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SISTEMAS DE ESGOTAMENTO
SANITÁRIO E TRATAMENTO DE
EFLUENTES INDUSTRIAIS
Ana Claudia Guedes Silva

SISTEMAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO E


TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Silva, Ana Claudia Guedes
S586s Sistemas de esgotamento sanitário e tratamento de
efluentes industriais/ Ana Claudia Guedes Silva, – Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
43 p.

ISBN 978-65-86461-13-8

1.Efluentes industriais 2. Esgotamento sanitário


I. Título.

CDD 628.445
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753

2020
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
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SISTEMAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO E TRATAMENTO
DE EFLUENTES INDUSTRIAIS

SUMÁRIO
Qualidade da água e sistemas de abastecimento____________________ 05

Estações de tratamento e sistemas de esgotamento_________________ 21

Acepção e tratabilidade dos efluentes industriais____________________ 37

Tecnologias e inovações no tratamento de efluentes________________ 52

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Qualidade da água e sistemas de
abastecimento
Autora: Ana Claudia Guedes Silva
Leitora crítica: Jessica Klarosk Helenas Perin

Objetivos
• Compreender a caracterização da água, bem
como sobre seus padrões de potabilidade e
balneabilidade, segundo a legislação vigente.

• Definir e exemplificar os sistemas de abastecimento,


captação e distribuição da água.

• Caracterizar e expor os principais métodos de


tratamento da água, detalhando os níveis primário,
secundário e terciário.

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1. Características da água

As características que a água possui são reflexos de todos os processos


envolvidos no ambiente em que se encontra, sejam advindos de ação
antrópica (processos erosivos, por exemplo) ou simplesmente de ação
natural (percolação no solo). Isso pode alterar diversos parâmetros de
qualidade, tal como a turbidez da água.

Dessa maneira, é necessária a caracterização da água, utilizando


diversos parâmetros que são obtidos por uma série de análises e
apresentam, em geral, características quantificáveis da qualidade da
água. Quando fora dos limites estabelecidos para o determinado uso,
indicam a necessidade de algum processo de tratamento, a fim de que
a água se adeque a qualidade requerida. A seguir serão detalhados,
em três grupos, os parâmetros mais representativos para qualidade da
água.

1.1 Características físicas das águas

a. Temperatura: quantidade de calor; é um parâmetro importante,


pois influencia diretamente em algumas propriedades da água,
como na densidade, viscosidade e oxigênio dissolvido. Este
último, com reflexos diretos sobre a vida aquática. Além disso,
a temperatura pode variar conforme o recebimento de energia
solar, bem como pelas ações humanas, tais como despejos
industriais e águas de resfriamento.
b. Sabor e odor: podem ser resultantes de causas naturais, como
algas, vegetação em decomposição, bactérias, fungos, compostos
orgânicos, gases como sulfídricos e sulfatos; e também por
agentes artificiais, por exemplo: esgotos domésticos e industriais.
c. Cor: resultante da existência de substâncias dissolvidas. Pode ser
causada por ferro, manganês ou pela decomposição da matéria
orgânica na água.

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d. Sólidos: em suspensão ou dissolvidos. Sólidos em suspensão:
partículas que permanecem retidas após o processo de filtração.
Podem ser divididos em sólidos dissolvidos, que são partículas que
passam através do filtro e representam a matéria em solução ou
em estado coloidal presente na amostra; sólidos sedimentáveis,
porção dos sólidos que se sedimenta sob ação da gravidade em
um recipiente.
e. Turbidez: presença de material em suspensão (não dissolvido),
como argila, silte, substâncias orgânicas finamente particuladas e
microrganismos. A turbidez não deve ser confundida com cor, pois
representa a medida de interferência da passagem de luz pela
amostra.
f. Condutividade elétrica: capacidade que a água possui de conduzir
corrente elétrica. Este parâmetro está relacionado com a presença
de substâncias dissolvidas na água, que se dissociam em íons.
Sendo maior a condutividade, quanto maior for a concentração de
íons na mesma.

1.2 Características químicas das águas

a. pH (potencial hidrogeniônico): representa o equilíbrio entre íons


H+ e íons OH-. Pode variar de zero a 14. A água é ácida se o pH
for inferior a sete, neutra se pH igual a sete, ou alcalina se pH
maior do que sete. O pH da água pode variar de acordo com sua
origem e características naturais, mas também pode ser alterado
pela introdução de substâncias que venham a se decompor ou
alterar quimicamente suas características. Águas com pH muito
ácido podem ser corrosivas e as de pH muito alcalino tendem a
formar incrustações nas tubulações. A vida aquática é altamente
dependente das flutuações de pH, sendo estável na faixa de seis a
nove.
b. Alcalinidade: causada por sais, principalmente o cálcio; indica
a capacidade da água de neutralizar os ácidos, isto é, expressa

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a capacidade de resistir a mudanças do pH (efeito tampão);
em teores elevados, proporciona sabor desagradável à água,
influenciando na eficiência dos processos de tratamento da água.
c. Dureza: resulta da presença, principalmente de sais, como cálcio
e magnésio, ou de outros metais bivalentes, mas com menor
intensidade. Em teores elevados, causa sabor desagradável e
efeitos laxativos; provoca incrustações em tubulações e caldeiras.
Classificação das águas, em termos de dureza de carbonatos
(CaCO3) (Tabela 1) (BRASIL, 2014, p. 22):

Quadro 1 – Classificação das águas em relação à concentração


carbonato de cálcio (CaCO3), expresso em mg/L
Valores de concentração de
Classificação da água
carbonatos (CaCO3)–mg/L
Menor que 50. Mole ou branda.
Entre 50 e 150. Com dureza moderada.
Entre 150 e 300. Dura.
Maior que 300. Muito dura.

Fonte: BRASIL (2014).

d. Cloretos: geralmente provindos da dissolução de minerais ou


da intrusão de água do mar; podem também ser oriundos dos
esgotos domésticos ou industriais; em altas concentrações
conferem sabor salgado à água e propriedades laxativas.
e. Ferro e manganês: originam-se da dissolução de compostos do
solo ou de despejos industriais, resultando em uma coloração
avermelhada à água quando o ferro está em concentrações mais
elevadas, ou marrom, quando as concentrações de manganês
são mais elevadas, manchando roupas e outros produtos
industrializados, além de conferir sabor metálico. Águas com
altas concentrações de ferro favorecem o desenvolvimento das
ferrobactérias, que podem causar maus odores.

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f. Nitrogênio: na água, o nitrogênio pode ser encontrado nas mais
diversas formas. As mais relevantes são:

• Nitrogênio molecular (N2): nitrogênio gasoso. Continuamente


sujeito a perdas para a atmosfera (volatilização). Algumas
espécies de algas fixam o nitrogênio atmosférico, que auxilia
em seu desenvolvimento e crescimento, mesmo quando as
outras formas de nitrogênio não estão disponíveis na massa
líquida.

• Nitrogênio orgânico: pode ser formado por nitrogênio


na forma dissolvida, isto é, por compostos nitrogenados
orgânicos; ou também na sua forma particulada, juntamente
com a biomassa de organismos.

• Amônia (NH3): encontrada em condições de anaerobiose; serve


ainda como indicador do lançamento de esgotos; altamente
tóxico para a fauna aquática.

g. Fósforo: é encontrado no ambiente aquático, nas formas orgânica


e inorgânica. A orgânica pode estar solúvel, compreendendo
em uma matéria orgânica dissolvida ou particulado, juntamente
com uma biomassa de microrganismos. A inorgânica pode estar
presente na forma solúvel em sais de fósforo ou particulado,
presente em compostos minerais, como apatita. Em razão de sua
baixa disponibilidade natural na água, é o nutriente limitante para
o crescimento de plantas aquáticas. Quando este nutriente não
é mais um fator limitante, ocorre um crescimento em excesso,
caracterizando-se o fenômeno conhecido como eutrofização, que
prejudica e até impossibilita, em alguns casos, a utilização da água.
h. Oxigênio dissolvido: é um dos parâmetros mais utilizados para
expressar a qualidade de um ambiente aquático, pois as variações
nos teores de oxigênio dissolvido estão associadas a processos
físicos, químicos e biológicos que ocorrem nos corpos d’água.
Para a manutenção da vida aquática aeróbia são necessários

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teores mínimos de oxigênio dissolvido de 2 mg/L a 5 mg/L
(exigências diferentes para cada organismo). A concentração
mínima necessária para sobrevivência das espécies piscícolas é de
4 mg/L para a maioria dos peixes. Em condições de anaerobiose
(ausência de oxigênio dissolvido), ocorre a mortandade de peixes
e outras espécies que necessitam de oxigênio e começa a ocorrer
a presença de maus odores (BRASIL, 2014, p. 25).
i. Matéria orgânica: a presença em quantidades elevadas pode
causar mal odor, turbidez e aumento no consumo de oxigênio
dissolvido pela ação dos microrganismos, em que, para a
quantificação, são utilizados indicadores indiretos da quantidade
de matéria orgânica na água: Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO) e Demanda Química de Oxigênio (DQO).

A DBO e a DQO indicam a demanda de oxigênio necessária para


estabilizar a matéria orgânica contida na amostra de água. Por isso,
são indicadores indiretos, não medem a matéria orgânica diretamente,
medem o consumo de oxigênio que é exercido por ela. A estabilização
completa da matéria orgânica exige um tempo de vinte dias, porém,
convencionou-se um período de incubação de cinco dias a temperatura
de 20 ºC, denominada assim de DBO5,20.

A diferença entre DBO e DQO está no tipo de matéria orgânica


estabilizada. Enquanto a DBO se refere exclusivamente à matéria
orgânica biodegradável, ou seja, estabilizada por atividade
microbiológica, a DQO engloba, além da matéria orgânica biodegradável,
também a degradação da matéria orgânica por meio de processos
químicos. Dessa maneira, o valor da DQO é sempre superior ao da DBO.

1.3 Características microbiológicas das águas

a. Escherichia coli: espécie de bactéria que está presente no intestino


humano e de animais de sangue quente, sendo eliminada nas

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fezes em números muito elevados (105 a 107 células/g), segundo
Trevisan (2017). Quando a água é caracterizada contendo
Escherichia coli, há indicação clara de que está contaminada com
fezes e, consequentemente, se encontra fora dos padrões para
consumo humano, por exemplo.
b. Coliformes totais: o grupo dos coliformes inclui bactérias de
origem não exclusivamente fecal, podendo ocorrer naturalmente
no solo, em águas naturais e em plantas, por exemplo. Em climas
tropicais, os coliformes apresentam capacidade de se multiplicar
na água, dependendo da temperatura.
Assim, na avaliação da qualidade de águas naturais, os coliformes
totais têm valor sanitário muito limitado. Sua aplicação restringe-
se a avaliação da qualidade da água tratada, na qual sua presença
pode indicar falhas, como uma tubulação rompida, ou ainda a
presença de nutrientes em excesso em reservatórios que não
foram limpos devidamente, mas não indicam a contaminação por
fezes (coliformes fecais são os indicadores disso).
c. Algas e cianobactérias: se fazem presentes em lagos, reservatórios
e cursos d’água, são responsáveis por parcela significativa da
concentração de oxigênio dissolvido na água.
d. Protozoários: esses organismos estão relacionados com doenças
de transmissão hídrica em que produzem cistos ou oocistos
resistentes às condições do ambiente, tais como Giardia,
Toxoplasma e Cryptosporidium.

2. Padrões de potabilidade e balneabilidade

Os padrões de potabilidade são diferentes dos de balneabilidade,


que também não são iguais aos constituídos para uso na irrigação
ou na indústria. Mesmo entre os usos industriais do mesmo ramo,
pois existem requisitos variáveis de qualidade em função do processo
aplicado no tratamento.

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No Brasil, os padrões de potabilidade (água de abastecimento humano)
ficam a cargo do Ministério da Saúde, que estabelece diversos requisitos
por meio da Portaria de Consolidação (PRC) n. 5, publicada em 03 de
outubro de 2017 (BRASIL, 2017), que revogou a Portaria n. 2.914, de
dezembro de 2011.

Além de dispor de padrões para todas as características da água


(Quadro 2), com seus devidos limites máximos e amostragens
requeridas, os anexos da PRC n. 5/2017, trazem diversos parâmetros
quanto a outras substâncias químicas que trazem prejuízo à saúde,
como o chumbo, cujo valor máximo permitido é de 0,01 mg/L.

Quadro 2 – Alguns parâmetros presentes na PRC n. 5/2017 do


Ministério da Saúde.
Microbiológicos
Tipo de água Parâmetro Valor máximo permitido
Consumo humano. Escherichia coli. Ausência em 100 mL.
Na saída do tratamento. Coliformes totais. Ausência em 100 mL.
No sistema de distribuição. Escherichia coli. Ausência em 100 mL.
Turbidez
Desinfecção (águas subterrâneas). 1,0 uT em 95% das amostras.
Filtração rápida (convencional
0,5 uT em 95% das amostras.
ou simplificado).
Filtração lenta. 1,0 uT em 95% das amostras.

Fonte: BRASIL, 2017.

Balneabilidade de um referido local é a possibilidade de serem exercidas


atividades de contato primário, como banho e atividades esportivas em
suas águas, sendo assim, é quando a qualidade da água está de acordo
com este uso. A balneabilidade ou não de um local é determinada a
partir da quantidade de bactérias do grupo coliforme, presente na água,
sendo feitas análises que quantificam os coliformes totais e fecais.

A resolução que delibera padrões para a balneabilidade é a Resolução


n. 274, de 29 de novembro de 2000, do Conselho Nacional do Meio

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Ambiente (CONAMA), que, de forma simples, categoriza classes de
qualidade para este fim, de acordo com análises de coliformes fecais
(termotolerantes). Dessa maneira, fica definido (BRASIL, 2000):

• Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras


obtidas, em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas
no mesmo local, houver, no máximo, 250 NMP (número mais
provável) coliformes fecais (termotolerantes) ou 200 NMP
Escherichia coli ou 25 NMP enterococos por 100 mL.

• Muito boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras


obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas
no mesmo local, houver, no máximo, 500 NMP coliformes
fecais (termotolerantes) ou 400 NMP Escherichia coli ou 50 NMP
enterococos por 100 mL.

• Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras


obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas
no mesmo local, houver, no máximo 1.000 NMP coliformes
fecais (termotolerantes) ou 800 NMP Escherichia coli ou 100 NMP
enterococos por 100 mL.

O atendimento dos requisitos citados não classifica categoricamente que


a balneabilidade está assegurada, fazendo-se necessário o atendimento
de alguns requisitos complementares, também dispostos na resolução
CONAMA 274 (BRASIL, 2000).

3. Sistemas de abastecimento de água (SAA)


Sistema de Abastecimento de Água (SAA) é o conjunto de obras,
instalações e serviços, destinados a garantir aos seus usuários a
qualidade e quantidade de água adequados às suas necessidades, seja
para os mais diversos fins, como: consumo, serviços públicos, consumo
industrial e outros usos previstos.

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Seguindo o fluxo da própria água, o SAA inicia pela retirada da água
de um corpo hídrico (captação), o transporte da água bruta (adução),
adequação de sua qualidade (tratamento), transporte e fornecimento
à população (distribuição). Dependendo do projeto realizado, alguns
dispositivos podem ser requeridos no SAA, como estações elevatórias,
reservatórios, entre outros.

3.1 Componentes de um SAA

Manancial: manancial ou corpo hídrico é a fonte de água doce utilizada


para atender necessidades dos usuários do sistema. A escolha correta
do manancial passa pela avaliação da vazão necessária (quantidade),
além da qualidade. Isso implicará também na escolha dos métodos de
tratamento a serem utilizados (BRASIL, 2015, p. 79).

Captação: constituído por um conjunto de estruturas e dispositivos


(tubulações, motobombas etc) posicionados, normalmente, junto ao
manancial para retirar água destinada ao sistema. Tem como função
fornecer ao sistema, água em quantidade suficiente com a melhor
qualidade para que possa suprir a demanda (BRASIL, 2015, p. 84).

Estação de tratamento de água (ETA): conjunto de instalações e


equipamentos destinados a realizar a adequação da qualidade da água
que será distribuída aos usuários. O tratamento de água, normalmente,
é caracterizado por métodos físico-químicos, podendo variar os métodos
de acordo com a qualidade da água bruta. O sistema convencional
de tratamento de água é o mais utilizado e compreende etapas de
coagulação, floculação, decantação, filtração rápida, desinfecção,
fluoretação e correção do pH (BRASIL, 2015, p. 110).

Adutoras: são tubulações de grande diâmetro, que tem por objetivo


conduzir a água para as demais unidades do sistema. É responsável
pela interligação entre a captação e a estação de tratamento (adutora
de água bruta), e o (s) reservatório (s), a rede de distribuição (adutora

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de água tratada), porém, não distribuem a água entre as unidades
consumidoras (BRASIL, 2015, p. 105).

Estações elevatórias: são dispositivos que utilizam motobombas


para transportar água, quando a mesma não pode ser feita por meio
da força gravitacional ou até mesmo para elevar a pressão na rede
de distribuição. Seu uso demanda de muita energia e os custos de
manutenção são muito elevados. Dessa maneira, sempre que há a
possibilidade de se utilizar apenas a força gravitacional no transporte, é
recomendada (BRASIL, 2015, p. 141).

Reservatórios de distribuição: são componentes que tem por


finalidade suprir as variações de consumo dos usuários ao longo do
dia (reservação), manter a pressurização adequada da rede e garantir
a ininterrupção do abastecimento em caso de paralização de algum
dos serviços, falhas de tratamento, falta de energia e rompimento de
adutoras, por exemplo. Outro ponto importante é garantir reservas de
água para uso em combates a incêndios, item obrigatório (BRASIL, 2015,
p. 133).

Redes de abastecimento: são constituídas por tubulações, órgãos e


acessórios, que disponibilizam água de forma ininterrupta e com qualidade
adequada as unidades consumidoras. Trata-se do componente mais caro
na implantação do sistema, devido sua extensão, grande movimentação
de solo e maquinário empregado. Também são as de maior dificuldade de
acesso para manutenções, pois se encontram enterradas e distribuídas em
vias públicas normalmente (BRASIL, 2015, p. 134).

4. Principais métodos de tratamento da água

O tratamento da água deverá ser realizado apenas se demonstrada


sua necessidade e sempre que a purificação for necessária. Por isso, a

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seleção de processos de tratamento para obtenção de água potável deve
ser feita de modo a permitir a remoção ou redução de determinados
constituintes da água bruta, até alcançar as características ideais para
uso.

Desse modo, os principais condicionantes na escolha dos processos


unitários para a potabilização são: a natureza da água bruta, que está
diretamente ligado as características físico-químicas e microbiológicas
do manancial; e a qualidade final da água tratada.

As tecnologias de tratamento apresentam, basicamente, três fases:


clarificação, filtração e desinfecção. Clarificação envolve as etapas
de coagulação, floculação e decantação/ flotação, cujo objetivo é
primordialmente a remoção dos sólidos suspensos e de parcela
dos sólidos dissolvidos. Posteriormente, a filtração visa a remoção
de sólidos em suspensão, bem como a remoção de bactérias e
cistos de protozoários. Já a desinfecção, presta-se a inativação dos
microrganismos ainda resultantes, como bactérias e vírus, segundo
Libânio (2010, p. 146).

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n.


357/2005, define os tipos de tratamentos específicos de acordo com a
classificação do manancial, apresentada a seguir (BRASIL, 2005):

• Classe especial: necessita apenas do tratamento de desinfecção.

• Classe 1: aplica-se o processo simplificado, composto por


clarificação realizada por meio de filtração; desinfecção; correção
de pH (quando necessário) e adição de flúor (fluoretação).

• Classe 2: emprega-se o processo convencional, constituído por


clarificação, com utilização de coagulação; floculação; decantação/
flotação; filtração seguida de desinfecção; correção de pH e
fluoretação.

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• Classe 3: com possível utilização dos processos, convencional
ou avançado, sendo que no avançado há o uso de técnicas
de remoção e/ou inativação de constituintes refratários aos
processos convencionais de tratamento, que podem conferir à
água características, como: cor, odor, sabor, atividade tóxica ou
patogênica.

Vale ressaltar que para qualquer processo utilizado, faz-se o uso do


tratamento preliminar, que consiste na remoção de sólidos grosseiros
por meio de sistemas de gradeamento.

Assim, analisando os tratamentos requeridos para água, percebe-se


que pode haver ou não a etapa de coagulação química. Caso haja a
inexistência da coagulação, o tratamento é realizado por filtração lenta,
com posterior desinfecção, correção do pH e fluoretação.

Com o emprego da coagulação química, a tecnologia de tratamento


passa a ser associada a filtração rápida, em que pode haver duas
variantes desse sistema, precedendo a etapa de filtração:

1. Com a inexistência da unidade de decantação ou flotação para


sedimentação dos flocos, que se divide em: sem unidade de
floculação presente, denominada de filtração direta em linha;
ou com a operação unitária de floculação, conhecida apenas
como filtração direta. Esses sistemas podem conter dois filtros
rápidos dispostos em séries, operando em sentido ascendente ou
descendente, chamados de dupla filtração ou filtração em dois
estágios.
2. Existência da unidade para retenção dos flocos por decantação ou
flotação: Nesse caso, o tratamento é denominado convencional,
em que há contemplação das etapas de coagulação, floculação,
decantação ou flotação, filtração, desinfecção e fluoretação,
segundo Telles (2013, p. 268).

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Entretanto, muitos compostos solúveis em água são resistentes à
biodegradação, necessitando, portanto, de um tratamento avançado
para eliminação de tais compostos. Esse tratamento emprega técnicas
como a oxidação com oxigênio, permanganato de potássio, cloro,
dióxido de cloro ou ozônio; uso de carvão ativado em pó, precipitação
química, membranas filtrantes, adsorção, osmose reversa, luz
ultravioleta e/ou ozonificação, que visam remoção de cor, turbidez,
algas, gases, compostos voláteis, oxidação de íons metálicos (tais como
ferro e manganês) e remoção total ou parcial de dureza (íons Ca+2 Mg+2
na forma de bicarbonatos, sulfatos e cloretos), segundo Libânio (p. 24-
34, 2010).

5. Tratamento primário, secundário e terciário

Como citado anteriormente, a escolha do tipo de tratamento de água


para abastecimento depende da qualidade do manancial em que a
água bruta será captada. Diferente para as águas residuárias, em que
a escolha do tipo ou nível de tratamento depende da quantidade e
qualidade das águas residuais, a qualidade que se pretende obter
depois do tratamento e as características do local de descarga.

Assim, o tratamento de efluentes consiste em três fases, segundo Von


Sperling (2008, p. 249):

• Tratamento primário: visa a remoção de sólidos em suspensão


sedimentáveis e, em decorrência, parte da matéria orgânica em
suspensão (DBO suspensa ou particulada). É usual a utilização
de mecanismos físicos, tais como decantação e caixa de areia,
bem como adição de componentes químicos para ajudar na
floculação, ou seja, para que os flocos se tornem maiores e que
sua sedimentação seja facilitada.

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• Tratamento secundário: o objetivo principal dessa etapa é a
remoção de matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel ou filtrada)
e DBO suspensa e, porventura, nutrientes. Nesse tratamento, tem
predomínio do processo biológico, realizado por bactérias aeróbias
e anaeróbias, que degradam os compostos orgânicos resultantes
do processo anterior, sendo realizado por meio de lodos ativados,
lagoas de estabilização, wetlands, filtro anaeróbio, reator anaeróbio
de fluxo ascendente (UASB) e/ou reatores com biofilmes.

• Tratamento terciário: objetiva a remoção de nitrogênio e fósforo,


organismos patogênicos, compostos não biodegradáveis,
metais pesados, sólidos inorgânicos dissolvidos e em suspensão
remanescente não removidos em sua totalidade nos processos
anteriores. Nessa etapa, há utilização de lagoas de maturação e
polimento, cloração, ozonificação, radiação ultravioleta, filtração
com membranas e/ou uso de alcalinizantes.

Referências Bibliográficas
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mar. 2020.

19
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente–
CONAMA. Resolução CONAMA n. 357, de 25 de março de 2005. Publicada no
DOU, n. 053, de 18/03/2005, p. 58-63. Brasília, DF, 2005. Disponível em: http://
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Estações de tratamento e
sistemas de esgotamento
Autora: Ana Claudia Guedes Silva
Leitora crítica: Jessica Klarosk Helenas Perin

Objetivos
• Caracterizar efluente sanitário conforme suas
características, bem como seus padrões de
lançamento após o tratamento.

• Compreender os parâmetros para o


dimensionamento de estações de tratamento de
água e esgoto.

• Diferenciar efluente doméstico de industrial, assim


como estabelecer o conceito de águas pluviais.

• Compreender os tipos de sistemas de esgotamento


sanitário, citando suas peculiaridades e
características.

• Enquadrar os corpos de água em classes, segundo


os usos preponderantes da água e a legislação
vigente.

21
1. Dimensionamento para elaboração de
estações de tratamento de água e efluente

Para o dimensionamento de estações de tratamento de água e efluente são


necessárias várias avaliações prévias a serem consideradas, dentre elas:
a qualidade da água ou efluente a ser tratado, o tamanho da população
a ser atendida e o orçamento disponível para execução da obra, pois isso
influenciará diretamente na escolha da tecnologia a ser utilizada.

Desse modo, serão apresentadas, a seguir, diretrizes gerais para


a elaboração desses projetos, mais especificamente os principais
parâmetros a serem seguidos para o dimensionamento, que atestarão o
correto dimensionamento das unidades e, por consequência, o potencial
de bom funcionamento do sistema.

Devida sua importância, são listados em normativas que devem ser


seguidas, como a Norma Brasileira (NBR) 12.216, de 1992, que traz
as condições para projetos de estações de tratamento de água para
abastecimento público; e a NBR 12.209, de 2011, que relata as condições
para projetos de estações de tratamento de esgoto sanitário (ABNT,
1992; ABNT, 2011).

1.1 Parâmetros de projeto de Estações de Tratamento


de Água (ETA)

O sistema convencional é a metodologia mais utilizada no Brasil, pois é


robusto no que diz respeito às variações de qualidade de água, sendo
composto pelos dispositivos: mistura rápida, floculação, decantação e
filtração rápida. Os parâmetros de projetos em cada operação serão
descritos a seguir:

• Unidade de mistura rápida: possui a finalidade de promover


a dispersão do coagulante na água para que haja a redução das

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forças de separação das partículas coloidais e suspensas, sendo
a calha Parshall um dispositivo eficiente para esse processo,
segundo Richter (2012). A mistura deve ser a mais homogênea
e rápida possível para que haja coagulação e, por isso, a NBR
12.216/1992 recomenda um gradiente de velocidade alto (entre
700 s-1 e 1100 s-1) e um tempo de dispersão baixo (inferior a um
segundo) (ABNT, 1992).

• Floculação: processo em que as partículas coaguladas ou


desestabilizadas se aglomeram para formar flocos maiores.
Assim, o processo de agregação das partículas depende do
tempo de contato e do gradiente de velocidade, que deve ser
menor, se comparado ao processo de mistura rápida (máximo 70
s-1 no primeiro compartimento e mínimo 10 s-1 no último). Essa
diminuição de velocidade é obtida por meio do aumento da largura
e da profundidade do canal do floculador, bem como à disposição
de dispositivos direcionais de fluxo ao longo do seu percurso, tal
como chicanas, que conferem a água movimentos horizontais,
verticais ou helicoidais, objetivando sua perda de carga.

• Decantação: nessa etapa, ocorre a sedimentação das partículas


floculentas, havendo a separação das partículas sólidas em
suspensão na água pela ação da gravidade, que se depositam
na parte inferior da unidade onde se realiza esse processo,
denominadas usualmente de decantadores ou tanques de
decantação. Na decantação, os principais parâmetros de projeto
são a velocidade de sedimentação e o tempo de detenção, sendo
classificados segundo a NBR 12.216/1992, de acordo com a vazão
que passa pela unidade de tratamento (ABNT, 1992).

• Filtração: a existência da operação de coagulação na ETA conduz


a utilização de filtração rápida, que possui funcionamento físico-
químico para a separação de impurezas em suspensão na água,
mediante sua passagem por um meio poroso, onde há variação das
camadas filtrantes com a utilização de diversos materiais granulares.

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Os parâmetros básicos de projeto para as unidades filtrantes são:
taxa de filtração, obtida por meio de filtro-piloto. Quando não for
possível tal teste, adotar, para filtro de camada simples, 180 m3.m-2.d-1;
e para filtro de camada dupla, 360 m3.m-2.d-1; espessura, tamanho
efetivo e coeficiente de uniformidade das camadas filtrantes e
suporte determinados por ensaios em filtro-piloto, quando os ensaios
não são realizados, pode ser utilizada a especificação básica para tais
parâmetros da NBR 12.216/1992 (ABNT, 1992).

• Desinfecção, fluoretação e correção de pH: essa é última etapa do


tratamento de água, que recebe cloro (gás ou líquido) para eliminar
microrganismos causadores de doenças, cuja concentração e tempo
de contato variam conforme a temperatura e pH da água tratada,
devendo-se garantir que seja fornecida com um teor mínimo de
cloro residual livre de 0,2 mg L-1 em toda a extensão do sistema de
distribuição; além do valor máximo permitido 1,5 mg.L-1 de flúor
para prevenção a incidência de cáries, conforme a Portaria de
Consolidação (PRC) n. 5, publicada em três de outubro de dois mil e
dezessete; e, se necessário, a aplicação de cal hidratada ou virgem,
a fim de corrigir o pH da água, estabilizando-a para que fique o mais
próximo da neutralidade (pH 7) (BRASIL, 2017).

1.2 Parâmetros de projeto de estações de tratamento


de esgoto (ETE)

No que tange a efluentes, principalmente os domésticos, há um


consenso na utilização de processos microbiológicos para o tratamento,
principalmente, pelo clima do Brasil ser favorável e seu custo de
operação ser reduzido quando comparado a processos físico-químicos.

Além disso, leva-se em consideração o tamanho da área que pode ser


utilizada e os custos energéticos e de operação. Essas ponderações se
fazem necessárias, pois, diferentemente do tratamento de água, os
tratamentos de efluentes possuem diversas tecnologias que são muito
utilizadas em todo o território nacional.

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Os tratamentos de efluentes, normalmente, dispõem de unidades de
remoção de sólidos grosseiros (grades e/ou peneiras), remoção de areia
e sólidos facilmente sedimentáveis (desarenador), decantação primária
(tanque de decantação), processos de remoção de matéria orgânica
(lodos ativados, Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente–UASB, filtros
biológicos, entre outas tecnologias diferentes).

Sendo assim, serão apresentados os parâmetros de projeto de


alguns dos muitos sistemas largamente utilizados para tal fim. Esses
parâmetros são os recomendados pela NBR 12.209, de 2011, e devem
ser seguidos em todos os projetos dessa natureza (ABNT, 2011).

1.2.1 Remoção de sólidos grosseiros

A remoção de sólidos grosseiros é realizada por grades de barras ou


peneiras, tendo o objetivo de proteger contra obstruções bombas,
tubulações e a ETE como um todo.

Segundo a NBR 12.209/2011, as grades e peneiras devem ser inclinadas


com ângulos de 45º a 60º para facilitar a limpeza, se for manual (para
vazões até 100 L.s-1); e de 60º a 90º para limpeza mecanizada (ABNT, 2011).

A limpeza sempre deve ser realizada quando a perda de carga atingir


0,15 m para dispositivos com limpeza manual ou 0,10 m para limpeza
mecanizada. Lembrando que a perda de carga é considerada para
grades com 50% de obstrução.

1.2.2 Remoção de areia

O desarenador é um dispositivo que, como o próprio nome diz, tem


como objetivo remover areia e outros sólidos de maior peso que são
facilmente sedimentáveis, ou seja, sólidos com diâmetro maior que 0,2
mm e densidade aparente de 2,65 g.cm-3 (ABNT, 2011).

25
Para que isso ocorra, o fluxo de efluente deve ser mais lento para
possibilitar a decantação, por isso, a NBR 12.209/2011 recomenda que
a velocidade de escoamento esteja entre 0,25 a 0,40 m.s-1, caso seja
de fluxo horizontal e seção retangular (o mais usual). A profundidade
do canal deve ser, no mínimo, de 0,20 m, para que haja depósito de
material sedimentado, além de funcionar com uma taxa de aplicação
superficial de 600 a 1300 m3.m-2.d-1 (ABNT, 2011).

1.2.3 Decantação primária

Utilizada, principalmente, em sistemas de lodos ativados convencional


e de filtros biológicos, tendo como objetivo a redução da passagem de
sólidos inertes que não foram retirados anteriormente, para as unidades
posteriores, por meio do uso de tanques de decantação.

O principal parâmetro para esta unidade é a taxa de aplicação


superficial, já que refletirá a eficiência do processo. Quanto maior a taxa,
menor a eficiência. Sendo assim, as etapas subsequentes a esta unidade
que são mais sensíveis a sólidos, como filtros biológicos, necessitam de
taxas de aplicação mais reduzidas (até 60 m3.m-2.d-1). Já para sistemas
com lodos ativados, pode-se utilizar taxas de aplicação superficial até 90
m3.m-2.d-1 sem perda de eficiência do sistema (ABNT, 2011).

1.3 Processos biológicos de remoção de matéria


orgânica

1.3.1 Filtros biológicos

É um sistema que utiliza um meio suporte como forma de gerar área


para a adesão dos microrganismos que entrarão em contato com o
efluente a ser tratado (normalmente utiliza brita como meio suporte).

26
Há várias configurações desse tipo de tratamento de alta e baixa taxa,
com recirculação do efluente, filtros dispostos em série, seguidos de
decantador. A escolha do método varia conforme a necessidade de
eficiência de remoção de matéria orgânica.

Sistemas de filtros com meio suporte de brita devem possuir uma


camada de até três metros de profundidade, sendo a taxa de aplicação
superficial, o parâmetro principal de dimensionamento e operação do
mesmo, variando de 1,2 kg/m².d para filtros de alta taxa até 0,3 kg/m².d
para filtros de baixa taxa (ABNT, 2011).

1.3.2 Reator anaeróbio de fluxo ascendente com manta


de lodo - UASB

É um sistema anaeróbio de remoção de matéria orgânica, que tem como


vantagem seu baixo requisito de área e a possibilidade da produção de
biogás para aproveitamento energético.

Se tratando de um sistema biológico, o TDH é um parâmetro muito


importante, em que a NBR 12.209/2011 recomenda valores entre 6 h
(para temperatura do esgoto superior a 25 ºC) a 10 h (para temperatura
do esgoto entre 15 a 17 ºC) e profundidade útil do reator de 4 a 6 m
(ABNT, 2011).

Além disso, a mesma norma cita que, como o sistema atua sob fluxo
vertical, a velocidade ascensional na câmara de digestão não deve
ultrapassar 0,7 m.h-1, para vazões médias, e sendo inferior a 1,2 m.h-1
quando operado em vazão máxima.

Diferentemente dos filtros anaeróbios, o reator UASB não necessita de


decantação primária, bem como sua eficiência de remoção de DBO é
limitada (em torno de 70%) em relação aos outros tratamentos. Por isso,
recomenda-se, conforme da eficiência desejada, um pós-tratamento

27
que pode variar em processos aeróbios, anaeróbios e físico-químico,
segundo Von Sperling (2014).

1.3.3 Lodos ativados

É um sistema aeróbio com biomassa suspensa que utiliza pouca área,


porém, tem altos custos de operação devido a injeção de ar que se faz
necessária. Sistema muito utilizado por sua robustez e qualidade final
do efluente, que se divide em fluxo contínuo (convencional e aeração
prolongada) e intermitente.

No caso de lodos ativados, o TDH não é fator determinante, mas sim


a idade de lodo, que, segundo a NBR 12.209 de 2011, deve-se varia de
dois a quatro dias para sistemas de alta taxa, de quatro a quinze dias
para sistemas de baixa taxa, e acima de dezoito dias para sistemas de
aeração prolongada (ABNT, 2011).

Outro parâmetro importante, citado pela norma, é a relação A/M


(alimento/microrganismos), sendo: 0,70 a 1,10 kg DBO aplicada/kg
SSV.d para sistemas de alta taxa; de 0,20 a 0,70 kg DBO aplicada/kg
SSV.d para sistemas de baixa taxa; e menor ou igual a 0,15 kg DBO
aplicada/kg SSV.d para sistemas com aeração prolongada (ABNT,
2011).

2. Sistemas de Esgotamento Sanitário (SES)

Por definição, segundo Nuvolari (2011), é um conjunto de instalações


que compreende, entre outras coisas, condutos, caixas de passagem,
que tem por finalidade coletar, transportar e condicionar o efluente
sanitário (esgoto doméstico) para uma disposição final ambientalmente
adequada, de forma contínua e segura.

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Assim, pode-se inferir que os objetivos principais desse sistema são o
controle e/ou a erradicação de doenças de veiculação hídrica, a melhora
da qualidade de vida da população, bem como da qualidade ambiental,
seja em ambientes aquáticos ou terrestres.

2.1 Tipos de SES

Os SES podem ser classificados de duas formas: de acordo com o


número de usuários atendidos pelo sistema ou por meio do que será
transportado, ou seja, por sua finalidade de transporte.

A classificação de acordo com o número de usuários é feita por sistemas


chamados de: coletivo (atende vários usuários); ou individual (atende
apenas um usuário), que tem um sistema inteiro que compreende
captação, transporte, tratamento e disposição final do efluente
(respeitando devidamente a escala de produção do mesmo).

Por consequência, o sistema coletivo atende mais de um usuário, sendo


mais empregado em cidades, loteamentos, condomínios, entre outros,
pois há um rateio dos custos de implantação e a necessidade de apenas
um sistema de tratamento. Por sua vez, segundo Jordão e Pessôa
(2011), esse sistema pode ser subdividido de acordo com a finalidade de
transporte:

• Sistema unitário: em alguns países, é chamado de sistema


combinado e, como o próprio nome diz, é um sistema unificado/
combinado, com apenas uma única rede, que transporta as
águas residuárias domésticas, industriais e as águas pluviais.
Trata-se de um sistema com menor custo de implantação, pois
é necessária apenas uma rede, porém, é um sistema ineficiente
para a realidade brasileira devido aos altos índices pluviométricos
e, consequentemente, o incremento de vazão que prejudica o
sistema de tratamento.

29
• Sistema separador parcial: conhecido também como misto,
separa parcialmente as águas pluviais e o esgoto, pois as águas
que caem no interior dos terrenos e telhados das construções
ainda são enviadas a rede coletora. Sistema com melhor
eficiência que o unitário, porém, ainda não é o melhor adaptado
ao Brasil devido ao elevado índice pluviométrico.

• Sistema separador absoluto: neste modelo, utiliza-se dois


sistemas separados: um para as águas pluviais e outro para
o esgoto/ efluente. É o sistema mais utilizado no Brasil, pois
preserva as cargas orgânicas do efluente (não dilui o efluente
com água da chuva), possibilita a implantação de redes de
menor diâmetro e do uso de pré-moldados na obra, facilitando
a execução do sistema por etapas e para futura ampliação,
além de demandar uma estação de tratamento mais compacta,
tornando-o um sistema mais barato, apesar do ônus de
escavações para a implantação de duas tubulações separadas
ser maior.

2.2 Partes integrantes dos SES

Os SES, normalmente, são constituídos pelos coletores, coletores


principais, coletores tronco, interceptor, emissário, estações de
tratamento de efluentes (ETE) e, por vezes, estações elevatórias (EE) e
sifões invertidos, além de dispositivos anexos a rede, como poços de
visitas (PV), caixas de passagem (CP), tubos de inspeção (TI); e tubos de
inspeção e limpeza (TIL) (Figura 1).

30
Figura 1 – Esquema de alguns constituintes básicos do SES

Fonte: elaborada pela autora.

Os coletores são tubulações, sob conduto livre, que recebem ligações


ao longo do seu traçado. Os condutos livres, diferentemente dos
condutos forçados, operam sob pressão atmosférica, apresentando uma
superfície livre de contato com a parede da tubulação, pois parte da
tubulação está preenchida por esgoto e parte por ar.

Cada ligação residencial recebe efluente, à medida que os dispositivos


sanitários vão recebendo os despejos correspondentes às águas
utilizadas para os diversos fins, de acordo com Nuvolari (2011).

Os chamados coletores principais atuam também sob conduto livre,


como a maior parte da rede de esgotamento, e recebem efluentes das
ligações residenciais ao longo de seu trecho, sendo, normalmente, de
maior diâmetro que os coletores prediais.

O coletor tronco tem diâmetro maior que os coletores principais e só


recebe contribuições deles, que conduz os efluentes para o interceptor,
canalização que tem por finalidade coletar todo o efluente dos coletores
tronco.

31
Quando um interceptor deixa de receber contribuições e passa a ser
apenas uma tubulação com a finalidade de condução do efluente
para o ponto de lançamento ou tratamento, esta passa a ser chamada
de emissário, recebendo apenas contribuições na extremidade à
montante.

3. Classificação dos efluentes

Os esgotos, usualmente, são classificados em dois principais grupos:


os esgotos sanitários e industriais. Os primeiros são constituídos
essencialmente de despejos domésticos, além de uma parcela de
água pluvial e de infiltração e, eventualmente, uma parcela não
significativa de despejos industriais, sendo de características bem
distintas.

Os esgotos domésticos ou domiciliares são aqueles gerados,


principalmente, em residências, edifícios comerciais, instituições ou
qualquer edificação que contenha instalações de banheiros, lavanderias,
cozinhas ou outro dispositivo que utilize água para fins domésticos.
Segundo Jordão e Pessôa (2011), são compostos essencialmente da água
de banho, urina, fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes e
águas de lavagem.

Os esgotos industriais são originados de qualquer etapa de utilização da


água no processamento do produto, limpeza do ambiente, bem como
dos efluentes sanitários do estabelecimento industrial.

Em virtude das águas residuárias industriais possuírem características


próprias, devido a variação em função do processo industrial empregado
e da matéria prima utilizada, cada indústria deverá ser considerada
separadamente, uma vez que seus efluentes diferem até mesmo entre
processos industriais similares.

32
3.1 Características do esgoto sanitário e padrão de
lançamento de efluentes após o tratamento

Em geral, quando não possuem despejos industriais, os esgotos


domésticos apresentam, em sua composição, grande quantidade de
água (cerca de 99%) e apenas 1% de sólidos (sedimentáveis e não
sedimentáveis) e substâncias dissolvidas. Além dessas características
básicas, segundo Jordão e Pessôa (2011) e Nuvolari (2011), podemos
citar como propriedades típicas: DBO, variando de 100 a 400 mg L-1;
e pH variando entre 6,5 e 7,5 para esgoto fresco e inferior a 6,0 para
esgotos sépticos ou velhos. Importante ressaltar que os parâmetros
mencionados são após o ponto de mistura entre as águas do rio e do
efluente tratado.

Se atentarmos que o padrão de lançamento do efluente deve estar de


acordo em primeira instância com a Resolução CONAMA n. 430, de 2011,
que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento dos mesmos,
verificamos que a legislação afirma que a qualidade do efluente lançado
no corpo receptor não poderá ser inferior ao padrão de qualidade
d’água da classe do rio em questão. Já para rios onde não houve o
enquadramento em classes, a Resolução CONAMA n. 357 de 2005
considera para corpos de água doce, todos como sendo classe 2, até seu
efetivo enquadramento (BRASIL, 2005; 2011).

3.2 Enquadramento do corpo receptor

Como mencionado anteriormente, para o lançamento de um efluente


em um corpo receptor, este não deve apenas atender os padrões de
lançamento, mas necessita também estar de acordo com a qualidade da
água do corpo receptor.

Conforme artigo 9º da Lei n. 9.433, de 1997, o enquadramento dos


corpos de água em classes, mediante principais usos da água, visa

33
garantir, para águas continentais, qualidade compatível com os usos
mais exigentes a que forem destinadas, bem como reduzir os custos das
ações que objetivam o combate à poluição das águas, por meio de ações
preventivas permanentes (BRASIL, 1997).

Além disso, a Resolução CONAMA n. 357, de dezessete de março de


dois mil e cinco, regulamenta o artigo referido, que tipifica além das
diferenças e classificações de água doce, salina e salobra, as cinco
classes que caracterizam a qualidade das águas doces (BRASIL, 2005).

A classificação das águas doces vai desde as de melhor qualidade


(classe especial) até as de qualidade inferior (classe 4). Também são
estabelecidos valores de oxigênio dissolvido e DBO para cada classe
(Quadro 1).

Quadro 1 – Padrões de Oxigênio Dissolvido (OD) e DBO para


classificação águas doces e sua classe, segundo a Resolução
CONAMA n. 357/2005
Valores de
Classe Oxigênio DBO máxima
Dissolvido (OD)
Especial - -
Águas doces
1 até 6 mg/L 3 mg O2/L
2 até 5 mg/L 5 mg O2/L
3 até 10 mg/L 4 mg O2/L
4 superior a 2,0 mg/L -

Fonte: adaptado de Brasil (2005).

Ademais, a Resolução CONAMA n. 430, de treze de maio de dois mil


e onze, altera parcialmente e complementa a Resolução n. 357/2005,
informando, em um dos seus artigos, que a capacidade de suporte do
corpo receptor é a concentração máxima de determinado poluente que
o curso d’água pode receber, tendo em vista a qualidade da água e seus
usos determinados pela classe de enquadramento (BRASIL, 2011).

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A mesma resolução também menciona que os efluentes não poderão
conferir ao corpo receptor características de qualidade, em desacordo
com as metas obrigatórias progressivas, intermediárias e final, do seu
enquadramento, ou seja, os efluentes que serão lançados em rios de
melhor classe (maior qualidade de água), são efluentes que devem ter
passado por um tratamento mais rigoroso.

Esse enquadramento tem por finalidade principal a não alteração da


qualidade da água do corpo receptor, já que esta alteração resulta,
impreterivelmente, em degradação do ambiente e, consequentemente,
perda de qualidade ambiental do mesmo.

Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12.216: projeto de estação
de tratamento de água para abastecimento público. Rio de Janeiro, 1992.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12.209: elaboração de
projetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários. 2
ed. Rio de Janeiro, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria de Consolidação
n. 5, de 28 de setembro de 2017. Brasília, DF, 2017. Disponível em: https://
portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/29/PRC-5-Portaria-de-
Consolida——o-n—-5—de-28-de-setembro-de-2017.pdf. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Portaria n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Brasília, DF, 1997. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9433.htm. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Resolução CONAMA n. 357 de 17 de março de 2005. Publicada no DOU, n. 053, de
18/03/2005, p. 58-63. Brasília, DF, 2005. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/
port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Resolução CONAMA n. 430 de 13 de maio de 2011. Brasília, DF, 2011. Disponível
em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 2
mar. 2020.
JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 6. ed. Rio de
Janeiro, 2011.

35
NUVOLARI, A. Esgoto sanitário – coleta, transporte e reuso agrícola. 2. ed. São
Paulo: Edgard Blucher. 2011.
RICHTER, C. A. Água: métodos e tecnologia de tratamento. 1 ed. São Paulo: Editora
Blucher, 2012.
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de
esgotos. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental,
UFMG, vol. 1, 1. ed., 2014.

36
Acepção e tratabilidade dos
efluentes industriais
Autora: Ana Claudia Guedes Silva
Leitora crítica: Jessica Klarosk Helenas Perin

Objetivos
• Caracterizar e classificar os efluentes industriais;
expondo também, os especiais.

• Reportar as etapas do tratamento de efluentes,


dando enfoque aos gerados na indústria.

• Apresentar os padrões de lançamento das


águas residuárias industriais após o tratamento,
relacionando o enquadramento do corpo hídrico
receptor.

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1. Efluentes industriais

É considerado efluente industrial todo e qualquer tipo de resíduo líquido


orgânico e inorgânico gerado nas operações e processos de alguma
atividade industrial, tais como: das lavagens de máquinas e instalações;
dos sistemas de resfriamento e geradores de vapor; e águas usadas
diretamente no processo industrial, como também das águas pluviais
poluídas e das utilizadas nos sanitários, lavanderias e refeitórios do
estabelecimento industrial.

A generalização dos parâmetros qualitativos das águas residuárias


industriais torna-se difícil, devido sua caracterização estar correlacionada
ao tipo e porte da indústria, da matéria-prima usada, bem como do
processo utilizado na mesma.

Assim, mesmo que duas indústrias fabriquem essencialmente o mesmo


produto, o efluente gerado pode ter características muito diferentes
entre si, considerando a variação das matérias-primas. Devido a essa
variabilidade qualitativa dos efluentes industriais, há a necessidade
de que sejam avaliados individualmente, nos mais diversos ramos
manufatureiros. Só após obter a informação de caracterização será
possível definir o tipo de tratamento a ser aplicado, bem como a seleção
das tecnologias que serão utilizadas.

A seguir, serão detalhadas as características dos efluentes industriais,


exemplificando-os e classificando-os.

1.1 Características e classificação dos efluentes


industriais

Os principais parâmetros a serem analisados para caracterizar os


efluentes industriais, visando seu tratamento, são:

38
• Sólidos: podem estar em suspensão ou dissolvidos no efluente,
sendo de composição orgânica ou inorgânica. Sua classificação,
segundo Von Sperling (2014, p. 88), pode ser sobre a natureza
química, representado por sólidos voláteis, de composição
orgânica; e sólidos não voláteis, conhecidos também como fixos,
de composição inorgânica ou mineral. O impacto do lançamento
de efluente in natura pode provocar a formação e depósito de
lodo nos corpos hídricos, em função da concentração de sólidos
sedimentáveis e a interferência da passagem de luz nas águas
naturais, com consequente alteração no ciclo biodinâmico daquele
meio, devido a concentração de sólidos suspensos e dissolvidos.

• Indicadores de matéria orgânica: a matéria orgânica pode-se


encontrar suspensa ou dissolvida no efluente, estando nas formas
de proteínas (moléculas de aminoácidos); carboidratos (como
açúcar, celulose e amidos); e lipídios (substâncias orgânicas à base
de óleos, graxas e gorduras), gerados na indústria.

• Normalmente, a matéria orgânica é medida de forma indireta pela


demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e pela demanda química
de oxigênio (DQO), sendo que a relação entre os valores de DBO
e DQO (DBO/DQO) indica a parcela de matéria orgânica que pode
ser estabilizada biologicamente. Tanto a DBO quanto a DQO são
expressas em mg/L.

• pH: o termo pH expressa a intensidade da condição ácida (pH < 7)


ou básica (alcalina) de um determinado meio (pH > 7). Assim, o pH
de um efluente industrial pode afetar diretamente os ecossistemas
naturais, trazendo mortandade de fauna e flora aquática, tornando
o meio ácido ou básico conforme a origem da água residuária.
Trata-se de um parâmetro que influi decisivamente na escolha
do processo de tratamento e, por isso, geralmente, procede-se
à neutralização do pH dos efluentes industriais antes de serem
submetidos ao tratamento biológico.

39
• Temperatura: é o parâmetro de controle da poluição térmica,
advindo de métodos para perda de energia calorífica
(resfriamento) ou de reações exotérmicas (aquecimento), ocorridas
nas águas utilizadas no processo industrial. Assim, esse parâmetro
pode alterar a concentração de oxigênio dissolvido (quando o
efluente se encontra em temperaturas elevadas) e interferir na
velocidade de degradação dos compostos por meio da redução da
atividade biológica (nos valores de temperatura próximos de zero).
Além disso, influencia na determinação do pH e na solubilidade
dos gases da água residuária industrial.

• Compostos tóxicos: são considerados compostos tóxicos os


elementos metálicos (como alumínio, cobre, cromo, chumbo,
estanho, níquel, mercúrio, vanádio e zinco), bem como os poluentes
recalcitrantes (compostos orgânicos halogenados, agroquímicos–
pesticidas, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, dioxinas e furanos
e os estrogênios ambientais, por exemplo), que apresentam alta
estabilidade química, fotoquímica e taxa de biodegradação muito
lenta no meio ambiente, além da bioacumulação em organismos,
caso os microrganismos aquáticos não possuam mecanismos
metabólicos que eliminem esses compostos após seu consumo.

• Cor: as características dos efluentes industriais são muito variáveis


quanto aos tons e concentrações de cor, estando relacionada
a problemas estéticos e ambientais, por evitar que o meio
aquático absorva luz, interferindo nos processos microbiológicos.
Além disso, os efluentes coloridos têm sido considerados como
substâncias potencialmente tóxicas aos corpos receptores, devida
sua composição ser, normalmente, de corantes sintéticos.

• Turbidez: os sólidos em suspensão são os principais constituintes


responsáveis pela turbidez, que interferem na passagem de luz na
água, conferindo uma aparência turva. Efluentes com alta turbidez
reduzem a atividade dos microrganismos fotossintetizantes,
afetando, por sua vez, a concentração de oxigênio na água.

40
1.2 Efluentes industriais especiais

Algumas águas residuárias industriais podem conter compostos com


óleos e graxas, surfactantes e fenólicos. A presença desses compostos,
tóxicos, não biodegradáveis ou de difícil degradação em corpos d’água,
acaba reduzindo as fontes de oxigênio da mesma e dificultando os
posteriores processos de tratamento.

Desse modo, quando o efluente industrial contém essas substâncias,


se tornam um agente agravante na poluição hídrica, pois podem afetar
além da qualidade de vida dos microrganismos aquáticos, também a
biota terrestre e, por consequência, o ser humano.

Por serem compostos de baixo custo de produção e alta eficiência


para diversas aplicações (utiliza-se tanto no meio industrial, quanto no
agronômico e doméstico), são utilizados em grandes quantidades por
diferentes segmentos industriais. Por isso, é necessário aprofundar
conhecimento nas propriedades desses elementos.

1.2.1 Óleos e gorduras

Nos efluentes industriais, de acordo com o procedimento analítico


empregado, os óleos e graxas, consistem no conjunto de substâncias
que um determinado solvente consegue remover da amostra utilizada,
não se evaporando durante a redução do solvente em gás, a uma
temperatura de 100 °C.

Os efluentes das indústrias de prospecção de petróleo, petroquímicas,


de óleos comestíveis, laticínios, abatedouros e frigoríficos, entre outros,
apresentam essas substâncias, também denominadas como solúveis
em n-hexano, que envolvem os óleos minerais, ácidos graxos, óleos
vegetais, sabões, ceras, gorduras animais, graxas etc.

41
Outras indústrias não produzem diretamente efluentes oleosos, mas
podem ter algum setor que gere efluentes com este tipo de propriedade,
como os provenientes de oficinas mecânicas.

Os óleos e graxas provocam obstrução em redes coletoras de esgotos


e inibição em processos biológicos de tratamento, porém, quando o
teor dessas substâncias é reduzido antes de ser enviado ao tratamento
biológico, não traz inibição ao mesmo, pois os microrganismos atuantes
degradam em parte, reduzindo ainda mais sua concentração.

Quando em contato com as águas naturais, os óleos e graxas flutuam na


massa líquida e formam uma escuma, acumulando-se nas superfícies,
bem como nas margens dos rios, podendo dificultar as trocas gasosas
que ocorrem entre a água e a atmosfera, especialmente a de oxigênio,
levando a problemas ambientais e estéticos.

Assim, a Resolução CONAMA n.430/2011 estabelece os limites máximos


de 50 mg/L para óleos de origem vegetal e gorduras animais e 20 mg/L
para óleos minerais (BRASIL, 2011).

1.2.2 Surfactantes

Os surfactantes também são conhecidos como detergentes, sendo


definidos como compostos que reagem com o azul de metileno sob
certas condições especificadas.

Segundo Telles (2013), os efluentes sanitários possuem de 3 a 6


mg/L de detergentes em sua composição. Já as indústrias próprias
de detergentes, possuem os efluentes líquidos com cerca de 2000
mg/L do princípio ativo. Entretanto, há também indústrias que
utilizam detergentes especiais, como é o caso das que processam
peças metálicas, que empregam essa substância com a função de
desengraxante (por exemplo, o composto químico percloroetileno).

42
O lançamento de detergente in natura provoca poluição estética do meio
ambiente, devido a formação de espumas sobre a massa d’água, além
de exercer efeitos venéficos sobre os ecossistemas aquáticos, sendo
um dos agentes atuantes para ocorrência da eutrofização, pois grande
maioria dos detergentes comerciais são ricos em fósforo, acelerando a
ocorrência desse fenômeno.

Devido a isso, os detergentes a base de alquilbenzeno sulfonato (ABS),


que são de cadeia ramificada (não biodegradável), têm sido substituídos
pelos alquilbenzeno sulfonato linear (LAS), por serem considerados
biodegradáveis.

Em relação ao tratamento de efluentes contendo esse tipo de substância,


aparentemente, não interferem na eficiência de remoção de DBO da
estação e tem seus valores de concentração reduzido pela adesão às
partículas que se sedimentam no tratamento primário, com a utilização
de decantadores primários, ou por degradação biológica no tratamento
secundário, com o uso de reatores aeróbios. Nos tratamentos anaeróbios,
a eficiência de remoção dos surfactantes é baixa.

1.2.3 Compostos fenólicos

Os fenóis e seus derivados estão presentes nas águas residuárias das


indústrias de processamento da borracha, colas e adesivos, resinas
infiltrantes, componentes elétricos e as siderúrgicas.

Esses compostos químicos orgânicos são tóxicos ao homem, aos


microrganismos dos corpos d’água naturais, bem como aos que
participam do tratamento de efluentes nos sistemas biológicos.

Além disso, os fenóis, quando combinados com as águas tratadas,


reagem com o cloro livre formando os clorofenóis, que produzem sabor
e odor na mesma.

43
Assim, em tratamentos utilizando lodos ativados, as concentrações de
fenóis na faixa de 50 a 200 mg/L provocam inibição do sistema, sendo
que em valores próximos a 40 mg/L já são suficientes para a inibição da
nitrificação do meio. O mesmo ocorre nos sistemas anaeróbios, em que
os fenóis provocam a inibição da atividade microbiana nos valores de
100 a 200 mg/L.

Então, sua remoção dos efluentes industriais pode ser realizada por
processos físico-químicos, bem como por oxidação química, que
apresenta eficiência variável em função das características do efluente.
Essa última técnica citada é considerada de baixo custo, se comparada
com as demais, por utilizar oxidação via altas dosagens de cloro,
realizando uma supercloração do efluente.

Tecnicamente, o processo é pouco recomendado devido à baixa


eficiência, pois dosagens de 5.000 mg/L de cloro podem ser necessárias
para reduzir a valores de fenóis inferiores a 5 mg/L. Além disso, o
efluente fica passível de conter excesso de cloro residual, necessitando
que seja removido antes de ser lançado ao corpo receptor, a fim de
evitar impactos nas águas naturais.

É recomendável a utilização da oxidação com peróxido de hidrogênio


sob este aspecto, porém, em geral, não é muito utilizada devido ao
alto custo. Há também a ozonização, considerada a melhor alternativa
dentre os processos oxidativos, contudo, é atípico seu emprego para
esta função no Brasil.

Já a adsorção em carvão ativado, em pó ou granular, produz,


comumente, melhor eficiência e maior faixa de aplicabilidade de uso.

Podem também ser degradados biologicamente, porém, somente


quando o índice de fenóis no efluente for abaixo dos valores de DBO.
Assim, é recomendável um pré-tratamento de natureza físico-química
antes do tratamento biológico, com destaque para o uso da floculação
química e, assim, prosseguir com aplicação de tratamento físico-químico
específico ou de tratamento biológico.

44
Em relação aos índices de fenóis nos efluentes industriais tratados para
lançamento direto no corpo receptor, fica estipulado no limite de 0,5
mg/L pela Resolução CONAMA n. 430/2011 (BRASIL, 2011).

2. Etapas do tratamento de efluentes

Para tratar efluentes industriais, se faz necessária, muitas vezes, a


utilização de múltiplas etapas de tratamento, uma vez que determinadas
características desses efluentes podem tornar difícil a melhoria de sua
qualidade.

Sendo assim, segundo Von Sperling (2014 p. 249), essas múltiplas etapas
podem ser classificadas em quatro fases (Figura 1).:

Figura 1 – Classificação dos níveis de tratamento de efluentes

Fonte: elaborada pela autora.

45
A fase preliminar, ou pré-tratamento, visa a remoção de sólidos
grosseiros, flutuantes e material mineral sedimentável, utilizando
grades, peneiras, desarenadores e caixas de retenção de óleos e
gorduras. Também é nesta etapa que é realizado o resfriamento do
efluente, se apresentar temperaturas não condizentes com o método
de tratamento que será empregado posteriormente. Como é o caso
do tratamento biológico, por exemplo, que pode inibir ou inativar os
microrganismos responsáveis pelo processo.

Após o tratamento preliminar, inicia-se a etapa de tratamento primário,


que tem como objetivo a remoção da matéria orgânica em suspensão
(a DBO começa a ser removida). Para esta fase, pode-se utilizar
decantadores primários, precipitação química e/ou flotação.

O tratamento secundário é o responsável pela remoção da matéria


orgânica em suspensão que não pode ser removida anteriormente
(remoção efetiva de DBO). São muito utilizados nesta etapa os
processos de lodos ativados, lagoas de estabilização, sistemas
anaeróbios de alta eficiência, filtros aeróbios e precipitação química de
alta eficiência.

Quando é necessário melhorar ainda mais a qualidade do efluente


tratado, utiliza-se uma etapa complementar, o tratamento terciário ou
avançado, responsável pela adequação final de algum parâmetro que
esteja fora dos padrões para lançamento. Para tanto, são utilizados
sistemas de adsorção em carvão ativado, osmose inversa, eletrodiálise,
troca iônica, filtros de areia, remoção de nutrientes e/ou microrganismos
patogênicos e oxidação química.

A escolha dos processos está atrelada às características do efluente


a ser tratado sendo, portanto, necessário conhecê-los, para serem
utilizados de forma correta e, assim, atingir os padrões de lançamento
exigidos.

46
2.1 Processos físicos, químicos e biológicos

O tratamento de efluentes industriais utiliza, basicamente, três


processos: físicos, químicos e biológicos. Não necessariamente uma ETE
utilizará todos os métodos, pode-se utilizar apenas métodos biológicos,
ou apenas físico-químicos e suas combinações.

2.1.1 Processos físicos

São caracterizados, principalmente, por processos de separação sólido-


líquido, ou seja, sólidos que não estão dissolvidos. Dentre eles, pode-se
citar sólidos grosseiros, sedimentáveis e flutuantes.

Os processos de gradeamento, peneiramento, desarenação e remoção


de óleos e graxas, que são listados na fase preliminar, também são
considerados como processos de predominância física, porém, são mais
comumente utilizados na fase de pré-tratamento. Alguns dos processos
mais utilizados de predominância física, com separação sólido-líquido,
é o processo de decantação (tratamento primário) e de filtração
(tratamento terciário), segundo Nunes (2019).

Os processos de filtração mais utilizados, nos efluentes industriais, têm


como objetivo a retirada de materiais em suspensão coloidal (finamente
particulados), que não podem ser removidos nas etapas anteriores.
Esses sólidos podem ser inorgânicos ou orgânicos, fazendo com que
a DBO e a DQO do efluente também sejam reduzidas com a remoção
deles. A filtração pode ser realizada em leitos de areia ou membranas
(microfiltração, nanofiltração, ultrafiltração etc). Esta última, por sua
vez, tem a possibilidade de remover além de sólidos em suspensão de
tamanho muito reduzido, microrganismos patogênicos, segundo Peig
(2011, p. 9).

47
2.1.2 Processos químicos

São caracterizados pela utilização de produtos químicos ao efluente


a ser tratado, porém, raramente são adotados isoladamente,
normalmente são utilizados concomitantemente com processos físicos
(tratamento físico-químico) ou quando os processos biológicos não têm
eficácia garantida.

Um processo largamente utilizado é o de coagulação química, que utiliza


um agente coagulante, como sulfato de alumínio, para aglutinar as
partículas em suspensão no meio líquido e, posteriormente, decantá-las,
sendo este um processo físico-químico, já que a decantação em si é uma
etapa em que predominam processos físicos, de acordo com Nunes (2019).

A alteração do pH do efluente também pode ser utilizada como etapa


de tratamento, pois pode ocasionar a precipitação química. Isso ocorre
quando uma espécie se encontra dissolvida e, após ocorrer a adição de
um agente modulador de pH, passa para um estado não dissolvido (em
suspensão), podendo agora ser removida por decantação, por exemplo.
Normalmente, ocorre quando se deseja fazer a remoção de metais
pesados, como o cromo trivalente, que precipita quando o pH é alterado
para uma faixa entre 8 e 9, segundo Nunes (2019).

Processos que utilizam carvão ativado para remoção de cor em


efluentes têxteis são, em essência, processos de caráter químico, já que
os corantes ficam adsorvidos (interação eletrostática) nos sítios ativos da
partícula de carvão, de acordo com Nunes (2019).

2.1.3 Processos biológicos

Tem como principal característica o uso de reatores com biomassa


ativa, isto é, microrganismos que consumirão a matéria orgânica e/ou
nutrientes em suspensão do efluente para utilizar em seus processos
metabólicos.

48
Esses reatores podem se valer de diversas formas de metabolismo
microbiológico, sendo os principais utilizados os reatores aeróbios e os
anaeróbios, cada um com suas particularidades no que diz respeito a
eficiência, produção de lodo, complexidade operacional etc.

Reatores do tipo lodos ativados são utilizados por consumirem grande


quantidade de DBO e possuírem baixos requisitos de área, sendo
ideais para plantas compactas e para efluentes que já passaram por
decantação. Esse sistema é um bom exemplo de reator aeróbio, pois há
injeção de ar na massa liquida, segundo Jordão e Pessôa (2011, p. 513).

Reatores anaeróbios também são muito empregados, pois mesmo que


não sejam tão eficientes quanto os reatores aeróbios na remoção de
DBO, produzem menos lodo e tem a capacidade de remover materiais
orgânicos de mais difícil degradação, Jordão e Pessôa (2011, p. 827). Os
sistemas Upflow Anaerobic Sludge Blanket (UASB), também chamados
de Reator Anaeróbico de Manta de Lodo de Fluxo Ascendente,
podem ser utilizados em plantas compactas, pois demandam pouca
área e possuem boa eficiência de remoção, com a vantagem de não
necessitarem de decantadores como tratamento primário.

A utilização de reatores biológicos para tratamento de efluentes


industriais pode ser associada ao tratamento físico-químicos também.
A combinação de tratamento físico-químico para lidar com cargas
tóxicas de metais, por exemplo (precipitação química mencionada
anteriormente), e após a utilização de um sistema de lodos ativados para
remoção de DBO, é altamente recomendado, bem como a utilização de
carvão ativado após o sistema de lodos para a remoção adicional de cor
do efluente, segundo Nunes (2019).

A utilização de diversos processos, em uma única planta de tratamento,


propicia um efluente de melhor qualidade, atendendo aos padrões de
lançamento vigentes, bem como possibilita que a estação como um todo
tenha menor demanda de área para alcançar a eficiência requerida.

49
3. Padrão de lançamento de efluentes
industriais após o tratamento e
enquadramento do corpo hídrico receptor

Os padrões que os efluentes industriais tratados devem obedecer são


os mesmos que os efluentes domésticos estão submetidos, ou seja,
devem entrar em consonância com a Resolução CONAMA n. 357/2005,
que dispõe sobre o enquadramento de corpos d’água (corpo receptor
do efluente), e com a Resolução CONAMA n. 430/2011, que dispõe sobre
os padrões de lançamento de efluentes em corpos d’água (BRASIL, 2005;
2011).

Entretanto, no caso de efluentes industriais, apresentam cargas


orgânicas, geralmente, muito mais elevadas que os efluentes
domésticos; como, por exemplo, a concentração média da DBO em
esgotos domésticos é da ordem de 300 mg/L, já a DQO está na ordem de
450 mg/L. Alguns efluentes industriais (laticínios, cervejarias, frigoríficos)
apresentam valores de DBO na ordem de grandeza de centenas,
podendo chegar até milhares de gramas por litro (BRASIL, 2014, p. 25).

Dessa forma, o tratamento torna-se mais complexo para que os mesmos


padrões sejam atingidos, exigindo a utilização de processos mais
avançados ou mais etapas para se obter o efluente com a qualidade
requisitada para lançamento no corpo receptor.

Por isso, há a importância de, primeiramente, conhecer as características


dos efluentes industriais, pois, sabendo essa informação, será possível
compreender quais os processos que essa água residuária terá que
sofrer, correlacionando essa ciência com as etapas de tratamento
existentes, a fim de se obter um líquido tratado de possível lançamento
ao corpo d’água, conforme seu enquadramento na legislação vigente,
sem causar danos ao meio ambiente.

50
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Resolução CONAMA n. 357 de 17 de março de 2005. Publicada no DOU n. 053, de
18/03/2002, p. 58-63. Brasília, DF, 2005. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/
port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Resolução CONAMA n. 430 de 13 de maio de 2011. Brasília, 2011. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 2
mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde – FUNASA. Manual
de controle da qualidade da água para técnicos que trabalham em ETAS.
Brasília, 2014. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/files_mf/
manualcont_quali_agua_tecnicos_trab_emetas.pdf. Acesso em: 2 mar. 2020.
JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 6. ed. Rio de
Janeiro, 2011.
NUNES, J. A. Tratamento físico-químico de águas residuárias industriais. 1 ed.
Editora Chiado Books, 2019.
PEIG, D. B. Modelo para otimização do projeto de sistemas de ultrafiltração.
Dissertação. São Paulo, SP, 2011.
TELLES, D. D. Ciclo ambiental da água: da chuva à gestão. 1. ed. São Paulo, SP:
Edgard Blucher Ltda., 2013.
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de
esgotos. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental,
UFMG, v. 1., 3. ed., 2014.

51
Tecnologias e inovações no
tratamento de efluentes
Autora: Ana Claudia Guedes Silva
Leitora crítica: Jessica Klarosk Helenas Perin

Objetivos
• Expor sobre os equipamentos e tecnologias no
tratamento de efluentes, bem como as inovações
tecnológicas existentes no mercado.

• Apresentar as legislações nacional vigentes e as


normativas estabelecidas para as águas residuárias.

• Abordar a temática das águas resultantes dos


processos de tratamento de efluentes, explorando
sua viabilidade, necessidade e aplicações no meio
urbano, agrícola e industrial.

• Exemplificar as medidas sustentáveis nas estações


de tratamento de efluentes, com foco na geração de
valor nos resíduos gerados.

52
1. Equipamentos e tecnologias no tratamento
de efluentes

Existem diversas tecnologias, técnicas e equipamentos para controle de


poluição no que tange ao tratamento de efluentes, algumas aplicadas
em condições específicas, outras que são aplicadas em diversas
ocasiões. A seguir serão apresentadas as mais utilizadas, tanto para
o tratamento de efluentes industriais, como para o tratamento de
efluentes domésticos.

1.1 Tratamento preliminar

O tratamento preliminar tem como objetivo a adequação inicial do


efluente para os processos posteriores, sendo necessário, neste caso, a
remoção de materiais grosseiros, sólidos flutuantes, sólidos decantáveis,
óleos e graxas.

Gradeamento: tem por finalidade a proteção de tubulações e outras


peças do sistema de tratamento de efluentes. O uso dessa unidade
ocorre devido a retirada de sólidos de grandes dimensões que podem
entrar na rede coletora, como galhos e pedras, podendo ser classificado
em grosseiro, com barras de espaçamento entre 40 a 100 mm; mediano,
com espaçamento entre 20 a 40 mm; e fino, com espaçamento entre
10 a 20 mm. Normalmente, essas barras são inclinadas para facilitar a
retirada desse material, segundo Jordão e Pessôa (2011, p. 155-156).

Peneiras: tem por finalidade a remoção de sólidos que não foram


retidos pelo gradeamento, como sólidos de menor dimensão, materiais
fibrosos etc. As peneiras possuem aberturas entre 0,25 e 10 mm,
podendo ser estáticas ou móveis, sendo esta última a mais utilizada
pela facilidade de remoção dos sólidos retidos. A retirada dos sólidos
da peneira pode ocorrer por sistema de raspagem mecânica ou pelo

53
movimento rotacional das peneiras (peneiras rotativas), de acordo com
Jordão e Pessôa (2011, p. 175-177).

Caixa de areia: tem por finalidade a remoção de partículas com


tamanhos de 0,10 a 0,40 mm, que são facilmente sedimentáveis.
Esta remoção propicia a maior vida útil das tubulações e rotores de
bombas, bem como o não assoreamento dos componentes posteriores
do sistema de tratamento, sendo que as mais utilizadas são do tipo
canal, aerada e vortex, que reduzem a velocidade de escoamento das
partículas para valores de 0,30 m/s, proporcionando a sedimentação das
mesmas em uma velocidade igual ou maior a 0,02 m/s, segundo Jordão e
Pessôa (2011, p. 185-184).

Caixa de gordura: tem por finalidade evitar obstruções por aderência


e a formação de maus odores nas unidades posteriores. Esta unidade
remove, além da gordura, qualquer sólido flutuante, como cabelos e
fibras em geral. Essa flotação também pode ocorrer com a adição de
agentes que facilitem este processo, como é o caso da injeção de ar nos
tanques de separação, que aumenta a eficiência do processo, segundo
Nunes (2019).

1.2 Processo de separação sólido-líquido

Os processos de separação sólido-líquido são muito utilizados nos


sistemas de tratamento de efluentes industriais e nos domésticos,
sendo, muitas das vezes, imprescindíveis de acordo com a configuração
do sistema. Alguns dos processos mais utilizados são os decantadores,
flotadores e filtros.

Decantação: tem como objetivo a remoção de sólidos sedimentáveis


e de possíveis materiais que possam vir a flotar. Nesta unidade, ocorre
uma remoção considerável de matéria orgânica (diferentemente das
unidades de tratamento preliminar). Os decantadores podem ser
classificados de acordo com a geometria (circular ou retangular), com o

54
dispositivo de remoção de lodo (mecanizado ou manual), com o formato
do fundo (plano ou cônico) e o sentido do fluxo (horizontal ou vertical).
Cada classificação tem suas particularidades, vantagens e desvantagens,
mas é indicado sempre que possível, que a remoção do lodo seja na
forma mecanizada, segundo Von Sperling (2014, p. 269).

Flotação: processo inverso da decantação, onde o material a ser


removido é conduzido para a superfície da camada líquida por meio
de ações físicas, removendo óleos, graxas e materiais de baixo peso,
que dificilmente serão sedimentados de forma eficiente. Nesta etapa,
também ocorre uma remoção considerável de matéria orgânica,
principalmente, quando há grandes quantidades de óleos e graxas no
efluente, de acordo com Jordão e Pessôa (2011, p. 215).

Filtração: há remoção de sólidos e material orgânico em suspensão,


pela passagem do efluente em um meio filtrante ou granulométrico,
que pode ser de camada simples ou múltipla. A filtração ocorre também
por membranas porosas que removem partículas de até 0,001 µm
(bactérias, moléculas orgânicas etc.), sendo utilizada, principalmente,
quando se visa o reuso do efluente, porém, possui custos mais elevados
que os demais processos, segundo Kubler, Fortin e Molleta (2015, p. 23).

1.3 Tratamento físico-químico

O tratamento físico-químico é utilizado, sobretudo, para a remoção da


maior parte da matéria orgânica presente no efluente, além de alguns
componentes que possam vir a prejudicar as unidades de tratamento
seguintes.

Coagulação: processo de desestabilização das partículas carregadas


eletricamente por ação de um agente coagulante. Normalmente,
este processo ocorre em concomitância ao processo de floculação,
porém, são distintos. Os coagulantes mais utilizados são os químicos,
como o sulfato de alumínio, cloreto férrico, sulfato férrico, cloreto

55
de polialumínio (PAC) e sulfato ferroso. Entretanto, também podem
ser utilizados coagulantes orgânicos, como o tanino, que facilitam o
tratamento do lodo produzido, segundo Nunes (2019).

Floculação: as partículas desestabilizadas no processo anterior são


colocadas em contato para que se aglutinem e aumentem de tamanho,
facilitando sua decantação. Visa-se a utilização prévia da coagulação/
floculação para remoção adicional de matéria orgânica nos tratamentos
biológicos ou em efluentes com elevada carga orgânica.

Precipitação química: tem por objetivo a transformação de compostos


solúveis em compostos insolúveis de fácil decantação. Isso pode ser
realizado por meio da adição de produtos químicos que alteram o pH do
meio.

A remoção de metais, como ferro e cobre, pode ocorrer por meio da


alteração do pH do efluente para a faixa de 7,0 a 9,0, com uso de ácidos
ou bases. Para cádmio e níquel, o pH de precipitação está entre 10,0 e
11,0, de acordo com Nunes (2019).

Adsorção: objetiva a retirada de materiais orgânicos e sintéticos


dissolvidos, como pesticidas, metais pesados e bifenilas policloradas
(PCB’s). O adsorvente mais empregado nos tratamentos é o carvão
ativado, que pode ser granular, utilizado como complemento para
sistemas de filtração; ou em pó, adicionado diretamente no efluente e
retirado por coagulação/ floculação e decantação ou filtração. Também
pode ser utilizado como forma de polimento do efluente final em filtros
de carvão ativado granular, segundo Nunes (2019).

Troca iônica: tem por finalidade a remoção de íons, como fosfatos,


nitratos, sais dissolvidos (cloretos), cobre e zinco, e para o abrandamento
de água nos processos industriais. As resinas de troca iônica são
microesferas carregadas com íons H+ (catiônicas), que são trocados por
cátions, como cálcio, potássio, magnésio e sódio. Ou carregadas com

56
íons OH- (aniônicas), que são trocados por ânions como fluoreto, cloreto,
sulfato, segundo Nunes (2019).

1.4 Tratamento biológico

Os tratamentos biológicos têm como característica a utilização


do metabolismo dos microrganismos presentes no efluente para
remoção de matéria orgânica e nutrientes. Devido a diversidade de
microrganismos e metabolismos, serão apresentados os principais
sistemas biológicos de tratamento de efluentes, que podem ser
utilizados tanto para efluentes industriais, como para domésticos.

Filtros biológicos: reator aeróbio com meio suporte fixo, normalmente


constituído de pedra brita, que tem por finalidade a adesão de
microrganismos e a formação de um biofilme ativo, responsável pela
remoção de matéria orgânica do efluente. A denominação de filtro não
condiz com o processo de filtração, já que a matéria orgânica é removida
por ação microbiológica.

De acordo com Von Sperling (2014, p. 310-314), os filtros biológicos


podem ser classificados em baixa carga, quando a carga orgânica
aplicada por unidade de volume é reduzida, obtendo maior remoção de
material orgânico e nitrogênio amoniacal, gerando um lodo estabilizado;
e alta carga, que requerem uma área menor, já que recebem uma maior
carga de DBO por unidade de leito, porém, com menor eficiência de
remoção de matéria orgânica e nitrogênio amoniacal, necessitando
estabilizar o lodo posteriormente.

Os filtros biológicos necessitam de decantadores primário e secundário,


este último para a remoção do lodo (biofilme desprendido) que sai
do reator. Podem promover, ou não, a recirculação do efluente para
aumento da eficiência de remoção de nutrientes, se este for o objetivo.
São muito utilizados como pós-tratamento de reatores anaeróbios de

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manta de lodo de fluxo ascendente–Upflow Anaerobic Sludge Blanket
(UASB), segundo Von Sperling (2014).

Lodos ativados convencional: o efluente é agitado e aerado para


promover a multiplicação dos microrganismos que formam flocos
biológicos e, por consequência, tratam o efluente. Faz-se necessária a
utilização de decantadores primários, que reduzem a quantidade de
sólidos enviados ao tanque de aeração; e secundários, que removem
os flocos biológicos produzidos no tanque de aeração e recirculam no
sistema posteriormente.

Os lodos ativados podem ser de aeração prolongada ou convencional,


diferindo entre si pela idade do lodo produzido no tanque de aeração,
que para o convencional é de quatro a quinze dias. Para aeração
prolongada, é de 20 a 30 dias. Os sistemas de aeração prolongada, além
de possibilitarem um efluente de melhor qualidade e remoção completa
de nitrogênio amoniacal, também já tem o lodo bioestabilizado; porém,
demandam mais área e energia para a aeração, de acordo com Jordão e
Pessôa (2011, p. 522).

O sistema de aeração dos lodos ativados é de extrema importância,


podendo ser realizado por ar atmosférico, utilizando compressor ou por
agitação vigorosa da superfície do tanque, ou pela ação de microbolhas,
distribuídas por difusores no fundo do reator, segundo Jordão e Pessôa
(2011, p. 524-530).

Lagoas de estabilização: são reatores que podem ser aeróbios,


anaeróbios ou até mesmo apresentar ambos os metabolismos, tendo
como objetivo a redução de matéria orgânica, microrganismos e
nutrientes. As principais vantagens desse sistema é a simplicidade
operacional e os baixos custos de implantação e operação. Como
principal desvantagem, pode-se citar os altos requisitos de área,
segundo Jordão e Pessôa (2011, p. 702).

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Há diversos tipos de sistemas que utilizam lagoas em alguma etapa, ou
até mesmo sistemas compostos apenas por lagoas para o tratamento.
Dessa maneira, serão abordadas as lagoas mais utilizadas:

• Sistema australiano: composto por lagoa anaeróbia seguida de


facultativa, é um dos sistemas mais utilizados para tratamento de
efluentes com características similares a de efluentes domésticos
ou sem cargas tóxicas. A lagoa facultativa tem a vantagem de
possuir ambos os metabolismos, aeróbio e anaeróbio, segundo
Jordão e Pessôa (2011, p. 742).

• Lagoas de polimento: utilizadas para a melhoria da qualidade do


efluente tratado, no que tange a DBO, nutrientes e remoção de
microrganismos. Lagoa prioritariamente aeróbia e rasa para que
a luz solar penetre em toda a lâmina d’água para inativação dos
microrganismos, segundo Von Sperling (2014, p. 283).

Reator anaeróbico de manta de lodo de fluxo ascendente–Upflow


Anaerobic Sludge Blanket (UASB) – reator anaeróbio de alta taxa e
crescimento disperso com fluxo ascendente de efluente. Muito utilizado
pelo baixo requisito de área e pela geração de biogás, com possibilidade
de aproveitamento energético, além da boa eficiência de remoção de
matéria orgânica.

Por ser um reator de alta taxa, o tempo de detenção do efluente é


baixo, em torno de seis a dez horas, mesmo assim, apresenta uma boa
eficiência (até 70% de remoção de DBO). Apesar da boa resistência a
choques orgânicos, o reator possui sensibilidade e choques de vazão,
já que pode ocorrer arraste dos sólidos para fora do reator, segundo
Jordão e Pessôa (2011, p. 833). Contudo, compõe um bom sistema
de tratamento quando antecede filtros biológicos, lodos ativados,
wetlands, entre outros, podendo ser utilizado em concomitância com
tratamentos físico-químicos, antecedendo processos de coagulação/
floculação.

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2. Legislações nacionais no âmbito tratamento
de efluentes
Para realizar o lançamento do efluente no meio ambiente, sua
geradora deve enquadrá-lo nas normas ambientais vigentes. Para isso,
é necessário satisfazer a Resolução n. 357, de 17 de março de 2005,
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que classifica
os recursos hídricos segundo seus usos preponderantes, atualizada
pela Resolução n. 430, de treze de maio de dois mil e onze, que define
as condições e padrões de referência para o lançamento de águas
residuárias (BRASIL, 2005; 2011).

Assim, qualquer efluente que estiver fora das especificações da


Resolução CONAMA n. 430/2011 não poderá ser lançada, direta ou
indiretamente, no solo ou corpos d’água, sem antes realizar o devido
tratamento e obediência às condições de padrões e exigências dispostos
nesta legislação (BRASIL, 2011).

No entanto, cada Estado também tem seus próprios decretos de


lançamento, estabelecidas pelo órgão ambiental estadual competente.
Quando houver conflito de legislações vigentes sobre os padrões de
lançamento de efluente, adequar-se à norma que seja mais restritiva em
questão.

Caso o lançamento ocorra em corpos d’água, também deve se


obedecer às condições e padrões de qualidade, em relação às classes
estabelecidas no enquadramento, definidas pela Resolução CONAMA n.
357/2005 (BRASIL, 2005).

Segundo a Lei Federal n. 9.433, de oito de janeiro de mil novecentos


e noventa e sete, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), o enquadramento dos corpos d’água assegura qualidade
compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas, bem
como ações preventivas a combate à poluição das águas (BRASIL,
1997).

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3. Lodo de ETA e ETE

O lodo é o principal subproduto gerado nos tratamentos de água e


efluente, sendo composto por uma mistura de substâncias orgânicas,
minerais e biomassa de microrganismos. A quantidade gerada de
lodo varia em função do tipo de sistema adotado nas unidades de
tratamento.

Pode conter elementos químicos e patógenos danosos à saúde e ao


meio ambiente, por isso a necessidade em realizar seu tratamento antes
da disposição final. As principais etapas do gerenciamento do lodo são
(Tabela 1):

Tabela 1 – Objetivo das etapas aplicadas no processamento do lodo


Etapas Objetivo
Adensamento e desaguamento. Remoção de umidade.
Estabilização. Remoção da matéria orgânica.
Condicionamento. Preparação para a desidratação.
Higienização. Remoção de patógenos.
Disposição final. Dar destino final ambientalmente correto.

Fonte: adaptado de Von Sperling (2014, p. 364).

O uso dessas etapas depende das características do lodo gerado, mas,


em geral, realiza-se primeiramente o adensamento por centrífuga ou
gravidade, a fim de reduzir o volume do material. Posteriormente,
aplicam-se técnicas de estabilização, como digestão anaeróbia e
aeróbia, tratamento térmico e químico, a fim de reduzir a quantidade de
patógenos e eliminar os maus odores. Isso seguido do condicionamento,
que pode ser térmico ou químico, que melhora a captura de sólidos para
a fase seguinte, a desidratação, chamada também de desaguamento,
realizada por métodos naturais ou mecânicos, tais como leito de
secagem, centrífuga e filtro prensa, que tem por objetivo reduzir ainda
mais o teor de umidade do lodo, agora já estabilizado.

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A higienização do lodo só é válida se o uso for para reciclagem
agrícola, a fim de reduzir os níveis de patógenos a valores aceitáveis,
sendo realizada por meio de aplicação de cal (calagem), solarização,
compostagem, entre outros. Para incineração ou disposição em aterro, a
higienização não se faz necessária.

Sempre que possível, buscam-se alternativas de disposição final que


sejam associadas a usos benéficos, como selamento de aterros sanitários,
recuperação de áreas degradadas e uso agrícola. Entretanto, quando não
for possível, pode-se realizar incineração e descarga em oceanos.

Vale ressaltar que cada uma dessas técnicas empregadas para


disposição possui riscos potenciais ou impactos ao meio ambiente,
podendo ser mais ou menos complexos, em função da quantidade de
lodo disposto, características do resíduo, frequência, duração e extensão
de aplicação, dentre outros elementos a serem considerados.

4. Reuso de águas servidas

Segundo o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em sua


Resolução n. 54, de vinte e oito de novembro de dois mil e cinco, que
orienta sobre a prática de reuso direito não potável de água; denomina-
se reuso de água quando realizamos aplicabilidade de águas já utilizadas
(servidas) em alguma atividade humana, independentemente do
número de vezes empregada, havendo ou não tratamento antes de sua
reutilização (BRASIL, 2006).

Assim, a água de reuso pode originar de diversas linhas de produção


das águas residuárias, tanto em escala doméstica, quanto na industrial
(Tabela 2). Além disso, podem ser resultantes das unidades de
tratamento de efluentes de uma cidade ou indústria, e reutilizadas
conforme sua qualidade final.

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Tabela 2 – Segregação das águas residuárias e sua fonte de origem
Classificação Fonte de origem
Provém de bacias sanitárias, contendo,
Águas negras.
basicamente, fezes, urina e papel higiênico.
Contém, basicamente, urina, obtido por meio de vasos
Águas amarelas.
sanitários com dispositivos separadores e mictórios.
Oriundas de pontos de consumo, como os lavabos de banheiro
Águas cinza.
e cozinha, chuveiros, banheiras e lavagem de roupas.
Águas pluviais. Originadas por deflúvios decorrentes de chuvas.

Fonte: adaptado de PROSAB (2006).

O reuso pode ocorrer por meio de ações planejadas ou não, na forma


direta ou indireta; podendo ser classificado conforme a potabilidade
da água servida, segundo o estabelecido pela Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), que divide o reuso em
duas grandes categorias: potável e não potável. Estas, por sua vez,
subdividem-se, sendo detalhadas a seguir, segundo Kubler, Fortin e
Molleta (2015, p.11):

Reuso potável: é considerado reuso potável quando a água servida


tratada se torna potável para abastecimento humano. Divide-se em:
direto, quando o efluente tratado, por meio de técnicas avançadas, é
diretamente reutilizado como água potável; indireto, após tratamento, o
efluente é lançado e diluído em corpos d’água, o subsequente é captado
e tratado em uma estação de tratamento de água (ETA), tornando-se
passível de ingestão.

Reuso não potável: esse tipo de reuso não exige níveis elevados de
tratamento da água residuária, apresentando um potencial amplo
e diversificado para uso final. É classificado para fins: agrícolas,
visa a produção agrícola com aplicação na fertirrigação de plantas
alimentícias e não-alimentícias; industriais, utilização da água de
reuso em diversos processos da indústria, tais como resfriamento, em
caldeiras e transporte de materiais; urbanos, chamado também de
uso doméstico ou municipal, objetiva o reuso de água para irrigação de

63
áreas verdes urbanas, lavagem de calçamentos e veículos, descargas
sanitárias etc.; recreacionais e ambientais, é passível de uso para
manutenção das vazões em corpos d’água, principalmente, em períodos
de estiagem, atividades que envolvem o contato mínimo com a água,
como canoagem, pesca e aquicultura, recarga de aquíferos subterrâneos
de forma direta e indireta, represas e lagos ornamentais, irrigação de
campos e plantas decorativas.

Em geral, o reuso é uma técnica que utiliza a relação custo/ benefício,


pois gera ganhos econômicos, sociais e ambientais, já que seu vasto
uso é na água servida para fins menos nobres, evitando a despesa de
água potável e impactando positivamente na preservação dos recursos
hídricos.

Ainda não há, no Brasil, uma normalização técnica federal específica


para os sistemas de reuso da água. A Resolução n. 54/2005 do CNRH
apenas abrange as modalidades de reuso direto não potável de água
para determinados fins (urbanos, agrícolas, ambientais e industriais)
(BRASIL, 2006).

Dessa forma, adota-se, em geral, padrões referenciais internacionais,


orientações estabelecidas pelos órgãos competentes ou normas técnicas
produzidas por instituições privadas, como é o caso da NBR 13.969,
de 1997, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que
estabelece critérios de qualidade da água servida conforme a utilização
(ABNT, 1997).

Contudo, é fundamental ressaltar que qualquer que seja a forma


empregada de reuso, os princípios básicos que devem orientar essa
prática são: a preservação do meio ambiente e da saúde dos usuários,
adesão às exigências de qualidade de acordo com o uso pretendido;
e à proteção dos materiais e equipamentos utilizados nos sistemas de
reuso.

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5. Inovações tecnológicas

No que diz respeito ao tratamento de efluentes, os processos


criados mais recentemente possuem, em geral, características como:
baixo custo, não utilizaram químicos (quando possível) e processos
simplificados de tratamento e disposição final de lodo.

Wetlands: também chamados de alagados construídos, este sistema se


assemelha a um banhado ou pântano (projetado), ou até mesmo um
filtro biológico (apresentado anteriormente), porém, com macrófitas
plantadas em seu meio suporte, que pode ser de pedra brita ou areia
(usualmente), segundo Trevisan (2017, p. 9).

Tem por finalidade a remoção de material orgânico, sólidos, nutrientes


e microrganismos, não apenas pela ação das macrófitas plantadas, mas,
principalmente, pela ação dos microrganismos presentes no biofilme
formado no meio suporte. Pode ser utilizado para efluentes domésticos
e industriais, mas, por se tratar de um processo biológico, é sensível a
cargas tóxicas.

Esse sistema pode ser utilizado como polimento para efluentes já


tratados, no que tange a remoção de nutrientes, por exemplo, ou até
mesmo para o tratamento em si, já que apresenta boa eficiência na
remoção de material orgânico e sólidos, produzindo um efluente de
excelente qualidade, segundo Trevisan (2017, p. 9-14).

Reator de leito móvel com biofilme – Moving Bed Biofilm Reactor


(MBBR): sistema com crescimento de biomassa aderida em suportes
sintéticos, projetados para possuir maior área superficial para esta
adesão, ficando em suspensão o meio suporte no reator (solto).

O MBBR pode ser utilizado para incrementar a eficiência de reatores,


como no caso de lodos ativados, fazendo com que haja aumento na
concentração de microrganismos no reator, melhorando a remoção de

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matéria orgânica e nutrientes. Pelo fato da biomassa estar aderida no
meio suporte, o reator sofre menos com picos de carga orgânica ou de
vazão, não ocorrendo arraste de sólidos para a etapa seguinte, segundo
Jordão e Pessôa (2011, p. 692).

6. Medidas sustentáveis

Para que futuramente não haja crise hídrica, meios de controle


sobre a utilização dos recursos hídricos vêm sido pesquisadas
constantemente. Uma das soluções que visa a disponibilidade
de água em quantidade e qualidade, é o tratamento do efluente
doméstico e industrial, pois após o tratamento, o efluente é passível
de uso, principalmente na agricultura, como também contribui para
o lançamento de uma água servida com menos poluição ao meio
ambiente.

Além disso, a utilização da água pluvial e da servida na substituição da


potável, para fins menos nobres, impacta positivamente na redução
da captação de água bruta e, consequentemente, na preservação dos
recursos hídricos.

Outras práticas sustentáveis também auxiliam na preservação


do meio ambiente em geral, tais como: proteção das nascentes e
florestas, despoluição e desassoreamento de rios, controle da erosão,
recomposição de mata ciliar, reciclagem de resíduos sólidos, utilização
de fontes energias de renováveis, entre outras.

A aplicação dessas medidas em associação com o consumo


consciente dos recursos naturais, norteiam a busca de uma melhor
qualidade de vida dos seres vivos, bem como o equilíbrio dos
ecossistemas.

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Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13969: tanques sépticos
– Unidades de tratamento complementar disposição final dos efluentes líquidos –
Projeto, construção e operação. Rio de Janeiro, 1997.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
Federal n. 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Brasília, 1997. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9433.htm. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Resolução CONAMA n. 357, de 25 de março de 2005. Brasília, 2005. Disponível
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JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 6. ed. Rio de
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PROGRAMA DE PESQUISAS EM SANEAMENTO BÁSICO (PROSAB). Tecnologias
de segregação e tratamento de esgotos domésticos na origem, visando a
redução do consumo de água e da infraestrutura de coleta, especialmente nas
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TREVISAN, G. de M. Remoção de coliformes e Ascaris lumbricoides em sistema
de wetland construído de fluxo vertical. Dissertação de mestrado. Universidade
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esgotos. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental,
UFMG, v. 1., 3. ed., 2014.

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BONS ESTUDOS!

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