spray.


Imagem: Plano detalhe de uma lata de spray sendo sacudida pelo
protagonista e sua tampa sendo retirada durante o processo. Linhas em volta
do braço do personagem são utilizadas para compor a ideia de movimento.
Conhecidas na teoria dos quadrinhos como linhas de ação, linhas de
movimento ou até linhas cinéticas, esse traço é extremamente recorrente nas
revistas e gibis que o filme constantemente referencia. É possível ver o braço
do personagem até o cotovelo e o chão vermelho da base que apresenta o
símbolo do herói em preto. O foco está mais perto da câmera, sendo a lata e o
braço os objetos em foco. O fundo está levemente desfocado, caracterizando
uma média profundidade de campo. Há um suave zoom-in durante esse
plano.

Som: A música não diegética continua, agora com as batidas sendo o


principal elemento. Acompanhando a imagem, há o som diegético e interno
da lata de spray sendo sacudida, que apresenta uma textura levemente
metálica. Enquanto isso, há mais um fragmento de diálogo deslocado
anterior. Dessa vez é a voz do Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), dizendo
“You’re the best of all of us Miles”, ou seja, “Você é o melhor de nós, Miles”.

Montagem: A partir de um corte seco, esse plano representa uma pequena


descontinuidade no espaço, pois é possível identificar que a ação ainda se
passa na base do Homem-Aranha, apesar de em outra área. Há uma elipse de
tempo, perceptível inclusive pela troca de roupa do personagem, que está de
casaco, diferente do plano anterior.

Plano 19

Duração: 2 segundos (00:33 - 00:35)


Descrição: A logo do super-herói é pintada de preto.

Imagem: É apresentado um plano detalhe do peito do traje do


Homem-Aranha, com a logo centralizada no enquadramento. O plano mostra
uma única linha de tinta sendo pintada por cima do símbolo, enquanto é
possível ser visto que há mais partes do traje já coloridas de preto. A mudança
de cor predominante é essencial para compor uma identidade própria para o
personagem, se distanciando do herói que veio antes dele. Ligeiro zoom-in
também aparece nesse plano.

Som: Enquanto a música extradiegética continua, as batidas se intensificam.


A fala deslocada continua com o Homem Aranha Noir. Em sincronia com a
imagem, há o som diegético e interno de uma lata de spray sendo usada.

Montagem: Introduzido por um corte simples o plano apresenta um


continuidade de espaço e uma pequena elipse de tempo demarcada pelo
progresso na pintura do traje.

Plano 20

Duração: 2 segundos (00:35 - 00:37)

Descrição: O tornozelo e o pé do traje são pintados.


Imagem: Esse é o último plano que mostra o processo de colorização e
mudança da estética do traje. Um plano detalhe do pé do traje, terminando de
ser coberto por um jato de tinta preta. A câmera acompanha o jato, fazendo um
movimento de tilt e deixando ele sempre aproximadamente centralizado.
Como o spray não é totalmente preciso, o fundo vermelho em volta do traje,
que está desfocado, também é pintado.

Som: Continuidade da música e intensificação das batidas. Continua também o


som diegético de spray do plano anterior, como se ele fosse constante e
ininterrupto. Neste plano termina a segunda parte da fala deslocada do
Homem-Aranha Noir: “You are on your way”. Em português: “Você está no
caminho certo”.

Montagem: Com um corte que continua o movimento de pintura, há


novamente continuidade de espaço e pequena elipse de tempo.

Plano 21

Duração: 2 segundo (00:37 - 00:39)

Descrição: Miles respira profundamente enquanto olha para baixo.


Imagem: Primeiro plano frontal com o protagonista em foco, e baixa
profundidade de campo, com todo o fundo desfocado. Miles está no topo de
um prédio, olhando para baixo. Atrás de Miles é possível ver a parte superior
da cidade, em tons azulados pintados por luzes brancas e vermelhas. O céu
também está azul. O personagem em foco, com a cabeça baixa, encara o
chão, apreensivo, e respira profundamente. Já é possível notar também partes
do peito de seu novo traje, por baixo do casaco que está usando.

Som: Neste plano está presente apenas as batidas da música não diegética.
Em cerca de 95 bpm (batidas por minuto), a música apresenta tensão e
intensidade.

Montagem: Descontinuidade completa de espaço e elipse indefinida de


tempo. A transição é feita por um corte simples.

Plano 22

Duração: 3 segundos (00:39 - 00:42)

Descrição: É mostrado que o protagonista está sentado no topo de um edifício


enquanto olha para baixo.
Imagem: Um plano médio que inicia em um plongée extremamente oblíquo,
cujo movimento de câmera termina em um ângulo zenital. A cena é dividida
quase perfeitamente na metade, com um lado sendo a beira do prédio e o outro
lado mostrando uma parte da cidade. A cidade apresenta cores escuras,
azuladas, iluminada por luzes roxas, brancas e vermelhas. No centro está Miles
olhando para o chão, como no plano anterior, e sendo iluminado por baixo.

Som: Neste plano os outros instrumentos e sons da música começam a


retornar em uma espécie de fade-in. Um fragmento de diálogo deslocado,
dessa vez do próprio protagonista, é iniciado.

Montagem: Novo corte seco, esse plano apresenta uma continuidade de


espaço e tempo levando a câmera a uma visão de zenital.

Plano 23

Duração: 2 segundos (00:42 - 00:44)

Descrição: Miles veste sua máscara.

Imagem: Primeiro plano mostrando o personagem Miles como no Plano 21,


com o fundo desfocado. Em ângulo frontal, o personagem levanta a sua
cabeça, olhando para frente, e puxa para baixo sua máscara, cobrindo o rosto.
Os movimentos são executados com precisão e intensidade, emanando
confiança. As cores da máscara original foram modificadas, com o preto no
lugar do vermelho e detalhes vermelhos e roxos em torno dos olhos.

Som: Continua o som deslocado anterior, no qual Miles fala com o Homem
Aranha de outra realidade (Jake Johnson), uma versão que assume um posto
de mentor para ele. Nesse fragmento Miles pergunta “Quando eu vou saber
que sou o Homem Aranha?”. Há um ruído diegético dentro de tela que
representa o som da máscara sendo colocada.

Montagem: Corte seco retorna ao primeiro plano de Miles representando


continuidade de espaço e tempo.

Plano 24

Duração: 2 segundos (00:44 - 00:46)

Descrição: Miles coloca suas mãos na beira do edifício.

Imagem: Primeiríssimo primeiro plano na altura dos joelhos do personagem.


Se em um primeiro momento suas mãos, juntas, passam uma sensação de
apreensão, há novamente uma postura decisiva quando elas são colocadas à
beira do edifício, se utilizado do poder de grudar em superfícies. O ângulo
novamente é frontal. A luz inferior e afastada contribui para a criação de
sombras no personagem. É possível também ver que as pernas e os punhos
do traje estão pintados de preto.

Som: Termina o diálogo deslocado anterior, no qual o mentor do


protagonista responde “Não vai.”. A música se torna mais calma e há um ruído
diegético, simples e interno das mãos sendo fortemente colocadas no
edifício.
Montagem: Continuidade de espaço e pequena elipse de tempo
reconhecida pela posição das mãos.

Plano 25

Duração: 2 segundo (00:46 - 00:48)

Descrição: O personagem, agora na janela do prédio, recolhe as pernas, se


preparando para o salto.

Imagem: Plano médio do personagem Miles, agora grudado a uma janela do


prédio. Aqui é usado o ângulo holandês para destacar a impossibilidade
desse movimento, um artifício que modifica a angulatura natural da cena e
reforça para o público o quão impressionantes são os super-poderes do herói.
Seu corpo está em foco, em contrapartida com o fundo, caracterizando uma
média profundidade de campo. O personagem recolhe as pernas, se
preparando para executar o salto.

Som: Agora com a música lenta apresentando poucas batidas, pode-se


escutar dois sons diegéticos dentro do quadro, que são os tênis do
personagem sendo arrastados pelo vidro do prédio.

Montagem: Há pequena descontinuidade de espaço, pois o personagem


ainda está localizado no edifício. Também se vê uma elipse de tempo devido a
nova posição do personagem.
Plano 26

Duração: 2 segundos (00:48 - 00:50)

Descrição: Miles olha para baixo.

Imagem: A câmera parte para um close-up de Miles, olhando para baixo. O


movimento parte de um leve plongée em direção a um ângulo frontal. É
possível ver detalhes de teias na máscara do personagem, tal como o reflexo
da cidade em seus olhos. Grande foco no personagem e baixíssimo foco no
prédio atrás dele, caracterizando baixa profundidade de campo. Esse plano
estabelece o sujeito observador do plano ponto-de-vista seguinte.

Som: Enquanto a música se torna cada vez mais simples, tendo apenas
batidas praticamente, inicia-se mais um som diegético deslocado anterior de
um monólogo do Homem Aranha de Jake Johnson.

Montagem: A partir de um um corte simples, a câmera toma uma posição na


frente do rosto do personagem ao fazer um close, se mantendo no campo de
180 graus da posição anterior, e apresentando continuidade de tempo e
espaço.

Plano 27

Duração: 1 segundo (00:50 - 00:51)

Descrição: Visão da cidade pelo Miles.


Imagem: Plano geral, similar ao Plano 22 mas com objetivo de mostrar uma
visão da cidade. O plano é um ponto-de-vista, que apresenta ângulo zenital
com um leve movimento de tilt. A escolha da angulação contribui para a
sensação de elevada altitude do personagem.

Som: Termina o monólogo do mentor de Miles, no qual ele diz “That’s all it is,
Miles, a leap of faith”, que significa “É apenas isso, Miles, um salto de fé”. Essa
é a frase que dá nome à cena, e que marca um ponto de extrema importância
no arco de evolução do personagem principal.

Montagem: O plano que inicia a partir de um corte simples apresenra uma


continuidade da linha do olhar do personagem olhando para baixo, mantendo
também uma continuidade de tempo e de espaço.

Plano 28

Duração: 2 segundo (00:51 - 00:53)

Descrição: Miles, que estava olhando para o chão, levanta a cabeça para
iniciar o salto.
Imagem: Retorno ao close-up do protagonista, praticamente idêntico ao plano
26. Singelo plongeé com movimento para um ângulo frontal. Também é
possível ver a cidade nos olhos da máscara, e o prédio no fundo fora de foco.
Porém neste plano o personagem se movimenta. Levanta a cabeça, olhando
para frente. No final do plano é possível percebê-lo se afastando do prédio,
iniciando o movimento de salto.

Som: Este plano é quase em silêncio, exceto por um zumbido proveniente da


própria música.

Montagem: Apresenta uma inversão da linha de visão do plano anterior,


retornado ao rosto de Miles e continuando as características de espaço e
linearidade temporal.

Plano 29

Duração: 2 segundo (00:53 - 00:55)

Descrição: Miles realiza seu salto de fé.

Imagem: Plano médio com foco em Miles. Seu corpo aparece completamente
em quase todo o plano, tendo uma pequena parte da perna direita fora de
quadro antes do personagem se desprender do prédio. É um foco médio, com
o personagem como principalmente elemento do plano e mais próximo da
câmera. A cidade no fundo mantém os esquemas de cores analisados e baixo
foco. Há um curto movimento de tilt, acompanhando o eixo vertical do salto.

Som: A música para. Os sons diegéticos internos que compõem a ação do


personagem incluem o som da roupa proveniente do movimento e o som do
vidro da janela do prédio sendo estilhaçado. Há também uma metáfora
auditiva relacionada à intensidade do salto.

Montagem: No plano existe uma pequena elipse inversa já que ele apresenta
o início do salto, que já havia sido iniciado no plano anterior. A continuidade
de espaço, no entanto, se mantém.

Plano 30

Duração: 1 segundo (00:55 - 00:56)

Descrição: O vidro das janelas em que o protagonista estava grudado se


estilhaça.

Imagem: Nesse breve plano, é percebido em primeiríssimo primeiro plano


uma das mãos se desprendendo do vidro da janela, quebrando-o no processo.
Esse plano é mais lento que os outros, permitindo serem observados os
detalhes. O foco é médio, com a mão e o vidro sendo os principais elementos.
Nos estilhaços é possível perceber as cores da cidade e o reflexo do traje de
Miles.
Som: O close nas mãos de Miles é representado sonoramente pelo aumento
de volume do som diegético dos estilhaços. Som esse que se prolonga devido
à diminuição da velocidade do plano. A música retorna, e a frase “Like what 's
up danger” é cantada quase sem instrumentos a acompanhando.

Montagem: Novamente uma pequena elipse inversa, pois o vidro já havia


sido quebrado no plano anterior. Se mantém a continuidade de espaço.

Plano 31

Duração: 3 segundos (00:56 - 00:59)

Descrição: O herói realiza uma cambalhota no ar e cai em direção ao chão.

Imagem: Plano geral com extensa profundidade de campo, mostrando o


primeiro momento do salto de fé. Há um movimento de pan enquanto o
personagem se afasta do prédio, seguido de um tilt enquanto ele cai. Miles
realiza um giro de 180° no seu eixo vertical, de braços abertos, demonstrando
confiança, e cai em direção ao chão. A conformação dos edifícios parece
rodear a área na qual o personagem está se direcionando. Essa área, que
aparenta ser mais aberta, emite uma luz mais clara que o resto da paisagem.
Apesar dessa iluminação mais forte ser advinda da rua, ela contribui com a
ideia do personagem ter mais claro em sua mente seus objetivos e sua própria
identidade, e estar rumando na direção desses ideais.

Som: Um baixo som diegético do estilhaços de vidro caindo ainda pode ser
ouvido, e a música repete vagarosamente a palavra “danger” (que significa
“perigo”), quase como se fosse um eco.
Montagem: Novamente uma pequena elipse inversa, pois os pés de Miles já
haviam se deslocado das janelas anteriormente. Este plano apresenta
continuidade de espaço.

Plano 32

Duração: 2 segundo (00:59 - 01:01)

Descrição: Durante a queda, o personagem se aproxima cada vez mais do


chão.

Imagem: Mais um plano geral da cidade, continuando o movimento do


personagem, dessa vez apenas vertical. Miles continua sua queda, de costas
para o chão, em um movimento em direção ao fundo. Na segunda parte do
plano, mostrada na segunda imagem, acontece uma transição para câmera
lenta, ao mesmo tempo em que os estilhaços da janela caem e entram no
plano. Em todo o plano há uma extensa profundidade de campo.

Som: O som diegético da queda, possivelmente devido à resistência do ar, é


ouvido mais forte. A música ainda é lenta e sem muitos detalhes. Quando o
movimento transita drasticamente para uma câmera lenta, um som não
diegético de disco arranhado é ouvido, ajudando a compor a ideia de
movimento com menor velocidade.

Montagem: A continuidade no plano em corte seco se dá através do


movimento da câmera e do movimento do personagem. Ele mantém
também uma continuidade de espaço e tempo.
Plano 33

Duração: 2 segundos (01:01 - 01:03)

Descrição: Os prédios assumem o local do céu, enquanto Miles cai.

Imagem: Neste grande plano geral, visualizamos a grande proporção


geográfica da cidade ao momento que os prédios assumem o local do céu e a
queda transforma-se na ascensão do Miles, uma perspectiva iconográfica da
saga Homem-Aranha, uma vez que o primeiro salto é considerado a
consagração do personagem. Este movimento é acompanhado por um tilt, nos
projetando de baixo para cima, em sentido a cidade, afinal, durante todo o
plano Miles encontra-se estático, centralizado na tela. O céu e a cidade são
os verdadeiros agentes desta mudança. A predominância da cor azul conversa
diretamente com as luzes da cidade, impulsionando a curiosidade e o desejo
de mergulhar, imergir nesta aventura.

Som: A diegese da cena é completamente silenciosa. O único som presente


é a voz do cantor com uma textura de eco, fazendo parecer que a frase “like
what’s up danger” estivesse ecoando pela cidade.

Montagem: Essa continuidade de tempo e espaço é invertida. O céu e os


prédios invertem de posição ao emular a ascensão de Miles.

Plano 34

Duração: 2 segundos (01:03 - 01:05)

Descrição: O verdadeiro desafio inicia, Miles encontra dificuldade em se firmar


durante o salto.
Imagem: Iniciamos com um primeiro plano, em alusão a jornada de ascensão
do plano anterior, em um ângulo frontal do Miles, centralizado a tela com o
olhar direcionado ao seu objetivo. Rapidamente somos apresentados a um
movimento câmera na mão, com forte trepidação da imagem, quando o
verdadeiro desafio é apresentada a jornada do nosso herói. O plano é
transformado em grande plano enquanto observamos Miles debater-se no ar
em busca de autocontrole. As luzes em neon dos prédios carregam consigo a
marca do personagem, vermelho e azul, mas também uma referência a Era de
Bronze dos quadrinhos, quando estes eram impressos em CMYK, utilizando da
técnica “meio-tom” para gradientes.

Som: A música continua ecoando, agora apenas com a palavra danger (perigo)
ecoando. Essa palavra específica ecoar faz um paralelo com o perigo da ação
realizada pelo protagonista, principalmente no momento em que ele se debate
no ar, apresentando desequilíbrio. O plano apresenta um som diegético,
simples, interno e crescente do vento na queda do personagem.

Montagem: Continuidade de espaço e tempo da queda do Miles.

Plano 35

Duração: 1 segundo (01:05 - 01:06)

Descrição: Miles não consegue controlar-se no ar, em vão, ele busca


estabilizar-se.
Imagem: Miles é apresentado em um plano médio, no ângulo contra-zenital,
enquanto se movimenta em direção a câmera, em busca de estabilizar a sua
queda. Tal ação, do giro em torno de si, resulta em um plano detalhe do seu
rosto ao mergulhar sem controle algum.

Som: As batidas intensas da música retornam neste plano. O som diegético


do vento é cortado à medida que o personagem se estabiliza.

Montagem: Continuidade de espaço e tempo da queda do Miles.

Plano 36

Duração: 1 segundo (01:06 - 01:07)

Descrição: Em queda livre, Morales rodopia em 360º enquanto dirige-se as


luzes do asfalto.
Imagem: Miles entra, ainda girando em torno de si, em plano médio, com
ângulo zenital, tentando equilibrar-se em queda livre, enquanto os prédios
passam por si. Simbolizando a velocidade da queda, a imagem sofre
alterações de iluminação de acordo com a passagem do Miles pelas diversas
janelas do prédio, assim como do vento, tudo em foco através da
profundidade de campo. Assim como, temos a presença de uma luz
superexposta, distinguindo o local do impacto. Através das linhas de
composição fotográfica, nota-se que os prédios não estão devidamente
alinhados, uma alusão a sensação de desequilíbrio que o Miles passa neste
instante.

Som: Ouve-se apenas as batidas da música não diegética.

Montagem: Continuidade de espaço e tempo da queda do Miles.

Plano 37

Duração: 2 segundos (01:07 - 01:09)

Descrição: Da rua, os pedestres têm a sua visão atraída para a forma que se
desloca em alta velocidade na sua direção.

Imagem: Através deste plano geral, somos apresentados ao local da luz


superexposta do plano anterior. Os pedestres e o trânsito são filmados em
plongée, representando o movimento de uma metrópole. Enquanto seguem
atarefados, é por meio de um leve zoom in que suas atenções são atraídas
para a queda do Miles. A predominância é de cores quentes, emitindo um
sinal de alerta, como nos faróis traseiros, nos semáforos e no reflexo da luz no
chão.
Som: Mais uma vez, ouve-se apenas a música.

Montagem: Contra-campo da queda do Miles, mostrando o local do impacto.

Plano 38

Duração: 3 segundos (01:09 - 01:12)

Descrição: Ainda em queda livre, Miles apruma o braço para trazer


aerodinâmica e velocidade ao salto enquanto se orienta e aproxima-se do
impacto.
Imagem: Aqui temos a presença da figura de linguagem dos quadrinhos,
através da sobreposição de planos, conhecido como quadro-sobre-quadro. O
primeiro plano sobreposto é um plano geral, o segundo um plano médio, o
terceiro um plano americano, o quarto um meio primeiro plano, o quinto um
primeiríssimo plano e o sexto um plano detalhe, todos em perfil com foco
clínico no Miles . Já o plano médio, ao fundo, é um contra-zenital, marcado
pelo movimento do Miles em direção à câmera, transformando-se em um
plano detalhe. Neste plano, observamos o alinhamento gradativo do prédio
com as linhas de composição de acordo com a sua proximidade e
autocontrole da queda, assim como o efeito de “invasão” que o Miles projeta
sobre as janelas dos planos sobrepostos, de dentro para fora. É neste plano
que o Miles inicia a sua afirmação quanto herói e começa a compreensão de
como estabilizar-se e dominar os seus sentidos.

Som: Continuidade da música não diegética. Pode-se ouvir novamente o


som diegético, simples e interno do vento enquanto o personagem cai. Há
também outro som, com essas mesmas características. São os sons dos
passos de Miles no prédio. Pode-se ouvir seis passos, e cada um é
sincronizado com a aparição de uma janela na tela.
Montagem: Pequena elipse da queda enquanto projeta a continuidade de
espaço e tempo, ao realizar a colagem de quadro-sobre-quadro natural dos
quadrinhos.

Plano 39

Duração: 1 segundo (01:12 - 01:13)

Descrição: Flashback da entrega do lançador de teia sintética ao Miles.por


May.

Imagem: Neste plano ponto de vista, temos o enquadramento em plongée


do lançador de teia sintética pela perspectiva do Miles, através do movimento
de tilt, ao receber da May. Assim como, a predominância do vermelho e azul,
como assinatura do Homem-Aranha.

Som: Nessa parte da música há somente as batidas. May realiza uma fala
diegética, simples e interna, dizendo “Eu mesma as fiz”, se referindo aos
lançadores de teia. Há um som metálico, diegético e interno, quando Miles
pega um dos lançadores.

Montagem: Nesta elipse reversa indefinida, flashback, visualizamos o


lançador de teia sintética.

Plano 40

Duração: 3 segundos (01:13 - 01:16)


Descrição: Miles prende o lançador no pulso, enquanto May afirma que vai
servir perfeitamente.

Imagem: Durante este meio primeiro plano, observamos Miles e May após
instalar o lançador de teia, através de um ângulo ¾, com um movimento de
grua na diagonal, da direita para a esquerda, de baixo para cima.

Som: Há a continuidade da fala de May: “Elas couberam perfeitamente”. Um


som diegético, simples e interno de clique é ouvido ao protagonista colocar o
lançador de teia no pulso.

Montagem: Neste plano temos uma combinação de posição da elipse


reversa indefinida, visualizando tia May e Miles.

Plano 41

Duração: 1 segundo (01:16 - 01:17)

Descrição: Miles, com o alerta desta lembrança e da proximidade com o solo,


aciona o lançador de teia.
Imagem: Ao retornarmos a consciência da queda livre, Miles é visto por um
plano médio, novamente por ângulo zenital. Aqui, é apresentado mais uma
figura de linguagem dos quadrinhos a adaptação estilística do filme, com o
sensor aranha representado acima da cabeça do Miles enquanto movimenta-se
em direção ao fundo. Criando tensão, sua teia é disparada bem próximo do
impacto, interrompida por um corte seco.

Som: Durante a queda, ouvem-se os sons diegéticos, simples e internos do


momento da ativação dos lançadores de teia e da resistência do ar durante a
queda.

Montagem: Pequena elipse retornando a queda e dando continuidade em


espaço e tempo da queda.
Plano 42

Duração: 2 segundos (01:17 - 01:19)

Descrição: A teia, agora lançada, projeta-se em direção aos prédios.

Imagem: Do plano ponto de vista do Miles, observamos o alinhamento dos


prédios com as linhas de composição da fotografia. O ângulo
contra-zenital nos projeta na sensação de queda, enquanto observamos a
expansão das teias para além da nossa visão.

Som: O lançador continua a emitir um som diegético à medida que as teias


são projetadas.

Montagem: Continuidade do espaço e tempo, com o corte em movimento


do lançamento da teia.

Plano 43

Duração: 1 segundo (01:19 - 01:20)

Descrição: Miles, com o olhar semicerrado, focaliza no ponto fixo que sua teia
irá prender-se.
Imagem: No ângulo ¾, observamos o olhar do Miles projetado para fora do
quadro, concentrado no sucesso do lançamento das teias, neste primeiro
plano. Ao fundo, a luz superexposta aproxima-se, trazendo consigo a
iminência do impacto caso ele falhe.

Som: Pode-se ouvir com pouca distinção os sons diegéticos dentro de quadro
do vento, que balança a roupa de Miles produzindo barulho de tecido.

Montagem: Combinação de movimento com a continuidade de espaço e


tempo da queda e do lançamento da teia.

Plano 44

Duração: 1 segundo (01:20 - 01:21)

Descrição: A teia ergue-se no ar e fixa no topo do prédio.


Imagem: Com o movimento de tilt, este grande plano geral apresenta o foco
do olhar direcionado por Miles no plano anterior, a sua dificuldade de visualizar
o local em que sua teia fixou. Neste plano não visualizamos o personagem,
apenas a sua teia projetando-se das sombras do maior edifício.

Som: O som neste plano apresenta-se somente com a música não diegética.

Montagem: Contra-campo do corte em movimento da teia projetando acima


dos prédios.

Plano 45

Duração: 1 segundo (01:21 - 01:22)

Descrição: No último instante, antes do impacto, Miles é impelido pela tensão


da teia esticada.
Imagem: Visto do ângulo zenital, este plano médio, realiza o movimento de
acompanhar em alta velocidade os últimos instantes da queda do Miles quando
ocorre a inversão para um movimento para dentro da câmera ao finalmente
ser impulsionado por suas teias. Assim como, a figura de linguagem dos
quadrinhos presente no ápice da sua jornada, ao finalmente salvar-se. A luz
superexposta, apresentada nos planos anteriores, finalmente dá lugar a
definição dos prédios.

Som: Ouve-se apenas a voz da música, dizendo: “Can’t stop me now”. Não
pode me parar agora. Neste momento, Miles se liberta de suas inseguranças,
dúvidas e medos. Agora ele é imparável. Agora ele é o Homem-Aranha.

Montagem: Corte em movimento com o corpo de Miles indo em direção ao


quadro.

Plano 46

Duração: 5 segundos (01:22 - 01:27)

Descrição: Compelido pela adrenalina, Miles, gritando a plenos pulmões,


projeta o seu corpo no ar, saltando para uma nova teia no meio de uma
acrobacia.
Imagem: Neste movimento de grua da esquerda para a direita, o grande
plano, inicialmente suberexposto em um ângulo holandês, ilumina-se com as
luzes da avenida enquanto Miles projeta o seu corpo ao soltar com sua teia.
Neste momento, temos um plano detalhe, no ângulo zenital, da marca
símbolo em seu peito, consagrando-o como o novo Homem-Aranha.

Som: A música é o único som até perto do final do plano, quando o


personagem lança uma teia e o som diegético, simples e interno dela é
ouvido.

Montagem: Uma pequena elipse norteia a ação para o topo de um prédio,


para evidenciar o movimento de Miles.

Plano 47

Duração: 1 segundo (1:27 - 1:28)

Descrição: Durante o voo, Miles aproxima-se do trânsito de Nova York.


Imagem: Em uma sequência transitória, é mostrado um plano aberto do bairro
do Brooklyn, vivido, movimentado e iluminado com cores quentes,
predominando o vermelho. Pedestres aguardam o sinal fechar. Uma via de
mão dupla, que é ocupada por inúmeros carros e ônibus, o sinaleiro verde dá a
ordem para seguir o fluxo. No fundo do quadro, nota-se apenas a silhueta de
Miles indo em direção à tela, seguindo o fluxo do trânsito de automóveis e o
mando do semáforo. A uma emergência, e ele não pode parar.

Som: A música não diegética What’s Up Danger segue em conjunto com a


sequência.

Montagem: A continuidade em relação ao salto do plano anterior, mantendo


uma combinação de direção.

Plano 48

Duração: 2 segundos (1:28 - 1:30)

Descrição: No meio dos carros, Miles corre para impulsionar o seu salto.
Imagem: O seguinte plano feito em tilt, frontal, traça um paralelo imagético
com a sequência em que Miles começa a descobrir seus poderes e encontra
Peter Parker do universo alternativo. Na primeira sequência, Miles ainda é
inábil, sem controle de suas habilidades, de forma desastrada pelos carros e
ônibus. Agora, nesse plano, com plena ciência de si e suas ações corporais.
Seguindo o tráfego dos carros. Com o som sendo um condutor rítmico da ação,
as batidas do grave característico do hip-hop substituem o som do que seria os
passos de Miles.

Som: A intensa trilha sonora de Blackway e Black Caviar continua. Os sons


diegéticos, simples e internos que o plano contém, os passos de Miles e o
som do trânsito, são quase completamente abafados pela trilha sonora.

Montagem: Com um corte em movimento, ajuda a manter uma noção de


ação do salto de Miles.
Plano 49

Duração: 2 segundos. (1:30 - 1:32)

Descrição: Miles Morales, aos poucos ascende ao céu e a seu heroísmo.

Imagem: Esse breve plano feito em traveling, traz cada vez mais a urgência
de Miles, em perfil, para com o embate final, pela velocidade atribuída
referente a distorção dos carros dando a sensação de Miles, em um foco
clínico, está cada vez mais rápido, a sua fuga do plano, subindo cada vez mais
aos céus com a sua teia, não é só pela urgência, mais também o começo da
ascensão aos céus e ao heroísmo tanto buscado.

Som: Junto à canção, há o som diegético, simples e interno dos veículos


passando velozmente pela tela.

Montagem: Com um corte simples, e combinação de movimento em


continuidade temporal e espacial. Agora com uma visão lateral, que nos passa
a sensação de observar Miles pela janela de um dos carros em trânsito.

Plano 50

Duração: 1 segundo (1:32 - 1:33)

Descrição: Miles Morales está cada vez mais próximo de seu objetivo, mas
ainda há obstáculos.
Imagem: Um travelling frontal acompanha Miles, em um ângulo traseiro,
que está mais próximo da ascensão, o caminhão, um empecilho físico, junto do
sinal vermelho que paralisa o fluxo dos carros que Miles acompanhava,
simbolicamente é Brooklyn dificultando as ações, testando Miles, mas nada
pode pará-lo.

Som: Assim como no plano anterior, o único som além da música vem de
veículos. Nesse momento em específico, um caminhão passa
perpendicularmente à direção do movimento de Miles, trazendo ao plano um
som diegético dentro do quadro.

Montagem: Mais um corte simples e com combinação de movimento.


Agora a câmera se posiciona atrás de Miles, mostrando o surgimento de mais
um obstáculo em seu percurso, mais um obstáculo a ser superado.
Plano 51

Duração: 1 segundo (1:33 - 1:34)

Descrição: Obstáculos físicos não surtem mais efeito em Miles Morales, ele é
o homem-aranha e o caminhão é seu trampolim.

Imagem: Um leve contra-plongée, somado a um traveling frontal. O


caminhão que ocupa mais espaço do plano, é usado como trampolim,
potencializando o movimento de Miles, em lateral, cada mais próximo dos
céus, sendo usado também para evidenciar a tomada rápida e efetiva de
escolhas.

Som: Nesse plano, além do som do caminhão, há também o som diegético


simples de Miles pisando no caminhão para ganhar impulso para o salto.
Montagem: Corte simples, combinação de movimento, permeia a
continuidade espacial e temporal. O caminhão que antes parecia apequenar o
herói, vira apenas uma oportunidade para Miles executar um salto estiloso.

Plano 52

Duração: 1 segundo (1:34 - 1:35)

Descrição: Nada pode pará-lo, ele é o herói das histórias em quadrinhos.

Imagem: Em um plano aberto e frontal o caminhão transformou-se apenas


em uma plataforma, Miles preenche mais o quadro, ele lança a sua teia agora
acompanhada também de uma onomatopeia. A teia parece ir em direção ao
quadro, prendendo-se a ele. A onomatopeia sugere uma lógica de que agora
Miles está reconhecendo o seu valor, como um herói das histórias que ele tanto
lia, ele faz parte agora, agora é a sua vez de contar a sua história.

Som: A trilha sonora musical continua. Ouve-se nesse plano o ruído


diegético, simples e dentro de quadro de Miles aterrissando e, logo após
pulando do caminhão. No último momento do plano ouve-se o som da teia
sendo lançada, sendo esse som também diegético e simples.

Montagem: Corte simples, combinação de movimento, permeia a


continuidade espacial e temporal. Agora vemos de forma frontal seu pouso e
o início de seu próximo salto. O caminhão se agora é mais chão do que
parede, Miles o ultrapassa com facilidade.

Plano 53

Duração: 3 segundos (1:35 - 1:38)

Descrição: O sinal está verde novamente, os automóveis voltam a mover-se


normalmente, Miles agora está acima deles.
Imagem: Travelling frontal, Miles, em ângulo frontal, não tem obstáculos,
tudo é torna-se apenas degraus, o tráfego está a seu favor, movimentando a
favor de Miles, Brooklyn entende que não tem mais porque testá-lo, ele é o
único que pode salvá-los.

Som: Ouvem-se os ruídos diegéticos, simples e internos dos saltos e


aterrissagens que Miles faz para cada veículo. Quanto mais ele se aproxima da
tela, mais altos os ruídos ficam.

Montagem: Corte simples, se mantém as continuidades de espaço e


tempo. Os cortes rápidos continuam a transmitir a sensação de velocidade dos
movimentos executados por Miles.

Plano 54

Duração: 1 segundo (1:38 - 1:39)


Descrição: Finalmente, lançado aos céus.

Imagem: Um plano aberto, Miles balança em direção ao estrelato, a cidade


tornou-se um parque, nada é hostil. Miles some completamente do plano.

Som: Ainda com a música ao fundo, o som diegético da ação de Miles dentro
de tela é ouvido, caracterizado pelos dois giros que ele realiza antes de se
lançar para cima.

Montagem: Continuam a simplicidade dos cortes e a continuidade temporal,


mas agora em um espaço mais afastado das ruas dos planos anteriores. A
câmera se vira em um ângulo de 180º, como se também fosse ultrapassada
por Miles, e tivesse que se virar para acompanhá-lo novamente.

Plano 55

Duração: 1 segundo (1:39 - 1:40)


Descrição: Preenchendo o céu noturno do Brooklyn.

Imagem: Contra-zenital é feito neste plano médio, Miles agora faz parte
visualmente e simbolicamente do céu do Brooklyn, onde é seu lugar, um herói
de fato.

Som: Enquanto o cantor da música repete “what’s up danger” não


diegeticamente, há o som diegético interior da teia sendo lançada.

Montagem: Corte simples, contínuo nos quesitos espaciais e temporais. A


câmera agora vê Miles acima dela, acompanhando seu movimento de
ascensão aos céus noturnos do Brooklyn.

Plano 56

Duração: 1 segundo (1:40 - 1:41)

Descrição: Impulsionado pelos prédios, Miles comemora seu êxito.


Imagem: Em plano aberto, com dois prédios enquadrando Miles, mais uma
inserção de onomatopeia é feita, uma figura de linguagem dos quadrinhos,
essa com mais volume e acompanhando o trajeto de Miles ocupando junto
dele, o espaço no plano.

Som: Som da teia e do grito “Wooo” de êxtase do Miles são apresentados no


diegético simultâneo interno do plano.

Montagem: Corte simples, contínuo nos quesitos espaciais e temporais. A


visão do espectador se eleva assim como Miles, e sobe os andares dos prédios
dos andares do Brooklyn.

Plano 57

Duração: 2 segundos (1:41 - 1:43)

Descrição: As teias não são mais necessárias, Miles é autossuficiente.

Imagem: Em um dolly. Miles salta de prédio em prédio, para o seu heroísmo,


em um plano médio, no ângulo contra-plongée.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”, assim


como o som diegético simultâneo interno do disparo das teia e da escalada
do Miles.

Montagem: Corte simples, contínuo nos quesitos espaciais e temporais.


Novamente, o novo Homem-Aranha deixa até mesmo a câmera para trás.

Plano 58

Duração: 2 segundos (1:43 - 1:45)


Descrição: Miles agora é notado pelos engravatados

Imagem: Em um traveling lateral da esquerda para a direita, Miles, fora do


espaço corporativo, corre a passos largos na vidraça do prédio, em um plano
conjunto. Dentro do prédio, inúmeros funcionários, borrados pela velocidade
de Miles, apenas observam, alguns levantando e outros apenas
acompanhando com o olhar.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”, assim


como o som diegético simultâneo interno dos passos enquanto corre no
vidro.

Montagem: Corte simples, com uma pequena elipse de tempo e pequena


descontinuidade de espaço. A câmera assume a visão dos trabalhadores do
escritório.
Plano 59

Duração: 1 segundo (1:45 - 1:46)

Descrição: Onomatopeia, teia aos céus, o quadro já não acompanha mais os


movimentos de Miles.

Imagem: Em um contra plongée com movimento tilt, Miles se alça ao topo do


prédio, ele usa a parte superior do quadro para prender sua teia e seguir seu
trajeto. Assim como nos demais planos, as figuras de linguagem dos
quadrinhos são fundamentais nas referências iconográficas do
longa-metragem.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”, assim


como o som diegético simultâneo interno da teia, inclusive escrita na tela
como a onomatopeia “Thwip!”.
Montagem: Novamente, corte simples, com uma pequena elipse de tempo e
pequena descontinuidade de espaço. Agora ilustrando a visão de um
pedestre, que vê o novo herói pairando sob sua cabeça.

Plano 60

Duração: 1 segundo (1:46 - 1:47)

Descrição: Miles, desempenha-se como como traceur ao praticar Parkour.

Imagem: Neste plano médio, o traveling lateral, da direita para a esquerda,


acompanha o movimento do Miles de perfil. A predominância de cores frias,
inclusive no tom do vermelho da sua roupa, representa o cruzamento de Miles
com a noite. Como nos planos anteriores, o movimento da câmera inicia-se e
termina sem a presença do Miles, reforçando que a sua agilidade e destreza
estão em evolução.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”, assim


como o som diegético simultâneo interno dos passos enquanto corre
saltando nas estruturas de metal do telhado.

Montagem: Corte curto, com uma pequena elipse de tempo e pequena


descontinuidade de espaço. Alternando entre as diversas visões dos
moradores da cidade e uma visão mais aproximada do Miles, agora a câmera
está onde ninguém pode ir, além dele mesmo. Acima dos prédios.

Plano 61

Duração: 2 segundos (1:47 - 1:49)

Descrição: Miles explora a cidade, vagando pelos telhados.

Imagem: Neste plano médio, Miles realiza um salto a distância


movimentando-se em direção ao fundo da câmera, em um ângulo traseiro.
“Trust Us Bank” destaca-se na tela, a visão é do mesmo telhado o qual Miles
tentou realizar o salto no início do longa-metragem, mas desiste e desce pelas
escadas para uma altura mais segura, agora ele se projeta no ar e ultrapassa
esta armação, com confiança.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Corte simples, contínuo nos quesitos espaciais e temporais.


Este plano faz referência a uma cena no começo do filme, e o corte abrupto
continua a transmitir a sensação da velocidade e continuidade dos movimentos
de Miles.

Plano 62

Duração: 2 segundos (1:49 - 1:51)

Descrição: Miles atravessa a distância de dois prédios em um salto.


Imagem: Neste contra-zenital, vemos um plano geral do salto realizado no
plano anterior. Aqui temos dimensão da distância do salto, assim como a
superação do Miles perante um dos seus primeiros desafios. A câmera o
acompanha em um movimento de traveling lateral, da direita para a esquerda.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Corte em movimento do salto do Miles entre os prédios, com


continuidade de espaço e tempo da sua corrida pela noite.

Plano 63

Duração: 3 segundo (1:51 - 1:54)

Descrição: Miles aterrissa em uma gárgula.


Imagem: Neste grande plano geral, Miles faz referência ao Peter B. Parker do
“The Amazing Spider-Man” popularmente conhecido por se equilibrar em
gárgulas. O plano é realizado com zoom out em um ângulo holandês. As
cores frias do Brooklyn se confrontam com as cores quentes de Manhattan.

Som: Continuidade não diegética da música “Whats Up Danger”.

Montagem: Pequena elipse, com a chegada do Miles na gárgula ao fim da


sua aventura de descobrimento.

Plano 64

Duração: 6 segundos (1:54 - 2:00)

Descrição: Miles, ofegante, retira sua máscara para respirar com mais
liberdade.

Imagem: Em primeiro plano, Miles para pra descansar e retira sua máscara,
no ângulo frontal. Ofegante, tomado pela adrenalina e ainda assustado, ele se
dá conta do quão incrível foram as coisas que ele acabou de fazer, e sorri, de
orgulho e alívio, tudo isto através da steadycam que estabilizada, acompanha
o movimento do Miles.
Som: Respiração ofegante do Miles ao finalizar a corrida de forma diegética
simultânea interna com continuidade não diegética da música “Whats Up
Danger”.

Montagem: Combinação de movimento neste primeiro plano do Miles,


acompanhando sua movimentação ao chegar na gárgula no plano 63.

Plano 65

Duração: 3 segundos (2:00 - 2:03)

Descrição: Miles coloca a máscara e salta, agora acrobaticamente.

Imagem: Neste plano geral mostra o horizonte da cidade de Nova Iorque


através da câmera na mão, que se aproxima de Miles, por ângulo traseiro,
que recoloca sua máscara e salta novamente, mas agora com tranquilidade,
confiança e estilo.

Som: Fim da música “Whats Up Danger”, com o som diegético simultâneo


interno da respiração do Miles, o puxar da máscara para tornar a cobrir o risco
e seu último salto da sequência.
Montagem: Corte em movimento da continuidade do espaço e tempo do
Miles admirado.

Plano 66

Duração: 3 segundos (2:03 - 2:06)

Descrição: Os quadrinhos de Miles são colocados junto das HQs dos


“Aranhas” de outros universos.

Imagem: Em plano detalhe e com um leve movimento de Roll, a câmera refaz


um plano que já havia acontecido algumas vezes nas sagas, sempre que se
concluía a história de origem de algum “Aranha” mas agora, em movimento
interno, a HQ de Miles é jogada por cima das outras, concluindo assim a sua
história de origem, e mostrando que ele superou seus medos e anseios, e se
tornou o Homem-Aranha.

Som: Diegético simultâneo interno do quadrinho do Miles sendo adicionado


ao dos seus antecessores.

Montagem: Inserção dos quadrinhos do Homem-Aranha com a sobreposição


de Aranhaverso por Miles Morales.
Textos individuais

HIP HOP, OS 4 ELEMENTOS E O HOMEM-ARANHA

Martin Goodman, dono da Marvel Comics até 1972, incumbiu ao editor e


roteirista Stan Lee a responsabilidade de criar um novo herói para o panteão de
personagens da Marvel, junto com o desenhista Jack Kirby, Stan Lee
vislumbrou um herói mais humanizado, um cidadão comum com problemas
comuns, como falta de dinheiro, problemas familiares e amorosos, que em
meio a tudo isso, tivesse superpoderes e combatesse o crime. Dessa premissa,
surgiu o “Herói da Vizinhança”, o Homem-Aranha. A forma como o público de
quadrinhos em geral lidou com as primeiras histórias do aracnídeo, foi de
empatia, pois, Peter Parker foi criado como um herói mais humanizado e com o
diferencial também de tratar-se de um super-herói adolescente, bastante
incomum na época, já que a maioria dos heróis eram adultos, sobrando apenas
a coadjuvância para os personagens adolescentes, geralmente ajudantes dos
heróis, sendo denominados de “sidekicks”.

Tendo a sua primeira publicação em agosto de 1962, no que se


denomina a “Era de Prata dos Quadrinhos”, por conta do surgimento do que se
tornaria os “carros chefes” do mercado editorial de quadrinhos, como Quarteto
Fantástico, Doutor Estranho e os X-Men. O cabeça de teia tornou-se
rapidamente, o mais rentável dos heróis. Não muito distante, no início da
década de 70, na periferia de New York, em “houses parties” (festas
organizadas em casas) surgia o Hip-Hop, protagonizado por latinos,
jamaicanos e afro-americanos, que sofriam com o descaso político e social em
meio à violência do tráfico de drogas e conflitos de gangues.

No início dos anos 80, o hip-hop passou a ter um protagonismo mais


evidente, com os DJ Grandmaster Flash, DJ Kool Herc entre outros, difundindo
cada vez mais a cultura Hip-Hop. A ONG, Zulu Nation, fundada por Afrika
Bambaataa, cria de Nova York, apresentou ao público o seu conceito de
elementos do Hip-Hop, que consiste em: Grafite (Pintura/Arte), DJ’S (Música),
B-boy/B-Girl (Dançarinos) e MC’S (Composições/Poesia) e que a sua junção
gera sabedoria, educação, compreensão, união e paz. Mas conforme a história
do hip-hop foi tomando corpo e sendo pensamento como uma cultura de fato,
um questionamento foi feito: Mas e o Quinto Elemento? Pois, se a ideia de
elementarismo vem da tradição do Yoga, que diz que existem os elementos
Terra, Água, Fogo, Ar e Éter, o que seria o “Quinto Elemento” na cultura
Hip-Hop?
A resposta é conhecimento, o pilar de toda a cultura hip-hop. Mas aonde
Miles Morales, personagem principal do longa-metragem de animação
intitulado “Homem-Aranha no Aranhaverso” se encaixa nessa história? Vamos
ligar os pontos nesse emaranhado de teias. Tento a sua primeira aparição na
“Ultimate Comics: Spider-Man #1” em 2011, foi criado e escrito por Brian
Michael Bendis e pelo artista Sara Pichelli. A recepção para com as primeiras
histórias de Miles Morales não foi das melhores. O surgimento de Miles foi
devido a morte de Peter Parker, que assim como na animação, passa o manto
para Miles Morales. Mas diferente dos quadrinhos, Homem-Aranha no
Aranhaverso teve a melhor recepção de uma animação, resultando em
bilheteria, prestígio da crítica e o Oscar de melhor animação no ano de 2019.

Miles Morales é um afro-latino-americano, criado no Brooklyn, em New


York, pelos seus pais, um aspirante a oficial de polícia e sua mãe Rio Morales,
mas é pelo vínculo com o seu tio, Aaron, que Morales é picado pela tão
famigerada aranha-radioativa, que o transforma no Homem-Aranha. Miles
Morales é a síntese dos elementos Hip-Hop, ele artista (grafita com o seu tio),
ele dança (seus movimentos acrobáticos são plásticos), cria melodias (suas
teia tem um som característico e marcante em todo o filme) e faz poesia (com
seu heroísmo).

Toda a construção da sequência escolhida para ser analisada no


trabalho de plano a plano, é uma sequência de reconhecimento e
conhecimento de Miles Morales para si, ele agora de fato se reconhece como
um Homem-Aranha, pois agora ele tem os cincos elementos junto dele.

1º ELEMENTO: Grafitagem

Taki 183. Esta é a assinatura de um grafiteiro, também conhecida como


tag, ao combinar a abreviação do seu nome com o número da sua residência.
Taki 183 foi tema de um artigo publicado pela The New York Times em 1971,
ao iniciar a proliferação da cultura de tags entre as periferias das cidades. Esta
cultura foi marcada pelo domínio de território através da demarcação dessas
assinaturas, aperfeiçoadas com o tempo. Com o principio de distinguir
gangues, características especificas foram atribuídas a esta demarcação, como
a inclusão de contorno, sombra e brilho. Estas variações de marcações ficaram
conhecidas como bombing, throw ups e fat caps.

O grafite, ao ser agregado a cultura hip hop, ressignificou este


movimento de demarcação de território e gangues, unindo essas habilidades
desenvolvidas pelas tags em prol ao aperfeiçoamento e aprimoramento da
técnica para a comunicação da sua arte por toda a cidade. De maneira
análoga, é esta transformação da linguagem que observamos na estilização
das importações estilísticas, estilizadas em reverência aos quadrinhos, ao hip
hop, a grafitagem e a evolução da animação em Homem-Aranha no
Aranhaverso.

A história da animação está entrelaçada a da raça humana, nas


primeiras pinturas rupestres que simulavam movimento ao cintilar a luz das
chamas, e do cinema, através da criação do praxynoscópio. No decorrer dos
anos, a evolução da animação é corroborada pelo avanço tecnológico. Por
exemplo, em uma animação tradicional, cada quadro era desenhado a mão,
sendo comum a presença de quatro dedos em personagens no intuito de
facilitar o trabalho. É neste cenário que estúdios de animação iniciam, em
específico através de criaturas antropomórficas como o coelho Oswald ou o
Mickey Mouse, da Walt Disney.

Dentro deste processo de evolução, temos a criação da ideia de câmera


multiplano, simulando paralaxe, ao otimizar a experiência na impressão da
movimentação em cena. Assim como, o surgimento de outras vertentes, como
o stop-motion. Naturalmente, a presença de novos recursos, como a
computação gráfica, foram fundamentais no mix do que seria o futuro da
animação ao aderir iconografias das HQs e a animação 3D, como estrelado por
Aranhaverso em 2018.

Homem-Aranha no Aranhaverso estreia com o objetivo de estar dentro


das páginas de um quadrinho. A união entre a computação gráfica com a
animação tradicional de desenhar a mão, possibilitou uma maior estilização
referente a traços, cores e a sensação de profundidade. É neste universo
experimental que Miles Morales nos é apresentado, inclusive com uma
velocidade de quadros por segundo (QPS), diferente do habitual.

As primeiras sequências do filme são em 12 QPS, em alusão ao


processo de descobrimento e evolução dos poderes do personagem, trazendo
a sensação de deslocamento mais travado, simulando uma animação 2D.
Enquanto, gradativamente, evoluímos para uma movimentação mais fluida no
decorrer da narrativa, quando chega a 24 QPS.

A convergência de linguagens, assim como no grafite e no hip hop, é


fundamental na construção fílmica de Aranhaverso. A linguagem quadrinistas
foi incorporada a animação através de ferramentas como o quadro,
fundamental na comunicação de ideias e/ou histórias por meio de palavras e
figuras, envolvendo o ato de encapsulamento do tempo, do movimento e da
ideia, ao enquadrar a ação. Assim como, na relação texto-imagem, por meio da
sobreposição de texto dentro do quadro, como onomatopeias, caixas e balões.
É adaptado da publicação seriada “Homem-Aranha: Aranhaverso”
(2015), que a estilização do filme é construída, homenageando a produção
pré-computadores, ao emular a sensação de unicidade. Aplicando técnicas,
como o “meio-tom” às superfícies, algo popular na época dos HQs impressos,
em específico na Era de Bronze dos quadrinhos.

A identidade secreta de Miles Morales antecede a picada da aranha. É


nas ruas que sua arte respira e se expressa. E, assim como na história, é
através do registro em lugares públicos, como nas paredes de Nova York, onde
todos podem ver, que sua identidade secreta, o herói da vizinhança, da voz e
vez a quem de fato precisa. Miles, acompanhado do seu tio, apresenta a
grafitagem como forma de dar visibilidade a quem é invisível e democratizar a
arte.

2° ELEMENTO: Breakdance

Surgido no contexto dos conflitos de gangues na Nova York dos anos


70, o break é uma forma de dança originada nas comunidades pretas e latinas
do Bronx. O distrito nova-iorquino apresentava um surto enorme de violência, e
as gangues, formadas principalmente por jovens, disputavam violentamente os
territórios. Mas nessa realidade havia uma gangue que fugia do padrão: os
Ghetto Brothers tinham como principal objetivo levar paz novamente às ruas.
Com o assassinato de Black Benjie, um membro pacifista dos Ghetto Brothers,
uma reunião foi organizada com mais de 40 líderes de gangues para firmar um
tratado de paz.

Com o fim desses conflitos, a juventude inconformada e intensa, com


necessidade de usar sua energia para confrontar a realidade injusta, se voltou
para as house parties e as danças como forma de expressão. Uma nova forma
de disputa havia sido criada, uma forma não violenta que agora acontecia nas
pistas de dança para decidir quem eram os melhores B-boys e B-girls. Dessa
forma os passos de dança foram evoluindo, se alastrando e se diferenciando a
partir das diferentes realidades temporais e geográficas em que eles se
estabeleciam. Nesse sentido, o break é criado, não como uma forma de retirar
o indivíduo da contestação e revolta, mas sim como uma nova ferramenta de
oposição e libertação a partir do corpo.

O corpo é a forma que o indivíduo tem de se relacionar com o espaço e com


outros indivíduos ao seu redor. Com a existência do hip-hop sendo
intrinsecamente ligada ao inconformismo, a conclusão lógica é que o B-boying
(a dança) representa a afirmação política da pessoa no ambiente em que ela
está. A movimentação do corpo em seus próprios termos, em variação mais
fluidas ou mais intensas, significa que o dançarino assegura seu lugar e
escolhe o que faz, em uma sequência artística.

É possível perceber então a relação dos movimentos de Miles Morales com o


breakdance. Durante grande parte do filme é possível perceber sua dificuldade
em se relacionar fisicamente com esse ambiente ambíguo e novo: a forma
como ele passa de uma desenvoltura relaxada quando está em bairro para
uma tensão e ansiedade ao chegar à escola nova, a tentativa de emular os
gestos de seu tio para impressionar a garota por quem ele se interessou, a
dificuldade de lidar com as implicações fisiológicas dos próprios poderes. O
personagem se vê desamparado, sem conseguir criar um sentido para a forma
como esses estímulos influenciam seu corpo.

A própria animação do filme conflui para demonstrar a insegurança e confusão


de Miles acerca de como utilizar seu corpo. Após ganhar seus poderes, o
personagem se move a uma taxa de 12 frames por segundos, diferentes dos
outros ao seu redor, que se movem a 24 frames por segundo. O personagem
fica travado, atrapalhado, aparentando uma certa dificuldade para se mover.
Apenas quando ele realiza o seu salto de fé a taxa de quadros aumenta. Agora
em 24 fps, o personagem está com a mesma fluidez que os outros aranhas, e
os empecilhos que ele mesmo havia se colocado são extinguidos. Miles toma
as rédeas da forma como se move, como se enxerga e como se relaciona com
o seu novo eu.

A forma plástica e visualmente estonteante como o personagem se move,


principalmente a partir da sequência analisada nessa análise plano-a-plano, vai
de encontro a realidade aterradora na qual ele situa, mostrando sua confiança
e presença apesar dos perigos e perdas. Ele não é o único personagem que
faz isso: quando Gwen Stacy encara toda a violência e tensão de sua missão
usando sapatilhas de balé, incorporando isso com o próprio modo que ela
realiza suas façanhas, a personagem define a dança e a expressão corporal
como uma forma de revolução, como uma forma de dizer “eu vou encarar o
mundo pelas minhas próprias regras”.

E é por isso que Homem-Aranha no Aranhaverso é uma história de B-boys e


B-girls. De pessoas cheias de energia usando seus corpos ritmicamente para
encarar as injustiças de sua realidade e de afirmar em seu espaço. De um lado,
Gwen, que apesar de seus poderes não conseguiu salvar seu melhor amigo e
teve que vê-lo morrer; que por causa de sua dor não se permitiu fazer mais
conexões. Do outro lado, Miles, um jovem preto obrigado a estudar em um
ambiente que não o deixa confortável; que é incumbido da responsabilidade de
lidar com seus novos poderes e do legado de um antigo herói; que perde seu
tio, uma das pessoas mais importantes para ele. Lidando com todas essas
adversidades, cada personagem cria suas coreografias ao correr, se balançar
pelos prédios e até lutar para exteriorizar suas emoções e sua própria
individualidade. A singular dança das teias de Miles mesmo diante do perigo
vai de encontro com o breakdance por definição, e suas acrobacias pelos
ambientes opressivos e fechados da cidade são uma forma de transformar seu
corpo em uma ferramenta de irreverência.

3° e 4° ELEMENTOS: O DJ e o MC.

Os elementos do Hip Hop são irmãos que nasceram inseparáveis, mas a


conexão destes dois últimos, o DJ e o MC, é diferente de todas as outras.
Das raízes da África à diáspora negra e às ideias pan-africanistas, a cultura
africana originária sobreviveu, através de vários movimentos de retomada na
história. Num momento recente, já nos anos 70/80, mais um fruto dessa cultura
germinava, agora, na forma do Hip Hop. Os conceitos de história oral,
palavra-falada e cantada, além dos ritmos musicais próprios e únicos são
revistos, reinventados e até reutilizados no Hip Hop, em sua parte mais
melódica. Os DJ's, são agora os que criam a ambiência necessária para os
momentos comunitários, os maestros sociais. Enquanto os MC's, os mestres
de cerimônia, se tornam instrumentos para contar a história daquele povo.
Essa conexão cria o R.A.P como se entende hoje, com a perfeita junção do
ritmo e da poesia.

Em “Homem-Aranha no Aranhaverso", a interseccionalidade entre as


artes no movimento Hip Hop, é muito bem exemplificada, principalmente
através de seus elementos musicais. Desde o começo do filme, esses
exemplos são introduzidos através das músicas de R.A.P licenciadas e criadas
para o filme, e também com as trilhas mais melódicas usando a mecânica de
Leitmotiv de Richard Wagner, onde melodias fortemente vinculadas a
personagens específicos, criam os temas de cada Aranha. Quando a
Spider-Gwen está em tela, a trilha sonora ganha fortes elementos de rock e
principalmente uma bateria marcante, já que a própria Gwen, é baterista. O
Aranha-noir carrega consigo o jazz dos anos 30, período onde ele vive. O
Porco-Aranha, recebe trilhas de desenhos animados clássicos, e a Peni Parker
tem uma música mais eletrônica e com grandes elementos da musicalidade
japonesa moderna. Tudo isso, acompanhado das técnicas de DJ desenvolvidas
principalmente por Joseph Saddler, o Grandmaster Flash, um dos primeiros e
maiores DJ 's da história. De novo, o Hip Hop revisita as obras musicais de
outros tempos, transforma seus conceitos em "samples" (amostras), cria
Leitmotivs únicos e remixa a história da música a seu bel prazer.
Durante o filme, há essa disputa estilística entre os tipos de música,
entre as músicas orquestradas, clássicas das trilhas sonoras de super heróis, e
as músicas de R.A.P e da cultura Hip Hop que também permeiam todo o filme.
Essa disputa se dá através do próprio Miles, que tem durante seus momentos
de mais humanidade, como durante sua visita a seu tio Aaron em que a
primeira coisa que se vê, são os dedos de seu tio mexendo no mixer, um
comum equipamento de DJ. E a primeira coisa que se ouve na cena, é a
música “Hypnotize” de The Notorious B.I.G. Um dos maiores rappers da
história, que falava principalmente sobre sua vivência comum ao Miles e ao
Aaron, a vida no Brooklyn.

Quando o mundo descobre a morte de Peter Parker, a música “Scared


of the Dark” de Ty Dolla $ign, Lil Wayne e XXXTENTACION, diz para Miles,
para não ter medo do escuro. Quando Miles se vê frustrado com suas falhas
recentes, “Hide” de Juice WRLD diz para Miles enfrentar seus demônios e não
se esconder. E em alguns momentos ele ouve, ou canta a canção “Sunflower”
de Post Malone e Swae Lee, que tem um papel importante em tranquilizar
Miles em seus momentos de tensão, para facilitar o uso dos seus poderes de
aranha, que por sua vez, tem também um correspondente musical.

Baseado nas melodias orquestradas dos Homens-Aranha do Peter


Parker, Homem-Aranha do universo do Miles, que é sua inspiração inicial e a
do Peter B. Parker, o Homem-Aranha de outra dimensão, que se torna seu
mentor. A música orquestrada aqui representa o desconhecido, o escuro que
Miles não deve temer, mas teme, e que não deve se esconder, mas se
esconde. Até que na sequência do Salto de Fé, tudo isso fica mais evidente, já
que em “What’s up danger” de Blackway e Black Caviar, a parte orquestral das
trilhas dos aranhas que o inspiraram e o guiaram é remixado junto do R.A.P
que tanto faz parte da identidade do Miles.

A parte melódica do filme tem como papel, dar o clima de cada cena, a
ambiência, enquanto as letras falam o que Miles quer e precisa dizer, e do seu
jeito. Criam a atmosfera perfeita para todas as partes da sequência do salto de
fé, e dizem com ritmo e poesia, tudo o que Miles está dizendo com suas ações.
As interseções artísticas do Hip Hop e a dialética do R.A.P são novamente
utilizadas, dando camadas extras de significado a toda a obra. A mensagem
aqui é clara, Miles se tornou um Homem-Aranha, mas um único, singular, e que
só pode ser o que é por que Miles é o que é, e com sua própria identidade, seja
ela visual, com o graffiti em seu uniforme, física, com seus movimentos
estilizados e rítmicos, ou musical, com sua própria trilha sonora única,
utilizando o antigo, e o atual, para criar algo novo.
Referências

1 HOMEM ARANHA NO ARANHAVERSO. Direção: Peter Ramsey, Bob


Persichetti e Rodney Rothman. Local: EUA. 2018.

2 JESUS, Alan. A pluralidade do Aranhaverso e o pichador que levou o Oscar.


Blackpie, 2019.

3 QUEIROZ, Carlos Eduardo. A intervenção estilística em adaptações


cinematográficas de histórias em quadrinhos: convergências de linguagem em
“Homem-Aranha: no Aranhaverso”. 2022.

4 REINATO, Eduardo José. Hip hop como manifestação cultural: protagonismo


jovem. 2012.

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